Caminhos da regeneração - saneamento ecológico

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O processo de atender às necessidades das pessoas de maneiras mais sustentáveis requer uma revolução cultural. David Holmgren Resgatar e amar um pedaço da mãe Terra é muito mais profundo do que simplesmente criar sistemas para manter vivo o nosso corpo físico: é o resgate profundo da relação do ser humano com a natureza, de substituir o tempo do relógio – nossa escravidão – por ritmos. Tempo de cajú, tempo de manga. O levantar e o pôr do sol. A lua minguando e crescendo... E percebermos que, de fato,precisamos de muito pouco para sentir a felicidade ... Marsha Hanzi Agradeço a todos que compartilham do mesmo pôr do sol, que escutam os ventos e as árvores!


Este trabalho nasce a partir de experiências práticas e teóricas dentro do campo da permacultura e de uma cultura regenerativa, focase em soluções para o saneamento focado em recursos. Tema que hoje complexo e urgente, para tanto, busca-se trazer, com esta reflexão, alguma contribuição para minimizar a falta de assessoramento sobre saneamento básico descentralizado em comunidades rurais e periurbanas. Por meio de esquemas e dicas foi possível tornar acessível e replicável técnicas como o círculo de bananeiras, jardim filtrante, tanque de evapotranspiração e até um sanitário seco compostável. Além disso, apresentará capítulos que tratarão da origem da permacultura e para que efetivamente ela serve; algumas vantagens e desvantagens entre saneamento ecológico e convencional; soberania energética e planejamento por zonas.

Palavras-chave: Permacultura; cultura regenerativa; saneamento focado em recursos; sanitário seco; tanque de evapotranspiração; wetlands construídos


Conteúdo Caminhos da regeneração.………………….06 Para que(m) é a permacultura?......……………..10 Saneamento convencional x focado em recursos...........………...15 Merda acontece…………………...21 Zonas e Planejamento…………………..25 Soberania energética…………………...30 Tanque de Evapotranspiração..………………….34 Sanitário Seco Compostável..………………….38 Círculo de Bananeiras....………………...43 Jardim Filtrante….………………..48 Fechando ciclos.……………..…….52 Raízes anteriores..……………….....56


Caminhos da regeneração A sustentabilidade não é mais suficiente para que os padrões subjacentes de sobrevivência e adaptabilidade continuem imperando, enquanto que os ambientes estão sendo contaminados de maneiras que sequer se imagina. A sustentabilidade que sustenta esses mesmos padrões asfixiantes de solos e rios já não serve. Ao criar caminhos regenerativos se entende que serão caminhos saudá veis e resilientes que se importam com os que chegam e como estão saindo, que tem capacidade de se recomporem até mesmo depois de danos físicos consideráveis. Pode vir até a se transformar em um caminho de terra batida, um bambuzal, um caminho de verde. Um caminho regenerativo ocorre quando as sociedades se reintegram com a natureza e passam a ser comunidades de vida. Começam assim as regenerações ecológica, econômica e social, juntamente com a cultura individual e como a forma que cada um vê e sente a si mesmo. A Cultura Regenerativa trata de planejar e criar sistemas que permitam com que os ecossistemas fiquem mais vivos. O presente trabalho discute portanto alguns cenários contemporâneos com foco no planejamento regenerativo do saneamento básico a nível doméstico, através das técnicas utilizadas e da visão sistêmica que a permacultura, uma ciência que fora forjada na Austrália nos anos de 1970, brinda-nos com ética e cuidado para viver nesse planeta de recursos esgotáveis. Traz algumas possibilidades de Saneamento Ecológico de baixo custo, baseadas nas necessidades de comunidades rurais e periurbanas, entretanto não excluindo as urbanas. 06


a m e lh o r fo r m a d e a p re n d e r co m o p a r t i cip a r apropriadamente é prestando mais atenção às relações sistê micas e interações, para apoiar a resiliência e saúde de todo o sistema, fomentar a diversidade e a redundância em múltiplas escalas, e facilitar a emergência positiva, prestando atenção à qualidade das conexões e fluxos de informação no sistema [...] Como criamos design, tecnologia, planejamos e tomamos decisões políticas que positivamente suportem a saúde humana, da comunidade e do meio ambiente? (WAHL, 2016, p. 76,)

Ao caminhar por várias comunidades rurais brasileiras é alarmante constatar, para além de números, que não existe qualquer assessoramento quanto às maneiras adequadas de gerir esses bens e o grande desperdício que é repetido diariamente pela quebra de ciclos básicos no cuidado com as águas das casas. Não se abstém de responsabilidades diversas partes, porém o saneamento básico é um problema que todos devem enfrentar e há numerosas formas disso acontecer. Buscou-se com esse trabalho analisar um conjunto de técnicas que promovam melhorias no tratamento e reaproveitamento de dejetos e no cuidado com a água, foram trazidas algumas soluções. Esse sucinto livreto teve como eixo quatro projetos replicáveis: círculo de bananeiras, jardim filtrante, tanque de evapotranspiração e sanitário seco compostável. Os dois primeiros tratam as águas cinzas, provindas de pias, chuveiros e máquina de lavar roupas das casas; o terceiro, das águas enfezadas¹ vindas dos vasos sanitários e o quarto trata das fezes como adubo, por meio de processos de ¹ As águas provindas de vasos sanitários são comumente chamadas de águas negras, mas na literatura também se encontra como águas de esgoto, águas residuais, águas fecais ou servidas, porém são usualmente confundidas com as águas cinzas. Pela conotação racial que o termo águas negras remete, preferiu-se chamar de águas enfezadas, com fezes, para evitar quaisquer ambiguidades.

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decomposição e eliminação de patógenos². Os principais pontos para tornar essas técnicas replicáveis foram embasados em desenhos, ferramentas, materiais necessários, passo a passo e custos aproximados. É possível construí-las em locais que ainda não há saneamento ou em locais que possuem algum sistema, irregular ou não, apenas adaptando as canalizações. Além dos projetos, a revista também aborda alguns textos sobre a permacultura em si, de onde vem e para que é, o que é saneamento ecológico e soberania energética e um pouco sobre o planejamento por zonas. Para além de um instrumento teórico, buscou-se a inspiraçã o à prática. É importante constatar que, atualmente, o Brasil conta com o PLANSAB – Plano Nacional de Saneamento Básico³, visando erradicar a problemática da falta ou da irregularidade no sistema de saneamento básico que hoje atinge quase 50% do território nacional (Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento - SNIS, 2016), já estipulando que bilhões serão investidos e um prazo de no mínimo 30 anos será necessário para chegar em uma porcentagem aceitável. Entretanto, a cada ano as mortes e doenças por veiculação hídrica crescem no país, deixando claro que o tema é urgente e que medidas, mesmo as mais simples, porém seguras, devem ser aplicadas e servirem de inspiração.

² Denominam-se patógenos os organismos que são capazes de causar doença em um hospedeiro. Algumas bactérias, por exemplo, podem causar doenças em seres humanos, sendo essas, portanto, um patógeno. Além de bactérias, podemos citar como patógenos: fungos, protozoários e vírus. ³ O PLANSAB foi publicado pelo Ministério das Cidades em Maio de 2013.

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As medidas descentralizadoras e empoderadoras do saneamento focado em recursos são medidas para que nas comunidades, principalmente no campo, possam ser autônomas e que dependam cada vez menos das cidades. Na permacultura, busca-se fechar ciclos cada vez mais próximos de onde se está, mas que sejam cada vez maiores: o alimento saudável que vem da horta pode virar adubo para o solo, e as mesmas águas que chegam da cisterna e passam pelas pias podem ser filtradas e reutilizadas na mesma horta. Espera-se que esses caminhos possam contribuir para uma problemática tão ampla e que as crianças possam crescer em ambientes saúdaveis e limpos.

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Para que(m) é a permacultura? A permacultura é um conceito que nasce na década de 1970 na Austrália, com Bruce Charles (Bill) Mollison e David Holmgren. No início, surge como uma vertente ecológica dentro da agronomia como agricultura permanente “perma+culture”, aos poucos e através de muita atividade prática e teórica, Bill e David percebem que a ideia de uma agricultura sustentável poderia se ampliar para assentamentos sustentáveis como cultura permanente ou cultura da permanência, alargando os braços e os estudos para todas as áreas, desde construções de prédios e sistemas de saneamento, até educaç ão e formas de bem viver. As bases da Ética da Permacultura que orientam seus praticantes ao redor do globo hoje são: o cuidado com a terra, o cuidado com os outros, e a divisão dos excedentes (partilha justa). Além disso, há também a Flor da Permacultura com 7 princípios inicialmente sistematizados por Bill e os 12 princípios de Design da Permacultura, posteriormente desenvolvidos por David. Como esses conhecimentos a princípio ganharam muita força fora das universidades, seus precursores levaram anos para sistematizar uma forma para que fosse possível disseminá-los mantendo as bases e filosofias, porém adequando-os aos diversos biomas. A permacultura é, por definição: uma ciência prática utilizada para desenhar espaços (desde casas até cidades) de modo que os elementos sejam posicionados de acordo com a visão sistêmica onde tudo existe em relação, criando ciclos sustentáveis de aproveitamento energético e benefí cio mútuo. Ela é uma maneira de intervir na realidade,

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propondo uma nova ética, outraconduta – uma nova maneira de ser no mundo, opondo-se à tônica individualizante da sociedade de consumo e da lógica da produção industrial contemporânea. Nesta proposta, ela acaba por aproximar inúmeras áreas do conhecimento, sendo transversal e transdisciplinar por essência. A permacultura reaproxima os indivíduos de sua vida material, responsabilizando-os pela produção e reprodução de suas necessidades básicas, gerando uma nova relação entre as pessoas e o ambiente que as cerca, na qual a posição de consumidor passivo não é aceitável, mas insustentável perante o discurso vigente da escassez. (NETO, 2016, p. 44)

Resumidamente, é uma ciência que possui um arsenal de informações, experiências e métodos praticados e replicados por pessoas em diversos locais para lidar com situações das mais complexas, como a construção de uma casa ou cuidado de um bosque, até as mais simples, como pratos com alimentos saudáveis da própria horta. É transdisciplinar por isso: a permacultura entende que não existem divisões no conhecimento, mas são todos úteis e necessários para a vida. Um marceneiro é tão necessário quanto um padeiro que é tão importante quanto um artista ou arquiteto, cada um tendo suas afinidades e somando para que juntos possam fincar com mais solidez as estruturas de uma vida harmônica e ecológica, tornando esses personagens igualmente responsáveis, pois cada um deve tomar as decisões para cuidar do que entra e como sai dos seus sistemas (seja ele a casa, a horta, o trabalho, etc). É basicamente fazer o que é preciso fazer diariamente, como comer, tomar banho, trabalhar, estudar, porém com um botão interno ligado no que a ética da permacultura lembra: isso que está servindo

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de alimento é realmente nutritivo? A água do banho que está chegando tão limpa, sairá da mesma forma? Acredita-se profundamente no que está sendo investindo 10 horas diárias? E assim continua... Ela reconecta com o que parece uma essência ecológica, pois tira da posição de meros espectadores da vida e pede ação. Pede uma horta no quintal, pede uma composteira para o jardim, pede um sanitário seco. Desloca-se da posição passiva ao questionar de onde as coisas vêm e para onde vão. Por isso pode e deve ser aplicada por qualquer pessoa, não importando a área que prefira atuar “desde que sinta seu coração pulsando lá" como lembram os aborígenes australianos, país onde a permacultura tem berço. Hoje em dia, a popularização da permacultura acontece através de cursos, chamados PDC – sigla em inglês para Curso de Design em Permacultura; cursos populares mais específicos em áreas de conhecimentos, como em agricultura urbana, agroecologia, bioconstrução, tecnologias sociais; e em cursos de extensão ou mesmo dentro da grade de cursos universitários. A forma que se tem de conhecer as práticas, além de participar de cursos, mutirões e eventos, é visitar espaços que levam a permacultura como bandeira (na pág. 60 é possível encontrar sites com sítios e institutos no Brasil – muitos são abertos a visitações agendadas). Entretanto, mesmo com a larga disseminação dessa ciência nos últimos anos (o primeiro curso ocorrido no Brasil foi em 1992), ainda existem lugares que esta metodologia sequer foi aplicada no país.

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As técnicas de saneamento ecológico mostradas ao longo desse trabalho surgem com as bases e premissas da permacultura voltadas primeiramente para esses lugares, a partir de experiências tanto pessoais da autora e de locais que visitou, quanto de experiências sucedidas e que funcionam até hoje. Como anteriormente relatado, o descaso em cuidar das águas e dos solos não é justificado quando se sabe que já existem opções de baixo custo e fácil construção, portanto se optou por esse formato para tornar o conhecimento ainda mais acessível. Já se sabe que ao longo desses quase cinquenta anos, desde que a permacultura nasceu, muitas coisas ao redor do mundo pioraram drasticamente, como aumento no uso de agroquímicos, de concreto armado, de minérios e afins, porém o número de pessoas começando a se questionar sobre tanto consumo, poluição de rios, mares e florestas, talvez seja um sinal que viver uma vida simples, com o que é necessário é mais do que possível e inadiável. Saber olhar para as estrelas e a lua contar4 qual é melhor semente para plantar talvez não seja tão surreal. Essa ciência está no amanhecer e ainda não tomou todo o seu fôlego, mas já está sendo o oxigênio e sentido das vidas de muitas pessoas.

4 A Agricultura Biodinâmica, é um modelo agrícola de produção, que nasceu em 1924, através de

um ciclo de oito palestras proferidas por Rudolf Steiner, criador da Antroposofia. Assim como na Agricultura Orgânica, a Agricultura Biodinâmica não utiliza adubos químicos, venenos, herbicidas. A diferença, é que, além disto, ela busca a integração e harmonia entre as várias atividades de uma propriedade como horta, pomar, campo de cereais, criação animal e florestas nativas. Trabalha também com o conhecimento do ciclo cósmico, pois para os agricultores biodinâmicos, o reino vegetal não se emancipou das forças cósmicas, szendo um reflexo do que se passa no Cosmo.

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11 - Use as bordas e valorize os elementos marginais

12 - Use criativamente e responda às mudanças Cuidar da Terra

1 - Observe e interaja

2 - Capte e armazene energia

10 - Use e valorize a diversidade

9 - Use soluções pequenas e lentas

3 - Obtenha rendimento

Partilha justa 8 - Integrar ao invés de segregar

Cuidar das pessoas 4 - Pratique a autoregulação

7 - Projete e planeje 5 - Use e valorize serviços dos padrões aos detalhes e recursos renováveis 6 - Não produza desperdícios

Figura 1 -Tabela de Princípios e Ética da Permacultura (HOLMGREN, 2013)

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Saneamento convencional x focado em recursos O saneamento está relacionado a um conjunto de medidas que busca promover saúde, prevenir doenças e cuidar dos ambientes, urbanos ou rurais. No Brasil, o saneamento básico é, conforme o Instituto Trata Brasil 5 "um direito assegurado pela Constituição e definido pela Lei no. 11.445/2007 como o conjunto dos serviços, infraestrutura e instalações operacionais de abastecimento de água, esgotamento sanitário, limpeza urbana, drenagem urbana, manejos de resíduos sólidos e de águas pluviais". Uma das soluções para o saneamento nas cidades é, em teoria, por meio da implantação de estações de tratamento de esgoto (ETE) em nível municipal ou às vezes regional, em que parte dos impostos são convertidos em instalações de redes de abastecimento de água e coleta de esgoto descentralizados nos bairros direcionado-as às estações, bastando que cada casa ou prédio faça as devidas ligações e as redes se responsabilizam do restante. Quais os processos de uma ETE? Resumidamente, elas são responsáveis por tratar a água poluída (esgoto) e devolvê-la ao ambiente em forma de água tratada, fechando um suposto ciclo de “reaproveitamento sustentá vel” através de processos de gradeamento, decantação, peneiras, filtros, e vários outros tanques que retiram do mais grosso ao mais fino, fazendo uso muitas vezes de produtos químicos. Esse esgoto, após essa série de tratamentos, volta para o curso do rio mais próximo. 5 O Instituto Trata Brasil é uma OSCIP - Organização da Sociedade Civil de Interesse Público,

formado por empresas com interesse nos avanços do saneamento básico e na proteção dos recursos hídricos do país. Atua desde 2007 trabalhando para que o cidadão seja informado e reivindique a universalização do serviço mais básico, essencial para qualquer nação: o saneamento básico. Disponível em: <http://www.tratabrasil.org.br/> Acesso 19/01/2018

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Sugere-se que as pessoas façam uma visita à ETE mais próxima de onde moram. Na prática, ao sair de capitais e regiões metropolitanas, as ETE não existem. O que se vê são maneiras alternativas para “dar um jeito” no esgoto em nível doméstico, desde a fossa séptica, às fossas sumidouras e até mesmo à céu aberto, direto em rios ou ruas. Isso muitas vezes não é por falta de conhecimento da Constituição Federal, mas porque as demandas para planejar e gerir um projeto de saneamento básico a nível municipal são tantas e tão complexas que tornam essa opção cada vez mais distante para os gestores públicos. Como constado no PLANSAB: Com relação à existência de planos municipais de saneamento básico, a pesquisa da Abar confirma o dado levantado pela MUNIC 2011: apenas cerca de 11% dos municípios brasileiros elaboram o seu PMSB. (PLANSAB, 2013, p. 86)

Atualmente, o Plano Nacional de Saneamento Básico estima um investimento de R$ 508,4 bilhões em ações no país, nos próximos 20 anos. Entretanto, boa parte desse recurso deixa de ser destinado às prefeituras por um problema criado por elas mesmas: a falta de projetos. O PLANSAB, instrumento previsto pelo artigo 52 da Lei 11.445, que estabelece diretrizes, metas e ações de saneamento básico para o Brasil até 2033, determina que, para ter acesso aos recursos, os 5.564 municípios devem elaborar seus Planos Municipais de Saneamento até 2019 6 ,prazo que está na sua quarta prorrogação. Além do PLANSAB, foi lançado na mesma época o PMSB – 6

Prazo para elaboração dos Planos Municipais de Saneamento Básico é prorrogado para 2019. Disponível em: <http://www.tratabrasil.org.br/prazo-para-elaboracao-dos-planos-municipaisde-saneamento-basico-e-prorrogado-para-2019> Acesso em 15/01/2018

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Plano Municipal de Saneamento Básico, documento que instrumentaliza os municípios para a elaboração de projetos nessa á rea. Ainda assim, percebe-se que o esforço para dar passos sólidos nessa política nacional de saneamento básico estão longe de se concretizarem nos próximos anos. Com isso, o saneamento ecológico surge desde essa necessidade de solucionar um problema de saúde pública, limpeza, baixo custo e funcionalidade, e também desde a necessidade de descentralizar sistemas, cuidar localmente e fechar ciclos cada vez mais perto de sua própria casa. Por meio de técnicas já feitas e refeitas tanto dentro da permacultura quanto fora, esse trabalho vem mostrar algumas possibilidades para realizar esse tratamento de maneira eficaz e produtiva, utilizando processos biológicos para biodegradar as fezes e patógenos e reutilizar as águas servidas de pias e chuveiros com fossas ecológicas, sanitários secos, biofiltros, círculo de bananeiras, etc. Qual o benefício de um saneamento focado em recursos? Uma das frases chave de Bill Molisson, precursor da permacultura, é: “O problema é a solução!”. Ao criar processos descentralizados para tratamento das águas domésticas não é apenas da saúde ou do saneamento que se está cuidando: as águas, quando filtradas pelos sistemas adequados, voltam a fazer parte da teia da vida, transformando-se em irrigação para hortaliças, em bananeiras a partir de fossas ou até mesmo em adubo para o solo abaixo de árvores. As grandes vantagens dos sistemas de saneamento focado em recursos, ou ecológico, trazidos neste livreto são a facilidade de instalação, de manutenção e de 17


disseminação de formas eficientes e de baixo custo, a nível doméstico ou até mesmo comunitário77 (SEGUNDO, 2014). Um saneamento ecológico tem como enfoque principal o aumento da disponibilidade hídrica pela economia de água, a proteç ão dos recursos hídricos pelo não lançamento de esgoto – tratado ou não – nos cursos de água, possibilitando a reutilização racional de todos os nutrientes presentes nas excretas (WINBLAD & SIMPSON-HÉ RBERT, 2004, p. 77). Dentro da permacultura, compreende-se que todos os resíduos têm alguma importância e devem servir para mais do que apenas um uso: “cada elemento exerce múltiplas funções”. O esterco animal é usado para adubar a terra depois de curtido; as fezes frescas de animais são usadas para gerar gás através de biodigestores; o esterco também é usado para dar ligar à paredes de barro dentro da bioconstrução. Os ciclos não são apenas fechados de forma que nenhum elemento gaste ou necessite de demasiada energia, mas também fazem esse elemento dar o máximo de voltas possíveis dentro do sistema. Por exemplo, qual seria a diferença entre usar fezes de suínos ou de humanos para adubar o solo abaixo de árvores? Ou qual seria o problema em adubar o solo com urina humana? Ela é composta por 95% de água, 2% de uréia, os 3% restantes, estão fosfato, sulfato, amô nia, magnésio, cálcio, ácido úrico, creatina, sódio, potássio e outros

7 “O assentamento de Milagres, em Apodi/RN, não é um projeto de resistência armada. Muito pelo contrário, é totalmente pacífico. Na verdade, é o primeiro assentamento do país totalmente saneado, que usa a água das casas e da fossa, depois de tratada para irrigar vários tipos de plantio: mamão, milho, pimenta, forrageiras para os animais.” Artigo disponível em: <https://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Movimentos-Sociais/Assentamento-Milagresterritorio-da-agricultura-familiar-camponesa/2/29336> Acesso em 05/01/2018

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elementos. Cada pessoa joga fora cerca de 1 a 2 litros deste líquido turbinado por nutrientes, todo santo dia. São 500 litros por ano (ROSEIRO, 1999). Ao se distanciar de processos biológicos naturais, como excretar, distancia-se de processos mais complexos da vida. Com a naturalização da descarga que “leva tudo para um buraco para nunca mais ser visto

boiando na privada”, naturalizou-se que para que essa descarga funcione está tudo bem usar - muita - água limpa e talvez até que isso vá para um rio e para um mar, ao invés de pensar que as águas enfezadas poderiam ser águas já utilizadas de outros processos – como o banho – ou que as águas das pias pudessem regar uma espiral de ervas no quintal. O saneamento ecológico convida a um olhar mais cuidadoso e próximo desses processos, convida ao uso consciente de produtos ecológicos para limpeza desses sistemas (as bactérias que ajudam a biodigestão morrem com produtos químicos), convida a pensar o melhor local para posicionar uma fossa verde que possa oferecer bananas ou lembra a direção que o norte está para posicionar a câ mara de compostagem. Sugere-se também que uma breve pesquisa seja feita de como o saneamento funciona nos bairros e cidades e, caso exista uma ETE e uma legislação vigente, saiba como fazer as devidas ligações e quais as formas de manter sua fossa ou banheiro seco dentro da lei. O esgoto é um dos grandes poluidores de aquíferos e de água potável, evite descuidos! Cague contente, natureza alimente. 19


Abaixo, um esquema de funcionamento do sistema de saneamento ecológico, direcionando as águas cinzas para o círculo de bananeiras e as águas enfezadas são filtradas em um tanque de evapotranspiração – TEvap.

Águas cinzas: proveniente de pias, chuveiros, máquina de lavar (uso doméstico)

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Águas enfezadas: vasos sanitários


Merda acontece Quem nunca sentiu um enorme alívio ao encontrar um banheiro quando se viu extremamente apertado, colocar para fora o que estava incomodando, dar a descarga, lavar as mãos e nem olhar para trás para ver se a porta tinha fechado? Essa é uma cena que ocorre cotidianamente com um grande número de pessoas hoje nos países com políticas públicas de saneamento básico, através da implantação de legislações de tratamento de resíduos, desde a casca de banana até o fim dela depois dos processos digestivos. Ao apertar o botão mágico ou puxar a corda para acionar a descarga, a privada libera de 6 a 25 litros de água limpa, literalmente, cano abaixo. Apesar de representar muita comodidade, acostumou-se com a ideia de que as descargas são a única maneira de higiene e que não há problemas em gastar água limpa para carregar dejetos cano abaixo. Apesar desse uso indiscriminado, é muito importante lembrar os dados divulgados pelo Ministério da Saúde, afirmando que para cada R$1,00 investido no setor de saneamento, economiza-se R$4,00 na área de medicina curativa (RIBEIRO & ROOKE, 2010, p.11). Representando mais do que um luxo contemporâneo, o sistema de coleta de esgoto tem grande importância para evitar doenças e cuidar da saúde pública. As doenças de veiculação hídrica são as comumente conhecidas como coléras; diarréias; febre tifóide; hepatite A; amebíase; leptospirose e muitas outras que ocorrem em decorrência de esgotos despejados de forma irregular:

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O gráfico acima está representando um cenário sem chuvas e rios na proximidade. Não se pode negar os numerosos benefícios decorrentes do saneamento básico para as populações, porém como aceitar que água limpa seja usado para isso? A água potável já virou mercadoria e a injustiça hídrica bate na porta. Conforme um novo relatório feito pelo WHO (World Health Organization) e UNICEF (United Nations Children's Fund): 3 pessoas em cada 10, ou 2.1 bilhões de pessoas no mundo sofrem da falta de água potável e segura em casa, e 6 em cada 10 pessoas, ou 4.5 bilhões, sofrem da falta de um saneamento seguro8. Diante de um cenário em que a agricultura convencional intoxica lençóis freáticos com venenos 9 e existem soluções como a agroecologia e a agricultura sintrópica, porque não repensar os sistemas de saneamento – tanto os existentes como os não? 8

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“3 in 10 people worldwide, or 2.1 billion, lack access to safe, readily available water at home, and 6 in 10, or 4.5 billion, lack safely managed sanitation, according to a new report by WHO and U N I C E F . ” Tr a d u ç ã o l i v r e d a a u t o r a , r e l a t ó r i o d i s p o n í v e l e m : <http://www.who.int/mediacentre/factsheets/fs391/en/> Acesso em 20/01/2018 Panorama da Contaminação Ambiental por Agrotóxicos e Nitrato de origem Agrícola no Brasil disponível em <https://www.embrapa.br/meio-ambiente/busca-de-publicacoes//publicacao/987245/panorama-de-contaminacao-ambiental-por-agrotoxicos-e-nitrato-deorigem-agricola-no-brasil-cenario-19922011> Acesso em 20/01/2010

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Distribuição espacial dos municípios com e sem serviço de saneamento - 2008 - Brasil

Munícipios com serviço de rede coletora de esgoto

Munícipios sem serviço de rede coletora de esgoto

Fonte: Atlas dos Saneamento, IBGE, 2008

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Atualmente, 50,3% da população brasileira têm acesso à coleta de esgoto. Mais de 100 Milhões de brasileiros não tem acesso a este serviço. Mesmo assim, mais de 3,5 milhões de brasileiros, nas 100 maiores cidades do país, despejam esgoto irregularmente, mesmo tendo redes coletoras disponíveis (Fonte IBGE e Instituto Trata Brasil10 10). Essa porcentagem de quase metade do país sem coleta de esgoto deveria ser mais preocupante se não fosse o fato de que as gestões públicas, em realidade, tem prioridade em investir em regiões onde o lucro impera: Se habitantes do bairro dos Jardins, de São Paulo, se mudassem para Guariba, no Piauí, rapidamente haveria água encanada, coleta de esgoto e lixo porque não faltaria grupo econômico interessado em investir já que a população, nesse caso, poderia pagar. (REBOUÇAS, 2001, p. 123)

O grande problema em não atrelar o saneamento básico como direito garantido de norte ao sul do país, tendo o mesmo grupo econômico ou não, dá a entender que a coleta de esgoto representa algum grau de luxo ou riqueza. Oras! A saúde, limpeza, educação, bem estar e tantos outros são necessidades básicas de todas as populações. Sabendo que existem opções viáveis, de baixo custo e mais do que eficientemente comprovadas, o saneamento ecológico lembra do protagonismo, da autonomia e do fortalecimento das relações comunitárias necessárias para cuidar das águas de maneira descentralizada, em escala doméstica, e tenta jogar algumas pedrinhas para somar nesse grande tema que é o acesso a um saneamento básico ecológico, higiênico, verde e produtivo. 10

Relatório disponível em: <http://www.tratabrasil.org.br/saneamento-no-brasil> Acesso em 15/01/2018

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Zonas e planejamento Uma das formas que os fundadores da permacultura sistematizaram para facilitar e localizar os elementos espaciais dentro de um terreno, sítio, casa, etc foi através do conceito de zonas. O raciocínio é simples: o que exige muito trabalho e visita, coloca-se perto da casa, e o que exige poucos cuidados, longe. A forma e o tamanho das zonas está de acordo com a situação individual: visa-se produzir 80% do alimento da família cerca de 20 metros da casa. Para exemplificar: se o galinheiro ficar a 250 metros da casa, você vai andar 500 metros para cuidar das galinhas e coletar os ovos. Multiplicado por 300 (dias), isto dará 150 quilômetros que você andará em função das suas galinhas em um ano. Em compensação, se o galinheiro ficar a 10 metros, a distância percorrida cai para três quilômetros por ano. Ainda podem ser colocados alguns canteiros de ervas no caminho para aproveitar a viagem. Na permacultura se busca criar um sistema de design, ou planejamento, pensado na eficiência energética da propriedade, que se fundamenta na ética mostrada anteriormente. Embora, para muitos a permacultura possa parecer um retrocesso tecnológico pelo uso de ferramentas de mão como, por exemplo, facão, foice, machado, enxada, carrinho de mão, a intenção é reduzir as intervenções na propriedade ou fazê-las depois de períodos de observação. Isso não significa que utilizar pontualmente ferramentas ou tecnologias que facilitam o trabalho – pequenos tratores, roçadeiras, motosserras – sejam proibidos, mas sim que se busca o uso moderado e justificado dessas máquinas. 25


A prioridade é criar um design da propriedade de forma que a conexão entre os elementos possa aumentar os recursos naturais, suprindo a necessidade energética do lugar a partir do melhor aproveitamento espacial e em sintonia com o trabalho humano, este podendo incluir amigos ou vizinhos contribuindo assim com a integração comunitária do lugar. Em outras palavras, significa construir um ambiente sustentável a partir da porta da casa, com o uso eficiente dos recursos naturais em sua volta dentro de um sistema intensivo de pequena escala, projetado para produzir mais alimento humano e animal que seria encontrado de maneira natural, chegando, por fim, a atingir um plano maior de organização cooperativa em uma comunidade, ou até em níveis maiores como lembra o permacultor Pamplona: as estratégias de design da Permacultura não existem apenas para o planejamento de propriedades abundantes em energia – este é apenas o primeiro nível de ação do permacultor. É possível desenhar também sistemas de transporte, educação, saúde, industrialização, comércio e finanças, distribuição de terras, comunicação e governança, entre outros, para criar sociedades prósperas, cooperativas, justas e responsáveis. O sonho é possível: a ética cria possibilidades de consensos, coordena ações, coí be práticas nefastas, oferece os valores imprescindíveis para podermos viver bem. (PAMPLONA, 2011)

Uma das formas de realizar um planejamento permacultural é a partir do zoneamento, classificado de zona 0 até zona 5: a melhor imagem para isso seria a de círculos concêntricos a partir da casa, mas podem tomar diversas formas – por ex. se você tem duas casas centrais em um mesmo terreno, há duas zonas 0.

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Zona 0: Além da casa, essa zona pode incluir uma estufa que pode fornecer alimentos à cozinha; uma pequena espiral de ervas; animais de companhia, etc. Zona 1: Esta é a área do seu quintal que requer mais tempo e energia para manter e normalmente fica a uma distância de 15 a 20 metros de casa. Faz sentido começar a projetar esta zona em áreas que normalmente percorre várias vezes por dia: na frente ou nas laterais da casa. Nesta zona, planta-se os vegetais perenes e ervas aromáticas; construí-se uma estufa ou berçário para novas plantas, pequenas áreas de compostagem (incluindo vermicompostagem), um pequeno lago e os animais de companhia. Muitas vezes esta área é cercada para proteger a zona dos predadores. Este é o primeiro lugar a ser desenvolvido no desenho de Permacultura. Aqui é onde o saneamente ecológico acontece! Aproveitar as águas da chuva, captadas por calhas no telhado ou em paredes altas, filtrando e armazenando em tanques ou outros meios à disposição, que sejam tão ou mais econômicos e eficientes, como uma cisterna de ferrocimento. Separando as águas usadas na casa em águas cinzas e enfezadas. As cinzas, usadas nas pias, chuveiros e máquinas de lavar, devem ser conduzidas por tubos até os círculos de bananeiras ou até outros sistemas de bio-remediação. E as águas enfezadas, que saem dos sanitários, podem ir para uma bacia de evapotranspiração. Melhor ainda é ter na Zona 1 um sanitário seco, onde se utiliza água somente para lavar as mãos. Usar a água para empurrar as fezes é, no mínimo, uma visão distorcida de conforto. 27


Zona 2: Esta área fica mais longe da casa. Nesta zona são cultivados os legumes maiores, anuais e perenes, que precisam de pouca atenção, arbustos maiores e arbustos de frutas, algumas árvores de fruto menores, talvez uma lagoa ou um pequeno espaço com flores silvestres, áreas de compostagem e animais domesticados como galinhas e abelhas. Esta zona pode ser estendida ao longo de caminhos utilizados com frequência por conduzirem a outras zonas ou áreas visitadas frequentemente, como um celeiro ou um grande lago. Zona 3: É o local ideal para um járdim floresta, grandes lagoas, represas, troncos para cultura de cogumelos, produção comercial; madeira para lenha; celeiros, grande árvores utilizadas como quebra-vento e quaisquer outros componentes que sejam utilizados/ colhidos apenas algumas vezes por ano. Zona 4: Nem todos terão uma zona 4 - é uma área utilizada principalmente para pasto de animais de maior porte (ovelhas, cabras, vacas, porcos). É usada também para colheitas selvagens. É considerado quase selvagem. Frequência: Visitas mensais. Zona 5: Esta é uma área selvagem; um local de união com a natureza e de de observação e estudo dos seus modelos e padrões. É um lugar para esvaziar a mente e deixar que a mente superior, à qual pertencemos, nos toque. Não intervimos aqui, seria como uma reserva natural do sítio. Reflorestamento das áreas de acesso difícil, muito íngreme, situações frágeis. Áreas de captação de água. 28


Da mesma forma que esse sistema de zonas facilita para organizar os elementos físicos no espaço, também lembra que todos eles estão conectados e dependem mutuamente do que ocorrem nas diversas partes. Lembra também que os vizinhos, comunidades, bairros e cidades fazem parte de zonas mais próximas ou não da zona 0.

Figura 2 - Planejamento por zonas

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Soberania energética De acordo com os Ecologistas em Ação11, soberania energética é:

o direito dos indivíduos conscientes, das comunidades e dos povos de tomar suas próprias decisões a respeito da geração, distribuição e consumo de energia, de modo que essas sejam apropriadas a suas circunstâncias ecológicas, sociais, econômicas e culturais, sempre e quando não aferem negativamente a terceiros12

Nesse sentido, a soberania energética se contrapõe de maneira inevitável a qualquer modelo de produção centralizado e em mãos de poucas pessoas/empresas e que, na sua maioria, utilizam combustíveis fósseis, caros e pouco acessíveis. O desenvolvimento das energias renováveis permite que as comunidades se convertam em agentes ativos de produção de energia, não apenas a fotovoltaica (solar) ou eólica (em escala descentralizada), mas que possam ser responsáveis pelos ciclos em suas propriedades, de maneira que desde o alimento que chega às suas mesas até o gás produzido através de biodigestores no quintal, cisternas para água de consumo humano, etc possam vir de fontes limpas, com justiça social e ambiental.

11 Ecologistas en Acción é uma confederação de mais de 300 grupos ecologistas na Espanha.

Fazem parte do chamado Ecologismo Social. Mais em: www.ecologistasenaccion.org

12 Defendiendo la Soberanía energética. Tradução livre da Autora. Disponível em:

<http://www.odg.cat/sites/default/files/soberaniae_nergetica-1.pdf> Acesso 16/01/2018

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Essa é a base da soberania energética, que qualquer pessoa ou coletivo possa se converter em produtor de energia, que conheça o custo dela e possa, dessa forma, gerenciar seu consumo de forma mais eficaz e eficiente. Se a forma como o saneamento básico é hoje gerido, ou não, em no Brasil levasse em conta as premissas da permacultura ou mesmo as da soberania energética, será que os bairros, principalmente em cidades grandes, não poderiam ser responsável por gerenciar seus próprios dejetos? Desde as políticas nacionais de resíduos sólidos até o saneamento ecológico, sobrariam apenas os dejetos perigosos/ industriais/ hospitalares para talvez serem pensados em escala centralizada. No documento de construção da Rede para a Soberania Energética13 diz que alcançar a soberania energética supõe que os povos possam decidir sobre as questões energéticas sem interferências e escravitudes […] fruto da atual mercantilização da Energia (COTARELLO et al, 2014, p. 02). A permacultura lembra que os gastos das atividades podem ser cada vez mais eficientes, custem financeiramente, ambientalmente e energeticamente menos – isso ocorre pela experiência, por muito planejamento e principalmente por buscar soluções baseadas na soberania dos povos, aí cabe dizer que a soberania alimentar também é imprescindível para o atual momento que muitos alimentos chegam e vão de navio para outros continentes. Dar conta localmente do que demanda uma vida ecológica e principiada no cuidado da terra, das pessoas e da partilha justa 13

Xarxa per la sobirania energètica é uma rede formada por cidadãos da Catalunha, com a intenção de criar um espaço de confluência e sinergias que levam em direção para a formação de uma frente política de transformação no campo da energia. Mais em: http://xse.cat/

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pareceria utopia se já não houvessem tanto técnicas quanto lugares que já fazem isso. Já pensou o que aconteceria em sua própria casa se o sistema de saneamento parasse de funcionar? Alternativas como as apresentadas ao longo desse texto são mais do que necessárias, são urgentes em serem levadas a sério para que a dependência de grandes sistemas centralizados passe a ser repensada – além dos altos valores, a alta complexidade e as falhas em qualquer etapa podem comprometê-los. dependência de grandes sistemas centralizados passe a ser repensada – além dos altos valores, a alta complexidade e as falhas em qualquer etapa podem comprometê-los. Autoconsumo O termo autoconsumo é atrelado mais diretamento ao consumo energético e a capacidade do consumidor de produzir parte ou a totalidade da eletricidade que precisa para cobrir suas próprias necessidades, é conhecido como um agente prossumidor (produtor + consumidor). O autoconsumo implica em uma mudança radical na cultura de geração e consumo de aparelhos elétricos. Da mesma forma que já se sabe da produção de energia elétrica através de minieólicas, minihidrelétricas e placas solares, o saneamento ecológico também pode ser encarado como opção quando se percebe que o investimento a nível doméstico ou até comunitário é mínimo em comparação à manutenção do sistema de uma ETE, por exemplo. Não negando a importância que elas têm, principalmente para a saúde, mas ampliando as possibilidades para soluções menores, 32


Mollison (1998) disse um dia que “apesar dos problemas do mundo estarem cada vez mais complexos, as soluções continuam embaraçosamente simples”, levando a crer que a soberania pode residir em atitudes e ações simples, como a de ter uma horta ao redor da casa, algumas galinhas, um pomar, um sanitário seco e um sistema de tratamento de águas no jardim, gerando comida e água limpa através de processos simples. Deslocar-se da posição passivo-consumista que o sistema ilusório diz que não há necessidade em se preocupar para onde vão as águas das pias e sanitários para, no mínimo, tornar-se prossumidor é uma atitude valiosa nesses dias que pedem um sentido maior para a existência.

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Tanque de Evapotranspiração Esse sistema, aqui chamado de fossa verde, é um dos métodos possíveis para tratamento seguro e produtivo de águas enfezadas, sendo uma fossa séptica de baixo custo e alto rendimento, muitas famílias têm optado por construir uma no quintal. Foi criado por Tom Watson nos Estados Unidos com o nome de Watson Wick e hoje é adaptado por vários permacultores brasileiros. Chamada também carinhosamente de BET – bacia de evapotranspiração –; fossa verde; fossa ecológica ou “fossa de bananeiras” é uma maneira para tratar águas, principalmente vindas dos vasos sanitários, em escala descentralizada. Consiste em um tanque abaixo do nível do solo, impemeabilizado de alvenaria; ferro cimento ou lona, e camadas de pneus, entulho, brita, areia, terra e plantas. A saída das águas servidas da casa desemboca entre os pneus e faz com que os dejetos fiquem retidos e a água seja drenada. O líquido passa por um processo de tratamento e pode ser utilizado para o cultivo de bananas, mamão, taiobas. Além de tratar o esgoto em seu próprio terreno, fechando ciclos, também gera alimento. Minha banana não vai ter gosto de esgoto? Definitivamente não. Através do processo biológico que ocorre dentro dos pneus, das camadas e terra, as raízes das bananeiras são as únicas partes que têm qualquer contato com a água em tratamento, resultando em uma banana nutritiva. Porém, como qualquer esgoto em tratamento, deve-se tomar as devidas precauções ao manejar o sistema, seja para cortar as bananeiras ou 34


mexer na terra, cabe ressaltar que não há tratamento 100% seguro para águas provindas de vasos sanitários, isso significa que nem todos os patógenos são eliminados. Qual a diferença desse método para o tradicional? A fossa séptica, a sumidouro e a negra têm algumas desvantagens comparadas à verde: no caso da primeira, se não bem planejada, tem que receber constantes visitas do caminhão “limpafossa”; no caso da sumidouro, como o próprio nome diz, os desejos ficam em um tanque com as laterais impermebilizadas, mas com o fundo aberto em contato com a terra, fazendo com que a água escorra e possa inclusive poluir lençóis freáticos. Toda fossa sumidouro deveria ter antes uma séptica, para que no processo durante a primeira os organismos patógenos sejam eliminados. Já a terceira é realmente a menos adequada, pelo alto grau de contaminação do solo e mananciais, a fossa negra não possui impermeabilização alguma e os desejos caem diretamente no buraco. A fossa verde, além do baixo custo, faz todo o processo de tratamento das águas em apenas um tanque e ainda gera alimento, cuidando das águas e dos solos! Por que verde? Na camada de terra colocada por último no tanque é recomendado plantar espécies como bananas (Musa sp.); inhames e taiobas (Colacasia sp.); mamoeiro (Carica papaya), ornamentais como copo-de-leite (Zantedeschia aethiopica); maria-sem-vergonha (Impatiens walleriana); lírio-do-brejo (Hedychium coronarium); caeté banana (Heliconia spp.) e junco (Zizanopsis bonariensis) (PAMPLONA S & VENTURI M, 2004, p. 19) e outras que tenham uma grande 35


evapotranspiração:“Através da evapotranspiração, a água é eliminada do sistema, enquanto que os nutrientes presentes são removidos através da sua incorporação à biomassa das plantas” (GALBIATI, 2009, p. 16). Resultado: quando vista ao redor da casa apresenta uma bela paisagens de folhas grandes e esverdeadas. Dimensionamento O tanque deve ter 2m de largura, 1m de altura e 1m de comprimento para cada pessoa na casa (2m³ para cada). Se forem pessoas rotativas, faça uma média. (GALBIATI, 2009, p. 41)

2m

1m

1m

Dicas Além das camadas e dimensionamento, é importante lembrar de colocar pelo menos um tubo de inspecção (pode ser feito com cano de 100mm) dentro do pneu, de preferência no começo da fossa e um ladrão próximo das camadas superiores, se ocorrer excesso por chuva ou muitas visitas. Importante! Como se trata de uma fossa biológica, lembre-se que são as bactérias e microorganismos que farão os processos para eliminar patógenos e se você usar produtos de limpeza convencionais antibactericida poderá comprometer o processo. 36


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Sanitário Seco Compostável O Ciclo de Nutrientes Humano é um ciclo natural e infinito. Para manter o ciclo intacto, o alimento para humanos tem que ser produzido em solos que são enriquecidos pela adição contínua de materiais orgânicos reciclados por humanos, tais como excrementos, restos e cascas de alimentos e resíduos agrícolas. Respeitando esse ciclo da natureza, os humanos podem manter a fertilidade de seus solos agrícolas para sempre, ao invés de degradá-los continuamente, como ocorre hoje. (JENKINS, 1999, p. 10)

O sanitário seco, ao contrário da fossa verde, não utiliza em momento algum água para descarga. O modelo apresentado aqui é com uma câmara de compostagem com uma rampa por dentro, para que os desejos fiquem mais próximo da porta de saída. Ao contrário do que aparenta, ainda hoje a descarga é um luxo recente para diversas regiões, principalmente rurais, do país “Nas comunidades rurais, os índices de saneamento são próximos a zero e 5% das moradias nem sequer dispõem de banheiro com fossa séptica” (COMIN, 2013). E antes, como era feito? As antigas latrinas da idade média mostraram que muitas doenças aparecem pela disseminação de patógenos, já que não havia qualquer cuidado. Hoje se sabe o problema alarmante que é para a sociedade ter esgoto a céu aberto escorrendo, seja através de valas, rios ou latrinas. Então, é um retorno à idade média para defecar sem água? Hoje já existem vasos super econômicos de 6 e até 2L por descarga, mas será que realmente é por esse caminho? Uma conta básica: para uma casa com 4 pessoas, sendo uma vaso sanitário de 10 litros por descarga, e no mínimo 3 descargas por pessoa, todos os dias em um ano: 4 x 10 x 3 x 365 = 43,800 litros de água limpa por casa

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O que foi esquecido no meio do caminho é que as fezes humanas, como as de gado, cavalo, cabra, etc, podem e devem ser usadas como adubo natural para a terra. A diferença é que antigamente não havia qualquer cuidado em impermeabilizar espaços para um que processo microbiológico eliminasse patógenos. Esse sanitário pode ser construído diretamente de um banheiro já pronto, bastando fazer as adaptações em tamanho e queda necessária (LENGEN, 2014, p. 653) ou utilizar o declive no terreno. Para o presente modelo, calculamos uma construção diretamente de um terreno plano, para ser possível melhor visualização. O modelo apresentado aqui é de um sanitário para uma família de até quatro pessoas. O processo Os dejetos caem do nível superior para uma câmara de alvenaria ou ferrocimento, cuja cobertura superior é uma placa de zinco. Essa câmara deve ser posicionada ao norte, lado que o sol consegue esquentar em todas as épocas do ano. O aquecimento da câmara é o grande diferencial nesse processo: o processo de compostagem deve ser conduzido dentro da gama de temperaturas termofílicas, quase a 60ºC, para aumentar a biodegradabilidade e biodegradação de fezes, para inibir e matar microrganismos patogénicos e para aumentar a velocidade de secagem. Temperaturas até 70 ° C vão destruir tanto patogênicos quanto microorganismos úteis. Temperaturas mais baixas vão desacelerar o processo de decomposição. (ZAVALA E FUNAMIZU, 2006, p. 02)

Ou seja, o adubo que sairá pela porta da câmara estará em um estado bem distante dos desejos que poderiam causar repugnância, prontas para adubar árvores e canteiros. 39


Além da placa de zinco de cobertura, é importante também pintar toda a câmara de preto para absorver melhor o calor, colocar um tubo para saída de gases mais alto que o banheiro e uma pequena entrada para posicionar uma garrafa pet ou algo similar, que servirá de atrativo através da luz para pequenos insetos que possam estar na câmara e que serão retirados facilmente apenas removendo a garrafa. Também é possível criar uma divisória para urina e fezes no assento, direcionando-a através de uma mangueira para algum outro processo externo ou armazenamento, sendo usada posteriormente como adubo também. Caso prefira, pode fazer um filtro biológico com plantas que gostem de amônia. Manejo Assim que seu sanitário seco estiver impermeabilizado, coberto, com a porta e com a chaminé, basta instalar um assento sanitário confortável e utilizá-lo. Sugerimos que faça uma divisão de secos e molhados se sua região for muito úmida, pois o excesso de urina poderá tardar o processo de desidratação do material. Caso não seja, poderá manter sem divisões, lembrando que a prioridade do sanitário seco são as fezes. Depois de utilizá-lo, jogar serragem, palha ou outro material seco por cima dos resíduos, para que puxem a umidade e ajude as fezes a virar adubo. Passado alguns meses (variam de região para região, no nordeste brasileiro é possível retirar o material a cada três meses, o ideal são seis meses), basta abrir a porta, retirar o material e adicionar no solo. 40


Não é indicado colocar em solos que servirão de canteiros para hortaliças. Também poderá passar por um segundo processo de compostagem através da vermicompostagem141 para enriquecer os nutrientes. E o cheiro? Os odores gerados pelo sanitário seco se dão por basicamente o mesmo fator: excesso de umidade. Seja através de regiões úmidas, excesso de urina ou falta de serragem nos dejetos. Importante sempre deixar um abastecimento de serragem, palha, ou qualquer outro material seco para ajudar a compostagem. Caso ocorra da vizinhança toda querer conhecer seu sanitário seco e acabar enchendo a câmada rapidamente, pode-se criar uma estação de compostagem externamente próxima ao sanitário, com acesso ao sol. Pode ser uma estrutura de madeira com lonas pretas para ajudar a esquentar.

14 Uma forma prática de acelerar o processo natural de compostagem consiste na

utilização de minhocas específicas na decomposição. Uma minhoca consome diáriamente o equivalente ao seu peso em matéria orgânica. Em condições ótimas, um quilograma de minhocas consome diariamente um quilograma de matéria orgânica.

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Construção do modelo Bason - TIBÁrquitetos


Círculo de Bananeiras O círculo de bananeira é uma tecnologia apropriada para tratar as águas usadas da casa, as chamadas águas cinzas, que são as provenientes de pias, tanques e chuveiros. Ele também beneficia a produção de bananas em escala humana. As bananeiras são espécies que se adaptam perfeitamente às águas residuais provenientes do uso humano, razão pela qual ela é escolhida na Permacultura tropical. Para cada local onde tenha uso da água (chuveiro, pia, maquina de lavar, urina do banheiro seco) pode ser feito um Círculo de Banana para coletar e reutilizá-la. É ainda aconselhável não direcionar toda a água cinza em um lugar central, mas espalhar a reciclagem de uso de água para vários círculos, criando pequenos microclimas: é uma maneira de distribuir áreas úmidas em pontos estratégicos do sítio. No caso das bananeiras percebeu-se que elas, como outras plantas de folhas largas como o mamoeiro, evaporavam grandes quantidades de água e estabeleceu-se assim uma relação com as águas cinzas das residências. Essa ligação é feita entre a necessidade de se tratar a águas com a grande capacidade de evaporar (tratar) dos círculos de bananeiras. E isso é uma das bases do design na permacultura, estabelecer relações positivas, sinérgicas entre os elementos de um sistema vivo.

Uma bananeira pode evapotranspirar até 200 litros de água/dia!

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Para começar A construção deste sistema é bastante simples. Escava-se um buraco em forma de bacia, geralmente com um metro de profundidade e dois de diâmetro. No entorno desta bacia é importante manter uma borda de cerca de 30 centímetros de altura que forme uma barreira para proteção. Esta barreira irá impedir que o escoamento superficial de água da chuva carregue areia para o interior do filtro e cubra a bacia. Também irá impedir que o água cinza transborde e escorra para fora do sistema em momentos de grandes usos. Os sistemas vivos não seguem projetos no papel. Então mais importante do que seguir as dimensões apresentadas aqui, é procurar observar no local, o solo, a insolação, incidência de geadas, etc. para definir melhor como será o círculo de bananeiras de sua residência. Se o solo for muito arenoso deve-se adicionar uma camada de argila para retardar a infiltração e possibilitar que a microvida faça seu trabalho de quebrar as moléculas dos nutrientes e outros compostos que vem com a água. O buraco, depois de pronto, deve ser enchido com madeira e palha para criar um ambiente adequado para o recebimento da água cinza e para beneficiar a micro vida. Isso é feito primeiro colocando pequenos troncos de madeira grossos no fundo. Em seguida galhos médios e finos de árvores e por último a palha (aparas de capim, folhas, etc.) formando um monte com quase 1 metro de altura acima da borda do buraco. A madeira deve ser colocada de forma desarrumada, para que se crie espaços para a água. A palha em cima impede a entrada da luz, mantendo a umidade e servindo de nutrientes para as bananeiras e também como proteção para que crianças e animais não caiam no buraco. 44


Caixa de gorduras: deve ser instalada ou não? Nas residências urbanas o uso de caixa de gorduras pode ser uma boa ação preventiva. Já nas residências rurais não há necessidade pois há mais espaço e, em caso de problema, o fluxo de água pode ser desviado para um segundo círculo enquanto o primeiro se recupera. Outra ação que pode ser feita é a limpeza descrita no manejo abaixo. A caixa de gordura, se instalada, deve ser limpa periodicamente (a cada três meses) caso contrário se torna inútil para o que se propõe. Do contrário, a gordura não tende a dificultar os processos do círculo de bananeiras. Manejo Sempre colocar aparas de poda (grama, capim, galhos) no centro para alimentar o círculo e evitar que o buraco seja inundado com a água da chuva. Após colher o cacho de bananas, deve-se cortar a bananeira bem na base e em pedaços de 1 metro, rachar ao meio (longitudinal) e também colocar no centro do círculo. A cada 3 anos (ou mais) todo o material depositado no buraco pode ser retirado (quando os troncos se dissolverem) e usar como adubo orgânico na horta. E repor novo material como no início da implantação do círculo.

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Plantio Além das bananas, ao redor do círculo, também é indicado o plantio de mais plantas de folha larga como a taioba, mamoeiro, caetés e entre elas batata doce ou outra plantas rasteiras para cobrir todo o espaço. Em pouco tempo o círculo irá se transformar em um nicho de fertilidade que vai se espalhar pelo entorno.

Detergente natural - 200 g de sabão de coco em barra - 3 colheres (40 g) de bicarbonato de sódio - 3 litros de água - 50 ml de álcool - 10 ml de óleo essencial de limão ou laranja (opcional) - Você vai precisar de uma panela bem grande, 1 ralador e recipiente para as embalagens dos detergentes O primeiro a fazer é ralar o sabão de coco. Depois esquente a água na panela e adicione o sabão já ralado. Assim que o sabão dissolver, desligue o fogo, acrescente o bicarbonato, o álcool e o óleo essencial. Misture tudo muito bem durante uns cinco minutinhos, deixe repousar por 1 h. Aí é só distribuir o detergente nas embalagens. Como todo produto de limpeza, deixe fora do alcance das crianças!

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Importante! A água cinza NÃO deve conter água dos vasos sanitários. Estas deveriam ir para outros sistemas apropriados para o seu tratamento. Nas pias e chuveiros deve-se evitar o uso de detergentes químicos e outras substâncias tóxicas como cloro, etc., pois estas substâncias matam os microrganismos e impedem a compostagem dos nutrientes contidos na água cinza com a madeira.

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Jardim Filtrante Os jardins filtrantes são também chamados de Wetlands contruídos; Zona de Raízes; Sistemas Alagados Construídos; Filtros Plantados com Macrófitas entre outros e são basicamente o que o nome diz: jardins que filtram águas provenientes de pias, chuveiros, máquina de lavar, as águas cinzas. Os jardins são sistemas artificialmente projetados e impemeabilizados, utilizando plantas aquáticas (macrófitas) em substratos (como areia, solo ou cascalho), onde ocorre a proliferação de biofilmes que agregam populações variadas de microrganismos que, através de processos biológicos, químicos e físicos, tratam águas residuárias. Vale dizer que durante o projeto é importante lembrar que ele não só será útil para tratar as águas, mas também para os olhos verem. Este sistema é utilizado no tratamento secundário e terciário, por isso é essencial que o efluente passe antes por um tratamento primário, que pode ser através de uma caixa de gordura ou tanque séptico, a fim de impedir o acumulo de sólidos. O tratamento secundário é a etapa biológica onde a remoção da matéria orgânica ocorre por reações bioquímicas realizadas pelos microorganismos. O tratamento terciário é a etapa de remoção de microorganismos e nutrientes das águas cinzas. O sistema funciona da seguinte forma: Primeiramente o efluente passa por um tratamento primário, geralmente por uma fossa séptica e então, é encaminhado através de uma tubulação à região onde estão as raízes das macrófitas. O tratamento começa de cima para baixo, em fluxo vertical descendente, passando pelo fluxo 48


horizontal subsuperficial, ficando em contato com a zona de raízes, onde ocorre parte do tratamento. Assim que a a água chegar à altura da descarga delimitada pelo sifão Bell-Afman, o fluxo seguirá ao próximo tanque. Os jardins filtrantes são considerados como uma opção tecnológica para o tratamento de esgoto em zonas rurais ou em terrenos com área disponível. Além de ser eficiente, é um sistema de simples operação, baixo custo de implantação e manutenção. A construção desse jardim é bem simples, porém, ao contrário do círculo de bananeiras, deve fazer uso de uma caixa de gordura e uma fossa séptica: observar a área possível de construção dos tanques – cogite fazer alguns pequenos ao invés de um grande; construí-los de alvenaria, ferrocimento ou até enterrados com lonas, fazer as devidas ligações das tubulações, preenchê-lo com as camadas e plantar as macrófitas de sua escolha.

P3

P1 P4 P5 P2

P1 - água cinza bruta P2 - saída da caixa de gordura P3 - Tubo central do filtro P4 - Segunda volta do filtro P5 - Saída final do efluente tratado

Modelo em espiral do Instituto Çarakura - Florianópolis

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O que são macrófitas aquáticas? As plantas aquáticas são conhecidas pelos pesquisadores como macrófitas aquáticas (macro = grande, fita = planta). São vegetais que habitam desde brejos até ambientes totalmente submersos (isto é, debaixo d'água). As macrófitas aquáticas são, em sua grande maioria, vegetais terrestres que ao longo de seu processo evolutivo, se adaptaram ao ambiente aquático, por isso apresentam algumas características de vegetais terrestres e uma grande capacidade de adaptação a diferentes tipos de ambientes (o que torna sua ocorrência muito ampla). Espécies As macrófitas mais indicadas são: Raízes mais robustas: Papiro gigante (Cyperus giganteus); Aguapé (Eichhornia crassipes) ; Junco (Juncus spp.); Taboa (Typhan spp.) e Banana-de-macaco (Philodendron bipinnatifidum) Florescências: Canáceas (Canna indica) e Cavalinha (Equisetum giganteum) Estéticas: Orquídea-bambu (Arundina graminifolia) e Lírio do brejo (Hedychium coronarium) Espécies meia-sombra/ Inseticida e aromático: Mini-papiro (Cyperus prolifer); Copo-de-leite (Zantedeschia aethiopica); Hortelã anã (Mentha x villosa) (GONÇALVES, 2016). Importante! Como o círculo de bananeiras, no jardim filtrante também não vão águas enfezadas e deve-se evitar o uso de detergentes químicos. 50


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Fechando ciclos Por fim, o grande foco da permacultura, além da ética e do planejamento, é na compreensão que os ciclos devem ser fechados dando o máximo de voltas dentro do sistema. Se há um rio trazendo água, essa água passará pelas necesidades humanas e animais; irrigará o solo adequadamente; voltará para o lençol freático e o restante voltará ainda mais limpo em seu curso. Em muitas propriedades os ciclos quebrados com desperdícios são enormes. Esse trabalho se consolidou após visitas em comunidades rurais por várias regiões do país e vendo cenas parecidas: saneamento irregular ou falta dele, seja por responsabilidade das gestões ou dos próprios moradores. Além disso, como o próprio estudo mostrou sobre o atual saneamento no Brasil, mesmo em locais que há rede coletora de esgoto, ainda há pessoas despejando irregularmente as águas poluídas em rios ou em canalizações pluviais. Talvez para pessoas que nunca presenciaram esse fato ou que acreditam que algum ecossistema mereça isso, possa parecer exagero. O que mal habitualmente foi e ainda é chamado de lixo deveria ser renomeado para desperdício, pois todos os elementos orgânicos são reciclados nos sistemas naturais. O papel da permacultura aqui é de conectar esses elementos, e esta conexão pode ser e acontecer em vários níveis. Desde as mais simples até as mais complexas, os níveis podem ser os mais variados. A riqueza destas combinações enriquece os ambientes, tornando-os mais estáveis e sustentáveis. 52


Intacto

Figura 3 - Ciclo de nutrientes fechado

Adubando constantemente o solo para gerar frutos através de processos naturais garantirá a permanência e a sobrevivência. O luxo de haver água limpa e potável em casa deveria representar algum grau de respeito com os elementos. Ao contrário: acredita-se, inutilmente, que a água continua limpa e ficará à disposição – da riqueza já se sabe que sim. A facilidade de instalação e manutenção dos projetos aqui apresentados convidam à tomar a bandeira da autonomia através do fazer, aprendendo a gerir processos básicos do cotidiano, sem necessariamente depender de muitos fatores externos (mesmo que insumos vindos das lojas de material de construção sejam necessários, 53


será como usar pontualmente um trator ou uma motoserra), muito menos depender de políticas públicas, pois em realidade elas não empoderam quando vem de cima para baixo. Além disso, também se deve lembrar que essas técnicas são adaptáveis e devem estar em constantes mudanças, pois nenhum ecossistema é igual ao outro, mesmo que vizinhos. As mudanças na inclinação do terreno ou algumas árvores a mais em alguma direção pedem para sejam observadas as melhores posições para, por exemplo, instalar o sanitário seco na direção que a compostagem ocorra adequadamente ou a fossa verde, para que a chuva não inunde o sistema. Tentar somar nesse tão amplo tema que é o saneamento básico vem juntamente com vários outros, desde os mais pessoais (como a coprofobia) até as políticas públicas que visam chegar aos cantos mais afastados desses interiores. Em momento algum trazemos a ingenuidade em mostrar soluções – a primeira vista – simples ou sem olhar a complexidade que os temas mereçam, mas sim se busca esperança que as crianças que brincam nas ruas de terra possam viver em ambientes limpos e seguros, da mesma forma que possam ter sempre água para beber e regar suas plantas. Já se sabe que a permacultura “morena e ecossocialista”15ainda está apenas no horizonte, mas talvez seja por meio destas técnicas de cuidado da terra a partir do local em que se está hoje e que precisam de replicações urgentes de conhecimentos e técnicas acessíveis acessíveis, que fortalecerão os vínculos de afeto comunitário. 15 Por uma permacultura morena e ecossocialista, disponível em:

<http://outraspalavras.net/brasil/por-uma-permacultura-morena-e-ecossocialista/> Acesso em 30/01/2018

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Ademais, aos que já sabem o mínimo e tem curiosidade suficiente, a metodologia “use seu quintal como laboratório de experimentos” é mais do que suficiente para alguns erros e aprendizados, e principalmente serve de inspiração aos que estão começando ou ainda não ouviram falar de permacultura; saneamento ecológico ou até em comer banana produzida com águas cinzas. As visitas em locais e experimentos sucedidos nessa área garantem uma ótima troca, principalmente se ainda existir certa insegurança em aplicar tais técnicas como principais na hora de pensar na construção de uma casa. Percorrer os caminhos regenerativos lembra do papel de fazer o que está ao alcance de cada um e a cada dia alargar a simplicidade que chega. Anote, escute e observe. Será imprescindível repassar esses conhecimentos e até ajudar a cavar alguns buracos para fossas ou círculo de bananeiras. É possível mudar hábitos e qualidades de vida com a permacultura.

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Nunca é tarde demais para abandonar nossos preconceitos. Não se pode confiar às cegas em nenhuma maneira de pensar ou de agir, por mais antiga que seja. O que hoje todo mundo repete ou aceita em silêncio como verdade amanhã pode se revelar falso, mera bruma de opinião que alguns tomam como uma nuvem de chuva que fertilizaria seus campos. Henry David Thoreau



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