Parque Linear Camará

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE ARQUITETURA CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO (TFG)

Elisa Pedrosa Silva Bastos Orientadora: Nayara Amorim Co-orientador: Marcos Rodrigues

Consiste em um projeto urbano para a cidade de Salvador com a proposta de um Parque Linear no canteiro central da Avenida Juracy Magalhães com o trecho do Rio Camarajipe. 02

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FOTO: ELISA BASTOS

Este trabalho é resultante da pesquisa elaborada para o Trabalho Final de Graduação (TFG) para obtenção do título de Arquiteta e Urbanista pela Faculdade de Arquitetura da Universidade Federal da Bahia, em 2018.2.


É com muita felicidade que encerro mais esta etapa da minha vida, na Faculdade de Arquitetura. Foram tantos aprendizados, em fases tão diferentes e que contribuíram tanto para quem sou hoje e meu modo de ver o mundo. Gostaria de agradecer a Deus por todas as conquistas e oportunidades que me proporcionou. Aos meus pais, Rita e Silvino, minha equipe de apoio, que estão sempre do meu lado me dando carinho e ajuda. Ao meu irmão, por sempre me ajudar quando preciso. Agradeço ao Pedro Chezzi, por ser meu parceiro de todas as horas e por todos os conselhos e incentivos. Agradeço a todos os amigos que fiz na FAUFBA, que me acompanharam desde o início ou que fiz durante a trajetória, por tudo que compartilhamos. Agradeço especialmente àqueles sempre muito solícitos a me ajudar, principalmente durante este TFG. Agradeço aos amigos da vida, tanto aqueles que moram perto quanto aqueles que moram distante, por todo o suporte, atenção e carinho. Gostaria de agradecer à todos os profissionais que passaram pela minha tragetória dentro da Faculdade ao longo das disciplinas, aos funcionários da biblioteca e do colegiado que me ajudaram e por todos aqueles dispostos a me orientar e compartilhar ideias para a elaboração deste trabalho (Aline de Figueiroa, Marcos Queiroz, Carlos Alberto Querino, Francisco Ulisses, Rodrigo Almeida, Vagner Damasceno, Carl von Hauenschild e Sean Bradley). Por fim, agradeço a minha orientadora Nayara Amorim, por toda dedicação, aprendizado e engajamento, e ao meu co orientador Marcos Rodrigues, pelos direcionamentos e ideias.

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“Todos devem ter o direito a espaços abertos, facilmente acessíveis, tanto quanto têm direito à água tratada. Todos devem ter a possibilidade de ver uma árvore de sua janela, ou de sentar-se em um banco de praça, perto de sua casa, com um espaço para crianças, ou de caminhar até um parque em dez minutos. Bairros bem planejados inspiram os moradores, ao passo que comunidades mal planejadas brutalizam seus cidadãos.” (RICHARD ROGERS para prólogo do livro CIDADE PARA PESSOAS, de JAN GEHL, 2010) 04

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6.

Diagnóstico ....................................................................................................... 6.1. Mobilidade 6.1.1 Fluxo de Transportes Motorizados 6.1.2 Fluxo de Transportes Não Motorizados 6.2 Fatores do Meio Ambiente 6.2.1 Áreas Verdes 6.2.2 Águas 6.3. Utilização do espaço pelas pessoas

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7.

O projeto: Parque Linear Camará ............................................................. 7.1. Diretrizes projetuais 7.1.1. Matriz SWOT 7.2. Estudos de caso 7.2.1. Rio Cheonggyecheon, Seul 7.2.2. Parque Madureira, Rio de Janeiro 7.2.3. Parque Capibaribe, Recife 7.3. Processo de Criação 7.3.1. Justificativa do nome 7.3.2. Configuração do Parque 7.3.3. Formas de relação Parque x Pessoas 7.4. Conceito Infraestrutura Verde e Fitorremediação 7.5. Apresentação do Programa Arquitetônico 7.6. Pontos de Apoio e outros atrativos 7.7. Ampliações, cortes e perspectivas 7.8. Escolhas de espécies de Paisagismo 7.9. Materiais e Mobiliários 7.10. Participação Popular 7.11. Proposta de solução alternativa ao BRT 7.12. Etapas futuras do projeto

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8.

Considerações finais ......................................................................................

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9.

Referências Bibliográficas ............................................................................

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SUMÁRIO 1.

O tema ............................................................................................................. 1.1. Justificativa para a escolha do tema 1.2. Objetivo do trabalho

2.

Introdução .......................................................................................................

3.

Área de Intervenção e Área de Influência ........................................... 3.1. Localização 3.2. Breve histórico da Área de Intervenção 3.3. Caracterização da área existente 3.3.1. Bairros do entorno 3.3.2. Uso predominante do solo 3.3.3. Hierarquia Viária

4.

Vetores Urbanos ............................................................................................ 4.1. Mobilidade 4.1.1. A escala humana na mobilidade 4.1.2. Cenário atual em Salvador 4.2. Meio Ambiente 4.2.1. Rios Urbanos e Áreas Verdes 4.2.2. Cenário atual em Salvador 4.2.3. O Rio Camarajipe e a Bacia do Rio Lucaia 4.3. Espaços Públicos 4.3.1. Parques Lineares como solução sustentável 4.3.2. Cenário atual em Salvador

5.

Projetos existentes para a área ............................................................... 5.1. Projeto Corredores de Transporte Público Integrado – BRT Trecho Lapa/LIP (Ligação Iguatemi Paralela)

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O TEMA

1.

O TEMA

Este trabalho traz como tema a requalificação urbana da área de estudo com despoluição de trecho de rio urbano. A área de estudo escolhida é o canteiro central situado entre duas avenidas homônimas de grande fluxo de veículos e de sentidos opostos, a Av. Juracy Magalhães Jr, a qual possui em sua parte central um trecho do Rio Camarajipe. Sendo assim, esta área se configura de maneira linear. Entende-se por requalificação urbana o conjunto de ações para a melhoria da qualidade de vida da população, por meio da construção e recuperação de equipamentos e infraestruturas, a fim de valorizar o espaço público com medidas de dinamização social e econômica através de melhorias urbanas, de acessibilidade ou centralidade (MOURA, et. Al., 2006), assim, dando nova função, diferente daquela pré-existente, ao trecho em estudo. 1.1 JUSTIFICATIVA PARA A ESCOLHA DO TEMA Como moradora da área em estudo, escolhi este tema por conhecer de perto as necessidades, problemas e potenciais da área em questão. Sempre acreditei que o canteiro central da Av. Juracy Magalhães Jr. poderia ser utilizado como espaço público de qualidade para os bairros do 06

entorno que, mesmo apresentando configurações tão diferentes, carecem de áreas públicas de lazer. Uma área ampla com um rio em sua parte central, que é um dos mais importantes da cidade, e muitas árvores que proporcionam uma sombra agradável, são características que potencializam o possível uso deste espaço que, infelizmente, é usado hoje somente por quem quer cortar caminho. Hoje, o canteiro central apresenta-se como uma ilha isolada entre duas avenidas movimentadas e, seu entorno, pela precariedade das calçadas e o baixo fluxo de pedestres, é inseguro. Acredito que esta região poderia se tornar uma área de lazer e de permanência. E porque não uma área de passagem também? Não temos o costume de andar em nossa cidade pela falta de infraestrutura voltada para o pedestre, pois faltam calçadas de qualidade e condições favoráveis como a sombra, por exemplo. Nesta região as distâncias entre os equipamentos importantes e seus bairros do entorno são curtas, e poderiam muito bem ser vencidas de maneira tranquila se estes fossem conectados. Outro motivo que me impulsionou na escolha do tema foi o início das obras do projeto dos Corredores Integrados de Transporte de Salvador, o BRT, que vai de encontro a todas as possibilidades de uso do canteiro central como espaço público e área de

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conexão para o pedestre e ciclista. Um assunto tão relevante para a construção do meu trabalho final de graduação, que me levou a participar de debates e audiências públicas para melhor entender o projeto e suas críticas, além de compreender o posicionamento de diferentes grupos de pessoas. Desta forma, concluí que esta região precisa de uma alternativa de projeto que possibilite manter o equilíbrio entre pedestre, o transporte coletivo, o transporte individual, o espaço público e o meio ambiente. Fato que me motivou a apresentar a proposta constante deste trabalho. 1.2 OBJETIVO DO TRABALHO O objetivo deste trabalho é propor um Parque Linear no canteiro central da Avenida Juracy Magalhães Jr., que funcionará como vetor de mobilidade, preservação do meio ambiente e criação de novo espaço público.


IN TRODU ÇÃO

2.

INTRODUÇÃO

Em seu livro “Morte e Vida das Grandes Cidades”, Jane Jacobs (1961) afirma que as ruas e suas calçadas, e os principais locais públicos, são os órgãos mais vitais de uma cidade. Estes fatores são diretamente responsáveis pela impressão que as pessoas têm sobre o espaço e, assim, podem tornálos interessantes ou não. Logo, ruas vivas e atraentes são menos inseguras que ruas monótonas e sem movimento. Estes espaços tornam-se locais de lazer, de encontro, de prática de esporte, e contribuem para a melhor qualidade de vida e a construção da identidade local, uma vez que passam a participar da vida das pessoas que por ali vivem e por ali transitam. Desta forma, as ruas, calçadas e locais públicos, são ainda mais vitais quando são constituídos por áreas verdes. A vegetação e hidrografia de uma cidade são importantes para a manutenção da biodiversidade além de contribuir para o bem-estar das pessoas, através da regulação climática, qualidade do ar, sombreamento, dentre outros benefícios. Assim, cabe ao homem preservá-las a fim de usufruir dos seus benefícios, e cabe ao planejamento urbano inserir e respeitar estes espaços na malha urbana.

a cidade de modo a aproveitar as qualidades e peculiaridades de cada local, potencializando seus usos, assegurando que a cidade, assim como um organismo vivo, funcione de maneira harmônica e que respeite as necessidades dos seus órgãos vitais. Dada a multidisciplinaridade do tema, este trabalho se estrutura a partir de três vertentes urbanas, a de mobilidade (ruas, calçadas e seus fluxos); meio ambiente (vegetação e hidrografia) e espaços públicos, esta última, como uma ponte entre as duas primeiras. Logo, o primeiro momento deste trabalho irá apresentar a área de estudo, contextualizar e fundamentar o cenário atual de Salvador a partir destas vertentes. O segundo momento irá analisar este local, a fim de se ter o diagnóstico da área. E, por fim, o terceiro momento irá propor o projeto, considerando a contextualização, a fundamentação teórica e a análise urbana feita nas etapas anteriores.

Vê-se no projeto urbano a chave para se planejar PARQUE LINEAR CAMARÁ

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3.

ÁREA DE INTERVENÇÃO E ÁREA DE INFLUÊNCIA 3.1. LOCALIZAÇÃO A Área de Intervenção está localizada na parte sudeste de Salvador e é composta por uma das principais avenidas da cidade, que conecta importantes localidades. O projeto a ser proposto irá se desenvolver na área do canteiro central entre os dois sentidos da Avenida Juracy Magalhães Jr. Esta avenida conecta o acesso ao Itaigara (Avenida Antônio Carlos Magalhães) até o Largo da Mariquita, no Rio Vermelho, através do trecho da avenida conhecido como Rua do Canal, que, para este Trabalho Final de Graduação, não será englobado na Área de Intervenção por sua diferente configuração. Logo, este trabalho irá se desenvolver na área do canteiro central e áreas adjacentes, referente a toda extensão das avenidas, exceto pelo trecho citado anteriormente. Para maior compreensão da Área de Intervenção, delimitou-se a Área de Influência, que consiste nos bairros do entorno e os principais equipamentos, a fim de analisar as dinâmicas e fluxos da região. Para a delimitação desta Área de Influência, foi traçada uma poligonal a partir de um raio de 1km, uma vez que se aceita esta distância como adequada para o 08

deslocamento a pé neste trecho, pela configuração de suas ruas.

relação a este primeiro tem-se 2km de extensão e em média 60 metros de largura (canteiro central).

Desta forma, como pode ser visto com base na Figura 2 a Área de Influência possui 284ha e a Área de Intervenção possui 57,11ha, área que se estende até a primeira faixa de lotes além das avenidas nos dois sentidos.

Os principais equipamentos existentes na Área de Intervenção são o Hospital Aliança, o Mercado do Rio Vermelho e a Embasa (Empresa Baiana de Águas e Saneamento).

A Área de Intervenção é compreendida pela área do canteiro central e seu entorno adjacente. Em

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FOTO 1: Construção da Avenida ACM, 1969. Fonte: amoahistoriadesalvador.com

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3.2. BREVE HISTÓRICO DA ÁREA DE INTERVENÇÃO

Corrigir os defeitos da Cidade, ordenar seu desenvolvimento e melhorar a qualidade de vida da população objetivos do plano por Mário Leal Ferreira

A Avenida Juracy Magalhães Jr. pertence ao conjunto de obras viárias de duplo deslocamento, as avenidas de vale e cumeada, elaboradas pelo Escritório de Planejamento de Urbanismo da Cidade do Salvador - EPUCS na década de 1940. Está configurada ao longo do trecho do Rio Camarajipe e quando idealizada possuía o nome de Avenida do Camorojipe. Foi construída em 1971 (sua primeira parte) e em 1978 (sua segunda parte). Por conta das perspectivas econômicas e da explosão demográfica da cidade, na década de 1940, Salvador se encontrava em um cenário de expansão horizontal e para prever soluções diante deste contexto, contemplando também o viés sanitarista, o município contratou o engenheiro Mário Leal Ferreira, diretor geral do EPUCS. O enfoque do escritório era traçar diretrizes de zoneamento, notadamente para a habitação e os serviços públicos, e as normas para centros cívicos, os centros de abastecimento e as vias de comunicação, desenvolvendo estudos de urbanismo, com base em investigações científicas, históricas e sociais. Segundo A. S. Scheinowitz (1998), que contribuiu para o macroplanejamento da cidade junto ao EPUCS, a equipe de Mário Leal Ferreira se inspirava no conceito de que deve ser estabelecido um sistema integrado, no qual se articulem duas redes

de avenidas: uma para tráfego relativamente lento de acesso aos bairros e que ocorreria nos espigões que seriam interligados por viadutos; e um outro que se desenvolveria no fundo dos vales, onde seriam construídas vias expressas na forma de parkways. Logo, a ideia era de que a rede de vales isolasse o fluxo de carros do fluxo de pedestres, uma vez que os pedestres circulariam nas cumeadas onde se situariam as habitações e circularia o transporte coletivo. Assim, as avenidas de vale seriam conjugadas com as redes de esgoto, os canais de

drenagem e a distribuição de água, facilitando a manutenção e a ampliação deste sistema. Entretanto, por conta do crescimento da cidade, esta dinâmica se alterou e o as avenidas de vale, antes planejados só para carros hoje possui fluxo de pedestres, pois estes não mais se encontram somente nas cumeadas. Portanto, pela atual configuração, reflexo do novo tipo de ocupação e uso da cidade, há a demanda para articulação de pedestres e ciclistas nas avenidas de vale.

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3.3. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA EXISTENTE 3.3.1. BAIRROS DO ENTORNO Estão inseridos os seguintes bairros: Brotas, Candeal, Itaigara, Pituba, Santa Cruz, Chapada do Rio Vermelho, Vale das Pedrinhas, Nordeste de Amaralina e Rio Vermelho. Com base nas Figuras 4 e 5 percebe-se que estes bairros possuem grande diferença de densidade populacional e de renda.

no final da década de 1980 e hoje se configura como um bairro de classe média e alta que concentra condomínios de prédios. O Candeal Pequeno é um bairro habitado por famílias de baixo poder aquisitivo, uma vez que

Vale apena ressaltar que este mapa foi elaborado com base nos dados retirados do livro “Caminho das Águas em Salvador” (2010), portanto foram considerados os bairros principais e suas abrangências de acordo com esta referência bibliográfica. Entretanto, alguns bairros possuem localidades que apresentam características diferentes do bairro inserido, e, geralmente, são conhecidas por nomes próprios. Este é o caso do Horto Florestal, localizado em Brotas, e Cidade Jardim e Candeal Pequeno, localizados no Candeal. O Horto Florestal é um bairro de alto poder aquisitivo. Seu metro quadrado é o terceiro mais caro de Salvador e estava avaliado em R$8.108 reais em 2017, segundo o DMI (Dados do Mercado Imobiliário) - VivaReal para o Jornal Grande Bahia. A Cidade Jardim, que surgiu como um condomínio 12

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surgiu a partir da ocupação de escravos recém libertos (SCHEINOWITZ, 1998). Tornou-se conhecido nacionalmente através das intervenções do músico Carlinhos Brown, que trouxe projetos sociais para o bairro, através do Candyall Guetho Square.


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3.3.2. USO PREDOMINANTE DO SOLO De acordo com a Figura 6, percebe-se que o uso residencial é o mais relevante da região. O uso comercial também é significativo, entretanto se conforma predominantemente nas margens da Av. Juracy Magalhães Jr. O estabelecimento comercial de maior porte é o Mercado do Rio Vermelho, que possui boxes de venda de produtos, além de restaurantes e lanchonetes. Pertencem a área importantes e significativas Unidades de Saúde, como o Hospital Aliança e o Centro Médico Salvador, além do Hospital Tereza de Lisieux. Este último não pertence à Área de Influência, entretanto está bem próximo. A Unidade de Ensino mais significativa dentro da área de intervenção é a escola Hora da Criança, patrimônio cultural imaterial, uma vez que é o Centro de Arte para Educação mais antigo da Bahia, com cerca de 500 crianças, 80% delas são moradores do Vale das Pedrinhas*. As demais unidades de ensino estão por dentro dos bairros da margem direita do Rio Camarajipe.

Guetho Square, localizado no bairro do Candeal, na localidade conhecida como Candeal Pequeno. Esta casa de shows foi criada em 1996 pelo músico Carlinhos Brown, que trouxe para o bairro os ensaios do bloco Timbalada além dos projetos sociais ,como a Escola de Música Pracatum e o projeto Tá Rebocado. Os fragmentos de vegetação são significativos, por conta principalmente do Parque Joventino Silva, que concentra uma vegetação consolidada e se conforma como um parque urbano reconhecido pelo Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano do Município de Salvador – PDDU (2016). Vale ressaltar que os fragmentos de vegetação se encontram em maior quantidade nos bairros à esquerda do Rio Camarajipe do que nos bairros mais densos à direita.

FOTO 4: Embasa.

A Embasa (Empresa Baiana de Águas e Saneamento), é a concessionária de serviços de saneamento básico de quase todo o estado da Bahia e pertencente ao Governo Estadual.

FOTO 2: Mercado do Rio Vermelho.

Em relação ao Uso Cultural, tem-se o Candyall

Fonte: mercadodoriovermelho.com. Acesso em novembro de 2018.

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FOTO 3: Hospital Aliança. Fonte: hospitalaliança.com.br. Acesso em novembro de 2018.

Fonte: atarde.uol.com.br. Acesso em novembro de 2018.

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* Segundo Maria José Rocha, sócia benemérita da Hora da Crianç,a em matéria para o Blog do Rio Vermelho (2016).


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3.3.3. HIERARQUIA VIÁRIA A Avenida Juracy Magalhães Junior conecta as regiões do Iguatemi à região do Rio Vermelho, através da parte da avenida conhecida popularmente como Rua do Canal. Conecta a região do Iguatemi à avenida Anita Garibaldi através do cruzamento da Rua Lucaia. A avenida em estudo ainda faz a conexão destes locais à região de Brotas, através das ladeiras que unem estas partes mais baixas às partes mais altas deste local. As principais avenidas neste estudo são: a Avenida Antônio Carlos Magalhães (ACM), que faz as conexões da Av. Juracy Magalhães Junior com a região do Iguatemi e com o bairro do Itaigara, ao norte e à leste, respectivamente, e a Avenida Garibaldi, que conecta a avenida em estudo com a região da Barra após o cruzamento do Lucaia.

FOTO 5: Vista da Avenida ACM sentido Itaigara. Fonte: Cláudia Ferrari (2018).

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4.

VETORES URBANOS

4.1. MOBILIDADE Segundo a Lei Federal de Mobilidade Urbana (2012), entende-se Política de Mobilidade como o conjunto organizado e coordenado dos modos de transporte, de serviços e de infraestruturas que garantem o deslocamento de pessoas e cargas no território do Município. Portanto, é a garantia do direito de ir e vir das pessoas pela cidade. Os transportes urbanos podem ser públicos/privados e coletivos/individuais, assim como motorizados/ não motorizados. Sobre a infraestrutura da mobilidade urbana têm-se as vias, logradouros, estacionamentos, ciclovias, calçadas, terminais, sinalização e instrumentos de fiscalização. O Art. 5º da Lei de Mobilidade Urbana (2012) estabelece que a “Política Nacional de Mobilidade Urbana está fundamentada nos seguintes princípios: I - acessibilidade universal; II - desenvolvimento sustentável das cidades, nas dimensões socioeconômicas e ambientais; III - equidade no acesso dos cidadãos ao transporte público coletivo; IV - eficiência, eficácia e efetividade na prestação dos serviços de transporte urbano; V - gestão democrática e controle social do planejamento e avaliação da Política Nacional de Mobilidade Urbana; VI - segurança nos deslocamentos das pessoas; 18

VII - justa distribuição dos benefícios e ônus decorrentes do uso dos diferentes modos e serviços; VIII - equidade no uso do espaço público de circulação, vias e logradouros; e IX - eficiência, eficácia e efetividade na circulação urbana.”

Portanto, conclui-se que o planejamento urbano é a chave para atender os pontos previstos na Lei de Mobilidade Urbana (2012), beneficiando sempre o pedestre, zelando pela acessibilidade e segurança do seu deslocamento. 4.1.1. A ESCALA HUMANA NA MOBILIDADE Se as pessoas, e não os carros, são convidadas para a cidade, o tráfego de pedestres e a vida urbana aumentam na mesma proporção (GEHL, 2010). Segundo Jaime Lerner, no prólogo para o livro “Cidade para Pessoas” de Jan Gehl, a mobilidade é um componente essencial à saúde da cidade. O meio urbano não pode ser pensado para os carros, pois o ritmo do encontro é o ritmo da caminhada. As cidades precisam ser desenhadas para que o espaço do pedestre seja determinante e que outros modos leves de deslocamento, como a bicicleta, também sejam favorecidos. Portanto, o transporte público precisa ser de qualidade, oferecendo confiabilidade, conforto e dignidade ao usuário para que este opte pelo seu uso ao invés do transporte privativo individual.

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Com o crescimento acelerado das cidades, a escala humana vem perdendo sua importância no planejamento urbano, o que é evidenciado pela falta de boas condições ao pedestre como espaço limitado, obstáculos, ruído, poluição, risco de acidentes e má condição das calçadas. Por conta destas condicionantes, a tradicional função da cidade como área de encontro e fórum social para moradores foi reduzida, ameaçada ou descartada. (GEHL, 2010) Desta forma, quanto mais o planejamento urbano privilegiar a escala humana, dando assim mais condições para a pessoa se deslocar a pé, de bicicleta e pelo transporte público, mais pessoas o farão. Quando adotada esta escala, as cidades têm os seguintes benefícios:


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4.1.2. CENÁRIO ATUAL EM SALVADOR Pela pesquisa de Origem e Destino realizada em 2012 pelo Departamento de Infraestrutura de Transportes da Bahia – DERBA, a maior parte das viagens realizadas na Região Metropolitana de Salvador é feita pelo modo a pé (35,3%) seguida pelo ônibus municipal (31,5%). Entretanto, a infraestrutura das calçadas na cidade é precária e o sistema de transporte público por meio de ônibus não tem qualidade. Vê-se a falta de integração entre modais e a prioridade do desenho urbano voltado para o transporte individual. Vale ressaltar que esta pesquisa foi feita antes da consolidação do sistema metroviário da cidade e dos aplicativos de carros compartilhados. Salvador possui programas como o “Salvador Vai de Bike”, criado em 2013, que visa o incentivo da locomoção através da bicicleta com a criação de ciclovias e estações de aluguel deste meio de transporte. Entretanto, muitas destas ciclovias não estão integradas ao sistema de transporte público e predominam aquelas de deslocamentos esportivos e de lazer. Segundo o especialista em sustentabilidade urbana, o alemão Steffen Ries, gerente da Academia de Inovação de Freiburg, durante sua visita à Salvador em 2014, a mobilidade urbana é um dos principais problemas da cidade, uma vez que as pessoas evitam o uso do transporte público pela falta de qualidade, segurança e conforto, além do longo tempo de espera. Para o

especialista, Salvador deveria investir mais na criação de vias exclusivas para transporte público. Da mesma forma, de acordo com Juan Pedro Moreno*, deve-se implementar modos e serviços de transporte público que provoquem a migração dos usuários do automóvel para o transporte público. Segundo Carlos Alberto Querino**, outro fator que contribuiria para a mobilidade é a melhoria das calçadas, através de sua manutenção, implementações de sistemas antiderrapantes e acessíveis para pessoas com mobilidade reduzida. *Professor do Departamento de Engenharia de Transportes e Geodésia da Escola Politécnica da UFBA ** Arquiteto e urbanista especialista em Gestão das cidades e administração de Transportes Urbanos

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4.2.

MEIO AMBIENTE

4.2.1. RIOS URBANOS E ÁREAS VERDES O estado de qualidade em que se encontra o corpo hídrico poderá contribuir para melhorar ou piorar o bem estar social e a saúde pública, sendo fontes de lazer e contemplação, bem como de mau cheiro, enchentes e doenças (SALGADO, 2014).

Os rios urbanos apresentam grande importância para o funcionamento da cidade. Por integrar, junto às áreas verdes, um sistema complexo com reflexos na dinâmica socioambiental da cidade, desempenham a função de controle da temperatura e de regulação da incidência ou regime de chuvas, além de possibilitar a drenagem ou escoamento superficial das águas pluviais. Vale ressaltar que a natureza do uso e ocupação do solo urbano tem grande interferência na qualidade das águas. Entretanto, no decorrer dos anos com a crescente urbanização, os rios urbanos foram sendo degradados e muitas vezes esquecidos e dessa forma, segundo Rosa Kliass*, passaram de marco paisagístico a áreas de conflito e deterioração ambiental. O processo de degradação dos rios ocorre através dos impactos ambientais causados por, principalmente, a impermeabilização do solo, por conta da ocupação desordenada de suas margens, e pelo lançamento do esgoto sem tratamento, o que 20

altera a qualidade de suas águas. Desta forma, para que haja desenvolvimento sustentável é importante que exista a cobertura significativa dos serviços de saneamento (SALGADO, 2014). Como “solução” a estes problemas, as cidades tamponam ou canalizam seus rios, por se acreditar que desta forma, eliminando-os da paisagem urbana, os problemas devido a contaminação e alagamentos serão sanados. Portanto, segundo o Projeto Manuelzão**, a canalização dos rios é feita em nome da adequação dos cursos d’água ao crescimento dos municípios. Por canalização, entende-se o revestimento das laterais ou do fundo dos rios com materiais resistentes, como concreto e pedra. Quando um rio é canalizado suas águas correm mais rápido, evitam-se inundações em certos trechos, entretanto passam a ser mais destruidoras mais a frente, uma vez que chegam com mais velocidade. Esta medida ignora as características naturais do curso d’água e compromete a regulação climática, a biodiversidade e a vida da fauna e flora ali presentes. O ciclo hidrológico também é prejudicado, pois a água não infiltra no solo e consequentemente não chega aos lençóis freáticos, e, assim, interfere na regularização da quantidade de água dos rios e córregos e, por fim, no escoamento subterrâneo até os mares e oceanos. Quando a água não infiltra, ela é retida

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na superfície e provoca inundações nas áreas mais baixas. O tamponamento dos rios vai além da canalização, uma vez que consiste no recobrimento de um rio, já canalizado, por placas de concreto. Segundo o professor doutor Lafayette Dantas Luz***, a galeria quando fechada, por conta da cobertura dos rios, cria um ambiente sem oxigênio, quente, úmido e sem a presença de luz, o que propicia o desenvolvimento de comunidades de animais e insetos indesejáveis, além do aprisionamento de gases. Vale ressaltar que esta medida requer custos mais altos de limpeza e manutenção.

FIGURA 10: Esquema de regulação climática (elaborado pela autora adaptado de RIVERO 1986). * Arquiteta Paisagista fundadora do ABAP (Associação Brasileira de Paisagistas) para o prefácio do livro Rios e Cidades, GOSRSKI (2010) **Projeto Manuelzão, da UFMG, projeto da universidade de medicina que acredita que a saúde não é apenas uma questão médica, mas sim fortemente ligada a condições ambientais. ***Professor do Departamento de Engenharia Ambiental, UFBA, em entrevista para o artigo Rios Sufocados por Cleide Nunes, CREA- BA sem data, disponível em http://www.creaba.org.br/ Artigo/300/Recursos-hidricos--Rios-sufocados.aspx


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4.2.2. CENÁRIO ATUAL EM SALVADOR Salvador possui 12 bacias hidrográficas: SeixosBarra/Centenário; Camarajipe; Cobre; Ipitanga; Jaguaribe; Lucaia; Ondina; Paguari; Passa Vaca; Pedras/Pituaçu; Ilha de Maré; Ilha dos Frades. E 9 bacias de drenagem natural:Amaralina/Pituba; Armação/Corsário; Comércio; Itapagipe; Plataforma; São Tomé de Paripe; Stella Maris; Vitória/Contorno; Ilha de Bom Jesus dos Passos (SANTOS et al, 2010). A conformação dos corpos d`água de Salvador de hoje muito se diferenciam dos existentes na fundação da cidade, por conta da alteração do trajeto dos rios, do desmatamento da mata ciliar, ocupações irregulares sobre os leitos, da poluição e das obras de canalização, que eliminaram estes rios da paisagem urbana. Segundo o professor Luiz Moraes*, todos os rios de Salvador estão poluídos, por conta do manejo e tratamento incorreto dos esgotos até serem lançados no mar, através dos emissários, que comprometem a qualidade dos rios. Desta forma, os rios de Salvador são confundidos com canais de esgoto que, para “solucionar” os impactos na paisagem, são tamponados. Percebe-se o tamponamento dos rios como medida frequente de solução diante da degradação existente, ao invés de projetos de requalificação que visam o equilíbrio entre o homem e o meio

ambiente. Dessa forma, os projetos de urbanização de Salvador que propõem o tamponamento dos rios têm a justificativa da criação de áreas de lazer como pistas de caminhada, quadras esportivas, quiosques, ciclovias e parques. Entretanto, a instalação destes equipamentos não suprime a preservação do meio ambiente. De acordo com o professor Lafayette Dantas, o custo da cobertura e pavimentação da parte superior dos canais fluviais poderia ser revertido em outras intervenções de infraestrutura, uma vez que chama a atenção para a construção de áreas de lazer mantendo o curso natural do rio.

professor Lafayette, pode aumentar a temperatura de bairros como o Imbuí; Rio Lucaia, em 2013, na Avenida Vasco da Gama, foi tamponado para a criação de uma via exclusiva para ônibus em sua superfície. * Professor do Instituto de Engenharia Ambiental da UFBA e PhD em Saúde Ambiental.

Ter mais uma praça é desejável, mas não em cima de um rio (Professor Doutor Lafayette Dantas Luz) Os principais rios comprometidos por obras de canalização são os seguintes: Rio dos Seixos, em 2008, foi tamponado na Avenida Centenário através da obra denominada de macrodrenagem, infraestrutura e urbanização, que tinha como objetivo a requalificação do sistema de drenagem a fim de acabar com os alagamentos nos períodos de chuva; Rio das Pedras, no Imbuí, em 2010, foi tamponado com a justificativa de sanar os problemas de alagamento, presença em quantidade de mosquitos e mau cheiro. Seu tamponamento, segundo

FOTO 6: Rio dos Seixos antes e depois do tamponamento para construção de pista de caminhada. Fonte: https://riosdesalvador.blogspot.com. Acesso em setembro de 2018. PARQUE LINEAR CAMARÁ 21


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Essas medidas vão de encontro à Lei Orgânica Municipal (2006), no capítulo referente ao Meio Ambiente, em que alega a competência do Município em proteger o meio ambiente e combater a poluição em qualquer de suas formas, assegurando assim o direito de todos ao meio ambiente equilibrado. Esta legislação ainda assegura ao Município o dever de proteger a fauna e a flora, vedadas as práticas que coloquem sua função ecológica em risco. Segundo Ordep Serra, antropólogo integrante do fórum A Cidade Também é Nossa, a prefeitura é acusada de não cumprir a legislação cometendo desta forma um crime ambiental e caminhando para o sepultamento dos rios da cidade. Infelizmente, o tamponamento dos rios muitas vezes é pedido pela população, que, pela falta de acesso à informação, acredita ser a melhor solução para se acabar com os alagamentos, além de que muitas não tem o conhecimento de que no canal se passa um rio, que apesar de estar poluído, não é um canal de esgoto. Para complementar esta situação, segundo o engenheiro Edgarde Gonsalves Cerqueira*, no cenário de Salvador, a manutenção dos canais só é efetuada nos trechos de maior visibilidade, nas grandes avenidas de vale, enquanto que os bairros periféricos, onde estes canais servem de depósito de lixo doméstico, se veem sem assistência alguma. 22

4.2.3. O RIO CAMARAJIPE E A BACIA DO RIO LUCAIA O Rio Camarajipe recebe este nome por causa da planta Camará Lantana camara, presente em abundância nas margens deste rio, de frutificação avermelhada que deixava suas águas na cor vermelha, dando assim nome ao bairro do Rio Vermelho, onde se encontra a foz natural deste rio (SANTOS et al 2010). Segundo dados do livro “O Caminho das Águas em Salvador” (SANTOS et al 2010), a Bacia do Rio Camarajipe possui 35,877km2, correspondendo a 11,62% do território municipal de Salvador, sendo a terceira maior bacia em extensão do Município. Por perpassar muitos bairros densos da cidade, se apresenta como a bacia mais populosa do município. O rio possui 14 km de extensão da sua nascente, na região de Pirajá, nos bairros de Marechal Rondon, Boa Vista de São Caetano, Calabetão e Mata Escura, até a foz no bairro do Costa Azul. Desta forma, cruza a cidade no eixo norte/sul o que o torna um dos rios de maior importância para a cidade. Seus principais afluentes são o Rio Lucaia e o Rio Campinas, este último, também chamado de Bonocô, se encontra totalmente canalizado (SANTOS et al 2010). Pelo fato de ser a bacia mais populosa e de cortar a cidade, o Rio Camarajipe perpassa por muitos

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bairros de baixa renda, muitos se classificam como Zonas Especiais de Interesse Social (ZEIS), pelo PDDU (2016), que não possuem infraestrutura nem saneamento básico, logo, recebe o lançamento de esgotos sanitários in natura e de resíduos sólidos, o que contribui para o seu mau cheiro e degradação. Logo, o Rio Camarajipe, assim como outros rios de Salvador, se transformou em um condutor de esgoto que desagua no mar, contribuindo ainda mais para o comprometimento da balneabilidade de algumas praias da cidade. Além disso, o curso do Rio Camarajipe desde sua nascente, margeia em grande parte a rodovia federal, BR-324, assim como a Av. Antônio Carlos Magalhães (Av. ACM) e a Av. Juracy Magalhães Jr., avenidas de fluxo intenso, e desta forma recebe poluição proveniente da queima de combustíveis fósseis por automóveis. Segundo MACHADO (2016), na bacia do rio Camarajipe podem ser empregadas várias técnicas de drenagem sustentável, que minimizem o escoamento das águas pluviais e que propicie o reabastecimento do lençol freático, como por exemplo, a utilização de pavimentos porosos nas margens do rio, bem como um revestimento permeável para canais, rearborização em torno do rio, criação de áreas de lazer inundáveis (praças, jardins), dragagem e limpeza recorrente das galerias de águas pluviais. * Professor titular de Engenharia Civil na UCSal, em entrevista para o artigo Rios Sufocados por Cleide Nunes, CREA- BA sem data, disponível em http://www.creaba.org.br/Artigo/300/Recursoshidricos--Rios-sufocados.aspx


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Sua foz natural desaguava onde hoje se tem o Largo da Mariquita, porém, na década de 1970 foi desviada para a praia do Chega Nego no Costa Azul, por conta dos alagamentos decorrentes nas zonas baixas do Rio Vermelho (SANTOS et al 2010). Este desvio do Rio Camarajipe foi uma das principais medidas de saneamento realizado pelo EPUCS. Logo, as águas que correm entre os sentidos opostos da Avenida Juracy Magalhães Jr. pertencem ao Rio Camarajipe, porém, estão situadas na bacia do Rio Lucaia, uma vez que a bacia do Rio Camarajipe não engloba esta área da cidade. Na altura da região do Iguatemi, próximo ao Shopping da Bahia, houve o desvio do rio que passa a seguir pela Av. Tancredo

Neves, Magalhães Neto e desagua por fim no bairro do Costa Azul. Entretanto, parte das águas ainda correm no percurso natural do rio, continuando ao sul, acompanhando a Av. Antônio Carlos Magalhães e Juracy Magalhães Jr. até se encontrar, na entrada da “Rua no Canal” (Av. Juracy Magalhães Jr.), com o Rio Lucaia, que vem da Vasco da Gama, e assim, desaguam juntos no Largo da Mariquita, no Rio Vermelho.

FOTO 7: Encontro dos rios Camarajipe (esquerda) e Lucaia (direita) na entrada da Rua do Canal. Fonte: O Caminho das Águas em Salvador, 2010. Autor da Imagem: José Carlos Almeida. PARQUE LINEAR CAMARÁ

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4.3. ESPAÇOS PÚBLICOS Ao longo da história, o espaço urbano sempre foi o local onde tudo acontecia: festas, procissões, castigos, encontros, etc. Atualmente, pela invasão do automóvel e pela insegurança das ruas, este ponto de encontro se transferiu para condomínios fechados e grandes centros, como, por exemplo os Shopping Centers (GEHL, 2010). A vida urbana é multifacetada, uma vez que a característica comum das cidades é a sua versatilidade e complexidade de suas atividades. A partir do momento em que o espaço público é o local dos encontros da diversidade de pessoas e culturas, passa a ter mais vida e torna-se mais interessante que os quintais e parquinhos (JACOBS, 2010). Logo, os espaços públicos destinados a parques urbanos– locais de permanência e passagem–, devem ter usos variados, a fim de convidar pessoas diferentes em horários diferentes e, assim, estarem sempre em uso. 4.3.1. PARQUES LINEARES COMO SOLUÇÃO SUSTENTÁVEL

contêm elementos lineares que são planejados, projetados e manejados com múltiplos objetivos, entre eles, motivos ecológicos, recreativos, culturais e estéticos que sejam compatíveis com o uso sustentável do terreno (Anhern, 1995 apud Mora 2013).

FIGURA 12: Esquema sobre os princípios dos parques lineares (elaborado pela autora com base em ANHERN, 1995).

Parques Lineares pertencem à categoria de Corredores Verdes ou greenways e, por este conceito ,se caracterizam como uma rede de espaços que 24

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Desta forma, os Parques Lineares são classificados em cinco categoriais gerais, segundo Little (1990): 1- Parques lineares criados como parte de programas de recuperação ambiental, geralmente ao longo de rios e lagos; 2- Parques lineares criados como espaços recreacionais, geralmente ao longo de corredores naturais de longas distâncias, tais como: canais, trilhas ou estradas abandonadas; 3- Parques lineares criados como corredores naturais ecologicamente significantes, ao longo de rios ou linhas de cumeada, que podem possibilitar a migração de espécies, estudo da natureza e caminhadas a pé (a esta classificação também se dá o nome de corredores ecológicos); 4- Parques lineares criados como rotas cênicas ou históricas, ao longo de estradas, rodovias, rios e lagos; 5- Rede de parques, baseada em formas naturais como vales ou pela união de parques lineares com outros espaços abertos, criando infraestruturas verdes alternativas. De acordo com o projeto técnico elaborado pelo Programa Solução para Cidades, estes parques são obras estruturadoras de programas ambientais em áreas urbanas, sendo muito utilizados como instrumento de planejamento e gestão de áreas degradadas buscando, dessa forma, aspectos urbanos e ambientais conforme as exigências da


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legislação vigente. São áreas lineares destinadas à conservação e à preservação de recursos naturais e sua principal característica é a de interligar fragmentos de vegetação e outros elementos encontrados em uma paisagem, além de agregar funções de uso humano, promovendo lazer, cultura e rotas de locomoção não motorizada (ciclovias e caminhos de pedestre). Desta forma, de acordo com Friedrich (2007), suas principais funções são: drenagem; proteção e manutenção do sistema natural; função de lazer, educação ambiental e de coesão social; estruturação da paisagem urbana; desenvolvimento econômico; política, e de corredor multifuncional. Segundo Clóvis Ultramari, professor arquiteto da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), a função de manutenção da fauna é mais eficiente na medida em que o parque está conectado a uma área verde maior, fora da cidade. Mas, ainda que o espaço esteja ilhado em meio ao concreto, haverá ganho. No Brasil, de acordo com Friedrich (2007), a proposta de implantação de parque lineares ao longo de cursos d’água ainda vem sendo praticada em casos isolados fundamentalmente pela necessidade dos municípios de dar usos às áreas urbanas proibidas de edificação, caso dos fundos de vale. Deste modo, estas experiências buscam utilizar-se dos rios como

elementos potencializadores da paisagem urbana e não apenas como condicionantes restritivos. Assim, os parques lineares vêm sendo utilizados como solução para proteção de rios e vegetações, ampliação de espaços de lazer e redução de danos provocados por alagamentos. Essas áreas passam a ser de utilidade pública não apenas como decreto. As pessoas se apropriam do local, que se torna um bem comum, e com isso, é valorizado , avalia o ambientalista Procópio de Castro, mobilizador do Projeto Manuelzão – em matéria para o jornal Gazeta do Povo. Segundo Ultramari, quanto mais consolidada é a ocupação de uma cidade, mais difícil é agregar um metro quadrado de área verde, contudo, os parques de Curitiba, por exemplo, não foram áreas desapropriadas, mas tornadas parques, justamente porque não estavam ocupadas.

FOTO 8: Parque Linear Madri Rio. Fonte: au.pini2017.com.br. Acesso em outubro de 2018. PARQUE LINEAR CAMARÁ

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4.3.2. CENÁRIO ATUAL EM SALVADOR O PDDU (2016) prevê três parques lineares em Salvador: na Av. Garibaldi e na Av. Centenário, já consolidados, e o Parque Linear do Jaguaribe, ao longo do Rio Jaguaribe, paralelo à Avenida Otávio Mangabeira, na Orla, previsto ainda como projeto. Entretanto, estes parques já consolidados, nas avenidas Garibaldi e Centenário, foram projetados sob o tamponamento dos rios que por ali passam. Já para o Parque Linear do Jaguaribe é proposto a canalização do rio Jaguaribe, o que é muito discutido, visto que comprometerá a vida do corpo hídrico que dará nome ao parque. Vale ressaltar que o conceito de Parque Linear utilizado pelo Plano Diretor de Salvador é utilizado de maneira errônea, pois desconsidera a existência do rio urbano ao qual pertence aquela paisagem, assim como as funções de preservação e conservação de recursos naturais. Vale lembrar, ainda, que não se leva em consideração a multifuncionalidade do parque linear, uma vez que não são compatibilizadas as necessidades ecológicas, culturais, sociais e estéticas. Segundo o documento final, produto do Seminário Rios Urbanos de Salvador e o Direito à Cidade Sustentável (UCSal 2017), a experiência dos 26

chamados parques lineares permite anunciar um caminho. Os ganhos socioambientais trazidos pela instalação desses parques são muitos: aumento de permeabilidade, áreas de convivência social, melhoria de conforto térmico, biodiversidade e saúde. As áreas ainda sem intervenção, como o Jaguaribe, devem ser alvo de ampla discussão da cidade para a definição de projetos capazes de não só preservar e melhorar suas funções ecológicas, mas também simbólica e paisagística. A opção da implantação de parques lineares ou outra alternativa deve ser considerada, devendo-se rechaçar a canalização ou outras intervenções que descaracterizem e piorem a qualidade ambiental

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desse patrimônio. Vale lembrar que os parques nas cidades possuem múltiplas funções, dentre elas, a de preservação do meio ambiente, lazer e qualidade de vida. De acordo com o mapa de Parques Lineares e Parques Urbanos em Salvador, vê-se que a cidade carece desses espaços. São poucos os parques urbanos existentes, tomando-se como referência o tamanho da população e extensão de Salvador. Além disso, estes espaços não são conectados e se conformam como ilhas verdes entre edifícios.


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Próximo à área de estudo, tem-se o Parque Joventino Silva, popularmente conhecido como Parque da Cidade, muito utilizado pela população dos bairros do entorno e dos demais bairros da cidade. Este parque urbano foi inaugurado em 1975 e preserva significativo remanescente de Mata Atlântica e restinga em uma área de 724.000 mil metros quadrados. É também o único local da cidade em que se pode encontrar diversas espécies ornamentais e frutíferas, por conta da transição da Mata Atlântica para as dunas. Árvores como Oiti, Ipê e Pau-Brasil, assim como jaqueiras, mangueiras e sapotizeiros, são facilmente encontradas no terreno. Depois de passar por uma reforma em 2014, o Parque da Cidade possui hoje pistas de skate, pistas de caminhada, quadras esportivas e um anfiteatro. Possui dois acessos: o principal pela Avenida Antonio Carlos Magalhães e um, secundário, pelo bairro de Santa Cruz.

FOTO 9: Foto aéra do Parque Joventino Silva. Fonte: http://parquedacidade.salvador.ba.gov.br/. Acesso em novembro 2018.

FOTO 10: Foto aéra do Parque Joventino Silva mostrando os prédios do Itaigara e as casas de Santa Cruz (à esquerda). FOTO 11: Entrada do Parque Joventino Silva (à direita). Fonte: Manuel Técnico de Arborização Urbana de Salvador (2014).

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P ROJE TO S EXIS TE NT ES PARA A ÁR EA

5.

PROJETOS EXISTENTES PARA A ÁREA

5.1. PROJETO CORREDORES DE TRANSPORTE PÚBLICO INTEGRADO – BRT TRECHO LAPA/LIP (LIGAÇÃO IGUATEMI-PARALELA) Este projeto foi apresentado pela Prefeitura de Salvador através do PlanMob, Plano de Mobilidade Urbana Sustentável de Salvador, 2017. Como parte do Projeto Corredores Progressivos de Transporte, integrado ao Projeto Rede Integrada de Transporte (RIT), prevê uma série de intervenções viárias na cidade, a fim de melhorar a qualidade e infraestrutura da mobilidade e desafogar o trânsito. Foi escolhido o trecho Lapa-LIP por ser uma região adensada, de crescimento acelerado e fluxo intenso de veículos, principalmente nas avenidas Vasco da Gama, Garibaldi (cruzamento do Lucaia), Juracy Magalhães e ACM (Antônio Carlos Magalhães). O trecho 1 é compreendido entre a região do Iguatemi e a Cidade Jardim, o trecho 2 da Cidade Jardim até a Estação da Lapa (trecho a que pertence a Área de Intervenção deste trabalho) e o trecho 3, ainda em estudo, irá da Cidade Jardim até a Pituba. O custo estimado para a construção é de 800 milhões de reais. FIGURA 15: Ilustrações do projeto do BRT. Fonte: Prado Valladares, 2014 28

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P ROJE TO S EXI S TE NT E S PARA A ÁR EA

Entretanto, para a implantação do projeto tem-se uma série de impactos, muitos deles permanentes: como a derrubada de 579 árvores; tamponamento do trecho do Rio Camarajipe e do Rio Lucaia; criação de espaços colaterais embaixo das estruturas de concreto onde terão os viadutos e trechos elevados; a priorização do transporte individual, pela criação de faixas exclusivas; e aumento da emissão de gases poluentes.

ser uma região em que não se terá desapropriações e demolições, entretanto, terá impacto ambiental significativo pela retirada de árvores e tamponamento do rio, o que é simplesmente “solucionado” pelo EIA/RIMA do projeto através do plantio de novas mudas. Para o ambientalista Renato Cunha, do movimento Gambá, a compensação não tem sentido pois o impacto naquele trecho será permanente.

O início das obras do trecho 1, com a derrubada das árvores no canteiro central em frente ao bairro da Cidade Jardim, se deu no dia 29 de março de 2018, no aniversário de Salvador e, desde então, comoveu a população, que se organizou para tentar parar as obras através de audiências públicas, debates, manifestações e campanhas nas redes sociais. Dentre as principais críticas ao projeto, tem-se a falta de participação popular e a falta de transparência do projeto, além dos impactos ambientais e a priorização do transporte individual. Segundo Carl Von Hauenschild, arquiteto e urbanista do IAB-Ba, em sua fala na audiência pública no Ministério Público do Estado da Bahia do dia 22 de maio de 2018, o projeto investe somente 30% da sua verba no transporte público, 7% na macrodrenagem e 59% no transporte individual.

As obras foram concebidas de modo a minimizar desapropriações e demolições, enquanto que as árvores maduras a serem retiradas poderão ser compensadas por um projeto paisagístico harmonizador e, que inclua obras esculturais, criando com as edificações uma nova paisagem urbana aprazível, para as pessoas que trafegam e que conviverão com tal ambiente (EIA/RIMA II – PARTE III, 2014, p. 41, grifo da autora)

A escolha do trecho se deu pelo fato de, além de ser vetor de mobilidade de fluxo intenso e ligar o novo ao antigo centro econômico (Iguatemi-Lapa),

Outro tópico muito criticado é a escolha do modal, uma vez que suas justificativas, segundo o memorial descritivo são principalmente a flexibilidade e o custo, entretanto, a conformação do projeto não se apropria destes quesitos pois um trecho será elevado e, portanto, mais caro e menos flexível que outros modais. Segundo a professora da UFBA, Ilce Marilia Dantas, Doutora em Engenharia de Transportes, em entrevista para o BNews em maio de 2011, esta obra se configura como a mais cara entre várias capitais brasileiras, além de que o porte da obra é questionável pela real demanda de usuários naquele trecho e pelos impactos numerosos que irá

causar. A professora ainda sugere a possibilidade de se ter um corredor em nível de ônibus, como se tem em outros locais da cidade, uma vez que os trechos elevados são desnecessários. Segundo a professora não é preciso se fazer uma obra deste tamanho para dizer que é um BRT, existem diversas maneiras mais simples e com menos impactos para se instalar um BRT.

FIGURA 16: Convocação a manifestação do Movimento Não ao BRT. FOTO 12: Protestos contra o BRT. Fonte: Movimento Não ao BRT.

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D I AGN ÓST I CO

6. DIAGNÓSTICO

A

B

6.1 MOBILIDADE 6.1.1 FLUXO DE TRANSPORTES MOTORIZADOS Por conta de sua localização estratégica, a área de intervenção é bem servida de transporte público, neste caso, o ônibus convencional. Segundo dados da SEMOB (Secretaria de Mobilidade) 2016, a Avenida Juracy Magalhães Jr. é o quinto corredor de transporte público com maior frequência de ônibus, totalizando 180 ônibus por hora. Em relação aos pontos de ônibus mais utilizados, tem-se o do Mercado do Rio Vermelho e do Vale das Pedrinhas, por estarem localizados ao lado direito do canteiro central, onde há bairros mais densos, e por estarem atrelados ao comércio local. O ponto de ônibus do Hospital Aliança sentido Lucaia possui fluxo mínimo de pessoas, uma vez que não tem faixa de pedestre próxima. Vale a pena ressaltar que existem estacionamentos dispostos ao longo do trecho em locais próprios para este fim, vinculados a estabelecimentos comerciais, e ao longo da via em alguns trechos.

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FOTO 13: Ponto de ônibus do Vale das Pedrinhas FOTO 14: Ponto de ônibus do Mercado do Rio sentido Iguatemi. Fonte: Foto tirada pela autora em Vermelho sentido Iguatemi. Fonte: Foto tirada pela julho de 2018. autora em julho de 2018. C

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FOTO 15: Ponto de ônibus do Vale das Pedrinhas FOTO 16: Ponto de ônibus do Hospital Aliança sentido sentido Lucaia. Fonte: Foto tirada pela autora em Lucaia. Fonte: Foto tirada pela autora em julho de julho de 2018. 2018.


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D I AGN ÓST I CO

6.1.2 FLUXO DE TRANSPORTES NÃO MOTORIZADOS

A

B

Percebe-se grande quantidade de interrupções nas calçadas para a saída de veículos, o que compromete a continuidade, a acessibilidade e a segurança do trajeto percorrido pelo pedestre. Além disso, a condição das calçadas é precária, sem largura suficiente e há a presença de obstáculos, como postes, que prejudicam o trajeto percorrido pelos pedestres. Há também áreas de travessia não contempladas por faixas de pedestre. Logo, vê-se a demanda para novos locais de travessia e muitas pessoas caminhando pelo canteiro central.

FOTO 17: Travessia fora da faixa de pedestre próximo FOTO 18: Ciclistas na calçada. Fonte: Foto tirada pela ao ponto de ônibus da Santa Cruz. Fonte: Foto tirada autora em julho de 2018. pela autora em julho de 2018. C

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A maior distância entre faixas de pedestre é de 840 metros entre a Cidade Jardim, próximo ao ponto de ônibus da Cidade Jardim e o ponto de ônibus do Mercado do Rio Vermelho no sentido Lucaia. Pelo Caderno de Pontos de Parada da Prefeitura do Rio Grande do Sul, a distância recomendada entre faixas de pedestres em corredores viários é de 300 a 500 metros. Não há nenhum tipo de ciclovia ou ciclofaixa no trecho em análise e, por conta disso, grande parte dos ciclistas prefere pedalar sobre as calçadas. 32

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FOTO 19: Travessias sobre o Rio Camarajipe. Fonte: FOTO 20: Travessias de pedestre entre retornos viários. Foto tirada pela autora em abril de 2018. Fonte: Foto tirada pela autora em setembro de 2018.


D IAGN ÓST ICO

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D I AGN ÓST I CO

6.3 FATORES DO MEIO AMBIENTE

A

6.2.1 ÁREAS VERDES

B

A área em estudo possui grande quantidade de árvores de grande e médio porte em seu canteiro central, além de diferentes espécies de palmeiras dispostas ao longo deste trecho. Seu entorno é preenchido em grande parte por áreas de encosta com vegetação densa. Boa parte da vegetação já foi suprimida, próxima ao bairro do Candeal, por causa das obras para a construção do BRT. Próximo da Cidade Jardim tem-se a concentração de árvores de grande porte classificadas como paineiras pelo EIA/RIMA do BRT e chamadas de “centenárias” pela população, estas estão presentes também pontualmente em outras áreas do trecho aqui analisado e possuem importante valor de identidade para o local.

FOTO 21: Trecho com vegetação densa no entorno. Fonte: Foto tirada pela autora em setembro de 2018.

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FOTO 23: Árvores de grande porte, chamada de “centenárias” pela população. Fonte: Foto tirada pela autora em abril de 2018. 34

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FOTO 22: Supressão da vegetação por causa das obras do BRT. Fonte: Foto do movimento Não ao BRT.

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FOTO 24: Palmeiras próximas ao Hospital Aliança. Fonte: Foto tirada pela autora em abril de 2018.


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D I AGN ÓST I CO

6.2.2 ÁGUAS

de Salvador com o IQA mais baixo.

Em relação ao Rio Camarajipe, percebe-se o mau cheiro, proveniente da má qualidade de suas águas pelo lançamento clandestino de esgoto doméstico, próximo à Embasa. É possivel notar a presença de lixo em suas águas em alguns trechos. O Ponto de Coleta para análise da qualidade das águas indicado no mapa ao lado é referente ao ponto LUC 04 apresentado do livro Caminho das Águas em Salvador no capítulo sobre as águas da Bacia do Rio Lucaia no de 2010. Estas coletas foram feitas em cinco pontos diferentes e seus índices são comparados aos padrões estabelecidos pela Resolução Conama n. 357/05 para águas doces classe 2. Esta amostra foi considerada como de forte odor (proveniente de esgoto por ligações clandestinas); água turva; presença de manchas de óleo (em linhas “arco íris”) e fluxo de água com formação de pequenas “ilhas”. Sobra as substâncias encontradas têm-se: baixa concentração de OD (oxigênio dissolvido), alta concentração de DBO (Demanda Bioquímica de Oxigênio), ou seja, a decomposição biológica da matéria orgânica proveniente do lançamento de esgoto. Portanto, segundo o Índice de Qualidade das Águas – IQA, estas águas se classificam na categoria Péssimo neste ponto de coleta, assim como em outros, configurando-se como um dos rios do município 36

E

O trecho em estudo possui problemas frequentes de alagamentos em períodos de chuva. Embora, o canteiro central possua calhas de escoamento em pontos estratégicos, que direcionam as águas da faixa de rolamento até o Rio Camarajipe, através das bocas de lobo laterais, esta solução não se mostra suficiente, pois o problema continua ocorrendo.

FOTO 25: Alagamento em períodos de chuva. Foto tirada pela autora em novembro de 2018.

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FOTO 26: Presença de lixo nas águas do Rio Camarajipe. Foto tirada por Larissa Midlej.

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FOTO 27: Calhas de escoamento. Foto tirada pela autora em março de 2018.


A parte canalizada do Rio Camarajipe neste trecho em estudo fica próxima à Embasa e segue por toda Rua do Canal (trecho da Avenida Juracy Magalhães Jr. no sentido Rio Vermelho), onde há o encontro deste rio com o Rio Lucaia. A parte tamponada se dá no trecho um pouco antes, onde o Rio Camarajipe passa por debaixo da avenida para encontrar este rio. Os outros pontos em que o Rio Camarajipe é coberto estão nos retornos viários. Geralmente, o nível de água é baixo e, mesmo nos períodos de chuva, a cheia deste rio não alcança alturas elevadas.

G

H

FOTO 28: Parte do Rio Camarajipe canalizada. Foto tirada pela autora em setembro de 2018.

H

FOTO 29: Cobertura do Rio Camarajipe em retornos viários. Foto tirada pela autora em setembro de 2018.

H

FOTO 30: Rio Camarajipe com nível baixo de água Foto tirada pela autora em setembro de 2018.

FOTO 31: Rio Camarajipe com nível alto de água em períodos de chuva. Foto tirada pela autora em novembro de 2018.

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D I AGN ÓST I CO

6.3 UTILIZAÇÃO DO ESPAÇO PELAS PESSOAS

A

B

Através deste mapa é possível perceber a predominância de calçadas acompanhadas de fachadas não ativas, ou seja, áreas margeadas de muros e cercas, que contribuem para um local vazio, portanto, inseguro para o pedestre. Mesmo assim, no início da manhã é possível encontrar algumas pessoas fazendo caminhada ou corrida nas calçadas estreitas. Em relação aos locais de permanência, tem-se as áreas próximas ao Mercado do Rio Vermelho, que atrai fregueses e funcionários aos estabelecimentos comerciais concentrados à direita do rio, mais próximos aos bairros mais adensados. As áreas próximas aos bairros de condomínios de prédios, como a Cidade Jardim, também são bem utilizadas por pedestres, tanto por quem transita quanto por quem permanece pois há presença de “pequenos pontos de comércio” como venda de acarajé, frutas e salgados. Há a presença de moradores de rua, geralmente, na área do canteiro central próximo ao ponto de ônibus do Vale das Pedrinhas e na área das árvores de grande porte, próxima à Cidade Jardim.

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PARQUE LINEAR CAMARÁ

FOTO 32: Fachadas não ativas do entorno. Fonte: Foto FOTO 33: Pessoa correndo nas calçadas do trecho. tirada pela autora em julho de 2018. Fonte: Google Street View 2017.

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FOTO 34: Presença de pequenos pontos de comércio. FOTO 35: Presença de moradores de rua. Foto tirada Fonte: Google Street View 2017. pela autora em setembro de 2018.


D IAGN ÓST ICO

PARQUE LINEAR CAMARÁ

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O P ROJE TO

7. O PROJETO: PARQUE LINEAR CAMARÁ 7.1 DIRETRIZES PROJETUAIS 7.1.1 MATRIZ SWOT

A tabela abaixo evidencia os principais pontos positivos e negativos a partir das análises da etapa de diagnóstico. A Matriz SWOT, muito utilizada no ramo empresarial para traçar diretrizes estratégicas, neste trabalho, auxiliará na elaboração das diretrizes adotadas para este projeto.

FIGURA 21: Diretrizes elaboradas para o projeto a partir da Matriz SWOT (elaborada pela autora).

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O P ROJE TO

FIGURA 22: Diretrizes projetuais aplicadas no canteiro central de acordo com cada vertente urbana (elaborada pela autora). PARQUE LINEAR CAMARĂ

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O P ROJE TO

As diretrizes gerais adotadas nesta proposta, visam alterações de pequeno porte tendo em foco a viabilidade do Parque Linear Camará. Sob a vertente da mobilidade, houve a relocação de faixas de pedestre com semáforos, uma vez que não se tem maiores estudos sobre engenharia de trânsito para alterações de maior impacto. Estas, por si só, já têm perspectiva de melhora em relação ao acesso dos pedestres ao Parque e de travessia destes de um lado ao outro das avenidas. É proposto também um vetor de mobilidade longitudinal para pedestres e ciclistas dentro do parque que será explicado adiante.

pedestres propostas, assim como a concentração de atrativos na centralidade do parque, mostrados no diagrama, visam atender a apropriação do canteiro central como espaço público de qualidade, respeitando as relações deste espaço com a natureza.

Sobre o meio ambiente, têm-se o tratamento das águas do rio através da infraestrutura verde e a complementação da flora, considerando e respeitando a vegetação existente, além da adoção de áreas do entorno adjacentes ao parque como espaços livres. Sobre espaços públicos, pode-se ver que a parte central do parque é a área em que se devem concentrar as atrações, uma vez que atualmente é um trecho margeado por fachadas não ativas e ausência de pólos geradores de tráfego. Logo, a fim de se ter fluxo e permanência de pessoas em toda extensão do parque, as novas travessias de 42

PARQUE LINEAR CAMARÁ

FIGURA 23: Sobreposição das diretrizes para cada vertende urbana (elaborada pela autora).


7.2

ESTUDOS DE CASO

Os projetos apresentados neste item têm como critério o mesmo uso, em sua maioria, das diretrizes adotas neste trabalho final de graduação. Além disso, são exemplos de soluções encontradas em casos de cidades com contexto similar a este trecho de Salvador. 7.2.1. RIO CHEONGGYECHEON, SEUL Ficha Técnica: Extensão: 5.8 km Largura: 80 metros Área: 400ha

Fatores levados em consideração pela sua escolha como estudo de caso: Revitalização de rio, configuração do parque linear entre avenidas e largura semelhante. Desenterrar rios urbanos para se criar espaços de lazer é uma solução urbana amplamente adotada por diversas cidades do mundo. O exemplo principal e mais conhecido sobre este assunto é a revitalização do Rio Cheonggyecheon, em Seul, Coreia do Sul, e a criação de um parque linear ao longo de suas margens. De acordo com Noh (2010) apud Machado (2016), este rio possui extensão de 11km e foi coberto, por causa de sua degradação, em 1978, deixando de estar inserido na malha urbana desde então. E sobre o rio, ao passar

dos anos foi construída uma via expressa elevada. Em 2000, o prefeito de Seul se interessou por um

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projeto apresentado por um professor sobre a revitalização do rio e desta forma se deu o início do processo de revitalização priorizando o trecho no centro da cidade de 5.8km. As obras ocorreram de 2002, assim que o prefeito assumiu o cargo, até 2005, com um custo de 380 milhões de dólares. Neste processo de revitalização do rio foram demolidas as estruturas de concreto, foi implementado um plano de tratamento de esgoto, criada uma estação de suprimento de água e foram desenvolvidos projetos de paisagismo e iluminação, além da construção de 22 pontes e vias adicionais. Vale ressaltar as instalações de artes públicas, caminhos ao lado do rio para pedestres e formas variadas de cruzar o córrego. Foi construído um centro comunitário e as formas de passagem de pedestres e veículos foram totalmente reconfiguradas, ponto importante a ser considerado uma vez que interfere nos numerosos e pequenos negócios presentes na região (ROWE, 2017). O medo inicial do projeto de revitalização do rio era o tráfego insuportável que poderia existir pela demolição da via expressa, entretanto, este tráfego nunca se materializou, pois foi feito o incentivo e implementação do transporte público. Segundo Rowe (2010), o tráfego tende a preencher as faixas que lhes são dadas, nada mais nem menos. A revitalização do Rio Cheonggyecheon deu a Seul melhor qualidade ambiental, criação de novas áreas de encontro, e, portanto, um novo estilo de vida à população, proporcionou significante diminuição do

efeito de ilha de calor, assim como melhor atividade econômica na região e a renovação da vida noturna.

FOTO 36: Foto aérea do Rio Cheonggyecheon revitalizado. Fonte: http://solucoesparacidades.com.br. Acesso em julho 2018.

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sustentabilidade, a Praia de Madureira e o Skate Park.

7.2.2 PARQUE MADUREIRA, RIO DE JANEIRO Ficha Técnica: Extensão: 1.5 km Área: 10.9 ha Projeto: Ruy Rezende Arquitetos

Fatores levados em consideração pela sua escolha como estudo de caso: Programa arquitetônico, extensão semelhante e conceitos de sustentabilidade aplicados. O projeto visa criar um equipamento público sustentável, baseado em um Programa de Educação Socioambiental, desenvolvido pela prefeitura do Rio de Janeiro. Contou com a participação fundamental da sociedade, resultando num parque linear com requalificação urbana, valorização da comunidade, recuperação ambiental e gestão de recursos. Foi abraçado rapidamente pela comunidade e hoje recebe de 20 a 25.000 visitantes por fim de semana.

O Parque Madureira conquistou o primeiro certificado de qualidade ambiental AQUA atribuído a um espaço público brasileiro. Este reconhecimento se deu por diversos fatores como: o sistema de irrigação controlado por sensores meteorológicos, edificações com paredes e tetos verdes, uso da energia solar através de painéis solares, controle de resíduos sólidos, sistema de reuso da água, pisos permeáveis e utilização de lâmpadas LED, que consomem menos energia. Além disso, houve a recuperação da fauna e da flora e foram plantadas mais de 800 árvores e 400 palmeiras. Atualmente, o parque se encontra em expansão, ganhará mais 255.000 m2 em 3km de extensão, totalizando um espaço público de qualidade de 4,5km, que passará por 6 bairros, seguindo os mesmo conceitos e princípios originais.

Em relação ao seu programa arquitetônico, temse, diante de áreas verdes, quadras polivalentes, quadras de futebol, playgrounds, academia para terceira idade, ciclovias e estações de bicicleta, área para prática de bocha e tênis de mesa. Destaque para a Praça do Samba, palco que recebe eventos, o Centro de Educação Ambiental, criado com o objetivo de disseminar conceitos de 44

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FOTO 37: Foto aérea do Parque Madureira. Fonte: http:// parquemadureira.blogspot.com/. Acesso em julho 2018.


7.2.3 PARQUE CAPIBARIBE, RECIFE Ficha Técnica: Extensão: 30 km Área: 7.250ha Projeto: Prefeitura da Cidade do Recife em parceria com INCITI - Pesquisa e Inovação para as Cidades, rede de pesquisadores da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).

Fatores levados em consideração pela sua escolha como estudo de caso: Premissas consideradas para a criação do parque, principalmente os de ABRAÇAR e ATIVAR. Lembrando que este projeto se encontra em uma escala bem maior de projeto e tem possibilidades para ser usada como referência no processo de expansão do projeto proposto neste Trabalho Final de Graduação. O Parque Capibaribe prevê um sistema de parques integrados ao longo das duas margens do rio Capibaribe no Recife, totalizando 30km. O projeto revoluciona a forma como as pessoas vivem a cidade ao reconectá-las com as águas do rio, resgatando a bacia hidrográfica como espinha dorsal da cidade, através de áreas de lazer, descanso e bem-estar. Possui como premissas os conceitos: - O PERCORRER promove um passeio ecológico, educativo e de lazer para o cidadão que se propõe a estar próximo das margens. Esta premissa está relacionada com a reconquista das margens do Rio Capibaribe. Para isto, foi proposto ao longo das suas bordas um grande parque com passeio e ciclovia

capazes de conectar o rio à cidade por meio de diferentes modais, que priorizam o pedestre e a bicicleta. - O ATRAVESSAR conecta as margens opostas do rio. Pode ser feito por meio de pontes, travessias de barcos ou qualquer outra forma que permita às pessoas atravessarem com segurança de uma margem à outra. - O ABRAÇAR promove espaços de permanência para atividades de lazer, encontros e convivência. A criação de espaços de permanência e de contemplação da paisagem, reaproximando os cidadãos do Rio Capibaribe, passou a integrar o conjunto de desafios. - O CHEGAR proporciona conforto e segurança, além de incentivar o deslocamento não motorizado das pessoas até o Parque, por meio das vias de infiltrações urbanas. Estas permitem ampliar a área de influência do Parque, penetrando ruas com maior vitalidade urbana, buscando assim trazer movimento para as margens. - O ATIVAR, por meio de estratégias de participação social, os processos de ativação constituem momentos de interação, comunicação, pesquisa, produção criativa, debates e difusão cultural entre os atores urbanos, poder público e universidade. Os resultados das consultas junto ao público são integrados às demais pesquisas arquitetônicas e urbanísticas necessárias para a elaboração dos módulos do Parque Capibaribe. Esta é considerada uma etapa essencial na elaboração do projeto.

FOTO 38: Render do projeto do Parque Capibaribe. Fonte: http://www.mobilize.org.br. Acesso em julho 2018.

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7.3 O PROCESSO DE CRIAÇÃO 7.3.1 JUSTIFICATIVA DO NOME CAMARÁ Arbusto de folhas aromáticas e frutos vermelhos, abundantes nas imediações do Rio Camarajipe, dando a ele este nome (livro Caminho das Águas em Salvador, 2010); –Camarada; compadre; colega de capoeira(Dicionário da Capoeira). O nome escolhido para o Parque Linear reforça o enfoque do projeto para o Rio Camarajipe, elemento de destaque, ao mesmo tempo que resgata a cultura da capoeira em Salvador, símbolo de resistência, que também está presente neste local, uma vez que esta área verde com trecho do rio é passiva de desaparecimento. 7.3.2 CONFIGURAÇÃO DO PARQUE O Parque Linear Camará composto de: CICLOVIAS; CAMINHOS PEDESTRES e DECKS DE PERMANÊNCIA. As CICLOVIAS abraçam o parque na parte mais externa e os CAMINHOS DE PEDESTRE e os DECKS se localizam na parte mais interna. Desta forma, 46

FIGURA 24: Esquema de configuração do Parque (elaborado pela autora).

de acordo com a hierarquia destes caminhos, o pedestre está mais protegido nos caminhos mais internos, assim como nos decks, onde irão se concentrar os equipamentos e atrativos do parque. É importante lembrar que a vegetação neste projeto, além de todas as suas funções dentro da cidade e as de fitorremediação (explicado mais adiante), possui também a função de barreira física em alguns trechos a fim de proteger sempre o usuário do parque.

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FIGURA 25: Esquema de de hierarquia dos caminhos (elaborado pela autora).


7.3.3 FORMAS DE RELAÇÃO PARQUE X PESSOAS O Parque Linear Camará irá se relacionar com seu entorno de três maneiras distintas: Trecho do percurso (como vetor de mobilidade): Percursos Longitudinais (A), para aquelas pessoas que irão utilizar o parque para percorrer esta distância entre dois pontos externos ao parque neste sentido; e Percursos Transversais (B), para aquelas pessoas que desejam atravessar de um lado ao outro das avenidas e do Rio Camarajipe. Destino do percurso (como vetor de espaço público): Parque como Atrativo de Pessoas (C), ou seja, local de lazer e área de permanência.

FIGURA 26: Esquema do padrão das larguras adotadas para os caminho (elaborado pela autora).

FIGURA 27: Esquema das formas de relação pessoas x parque (elaborado pela autora). PARQUE LINEAR CAMARÁ

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7.4 CONCEITO DE INFRAESTRUTURA VERDE E FITORREMEDIAÇÃO* A Infraestrutura Verde consiste na conservação da natureza aliada ao desenvolvimento urbano. Logo, sustenta a criação de locais que promovam o desenvolvimento de atividades sociais fornecendo, simultaneamente, os benefícios do meio ambiente. Este conceito agrega à cidade os processos da natureza, uma vez que cria uma rede de paisagens naturais de manejo das águas pluviais in loco, promovendo: proteção de recursos hídricos, proteção contra desastres e enchentes, tratamento da poluição das águas, melhoria do microclima, qualidade do ar e do solo, além da criação/ preservação do habitar para a fauna. Para este conceito se utiliza o mecanismo de fitorremediação, que é o tratamento das águas e solos através das plantas. Trata-se de uma tecnologia que pode ser aplicada in situ e que, devido ao caráter estético positivo sobre a paisagem, pode ser integrada aos projetos paisagísticos (MORINAGA, 2013; BARROS, 2011 apud PINHEIRO 2017). A fitorremedição se tornou popular a partir da década de 1990 para as agências governamentais e para o setor industrial nos Estados Unidos e na Europa, principalmente por ser uma alternativa de baixo custo quando comparada 48

a tecnologias convencionais de remediação. É um método não invasivo e que pode proporcionar a preservação e o melhoramento das características do solo (PILON-SMITS, 2005 apud PINHEIRO 2017). Nas últimas décadas a fitorremediação vem sendo muito utilizada para o tratamento de esgotos industriais e domésticos, derivados de petróleo e locais contaminados por metais pesados (COUTINHO, 2007; PILON-SMITS, 2005; EPA, 2000 apud PINHEIRO 2017). A maior fonte de poluição dos rios urbanos se dá atualmente pela poluição difusa, através do escoamento das águas pluvias que “limpam” as áreas pavimentadas e descarregam águas contaminadas nos corpos hídricos (PORTO et al 2001 apud PINHEIRO 2017). Entende-se por poluição difusa todos os contaminantes provenientes dos resíduos do desgaste do asfalto, assim como resto de combustível, óleos e graxas deixados por veículos, lixo e restos de materiais de construção acumulados nas ruas e calçadas, poluição atmosférica proveniente da queima de combustíveis, degradação de matéria orgânica e despejo incorreto de esgoto, entre outros (AESABESP, 2008 apud PINHEIRO 2017). Neste Trabalho Final de Graduação serão utilizadas as seguintes tipologias de fitorremediação: Jardins de chuva; Biovaletas; Wetlands (Alagados Construídos); Amortecedores Ripários e Telhados Verdes.

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FOTO 39: Jardins de chuva nas calçadas de Seattle. Fonte: http://infraverde.com.br. Acesso em agosto 2018. *(PINHEIRO, Maitê Bueno. Plantas para Infraestrutura Verde e o Papel da Vegetação no Tratamento das Águas Urbanas de São Paulo: Identificação de Critérios para Seleção de Espécies, 2017. São Paulo)


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Jardins de chuva (sistemas de biorretenção ou bacias de infiltração) são depressões topográficas que têm a função de receber a água do escoamento pluvial proveniente de áreas impermeabilizadas da bacia hidrográfica e tratar a poluição difusa. Biovaletas são trincheiras vegetadas, em forma de depressões lineares, preenchidas com elementos filtrantes – vegetação e solo – que, além de estender o tempo de escoamento da água da chuva, têm ação remediadora da poluição difusa, que fica retida nas raízes das plantas e no substrato. É um sistema isolado, uma vez que sua água filtrada estará conectada ao sistema de drenagem para desaguar no corpo hídrico (se este estiver canalizado) ou numa calha de escoamento em

direção ao rio (configuração adotada pelo Parque Linear Camará). Amortecedor Ripário é uma faixa de vegetação entre 10 e 70 metros das margens do rio. Tem a função de mitigar a poluição difusa que atinge o corpo hídrico trazida pelo escoamento pluvial, uma vez que atua como barreira. Segundo UACDC 2010 apud BUENO 2017, entre 50 e 85 por cento das cargas de poluentes de águas pluviais podem ser filtradas dentro de aproximadamente 10 a 30 metros quadrados de vegetação ripária. Wetlands (alagados construídos) reproduzem funções importantes das zonas úmidas naturais, como alagamentos, filtração da água, criação

de habitat para a fauna silvestre e aquática (EPA, 2004), além do, tratamento de contaminantes por fitorremediação. Podem ser de superfície (por plantas aquáticas na superfície do rio), verticais (em paredes de rios canalizados) ou horizontais de acordo com sua relação com a água que irá tratar. Telhados Verdes consiste em uma cobertura vegetal sobre o telhado. Agem na absorção da água das chuvas, reduzem o efeito da ilha de calor urbano e contribuem para a eficiência energética das edificações, criam habitat para a vida silvestre e, de fato, estendem a vida da impermeabilização do telhado. (Ver pontos de apoio e outros atrativos no item 7.6)

FIGURA 28: Esquema das tipologias de fitorremediação ao longo do Parque (elaborado pela autora).

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FIGURA 29: Planta esquemática com indicação dos cortes.

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Os esquemas a seguir ilustram os tipos de fitorremediação e os locais que serão empregados neste projeto proposto. Da esquerda para direita, pode-se ver no CORTE A (Figura 30), que a água pluvial irá escoar sobre a pavimentação da malha viária e, através das bocas de lobo laterais, será direcionada para os jardins de chuva (espaços livres adjacentes ao canteiro central), onde será filtrada e absorvida pelo solo. A água que escoar para as biovaletas será armazenada e filtrada sem fazer contato com o solo, pois, como já fora dito, trata-se de um sistema isolado que irá direcionar a água filtrada para o corpo hídrico, ver esquema CORTE B (Figura 31). Os pisos drenantes permitem

que a água seja absorvida sem contaminantes provenientes deste material pelo solo abaixo. A vegetação composta por árvores, arbustos e forrações é importante como barrreira física e tratamento do solo, uma vez que esta vegetação também possui ações fitorremediadoras. A Faixa dos Camarás, consiste no uso de espécies do gênero Lantana, como a Lantana camará, planta de valor histórico para a região que, além de possuir ação remediadora para o tratamento do solo possui funções estéticas e de identidade local (ver item 7.8). A faixa de vegetação semi alagada é a última barreira antes da água chegar ao Rio Camarajipe e é capaz de tratar as águas do rio quando este estiver em cheia. As macrófitas são as plantas aquáticas que tratam as águas do rio, num mecanismo de wetlands superficiais, uma vez que a própria água

FIGURA 30: Corte A (padrão).


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do rio é filtrada pelas raízes destas plantas. Vale a pena lembrar que esta mesma ordem irá se repetir na margem oposta do rio. O CORTE B (Figura 31) ilustra o sistema combinado de biovaletas com wetlands verticais no processo de conexão da água filtrada das biovaletas até o corpo hídrico. Atualmente o canteiro central do Rio Camarajipe já possui calhas de conexão entre as bocas de lobo laterais e o rio em alguns trechos a fim de minimizar as chances de alagamentos, comuns nessas áreas, entretanto, estes elementos aceleram a velocidade das águas, o que é prejudicial ao rio. A solução encontrada de wetlands verticais para esta conexão permite uma segunda filtragem, uma vez que estas águas agora estarão expostas à outras espécies com diferentes propriedades remediadoras, filtrando assim outros contaminantes. Além de que diminuirá a velocidade do fluxo das águas e irá criar uma nova tipologia paisagística no local. Estes elementos serão propostos no local onde as calhas existem hoje e em outros pontos do trecho de acordo com a necessidade do escoamento das águas. GERALMENTE EM PAREDES DE

FIGURA 31: Corte B (sistemas combinados de fitorremediação).

FIGURA 32: Ilustrações dos tipos de fitorremediação (elaborado pelo autora com base em PINHEIRO 2017).

RIOS CANALIZADOS

SISTEMA ISOLADO

WETLANDS SUPERFICIAIS

WETLANDS VERTICAIS

JARDINS DE CHUVA

CONEXÃO COM O SISTEMA DE DRENAGEM

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BIOVALETAS

CONEXÃO COM O SISTEMA DE DRENAGEM 51


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7.5 APRESENTAÇÃO DO PROGRAMA ARQUITETÔNICO Foram propostos equipamentos relativamente simples para compor o programa arquitetônico do Parque Linear Camará, sendo estes instalados em locais estratégicos, considerando os acessos ao parque, os bairros do entorno, respeitando a topografia local e a relação com o Rio Camarajipe. Desta forma, não foram propostos equipamentos já existentes no Parque Joventino Silva (Parque da Cidade), - como skate park e quadras de futebol e vôlei-, pela sua proximidade com este projeto, dando oportunidade a outros tipos de equipamentos. Não foram propostos estacionamentos a fim de incentivar os transportes coletivos e não motorizados, além de já se ter locais próximos para se estacionar o carro. Equipamentos principais: 1 Espaço de Educação Ambiental

Este equipamento foi inspirado no Centro de Educação Ambiental do Parque Madureira (RJ), e será um local de conscientização ambiental sobre medidas sustentáveis e tecnologias de fitorremediação adotadas pelo Parque Linear Camará. Construído a partir de módulos de container, este local terá ainda exposições de amostras de água que irão mostrar a melhoria de 52

sua qualidade ao decorrer do parque. Localizado em uma das extremidades do parque, próximo ao encontro dos rios Camarajipe e Lucaia.

6 Academia de Rua

estinado a prática de exercícios com equipamentos tradicionais de academia de rua. Localizado próximo aos bairros do Candeal e Cidade Jardim.

2 Praça da Capoeira

Espaço destinado a prática de capoeira, localizado próximo ao acesso ao Vale das Pedrinhas e aos bairros mais adensados. 3 Parque Infantil

Concentração de brinquedos infantis em dois decks sobre o Rio Camarajipe, localizado próximo a escola Hora da Criança (com potencial de ser utilizado por esta escola). 4 Anfiteatro

Grande arquibancada com palco prevista para shows e apresentações, além de funcionar como cinema ao ar livre, uma vez que possui uma parede côncava para projeção de filmes durante a noite. Localizado na parte central do parque, em uma das áreas mais largas. 5 Praça da Yoga

Espaço destinado para a prática desta atividade, localizado sobre um grande deck sobre o Rio Camarajipe. Longe de equipamentos que produzem barulho.

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FOTO 40: Centro de Educação Ambiental do Parque Madureira, RJ. Fonte: http://parquemadureira. blogspot.com. Acesso em agosto 2018.


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Os módulos em container utilizados no projeto apresentarão telhado verde, a fim de se reduzir as temperaturas climáticas e de obter uma identidade visual em todo Parque.

REFERÊNCIAS PROJETUAIS:

Os módulos de sanitário terão sistema completo de encanamento e serão conectados à rede de água e esgoto existentes. O sistema de captação de água pluvial para reuso irá complementar seu sistema de abastecimento em períodos de chuva. Como outros atrativos, estão previstas: fontes de piso ou fontes secas (com conceito de Infraestrutura Verde); mosaicos nos muros das fachadas não ativas do entorno; pergolados; mesas para dominó e xadrez, decks de contemplação (rasgos com redes no piso); locais para piquenique, parque de esculturas, paredes interativas e bancos de contemplação (ver Materiais e Mobiliários).

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FOTO 43: Sistema de fontes de água de piso convencional, Rose Kennedy Greenway, Boston, EUA. Fonte: https://www.flickr.com. Acesso em outubro 2018

FOTO 44: Paredes interativas.

FOTO 45: Referência para o Deck de Contemplação das Árvores Centenárias. Fonte:https://play-scapes.

FOTO 46: Referência para o Parque das Esculturas. Escultura Bel Borba no MAM, Salvador. Fonte: https://

com. Acesso em outubro 2018.

mubevirtual.com.br. Acesso em outubro 2018.

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Fonte: https://xnet.ynet.co.il. Acesso em outubro 2018.


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7.6 PONTOS DE APOIO E OUTROS ATRATIVOS São previstos pontos de sanitário, quiosque de alimentação e bicicletário dispostos ao longo de todo Parque. Seguindo o conceito de sustentabilidade e viabilidade do projeto, estes pontos de apoio serão instalados em módulos de containers, visto que este material possui diversas vantagens de aplicação. Suas desvantagens são a falta de conforto térmico e acústico, precisando de tratamento especial quando for adaptado para uso residencial ou local de longa duração. Entretanto, neste projeto, estas desvantagens não afetam seu uso.

SANITÁRIO

com coletor de água puvial FOTO 41: Sanitário em container usado em eventos. Fonte: riobox.com.br. Acesso em agosto 2018.

QUIOSQUE DE ALIMENTAÇÃO

uso somente das estruturas do container BICICLETÁRIO

uso de gradil metálico como fechamento. FIGURA 35: Desenho do uso de containers como pontos de apoio (elaborado pela autora). FIGURA 34: Desenho do uso de containers como pontos de apoio (elaborado pela autora segundo Túlio Tibúrcio e Pablo Castilho*).

FOTO 42: Bicicletário em container com teto verde. Fonte: http://greenroofshelters.co.uk/. Acesso em agosto 2018.

*Túlio Tibúrcio, professor adjunto do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Viçosa e Pablo Castilho, gerente técnico e de projetos da Delta Containers em artigo para Engenheiros na Web. Disponivel em:https://engenheironaweb.com. Acesso em agosto 2018. PARQUE LINEAR CAMARÁ

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Fontes de piso com Infraestrutura Verde As fontes de piso, também conhecidas como fontes secas, terão um sistema combinado para o tratamento das águas reutilizadas. Nos sistemas convencionais deste atrativo, as águas reutilizadas que saem das fontes são acumuladas em um depósito abaixo do piso e passam por um filtro com agentes químicos antes de serem bombeadas e utilizadas novamente. Neste sistema combinado com o tratamento das águas através da fitorremediação, a água da chuva poderá ser aproveitada, uma vez que será armazenada, e poderá assim ser reutilizada, pois a água que irá escorrer do piso será filtrada novamente a partir das plantas aquáticas. Sabendo que o processo de filtragem das águas através de plantas requer um tempo maior que o ciclo da água no sistema de fontes de piso, o sistema aqui proposto possui outro depósito abaixo do piso a fim de se ter quantidade de água suficiente para completar cada ciclo em menor tempo. O tanque com plantas aquáticas neste sistema terá a principal função de armazenar a água da chuva e assim criar um depósito macro para complementar a limpeza das águas reutilizadas e de conscientização dos benefícios da Infraestrutura Verde.

FIGURA 37: Desenhos explicativos do sistema combinado de fontes de piso com Infraestrutura Verde para o tratamento das águas reutilizadas. Perspectiva e corte explicativo (a baixo). Elaborados pela autora.

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REFERÊNCIAS PROJETUAIS:

FOTO 47: Casa container com telhado verde. Fonte: http://capitalcontainer.com.br/. Acesso em novembro 2018.

FIGURA 38: Esquema das camadas de um telhado verde em container. Fonte: elaborado pela autora com base no site http://evacontainer.com.br. 62

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7.7 AMPLIAÇÕES E CORTESS AMPLIAÇÃO A. ESPAÇO DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL O Espaço de Educação Ambiental será feito a partir de containers, dois horizontais e um vertical, o qual funcionará como mirante para se observar o teto verde e o encontro dos rios Camarajipe e Lucaia.

Módulo de quiosque de alimentação

Módulo de sanitário FIGURA 39: Desenho da ampliação A (proposta Espaço de Educação Ambiental). Elaborado pela autora. PARQUE LINEAR CAMARÁ

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CORTE AA - ESCALA 1/750

AMPLIAÇÃO

AMPLIAÇÃO- ESCALA 1/250

FIGURA 40: Planta baixa e corte AA (Espaço de Educação Ambiental). Elaborado pela autora. PARQUE LINEAR CAMARÁ

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REFERÊNCIAS PROJETUAIS:

FOTO 48: Escorregas na própria topografia. Parque Bicentenário, Santiago, Chile. Fonte: http://au17.pini. com.br. Acesso em outubro 2018.

FOTO 49: Brinquedo interativo com referência a animal da natureza. Gothenburg, Suécia. Fonte: http://www.materiaincognita.com.br. outubro 2018. 66

Acesso

em

FOTO 50: Brinquedo interativo. Austin, EUA. Fonte: http://play-scapes.com. Acesso em outubro 2018.

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AMPLIAÇÃO B. PARQUE INFANTIL Escorregas, parede de escalada e escada tiram partido da inclinação do terreno. Deck de ligação que permite acesso de ambas as margens do Rio Camarajipe.

O deck permite grande área uma vez que avança por cima da vegetação. O Parque Infantil terá brinquedos não convencionais e interativos. FIGURA 41: Desenho da ampliação B (proposta Parque Infantil). Elaborado pela autora. PARQUE LINEAR CAMARÁ

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CORTE BB - ESCALA 1/750

AMPLIAÇÃO

AMPLIAÇÃO- ESCALA 1/250

FIGURA 42: Planta baixa e corte BB (proposta Parque Infantil). Elaborado pela autora. PARQUE LINEAR CAMARÁ

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REFERÊNCIAS PROJETUAIS:

FOTO 51: Cinema ao ar livre. Parque Villa Lobos, SP. Fonte: https://vejasp.abril.com.br. Acesso outubro 2018.

FOTO 52: Exposição rotativa de grafite em parque urbano. Rose Fitzgerald Kennedy Greenway, Boston.

FOTO 53: Arquibancada com rampa. High Line, NY. Fonte: https://www.archdaily.com.br. Acesso outibro 2018.

Fonte: https://www.rosekennedygreenway.org/. Acesso outubro 2018. 70

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AMPLIAÇÃO C. ANFITEATRO

Módulo de quiosque de alimentação.

Faixa dos Camarás Mural para projeção de filmes (sobre a face interna voltada para a arquibancada) e exposição de grafites ou outras artes de rua temporárias (em sua face externa (voltada para o Mercado do Rio Vermelho).

Arquibancada acessível com rampas e palco para apresentações culturais. FIGURA 43: Desenho da ampliação C (proposta Anfiteatro). Elaborado pela autora. PARQUE LINEAR CAMARÁ

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CORTE CC - ESCALA 1/750

AMPLIAÇÃO

FIGURA 44: Planta baixa e corte CC (proposta Anfiteatro). Elaborado pela autora.

AMPLIAÇÃO- ESCALA 1/250

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REFERÊNCIAS PROJETUAIS:

FOTO 54: Deck e guarda corpo do Museu de Arte Moderna (MAM), Salvador Fonte: http://turismo.ibossa.com.br/. Acesso em outubro 2018. 74

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AMPLIAÇÃO D. TRAVESSIA

Deck de travessia alinhado a faixas de pedestre conectando um lado ao outro da avenida Juracy Magalhães Jr.

FIGURA 45: Desenho da ampliação D (proposta Travessia). Elaborado pela autora.

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CORTE DD - ESCALA 1/750

AMPLIAÇÃO

FIGURA 46: Planta baixa e corte DD (proposta Travessia). Elaborado pela autora.

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7.8 ESCOLHAS DE ESPÉCIES DE PAISAGISMO Para o projeto paisagístico do Parque Linear Camará, tomou-se como referência o “Manual Técnico de Arborização Urbana de Salvador com espécies nativas da Mata Atlântica” (SOCIEDADE BRASILEIRA DE ARBORIZAÇÃO URBANA, 2017) para a escolha de espécies de árvores e a tese “Plantas para Infraestrutura Verde e o Papel da Vegetação no Tratamento das Águas Urbanas de São Paulo” (PINHEIRO, 2017) para a escolha das espécies capazes de melhorar a qualidade das águas através da fitorremediação. Vale ressaltar que toda a vegetação existente é mantida no projeto e complementada com espécies nativas em sua maioria. Os aspectos utilizados para a escolha da vegetação foram a adequabilidade destas plantas para o clima de Salvador; floração e frutificação; capacidade para fitorremediação; além de se optar por aquelas ameaçadas de extinção e com valor cultural e histórico para a região. Lembrando que não foram escolhidas espécies com espinhos e/ou tóxicas que pudessem ser nocivas aos usuários do Parque.

suas margens no passado - será usada em toda a extensão do Parque através da Faixa dos Camarás. Serão usadas outras espécies do gênero lantana como a lantana rasteira Lantana montevidensis e a Lantana undulata, ambas visualmente semelhantes ao Camará Lantana camará. - Espécies com cores intensas no período de floração, uma vez que perdem suas folhas, como o Jacarandá Mimoso Jacaranda mimosifolia, Ipê Amarelo Handroanthus serratifolius, Ipê Roxo Handroanthus impetiginosus e Mulungu Erythrina L.; - Espécies ameaçadas de extinção, de acordo com o Centro Nacional de Conservação da Flora (CNCFlora)*, como o Pau Brasil (risco muito elevado) e Palmeira Juçara (risco elevado). Importante lembrar que as novas espécies de árvores foram dispostas a fim de dar sombra aos usuários, respeitando as árvores já existentes.

Dentre as espécies escolhidas para o projeto destacam-se as seguintes: - O Camará Lantana camara, planta que deu nome ao Rio Camarajipe por sua presença significativa em 78

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*O Centro Nacional de Conservação da Flora (CNCFlora) é referência nacional em geração, coordenação e difusão de informação sobre biodiversidade e conservação da flora brasileira ameaçada de extinção. Fonte: http:// cncflora.jbrj.gov.br/portal/. Acesso em outubro 2018.


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As cores na vegetação A diferença de cores no paisagismo é muito importante para a manutenção da biodiversidade, assim como para sinalização em diferentes escalas. As cores provenientes das flores, frutos e folhas são importantes atrativos para aves e insetos, que são um dos principais responsáveis pela polinização e dispersão de sementes. Segundo Sandro Von Matter (2015)*, mesmo em áreas urbanas, árvores e aves são parceiros inseparáveis, por isso, a arborização urbana é essencial para a vida das aves nas cidades. O uso das cores é um importante instrumento de comunicação visual na escala micro, dos pedestres e ciclistas, pois, tratando de um parque com um percurso linear, é interessante que os usuários tenham referências visuais para se localizar. Da mesma forma, na escala macro, num percurso de carro em alta velocidade, a percepção da paisagem é algo cansativo e desinteressante, uma vez que não se pode ver os detalhes (GEHL, 2010),

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entretanto, com o uso de cores, esta paisagem passa a se destacar das outras e, assim, convidar aqueles que estão nos transportes motorizados a se aproximarem. A paleta de cores escolhida tira partido de cores claras e adjacentes, como o rosa, laranja e amarelo, dando destaque para o roxo, cor incomum nas árvores urbanas de Salvador. Por isso, o roxo é utilizado

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majoritariamente no trecho de reflorestamento, a fim de tornar a própria vegetação o atrativo desta área. Esta cor também é utilizada nas duas extremidades do Parque Linear a fim de marcar seu inicio e final. O meio do trajeto linear perpassa pelo rosa, amarelo e laranja de maneira sutil, conectando através das cores os trechos do parque separados pelos retornos viários. Importante lembrar que estas cores foram dispostas também de acordo com

FIGURA 47: Esquema de cores ao longo do Parque.

FIGURA 48: Relação das alturas e cores das árvores adotadas no projeto.


os usos do Parque como pode ser visto nas Figuras 50 e 51. Para a confecção do quadro ao lado foram selecionadas somente as espécies com cor a fim de mostrar as cores predominantes ao longo dos meses do ano.

*Pesquisador em ecologia, hoje, à frente do Instituto Passarinhar, que é um dos pioneiros em ciência cidadã no Brasil, e desenvolve projetos em conservação da biodiversidade e restauração ecológica, criando soluções para tornar os centros urbanos mais verdes.

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FIGURA 49: Desenhos explicativos sobre o paisagismo adotado no projeto. 82

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7.9 MATERIAIS E MOBILIÁRIOS Para a escolha dos materiais utilizados no Parque Linear Camará teve-se a preocupação de não se agredir o meio ambiente e de ser o mais permeável possível, portanto, os caminhos de pedestre e a ciclovia serão de piso drenante comum e resinado, respectivamente, enquanto os decks serão em madeira plástica.

Piso Drenante Resinado Piso drenante a base de resina moldado in loco. Apresenta alta resistência e durabilidade. Ideal para locais mais expostos água. Indicado para ciclovias por não ter emendas. Custo um pouco mais elevado que o piso drenante comum.

Possui alta durabilidade e resistência a abrasão. Pode ser usada em decks, vigas, pilares e em mobiliários. Uso interno ou externo, dispensa manutenção para controle de pragas e/ ou umidade. FOTO 57: Amostras de piso de madeira plástica. Fonte: http:// www.ecopex.com.br. Acesso em outubro 2018.

FOTO 56: Piso drenante residnado moldado in loco. Fonte: http:// www.rhinopisos.com.br. Acesso em outubro 2018.

Piso Drenante Comum Placas pré moldadas de concreto poroso que permitem a absorção da água pelo solo sem sua contaminação através de uma camada de base granular. Possui capacidade drenante superior a 90%. Material com certificação ambientação (LEED). FOTO 55: Piso drenante comum em placas pré moldadas. Fonte: http://www.rhinopisos.com.br. Acesso em outubro 2018.

FIGURA 52: Proposta de placas pré- moldadas de 40x40cm com composição nas cores marfim e amarelo.

MOBILIÁRIOS FIGURA 53: Esquema explicativo da permeabilidade do piso drenante. Fonte: elaborado pela autora com base no Guia Completo Piso Drenante disponível em masterplate.com.br/piso-drenante/. Acesso em outubro 2018.

Madeira Plástica: Material 100% ecoclógico produzido através de resíduos plásticos descartados em industrias e residências. Não contamina o solo nem as águas subterrâneas, além de evitar o desmatamento.

Os mobiliários escolhidos possuem a mesma linguagem e materiais utilizados no Parque. Os bancos comuns serão de madeira plástica, assim como os pergolados e as mesas de piquenique. Os corrimãos dos decks serão também em madeira plástica com proteções de corda naval. Os bancos de contemplação do Rio Camarajipe serão em madeira plástica dentro de manilhas de esgoto.

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Secção padrão do Parque A secção abaixo apresenta elementos que irão se repetir pela maior parte da extensão do Parque. Alguns destes terão variações, como os decks, uma vez que podem ser criados onde já existem árvores, podem se adaptar à topografia já existente e podem ter mobiliários acoplados como pode ser visto a seguir.

FIGURA 54: Corte em perspectiva padrão do Parque, ilustrando as variações dos decks.

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Vista direcionada Vale a pena ressaltar que os assentos estão dispostos a fim de atender a usos diferentes. Os assentos acoplados no próprio deck permitem uma visão livre e para todos os lados. Os bancos para piquenique possuem a configuração própria para esta função. Os bancos comuns possuem somente a visão direcionada para a frente, por isso eles são dispostos em direções opostas (para dentro e para fora do Parque). Já os bancos de contemplação do Rio Camarajipe, são ainda mais direcionados uma vez que permitem o foco para somente uma direção, fazendo com que o usuário se isole do resto do Parque.

FIGURA 55: Cortes em perspectivas esquemáticos ilustrando os mobiliários e suas relações com o Parque.

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Iluminação Serão mantidos os postes existentes hoje para iluminação da avenida nos dois sentidos. Para iluminar os usuários do Parque, são propostos postes de 3 metros de altura com iluminação radial e lâmpadas LED (Light Emitting Diode ou diodo emissor de luz), deve-se optar por um modelo de baixo consumo, baixa manutenção e alta resistência à intempéries. Para complementar esta iluminação noturna são propostas fitas LED abaixo de alguns mobiliários e refletores com lâmpadas LED coloridas em árvores, uma vez que durante a noite a iluminação funcionará como atrativo de pessoas. Estes refletores serão dispostos ao longo do Parque nos trechos entre as atrações e, futuramente no trecho reflorestado, quando as árvores tiverem atingido o porte adulto. Segundo a empresa Brillia*, são indicadas para este tipo de iluminação as cores azul e verde, pois não são nocivas às plantas, realçam as copas das árvores de maneira harmônica na paisagem além de serem agradáveis aos olhos.

* Empresa especializada em LED em matéria para o site Hometeka. Fonte:<https://www.hometeka.com.br/blog/ por-que-voce-deveria-usar-lampadas-led-no-jardim-da-sua-casa/>. Acesso em novembro 2018. 92

FOTO 58: Postes existentes. Fonte: foto tirada pela autora em abril 2018.

FOTO 59: Sugestão de poste de altura de 3 metros com iluminação radial indicado para parques. Fonte: https://www.schreder.com/. Acesso em novembro 2018.

FOTO 60: Bancos com iluminação através de fita LED. Fonte: https://www.archiproducts.com/. Acesso

FOTO 61: Iluminação por refletores no Parque Gerland, Lyon, França. Fonte: https://theurbanearth.

em outubro 2018.

wordpress.com/. Acesso em novembro 2018.

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7.10 PARTICIPAÇÃO POPULAR Inspirado no Parque Capibaribe, apresentado nos Estudos de Caso, o Parque Linear Camará prevê participação popular a fim de se construir um sentimento de pertencimento da população e criação de uma identidade para o local. Alguns dos mobiliários podem ser feitos junto com a comunidade através de oficinas de reciclagem, além de mosaico, assim como plantios coletivos. Reforçando sempre a importância destas ações para a conscientização ambiental da comunidade, além de serem atividades coletivas que promovem interações entre pessoas de bairros diferentes.

FOTO 62: Cobertura em tecido, Huelva, Espanha. Fonte:http://www.arquitextil.net/. Acesso em outubro 2018.

FOTO 63: Parede de mosaico feita com tampas, NY, EUA. Fonte: http://www.projectvortex.org/. Acesso em outubro 2018.

Estas atividades irão englobar o entorno imediato do Parque, através da instalação de mosaicos e artes urbanas coletivas, a fim de dar mais valor às fachadas não ativas que abraçam grande parte do trecho da intervenção.

FOTO 64: Mobiliários versáteis feitos de madeira (Pop-Up! Street Furniture), Seattle, EUA. Fonte:

FOTO 65: Oficina de plantio com crianças promovida pelo Canteiros Coletivos. Fonte: http://

https://archello.com. Acesso em outubro 2018.

canteiroscoletivos.com.br/. Acesso em outubro 2018.

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FIGURA 56: Fotomontagem referente a área próxima a Cidade Jardim, ilustrando os caminho de pedestre, a ciclovia, parte do deck de contemplação das centenárias, a iluminação e o mosaico nos muros do entorno. Percebe-se que a foto ao lado já possui um caminho feito pelas pessoas que andam pelo canteiro central. 96

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FIGURA 57: Fotomontagem referente a parte interna do Parque, ilustrando um dos decks que se estendem sobre a vegetação e inclinação do terreno. Ao fundo, vê se as árvores de floração amarela predominante e a Faixa dos Camarás em ambas as margens do Rio Camarajipe.


FIGURA 58: Fotomontagem referente a parte interna e externa do Parque, com o Hospital Aliança ao fundo. Ilustra a biovaleta, a ciclovia, o caminho de pedestre, a iluminação, os decks de travessia e permanência (ao fundo) e presença de árvores de floração rosa. Percebe-se também nesta foto que já existe um caminho feito pelos pedestres que utilizam o canteiro central. PARQUE LINEAR CAMARÁ

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7.11 PROPOSTA DE SOLUÇÃO ALTERNATIVA AO BRT Vale lembrar que o incentivo ao uso do transporte coletivo e transportes não motorizados ainda é a melhor solução para os problemas de mobilidade, como fora visto na parte deste trabalho (item 4.1), que discorre sobre este assunto no cenário atual de Salvador. Neste Trabalho Final de Graduação, teve-se como foco o incentivo ao uso de transportes não motorizados como a bicicleta e a locomoção pedonal, uma vez que não se tinham estudos suficientes para a proposta mais concreta de um projeto de transporte de massa. Entretanto, como sugestão alternativa ao projeto proposto do BRT (Bus Rapid Transport), uma vez que este projeto ocupa o mesmo local do Parque Linear Camará, propõe-se a ideia da criação de um sistema de transporte BHLS (Bus with High Level of Service – ônibus de alto nível de serviço) ou um VLT (Veículo Leve sobre Trilhos). Ambos os sistemas de transporte de massa são mais sustentáveis que o BRT proposto, pois são movidos a energia elétrica e atendem, praticamente, à mesma demanda populacional. Para esta solução de ideia proposta, qualquer um destes sistemas seriam implantados na faixa da esquerda (lindeira ao Parque Linear Camará) na própria malha viária existente. 98

FOTO 66: BHLS em Nimes, França. Fonte: https:// www.bonde.com.br. Acesso em abril 2018.

FIGURA 59: Esquema do trajeto da proposta alternativa ao BRT na própria malha viária. Elaborado pela autora.

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FOTO 67: VLT da Baixada Santista. Fonte: http:// www.mobilize.org.br. Acesso em abril 2018.


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7.12 ETAPAS FUTURAS DO PROJETO Logo, sabe-se que, como já mostrado anteriormente, os rios urbanos e as áreas verdes integram um grande sistema dentro da cidade. Este sistema macro depende do bom funcionamento das partes menores que o integram e ao qual se interconectam. Portanto, o projeto proposto neste Trabalho Final de Graduação pode ser compreendido como a primeira etapa de um outro grande projeto com etapas futuras que visem aprimorar o seu funcionamento. O segundo passo deste projeto será conectar o Parque Linear Camará com os bairros do entorno, complementando a vegetação a fim de dar sombra ao pedestre, melhorando seu percurso, além dos outros benefícios provenientes das áreas verdes nas cidades. Os mecanismos aqui utilizados de fitorremediação, como as biovaletas e jardins de chuva, também são importantes nesta etapa para o tratamento da água que irá ser absorvida pelo solo. O terceiro passo é a aplicação deste sistema de Parques Lineares em outros canteiros centrais da cidade, principalmente e primeiramente, naqueles mais próximos e com potencial de conexão, dando prioridade sempre às áreas livres próximas ao Rio Camarajipe. Assim, a fauna e flora estarão se complementando e a qualidade das águas e dos solos irão melhorar.

Uma quarta etapa seria a criação de outros Parques Lineares, contemplando as etapas anteriores, que se estendam por outras áreas da cidade, dando prioridade aos afluentes do Rio Camarajipe, uma vez que se comunicam, e, depois, a outros rios da cidade. Ressaltando que, estes Parques irão funcionar como vetor de mobilidade, criando um trajeto de qualidade para o pedestre e o ciclista e o conectando a diferentes partes da cidade. Espera-se que, durante este processo, um novo olhar sobre os rios urbanos se estabeleça, uma vez que estes serão mais valorizados pela cidade e portanto pelas pessoas. E assim, poderá ser resgatada a imagem do rio urbano como marco paisagístico, além de que, as relações do homem e natureza poderão ser mais estreitas, resultando na melhor qualidade de vida e saúde da população.

FIGURA 60: Esquema de progressão esperada para as etapas futuras. Elaborado pela autora. PARQUE LINEAR CAMARÁ

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CONS I DERAÇÕ ES FINAIS

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Hoje, o local analisado é apenas um canteiro central, que serve de barreira para os pedestres que precisam atravessá-lo, muitos consideram o Rio Camarajipe como um canal de esgoto por conta do mau cheiro e os motoristas desaprovam a distância entre os retornos viários. Entretanto, com um novo olhar sobre este local, vê-se que ele tem potencial de ser agregador de pessoas, reaproximando-as entre si, e reaproximando-as com os rios. Tornando assim, um local agradável de permanência e de passagem, podendo ser um marco paisagístico da cidade, além de melhorar a biodiversidade local. Este canteiro central pode ser tudo isso através de intervenções simples como uma pista de caminhada e um lugar para se sentar, respeitando-se a natureza que ali existe e sustentando um projeto de forma a ajudá-la, pois, sabe-se que uma vez em equilíbrio, as próprias pessoas irão se beneficiar. Desta forma, o que impulsiona este novo olhar sobre o local é a esperança de se viver em uma cidade melhor. É o sonho de ver as pessoas unidas em respeito ao meio ambiente e delas se sentirem assistidas e respeitadas, pois todos têm o direito de sentar em um banco de praça e de relaxar observando o vento que bate nas folhas das árvores, aproveitar a sombra gostosa e ouvir o barulho da 100

água que corre no rio, enquanto seu filho brinca tranquilamente em um parquinho. Assim como todos têm o direito de percorrer um trajeto debaixo de árvores e atravessar a rua com segurança, além de se ter a opção de ir trabalhar de bicicleta por meio de um trajeto seguro e que foi pensado para este fim. Da mesma forma que a água tem o direito de completar seu ciclo sem ser interrompida pela pavimentação impermeabilizada das avenidas, os pássaros tem o direito de fazer seus ninhos nas árvores e as plantas tem o direito de crescerem em solos não contaminados ou poluídos. É importante nunca esquecer que existem outras soluções para os problemas da cidade. Soluções mais sustentáveis, que atendem às necessidades urbanas com o menor impacto possível. Não se pode ir na contramão do resto do mundo e apagar do mapa todos os rios da cidade, como vem acontecendo nas últimas décadas, pois os rios urbanos além de serem importantes para a fauna, para a qualidade do solo, e para uma bacia hidrográfica inteira, eles são importantes para a identidade local. Enfim, o primeiro passo para se ter uma cidade melhor é sonhar e pensar em alternativas para se conseguir uma cidade melhor. A arquitetura e urbanismo têm a chave para projetar aquilo que irá realizar o sonho de uma pessoa, de um bairro ou de uma cidade inteira. Entretanto, para concretizar

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este projeto é preciso que se esteja alinhado à políticas públicas, investimento em programas de conscientização ambiental e engajamento dos cidadãos. E assim, eu sigo, sonhando e pensando em alternativas para uma cidade melhor.


REF ERÊ N CI AS B IBLI OG R ÁF I CAS

9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AMBIENTE SUSTENTÁVEL ASSESSORIA TREINAMENTO LTDA. ESTUDO DE IMPACTO AMBIENTAL (EIA): Corredores de Transporte Público Integrado (BRT) Lapa – Iguatemi. Salvador: 2014. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE CIMENTO PORTLAND; PROGRAMA SOLUÇÕES PARA CIDADES. Projeto técnico: parque lineares como medidas de manejo de águas pluviais. Belo Horizonte: Fábrica de Ideias Brasileiras – FIB. Disponível em:<http:// www.solucoesparacidades.com.br/wp-content/ uploads/2013/10/AF_Parques%20Lineares_Web.pdf>. Acesso em: abril 2018 BORJA, Patrícia Campos. Programa Bahia Azul: uma avaliação quali-quantitativa. Cadernos PPGAU/UFBA, Vol. 4, n° 1, 2005. Disponível em:< http:// www.portalseer.ufba.br/index.php/ppgau/article/ viewFile/1419/949>. Acesso em: junho 2018 DELGADO, Juan Pedro Moreno. Mobilidade Urbana. Seminário Planejamento Urbanístico e Gestão Ambiental em Salvador, 2014. Rede de Profissionais Solidários pela Cidadania. Disponível em: <http://participasalvador. com.br/wp-content/uploads/2014/10/salvadormobilidade-urbana.pdf> Acesso em: junho 2018 FELIX, ADELIA; MYYAZONO, SHIZUE. O projeto do BRT de Salvador está equivocado, afirma especialista. Bocão News. Salvador. 11 de maio de 2018. Disponível

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