Paralelo 33 Flavia Krauss
Paralelo 33 Flavia Krauss
Paralelo 33 Flavia Krauss
Paralelo 33 Flavia Krauss 2015
Revisión de estilo
María Elena Monsalve Ercilene Vita Diagramación
Elizabeth Cárdenas Ilustraciones
Karen Peñaloza
Contacto: lajoyitaeditora@gmail.com www.lajoyitacartonera.blogspot.com
Reconocimiento-NoComercial-CompartirIgual 3.0 Unported (CC BY-NC-SA 3.0): Esta obra cuenta con derechos digitales Creative Commons: Permitido el uso parcial o total, no comercial, de esta obra haciendo referencia a la autora. Permite obras derivadas bajo la misma licencia. Revise: creativecommons.org
Quisiera que estos pedazos de piel fueran una ofrenda a la profesora que me alfabetizó, Tia Kazuko. Con su silencio me enseñó, por primera vez, que con nuestras propias manos podríamos hacer letras y, con estas letras, podríamos coser todo lo que todavía estuviera abierto o roto en el cuerpo. En una de las pocas veces que me acuerdo de ella hablando, me contaba que su nombre era muy común entre las niñas nacidas en Japón después de la Segunda Guerra Mundial. Me explicaba en aquella tarde de 1988 que Kazuko es una palabra que significa paz. Hiroshima y Nakasaki también están sobre el Paralelo 33. Cuenta la leyenda que cada estado o país que atraviesa el Paralelo 33 permite la pena de muerte en la contemporaneidad. Sin embargo, también se dice que el Éden justo se ubicaba en este paralelo.
Jesus replicou-lhe: Em verdade, em verdade te digo: quem n達o nascer de novo n達o poder叩 ver o Reino de Deus Jo達o 3:3
1
Deus que habita todo e cada detalhe, sei bem que tens insistido em me mostrar que ali onde eu mais rastejo é onde sou mais capaz de voar. Eu te sou grata, mesmo não te crendo à minha imagem e semelhança. Tenho te adorado como um deus de invisibelezas, no entanto entrevejo que voas – mesmo que minha intuição me diga que também te estremeces de prazer ao rastejar. Te agradeço porque hoje sei que não me sondas, assim como contavam as catequistas. Tu fazes muito melhor: me inflas, me enleveces e inflamas este meu corpo com ânsias de infinitudes. Benditas sejam as orgias dos répteis que se refestelam em comunhão com a terra molhada: elas arejam este solo sagrado em cima do qual as formigas se comprazem em trabalhar e alguns homens foram escolhidos para arar, adubar e plantar. Tudo é alimento, meu doce criador: e eu te agradeço porque nessas casas – as quais escolhi chamar de minhas – nunca me faltaram comida nem calor humano. Agradeço ainda por não faltarem cigarras constantemente me convocando tanto para o entorpecer das canções quanto para o transcender que é encharcar-se na chuva. Ensina-me a voar mais alto e dê-me resistência para voos mais longos, deus amado; tenho sangue quente como as aves e vontade de ver lá do alto da colina. Eu te peço com a fé dos peregrinos e a paixão dos que sabem que não têm nada a perder porque já perceberam que tudo está perdido neste mundo: ensina-me, professor. Ensina-me a construir meu próprio paraíso em cima da pedra mais alta, dentro da escuridão escandalosa que é a profundeza da minha pessoa.
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II
Uma vez me contou a Mariana que o Guto tinha dito em algum bar: escrever é difícil porque é da mesma natureza do amar. São construções doloridas porque exigem demolições. Em ambas as ações, o que se coloca em jogo, o que se coloca em risco é minha imagem de mim: para construir, preciso destruir um pouquinho daquilo que eu acredito que sou. Seria sempre com um pedaço da própria pele que se ama e que se escreve. Daí que dói, daí que incomoda, daí que endoidece. Mas de vez em quando a gente olha pra trás. E é tanta pele disfarçada de carta de amor deixada caída no chão que a gente se alegra, lembrando da lição das cobras: elas perdem a pele é para poder crescer. Tudo o que se escreve é também a escansão de uma carta de amor, da nossa grande carta de amor. Tudo o que faz uma biblioteca é colecionar cartas de amor, organizando-as por tema, por autor. Daí que não são poucos os que acham por aí que o paraíso é uma espécie de biblioteca. O paraíso é só mais uma entre tantas cartas de amor.
Paralelo 33 | 11
III
Uma amiga foi até Buenos Aires só pra ver na prática o que tinha aprendido nas aulas de tango da pauliceia desvairada. Uma semana na capital portenha. Chegou na milonga e sentou logo no balcão. Um rapaz a tirou pra dançar. Percebendo que ela não era dali, resolveu dar umas dicas: “Olha, eu só queria te dizer não é bacana você se sentar sozinha no balcão, acho que... Pode pegar mal.” Dali a pouco um senhorzinho a tira pra dançar. Ela efervescendo felicidade. Um terceiro homem naquela noite se aproxima: enquanto dançam, ele pergunta de onde ela conhecia o Tetê? “Tetê? Eu num conheço nenhum Tetê!” – responde minha amiga. Ele explica que Tetê era o senhor com quem ela havia dançado a música anterior: “Tem gente que vem do mundo inteiro só pra dançar com ele... Olha, acho que isso vai ser bom pra você, todo mundo viu que ele te tirou pra dançar e isso faz com que todos queiram dançar com você”. Minha amiga conta contentona que nunca dançou tanto tango na vida. Eu, toda vez que lembro dessa história, fico é pensando que cada música dançada com o Tetê – assim como todas as músicas dançadas, todos os textos escritos, todos relacionamentos vividos – vale não só pelo prazer da dança, mas pelo manancial de músicas dançadas que podem brotar daí. O Tetê morreu em menos de dois meses depois de aumentar absurdamente o valor do passe da minha amiga. E assim nos parecem todas as músicas bem dançadas: breves. Time is so old and love is so brief. Love is pure gold and time a thief, canta entorpecedora a Sarah Vaughan aqui no meu computador.
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IV
Esc[r]ava Um excesso desejante de recesso Decerto estrondo que ecoa dissonante e carente de estrutura Desatino, discrepância que dela destoa Precipitar na ribanceira: tar[ef]a que enleia Esg/rima, g/rito, acalanto, castelo de areia esclerose, estrangeira: uma escrita eslava Algum escand/alar que escamo/teia e escande seu des[p]ejar a estranhura Um se aferrar ao fogo que ateia, um se extraviar do estanque R/istmo pulsante. Se/cura Instante que incandeia Incêndio e arranque Re/lance e rasura Lenitiva textura vai tateando a Musa: me usa, sereia
Paralelo 33 | 13
V
Ele: Você tem alguma religião? Ela: Não. Ele: Ah, que bom! Ela: Bom, mas eu acredito que exista algo maior que a gente. Ele: Sim, claro! Os Estados Unidos. Risada compartilhada. Pelo sim, pelo não, ambos, naquela noite, em silêncio e em segredo, fizeram seus pedidos em oração aos Estados Unidos.
Ooobama nas alturas =)
Paralelo 33 | 15
VI
Pensava que a felicidade era coisa fina e cheia de harmonia, coisa mansa que dança meio música clássica. De repente, vai olhar um bem-te-vi e leva um puta tombo. Olha o joelho todo machucado, não sabe se levanta ou chora ou ri ou finge que não aconteceu nada.
Cai,
cai,
cai.
Ai,
ai,
ai.
Mas por fim aprende que felicidade é chacoalhão no cotidiano, é safanão que desativa o gps e te deixa meio sem saber pra onde ir.
Felicidade é não saber,
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VII Pielabras Pollera clausura y apertura que por extenuar se inaugura La procura de hebras aún sin aliento es en vano mentir en esta agrura: invariablemente me reviento Far[fu]llar en la fisura alcaloide en almíbar Me miento La aliteración como un lancinante eslabón El desenclavarse que esclarece: des/nudo, destellas en desubicación Exclamaciones Escalinatas de escalofríos Escándalos que nos explotan los líos El ahogarse en una cloaca: me desbarata Como um clavicordio clueco Clamo por algo de arrullo y calor: "Clave de sol, por favor" El vacuo, el vómito de su hueco Clowns me conculcan con estupor El habla me inunda, me hunde y me confunde sin pudor Como un escape, experienciamos canciones en vilo. Nos acarician. Sembramos el vacío de tales encrucijadas con letras, como si fueran gotas de rocío Paralelo 33 | 17
VIII
São Paulo já lhe havia ensinado que viver era um romance de muitos e muitos finais. Só que naquela sexta-feira ela se tocou: a palavra narrativa estava grávida da palavra ativa. Pensou que amar também deveria ser essa capacidade de se renunciar ao papel de narrador para poder confiar na força dos feitos que se narram e se enlaçam. Respirou fundo, fechou os olhos e serenou: gesto de agradecimento. Em São Paulo pode faltar chuva, pode faltar água, mas essa é uma cidade encharcada de amor.
Flavia Krauss | 18
IX
sau.da.de – 1. sustantivo proveniente de la lengua portuguesa que ha atracado en la vida que se convencionó decir hecha en lengua española. 2. es un globo rojo lleno de aire entre la garganta y el estómago. 3. es un cerrar constantemente los ojos para salir volando nadie sabe dónde. 4. es un deseo de manipular el calendario como si fuera la pantalla touch de un ordenador. 5. es un silencio húmedo, tibio y macizo. 6. es una forma de contacto sin palabras. 7. es un abrazo en la ausencia de tu cuerpo. 8. es sentir que en el corazón te crecen alas y ya no quiere vivir en el pecho.
Paralelo 33 | 19
X En el principio nos expulsaron. Solo después vino el verbo, para nombrar esta acción que era la expulsión. Y entonces los verbos se hicieron responsables por darles nombres a todas las ex-pulsiones. Pero al cuerpo no le aquietaron este placer en rememorar todos los lugares de los cuales lo habían expulsado. Por ello a Adán le gusta acordarse del paraíso como si realmente fuera paradisíaco vivir allí como una planta más. Cuenta la leyenda, aún en el Antiguo Testamento, y al sur del Mar Muerto, que Dios un día decidió destruir Sodoma y Gomorra. Pero quiso salvar a Lot y a su mujer, expulsándolos de la ciudad. Lo triste de la historia es que la mujer volvió la cabeza hacia atrás para mirar el lugar de dónde los habían expulsado y se convirtió en una estatua de sal. La biblia iguala Eva a la mujer de Lot – Edith era su nombre – y explica que a ambas las castigaron por desobedecer a Dios. Como si Dios, que todo lo sabe y todo lo ve, no supiera que las mujeres en todo el curso de la Historia solamente han fingido obedecer, lo que es muy distinto de obedecer. Eva supo – en el sentido de sentir el sabor – que de la expulsión se haría el movimiento, y del movimiento la pasión, el trabajo y la procreación a partir del amor por los iguales, que igualmente habían sido expulsados del paraíso. Edith probó con su cuerpo que – aunque el nombre con el cual se hizo conocida nos diga que era la mujer de Lot – no estaba, ni nunca había estado, con su marido, y eligió quedarse atrapada en el pasado. Gracias a Eva seguimos pariendo nuestros hijos con dolor. Seguimos. Total que es siempre con dolor que se ama. Qué lindo sería si el amor fuera un supermercado con estos armarios afuera, para que allí dejemos, cerrado con llave, el dolor antes de entrar en el amor. Gracias a Eva, y al poco control que hace la utopía del capitalismo en esta zona, seguimos entrando y saliendo del súper del amor con miles de bolsas: saqueamos las estanterías, comemos allí, con quienes comulgamos en nuestra avidez, hambre y urgencia, volvemos a la casa con las bolsas llenas de amor, de todos tipos y marcas y tamaños, le damos de comer a nuestros hijos y adanes, todavía nostálgicos y un poco paralizados por el recuerdo del paraíso perdido. Y nos despertamos de madrugada para comer un poco más. Y otra vez más. Y otra. Y otra. Y otra. Qué rico es haber nacido como una desterrada hija de Eva.
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XI
A la fortaleza de Monik, una de mis musas preferidas Estamos todos enfermos. ¿Este mundo es o no es un gran hospital? Siempre me calma mucho pensar que estamos acá para curarnos de algo. Además, sabemos que toda vida se forja en lucha constante en contra la muerte: traemos la muerte adentro como si fuera una semilla en desarrollo; a cualquier hora puede explotar. Tic-tac-tic-tac. Pero hay que saber separar. Hay quienes no están enfermos, sino que son enfermos. Es que entre el verbo ser y estar existe una elección. To be or not to be: that’s the question. Nunca había pensado que es una alegría haber nacido en el seno de una lengua que sabe separar el ser del estar.
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XII
A professora começa a aula organizando estes aparelhos de tecnologia: notebook, caixas de som, data show. Ela tinha essa cara de professora dura na queda. Os alunos vão falando sem parar antes da aula começar. Conecta o notebook nas caixas de som e no data show e liga tudo de uma vez só. O messenger instalado no computador começa a funcionar sozinho e um alguém começa a escrever pra professora, mas sem chamá-la de professora. Era uma frase atrás da outra: to com muitas saudades, queria te ver, te amo muito, e assim por diante. A professora perdeu a cor e os alunos a vontade de conversar: ficaram olhando em silêncio aquela conversa toda quase secreta sendo projetada na parede inteira, como se fosse a matéria a ser copiada, enquanto ela ia tentando esconder o escrito da parede, desligar o computador e fechar os olhos dos alunos, tudo ao mesmo tempo agora. Geeente! A ajudante do dia, uma menina de cabelo liso e preso, foi bem rápida e colocou a mão na frente daquela lâmpada de onde sai a luz a ser projetada: devolvendo a paz para a professora, os alunos não viram mais nada, o silêncio se fez senhor, mas lhe roubou um pouco da professora aquele ar de senhora. E, daquela aula, daquele tempo em que ainda existia o messenger, ficou a lição: mesmo os problemas bem grandes, que ocupam a parede da sala de aula toda, podem ser resolvidos com a palma da mão de cada um, mesmo da ajudante mais mirrada, se a gente souber bem certinho o lugar correto a partir do qual eles são projetados.
Paralelo 33 | 23
XIII
Do amor todos têm sua versão Eu só tenho este versinho - torto, magro e gago não mata a fome, mas também faz pouco estrago
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XIV
Ela fazendo salada de frutas, ia picando tudo quanto é fruta, sentada na mesa. O marido ao lado, lembrando algum episódio de uns 20 anos atrás. Ela: Nossa, lembra como a gente era pobre nessa época? Ele: Era? A gente ééé pobre, mulher. Ela: Ah, num fala assim. A gente era muito mais pobre. Ele: É, a gente era miserável. Ela: Não, Deus castiga. A gente era pobre, agora já num é. Ele: É, agora somos classe média baixa, beeeem baixa então. Ela ri, pensa um pouquinho, olha pras frutas e decide: Acho que vou colocar mais uma banana pra render a salada. Ele ri concluindo: E ela achando que a gente num é pobre...
Paralelo 33 | 25
XV
Ciudad de Córdoba. Una madre y una hija charlan amigablemente dentro del colectivo. La madre: Sabes, María, quisiera conocer este zoológico donde toda la gente va a sacar foto al lado del león. La hija: Ah, creo el Zoológico de Luján, está en Buenos Aires. Pero, madre, es que al león la gente le da medicinas para que esté dormido y no ataque a nadie, es una escena triste porque el animal está drogado. La madre: Aaaaah, pero da igual. Nosotras también estamos.
Flavia Krauss | 26
XVI
En cuanto sea una lingüista reconocida, lo primero que voy a hacer es proponer que la palabra “siempre” deje de tomar parte del grupo de los adjuntos adverbiales de tiempo, pasando a ocupar la categoría de los adjuntos adverbiales de intensidad. Me parece una gran injusticia dejar que la poética y profunda palabra “siempre” aparezca siempre taaaan cargada de obligaciones y superficialidades. Y así, podríamos todos realmente ser felices para siempre,
Paralelo 33 | 27
XVII
Sempre me achei uma pessoa dada a interiores. Nasci no interior de São Paulo, com pais do interior de Minas Gerais. Escolhi morar no interior do Mato Grosso. Sou caipira por nascimento e opção. Pois estava eu no interior, no interior dentro do interior que é a casa dos meus pais, quando uma amiga que mora lá pras bandas de Campinas me liga. Um destes casos em que a senda se bifurca, a pessoa deixa uma parte de si continuar no mesmo caminho, mas faz com que outras partes sigam por onde bem entenderem. Causo contado nos mínimos detalhes, choro do lado de lá. E eu sem saber muito bem o que dizer. Pensei que, às vezes, mesmo estando entre interiores, não é fácil saber por onde o coração está indo em disparada. É, é que existem corações velocistas. Dizem por aí que a palavra coragem tem a mesma raiz da palavra coração. Pois bem, além de corajoso e conhecedor de seu próprio interior, o ser teria que ser bom cartógrafo também. É que não tem google maps que dê conta de dizer o caminho correto. E tudo isso como se o coração fosse assim tão distinguível dos outros órgãos do corpo humano. Já reparou que as pessoas-maiakoviskis que se sentem toda coração nunca conseguem sossegar com as questões do coração? Fiquei pensando que mesmo para alguém dado a interiores não é fácil olhar para seu próprio interior. Quem gosta de viver no interior, por questão de perspectiva, tem dificuldade para prestar atenção nele. Aprendi com essa ligação do fim de semana que pra seguir o caminho do coração é preciso não sair correndo atrás dele: existem corações que gostam de brincar de pega-pega. 1,2,3, acabou minha vez.
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XVIII
Paralelo 33 | 29
XIX
La tristeza es un inmenso florero chino, de porcelana azul, con dibujo de flores pintadas con color naranja. La tristeza es un florero sin flores y lleno de polvo que solemos poner arriba de un pedazo de tierra baldía, con miedo de que allí nos nazca una flor (desde siempre este miedo a que nos regalen una planta: ¿y si no sé cuidarla y la dejo morir?). La tristeza es un florero chino sin utilidad que insistimos en no tirar porque es una herencia familiar. La tristeza es este miedo a lo nuevo. Mi tristeza no merece mi respeto.
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XX
Mato Grosso. Tangará da Serra, meu sertão. Sábado, eu indo almoçar na casa de uma amiga. Caminhada, aquele sol lascado. No ponto de ônibus, a Marildete, que havia sido minha aluna. Ela havia virado professora: ia contando com alegria onde ficava a escola, sobre os alunos e da parceria com a Celestina para pensar e preparar tudo - parceria que vem desde a época da graduação. Festa nossa no meio da avenida. Fiquei foi é pensando que se lagarta realrealmente pode virar borboleta eu não sei. Mas não existe coisa mais bonita nesse mundo que aluno criando asa e se virando por aí.
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XXI
Cuenta la leyenda que Corina Kavanagh era una joven burguesa que vivía a principios del siglo XX en Buenos Aires: se enamoró perdidamente de uno de los hijos de la familia Anchorena, y, por suerte, era correspondida en su amor. Pero, lo triste era que los Anchorena pertenecían a la aristocracia bonaerense y los Kavanagh no. Así que, la madre del hombre Anchorena (Díos mío, ¿dónde estaba la hombría de este hombre?) se opuso tajantemente a la relación y no permitió que esta amistad con ventajas culminara en un matrimonio. Los Anchorena vivían en un palacete en la Plaza San Martín y se jactaban de la vista que tenían de la Iglesia del Santísimo Sacramento, construida por la familia para que funcionara como panteón familiar. Por odio, por rabia, por despecho, en el año de 1934 Corina Kavanagh decide construir un rascacielos entre la casa de los Anchorena y la admirada iglesia. El único pedido que hizo a los constructores era que la construcción impidiera completamente la vista que la amada-odiada familia tenía de la iglesia. En tan solamente catorce meses construyeron el rascacielos que por muchos años fue el más alto de Sudamérica. El edificio está taaaan pegado a la iglesia que para verla bien es necesario estar justamente en un pasaje llamado Corina Kavanagh, que vivío allí, por muchos años, reactualizando con su cuerpo, con su rascacielos, con su querer, el arquetipo del aparcamiento amoroso entre los montecchios y los capuletos. Evita, te ruego que tus hijas, tanto kavanaghes como anchorenas, peróns o capuletos, recibamos con honor el epíteto de desterradas y podamos usar tanta energía para salir por allí, caminar, conocer, carcajear y cambiar el mundo, y no necesitemos así encauzar tanto querer en la construcción de cadenas y candados para ponerlas en nuestros hijos y adanes amados. Malditos sean los enamorados de Paris que con sus puentes llenos de candados nunca consiguieron llevar ninguna pareja a ninguna parte.
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XXII
Yo era tan feo – pero taaan feo – que cuando nací el doctor me tiró para arriba y gritó “si vuela es un murciélago”! – decía un chico feo, intentado conquistar a una chica guapa, que casi se moría de tanto reírse a carcajadas en el colectivo de Buenos Aires que me llevaba a La Boca.
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XXIII Há oito anos eu fui para o Mato Grosso. Há dois estou em São Paulo, nova e temporariamente. Pro doutorado. Desde que cheguei em Tangará da Serra, uma fenda se abriu em mim. Lembro que liguei pra minha casa pra dizer: A cidade é linda. É como se eu tivesse querido viver aqui toda minha vida. Vou deixar meu emprego em São Paulo e vou ficar com a vaga daqui sim. Neste primeiro dia eu conheci o Isaías em algum corredor da Unemat. Lembro que já à noite, neste primeiro dia, eu o levei até a porta do hotel onde ele ficaria só pra que na sequência ele me levasse até a pensão onde eu dormi. Fomos do hotel pra pensão e da pensão pro hotel algumas vezes sem muita vontade de chegar. A gente caminhava só pra gente ir se conversando neste jeito peripatético de quem só pensa, só aprende e só ensina enquanto anda. Jeito que a gente tem. Tarefa bonita é a de sair por aí reconhecendo amigo pelo mundo, enquanto anda, enquanto presta atenção, enquanto compartilha caminho. Entrei no mestrado uns três meses depois. As portas começaram a se abrir. Descobri que quando uma porta vai abrir, você não precisa forçar. Descobri a palavra destino, e também duvidei dela. Descobri que por onde a gente vai passando, nossas famílias vão se formando, se desfazendo e se reconfigurando. Descobri que se a gente não contasse com a bondade de desconhecidos a gente estaria perdido neste mundo. Descobri que gostava de cachoeira e cupuaçu. Vi pela primeira vez algum referente para a expressão latifúndio monocultor: a soja simulando um mar. Conheci o maior assentamento do Movimento Sem Terra na América Latina. A Organização Internacional do Trabalho descobriu trabalho escravo perto de onde eu trabalhava. Descobri que onde existe ser humano, existe briga e burrice. Descobri que eu mesma vivo em uma briga meio burra comigo mesma. Descobri que a gente usa a palavra meio pra eufemizar nossa própria burrice. Pensava em ser um ser humano partido ao meio. Hoje olhei pro meu celular, vi ele tem dois chips: um de São Paulo, outro do Mato Grosso. Pela primeira vez, entendi que isso não é uma divisão. Isso é uma soma. Eu estava era errando de operação. Entendi que posso ir usando esse sinal de mais pra ir montando as peças do meu quebra-cabeça: um quebra-cabeça é uma peça mais outra mais outra mais outra mais outra. Um quebra-cabeça é uma conta de mais onde cada peça que é somada reconhece bastante bem qual é o seu lugar e ajuda as outras peças a ocuparem o seu próprio. Um quebra-cabeça é uma conta de mais bem encaixada. Reconhecer que se é uma coisa e também outra coisa já deve ser o começo de algum encaixe que não machuque. On the road estamos.
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XXIV
Todas as pequenas coisas que perdemos têm um pedaço da grande perda. E todas as pedras reatualizam o medo dessa perda. Conta a lenda urbana que quando a gente perde o medo de perder, ganha um sorriso na cara e declara que tudo está perdido. E daí que pode sair recitando por aí: tinha uma perda no meio do caminho. Tinha uma perda e eu encontrei carinho.
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XXV
Segunda-feira. Tua tutora marca uma reunião pra hoje mesmo, às 17h e diz: “qualquer coisa, me liga”. Você sai correndo pra comprar um chip da Argentina, que você ainda não tem. Aproveita e leva a máquina fotográfica, pra ver se arruma uma bateria na rua. Compra o chip, o moço gente boa vai arrumando teu celular, tirando o chip antigo, colocando crédito. Você pergunta: “onde eu consigo uma bateria pra máquina fotográfica?” A senhora que está atrás de você se mete toda boazinha na conversa: “Minha amiga tem uma loja de fotos aqui perto, ela vende bateria. Eu posso te levar lá.” No meio do caminho a senhora se surpreende: “Ah, você é brasileira? Você acredita que minha amiga também é?!” Papo vem, papo vai, a amiga brasileira pergunta se eu já arrumei uma manicure. Daí, ela me indica a melhoooor manicure que ela já viu no mundo: a Josy. É sábado e lá vou eu querendo ficar de unha vermelha. É um bairro longe, longe do meu. O motorista não conhece nenhuma das ruas nem nenhum dos pontos de referências que eu tinha. Começo é a ficar preocupada. Daqui a pouco, alguém puxa minha mochila. Olha pra trás, uma mocinha perto dos 11 anos rindo tanto que o olhinho até fechava. Ela me pergunta: “você falou Calle Pública D?” Digo que sim. Ela aponta a irmã, que também está rindo e diz: “A gente vai lá pertinho e pode te deixar onde você tem que ir”. Nunca vou me esquecer da cena, eu e as duas menininhas embaixo do meu guardachuva. Dámaris y Bianca. Aquela garoa gelada e avó delas vindo atrás da gente. Eu apertando a campainha da casa da Josy, elas me abraçando e me desejando tudo de melhor por aqui. Coisa que acho bonito nessa vida é quando a gente solta o guidão da bicicleta e ela começa a acertar o caminho.
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XXVI
Quisiera ser una chica CUÁ-TI-CA Aprendí este fin de semana que la palabra cuática es una onomatopeya del sonido que hacen los patos (cuac, cuac, cuac!). Pensé entonces: quisiera ser esta palabra saturada de consonantes oclusivas que, como los fuegos de artificio, explotan, encandilan, pero están prohibidos. Quisiera tener esta A larguíiisima, gigante, tajante, que cierra la esdrújula palabra cuática. Quisiera ser una mina cuática. Pero no. Lo que pasa es que a mí me tocó ser esta mina uterina, de interiores, de alcoba, de peceras, de flujos hacia adentro, que descansa sobre papeles, frontándose en contra palabras. Con las palabras quisiera hacer una fogata para poder descender, descongelarme de mi misma. Me esculpí a mí como este culto a las carcajadas que rompen el silencio y al amor a los secretos: siento que los secretos se escriben, se inscriben para que sigan trabajando sin trabas, pero así, ( en-se-cre-to). Los secretos son sagrados y mi corazón teme mucho que exploten en el aire para hacer ruido, y nada más. No, yo nunca quise ser una chica cuática. Hoy es un lunes de luna nueva, soy una brasileira que ayer dormía en Chile y hoy ha amanecido en Argentina: qué delicia miles de veces descubrirme una chica líquida,
Flavia Krauss | 38
XXVII
Losers Descubro en Buenos Aires que no solo Jesús murió a los 33 años: también Evita Perón murió a esta edad. De cáncer en el útero. En la víspera de su cumpleaños, Regina miró el lío de la habitación compartida en el hostel y me dijo “a veces me pregunto: ¿realmente es necesario pasar por esto?”. Este año voy a cumplir 33. A lo mejor madurar sea mirar la propia vida y preguntarse “¿necesito pasar por esto?” Pero, lo que pasa es que persiste la pregunta: “¿Qué hago yo con las ganas de pasar por esto?” Las ganas nos niegan a diario el derecho a descansar. Lo bonito es que tantas ganas nos han de librar de descansar a los 33 años. Tantas-tantas-tantas ganas: un día hemos de transformar las ganas en el verbo ganar.
Paralelo 33 | 39
XXVIII
A los tres años de edad me regalaron mi primera bicicleta, un modelo alemán, muy común en los ochenta en Brasil: una monareta. Era roja. En una noche de navidad me dejaron sola en la habitación de mis abuelos maternos, que todavía no vivían en el cementerio, para que me encontrara con la bicicleta nueva. Tuve miedo. Miedo a la cama matrimonial vacía, inmensa, con aquella muñeca y su sonrisa inmóvil entre las almohadas blancas. La muñeca me hacía sospechar por primera vez de la muerte: los cuatro abortos de mi abuela, las dos nenas que perdió para el sarampión. Miedo al rosario portugués colgado en la pared pálida: hecho con madera oscura, pesado, surreal en su grandeza, pero sin ganas, cansado de cargar aquella cruz cristiana. Miedo al Papá Noel, miedo a que volviera porque se había olvidado algo: viejo, obeso mórbido, rojo, inmenso, lleno de frío, terrorífico, tan lejos de mi infancia en aquel diciembre tropical, tan cerca de muchos misterios que yo no alcanzaba comprender. En esta época vivía yo en una avenida de doble vía, por donde pasaban los colectivos. Del otro lado de la avenida todavía no estaba asfaltado: el barrio crecía junto con los miles de niños que ahí nacían. Allí mi papá me enseñó a andar en bici: me sostenía por el portaequipajes mientras yo pedaleaba. A veces escuchaba su voz a lo lejos y entonces sospechaba que ya no tenía el apoyo de sus manos; volvía la cabeza hacia atrás, lo veía corriendo: sonreía mientras decía seguí, seguí, seguí pedaleando. Me desequilibraba por miedo y me estrellaba en contra el suelo. Tardé mucho tiempo entre el aprender a andar en bici sola y el entender que ya había aprendido a pedalear sin ningún apoyo sonoro. Por favor, decíme algo, lector. Sostenéme por encima del sillín de esta soledad. Dicen los gramáticos que toda palabra es en potencia el principio de una oración.
Paralelo 33 | 41
XXIX
Coloca o disco na vitrola Banho de Lua, nós dois, oh, Cupido Só um carinho e depois ficar contigo, mas tem alguém espionando no sofá. Minha cabeça dá mil voltas Fico sonhando beijinho escondidinho Love Me Tender, dançar com meu brotinho E fecho os olhos para o tempo não passar
É que tempo é um trem estranho: toda vez que eu escuto “Festa do Amor” da Patrícia Marques é como se eu tivesse dançado essa música na casa da Cibele no último sábado. E a música é de 1987. Lembro que eu ainda não era alfabetizada. Assim que a música começava dizendo “No livro de leitura que você me deixou, havia um bilhetinho falando de amor”, eu meio que me afligia: Nossa, e se alguém me mandar um bilhetinho e eu ainda não souber ler? Naquela época pensava que os livros poderiam vir com um bilhetinho falando de amor. Eu, palerma, nem sequer suspeitava que todos os livros são um bilhetinho falando de amor, talvez para alguém que ainda nem tenha nascido. Os livros, bem como todos os bilhetes de amor, são drones que ficam por aí rodando, rodando. Um dia, quem sabe, produzam efeitos. Enquanto isso, a gente coloca os discos na vitrola. Enquanto isso, o tempo lava, o tempo passa e o tempo amassa. Enquanto isso. Enquanto isso me encontro. E é isso.
Flavia Krauss | 42
XXX “Como me pierdo en el corazón de algunos niños, me he perdido muchas veces por el mar. Ignorante del agua voy buscando una muerte de luz que me consuma” Lorca
A Mar des va
cío
río Cómeme en en/cantos: quisiera adentrar el o[rdena]dor Prostituirme en ex/tácticas palabras. Poseer para podrirte Vaticinarte en virosis. Amar[rar]te aunque sea en v[er]ano ordenar en estos atrios los deseos, lamer los lúgubres celos Desquiciar a Diotima y a esta descabida duda de Desdémona Sentimientos por viles venas. Vociferarte en v[el]oces Ganas Verte otra vez en vana volupia que revuelca la vida y me socava Vente. Me reviento. Flavia [se] parte. El mar se mueve y engaña Un en[bus]te me at[rac]a en un puto cliché: “Quisiera ser marinero” ¿Pensaríamos en di[ner]os? A[cto]res en antropofagias de febreros Es que me metes miedo al hacerme pensar feroces efluvios de E[ne]ros Una verdad que es ha[n]cha. ¿Por qué me vomitaste esta revancha? Acá[l]mame. Disuelve la si[re]na que me con/sume atr[off]iada. No pensemos en nada.
Paralelo 33 | 43
XXXI
"Tudo concorre pra me confundir, as palavras sendo o que há de pior. E é delas, ó meu Pai, é delas que necessito. Não me deixe sem palavras. Não me basta contemplar, necessito ouvir o que vejo, ainda que um vocativo, uma vogal alongada até a rouquidão. Ouve-me, Senhor, ouve-me, Senhor é igual a: calaime, Senhor, serenai meu coração" Adélia Prado
“Pai, afasta de mim esse cálice”. A dios, con odios susurro en portugués Desmiente, despiadadamente destempla tambores y me im/presiona Hacia unas artesanías que invento para reventarme esta estupidez, Pa' callarme pese la insensatez. Mientras me reinvento col/lares me miento una niebla os/cura, extraña, estoica en el cerebro El cerebro un incierto caballo que nunca cansa de cabalgar Este cuerpo: un esclavo, escándalo se queriendo al mar Me mueve una pi[sto]la s/imp[ost]ura para dis/parar estúpido peligro impune, un porvenir put[refac]to y complace en no llegar. Puzzle que me posee, pese sepa que algunas piezas están perdidas Espera. Acercarse. Me escupe un español Para alejarse, algarabía: goce angosto A[rres]tar que me tatúa con látigo causa calambres incluso en esas cordilleras Andes andamios esas cicactrices embalsan el Fort-Da ensambla Me a[fi]las el afán Ala y se aleja enseña y esconde menea y menosprecia Free/cuentas Infiltras Fort-Da Sondeas. Ronroneas Sofía. Se fía en tener-te juego, el Fort-Da. A[f]loja en este farfullar. Falla lo fuerte Fenece, se acongoja en su concha r/esta concha es la casa donde vivimos Ca[nc]er. Somos solos seres ensimismados La concha me esconde. Te escande. El Fort-Da. Una fama que con los cronopios se rinde a r[etr]asos Cielos Calipso Recelos Circe Requiebro Cíclope en lapzos
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XXXII
Quarta-feira de cinzas, quase quarentas anos. Desde sempre se guardando para quando o carnaval acabar. Chegou a pensar - às vezes com prazer, às vezes como dever - que este dia nunca chegaria. Mas, naquele café da manhã, na calmaria do seu quarto, depois de tantos quintos dos infernos, se deu conta que o que havia tomado como cárcere poderia ser sua própria casa. Aceitou as grades das linhas e margens do papel, a prisão da linguagem, a escravidão da caneta e lhe escreveu uma carta. Escreveu aquela carta com a urgência de quem sai pra rua para uma manifestação; como se fosse sua rebelião. E foi assim que se desfez esse era uma vez. Aprendeu que as cartas de amor são cantos de resistência. Naquela manhã pode fechar a janela: sabia que poderia abrila quando quisesse,
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Era madrugada. Le puso la mano en la vagina mientras ella dormía y le dijo: mira cómo estás mojada. Ella se despertó y pensó: pero si es el semen del amor que hicimos antes de dormirnos. Pensó en decírselo, pero ya habían empezado a tocarse como si fueran una serena sinfonía. Mientras sus cuerpos se fusionaban, supo que el amor era esta cosa que es nuestra pero que pensamos ser del otro. El amor es el otro lado del espejo que nos pone en movimiento. Y los movimientos son inefables.
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Flavia Krauss | 46
P a r a l e l o F l a v i a
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K r a u s s
Primera Edici贸n de 50 ejemplares hechos a mano, usando cart贸n reciclado de Chile, por La Joyita y sus amigos y amigas. Se imprimi贸 en Agosto de 2015 ::Estaba lloviendo::
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Ultílogo Manifiesto Somos una cartonera independiente, que edita, produce, comercializa y promueve obras de literatura emergente, en formatos estéticamente atrayentes y de factura económica. Nos interesa fomentar la identidad nacional y latinoamericana; nuestras acciones se orientan a la creación, transmisión y discusión de valores e ideas, así como a la formación de lectores, a través de redes de distribución propias y colaborativas. Nuestra visión es acoger el trabajo de ilustradores, encuadernadores, diseñadores y otros profesionales de áreas diversas, para hacer del libro un objeto único, en que la literatura se relaciona multidisciplinariamente con otras artes y oficios. Buscamos impulsar la difusión e impacto de las obras publicadas y sus autores, sin importar su soporte, dándoles un contexto crítico y proyección en los medios locales. Lj