Nº2/2022
ISSN: 2706-8137 CIÊNCIA,TECNOLOGIA,ENGENHARIA EMATEMÁTICA,NA LÍNGUA QUENOSUNE
M APU TO MOÇAMBIQUE
EdiçãodeAntónioBatel Anjo, LolaXaviereSoraiaAmaro Editora:Osuwela
Morada: Av.JuliusNyerere,931,1ºEsq.,Maputo–Moçambique
Email–info@osuwela.org
Editores: AntónioBatelAnjo,ISCTEM/Osuwela
Propriedade–Osuwela,AssociaçãoparaapromoçãododesenvolvimentoatravésdaformaçãoemCiência Site–Osuwela.org
Telefone–+258855382462
ISSN: 2706-8137
LolaGeraldesXavier,UniversidadePolitécnicadeMacau/InstitutoPolitécnicodeCoimbra
SoraiaAmaro,Osuwela
ArmindoMonjane,UniversidadePedagógicadeMaputo,Moçambique
JoséJuliãodaSilva,UP/ISCTEM,Moçambique
AdelinaCastelo,UniversidadeAberta,Portugal
RogérioCossa,ISCTEM,Moçambique
MarlinoMubai,UEM/ISCTEM,Moçambique
MariaTeresaSalgado,UniversidadeFederaldoRiodeJaneiro,Brasil
COMISSÃOCIENTÍFICA
AntónioManuelFerreira,UniversidadedeAveiro,Portugal
JoséAntónioBarros,ISCTEM,Moçambique
LiaOliveira,UniversidadedoMinho,Portugal
LolaGeraldesXavier,UniversidadePolitécnicadeMacau/InstitutoPolitécnico deCoimbra, China/Portugal(Presidente)
AntónioBatelAnjo,OSUWELA,ISCTEM,Moçambique
PiresLaranjeira,UniversidadedeCoimbra,Portugal
MicaelaRamon –ILCH/CEHUM–UniversidadedoMinho,Portugal
TatianaKuleshov,UEM,Moçambique
ISCTEM-Moçambique
EstestextossãoexemplodapluridisciplinaridadeparaqueaRevistapretendecontribuir, queratravésdastemáticas,querdacolaboraçãodeinvestigadoresanívelinternacional.Assim, oscolaboradoresdestevolumesãooriundosdeváriaslatitudesediferentesrealidades. InvestigamnãosóemMoçambique,comoemPortugal,S.ToméePríncipe,RepúblicaChecae Macau(China).
Osestudosereflexõesqueseapresentamnestevolumepretendemconcorrerpara aplicaçõespedagógicasedidáticasemnovosambientesdeaprendizagem,nasváriasáreasdo saber de STEM e da Língua, e áreas associadas,contribuindopara o desenvolvimentointelectual, humanoesocial.
ALíngua e domínios a ela associada, como a Literatura, permitem um enquadramento mais vasto paraoDesenvolvimentohumano.Nessesentido,estenúmeroapresentaareflexãosobre escritores,comoaportuguesaIreneLisboa,aeducaçãoliteráriaeoensinodetextosliterários (emPortuguêscomolínguaestrangeira).Finalmente,sendoatraduçãoaformadeacessoà CulturaeCiênciadoOutro,publica-se,também,umartigosobre“modelosdeéticadatradução”.
LolaGeraldesXavier,Ph.D.
OsuwelaONGMoçambique
UniversidadePolitécnicadeMacau InstitutoPolitécnicodeCoimbra AntónioBatelAnjo,Ph.D.
ASTEM+Lcontinua,pois,nasendadoseuobjetivoinicial,a:contribuirparaa discussãodaaprendizagemdeSTEM–Ciência,Tecnologia,EngenhariaeMatemáticaeda Língua,reforçandoacoesão,acooperaçãoeointercâmbiodeexperiênciasdedocentese investigadores,construindopontesentreprofissionaiseinstituiçõesdediversospaíses/espaços geográficos.
PALAVRASINTRODUTÓRIAS
Esteéumvolumequerecolhecontributos querefletemtemascentraisdaatualidade.As preocupaçõesdomomentoaníveldapandemiadaCovid-19edasconsequentesexigênciasde alteraçõesaníveldoensinosão dissoumexemplo.Assim,aárea deEducaçãoestárepresentada portextossobrea“Literaciadigital”eo“Ensinoàdistância”.Adescentralizaçãodepoderes provinciaisemMoçambiqueserá,igualmente,alvodereflexãonumestudodecasosobrea provínciadeGaza.Será,também,possíveller,aqui,artigoscompreocupaçõesdidáticas,sobrea “pronúnciadelínguas”eoensinodeumalínguaestrangeira,comooPortuguêseoFrancês.A TecnologiaeMatemáticasãoáreasparaartigossobreexperiênciade“camposdeMatemática” emSãoToméePríncipeesobreascompetiçõesnacionaisdeciência,emPortugal.
ARevistaSTEM+L–aprendizagemdaCiência,Tecnologias,EngenhariaeMatemática, naLínguaemquenosune,apresenta-se,agora,noseusegundonúmero.
SobreaeducaçãoliteráriaemPortugal:gestõese (im)possibilidades- Pedrod’Alte
Cincomodelosdeéticadatraduçãoexemplosdastraduções chinês-portuguêseportuguês-chinês- HanLili,JiangXiaohua
RepresentaçõesdosalunosnasaulasdeFrancêsLíngua Estrangeira- IsaacChavalaCavongo
Descentralização,educaçãoedesenvolvimentodocapital humanonaProvínciadeGaza,Moçambique- DeniseMariaMalauene
7 31 47 69 89 103 123 149 163 183 203
Notasbrevessobrealeituradetextosliteráriosemaulade Portuguêscomolínguaestrangeira- LolaGeraldesXavier
DoPmatEàsCompetiçõesNacionaisdeCiência- ElizabetePeixoto, PaulaOliveira
Aobservadoradomundourbano: Solidão,deIreneLisboa - SilvieŠpánková
Apronúnciadelínguasnãomaternasnoensinoadistância: umapropostaparaoPortuguês(enãosó)- AdelinaCastelo
CamposdeMatemáticaGulbenkianemSãoToméePríncipe - IsabelHormigo,JoanaTeles,PeregrinoCosta
ÍNDICE
EnsinoàDistância:autonomiaeautorregulaçãoda Aprendizagem- IsmaelNhêze,LiaOliveira,AntónioBatelAnjo,SoraiaAmaro
Literaciadigitalcomodispositivodein(ter)vençãodialógicaem educaçãoemtempodepandemiadaCovid-19- ArmandoZavala, RodolfoCiprianoJoãoSalgado
Introdução:oqueéaEducaçãoliterária?
Pedrod’Alte CIEC–UniversidadedoMinho
EmPortugal,pormeiododespacho17169/2011érevogadoo CurrículoNacional doEnsino Básico esurgeumnovotextoregulador.NocasodaLínguaPortuguesa,surgem as MetasCurricularesdePortuguêsdoEnsinoBásico,noqualaEducaçãoLiteráriase consubstanciadomínio–assumindotempos,objetivosprópriosepropostasdetrabalho comlivrossugeridos1.Odocumentoéfulcralnopanoramadeensinoe,pelasua centralidade,condicionaapráxisescolar.Nestesentido,revela-seoportunodedicar 1 Odocumentoépúblicoedelivreacesso.Paraopresente artigo,nãoexistepertinêncianaescansãodos objetivosreferidosnomesmo,massobretudo,umareflexãosobreasuagestãoemfavordaeducaçãoliterária.
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Palavras-Chave: EducaçãoliteráriaemPortugal;metodologialiterária;educação; ensino.
Sobre a educação literária em Portugal: gestões e (im)possibilidades
Resumo: Nopresenteartigopretende-serefletirsobreopanoramaatualdaEducação LiterárianosprimeirosciclosdeensinoemPortugale,também,problematizaropapeldo professornaquiloqueéatinenteàpromoçãodaleitura,àseleçãodo corpus literárioeàs estratégiaseaosobjetivosdaleitura.
Sobesteprisma,torna-seimplícitaanoçãodeleituracomodireitocivil,como participaçãocívicanacionaleuniversal,comofruiçãoestéticaeartística,entendendo-se, assime,também,aliteraturacomoartedapalavra.Paralelamente,aexpressão“visadotar” implicaa existênciade umprocesso demediação leitorae deensino daleitura literáriaque sedistinguedeoutrasformasdeleitura,desdelogo,peloroldecompetênciasqueos autoreselencam.
Concretizadaaaproximaçãoaoconceito,carecerefletirsobreasuagestãoesua implementaçãonaescola.
atençãoaoquesignificaaEducaçãoLiteráriaecomoamesmaseconcretizaemseio escolar.
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Ora,no quetange aescansão doconceito deeducação literária,é possívelconstruir umimportantereferencialteóricorecorrendoadiversosautores.Roig-Rechou(2013)e Cerrillo(2007)assinalamqueaeducaçãoliteráriapretendedotaroleitordeumconjunto desaberesculturais,literáriosesociaisqueoajudemaaumentarasuacompetêncialiterária eintertextual,mas,também,aampliarasuacompetênciaenciclopédica.Ramos(2013,p. 53)referequeaEducaçãoLiteráriatemcomoobjetivofulcralaformaçãodeleitores capazesdeinteragirdeformaeficazcomotextoliterário,ativandoassuasmúltiplas potencialidadesdeleitura. Porsuavez,AzevedoeBalça(2016,p.2)entendem otermoda seguinteforma:“aeducaçãoliteráriavisadotaroleitordeumconhecimentorelevante acercadetextos,autores,géneros,bemcomoconvenções,temaseestilemasliteráriosde modoaqueelesepossasentirmembroativoeparticipantedeumacasacomum”.
2 Sobre o digital, em 1992, José CarlosAbrantes partilhava o seguinte: “Ler, sim, mas o quê? Uma história policial, umclássicode literatura,aslegendasdosfilmesdaTV ouaslegendasda publicidadepolítica? Como selê o não escrito (a imagem)quando associado ao escrito, oudele separado? Como seleem a imagem eo som juntos? Como semodifica umaimagemcom outraimagem quea segue? Isto é,a leitura,como interiorizaçãoreflexivadesímbolos, nãopassaapenas pelapalavraimpressa Passatambém pelaslinguagens daimagem e do som” (Abrantes, 1992, p.26).Hoje,aindacontinuamossem umaleituracrítica de audiovisuais emcontexto escolar.
Paraumprofessordelínguaportuguesa,aescolhadotextoliteráriorevela-se exigente.O corpus documentaltrabalhadonasaulasdelínguaportuguesatemvindoa evoluiraolongodahistóriadoensinonacional(Sousa,1992;Teodoro,1990).Hojeem dia, existe uma pluralidade de tipologias textuais e uma ampliação dos suportes discursivos comaaberturaeainclusão,porexemplo,douniversodigital2.Noentanto,eapesarda crescentepanópliadetipologiastextuaispresentesemcontextoescolar,continuaaexistir umespaçoeumtempodestinadosàeducaçãoliteráriaquepossuemobjetivosepropósitos específicosequesãodivulgadospormeiodedocumentosnormativosqueindicamum númerodeobrasmínimoaserestudadoe,também,osconhecimentosnuclearesa desenvolver.Esteintuitofazassegurarumaatençãoespecialdedicadaàliteraturaeà metodologialiterária.
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Agestãodo corpus literário
Nesteâmbito,repare-sequeoconjuntodeobrasliteráriaspropostoaoalunoe professoresaumentou.Relembre-sequetodososanos,frutodesseprocessode revitalizaçãodomercadoeditorial,sãorevistaseexpandidasaslistasdoPlanoNacional deLeitura.Noentanto,Mergulhão(2008),numtomcrítico,atestaquevárioslivrosàvenda nomercadoeditorialnãopodemsertidoscomoliterários,poisnãoevidenciam
potencialidadeslinguísticaspolissémicas,jogosconotativos nemumasimbologiapassível deserlidaemlinhacomoqueseentendecomoliteratura.Brito(1997,p.114),porseu turno,revelaqueboapartedoslivrosdepotencialreceçãoinfantojuveniléumproduto típicodaeducaçãoemmassa.Istoé,asuacriaçãovisaresponderanecessidadesespecíficas domercado;emtermostemáticosretrataarealidadeimediatadoconsumidoretendeà banalizaçãodevaloreseconteúdos;porfim,serveutilizaçõesdidáticas.
São,aliás,váriosostítulosquemotivamreflexõessemelhantes.Porexemplo, A toupeiraquequeriasaberquemlhefizeraaquilonacabeça nãoreúneconsensoquantoà qualidadeliteráriaentrepromotoresdaleituranasescolas3.Noentanto,sobreesteeoutros livros,éoportunaareflexãodeR.Chartierquedefendeque,parasefomentaraleitura,é crucialevitar-seumaposiçãointransigente:
Paraincitaràleitura,éprecisoevitarduasposiçõesextremas:sejaconsiderarcomo dignosdeseremlidossomenteostextoseosgéneroscanónicosdaculturaclássica,seja ao contrário, tomar todas as leituras como equivalentes. (...) O caminho [...] deve conduzir àsprópriaspráticas,desdeleituras“indignas”,“selvagens”,atéumarelaçãomais enriquecedoracomobrasprofundasedensas (Chartier,2000,p.14).
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3 José António Gomes também revela preocupações quanto àliteratura nacional para ainfância.O professor criticaalgumas tendências irracionais ea forma comoopendordidático é concretizadopor meiode uma escrita medíocre Também a ausência detemáticas fortes e promotoras dodesenvolvimentode uma consciência engajada com altos valores cívicos emorais está desaparecida de boa parte da produção portuguesa para ainfância:“curiosamente, ou talvez não,a atualescrita portuguesa para ainfânciaea juventude não é tão fértil quanto possa parecer emtextos,sobvários aspetos, fortes, marcantes, que estimulem odesenvolvimentode uma consciência cívica e política sem comprometerem a sua vertente artística ( ) Somos obrigados a recuarno tempopara encontrarmos algumas narrativas verdadeiramente ousadas dopontode vista doquestionamento sociopolítico”(Gomes, 2012, pp. 8-9).
Apesardenãoserintençãodopresentetextodebateraliterariedadedeum determinadolivro,élegítimosuporqueaproblematizaçãoéoportunae,porisso,urge pensar:oquelerecomoofazer?
Noentanto,nesteâmbitodaeducaçãoliteráriaedaseleçãotextual,existem,à cabeça,doisdocumentosqueintentandoauxiliaroprofessornaescolhadoslivrosa trabalharliterariamente,limitamaescolha.Fala-sedas MetasCurriculares edaslistasdo PlanoNacionaldeLeitura.Comefeito,antesqueoprofessortomequalquerpartena tomadadedecisãodolivroalere/outentefazervalerqualquerumdoscritériosdestacados anteriormente,irádeparar-secomdoisprocessosdeafunilamentodouniversoliterário possível,istoé,doslivrosquesãotrazidosparadentrodasaladeaula.
Sãováriososaspetosqueconcorremparaaseleçãodeumlivrodeliteratura infantil. Apesardenãosefazerumalistaexaustivadetodososfatores,existem característicasàsquaisumpromotordeleituratendeaatender:oarranjodolivro,oformato easuaqualidadegráfica;ainserçãoestéticadotextonapágina;aexistênciaaprazívelde espaçosembranconolivro;aqualidadedeescritaeaqualidadeestética;adimensãodo textoesuaadequabilidadeaopúblico-alvo;ariquezatemática;areputaçãodoautoreseu consequentereconhecimentopelacomunidadeintelectualliterária;aarticulaçãoeo diálogoentrealinguagemescritaeaplástica;acomunicabilidadecomopúblicoadultoe infantojuvenil;ogostodopúblicopordeterminadotítulo.
Noquetangeaescolhadelivrosparaaleituraemcontextoescolar,críticoscomo Cervera(1992),GarcíaPadrino(2001)eCerrillo(2007)afunilamolequedeescolhasao valorizarealudiràcombinaçãoentrevalorartísticoeaexistênciadeumainstância receptora,preferencialmenteinfantil.
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Aprimeiracondicionanterelaciona-secomaatribuiçãodoestatutoliterárioaum livroe,sincronicamente,comasuavalidaçãoparaodesenvolvimentodecompetências literárias.Ditodeoutraforma,no PlanoNacionaldeLeitura sãoelencadososlivros tidos comoobrasliteráriasecomorelevantesparaumdeterminadopúblico-alvo. Posteriormente,aEscola,oprofessorbibliotecárioe/ouprofessortitulardeturma trabalham,quaseexclusivamente,comalistasugerida,sendobastanteimprovávela inclusãodeoutrolivronalistadecomprasounostrabalhosdecompreensãotextualmais continuados.Osegundoprocesso,defeiçãomaisautoritária,temquevercomorolde livrosquesãoconsideradosdeleituraobrigatóriaecujalistaépublicadanasmetas curricularesfavorecendo-seasuacompra,asualeituraeoseuestudo.
Anteoexposto,aquestão“oqueler?”parecealgodesajustadanamedidaemque nãocabeverdadeiramenteaoprofessoraescolhadoslivros,masantese,sobretudo,uma execuçãocompetentedoquelheésolicitado4 .
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Sincronicamente,repare-seque,acadaanoletivo,oprofessorrecebeomanual adotadoemdepartamento.Omesmoconsubstanciaumatentativadeconcretizaras 4 Sobreaquestãodapertinênciadeumalistaquedefinaoslivrosaabordar,asopiniõesdividem-se.Riscado e Veloso(2014)escrevemqueaolongodequarentaanos,aausênciadeumadefiniçãodeumalistadeobras obrigatórias,sobpretextodeumamaiorliberdadedoprofessor,setraduziunaabsolutaausênciadeliteratura infantilenaomnipresençademanuaisqueconsubstanciavamaeducaçãoliterária dascrianças.Poroutro lado,podeentender-seapresençadeumcânoneliteráriocomoumregressoaopassadoqueinibealiberdade deescolhadoprofessorequepodeafastarascriançasdaleitura.Aliás,algumasconclusõesdo12.ºEncontro nacionaldaassociaçãode professoresdeportuguês(ENAPP) veiculamprecisamenteesta ideia: https://www.app.pt/noticias-e-apontamentos/conclusoes-do-12-o-enapp/[consultadoa5 deoutubrode 2020].
instruções da tutela e fornece um manancial de recursos analógicos e digitais que permitem explorarasobrasescolhidasdeformasatisfatóriaequelibertam,inclusivamente,o professorparaoutrosafazeresescolares.Indubitavelmente,existeaseduçãoporaproveitar osrecursosdidáticose,também,porrentabilizarasdespesasqueasfamíliastiveramcom osmanuaisescolares.
Aexistênciademanuaisedeguiõesdeexploraçãojáconcebidostendemafazer comqueoprofessoroptepordedicarmaioratençãoaessasobrasintegraiseaousode documentospadronizadosnaabordagemliterária. Assim,apesardeumasuposta autonomiaquanto àsopções pedagógicase quantoà seleçãodo corpus textual, ohorizonte dasmetascurricularescondicionafortementeoprofessornassuasopções5
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Aesteaspeto,cabeacrescentarqueosexamesfinaistendemaevocarasobras previstas,requerendo,implicitamente,queo professorlhesdediqueamelhor dasatenções devidoàexigênciadosresultados.Importadestacarqueosresultadosfinaisquesão afixadosemratingsescolaresequetendemaserlidoscomorótulosrepresentativosdaquilo queéuma“boaescola”euma“máescola”6,nãosão,obviamente,exclusivamenterelativos àeducaçãoliteráriae,comotal,osprofessorestêmnoseuhorizontetodoumtrabalho
6 Veja se, a títulodemonstrativo, a notícia do jornal Público: https://www.publico pt/rankings escolas2019/lugar sua escola[consultado a 5de outubro de 2020].
5 AAssociaçãodeProfessoresdePortuguêsproblematiza:“Comopodeumprofessorgeriroprogramacom autonomiaeconceberoessencial,quandotemdelidarcomconteúdos articuladoscomcercademilmetas curriculares,cujaobrigatoriedadeseencontraexplicitadaemtodososanos deescolaridade,nosseguintes termos:“aoperacionalizaçãodosconteúdosdoProgramaédefinidanasMetasCurriculares.Osobjetivose descritoresnelaindicadossãoobrigatóriosemcadaanodeescolaridade;devemcontinuarasermobilizados emanossubsequentessemprequenecessário”(APP,2015,sp).
14 N.º22022 necessárioorientadoparatodososdomíniosdalíngua. Abordaroutrasobrasliteráriasé entendidocomoumdesviodesnecessárioquandoexisteumapreocupaçãogenuínacomo cumprimentodasorientaçõestutelares.
Quovadis EducaçãoLiterária?
Atendendoaoqueseapresenta,élegítimoconcatenarumconjuntodeimplicações relativasaoestadovigentedaeducaçãoliterária.Comefeito,apesardeaEducação Literáriaseraltamentedesejávele,também,detersurgidonumcontextonoqualapráxis escolarseafunilavaparaopuroexercícioutilitárioeparaumfavorecimentode interpretaçõestextuaisunívocas,cabeproblematizaroseguinte:
7 A estes aspetos podem somar se outros de ordem logística e que estãorelacionados com as migrações laborais que os professores têm que concretizar.António Teodoro(1990, pp. 24-29) sintetizaas difíceis condições docentes: fortemobilidade geográfica que origina instabilidade quanto ao local detrabalho; precariedade de existência de trabalho; baixos vencimentos cuja parte é dedicada ao custeio de despesas migratórias (alojamento e transportesnão subsidiados); discursonegativo que nãoreconhece oprofessor eo seu esforçonaimplementaçãodas reformas educativas.
Comumatodososaspetossupramencionadosestáaagendapessoaldoprofessor queprevêalecionação,osassuntosadministrativos,agestãodaturma,oaprimoramento doseucurrículoacadémicoeaprópriavidapessoalqueconvergem,paraqueomesmo aceite,grandepartedasvezes,osrecursoscedidospelomanualepelaeditoraqueo apresenta,nãohavendo,emgrandepartedassituações,tempoparaainclusãodeoutras obrasliteráriasintegraisemsaladeaula7.Nestesentido,qualquerrespostaàquestão“como ler?”parecedevolverumconjuntodeesforçosenfocadosparaummomentodeavaliação padronizado.
Ametodologialiteráriapredominanteemsaladeaulacorrespondeàsmotivações doalunodehoje?
Atualmente,aleituraliteráriaemsaladeaulasurgedissociadadeummomento finaldeavaliação?
Admitiraimpossibilidadededarsoluçõespositivasàsinterrogaçõesanteriores pressupõequeaeducaçãoliteráriaeseusmoldesdeoperacionalizaçãonãosão concretizáveisemarticulaçãocomoplanodeestudose,porconseguinte,faliram.Ora,é
Nocontextoatualdeensino,oprofessordeportuguêsconsegueampliaronúmero deobrasliteráriasintegraislidasemcontextodesaladeaulasemcomprometertodasas indicaçõestutelaressobreotipodecompetênciasqueumaluno-tipodeveevidenciara determinadafasedoseupercursoacadémico?
Osmodosdelereosdispositivostextuaisapresentadosaosalunosforam atualizadosaolongodosúltimosanos?
Comoosalunosrecebemumanovaobraliteráriaquenãoéobrigatória?
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O corpus literáriopredefinidoédetalformalegítimoeconsensualquejustificaque todososalunosdenorteasul,dolitoralaointerior,dasescolasinternacionaisportuguesas, rapazeseraparigasleiamamesmaobraemperíodosemelhanteeaabordemdeforma similar?
Comopodemserincluídasoutrasobrasliteráriasintegraisquandoexisteumpeso tãograndenaavaliaçãodoaluno(eemdiferidodosprofessores) eospróprios instrumentos deavaliaçãoincidemsobreasobrasliteráriasobrigatórias?
Quãovalorizávelevalorizadoéoaprendente quelêmaisobrasliteráriasdoque as previstasoutrabalhadasemsaladeaula?
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Nestesentido,umapráticasalutardeleituradevefazercomqueoindivíduo construaumconjuntodeatitudesemrelaçãoaolivroeaoseuconteúdoequese caracterizempelarepetiçãodapráticadeleituraemsituaçõessimilaresoudissemelhantes; pelaautonomizaçãodaleitura;peloreconhecimentodasespecificidadesdosdiferentes
Oesvaziamentodosentidodoconceitodequesefalapodeserpreenchidoquando seentendeoqueénecessárioparaqueaLiteraturacontinueaexistir.Ouseja,nasua fórmulamaisbásica,umaboapráticadeleituraéaquelaqueconduzàmanutençãoda existênciadapróprialiteraturaenãoaquesetraduzereduzaumprocessodeavaliação emcontextoescolar.
Existeumaideiarecorrenteequeagíriaacadémicatendearepetiraolongodos anos:asboaspráticasdeleitura.Oraoconceitodeboaspráticasdeleitura,conforme identificamosinvestigadoresJoséNeves,MariaJ.LimaeVeraBorges,nemsempretem uma definição exata. Nas palavras dos autores e segundo a pesquisa bibliográfica exaustiva dosmesmos,otermosurgeassociadoaoalcancederesultadospositivoseaprojetostidos comoexemplaresoupositivos(Neves,LimaeBorges,2007,p.12).Inevitavelmente,em funçãodoquetemvindoaserdefendido,umaboapráticadeleituranãopodecoincidir totalmentecomaobtençãodeumconjuntoderesultadospositivospois,comose depreende,uma“má”práticadeleituraépassíveldeobterbonsresultadoseuma“boa” práticadeleiturapoderevelarresultadoscontrários. Assim,oresultadonãodevesero principaldefinidordoprocessonemoseuavaliador.
decrerqueuma“boapráticadeleitura”possacontornarestesespaçosdeindefiniçãoe possadarumsentidoadequadoàsmetodologiasliteráriasemcontextoescolar. OquepromovernaEducaçãoLiterária? As“boas”práticasdeleitura
Sumariando,umconjuntodepráticasemfavordodesenvolvimentodeleituras literáriaspeloindivíduo,pretendecontribuirparaacriaçãoesedimentaçãodeuma determinadaesferadeatitudes,condiçõesesaberes. Assim,contrariandooesvaziamento desentidoqueoconceitode“boapráticadeleitura”pareceencerrar,elenca-se,neste exercíciodereflexão,umconjuntodeaspetosquefavorecemaliteraturaemcontexto escolar. Uma boa prática de leitura deve privilegiar, pelo menos, um dos seguintes pontos8: Melhoriadacompetênciadiscursiva– Asatividadesdeleituraexpandemoléxico passivo doleitoreajudamamelhorarassuasinteraçõesdiscursivaspeloconjuntode oportunidadesquelhesãodadaspararecebereproduzirenunciados(Bártolo,2004; Duarte,2000;Harris,1992;Morrow,1992;SepúlvedaeTeberosky,2010;Sepúlvedaet al.,2013).
Memóriaspositivas–Trata-sededesenvolverumaafetividadefavorávelpara com olivrodemodoaqueoobjetoeasatividadesemtornodestesejamassociadasa lembrançasaprazíveisparaoleitore,também,permitamosentimentodeestaraaprender algovalorosocomaleitura(Damásio,2000,2011;Moreira,2000;Vygotsky,2001a).
Memóriaspositivasemrelaçãoaolivronãoobstaculizamasualeituraeaumentamas
8 A versão ampliada das ideias apresentadas pode ser consultada nateseintitulada Da educação literáriaà leitura de mundos. Práticas literárias em contexto escolar no séc. XXI (d’Alte, 2020).
17N.º22022 textosliterários;pelaapropriaçãodomesmoeporumadesejávelinclusãodaliteraturano seumododeviver.Emtraçosgerais,estemododeentenderaspráticasdeleituraestáem linhacom oque édefendido porAbreu(2000)eLajolo(2005)que preferemuma apologia dadiversidadetextualeumaorientaçãodadidáticaliteráriaparaapromoçãodogostopela leitura.
Sociabilizaçãoprimáriaaoredordoslivros Oleitoremergentetemacessoalivros. São-lhelidostextosliterários eosujeitoacedeaexemplosdemodelosdeleitoresnas figurasquelhesãomaispróximas:pais,família,educadores(GomeseSantos,2010; Lajolo,1999;Magalhãese Alçada,1988;Pinkard,2001;Robinson,1997).
Emergênciadodesejodeleitura(lereouvirler)–Respondendoàsmotivações intrínsecasouextrínsecas,oleitorsentedesejodelernovamente-pararetomaraleitura ondeadeixou,pararevisitarotextoouparaleroutroslivrosdefeiçãoidênticaouquelhe sejamcomplementares.Emerge,assim,umpossívelinícioparaacriaçãodehábitosde leitura(Giasson,2000;Prado,2004)10
18 N.º22022 hipótesesdecomportamentosleitoresemidadesadultas(Grotta,2000;Leite,2006,2010; Prado,2004;Steiner,2007)9 .
9 Os trabalhos produzidos por Grotta(2000) eLeite (2006) enfatizam que, quando da leitura, existe uma relação sujeito-objetoquetendea ser mediadaporumagente cultural (aescola) e que este processo (sujeitoobjeto- mediação) émarcadamente afetivo,sendo a qualidade damediaçãoum dosfatores com maior impacto namanutenção decomportamentos leitores em idades adultas.
Sentimentofavoráveldecompetênciaelementar–Oleitorsente-secapazde identificaroselementosparatextuais,de associarotítuloaoautor edeidentificarasideias básicasdolivro(AguiareSilva,1996,2004;Colomer,1995;Giasson,2000).Oleitorprevê possíveisconteúdospelaleituraepelomanuseiodestesitens (Hancock,2004;Smithe Elley,1997)
10 Segundo Prado (2004, p 333), “el interés secentra en lacreaciónde hábitos delecturaen elalumnado,en despertar en éste el gusto y el placerde la lecturaen su infancia y adolescencia para pasar más tardea hacer unuso más complejoyreflexivodelalectura”.
11 Ao leitorpermite se, desta forma,a aprendizageminformal, numcontextoque pode ser externo aorecinto escolar e que afasta, decerta forma, a mediação e a seleçãoprévia dos conteúdos a lerpelo adulto.Neste percurso, háuma tomada de açãoporparte do leitorque se lança autonomamente àdescoberta, fazendo-se valerdassuas competências.Bloom (2001, p.15)fala deumaaproximaçãoa universosdissemelhantes e com tomadas de consciência da alteridade Comoreferem Donovan e Smolkin (2003, p 28), “children and their meaning making efforts arethecentre of this process” Estaaquisiçãodeconhecimentorelaciona secoma construção cultural pessoal e éum processo que deve ser promovido desdetenra idade para que o leitor adquira ferramentas quelhe permitam lerparaaprender(Alliendee Condemarín, 2005, p.151).
19N.º22022
Intertextualidadecomdiferentesmanifestaçõesculturais Osujeitoreconheceecos einfluências deobras lidasem diferentessituações eproduções culturais,tais como:peças deteatro,artesplásticas,cinemaoumúsica.Reconhece,assim,asreferênciaseoporquê dasuaevocação(GregoryeCahill,2010;Kristeva,1969).
Desenvolvimentodosaberenciclopédico–Oleitorutilizaolivroparaaprender numprocessodeinteraçãocomossaberesjáassimilados.Vaiadquirindoconhecimento pormeiodaleituraliteráriaeampliandooseuuniversodeexperiência(Alliendee Condemarín,2005;Bloom,2001;Dionísio,2000;DonovaneSmolkin,2003)11 .
Sociabilizaçãosecundáriaemtornoeapartirdoslivros–Oindivíduoreconhecesecomoleitorepartilhaassuasexperiênciasdeleituraeassuasopiniõessobreolivrocom outrosleitores.Paralelamente,tambémrecebeinformaçõessobreoutroslivrospormeiode diferentescanais:jornais,revistas,internet,rádioegrupodeparesecomunidadeleitora. Esteaspetopermite-lheampliarasuabibliotecainterioreouniversodoslivrosconhecidos (Azevedo,2006;Azevedoe Martins,2011;Cerrillo,2006; MosseYoung,2010; Raphael, PardoeHighfiel,2002,2004;YoppeYopp,2006).
Desejodeproduzirdevidoàinfluênciadolivro–Olivromotivaoleitorarealizar atividadesrelacionadascomomesmo:leituraemvozalta,teatrodesombras,teatroda
12 Leiam-se as palavras de Pereira a respeito do manuseiode ferramentas que permitam o acesso a uma construção mais livre do conhecimentopor parte do aprendente:“aconcepção social deaprendizagem proposta por Vygotsky (2001, p. 192) implicou a valorização da dimensão interativa na construçãoda aprendizagemea reconceptualizaçãodo estatutodos intervenientes neste processo,sobretudo no aluno,a quem foi reconhecidoum papel ativona construçãodo seu conhecimento; o que vemos agora équea concepção explícita dessa aprendizagem” Bronkhorst (2009, p 21) chama aatenção paraaemergência dos ambientes digitais comooprimeiropalcode informaçãopara esta geração de leitores: “Internetis the defining context for the present generationregarding literacy and learning. It requires newskills,strategies anddispositions to fully exploitits informationand learning potential” No mesmo diapasão,Prensky(2010, p 203) tambémse debruça sobrea proeminênciadaInternetesuasvantagens:“a tecnologiaatual ( )oferece aos alunos todos os tipos de ferramentas novas e altamenteeficientes para que possamaprender sozinhos–desde ainternet com todo tipo de informaçãopara procurar e ferramentas de busca para descobrir o queé verdadeiro e relevante, até ferramentas deanálise que permitem dar sentido àinformação,a ferramentas de criação que trazem resultados de busca em uma variedade de mídias, ferramentassociais que permitema formaçãode redes sociais de relacionamento e até detrabalhodemodo acolaborar com pessoas do mundo inteiro”.
Apropriaçãodotexto–Oleitorcompreendeoquelêeatribui-lhesentido.
Utilizaçãoderecursosparalelos–Oleitoridentificaeutilizaauxiliaresquelhe permitemchegaraoutrosníveisdecompreensãotextual.Fala-se,atítulodeexemplo,de dicionários,glossários,enciclopédias,ferramentasdepesquisadigitais,revistas,livrose documentosdeteorialiterária(Bronkhorst,2009;Pereira,2008;Prensky,2010;Vygotsky, 2001)12 .
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Reconfiguraçãodotexto–Existeumareutilizaçãodotextocomnovas intencionalidadesestéticas:aironia,a pastiche,asátira,aparódia.
Inclusão da leitura literária no modo de vida diário No seu quotidiano, o indivíduo cumpreoseudesejodeleituraededicatempopessoalàleituraliteráriadeautoresseus conhecidosoudenovosautores(Cerrillo,2007).
Conformeseproblematizouaolongododocumento,existempontoscríticosna gestãodasmetascurricularesequedevemseratendidos.Sobretudoemtópicosatinentes aoqueseentendepor“boapráticadeleitura”,àautonomiadoprofessor,aocentrismodo corpus literárioe auma dissociação,pelo menosparcial, entreleitura literáriae avaliação.
21N.º22022 escola,composiçãodepoemas,ilustraçãodeumsegmentotextual,reescritadoiníciodo livro,propostasparafinaisalternativos,escritadeumcapítulonumblogescolarou dinamizaçãodeumapáginanainternetcomconteúdosrelacionadoscomolivro.
Oqueconcluir?
Repare-sequeoentendimentoapresentadodeumaboapráticadeleituranãorequer umaoperacionalizaçãosemelhanteaoqueacontecenasescolasnacionaisondeseinsiste namanutençãodeum corpus literáriocompoucavariaçãoaolongodosanose,porarrasto, conduncenteaumacertacristalizaçãonaproduçãometatextual.Ditodeoutraforma,a literatura, per se, necessita de revitalizações que passam, na sua forma mais crua, por trazer outroslivrosparaaescola,porseler,falareescreversobrevariadosautores.Aliás,a manter-seaperspetivacanónica,umalunoterámaisdificuldadesemaceder,porviadeum percursoescolarorientado,a,porexemplo,autoreslusófonos–comtodasasimplicações daquidecorrentes.Osalunosrepetentestambémsabemqueencontrarão,noanoseguinte, “livrosqueosfizeramreprovaroano”.Nãoseriaarriscadodizerquetalcenáriofavorece, sobretudo,aseditorasmaisproeminentesnonichodemercadodas“obrasobrigatórias”.
22 N.º22022
Porfim,aderradeiraquestão:estáaeducaçãoliterária–nãoenquantoconceito, mascomooperacionalização–próximadasboaspráticasdeleituraacimapropostas?
13 Ideia apresentada em d’Alte (2020) e que dá conta do conjuntode pressões,em contexto escolar, que dificultamaleitura de obras integrais em sala de aula.
ChamaraatençãoparapossíveisperigosnaoperacionalizaçãodasMetas Curriculareséessencialparaaprimoraraspráticas.Aescolaeosseusprofessores entendemque,pormeiodaleitura,emespecialdotextoliterário,permite-seaformação dasensibilidadeedaestética;oacessoàplenitudefuncionaldalinguagemeàrealização detodasasvirtualidadesdalíngua;opossívelcontatocomoprópriopatrimónioliterário dopaísmas,também,comoutrasmatrizesdepensamento,comdiferenteshistórias, culturasefolclores.Resta,poragora,perceberumamelhorformadeoconcretizar.
Emdiferido, tambémse podequestionar se,na últimadécada, opaís nãoproduziu nadade novoouliterariamenterelevanteparaestudoescolareacadémico.
Imbricadonestetópico,surgeopapeldoprofessorquesevêinseridonuma redoma literária13 queoforçaaocumprimentodeorientaçõeseque,pelarepetiçãode abordagens oupelousodeinstrumentospadronizados,ameaçacriar-lheumolharopacosobrea literatura.Faceaumaextensateiadesolicitações,oprofessorémaisumcumpridordoque umdesbloqueadordeleiturasliterárias.
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Brevenotabiobibliográficadoautor
Pedrod’Alte éDoutoremEstudosdaCriançapelaUniversidadedoMinho.Sob supervisãocientíficadoProf.DoutorFernando Azevedo,apresentouateseintitulada Da educaçãoliteráriaàleiturademundos.Práticaseconceçõesemcontextodesaladeaula daqualseadaptaopresenteartigo. Atualmente,émembrodoCentrodeInvestigaçãoem EstudosdaCriançadoInstitutodeEducaçãodaUniversidadedoMinho.Mestreem EstudosPortuguesesMultidisciplinarespelaUniversidade Abertacomotema: Caleidoscópioliterário –A representaçãoromanesca deLuís Cardoso.Entre2009e2014 foidocentena UniversidadeNacionaldeTimorLorosa’e.Colabora,presentemente,com AUniversidadePolitécnicadeMacau.
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IreneLisboa: Solidão .
IreneLisboa(1892-1958)éumcasosingularnaliteraturaportuguesadaprimeira metadedoséculoXX.Trata-sedeumaautoraconhecida,apreciadapelaqualidadeda
Aobservadoradomundourbano: Solidão,deIreneLisboa SilvieŠpánková UniversidadeMasarykdeBrno
Aminha vontadeé deatravessar silenciosaas vagasmultidões dasruas, aindamais despercebidaqueatéaqui.Demeirmumificando,semdor.Oquenãoqueroéqueme acordem,quehajagenteinteressanteapassaraopédemimeadarclaridadeaomundo.
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Resumo: Opresenteartigoanalisaotemaurbanoem Solidão (1939),deIreneLisboa, umadasmaisimportantesautorasdaprimeirametadedoséculoXX.Emboraa problemáticadacidadepertençaàslinhasdeforçanaobraireniana,estanãotem despertado,atéagora,grandeinteresseacadémico.Opresenteartigo,portanto, desenvolveostrabalhosqueaestetemaforamconsagrados(Morão1993;Lopes1994; Magalhães1995),centrando-senafiguraperipatéticaenasua capacidadedeobservaro ambienteurbano,emespeciala“paisagem”humana,retratodopovohumilde,como qualanarradorasenteumfortelaçoemocional.Masapesardestasintonia,asensação primordialqueanimao textoirenianoé,justamente, asolidão,comoa inscriçãodeuma mulherinsubmissaqueousoutransgredirasconvençõesdaépoca.
Palavras-chave: IreneLisboa,espaçourbano,Lisboanaliteratura
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suaobrae,apesardisso,poucoestudadaeaindamenoslida14.Naverdade,umcerto desinteressepelaautoraconstituijáum leitmotiv desdeaépocaemqueIreneLisboa viveu.Odesabafo“porquêninguémlêIreneLisboa?”encontra-senotítulodacrónica deJoséCardosoPires,publicadano DiárioPopular,em1966,repercutindoopróprio desabafardaautoraquandoseencontravacomoescritorJoséGomesFerreira,seu amigo.Acrernoautorde Poetamilitante,Irenereagiaàsconversassobreosescritores adoradospelopúblicocomaspalavras:“Eamim?Porquenãomelêem?”(Ferreira, 1978,InLisboa,1991,p30)15.Naverdade,aobradeIreneLisboadeveserrecordadae estudadacomoumagrandeconquistaliteráriadadécadade30doséculoXXque,nas palavrasdeJoséGomesFerreira,“levouapoesiaatéàsúltimasconsequênciasdo desconcertoformal,dessacralizando-a, esvaziando-adetodososrituais,semcontudoa banalizarnem tomarares derevolucionária indómita”(Ferreira,1991,p.19).Comeste procedimento,eaindacomabaniçãodetodososlugarescomunsconvencionais burgueses,opinaGomesFerreira,IreneLisboaarrasoutodaapoesiadeautoriafeminina
14 Quasetodos os trabalhos importantes sobre Irene Lisboa foram feitos por Paula Morão.Dos trabalhos mais recentes,convémmencionar a pesquisa de Sara Marina Barbosa, dedicadaà obra poética.
15 Também Carlos de Oliveira, nacrónica“À espera de leitores” (O aprendiz defeiticeiro, 1971)pergunta “Porquê não selê IreneLisboa?”, aduzindoque“[h]á vinte e tantos anos a explicação seria fácil ( )[m]as hoje, ultrapassandoodesfazamento inevitávela que estão sujeitos os inovadores, porque razão continua IreneLisboa a não ser lida? ( )” (Oliveira, 1995, pp 169-170) Hojeem dia, Vítor Viçoso explica, aeste respeito, que “[a]poucaaceitaçãoda suaobra pelopúblico coetâneo,devidocertamenteaoseuhiperbolizado intimismo e aofragmentarismo, leva a concluirque tal postura estética seria dificilmente digerível poruma parte dacrítica eporleitores pouco sensíveis a essamais-valia intimista do feminino(um mundo condenado à solidão),em contrastecom osparadigmas dominantes, emfunçãodos quais a mulherera avaliadasobretudo pelo conservadorismodoseupapel social.” (Viçoso, 2011,p. 249).
IreneLisboapodeserconsideradaaprimeiraescritoramodernistaportuguesa visceralmentevinculadaaoespaçourbanolisboeta.Étambémestaautoraque,ao contrário de outras modernistas como Judith Teixeira e Florbela Espanca, eleva o espaço aolugarcimeirodasuapoética.Estefactoécomprovadopelostítulosdealgumasdas suas obras, sobretudo de crónicas, como Esta cidade! (crónica lisboeta) (1942), O pouco eo muito– crónicaurbana (1956)ou Crónicasda serra (1958).Pelorigoremestriaque aautoralisboetaconseguiualcançarprecisamentenestegénerodeformatobreve,pode serconsideradaumadasmelhoresvozesdacrónicalisboetadoséculoXX,precursora deJoséFerreiraGomes,JoséCardosoPires,Baptista-BastosouAntónioLoboAntunes. Restringindo-nos,noentanto,àépocaemqueIreneLisboaviveueescreveu,énecessário apontarapoéticadeCesárioVerdecomoumadasvozesmaisimportantesque influenciaramaabordagemdourbano,àqualaautoralisboetasededicounasuaobra. Aestepropósito,PaulaMorãodizoseguinte:
ComoemCesárioVerde,tambémaquianarradora,emmonólogointerior,se colocanumaposiçãodeobservadoraprivilegiada deummundomultifacetado,também eladácontadacidadeemmovimento,enelarecortacenasepormenores,com cambiantesdeluzecordetalmodointensosqueafazem,porvezes,perguntar-sese estáaescreverouapintar.(Morão,1993,p.37)
33N.º22022 precedente(cf.Ferreira,1991,p.18).JoséGomesFerreirasustentamesmo,noseu ensaiode1978,queIreneLisboaé“amaiorescritoradetodosostemposportugueses” (Ferreira,1991,p.17)einsereapoesiadeIreneLisboanocontextopoéticoda“famosa” e“luminosa”décadade30,iniciadasimbolicamentepelosuicídiodeFlorbelaEspanca, que viu surgir várias obras de interesse, entre as quais o trabalho literário de Irene Lisboa ganhaumlugarderelevo(Ferreira,1991,p.21).
Noespetrodaobraireniana,tantopoéticacomonarrativa,apresençadacidade deLisboaéumfactoeumadimensãomarcanteemtermosdeimaginárioesistema axiológico,estabelecidosapartirdosfinsdosanos30com Solidão (1939),texto publicadosobopseudónimodeJoãoFalco.Nestetexto,inauguralefulcralparaa compreensãodetodaaobraireniana,aperspetivafemininaabordaacidadenãosódo ladoexterior,comoeracostume,mastambémdoladointerior,privadoeintimista. Tratando-sedeumdiário(fictício,mascomváriostraçosautobiográficos),écurioso notarqueestetextoprosaicoéacompanhado,aindanamesmadécada,dedoisvolumes depoesiaintitulados Um dia e outro dia (1936)e Outono havias de vir (1937),publicados tambéminicialmentesobopseudónimodeJoãoFalco,dosquaisoprimeiroé explicitamentesubtitulado diáriodeumamulher.Comefeito,nasduasobras “diarísticas”,emprosaeemverso16,apresentam-setemasatéentãonãoconhecidosna
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Nasualeituradaobraireniana,PaulaMorãosalientaofactodesetratardeum discursonãopuramenteregistador(comopoderiapareceràprimeiravista),mas sobretudoemocional(cf.1993,p.37).Comefeito,anarradoraireniananãomantémuma distânciafria eracional peranteo observado,envolvendo-se sempreafetivamente noque vêaoseuredor.Alémdisso,abemdirigidaatençãoaospormenoresdavidaquotidiana, sejamobjetos, partesdo cenárioexterior ougestos entrevistosna rua,sublinha ofacto de a existência humana ser composta principalmente de uns pequenos “nadas” que, se forem devidamentevalorizados,ganhamimportânciaprimordialnaconstruçãodavida emocionaldecadaumenaperceçãodoqueéahumanidade.
16 ÉprecisoadvertirqueIrene Lisboanãosepreocupavacomas fronteirasgenológicas,sabendo perfeitamentequeasuapoesiaevitavaosmoldesdeumalíricatradicional,podendoseratépercecionada comoumdiscursoprosaicodivididoritmicamenteemversossincopados.
poesiadeautoriafeminina.Amundividênciaexpressanapoesiaenaprosacoincide porquetantoaprosa,comoapoesia,exprimemomesmoolharsobreacidadequedeu apelidoaIrene,mulherinsubmissaedasmaisoriginaisnasletrasportuguesas.
“Ilove walkingin London”,diz Mrs.Dalloway, afamosa personagemdo romance homónimo(1925)deVirginiaWoolf(2003,p.5).Asuaautoratambémgostavadeandar pelasruasdacidade,paracaptarainspiração.Em1927,VirginiaWoolfescreveuo ensaiointitulado Streethaunting:ALondonadventure (publicadoem1930),emque confirmaasuapaixãodedeambularpelasruaslondrinas,nastardesdeinverno:
A flâneuse lisboeta
OspasseiospelasruasdacidadeserviramaVirginiaWoolfcomoumaespéciede pesquisasobreopovoeasuavida.Aautorainglesa,contudo,especificaqueesta deambulaçãodeveocorreremcertascircunstânciaspropícias:noinverno,devidoàluz opacaeaofrioquefazaspessoasagruparem-senaurbe,emvezdeprocuraremsombra esolidãono campo;eà tardeentreas quatroeseis horas,quandoa escuridãoea luzdas lanternasemprestamaodeambuladorumanonimatoeliberdadedepassearpelasruas
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Thehour shouldbe theevening andthe seasonwinter, forin winterthe champagne brightnessoftheairandthesociabilityofthestreetsaregrateful.Wearenotthen tauntedasinthesummerbythelongingforshadeandsolitudeandsweetairsfromthe hayfields.Theeveninghour,too,givesustheirresponsibilitywhichdarknessand lamplightbestow.Wearenolongerquiteourselves,Aswestepoutofthehouseona fineeveningbetweenfourandsix,weshedtheselfourfriendsknowusbyandbecome partof thatvast republicanarmy ofanonymous trampers,whose societyis soagreeable afterthesolitudeofoneʼ sownroom. (Woolf apud Nordquist,2017,s/p)
Masomeuobjectivismodevediferirdodeumpintor.Devemosverascoisas diferentemente.Nestapaisagemoqueeuviaeraumnãoseiquêdedramático,quenem cornemformatraduziriambem. (Lisboa,1992,p.94)
semsernotadonemreconhecido.Oambienteurbanoencheosujeitowoolfianodeum prazerquasesensual,todasasimpressões–especialmentevisuaiseauditivas–são registadascomasensibilidadedequemsedeixaabsorverpeloespaçocircundante, esquecendo-setemporariamentedesipróprio.
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Estávamosastrêsaolharorio.Delasduas,amaisvelhapinta.
Ficapatente,nesteexcerto,quedoistiposdeobservação,umadepoeta/escritora eaoutradepintora,focamummesmoelementoespacial(oriocomocéu)demodo
Em Solidão deIreneLisboa,curiosamente,nãoencontramoscenasdedeambulação noturna.Todasassuasimpressõesvisuaiseauditivasserestringemahorasdedia porque,talcomodentrodoquarto,osujeitoirenianoficasobremaneirasensívelaosol, àluzeseusefeitos.Umdosexcertoscaraterísticosemquesedetetamasimpressões visuais,asquaisservemdereflexãosobreasidiossincrasiasdeobservaçãoindividual, oferece-senoseguintefragmento:
Bonitoquadro!–digo-lheeu.–Tudocordechumbo,nãovê?Pesado!Eseria fácildepintar?
Eu chego a distinguir lilás, responde-me ela. Olhe ali para aquela nevoazinha entre aluaeaágua.(...)
Defacto,paraomeuobjectivismonãopodiahavermaisqueumtomdechumbo, umtomgeral.
37N.º22022 divergente.Enquantoapintoravêascorespitorescas,convidativasàpintura,a poeta/escritoravê“somente”acorescuraquedificilmentepoderiaserlevadaàtela.Isso tudodevidoaofactodeapintoraverarealidadecircundanteemcores(“Tudoécor, graduaçõesdecor,diriaemsínteseaminhacompanheira”,Lisboa,1992,p.94), enquantoamesmarealidadeépelapoetisa/escritoratransfiguradanumaobjetividade subjetivizada,dotadadevaloresemocionais(“Estetomdechumboéessencialmente dramático.”,Lisboa,1992,p.94).Portanto,emboraosujeitoirenianosesintacomo observadorapassiva,semimpulsosinterioresquelheproporcionemumavidamaisplena (“Quevida estúpidase tem!Que eutenho. Umavida queme contraria,que metorna um serdependente, passivo.De olhostotalmente postosno espectáculodos outrose nomeu vaziopróprio.”,Lisboa,1992,p.150),oseupapeléobviamenteativoporquealiteratura alimenta-seprecisamentedessa“passividade”,pormeiodaqualosujeitopode,atécerto ponto,esquecer-sedesipróprioafavordopalcodavidaobservadoeartisticamente transfigurado.Emfrentedosolhosdoobservadorsensívelabre-se,assim,umuniverso compostodeváriascoreseformas,atravésdasquaiso sujeitopodepenetrardebaixoda superfíciedosfenómenos,conhecendoasuaessênciaqueé,também,aessênciadaquele queobserva.
NassuasdeambulaçõespelasruasdeLisboa,osujeitofemininodeambulador comporta-seperfeitamentecomoum flâneur “clássico”,dostemposdeBaudelaire, passeandopelacidadeereparandosópormeroacasoemcertasfigurasdapaisagem socialurbanaquemomentaneamentecaptamasuaatenção.Outrasvezes,osujeito (per)segue, secretamente,certosalvosdeinteresse,refletindoprincipalmentesobreoseu estadosocial,aspetoecomportamento(p.ex.“Sigoatrásdeduasmulheresnovasmal vestidas,poracaso.[...]Narua,apassocalmoeindiferente,voupelomesmopasseio destasduasmulheres.Acho-asdisparatadasecomuns,pensoquesãocoristas.”,Lisboa,
Tambémnapoesiairenianaencontram-seváriaspassagensemqueosujeito poéticodeambulapelasruas,referindo-se,comojáÓscarLopesrealçou,a“peixeiras, garotos,umavelha,umaregateira,umcauteleiro,vendedoresdepobrescoisasfeitas numaescada,umamulherdefava-rica,costureiras,asfloresfeitaspelocalceteiro,etc. (...)”(Lopes,1994,p.13).Omelhorexemplocorrespondeaoprimeiropoemada coletânea Umdiaeoutrodia, intitulado“umdia”,ondeháreferências àsvelhasruasda cidadeeaalgunslugaresconcretos(LargodoChãodoLoureiro,Baixa,Rossio).O espaçoexterior,concretizadoem Solidão,correspondetambémàrualisboeta,portanto aoespaçourbanodestinadoaomovimentocontínuo.Assimsendo,o sujeitoperipatético mudaosseusobjetosdeatenção,volatilmente,semsentirpenadoinacabadodasua observação.OquedestemodoIreneLisboacriaéumcaleidoscópiolisboeta, momentâneo,muitoparecidocomasimagensurbanascesarianas.Oacimacitado fragmentoireniano,comefeito,continuanaobservaçãoda“paisagemhumana”daRua daEsperança,comassuas“mulherespobres”,“raparigasdescalças”ou“lojistascom sotaqueprovinciano”(Lisboa,1992,p.108),formandoassimumquadropopularquese
38 N.º22022 1992,p.107).Ébasicamentenestetipodeobservaçãoquetambémsurgem mencionadoslugaresconcretoslisboetas(LargodoCorpoSanto,CampoGrande,Rua doOuro,etc.),atravésdosquaisseriapossíveltraçarummapadaLisboaliteráriada autora.É,porém,curiosoobservar que,mesmoreferindolugaresconcretos, osujeitode IreneLisboanãosedeixaatrairpelo“espíritodolugar”.Oseuolharnãoregistanenhuns pormenorespitorescose,numalinguagemsempredireta,objetivaedespojada,assume oespaçourbanocomoummeiodeviver,semgrandessobressaltos.Porisso,osujeito poéticoécapazdeterminaroseupercursocomaconstataçãodeque“fazfrio”, dirigindo-seindiferentementeparacasa,sementusiasmosouqualquerespéciede absorçãopeloquevêousentenaruasdacidade.
aproximamuitode cenasbairristasde umaLisboapopular, nãosóao gostodestaépoca. ARuadaEsperança,descritalapidarmentesócomo“íngremeeencurvada”(Lisboa, 1992,p.108),assemelha-seaumpalcoqueé,conformeasuavidainterna,oravazio, desprovidodeseusatores,oracheiode“povoefalatório”(Lisboa,1992,p.108).Curiosa éamençãosobreassoleirasdasportasque,nestemundopopular,ganhamuma importânciaespecialporasseguraremaligaçãopermanentecomavidadarua.Supõeseobviamentequeassoleirasnarua“popular”lisboetaestejamquasesempreabertas, porquestõesculturais,emcontrastecomasculturasdonorteeuropeu,individualistase fechadas.É,pois,oespíritocomunitárioquerespiramesmonestepequenoquadro ireniano,emquehá“raparigascuriosas”,mulheresehomensque“tãodepressase ocupamcomosedesinteressamdequempassa”,velhasque“vêmnassuascadeirinhas àbuscadeumsol”oubarbeirosque“nosdisparamumasbrejeirices”(Lisboa,1992,p. 108).Mastodasestasfiguras sãotratadascomuma simpatiadequemolha aoseuredor cominteresseecalorhumano.
Maisainda,ainteligênciasocialeemotivadosujeitoirenianoétãosubtile evoluídaqueaperceçãodequeéfeitaaessênciahumananuncapodeserequivocada. Porisso,também,ecomumà-vontadeespontâneo,osujeitoirenianoidentifica-se decididamentemaiscomospobres“ignorantes”,doquecomosinteletuaiselitistas,em princípio,desdenhososdasuacompanheiradeofício:“Emaisumavez...aindamais umavez,porumaespéciedesolidariedademoralmeapeteceuenfileirarcomos ignorantes.Pensoquecomelesresolveriamuitoscasosdonossocomuminteresse,que ossábiosnuncamedeixaramabordar,sequer.”(Lisboa,1992,p.162).
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Numdosseusfragmentos,anarradorade Solidão tambémserefere, laconicamente,àsdocaslisboetas,focando,porém,emvezdoespaço,asfiguras humanasquelátrabalham:
Aqueleshomensdadoca,porexemplo.Nota-se-lhesoesforçoeocansaço? Julgoeuquenão.
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Acidadeireniana:pelasruasdasolidão
Em1931,VirginiaWoolfpublicou otexto“TheDocksof London”,emque,num registodescritivo,apresentaaparteribeirinhadeLondres. Asdocaslondrinas correspondemaumlugardedurotrabalhoquesetorna,ànoite,numespaçopouco aconselhávelavisitarporcausade altataxadecriminalidade.Umalocalidade concreta, Limehouse,situadanamargemsetentrionaldorioTamisa,em East London,quenaIdade Médiafuncionoucomoumportoimportantecomváriasdocasextensasecomvárias espéciesdeindústrianaval,ganhounoséculoXIXumanotoriedadenefastadevidoao comérciodeópioeimigração.Foitambémnessazonaqueseregistouoprimeirocaso decóleraemLondres,em1832.Umparaleloàsdocaslondrinaspodesertambémvisto nasdocaslisboetas,Alcântara.Tambémestapartelisboetacostumaserdescritacomo umadaslocalidadesmaisperigosasdevidoàelevadacriminalidade.Recorde-seque BranquinhodaFonseca(1905-1974)deixouumdosmelhoresretratosdestaparte lisboetanoconto“Jack”(RioTurvo,1945),ondedesenvolve,sintomaticamente,uma tramadeteorpolicial. Asdocaslisboetassãoaquiapresentadascomoumespaçosujo, degradante, mole, abandonado e cheio de barracões e caixotes que se transfigura, à noite, numlugarfantasmagóricode“monstrosadormecidos”,naviosatracadosàmargem,aos quais“umhálito”exaladodassombrasdá“umaduplapresença”como“fantasmas envolventes”(Fonseca,1997,p.73).
Nestaprosaritmizadaemelódica,assentenarepetição,aponta-separaumdrama ocultoquesóumobservadoratentopoderiadescobrir.Comefeito,sesetratassedeuma cenanoturna,acenaganhariaemdramatismosinistro,noqualpoderiamexplodiros potenciaissignificadosdaexploraçãosocial.NascircunstânciasapresentadasporIrene Lisboa,contudo,osaspetosnegativosdodramasocialpodempassarfacilmente despercebidos.Aideiacentraldesnuda-senaacentuaçãodeduasperspetivas relativamenteaoefeitodosol:osoleocalorpodeseragradáveleestimulanteparaos estrangeiros,masnãoparaoshabitanteslocais,emuitomenosparaosquedevem trabalharassiduamentesemdescanso.Nestesentido,osraiossolaresemprincípio benéficostornam-seinstrumentodetortura.Oshomensdadoca,noentanto,dão impressãodeunsserescompletamentealienadosquesemexemporforçaalheia, automatizados.Nãotêmtempo(enemlhespassapelacabeça)desequeixarem,élhes retiradoqualquerdireitoderefletiremsobreasuasituação,privilégiodosburguesese inteletuais.Porestetraçodesolidariedade,ofragmentoirenianoaproxima-sedecertos versosdeCesárioVerdequetransmitemaproblemáticasocial.Osparalelossão evidentes:homensdadocaequivalem,artisticaesocialmente,àvarinas(“Descalças! Nasdescargasdecarvão,/Desdemanhãànoite,abordodasfragatas”,Verde,1999,p. 99)eaoscavadores(“Homensdecarga!Assimasbestasvãocurvadas!/Quevidatão custosa!Quediabo!”,Verde,1999,p.72).Semelhantemente,poderíamosatéfalarde umacapacidadedecompaixão,presentetambémemRaulBrandão,queimpeleosujeito
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Vãoevêm,descalços,serenos,carregados...Vãoevêmcomounsautómatos, debaixosempredeumsolpersistente,deumsolfatigante,quetornaestaterraeeste Invernoagradáveisparaestrangeiros,masenfadonhosparanós.
Pordebaixodestesolimpávidolembram-meaquelespobreshomenssimples figurasdeumdrama,semlances,indiferenteecontínuo...(Lisboa,1992,p.30)
Nasuavida,comonavidadeles,nãohálancesdramáticos,nemacontecimentos extraordinários,sãotodososmesmospeõesnoxadrezurbanodavidabanal,perpétua, semaventuras,comumdestinovulgartraçadodesdesempre:“Ecomoeles,eu!Também vouevenho,serena,regular.Teimoemireemvircomosetivessedecumprirumdestino sensaborão,comosetivesseomeulugarmarcadonumapeçaclássica.Esinto-mecomo elesamimmeparecem,insubsistente...”(Lisboa,1992,p.30).
Isabel AllegrodeMagalhãesnotoujáqueasfigurasobservadasedescritasnaobrade IreneLisboafuncionamcomoprojeçõesdosujeito,argumentando:“Peranteesseassim percepcionado,IreneLisboacriaemsidoismovimentos:odeumaprojecçãosuanoque observaeodeumainterpretaçãodesiatravésdoquelheéexterior.”(1995,p.60).Por isso,osujeitoirenianoidentifica-secomasituaçãodospobrestrabalhadores,numa comunhãoafetivaeexistencial,nãovendo,defacto,nenhumadiferençaentresieeles.
PodemosassimconcordarcomSilvinaRodriguesLopesdequeexisteuma simbioseentreosujeitoeacidade,porforçadaqualoselementosespaciais“traçamo campodeumareciprocidadeemquenãoháanulaçãodesingularidadesmasasua reuniãonumamemória,umaassinatura–Lisboa”(Lopes,1994,p.95).Estarelação simbióticaevidencia-setambémanívelsimbóliconoqueserefereaopróprioconceito desolidão,radicalizadonosujeitofemininocomoasuaexpressãovital.Destemodo,a solidãoésimbolicamenteinscritanãosónosujeitoobservador,comonoespaço
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EmIreneLisboa,todavia,nãoexistesóumasolidariedadebenévoladeuminteletualem relaçãoaumpobreoutrabalhadormanual,háumaafinidademuitomaisinteriorizada.
irenianoapreocupar-seafetivamentecomospobres.Afiguradopobre(inclusivedo pedinte) faz parte do universo social urbano e embora a sua presença real e literária tenha sidosemprebastanteincómodaaomundoburguês,cadavezmaiorquantidadedeautores portuguesessentiu,nodecorrerdoséculoXX,anecessidadederegistarasuaexistência.
observado:“Quesolidãoconstante,constante,adasruas,doslugarespúblicos,do tempo,detudo!Entraresair...falarenãoacharosespíritos...nuncaoscompreender neminteressar...”(Lisboa,1992,p.43).Éessemundodasolidão,odacidadeeoda autora,queé,afinal,tãoinspirador.
Textoescritosegundoo AcordoOrtográficode1990.
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Lopes,Óscar(1994).Umalágrimaengolidano“comumexistir”. Colóquio/Letras,n.º 131,janeiro-março1994.Lisboa:FundaçãoCalousteGulbenkian,pp.9-23.
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SilvieŠpánkováéProfessoradeLiteraturaPortuguesanaUniversidadeMasaryk deBrno,RepúblicaCheca.DoutoradapelaUniversidadeCarolinadePragacomuma tesesobreosromancesde AntónioLobo Antunes. Autoradolivro Peloscaminhosdo insólitonanarrativabrevedeBranquinhodaFonsecaeDomingosMonteiro (2020)e deváriosensaiossobreaficçãoportuguesadosséculosXIXeXX.Editoradarevista académica Études Romanesde Brno.Atualmentededica-seaoestudodanarrativa breve portuguesaeàpesquisadoimagináriourbano,sobretudolisboeta.
Woolf,Virginia(2002). Mrs.Dalloway.Hertfordshire:WordsworthEditionsLimited. Brevenotabiobibliográficadaautora
45N.º22022
Viçoso,Vítor(2011). AnarrativanomovimentoNeo-realista.Asvozessociaiseos universosdaficção.Lisboa:Colibri.
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Resumo: Apartirdosanos90doséculopassado,aéticadatraduçãotemsidoumtópico cadavezmaisdiscutidoevalorizadonoseiodosEstudosdeTradução.Combasenos estudosmaisrecentes,opresenteartigopretendedescreveroscincomodelosdeéticada tradução,propostospor AndrewChesterman(2001),nomeadamente,éticada representação,éticadaprestaçãodeserviço,éticadacomunicação,éticadanormaeética dadedicação/compromisso,assimcomoanalisá-losapartirdosexemplosdetradução chinês-portuguêseportuguês-chinês,demodoaidentificarasestratégiasdetradução utilizadasportradutores,assimcomosensibilizá-losparaaéticadatradução.
Cincomodelosdeéticadatradução
Introdução
UniversidadePolitécnicadeMacau,Macau
exemplosdastraduçõeschinês-portuguêseportuguês-chinês HanLili,JiangXiaohua
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Quandoapalavra“ética”seconjugacomatradução,podemosverumarelação entreotradutoreotexto,entreotradutoreoautor,entreotradutoreopatrocinadoreentre outrosfactores.Em1984, AntoineBarman,teóricofrancêsdatradução,apresentoupela primeiravez oconceito de“ética datradução” (Berman,1992, pp.17),que, entretanto,não
Palavras-chave:éticadatradução;cincomodelos;traduçãochinês-portuguêseportuguêschinês;estratégiasdetradução
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Sobreoscincomodelosdeéticadatradução
1.Éticadarepresentação
SegundoChesterman(2001),estaéticaresultadoidealdeumainterpretaçãofiel porpartedosintérpretesedosentidodemissãodeumatraduçãofielaooráculoreligioso pelostradutores.Aéticadarepresentaçãoexigequeotradutortransmitacomprecisãoas
Dosnumerososestudoséticosdetradução,oscincomodelosdeéticadatradução de AndrewChestermansãoosquetêmtidomaispeso.Chesterman(2001),depoisde sintetizarquatrotiposdeéticadatraduçãojáexistentes,adicionouumaéticanormativada tradução.Constituem-secincomodeloséticosdatradução:éticadarepresentação,ética daprestaçãodeserviço,éticadacomunicação,éticadanormabemcomoéticada dedicação/compromisso.Narealidade,todosostradutoresprofissionaisobedecem conscienteouinconscientementeaumoumaismodeloséticosdatradução,que, influenciarãoprofundamenteosseusprodutosdetradução.Opresenteartigopretende abordar estes cinco modelos éticos da tradução e os seus efeitos a partir da tradução chinêsportuguêseportuguês-chinês.
despertouaatençãodacomunidadedetradução.Apartirdemeadosdadécadade90,a éticadatraduçãotemvindoaservalorizadacomdiscussõesepesquisasrelevantesnoseio dosEstudosdeTradução.OsprincipaisacadémicosPym(1997,2000,2001,2012), Chesterman(1997,2001),Venuto(1998,2013),Arrojo(1997,2005)abordaramoassunto apartirdediferentesperspectivas,nomeadamente,desconstrutivista,pós-colonialista, feminista,neoclássica,neo-marxistaepsicanalítica.Emboraasinvestigaçõesapresentem umadiversidadedepontosdevista,háalgumasquestõesbásicasefundamentaisque merecemseraprofundadasedesenvolvidas.
Tiago Nabais usoua traduçãofonéticade“老爷” (pinyin:Laoye) epara esclarecer osentidodeLaoyeacabouporrecorreraumanotadetraduçãonorodapé:
Textodechegada:Passeavapelosterrenosquelhepertenciam,eosrendeirosque poralitrabalhavamseguravamaenxadacomasduasmãosediziamcomrespeito: “Laoye1!”Quandoiaàcidade,aspessoasquesecruzavamcomeletratavam-notambém por“Laoye”.Eraumapessoacomgrandeestatuto,masnãosedistinguiadospobres quandochegavaahoradecagar.(Yu,2018,pp.11)
49N.º22022 característicasdalinguagemdotextooriginal,aintençãodoautor,semnadadeacréscimo, omissãooualteração(Chesterman,2001).Estaéticapriorizaotextooriginaleenfatiza particularmentea"verdade",correspondendoàéticadatraduçãodeSchriermacher, BermaneVenuti.Oscrentesdestaéticarecorremfrequentementeàestratégiadetradução “estrangeirização”(Venuti,1998),como,porexemplo,atraduçãoinglesade AllMenare Brothers (Buck,1957),atraduçãoinglesade ChineseClassics (Legge,1893), ThePeony Pavilion (Birch,2002), ElementaryChinese: SanTzuChing (Giles,1900)bemcomoa traduçãochinesade ColectâneadeRomancesExtrínsecos (Lu,1909),etc.Nosúltimos anos,tem-seassistidoaumaintensatraduçãodeobrasliteráriaschinesascontemporâneas paraportuguês,havendo,nestesentido,algunsexemplosdestaéticanatraduçãochinêsportuguês.Porexemplo,atraduçãoportuguesadaobrachinesa Viver,vertidaporTiago Nabais,em2018,mostraestaéticadarepresentação.Vejamosumexemplo: Texto de partida : 我爹走在自己的田 产 上 , 干活的佃 户见 了 , 都要双手握住 锄头 恭敬地叫一声 : “ 老 爷 。 ” 我爹走到了城里 , 城里人 见 了都 叫他先生。我爹是很 有身份的人 , 可他拉屎 时 就像个 穷 人了。 ( Yu,1998,pp.6 )
Notadetradução:Laoyeeraumaformadetratamentoutilizadaporcamponeses quandosedirigiamaumproprietáriodeterras.Caiuemdesusodepoisdaimplantaçãoda RepúblicaPopularem1949.
Nosentidocontrário,nastraduçõesdaliteraturaportuguesaparachinês,também encontramosexemplosdaéticadarepresentação.Vejamos,porexemplo,atradução chinesadaobra As IntermitênciasdaMorte,deJoséSaramago,vertidaporFuChenxi,em 2018:
Textodepartida:Entaladoentreaespadaeaparede,entre sila e caribdes,entreacruzea caldeirinha,correuaconsultaroprimeiro-ministrosobreoinesperado nógórdio surgido.( Saramago,2005,pp.52-53)
Atraduçãofonéticaeanotadetraduçãonorodapésubstancializamaéticade representação,recorrendoàestratégiadetradução–estrangeirização.Istosignificaqueo tradutorpriorizaotextodepartidaeosentidoconotativoecompletode Laoye,quemerece umatraduçãofonéticadeumequivalentepróximodalínguadechegada,mesmoqueo Laoye sejaumaexpressãoestrangeiraaosleitoresdotextodechegada.Nomesmolivro Viver,traduzidoporTiagoNabais,existem outrosexemplossemelhantes,nomeadamente, Mu (unidadedemedidadeárea), Shaoye (filhoprimogénitodeum Laoye), Mantou (pão cozidonovapor), Li (unidadedecomprimento), Baozi (pãorecheado,cozidonovapor), Fen (centésimodeum yuan), Jin (unidadede peso), Kuai (formacoloquial desereferirao yuan), Dazibao (cartazdegrandescaracteres), Kugen (raízesamargas), Yuan (unidade básicadamoedaoficialchinesa).Otradutorresolveutraduzirestestermosdeforma fonéticanotextodetradução,colocandoassuasexplicaçõesesentidosdenotativosem notasdetraduçãonorodapé.
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① Namitologiagrega,Silaquedevoraosmarinheiros,éabruxaqueguardaumladodocanal deSintra.DooutroladoéagrandeespiraldeCalouste.Osnaviostêmdeescolherumdecadalado quandopassam.Em Odisseia,Homeroescolheupassarpelocanalàcustadeseismarinheiros. ② Segundoatradiçãocatólica,osmoribundostêmdeterumacruznacabeça,enquantoospésficamno tanquedeáguasagrada. ③ Argoudi,reidaÁsiaMenor,ofereceuaZeusasuacarruagem,fezumnó mortoemuitocomplicadocomcordaseamarrou-oaoferrolho.Deusordenouquequemo desamarrasse,seriaoreidaÁsiaMenor.Alexandre,oGrandedaMacedónia,viajouparaoOriente noséculoIIIa.C.QuandopassouporFrogia,viuacarruagemenãoconseguiu
Textodechegada: 一面是剑一面是墙,一面是斯库拉一面是卡律布狄斯①,一面是十 字架一面是圣水缸②,部长急忙跑去找首相商议,如何解开这个意外出现的戈尔迪之结 ③。(Saramago,2018,pp.35)
①斯库拉是希腊神话中吞吃水手的女妖,把守着西墨拿海峡的一侧,另一侧就是卡 律布狄斯的大漩涡,船只经过时必须两者选其一。荷马史诗《奥德赛》中,奥德修斯选择了 以牺牲六名水手为代价通过该海峡。②天主教传统中,临死之人头部需摆放一个十字架,脚 部擺放一个圣水缸。 ③戈尔迪是传说中小亚细亚佛律基亚的国王,他在神庙中将自己的马车 献给宙斯,用绳索打了个非常复杂的死结,把车轭牢牢系在车辕上,神谕凡能解开此结者, 便是亚细亚之王。公元前3世纪时,马其顿的亚历山大大帝远征东方,经过佛律基亚时,看 到这辆马车,也无法解开这个结。为了鼓舞士气,亚历山大拔剑斩断乱结,说:“我就是这 样解开的”。(Saramago,2018,pp.35)
Notextodechegada,otradutoracrescentoudiversasnotasderodapéparaexplicaras imagenseosmitosdotextodepartida.Paramelhorcompreenderoconteúdodestasnotasde rodapé,disponibilizamosasuatraduçãoparaportuguês:
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Chesterman(2001)defendequeaéticadaprestaçãodeserviçosebaseianaideia dequeatraduçãoéoserviçocomercialprestadoaosclientes.Originadaprincipalmentedo modelomulti-funcionaldetradução,propostopeloacadémicoalemão,Holz-M.Nutteräri em1984,estaéticavalorizaocliente.Édemencionarqueaexpressão“cliente”,referido porChesterman,temosentidomaisabrangente,queincluitambémoempregadorouo destinatáriodeserviçonamenteounaimaginaçãodotradutor,ouseja,oclientepotencial. Seguiraéticadaprestaçãodeserviçosignificaqueotradutordeveobservarasinstruções doclienteeatingirosobjectivosdefinidospelomesmo,fazendocomqueatraduçãose realizeemfunçãodasatisfaçãodocliente.
OtradutorFuempregouaestrangeirizaçãocomoestratégiadetradução,recorrendo àtraduçãofonéticadosnomesnamitologiagregaeàexplicaçãopormenorizadados sentidosconotativosnasnotasdetradução,numaperspectivadereproduzircomprecisão ascaracterísticaslinguísticaseculturaisdotextodepartida.Oesforçodotradutorreflecte aéticadarepresentaçãocomaqualeleseidentificaaolongodoprocessodetradução.
2.Éticadaprestaçãodeserviço
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Nosúltimosanos,comoreforçodointercâmbiopolítico,económico,comerciale culturalentreaChinaeosPaísesdeLínguaPortuguesa,ostradutoreschinesese portuguesesnecessitamurgentementedeconheceraéticadaprestaçãodeserviçoereforçar aideiadosserviçoslinguísticos.Macau,enquantoplataformadeformaçãodetalentos bilingueschineseseportugueses,destaca,noseuensinosuperior,estevalordaprestação
resolveronó.Paraanimaromoral, Alexandrecortouonócomaespadaedeclarou:“Foiassim queolibertei”(traduçãonossa).
Textodepartida:EutinhachegadohaviapoucoaoRioe estavaliteralmentena miséria.Viviafugidodecasadepensãoemcasadepensão,semsaberondeecomoganhar dinheiro,quandolinojornaldoComérciooanúncioseguinte:“Precisa-sedeumprofessor delínguajavanesa.Cartas,etc.”.Ora,dissecácomigo,estáaliumacolocaçãoquenãoterá muitosconcorrentes;seeu capiscassequatropalavras,ia apresentar-me.Saídocafée andeipelasruas,sempreaimaginar-meprofessordejavanês,ganhandodinheiro,andandode bondeesemencontrosdesagradáveiscomos “cadáveres”.Insensivelmentedirigi-meà BibliotecaNacional.(Barreto,2017,pp.9)
Textodechegada:我那时刚到里约,穷困潦倒、身无分文,为赖掉小旅馆的 房钱,住了东家又住西家,不知如何挣钱糊口。直到一天,我在《商报》上看到了 一则招聘启事:“诚聘爪哇语老师一名,有意者请来函洽谈”。哈哈,我对自己说,这 可是鲜有人竞争的活计,如果我多少会上三五句爪哇话,就能毛遂自荐了。出了咖 啡馆,我在街上一路转悠,想象着自己是个爪哇语老师,能赚到钱不说,还能坐电 车,不再碰上那些“讨厌鬼”。不知不觉,就走到了国立图书馆。”(Schmaltz,2012,pp. 12) Trata-sedumadescriçãododiálogointeriordeCastello,protagonista-narradordo conto,queviunojornalquehaviaumapublicidadederecrutamentodeumprofessorde javanêsedecidiucandidatar-se.Constatamosqueotextodechegadaéfluidoenatural,não
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deserviço,quesereflectefrequentementenostrabalhosdetraduçãochinêsportuguês.Veja-seoexemplo,doensaiodetradução“OhomemquesabiaJavanês”,do escritorbrasileiroLimaBarreto(1881-1922),pelosalunosdocursodemestradoemtradução português-chinêsdoDepartamentoPortuguêsdaUniversidadedeMacau.Oseguinte parágrafomereceseranalisado:
Outroexemploéousodotermo“住了东家又住西家”(significaliteralmente:residir nacasaorientalemorarnacasaocidental)paratraduziraexpressão“decasadepensãoem casadepensão”dotextooriginal,quetambémcorrespondeaohábitodeexpressãodos chineses,quandoserefereàsituaçãoprecáriadoprotagonista.Édesalientar,emparticular, queatraduçãode“cadáver”para “讨厌鬼” (significaliteralmente:asneira),comoumtoque dasalmas,correspondetantoaosusosecostumeschinesescomoaocaráctercínicoeautodepreciativodomesmo.Estastraduçõesreflectemclaramenteaéticadaprestaçãodeserviço, atendendoparticularmenteàculturadopúblico.
ApresentamosmaisumexemploqueéatraduçãoportuguesadosensaiosdeLuXun, feitaporalunosdoCursodeTraduçãoeInterpretaçãoChinês-PortuguêsdoInstituto
seguindodepertootextodepartida,recorrendoàestratégiadetradução–domesticação,empregandoexpressõesnaturaisàculturadechegadaesatisfazendoassimos leitoresdotextodechegada.Empregou“穷困潦倒”(umaexpressãofixa,quesignifica “demasiadopobre”)paratraduzir“estavaliteralmentenamiséria”;“如果我多少会上三五 句爪哇话,就能毛遂自荐了”(significaliteralmente:quantomaiseusoubessetrêsoucinco palavrasdejavanês,maiseumedariaaotrabalhodetraduzir)paratraduzir“seeucapiscasse quatropalavras,iaapresentar-me”.Nestaúltimafrase,oempregode“trêsoucincopalavras dejavanês”emvezde“quatropalavras”dotextooriginal,apesardenãoserfielaonúmero original,émaispróximoaosusosecostumesdochinês,permitindoqueosleitoressesintam confortáveis.Poroutrolado,otradutorutilizou“毛遂自荐”(significa“recomendar-seasi próprio”),umaexpressãoidiomáticachinesaeculturalmentecodificada,parasubstituir “apresentar-me”,demonstrando,deformaprecisaelógica,aarrogânciaeauto-estimado protagonistaemostrandoumadescriçãovívidadeumcarácterinteressante.
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Apalavraqueseencontraentreparêntesessignificaliteralmente“pequeno”.Noentanto,na línguadechegadanãofariaqualquersentidoutilizaratraduçãoliteral.Nalínguadepartida,apalavra constituiumametáforaparadesignarumcaráctermesquinho,depoucovalor,efazalusãoaotítulo dotexto,“一件小事”.Destemodo,asoluçãofoiencontraraexpressãoequivalenteemportuguêsem termosdesentidometafórico,etambémqueseaproximassedaexpressãousadaoriginalmentepelo autor.Creioqueapalavraescolhida,“pequenez”,transmitetotalmenteaideiaaoleitor,semalteraro sentidoesemseafastardaexpressãoqueseencontranotextooriginal.(Han,2015,pp.44).
Estaauto-reflexão,apresentadaapósotextodetradução,trata-sedeumserviço prestadoemproldacompreensãodosleitoreserevelaaéticadeprestaçãodeserviço.
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PolitécnicodeLeiriaquandoestiveramemmobilidadenoInstitutoPolitécnicode Macau,em2015.Acolecçãodosensaiostraduzidos,intitulada Estúdiodossabores: ColecçãodosensaiosdeLuXun,nototalde12,émuitoreveladora,poismostra-nosaatitude dosestudantesdeserviroleitor-público.Cadatradutor-estudanteapresentaumaautoreflexãosobreasuatradução,tentandoexplicaraosleitoresportuguesesalgumasdas dificuldadesencontradaseassoluçõespossíveis.Porexemplo,PatríciaGonçalves,umados tradutores-estudantes,depoisdetertraduzidoumensaio“UmaPequenaCoisa”,explicaem detalheoquesignifica“pequena”nasuaauto-reflexão:
3.Éticadacomunicação
Pym(1997,2000,2001,2012)éumautorrepresentativodaéticadacomunicação. Segundoele,otradutortrabalhaprincipalmentenocruzamentodeduasoumaisculturas,em vezdetrabalharnumasócultura,sendoestaainterculturalidadedatradução(Pym,
56 N.º22022 2012,pp.9).Ainterculturalidadedatraduçãoindicaqueaessênciadatraduçãoéa comunicaçãointercultural.Umtradutorquereconheceeinsistenainterculturalidadeéo tradutorquesegueaéticadacomunicação.Pymacreditaqueoobjectivodointercâmbio entrelínguaséareciprocidadedacooperaçãotransculturaleoobjectivodatradução, orientadapela éticada comunicação,é aprofundara cooperaçãotranscultural entreas duas partes–dois“outros”.Combasenestesargumentos,Chestermanacrescentaqueaéticada comunicaçãonãoenfatizaareproduçãodo“outro”,masacomunicaçãocomo“outro”. Umtradutorcométicadacomunicaçãooptimizaestacooperaçãoatravésdatradução (Chesterman,2001).Nestesentido,noexercíciodetradução,ostradutoresqueseguema éticadacomunicaçãosão,geralmente,sensíveisaosfactoresculturaisetratam, conscientemente,osfactoresculturaisdeumpontodevistaintercultural(Pym,2012, pp.10-15).OsseguintestradutoresdasobrasSelecçãodospoemasportuguesesmodernos (Yao&Sun,1993),Memorialdoconvento(Saramago,1999),BrevemonografiadeMacau (Tcheong&Ian,2009),Crónicadeumvendedordesangue(Yu,2017),Terrasonâmbula (Couto,2018),atribuemgrandeimportânciaaotratamentointerculturaldosfactores culturais.Essastraduçõespersonificaram,decertaforma,avisãodetraduçãoatravésda éticadacomunicação.MerecemencionaratraduçãodeBrevemonografiadeMacau,por JinGuoping.Sendoumamonografiahistóricaregional,queremontaàdinastiaQing,a obraapresentaahistória,opanoramageográfico,asculturaschinesaeocidental,os costumesetradiçõesdeMacaueasartespopularesdeMacau,com21quadrosilustrativos emaisde400termosbilingueschineseseportugueses.Nasuatraduçãodechinêspara português,JinGuopingusou,nototal,1264anotações.Paraalémdas1090anotações constantesdotextooriginal,acrescentou174anotaçõesexplicativasparaapresentar melhoraculturaeahistóriadotextooriginal.Comvistaaaprofundaraindamaisa comunicaçãocultural,JinintroduziunosapêndicesoutrosregistosdeMacauqueforam
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Maisumavezcontemplaapalavraescritanaestrada.Aolado,voltaa escrevinhar. Lhevemumaoutrapalavra,semcuidarnaescolha:LUZ.Dáumpassoatráseexaminaa obra.Então, pensa:a corazul temo nomecerto. Porquetem asiguais letrasda palavraluz, fosseoseufemininoàsavessas(Couto,2012,pp.55).
Textodepartida:Entãoelecomumpequenopaurabiscanapoeiradochão:AZUL. Ficaaolharodesenho,comacabeçainclinadasobreoombro. Afinal,eletambémsabia escrever?Averiguouasmãosquasecommedo.Quepessoaestavaemsielheiachegando comotempo?Esseoutrogostariadele?Chamar-se-iaMuidinga?Outeriaoutronome, dessesassimilados,deusaremdocumento?
Textodechegada: 然後 , 他用一根小木棍在地上隨便亂畫 : 藍。他長久地注視 這幅畫 , 頭側著 , 歪向肩膀。難道他還會寫字 ? 他盯著自 己的雙手 , 幾乎陷入了 恐懼。他體內住著誰 ? 這人會隨著時間而來嗎 ? 這人會喜歡 他嗎 ? 他也叫木丁賈 嗎 ? 還是叫別的名字 , 一個同化的名字 , 用在身份資料上 ?
encontradosduranteoreinadodeQianlong,Kangxi,YongzhengeQianlong,oprefácioe assubsequentesdiversasediçõesde BrevemonografiadeMacau,a biografiadeTcheongÜ-LâmeIan-Kuong-Iâm–autoresdaobra–,oglossário,asobrascitadasbemcomoa tabeladasdinastiaschinesas.EstesesforçosextrasdeJinGuopingreflectemasuavisão detraduçãocométicadacomunicação.NaobradetraduçãodeTerrasonâmbula(Couto, 2018),vertidaparachinêspor MinXuefei,em2018,encontra-se igualmenteestaintenção dotradutordecomunicarentreasduasculturas,departidaedechegada.Vejamoso seguinteexemplo:
Aéticadanormarefere-seaumaéticaquesebaseiaemnormasetemorigemnos EstudosDescritivosdeTradução.OsestudosdeToury(1995)quesedebruçamsobreas normas,exercemgrandeinfluêncianoprocessodetraduçãoenaaceitaçãodastraduções.
58 N.º22022 他再一次欣賞起自己在道路上寫下的字。在那字旁邊 , 他又開始寫了。突然 他想起了另一個字 , 沒顧得上精挑細選 : 燦。他退後一 步 , 審視著這個作品。然 後 , 他想 : “‘ 藍 ’ 這個名字起得真好。因為它和 ‘ 燦 ’ 的韻母是 一樣的 , 就像一 對親兄 弟。”(Couto, 2018,pp.39)
4.Éticadanorma
Notextodepartida,existemduaspalavrasemmaiúsculas,AZULeLUZ.Qualquer umqueconheçaMiaCoutosabequeoautornãoasescreveemletrasmaiúsculaspor engano.Esteéojogodepalavrasqueoautordeliberadamentecriou,eéopontode referênciamaisdivertidodasuaescrita.QuandoasletrasLUZestãoinvertidas,obtém-se aletra“ZUL”,seguidadeumaletraA,quetransformaapalavraAZUL.AZULéuma palavraqueseformacomainversãodaordemalfabéticadeLUZ. Atravésdesta reconfiguraçãolinguística,MiaCoutoexprimeoseuestiloeaestéticadaescrita.Se traduzirliteralmenteaspalavras“azul”e“luz”paraochinês,semtocaroladolinguístico doautor,nãovailevaroleitorareflectirsobreaintençãodoautornemoseuestiloda escritasubjacenteàlinguagem.Pelocontrário,atradutoraMinXuefeiusouumatradução comunicativa.Apesardenãoserviável,emchinês,usarletrasmaiúsculasparaexprimiros efeitosdaescrita,a tradutoraresolveuusarsílabas únicas,“Lam”(representando“azul”) e “Can”(representando“luz”),cujasfinaisseassemelhamàsfinaisdarima,oquepermite umaleituraaprofundadadaintençãodoautor,levandooleitoracompreenderocharmeda arteedaescritadeMioCouto.Estasoluçãodatradutoraevidenciaasuatraduçãovirada paraacomunicaçãoentreculturas.
A éticadadedicaçãodeChesterman(2001)assemelha-seàéticaprofissionalda traduçãodeNewmarkeàresponsabilidadeprofissionaldotradutor,propostaporPym.
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Tourydefineas"normas"como"normasdeconduta,quetransformamosvalores universaisdeumasociedade,istoé,oqueécertoeoqueestáerrado,oqueéadequadoe oqueéincorrecto,emnormasadequadaseaplicáveisemcertoscasos.Sãonormasque explicamoqueéprescrito,oqueéproibido,oqueétoleráveleoqueépermitidonosactos concretos” (Toury, 1995, p. 55). Na opinião de Chesterman, a “norma” refere-se à tradução quedeve corresponderàs expectativasdo leitore àsnormas culturaisda épocada tradução (Chestman,2001).Poroutraspalavras,astraduçõescorrespondemàsnormaslinguísticas eculturaisdalínguadechegada,satisfazendoasexpectativasdosseusleitores (Chesterman,2001).Atraduçãode OhomenquesabiaJavanês reflecteaéticadanorma dotradutor,quesegueasnormaslinguísticaseculturaisdalínguadechegadaeprocurair aoencontrodasexpectativasdosleitoreschineses.Umoutroexemploquetambém evidenciaestaéticadanormaéapublicaçãodeumasériadetraduçãodeobrasliterárias delínguaportuguesaintitulada Cravos– traduçãoparachinês,umainiciativaconjuntado InstitutoCulturaldeMacauedoInstitutoPortuguêsdoOrienteduranteoperíodode preparaçãoparaatransferênciadeadministraçãodeMacauàChinanadécadadenoventa doséculopassado.Oprefáciodestasérieestabeleceassuasnormasdetradução,indicando claramentequeatraduçãodeveobedeceràsnormaslinguísticaseculturaischinesase procurarcorresponder,tantoquantopossível,àsexpectativasdoleitor(Laborinho,1998, pp.251-252). Umaobra destasérie, Fronteirae outroscontos (FanWeixin, WeiLing, Lei SioIok,2000),traduzidaporFanWeixin,WeiLingeLiXiaoyu,usaalinguagem particularmentesujeitaàsnormaslinguísticaseculturaischinesas,apresentando-secomo umcasoexemplardaéticaquerespeitaasnormasdelínguadechegada.
5.Éticadadedicação
SegundoChesterman,adedicaçãoéumavirtudequelevaostradutoresaprocurarema excelênciaeasetornarembonstradutores.Adedicaçãocostumaserexpostanaformade promessaoujuramento(Chesterman,2001). A éticadadedicaçãodotradutorconsiste principalmentenacredibilidadedatraduçãoenaclarezadotexto,quedeveserfiávele fácil de compreender. Relativamente à credibilidade, acredita-se que um tradutor com ética profissionaldatraduçãoprocurater“cincoverdades”:verdadefactual,verdadelógica, verdadeestética,verdademoraleverdadelinguística.Comoporexemplo,TiagoNabais, paratraduzirdeformaverdadeiraaobradeYuHua,tempassadomuitosanosemXi'an, HebeieZhejiang,analisandoosdadoshistóricoseasituaçãodapopulaçãodesdeofinal daRepúblicadaChinaatéàGuerradaLibertação,aoperíododareformaagrária,aogrande movimentodeSiderurgia,aostrêsanosdedesastresnaturais,etc.Assuastraduçõesde obrasdeYuHua,taiscomo Crónicade umvendedor desangue (2017), Viver (2018)e Dez palavrasdaChina (2018)sãocredíveisefiáveis,reflectindo,decertaforma,asuaética dadedicação.
Acrescente-seaindaqueaéticadadedicaçãodotradutorestáintimamente associadaàprofissionalizaçãodatradução.ComodefendeChesterman(2001),"profissão", "profissionalização"e"profissional"sãopalavrasquetêmcomoorigemetimológica "profess",umtermoquesignificajuramentoaDeusemanifestacrenças,opiniõesou sentimentos.Nestaperspectiva,umtradutor,enquantoprofissional,temdecomprometerseàéticadadedicação.Narealidade,aéticadadedicaçãotemváriasconotações, nomeadamente:1)Otradutoréresponsávelpelatraduçãocredível;2)Otradutoré responsávelpelasuaprópriatradução;3)Otradutoréresponsávelperanteoempregador (ouopatrocinador);e4)Otradutoréresponsávelpelaconfidencialidadedosmateriais relacionados com a sua tradução, etc. São estas qualidades do tradutor que garantem a ética dadedicação.
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Conclusão
OscincomodelosdaéticadatraduçãodeChesterman(2001)sãoumquadroteórico muitoinfluenteparaainvestigaçãodaéticadatradução.Àmedidaqueseaprofundaa investigação,aslimitaçõesdealgunsdosmodelosdestequadrotêm-seevidenciado.O realcedadoàéticadarepresentaçãopoderáproduzir,pelomenos,osseguintesefeitos negativos:1)orealcedesfavoreceaalteraçãodoestatutosubordinantedatraduçãoedo estatuto“servidor”dotradutor;2)acomplexidadedatraduçãonãoésuficientemente valorizada;3)A iniciativadotradutorélimitada.A ênfasenaéticadaprestaçãodeserviço podefazercomqueatraduçãocomestilospessoaissejaprejudicada,enquantoahistória da tradução revela que muitas traduções de qualidade são de estilos pessoais. O realce dado àéticadanormapoderáconduziraumaexcessivadomesticaçãodatraduçãoeà obscuridadedascaracterísticasculturaisdotextooriginal.Quantoàéticadadedicação, existemaindacertasquestõesquenecessitamdeserexploradas,como,porexemplo:em casodeconflitoentreacrençareligiosa,aposiçãopolíticadotradutoreoconteúdodo textooriginal,comoéqueotradutorpoderáinsistirnestaética?Damesmaforma,seos própriosinteressesdotradutorentramemconflitocomoconteúdodotextooriginalou
É de apontar que a credibilidade da ética da dedicação tem algo semelhante à ênfase dadaà“fidelidade”daéticadarepresentação,nosentidodeprocuradeverdades. A maior diferençaresidenofactodeoprimeiroexigirqueotradutortransmitaasituaçãorealouos factos“genuínos”(porexemplo,seotextooriginalestivererrado,devesercorrigidona tradução);osegundosalientaareprodução“fiel”dotextooriginalnaculturalinguística (porexemplo,seotextooriginalnãoestivercorrecto,otradutornãoéobrigadoarectificar natradução).
62 N.º22022 comaresponsabilidadedoempregador(oudopatrocinador),comoéqueotradutorinsiste naéticadadedicação?
SabemosquenoiníciodoséculoXXI,odesenvolvimentoaceleradodenovas tecnologias, como os megadados e os sistemas de tradução automática das redes neuronais, temexercidograndeinfluênciasobreatradução,dandoorigemanovasformasdetradução, taiscomo:traduçãocolaborativaonline,traduçãoautomática,traduçãoassistidapor computadores,etc.Estasnovasformasdetraduçãoimpulsionam,porumlado,o desenvolvimentodosectordatradução,levantam,poroutrolado,novasquestõesque desafiamaéticadatraduçãoeainvestigaçãodeéticadatradução.Natraduçãocolaborativa onlineenatraduçãoautomática,quandoossujeitosdatraduçãomudam,comodeveráa éticadatraduçãoserajustada?Dequalquermaneira,acreditamosque,comoestreitamento dasrelaçõesentreaChinaeospaísesdelínguaportuguesaecomaevoluçãoconstantedas formasdetradução,omercado,opatrocinadoreoutrosfactorescontinuamainfluenciar profundamenteatradução.Ostradutoreschinês-portuguêscarecem,urgentemente,dese sensibilizaremcomconhecimentosdaéticadatradução,umavezqueuma“viagem”de tradução,narealidade,reflecteaéticadotradutor.
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HanLili, professora-adjunta,directoradaFaculdadedeLínguaseTraduçãoda UniversidadePolitécnicadeMacau.AcadémicadevisitanaUniversidadedeLeuven,Cambridge, UniversidadedeCoimbra,eformadoraemInterpretaçãodeconferência(chinês-português)em parceriacomaDGI(SCIC)daComissãoEuropeia.LicenciadapelaUniversidadedePequim, commestradopelaUniversidadedeMacauedoutoradaemLínguaeCulturaPortuguesapela UniversidadedeLisboa.Assuasprincipaispublicaçõesincluem LuísGonzagaGomes-filhoda terra,divulgadoretradutordeimagensdaChinaedeMacau (2018), PoetasPortuguesesde Macau (2009,tradução), Osuavemilagre deEçadeQueiroz(2018,tradução).Assuasáreasde pesquisasão:estudosdeinterpretação,estudosdetradução,estudosinterculturais,ensinode línguasestrangeiras,etc.
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JiangXiaohua,doutoradopelaUniversidadedePequim,professorcoordenadorda UniversidadePolitécnicadeMacau.ProfessordevisitadoInstitutodosEstudosInternacionais deMonterey,PresidentedoConselhoFiscaldaAssociaçãodeTraduçãodeMacau,co-orientador dedoutoramentonaUniversidadedeEstudosEstrangeirosdeGuangdong,vice-presidenteda AssociaçãoInternacionaldeInvestigaçãodosEstudosInglesesdaÁsiaPacífico,examinador externodoDepartamentodeTraduçãodaUniversidadedeLingnandeHongKong,editorda Revista GuangYi (ISSN1998-5177),secretário-geraldaAssociaçãoInternacionaldeEstudosde TraduçãoEcológica.Temensinadoinglêsetraduçãohámaisde30anos.Áreasdeinvestigação: estudosdetradução.Commaisde60publicaçõessobretradução,fazpartedosprimeiros académicosqueintroduziramnaChinaateoriadatraduçãoocidentalcontemporânea, nomeadamente,ateoriadatraduçãodesconstrutivista.
CamposdeMatemáticaGulbenkianemSãoToméePríncipe
PeregrinoCosta
UniversidadedeS.ToméePríncipe,DepartamentodeCiênciasExactas,Tecnologias eEngenharias
AgrupamentodeEscolasD.FilipadeLencastre,Lisboa JoanaTeles SociedadePortuguesadeMatemática
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SociedadeSantomensedeMatemática
Resumo: TrêsgruposdealunossantomensesserãoacompanhadosemMatemática, durantetodooEnsinoSecundário,deformaapromovero acessoacarreirassuperioresna áreadasCiênciaseTecnologia,numprojetoatravésdoqualaFundaçãoCalouste Gulbenkianpretendeestimularogostodosjovenspeladisciplina,ajudá-losamelhoraro desempenhoe aatingiromáximopotencialnestamatéria.Esteartigopretendedara conheceresteprojeto in progress quevisaapoiarumaEducaçãoemMatemáticademelhor qualidadenosPALOP–nestecasoemS.ToméePríncipe.Neledescreve-se,comdetalhe, osobjetivosdesteprograma,oprocessodeacompanhamento doprimeirogrupodealunos easduasediçõesjárealizadasdosCamposdeMatemáticaGulbenkian. Apresenta-sea
SociedadePortuguesadeMatemática
UniversidadedeCoimbra,CMUC,DepartamentodeMatemática
IsabelHormigo
metodologiaadotada,asadaptaçõesqueforamfeitasdevidoàpandemiaeosresultados obtidosnestesdoisanosdeprojeto. Palavras-chave: DesenvolvimentonoensinodaMatemática,PALOP,STEM.
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Introdução
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Asociedadeglobaléprofundamentemarcadapelaciênciaepelatecnologiaea rápidaevoluçãoeinovaçãoconstanteexigemprofissionaiscapazesdedesenvolver soluçõeseficazeserealistas.ADeclaraçãodeBudapeste(1999)destacouaimportânciado ensinocientífico.Umensinodeciênciasedematemáticadequalidadepermitedesenvolver areflexãocríticaeacriatividade,promoveaparticipaçãonodebatepúblicosobreas políticas relevantes para a sociedade, encoraja as mudanças de comportamento apropriadas paraoenvolvimentonomundodeformaperene,eestimulaodesenvolvimento socioeconómico.Oensinodeciênciasedamatemáticapode,assim,ofereceruma contribuiçãodecisivaparaarealizaçãodosObjetivosdeDesenvolvimentoSustentável (UNESCO,2016).
AopçãodoProgramaParceriasparaoDesenvolvimentodaFundaçãoCalouste Gulbenkian(FCG) pelaárea daMatemática, atravésda criaçãode umalinha deação única comadesignação“ApoioaumaEducaçãoemMatemáticademelhorqualidadenos PALOP”relaciona-secomopapelbasilareestruturantequeestatemnoensinoeformação, nãosódeoutrasciênciasbásicas,mastambémdasciênciasaplicadas,fazendopartedo campodoconhecimentocompostopelasCiências,Tecnologia,EngenhariaeMatemática (STEM- science,technology,engineering,andmathematics).
OracionaldaapostadaFCGnestaáreaassentanoseguinte:(1)aforçaeconómica deumpaísdependedacapacidadedoseusistemadeensinoparagerarcidadãos matematicamentealfabetizados,(2)odéficedeaprendizagememMatemáticaéenorme paraamaioriadospaísesdaÁfricaSubsarianaenãomostrasinaisdediminuire(3)as atitudesnegativasemrelação àMatemática,juntamentecom umaexpectativadefracasso, representaumabarreiraaoprogresso.
ComoobjetivodecontribuirparaquejovenstalentososdeSãoToméePríncipe emMatemáticaalcancemoseupotencialfoiestabelecidaumaparceriaentreaFCG,a SociedadePortuguesadeMatemática(SPM)eaSociedadeSantomensedeMatemática (SSMAT).Estacolaboraçãovisaacompanharepreparar,emS.ToméePríncipealunosdo ensinosecundáriodeformaaquepossamatingirumelevadoníveldedesempenhoem Matemática.Aboapreparaçãoduranteesteciclopré-universitárioéconsideradadecisiva paraasescolhasnosseuspercursoseparaaqualidadedoslicenciadosemáreasdas CiênciasedasEngenharias,áreasquesãopotenciadorasdaeconomiadeumpaís.Oprojeto emreferênciaprevêoacompanhamentodetrêsgruposdealunosportrêsanos,enquanto estesfazemtodooseupercursonoEnsinoSecundário.Esteéoprimeirodessesgrupos.
Foinesteâmbitoquejáseorganizaramesedesenvolveramdois Camposda MatemáticaGulbenkian emS.ToméePríncipe,talcomosessõesdeacompanhamento numaparceriacientíficaepedagógicaentreaSPMeaSSMATqueparaalémda concretizaçãodestaação,estabeleceramumprotocoloqueconduziuàtrocadeboas práticassobre:a)os curricula;b)aorganizaçãodoensinodamatemática;c)atransição paraaformaçãoacadémica.Estasaçõescontaramaindacomaparceriainstitucionalda CooperaçãoPortuguesaemS.ToméeoenquadramentodoMinistériodaEducaçãoe EnsinoSuperiordeS.ToméePríncipe.
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Enquantoisso,otrabalhoquenosenvolveeosresultadosqueobservamostêmsido muitogratificantes.
InvestirnaEducaçãopodenãoproduzirefeitosimediatos,maséoinvestimento maisimportantequeumpaíspodefazeremgeraçõesdealunos,poissãoelesnofuturoque podempromoverodesenvolvimentodoseupaís. Acreditamosqueesteprojetopodeser decisivonofuturodestastrêsgeraçõesdejovenssantomenses,aolhesentregarestetributo emquetantosestãoempenhados.Comoresultado,todospoderãoviracontribuirparaos desígniosdoseupaísnousodosvaloresqueaEducaçãolhesproporcionou.
Alunosenvolvidos
Atendendoàsgrandesfragilidadesdosalunosidentificadas,anossaaçãotemtidoporbase fundamentosassentesemestudosmodernos18 queapontamparaumensinodefinidode formaclara,bemestruturado,sequencial,evolutivopassoapasso,commetas
17 Uma das alunasselecionadas deixou de residir em São Tomé.
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Estiverampresentes,emsetembrode2019,no1.º Campos 39alunos17 ainiciaro 10.ºanodeescolaridade:14frequentamaEscolaPortuguesadeS.ToméePríncipeeos restantes,escolaspúblicasdistribuídaspelailhadeSãoTomé.
Apósterdecorridooprocessodeacompanhamentodosalunosquefrequentaramo 1.º CamposdeMatemática,entredezembroemarço(trêssessões)eduranteosmesesde junhoejulho(oitosessões),30alunosmostraramreunirascondiçõesacordadasparaa frequênciada2.ªediçãodo CamposdeMatemática quedecorreuàdistânciaemsetembro de2020.
PreparaçãodosCampos
Apósumtestediagnósticoaplicadoemabrilde2019,a54alunosda9.ªclasse,de quatrodosseisdistritosdeS.Tomé–S.Tomé,Lobata;MéZóxieCaué–emquese detetaramasdificuldadesaoníveldeconhecimentosbásicoseasfragilidadesdecorrentes dasorientaçõescurricularese,também,dedeterminadasmetodologiasusadas,foi realizadoumtestedeseleção,emjulhode2019,aumconjuntode268alunoscom classificaçãosuperiora14valores,tendosidodestesselecionados 40alunos,dediferentes estratossociais,deoitoescolas.
18 Ahroni, R.(2008); Guilmois, C.,Popa-Roch,M., Clément, C , Bissonnette,S & Troadec, B (2020); Kirschner, Paul A., Sweller, John & Clark, Richard E (2006); Ma, L. (2009)
Onossotrabalhopreparatóriofocou-seassim,porumlado,noplanodeação,tal comonasuaconceptualização,atendendoàmelhoriadaaprendizagemquesepretendia alcançar;poroutro,atendendoàescassezdematerialdidáticoedemanuaisescolaresem SãoToméePríncipe,naconceçãodemeiosauxiliares–sebentasdeapoioaoensino–de queteríamosdedisporaolongodotrabalho.
Asegundaediçãodo CamposdaMatemática foirealizadanomomentoda pandemiaCOVID-19,oqueimplicouumapreparaçãomaiscomplexapornosprivarde estarpresencialmentearealizarostrabalhos.Contudo,nãosentimosimpedimentospara quenãoseconseguissecumprirasfinalidadesdesteprojetoduranteaintervenção. Destacamosparaquetalacontecesse,assoluçõesencontradasparaqueeleserealizasse comsucesso,designadamente:
72 N.º22022 estabelecidas,apoiadoemmateriaisdequalidadeenumaavaliaçãosistemática–contributosparaaorganizaçãodeumensinoeficaz,quepermitadesenvolvernosalunos capacidadescognitivasesperadasnestaetapadoseudesenvolvimento.
Nessesentido,duranteomêsdeagostode2019–napreparaçãodoprimeiro Campos –,eemagostode2020–,napreparaçãodosegundo Campos –foramelaborados documentosdeapoioquenoiníciodostrabalhosforamdistribuídosaosalunoseaos professores. Atendendoaquenoanoletivo2019/2020estesalunosiriaminiciaroEnsino Secundário,oprimeirodocumentotevecomointençãoreverostemasessenciaise estruturantesdoprogramadeMatemáticadoEnsinoBásico,fundamentaisparauma preparaçãoadequadaparaprosseguiremosestudos,assimcomomostraraeficáciadeque serevestemalgunsinstrumentosmatemáticosquandoaplicadosaoestudodomundoreal, Em2020,jáempleno secundário,pretendeu-sefornecerapreparação necessária,emcada umdostrêsanosqueantecedemoacessoaoEnsinoSuperioraáreasquerequeremuma sólida formação matemática, assim como, desenvolver no aluno o gosto por esta disciplina.
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Amobilizaçãoeinteressedosalunoseencarregadosdeeducação,aeficaz organizaçãoeoapoiolocalobtidoduranteassessõesrealizadapelaSSMAT;
Organização
AcoordenaçãoeoacompanhamentoinexcedívelquetivemosporpartedaFCG, tantonoacordodotrabalhoadesenvolver,comonascondiçõescomquecontámosaodar continuidadeatodosostrabalhos.
O1.ºCampos decorreuentreosdias2e13desetembrode2019comsessõesdiárias comosalunosdas8hatéàs13h.Foramocupadasaindatrêstardescomformaçãode professores,outracomatividadescomplementaresnoexteriordoInstitutoSuperiorde EducaçãoeComunicação(ISEC),localondeasaulasdecorriam,e,ainda,umapalestra proferidapeloProfessorLúcioCarvalho(DepartamentodeCiênciasExactas,Tecnologias eEngenharias,UniversidadedeS.Tomé).
FoitidaemcontanestapreparaçãoqueaFCGiriacederumTabletacadaumdos alunoseacadaumdosprofessoresenvolvidos,oqueseveioamostrarduranteo Campos umcontributoinestimávelnacomunicaçãoentretodos,napartilhadedocumentoseno sucessodotrabalhonummomentoemquenãonoserapossívelestarpresentesdevidoà pandemia.
Antesdeseiniciaremostrabalhosnoprimeiro Campos foiapresentadooplanode trabalhoaosalunoseforamassumidoscompromissos (Anexo1),tantopelosalunoscomo pelosprofessores,queestariamapartirdaquelemomentoenvolvidosnoprojeto,tendoem vistaoseualcancedetrêsanos,assuasfinalidades,otrabalhoenvolvidoea responsabilidadecoletivaquedeveríamostertodossemprepresente.
Foicomgrandesentimentoderesponsabilidadequeosalunossemostraram motivadosparainiciarostrabalhosnorteadosparaocumprimentodetodasastarefase paraobtersucesso.
Assessõesdetrabalhocomosalunosdecorreramtodasasmanhãs(ISEC).No2.º Campos osalunosforamacompanhadospordoisprofessoresdaSSMATepelos12 professoresemformação(emsistemarotativo).
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O2.ºCampos decorreuentreosdias31deagostoe11desetembrode2020com sessõesdiáriascomosalunosdas9hatéàs13h(ou13:30).Foramrealizadastrêssessões deformaçãodeprofessoreseduasatividadescomplementares–palestras:ProfessorFilipe Oliveira–(presidentedaSPM)eProfessorLúcioCarvalho.
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Nodecorrerdo1.º CamposdaMatemática onossotrabalhofocou-seemrevisitar osdiversosconteúdosdoscurrículosdoEnsinoBásicocomaprofundidade19 quese mostrounecessáriaàsuacompreensão,propiciandoaosalunosconhecimentosmais sólidos,situaçõeseproblematizaçõesquepermitissemarticularosváriosconteúdosdos currículosdoEnsinoBásico,oqueinequivocamentemotivouosalunosparaquererem sabermais.
20
19
Método
Houveapreocupaçãonaplanificaçãodasaulas,emambosos Campos,que vertemosnosdocumentosdeapoio,dequeostemasgerasseminteresse. Assim,os exercíciosouosproblemasteriamdeterumaabrangênciaeumlastroque,emcada momento,sepudesseencontrarum,queestarianaalturanopontocerto–graude dificuldadecerta–deformaatornarastarefasinteressantes.Oprazer,ointeresseea motivaçãodosalunosestiveramentreasnossasprincipaispreocupações–umproblema muitofácilemquesechegaimediatamenteàsoluçãopoderáretiraroprazernotrabalho, masseoproblemaformuitodifíciléimprovávelresolvê-loe,portanto,obterasatisfação quelheestáassociada20 . Assim,oaumentogradualdadificuldadefoiimportantee realizadoemfunçãodascapacidadesjáadquiridas.Emsumafoifundamentalomaterial deapoioproduzido,elefacilitou-nos,emcadamomento,aescolhacorretadeexercícios, deproblemasedasatividadesdeformaatornaropensamentomaisrobusto. Young, M (2019) Willingham, D (2009)
Omomentoem quedecorreuo 2.º Campos obrigou aqueas sessõesdecorressemà distânciaalterandoaexecuçãodastarefaseaformadetrabalharduranteassessõescomo sedescreveemseguida.
Emconjuntoconcretizámosumprogramacomummétodoquepossibilitou,passo apasso,consolidarconhecimentoseaconstruçãodacompreensãoquepermitiuaosalunos estabelecerrelaçõeseformulargeneralizações,resolverproblemas,realizar demonstrações,comunicarcomrigorraciocínioseresolversituaçõespráticasem atividadesdecampo.Ainteraçãomantidaduranteasaulaspossibilitou-nosaferirgrandes progressos,principalmenteno1.º Campos emqueaindaseverificaramgrandes dificuldadesnaexpressãoescrita. Apesardeasaulasseremremotasno2.º Campos a nteraçãonasaulascontinuouaserconseguidaeaqualidadedodiálogomelhorou manifestamente.
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Assessõesdo2.º Campos decorreramcomaseguintemetodologia:
-Das10hàs11h:Resoluçãodeexercícioscomoapoiodosprofessores santomenses;
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Das 9h às 10h (sessão remota em Zoom): Explicação e registo escrito das matérias acompanhadaspelaresoluçãodeexercícioscontando,paratal,comaparticipação interessadaeativa–espontâneaousolicitada–dosalunos;
-Das11:30às12:30(sessãoremota):esclarecimentodedúvidas;
Paraaconsolidaçãodasmatériaslecionadas,sessãoasessão,osalunoscontaram comumdocumentodeapoio–exercícios–comresumosdasmatériaseexercícios variados,oradasmatériasacabadasdeaprender,oradearticulaçãoerevisitaçãodasvárias unidades.OsalunostrabalharamtambémcomoapoiodaKhanAcademy,orapara consolidar,orapararealizaremalgumasatividadesatribuídas.
-Das12:30às13h:realizaçãodeumtestederespostasabertas(emqueas resoluçõeseasclassificaçõesforamdevolvidasnoprópriodiaatravésdaplataformade apoioàcomunicação,entreosprofessoresealunos–Classroom);
No2.º Campos houveapreocupaçãodenofinaldecadaaularealizarumpequeno testecomafinalidadedeincrementaraatenção,concentração,persistênciaduranteaaula eoestudoautónomodosalunos21,paraalémdainformaçãoquenos permitiurecolher.As 21 Karpicke,J.D. &Blunt,J R.(2011);Roediger,H.L.,&Karpicke,J.D.(2006);Roediger,H.L.,Smith, M.A.,&Putnam,A.L.(2011)
Foramrealizadasduasprovasdeavaliaçãoduranteo1.º Campos.Emambasas avaliações,aprovafoidevolvidaaoalunonodiaseguinteàsuarealizaçãocomascorreções efetuadas,massemaindicaçãodaclassificaçãoatingida,umavezqueosalunos apresentavamaindaritmoseestádiosdeaprendizagemmuitodiferentes.Foiimportante serrealistaacercadotempoqueosalunosdemoramaaprenderquandoháobjetivosque requeremumaperspetivademédiooudelongoprazo. Apósaentregadostestes,houvea preocupaçãodetrataroserroscomopartedaaprendizagemcriandoumaatmosferaemque afalha,emboranãodesejável,nãotemdeserembaraçosanemtotalmentenegativa, significandoapenasqueosalunosainda estãoaaprender.Depoisdeuma novarevisitação dostemasosalunosforamconvidadosavoltaremafazerostestesemcasa,jádeuma formamaisconsciente.Foicuriosaaespontaneidadedemonstradaaonosexplicarema sensaçãoquetiveramao verificaremasdificuldadesque játinhamultrapassadoem ambos oscasos. Paranós estestestes eos seusresultados foramentendidos comoguias paraobter pontosdeequilíbrionanossaação,elespermitiram-nosponderar,emváriosmomentos,se oqueestavaaserfeitoresultavaounão,eseosalunosapartirdenovasinformaçõesou clarificaçõesestavamaaprendermais.
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Avaliação
No1.º Camposforamconvidados20professorespararealizartrêssessõesde formação,totalizandoseishoras.Como operíododo Campos coincidiu comaaberturado ano letivo, os professores não foram tão assíduos como os alunos, mas os presentes tiveram oportunidadedeconhecertodososdocumentosdetrabalhodistribuídosaosalunos, analisá-los,discuti-losedesereminformadosdecomodecorreuotrabalhocomosalunos. Foramapontadaseanalisadasasdificuldadesencontradasnosestudantes,asformasdeas colmatareoefeitopositivoproduzido–facilitaremotrabalhonostemassequenciaisenas relaçõesentreestes.
Duranteosdois Campos osalunosforamtotalmenteeplenamenteassíduos,muito trabalhadoresemostraram-sesempreesforçados,concentradosepersistentespara conseguiremultrapassarasdificuldadesqueenfrentavamnosexercíciosequestões
No2.º Camposforamconvidados12professoressantomensespararealizar formação.Osprofessoresacompanharamasaulasemsistemarotativoefrequentaramtrês sessões,cadaumadeduashoras,emqueostemasabordadosforamosqueiriamser lecionadose,emduasdassessõesfoirealizadaumaexploraçãodoprogramaGeogebra comoferramentadeapoioaotrabalhodaunidadedegeometria.Cadaprofessorrealizou, emmédia,cercade14horasdeformaçãocombastantemotivaçãoerealizouumtrabalho autónomodasatividadespedidasemGeogebra.
79N.º22022 resoluçõesforamdisponibilizadasaosalunoseaindicaçãodaclassificaçãoatingidapor cadaumfoiconhecidanoprópriodiadaavaliação. Asprovasforamclassificadaspara20 valoreseosresultadosobtidosemambasasediçõespodemserconsultadosno Anexo2.
Formaçãodeprofessores
Consideraçõesfinais
Édesalientarofactoqueumaavaliaçãosistemática,talcomofoirealizadanasoito sessõesremotas emjunho, julhoe no2.º Campos,fomentou melhoresdesempenhos euma melhoriasignificativanaexpressãoescritamatemática,oquereforçaacontinuidadedos princípiospornósadotados.
Algunscomentáriosqueosalunoseosprofessoresemformaçãonos deixarampor escritoemcadaumdos Campos encontram-seno Anexo3.
80 N.º22022 colocadas. Apósaprimeirasemana,no1.º Campos,aevoluçãosentida,nacomunicação, nosprocedimentos,algoritmos,rotinasnecessáriasàresoluçãodeumproblemade matemáticafoinotável. Algumasdasbarreirasqueestesalunosencontravamperante algumadificuldadeforamderrubadaseosentimentodeleseraqueelesiriamprosseguir paraonívelseguintecomumaatitudedemaiorsegurançaemaisconfiançaemsipróprios.
No2.º Campos destacamosprogressosnãosónaMatemática,mastambémna adaptaçãoaodigitaleàsplataformas online,totalmentedesconhecidasatéaquiparaa esmagadoramaioriadosalunosquederamumgrandepasso,dozero,gradualmente passaramaseraptosacomunicarecolaborarmediadospelatecnologia,mostraram-se rapidamenteindependentes,capazesdeseligar,partilhar,comunicarecolaborar com outraspessoasde formaeficaze eficientenumambiente digital.Emsuma, derampassosà frentenacriaçãodasuaadaptabilidadetecnológica.
Destacamostambémaajudaqueosalunoseosprofessoresemformaçãonostêm dadonesteprocesso.Eles,comasuaespontaneidade,têm-nosconseguidodarinformação que,emcadamomento,ponderamoseavaliamos,deformaaconseguirmosqueanossa açãosejaharmoniosa,ponderadaenoritmocerto.
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Porúltimo,nãopodemosdeixardeexpressaronossoagradecimentoàFCG,na figuradaDra.HermíniaCabral,DiretoradoProgramaGulbenkianParceriasparao desenvolvimentoedoDr.JoãodeAlmeidaPedro,gestorséniordeprojetos,tantopelo lançamentodestainiciativa,assimcomopelaformacomonostêmapoiadono desenvolvimentodetodoestetrabalho.
Nofinaldestassessõesda2.ªediçãodo CamposdaMatemática salientamosa evoluçãoqueseregistou,consideramosqueosprogressosforambonsesãopromissores paraocumprimentodasfinalidadesdesteprograma.
Karpicke,J.D.&Blunt,J.R.(2011). Retrievalpracticeproducesmorelearningthan elaborativestudyingwithconceptmapping. Science 331,772.
82 N.º22022
BIBLIOGRAFIA Ahroni,R.(2008). Aritméticaparapais.Lisboa:Gradiva. Guilmois,C.,Popa-Roch,M.,Clément,C.,Bissonnette,S.&Troadec,B.(2020).Effective numeracyeducationalinterventionsforstudentsfromdisadvantagedsocialbackground:a comparisonoftwoteachingmethods. EducationalResearchandEvaluation, 25:7-8, pp. 336-356,DOI:10.1080/13803611.2020.1830119
Kirschner,P.A.,Sweller,J.&Clark,R.E(2006). WhyMinimalGuidanceDuring InstructionDoesNotWork:AnAnalysisoftheFailureofConstructivist,Discovery, Problem-Based,Experiential,andInquiry-BasedTeaching. EducationalPsychologist 41, pp.75-86,DOI:10.1207/s15326985ep4102_1
Ma,L.(2009). Sabereensinarmatemáticaelementar.Lisboa:Gradiva. Roediger,H.L.,&Karpicke,J.D.(2006). Test-enhancedlearning:takingmemorytests improveslong-termretention. PsychologicalScience 17-3,pp.249-255.
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83N.º22022
Willingham,D.(2009).Whydon'tstudentslikeschool?:acognitivescientistanswers questionsabouthowthemindworksandwhatitmeansfortheclassroom. Multicultural Perspectives,12(3)DOI: 10.1002/9781118269527
UNESCO(2003). AciênciaparaoséculoXXI:umanovavisãoeumabasedeação, (Declaraçõesde)BudapesteeSantoDomingo.Brasília:UNESCO.
UNESCO(2017). Educaçãoparaosobjetivosdedesenvolvimentosustentável:objetivos deaprendizagem.Brasília.UNESCO.
Anexo1
COMPROMISSOS
84 N.º22022 Anexo2
“Oquemaiscontribuiuparao meu desempenhofoiacapacidade das professorasdeexplicaremamatériade formaclaraedefácilentendimento.”
“Oquemaiscontribuiupara omeu desempenhofoiacontínuarealizaçãode exercíciosduranteeforadasaulas.”
“Oquemaismeajudouforamostrabalhos decasaeaqualidadedasexplicaçõesdas professoras,”
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Algunscomentáriosqueosalunosnosdeixaramporescrito
“OCamposcontribuiparaaaprendizagem porquesãodadasnovamenteasmatériasjá passadasdeumaformamaisaprofundada, estruturada,caminhandoemcadauma progressivamente.”
1.º Campos
“Aprendocoisasnovaseinéditasdeuma formamuito interessante,as coisasque antes viacomodifíceis.”
“Tenhooportunidadedeaprendermuitas coisascomprofessoresmuitobemformados etambémfazernovosamigos.”
“Vioempenhodosprofessoresemesclarecer asdúvidasdosalunose aquantidadee diversidadedeexercícioseosmétodosusados parapassaroconhecimento,aprendimuitono tempoquejátiveaqui,regrasquenãosabia comousareagorameajudamaresolver os problemaseexercíciosdeformacorretaecom maisfacilidade.”
“Paramim,oquemaiscontribuiuparao meudesempenhoforamosesclarecimentos dasdúvidas,”
“Osprofessoresexplicamdeformamais aprofundadadoque aprendemosna escola.”
“Noscamposeutenhoaoportunidadede aprenderdeumaformamaisaprofundada eeficaz.”
Anexo3
2.º Campos
Algunscomentáriosqueos12professoresnosdeixaramporescrito
“Aformacomoasprofessorasformadorasexplicamosconteúdos.”
“Acompanhamento,apaciênciadosprofessoreseaconstanteavaliação.”
“Oacompanhamentodasaulasporviadenovastecnologiaseadinâmicaintroduzidanas aulas.”
“Realizaçãodosexercíciosdandoasexplicaçõesnecessárias.”
“Ainterpretaçãoeastécnicasderesoluçãodeexercícioseagerênciadetempo.”
“Interação e colaboração entre os alunos e a forma como os exercícios foram resolvidos pelas professorasbaseando-senasideiasdosalunos.”
“Resoluçãodosexercícioseasconstantesavaliações.”
“Ousodatecnologianoensinodamatemáticaeaformacomoasprofessorasajudaramos alunosainteragirnasaulas.”
Oquenosseuentendercontribuiuparaoprogressodosalunos[nesteCampos]?
“Comunicaçãoentre professoraluno, paciênciadas formadorase avaliaçõesno finalde cada conteúdo.”
86 N.º22022
“A interação,integraçãoecomunicação.”
Brevesnotasbiobibliográficasdosautores IsabelHormigo
Como Revisora Científica, editou as versões portuguesas dos livros Saber e ensinar matemáticaelementar,LipingMa,Gradiva(2009)e Aritméticaparapais,Ron Aharoni, Gradiva(2008).
LicenciadaemMatemática,pelaFCUL.
JoanaTeles
FoiAdjuntadoMinistrodaEducaçãoeCiência(2011-2015),sendocoordenadora daelaboraçãodasMetasCurriculareseProgramas.RepresentouPortugalemreuniões técnicasdaCPLPnaformulação/desenvolvimentodeprojetosPALOP.
87N.º22022
PertenceuaoConselhoNacionaldeEducação(2011-2016).
DoutoradaemMatemática,especializaçãoemGeometria,pelaUniversidadede Coimbra.CoordenadoradoMestradoemEnsinodaMatemáticano3.ºcicloeEnsino SecundáriodaFaculdadedeCiênciaseTecnologiadaUC.Pertencedesde1995à ComissãodeProblemasdasOlimpíadasPortuguesasdeMatemática.Acompanha deforma regular,comochefededelegação,asequipasportuguesas,nasOlimpíadasInternacionais eIbero-AmericanasdeMatemáticaeOlimpíadasdeMatemáticadaCPLP.Proferiu dezenasdepalestrasemescolasdoensinobásico,divulgandoaMatemáticaatravésda resoluçãodeproblemas.ÉformadoradoCentrodeFormaçãodaSPM.Émembroda direçãodaSPMdesde2006.
ÉmembrodadireçãodaSPM,doConselhoCientíficodoInstitutodeavaliação Educativae,também,professoranoNúcleodeFormaçãoaoLongodaVidadaReitoriada UL(desde2007).
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PeregrinoCosta
MasterofScience inPhysicsand Mathematics pelaUniversidade deS.Petersburg, MestradoemEstatísticaeGestãodaInformação,pelaUniversidadeNovadeLisboa, Doutorandoem AdministraçãoPúblicadaUniversidadedeLisboa.Foicoordenadordo ProjectodeEstatísticadosPALOP.ExerceuasfunçõesdeCoordenadordoCursode LicenciaturaemMatemáticadaUniversidadedeS.ToméePríncipe.ÉReitorda UniversidadedeS.ToméePríncipe,PresidentedaSociedadeSantomensedeMatemática ePresidentedaComissãoOrganizadoradasOlimpíadasdeMatemáticadeS.Tomée Príncipe.
89N.º22022
IsmaelNhêze InstitutodeEducação UniversidadedoMinho,Portugal LiaOliveira InstitutodeEducação UniversidadedoMinho,Portugal AntónioBatel Anjo Osuwela,Maputo,Moçambique ISCTEM,Maputo,Moçambique SoraiaAmaro Osuwela,Maputo,Moçambique
Resumo: Esteartigodiscuteasquestõesdaautonomiaedaautorregulaçãodas aprendizagensedaimportânciadestesdoisconceitosnoprocessodeeducaçãoàdistância atravésdousodatecnologia.Estaabordagemestá fundamentadanateoriaconstrutivistae pressupõequeosalunossejamativos,quecontrolemasuaaprendizagem,quetenhamum bomdesempenhoebonsresultados.Emsuma,osalunosdevemdesenvolverestas capacidadesparaobtermaissucesso.Aautorregulaçãodasaprendizagenscompreende processosderegulaçãoemqueosalunosmonitorizameavaliamoseuprogressoem direçãoaodesenvolvimentodascompetênciasrequeridas.Oprocessodaconstruçãodas competênciasexigeumfeedbackadequado,quegereumaatitudedepersistêncianuma determinadaabordagemouaoajustedassuasestratégiasdeaprendizagem. Apresentamse,ainda,osresultadospreliminaresdeumestudo-pilotoexploratórioquepretende
Ensino à Distância: autonomia e autorregulação da aprendizagem
Palavras-chave: Autonomia,autorregulação,ensinoàdistância,tecnologias,telescola.
estabelecerasbasesdaautonomianosalunosdosegundociclodoensinoprimáriode Moçambiqueparaque,destaforma,sejapossíveldesenharumapolíticasustentávelde ensinoàdistâncianoensinopós-primário.
90 N.º22022
AComissãoInternacionalsobreEducaçãoparaoséculoXXI,queorientouasações daUNES|CO,trouxereflexõesimportantessobreaeducaçãoeaaprendizagemcombase numavisãoholística,indicandoqueaeducaçãosedeveorganizaremtornodequatro aprendizagensfundamentaisquesãoimportantesparaodesenvolvimentodetodo indivíduo:aprenderaconhecer(adquiririnstrumentosdecompreensão),aprenderafazer (parapoderagirnocontexto),aprenderaviveremcooperaçãosocial(cooperaçãocomos outrosemtodaaactividadehumana),aprenderaser(estar),sendoesteoprincipalconceito
91N.º22022
AgrandeinovaçãodaLeidoSistemaNacionaldeEducaçãodeMoçambique (Moçambique,2018)éaintroduçãodoensinobásicoobrigatóriodenoveclassesque compreendeoensinoprimário,deseisclasseseo1.ºciclodoensinosecundário(ES1). A escolaridadeobrigatóriapassadeseteparanoveanoseimplicaráosurgimentodenovas estratégiasparaoensinoàdistância,jáqueaproximadamentedoismilhõesequatrocentas milcrianças,adolescentesejovensemidadeescolarestãoforadaescola,dosquaiscerca deummilhãonoES1(UNESCO,GlobalEducationMonitoring–GEMReport2017/8Responsabilizaçãonaeducação:cumprirnossoscompromissos,2018).
Introdução
CombasenaanálisedaUNESCO(2019),oimpactodaimplementaçãodaLei 18/2018 no período 2023-2025 representa no ES1 um aumento em 68%, o que corresponde ànecessidadedeconstruirmais732novasescolas,de10salasdeaulacada,comum investimentoquerondaráosmilmilhõesemeiodedólareseanecessidadedeformare contratarmais19.520novosprofessores.
Faceaestesnúmeros,seránecessárioelaborarumapolíticapúblicadeensinoà distânciaparaoensinosecundário,assentenumaestratégia,queterácomorecursobaseas tecnologiasnoensino,emparticular,atelevisão,comoummeioquejulgamoseficazpara ademocratizaçãodaeducação.
92 N.º22022 quecompreendetodososanteriores(Delors,etal.,1998). Astecnologiasderamumnovo caminharàHumanidade,nabuscadeconhecimentosglobais,ajudandoacompreendero quepensamasdiferentesculturaseasdiversasvisõesdecientistasnomundotodo,quase aomesmotempoqueosconhecimentossãodescobertosedivulgados.
Numaeradigital,estamoscadavezmaisimersosemtecnologia,nãosendo vislumbrados,emnenhummomento,sinaisdeestagnaçãoouabrandamentodessa evoluçãotecnológica;pelocontrário,cadavezmaisnovasdescobertasgeramnovos avançostecnológicos.Atecnologiaestáafavorecergrandesmudançasnaeconomia,na formacomonoscomunicamosenosrelacionamos,ecadavezmaisnamaneiracomo aprendemos(Bates,2015).
Aaçãodoprofessordeveseralteradademodoaabandonarotradicionalpapel magistraldetransmissordeconhecimento,paramediador/facilitadordaaprendizagem.
Nomodelodeensinotradicional/magistral,oprofessoréconsideradoodetentordo conhecimentoedeve,portanto,transmiti-loaosalunos.Estes,porsuavez,têmafunção básicadeescutar,memorizarereproduziressasinformaçõesquandolhesésolicitado.Esta metodologiarelegaoalunoparasegundoplanoecomprometemuitasdascompetências quepotenciamoseudesenvolvimento.
SegundoZimmerman,Bonner&Kovach,2002,p.17:“Opapelprincipaldoprofessor,na promoçãodaaprendizagemautorregulada,consisteemajudaroalunoaassumirassuas responsabilidadesnoseupróprioprocessodeaprendizagem”.Pretende-sequeoprofessor assuma um papel de orientador cuja acção é a de ensinar a pensar,aorganizar a informação paraatransformaremconhecimento,edotaroalunodecompetênciasquelhepermitam construiroseupróprioconhecimento.NaSociedade/EconomiadoConhecimento,o grandedesafiocontinuaaser:“Comoacederàinformaçãoecomogeri-la?”(Oliveira,
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Otermoautonomiavemdogregoesignificaautogoverno,governar-seasipróprio. Umalunoquandopossuiautonomiatorna-seumindivíduopró-ativo,capazderesolver problemas,dentroeforadoespaçodeaprendizagem,aprendeasercríticoemrelaçãoao queaprendeecomoaprendeetomaconsciênciadoqueécapazdeproduzir.
Apesardeadiscussãoalargadaegeneralizadasobreestetematersidoiniciadaem 1998(Delors,etal.,1998),aolongodosanosseguintesestasorientaçõesencontram-se corroboradasesãoessenciaisparapensaraEducaçãonumavisãointegraldoserhumano, considerandoasconstantesmudançasnumasociedademarcadapelarápidaevolução tecnológica.
Hoje,existemmetodologiasmaisenriquecedorasparaoprocessodeaprendizagem emsaladeaula,nasquaisoprofessorsetornaummediadordaexperiênciadeconstrução doconhecimento.Inúmerassãoasvantagensdessasnovasconfiguraçõesdomodelode ensinoeaprendizagem,quetornamoespaçoondeseensinamaisatrativoemaisdinâmico, alémdecriarnosalunosmaisautonomiaecapacidadedeautorregulaçãodassuas aprendizagens.
2002)e“acederàinformaçãoegeri-laadequadamenteéumprocessoqueimplica aprendizagensquevãoalémdaaprendizagemdaescritaedocálculo”(id., ib.).
AutonomiaeAutorregulaçãodasAprendizagens
Nasdenominadaspedagogiasativas,ocentropassouaseroensinovoltadoparaa construçãodeumindivíduoautónomo,tomandoporbaseassuasnecessidadese competências.Nestaperspetiva,oalunocomsucessoseráaquelequeaprendeucomo aprender,comoadaptar-seecomomudar,ecomacapacidadedeadquirirconhecimentos comsegurança.
Aoprofessorcabeapoiaroalunonassuasdificuldadesenosseuserros,como condiçãoprimeiranaelevaçãodoseuníveldecompetênciacognitivaedeautonomia.O alunodevedesenvolveracapacidadedeautonomiaparagarantiraconduçãoeaefetivação dasuaaprendizagem,umavezquenãodispõediretamentedoacompanhamentopresencial doprofessorpararealizarseusestudoseconstruiroconhecimento(Fig.1).
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Oensinoàdistância,emMoçambique,éumatendênciaquetemdeseafirmarcada vezmais,nosentidodeatenderàprocura(acesso),àuniversalizaçãoedemocratizaçãoda educação.Temdeatingirumnúmerocadavezmaiordealunosemtodoopaís,encontrando aspolíticassustentáveisparaasuaefetivação.Umdospontosmaisdiscutidosnesta modalidadedeeducaçãoéanecessidadedequeosalunos(comoosprofessores) desenvolvamoprocessodeautonomia,sabendoqueestanãodependeapenasdo manuseamentodosrecursostecnológicos.
Aautonomianãoéalgoqueseconquistadodiaparanoite.Nãotemtempoestimado nempontosespecíficos.Asuaconstruçãoéumprocessoindividual,levandoem consideraçãooseucontextosocial,assuasexperiênciaseosseusestímulos(ouafalta deles).Semdúvida,aautonomiaéumprocessoenãoumresultado.
Oalunocapazdeobtersucessonoensinoàdistânciatemumperfilbemdefinido:é autónomo,disciplinado,organizadocomastarefas,temaconsciênciadequeépreciso cumprirprazos,temdomíniodatecnologia,bonshábitosdeleitura,capacidadede interpretaçãoeutilizaadúvidaeoerroparaconstruiraaprendizagemeoconhecimento.
3.Pensaremconteúdosapartirdoserrosmaiscomunsqueosalunosapresentam.
Figura1:Construçãodoconhecimento(elaboraçãoprópria).
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Aestratégiaparaodesenvolvimentodaautonomiapassapor:
1.Estimularaleitura:oprofessordeverecomendaraosalunosaleituradeobras completas,construirumprocessodeanáliseemtornodestaseprovocardebatessobre ostemasabordadosnaobraemquestão.
2. Estimularoreconhecimentodospróprioserros:darumfeedbacksobreoqueo alunoproduzouexpõe;nãodeveestarlimitadoàsatividades avaliativas,éfundamental queelepercebaasuarelevânciaequeoseu pensamentoimportaeéválido; éessencial queoprofessorvalorize,deformaparticular,cadacontribuição,principalmentepor meiodeumdiálogodiretocomcadaum,semprequeforpossível.
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Infere-sequeaautorregulaçãodaaprendizagemnãosepodereduziraumalista mecanizadaeestandardizadadeestratégiasdeaprendizagemprontasausar,masexigeuma implicaçãodosalunosnoseuprocessodeaprendizagem,tendoematençãoocontextoeas constriçõesespecíficasondeessaaprendizagemocorre(Rosário,2003).
Aescola,nestecasoosegundociclodoensinoprimário,devevalorizareaumentar osníveisdecríticaeautonomiadosalunos,sendoparaissonecessáriorenovaras estratégiaseinovar.
EmMoçambique, seráde capitalimportância queos professoresrepensem ospapéis quetradicionalmentelhessãoconferidosequetêmlevadoàfaltadeindependênciae responsabilidadedoaluno,prejudicando,indubitavelmente,asuaaprendizagem.
Osalunosdevemsercapazesdereflectir,pensareabstrair,apartirdosconteúdose actividadescurriculares,e deaplicaroconhecimentoàsnovas situações,sendoos maiores responsáveispelocontrolodassuasprópriasaprendizagens.
Estas estratégias passam por melhorar a leitura, o debate, o reconhecimento dos erros eofeedback.
NasequênciadoencerramentodasescolasfaceàsituaçãopandémicadaCOVID19, alunoseprofessoresviramassuasactividadesdeaprendizagemedeensino, respetivamente, interrompidas abruptamente. Foi necessário, então, recorrer a experiências anteriormenterealizadasnoâmbitodoensinoexperimental–EducaTV (Batel Anjo& Amaro, 2016) e adaptá-las ao contexto dos alunos em casa e sem meios de aprendizagem, comexcepçãodolivrodoaluno.
Figura2: Processodedesenvolvimentodaaprendizagem autorregulada (elaboraçãoprópria).
Háváriosfactoreslimitativosdodesenvolvimentodaautonomia,comoafaltade livroseoutrosmeiosdidáticos,estandoosalunosmoçambicanosmuitodependentesdos professores, tendo em conta que a sua aprendizagem é baseada na informação dada na aula, sobaformadeapontamentosoudetextosdeapoio.
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OEstudo-piloto
Procedemos,então,àrealizaçãodeumestudo-pilotoexploratórioquerecaiusobre osalunosdaquartaequintaclasse(fazempartedo2º.CiclodoEnsinoPrimário)do SistemaNacionaldeEducaçãodeMoçambique,equeconsistiunaproduçãodeum conjuntodevídeoserespectivosmanuaisdeexploraçãoparaprofessoresealunos, divulgadosempapel.Osvídeosforamdisponibilizadosnowebsite https://edumoz.wordpress.com/,osvídeosforamfinanciadospelo AltoComissariadodo ReinoUnidoemMaputoetransmitidonocanalSTV.
98 N.º22022
Otrabalhofoiseguidoemtrêscolégiosemqueosalunostêmumacondiçãosocial acimadamédiaeestessituam-seemMaputo,MatolaeNampula.
Matola 25 23 Maputo 13 17
• organizaçãodos seusmateriais;
• cumprimentodosprazos estabelecidosparaa entregadosrespectivos trabalhos;
• resoluçãodas tarefaspropostas.
Duranteoprocessodeobservação,verificou-sequeexistia,porpartedosprofessores, umagrandedificuldadenaplanificaçãodasaulas,nainteraçãocomosalunosefaltade autonomiaporpartedosalunos.
Atravésdefichasproduzidasecorrigidaspelosrespectivoscolégios,verificou-seque osalunosapresentavam,maioritariamente,asseguintesdificuldades:
Nampula 12 10
Pararecolhadedadosforamusadasastécnicasdeanálisededocumentos(com recursoafichasdediagnóstico)edeobservação(comregistosdecampoemdiário).
Colégios/Alunos QuartaClasse QuintaClasse
Estaconstataçãolevouaqueaequipadoprojetodesenvolvesseumconjuntodecinco vídeosparacadaumadasdisciplinas,paraaformaçãodeprofessores,edeumvídeopara mostraraosalunoscomoestudardeformaindependente.
Osucessonoensinopós-primárioemMoçambiqueestáintimamenteligadoàs experiênciasdosalunosno2ºciclodoensinoprimário.Tendoemcontaqueastaxasde abandonoereprovaçãosãoelevadasnestesprimeirosanosdeescolaridade,muitosalunos chegamaoensinosecundáriosemhábitosdeestudoedetrabalhoadequados.
Osnovosespaçosdeaprendizagememquesedesenrolamasnovaspossibilidades deensinoàdistânciaobrigamaensinarestratégiasdeestudoparaosalunos,demodoa quesetornemmaisautónomosequeconsigamregularasuaaprendizagem. As expectativasdevemserclaras:horários,procedimentoserotinasestabelecidasajudamos alunosaentenderoquedevemfazer,criando-se,assim,umambienteemquesesintam acomodadosdeformaestruturadaeseguros.
Conclusão
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Figura3: Capturadedois momentos dovídeo.
Estesvídeostiveramboarecetividadejuntodosalunos,tendooscomentáriossido muitopositivoseencorajadores.
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Noensinosecundário,osprocessosdeensinoeaprendizagemencontram-seem mudança,umaverdadeiratransformaçãodeconceções,atitudes,processoseestratégias, salientando-seaimportânciadoenvolvimentodoalunonaconduçãoautónomadoseu processodeaprendizagem.
Aestratégiaquepropomosteráporbaseastecnologiasnoensino,emparticular,a televisãocomoomeioquejulgamoseficaz,nocontextomoçambicano,paraa democratizaçãodaeducação.Segundoocensode2017,4,4%dapopulaçãotemacessoao computador,6,6%àInternete21,8%àtelevisão.Julga-seassimviávelorganizarcentros derecursos,equipadoscomtelevisão,paraassistênciacoletivadasaulas,supervisionada porumtutor.Estaestratégiavaipossibilitarquemilharesdealunoscontinuemosseus estudosapósotérminodoensinoprimárioevai,também,potenciaramelhoriada qualidadedasaulasnoensinopresencial,jáqueosprofessoresterãoacessoaaulas gravadasdequalidade.
Rosário, P.(2003). Autorregulaçãodaaprendizagememcontextoescolar:Questõese discussões. Actasdo2.ºEncontrodoGrupodeTrabalho–PedagogiaparaaAutonomia (GT-PA). Braga:UniversidadedoMinho.
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102 N.º22022
UniversidadePolitécnicadeMacau/InstitutoPolitécnicodeCoimbra
LolaGeraldesXavier
Learningaforeignlanguageisessentially learningtointeractasan‘intercultural competentspeaker’. (Lussier,2011,p.36)
Palavras-chave: Portuguêscomolínguaestrangeira,leitura,literatura,inferências,ensino.
Notas breves sobre a leitura de textos literários em aula de Portuguêscomolínguaestrangeira
Pretende-se,pois,aqui,refletirsobreasformasdeleiturae,sobretudo,modosde acessoaculturasatravésdaleituradetextosliterários(Beacco,2000).Paraisso,defenderse-áoestudodetextosliteráriosatravésdorecursoàsinferências(Grice,1957,1975; Giason,2000,2005;Nuttall,2005;Viana,2009)eàsfasesdoprocessodeleitura(Solé, 1998;Nuttall,2005).
103N.º22022
Resumo: Oensinodalínguanãopodeserdissociadodoensinodacultura.Nocasodo Português,sobretudoenquantolínguaestrangeira(LE),esseaspetoveste-sedarelevância deumalínguaqueéfaladanoscincocontinentese,consequentemente,evidencia caraterísticaspeculiaresassociadasàsculturasqueausam.Poroutrolado,aliteraturaé umdoselementosculturaismaissignificativosdaidentidadedeumalíngua. Assim,para compreenderostextosliteráriosnãoéapenasnecessáriodominaralíngua.Étambém importante,paraalémdoconhecimentoculturaldalíngua-alvo,“saberler”,nosentidode usarasabordagensdidáticasadequadasàcogniçãoefruiçãodaleitura.
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Destemodo,osucessodaleituradependedainformaçãoarmazenadanamemória doleitor,ouseja,oconhecimentosobrealínguaescritaemquelêeosconhecimentos sobrearealidadeculturalqueotextoreflete.AleituraemPortuguêscomolíngua estrangeira(PLE)éummeioprivilegiadodaaprendizagemdalínguaedacultura,umavez queoscontextossignificativosdeusofacilitamaaprendizagemdalíngua-alvo. Assim,o conhecimentosobreumalínguaescritapressupõeosconhecimentosparalinguísticos,o conhecimento das relações gráfico-fonológicas, os conhecimentos morfológicos, sintáticos esemânticos,bemcomolexicais.Terumvocabulárioricosignificasaberutilizá-loem contextoereconhecerrelaçõesentreformasdamesmapalavra(porflexão,derivação,etc.). Conhecerumalínguaescritasignifica,ainda,dominarasestruturastextuaisdecoesãoe
Seentendermosaleituracomoum“processopsicológicoemqueoleitorutiliza diversasestratégiasbaseadasnoseuconhecimentolinguístico,sociocultural,enciclopédico (…),umapráticasocialqueremeteaoutrostextoseoutrasleituras”(Kleiman,2004,p. 10),compreendemosaimportânciaqueadquireoconhecimentoamplodacultura-alvo.
1.Culturaeleitura
Nestesentido,conhecerumalínguaimplicaagestãodediversasvariantescomo objetivofinaldeconheceroOutro(Bizarro,2012).Esteconhecimentocultural,àfaltade uma aprendizagem por imersão, faz-se muito à base do contacto com registos audiovisuais, textosautênticos,textosliterários.Nessesentido,énecessário teremconsideraçãoqueler nãoémeraanálisegramaticaloureforçodashabilidadeslinguísticas.Nãoétambém exercíciodeperguntascomrespostassimples.Leré,pelocontrário,construirdeforma ativaosignificadodotextodeacordocomosconhecimentoseexperiênciaspréviasdo leitoredeacordocomoobjetivoqueguiaasualeitura,numasequênciadeprevisõese inferênciassucessivas(Nuttal,2005).
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coerência,bemcomoconhecerasdiferentestipologiastextuais,quedespertam,logoà partida,diferentesexpectativasnoleitor(Xavier,2000,2015,2019,2020).
Ainiciaçãoàleitura,emconcretoàcompreensãodotexto,nãoserá,pois,um processofácil.Exige,sim,quesedominealínguaestrangeiradopontodevistalinguístico, masissonãoésuficiente,sobretudosesetratardetextosespecializadosouliterários.Logo, paracompreenderostextosliterários,queéoqueaquinosinteressa,nãoéapenas necessáriodominaralíngua.
Danossaexperiênciaenquantodocentedeliteraturaparaaprendentesnãonativos dePortuguês,emparticularchineses,umdosproblemasquetemosconstatadoéa dificuldadenaleitura.Asdificuldadessãofonético-fonológicas,mas,parece-nos,derivam, também,dofactodeoPortuguêssetratardeumcódigodeescritamuitoafastadodo
Estesaspetosformaisnãosão,porém,suficientes.Énecessárioqueoleitorpossa acionarconhecimentossobreomundo,pois:“Apalavraestásemprecarregadadeum conteúdooudeumsentidoideológicoouvivencial”(Bakhtin,1981,p.95).Essarelação entreotextoeosseusconhecimentospermite(ounão)acompreensão.Estaconexãoentre omundoextralinguísticoeomundolinguísticoremete-nosparaaimportânciadouso didáticodemateriaisautênticos. Aocontactarcommateriaisautênticos,oaprendentede umalínguapercebemaisfacilmenteanecessidadedelerparaconseguirumobjetivo concreto,oquefavoreceacompreensãodotexto.
2.Leituraecódigoescrito
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Aneurociênciacognitivaindica-nos,atravésdoestudodaatividadedasdiferentes áreasdocérebroedassuasfunções,quesópodeserverdadeiramenteaprendidoaquiloque nosdizalgo, aquiloquechama aatençãoe geraemoção,aquilo queédiferente esobressai damonotonia(Mora,2013).Naevoluçãohumanaedaprópriacivilização,aprendere memorizarsãomecanismoslevadosaníveistãoabstratosedetãoaltosignificadosocial,
Osestudosdaneurociênciarevelam-nosqueaoníveldocérebro,quandoo aprendentefazum raciocíniobemfeito etemsucesso, élibertadauma substânciaquegera bem-estar,adopamina.Jáoinsucessolibertaashormonasdestress,aadrenalina,que muitasvezesbloqueiamacapacidadederaciocínio.Seoaprendentetemmedodeerrar, nãoestáemboascondiçõesparaaprender,pois ostressacumula-seeamotivação,queéo motorparaaprender,nãoexiste.Poroutrolado,estesestudosmostram-nosquesem emoçãonãohácuriosidade,nãoháatenção,nãoháaprendizagem,nãohámemória(cf., porexemplo,Damásio,1995,1999,2012,2017).
mandarim. Aprendenteschinesesdenível A1e A222 sãoaindaprincipiantese,nesse sentido,possuemumcampodevisãomuitoreduzido,oqueosobrigaaummaiornúmero defixaçõesocularesduranteaexploraçãodotexto:aproximadamentemaisdeumapor palavra(Barbosa,2010).Écerto,porém,queaquantidadedeinformaçãopercebidaem cadafixaçãonãodependeapenasdahabilidadedoleitor,masdaorganizaçãodos elementostextuais emconjuntos significativos.Dessaforma,insistimosna importânciada aprendizagememcontextoedetrabalhocomtextossignificativos,noseguimentodos estudosmaisrecentesdaneurociência.Aleituradeumtextocomsentidoeinteressanteé maisfácildoquealeituradeumtextodesconexo(Nuttall,2005).
22 Quadro Europeu Comum de Referência para as Línguas, Conselho da Europa, 2001.
Aatenção,veículoparaoconhecimento,despertaquandoháalgodenovoàvolta. Aatençãonascedealgoquepodesignificarrecompensa(prazer)oucastigo(perigo)e, portanto,temavercomanossaprópriavida(Mora,2013).Nestesentido,podeconcluirsequeostextosescolhidosparaaprendentesdeumalínguaestrangeiradevemser estimulantesesignificativos,deveevitar-setextosformadosporfrasessoltas,semsentido. Oleitornãodeveestardemasiadoansiosocomapossibilidadedecometererros,não compreendertodooléxicoouesquecerpormenores.
quesetêmvindoaafastardaalegriaquenasuaorigemsignificouverdadeiramente aprenderememorizar(Mora,2013).Sealeituraaconteceporseduçãoenãoporimposição, serápertinenteadequarasabordagensdaleituradetextosàfruição.
Aleituraexige,assim,aapreensãodeestruturassintáticasemorfológicas,da pontuação,vocabulário,contextossemânticoselexicais. Exigeaapreensãoderelaçõesde causaeefeito.Pressupõeoestímuloderespostasimaginativaseaaquisiçãodemodelosde escritaetipologiastextuais,bemcomoadiscussãodeideias.
Osesquemascognitivos(psicoafetivos)intervêmnoprocessodeaprendizagem, introduzindoaindissolubilidadeentreracionaleemotivo,entrecogniçãoefruição. A naturezadaexperiênciaestéticaresulta,aliás,dessaconjugaçãoentrecompreensãoe fruição.Nestesentido,sesefizerdaleituraumjogointerrogativo,articulandoquestõese respostas,poderáconferir-sedinamismoaoprocessodeleitura.Noquedizrespeitoà leituraemLE,estanecessita,inicialmente,demediaçãodoprofessornosentidode provocarointeressedoaprendentepelaleitura.Opapeldodocenteserá,assim,odeensinar oalunoaanteciparacontecimentos,apermaneceratentoemrelaçãoainformações implícitasouculturais,asaberdescodificarestruturaseenunciadosainterpretar.Éassim queoensinoatravésdeinferências,antes,duranteedepoisdaleitura,poderácontribuir paraareflexãoeaprendizagemnumaLE(Nuttal,2005).Seumleitornãoforespecialista
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108 N.º22022 numadadaárea,aleiturafar-se-ácomsucesso,omesmonãosepoderádizerda compreensãodotextoemquestão.
Nestesentido,asdiferençasentreaslínguasindo-europeiaseaslínguassinotibetanascontribuempara demarcarhábitosdiscursivos, afetandoexperiências,perceções, associações,memóriasemundividências.Queimplicaçõesdaquiadvêmparaoensino, nestecaso,doPLE?Énecessáriocolocarosalunosemcontactocomumtipode aprendizagemqueostornemaisflexíveis,expondo-osametodologiasdidáticasvariadas. Destemodo,deveapostar-senadiversidadedeabordagensdidáticas,deformaaabranger umaamplagamadeestratégias.Issopressupõeexpô-losaabordagensdesconhecidas,a incentivarousodeinstrumentosdeautoeheteroavaliação,bemcomoinsistirnãosóno conhecimentolinguístico,mastambémcultural.
ComolembraVygotsky(2001),pensamentoelinguagemestãointer-relacionados. Ora,opensamentodeumfalantedeumalínguasino-tibetanaestámoldadodeumaforma diferentedodeumfalantedeumalínguaindo-europeia.
Aneurociênciaculturalestudaomodocomoaculturainfluenciaofuncionamento docérebro.Certasconexõesneuronaissãomaisacentuadasnumadeterminadacultura.O cérebroorganiza-sedeumadadaforma,quandoexpostoaumacertaculturaumavida inteira. Asconexõesentreosneuróniosmodificam-se,fazendocomqueocérebro desenvolvaumaespéciede“lentesculturais”,atravésdasquaispercebeomundo(Dias, s/d).Línguasdiferentesinfluenciamasnossasmentesdemaneirasdiferentes,devidoao queanossalínguahabitualmentenosobrigaapensarenão aoqueelanospermitepensar. NoquedizrespeitoàestruturadoPortuguêsedoChinêsasdiferençassãosignificativas (cf.Dias,s/d).
Oprocesso quemelhor diferenciaos bonsleitores éo darealização deinferências. Podemosdizerqueumagrandepartedainformaçãoqueretiramosdaleiturade umtexto sedeveàutilizaçãodeprocessosinferenciais,porqueumtextonuncadiztudo.
ComorefereFernandaLeopoldinaViana(2009,p.32),apartirdeFayol:“As inferênciassãointerpretaçõesquenãosãoacessíveisliteralmente,sãooestabelecimento derelaçõesquenãoestãoexplícitas(Fayol,2000,p.20,traduçãolivre)”.
Paraaapreensãoglobaldotexto,torna-senecessárioqueoaprendentesaiba relacionarainformaçãolidacomomundoexterioraotexto,saibainferir,querosignificado deumapalavradesconhecidacombasenaestruturainternadaprópriapalavraeno contexto,quermobilizandoinformaçõestextuaisimplícitaseexplícitas.Finalmente, espera-sequeoaprendentesaibasintetizarpartesdotexto,bemcomoextrairconclusões doquefoilido.
Amesmaautoraenfatizaaimportânciadasinferências,explicandoque:
Griceéquemfalaprimeirodeinferênciasnoâmbitodapragmática(Grice,1957, 1975).Sobrealeitura,umnomeincontornáveléGiasson,queesclareceque“a compreensãonãoésimplestransposiçãodotextoparaamentedoleitor,masuma construçãodosentidoqueeleprópriofaz”(Giasson,2000,p.35). Assim,aleituraé entendidacomoumprocessointerpretativodedutivoefetuadopelointerlocutorpara deduzirosignificadoimplícitodeumenunciado/texto,tendoemcontaocontexto.Este conceitopressupõeanecessidadedecontextualizaraspráticasdalínguaeativara competênciasociocultural,demodoaqueoestudantepossaacederaonão-dito.
Omodeloconsensualdeleituraimplica,pois,leitor,textoecontexto(Giasson, 2000).Noensinodalínguaestrangeiraoco-texto(textual)eocontexto(social,cultural, psicológicoefísico)sãofundamentaisparaacompreensãodaculturadoOutro.
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3.Leituraeinferências
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Aelaboraçãode inferênciaspermite-nos obterinformação nova,reorganizando informação dispersanotexto,estabelecendoligaçõesentrefraseseproposiçõesecompletando informaçãoemfaltaouimplícita (Viana,2009,p.33).
Apreparaçãopré-pedagógicadostextosliterárioséimportante,poisservede estímulo de atitudes face aos textos, cria interesse cognitivo, intelectual e cultural e permite oestabelecimentodarelaçãoentreconhecimentotextualeprazerdotexto.
Noqueconcerneàpré-leitura,asatividadesdevemserconcebidasnosentidode prepararaleituraeativarconhecimentossobreotemaeatipologiatextual. Assim,é possívelanteciparosentidodotexto,atravésdotítulo,deelementosparatextuaiscomoa ilustração,asmanchagráfica,etc. Aoseformularhipótesesemrelaçãoaoconteúdodo texto,criam-seexpectativaseaguça-seacuriosidadeaoaprendente.É,noentanto, 23 ReginaRocha(2007,pp.119-123)adicionaaesteconjuntoainferênciarelacionada com“categoria”,de modoapercebereestabelecerrelações entrepalavrasouconceitosquelevem àconstruçãodealguns conceitosgenéricosqueenformamotextoatravésdeafinidadessemânticas.
Giasson(2005)apresentaváriostiposdeinferências:lugar,agente,tempo,ação, instrumento/objeto,causaeefeito,problemaesoluçãoe,finalmente,sentimentoe atitude23.Aoseadotaraleiturainferencial,podeconsiderar-setrêsmomentos,partindo deatividadesantes,duranteedepoisdaleitura(Solé,1998).
Paraalémdasestruturascognitivaseafetivaseprocessosmentaisquese desenrolamnoleitor,otexto,emsi,transmiteumaintençãodoautor,umaestruturaeum conteúdo.Paraosucessodaleituraterádeseteremconsideraçãoainteraçãoentreestes várioselementos.Noprocessodeleitura,opapelprincipalrecainoleitor,quevaicriando umprocessogradualdeformulaçãodehipóteses,realizandoinferências.
111N.º22022 importantenãoesquecerdedeterminarobjetivosdaleituracomcertograudedificuldade edeformadesafiante.
Finalmente,omomentodapós-leituraéigualmentesignificativo,poispermite verificarseoleitorcompreendeuoqueleu,conseguerefletirsobreoconteúdoeo significadodamensagemlida,bemcomoseconseguetransferirparanovoscontextosas aprendizagensrealizadas(linguísticas,interpretativaseculturais).Esteaspetoé importante,poisremeteparaaaplicaçãodoconhecimentoadquirido.
4. Algumasestratégiasdeleitura
TheL1readerdidnotlearnhisfiftythousandwordsbybeingtaughtthem;most werelearntbymeetingthemincontext.Usuallythisinvolvedassimilatingthemeaning 24 DanielPennac(1995)propõe,noseulivro Comoumromance,osdezdireitosdoleitor. Refira-seapenas algunsdessesdireitos:o“direitodesaltarpáginas”,“odireitodelertrechossoltos”,“odireitodeleremvoz alta”e“odireitodereler”.
Amelhorformadepermitiraexposiçãoàlínguaestrangeiraéatravésdaleitura comprazerenãoapenasparaobterinformação,éusaraleituraextensiva(detextos longos),oquepermiteencontrarpalavrasemcontextodeusoepossibilitaaprender vocabuláriopelarepetição:
Noquedizrespeitoàleiturapropriamentedita,aconstruçãodesentidosdotexto devefazer-seatravésdoreconhecimentodepalavrasefrases,recorrendoàsintaxeeà semânticaparaligarideiasesignificados;identificararticuladoresdodiscursopara perceberaligaçãodeideiasecompararinformaçãodotextocompré-conhecimentose vivênciasdoleitorsobreotema.Nesteprocessodeleiturapropriamentedita,oleitoré livredevoltaraler,saltarlinhas,etc 24
Oprofessordeve, noentanto,escolher textosdentroda zonadeconforto deleitura (Thornbury,2002)doaprendente,ouseja,estedeveapenasdesconhecermenosde5 palavrasnumexcertocom100palavras.Seoleitordesconhecernessapassagemmaisde 10palavras,deveescolher-seumtextomaisfácil.
OprofessordeLEdeverá,igualmente,permitiraleituralivre,escolhidapelos aprendentes.Dessemodo, haverámaioreshipóteses deencontrarmais palavrasnovasede asassimilaraoseuvocabulárioativo.Umadasatividadesquesepodedesenvolveréa “Narrowreading”(Thornbury,2002),ouseja,aleiturasobreumtemaespecífico,escrito pordiversasfontes.Podeescolher-seumtemapresenteemdiferentestiposdetextose explorá-losem aulas,sucessivamente: umahistória, umaletra deuma música,uma fábula, etc.
gradually,afterfrequentencounters.Intheclassroom,studentssimplydonotgetenough exposureforthisnaturalassimilationtobepossible.Thereforesolutionsoutsidethe classroommust befound. Anextensive readingprogramme isthe singlemost effectiveway ofimprovingvocabulary. (Nuttal,2005,p.62,sublinhadosnossos)
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Deverá,semprequepossível,permitir-seumaleiturasilenciosa(Nuttal,2005). Sugere-se,igualmente,queodocentefaçaumaleituramodelo,sobretudonosprimeiros níveisdeaprendizagem.Insistirnaleituraoralporpartedosalunosétambémimportante paraaconsolidaçãodosaspetosfonéticoseprosódicosdoPortuguês.
Dependendodoníveldeaprendizagem,podedistribuir-sepelosalunosumtexto emqueénecessáriocolocarosacontecimentospelaordemcorreta.Distribuirtextossem títuloparaqueosestudantespossam,depois,atribuir-lheumtítuloéumadasestratégias quepodeserusadacomoobjetivodepercebersehouveumacompreensãoglobaldotexto.
QuantomaispróximodosníveisbásicosdeaprendizagemdoPLE,maissedevedar atençãoàprocuradeinformaçãoexplícitanotexto.Essaprocurapodefazer-seatravésda identificaçãodepalavras-chavedotexto.Seráigualmenteconvenientetrabalhara construçãodemapasmentaisoupelomenosdeesquemasquemostremrelaçõesde hierarquia,decausa-efeito,vantagensedesvantagens,pontosdevista,etc.,visíveisnos textos.AindaparaosníveisbásicosdeaprendizagemdoPLE(A1eA2,porvezestambém B1),poderádesenvolver-seatividadesquevisemreduzirumparágrafoaumafrase, responderaquestõesdeinterpretaçãoaberta,justificandocompassagensdotextoou preenchendoquadroscominformaçãoretiradadotexto.
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Otextoéolugardalínguaemcontextoporexcelência,nessesentido,atividades quevisem aconsolidação deaspetos gramaticaissão tambémbem-vindas.Aliás,umaaula delíngua(maternaouestrangeira)deverá,semprequepossível,permitiro desenvolvimentosimultâneodecompetênciasorais,escritas,gramaticaiseculturais.Nesse sentido,nofinaldoestudodeumtextoseráconvenientehaverespaçoparao reinvestimentodeconhecimentosadquiridos.Dessemodo,poderácriar-secondiçõespara aproduçãodedebates,simulações,dramatizaçõesetarefasescritas,comoescreverumemailderesposta,responderaumapergunta,continuarotexto,comentarodesfechodo texto,daroutrofinalaotexto,encurtarotexto,transformá-loemdiscursodiretoou indireto,passá-loparatextodramático,dramatizá-lo,etc.
Deacrescentar,ainda,queduranteoprocessodaleitura,oprofessordeveexplicitar osobjetivosda leitura,darinstruções clarassobreas tarefasadesenvolver, fixaraduração dotempoparaarealizaçãodastarefasepedirjustificaçãoderespostascombasenotexto (identificarapartedotextoquepermitechegaràsconclusões).
Quaissão,então,concretamente,osobjetivosdaleituraliterárianaauladePLE? NaauladePLEpodemintroduzir-setextosliteráriosdesdeonível A1(Bizarro,2006). Nemtodososautoresdefendem,porém,estaperspetiva,preconizandoalgunsquea introdução do texto literário deve ser evitada nos níveis iniciais (A1 eA2) e apenas iniciada progressivamentenonívelB125.Preconizamosqueacompetênciacomunicativadepende dacompetênciatextualeque,apesardeostextosreais/autênticosdesempenharemum papelfundamentalnaaprendizagemdeumalínguaestrangeira,nãodevedescurar-seos textosliterários.Paraalémdeletrasdecanções,umpoemacomo“Casamento”,deLuísa DuclaSoares,porexemplo,podeservirdemote(ou conclusão)sobreogénerogramatical emPortuguês,nonível A1.
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É,pois,maisoumenosconsensualqueotextoliterárioéumdoslugarespor excelênciadaculturadeumalíngua.Oreconhecimentodacompetêncialeitoradeum aprendenteverifica-senasuacompetêncialiterária. Atravésdotextoliterário,eparaalém doprazerestético,oleitortemacessonãosóaocódigolinguístico,masaumcódigo cultural que advém da vida social de uma comunidade. Tem, igualmente, acesso ao diálogo entreváriostextosdessaedoutrascomunidadesdefalantes.Otextoliteráriotambém transportaemsimodelos simbólicosdeculturacom cargasideológicasnemsempre fáceis dedescortinarporumleitordelínguaestrangeira.
Assim,aoseusaremtextosliterários,depreferênciavariados,está-se aoferecerao aluno Aocasiãodeenfrentaradiversidadesocialecultural.(...)aliteraturaprepara-nos paralermelhortodososdiscursossociais.Éumaideiaquesustentaqueostextos 25 Estaé, porexemplo,a posiçãode Leiria et al., 2008.
5.OestudodetextosliteráriosemPLE
literáriosconstituemumbomandaimeeducativo,nãoapenasparalereescrever literatura,mas tambémpara aprenderos mecanismosdo funcionamentolinguístico geral. (Colomer,2007,p.3)
• predominânciadefrasesquerespeitem aordemregulardosconstituintes (SVO);
• predominânciadevocabuláriode elevadafrequêncianoportuguês corrente;
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Seseselecionarostextosliteráriosapartirdecritérioslinguísticos,enãoestéticos ourepresentativosdedeterminadasépocasoutipologiatextual,orientadosparaos objetivosdoníveldeensinoemquestão,ousodotextoliterário,peloquesignificade aprendizagememcontexto,éumaapostaquepoderáserganha.Noentanto,como enumeramLeiria etal.,aescolhadessestextosdeveráobservarosseguintescritérios:
Assim,desdeoiníciodoprocessodeensinoeaprendizagemdoPortuguêscomo LEnãodeverádescartar-seapossibilidadedeusartextosliterários,comosobjetivosde: 1.permitiroacessoaculturasemlínguaportuguesa;2.construirumanoçãodecultura literária;3.consolidarosconhecimentosdeestruturasgramaticaisedaortografia;4. enriqueceroléxico;5.saberformularhipótesesinterpretativasquevisemacompreensão dostextos;6.conhecerautoresetextosrepresentativosdasliteraturasemlíngua portuguesa;7.perceberasespecificidadesdosdiferentesmodosdeliteratura–lírico, narrativoedramático;8.contactarcomasváriasvariantesdoPortuguês;9.adquiriro prazerdeleremPortuguês.
• ativaçãodereferênciasexplícitas asituaçõeseprocessos;
• ocorrênciaesporádicadefiguras delinguagem. (Leiria etal.,2008, p.13)
• relativaindependênciafaceacontextos culturaisouhistóricosespecíficos;
6.Emjeitodeconclusão
Alínguaportuguesa,qualservivo,estáemconstantemudança.Essadinâmica advémdemúltiplosecomplexosfatoresnãosólinguísticos,massobretudosociais, geográficos,políticos,económicoseculturais.
Apesardamesmalínguaemcomumemdiversosespaçosgeográficos,as comunidadesqueausamcontribuemparaasuadiversidade.Esteaspetosóé desconcertante/desafiantenamedidaemqueobrigao professordePortuguêscomolíngua estrangeiraacontemplarnoseuestudoasmúltiplasrealidadesdelínguaportuguesa,não sógeográficas,comolinguísticas,históricaseculturais.Otextoliterário,nemsempre suficientementevalorizado,enriqueceaauladePLEoulínguanãomaternadesdequea abordagemmantenhaaproximidadedaleituraprazerosa.Ousodotextoliteráriorevelaseimportantenamedidaemquefacilitaaaprendizagememcontextoeveiculainformações deváriasíndoles:linguísticas,literáriaseculturais.Noentanto,énecessário(poder) escolherotextoadequadoaoníveldeensinoeàtemáticaaabordar.
Oensinodeumalínguadeverá,pois,serativoedinâmico,permitindoqueo aprendenteconstruaoseuprópriosaber.Assim,énecessárioproporcionaraosaprendentes atividadesquedespertemacuriosidade,oespíritodedescoberta,oespíritodeanálisede situaçõesdavida,ainterdisciplinaridadeeintertextualidade,aautonomiaeacriatividade. Nestesentido,revela-sepertinenteimplementarestratégiasquepermitamaconstruçãode inferênciasecriemmomentosdepré-leitura,deleiturapropriamenteditaedepós-leitura.
Poroutrolado,oensinodaslínguasestrangeiraséumaoportunidadeparamelhor conheceroOutro,asualínguaeasuacultura:“whichelementsofcultureshouldwe includeinthedevelopmentof‘interculturalcommunicativecompetence’?(…)Language teachingcontextsseemappropriateforexaminingotherness”(Lussier,2011,p.47).
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Aoaprenderportuguêscomolínguaestrangeira,osestudantesaprendemumanova cultura.Poderiadizer-se,aprendemváriasculturas.Desenvolvemcompetências linguísticas,mastambémcompetênciasinterculturais(Lussier,2011).Talpermite-lhes pensareagirnumacultura-alvo.
117N.º22022
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LolaGeraldesXavier tempós-doutoramentopelaUniversidadedeCoimbraem ensinodasliteraturasdospaísesdelínguaportuguesaeédoutoradaemLiteratura (Comparadadelínguaportuguesa),pelaUniversidadedeAveiro.
25-36. http://exedra.esec.pt/wp-content/uploads/2015/07/03-25-36-LOLA-xavier.pdf/ https://dialnet.unirioja.es/servlet/articulo?codigo=6496624
Brevenotabiobibliográficadaautora
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Coorganizouepublicoulivrossobreliteraturasdelínguaportuguesa.Tempublicado dezenasdeartigosemrevistascientíficasinternacionaiseapresentadocomunicaçõese palestrasemvárioseventoscientíficosnasáreasdaLínguaPortuguesa,Literatura Portuguesa,LiteraturaComparadaeLiteraturasBrasileiraeAfricanasdeLíngua Portuguesa.DocentenaEscolaSuperiordeEducaçãodeCoimbra,desde2000,atualmente, desempenhafunçõesdeprofessoracoordenadoranaUniversidadePolitécnicadeMacau.
AsaladeauladoFrancêsLínguaEstrangeira(FLE)éolocalessencialparao estabelecimentode váriasteorias deensino nadidática destalíngua eé tambéma principal fontedeondeosdidáticosretiramsuasexperiênciasparanutrirsuasreflexõesteóricas.
Palavras-chave: representações, estereótipos, Francês Língua Estrangeira, língua, cultura.
Representações dos alunos nas aulas de Francês Língua Estrangeira
IsaacChavalaCavongo
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InstitutoUniversitáriodeLisboa(IUL-ISCTE)
Introdução
Resumo: OpresenteartigotratadasrepresentaçõesdosalunosdeFrancêsLíngua Estrangeira.Anossa pesquisavisao reconhecimentoderepresentações dosalunossobre a línguaearealidadefrancesas.NadidáticadoFrancêsLínguaEstrangeira,oestudodas representaçõesédegrandeinteresseparaosprofessores,namedidaemqueacompreensão dessefenómenosocialecognitivopermiteaofalantedestalínguaestrangeiracomunicar melhor.Aprenderumalínguaestrangeiraremeteoalunoaoutraculturaeacompreensão daculturarepresentadapelalínguaécondiçãoessencialparaodomíniodasdiferentes habilidadeslinguísticasnocontextoescolarouqualqueroutro.Édesalientar,também,que, nodomíniodoensinoeaprendizagemdeumalínguaestrangeira,deve-seexplorartodos osestereótipos,masosmaisimportantessãoosrelativosàcultura,aopaís,aoscidadãos, àlínguaemquestão.
Comefeito,opresenteartigonão abordaapenasasquestõesteóricas,mas tambéma prática,razãopelaqualoúltimopontotratasobreumcasopráticonoquedizrespeitoàs representaçõesdosalunos,considerando35alunosdeumadasturmasdeFrancêsLíngua Estrangeira,em Angola.
Dereferirqueesteestudoabarcaapenasumapartedafrancofonia,concretamentea França.
Anossapesquisavisaresponderaestasquestões.Nósestamosconvencidosdeque asrepresentações dosalunos caminhamjunto como seudesempenho naaula deFLE. Esta éanossahipótesedepartida.Nadimensãodeinterdisciplinaridade,estapesquisavisao reconhecimentoderepresentações(principalmenteosestereótipos)dosalunossobrea línguaearealidadefrancesasquepodemterforteinfluêncianonívelmotivacionaldos alunose,porconsequência,noprocessodeensino/aprendizagemnaauladeFLE.
1.Representações
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Opresenteartigoestácompostopelasquatropartesseguintes:representações (definiçãoderepresentação,asrepresentaçõesnaaprendizagemdoFrancêsLíngua Estrangeira);estereótipo(definiçãodeestereótipo,omeioondenascemosestereótipos:o contextofamiliar,omeiosocial,aescolaeamídia);representaçõesemotivaçãonaaula deFLE;eporúltimo,casopráticoderepresentaçõesdosalunosdeFLE.
DurantemuitotempodeexperiênciacomoprofessordeFrancêsLínguaEstrangeira (FLE),temosconstatadoqueemdiferentesturmasosalunostêmcolocadomuitasquestões sobrealínguafrancesa,aculturafrancesa,aFrançaeosfranceses,eistodenotaa existênciadeváriasrepresentaçõessobrearealidadefrancesa.Nestesentido,surgiram-nos asseguintesquestões:asrepresentaçõesdosalunossãopositivasounegativas? As representaçõesdosalunosafetamasuaaprendizagem?
Asrepresentaçõesdosalunospodem,geralmente,terumaforteinfluênciano processo de aprendizagem, uma vez que “o que somos depende não só de como nos vemos, mastambémdaimagemqueosoutrostêmdenós,denósemrelaçãoaelesecomoque elesrepresentamparanós”(DeCarlo,1998,p.88).
Oensino/aprendizagem doFLEmuitasvezes serefereàsimagens mentaisqueos alunostêmdalínguaqueestásendoaprendida,daculturadopaíscujalínguaseestá aprendendo,doprópriopaísedeseuscidadãosedoprocessodeaprendizagememsi.
Numaauladelínguaestrangeira,adimensãosocialporsisónãoésuficientepara melhoranalisarecompreenderofenómenodarepresentaçãovinculadoaoprocessode
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Asnossaspesquisassobreoassuntonospermitiramobservarque“certosautores permanecem[...]desconfiadosdanoçãoderepresentação,muitodifundida,invocadade formadiferenteemcamposdisciplinaresvizinhos[...]”(Jodelet,citadoporMoore,2001, p.9).Noentanto,issonãoimpedequeoutrosautoresdefinamessaentidadepsicológica.
1.1.DefiniçãodeRepresentação
SegundoMorin(1986,p.109),arepresentação“éumasíntesecognitivadotadadas qualidadesdeintegralidade,coerência,constância[...].Éconstruídaapartir:daaçãoda realidadesobrenossossentidos;nossamemóriaefantasiasquenosfazemprivilegiarcertos aspectosemdetrimentodeoutros”.Nessesentido,Pendanx(1998,p.11)reforçaessaideia aodizerque“chamamosderepresentaçãoaimagemquetemosdeumdomínio,deuma noçãooudeumaatividadeequeorientaapráticasocialouintelectual”.
Emtermosdedidáticadaslínguas,oconceitoderepresentaçãoévisto essencialmentedeumaperspectivasociológicaque“regularmenteserefereauma representaçãosocialdeumdeterminadogrupocujosmembroscompartilhamasmesmas ideiaseasmesmasopiniões[...]”(Sundberg,2009,p.33).
1.2.AsrepresentaçõesnaaprendizagemdoFrancêsLínguaEstrangeira
125N.º22022 ensino/aprendizagem.Portanto,émuitoimportanteanalisá-lotambémnumaestrutura cognitiva.Nessesentido,Bourdieu(citadoporSundberg,2009,p.33)destacaque“as representaçõesmentaisreferem-searepresentações individuaisoucognitivasesão menos estáveisqueasrepresentaçõessociais”.
Comosersocial,cadaindivíduofrequentementecarregaalgumasideiasoualgumas imagenssobresimesmo,suacultura,sualíngua,osmembrosdeseugrupo,osmembros deoutrosgrupos,culturaselínguasestrangeirasesobreseupaísepaísesestrangeiros.
Asrepresentaçõestêmfortesvínculoscomoprocessodeaprendizagem,que ajudamafortaleceroudesacelerar.Dessepontodevista,oestudodasrepresentações constituiumgrandedesafioparaosdidáticos,tantoparamelhorcompreensãode determinadosfenómenosligadosàaprendizagemdelínguas,quantoparaaimplementação deaçõesdidáticasadequadas.
Asrepresentações influenciamnão apenasa relaçãoentre osindivíduos ouentre os gruposdeumasociedade,mastambémoprocessodeensinoeaprendizagemdeumalíngua estrangeira,nestecasooFrancês. Assim,oestudodasrepresentaçõesdosalunosno processodeaprendizageméessencialnoensinodelínguasestrangeiras,comoaponta Tschoumy(1997,p.11):“[...]seaceitarmosaideiadequeoprocessodeaprendizagemé influenciadoportaisrepresentações,concluímosqueéabsolutamenteimportantefazê-las emergir,paraoperarcom,sobreeapartirdelas”.
Aaprendizagemdeumalínguaestrangeirapassanecessariamentepela aprendizagemdaculturaqueestamesmalínguarepresenta,vistoqueestasduasentidades (línguaecultura)sãoindissociáveis,nomeadamentenoprocessodeaprendizagemdeuma línguaestrangeira.
126 N.º22022
Àmedidaqueosestereótiposperpassamnossavisãodascoisas,nãopodemos deixarderecorreraelesconstantemente.Mastambémexisteoperigodapreguiça intelectual:umpadrãopodesertãofamiliaraosdestinatáriosqueoestereótipopodeser ativadoondenãoexiste.Esteéoperigorealdeumapercepçãomoldadapelasimagensque setememmente.
SegundoDufays(1991,p.15),“aprenderdefatoconsistesempreemafastarníveisde conhecimentosecrençasjádominados paraacessarnovasrepresentaçõesmais complexas emenosbanais,masquenãodeixamdeserimportantes”.
Paralelamente,naaquisiçãodalíngua,oalunodevedesenvolveruma competência sociocultural,graçasàqualrelacionaoconhecimentopréviocomaexperiênciaimediata (Zarate,1983).Apartirdessahabilidadeconstruídasobreasideiasrecebidas,eleécapaz decompreendersuanatureza.
Alémdisso,qualquerensinoéumaprogressãonumaescaladeestereótipos.
DopontodevistadadidáticadoFrancêsLínguaEstrangeira,oestudodos estereótiposédegrandeinteresseparanós,devendoserdointeressedeprofessorese formadores,namedidaemqueacompreensãodessefenómenosocialecognitivopermite aofalantedalínguaestrangeiraparasecomunicarmelhor.Éóbvioqueaprenderuma línguaestrangeiramuitasvezeslevaoalunoàoutraculturaqueéexpressapelalínguaem questão.Portanto,acompreensãodaculturarepresentadapela línguaécondiçãoessencial paraodomíniodasdiferenteshabilidadeslinguísticasnocontextoescolarouqualquer outro.
Oestereótipoéarepresentaçãodeumarealidade(indivíduo,paisagem,profissão, etc.)queoreduzaumtraço,a"umaideiapronta"(Cuq,2003,p.224).Porexemplo,a TorreEiffelécertamenteumestereótipotantodeParisquantodaFrançaparamuitos cidadãosdoplaneta.Comovisãoparcialdarealidade,aTorreEiffelnãoésuficientepara caracterizarcompletamenteaFrança.
2.Estereótipo
Paradefiniradequadamenteoestereótipo,usamossuaetimologia:dogregoestéreo (stereo) =rígidoetipo (tipo)=traço. Assim,podemosdizerque,etimologicamente,a palavraestereótiposignifica:tornarfixoouinalterável.
Ressalte-seque,normalmente,noprocessodeaprendizagemdeumalíngua estrangeira,nocasodoFrancês,“[...]oaprendiztransmiteváriasrepresentaçõesque podemserestereótipos,preconceitos,clichêsouideiasrecebidas”(Paulo,2014,p.190).
Oestereótipofazpartedarealidade.Nãoexistemestereótiposinfundados,em primeirolugarporqueumestereótipoéumavisãoparciale,portanto,relativamentefalsa darealidade,masquesempretemavercomarealidadequecaricatura.Épor issoquenão
2.1.Definiçãodeestereótipo
Asrepresentaçõesnuncasãodesenvolvidasobjetivamente;sãoemgrandeparte herdadas, traduzindo uma espécie de inconsciente coletivo que participa de uma identidade nacionalouregional.Nósnosvemosevemososoutrosdeacordocomasherançasque recebemosedasquaissomosoproduto.Existem,portanto,"auto-estereótipos"e"heteroestereótipos",ouseja,formasfixasdeserepresentaredever oestrangeiro.Háigualmente estereótipospositivosenegativos,obviamentedependendodaimagemquetransmitemàs pessoasouàscoisas.
Oestereótipo,segundoZarate,citadoporAli.(2011,p.79),é“umconjuntode traçosdestinadosacaracterizaroutipificarumgrupo,noseuaspectofísicoementaleno seucomportamento.Esseaspectoseafastadarealidade,restringindoedistorcendo-a”.
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Falandodalínguafrancesa,noquedizrespeitoaocontextofamiliar,muitasvezes podemosconstatarque,mesmoantesdoiníciodaaprendizagemdestalínguanaescolaou nocentrodeformação,osalunostêmcontactomaisoumenosdiretoouindiretocoma culturafrancesa. Ouseja, podemter irmãos,irmãs, tios,tias, etc.,que estãoaprendendo ou quejáaprenderamFrancêsnaescolaouemoutrolugar.Issosignificaquealgunsalunos adquirem,primeiro,algumasinformaçõessobrealínguaeaculturafrancesasesobreo Francêscomseusparentes.Énestesentidoquenumaauladelínguaestrangeiraé frequentemente evidente entre os alunos a imagem preconcebida de que o Francês tem uma gramáticacomplexaemuitodifícil.Éassimquemuitosalunosdãoumaprimeiraolhada,
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Nodomíniodoensinoeaprendizagemdeumalínguaestrangeira,valeapena explorartodososestereótipos,masosmaisimportantessãoosrelativosàcultura,aopaís, aoscidadãos,àlínguaemquestão,àaprendizagemeaoprocessodeaprendizagem.Isso significaquegeralmente,numaauladeFrancêsLínguaEstrangeira,muitosalunostêm estereótipossobrealínguafrancesa,aculturafrancesa,osfranceseseaFrança.
devemostentarerradicarosestereótipos:épedagogicamenteapropriadopartirdeles,contar comelesparasuperá-losemostrarseucaráterparcialecaricatural.
2.2. Omeioondenascemosestereótipos
Aofazermosumaanálisesobreaorigemetransmissãodosestereótiposnocampo daDidáticadaLíngua,percebemosqueváriossãoosfatoressubjacentesàgéneseeà transmissãodeumestereótipo,masosmaisimportantessão:ocontextofamiliar,omeio social,aescolaeosmeiosdecomunicação(televisão,rádioeInternet,imprensaescrita).
2.2.1. Ocontextofamiliar
Amídiacomomeiodecomunicaçãodesempenhaumgrandepapelnadisseminação deinformaçõesenaatualizaçãodoscidadãossobrequalquernotíciainternaouexterna.
2.2.2.Omeiosocial
2.2.4. Amídia
2.2.3.Aescola
Aescolacomoorganizaçãonoplanosociológicoéumambientedosistema educacionaldeumpaís ondediversasinformaçõessociais, principalmenteasrelacionadas àeducação,sãoveiculadasecompartilhadaspelosdiferentesatoresqueatuamlongeou pertodoprocessodeensinoeaprendizagem.Nelacirculaumamassadeinformações diversas,muitasvezespoucofiáveis,partilhadasporestesatores,incluindoarelativaao universoFrancês,susceptíveisdeinfluenciarocomportamentodosalunosnaescolhada línguaestrangeiraaaprendere,consequentemente,nasuamotivaçãonaauladoFrancês LínguaEstrangeira.Aescola,portanto,teminfluênciasdiretasouindiretasna aprendizagemdelínguasestrangeiras,namedidaemqueasinformaçõesaítransmitidas afetamfrequentementeosalunos.
Associedadessãofrequentementedinâmicasecaracterizadasporumagrandee permanenteinteraçãodeseusmembros.Énesteclimaquenascemesetransmitemdiversos estereótipos,incluindoosrelacionadoscomaaprendizagemdeumalínguaestrangeira, nestecasooFrancês.
129N.º22022 geralmentenãomuitoanimadora,nalínguafrancesaenaFrança,apartirdeinformações obtidasemseuambientefamiliar.
130 N.º22022
Orádioéomeiodecomunicaçãoqueestáaoalcancedequasetodos,mesmodas populaçõesmaispobresdospaísesemdesenvolvimento,jáquepodeseroperadocom recursosfinanceirosmuitomodestos,emcomparaçãocomosdaTV.Atravésdorádio,a populaçãotemacessoàsdiversasinformações,incluindopublicidaderealefalsasobreo universoFrancês,quepodemterinfluênciaspositivasounegativasnosalunosepaisdos alunosenassuasatitudesemrelaçãoaoFrancêscomolínguaestrangeira.
Atelevisãoéummeiomuitopoderoso,poismostraimagensvisuaisquemuitas vezesfascinamostelespetadoresetornamasmensagenstransmitidasmais compreensíveis. Anúncios,jornaisfalados,programasmusicais,filmes,etc.,emFrancês podemserumafontedemotivaçãoparamuitosalunos,mastambéméumafortefontede estereótipos.
Atualmente,“oconsumodamídiainfluenciadiretamenteoutraspráticasculturais[...]” (Porcher1995,p.66).
b)Atelevisão
Depoisdatelevisão,aInternetcertamentesetornouhojeomeiopeloqualqualquer indivíduopodeacederaquasetodasasmídiasgeralmentechamadasdeTIC. Atravésdo computadoroutelefonepode-seacessaraInternete,portanto,umagrandequantidadede informaçõesdetodosostipos.Estainformação,àmedidaqueéassimilada,moldaos modosdepensar,ocomportamentoeessencialmenteaformadeveroestrangeiro,aqui, incluindoasrepresentações(especialmenteestereótipos)acercadalínguafrancesa,da França,dospaísesfrancófonoseseuscidadãosquepodeminfluenciaraaprendizagemdo FrancêsLínguaEstrangeira.
a)Arádio
c)AinterneteasTIC
Nóstrabalhamoscom35alunosda10.ªclassedeumadasescolasde Angolaeo questionárioaplicadoteveaseguinteestrutura: identificaçãodoaluno; representações sobrealínguafrancesa (alínguafrancesaenquantomeiodecomunicação;alíngua francesaenquantodisciplinaescolar;alínguafrancesaemtermosdebeleza;aescolhada língua francesa pelos alunos na escola); representações sobre os franceses; representações sobreaFrança;conhecimentosgeraissobreaFrança;conhecimentosgeraissobrea francofoniae representaçõesanteriores eatuais (istoé, representaçõesreferentes aoantes eaodepoisdocontactocomalínguafrancesa).Desalientarqueoinquéritodopresente estudofoiaplicadonalíngua francesa.Paraumamelhoranálise fizemosrecursoatabelas, emboranãoapresentadastodasaqui,emfunçãodepoucoespaço,masapresentamosuma tabelacomosseusresultados(outrastabelasselecionadaspodemserconsultadasem anexo)e,emseguida,apresentamostambémasíntesedosresultadosdonossoestudo:
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Conformedemonstrado,arepresentaçãoqueumalunotemsobrealíngua francesa podeterfortesinfluênciasnamotivaçãoparaaprendê-la,istoé,essaimagempercebida peloaprendiz(quepodeserpositivaounegativa)podesetornarumfatordesuamotivação oudesmotivaçãonasaulasdeFLE.Portanto,ocomportamentodehostilidadeou resignaçãoeocomportamentomotivadodosaprendizessobrealínguaouseuaprendizado podemfacilmentesetraduziremfracassoousucessodesseprocessodeaprendizagemem grandenúmerodealunos.
4.CasopráticoderepresentaçõesdosalunosdeFrancêsLínguaEstrangeira
3.RepresentaçõesemotivaçãonaauladeFrancêsLínguaEstrangeira
Umalínguadeprestígio 21 60% 35
Umalínguadesaber 29 83%
Umalínguadediplomacia 15 43%
Tabelanº1– A línguafrancesaenquantomeiodecomunicação
Alínea OFrancêsenquantomeio decomunicaçãoé: Respostas% Totalde inquéritos
a)
Umalínguaquesimbolizaa colonização 29 83%
Enquantodisciplinaescolar,osalunospensamqueofrancêséumalínguafácil,útil esimples.Elesconsideramtambémqueéumalínguaestressanteebela,sendoqueestas
b)
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c)
Osdadosdatabelanosmostramqueasrepresentaçõesdosalunosnãosão coerentes,dumamaneirageral.ParaelesoFrancêséumalínguadeprestígio,percepção estimadapor21alunos,correspondendoa60%.Umapartedessesalunosinquiridos tambémpensamoFrancêscomoumalínguadesaber,ideiamanifestadapor29alunos, correspondentea83%.Omesmonúmerodealunos(29),querdizer83%dototal,sãode opiniãodequealínguafrancesasimbolizaacolonização,aopassoque15alunos, correspondenteà43%,pensamqueestalínguatemumgrandevalordiplomático. Considerarofrancês aomesmotempo comolínguade prestígioesímbolo dacolonização, representaduasimagensmitigadaseincoerentes.
Noquedizrespeitoàsrepresentaçõesdosalunossobrealínguafrancesaenquanto meiodecomunicação,assuasopiniõesparecemumpoucocontraditórias.Umapartedeles reconheceofrancêscomolíngua deprestígio,desaber,mas tambémlínguaquesimboliza acolonização.Eestamaiorianãoreconheceofrancêscomolínguadiplomática.
d)
Conclusão
últimasrepresentaçõesilustramquãocontraditóriososalunossão,àsvezes,noâmbitoda nossapesquisa.
Emtermosdedidáticadaslínguas,oconceitoderepresentaçãoévisto essencialmentedeumaperspetivasociológica.Cadaindivíduofrequentementecarrega algumasideiasoualgumasimagenssobresimesmo,suacultura,sualíngua,osmembros
NoquedizrespeitoàsrepresentaçõesdaFrança,osalunospensamqueéumpaís rico,moderno,desenvolvido,militareeconomicamentepoderoso.Simultaneamente,os mesmosestudantesachamqueestepaísnãoémulticultural.Emrelaçãoaosconhecimentos geraisdocontextofrancês,elesmostramqueconhecemalgumaspersonalidadesfrancesas, masapresentamfracosconhecimentosemtermosdegeografia,deprodutosede monumentosfranceses.
133N.º22022
Emrelaçãoàescolhadalínguafrancesafeitapelaescola,osalunosgostamdesta línguaeaconsideramcomoimportanteparaoseufuturo.Paraeles,osfrancesessão simpáticos,adoráveis,elegantes,modestos,simplesemodernos,enãosãoxenófobosnem racistas.
Os alunos não conhecem bem a geografia francófona nem mesmo a geografia geral, vistoqueelesnãoconhecemalocalizaçãocontinentaldemuitospaíses. Antesdeterem contactocomalínguafrancesanaescola,osalunospensavamqueestalínguafossebelae fácildeseraprendida.Depoisdeteremcontacto,confirmaramqueémesmoumalíngua belaefácil,porestarazão,elesqueremcontinuaraaprender,oquequerdizerqueeles estãomotivados.
Naanáliseeinterpretaçãodosresultadosdocasopráticodanossapesquisa, constatamosque,apesardealgumascontradições,existe,dapartedosalunos,umagrande evoluçãonassuasrepresentaçõespositivasdouniversofrancêse,consequentemente,da suamotivação.Dumamaneirageral,asrepresentaçõesdosalunossãopositivaseasua evoluçãorespondefavoravelmenteàsquestõescolocadasnaintroduçãodonossoartigo. Trata-sedaconfirmaçãodahipóteseformulada.
134 N.º22022 deseugrupo,osmembrosdeoutrosgrupos,culturaselínguasestrangeirasesobreseupaís epaísesestrangeiros.
Essasrepresentações influenciamnão apenasa relaçãoentre osindivíduos ouentre osgruposdeumasociedade,mastambémoprocessodeensinoeaprendizagemdeuma línguaestrangeira,nestecasoofrancês.Dessepontodevista,oestudodasrepresentações constituiumgrandedesafioparaosdidáticos,tantoparamelhorcompreensãode determinadosfenómenosligadosàaprendizagemdelínguas,quantoparaaimplementação deaçõesdidáticasadequadas.
Partindodosresultadosdo nossoestudoecom ointentodemelhorar oprocessode ensino/aprendizagemdoFrancêsLínguaEstrangeira,nósapresentamosaoscolegaseaos professoresdestalíngua,emgeral,asseguintessugestões:asrepresentações(estereótipos) nasaladeFrancêsLínguaEstrangeiranãopodemsereliminadas,massimseapoiar pedagogicamentesobreelas,paraultrapassá-las,mostrandoasuacaraterísticaparciale caricatural;osestereótiposdevemservirdebaseemeioparaapromoçãodaalteridadeno processodeensino/aprendizagem;noprincípiodeumanoletivoosprofessoresdevem procurarconhecerasrepresentaçõesdosalunossobrealínguaearealidadefrancesasafim deservirdebaseparaasatividadesapôrempráticanasaulas;oselementosculturais implícitosnalínguadevemserbemexploradosparafazerevoluirpositivamenteas representaçõesdosalunos.
Textoescritosegundoo AcordoOrtográficode1990.
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Besançon:UniversitéFranche-Comté.
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ÉprofessordeMétododeEstudo;LínguafrancesaeMetodologiadeInvestigação
Éautordolivrointitulado Colectâneadefrasesparamentesbrilhantes.
Brevenotabiobibliográficadoautor
IsaacChavalaCavongo,angolano,nasceunaProvínciadaHuila.Édoutorando emEstudos Africanos,noInstitutoUniversitáriodeLisboa;mestrepelaUniversidadede Artois/França,especialidadedeFrancêsLínguaEstrangeira,FrancêsLínguaSegundae Francêssobreobjectivosespecíficos,nomeioescolareempresarial;licenciadoemensino dalínguafrancesa,peloInstitutoSuperiordeCiênciasdaEducação-Huila/Angola,e bacharelemfilosofia,peloSemináriodoBomPastordeBenguela/Angola.
Científica,noInstitutodeCiênciasReligiosasde Angola/Namibe.
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ANEXOS
Entermesdebeauté,lalangueFrançaiseest: Unelangueun peupassionnante Passionnante Trèspassionnante Total 12 12 11 35apprenants 34% 34% 32% 100%
Unelangueun peubelle Belle Trèsbelle Total 5 19 11 35apprenants 14% 54% 32% 100%
2.3.2. Représentationsdel’apprenantsurlalangueFrançaise
Unelangueun peuennuyeuse Ennuyeuse Trèsennuyeuse Total 13 14 8 35apprenants 37% 40% 23% 100%
Oui 22 63% Non 13 37% Total 35apprenants 100%
138 N.º22022
Ilssonts sympatiqueset adorables?
2.3.3.Représentationsdel’apprenantsurlescitoyensFrançais Questionb) CaracterisitiquesdesFrançais
Oui 26 74% Non 9 26% Total 35apprenants 100%
2.3.2.4LechoixdelalangueFrançais
B Tufaisdu Françaisparce qu’ilt’a imposé?
Alinéa Question ChoixdelalangueFrançaiseàl’école
Réponsesdonnées
c)Développé? 32 91% 3 9% 100%
f)Economiquementpuissant26 74% 9 26% 100%
g)Multiculturel 12 34% 23 66% 100%
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a)Richeetmoderne? 28 80% 7 20% 100%
d)Beauetmerveilleux? 34 97% 1 3% 100%
b)Pauvreetsousdéveloppé?7 20% 28 80% 100%
2.3.4.Représentationsdel’apprenantsurlaFrance
Totaldesapprenants 35
e)Militairementpuissant? 27 77% 8 23% 100%
Oui % Non % Total%
LaFranceestunpays
RDC 1 3% Belgique 6 17%
Angola 2 6% Canada 1 3%
Danemark2 6%
Brésil 1 3%
Suisse 2 6%
AlinéaContinentNombres depays demandés Payscité parles apprenants Fréquences deréponses % Totaldes apprenants Enquêtés
2.3.6.Connaissancesgénéralesdel’apprenantsurlafrancophonie CitezquelquespaysquiparlentFrançais
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b) En Europe 4
France 28 80% 35 apprenants
Languediplomatique 3 9%
Languedifficile 2 6%
Bellelangue 12 34%
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Langueinutile 9 26%
a) Quepensaistudu Français avantde commencerà l’apprendre
Languefacile 16 46%
Languedes«Langas» 4 11%
b) Quepensestudu Français aujourd’hui?
Mauvaiselangue 3 9% Bellelangue 20 58%
OpinionsdesapprenantsFréquences% Totaldes apprenants enquêtés
2.3.7Représentationsd’hieretactuelles
Alinéa Question LeFrançaisvuhier
Mauvaiselangue 11 31% 35apprenants
Alinéa Question LeFrançaisvuaujourd’hui
Opinionsdesapprenantsfréquences % Totaldes apprenants enquêtés
Languedifficile 0 0% Languefacile 18 51%
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Languedes«Langas» 0 0%35apprenants
Langueinutile 0 0% Languediplomatique 10 29%
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FICHED’ENQUÊTEMENÉE AUPRÈSDES APPRENANTS
Cher/chèreélève,danscequestionnaire,nousteprionsdebienvouloirremplir correctementcetteenquêteenrépondant,encomplétantet/ouencochantlacasequi convientenfonctiondetesreprésentations.Nousassuronsl’anonymatdetonidentité.
II.REPRÉSENTATIONSDEL’APPRENANTSURLALANGUEFRANÇAISE
LalangueFrançaiseentantquemoyendecommunicationest: Unelanguedeprestige. Unelanguedesavoir. Unelanguequisymboliselacolonisation. Unelanguediplomatique.
I.IDENTIFICATIONDEL’APPRENANT
Initialdenometprénom……………............................................................................. Âge……………. Sexe:F…….M…….. Numéro……………… Classe……………………. École…………………………………………………………………………………… Date:………./………/…………
a)TufaisduFrançaisparcequetul’aimes?OuiNon
a)UnelangueunpeupassionnantePassionnanteTrèspassionnante b)UnelangueunpeuennuyeuseEnnuyeuse Trèsennuyeuse
b)TufaisduFrançaisparcequ’ilt’asétéimposé?OuiNon
e)TufaisduFrançaisparcequec’estunelanguevoisineduportugais? OuiNon
c)UnelangueunpeubelleUnebellelangueUnetrèsbellelangue ChoixdelalangueFrançaiseàl’école
d)TufaisduFrançaisparcequetuparlesdéjàuneautrelangueétrangère? OuiNonSioui,laquelle?……………………………..
3.Entermedebeauté,lalangueFrançaiseest:
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c)TufaisduFrançaisparcequec’estunelangueimportantepourtonavenir? OuiNon
LalangueFrançaiseentantquedisciplinescolaireest: UnelangueunpeufacileFacile Trèsfacile UnelangueunpeudifficileDifficileTrèsdifficile UnelangueunpeuutileUtileTrèsutile UnelangueunpeuinutileInutileTrèsinutile UnelangueunpeucompliquéeCompliquéeTrèscompliquée UnelangueunpeusimpleSimpleTrèssimple
Ilssontprétentieuxetracistes?OuiNon
Ilssontracistesetxenophobes?OuiNon
Pauvreetsousdéveloppé?OuiNon Développé?OuiNon
Ilssontcultivés,chiquesetélégants?Oui Non
Ilssontmodestesetsimples?OuiNon
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LaFranceestunpays: Richeetmoderne?OuiNon
Économiquementpuissant?OuiNon
Multiculturel?OuiNon
CaractéristiquesdesFrançais
Ilssontprétentieuxetarrogants?OuiNon
Ilssontmodernes?OuiNon
III.REPRÉSENTATIONSDEL’APPRENANTSURLESCYTOYENS FRANÇAIS
Ilssontformels,froidsetantipathiques?OuiNon
Beauetmerveilleux?OuiNon
Militairementpuissant?OuiNon
Ilssontsympathiques,adorables?OuiNon
IVREPRÉSENTATIONSDEL’APPRENANTSURLAFRANCE
ParfumChannelLaVachequirit
VI.CONNAISSANCESGENERALESDEL’APPRENANTSURLA FRANCOPHONIE CitezquelquespaysquiparlentFrançais En Afrique(4):……………………………………………………………………… EnEurope(2):……………………………………………………………………… En Amérique(2):…………………………………………………………………… En Asie(2):…………………………………………………………………………..
PalaisdeBuckinghamTourEiffel
Marseille SydneyLyonBruxelles Paris Moscou Strasbourg
CochezseulementtoutcequiestFrançaisouFrançaise
CélineDionNapoléonBonaparteNelsonMandelaNicolasSarkozy AngelaMerkelZinedineZidane
ChampagneHamburger CamembertMcDonaldPizza
V.CONNAISSANCESGÉNERALESDEL’APPRENANTSURLAFRANCE
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ArcdeTriompheStatuedelaLibertéMuséedeLouvre
…………………………………………………………………………………………… …………………………………………………………………………………………… ………………………………
…………………………………………………………………………………………… ………………………………
Quepenses-tuduFrançaisaujourd’hui ?(exprimetesopinionsenadjectifsou expressionscourtes)
LeFrançaisvuhieretaujourd’hui
Quepensais-tuduFrançaisavantdecommenceràl’apprendre?(exprimetesopinionsen adjectifsouexpressionscourtes)
Penses-tucontinuezàapprendreleFrançaismêmeendehorsdel’école?Oui Non Tesens-tumotivéàapprendreleFrançaisàl’heureactuelle?OuiNon Nousteremercionsinfiniment
VII.REPRESENTATIONSD’HIERETACTUELLES
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ElisabetePeixoto(1),PaulaOliveira(2)
UniversidadedeAveiro,ProjectoMatemáticaEnsino(PmatE)
DoPmatEàsCompetiçõesNacionaisdeCiência
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UniversidadedeAveiro,DepartamentodeMatemática,ProjectoMatemática Ensino(PmatE)
Resumo: OProjectoMatemáticaEnsinodaUniversidadedeAveirodestaca-sepela realizaçãoanualdasCompetiçõesNacionaisdeCiência(CNC)queenvolvemmilhares dealunosdePortugal.Nabasedestascompetiçõesestáumtipoderecursoeducativo desenvolvidonoâmbitodesteprojetoequesedenominaModeloGeradordeQuestões (MGQ). Com este artigo pretende-se mostrar a evolução relativamente à elaboração deste tipoderecursoseducativos.OsMGQsãocaracterizadosporelevadaaleatoriedadeque permitequedoisalunos,ladoalado,respondamaperguntasdiferentes,mascomos mesmos objetivos e grau de dificuldade.Além disso, nas CNC, os MGQ são apresentados soboformatodejogode computador.AsCNCenvolvemalunose professoresduranteo anoletivoetodasasinteraçõesficamregistadasnumaplataformadeensinoassistido. A principalconclusãoéqueestetipodecompetiçõespodecontribuirparaointeresseea motivaçãodosalunos.
Palavras-chave: ProjectoMatemáticaEnsino(PmatE),educaçãoemciências,modelo geradordequestões,competiçõesdeciência.
OPmatE/UAcontacomváriosanosdeexperiêncianaelaboraçãoderecursos educativos,essencialmente,osMGQ,quetêmsidoutilizadosporprofessoresealunos. Poroutrolado,osdesenvolvimentosmaisrecentes,nomeadamenteacriaçãodeuma plataformainovadoraparaacriaçãodeMGQ(ModelMaker)permitequecadaprofessor elaboreosseusprópriosrecursoseducativos,personalizadoseadequadosàs característicasdosseusalunos.
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26Adaptadode https://pmate.ua.pt/oficial– consultadoem 15/02/2021.
Introdução
OProjectoMatemáticaEnsino(PmatE/UA)éumprojetodeinvestigaçãoe desenvolvimento,fundadoem1989naUniversidadedeAveiro(UA),quepretendealiar astecnologiasdigitaisaodesenvolvimentodeconteúdoseeventosparaapromoçãodo sucessoescolaredaculturacientífica.Osseuseixosdeintervençãocentram-seem projetosdeintervençãoescolar,nacomunicaçãoedivulgaçãodeciênciaenacooperação comPaísesdaComunidadedaLínguaPortuguesa(CPLP).Inicialmentededicadoà Matemática,daíoseunome,aolongodosanostemvindoaseralargadoaváriasáreas científicascomoPortuguês,Biologia,Geologia,Física,Química,LiteraciaFinanceirae, maisrecentemente,Inglês. AsCompetiçõesNacionaisdeCiência(CNC)sãooevento peloqualoPmatE/UA émaisreconhecido.Para arealizaçãodasCNC esteprojetoconta comumaPlataformadeEnsino Assistido(PEA),queseconstituicomoumespaçode intercâmbioepartilha derecursos.Esta ferramentadeapoio àavaliação,à aprendizagem eaoensinodisponibilizaumrepositóriodeobjetosdeaprendizagem,destacando-seos MGQquesãoabasedasCNC26
OpresenteartigoilustraoPmatE/UAcomoumaferramentadeapoioàEducação, assuaspotencialidadesefuncionalidades.
OsMGQestãodisponíveisnumaPEA,disponívelnaInternet,queabrangeos váriosciclosde ensino,desdeo 1.ºciclodo ensinobásicoaté aoensinosuperior. Parater acessoàPEA eàssuas funcionalidades,outilizador deveráregistar-seno sítiodoPmatE (http://pmate.ua.pt),selecionaroperfilpretendido(professoroualuno)etreinarna competiçãodesejada.Depoisdeinscrito,qualquerutilizadorpodenavegaratravésde todososconteúdosemateriaisrelacionadoscomoseuperfil(Anjo,2006).
Plataformadeensinoassistido
Desenvolvidanumformatosimpleseintuitivo,aPEAofereceaosseus utilizadoresumconjuntodepotencialidadesquetêmcomoobjetivocativarosalunos, auxiliarosprofessoresepromoverogostopeloestudoeosucessodosalunosem diferentesáreascientíficas.Paraquetalaconteça,aPEApermiteoacessoaumconjunto variadoderecursoseducativos.Assim,aPEAdisponibilizatodasasprovasqueservem depreparaçãoparaasCNC,sendoestasdesignadasporprovasdetreino,organizadaspor ciclodeensinodesdeo3.ºatéao12.ºanodeescolaridade(fig.1).
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Figura4:PáginadeentradaparaostreinosdasCNC
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UmalunoqueacedaàPEApodetreinaremqualquerprovadetodasasáreas científicasdisponíveis,mesmoquenãoparticipenasCNC,constituindoaPEAum auxílioaoestudoeàaprendizagem. Alémdisso,asfuncionalidadesdisponibilizadasna PEApermitemqueoprofessor consultetodosostreinosrealizados pelosseusalunosem cadaprovadetreino,bemcomoatotalidadederesultadosobtidosporaqueles(fig.2),o quepermiteseguiroseupercursoediagnosticaraaquisiçãodeconhecimentose eventuaisbloqueios.
UmadasprincipaiscaracterísticasdeumMGQéasuaaleatoriedade.Desta forma,existemváriasconcretizaçõespossíveisparaummesmoMGQdemodoquedois computadoresladoaladodificilmenteterãoamesmaconcretizaçãoparaesseMGQ.
Figura5:Páginaquepermiteaoprofessorconsultarosresultadosobtidospelosseusalunos
Modelosgeradoresdequestões
APEArepresenta,assim,paraoprofessor,umaferramentaútilnodiagnósticoe naavaliaçãodaevoluçãodaaprendizagemdosalunoseparaoalunoumaportadeacesso aoautodiagnóstico.
AbasedetodasasprovasdisponibilizadaspeloPmatEsãoosMGQ.Comoo próprionomeindicaumMGQéumgeradordequestõessobreumdeterminadotema, obedecendoaumaclassificaçãoporobjetivoscientífico-didáticoseporníveisde dificuldade(Vieiraetal.,2004).
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Figura6:Exemplodeumaconcretizaçãoparaoprimeironíveldacompetiçãodiz4–Inglês
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TodososMGQelaboradosincluemumtextoinicialparaasváriasconcretizações domesmoMGQ,quepodesersempreomesmooupossuirvariáveis,equatroitens formandoquatroproposiçõesdistintas,quepodemcorresponderafrasescompletasou não.Estasproposiçõessãodesignadasporrespostas,aqueosalunosdeverãoresponder comaindicaçãoverdadeira(V)oufalsa(F)(Mirandaetal.,2007). Assim,todasas afirmaçõesquesurgemaoalunosãodotipoVerdadeiro/Falsogeneralizadoepodemser todasverdadeiras,todasfalsas,oucombinaçõesverdadeiro/falso.Porexemplo,afigura 3mostraumaconcretizaçãoparaumMGQpresentenonível1dacompetiçãodiz4Inglês.
Contudo,asafirmações incidirãosobreos mesmosobjetivose terãograusde dificuldade semelhantes(Vieiraetal.,2004).
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AtualmenteoprocessodeelaboraçãodeumMGQfoisimplificado. Antesdeste processo,aelaboraçãodeumMGQ implicavaaconstruçãodeumficheiro Latexcomas especificaçõesdesseMGQeque,posteriormenteeraprogramadoporumapessoa diferentedequemotinhaelaborado,oquetornavaesteprocessodecertomododifícile moroso.Contudo,atualmentecadautilizador,semconhecimentosdeLatexede programaçãoconsegueelaborarumMGQdoprincípioaofimedisponibilizá-lode imediato,tendosidocriadaumaplataformaparaesseefeito,o ModelMaker (MM)(Camejoetal.,2016). Estanovaplataformade criaçãodeMGQ,o MM,obedecea umconjuntodeprincípios:incorporaumambientegráficofácildeusarequepermiteque outilizadorintroduzatodasasvariáveiseparâmetrosquedeseja,utilizaumsistemade cálculossimbólicoemáreascomomatemáticaoufísicaepermiteadisponibilização imediatadosMGQnaPEA(Camejoetal.,2016).
UmdosprimeirospassosdeumMGQenvolveasuacodificação,ouseja,asua introduçãonumaestruturadesignada“árvoredeobjetivos”quepermiteaassociaçãodo MGQaumdadoconteúdocientífico. Apósestepasso,segue-seaelaboração propriamenteditadotextoinicialedasrespostas.Paraisso,acriaçãodeumMGQ envolveosconceitosdevariávelecaixa,umavezquesãoestesquepermitema aleatoriedadequernotextoinicialquernasrespostasdoMGQ.OMMfoiconstruído tendoemcontaosdiversospúblicosqueopoderiamutilizare,porisso,apresentauma interfacedefácilutilizaçãoe,emmuitosaspetos,idênticaao Word (fig.4).
Figura8:EditordeequaçõesdaplataformadeconstruçãodeMGQ(Camejoetal.,2016)
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Alémdisso,épossívelutilizarumeditordeequações,porexemplo,nasáreasde matemáticaefísica(fig.5).
Figura7:InterfacequepermiteconstruirasrespostasdoMGQ(Camejoetal.,2016)
ParagarantiraaleatoriedadedosMGQépossívelutilizarcombinaçõesdiversas decaixase/ouvariáveis.Umexemplodestasituaçãoestárepresentadonafigura6,onde seapresentaumarespostaformadaporumacaixacom6linhas(c1_1,c1_2,c1_3,c1_4, c1_5ec1_6),sendoqueemcadaumadestasexisteumaoumaisvariáveis.
Figura9:ExemplodeumgrupoderespostasdeumMGQ
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Noexemplodafigura6,semprequeoMGQéconcretizadoégeradaumadas afirmaçõesdeentretodasaspossibilidadesapresentadas,sendoqueessaseleçãoocorre de fora para dentro. Por exemplo, considere-se que é selecionada a caixa c1_4 e a variável “$deveounao4$=devem”.Nestecaso,surgiráaoalunoaseguinteafirmação:“Osrestos decomidadevemsercolocadosnoecoponto”.Oalunodeveráassinalarestaafirmação comofalsa.Noquerespeitaaestavalidação,nomomentodecriaçãodeumMGQ,o utilizadortem, também,de indicaro valorlógico dasrespostas (fig.7). Maspara facilitar oprocessoapenasindicaaspossibilidadesquesãoverdadeiras,sendoasrestantes assumidasautomaticamentepelosistemacomofalsas. Assim,aafirmação“Osrestosde comidadevemsercolocadosnoecoponto”deveservalidadacomofalsa.
CompetiçõesNacionaisdeCiência
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É,também,possívelilustrarosconteúdoscientíficosdeumMGQcomimagens noformatoSVG(ScalableVectorGraphics).Nestecaso,asimagenssãoidentificadas porumidentificador(umnúmero).Estaspodem,ainda,constituirvariáveisque,quando oMGQégerado,sãoaleatórias,desdequeoutilizadorassimopretenda.Casocontrário podeilustraroMGQcomamesmaimagemedirecionarassuasrespostasparaessa imagem.
ApósaintroduçãodoMGQnoMM,outilizadorpodeverificarasvárias concretizaçõespossíveiseconstatarseestátudocomopretende.Emcasoafirmativo, podepublicaroMGQeesteficaautomaticamentedisponívelnaPEA,podendoser utilizadonasprovasquedesejar.
Figura10:Ecrãquepermiteindicaravalidaçãodecadaresposta
AsCNCsãoformadaspordoiseventosdistintos,sãogratuitasequalquerescola podeparticipar.Oprimeirodesseseventosdecorrenasescolasedesigna-se“CNCem Rede”,podendoasescolasconvidaroutrasparacompetiremcomosseusalunos.Porseu lado,asCNCdecorremhabitualmentenaUniversidadedeAveiro,reunindoalunosde todoopaís.
Todasasprovasde competiçãosãoapresentadasno formatodejogoformado por váriosníveis(fig.8).
Figura11:Exemplodeumaprovadecompetição
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NapreparaçãodasCNCoalunopodeacederaprovasdetreino,quepossuema mesmaestruturadasprovasdecompetição.Quandoacabaderealizarcadaprova,quer tenhaperdidoouchegadoaofinal,oalunopodeconsultaraprovaeverificarqualou quaisasafirmaçõesqueerrou.
Noexemplodafigura,relativoàcompetiçãogeo@NET,podeverificar-seque existenoecrãumcronómetroemcontagemdecrescente,onívelemqueojogadorse encontrabemcomoonúmerototaldeníveis,eduasvidasquepermitemqueoaluno tenhaduastentativasparatentarultrapassaronívelemqueseencontra.Destaforma, cadacompetiçãoenvolveapassagemdeumconjuntodeníveispreviamentedefinidose cadanívelrepresentaaconcretizaçãodeummodelogeradoaleatoriamente(Peixoto, 2009).
Osnúmeros elevadosde participantesnas CNCtêm demonstradoque estetipo de jogospodecontribuirparaointeresseeamotivaçãodosalunos,apesardealgumas competiçõessededicaremaáreasdisciplinaresondetradicionalmenteexistemelevadas taxasdeinsucessoescolar.
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Consideraçõesfinais
OconceitodeMGQ,desenvolvidonoseiodoPmatEhátrintaanos,éhojeuma realidadeeminúmerasplataformasdeapoioaoensinoeaprendizagem.Contudo,este conceitodeMGQtemumespetromaisalargadoedependendodaimaginaçãodoautor, umsóMGQpodesersuficienteparagerarquestõessobreumtemacompostoporvários tópicosouformularquestõesefetivamentedistintasqueevitema memorização/mecanizaçãoderespostas.Estetipoderecursospermiteaindaasua utilizaçãoanoapósano,emdiferentescontextossemoesforçoadicionaldeconstruir novosmateriaissemprequenecessário.
Paraalémdisso,oMMintroduziuumamelhoriaatodooprocessodeconstrução edisponibilizaçãodeMGQ.Deentreassuasvantagensdestacam-seasseguintes:os utilizadoresnãoprecisamdepossuirqualquertipodeconhecimentosem Latex ou programação;nãosãonecessáriosprogramadoresparaelaboraredisponibilizarum MGQ;oMMconstituiumainterfacefácildeusarparaqualqueráreacientíficaepode serutilizadoemqualquerlocal,desdequeoutilizadorpossuaumaligaçãoàInternet;as funcionalidadesexistentes noMMreduzemotemponecessárioparaasuaelaboração;os utilizadoresconseguem,apartirdasuaáreapessoal,construirealterarqualquerMGQ quetenhamelaborado;oMMprovidenciaacessoa umbancodeimagensquepodemser imediatamenteutilizadas.Porfim,oMMreduziuacomplexidadeassociadaàelaboração deMGQeaumentouaautonomiadosutilizadores.
Textoescritosegundoo AcordoOrtográficode1990.
Anjo,A.(2006).Pmate Projecto Matemática Ensino: 17 anos na linha da frente. Linhas, 3,56–57.
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ElisabetePeixoto émestre emEnsino deGeologia eBiologia, pelaUniversidade deAveiro.Asuaáreadeinvestigaçãoenvolveaintegraçãodastecnologiasdigitaisno ensinoeaprendizagemdasCiências,desdeo1.ºciclodoensinobásicoatéaoensino secundário,inclusive.
PaulaOliveira éDoutoradaemMatemáticapelaUniversidadedeAveiro, professoraauxiliardestainstituiçãoecoordenadoradoProjectoMatemáticaEnsino.
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UniversidadeAberta(ProfessoraAuxiliar,MembrodoGrupoEL@N, InvestigadoraColaboradoradaUID4372/FCT LaboratóriodeEducaçãoaDistânciae eLearning–LE@D),CentrodeLinguísticadaUniversidadedeLisboa(Investigadora
AdelinaCastelo
IntegradadaUIDB/00214/2020/FCT)
Resumo: Otreinodapronúnciaéfrequentementedescuradonoensinopresencialde línguanãomaterna,apesardeseverificarsimultaneamente,entreacadémicose profissionais,umavalorizaçãocrescentedesteelementodaoralidadeeumaexploração denovasestratégiasparaasuaconcretizaçãoatravésdeferramentasdigitais.Umarevisão daliteraturasobreoensinoadistânciasugereigualmenteopoucoinvestimentonoensino dapronúncianestecontexto. Assim,nesteartigo,combasenumarevisãobibliográfica reflexivasobreoensinodapronúncia,otreinodapronúnciaassistidoporcomputadore oensinoda oralidadedeuma línguanãomaterna adistância,elabora-se umapropostade cruzamentoentreotrabalhoexplícitodapronúnciaeoensinoadistância.Estaproposta éexemplificadacomumasequênciadidáticaparaoPortuguêsLínguaNãoMaterna,mas podeigualmenteconstituirumguiãodetrabalhoparaoensinodequalquerlínguanão materna.
Apronúnciadelínguasnãomaternasnoensinoadistância:uma propostaparaoPortuguês(enãosó)
Palavras-chave: ensinodapronúncia;ensinoadistância;treinodapronúnciaassistido porcomputador;PortuguêsLínguaNãoMaterna.
Aelaboraçãodestapropostabaseia-seempesquisasbibliográficassobreas recomendaçõesgeraisparaoensinodapronúnciaemlínguasnãomaternas(secção1),a utilizaçãodas tecnologiasdigitais nesteempreendimento (secção2) eo desenvolvimento daoralidadedaslínguasnãomaternasnoEaD(secção3).Combasenocruzamento reflexivodasindicaçõesencontradasnasrevisõesbibliográficas,elabora-seocontributo dopresentetrabalho:umapropostaquepossaorientaroensinodapronúnciadelínguas nãomaternasnocontextodoEaD(secção4).Conclui-seoartigocomalgumas consideraçõesfinais.
Apronúncianumalínguanãomaternapodeseratualmenteassociadaaquatro categoriasdepropriedades:segmentais(relativasaossonsdafala–e.g.[p],[b]); suprassegmentais(concernentesaaspetoscomoaestruturasilábica,aentoaçãoeo acento);globais(respeitantesaconfiguraçõesarticulatóriasoudequalidadedevoz); periféricas(atinentesaelementosnãolinguísticosqueacompanhamassequências
Umapronúnciainteligívelecompreensíveléfundamentalparaquemquer comunicaroralmente,peloqueoseuensinonãodeveserdescuradonoâmbitodeuma línguanãomaterna.Simultaneamente,epordiversasrazões,écadavezmaioronúmero deofertasdeensinoadistância(EaD)mediadopelatecnologia.Contudo,sãoainda poucosostrabalhossobreoensinodaoralidadeadistânciaquefornecemindicações específicassobre ainstruçãonapronúncia.Alémdisso, seestavertenteéfrequentemente relegadaparaumsegundoplanono ensinopresencial(e.g.Foote etal., 2016),ébastante provávelquetalaconteçaaindamaisnocontextodoEaD.Porestesmotivos,opresente trabalho visa apresentar uma proposta para orientar o trabalho explícito sobre a pronúncia noensino online
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1.Oensinodapronúnciaemlínguasnãomaternas:recomendaçõesgerais
Introdução
Paraconcretizaroensinodapronúncia,têmsidopropostosváriosmétodoseideias, havendotambémquempugnepeladiversidadedeestratégiasdeensinodapronúncia(e.g. Nagle,2018).Entreastécnicasdefendidas,contam-searepetiçãocoralconsciente(e.g. Jones,2018),o shadowing (imitaçãodeumaproduçãooraltãopróximaquantopossível daoriginal,apontodeaimitaçãodoaprendenteparecerquasesimultânea eumasombra daoriginal–e.g.Foote,2017),o mirroring (emqueoaprendenteescolheuma personagemdeumsuporteaudiovisualepreparaaimitaçãodasuaproduçãooral,facial egestual,paraparecer espelharemtudoo comportamentodapersonagem– e.g.Meyers, 2018),adramatização(e.g.Galante,2018),aleituraexpressivadetextosdramáticos(e.g.
165N.º22022 sonoras,comoosgestoseocontactovisual)–e.g.Grant(2014). Alémdejánãoseter emcontaapenasomododeproduçãodesonsindividuaisparaavaliarapronúncia, tambémsealargouaformadeobservarasváriaspropriedadesdapronúncia.Defacto, presentemente,considera-sequeapronúnciaenglobatrêsdimensões–o sotaque(ograu deafastamentodaproduçãodofalanterelativamenteaumavariedade-alvo);a inteligibilidade(aquantidadedeelementosdacadeiasonoraquesãocompreendidospelo ouvinte);acompreensibilidade(oníveldefacilidadesentidoporumouvintena compreensãodeumasequênciaoral)–equeoobjetivodoensinodapronúncianãoé eliminarosotaque,massobretudoaumentarainteligibilidadeeacompreensibilidadedas produçõesdosujeito(Derwing&Munro,2005;Grant,2014).
Apósumperíodoemqueainstruçãonapronúnciaemlínguanãomaternafoi abandonadaoumuitodesvalorizada,atualmentedefende-secadavezmais anecessidade deumensinoexplícitodestacapacidadequeseintegrenumaabordagemcomunicativae sebaseieemresultadosdainvestigação(e.g.Grant,2014;Levis,2017).Comefeito, muitaspesquisastêmcomprovado aeficáciadoensino dapronúncianodesempenho dos aprendentesnãosónestacapacidade (e.g.Lee etal.,2015;Lee etal.,2020),masaté, em alguns casos,naprópriacompreensãooraldenívelascendente(bottom-up)(e.g.Kissling, 2018).
Finalmente,combasenaspropostasdeCelce-Murcia etal. (2010)ede Alves (2015)paraintegrar apronúncianuma abordagemcomunicativae emprincípioscruciais nainstruçãoemlínguasnãomaternas(e.g.Ellis,2005),Castelo(2017)propõeuma síntese(orientadora daconstruçãodemateriaisdidáticosparaoensinodacomponente fonético-fonológica) quepermiteintegrarasestratégias,ideias,etapaseníveisatéagora mencionados.UmaadaptaçãodessasínteseéapresentadanaFigura1eadotadacomo modeloparaoensinodapronúncia.
Outrasideiasimportantesparaoensinodapronúnciaincluemorecursoa: ortografia(e.g.Hayes-Harb,2018);combinaçãodediferentesmodalidades(auditiva, visual,cinestésica,tátil)nadistinçãodosalvosdaaprendizagem(e.g.Hişmanoğlu,2006); técnicasdedescontraçãoquediminuamosbloqueiosnaaprendizagemdeumanova pronúncia(e.g. Hişmanoğlu,2006);promoçãodaautonomia(e.g.Kruk&Pawlak,2014) edamotivaçãodosaprendentesparaamelhoriadapronúncia(e.g.Wei,2006);estratégias deensinoimplícitascomoarepetiçãoeaimitação,explícitascomoodesenvolvimento doconhecimentometafonológico(e.g.Wrembel,2011)ou,preferencialmente,a combinaçãodosdoistiposdeestratégias(e.g. Hashemian&Fadaei,2011).
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Tanner,2019),aimitaçãodosotaquedosfalantesdalíngua-alvoquandousamalíngua maternadosaprendentes(e.g.Rojczyk,2018)eaaudiçãocríticadasprópriasproduções nosentidode,comumametalinguagemconstruídasocialmentenaaula,identificaras diferençasentreasproduçõesprópriaseasdosfalantesnativosefocarasuaatençãona correçãodessasdiferenças(e.g.Couper,2012).
Frequentementepresentes,demodomaisoumenosexplícito,estãotambémosprincípios dequesedevetrabalharapronúnciaemquatroníveis(percetivo;motoroufísico; cognitivo;psicossocial–e.g.Grant,2014)eemtrêsetapasprincipais(PPP: Presentation,Practice,Production –e.g.Zhang&Yuan,2020).
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Deacordocomestaproposta, oensinodapronúnciadeve incluirváriasetapas:um input diversificadoeintensivo(tambémassociávelàfasede presentation emalgumas propostas);um output controlado,depráticaintensivacomfoconaspropriedades-alvo (segmentais,suprassegmentaisououtras)parafomentarumacertaconsciencializaçãoe automatização(associávelàfasede practice);um output espontâneo,jáconstituídopor unidadesmaiorescomotextosoraisassociadosatarefasesituaçõescomunicativasem queseesperaqueosaprendentesapliquemasautomatizaçõescriadasnafasedo output controlado(equiparávelàfasede production);umafasedeavaliaçãoemqueserecolhe o feedback,fundamentalparamelhorarodesempenhonapronúncia. Apesardemuitas vezesseseguirestepercurso,aprogressãonoensinodapronúncianãoénecessariamente sequencial:porexemplo,podehaver feedback tambémparaasetapasde input oude output controlado,épossívelumretornoao output controladoapósaavaliação,etc.
Figura1–Modeloorientadorparaoensinodapronúncia(adaptadoapartirdeCastelo,2017)
Alémdasváriasetapas,estapropostadefendeumaabordagemqueintegretipos diversificadosdeestratégias,nomeadamenteacombinaçãodeestratégiasimplícitas (comoastécnicasderepetiçãocoral e mirroring)eexplícitas(comoaaudição críticaea análisedapronúnciaatravésdeumametalinguagemsocialmenteconstruída),para trabalharapronúnciaaonívelpercetivo(capacidadedediscriminaçãodediferentes categoriassegmentais…),motor(habilidadeparaproduzir,articularosdiversosalvos),
2.Astecnologiasdigitaisnoensinodapronúncia
Muitasdastécnicasassociadasnasecção1aoensinodapronúnciapodemser implementadasatravésdotreinodapronúnciaassistidoporcomputador(CAPT: Computer-AssistedPronunciationTraining).Talcomooseunomeindica,oCAPT consistenousodetecnologiasdigitaisparamelhorarapronúncia,incluindodesde softwares e aplicações especificamente criados para o ensino da pronúncia estrangeira até recursosdesenhadosparaos investigadores(e.g.programasde análiseacústicadafala) e paraasatividadesmaiscomunsatualmente(e.g.dicionários online,ferramentasde reconhecimentoautomáticodafala,conversoresdetextoescritoemfalasintetizada, leitoresdeáudiosevídeos,gravadoresde áudio,aplicaçõesdemensagensinstantânease (vídeo)chamadas)–O’Brien,2018.
OrecursoaoCAPTéfrequentementepropostocomocomplementoparaoensino emsaladeaula(e.g.Ding etal.,2019)eapresentamuitasvantagens(explicitadas,por exemplo,emLuo,2016,eDing etal.,2019).Defacto,estesinstrumentosdetreino podemreforçarasaprendizagensporpermitiremaumentarmuitíssimoaquantidadequer de input (e.g.atravésdeáudios),querde output (e.g.pormeiodaproduçãoparaum sistemadereconhecimentoautomáticodafala)ede feedback (e.g.atravésdetestesde identificaçãode palavrasou segmentoscom correçãoautomática conseguemobter muito mais feedback individualdoqueseriapossívelemaula).Tambémfacilitamaadequação àsnecessidadesindividuaisdoaluno,poisépossívelescolherastecnologiasouos elementosdepronúnciaemfunçãodasdificuldadesdoaprendente.Favorecem,nos
168 N.º22022 cognitivo(construçãoeusodecategoriasmentaisparaprocessaraspropriedadesda pronúncianalíngua-alvo)epsicossocial(relacionadocomfatoresafetivosede autorregulaçãocomoamotivaçãoparaaprenderumcertocontrastenalíngua-alvo,a autonomiaparaprocurarmelhorarasuapronúncia,etc.).
Thomson(2011),porsuavez,aplicouafalantesnativosdemandarimque aprendiaminglêsatécnicadotreinofonéticocomaltavariabilidade(HVPT: High VariabilityPhoneticTraining),naqualsãoapresentadosestímulosmuitovariadosem termosdefalantesedecontextosfonéticosparaqueosaprendentesidentifiquemou discriminemos segmentosouvidos eassimdesenvolvamcategorias fonológicasdistintas paracadasegmentodalíngua-alvo(cf.revisãosobreestatécnicaemBarriuso&Hayes-
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Evidênciasdosefeitos positivosdouso doCAPTforam jáapresentadasem muitos estudoscomrecursoaferramentasdigitaisedesenhosexperimentaisdiversos.Por exemplo,Andújar-VacaeCruz-Martínez(2017)verificaramqueacriaçãodeumgrupo de Whatsapp emqueosaprendentesenviavammensagensdevozsobrediferentestemas erecebiamo feedback doscolegassobreasuaproduçãooralfoisuficienteparauma melhoriasignificativadacompetênciadeexpressãooralemlínguaestrangeira.Luo (2016)utilizougravaçõesemáudiodetextosparaosaprendentes,comotrabalhodecasa, ouviremoáudio,treinaremautonomamentealeituraemvozaltadotextoegravarem outroáudiocomasuapróprialeitura,recebendoo feedback doscolegasdomesmogrupo de trabalho. Os resultados mostraram ganhos na pronúncia tanto ao nível segmental como suprassegmental.Liakin etal. (2015)construíramumdesenhoexperimentalemquefoi usadoumsistemadereconhecimentoautomáticodafalaparatreinoautónomo,com feedback automático,daleituradepalavrasefrasescomosegmento/y/dofrancês,de difícilaquisiçãoparaosaprendentesanglófonos.Estetreinolevouaumamelhoria significativanaproduçãodoalvo.
aprendentes,aautonomiae umaaprendizagemmaisdescontraída (commenosbloqueios resultantesdaexposiçãodasdificuldadesdepronúncianumasaladeaula),namedidaem quelhespermitemescolheroobjetoeaduraçãodotreino,trabalharaoseupróprioritmo, praticarapronúnciasemapressãodesesentiremobservados. Alémdisso,estas tecnologiascontribuemfrequentementeparaumamaiormotivação,jáquepodemser muitodinâmicas,interativasemesmogamificadas.
Harb,2018).Comoresultadodestetreinofonéticoaoníveldaperceção,agrandemaioria dosaprendentesrevelouumamelhoriasignificativanapronúnciadasvogaistreinadas, mesmoquandoestasforamrepetidasapartirdasproduçõesdevozesdesconhecidaseem contextosfonéticosdiferentes.ComotrabalhodeDing etal. (2019)concluímosa ilustraçãodecomooCAPTpodefacilitarodomíniodapronúnciaemlínguanãomaterna. Nestainvestigação,cadaaprendentetreinouapronúnciadefrasesapartirdeproduções comcaracterísticaspróximasdasuaprópriavoz(sendoessasproduçõescriadaspormeio defalasintetizada)eobteveefeitospositivosnacompreensibilidadeena fluênciadoseu discurso.
3.Algumasideiassobreaoralidadedaslínguasnãomaternasnoensinoadistância OEaDécaracterizadopelareduçãototalousignificativadelimitaçõesespaciaise temporais(oprocessodeensino-aprendizagemnãoimplicaqueprofessorealunose encontremnomesmolocalenomesmotempo,podendoasatividadesdeaprendizagem eavaliaçãoserrealizadas,totalouparcialmente,emmodoassíncrono);processa-se atualmentequasesempreatravésdeferramentasdigitaisemlinha,sendo,porisso, designadocomoensino online ou e-learning (electroniclearning);podetambém combinar-secomensinopresencial,sendoentãoreferidocomoensinomistoou blearning (blendedlearning);podeapresentarformatoseobjetivosmuitodiversos, centrar-semaisnoprofessor,noconhecimento,natecnologia,noalunoounacomunidade eusarumapedagogiacognitivo-behaviorista,socioconstrutivistae/ouconectivista(cf. sistematizaçõesemMorgado,2001;DePryck,2006a;Pereira,2006;Anderson&Dron, 2011;Moreira etal.,2020).
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ParaseimplementarumcursodeEaDdequalidade,nãobastaumamera transposiçãodasatividadesdeensino-aprendizagempresenciaisparaummodo online Porumlado,talcomonoensinopresencial,odesenhoinstrucionalnoEaDdependede
(3)amotivaçãoconstituiumaspetofundamentalparaapersistêncianummodelode ensinocaracterizadoporumcertoisolamento(e.g.Pereira,2006);
(5)agamificaçãodealgumasexperiênciasdeaprendizagempodesermaissignificativa doquenoensinopresencialpelanecessidadedemotivaçãoacrescidaepelas possibilidadesoferecidaspelatecnologia(porexemplo,DePryck,2006b,referea importânciadassurpresas,dasrecompensasedadiversão);
(1)asexperiênciasdeaprendizagemdevemserricasevariadas,aproveitando-seo factodeserusadoummeiotecnológicoeaflexibilidadedotrabalhoassíncrono paraamobilizaçãodeváriasferramentasdigitaisadequadasaosobjetivosdo ensino-aprendizagem,acriaçãodecamadasdeinformaçãomúltiplaseem diferentesmodalidades,arespostaadiferentesconhecimentosprévios, necessidadeseestilos deaprendizagem,bem comoaoferta dediferentespercursos deaprendizagem(e.g.DePryck,2006b);
(4) éimportanteaconstruçãodosentidodepertençaaumacomunidadede aprendizagem,quedevecontribuirparaevitarasensaçãodeisolamentoepara sustentaramotivaçãoeaconstruçãosocialecolaborativadeconhecimento, sobretudonaspedagogiasmaissocioconstrutivistas(e.g.DePryck,2006b);
171N.º22022 muitosfatores,comoosobjetivosdocursoeosconteúdos,omodelodeensinoaprendizagemadotado,opúblico-alvoeo(s)contexto(s)dainstrução.Noentanto,por outrolado,oEaDtambémtemcaracterísticasprópriasateremcontanasuapreparação eimplementação. Assimsendo,convémdestacaralgunsprincípiosaconsiderarno desenhoinstrucionaldecursosemEaD:
(2)aautonomia,aautoavaliaçãoeametacogniçãodosaprendentesdevemser estimuladas,jáqueaausênciadocontroloedo feedback socialeimediatopróprios doensinopresencialfazdependerboapartedosucessodoensino-aprendizagemda autorregulaçãodoaprendente(e.g.DePryck,2006b;Pereira,2006);
(5)elaboraçãodenarrativasdigitais(digitalstorytelling)(e.g.Meri-Yilan,2020)oude outrasproduçõesoraisassíncronaspartilhadas online (e.g.Dias etal.,2013);
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(1)uso de podcasts (gravados pelo professor ou de outras fontes) (e.g. Dias et al., 2013; Cardoso etal.,2016)ede links paraambienteslinguísticosricoseautênticospara fornecermuito input aosaprendentes(e.g.Cardoso etal.,2016);
(6)o feedback,doprofessoredospares,podesercrucialparafomentaramotivação, orientarotrabalhoeevitarasensaçãodeisolamento(e.g.Pereira,2006);
(4) recursoa showcasts,apresentaçõescomáudio,vídeo,textoeimagem,queos aprendentesutilizamparaouvir, resolvertarefasegravar assuasprópriasproduções (cf.Cardoso etal.,2016);
(2)respostaaquestõessobreacompreensãooraldeumdocumento(e.g.Cardoso etal., 2016;Capitani,2020);
Tal como no ensino presencial, também no ensino de línguas não maternas a distância setrabalhaaoralidade.Contudo,pelomenosnamaioriadaspropostasapresentadasna literatura,aoralidadesurgeassociadasobretudoàscompetênciasglobaisdeproduçãoe compreensãoorais,dando-sepoucaênfaseaoensinodapronúncia.Dequalquerforma,é relevanteidentificarnaliteraturaalgunsexemplosdeestratégiasusadasparatrabalhara oralidadeemcontextodeEaD.Deentreessesexemplosdestacam-seosseguintes:
(3) audiçãodefrasesproduzidasporumfalantenativo,repetiçãoegravaçãodas mesmaspelo aprendente,que comparaas suasproduções comas originaise também podereceber feedback automáticoatravésdeferramentacomespetrogramas(e.g. Dias etal.,2013);
(7)opapeldoprofessor/tutoréfundamental,nomeadamenteenquantopromotorda autonomizaçãodosaprendentes,dereflexõeseautoavaliaçõesmaisprofundas,da colaboraçãoentreospares,damoderaçãodasdiscussões,demotivaçãoede feedback (e.g.Morgado,2001;Pereira,2006).
4.Umapropostadecruzamentoentreoensinodapronúnciaeoensinoadistância
(8)conversa / entrevista individual online com o professor (e.g. Moneypenny &Aldrich, 2016),podendoincluir,porexemplo,apresentaçõesoraisoujogosdepapéispara avaliação(e.g.Capitani,2020).
Comosepodeverificar,estasestratégiaspermitemtrabalhar:acompreensãooral (sobretudoasde(1),(2)e(4));aproduçãooralpreparadaedisponibilizadaemmodo assíncrono(cf.(4)e(5))querecebeoposterior feedback doprofessor(cf.(6));aprodução oral,menosoumais,espontâneaemmodosíncrono(cf.(7)e(8)).Noentanto,parao treinoespecíficodapronúncia,émencionadaapenasumaestratégia(cf.(3)).
Considerandoomodelodeensinodapronúnciaadotadonasecção1,assugestões paratreinodapronúnciaassistidaporcomputadorapresentadasnasecção2eosformatos quepodeassumirotreinodaoralidadenoEaDmencionadosnasecção3,épossívelfazer umapropostadecruzamentoentreoensinodapronúnciaeoEaD.Comesseobjetivo,na Tabela1,propomosexemplosdeatividadesparaasquatroetapasdodesenvolvimentoda pronúncianoEaD,sendoquealgumas dessasatividadesabarcamasetapasdo input edo output controlado.Paracadaatividadeidentifica-se,entreparêntesesretos,uma ferramentadigitalquepodeserusadanasuaimplementação.
(6)fornecimentode feedback individualizadosobreasproduçõesoraisassíncronaspor partedoprofessor(e.g.Cardoso etal.,2016;Moneypenny& Aldrich,2016);
173N.º22022
(7)simulações,dramatizaçõesouconversaçãoemmodosíncrono(e.g.Dias et al.,2013; Moneypenny& Aldrich,2016);
Tabela1–Exemplosdeatividadespossíveisparaasquatro etapasdodesenvolvimentodapronúnciano EaD(propostaelaboradanoâmbitodopresentetrabalho)
174 N.º22022
Comosepodeverificar,asquatroetapasdoensinodapronúnciapodemnãosóser concretizadasnoEaD,comotambémserimplementadasatravésdeatividades diversificadas,recorrendo-se,porexemplo,aestratégiasimplícitasdeensinoda
175N.º22022 pronúncia(e.g.(4),(5))eaestratégiasexplícitas(e.g.(2),(3)).Convémaindadestacar que,emlinhacomosprincípiosdedesenhoinstrucionalimportantesnoEaD,váriasdas atividadespropostasvisamfomentaraautonomiaeametacognição(e.g.(1),emquese provocaumareflexãonosaprendentessobreosseusobjetivosparaaaprendizagemda pronúnciaeosmeiosquepodemusarparaalcançaressesobjetivos),aaprendizagem colaborativa(e.g.(10),(15))ouoreforçodo feedback (e.g. feedback imediatonostestes enosistemadereconhecimentoautomáticodafala).
Paraexemplificaraimplementaçãodestecruzamento,apresenta-se,naTabela2, umasequênciadeatividadespara oensinodapronúnciade[l, !].
Tabela2–Exemplo deumasequência deatividades paraoensino dapronúncia de[l, !] (proposta elaboradanoâmbitodopresentetrabalho)
176 N.º22022
Consideraçõesfinais
Comoseviupelarevisãodaliteratura,aabordagemexplícitadapronúncia,embora importantee cadavez maispreconizada, aindanão pareceser suficientementevalorizada noEaD.Poressemotivo,elabora-senesteartigoumapropostadecruzamentoentreo ensinodapronúnciaeoEaD. Apesardalimitaçãodesebasearapenasnumapesquisa bibliográficareflexivaeaindanãotersidovalidadaemcursosadistânciaespecíficos, espera-sequeestapropostapossacontribuirparaainclusãonoEaDdemaisatividades deensinodapronúnciadalínguanãomaternae,consequentemente,venhaaser“afinada” comosresultadosqueasuaaplicaçãotiver.
Asequênciaavançadailustracomo,tambémnoEaD,otrabalhoexplícitoe focalizadodeumcontrastesegmentalproblemáticoparamuitosaprendentesde PortuguêsLínguaNãoMaternapodeincluiratividadesdiversificadaseserintegrado numaabordagemcomunicativadascompetênciasdaoralidade,nestecasosobreotema dafamília.
Textoescritosegundoo AcordoOrtográficode1990.
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182 N.º22022
Brevenotabiobibliográficadaautora
AdelinaCastelo édoutoradaemLinguísticaEducacional(2012),mestreem LinguísticaPortuguesa(2004)eprofessoraprofissionalizadaemEstudosPortuguesese Franceses(2001),pelaUniversidadedeLisboa. AtualmenteéProfessora Auxiliarna UniversidadeAbertaeinvestigadoranoCentrodeLinguísticadaUniversidadedeLisboa. Assuasáreasdeinvestigaçãoedocênciaabarcamalinguísticaeoensinodoportuguês (comolínguamaternaenãomaterna),sobretudonoâmbitodaoralidadeepronúncia, tendolecionadoemPortugalenaChinaepublicadoartigoselivros(como Fonéticae FonologiaparaoEnsinodoPortuguêscomoLínguaEstrangeira,2018,Instituto PolitécnicodeMacau).
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Introdução
ArmandoZavala InstitutoNacionaldoDesenvolvimentodaEducação(INDE)
Palavras-chave: literaciadigital,tecnologiasdigitais,dialogicidade,pandemiadacovid19.
Resumo: Oartigoapresentaumestudoacercadautilizaçãoresponsáveleeficazdas tecnologiasdigitaiscomodispositivodein(ter)vençãodialógicanaeducaçãoemtempo dapandemiadaCovid-19. Assim,onossoestudoquestionasobrecomomanipularou procederou interpretara informação- digitally literacy -paraquese torneconhecimento adquiridoemambientesvirtuaiscomvistaainstigarain(ter)vençãodialógicaemtempo depandemiadaCovid-19.Osresultadosdeumapesquisarealizadacomprofessoresdo ensinosecundárioem Moçambiqueemtempo depandemiada Covid-19mostramque os conteúdospartilhadospelosprofessoresatravésdastecnologiasdigitais,quando aprofundadospelosalunosemcasaelevadosaharmonizaçãonocoletivopormeiode fórunsvirtuaisdediscussão,instigamadialogicidadepropostaporBakhtin(2003).
Literaciadigitalcomodispositivodein(ter)vençãodialógicaem educaçãoemtempodepandemiadaCovid-19
Olhandoparaomeioemquevivemos,podemosconstatarqueastecnologias digitaishabitamoquotidianodavidadecrianças,jovenseadultos.Estamosafalarde
RodolfoCiprianoJoãoSalgado UniversidadeSave(UniSave)
AdialogicidadeemBakhtinseconstituiapartirdarelaçãoéticadaempatiaede encontrodevozesentreum eu-para-mim,eu-para-o-outro,o-outro-para-mim (Bakhtin, 2003,p.382)[grifodoautor],ouseja,respectivamente,decomoeumevejoe compreendoemeresponsabilizopormim,nessediálogo:decomoeumemostroparaum outro,decomomeresponsabilizoporele,edecomoelemevêemecompreende;ede comoeuvejoecompreendoooutrododiálogoedecomoesseoutro,pelalinguagem, estáatravessadoemmim.Produzirsentidosnocontextodastecnologiasdigitaisimplica trabalharcomasrelações,comavisibilidadedasrelaçõesqueconstituemdeterminado objetooucampodeconhecimento.
Astecnologiasutilizadasparaveicularinformaçãoeestabelecercomunicação, influenciamemtodososaspetosdavida,começandopelastarefasdomésticas, profissionaiseescolares,atémesmoaosmomentosdelazer,deconsumo,departicipação emaçõesecausascívicasesociais.
Especificamente,nocontextoescolareemtempodepandemiadaCovid-19,os atoresdaeducaçãotornam-seativosereativosaoveicularainformaçãoeoconhecimento atravésdastecnologiasdigitais–buscandoeintervindopelain(ter)venção,quecriae recria, partilhando ecomentando conteúdos escolares em contextos únicos pela unicidade doseventosepelasingularidadedanaturezahumana,tendoemvistaàproduçãode sentidosemumadialogicidadeaoestilodeBakhtin(2003).
Assim, o nosso estudo questiona sobre como manipular ou proceder ou interpretar ainformação- digitally literacy -paraquesetorneconhecimentoadquiridoemambientes virtuaiscomvistaainstigarain(ter)vençãodialógicaemtempodepandemiadaCovid19?
184 N.º22022 tecnologiascomotelemóveis, smartphones, tablets, laptops, palmtops,entreoutras,que sãousadasemumasociedadeem(ouna)rede,quesecaracterizacomosendode informaçãoeconhecimento.
Aquestãoqueselevantadespertaumaspetorelacionadocomaalfabetização digitalquenoslevaàliteraciadigital,pressupondoqueosindivíduosfluentesem tecnologiasdigitaisavaliam,selecionam,aprendemeusamnovastecnologiasconforme apropriadoparasuasatividadespessoaiseprofissionais. Doconceitoliteraciaàexpressãoliteraciadigital
Otermo literacy vemdolatim littera quequerdizerletra,maisosufixo cy que denotaqualidade,condição,estado,factodeser.A literacy éoestadooucondiçãoque assumeaquelequeaprendealereaescrever.Estásubentendidoqueaescritatraz consequênciassociais,culturaispolíticas,econômicas,cognitivaselinguísticas(Cruz, 2007).
Oconceitodeliteracianãosóserefereàcapacidadedelereescrevercomo resultadoimediatodoprocessodealfabetização,mastambémcontemplaodomínio amploeproficientedalinguagememqueaconteceuaalfabetização.Compreende,de acordocomaOficinadeLiteraciaDigital(2000),umahabilidadequeserevelanouso eficientedosestilosdeescritaeeloquência,inclusive,oatodeanalisar,deresumirede criticarnomomentoemqueocorreatrocadeinformações.
Daliteraciaparaliteraciadigitalcompreendeumprocessodealfabetização digital,querequermaisdoqueapenasacapacidadedeusar software ouoperarum dispositivodigital;incluiumagrandevariedadedehabilidadescomplexas,como cognitivas,motoras,sociológicaseemocionaisque osusuáriosprecisamdeterparausar osambientesdigitaisdeformaeficaz.
185N.º22022
NosfinaisdoséculoXIX,otermoeminglês literacy jáconstavadoslivrosem latimefoiconvencionalmentetraduzidoparaportuguêsemletramentonoBrasile literaciaemPortugal.
Na sociedade atual, conhecida como sociedade de informação, também designada desociedadeemrede,oudenominadadesociedadeconectada,aosindivíduosé-lhes exigidoquetenhamliteraciadigital,cadavezmais,paraquetenhamafluênciadigital.
Entreasaptidõesnecessáriascontam-se:acapacidadedeinvestigar,coligire processarinformaçãoeusá-lademaneiracríticaesistemática,avaliandoapertinênciae distinguindoorealdovirtual,masreconhecendoasligações.Osindivíduosdevemser capazesdeutilizarasferramentasparaproduzir,apresentarecompreenderinformações complexas,edeaceder,pesquisareusarserviçosbaseadosnaInternet.Deverão,também, sercapazesdeusarasTSIparaapoiaropensamentocrítico,acriatividadeeainovação.
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Ummodeloconceitual quefoirecentemente descritoporEshet-AlkalieAmichaiHamburger(2004,p.421)sugerequeaalfabetizaçãodigitalcompreendecinco habilidadesdigitaisprincipais:habilidadesfoto-visuais("leitura"dasinstruçõesgráficas), habilidadesdereprodução(utilizandoreproduçãodigitalparacriarmateriaisnovose significativos),habilidadesderamificação(construçãodeconhecimentoapartirde navegaçãonãolinearehipertextual),habilidadesdeinformação(avaliaçãodaqualidade evalidadedainformação)ehabilidadessócio-emocionais(entendendoas"regras"que prevalecemnociberespaçoeaplicandoesseentendimentonacomunicaçãoemlinhado ciberespaço).
A partirdomodeloconceitual,pode-se dizerqueacompetênciadigital envolvea utilizaçãoseguraecríticadastecnologiasdasociedadedainformação (TSI)notrabalho, nostemposlivresenacomunicação.ÉsustentadapelascompetênciasemTIC:ousodo computadorparaobter,avaliar,armazenar,produzir,apresentaretrocarinformaçõese paracomunicareparticiparemredesdecooperaçãoviaInternet.Acompetênciadigital implicatambémumacompreensãodopotencialdasTSIparaapoiaracriatividadeea inovação,eaconsciênciadasquestõesligadasàvalidadeeàfiabilidadedainformação disponíveleaosprincípiosjurídicoseéticosligadosaousointerativodasTSI.
Bakhtin(2010)entendequeoeu-para-mimé,naturalmente,oeuenquanto voltadoparasimesmo;oeu-para-o-outroserefereàiniciativadosujeitodeaproximarsedeoutrossujeitos,numaespéciedesaídadesi;eooutro-para-mimserefereàiniciativa dooutrodeaproximar-sedoeu,tambémumaespéciedesaídadesi.
Nocontextoescolar,sepropõeumainteraçãodialógicaentreoprofessoreo aluno, em que o professor responde ao aluno e o aluno responde ao professor, assim como ainteraçãoentreosprópriosalunosemqueumrespondeaooutro.Perguntaeresposta, naópticabakhtiniana,temumsentidoamplificado,significandoestarnacorrenteda linguagem,emqueoenunciadosemprerespondeaoutroenunciado,equivalendoaduas consciências,mesmoquesetratedeumasópessoa:trata-se,nesteúltimocaso,deduas
Adialogicidade,tratada porBakhtinde dialogismo,éum métododepesquisa em ciênciashumanas,baseadonoprincípiodealteridade“eu-para-mim,eu-para-o-outroeooutro-para-mim”(Bakhtin,2003,p.308). Assim,abasedaalteridadeverifica-sesempre quehádoisoumaisindivíduosemdiálogo,mesmoquepareçaquesóháum.
EssafluênciaqueéconceitualizadaporTarouco(2013)comosendoacapacidade pessoal,nosentidodequeosindivíduosfluentesemtecnologiadainformaçãoavaliam, selecionam,aprendemeusamnovastecnologiasdainformaçãoconformeapropriado parasuasatividadespessoaiseprofissionais.
Dialogicidadeatravésdastecnologiasdigitais
Nessecontexto,segundoBehar(2013),osindivíduosfluentesdigitais impulsionadospelasnovidades edescobertascientíficas etecnológicaspõem emcausao paradigmaeducacional,centradonatransmissãodeconteúdos,pelaconstataçãodeque jánãoémaisoparadigmasuficienteeadequadoparaasuaformação,porquejápodem aprenderlidandocomacomplexidade,aincertezaeoineditismo.
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27 Bakhtin emprega a palavra polifonia para descrevero fato de que odiscursoresulta de uma trama de diferentes vozes, sem que nunca exista a dominaçãode uma voz sobreas outras E uma das características do conceito de dialogismode Bakhtin éconceber a unidade do mundo comopolifônica, na quala recuperaçãodo coletivo se faz via linguagem,sendo a presença do outro constante A linguagem, na concepçãobakhtiniana, é uma realidadeintersubjetivaeessencialmente dialógica,em que o indivíduoé sempreatravessadopelacoletividade (Scorsolini-Comin etal.,2008, p. 6).
188 N.º22022 consciênciasemmim,oquesupõeooutro-em-mim,comquemdialogo,configurando umprocessopolifónico27 emquepelo menosduasvozes interagemdialogicamenteentre si.
Odiálogonaeducação,como Axt(2008)observa,éapossibilidadedequetodas asvozesdosatoresdoprocessodeensino-aprendizagemsejamouvidas,acolhidase respeitadas.Odiálogoentreoeueooutro,aalternânciadeperguntaserespostas,a perplexidadediantedos atosediscursos alheios,assimcomo ospontosde vistaevalores emjogo,fazemdaaulaumprocessovivodeproduçãodesentidossobreosmodosde perceberesignificarosacontecimentosnavida.Porisso, Axtescreveque trabalharcomo pressupostodialógico[no contextoescolar]é, antes,considerar múltiplasvozes,emrelaçãodetensãoentresi,tantoasvozesdosparticipantesda experimentação,quantoasvozesdosautoresdereferênciateóricaeadopesquisadorautor,noâmbitodeumarelaçãodeconfrontomaisamplaentrecamposdeforça monológicose dialógicos.E umaexperimentação, quese pautapelo princípiodialógico, trataparticipanteseautoresdereferência,comointerlocutoreseparceiros,no engendramento,tantodosinterrogantesdainvestigação,quantodosenunciados interpretativosdaexperimentação (2008,p.98)[grifodaautora].
Axt(2000)acrescentaqueépensarnumdeslocamentodeperspetivafundamental paraoperarumamudançadesentido,ouoinverso,supõeumamudançadesentido essencialparaoperarumdeslocamentodeperspetiva.Emoutraspalavras,pensara dialogicidadeatravésdastecnologiasdigitaisnocontextoeducativo supõe,umexercício dereflexãodeumcoletivo,umcoletivoquepossacooperativamentepotencializara tomadadedecisões,assumirposições,criariniciativas,traçarplanos,estabelecer políticas,definirpedagogias,definirpontosdepartida,inventarnovospercursos,novos
Então,pensarodiálogonocontextodastecnologiasdigitais,dentrodoquadro bakthinianoé,efetivamente,desconstruiroconteúdoouinformação,descobrindo-lheas relações já instituídas, problematizar o fato, elevando-o à instância do virtual, para, então, reconstruiroacontecimentonovamenteemfato,mascontextualizado,segundoas mesmasounovasrelaçõespossíveis.
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É,também,naesteiradeAxt(2000,p.56),pensar,apartirdastecnologias digitais,arelaçãoentreoconhecimentoeainformaçãoempacotada,formulando perguntasque fazemconfrontar textoscom outrostextos, oucom imagens,ou aindacom vídeos,ideiascomoutrasideias,dúvidascomascertezas,tempospassadoscomtempos presenteefuturo,espaçoscomculturas,sensibilidadecomrazão.
Bakhtin(2010)enfatiza queoprofessor nãoapenaspergunta paraobterrespostas queatendamaosobjetivosdefinidosdeantemãonumdeterminadoconteúdo,mas,ao perguntare,também,responder,seposicionacomoumsujeito,que,dolugarde professor,trazperspetivasevaloresdiversossobreasexperiênciascompartilhadascom osalunosacercadoassuntoemdiscussão.Éimperativoqueessediálogosejaresponsivo eresponsável,eaoserestabelecido,possafazertransparecernossotextoeotextodo outro,nosentidodefazeremergirpontosdevistase/ouaxiologiasdiferenciadasparaque sejapossívelvisualizarasconceçõesquesubjazememcadaser-vozdacadeiadiscursiva.
Porisso,adialogicidadepormeiodastecnologiasdigitaiseclodeapartirdas relaçõesdialógicasentreprofessor-para-professor,professor-para-aluno,aluno-paraprofessorealuno-para-aluno,enquantosediscutemconteúdosescolaresvirtualmentee, nessaperspetiva,aaulaacontece,aomesmotempo,demaneirarelevantemente,ética28 , eseabreàpossibilidadeestética29 epolítica30 namedidaemqueédada,acada participantedaaula,apossibilidadedecontribuircomoseupensamento,desuaposição enunciativa,produzindogestosinterpretativos31 detendênciaautoral.
30Dimensãopolíticaenvolvearesponsabilidadeassumidadiantedosefeitose sentidosqueseproduzem frenteàsaçõesdohomem,sejaindividualmente,sejacoletivamente(Guattari,1992).
28Naóticabakhtiniana,aquestãoéticanãosecolocacomonormasmorais, válidasporsimesmas,oque existe,éumsujeitoéticocomdeterminada consciência,oqual,atravessadopelocontexto emquese encontraimersoeemprocesso,“(...)elesaberá emqueconsisteasuaresponsabilidadeequandodeve cumpriroseudevermoral,oumaisprecisamenteodever(...)”(Bakhtin,2010.p.48).
31Umgestointerpretativo,quandoenunciadoemlinguagem,contraindocomofato,será sempre,também umgestobakhtiniano–únicoeirrepetível,transitório,inconcluso einacabado–deacabamentoestético emrelaçãoaosenunciadosemtensão,estandosemprenaeminência deproduzirosentidoinusitadoou inesperado(Axt,2016.pp.37-38).
190 N.º22022 trajetos,emsíntese:naescola,reinventaraEscola;potencializaraEducaçãopelaaposta nareflexividade.
29Aestéticapodeserentendidacomo“aqueledistanciar-se,medianteummovimentode exotopia,parafora dolugar(ético)darelaçãoeu-outro,paraforadolugardo outro onde eu esteveempaticamente,paraentão, solidariamente, defora destelugararquitetônicodarelaçãoética,deforadessamorada eu-outro,sercapaz decontemplá-lacomcuidado,com amorosidade,umaamorosidadetomadapelasintensidadesdaafetação, tomadapela escuta davozdooutro,dando-lheacabamento,enriquecendo-odesdeoseulugardistanciadocontemplativo”(Axt,2011,p.52).Emoutraspalavras,para Axt,aestéticabakhtinianaésempreuma (est)ética,ouseja,umaestéticaésempresolidáriacomaética.
Naaulavirtual,aescutadialógica,sensível,éticaeresponsáveléquesustentao diálogoeasinteraçõesdosprotagonistasdoprocessodeensino-aprendizagem,tantona aula,comonasinteraçõesentreoprofessoreoalunoeentreosprópriosalunos.
191N.º22022
Oexercíciodaescutanadialogicidadeémuitofundamental,sobretudonarelação pedagógica.Escutarnãoéapenasouvirouveroconteúdovirtual,masestaratentoaoque ooutroqueriadizerouescrever,ouseja,assumirumaatituderesponsivaeéticadiante dooutro quefala ouescreve. Estaescuta éatravessada poruma outradimensão daescuta queSellichamadeescutadialógica,vistoqueacontece
Aescutadialógica,ouescutasensível,comotratadoporBakhtin,ebem observadopor Axt(2016,p.29),podeserexploradademaneirarelevantenoplanodo coletivo(dialógico)–instânciaexploradanastecnologiasdigitais.Nareflexãodaautora, numaescutasensíveltem-se,antes,umpontodeencontro,porimplicaçãodeempatia; umaempatiaqueemergeeproduzseusprimeirosvínculoscomaparticipaçãovirtualdos intervenientesdaaula.
nainteração[virtual]comooutro:quandoacolhooqueooutrodizsempréjulgamentos;aoreceberoqueeleenunciafazendocomquepercebaquenãoestá sozinho;quandosuainquietação,ansiedade,angústia,tristeza,alegria,dor, encantamento,compreensão,históriasdevida,maneiradesereestarnomundo reverberamemmim;quandonãosounemestouindiferenteatudoquelhedizrespeito, pelaempatia (Selli,2015,p.20)[grifodaautora].
Axtaindacomplementaanoçãodeescutasensível/dialógica,comasideiasde umaescuta,aomesmotempoàespreitaedistraída.Escutadistraídapelofatodepoder, emdeterminadomomento,distrair-seemrelaçãoaoqueéútileobjetivo(metas, conteúdos,etc.)eaomesmotempoficaràespreita,atentamente,paradescobriros sentidosqueemergemnainteraçãovirtual.
Onossoestudofoirealizadotendoemcontaostrêsplanossugeridospor Axt (2011),noâmbitodapesquisaemeducação,queostraçacomoimagensparao pesquisador.Segundoaautora,oprimeiroplanoconsistenanossaentradanocampo empírico,noambientevirtualembuscadosdados.Estemomento,“trata-sedeatoético epolítico,deumasóvez,namedidaemque:implicaenvolver-secom alter,buscando nelereverberarapotênciadecriação;implicainstigarnohumanoasuahumanidade, exercitando,nocrescimentohumano,ocrescernarelaçãoeu-outro”(Axt,2011,p.111).
Oterceiroplanoéodarelaçãoescritor-leitor.Nestemomento,asin(ter)venções32 dialógicasnoambientevirtualassumemnovossentidosnoencontrocomointerlocutor32 Estain(ter)vençãofoi pensada por Axte Kreutz (2003); Axt (2008) e Axt (2011) como ainvenção de um atoúnico, queacontecevinculado aum espaço tempo,pertinenteaocontextoparaoqual foi inventado. No entendimentode Axt(2011), umatorealizado ésempre umaintervençãona relaçãodo um commundooutro, uma intervenção concreta que se constitui comopassagem, daquiloque flui de dentro e por dentro do sercomo possibilidadede atualização,oudointeriordapossibilidade comotal paraasua concretização, ocorrendouma única vez.
Discussãoderesultados
Osegundoplanodizrespeitoaonossoafastamentodoambientevirtualparaa escrita do artigo. Este movimento exotópico, que continuamente se entrelaça ao primeiro, confereaospesquisadoresopoderdeumexcedentedevisãocapazderealizaruma contemplaçãoestéticapelarelação(novamente)amorosa,empática,queospesquisadores dirigemaoagoraobjetodecontemplação(professor,aulasvirtuais)(Axt,2011).Cabe observarqueaoperaçãodecontemplação,naóticabakhtianianaassumida,ésempre ativa,namedidaemquesuscitaumagir,obrigatoriamente,que,emnossocaso,setrata decontemplarosdadosapreciativamente,atualizando-osemescrita.
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Aoperacionalizaçãodostrêsplanosdescritosfoimedianteaaplicaçãodeum questionárioproduzidoatravésdo GoogleForm epreenchidovirtualmentepor42 professoresdoensinosecundário,nomêsdejulhode2020,momentoemqueasaulas presenciaisemMoçambiqueestiveramsuspensascomoumadasmedidasdeprevenção contraapropagaçãodepandemiadaCovid-1933.Acontinuidadedoprocessodeensinoaprendizagemeragarantida,deentreoutrasformas,pelastecnologiasdigitais.
193N.º22022
leitor,estepodendosertambémosprópriospesquisadores-escritores,oquepermitea estespesquisadoresumprofícuodiálogonadimensãoeu-para-mim,mastambémcomo outro,emqueeueooutroseentrelaçam,naressignificaçãoepotencializaçãodosachados (Axt,2011,p.112).
Os42professoresquereceberameresponderamasquestõeslecionamnoensino secundáriopúblicoaoníveldacidadedeMaputo.Estaamostradeprofessoresfoi constituídapor32 professoresdosexo masculinoe10 dosexofeminino, comidadesque variamde25a45anosconformeindicaatabelaabaixo: Idades 25-30anos31-35anos 36-40anos41-45anos
33Trata se de um vírus pertencente à família Coronaviridae, que tem causadouma infecçãorespiratória semelhantea um resfriado comum em humanos, a Covid-19(Manual de orientação aofarmacêutico: COVID-19, 2020).Teveinício em Dezembrode 2019 emWuhan, província de Hubei, na China e, poucas semanas depois, casos da mesma síndrome foram observados no Japão, Tailândia e Coreia do Sul, chegando aos países doresto do mundo,incluindo Moçambique A 30 dejaneiro de 2020,aOrganização Mundial da Saúde declarou a Covid-19 como sendoumaemergência mundial de saúde pública e, a 10de marçode 2020passou a ser considerada uma pandemia,criando assim a necessidade de coordenaçãode esforços a nívelglobal comoanível decada país entreos profissionaisde saúde,os governose apopulação geral naadopção eimplementaçãodemedidaspreventivas paraconterapropagação emitigaçãodadoença.
194 N.º22022
Professores 5
Professoras
3 5 2
Oquestionárioaplicadocontinhaquestõesfechadasdivididasemduaspartes nomeadamente:dadospessoaiseprofissionaisdosparticipanteseasperguntas propriamenteditasparaesteestudo.
Fonte:Elaboradapelosautores
Tabela1:Distribuiçãodaamostraporidades
Gráfico01:Plataformasdigitaisdeinteração
8 10 9
Aosprofessoreslhesfoiquestionadosobrequeplataformasdigitaisdeinteração oprofessorouaescolautilizaduranteoperíododasuspensãodasaulaspresenciais devidoàpandemiadaCovid-19. Assim,osprofessoresresponderamque:
Fonte:Geradopelo GoogleForm apartirdasrespostasdoquestionário
Nessadinâmica,ain(ter)vençãodialógicasemostrouapartirdatrocade impressõesenquantosepartilhavaminformaçõespormeiodastecnologiasdigitais,oque possibilitoutantoaosprofessoresassimcomoaosalunos,expressaremsuasopiniões, pensamentos,vontadesecompreensões,queforamconstituídasapartirdarelaçãocomo outro.
Emoutraspalavras,ain(ter)vençãodialógicaatravésdastecnologiasdigitais implicouuma interdependênciade opiniõespartilhadas noambiente virtual,em quecada umaeraformadanafronteiracomaopiniãodooutroe,nestecaso,osentidoseconstruiu noencontroenoconfronto,naconsonânciaenadissonânciaentreasvozesquese manifestavamnoatodialógico.
Entendemosqueadinâmicadasaulasmediadaspelastecnologiasdigitaissedeu nestalinha:apresentaçãodoconteúdodaaulaepartilhadosexercícios peloprofessor→ aprofundamentodaaulaeresoluçãodosexercíciospelosalunosemcasa→ esclarecimentodedúvidassobreaaulaecorreçãodosexercíciospeloprofessor→ harmonizaçãodoconteúdodaaulanocoletivo(professor ealunos)atravésdos fórunsde discussãodisponibilizadospelastecnologiasdigitais,principalmentepelaplataforma Whatsapp.
195N.º22022
Ográfico02mostracomoainformaçãoeramanipuladaparasetornarem conhecimentoadquiridoemambientesvirtuaiscomoformadeinstigarain(ter)venção dialógica.
Osdadosqueintegramográfico01indicamqueo Whatsapp éaplataformaque foimaisutilizadaparaainteraçãoentreosprofessoresealunosduranteotempoemque asaulaspresenciaisestiveramsuspensasdevidoàpandemiadaCovid-19.Édeassinalar que,duranteoperíodoemreferência,tambémfoiutilizadooutrotipodeplataformas digitaisparaainteraçãocomo,o facebook,o e-mail,o GoogleClassroom, entreoutras.
196 N.º22022
Como se pode notar a partir do gráfico 02, a in(ter)venção dialógica se deu através dapartilhadefichasouexercícios,vídeo-aulasouaprópriainteraçãoentreprofessoraluno.Estemomento,exigiuporpartedocoletivo,umverdadeiroexercíciodeescuta paraproduzirumpensamentodatotalidadedaaula,oumelhor,aescutaafinadadeatenção àalteridade,dospontosdevistaouvozestrazidasaocoletivonoambientevirtual,foi indispensável,comopropósitode,apartirdaí,extrairelementoscomunsparauma construçãoperspetivadadereferênciaedoqueconstituíramnarrativasparaooutro enquantocoletivo(Axtetal.,2011).
Oconhecimentoadquiridonaliteraciadigitaldentrodoquadrodialógico bakthiniano,vaiaoencontrodoviésinterdisciplinar.Querdizer,ainterdisciplinaridade aquipodeseinstalaremtrêsníveis,micro-escolar,macro-escolareabrangente.As informaçõesprovenientesdainteraçãoentreoprofessor-alunonoambientevirtual apresentamumprocessointerdisciplinarseorganizandodialogicamente emnívelmicroescolar,noâmbitodeumtópicotemático.Estestópicostemáticos,estudadose aprofundados emcasapelosalunos,quandolevadosàdiscussãoanalíticanocoletivopara
Fonte:Geradopelo GoogleForm apartirdasrespostasdoquestionário Gráfico02: Aprendizagematravésdeplataformasdigitais
Onossoestudomostrouqueautilizaçãoresponsáveleeficazdastecnologias digitaisnarealizaçãodetarefaseducacionaistornaummecanismodein(ter)venção dialógicaemtempodepandemiadaCovid-19.Osconteúdospartilhadospelos professoresatravésdastecnologiasdigitais,quandoaprofundadospelosalunosemcasa elevadosàharmonizaçãonocoletivopormeiodefórunsvirtuaisdediscussão,fazem eclodiradialogicidadenomelhorestilodeBakthin.
Consideraçõesfinais
Asdiscussõesnosfórunsvirtuais,oesclarecimentodedúvidassobreaaulae correçãodosexercíciospeloprofessor,dãomaiorespossibilidadesdeampliaçãode horizontes,deumavisãomaisplenadoconteúdoemquestão,possibilitandoum acabamentoprovisóriodomesmopelosparticipantesdadiscussãovirtual,oqueequivale assumirresponsavelmenteposições(autorais)emrelaçãoadeterminadaideia apresentada,colocandoemevidênciaanaturezaestéticadetaisacabamentos. Assumir posiçõesautoraisnessaperspectivadeacabamentodenaturezaestéticapoderia
197N.º22022 aharmonizaçãodaaulaearticuladosentresi,introduzemonívelmacro-escolarde entendimentocomplexoeinterdisciplinar.
Opensamentointerdisciplinaremumnívelmaisabrangente,buscauma totalidademaiorqueédoprópriotemaemdiscussão.Nestecaso,ostópicosdiversos, explorados em suas diferentes inter-relações nas discussões entre os alunos, se encontram numagrandediscussãodetodoocoletivodaaula,produzindoumarededesentidosque remeteàabordageminterdisciplinaremqueasdiferentesáreascientíficaspodemse encontrarumascomasoutrasecomacultura,permitindoumavisãodetotalidadedo tópicoemquestão.
198 N.º22022 configurar,paranós,umconhecimentoadquiridoemambientesvirtuaisatravésda in(ter)vençãodialógica.
Astecnologiasdigitaiscriamespaçosparaapartilhadeideiasresultandonuma aprendizagemcolaborativaecooperativa;comotambém,possibilitamaformaçãode valorescomosolidariedade,respeitocomooutro,oespíritodetrabalhoemequipeede amizade.Porisso,comosdadosdonossoestudo,concluímosquealiteraciadigital tornou-senumdispositivodein(ter)vençãodialógicaduranteotempodapandemiada Covid-19, já que procurou envolver, a partir das relações dialógicas, o professor e o aluno noprocessodeconstruçãodeconhecimentoapartirdaproduçãodesentido.
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RodolfoCiprianoJoãoSalgado,LicenciadoemEnsinodeLínguaPortuguesa naFaculdadedeLínguaspelaUniversidadePedagógicadeMoçambique,Mestreem InformáticanaEducaçãonaEscolaSuperiorTécnicapelaUniversidadePedagógicade MoçambiqueeDoutoremInformáticanaEducaçãonoCentroInterdisciplinarde TecnologiasnaEducaçãopelaUniversidadeFederaldoRioGrandedoSul–Brasil.É professorepesquisadorefetivoe,emsimultâneo,desempenhaafunçãodeDirectorde TecnologiasdeInformaçãoeComunicaçãonaUniversidadeSaveemMoçambique. Grupodepesquisa:LaboratóriodeEstudosdeLinguagem,InteraçãoeCognição/Criação. LinhadePesquisa:InterfacesDigitaisemEducação, Arte,LinguagemeCognição.Email:rsallos@gmail.com
Textoescritocomo AcordoOrtográficode1990. Brevenotabiobibliográficadosautores
ArmandoZavala,DoutoremInformáticanaEducaçãonoCentroInterdisciplinar deNovasTecnologiasdaEducaçãopelaUniversidadeFederaldoRioGrandedoSul–Brasil.Possui,também,CursosAvançadosemITpelaLearnthingsdaÁfricadoSule pelaLovelyProfissionalUniversitydaÍndia.AsuaLinhadePesquisaéInterfaces DigitaisemEducação, Arte,LinguagemeCognição,comatuaçãonoDepartamentode InvestigaçãoEducacionaldoInstitutoNacionaldoDesenvolvimentodaEducação (INDE).Igualmente,éProfessor AuxiliarnaUniversidadeTécnicaDiogoEugénio Guilande–Maputo.E-mail:zavalove@live.com
202 N.º22022
Descentralização, educação e desenvolvimento do capital humanonaProvínciadeGaza,Moçambique
Resumo: Moçambiqueabraçourecentementeoprocessodedescentralizaçãoe desconcentração de poderes com a aprovação da Lei 4/2019 de 31 de Maio que estabelece oquadrolegaldosórgãosexecutivosdegovernaçãodescentralizadaprovincial.Àluz destalei, aeducação noâmbito doensino primário,geral eformação técnicoprofissional éremetidaàgovernaçãodescentralizada.Estaleitambémenfatizaanecessidadede participaçãodapopulaçãoresidentenosplanosdedesenvolvimentolocal,oque pressupõenãosóaproactividadeeiniciativadoscidadãos,mastambémaexistênciade capacidadetécnicaeintelectualparaosprocessosdetomadadedecisãoatinentesao desenvolvimentolocalenacional.EsteartigodiscuteasimplicaçõesdaLei4/2019de31 deMaio parao sectorde educaçãoe parao desenvolvimentodo capitalhumano, comum estudodecasodaprovínciadeGazanosuldeMoçambique.
Palavraschave: Descentralização,desconcentração,educação,capitalhumano,Gaza.
203N.º22022
DeniseMariaMalauene UniversidadeEduardoMondlane
204 N.º22022
Moçambiqueabraçourecentementeoprocessodedescentralizaçãoe desconcentração de poderes com a aprovação da Lei 4/2019 de 31 de Maio que estabelece oquadrolegaldosórgãosexecutivosdegovernaçãodescentralizadaprovincial.O objectivodesteartigoédediscutirasimplicaçõesdaLei4/2019de31deMaioparao sectordeeducaçãoe paraodesenvolvimentodo capitalhumano,comum estudodecaso daprovínciadeGazanosuldeMoçambique.
ALei4/2019de31deMaio“estabeleceosprincípios,asnormasdeorganização, ascompetênciaseofuncionamentodosórgãosexecutivosdegovernaçãodescentralizada provincial”(Artigo1daleiemreferência).Deacordocomoartigo4ecomonúmero3 doartigo11daLei4/2019de31deMaio,estaleivisaorganizaraparticipaçãodos cidadãosnasoluçãodosproblemasprópriosdassuascomunidades,promovero desenvolvimentolocal,paraalémdeaperfeiçoareconsolidarademocracia.
Aparticipaçãodocidadãonoseupaísincorporaentreoutros,aescolhadosseus representantesnosórgãosexecutivosdegovernação,afiscalizaçãodoseudesempenho, eaindaousufrutodosrecursoslocais.Alei4/2019de31deMaiodeixaclaroo imperativodaparticipaçãodapopulaçãoresidentenosplanosdedesenvolvimentolocal, oquepressupõenãosóaproactividadeeiniciativadoscidadãos,mastambéma existênciade capacidade técnicae intelectualparaos processos detomadadedecisão atinentes aodesenvolvimento localenacional.
Oprocessodedescentralizaçãotrazconsigooprincípiode desconcentraçãoque pressupõea transferênciaorigináriaoudelegação depoderes dos órgãos dahierarquia da Administração Públicaparaos órgãos inferiores do Estadoouparaos funcionários ou agentes subordinados (artigo12da Lei em citação). Paraalémdas autonomias administrativa, financeiraepatrimonial, os órgãos executivos degovernação descentralizadagozamdepoder regulamentar próprioquepermite aprovar regulamentos com carácter obrigatório nasrespectivas áreas dejurisdição.
Ocombateàpobrezaeareduçãodasinequidadessociaisconstituemmetas prioritáriasdoplanoestratégicodaprovínciadeGazaquepretendeveraté2027uma
Destaforma,oinvestimentonocapitalhumanoemergecomocondição sinequa non doprocessodedesenvolvimentonacional,juntamentecomoinvestimentonasinfraestruturas,napesquisaenainovação.Amudançadementalidadeparaoqueaestratégia nacionaldedesenvolvimentodesignacomo“mentalidadedecidadaniaactiva”ii nasvárias dimensõesdeactividadeformalouinformal,individual,interpessoalousociale colectivo,culturaloupolíticodoscidadãos,éimprescindívelparaoalcancedos objectivosdaestratégia.
Aquestãododesenvolvimentoderecursoshumanosadequadosàsnecessidades dedesenvolvimentodopaístemestadonaagendadegovernaçãoemMoçambique,oque resultounaelaboraçãodeumagamadedocumentosreguladoresedeplanificação. A EstratégiaNacionaldeDesenvolvimentodeMoçambiqueque cobreoperíodode2015a 2035apostanaindustrializaçãocomoaprincipalviaparaalcançaraprosperidade nacionaleacompetitividaderegionaleinternacional.Aindustrializaçãoquesealmeja estaancoradanosactivosnaturais,nosrecursoshumanosoumãodeobranacional especializada,eemtecnologiasapropriadas.Pretende-sequeesteprocessode industrializaçãodinamizeaeconomiaeimpulsioneodesenvolvimentodesectores nevrálgicoscomoaagricultura,apesca,eamineração,queseencontramentreos principaisactivosnaturaisdaprovínciadeGazai .
205N.º22022
AprovínciadeGazaaprovouoseuPlanoEstratégicoquecobreosanos20182027.Esteplanoestratégicoapresenta-secomoumreflexodavontadeexpressada população,dasorganizaçõesdasociedadecivil,dogoverno,dosparceiros,edosector privadovisandotornaraprovínciaresilienteconsiderandoosfenómenosecológicos cíclicosquetemafectadoosprojectosdedesenvolvimentodaprovíncia,comdestaque paraassecas,inundaçõeseventosfortesiii
206 N.º22022 provínciaatractiva,competitiva,territorialmenteesocialmentemaiscoesa,elivreda pobrezaedafome.Paratal,oplanoapontavárioseixosestratégicosparao desenvolvimentodaprovínciacentradosnasáreasdeagricultura,pecuária,pesca, conservaçãoeproteçãodoambiente,infraestruturasetecnologia,planificaçãoegestão integradadosrecursoscomdestaqueparaosrecursoshídricoseasenergiasrenováveis, eadiversificaçãodaeconomiacomenfoqueparaoagroprocessamento,serviços turísticoseaaquacultura.
O sector de recursos minerais é mencionado no âmbito da necessidade de fomento daindústriaextractivasustentáveledoconteúdolocal.Estudossobreaindústria extractivaeafinsemMoçambiqueevidenciamosdesafiosenfrentadospelogoverno moçambicanonanegociaçãoegestãodoscontratosdeprospecçãoeexploração,oque temcontribuídoparaosbaixosretornosqueopaísemgeraleaspopulaçõeslocaistem recebidodestescontratos.Estesestudosdestacamasdeficiênciasdosectorprivado nacionalnasuacapacidadeparainterviradequadamentenacadeiadevalordaindústria extractivaeafins,apesardosesforçosdogovernovisandoincrementaraparticipaçãodo sectorprivadonacionalcomo fornecedordebenseserviçosparaestaindústria.Acessoa crédito,isenções fiscais,reduçãodeimpostos sãoapontados porespecialistas comoparte dosconstrangimentos queimpedem asempresas moçambicanas,especialmente asPMEs (pequenasemediasempresas),desepotenciarempararesponderemasexigências impostaspelosmegaprojectos. Asquestõesdereassentamento,conteúdolocal,eos benefíciosparaascomunidadesnaszonasafectadaspelosprojectosdedesenvolvimento tambémcarecemdeatençãonocontextodeimplementaçãodosplanosde desenvolvimentoprovinciais.
Estáclaroqueosprocessosdedescentralizaçãoedesconcentração,aliadosa implementaçãocomsucessodasestratégiasnacionaiseprovinciaisdedesenvolvimento passamnecessariamentepelaexistênciaderecursoshumanosadequados,relevantes,em quantidade,comqualidade,eflexíveis,sejanavertentedeformaçãoprofissionaletécnica
DeacordocomoanuárioestatísticodeGazade2018,aprovínciatemumaárea de75709km2 comuma populaçãode 1422460habitantes, euma densidadepopulacional de18.3habitantesporkm2.Apenas30%dapopulaçãodeGaza éurbana,sendo145488 habitantesnacidadecapital,Xai-Xai.Osdadosdoanuárioestatísticode2018paraa província de Gaza indicam ainda que esta província tinha em 2017 uma esperança de vida aonascerde57,7anosdeidade,umaevoluçãosignificativados49.2registadosem2015. Gazaregistavaumataxademortalidadeinfantilde57,4por1000habitantesumaredução significativados75,8registadosem2015,considerandoqueataxademortalidade infantilnacionalsituava-senos66/1000habiv.Noentanto,algunsdestesindicadores continuamdesafiantescomparadoscomosoutrospaísesdaregiãoedomundo.Atítulo ilustrativo,dadosdoCIAFactBookpara2017indicamquenocontinenteAfricanoas MauríciaseasSeychellestinhamasmelhorestaxasdemortalidadeinfantilde 10/1000hab,enquantoqueaSomáliaregistavaumataxade95/1000hab.NaÁfricado SulenoBotswanaataxarondavanos30/1000hab.NaEuropaopaíscomaspiorestaxas eraaTurquiacom18/1000hab,enquantoqueemPortugaleReino Unidoataxarondava nos4/1000hab,sendoqueasmelhorestaxasrondavamos2/1000hab.OsEstadosUnidos tinhamumataxademortalidadeInfantilde6/1000hab,enquantoqueaChina,aIndiae oJapãohaviamregistado12,39,e2/1000hab,respectivamente.
207N.º22022
oudeformaçãoacadémicaviradaparaainvestigaçãoeinovação.Amaximizaçãodos activosnaturaisemGazapassapelaalfabetizaçãoemelhoriadaqualidadedaeducação aosváriosníveis,comdestaqueparaaformaçãotécnicaprofissionalesuperiornacadeia devalordossectoreseconómicoschavedaprovíncia.
Aalíneah)doartigo18daLei4/2019de31deMaiosobreasatribuiçõesda governaçãodescentralizadaremeteaeducaçãonoâmbitodoensinoprimário,gerale formaçãotécnicoprofissionalàgovernaçãodescentralizada.Aquestãoquesecoloca éa seguinte:QualéacapacidadedaprovínciadeGazadealcançarosseusplanostendoem contaohistóricodaformaçãoedesenvolvimentodequadros.
208 N.º22022
Comumaredeescolarde743escolasdoEnsinoPrimário1eumaestimativade 339098alunos,astaxasbrutasdeadmissãoedeescolarizaçãosituavam-seem134,7e 125,3,respectivamente,comparidadedegéneronaadmissãopeseemboraapopulação femininadaprovínciadeGazasesitueacimados54%.Emtermosdeensinosecundário geraleensinotécnicoprofissional,aprovíncia contavacom85242alunosem50escolas públicasdeensinosecundário,e4518alunosem9escolaspublicastécnicoprofissionais. AtaxadeanalfabetismonaprovínciadeGazasituava-seem28.8%em2017,com9036 alunosmatriculadosnaalfabetizaçãodeadultos.
Oanuárioestatísticode2018tambémindicaqueaprovínciadeGazatinhacerca de775603habitantesacimados15anos,eumataxadedependênciasituadaem96,8%, comumataxade dependênciadejovensde 86,8%v.NaEuropaa taxadedependênciade jovenséde24%eemPortugaléde21.5%.
Emtermosdeensinosuperior,aprovínciadeGazatemregistadoumaevolução emtermosdetaxasdeadmissão,noentanto,comparativamenteàsoutrasprovíncias,e considerandoassuaspotencialidadeseasnecessidadesimpostaspelosnovosdesafios decorrentesdadescentralizaçaoedaimplementaçãodeplanosestratégicosde desenvolvimento,osdadosestatísticosapontamparaumasituaçãodesafiante.Embora nopaísemgeralataxadeparticipaçãonoensinosuperiortenhaaumentadode4.9%em 2011para7.4%em2017,osdadosestatísticosdisponíveismostramqueataxade participaçãodosestudantesnaturaisdeGazanoensinosuperioremMoçambiquetem rondadoos1e2%entre2015e2017.DadosdaComunidadedeDesenvolvimentoda África Austral(SADC)de2015indicavamque6%dapopulaçãojovemtinhaacessoao ensinosuperiornaÁfricasubsaarianacomparativamenteaos26%dapopulaçãojovem quetemacessoaoensinosuperioranívelglobal.
Osdadosestatísticossobreosestudantesmatriculadosnasváriasinstituiçõesde ensinosuperiordeMoçambiqueprovenientesdasescolaspré-universitáriasdeGaza mostramumapresençamuitoreduzidadestesestudantesnoensinosuperior,comdados avariaremde0,5%em2003eatingindopicosem2013ondeseatingiuomáximode admissãode4%dosestudantesprovenientesdeescolaspré-universitáriasdaprovíncia daGaza, seguidosde 3%em 2014,2% em2015, e2.6% em2005 (Figura2). Noentanto, comparadosaosdadosestatísticosreferentesàadmissãodeestudantesnaturaisdeGaza aoensinosuperior,pode-seobteralgumconforto,poisesteindicadorrefere-sea estudantesnaturaisdaprovínciadeGazaqueconcluíramoensinopré-universitárioem Gazaounoutrasprovínciasdopaís.
Figura1.Estudantesdeescolaspré-universitáriasdeGazamatriculadosnasinstituiçõesdeensino superiormoçambicanas,2003-2017
0 50000 100000 150000 200000 250000 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017
Fonte:DesenvolvidoporDeniseMalauenecombasenosdadosestatísticosdoensinosuperiorde2003a 2017.
209N.º22022
TotalestudantesmatriculadosnoES
Estudantesmatriculadosqueconcluiramensinopre-universitarioemGaza
210 N.º22022
Fonte:DesenvolvidoporDeniseMalauenecombasenosdadosestatísticosdoensino superiorde2003a 2017.
2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015
Peseemboraexistamlacunasnosdadosestatísticosparaalgunsperíodos analisados,pode-se observarque emtermos denovos ingressosde estudantesnaturais da provínciadeGaza,osnúmerosmaisbaixosdototaldenovosingressosdeum determinadoanoregistaram-seem2008alturaemqueingressaramapenas314estudantes eosnúmerosmaisaltosregistaram-seem2013alturaemqueingressaramaoensino superior3951novosestudantescorrespondentesa11%dototaldosnovosingressosao ensinosuperioremMoçambique,seguidosdedescidassignificativasdenovosingressos aoensinosuperiorem2014e2015,com1852e2406novosingressosnaturaisdeGaza, correspondentesa4e5%respectivamente.Entretanto,osnovosingressosdeestudantes provenientesdeescolaspré-universitáriasdaprovínciadeGazamantiveram-seentre2e 4%dototaldenovosingressosaoensinosuperioremMoçambique,comopicoem2013
Novosingressosnaturais deGaza
Novosingressosqueconcluiram oensino pre-universitario emGaza
Figura2.NovosingressosasInstituiçõesdeEnsinoSuperiorMoçambicanasnaturais oudeescolaspréuniversitáriasdaprovínciadeGaza
TotaldenovosingressosnoES
0 10000 20000 30000 40000 50000 60000
Dadoshistóricosapontampara aexistênciadeum grandeêxodorurale migração laboraldaprovínciadeGaza,especialmenteparaaCidadedeMaputoeparaaÁfricado Sul.Tradicionalmente,osjovensdaprovínciadeGaza,especialmentedosexomasculino temsedeslocadoàÁfricadoSulembuscadetrabalhooumelhorescondiçõesdevida, umapráticaqueemtemposidosesteveassociadaaconsolidaçãodamasculinidade através do trabalho nas minas, mas também associado a busca de meios para o pagamento dolobolo,elementofundamentalparaaconstituiçãodafamíliavi.Questõescomoa
Osdadosestatísticosacimaapresentadoslevantamalgumasquestõespertinentes parareflexão.Quaissãoasrazõesdabaixataxadeparticipaçãonoensinosuperiordos naturaisdeGaza?Quaissãoasrazõesdosbaixosníveisdeparticipaçãonoensino superior dos estudantes provenientes de escolas pré-universitárias de Gaza? De que modo asautonomiasatribuídasàprovínciapeloprocessodedescentralizaçãopodemcontribuir paraqueGazaseposicionemelhornacoordenaçãooudirecçãodosprocessosde planificaçãoedesenvolvimentodosrecursoshumanosparaaprovínciaemfunçãodas necessidadesespecificasdaprovínciavisandoassegurarqueoscidadãospossamcumprir odesideratodefinidonaLei4/2019de31deMaio?
211N.º22022 ondeingressaram1382estudantesdasescolaspré-universitáriasdaprovínciadeGaza, correspondentesa4%dototaldosnovosingressosdesseano(Figura3).
AanálisedesagregadadosgraduadosnaturaisdeGazaouprovenientesdeescolas pré-universitáriasdeGaza,tendoemcontaogénero,afaixaetária,asáreascientíficas privilegiadas,otipoelocalizaçãodasinstituiçõesdeensinosuperiorpreferidas,osníveis académicosperseguidos,easbolsasdeestudoatribuídasaosestudantesnaturaisou provenientesdeescolaspré-universitáriasdeGazapodemdarumavisãomaisampla sobreaeficiência,qualidadeerelevânciadosistemagestãodaeducaçãoemGazatendo emcontaosobjectivospreconizadosnosdiversosplanosdedesenvolvimentoda província.
Asciênciasexactasetecnológicassãosuportesfundamentaisdosprocessosde produçãoagropecuária,de mineração,hidrocarbonetos,hidroeléctrica econstrução.Para alémdoscursosexistentesnasinstituiçõesdeensinosuperioraoperaremnaprovínciade Gaza,noâmbitodassuasautonomiasasinstituiçõesdeensinosuperiortêmdefinido quotasdeacessodeestudantesnaturaisdeGazaaoscursosouinstituiçõesderelevopara odesenvolvimentodaprovíncia.Umexemploilustrativoéosistemadequotas implementadopelaUniversidadeEduardoMondlane,noâmbitodonumero1doartigo4 daLei27/2009de29deSetembro,LeidoEnsinoSuperior,queabreapossibilidadede asinstituiçõesdeensinosuperiordefiniremascondiçõesdeacesso,acrescidasas condiçõesgeraisdefinidasnonumero5doartigo23domesmoinstrumentolegal.
212 N.º22022 prevalênciadoHIV/SIDAeoscasamentosprematurostambémpodemserincorporados nabuscadeexplicaçõesparaestesníveisdeparticipaçãodosnaturaisdeGazanoensino superioremMoçambique.
Dequalquerforma,etendoemcontaosnúmerosapresentados,estáclaroquea provínciadeGazadevepriorizaraplanificaçãododesenvolvimentodocapitalhumano querespondaaosdesafiosespecíficospropostosnoplanoestratégicotendoemcontaas necessidadesexistenteseosrecursosdisponíveis,incluindopossibilidadesdereformas no statusquo actualdosistemadeeducação.
Paraalemdaparticipaçãonoensinosuperior,aoutracomponentededestaqueé aqualidadeerelevânciadosprogramasformativos.Estesprogramasoucursosdevemser flexíveisdemodoaacompanharemaevoluçãodomercado,odesenvolvimentoda província de Gaza, e as mudanças impostas pela globalização e pela evolução tecnológica nomundo.Arígidezqueosprogramasformativosapresentamnaactualidadenãopermite estaflexibilidade,daíqueamassificaçãodaimplementaçãodeumaformaçãomodular, baseadanaresoluçãodeproblemas, eancoradanumsistemade créditosacadémicosseja relevante,paraassegurarainovaçãoeflexibilizaçãodoscurrículossemrecursoa
Aeducaçãotécnico-profissionalfazpartedasbandeirasdaactualgovernação, masosnúmerosdegraduadosnoensinotécnicoprofissionalemGazatambémnãosão bastantepromissores.Areformadaeducaçãoprofissionalemimplementaçãoqueprevê amassificaçãodaformaçãotécnica,prática,porcompetênciasemodularabre possibilidadesparaumamaiorprofissionalizaçãotécnicadoscidadãos,paraapromoção doempreendedorismoedoauto-empregooquesealinhacomosdiscursos governamentaisqueapelamaosjovensparaseengajaremnaproduçãoeno empreendedorismogerandoassim maispostosde trabalhoparaos jovens.Noentanto, as exigênciasinfra-estruturais,tecnológicas,dedocentes,edeconsumíveisparaa implementaçãodoscursosnoâmbitodareformasãoextremamentealtas,oquetem resultadonodesencorajamentodospotenciaisprovedoresprivadosquepretendam oferecerserviçosdeformaçãotécnicoprofissional.
Comumapopulaçãomaioritáriamentejovem,econsiderandoastaxasde dependência,aprovínciadeGazaprecisadepensarnãosónaformaçãodenovosquadros em áreas relevantes, mas também na retenção dos quadros existentes e na redução da fuga decérebrosatravésdepolíticasdeincentivoseemponderamentodosquadrosque incluemquestõescomoacessoacréditoehabitação.Acontrataçãoeremuneraçãode quadrosporméritoeporcompetênciaebaseadaemresultadoséfundamentalpara contrariaratendênciadosistemaactualcomumpesoderecursoshumanosnafunção públicasemtarefasnemcompetênciasclaras.Daíanecessidadedeavaliaçãodas competênciasdosquadrosjáintegradosnafunçãopúblicavisavisascompetências necessáriasparaoalcancedosobjectivosdosplanosdedesenvolvimento,demodoa requalificá-losacademicamenteetecnicamentesemprequenecessário.
213N.º22022 processosconstantesderevisãocurricular,queemMoçambiquetendemaserlongos, dispendiosos,causandoporvezesinstabilidadenosistemadeeducação.
Considerandoqueaparticipaçãoactivadoscidadãosnodesenvolvimentodas suascomunidadesrequerqueestescidadãosestejamdevidamentecapacitadosintelectual etecnicamente,énossoentenderqueestaseoutrasquestõesdevemfazerpartedos processosdereflexãodasestratégiasdeoperacionalizaçãodosplanos,estratégiase reformasaprovadas,poisodesenvolvimentodosrecursoshumanosécondição fundamentaldoseusucesso.
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Repúblicade Moçambique. EstratégiaNacionalde Desenvolvimento (2015-2035). Maputo,Julhode 2014.
Repúblicade Moçambique. EstratégiaNacionalde Desenvolvimento (2015-2035). Maputo,Julhode 2014.
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v Ibid,3.
216 N.º22022
ii Ibid, 13.
i República de Moçambique Estratégia Nacional de Desenvolvimento(2015-2035).Maputo, Julhode 2014.
iii Governoda Provínciade Gaza.Plano EstratégicodaProvíncia2018-2027. Linhasgerais.Gaza,na rota doprogresso.
217N.º22022
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