UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA CENTRO DE ARTES ARTES VISUAIS BACHARELADO Elis Marina Rigoni Perlini
ARTICULTURAS DO SENSÍVEL um manual-festa
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Centro de Artes, da Universidade do Estado de Santa Catarina, como requisito parcial à obtenção do título de Bacharel em Artes Visuais. Orientação: Prof. Dra. Nara Milioli
Florianópolis Inverno de 2016
Banca examinadora ________________________________________ Orientadora: Prof. Dra. Nara Beatriz Milioli Tutida CEART/PPGVA ________________________________________ Membro: Prof. Ms. Juliana Torquato Luiz UNIFEBE ________________________________________ Membro: Prof. Ms. Paulo Renato Viegas Damé CEARTE/UFPEL
Para todos os articultores, semeadores e distribuidores de abundância que pularam a cerca para compartilhar. À casa da montanha e a do bosque que me acolheram com tanto carinho. Aha Mitakuye Oyasin. Para todas as relações. Honro-te por dividir esse ciclo em nossas vidas.
RESUMO O intuito desse manual é servir como meio prático, muito mais do que teórico. Possui um lado para ser refletido, repensado na vida diária, mas as ações e escolhas de consumo e geração de resíduos é mais urgente. Tendo em conta que essas escolhas moldam nossa paisagem, a Articultura do Sensível fala como cultivar a si mesmo em um primeiro momento, para em seguida passar a interferir de maneira mais sustentável e integrada. No capítulo 1 – Como ser planta - há um primeiro movimento desse cultivar, o romper da bolha das questões somente pessoais. Já no capítulo 2, O que é um jardim, essa bolha se alarga para o nível comunitário e oferece algumas maneiras de começar seu próprio jardim. No capítulo 3, Como pular cercas, exemplos de ações realizadas e alguns modelos práticos de composteira e jardinagem de guerrilha são apresentados. No capítulo 4, Espalhando abundância, o jardim interno como fonte de abundância para e no coletivo. No último capítulo, Como ser árvore, é falado um pouco sobre a importância em deixar o jardim perder o controle e se transformar em uma agrofloresta. O jardim durante esse texto é em muitos momentos um jardim físico, porém em outros pode ser somente uma metáfora. Além disso, o capítulo Para começar possui diagramas e dicas para iniciar hortas e banheiros secos. Também há uma tradução sobre a coleta selvagem e, para finalizar, cada capítulo possui uma planta de poder com suas propriedades e que entre tantas qualidades, podem gerar alegria .
Palavras-chave: permacultura; escultura social; jardinagem de guerrilha; agricultura urbana; alimentação natural
Lista de ilustrações Figura 1 Figura 2 Figura 3 Figura 4 Figura 5 Figura 6 Figura 7 Figura 8 Figura 9 Figura 10 Figura 11 Figura 12 Figura 13 Figura 14 Figura 15 Figura 16 Figura 17 Figura 18 Figura 19
Adesivo Garfo-faca-pá, Elis Rigoni, 2015 - pág. 02 Serigrafia Alegria sem fim, Elis Rigoni, 2015 - pág 04 Casal de buchas, Elis Rigoni, 2016 - pág 06 Início da horta mandala, Casa do Toni, registro em junho de 2015 - pág 15 Produção de alfaces e rúculas na horta mandala na casa do Eduardo, registro em agosto de 2015 - pág 16 e 17 Lambe-lambe “Espaço para ser quem se é”, Elis Rigoni, 2013- pág 19 Série Carcaça. Elis Rigoni, registro nas dunas de Hermenegildo, 2013 - pág 20 Série Entregar-se. Camila Hein, registro no Templo das Águas, Pelotas, 2013 - pág 20 Rosana realizando colheita na Horta das Garças, registro em dezembro de 2015 - pág 25 Cartaz “Terra não tem dono”, Bruna Maresch, 2015 - pág 26 Registro dos Sistemas Produtivos na Cidade Escola Ayni, 2016 – pág 28 “Seja marginal seja herói”, Hélio Oiticica, 1968 – pág 29 Registro de Praça para cães no Córrego Grande/ Florianópolis, Elis Rigoni, 2015 – pág 30 Registro de hortas urbanas em Guaporé/RS, Elis Rigoni, 2016 – pág 32 e 33 Cartaz “Sua boca transforma a paisagem”, Elis Rigoni, 2015 pág 35 Logo CSA (Community Supported Agriculture) – pág 35 Implantação de horta comunitária no Rio Vermelho, registro em novembro de 2015 – pág 40 Cartaz “Bomba e Revolução”, Observatório Móvel, 2015 – pág 44 Registro do dia de resgate à vaca atolada no Córrego Grande, 2015 – pág 44
As imagens usadas nesse projeto são ou de autoria da autora, ou de algum dos grupos que participa ou de livre divulgação na internet. Caso contrário, a devida referência é dada. *Símbolos, desenhos e ilustrações sem referências foram encontrados em pesquisas virtuais .
Figura 20 Figura 21 Figura 22 Figura 23 Figura 24 Figura 25 Figura 26 Figura 27 Figura 28 Figura 29 Figura 30 Figura 31 Figura 32 Figura 33 Figura 34 Figura 35 Figura 36 Figura 37
Figura 38 Figura 39 Figura 40
Registro do dia de compartilhamento de saberes sobre banheiro seco na casa do Chitão, 2015 – pág 49 Sistema de Compostagem UFSC, cartilha da CEPAGRO, 2016 – Pág 50 e 51 Registro de jardinagem de guerrilha no Passaic, UDESC, 2015 – pág 52 Registro de proteção de daninhas em praça no sul da ilha, novembro de 2015 – pág 52 Registro de implantação de horta comunitária no Museu Cruz e Souza, 2014 – pág 53 Registro da implantação de jardim medicinal nos canteiros da Praça da Lagoa da Conceição, novembro de 2015 – pág 54 Registro da Série Descarrego (com plantação de espadas de São Jorge pela cidade), 2015 – pág 55 Coração, desenho de Juan Orosno, 2015 – pág 59 Hagamos un bosque, projeto Un árbol para mi vereda em Buenos Aires, 2015 – pág 60 Registro de milhos criolos, Fabi Coelho, fevereiro de 2016 – pág 64 Registro de bombas de sementes, Elis Rigoni, 2015 – pág 69 Moeda social do Banco Semear em Piauí, 2015 – pág 70 Mudas do sítio de agricultura familiar e biodinâmica em Demétria, Botucatu/SP, 2015 – pág 72 Colheita no sítio de agricultura familiar e biodinâmica em Demétria, Botucatu/SP, 2015 Patrícia Yamoto, Aquarela para a publicação ONG Iniciativa Verde, 2013 - pág 85 Registro das hortas e encontros do grupo Quintais de Floripa, 2015 e 2016 – pág 86 e 87 Registro no Curso de Desenho em Permacultura na Cidade Escola Ayni, janeiro de 2016 – pág 89 Registro de almoço coletado e produzido durante o período de bolsa promovido pelo Instituto Ná'Lu'um em Guaporé/RS, março de 2016 – pág 92 Registro de trabalho durante o período de bolsa p r o m o v i d o p e l o Instituto Ná'Lu'um em Guaporé/RS, abril de 2016 – pág 93 Registro de um dia de aula durante o período de bolsa promovido pelo Instituto Ná'Lu'um em Guaporé/RS, abril de 2016 – pág 97 Cartaz “Ressalvagize-se”, Observatório Móvel, 2015 – pág 100/101
Guia prático I como ser planta 12 II o que é um jardim 24 III como pular cercas 38 IV espalhando abundância 58 V para ser árvore 82 VI para começar 102 VII para ir além 114
Articultura é saber que por onde quer que se caminhe o passo é arte, o tempo é arte, criação e recriação de paisagem, de instante. É saber da importância da cultura, da arte, da agricultura - saber também da importância das coisas que não tem importância. Cada canto é um jardim comestível em potencial. Cada canto é uma roda de conversa, a leitura de livro, uma intervenção em potencial. Em qualquer lugar cabe um cartaz ou uma bomba de semente pra crescer girassol. Ser articultor é se entregar e botar a cara pra bater na situação que pintar: produzir com agricultor; discutir com político; argumentar com curador; criar com amigos; pisar na terra com permacultor. Estamos em busca de mais articultores. Elis Rigoni
Que a terra há de comer, Mas não coma já. Ainda se mova, para o ofício e a posse. Sinta frio, calor, cansaço: pare um momento; continue. Descubra em seu movimento forças não sabidas, contatos. O prazer de estender-se; o de enrolar-se, ficar inerte. Prazer de balanço, prazer de vôo. Prazer de ouvir música; sobre o papel deixar que a mão deslize. Irredutível prazer dos olhos; certas cores: como se desfazem, como aderem; certos objetos, diferentes a uma luz nova. Que ainda sinta cheiro de fruta, de terra na chuva, que pegue, que imagine e grave, que lembre. O tempo de conhecer mais algumas pessoas, de aprender como vivem, de ajudá-las. Últimos dias, Carlos Drummond de Andrade
I Como ser planta
Sentamos juntos, a floresta e eu. Fundimo-nos no silêncio, Até que só houvesse floresta. Carlos Aveline
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Tudo aconteceu em um momento, sabe aqueles momentos que acontecem quase todo dia, deve ter sido depois de alguma dessas notícias de desastre que engoliu não sei quantas vidas. O problema foi que justo esse teve alguma coisa diferente, pensei que tivesse sido a chuva, lembrei-me que tinha que tampar algumas goteiras do telhado....com certeza poderia ter sido isso. Estive muito tempo na escuridão. Pensei que era um estado normal – via muitos em uma certa apatia possível somente na escuridão, certas atitudes que somente assim são justificáveis. Admito que às vezes até me sentia aconchegada lá. Mas aquele momento fez com que qualquer ideia de aconchego se arrebentasse: passei a sentir muito frio, muito medo, muita vontade de sumir. Lembrei de tudo que havia lido sobre espiritualidade, psicologia, budismo – não encontrei âncoras em nada que conhecesse. Sentia como se uma grande espiral por dentro pudesse me atirar longe, como fazem os tornados. Sentia os ventos cada vez mais fortes, de repente muito pingos de água começaram a se atirar em toda minha pele. Já aí senti algo raro... como se pelos meus pés estivessem saindo fios, algumas tramas. Estava tão assustada! Mas não tinha mais pra onde fugir. Mal as gotas pararam e uma grande chama começou a esquentar todo meu corpo: estava dentro de uma fogueira! Olhava minhas mãos e via pequenas labaredas.... não tinha pra onde fugir. Soltei-me ao fechar os olhos. Quando percebi que os ventos estavam mais calmos, abri os olhos lentamente: percebi que de dentro de mim havia brotado uma planta. Melhor: percebi que eu era a planta. De cada veia no meu pé uma raiz de pelo menos três metros se estendia em direção ao centro da terra e de minha cabeça pequenos brotos de samambaia saiam, do meu peito então.... uma bromélia gigante daquelas com uma flor rosa toda esquisita, mas linda. Que loucura! De repente escutei dentro de mim a voz do fogo que antes me havia iniciado: “Filha, eles enterraram vocês, todos vocês. Mas esqueceram de uma coisa muito importante: todos são sementes. O sol está queimando cada vez mais forte e as marés estão subindo muito rápido. Não esqueça que você já brotou e que agora é preciso arear um pouco mais a terra para que outros vejam esse sol.” 13
Bem, depois que os elementos da natureza te fazem sentir tamanha festa por dentro e em cada canto do corpo, depois que o fogo te permite entrar no sagrado não tem muito como voltar atrás. O presente projeto tenta contar um pouco de como foram os movimentos depois que as raízes se fincaram fortemente na terra e os braços souberam o peso de uma enxada, uma pá e os trabalhos que são necessários para que as engrenagens funcionem. A ideia desse manual é lembrar que cada ação pode ser feita de maneira divertida: “Se não é divertido, não é sustentável”. Cada capítulo carrega alguns tratores para quebrar deliciosamente algumas carcaças: desde exemplos de ações e jardinagem de guerrilha individuais e com o grupo Observatório Móvel, até os projetos do grupo de hortas comunitárias de Florianópolis e finalmente um projeto ambicioso realizado por um instituto de permacultura para a criação de uma escola sustentável. Como diz Lucy Lippard “Minha metodologia é simples e experimental: uma coisa leva à outra, como na vida”, dessa mesma forma tomei esses processos de investigação – dos quais muitas vezes não entendia muito bem o (e se havia) limite entre arte, vida, necessidade, ser-artista-ou-permacultor. Optei por não nomear nada e fingir que os artistas hoje são uma versão atualizada do que eram os xamãs, que sabiam brincar com a realidade e levar a magia para seu povo. Optei por acreditar que a melhor magia que podemos fazer é quebrar o concreto com alguns amigos e plantar algumas alfaces, ora-pro-nóbis e capuchinhas enquanto lemos Fukuoka ou Smithson. O movimento do texto é um tipo de espiral, em que algumas descobertas individuais reverberam no comunitário e novamente volta para o pessoal mas jamais no mesmo nível. Qualquer um que escute o coração dos seus semelhantes nunca volta igual para casa. Acredito que a única forma de termos jardins floridos e abundantes seja somente através do bom cultivar de todas as espécies possíveis de co-existirem juntas e dar o devido tempo para a compostagem do que não é mais necessário. Também, para encerrar cada capítulo convido uma planta de poder para se apresentar e contar um pouco dos seus possíveis usos. 14
Frase célebre de Tierra Martinez, coordenador e permacultor do Instituo Ná’Lu’um Observatório Móvel é um grupo de pesquisa e extensão do CEART/UDESC
Quintais de Floripa é um grupo da comunidade que se reuniu para criar hortas comunitárias pela cidade.
LIPPARD, 2015, pág 05.
Figura 4 Início da horta mandala, Casa do Toni, registro em junho de 2015
Figura 5 Produção de alfaces e rúculas na horta mandala na casa do Eduardo, registro em agosto de 2015
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Sobre essa tal missão que o fogo falou Depois que vi essa tal bromélia e voltei à consciência normal só podia me perguntar por onde começar. Quer dizer, para que isso tivesse ocorrido talvez já fosse um sinal de que estava fazendo algo. Olhei minha casa, minha cara, meus hábitos, comecei um processo de escavação. Percebi que tinha uma espécie de trilha por aí: de repente apareciam pessoas me falando sobre jejum, alimentação viva, permacultura, escultura social. É bem verdade o que dizem sobre a única maneira de mudarmos alguma coisa “no mundo” é mudarmos em nós – acaba que esse tal mundo é só um mito. De repente carregava uma pá em minha mochila e cada vez que encontrava algum guardião de sementes, trocava algum feijão ou milho bem colorido. Voltar à simplicidade se tornou uma espécie de mantra. Percebi que a forma diária que interajo com o mundo é através do consumo, seja ele consciente ou não. A simplicidade no paladar, nas necessidades, no uso dos materiais passou a ser algo muito tranquilo. Aos que já se perguntaram de onde vem a tinta acrílica, os metais ou o alimento que chega todos os dias até a mesa sabem exatamente o tipo de “neura” que a vida pode se transformar. A outra forma de interação é com a própria criação. Todo homem é um artista. Isso não significa, bem entendido, que todo homem é um pintor ou escultor. Não, eu falo aqui da dimensão estética do trabalho humano, e da qualidade moral que aí se encontra, aquela da dignidade do homem. Ir além das zonas conhecidas implica em realmente acreditar que existem maneiras diferentes de viver e encontrar soluções diferentes das quais estamos condicionados em centros urbanos e até rurais. É acreditar principalmente que é possível ir além do que se acredita. Uma certa magia começa a envolver os atos quando vemos que existe muito que não sabemos, que talvez o que vemos seja uma parcela bem pequena. Acaba que, quando menos espera, você se torna um observador da vida e um vivedor muito profundo dela: e essa profundidade só aumenta conforme se passa a viver de acordo com as regras e condições que um escolhe para si mesmo. 18
BEUYS, 2006
A metáfora do jardim interno é algo corriqueiro. Adubação de si: processos de fortalecimento do solo interior Compostagem de si: as coisas que não servem mais se transformando em matéria orgânica rica em nutrientes
Estar em si mesmo é o melhor lugar para poder estar em qualquer outro lugar. Estar em si implica em saber um pouco o que é esse “si”, os momentos que ele precisa de solitude, tocar o chão, mergulhar no mar ou na água doce ou só existir encostado na relva. Estar em si implica em saber qual o momento de andar, de parar ou de lutar. Estar em si é a única maneira de sobreviver.
Dar-se um tempo para um alongamento e uma respiração daquela que vai até a ponta dos pés é a forma de ser resiliente, sentir como se algo estivesse adubando por dentro, saber que existe um processo de descamamento em andamento e que algumas sementes já começaram a brotar. Respeitar o outono tanto quanto a primavera. Desse lugar, com as raízes fincadas e algumas zonas delimitadas, acaba que se torna um pouco mais fácil navegar em qualquer direção e a bolha pessoal começa a entrar na bolha coletiva. Cada escolha é um ato de responsabilidade: só de começar a dar mais atenção para o que consumimos diretamente – a comida, pelo menos três vezes ao dia - a reverberação é gigantesca. O que não vemos na imediatez do gosto destrói as nossas florestas, polui os rios, muda o clima e maltrata os animais. Além disso, o sabor altamente elaborado dos alimentos processados tem um impacto imensamente amargo para todo o resto do nosso organismo. BARRETO, Jorge M. Quando foi mesmo que trocamos a mandioca, a pitanga, a O alimento no Campo juçara e as plantas comestíveis não convencionais (PANCS) que expandido. crescem abundantemente, por salgadinhos fritos, refrigerante, pipoca transgênica, danoninho? Hoje temos medo de colher tansagem em nosso jardim para fazer um chá, mas gostamos de ir na tenda e comprar um punhado empacotado, quando não preferimos ir à farmácia e optar por algum alopático imediato.
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As decisões que tomamos em pequenas escolhas fazem com que a abundância da natureza possa começar a reverberar desde dentro para fora, agindo diretamente na saúde e no aclarar de pensamentos até o aumento exagerado de energia para realizarmos ações. Ao colocar natureza para dentro ela passa a Este chakra bem ativo brotar por cada poro: já imaginou ter a força de uma daquelas proporciona consciência plantinhas que conseguem quebrar o concreto e crescer como se do tempo, as barreiras nada a pudesse parar? são derrubadas e a Mas algo surge para parar. Talvez seja o consumo continuidade fica clara. excessivo de açúcar, ou alguma daquelas substâncias com nomes A pessoa ultrapassa de outro planeta que adoram colocar em qualquer pacote plástico, todos os limites criados ou até o flúor que falam que faz um mal danado pra glândula por elementos densos. pineal. Sabe como é, chakra da clarividência, da consciência... Talvez todos juntos. Ao escutarmos sinceramente quais as necessidades do corpo, além das vontades egóicas, percebemos que elas são muito parecidas com a dos demais: necessidade de se sentir seguro, de se alimentar, de se proteger das interpéries. Ao pensarmos que entre nós e o outro existe algo que não essas mesmas necessidades, começamos a dar voz aos monstros e acabamos por nos esquecer que em algum momento decidimos vivenciar essa experiência para, além de aprender, nos divertir e encontrar amigos de grandes viagens. Será que viver dessa maneira não seria desmistificar tudo o que os jornais, os livros e que muitos nos contam sobre o mundo Mais sobre escuta estar indo a loucura? Ao escutarmos sobre os roubos que nossa consciente e cidade está tendo não coadunamos para aumentar essa comunicação não violenta em informação: passamos a nos conectar com as reais sensações de ROSENBERG, 2006 quem fala, com suas necessidades de segurança, passamos a ver um pouco mais. Percebemos que não basta aumentar os muros de casa ou instalar redes elétricas, investimos na criação de projetos culturais e sociais com a comunidade e vizinhos para tentar buscar as razões que tais ações têm ocorrido. Figura 7 Série Carcaça. Dar-se o presente de quebrar fantasmas e paredes internas Elis Rigoni, registro nas para viver no momento presente, com pessoas presentes, e dunas de Hermenegildo, perceber que muitas vezes o que falta é um bom papo pra 2013 Figura 8 Série Entregar-se. esclarecer e respirar. Camila Hein, registro no Templo das Águas, 2013
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PLANTA DE PODER Rosmarinus officinalis O Alecrim, sob o domínio do Sol , é uma planta que ama o calor e a vida. A sua utilização medicinal também é bastante vasta. _Ele aquece e estimula o cérebro e o corpo, é ótimo como cardiotônico, estimulante, anti-reumático, atuando muito bem nas tendinite e dores e cãibras musculares. _ Resolve rapidamente dores de estômago e azias pois atua como digestivo limpando o fígado e a vesícula daí ser empregado nos casos de má digestão, aerofagia e catarros gastrintestinais. _ Portanto regulas as funções hepáticas, tem propriedades antisépticas e estimulantes mas, ao mesmo tempo calmante o que faz atuar nas insônias. _ Restitui a energia dos cansados e também dos estressados por muito esforço mental por isso atua como anti-depressivo. Uso caseiro: Inseticida natural, para esse fim, mistura-se uma xícara de óleo de alecrim em dois litros do chá de fumo. Bata no liquidificador e aplique, como se faz com um inseticida . Plantado na horta protege as outras plantas. Ramos de alecrim frescos, colocados entre as roupas defendem-nas de ataque de traças. Desinfetante de alecrim: ferver folhas e pequenos caules de alecrim por meia hora. Quanto menos água mais concentrado. Espremer e usar para limpar louças e casas de banho. Para desengordurar melhor, misturar um pouco de detergente. Guardar na geladeira, dura uma semana. Galhos floridos secando num vaso na casa estimula a memória. Xarope - para 1/2 litro de xarope adicionar o suco de 4 colheres de folhas e tomar 1 colher de sopa a cada 3 horas. 22
Infusão - 1 xícara de folhas em 1/2 litros de água, tomar uma xícara de chá a cada seis horas. Pó cicatrizante - usa-se as folhas secas reduzidas à pó, mescladas com argila ou aloe vera. Uso mágico: Afasta olho gordo, erva da juventude eterna, do amor, amizade e alegria de viver. Erva colocada debaixo do travesseiro afasta maus sonhos. Tocar com alecrim na pessoa amada faz ter seu amor para sempre. Banho de alecrim A imersão de alecrim é altamente recomendada para eliminar energias negativas presentes no ser humano, além de afastar larvas astrais, mal olhado e revigorar a mente e o corpo com novas e saudáveis forças energéticas.
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II O que é um jardim Brincar conecta o ser humano com sua essência, com a possibilidade da criação. Um lugar bonito com pássaros, árvores, plantas e flores, terra fresca e insetos convida a estar em conexão. Ali se apreendem cheiros novos, formas diferentes, comportamentos, ciclos. Andar por uma mata com atenção nos leva a encontrar diversos seres vivos que são fascinantes. Andar na lama, tomar chuva, ouvir o pássaro, contemplar a flor, acompanhar a borboleta, seguir as formigas carregadeiras, encontrar seres nas nuvens. Jardim das Brincadeiras, Guilherme Blauth Segurar uma pedra já é brincar. (homenagem à Lygia Clark)
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Encontrar-se com pessoas, até então, desconhecidas. Tornar-se conhecido de alguém por um intuito em comum: fazer uma horta. Dentro da ideia de “uma horta” existe uma infinita possibilidade de motivos, principalmente quando é uma horta comunitária. Uma horta comunitária é desculpa para encontro. Para ter um espaço de troca e convivência que não dependa do sistema financeiro para acontecer: você não vai lá para comprar ou vender, mas sim trocar um pouco sua energia com a terra, produzir um alimento sem veneno e – quem sabe – depois de um tempo poder levar alguns vegetais e hortaliças para casa. Cultivar é saber esperar, entender que os ciclos e estações têm sua importância. Coisa que muitas vezes esquecemos ao impor toneladas de químicos na terra e ter comida que suposta e naturalmente não deveria ser possível ter o ano todo. Também esquecemos da importância da decantação de processos internos (processos esses que, se não fossem acelerados, talvez seria possível de sentir melhor a preciosidade da espera). Romper com a imediatez é romper com sistema pronto. Um jardim pode ser essa horta, individual ou coletiva, onde os tons de marrom e verde se apresentam e gradativamente vão lhe mostrando certas sutilezas. Aos que se abrem minimamente, as ervas medicinais são as primeiras que vêm contar alguns segredos. Em seguida alguns temperos: o coentro é um tanto chato para se abrir, mas quando consegue sua confiança ele conta todos os sabores que oculta. Depois algumas hortaliças, todos devem se lembrar que plantaram pelo menos uma alface em sua vida. Os legumes, frutas e flores são os que exigem mais respeito e maturidade, afinal você não quer plantar uma pitangueira e esquecer de regá-la, certo... Um jardim, hoje, também é um grande sinal de luta e resistência. Diante da massificação de alimentos; agrotóxicos; medicamentos e muitas relações, ter um jardim no fundo de casa; alguns vasos suspensos; um canto em alguma esquina que o dono não descobriu quem planta ou cultivar em comunidade podem ser soluções muito terapêuticas e resolutiva de conflitos. 26
Bruna Maresch, Terra Rara, 2015
Figura 9 Rosana realizando colheita na Horta das Garças, registro em dezembro de 2015 - pag 25
http://abrasco.org.br/ dossieagrotoxicos/ link para download do dossiê realizado pela Associação Brasileira de Saúde Coletiva sobre o uso de agrotóxicos e seus impactos na saúde.
Perdi a conta de quantas vezes discussões sobre a política de implantação de tratamento de esgoto no bairro; o uso exacerbado de agrotóxicos; os movimentos da lua e seus efeitos na plantação; tipos de compostagem ou a troca de receitas foi possível dentro das hortas. A alegria é encontrar alguma planta esquisita aos olhos e conhecimentos para compartilhar com os outros hortelões. Para ver e encontrar essas plantas é preciso atenção e cuidado. Alguns anos de redes sociais virtuais talvez conseguiram criar mais distância entre as pessoas e a natureza do que realmente aproximá-las. É interessante poder falar com pessoas do outro lado do planeta ou saber as novas descobertas da ciência, é maravilhoso montar um grupo para reunir pessoas e trocar conhecimentos sobre gostos parecidos: melhor ainda é encontrar essas pessoas e dar aquele abraço. Deixamos de lado que talvez a vida real tenha um fator muito decisivo para a saúde e trocamos as coisas que possam ter importância por absurdos (lembro-me das imagens da mídia em dias de lançamentos dos mais novos Iphones, em que compradores literalmente se degladiavam para conseguir um aparelho). Talvez a idade média seja um estado de espírito. Um jardim é lugar para encontrar-se no outro. É um atelie livre aberto a experimentação, tem espaço pra discussão engajada; espaço pra acrobacia e yoga; pintura e grafite; pra plantar canteiro convencional, elevado, mandala ou espiral. É lugar de questionamento. Saímos da esfera passiva, de observação, e nos levantamos para investigar o que e de onde vêm o que consumimos. É querer entender porque toda vez que quero plantar preciso comprar mudas em uma floricultura ou um saquinho de sementes de uma empresa com logos e patrociníos estranhos. É buscar produções artesanais mais perto da gente e compreender a logística em trazer alimentos e objetos de tão longe. É fazer creme de dente natural. É o cuidar da paisagem interna com alimentos e relações saudáveis, tanto para si quanto para o coletivo, e gerar bosques de fertilidade por onde quer que se caminhe. Entender que as técnicas de agroecologia e agricultura natural têm andando de mãos dadas com a regeneração da terra e buscar ser partícipe dessa mudança. 27
Figura 11 Registro dos Sistemas Produtivos na Cidade Escola Ayni, 2016
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Você sabia que? A revolução verde tem um nome bem bonito, mas... A partir da segunda metade do século 20, os países desenvolvidos criaram uma estratégia de elevação da produção agrícola mundial por meio da introdução de técnicas mais apropriadas de cultivo, mecanização, uso de fertilizantes, defensivos agrícolas e a utilização de sementes VAR (Variedades de Alto Rendimento) em substituição às sementes tradicionais, menos resistentes aos defensivos agrícolas. Concebido nos Estados Unidos, esse processo ficou conhecido como Revolução Verde. Sua principal bandeira era combater a fome e a miséria dos países mais pobres, por meio da introdução de técnicas mais modernas de cultivo.
ONDE É O JARDIM OU a comum-unidade dos espaços públicos A retomada dos espaços público pela comunidade e as necessidades cada vez mais fortes de encontrar sentido nas ações diárias (a ideia de trabalhar para comprar o apartamento na zona rica da cidade já caiu para muita gente) têm relações intrínsecas. Começar a escutar o que dá real prazer implica em perceber que talvez aquelas oito horas trabalhadas diariamente e gastas em alimentos que fazem mal, medicamentos, passeios vazios ou Se você atirar seus pacotes de viagens não seja o que viemos fazer por aqui. ombros para trás e Talvez nem tenhamos tempo para perceber o que é esse olhar para o céu, vai aqui. Quando um grupo de amigos decide por se encontrar em uma ver o que mais é seu. praça esquecida pela prefeitura ou pela vizinhança e começar a habitar lugares que saem da dinâmica casa-murada ou Alfred Carl Hottes mercadológica, adentramos nos universos marginais. As margens são, no dia a dia, locais férteis – não aquelas pracinhas urbanizadas com flores exóticas e bancos desconfortáveis – mas sim aqueles terrenos baldios que ninguém sabe quem é o dono ou espaços ociosos entre casas, também pode ser aquele local frequentado por figuras não tão bem vindas na vizinhança. A permacultura se foca em olhar para essas margens como zona de bordas e incentiva ao uso desses lugares como maiores impulsores de vida, onde os insetos e plantas pioneiras aparecem com toda a força, que em seguida começam a atrair pássaros e demais plantas. Frequentar os espaços públicos com olhos atentos muitas vezes significa retomar para nós o que é nosso. No texto Como criar cidade juntos, Regula Lüscher fala um pouco sobre as diferenças http://piseagrama.org/ entre a criação das cidades de “baixo para cima e de cima para como-criar-cidadesbaixo”, falando sobre a importância dos projetos de arquitetura e juntos/ Acessado em 31/05/2016 urbanismo que surgem desde instâncias governamentais e também da retomada e empoderamendo das comunidades para a criação e implantação de espaços que são realmente importante e necessário para os bairros. O problema que muitas vezes surge é que os movimentos comunitários acabam não tendo a mesma voz que os institucionalizados, o que impede que sejam realizados em consonância. A autora não chega a uma conclusão sobre qual processo seria mais importante, salientando que ambos são necessários. 29
If you throw back your shoulders and look up into de the sky, you will see what else is yours.
Aos retomarmos os espaços que são de todos e começar a tratá-lo como extensão de nossa casa passamos por uma carcaça fortemente arraigada em nosso inconsciente: percebemos que talvez os lugares que não são “nossos” podem e devem ter a mesma importância e cuidado que os que são, até por fim nos questionar sobre o que é “meu e seu”. Isso inverte toda a dinâmica, não? Da mesma maneira que começo a me preocupar com o que consumo, o tratamento mais adequado do que gero também passa a ser necessário. Ou será que é fácil colocar uma sacola com “lixo”, restos de cascas e muito plástico para um caminhão levar e jogar bem longe? Isso quando não temos conhecimento de documentários como o Ilha das Flores (1989, 13'). La agricultura natural procede de la salud espiritual del individuo. La curación de la tierra y la purificación del espíritu humano son un solo FUKUOKA, 2008, proceso, y propongo un estilo de vida y un estilo pág 19 agrícola donde puede producirse este proceso. Quando temos uma noção mais clara da realidade que enfretamos e já cultivamos relações de maneira salubre, queremos que o melhor e o mais justo seja feito nos locais para o maior número de pessoas. Aí voltamos para a criação de cidades de baixopara-cima. Por que um bairro carente em espaços seguros para crianças brincarem precisa de uma praça gourmet, com canteiros e placas “Não pise na grama”? O melhor exemplo que encontrei foi em um bairro em Florianópolis, em que uma área de uns 200m² Encontro Nacional de Agricultura Urbana era reservado para ser usada como banheiro de cães. Precisamos realizado em outubro falar sobre relação de poder e reinverter os lados dessas de 2015 moedas. www.enau.org/ Uma das maneiras que encontramos, como grupo e comunidade, de cuidar da vizinhança foi criando um movimento de hortas comunitárias chamado Quintais de Floripa. Acabou que a vizinhança virou a cidade e bem rapidamente nos envolvemos em temas amplos, como segurança e soberania alimentar, agricultura urbana, direito à cidade e à comida de verdade. Todos os finais de semanas encontrar dez, quinze, trinta pessoas que estavam cansadas da rotina e conheciam um pouco sobre plantas e as necessidades de uma comida sem veneno. 30
CEPAGRO - Centro de Estudos e Promoção da Agricultura de Grupo com ações em Florianópolis e diversas cidades promovendo a agricultura urbana e tecnologias sociais. www.cepagro.org.br
Princípios da agricultura selvagem: - Não cultivar; - Não usar fertilizante químico nem composto preparado; - Não mondar nem mecânica nem quimicamente; - Nenhuma dependência de produtos químicos FUKUOKA, 2008
Aos poucos a rotatividade foi diminuindo e as pessoas foram se fixando mais seriamente no grupo. Reuniões semanais começaram a ocorrer para conversarmos sobre novas hortas; a implantação de jardins medicinais nos postos de saúde; oficinais e palestras nos centros comunitários para atualizar as pessoas sobre a quantidade de venenos que ingerem ou para falar sobre os benefícios dos leites vegetais. De repente, em cinco meses com o grupo já tinham começado cerca de seis hortas em vários bairros. Começávamos a por em pauta a necessidade dos pátios de compostagem descentralizados (projeto iniciado há sete anos pela CEPAGRO) e de integrar outras partes da vizinhança e bairros. Nunca imaginei que a natureza tivesse tanta urgência em se apresentar. Em pouco tempo, comparado com o tempo que estava acostumada em aprender racionalmente, pude aprender através da prática diária muito sobre plantas medicinais; sobre os tipos de solo que são necessários para cultivar cercas hortaliças; a melhor estação para plantar batatas e abacaxi; os caminhos para que as sementes cheguem até nós (sabia que existem verdadeiros guardiões de sementes que não abrem mão de seu cargo?) a identificar plantas comestíveis não convencionais como a maria-sem-vergonha, o picão preto, a tansagem e o dente de leão. Inclusive, o suco verde com dente de leão ou ora-pro-nobis é muito mais saboroso e nutritivo que com a convencional couve. Fui apresentada ao cará do ar e à bertalha; à zedoaria e a mais de sete espécies de menta. Depois de ver tantos tons de verde voltar ao cinza é no mínimo perturbador. Hoje existem cinco hortas comunitárias na ilha, algumas com mutirões esporádicos e outras com encontros semanais; dois jardins medicinais em centros de saúde, onde os médicos realmente receitam alimentos e ervas para seus pacientes; um pátio de compostagem comunitário, que as pessoas deixam o baldinho cheio e levam outro vazio. Ainda assim, pode-se tornar um tanto cansativo e exaustivo escutar que uma das hortas incendiou ou que foi usada como depósito de lixo. Figura 14 Registro de hortas urbanas em Guaporé/RS, Elis Rigoni, 2016
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cultivar em qualquer parte Esta é a era das pessoas comuns. Nenhum herói virá nos salvar. Todos têm poder. Faça sua parte. Coletivo Ocupe & Abrace
Juntar-se para um piquenique, compartilhar anseios, contar como andam seus novos brotos e que tipo de material não foi tão bom para seu minhocário. A primeira vez que ouvi sobre micropolíticas (deve ter sido em algo relacionado com bienal do Mercosul chamada Geopolítica - Porto Alegre, 2011) foi como se uma grande onda de obviedade estivesse dizendo que isso deveria virar política nacional. De onde foi que tiramos a ideia de terceirizar toda a vida? Fomos criados como uma geração mimada, que acredita que um grande vortéx mágico engole todo o lixo que produzimos e outro, mais colorido, põe a comida em prateleiras no mercado – isso quando as frutas não estão descascadas em uma embalagem de isopor. O movimento de se tornar responsável acaba parecendo um absurdo para alguns, mas admito que é o melhor caminho para nos conhecermos e fazermos algo útil dessa jornada. É muito fácil para encontrar uma trilha já aberta nessa direção: em uma pedra se encontra conhecimentos ancestrais e indígenas que ensinaram como se manter firme mesmo com terremotos; uma árvore mais antiga contém informação sobre os microorgarnismos que são importantes e plantas companheiras para gerar um bosque. As técnicas então...essas começam a se atirar como se não houvesse amanhã! Agricultura selvagem, natural, agroecologia, permacultura, agrofloresta cada uma contendo algumas particularidades mas se direcionando ao propósito de gerar alimentos e paisagens saudáveis, cuidado da terra e das próximas gerações. Esquecemo-nos que a ação de plantar, de tocar a terra, possui fatores terapêuticos e reconectivos muito fortes. Temos tendências a experimentar sensações parecidas às que tínhamos quando éramos crianças ao ver alguns brotinhos surgindo depois de alguns dias que as sementes estão na terra. E uma flor então, nem se fala! Bem devagarzinho surge um botão e lentamente, dia após dia, as pétalas se abrem e apresentam geometrias sagradas indescritíveis. 34
www.outraspalavras.net/ blog/2016/05/20/aurgencia-das-hortasurbanas/ Acessado em 31/05/2016
A Geometria Sagrada é basicamente a geometria focada em descrever a criação e/ou consciência; o movimento da consciência pela realidade. MELCHIZEDEK, 2008
CSA Brasil - Projeto que aproxima agricultores e coagricultores para ter acesso à agricultura familiar orgânica (muitas vezes biodinâmica).
Buscar hortas próximas onde moramos e apoiarmos a agricultura local são chaves para descentralizar estruturas. A dúvida que resta é quanto ao por que não começamos a plantar em qualquer lugar, não nos encontramos com vizinhos e buscamos algum terreno abandonado próximo para iniciarmos um pequeno jardim? Pode ser que por quaisquer fantasmas não se possa nem mesmo chegar no vizinho... Ao deixarmos de lado esses fantasmas e começarmos a nos unir para objetivos sustentáveis, podemos produzir até mesmo métodos alternativos de geração de energias (biodigestores e painéis solares caseiros). Um exemplo extremo mas de grande impacto foi com a crise de petróleo ocorrida em Cuba (The Power of Community, 2006) onde o sistema de transporte, de agricultura, medicina e muitas indústrias entraram em colapso no país. A única forma que os cubanos puderam resistir foi começando a plantar por todas as partes e cantos que podiam. Alguns especialistas e permacultores deram cursos e oficinas para aprimorar as técnicas e hoje ainda mantêm muitas das hortas. O movimento ao reencontro de si pode ser cheio de flores e pedras e com certeza valerá a caminhada ao lado de outros que têm tentado encontrar algum sentido maior pra essa vida que somente o sobreviver.
ESCASSEZ X ABUNDÂNCIA 35
PLANTA DE PODER Lavandula officinalis A lavanda é sedativa e equilibradora, digestiva, anti-reumática e antiinflamatória, anti-séptica, cicatrizante, relaxante. _ sistema nervoso: estresse, exaustão, irritabilidade, depressão e ansiedade; dores de cabeça, enxaqueca, insônia. -_sistema digestivo: digestão, problemas de fígado e vesícula, problemas de pâncreas: flatulência; perda de apetite, mau hálito e obesidade. O benefício mais conhecido do óleo essencial de lavanda está relacionado com os seus efeitos anti-inflamatórios. Devido a essa propriedade, a planta é excelente no tratamento de queimaduras, inflamações, psoríase e feridas. Além dos já citados, a lavanda também proporciona os seguintes benefícios: _ Trata problemas respiratórios, como gripe, bronquite, tosse, asma, laringite e congestão nasal; _ Excelente relaxante, esta planta ajuda a baixar a tensão arterial e na melhora da regulação da função cardíaca; _ As propriedades relaxantes da lavanda também auxiliam no tratamento de problemas do sistema nervoso, como dor de cabeça, insônia, depressão e fadiga nervosa; _ Devido às suas propriedades diuréticas, o óleo essencial de lavanda favorece a eliminação de líquidos e substâncias nocivas para o organismo; _ Alivia cãibras e ajuda a restabelecer desequilíbrios hormonais; _ O óleo essencial de lavanda também atua no aumento do movimento intestinal e no estímulo da digestão; _ Reduz a tensão muscular. 36
Uso mágico/terapêutico: Excelente para dar claridade e coerência em trabalhos mágicos e concentrar a visualização. Dá visão e inspiração porque ativa a glândula pineal, que produz a melatonina, agindo sobre a emoção e deixando as pessoas mais serenas. Banho de sal grosso com alfazema Esta é uma combinação poderosa para energizar sua vida e trazer alegria para você ou para o ambiente em que você vive. Tem propriedades que revitalizam seu corpo e sua alma, criando uma aura positiva em você e na sua casa. A principal finalidade do banho de sal grosso com alfazema é a imantação, a energização e a harmonização da sua aura. Se você se encontra triste e desanimado ou se vem enfrentando muitas mudanças, esse é banho de sal grosso ideal para você.
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III Como pular cercas ou usá-las para plantar
Em um mundo onde as coisas já vem prontas para o consumo e são compradas com o dinheiro obtido através de um trabalho repetitivo e tedioso, que exige de nós mais do que estamos dispostas a dar voluntariamente, fazer nossa própria comida é um ato de resistência. Fazer sua própria comida é não aceitar toda essa comida processada, pasteurizada, empobrecida de nutrientes, cheia de aditivos químicos que querem nos enfiar goela abaixo é não aceitar a compartimentalização das pessoas e da vida, onde cada pessoa só é boa em uma única tarefa — enquanto é excluída e alienada de todo o resto, é tomar para si umas das tarefas mais básicas e essenciais para a nossa sobrevivência. É retomar o controle sobre o que colocamos para dentro do nosso corpo. Receitas para utopias.
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Ao andar com uma pá pendurada na mochila não é tão fácil de passar desapercebida, ainda mais em um ônibus ou com várias plantas penduradas. Lembro-me da melhor conversa que tive quando comecei a praticar jardinagem de guerrilha (que, convenhamos, é bem mais divertido e inspirador que apenas colar lambe-lambe pela cidade): – E se te pegarem plantando em um local que não tem nada a ver, que não é seu, ou se é de alguém bem chato? – Ah, depende....imagino que vou convidar para participar comigo ou só para colhermos algumas ervas e tomar um chá enquanto falamos do preço do abacate ou dos problemas que o aquecimento global tem gerado. A verdade é que muitas pessoas gostam de plantar. Pode ser que não gostem que você invada seu jardim e plante Espadas de São Jorge como se não houvesse amanhã – há, inclusive, um certo cuidado nessa prática: a jardinagem sempre cuida dos jardins existentes. A ideia base é plantar em locais de passagem, em canteiros que foram abandonados depois que as primeiras flores plantadas morreram; em terrenos baldios ou até quebrar pedaços da calçada para criar quadrados verdes. Jardinagem de guerrilha não é destruir jardim alheio.
BEYUS, 1997, pag. 91.
A escultura social é o resultado da atividade de um escultor incansável que aceita qualquer tipo de material e trabalha utilizando toda sorte de instrumentos e as mais variadas técnicas. Mas suas esculturas, assim como as suas ações, suas manifestações, suas teorias, seu engajamento político, enfim, tudo aquilo que a sua moral artística impunha como tarefa diária, também faz parte dessa escultura social. Como saber se você está apto para praticar a jardinagem de guerrilha? Em primeiro lugar um guerrilheiro é extremamente desapegado, sabe que a possibilidade que sua planta esteja onde plantou pode ser tanta quanto não esteja. Aprender a ser resiliente e lembrar-se que, mais do que para si, escolheu aquele lugar por ter sentido um impulso ou um chamado a plantar ali. 39
Figura 17 Implantação de horta comunitária no Rio Vermelho, registro em novembro de 2015
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Em segundo lugar, aprende-se a usar técnicas e métodos mais simples de jardinagem: suas bolsas e mochilas estão sempre com bombas de sementes ou sementes de vários tipo e nunca perde a oportunidade de colher um pouco de crotalária ou flor do cosmos por onde quer que passe. Jardinagem de guerrilha é saber que as abelhas estão sumindo e que a brincadeira de semear sementes pode ter consequências bem bonitas. As sementes de frutas também passam a ter potinhos e saquinhos nomeados em casa – as vezes estão até na carteira, tipo patuá de prosperidade. Agora... e se realmente os vizinhos não forem tão a favor de uma intervenção ou acreditam que um canteiro descontrolado é só um foco de pragas? E se você chegar na horta que tem cuidado há meses e ver que o fogo acabou com boa parte dela? Respirar fundo e saber que a melhor lição que as plantas nos dão diariamente é sobre como voltar a crescer, por mais que a cortem, sempre existem raízes. Uma das experiências junto com o Quintais de Floripa e um outro grupo, o Pátios Amigos, foi tentar implantar uma horta em um espaço que uma figura política havia doado – com papéis e assinaturas -para a comunidade, porém depois que saiu de algum cargo na administração os tais papéis misteriosamente sumiram. Não satisfeitos com os tramitês burocráticos, decidimos criar um canteiro elevado com muitos restos de madeiras de construção e troncos que faziam parte de uma pilha de entulho no terreno. Os voluntários e simpatizantes levaram mudas, composto e frutas para um piquenique. Foi uma tarde de sábado deliciosa, mesmo com algumas interrupções. Infelizmente, tal figura revogou o terreno alegando que erapara-sabe-se-lá-o-que e não queria mais envolvimentos com as pessoas de lá. Existe uma ideia que são passos muito próximos o da criação de uma horta com alguns aspirantes à hippies e bichos-grilos querendo colher alfaces e tomates sem veneno para em seguida virar uma ocupação e a coisa perder o controle. Talvez seja um dos maiores medos quando entramos em contato com os proprietários de terrenos baldios. 41
Cuidado da Terra, cuidado das pessoas e compartilhar os excedentes A permacultura é uma cultura que engloba métodos holísticos para planejar, atualizar e manter sistemas de escala humana ambientalmente sustentáveis, socialmente justos e financeiramente viáveis. O termo provém do inglês permaculture e foi criado por Bill Mollison e David Holmgren. Inicialmente tratava-se de uma contração das palavras permanent agriculture (agricultura permanente) e atualmente ampliou o conceito para permanent culture (cultura permanente). A sustentabilidade ecológica, ideia inicial, estendeu-se à sustentabilidade dos assentamentos humanos locais. A permacultura é uma filosofia de trabalhar com, e não contra a natureza; de observação prolongada e pensativa em vez de trabalho prolongado e impensado, e de olhar para plantas e animais em todas as suas funções, em vez de tratar qualquer área como um sistema único.
MOLLISON, 1991
A ideia é trabalhar em zonas: na permacultura tradicional HOLMGREN, 2001 de Bill Mollison fala-se que elas vão desde a 01 até a 05, começando pela casa; horta e jardins; pomares; animais e mata nativa. Já na de David Holmgren, que desenvolve o desenho muito mais ligado ao social e espiritual, existe a zona 00. Teoricamente, as técnicas são usadas visibilizando à construções de casas, sítios, ecovilas, etc de No capítulo Para ir maneiras ecológicas e sustentáveis, fazendo com que os espaços além há uma tabela ganhem autonomia (há tratamento para efluentes; águas cinzas; com os princípios banheiro seco; compostagem; hortas). Fechar ciclos e não jogar a permaculturais. responsabilidade para outros terem que limpar o que usamos. Mas, ao ter uma imersão em permacultura social (relatos no último capítulo) a dúvida que restou foi: será que termos nossa pequena bolha sustentável, verde e super ecológica é suficiente? A zona 00 entra aí. Processos de transição interna, ecologia profunda e práticas xamânicas ajudam a perceber que não, não adianta viver na bolha verde. A permacultura social vem como uma ferramenta para trabalhar com comunidades e, principalmente, consigo mesmo. 42
Karma-yoga: união através da ação cotidiana
Pedagogia caórdica é uma metodologia desenvolvida pelo Instituto Ná’Lu’um, em que nem o professor nem o aluno sabem o que esperar. Baseado no completo caos que gera a ordem. The Holy Mountain. 1973,1'55''
Lygia Clark, Nós somos os propositores, 1968 www.lygiaclark.org.br Acesso em 01/06/2016
Durante esses processos de transição, a comunicação não violenta é mantra; educação holística e pedagogia caórdica são karma-yoga. Uma das soluções nessa pedagogia é simplesmente o soltar: o tutor acredita que o aluno tem capacidade suficiente para sentir o que gosta ou não de fazer e ajuda somente a desenvolver sua maturidade, mostrando desde física até como as situações sociais estão criando injustiças com a vida terrestre por ganância e poder. Inverte completamente a ordem quando um tutor serve para mostrar desde a infância das crianças que, por exemplo, existem fórmulas matemáticas que podem ter diversos usos e a história de sua região pode ser contada de muitas maneiras. Crescimento completamente diferente quando desde o início é questionado o que sentimos prazer em fazer e o que não nos atrai tanto, gerando formas para se chegar em consensos justos. Além disso, as práticas de renascimento coletivo e psicomagia de Jodorowsky vêm para romper algumas cascas e nos lembrar de pular as próprias cercas internas - não tem nada melhor que usar as que restaram como apoio para vaso de flores ou para cartazes bem feitos. Como dizia Lygia Clark e seu legado imenso para a arte brasileira: Nós somos os propositores: nós somos o molde, cabe a você soprar dentro dele o sentido da nossa existência. A arte não consiste mais em um objeto para você olhar, achar bonito, mas para uma preparação para a vida.
Depois de romper a si mesmo se enxergar (n)o outro com muito mais claridade e maturidade, ou se chegar na loucura sagrada, em que nada do sistema de crenças que até então existia faz sentido. Você percebe que quer comer porque sente fome, não porque te ensinaram que o almoço é às 12h. A melhor parte é perceber que o coração bate reverberando com todos os demais, até mesmo com os de uma cachoeira ou lagoa (há uma lagoa no No quiero nada para mí sul da ilha de Florianópolis que, inclusive, tem o formato de um que no sea para todos. coração quando vista de cima). Alejandro Jodorowsky 43
Encontrar amigos e fazer revolução Acredito que uma revolução pode começar a partir desta única palha. À primeira vista, esta palha de arroz parece leve e insignificante. Dificilmente acreditaremos que ela possa desencadear uma revolução. Mas eu consegui compreender o peso e o poder desde palha. Para mim, esta revolução é bem real.
Ações que vão desde projetar filme em boteco no Rio Vermelho; proteger ervas daninhas em praças; criar espaços de exposição em pontos de ônibus; montar barraca pra vender mandinga na virada do ano perto da praia até salvar uma vaca(!), propor rodas de debate na universidade ou rodoviária e muitos outros. Os encontros do Observatório Móvel são cheios de surpresas, o que para mim, torna-se uma espécie de condição de como se pode arrebentar com a noção de que a arte seja algo distante do cotidiano ou uma peça rara. Penso que a arte seja um estado de consciência em que por meio deste grupo, tomamos com carinho e responsabilidade tudo o que vemos. A revolução da palha seria deixar, em parte e basicamente, a natureza tomar seu fluxo. As pessoas ainda não sabem o valor da palha. Seja ela a metáfora ou a real: no segundo caso, uma técnica desenvolvida por Masanobu Fukuoka, agricultor japonês, chamada agricultura selvagem que consiste em deitar por cima da terra o que sobra das colheitas anteriores, agricultura da não agricultura (muito baseado no Tao Te King), em que a única função do agricultor seria deixar que a natureza seguisse seu fluxo, mas plantando em meio dele (informações técnicas em seu livro). A revolução do O.M. é lembrar da importância dessa palha, fazendo com que a própria terra tome para si o que é necessário para se fortalecer. Ações em grupo têm essa facilidade e lembram que por mais importante que as instituições sejam, encontrar com pessoas vivendo e fazendo o que gostam é um presente maravilhoso. Para mim, talvez hoje, mais do que expor em bienal, a urgência no ser artista seja em facilitar esses encontros e ligar pessoas de diversas áreas para resolver situações ambientais, locais e comunitárias. 44
FUKUOKA, 2008, pag 05
LIPPARD, 2015 KESTER, 2013
LADDAGA, 2006, pág 80
PAIM, 2012
E se por momento não for possível algo tão direto, os diversos níveis de denúncia estão aí. A pesquisa de Lucy Lippard (crítica de arte, ativista e curadora) fala de um processo parecido, em que mudanças e impactos degradativos nas paisagens em um povoado no Novo México em que vive estão alarmantes. Da mesma forma, Grant Kester e suas Conversation Pieces discute o trabalho de muitos artistas e ativistas que estão engajados em solucionar problemas comunitários. Beyus também falava disso na década de 60. Reinaldo Laddaga, Estetica de la emergencia, fala da necessidade do artista mudar do “regime estético” para o “regime prático das artes”: En el “régimen práctico”, el espectador ya no es un desconocido silencioso, sino un colaborador activo que realiza acciones orientadas a modificar estados de cosas inmediatos en el mundo. Lo que se hace ya no se presenta en exterioridad al lugar donde aparece (un museo por ejemplo), sino que construye directamente espacios de vida (o interviene en ellos). Lo que se hace no son tanto obras-eventos que magnetizan o agreden al espectador, sino contextos de investigación y aprendizaje colectivo, laboratorios al aire libre. Y lo que se produce sobre todo son vínculos y conexiones, visibilización de esas conexiones, interrogación sobre lo conectado. Talvez essas ações e modos de flutuar entre artecomunidade- instituição sejam a maneira de sobreviver e usar válvulas de escape nas selvas de concreto. Não é por acaso que durante a pesquisa de Cláudia Paim, apresentada no texto Táticas de Artistas na América Latina, ela mostra como os trabalhos de muitos coletivos e grupos está crescendo cada dia mais (e uma certa onda de tédio percorre as aberturas de exposição). Isso quando os artistas não se enfiam no meio do mato para criar e acabam ficando por lá. Agradecimentos ao Zé Kinceler pela melhor, mais social e mais justa arte relacional que já conheci.
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Bombas de semente Materiais: Argila (pode encontrar em floriculturas) Terra adubada Vários tipos de sementes
Amasse a argila em uma superfície. Coloque um pouco de terra dos dois lados. Em seguida jogue as sementes, dobre bem a mistura, amasse mais um pouco e divida as bolinhas! Leve-as em seu próximo passeio, atire-as em qualquer terreno que sinta que está pedindo um pouco mais de diversidade e aguarde a chuva!
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Minhocário caseiro Materiais
coletora
digestora
digestora
Essa primeira tampa não precisa ser furada!
3 baldes com tampa (podem ser daqueles tipo margarina que padarias e mercados descartam) Martelo e pregos ou furadeira Torneira de filtro de água Faca Saco com folhas secas Minhocas (californianas são as melhores)
Fazer vários furos na tampa e no fundo para que as minhocas possam passar de um reservatório a outro e o chorume possa escorrer
Colocar um punhado de minhocas para começar o processo. Colocar os restos de cascas e comida (sem tempero) no primeira balde e jogar folhas secas por cima. Quando estiver cheio, só passar o segundo balde para cima e esperar que as minhocas vão em busca de alimento!
Fazer um corte (com cuidado!) para colocar a torneira. Ela servirá para tirar o chorume! Ele pode ser diluído com água e jogado nas plantas
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Banheiro seco de R$ 1,99 Materiais: Bombona de 30l com tampa Tesoura 1m de Tecido (voal) Serragem (para sempre) Tampa de vaso sanitário Tábua de madeira (80cm X 50cm) Pedras para apoiar Martelo Prego Serra Dificuldade: médio Encontrar um local arejado para deixar seu novo banheiro. Se sentir necessidade, faça uma pequena construção com bambu e lona para os dias com chuva e manter a intimidade. Na tampa da bombona faça um recorte interno e cole um pedaço de tecido. Recorte outro pedaço de tecido para colocar por cima da tampa e sempre utilize o lacre de vedação para que não entrem insetos. A tábua de madeira servirá de apoio para o vaso. Faça um furo suficiente para que seja utilizado e pregue o vaso. Pode colocar algumas pedras para servirem de apoio e escada ao seu trono. Assim que usar-lo, basta colocar serragem, tapar e vedar. Leva um mês para enchê-lo em duas pessoas. Assim que estiver pronto basta colocar em uma parte reservada para esse tipo de compostagem: pode ser envolta de bananeiras ou plantas mais perenes. Em três meses a matéria está pronta para ser usada: priorizar por mantê-lo em árvores ou áreas em regeneração, não diretamente na horta. 48
Agradecimentos ao ChitĂŁo, pela abertura, pelo compartir.
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Compostagem Sistema UFSC (larga escala) Escolhendo o terreno O terreno deve ser plano e estar limpo. A seguir, delimitar a área da leira no solo. No exemplo a leira tem 2x8m, cuja capacidade é de até 10 toneladas de resíduos orgânicos por mês. O solo deve receber um sistema de drenagem com a mesma largura e comprimento, com profundidade de 0,25m escavada em formato de V. O buraco recebe uma camada de brita e um cano de PVC perfurado, envolvido em uma manta impermeável. O cano deve ter uma declividade de 2% para conduzir o líquido até uma caixa de concreto, podendo ser reintroduzido na leira ou utilizado como fertilizante.
Montagem
Base
Na base da leira (em cima do sistema de drenagem) são colocados materiais secos mais volumosos, como restos de podas, galhos e folhas de palmeiras, criando uma aeração natural do sistema.
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Agradecimentos mais do que especiais à equipe do CEPAGRO; aos guerreirxs da Revolução dos Baldinhos no bairro Monte Cristo e ao Eduardo Elias, que mantêm pátios de compostagem há anos e bem sabe a importância desse trabalho.
ou Gestão Comunitária de Resíduos Orgânicos Primeira camadas
Colocando resíduos
Fechando a leira
Esse material foi copiado de um manual que pode ser encontrado juntamente com informações mais técnicas em www.cepagroagroecologia.wordpress.com
Em seguida é colocada uma camda de serragem ou de restos de poda picados, utilizada para absorver parte dos líquidos. Acima dela vem uma camada de composto pronto, que funciona como inoculante, acrecentando bactérias e fungos responsáveis pela compostagem. No contorno da leira coloca-se uma barreira de palha, que funciona como parede, contendo os resíduos e controlando o acesso de pequenos animais ao interior. A seguir é colocada a camada de restos de comida e outros materiais verdes e úmido, distribuídos de maneira uniforme ao longo da leira. Com ferramentas adequadas o material novo deve ser revirado para incorporar-se às camadas de baixo. Por cima dos resíduos úmidos deve ser adicionada uma camada de serragem ou de restos de poda picados. Por fim, a leira é coberta com palha. A cada nova carga, a palha de cima é afastada e transforma-se em parede. Com a leira aberta repetem-se os passos anteriores: introdução dos resíduos, revirada, colocação de serragem e cobertura de palha.
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JARDINAGEM DE GUERRILHA É QUEBRAR CONCRETO E PRODUZIR COMIDA É QUEBRAR CARCAÇA E ENCONTRAR AMOR 55
PLANTA PLANTADE DEPODER PODER Ocimum basilicum As propriedades medicinais do majericão geralmente não são bem difundidas, entretanto são muitas e vale a pena destacar algumas delas: _ Combate o cansaço, depressão, enxaqueca e insônia _ É antiespasmódico (suprime a contração do tecido muscular liso, especialmente em órgãos tubulares), digestivo, diurético e carminativo (eficaz no controle de gases) _ Combate à falta de apetite, parasitas intestinais e dispepsias nervosas _ Pode aumentar a secreção de leite em mulheres grávidas _ Diminuir estados febris _ Excelente para melhorar irritações cutâneas _ Eficaz na cura de laringite e faringite _ Desinflama aftas e mamilos doloridos _ Combate à acne _ Tem propriedades analgésicas, antissépticas e cicatrizantes _ Ativa o sistema imunológico _ Trabalha contra inflamações ósseo articulares
Além disso, o chá quente desta planta reduz a febre e o muco no peito e no nariz (porque é sudorífico e diurético), ajudando a aliviar os sintomas de resfriados, gripes, congestão, tosse e dor de garganta. O chá de manjericão Para aproveitar os benefícios proporcionados por esta planta, basta preparar o seguinte chá: Junte cerca de 10 folhas de manjericão e acrescente a uma caneca de água fervente. Deixe repousando durante 10 minutos, coe e está pronto para ser consumido.
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Banho de manjericão O manjericão é uma erva que atua direto na aura e proporciona uma sensação de tranquilidade e leveza. Assim, o banho de manjericão é um poderoso aliado da limpeza das energias ruins e tem um resultado imediato. O banho de manjericão deve ser feito sempre que você esteja com moleza, desanimada ou irritada, por exemplo. Ou seja, sempre que você não se sentir bem. Como não existe nenhuma contra-indicação, você pode fazer o banho de manjericão sempre que sentir necessidade. No entanto, quando a energia ruim se desprende de seu corpo você pode sentir alguma sonolência. Não se assuste, é normal.
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IV Espalhando abundância
Para mim somente trilhar os caminhos que tenham coração, qualquer caminho que tenha coração. Por aí eu trilho, e a única prova que vale é atravessá-lo todo. E por aí eu trilho olhando, olhando, sem fôlego. Ensinamentos de Don Juan
Un día dejaremos de rezar y nos pondremos a vomitar flores. Jodorowsky
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Veganismo é uma filosofia e estilo de vida que busca excluir, na medida do possível e praticável, todas as formas de exploração contra animais na alimentação, vestuário e qualquer outra finalidade. www.veganismo.org.br Acesso em 01/06/2016
JUNG, 2011
A parte mais divertida em plantar as sementes que vêm empacotadas em frutas é que nunca sabemos quantas frutas elas vão dar. Depois dos movimentos para quebrar carcaças e fazer brotar uma samambaia na cabeça; depois de fazer horta e jardinagem de guerrilha em qualquer canto; depois de debater arte contemporânea com uma vaca atolada no brejo e cozinhar os pratos mais coloridos possíveis para pessoas que nunca acreditaram que pratos veganos pudessem ter sabor... Depois disso acho bem necessário trazer o quanto a definição de escassez e abundância devem ser trabalhadas e aclaradas. E retrabalhadas. Um dos atos psicomágicos que desenvolvi (depois de experimentar os de Jodorowsky) foi o ato de pretend que, ou finge que. A mente consegue deixar-nos loucos muitas vezes com tantos condicionamentos culturais, sociais, familiares e não há meditação, raja-yoga ou santo que consiga tirar uma ideia encucada. Quando tive os primeiros lapsos de consciência quanto ao consumo exacerbado de alimentos envenenados e passei a pesquisar sobre alimentação natural, orgânica, em todas as linhas que me apresentavam, sempre escutava (de quem nunca havia saído da bolha cinza): “mas essa alimentação é muito cara; mas vai faltar proteína; mas você vai ficar doente” e daí para pior. Pois é, comecei a fingir que poderia ser que não, que tudo que me falavam não era realidade – o máximo que aconteceria era que pudessem ser e eu tivesse que caminhar alguns passos em outra direção. O que se passou é que aos poucos fui escutando meu próprio corpo e era como se ele estivesse agradecendo cada momento que evitava algo que pudesse machucá-lo: percebi esse mesmo agradecimento algumas vezes que plantava mudas de árvores perto do morro onde vivo. Passou a se tornar um passatempo descobrir os tipos de alimentos e combinações que me deixariam com ou sem energia. Mais divertido ainda era observar os padrões (in)conscientes que eu carrego quanto ao paladar e às escolhas. O intrigante mesmo foi perceber que existe todo um universo que eu ainda não havia adentrado, desse tal inconsciente coletivo que Jung denominou. A gente nem imagina quanta força tem nosso pensamento. 59
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Passei a buscar sinceramente quais poderiam ser os motivos que ainda não compartilhamos vidas abundante, quais os tipos de chaves internas que precisam ser invertidas para que certos paradigmas sejam deixados de lado. Talvez sejam somente o poder e o luxo que regem uma camada bem grossa. Voltando à alimentação, percebi que poderia viver bem e produzir muito, mesmo fisicamente, com pouco. Escutei - depois que as vozes dos adeptos da alimentação convencional não tentaram mais me converter - que seria até mesmo possível viver sem se alimentar ou ingerir apenas frutas e vegetais e ter mais força do que estava acostumada. Uma semana com grãos germinados e leites vegetais foi suficiente pra dormir 3 horas e estar ativa durante o dia, sem nenhuma cafeína. Aprendi que o único segredo é reconectar-se com tudo o que pode entrar dentro de nós: desde palavras; plantas até abraços. Aprendi que há momentos que é melhor comer batata doce e outros kiwi. E desintoxicar, desintoxicar muito:
TRUCOM e a Terapia Intensiva do Limão, disponível em www.docelimao.com.br
Acesso em 02/06/2016
Desintoxicação é para mim um "estilo de vida". Nada mais displicente para com a nossa vida como se permitir ser um acúmulo de toxinas, um Ser ácido... ambulante, à deriva. A intoxicação - leia Ser acidificado e desmineralizado, além de ser o primeiro estágio das doenças, é a condição nefasta dos desequilíbrios emocionais, mentais e espirituais.
Percebi que nunca havia tido a sensação de ser, por exemplo, dona de algum animal de estimação mas que estava-me sentindo dona de mim mesma e não através de paradigmas de violência ou escassez, mas sim de tranquilidade e abundância. O primeiro lugar que a comunicação não violenta acontece é da gente pra gente mesmo. Hoje, além de mim, sou dona de uma colônia de kefir. Existem muitas práticas, terapias e pesquisas que vêm relembrando o que é essa consciência. Abundância é ver o mar e suas ondas infinitas. É sentir que mesmo que tentem racionalmente, a sensação quase ancestral ao adentrar nos tons de azul não consegue ser explicada. É basicamente ter certeza e confiar que a natureza provém o suficiente para nós. 61
elogio aos guardiões de sementes As sementes crioulas são um tipo antigo, que guarda um repertório de seleção natural de milhares de anos. Adaptadas aos ambientes locais, são mais resistentes e menos dependentes de substâncias sintéticas. São resultado, também, do trabalho de gerações de agricultores que selecionaram, multiplicaram e as compartilharam. A disponibilidade e continuidade www.teiaorganica.com. dessas sementes tornou-se uma missão para a br/blog/tag/sementesagricultura familiar e camponesa, fundamental para a crioulas/ independência e a segurança alimentar dos povos. Acesso em 01/06/2016
Acreditar na natureza e sua força é aceitar que sabemos muito pouco sobre essa engrenagem gigante. Talvez seja isso que desperte medo. Aqueles que protegem e armazenam sementes crioulas são chamados de guardiões e guardiãs e na América Latina têm feito um trabalho árduo e maravilhoso ao proteger esse patrimônio das mãos de grandes multinacionais que estão adorando intervir com o que sabem sobre o natural. Em alguns anos dessa prática de Organismos Geneticamente Modificados (sigla em inglês GMOs) incontáveis espécies milenares de sementes desapareceram. Segurar uma semente, como as pedras, é como segurar a história natural e cultural dos povos que chega até nós com essa forma. Ao permitir-se ser engrenagem de vida, seja na cidade ou no campo, mais cedo ou mais tarde as sementes aparecem. Normalmente é bem no começo: toda a história de hortas comunitárias começaram para mim porque eu só queria plantar algumas alfaces no quintal e descobri uma tremenda dificuldade para encontrar tais sementes que não viessem em pacotes esquisitos.. Também descobri que alface não é nativa, aí troquei pela ora-pro-nobis. Hoje existem empresas que trabalham com sementes orgânicas no Brasil; encontros de agricultura familiar acontecendo em todos os estados; empoderamento dos agricultores e produtores locais - graças a muitos que tiveram esse mesmo surto e foram atrás dessas pessoas dizendo: Vocês têm todo o poder e conhecimento! 62
Guardião de Sementes curta sobre Juarez, um pequeno agricultor e guardião do Rio Grande do Sul. www.goo.gl/bqz3S1 Acesso em 02/06/2016 Mulheres da Terra Documentário que fala sobre As mulheres do Movimento de Mulheres Camponesas no oeste de Santa Catarina e a relação com a terra e o resgate das sementes crioulas. www.goo.gl/qZYoZh Acesso em 02/06/2016
foodisfreeproject.org/ Plataforma online onde diversos grupos se encontram para incentivar projetos de produção, trocas e doações de alimentos saudáveis.
Transgênia é sinal de descrença e falta de confiança pela vida. É dizer diante de toda a ancestralidade que existe em uma semente: “não, vocês não sabem fazer isso direito, não funcionou o modo que trabalharam até hoje, pode deixar que a partir de agora não vamos mais trabalhar desse jeito que vocês trabalhavam e botar essas tecnologias e fumaças pra coisa vai dar certo”. É bem parecido com o condicionamento cultural de gerações mimadas, que têm a mais dura certeza que o facebook é melhor que o benzimento da avó. Repensar as escolhas desde o mais simples até o onde se possa ir, impulsionar os movimentos para que a zona 00 passe a habitar a vizinhança, ou um grupo de amigos, ou a família. Plantar, colher e fazer do própria alimento um ato revolucionário e, mais do que isso, poder distribuir alimentos saudáveis. Já imaginou não ter que comprar mais comida?
Você sabia que? Os transgênicos são espécies cuja constituição genética foi alterada artificialmente e convertida a uma forma que não existe na natureza. É um ser vivo que recebeu um gene de outra espécie animal ou vegetal. O gene inserido pode vir de outra planta ou mesmo de outra espécie completamente diferente. No caso das plantas a modificação é feita visando um organismo com características diferentes das suas, como por exemplo tornar uma planta mais resistente a pragas e insetos. A planta resultante dessa inserção passa a ser denominada como "geneticamente modificada".
Agora... Por que mesmo eu deveria me preocupar com os projetos de lei do congresso brasileiro que querem tirar esse T amarelo tão bonitinho das embalagens, ou com o óleo de soja que sempre comprei? Não deve fazer mal não, essas pessoas devem saber o que fazem e para estar sendo vendido no mercado com certeza mal não deve fazer. Bem, ao modificar os genes de uma planta ninguém - nem mesmo os cientistas e pesquisadores que estão encarregados consegue garantir que é seguro, os benefícios ou os efeitos a longo prazo do seu consumo. E caso haja dúvida é só fazer uma visita às terras indígenas ou à esses guardiões de sementes para poder conhecer um pouco mais do que não contam nos mercados.
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Figura 29 Registro de milhos criolos, Fabi Coelho, fevereiro de 2016
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www.redesementeslivres brasil.org/ Rede que divulga eventos e encontros atualizados de trocas e distribuições de sementes criolas. Acesso em 02/06/2016
Outra maneira de conseguir as sementes criolas é através de feiras de trocas de sementes e mudas; muitas vezes também em eventos de agricultura familiar ou saberes ancestrais que ocorrem por toda a América Latina. Através das ações de jardinagem de guerrilha uma das minhas favoritas é criar um espaço entre obrigações diárias para entregar sementes aos amigos que estão iniciando hortas. Abundância é também acreditar que aquilo que você está doando estará gerando mais, ao invés de ficar sem. Os milhos criolos coloridos ao lado, por exemplo, foram de algumas sementes que presenteei uma amiga. Depos de alguns meses ela me enviou essa foto e alguns grãos (mais do que havia dado). Além de alimento, eles geraram muitas sementes que já estão plantadas para continuar seu ciclo. E há quem diga, seguindo a lógica da escassez, que é impossível uma árvore sair de uma semente com menos de 1cm. E não é que sai? O segredo é a simplicidade e a calma pra ver o que mais pode aparecer.
sementes para todos sementes para sempre Mantra pessoal de Tierra Martinez, permacultor e coordenador do Instituto Ná’Lu’um 65
E essa simplicidade já levou muita gente às estrelas. O xamã do documentário Humano (Argentina, 2013) explica que, Tradicionalmente, a neste mundo, inúmeros universos e dimensões estão existindo simultaneamente e convida o protagonista a tentar perceber qual é pessoa que demonstra profundo o que está habitando. conhecimento da No mesmo ato psicomágico anterior, gostaria de convidar natureza humana, que ao fingir que pode ser possível. age com sabedoria, Um dos exemplos mais fortes que existem hoje sobre que vive em harmonia como transformar a chave da escassez para abundância é com a e transmite bons experiência de uma ecovila que existe no norte da Escócia, ensinamentos, pode chamada Findhorn. Essa ecovila é localiza em uma região árida e ser escolhido pelo seu povo para os sem plantações, quando os donos decidiram realizar esse sonho representar como não imaginavam que seria por aí, tendo em conta que nenhum dos xamã, que dois sabiam muito sobre agricultura e na época eram aspirantes à normalmente tem ecologistas. contato com o mundo Poderia ter a história e desfecho de qualquer ecovila que dos espíritos. exista, com livros e técnicas permaculturais de regeneração da terra. O que se passou foi que, com a alta intuição da fundadora, eles passaram a receber instruções diretamente de um universo que não é tão visível aos olhos. www.humanofilm.com Las primeras historias que se recibieron de Link para mais Findhorn hablaban de un grupo de personas que informações sobre o meditaban, se comunicaban con las devas de la documentário naturaleza, le hablaban a las plantas y conseguían Acesso em 02/06/2016 resultados espectaculares. Assim que saímos da dimensão da escassez, entramos em outras que nos abrem para inúmeros conhecimentos, sejam ele metafísicos ou empíricos. Hoje essa ecovila é referência mundial para desenvolvimento espiritual e ecológico, pessoal e coletivamente. Ao preferir colher um punhado de hortelã e alecrim de seu jardim ao invés de comprar uma caixinha com vários pacotes você não está convidando um mero chá para seu universo, está www.findhorn.org/ convidando as estrelas; o sol; a chuva e o carinho para dentro de si. Site da fundação Ao preferir o natural trazemos um lado, por mais que Acesso em 02/06/2016 místico ou até fantasioso, mágico para nossas vidas, em que sentimos sermos parte de algo maior. 66
DESPERTE O ÍNDIO INTERIOR DESPERTE A ÍNDIA INTERIOR
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Colher abacates na dona Eva e distribuir na vizinhança Dona Eva é uma senhora que mora no bairro do Campeche, há dois anos passo em sua casa para ver como ela está e nas épocas de abacate, colho muitos. Em seu quintal, que é um pouco maior que o de uma casa urbana, tem cerca de 20 abacateiros. “Sabe menina, a única coisa que meus filhos tiveram que me prometer nessa vida para terem os terrenos que vivem hoje, era que teriam plantados ao menos 5 abacateiros cada.” E dona Eva é bem inteligente: o abacate é uma das frutas mais benéficas e milagrosas, além de que sabem muito bem sobre como ser abundante. Costumo sair de seu quintal com ao menos duas sacolas cheios de frutas, muitas que caem com os ventos ainda estão verdes. Separo alguns para deixar em casa, de acordo com o fluxo de pessoas que estão lá. O restante distribuo entre vizinhos, entre amigos em aulas ou vou deixando pelos pontos de ônibus. Bem, parece um processo muito natural que os abacateiros produzem seus frutos para serem comidos, por pássaros ou humanos, com alegria e depois plantados. Se facilitamos esse processo – já que (ainda bem) eles não têm pernas – ajudamos a fechar esse ciclo. Nenhuma planta quer crescer e morrer sem fazer o que veio fazer em terra. Ingenuamente, da mesma maneira que me pergunto se os cientistas da Monsanto não conhecem permacultura, entrego as frutas e me voi. No começo alguns até olhavam com cara de desconfiança, como se eu fosse pedir algum valor ou algo em troca. Depois de alguma semanas passaram a acontecer situações das mais improváveis em que somente esses vizinhos estavam e me ajudaram de muitas maneiras. Mesmo depois de um bom tempo ainda me ligavam perguntando se eu precisava de carona ou de alguma coisa. Dar abacate é sinônimo de quebrar carcaça também. 68
Meu fado é o de não saber quase tudo. Sobre o nada eu tenho profundidades. Não tenho conexões com a realidade. Poderoso para mim não é aquele que descobre ouro. Para mim poderoso é aquele que descobre as insignificâncias (do mundo e as nossas). Manoel de Barros
Figura 30 Registro de bombas de sementes, Elis Rigoni, 2015
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Paradigma da escassez Fiquei sabendo que existia alguns nomes pra esse tipo de ação, além da tradicional performance conceitual ou da simples doação: algo Não tem pra todo mundo como economia solidária; moedas alternativas e sociais e decrescimento já vinham sendo debatidos Se não tem pra todo mundo, temos há anos. medo que falte Pesquisei e descobri que somente no Brasil já existem mais de cem bancos comunitários Se temos medo que falte, e oitenta tipos de moedas alternativas. Conheci o competimos para criar estoques movimento Transition Towns e pude ter certeza que essas ações, debates na praça pública, Quando criamos estoques, encontros com a comunidade, têm feito os retiramos de circulação, modelos enrijecidos balançarem. Além dos diminuindo o fluxo inúmeros projetos de compras coletivas; Comunidades sustentadas pela Agricultura (CSA); Quando diminuímos o fluxo, feiras orgânicas promovidas pela comunidade; etc. aumentamos o custo de transação Como a natureza, a abundância não consegue parar. Talvez nos distraímos um pouco Quando aumentamos o custo de pelo meio do caminho olhando quais bens transação, excluímos aqueles que materiais as publicidades estavam nos fazendo não podem pagar acreditar que precisássemos. Mas a frequência que as conversas de mais de cinco minutos em que Se que excluímos aqueles que não algum comentário como “gostaria de ter um espaço podem pagar, a profecia volta: não para plantar” ou “não estou feliz com meu atual tem pra todo mundo trabalho” tem surgido é surpreendente. Moedas sociais e bancos Tem místico dizendo que é o chamado comunitários. www.goo.gl/PuXLrs espiritual, ascensão; tem xamã dizendo que a www.goo.gl/P5RtlS pachamama está fazendo que seus filhos prestem Acesso em 02/06/2016 atenção aos seus gritos. O importante mesmo (seja pachamama ou ascensão ou só cansaço geral de um sistema em franca decadência) é encontrar os amigos; os vizinhos; quem quer que apareça para essa festa e criar realidades mais divertidas. 70
Paradigma da abundância Tem pra todo mundo Se tem pra todo mundo acreditamos que vai ter Em vez de competir para criar estoques, colaboramos para criar Quando criamos, aumentamos o fluxo Quando aumentamos o fluxo, diminuímos o custo de transação Quando diminuímos o custo de transação, incluímos aqueles que não podem pagar
E o decrescimento realmente tem alguma coisa a ver com ecologia profunda, permacultura e essas coisas aí ou é só papo de hippie? Por "decrescimento", entendemos uma forma de sociedade e economia que visa o bem-estar de todos e sustenta a base natural da vida. Para alcançar o decrescimento, precisamos de uma transformação fundamental de nossas vidas e uma extensa mudança cultural. O atual paradigma econômico e social é "mais rápido, mais alto, mais longe". Ele é construído sobre e estimula a concorrência entre todos os seres humanos. Nossa economia destrói a base natural da vida. Estamos convencidos de que os valores comuns de uma sociedade do decrescimento deve ser cuidado, solidariedade e cooperação. A humanidade tem de entender-se como parte do sistema ecológico planetário. Só desta forma, uma vida auto-determinada de dignidade para todos pode ser possível.
Poderia ser um assunto de hippie ou Se incluímos aqueles que não podem pagar: a profecia volta: tem bicho grilo que está afim só de curtir a natureza, as cachoeiras, as trilhas e mares e não teria nenhum pra todo mundo problema. Gostaria que fosse só isso. Cada dia que passa, orgãos como a OMS e ONU lançam artigos falando da necessidade crescente de mudarmos Tradução do "O que é nossos hábitos; conferências mundiais como o Decrescimento" disponível RIO+20 e o COP21; Fórum Sociais Mundiais; em www.degrowth.de IPCs (International Permaculture Convergences); Plataforma sobre o e muitos outros alertam para os grandes impactos decrescimento na Alemanha que estão ocorrendo ao redor de todo o globo.
Qual potência reside em desacelerar? 71
Figura 32 Mudas do sítio de agricultura familiar e biodinâmica em Demétria, Botucatu/SP, 2015
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Figura 33 Colheita no sítio de agricultura familiar e biodinâmica em Demétria, Botucatu/SP, 2015
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Voltando ao assunto do começo do capítulo. O grande questionamento sobre a abundância e o atual modelo de consumo não se trata em responder se a agricultura orgânica consegue ou não alimentar a população mundial. Isso artigos científicos de vários países e teses sobre agroecologia já provaram ser possível. O problema é que ela não vai alimentar com alimentos industrializados e processados, mas sim com comida saudável. Isso quebraria completamente inúmeras indústrias: a farmacêutica; a religiosa; a de fast food; as GMO's e Monsantos; etc. Talvez, no extremo da utopia, grande porcentagem de pessoas começasse a ser tão feliz que nem mesmo a indústria bélica teria o que fazer “- O senhor não quer mais invadir aquele país pra ter o petróleo? – Pra que? Esse final de semana vou começar uma espiral de ervas na minha vizinhança e chamar as crianças pra fazer um banco de adobe.” O problema mesmo, de verdade, é que além de termos esquecido como tratar a terra (hoje projetos do Ernst Gotsch têm feito um trabalho maravilhoso de regenerar lotes que chegaram ao extremo da extração) é que o acesso a essa terra ainda se www.agendagotsch.com/ mantêm nos paradigmas e ilusões dos limites monetários e Acesso em 01/06/2016 crescimento econômico. Como mesmo a tribo Kaygang, que tem uma aldeia com dois hectares para cinquenta famílias, perto de Viamão/RS, pode comprar pedaços de terra com valores absurdos? Acho que os latifundiários adorariam cestas e bd.trabalhoindigenista.org .br/node/4931 bijuterias artesanais em troca. Link para acesso ao Atlas Quando o sangue de suas veias retornar ao oceano e a das Terras Guarani no terra de seus ossos voltar à terra, talvez assim você se Sul e Sudeste do Brasil lembre que essa terra não pertence à você: você Acesso em 02/06/2016 pertence à terra. Provérbio Sioux Por que mesmo continuamos na ilusão que as barragens rompidas são problemas dos outros? 74
PLANTE COLHA CULTIVE PRODUZA ALIMENTE-SE NO QUINTAL NO JARDIM NA CALÇADA NA PRAÇA NA VARANDA NO VIZINHO NO SÍTIO NA FAZENDA NA RUA NA CAIXA DE FEIRA NO CANTO QUE SOBROU NA SUA CIDADE NA MINHA NA NOSSA NA TERRA PLANTE COMIDA NÃO GRAMA
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PLANTA DE PLANTA DEPODER PODER Salvia officinalis As propriedades da Sálvia envolvem ações antioxidantes, antissépticas, aromáticas, balsâmicas, cicatrizantes, tônicas, sudoríficas, calmantes, expectorantes e ansiolíticas. Auxilia no tratamento de aftas, bronquites, catarros, diabetes, estomatites, além de fechar poros dilatados, curar gengivite, inflamações, reumatismo e cessar vômitos. É eficaz ainda no combate ao ácido úrico, cálculo renal e reumatismo, e pode ser usada em sua forma natural, extrato ou na forma de óleo, que contém cânfora, cineol, alfa, beta-tujona, substâncias químicas para entorses, inchaços, hemorragias e úlceras. _ Ela é especialmente indicada para as digestões difíceis, para reduzir a flatulência, a diarréia e o vômito. Dessa forma, uma infusão de sálvia age contra a acidez estomacal e os inchaços abdominais. _ A sálvia contém também propriedades termorreguladoras e é muito útil para parar a sudorese excessiva e regular as secreções salivares e lácteas. _ Entre outras propriedades curativas da sálvia, destacamos as que servem para combater bactérias, vírus e fortalecer o sistema imunológico.
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Banho de sálvia Uma das ervas mais usadas em defumações em diversas culturas e religiões pela sua capacidade de queima, mesmo sem a brasa do carvão e pelo aroma agradabilíssimo que proporciona. A Sálvia foi responsável pelo aforismo “De que pode morrer um homem se em seu quintal cresce a Sálvia”. No uso ritualístico, entendemos que a Sálvia é erva consagrada, que carrega uma vibração de “ancestralidade”, remetendo-nos a um clima de sabedoria anciã, por isso é associada aos Orixás Obaluayê, Nanã e Oxalá. As defumações com Sálvia, sozinha ou compostas com resinas, proporcionam excelente purificação e iluminação espiritual para o ambiente e pessoas presentes. Nos banhos é extremamente equilibradora, proporcionando “pés no chão”, capacidade de discernimento, sabedoria e propiciando as melhores condições de tomadas de decisão.
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A dimensão espiritual da coleta selvagem Matthew Wood Respondendo aos pensamentos de Karyn Sanders e Robin Rose sobre coleta selvagem (wildcrafting): Essa atividade pode ser um chamado espiritual, e se for esse o caso, então seria inapropriado para alguém impedir essa prática. Para mim, parar de fazer as coletas selvagens seria uma traição à minha relação com as plantas. Isso seria uma destruição para minha habilidade de oferecê-las como cura e isso me acabaria como pessoa. Eu não acredito que Karyn queira impor uma moral na coleta selvagem nesse sentido, como ela mesma é uma pessoa profundamente espiritual. Seus comentários seriam diretamente para àqueles que fazem de forma meramente financeira. Qualquer um que se sinta culpado em pegar plantas não deveria fazer as coletas. Eles devem conhecer as plantas primeiro. Em minha experiência, nós devemos coletar de maneira que preserve algo que é muito importante para as próprias plantas. 78
Visitei o avô David em Hotevilla com nosso amigo em comum, David Milgrom, em 1980. O avô estava sentado em silêncio, batendo de leve os pés no chão. De repente ele disse “Tive um sonho noite passada”. David perguntou “Ah é, como foi?” “Eu estava andando no deserto” – ele não andava no deserto há anos “Eu estava andando no deserto e vi as quatro raças de grama [Four Races Grass], e elas estavam chorando” Ele riu entre dentes. Perguntei por que elas estavam chorando. Ele disse “Ninguém nos usa mais, eles preferem as medicinas do homem branco”. Dessa vez ele não riu. A primeira coisa que o herbalistas devem saber é que as plantas querem nos ajudar. A urgência de interagir com a humanidade é algo que as plantas sentem profundamente. A consciência que elas têm é tão intensa que seria perturbador se elas tivessem os mesmos pensamentos caóticos e carentes que os humanos têm. Sua atenção é tão focada que se você pede ajuda à uma planta, toda sua vizinhança põe atenção em seu pedido e se apressam para te dar a medicina certa. Isso, claro, pressupõe que você conversou com a planta primeiramente e teve uma resposta positiva. Eu costumo pensar que “pedir permissão” para pegar uma planta era apenas uma desculpa para o fazer. Errado. Finalmente percebi que era para que pudessem se comunicar comigo. Elas geralmente queriam me dizer para que eu deveria usá-las, e para proteger as pessoas de medicinas pobres. Acontece que eu não estava pedindo permissão e sim pedindo ajuda. As ervas vão responder de acordo com nossas necessidades. Quanto mais confiança temos com elas e com a comunicação, mais elas respondem. Escutei elas dizendo “Sim! Sim! Sim! Nós queremos ser medicinas” ou “Não, vire para o outro lado” Ou “Esse espaço é sagrado pois você colheu da última vez de maneira sagrada” ou “Não, nós não somos saudáveis” Ou “Se você realmente precisar, nós somos apenas representações” Ou “Você não terá o que busca aqui” Ou até “Aquela lá é a que tem a medicina que você busca!”. 79
As ervas em um jardim são como animais domésticos que perderam os instintos. Elas são muito passivas em nossas mãos, quase como se estivessem dormentes. Elas podem fazer medicinas poderosas, e elas também refletem as intenções do jardineiro. Há poucas plantas de jardim que não conseguem ser domesticadas. Morda a raiz de uma énula-campana e verá o sabor selvagem. Ninguém conquista essa planta. Com as plantas selvagens é como se estivéssemos em suas mãos. Quanto mais você trabalha com elas, mais elas pedem que você mude. Elas transmitem à você algo perigoso, aventureiro, selvagem, espiritual, incontrolável. Não sei se elas curam mais do que as domésticas, mas algo eu sei: elas causam as experiências clínicas. mais bizarras e incríveis. Nunca uma planta me disse “Não, você não pode me pegar” e me deixou sem opção. Elas sempre me apontam alguma outra. Um grande pessegueiro uma vez me disse “Não, não serei boa medicina” e apontou para um pequeno pessegueiro em sua frente. Ele disse “Colha-me se quiser, mas eu sou apenas representativo”. Hoje eu sei como deve ser o gosto de um galho de pessegueiro para ser uma boa medicina, eles me fizeram prestar atenção para pequenas qualidades que eu não entendia antes. Existem plantas com atitudes e hábitos ruins. Dentes-de-leão podem ser realmente desagradáveis. Grosseiros, eu diria. “Não, não vamos cooperar com vocês seres humanos. Vocês estão destruindo o planeta. Nós preferíamos que vocês morressem com essas doenças.” Eu estava chocado com a ingratidão. “Vocês só estão aqui porque eu semeei o campo”, eu respondi. “Se eu deixar o mato tomar conta, vocês sumirão.” “Olhe se nos importamos!!” As raízes de um dente-de-leão nunca falham quando se trata de geografia. Colhi uns poucos trilhões de raízes nesses anos de coleta e alguns ginsens. Alguns de meus melhores lugares de coleta estão hoje sob concreto. Quem está lá para lembrar dessas plantas? 80
Elas eram minhas amigas e vivem hoje na memória das pessoas que ajudaram. Quando meu tempo vier, vou reencontrá-las no paraíso. Na última vez que eu colhi um ginseng Americano, ela me ensinou como olhar além dos estereótipos da literatura e entendê-la de uma maneira diferente. Dificilmente encontra-se uma planta mais feminina. Ela é macia, suave e suculenta. Pode chama-la de Panax quinquefolius “yin” ou “yin tônico” mas ficar preso nas descrições limitadas é uma maneira de perder seu espírito. O maior crime que vejo hoje com os herbalistas é em usar ervas de maneira meramente da “moda”. Ou pior, de acordo com “pesquisas científicas”, “ingredients de ativação” e as “opiniões experts” do “herbalistas de sofá” que nunca usaram ervas. Vejo a coleta selvagem de outra maneira, como uma forma de ser íntimo com as plantas. Posso te dizer que, raramente ou não, elas também se sentem desse jeito. Se nada disso faz sentido então siga os conselhos de Karyn e não colha nenhuma planta selvagem nos próximos sete anos.
* O texto The spiritual dimension of Wildcrafting teve tradução livre da autora para o presente trabalho. O original pode ser encontrado no link http://herbcraft.org/wildcrafting.htm 81
V PARA SER ÁRVORE
Quando se comportar como parasita, terá o fim de todos os parasitas: sua auto-extinção. E, quando se comportar como parte do todo, será preservado para manter o equilíbrio. Mas para poder compreender seu papel neste mundo terá de redescobrir a origem de si mesmo, ou seja, a sua alma, procurando nutri-la com o Belo, o Sutil e o Eterno que existem nesse mundo. E de repente descobrirá o Amor a tudo que o rodeia e, com isso, a alegria de uma Vida cheia e realizada. O vazio aterrador que tomou conta dele sumirá, não necessitando ser abafado pelo barulho. E no silêncio encontrará a felicidade.
Ana Primavesi, sobre Hiroshi Seó. 82
Entender é parede: procure ser árvore Manoel de Barros
SAMS, 1997
Árvores sabem a necessidade que têm de virar bosque, encontrar e crescer no meio de um lugar fértil para ajudar outras árvores e juntas virarem agrofloresta. Já viu como uma árvore rodeada de concreto na calçada parece estar solitária? Elas sabem da importância em perder o controle e deixar que as bromélias das mais variadas cores; os insetos com os formatos mais incríveis; as abelhas nativas e musgos façam parte de seu crescimento. Sabem que não tem controle de nada e, ao saber, só deixam que o fluxo de sua seiva oscile com os movimentos da lua. Ser árvore é encontrar-se em comunidade, que se sustenta e enraiza junto. Por onde quer que se caminhe saber que está em casa, afinal estamos na terra – mesmo que às vezes sobre as águas. Os seres do Povo em Pé, as árvores, também são nossos Irmãos e Irmãs. Através de seus troncos e de seus galhos, as árvores dão abrigo aos seres que têm asas. Cada árvore e planta possui seus próprios dons, talentos e habilidades a serem compartilhados. O Povo em Pé nos fala de raízes e de doação. Devemos nos reabastecer sempre, através de nossa ligação com a Mãe Terra, para podermos doar livremente, sem nos exaurimos. Ao erguer bem alto os seus galhos, buscando a luz do Avô Sol, verá com as suas raízes continuam a prendê-lo na Terra. O Povo em Pé nos pede que nos doemos mais.
Virar árvore é aproveitar o florescer da primavera e as mortes do outono e inverno. Mais do que só planta, a árvore passou pelas intempéries possíveis de destruí-la em seus primeiros anos e muito provavelmente agora cresce sem obstáculos. Os pássaros já começaram a habitar seus galhos e outros animais já a tratam como se sempre existisse nesse bosque. Agora a brisa matinal a lembra de aproveitar o sol e as chuvas que a tocam. 83
Quintal é casa É plantar sem esperar colher. É dar sem pedir. Pode ser que essa árvore tenha sido plantada em vasos ou nascido no meio de rachaduras no asfalto, graças à alguns sábias e gralhas. Mas por sorte algum articultor ou hortelão prestava muita atenção por onde caminhava e a resgatou, plantando em uma floresta que sempre visitava. Subitamente percebeu que não estava mais sozinha. Horta comunitária é responder à um chamado crescente de se viver desde o coração. Lá se (re)encontram amigos; amores; boas e más conversas; gente que cansou e gente que está cheia de energia pra tudo: a diferença é que todos estão porque querem quão diferente é estar porque queremos estar. Ao observar uma agrofloresta ou mata nativa, em um primeiro momento e olhos leigos, podemos até acreditar que existem plantas que estão competindo para se enroscarem nas outras, conseguir mais sol ou até sufocar outras para que não roubem “suas” propriedades da terra. Se passarmos nesse mesmo local um mês depois, a paisagem será completamente diferente. As plantas que estavam por baixo já ultrapassaram as que faziam sombra e que agora se enroscam em outras. Inverter a lógica competitiva e dominatória que reverbera no inconsciente é de tremenda importância para caminhamos em direções sustentáveis. É saber que a sombra por cima das folhas é temporária e que possa até mesmo estar protegendo e ajudando a planta companheira a pegar nutrientes, para em seguida esticarem juntas ainda mais os galhos. 84
A agrofloresta é mais do que um sistema de produção de alimentos em harmonia com o ambiente, onde se conservam os recursos naturais e se produz alimento saudável. Agrofloresta é muito mais que técnica, é uma nova forma de nos relacionarmos com todos os seres vivos e com o planeta como um todo, entendendo as relações entre tudo e todos, e percebendo que estamos todos interligados numa grande teia da vida.
Curso de Restauración de suelos con Tierra Martinez www.goo.gl/70FViW Acesso em 02/06/2016
Um agradecimento gigante à todos que cruzaram meus caminhos nesse e em tantos outros projetos similares. Quem tem amor tem tudo.
www.quintaisdefloripa. wordpress.com link para acesso ao blog dos Quintais de Floripa Acesso em 03/06/2016
Ser árvore é fazer com que os impulsos de criar hortas; juntar-se em objetivos comunitários e pôr em pauta os direitos que são de todos não sejam temporários. Os espaços públicos são de todos: por mais que às vezes as estratégias e formas de criação sofram tempos de decantação e processos grupais, em seguida se reerguerem ainda mais fortes. Essa é a época das pessoas comuns. Distribua cartazes no bairro; fale com vizinhos; com o comércio local; com produtores de sua região. Promova encontros abertos para assistirem e se atualizarem sobre técnicas de plantio; transformações sociais, ambientais e pessoais; manejo de águas; permacultura; transição interna. Organize feiras livres de orgânicos e produtos saudáveis. Convide alguns amigos para caminharem na cidade e encontrar segredos que a pressa não conta caminhar é encontrar-se. Convide a quem puder para fazer e cuidar da horta na praça no centro da cidade.
A natureza não é viver nem morrer. Não é pequena nem grande, não é débil nem vigorosa. Seria assim para aqueles que acreditam somente na ciência, para quem chama um inseto de praga e gritam que a natureza é um mundo de relatividade e contradição, em qual o mais forte come o mais fraco. As noções de certo e errado, bom e mau, são alheias à natureza. FUKUOKA, 2008, pág 45
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Reingenheria do ser com o Instituto Ná'Lu'um Carregar trinta carrinhos de brita em duas horas. Duas garotas e três garotos, que má-le-má carregavam enxadas e faziam trabalho braçal similares, brincando de ver quantos carrinhos se carregava em menos tempo. A Cidade Escola Ayni, em Guaporé/RS, é o projeto de uma escola pública em uma Área de Presenvação Ambiental (APP) com quatro hectares de mata nativa, dentro da cidade. Uma espécie de oásis. Para começar esse sonho, o Instituto Ná'Lu'um foi chamado pra dar algumas dicas e acabou construindo vários prédios: meses de estudo sobre as áreas e possíveis projetos, com direito a restauração de partes danificadas do solo, eram a base. Depois de delimitados os possíveis os lugares (trinta metros de distância de um rio que passa dentro do terreno, cinquenta próximo de nascentes) para as bioconstruções, o próximo passo seria buscar pessoas para realizá-las. Poderiam ter contratado uma empresa de construção convencional, provavelmente com muitos homens, que já soubesse o que é trabalho pesado – só teriam que ensinar-lhes algumas técnicas. Mas optaram por fazer uma loucura como poucas parecidas: abriram um processo de bolsas para pessoas do mundo todo, em que as diretrizes seriam que já tivessem um PDC (Permaculture Design Course) e estivessem realmente dispostas a pôr a mão na massa. Não deu outra. Lembra os tais bichos grilos, do capítulo anterior, que adoram olhar o mar e as cachoeiras? Então, a maioria era assim. Os bichos grilos mais lindos e mais trabalhadores que existem. Com um adendum: não imaginavam que essa experiência teria de tudo, além de somente a construção de uma escola. 88
www.fundacaoayni.org/ link para acesso ao projeto da escola acesso em 03/06/2016
El Instituto Ná’Lu’um trabaja de acuerdo a la Permacultura y la visuliza como una filosofía de vida. Su experiencia se ha logrado en base al trabajo que durante los últimos 15 años ha desarrollado a lo largo de Latinoamerica y las Islas del Caribe. Esto le ha posibilitado el desarrollo de Centros de Referencia de educación en Permacultura en diferentes climas, ecosistemas y culturas. www.naluum.org/ acesso em 03/06/2016
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O Instituto desenvolve projetos ligados à permacultura com restauração de solos; criação de sistemas produtivos (com hortas orgânicas, captação de água de chuva e filtros naturais, etc); bioconstruções com os mais diversos tipos de materiais; e inúmeros outros. Além da permacultura tradicional, o carro chefe é a permacultura social. É saber que além das técnicas para sua própria bolha verde, elas devem servir para impulsionar a bolha a se expandir cada vez mais. O uso de ferramentas como a comunicação não violenta, ecologia profunda e transição interna eram diárias. Os círculos restaurativos e as dinâmicas para reestruturação das energias pessoais e em grupos aconteciam semanalmente. Acontece que, para o Instituto, a única forma de realmente mudarmos nossos padrões é através de um processo chamado Reingenieria del ser. E bem...acho que acabamos mudando pelo menos alguns, ao nos propor viver uma imersão com diversos idiomas, sonhos e histórias.
A casa do bosque Na casa todos tinham um vidro com uma cultura de kefir e a única competição que acontecia era pra ver quem conseguia deixá-lo com um sabor melhor que o do outro. Além disso, o chão conseguia brilhar mesmo em dias de chuvas. “Es la energia de vosotros que deja esa casa tan linda, antes era un quilombo” Ao encontrar pessoas que estão em trilhas parecidas, parece que não se diz “prazer em te conhecer”, mas sim “que bom que nos reencontramos, já estava com saudades”.
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Kefir é o nome que se dá à bebida probiótica fermentada por uma cultura de 37 bactérias e leveduras diferentes, que vivem em casinhas que elas mesmos constroem. Os grãos de Kefir! Tem inúmeros benefícios, começando por limpar os intestinos e fazer com que cresçam as boas bactérias, logo a imunidade aumenta e a saúde melhora consideravelmente.
Voltarmos a nos sentir integrados a todas as partes, sem negarmos nada, muito menos nossa própria merda, com a mesma receptividade que olhamos para as borboletas. HOFFMANN, Mariana. Diretamente do banheiro seco
MACY, 2004, pág 60
A necessidade em viver em comunidade e compartilhar experiências é algo mais do preciso e natural. Somo seres comunitários e esquecer isso por um momento que seja nos faz entrar em um mundo ilusório, em que pouco parece fazer sentido. Ao desenvolvemo-nos como comunidade nos lembramos da força e da potência que temos quando com objetivos focados no desenvolvimento sustentável. Hoje, mais do que nunca, estamos precisando nos reconectar com o maior número de pessoas, ambientes naturais e ferramentas sociais para termos como combater a máquina feroz que nós mesmos criamos, de consumo exacerbado e capitalismo cego. A ecopsicologia convida à pratica psicoterapêutica a expandir seu enfoque mais além do enfoque interno, a explorar e fomentar um desenvolvimento comunitário, a entrar em contato com a terra, a região e com a identidade ecológica. Convida-nos a escutar a Terra falando através de nossa dor e angústia e nos escutar como se estivéssemos escutando uma mensagem do universo.
Cada célula contêm a memória do corpo todo.
Desenho do banheiro seco
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Lembrar que somos sementes Depois de voltar para casa com uma sensação como se estivesse voltando de uma longa jornada, decidi acender uma fogueira. Inconscientemente estava querendo reencontrar o amigo fogo lá do começo, para ter explicações melhores sobre o que havia me falado naquele dia. Esperava que ele aparecesse. Aos poucos os gravetos mais finos estralavam e eram consumidos, até virarem pequenos pedaços de brasa. Logo os troncos mais grossos aumentavam a fogueira. Um aroma de alecrim surgiu repentinamente. Olhei o céu estrelado e fechei os olhos, embarquei em uma viagem conduzida pela brisa e o som do mar a distância. Lembrei-me de cada encontro nesse caminho e pude sentir como se todos pulsassem por dentro, aos ritmos do coração. Ao observar a dança das chamas, pude escutar uma voz – serena, muito diferente da primeira vez, porém que não falava em palavras – dizendo que estava contente e agradecido por eu ter começado a entender sobre o que se trata de dividir o sol. Também me explicou que essa noite ele não falaria muito. Voltei a colocar alguns gravetos e folhas secas junto aos troncos, o vento tinha mudado a direção e soprava mais forte agora. Voltei a pensar nos aprendizados e o quanto é fácil quando estamos na simplicidade... Aos poucos me dei conta que somente eu, a partir daí, seria quem direcionaria os caminhos que quisesse trilhar, mesmo sabendo que se fosse necessário sempre teria como pedir auxílio.
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Lembrei-me de um sonho em que estavam ensinando a um grupo de pessoas como fazer para virar estrela. Tinha algo a ver com deixar o peito expandir até que lembrassem o sol que cada um carrega.
Compreender que ao lembrarmos de dividir o sol; dividir o alimento e escutar as pedras e plantas como quem pode aprender com a existência estamos fazendo parte dessa grande festa – elas não sabem o nosso idioma, mas sabemos o delas. E não há segredos quando se caminha aceitando que muito não sabemos, mas o sol que carregamos por dentro ensina a conversar com lagartos e mariposas. Articultura é dar abacate.
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NÓS ESTAMOS APENAS COMEÇANDO A ESQUENTAR ESSE FOGO 96
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PLANTA PLANTADE DEPODER PODER Taraxacum officinale O dente-de-leão, um dos remédios naturais mais versáteis, é um nutritivo legume de salada e um remédio desintoxicante para o fígado e os rins. Adorada pelos ervanários pelo seu suave efeito depurativo, a sua raiz é útil sempre que há algum tipo de toxicidade, incluindo em distúrbios dermatológicos crônicos e infecções recorrentes . É considerada uma planta invasora de horta e jardim, medrando em campos, vales úmidos e sombrios. Possui grande vitalidade, rusticidade e é de fácil propagação. Adapta-se bem em vários tipos de solo e clima. A raiz se recolhe no outono, a folha em qualquer época e o capítulo floral antes de abrir. Indicações (Uso Interno): para febres por faringite ou amigdalite; antiinflamatório em doenças bacterianas; depurativo do sangue (raiz), para infecção urinária; diarréias agudas; diurético potente; efeito hipoglicemiante; acidez gástrica e úlcera péptica; irregularidades do ritmo intestinal; hepatite aguda; úlceras; apendicite; inflamação crônica da pelve; resfriados; pneumonia; tosse; bronquite; intoxicação alimentar; hemorróidas; pancreatite; cistos, glândulas linfáticas inchadas; melhora a assimilação dos alimentos; endometriose; tonifica todo o organismo; rico em sais minerais; nutre os ossos e afasta osteoporose; melhora o movimento articular; anemia; fortificante dos nervos; acidose; celulite; obesidade; reumatismo; TPM; aumenta produção de bile; facilita o esvaziamento da vesícula biliar; desintoxicação do fígado (raiz); purifica o baço, pâncreas, rins, bexiga e vesícula biliar; diabetes; doenças da pele; candidíase; nervosismo; ossos fracos ou fraturados; aumenta a secreção dos sucos digestivos.
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coloque m ai PANCS em s seus prato s!
Suco: bater no liquidificador 4 folhas, 1 copo d´água e gotas de limão. Tomar 2 a 3 colheradas do suco ao dia. - secas: 4 a 10 g três vezes ao dia ou por infusão. - infusão: 10 g de folhas por litro de água, como tônico e depurativo, 3 xícaras de chá por dia. Sumo das folhas: cálculos renais e fígado. Uso externo: vitiligo. folhas novas são usadas em saladas; as folhas velhas, refogadas e comidas como verdura; Flores: - fritas. - em saladas, maioneses e geleias; Sementes: - torradas e moídas, podem ser usadas
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VI PARA COMEÇAR
A maior mudança que precisamos fazer é do consumo à produção, mesmo que em pequena escala, em nossos próprios jardins. Se apenas 10% de nós fizer isso, há o suficiente para todos. Daí a inutilidade de revolucionários que não têm horta, que dependem do próprio sistema que eles atacam, e que produzem palavras e balas, e não alimentos e abrigos. Bill Mollison
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Quarto crescente Plantar culturas que crescem acima do solo com incidência no fruto: Tomate, feijão, melão, ervilhas, milho, abóbora, pimentões
Lua cheia (após lua cheia) Bom para plantar raízes: Batatas, cebolas, beterraba, etc
Lua nova Plantar culturas que crescem acima do solo com incidência nas folhas: Alface, espinafres, aipo, brócolis, repolho, couve-flor e grãos
Quarto minguante Período de descanso, não plante. Aproveite para cultivar o solo, podar e colher.
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4 meses: milho, mandioca, arroz, feijão, tomate
5 anos: banana prata, palmito pupunha, urucum
Sucessão Agroflorestal 1 ano e meio: mamão, banana prata, abacaxi
18 anos: Açaí, cacau, cupuaçu, jaca, castanha do pará, seringueira, pupunha
40 anos: castanha do pará, seringueira, jaca, cacau, etc
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semeadura
INVERNO JUN JUL
PRIMAVERA
VERĂŁ O
OUTONO
AGO SET OUT NOV DEZ JAN FEV MAR ABR MAIO colheita em:
acelga
3-4 meses
espinafre alface
2-3 meses 2-4 meses
salsinha
3 meses
rabanetes cenoura
4-5 meses 3-4 meses
aipo
7-8 meses
pimenta
5-6 meses
berinjela borragem
5 meses 2-4 meses
cebola
5 meses
ervilhas
4-5 meses
feijao em corda
4-5 meses
alho
3-4 meses
rucula
1,5 meses
alface de cordeiro vagem
1,5 meses 2-3 meses
couve
5-6 meses
escarola abobrinha
2-5 meses
melao
3 meses 3 meses
direta
pepino
2,5 meses
direta
melancia
4-5 meses
tomates
4-5 meses
cebolinha
2 meses
batata
3-4 meses
cherovia
4 meses
couve-rabanete beterraba milho alcachofra manjericao
5-6 meses 3 meses 4-5 meses 1 ano 1 mes
abobora
4-5 meses
camomila
3 meses
alho poro morango
6-7 meses abril e maio
erva doce nabo
3-4 meses 3 meses
brocolis
5-6 meses
couve fLor
6-7 meses
chicoria
5-6 meses
articulturas do sensĂvel
urbanas e rurais semeadura protegida germinacao
transplante
10-12 dias
a cada 12cm
10-12 dias
nao precisa
6-8 dias
8 cm / 4-5 folhas
15-20 dias
nao precisa
6-8 dias
a cada 8 cm
12-15 dias
nao precisa
15-18 dias 15-20 dias
10 cm com 3 - 4 folhas
15-20 dias
12 cm
6-10 dias
nao precisa
10-12 dias
espessura de um lapis
10-12 dias
nao precisa
10-12 dias
nao precisa
10-12 dias
nao precisa
8-10 dias
nao precisa
8-10 dias 8-10 dias
nao precisa nao precisa
6-10 dias
sementeira
6-8 dias
direta ou sementeira
8-10 dias
3-4 sementes por buraco
10-12 dias
nao precisa nao precisa
8-10 dias 10-12 dias
com 3 - 4 folhas
8-10 dias
com 3 - 4 folhas
15 dias
nao precisa
8-10 dias
nao precisa
20-25 dias
nao precisa
6-10 dias
nao precisa
10-12 dias
a cada 20 cm
7-8 dias
nao precisa
12-15 dias 20 dias
10 cm nao precisa
10-12 dias
a cada 15cm
15-20 dias
nao precisa
12-15 dias
nao precisa
15-20 dias
8 cm
15-20 dias 6-8 dias
Deixe a mais forte
6-10 dias
12 cm
2 - 3 cm
6-10 dias
15 - 20 cm
6-8 dias
15 c,m
indice de irrigacao irrigacao manter umidade ligeiro e frequente ligeiro e frequente a cada dois dias todo dia todo dia frequente, manter umidade generoso e abundante manter umidade manter umidade sem tanta frequencia manter umidade manter umidade sem tanta frequencia abundante manter umidade duas vezes por semana manter umidade cada um ou dois dias generoso frequente, manter umidade manter umidade frequente, manter umidade frequente, manter umidade manter umidade generoso manter umidade manter umidade manter umidade abundante frequente, manter umidade generoso generoso moderado manter umidade manter umidade manter umidade frequente e abundante frequente, manter umidade manter umidade manter umidade
Quantidade de rega
Hugelkultur (canteiro elevado) Na verdade trata-se de fazer canteiros para cultivo, altos e cheios de madeira e restos orgânicos em decomposição, nutrientes e bolsas de ar benéficas para as raízes do que seja plantado, tendo estas camas um carácter permanente e de muito baixa manutenção, sem remoção de solos, tratamentos etc. Com o passar dos anos, a profundidade do solo na cama elevada torna-se incrivelmente rico e cheia de vida e actividade orgânica do solo. Como a madeira encolhe, faz bolsas de ar mais pequenas. Nos primeiros anos, o processo de compostagem cria um ligeiro aquecimento no solo dando-lhe um prolongamento da temporada de crescimento e produção. A matéria lenhosa ajuda a manter o excesso de nutrientes, evitando que sejam arrastados para as águas subterrâneas e, que serão lentamente disponibilizados para a realimentação das plantas em culturas. Além disso, este sistema consegue reter muita água em efeito de esponja pelo que se torna muito apropriado para climas mais quentes e secos. Sequência de ações para construção da cama: - Quando o solo é profundo e se trabalha facilmente, cava-se uma vala de cerca 30 cm de fundo - Em seguida, coloca-se a pilha de madeira Depois, colocar matéria orgânica e restos vegetais mais fibrosos (palhas, ramos finos, restos de canas, talos horticolas, etc) - De seguida colocar uma camada de terra original do terreno, cobrindo o tronco e restos vegetais - Neste momento aplica-se a camada de cartão (previamente molhado para moldar melhor) ou preferencialmente um lençol, cobertor ou qualquer tecido de origem vegetal (flanela, algodão). Esta ação tem como objetivo evitar a germinação e crescimento de todas as sementes de ervas selvagens que existam no solo. - De seguida uma camada de mínimo 5 cm de composto bem desfeito. É nesta camada que vão ser colocadas as plantas e sementes dos nossos hortícolas. 106
- Por fim mais uma camada de palha e ou folhas (pequenas), que irá servir tanto de protecção para a transpiração do solo, germinação de algumas sementes e também ficará em decomposição lenta aumentando e gerindo a fertilidade do solo. - Convém que esta palha utilizada seja mesmo resto de palha simples, nunca fenos, pois a palha resulta dos cereais, uma vez tirado o grão e no caso do feno, são cortes de prados naturais, cortados para forragem, sendo que estes trazem contidos milhares de sementes de ervas silvestres. - De seguida irá instalar-se a tubagem para rega que deve colocada no topo da cama e fixa com grampos ou ramos em forquilha, para não se moverem de onde foram colocados. Por fim planta-se e semeiam-se os nossos hortícolas escolhidos, de época. Benefícios Este trabalho só se faz no início! 1. A cama levantada permite um maior aproveitamento de superfície de plantação 2. Aumenta a produtividade do solo 3. Aumenta a capacidade de retenção de água 4. Reduz em muito o trabalho e tempo dedicado para a horta 5. É mais prático e funcional de manutenção
Mais em http://cultivarbiodiversidade.blogspot.com.br/
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Espiral de ervas Elas propiciam a criação de diversos microclimas em um pequeno espaço, para o cultivo de plantas com necessidades diversas. No alto da espiral geralmente temos um ambiente mais seco e ensolarado, próprio para alecrim, lavanda, babosa, entre outras plantas adaptadas a essas condições. No percurso curvo até a base, podemos ter cantinhos sombreados e mais úmidos, para plantas mais exigentes como tomate, moranguinho, malva, cebolinha, salsa, etc. Na base, que pode terminar ao nível do solo ou até mesmo em um laguinho, podemos plantar espécies apreciadoras de umidade, como manjericão, tomilho. As espirais podem ser de qualquer tamanho e são perfeitas para espaços pequenos. O mais importante é que todas as ervas, desde o topo até a base, estejam ao alcance das mãos. Em geral elas têm de 1 a 1,6 metros de diâmetro e entre 0,6 a 1,3 metros de altura. Comece desenhando a espiral com um barbante ou com um pó de cor diferente do papelão, como giz, areia, borra de café ou calcário. Após os espaços serem delimitados, inicie a construção da estrutura enfileirando as pedras ou tijolos e vá acrescentando mais material em direção ao centro e para cima. Sua estrutura pode ser feita com pedras, tijolos, bambú ou pequenas toras de madeira. Para o “recheio”, misturemos terra de jardim, areia, humus de minhoca, e um pouco de adubo orgânico, como esterco de curral curtido, farinha de ossos, torta de mamona, etc. Depois de montar toda a estrutura, vem a melhor parte: plantar! O importante aqui é escolher as ervas de acordo com as necessidades de cada uma no que se refere à luz, água e vento. Aquelas que gostam de água devem ficar na base da espiral, onde o solo é mais úmido. Mais informações em https://assementeiras.wordpress.com/ 108
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BANHEIRO SECO
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No atual cenário de desperdício de água, contaminação do meio ambiente e perda de fertilidade do solo, o Banheiro Seco é uma alternativa ecológica e sustentável. Isso porque não usa água para dar descarga, mas uma mistura de materiais secos visando a Compostagem ou Desidratação/Alcalinização, transformando os dejetos em adubo. O Banheiro Seco reúne, então, três vantagens: economiza água, é menos impactante ao meio ambiente e ainda transforma o que seria um poluente em um fertilizante natural. Os resíduos não vão para o esgoto. Podem ir para uma composteira, onde, misturados a folhas secas, palha e restos de comida, tornam-se adubo depois de alguns meses. Este processo chama-se compostagem e elimina bactérias e microorganismos causadores de doenças presentes nas fezes. . Já no caso de regiões mais secas, e portanto com menos disponibilidade de material para compostagem, a recomendação é que os dejetos passem por um processo de desidratação/alcalinização. A urina e as águas cinzas (que saem da pia e do chuveiro) também não vão para o esgoto. São usadas para irrigar um círculo de bananeiras, que absorvem os nutrientes destes líquidos.
* Texto na íntegra no link abaixo, agradecimentos especiais
ao pessoal da CEPAGRO que vem nessa há anos já! https://cepagroagroecologia.wordpress.com/tecnologiassociais/banheiro-seco/ 113
VII PARA IR ALÉM
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APPEL, Janice Martins Sitya. Hortas comunitárias na barra da lagoa. Tese disponível em https://oatd.org/oatd/record?record=oai%5C%3Audesc.br%5C%3A1019 Acesso em 03/06/2016 AVELINE, Carlos. A vida secreta da natureza. Porto Alegre: Bodigaya, 1999 FUKUOKA, Masanobu. A revolução de uma palha. Porto: Via Optima, 2008 _________, Masanobu. Senda natural del Cultivo. Barcelona: S.L. Terapion, 1995 BARRETO, Jorge M. O alimento no campo expandido. Artigo disponível em http://www.forumpermanente.org/revista/numero-5/textos/o-alimento-nocampo-expandido. Acesso em 29/05/2016 BARROS, Manoel de. Livro das ignorãças, O. Rio de Janeiro: Alfaguara, 2016 BLAUTH, Guilherme. Jardim das brincadeiras, O. Livro digital disponível em jardimdasbrincadeiras.files.wordpress.com/2013/09/jardim-dasbrincadeiras.pdf Acesso em 31/05/2016 BEUYS, J. Joseph Beuys en conversación con entrevista Louwein Wijers in KLÜSER, Bernd. Joseph Beuys : ensayos y entrevistas. Madri: Editorial Sintesis, 2006 BONDIA, Jorge Larrosa. Notas sobre a experiência e o saber de experiência. Texto disponível em http://www.scielo.br/pdf/rbedu/n19/n19a02.pdf Acesso em 30/05/2016 BONOBO, Café. Receitas para utopias. Editora Deriva. Disponível em www.cafebonobo.com.br/wp-content/uploads/2014/10/receitasparautopiasweb.pdf Acesso em 31/05/2016 BRAULE, Ricardo. Novos paradigmas ambientais. São Paulo: Vozes, 2008 CASTAÑEDA, Carlos. Uma Estranha realidade. São Paulo: Círculo do livro, 1998 CARERI, Francesco. Walkscapes: el andar como práctica estética. Barcelona: Gultavo Gilli, 2002 CRUZ & SANCHEZ, Maria C. & Roberto. Permacultura Criolla. Cuba, 2006 Disponível em https://yvypora.files.wordpress.com/2015/04/permaculturaumaexperienciacubana1.pdf Acesso em 25/05/2016 115
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Este trabalho foi elaborado durante e depois de uma imersão em permacultura, com jovens de todas as partes do mundo e inúmeros sonhos, em que o intuito - além de construir prédios - era compreender como se viver de maneira comunitária e sustentável. Talvez essa seja a única forma de sobrevivermos com e nesse mundo. Infelizmente, no meio disso ocorreu um golpe de estado no país.