Elos no Canteiro Mais Cultura
MinistĂŠrio da Cultura
GOVERNO FEDERAL Presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva Vice-Presidente da República José Alencar Ministro da Cultura Juca Ferreira Secretário Executivo Alfredo Manevy Secretária de Articulação Institucional Silvana Meireles Secretário do Audiovisual Newton Cannito Secretário da Cidadania Cultural TT Catalão Secretário de Fomento e Incentivo à Cultura Henilton Menezes Secretário da Identidade e da Diversidade Cultural Américo Córdula
Secretário de Políticas Culturais José Luiz Herencia Presidente da Agência Nacional do Cinema Manoel Rangel Presidente da Fundação Biblioteca Nacional Muniz Sodré Presidente da Fundação Casa de Rui Barbosa José Almino de Alencar Presidente da Fundação Cultural Palmares Zulu Araújo Presidente da Fundação Nacional de Artes Sérgio Mamberti Presidente do Instituto Brasileiro de Museus José do Nascimento Júnior Presidente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional Luiz Fernando de Almeida
PROGRAMA MAIS CULTURA Coordenadora Executiva Silvana Meireles Diretor de Programas Integrados Vinícius Palmeira Coordenadora de Ações Mônica Monteiro Coordenador de Projeto de Arquitetura e Urbanismo Pedro Cariello Equipe da Coordenação de Ações Raquel Nascimento Simone Colen Andressa Silva Dias Kissyla Senra Martins Selma Santiago Vanessa Aparecida Teixeira Luiza Galiza Consultores Alexandre Delijaicov / Eduardo Trelles Isadora Tami / José Baravelli José Marcelo Martins Medeiros / Lígia Nobre / Lívia Menezes Renato Schattan / Silvana Tamiazi Colaboradores Alexandra Maciel / Julio Eustáquio Melo
INSTITUTO ELOS Coordenação-Geral Mariana Gauche Motta Coordenação Pedagógica Thais Polydoro Ribeiro Produção Mariana Felippe de Oliveira Gestão Financeira André Luiz Rodolfo Pascoal Consultoria Pedagógica Natasha Mendes Gabriel Consultores: Ivo Pons / Cecilia Zanotti Fernando Nacarato / Marcelo Rosembaum Facilitadores: Ana Kelly Nóbrega / Cibele Debiasi Alberton / Dimas Reis Gonçalves Ester Souza de Brito / Gilson do Prado Carneiro / Julia Mantovani Contrera Toro Laura Salustiano Benites / Luiza de Sá Vanderlei / Mariana Felippe de Oliveira Marina Miguel Engels / Mariana Pereira Batista / Paulo Ricardo Farine Milani Rafael Ceccon de Araujo / Rubens Cunha Marcato / Tony Marlon Teixeira Santos
FICHA TÉCNICA Realização da Publicação Finder Coordenação Thiago Velloso Projeto Gráfico e Capa SP.OK Design Direção de Arte: Jorge Amaral Assistente de Arte Melany Sonim Fotografia Paulo Pereira Leandro Morais (Florianópolis) Ilustração Rodolfo Nakakubo Projeto Editorial Finder Texto e Edição Thiago Velloso Revisão Lourdes Rivera Produção Gráfica Osmar Carreira Impressão Intergraf É livre a reprodução total ou parcial, contanto que citada a fonte.Todos os direitos reservados ao Ministério da Cultura.
CANTEIRO DE CULTURA E CIDADANIA
O
menino levanta cedo. A aula começa dali a mais ou menos duas horas. Lava o rosto, escova os dentes, veste o uniforme, come algo às pressas – sob os protestos da mãe, que sempre acha que esse menino anda tão magro, meu Deus –, pega a mochila com o material todo arrumado de véspera, e vai no rumo da escola. Depois de uma jornada de estudos, o menino volta para casa. Tira o uniforme, almoça, faz a
lição às pressas, sentado já na ponta da cadeira, pronto para acionar as engrenagens que o levarão para o longe tão perto do mundo. Essa história, há 30, 20 anos atrás, resultaria em um menino a jogar bola no larguinho de sua vila, ou no terreno baldio da esquina. Poderia também resultar no pega-pega pela rua ou no jogo de bafo na calçada. Ou mesmo no pula-corda com as meninas, que também brincariam de amarelinha ou queimada com o mesmo menino e outros tantos. Meninos e meninas, ontem e hoje, gostam de ler quadrinhos ou um livro legal, aninhados no fundo da poltrona da sala ou sentados, pernas cruzadas, no chão do quarto; gostam de cantar, pintar, esculpir; ouvir e contar histórias. Não acham ruim ver num telão aquele filme exibido no cinema, nem se chateiam que atores num palco encenem uma boa peça de teatro. Meninos e meninas crescem, viram moços e moças, adultos, pais e mães e, quase sempre, avós. Desenvolvem outros gostos além dos da infância, como namorar, viajar e participar nas decisões sobre os rumos de sua co-
munidade e de seu País. Esses meninos, que viraram adultos, ao passar em revista as décadas que os separam de seus primeiros anos, percebem que, se a rua já não era um lugar assim tão seguro para suas recreações, hoje elas não estão para brincadeira.
Compreendem que, se já fazia falta um centro cultural, biblioteca ou
Um equipamento público, bem gerido, dinamiza a vida da comunidade, quali-
clube esportivo em seu bairro quando usavam calças curtas, hoje a au-
fica o ambiente do bairro, colabora com a boa convivência entre os moradores,
sência desses equipamentos é ainda mais prejudicial.
desperta vocações e talentos, propicia troca de experiências, dá acesso a no-
Em que pese os avanços verificados na infraestrutura de cultura e la-
vos saberes e sensações e aumenta a capacidade cognitiva de todos que dele
zer durante os últimos oito anos, ainda há muito por ser feito. Mesmo
usufruem.
porque não se trata de simplesmente construir prédios: trata-se de fa-
O Governo Federal sabe disso e vem desenvolvendo ações capazes de diminuir
zer com que esses equipamentos sejam verdadeiramente úteis para as
o déficit de infraestrutura cultural e de lazer e de aumentar a autoestima de
comunidades nas quais estão instalados. E, quando se diz úteis, quer-se
inúmeras comunidades. Dentre essas ações figuram os Espaços e as Bibliote-
dizer sintonizados com as necessidades e desejos de fruição, informação
cas Mais Cultura.
e formação das pessoas.
Duas características se destacam nesses Espaços e Bibliotecas: sua ar-
Uma biblioteca, centro cultural, museu, quando apropriados pela comu-
quitetura convidativa, acolhedora e propiciadora de encontros, trocas
nidade a qual se destinam, tendem a ser ponto de encontro de pessoas,
e integração – entre pessoas, linguagens, ideias e práticas –, capaz de
de reconhecimento de identidades, de articulação social. Quando exis-
estimular a solidariedade e a participação; e sua gestão, compartilhada
tem e ficam abandonados, quem passa diante deles é inevitavelmen-
entre poder público e comunidade.
te acometido de um sentimento de frustração. Um equipamento social
Espaços e Biblioteca Mais Cultura são lugares de cidadania, de inclusão social
ocioso é fator de rebaixamento da autoestima dos cidadãos que dele
pela cultura. É um espaço da sociedade, das pessoas que devem definir seu
deveriam se servir. Não faz vergonha ao gestor, distante em seu gabinete
uso e sua programação, orientar seu desenvolvimento ulterior e garantir sua
– a comunidade é que se sente constrangida.
perenidade. Os mecanismos de participação também só podem, portanto, fu-
Quando um bairro não tem equipamento nenhum, paira um quê de
gir ao convencional: não se restringem a reuniões ou assembleias; requerem
abandono. Equipamento de cultura ou de esporte é índice de qualidade
formas criativas de envolvimento das pessoas.
de vida, de cidadania e de desenvolvimento de um bairro ou município.
É nessa perspectiva que surge o Canteiro Mais Cultura. Antes mesmo da cons-
Sem espaços de recreação e de acesso a bens culturais, a juventude, em
trução do Espaço ou Biblioteca começar, a comunidade, no canteiro de obras
especial a das pequenas cidades, amontoa-se em calçadas, olhando o
ou próximo a ele, está mobilizada para definir, junto com o poder público local,
tempo, quem sabe calculando quanto mais de tédio é possível ainda
o uso e a administração do equipamento; como ele deve se articular às demais
experimentar.
ações governamentais e sociais e se integrar ativamente à dinâmica da cidade.
Acontece que esses Espaços e Bibliotecas são implantados em áreas de
Já a escuta se dá prioritariamente no território do sonho, da capacidade
grandes carências, onde a descrença é o traço marcante da subjetivida-
humana de projetar e projetar-se, de ressignificar o que parece estabe-
de coletiva. O que fazer?
lecido por inércia ou omissão, de declarar o que se quer, pensar alto, em
Ora, primeiro é preciso enxergar o que sobra, não o que falta. Porque se
grupo e para o grupo e de escolher o que é melhor para si e para muitos.
num bairro falta infraestrutura, não falta gente com sonhos, capacidade
Temos 20 comunidades mobilizadas por intermédio dessa parceria. Mi-
e criatividade. O Canteiro Mais Cultura vem justamente para tocar no
lhões de reais foram investidos nesse empreendimento. O retorno é esse
ponto que ative essa comunidade, que desperte seus melhores valores,
que todos podemos ler aqui. E o desafio é multiplicar esse esforço na
talentos e lideranças.
mesma medida da escala que é necessária dar aos Espaços e Bibliotecas
Por esse método, o Estado não diz o que fazer. Apenas convida e dá os
Mais Cultura e à política de infraestrutura cultural do Estado brasileiro.
meios básicos. Dialoga. Permeabiliza-se. E promove encontros.
A meta: constituir um cenário que estimule as cidades a se organizarem
São muitas as etapas do Canteiro. A primeira é justamente esse toque,
como um grande tecido educativo e cultural, no qual meninos e meni-
esse start. E aqui é que entra a parceria entre o Ministério da Cultura e
nas, moças e moços, senhores e senhoras possam acionar as engrena-
o Instituto Elos, que resultou nesse trabalho que você, leitor, testemu-
gens de um país socialmente justo e culturalmente democrático.
nhará aqui. O Instituto veio para agregar ao Canteiro Mais Cultura sua expertise em mobilização social e ajudar no aprofundamento e melhoria do método colaborativo escolhido pelo Programa Mais Cultura para implantação e gestão dos Espaços e Bibliotecas. Ele nos oferece uma poderosa ferramenta de escuta e de envolvimento comunitário. Prazer é a palavra que pauta o envolvimento: o prazer de ver o que antes era oculto, apesar de evidente; o prazer de ouvir e reconhecer-se no outro; o prazer de prospectar o possível; o prazer de fazer e transformar e, assim, entender e reconhecer a própria força; o prazer de conquistar e celebrar o realizado; o prazer, por fim, de apropriar-se do que é seu porque de todos.
Silvana Meireles Secretária de Articulação Institucional do Ministério da Cultura Coordenadora-Executiva do Programa Mais Cultura
ESPAÇOS MAIS CULTURA • A MODELAGEM
A
demanda por equipamentos culturais que encontramos no Ministério da Cultura (MinC) desde a criação do Programa Mais Cultura, do ponto de vista quantitativo, é compatível com o diagnóstico que revela extrema precariedade da infraestrutura cultural no Brasil, com impactos expressivos sobre a qualidade de vida das populações desassistidas. Tal demanda é atestada, no período 2008-2010, mediante a formalização de cerca de 500 solicitações para implanta-
ção de espaços e centros culturais encaminhadas ao MinC por municípios de todas as unidades da federação. A ação de conceber e implantar Espaços Mais Cultura visou atender ao desafio de estruturar a oferta de espaços culturais a partir de um modelo conceitual que extrapola a conformação arquitetônica, para incluir outras dimensões de sustentação desses espaços como a participação social. O Programa Mais Cultura inova ao promover a gestão participativa desses espaços culturais com base na constatação de que parte dos modelos experimentados ao longo dos últimos anos revelou-se inadequada, tanto do ponto de vista de sua conceituação arquitetônica, quanto do seu modelo de funcionamento, de custeio, de gestão, e também dos seus usos e programações, constituindo-se, em casos não raros, em espaços ociosos, de elevado custo de manutenção e cujo funcionamento depende exclusivamente dos investimentos que possam ser aportados pelo poder público. Tratou-se, dessa forma, de ampliar a oferta de equipamentos culturais de qualidade, visando aumentar a oferta de serviços culturais e de lazer às populações mais vulneráveis, estimulando a participação social dos beneficiários, o sentimento de apropriação, o diálogo e a parceria entre a comunidade e o poder público. Espaços de usos e responsabilidades compartilhadas. Com base nessas ideias, a ação dos Espaços Mais Cultura foi modelada a partir de 4 eixos integrados:
O primeiro diz respeito à Arquitetura, Inserção Urbana e Construção dos Espaços Mais Cultura, com princípios baseados na escolha de terrenos com centralidade no bairro, de fácil acessibilidade, com áreas externas de jardins. Os Espaços respondem a um programa de necessidades que inclui a oferta de bibliotecas, pequenas salas de cinema (ou cineteatro) e área de exposição. Os projetos apoiados devem privilegiar a arquitetura criativa, com materiais de qualidade, visando um ambiente convidativo, de convívio social e capaz de atender aos anseios culturais da comunidade. Na linha do Mobiliário e Comunicação Visual, o Programa prevê que as propostas devem estar adequadas aos contextos social, ambiental, econômico e cultural dos locais onde serão instalados, considerando a produção, a estética e a identificação regional. O eixo dos Usos e Programação colabora com a ideia de criação de uma rede de equipamentos culturais (nacional, estadual e local) para o acesso a produtos e serviços culturais de qualidade, considerando-se programação ampliada, para todas as faixas etárias, e integrada a programas municipais, atividades/eventos das organizações locais, ações do MinC e da Funarte. O princípio base deve ser a diversidade de programação e intensidade de apropriação social. As diretrizes lançadas sobre o eixo de Mobilização Social e Gestão fundamentam-se na proposta de uma gestão compartilhada entre a comunidade e o poder público no sentido colaborativo. A comunidade é vista como protagonista na implantação e condução do equipamento, integrando o processo de construção de um sistema local de gestão. O funcionamento compartilhado e colaborativo dos espaços pressupõe o fortalecimento e a capacitação da comunidade e dos gestores públicos, com previsão de incorporação de parceiros locais, entidades comunitárias, universidades, e outros atores.
A Mobilização Social nos Espaços Mais Cultura: primeiras experiências dos Canteiros Mais Cultura Em parceria com o Instituto Elos inauguramos as ações do eixo de
realiza discussões sobre o futuro e as possibilidades da comunidade
Mobilização Social e Gestão dos Espaços e Bibliotecas Mais Cultura.
intervindo através de melhorias físicas no ambiente.
Isso representou uma série de visitas às comunidades para apresenta-
O objetivo proposto foi cumprido. As comunidades respondiam au-
ção e discussão dos projetos que seriam instalados em cada local, um
mentando o grau de interesse e de comprometimento com o projeto.
movimento que integrava as comunidades, prefeitura e Ministério da
O interesse das comunidades revelava-se por meio de depoimentos em
Cultura.
blogs, vídeos, comitês, iniciativas concretas para melhorias físicas nos
Em 2010, registramos 20 ações do Elos no Canteiro Mais Cultura em
ambientes de moradia e de lazer. As comunidades se preparavam para
Espaços e Bibliotecas, com atuação em 15 capitais (Brasília, Campo
receber, apoiar, usar e participar da gestão dos Espaços e Bibliotecas
Grande, Palmas, Manaus, Belém, Maceió, Salvador, Fortaleza, São Luís,
Mais Cultura.
Recife, Natal, Curitiba, Florianópolis, Rio de Janeiro e São Paulo) com
É sobre essa viagem, em que fomos ao encontro das pessoas benefi-
investimentos da ordem de R$ 11 milhões do Programa Mais Cultura,
ciárias dos Espaços e Bibliotecas Mais Cultura, para ouvir seus sonhos
realizando ações prévias de mobilização social envolvendo cerca de
e anseios, que falaremos a seguir, a partir dos registros de campo de
duas mil pessoas, como apresentado no mapa a seguir.
uma equipe que teve competência e sensibilidade para apresentar o
As ações se desenvolveram em três etapas: a) expedição – primeira
Programa Mais Cultura àqueles que mais precisam dele, transforman-
visita à área para reunião dos parceiros institucionais, líderes comuni-
do-o, na prática, na marca de uma política social e verdadeiramente
tários para apresentação do projeto e ajustes operacionais quanto à
democrática.
ação a ser desenvolvida; b) etapa de formação – consiste na realização de um curso de formação para gestores públicos e líderes comunitários envolvidos na implantação do espaço. O curso está se realizando em todas as regiões do País constituindo-se em espaço de reflexão e debate sobre os sonhos, possibilidades, limites e alcance das políticas públicas visando reforçar os laços de interesse e comprometimento de todos os envolvidos na instalação do Espaço Mais Cultura; e c) Mão na Massa – momento em que cada comunidade envolvida no processo
Mônica Monteiro Coordenadora-Geral de Ações do Programa Mais Cultura
Jorge Teixeira Manaus
Tapanã Belém
Ilha do Mosqueiro Belém
Conjunto Castanheiras Manaus
Conjunto Ceará Fortaleza
Autran Nunes Fortaleza
Quadra 105 e 106 Sul Palmas
Liberdade São Luis AMAZONAS MARANHÃO
PARÁ
Nossa Sra da Apresentação Natal
CEARÁ RIO GRANDE DO NORTE PERNAMBUCO
Sítio do Berardo Recife
TOCANTINS BAHIA
Parque Linear Córrego do Segredo Campo Grande
Varjão Brasília
Peixinhos Recife
DF
MATO GROSSO DO SUL SÃO PAULO
Vila Nossa Sra da Cruz Curitiba
PARANÁ
RIO DE JANEIRO
Nova Constituinte Salvador
Vale do Reginaldo Maceió
SANTA CATARINA
Maciço Morro da Cruz Florianópolis
Vila Gilda Santos
Jardim Nazaré São Paulo
Rocinha Rio de Janeiro
GOVERNO E SOCIEDADE JUNTOS CONSTRUINDO SONHOS COLETIVOS
H
á pouco mais de dez anos, desde a época em que cursávamos a faculdade de arquitetura, vimos trabalhando com comunidades marginalizadas na cidade de Santos para despertá-las do estado passivo de quem espera que algo aconteça por forças externas e convidá-las a descobrir seu próprio poder de realização e o prazer de serem protagonistas da sua história. Logo nos primeiros contatos percebemos que as comunidades estavam desacreditadas das
ações governamentais que, quando eram implementadas, nem sempre respeitavam a cultura local e, menos ainda, a vontade dos moradores. Fez parte dessa aproximação a ingenuidade de pensarmos que, sozinhos, poderíamos resolver todos os problemas das comunidades! Hoje, quando olhamos para nossa trajetória até aqui, vemos que essa sensação de ingenuidade foi altamente positiva. Foi ela quem nos levou a dar o melhor e o máximo de nós e buscar o melhor e máximo da comunidade a fim de realizar seus sonhos coletivos. A riqueza do trabalho nos proporcionou conhecer pessoas maravilhosas, além de uma enorme diversidade de cultura, de histórias, de conhecimentos e até mesmo de recursos materiais em cada lugar que visitávamos. Mais do que isso, descobrimos também uma energia enorme de realização quando reuníamos a comunidade em torno de um sonho comum. Como resultado, entre tantas conquistas imateriais, construímos também, juntos, uma escola, duas creches, e diversas praças e pontes. Aprendemos que, sempre juntos, podíamos muito mais do que pensávamos. Realizar nossa ação no contexto das políticas públicas era um grande passo que precisávamos percorrer para potencializar nossos esforços, alcançar escala nos resultados que já vínhamos obtendo e, com tudo isso, promover transformações efetivamente duradouras. Percebemos que, para realizar sonhos maiores e garantir a continuidade de tantas iniciativas, a parceria com o poder público se revelava fundamental.
E é justamente nesse contexto que surge, no final de 2009, o feliz encontro entre o Instituto Elos e o Ministério da Cultura - MinC, que nos convidou para somar a nossa experiência ao Canteiro Mais Cultura, no âmbito da Ação dos Espaços Mais Cultura. O projeto Elos no Canteiro Mais Cultura representa para nós a oportunidade de comunidade e governo descobrirem juntos suas potencialidades e talentos, e mais do que isso, de sonharem e realizarem juntos. Também é a nossa chance de derrubarmos velhos paradigmas, como o que define o governo como único formulador de soluções e a comunidade, como quem apenas as recebe, passivamente. O papel da sociedade civil organizada na formulação de políticas públicas vem sendo cada vez mais reconhecido e, comprovadamente, é base das principais iniciativas de sucesso principalmente em questões sociais em várias partes do mundo. O Elos no Canteiro Mais Cultura tem um alcance e potencial inovador de transformação. Almeja a transformação no desenvolvimento das políticas públicas, dos planos e projetos, para que sejam lançados a partir das potencialidades, dos sonhos da população, do que já existe de positivo em cada uma das diferentes comunidades com as quais estamos trabalhando. Faz parte da nossa filosofia focar na abundância do que existe e não exaltar o que falta, ou seja, nas limitações ou dificuldades, como muitas vezes ocorre numa situação de enfrentamento de conflitos. A metodologia adotada no Elos no Canteiro Mais Cultura estimula que comunidade e governo se encontrem, se escutem e decidam as prioridades explorando as diversas possibilidades e oportunidades, tornando mais eficiente cada ação e investimento. Neste processo de envolvimento, os moradores garantem a apropriação das intervenções – e esta apropriação significa o uso adequado, a manutenção e os desdobramentos das ações. Em outras palavras, queremos que as comunidades percebam esses espaços e equipamentos como delas. E os ocupem, usem, cuidem, transformem. Nossa intenção, é oferecer ferramentas para que o governo aprimore sua condição de ouvir as pessoas, entender sua cultura, estimular seu envolvimento e trabalhar em conjunto. Por outro lado, esperamos que as comunidades comecem a participar mais ativamente da formulação e da execução das políticas públicas. E isso deve se consolidar especialmente no momento em que essas políticas se transformam em projetos que chegam até as pessoas, como as bibliotecas e os Espaços Mais Cultura.
E não é só isso. Pretendemos, ainda, estimular a formação de uma rede nacional de comunidades, estimular para que percebam suas potencialidades para as próprias transformações. E que reconheçam os recursos existentes dentro e em volta delas. Envolver comunidades, governo e parceiros locais na construção de um sonho comum tendo os Espaços Mais Cultura como cenário, além da oportunidade de aplicar a metodologia do Jogo Oasis nas cinco regiões do País, é bastante animador para todos nós. A principal estratégia de mobilização do Elos está em promover e incentivar ações prazerosas para todos os que se envolvem. Para nós, não há ação nem transformação duradoura sem prazer. E a oportunidade do Elos no Canteiro Mais Cultura é, sem dúvida, uma prova de que isso é possível.
Mariana Gauche Motta Cofundadora do Instituto Elos e coordenadora-geral do Elos no Canteiro Mais Cultura
UM TESTEMUNHO DO ENGAJAMENTO DA COMUNIDADE NA FORMULAÇÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS
N
a experiência do Instituto Elos em materializar a visão do Ministério da Cultura em mobilização social, acompanhamos o desenvolvimento de novas formas de interação entre as pessoas que compõe o governo local e as comunidades, uma verdadeira ruptura das barreiras entre as instituições, e a construção de laços de confiança entre as pessoas. Isso só foi possível devido à oportunidade de o Governo Federal, através do Programa Mais
Cultura, investir na integração de parceiros, viabilizando a participação direta das comunidades, integrando o parceiro local (prefeituras ou governos de Estados), criando espaços de igualdade e qualidade na relação para desenho e materialização de novas ações em comum – neste caso, a gestão compartilhada do futuro equipamento cultural. Durante um ano, levamos para 20 comunidades do País o propósito de impulsionar pessoas para que assumissem responsabilidade e refletissem sobre as possibilidades de fazer realidade seus próprios sonhos. Aceitar o desafio de realizar sonhos coletivos demanda envolver todos e, para mim, foi maravilhoso poder unir governos e comunidades por meio das ações nos futuros Espaços e Bibliotecas Mais Cultura. Acredito que demos nossa contribuição para reinventar o modelo de participação e gestão por meio de ações colaborativas em que o governo é parceiro de comunidades que assumem o papel de protagonistas de seu desenvolvimento e de sua transformação. Foi emocionante participar do processo em que comunidades e funcionários públicos reconheceram suas habilidades, descobriram seus talentos, articularam suas redes de contatos e juntos sonharam e materializaram o senso de conquista de fazer junto!
Considero importante também destacar que tudo isso ocorreu em nível de igualdade, ou seja, enquanto a comunidade articulava talentos, lideranças locais, o governo também fazia articulações com diversos setores do poder público. Um grande desafio foi adaptar a metodologia Elos – que fomenta a ação a partir da conexão de talentos, recursos e sonhos dos diferentes participantes – à política pública, oferecendo espaço para que o cidadão faça também a sua parte. O envolvimento e a crença de que é possível olhar para a abundância e não para a escassez refletiu nos resultados. Prova disso é o retorno que temos recebido, espontaneamente, dos envolvidos no trabalho nas comunidades. Uma funcionária da Prefeitura de Belém (PA), por exemplo, nos contou que envolveu parentes de várias regiões da cidade e que todos estão se mobilizando para replicar o Oasis em seus bairros. E completou dizendo que “a semente da confiança, de que unidos podemos muito, já ficou”. Mais do que o encontro entre poder público e comunidade, foi uma experiência única poder testemunhar o encontro entre pessoas e o surgimento de relações saudáveis com laços fortes, capazes de sustentar a construção da sociedade com a qual sonhamos. Minha expectativa, agora, é que as sementes que plantamos continuem gerando frutos no futuro. As bases para uma transformação duradoura já estão garantidas!
Thais Polydoro Ribeiro Coordenadora pedagógica do Elos no Canteiro Mais Cultura
UM ANO DE DESAFIOS E REALIZAÇÕES
D
urante o ano de 2010, o Ministério da Cultura (MinC), representado pela equipe do programa Mais Cultura, e o Instituto Elos se uniram em uma iniciativa inovadora: levar para 20 comunidades do Brasil uma metodologia de empoderamento, dedicada à realização dos sonhos dos seus habitantes. Mas não àqueles sonhados por outras pessoas, e sim os que nascem e se desenvolvem no seio da comunidade.
Para a equipe do Mais Cultura estava claro que a construção de equipamentos culturais - bibliotecas e centros de cultura - precisava ser acompanhada da apropriação real desses espaços pelos usuários; e da concordância de todos envolvidos em relação aos seus formatos e funcionamentos. A realização desse objetivo dependia, essencialmente, de despertar nos moradores o desejo de participar do desenvolvimento desses projetos e deixar clara a disponibilidade do MinC para escutá-los e construir juntos estratégias que fossem de encontro às demandas de todos os envolvidos. A forma para ampliar essa participação foi encontrada no Instituto Elos, organização não governamental que trabalha há mais de 15 anos na mobilização de comunidades marginalizadas. Sua principal ferramenta de transformação, o Jogo Oasis, se dedica justamente ao despertar de comunidades para suas riquezas e para a apropriação de espaços construídos de forma coletiva. Como ferramenta de política pública, o Oasis se mostrava bastante inovador, pelo seu caráter participativo e colaborativo. A metodologia convida as pessoas a redescobrirem o seu próprio valor e as riquezas de sua comunidade, para que construam seus sonhos coletivos de forma lúdica e efetiva. É um jogo, repleto de
brincadeiras, músicas e dança... Mas também é um processo de construção conjunta, com regras claras e metas a serem alcançadas. Esse casamento entre o lúdico e o real se confirmou como uma poderosa ferramenta de mobilização e ação. Ao longo de 2010, as comunidades brincaram de construir seus sonhos, e com isso se afirmaram como verdadeiras sociedades organizadas, mais conscientes dos seus direitos, deveres e do poder transformador que detêm em suas mãos. Para o MinC, essa foi a realização de um projeto de aproximação real da política pública em relação ao cidadão. Para as comunidades, foi uma revelação com múltiplos significados. Alguns deles, você confere nas páginas a seguir, onde relatamos esse processo de construção e transformação coletiva, seguindo o ritmo do Jogo Oasis, de acordo com suas sete disciplinas.
a RE-EVOLUÇÃO
a CELEBRAÇÃO o MILAGRE o CUIDADO o OLHAR
o AFETO
o SONHO
01
O OLHAR
D
espertar as pessoas para um olhar apreciativo, voltado para a percepção do belo, da riqueza e da abundância de talentos e recursos. Esse foi o primeiro passo dado pelo Programa Mais Cultura e o Instituto Elos na sensibilização das comunidades participantes da ação Elos no Canteiro Mais Cultura, para que sonhos e aspirações pudessem florescer na perspectiva de se realizar de forma coletiva.
Acostumadas a ter apontadas apenas suas deficiências, as 20 comunidades espalhadas pelo Brasil tiveram a oportunidade de refletir e (re) descobrir, ao longo de 2010, aquilo que há de mais precioso nas suas paisagens humana e física. E, com isso, perceber que seus sonhos estão ao alcance das mãos e sua realização depende, em grande parte das vezes, de uma ação coletiva e coordenada, em que a utopia e a vontade de realizar ocupam lugar de destaque. Mas lançar um discurso em prol da beleza das comunidades não era suficiente para ativar os desejos e nem o potencial daqueles capazes de promover a mudança. Era preciso ajudá-los a enxergar que isso era possível e que, na verdade, as ferramentas para transformação já estavam todas ali: nas ruas, nos comércios, nas casas, nos corações e mentes dos habitantes das comunidades, que, acostumados à marginalização, haviam perdido a crença nas suas capacidades. Para estimular esse novo olhar, as equipes do Mais Cultura e do Instituo Elos se mobilizaram e iniciaram uma caravana de visitas pelas comunidades escolhidas. Ainda em março de 2010, comunidades do Norte e Nordeste passaram a receber as expedições Elos no Canteiro Mais Cultura., que não se prestavam apenas a
A valorização dos talentos
e riquezas da comunidade,
dar o pontapé inicial no Jogo Oasis nesses locais, mas, principalmente,
que esses espaços voltassem a viver. Descobrimos um bairro rico, mas
a despertar nos habitantes a motivação necessária para que eles
pouco cuidado e mobilizado”, lembra a estudante Amanda Oliveira, 19
embarcassem em uma aventura de transformação e autoconhecimento.
anos, moradora do Conjunto Ceará, uma das primeiras cidades a receber
Como resultado, ficaram o desejo de transformação, a redescoberta de
as equipes do Elos e do Ministério da Cultura (MinC).
pessoas e paisagens e uma grande expectativa sobre o que ainda estaria
Um dos bairros mais densos e populosos da cidade de Fortaleza, o
por vir.
Conjunto Ceará é um loteamento da extinta Cohab, inaugurado ainda
“O nosso bairro é enorme mas não era cuidado pelos moradores. Havia
na década de 70. Sua estrutura é diferenciada em meio a de tantas
praças, árvores, parques, mas eles estavam mortos. Os moradores queriam
comunidades marginalizadas do Pais. Lá, as pessoas dispõem de diversas
por meio do cultivo
escolas públicas, hospital, postos de saúde, delegacias e até quartel de
apresentaram suas intenções e convocaram a comunidade a sonhar com
bombeiros. Entretanto, a despeito de todos esses equipamentos, havia
um futuro melhor e a perceber suas riquezas, que estavam para além das
uma sensação de abandono, principalmente no campo da cultura, que
construções que equipam o bairro. “Com a atividade do Olhar, aprendi a
incomodava grande parte dos moradores.
ver as coisas de uma maneira bem diferente. Vi, por exemplo, um monte
“Mesmo sabendo que nosso bairro é, de certa forma, privilegiado pela
de quadras esportivas abandonadas, espaços bacanas, mas que não
estrutura, vimos que ainda faltava muito a ser feito e que boa parte
estavam sendo usados”, recorda o também estudante Tiago Jales, 22
daquilo que já havia sido construído estava abandonada, com pouco
anos, amigo de Amanda e hoje um adepto inveterado do Oasis, que ele
uso”, diz Amanda, que se engajou no projeto tão logo o MinC e o Elos
classifica como “viciante”.
de um olhar,
um olhar
Antes de refletir sobre as mudanças desejadas para a comunidade,
até então mantinha seus talentos escondidos. Ali, durante a prática
os habitantes do Conjunto Ceará precisavam evidenciar seus talentos
do Olhar, foram descobertos a artesã Genira, que cria paisagens em
e formar um grupo coeso de pessoas dispostas a sonhar alto e fazer
areia e as engarrafa, os amigos Hamilton e Juruna, engajados em levar
acontecer. E, para isso, nada melhor do que algumas caminhadas e
o esporte para as crianças do bairro e Laura Alves, jovem participante do
muitas conversas com os moradores, para (re) descobrir as pessoas e os
movimento Grito da Juventude. Além disso, foram identificadas diversas
recursos que promoveriam a mudanças.
instituições comprometidas com a melhoria do bairro.
Mas apenas caminhar e sentir-se inspirado pelo que se percebe ao redor
Distante milhares de quilômetros do Conjunto Ceará, a comunidade
não é suficiente para quem pretende promover mudanças duradouras.
Castanheiras, localizada em Manaus (AM), sofria a mesma sensação de
É preciso registrar cada passo, criar elos com os moradores do local
abandono. Embora extremamente rico em talentos e recursos, o bairro
e, o mais importante, manter a mente e os sentidos abertos para a
carecia de mobilização, das pessoas e das instituições, para a promoção
experiência. Por isso, durante a prática, cada participante é estimulado a
das mudanças tão desejadas pelos moradores.
fotografar, desenhar e registrar em texto – ou outros meios –, cada uma
Uma dessas pessoas, também descoberta no curso da etapa do Olhar, foi
das descobertas feitas durante a caminhada, para que nada se perca, e
a comerciante Monica Barbosa de Oliveira, 42 anos. Conhecida pela sua
tudo seja valorizado.
hospitalidade e pela ajuda que presta aos moradores de Castanheiras,
Descrever as sensações, lugares, nomes, conversas, durante uma reunião
Monica não acreditava no potencial da sua comunidade. Não via ali
ao fim do dia, é a próxima etapa para consolidar esse novo olhar sobre a
a possibilidade de uma união abrangente entre as pessoas, capaz de
comunidade, mais generoso e otimista. Uma forma de perceber o lugar
promover mudanças reais e levar à melhoria das condições de vida dos
por meio de uma visão voltada para a abundância, onde o foco é a
seus vizinhos.
identificação das belezas, dos recursos e dos talentos. Tudo permeado
“Hoje vejo minha comunidade de outra forma. Antes, achava que
de muito respeito e reverência.
Castanheiras era apenas mais uma comunidade, agora vejo que não. É
Foi esse exercício de apreciação e valorização que permitiu aos
um lugar cheio de riquezas e com força para fazer as coisas. Desde que
habitantes do Conjunto Ceará experimentar uma nova comunidade, que
estejamos sempre juntos”, afirma Monica, que diz ter passado por uma
apreciativo,
mudança radical, desde o início das atividades do Elos no Canteiro Mais Cultura. “No começo, confesso que não acreditei 100% na realização do que estava sendo discutido, mas hoje vejo como é possível mudar, desde que a vontade para isso parta de nós mesmos.” A desconfiança inicial de Monica não seria um impeditivo para que ela se engajasse ao máximo no projeto. Pois, assim como ela, também ali já apareciam pessoas que carregavam mais certeza que descrença. Uma delas, era o professor de jiu-jítsu Vasconcelos Silva Maia, 23 anos. Atleta profissional e ativista social, o esportista também conhecido como Vasco, já atua há anos para a evolução da sua comunidade, dando aulas gratuitas para cerca de 50 crianças do bairro. “Muitas pessoas da minha comunidade haviam perdido a esperança, a capacidade de sonhar. Mas eu tinha certeza de que era possível. Era preciso que a gente se unisse e voltasse o nosso olhar para as coisas boas daqui, que são muitas”, defende Vasco. Entre essas “coisas boas” citadas por Vasco, estavam centenas de pessoas dispostas a mudar, muitas instituições ativistas, movimentos sociais e grupos que já atuavam na mobilização da comunidade, além de recursos e talentos que só esperavam sua descoberta. Para a comunidade Castanheiras a maior descoberta foi a certeza de que muitas mudanças poderiam ser realizadas se talentos como Vasco e Mônica se unissem a outros e recebessem o apoio dos movimentos, instituições e comércios descobertos durante o Olhar – uma atividade tão simples e, ao mesmo tempo, fundamental para dar início a um ciclo positivo de pensamentos em prol da comunidade. “Muitas pessoas guardam seus sonhos dentro de gavetas, pois não acreditam que seja possível realizá-los. O projeto Elos no Canteiro Mais Cultura estimula a gente a mostrá-los”, resume Vasco. Era o início de uma aproximação real e concreta da política pública a serviço do cidadão.
voltado para
“O projeto mostrou que nós, do poder público, também podemos trabalhar em parceria, construindo projetos em conjunto com comunidades e a iniciativa privada” Marlene Trindade, bibliotecária da Fundação Cultural do Município de Belém (PA)
a criação de
O Olhar revelador também gerou um impacto motivador no Centro-Oeste do País, onde a comunidade da Quadra 1306 Sul, em Palmas (TO), teve a oportunidade de perceber quantas riquezas existem em um conjunto habitacional ainda jovem, mas mesmo assim repleto de recursos e talentos. Lá, embora a quadra tenha sido inaugurada há apenas três anos, já é possível notar a vontade dos moradores em promover melhorias no seu meio e, o mais importante, implantá-las a partir dos seus próprios desejos e com os recursos disponíveis ali. “Só o exercício de observar coisas aparentemente simples, mas que a gente não se dá conta, já foi um ensinamento muito especial. Mas o projeto é realmente muito mais que isso. Ele chacoalha as comunidades e mostra que a mudança está nas nossas mãos”, diz a funcionária pública Francisca D’Arc Mistenir de Lima Pereira, 28 anos. Um dos talentos descobertos durante a prática do Olhar na Quadra 1306 Sul, Francisca é uma moradora atuante, que, recentemente, assumiu a presidência da Associação Comunitária do seu bairro, na busca por um engajamento definitivo nas questões que afligem a comunidade. Para
um cenário de
ela, a ação Elos no Canteiro Mais Cultura veio em um momento em que era preciso agitar seus vizinhos e fazer os sonhos das pessoas se multiplicarem. As mudanças trazidas pelo novo Olhar das pessoas em relação à comunidade, segundo Francisca, não foram importantes apenas para a construção do sonho coletivo que viria a seguir, mas, principalmente, para o reconhecimento mútuo dos talentos e belezas de cada um. “Eu não acreditava no potencial da minha comunidade. Sabia que havia algumas pessoas com talentos especiais e dispostas a ajudar, mas não imaginava que eram tantas”, avalia Francisca. Um desses talentos aos quais Francisca se refere é o professor de artes marciais, Marcelo Alves Dias, 34 anos, que já militava no resgate de crianças e jovens, por meio do ensino da sua atividade. Para ele, a realização do Oasis foi uma confirmação de que seu trabalho é fundamental para a comunidade. Já o Olhar, representou a possibilidade de perceber um novo mundo, dentro do seu bairro – repleto de recursos e pessoas engajadas naquilo que ele sempre imaginou: a mobilização coletiva. “O que a metodologia do Elos tem de melhor é o reconhecimento do talento das pessoas. É disso que mais precisamos”, diz Marcelo, para quem as descobertas trazidas pelo novo Olhar desenvolvido pela sua comunidade foram mais afetivas, reveladas pelo contato com seus vizinhos. “Com o Olhar descobri a amizade sincera entre as pessoas, o amor na busca dos novos talentos da nossa comunidade e a sensação de que, a partir de então, somos capazes de tudo”, diz. Estava plantada ali uma semente de mudança, duradoura e capaz de manter os olhos da comunidade sempre alertas, em busca de belezas, talentos e recursos.
abundância
“O grande mérito do programa Mais Cultura é o de ser democrático e descentralizador. O projeto só confirmou essa postura” Cecília Zanotti, administradora de empresas e consultora do eixo Cultura e Cidadania
e possibilidades.
15
Estimular as
O AFETO
A
apropriação e o uso de um equipamento cultural passa, necessariamente, pela relação afetiva dos usuários com o projeto que se pretende implementar em determinada localidade. Mas antes de avançar nesse terreno é preciso fortalecer os laços das comunidades – entre seus moradores e desses com a comunidade que os cerca. Nesse sentido, o Oasis, em sua segunda etapa, busca despertar nos participantes um maior
sentimento de pertencimento, que permita o estabelecimento da confiança mútua entre as pessoas, assim como o desejo de cuidar um dos outros, da comunidade e seus sonhos. No caso da ação Elos No Canteiro Mais Cultura, a criação desses laços entre os participantes era um passo fundamental a ser dado na busca da formação de consensos em torno do que seria realizado em cada comunidade e, mais importante, de como essas realizações se dariam: fundamentadas no respeito, na crença entre as pessoas, nos potenciais de cada um e no futuro mais promissor que se descortinava para os que avançavam na “brincadeira séria” do Oasis. Não à toa, foi durante essa etapa do processo que moradores, integrantes do Mais Cultura (MinC), de governos locais e do Elos puderam criar uma verdadeira conexão, que ultrapassava classes sociais, crenças religiosas, raças ou qualquer outra barreira cultural. Foi no terreno do Afeto, que diferenças ficaram de lado, para a delimitação de um terreno comum, povoado pelos diferentes sonhos dos jogadores. Essa construção de uma realidade de entendimentos, em que o apreço pelo outro deve superar barreiras tipicamente preconceituosas, não poderia ser mais desafiadora – e reveladora – do que nos momentos das formações dos moradores das 20 comunidades e representantes dos governos.
relações afetivas
Ao longo de 2010, foram formadas dezenas de pessoas que, de posse da metodologia Elos e do Jogo Oasis, levariam para sua comunidade o conhecimento do jogo e a vontade de transformar sua realidade. Esses encontros – realizados em Recife (PE), Brasília (DF) e Florianópolis (SC) – , com duração de mais de uma semana, colocariam à prova a capacidade do Oasis em conectar pessoas de diferentes origens – e com aspirações diversas. E mais: criar nelas um sentimento de apreço por comunidades e pessoas novas, com as quais não possuíam qualquer vínculo prévio. Se a barreira da falta de conhecimento era clara, as realidades em comum partilhadas pelas comunidades brasileiras eram o grande indicativo de que, sim, era possível estabelecer laços de afeto entre os participantes da formação, e deles com a comunidade que visitavam, e onde aprenderiam a construir sonhos com as próprias mãos. “Não tenho dúvida de que todos fomos transformados durante o Afeto. Foi nesse momento que tivemos a oportunidade de ouvir a comunidade e perceber a falta que um equipamento cultural faz. Foi como se todos ali tivessem experimentado uma revelação”, analisa André Martins, 24 anos, artista, barman e morador da Rocinha (RJ), que participou do programa de formação de Florianópolis, realizado na comunidade do Monte Serrat, no Maciço Morro da Cruz.
entre os participantes
“No Brasil, nós ainda temos uma cultura do individualismo. O Oasis estimula o senso do coletivo, o que é fundamental para a evolução dessas comunidades” Marcelo Rosenbaum, designer e consultor do eixo Cultura e Economia
para criar
A revelação à qual André se refere, costuma ocorrer em uma simples mas poderosa conversa, na qual moradores partilham suas histórias de vida e, com isso, se abrem para a possibilidade de mudança proposta. Aliás, mais do que uma conversa, nessa etapa é fundamental exercitar a capacidade de escutar. Não apenas abrir os ouvidos, mas se mostrar presente, interessado e, acima de tudo, disposto a acolher o ponto de vista do outro, às vezes diferente do nosso, mas não menos importante por conta disso. Para André, ouvir foi transformador. Naquele dia em que ele conversou com os moradores e construiu as pontes necessárias ao objetivo do jogo, o artista oriundo da maior favela do Rio de Janeiro percebeu as semelhanças e profundas diferenças entre sua comunidade e aquela para a qual dedicaria uma semana de trabalho árduo. “O Afeto é uma espécie de despertar. Descobrimos como nos parecemos, embora nosso dia a dia seja tão diferente”, diz. Na formação de Florianópolis, André teve o prazer de conhecer uma das comunidades mais negras do Sul do País, onde ainda se localiza um dos primeiros quilombos da região. “A Rocinha é, talvez, a comunidade mais branca do Rio de Janeiro. Mas é um povo guerreiro e sofrido, assim como foram os negros que fundaram o quilombo daqui, os nordestinos que migraram para o Sul e tantos outros”, compara.
confiança
e o desejo do
Para o apresentador do programa “Muvuka”, da TV Rocinha, Fernandes Junior, desenvolver o Afeto em relação à comunidade do Monte Serrat foi também uma jornada de descobrimento pessoal, na qual o resgate do amor próprio foi o principal ganho. “Eu não tinha a dimensão do amor que sentia por mim mesmo. Foi o contato com as pessoas do Monte Serrat, com a realidade dura daqui, que fez esse sentimento despertar”, afirma. Fernandes compreendeu que, durante a prática do Afeto, além de exercitar o ato de escutar, também é preciso evidenciar os talentos e belezas da comunidade – atitude indispensável para a motivação e a conexão entre os participantes do Oasis. Emocionado com o que via durante suas caminhadas pela comunidade, Fernandes decidiu, sem consulta prévia, convidar o rapper Djavan a dar seu testemunho sobre sua realidade. Recado dado por meio da poesia do rap, que conectou em definitivo aqueles que participavam da formação em Florianópolis. “O Oasis te permite ver a realidade por um ângulo que a gente não conhecia. De agora em diante, tratarei as pessoas com mais respeito, sensibilidade e admiração”, afirma Fernandes, para quem o contato com pessoas de outra comunidade foi o ponto alto da experiência. “Se o governo me devia alguma coisa, essa dívida foi paga com essa experiência. Com a oportunidade de conhecer as pessoas, suas histórias e partilhar as minhas”, diz.
cuidado mútuo,
Mas além de construir pontes entre diferentes comunidades, era
une as pessoas em torno daquele ideal. Depois disso, todos passam a
preciso fortalecer os laços entre moradores da mesma região. Despertar
se falar, se gostar e tudo fica mais fácil”, avalia. Segundo Zé do Boi,
neles o carinho por seu bairro e admiração por aqueles que, muitas
antes dessa etapa do Oasis, ainda pairava a dúvida sobre a efetividade
vezes, passam despercebidos por nossa porta, à despeito de todos
do projeto no Vale do Reginaldo. “Após a noite em que tivemos a
os talentos que possuam e que, mesmo sem ainda saber, desejam
oportunidade de conversar uns com os outros e descobrir o talento
partilhar com o outro. A exemplo do que ocorreu em Florianópolis,
de cada um, não tivemos mais dúvida de que iria acontecer”, lembra.
o desafio era o da conexão entre pessoas – dessa vez da mesma
Para o artista e produtor, a atividade ainda permitiu a afirmação pessoal
comunidade.
de cada um dos participantes, que desenvolveram um maior afeto não
Nada que uma boa conversa pautada no respeito, na admiração e
apenas em relação ao seus vizinhos e amigos. Eles também passaram
no desejo de construir juntos não pudesse superar. “O Afeto nos faz
a se admirar e a valorizar seus talentos e capacidades. “Hoje, na minha
descobrir, no meio de amigos tão antigos, talentos que antes não
comunidade, todos são formadores de opinião e multiplicadores do
tínhamos ideia de que existiam”, testemunha o artista e produtor,
Oasis, porque despertaram para o valor de cada um e sabem que podem
José Carlos da Silva, 38 anos, morador do Vale do Reginaldo, em
contribuir para melhorar nossa realidade”, analisa.
Maceió (AL).
Essa também é a percepção do autônomo Adalberon José Lourenço da
Também conhecido como Zé do Boi, o artista e produtor não é
Silva, 35 anos, o Beba, que viu no Afeto a oportunidade de descobrir
exatamente um iniciante na arte de descobrir talentos. Esse é o seu
uma nova comunidade, repleta de riquezas e talentos. Além disso,
trabalho. Ele foi um dos responsáveis pelo resgate da cultura do Boi
a atividade, segundo ele, estimulou em todos a vontade de trocar
Bumbá em Alagoas, hoje um dos orgulhos culturais do Estado. Mas,
conhecimentos e criar uma dinâmica de ensinamentos entre os
mesmo para o agitador cultural Zé do Boi, o Oasis se mostrou uma
próprios moradores. “Tem uma senhora que faz escultura em pedras,
ferramenta de descobrimento e atenção para aquilo que está mais
que já exportou até para fora do País – e jamais soubemos. Agora ela
próximos de nós, porém distante da nossa percepção.
quer ajudar a comunidade, passando o conhecimento para os jovens.
“O Afeto é fundamental. Dá um a energia incrível para todos, pois
É uma mudança que veio para ficar”, decreta.
com foco no fortalecimento do
trabalho coletivo.
“Esse projeto do Ministério da Cultura nos mostra que é possível transformar o Brasil no país da verdadeira democracia participativa“ Kelly Cristina Vieira, assistente social da prefeitura de Florianópolis (SC)
Escutar o outro
A mudança, conforme descreve Beba é, na verdade, o reconhecimento de algo que havia muito tempo já não era mais olhado com a atenção devida. Uma modificação na percepção do que está ao redor, estimulada pelo Olhar, e a valorização dessa nova forma de perceber a comunidade, consolidada pelo Afeto. “Agora percebo que não é apenas a associação do bairro que pode fazer um projeto cultural para melhorar a comunidade. Todos têm capacidade e, se usarem seus talentos, podem construir o que quiserem”, afirma a estudante Aline de Santa Cruz Gondim, 24 anos, moradora da comunidade Estrela do Sul, localizada em Campo Grande(MS). Antes do Oasis, Aline percebia sua comunidade como um espaço individualista, no qual os moradores buscavam apenas o bem-estar pessoal. O Afeto, entretanto, modificou sua visão. “As pessoas aqui tinham receio de se aproximar, de conversar. O afeto uniu a todos. Agora sei que aqui existem cantores, artistas plásticos, artesãos, pessoas que sabem fazer uma horta. Era uma cultura oculta, mas que agora está exposta para quem quiser ver”, exalta.
e enaltecer seus talentos.
29
O SONHO
S
onhar não é fácil. Essa é uma jornada que pode envolver frustrações demais, quando os sonhos não se realizam. E eram assim, frustradas, que as comunidades se encontravam, quando o Mais Cultura e o Instituto Elos perguntaram a elas: qual é o seu sonho? Mas a decepção com anos de desejos reprimidos pela incapacidade de realizá-los, logo deu lugar a diversos sentimentos positivos. Do orgulho à esperança devolvida pela possibilidade de voltar a sonhar. Mas, desta vez, de uma forma diferente, junto com amigos e vizinhos. Sonhos simples,
porém realizáveis. Era aqui, no terreno do sonho, que seria possível resgatar a crença das comunidades nelas mesmas. Na sua aptidão, criatividade e, acima de tudo, no seu poder de união. O verdadeiro empoderamento seria devolver às pessoas a capacidade de sonhar juntos, um belo – e aparentemente – impossível sonho. Ele não precisaria ser grandioso, para valer a pena. Podia ser um simples abrigo para o ponto de ônibus, como foi sonhado pelos moradores da Quadra 1306 Sul, em Palmas (TO). Ou uma grandiosa reforma de um teatro, como quis sonhar a comunidade Liberdade, localizada em São Luís (MA). Mas o tamanho do sonho não importa. Ele ganha grandeza no momento em que é compartilhado e, logo em seguida, quando se percebe que, com a união de todos, é possível transformá-lo em realidade. E foi assim, com o estímulo à crença na realização coletiva, que a equipe do Elos no Canteiro Mais Cultura semeou o terreno fértil do sonhar. Entretanto, como tudo que acontece no jogo Oasis, a etapa do Sonho também precisa aterrissar no terreno da realidade. Segundo a metodologia, aqui começa um trabalho de coleta precioso, por meio de conversas
Criar um espaço
para que se revelem as mais
profundas aspiraçþes coletivas
“É muito bom e rico poder conhecer a realidade de comunidades de todos os cantos do Brasil, e perceber que as necessidades e os sonhos são basicamente os mesmos” Gilson do Prado Carneiro, facilitador do Instituto Elos
individuais ou coletivas, nas quais deve-se extrair os sonhos dos participantes do jogo. Posteriormente, tudo deve ser compartilhado em um grande encontro comunitário onde, por fim, serão selecionados os sonhos mais agregadores, ou seja, aqueles que sensibilizam a todos. “Foi muito emocionante quando nos perguntaram o que queríamos do espaço. Já nem lembrava o que significava ser consultado, mas foi muito emocionante poder falar nossos desejos, para algo tão importante”, recorda o cinegrafista Marco Aurélio da Silva, 31 anos, morador de Peixinhos, no Recife (PE), se referindo à Refinaria Multicultural Nascedouro de Peixinhos, onde um antigo matadouro dará lugar a um espaço vibrante de desenvolvimento cultural. Ali em Peixinhos, como nas demais comunidades, os sonhos dos participantes do Elos no Canteiro Mais Cultura. se encontraram. O do Ministério da Cultura (MinC), de construir o melhor espaço multicultural desejado por aquela comunidade e o dos moradores, de contribuir com o próprio esforço para revitalizar um local que já havia sido um dos centros de difusão da
“A união de trabalho e divertimento é muito produtiva e, sem dúvida, podemos levar isso para o nosso relacionamento com as comunidades”
cultura local. “Posso dizer que era verdadeiramente um sonho ter aquele espaço de volta, mas não sabíamos como isso iria acontecer. Naquela noite, em que compartilhamos nossos sonhos, foi reacesa a chama da esperança em nossa comunidade. Vimos que não era preciso esperar, que já podíamos trabalhar para a realização daquele desejo”, diz Marco Aurélio. Para Ednaldo Fernandes Maranhão de Santos, 39 anos, também conhecido como Dadado, o Sonho foi, antes de tudo, uma oportunidade de fortalecer a conexão entre os moradores de Peixinhos, que parecia perdida na vala comum da descrença. “A possibilidade de sonhar dada pelo Oasis criou um elo muito forte na comunidade, que agora não quer mais parar de sonhar e realizar˜, afirma.
das comunidades.
Vicente Cesário da Cruz, agente cultural da Secretaria de Cultura de Curitiba (PR)
Entre os sonhos aos quais se refere Dadado, estava a criação de
também uma consequência direta da relação entre os sonhos de pessoas
um espaço de vendas para os artesãos locais, aulas de teatro na
diferentes, como atesta o estudante Anderson Ferreira da Silva, 29 anos,
Refinaria Multicultural, a descoberta e mobilização de novos talentos e
morador da comunidade da Ilha do Mosqueiro, em Belém (PA). “Os
atividades culturais permanentes no novo espaço. A maioria deles serão
sonhos dos indivíduos se harmonizam com os do coletivo. Isso nos dá
contemplados pela iniciativa do Mais Cultura, porém, o mais importante,
a confiança de que podemos acreditar em mudança, já que todos têm
segundo os moradores, é que agora a crença de que eles serão
interesses comuns e a vontade de mudar”, avalia.
realizados, já é uma realidade na comunidade. “Voltamos a acreditar
Em sua experiência durante a realização do Oasis na Ilha do Mosqueiro,
em nós mesmos e agora sabemos que podemos sonhar e realizar o que
Anderson viu, por mais de uma vez, as pessoas se mostrando desanimadas
quisermos”, analisa.
com suas realidades e, por isso, descrentes na mudança proposta pelo
A sensação de poder experimentada pela capacidade de sonhar é
projeto Elos no Canteiro Mais Cultura. Essa situação , no
Quanto mais
entanto, foi mudando lentamente, à medida que o jogo avançava e,
“Antes eu me sentia sozinho com meus sonhos. Agora me sinto unido
com ele, as descobertas de uma comunidade repleta de riquezas.
aos vários pontos da comunidade, que antes pareciam distantes, mas
“O interesse aqui na comunidade cresce a cada dia, e os sonhos
são muito próximos.”
só aumentam. A metodologia Elos e o Jogo Oasis são realmente
A postura da escuta ativa proposta pelo Sonho, de acordo com o estudante,
transformadores e deixam um legado muito importante: o desejo
foi de fundamental importância para promover uma maior união da
de aprender cada vez mais sobre elas, para continuar mudando e
comunidade e para a aproximar os moradores dos órgãos públicos. “Essa
crescendo”, diz.
nova postura de escutar os sonhos da comunidade, gera um ciclo positivo na
Mas, para além das avaliações sobre os diversos impactos do Sonho e do
comunidade. Nós nos sentimos mais protegidos, não temos o sentimento de
Oasis na sua comunidade, Anderson também descobriu um novo mundo
que aquilo não vai dar certo, de que nosso trabalho vai ser
de possibilidades no seu universo, a partir da participação no projeto.
desperdiçado”, defende.
genuíno
Ao dar voz ativa à comunidade, o Mais Cultura também criou um elo forte com seus moradores que, agora, mais confiantes pela capacidade renovada de sonhar, não se furtarão fazer as cobranças necessárias para que o poder público cumpra sua parte na construção do sonho coletivo que uniu todos em torno do Elos no Canteiro Mais Cultura. “Agora cobrarei para a biblioteca sair do papel, porque lutei e trabalhei por isso. Quero participar no que for preciso, para poder usufruir, no futuro, de um espaço que também é meu. E também quero que essa biblioteca se mantenha funcionando para os meus filhos e os filhos deles”, afirma o estudante Erik Tarcísio de Oliveira David, 23 anos, também morador da Ilha do Mosqueiro. O MinC, por sua vez, ao adotar a postura de ouvinte dos desejos das comunidades, não apenas se abriu às cobranças que virão, mas também reacendeu a chama da cidadania nos moradores, agora mais integrados à sociedade. “Essa iniciativa foi muito importante para que, de agora em diante, possamos fazer valer nossos direitos e deveres, antes esquecidos”, reflete o estudante Elton Barbosa, morador do quilombo do Maciço Morro da Cruz, em Florianópolis (SC). Para ele, os sonhos registrados no Oasis da comunidade são ainda pequenos, face os desafios que se apresentam, a partir de agora. “O resgate do trabalho coletivo, algo que sempre existiu nos quilombos, nos motiva a voltar a viver de uma maneira mais unida.
for o sonho,
Esse projeto foi importante para fortalecer os vínculos na nossa comunidade, para que possamos nos preparar e levar essa ideia para outros locais também”, ambiciona. No Monte Serrat, Elton foi apenas um dos muitos moradores que viram no projeto uma oportunidade de realizar os sonhos há tanto tempo esquecidos. Como ele, um dos mais antigos moradores do local, João Ferreira de Souza, 74 anos, o seu Teco, acredita que o Elos no Canteiro Mais Cultura vai trazer de volta a união entre as 12 comunidades que formam o Maciço do Morro da Cruz. “Antes de se chamar Maciço do Morro da Cruz, esse local era conhecido como União das Comunidades. Todas as segundas-feiras, as pessoas se reuniam para debater o que seria feito para melhorar nossas condições. Agora temos a oportunidade de fazer isso voltar a acontecer, para o bem de todos os moradores daqui”, aposta, seu Teco. A dona de casa Helena dos Santos é uma das provas de que o sonho de união das comunidades do Maciço não está distante de se realizar. Moradora de Nova Trento, uma das comunidades integrantes do morro, Helena decidiu se engajar na formação do Oasis no Monte Serrat. “Ao ajudar a construir o sonho do Monte Serrat, também realizei o meu, que era estar aprendendo essa metodologia, para poder levá-la para minha comunidade. Aprendi também que sonhos bons, são aqueles que sonhamos em conjunto e, por isso, quero multiplicar esse projeto em quantas comunidades puder.”
maior o apoio que ele receberá.
43
O CUIDADO
S
onhos comuns estabelecidos, vontade de mudar em alta. É chegada a hora de partir para ação, planejando cuidadosamente cada etapa do que virá a seguir e reunindo aqueles recursos necessários para a concretização dos desejos já tão amplamente discutidos. É na etapa do Cuidado que a materialização dos sonhos começa a acontecer. Primeiro, pela montagem das maquetes e planejamento das ações que levarão à conclusão dos objetivos. Em
seguida, pela caça aos recursos e talentos necessários para a realização das metas estabelecidas pelos próprios participantes do jogo. No caso da ação Elos no Canteiro Mais Cultura, alguns desafios foram adicionados à dinâmica do Oasis. O projeto estava estruturado nos três eixos do programa Mais Cultura: Cultura e Cidades, Cultura e Economia e Cultura e Cidadania. O primeiro se refere à concretização dos sonhos físicos da comunidade, como a reforma de escolas ou centros culturais, a construção de mobiliários, criação de espaços de convivência, entre outros itens visíveis aos olhos. Já o eixo Cultura e Economia busca o aproveitamento dos talentos e recursos locais para gerar renda comunitária. Aqui se enquadravam a organização e sistematização da produção e venda de artesanatos, roupas, acessórios de moda, comidas típicas e demais produtos de valor já confeccionados pela comunidade. Por fim, o eixo Cultura e Cidadania tem por objetivo exaltar a beleza do local, por meio da montagem e implementação de roteiros de turismo comunitários que, mais uma vez, pudessem elevar a renda local e a autoestima, ao mesmo tempo.
Planejar cuidadosamente
Após considerar os três eixos e planejar as ações por meio da busca de referências positivas, montagem de maquetes, desenhos de roteiros de turismo e estratégias de produção e venda de produtos, sempre com o cuidado em escolher a melhor linha de ação e incluir nela todos os sonhos da comunidade. Os participantes também se concentraram em manter coesos os objetivos do jogo, cuidando de si, do outro e do sonho comum. Além de outro passo fundamental: dividir os jogadores em equipes, encarregadas do contato com parceiros locais, da busca dos recursos, do convite aos moradores e outras ações necessárias ao bom andamento do processo. Nessa etapa também foram postas à prova as habilidades dos participantes em unir a comunidade em torno do jogo, por meio de uma ação coordenada de captação de recursos que exige a derrubada da barreira psicológica, por vezes impeditivo para as pessoas pedirem uma simples ajuda. Não para o benefício próprio, mas para o bem de toda a comunidade. “Com o Cuidado aprendi tanto com o sim, quanto com o não. Agora sei apreciar o sorriso sincero de quem dá uma lata de tinta, empresta uma ferramenta, mas também com aquele que se recusa a participar. Acima de tudo aprendemos a cuidar do outro, procurar saber sempre como ele se sente”, descreve a estudante Barbara da Silva Jota, 18 anos, moradora da comunidade Autran Nunes, em Fortaleza (CE). A experiência de Barbara sintetiza o Cuidado, um misto de convite, escuta, pedido e persistência. “Nosso maior desafio era conseguir os recursos, pois a comunidade se encontrava muito desacreditada”, diz. “Um exemplo foi quando pedimos cadeiras e mesa à diretora da nossa escola, que recusou imediatamente. Quando ela viu nossa motivação e a dos seus próprios alunos, acabou nos cedendo o material e se envolveu no projeto. Foi emocionante”, lembra.
as estratégias e projetos
que representam
Para ela, quando se passa a cuidar de si próprio e do outro, os recursos
que as pessoas doassem o possível e participassem da construção do
necessários à construção de um sonho se multiplicam e adquirem uma
sonho coletivo também deixou uma semente de união na comunidade.
riqueza antes imperceptível. “Foi tudo muito simples. Nossos recursos
“A comunidade mudou muito. Está mais unida e deseja realizar novos
eram poucos, mas com nossa força de vontade se transformaram em
Oasis. Alguns adolescentes que vendiam crack deixaram a droga de lado
muitos”, exalta.
para participar e nunca mais voltaram ao tráfico”, comemora.
“Conseguimos mudas de árvores, tinta, pneus, pincéis, água, cimento,
A experiência de buscar recursos e talentos também transformou
areia, merenda e o recurso mais importante de todos: as pessoas”,
aqueles que ainda não haviam experimentado o Oasis em sua própria
recorda Joyce Paixão da Silveira, 22 anos, educadora e também moradora
comunidade, como foi o caso do tatuador Maximiano Pinheiro Martins,
de Autran Nunes. Segundo ela, o trabalho de convencimento para
21 anos, o Max, morador da comunidade Tapanã, em Belém (PA),
o conjunto de sonhos
“Sempre ansiamos por essa grande uniĂŁo entre os governos Federal, Estadual e Municipal. Com esse projeto, toda a sociedade sai ganhandoâ€? Carlos Eduardo da Silva Barbosa, mediador da Secretaria de Cultura do Estado do Rio de Janeiro
“As comunidades que estão recebendo os Espaços e Bibliotecas Mais Cultura terão o privilégio de fazer parte de uma rede rica e mágica, com um poder de realização que as extrapola” Mariana Felippe, facilitadora do Instituto Elos
participante da formação do Norte e Nordeste no Sítio do Berardo, no
sua profissão: ele emprestou um conjunto de ferramentas, sem as
Recife (PE). “O processo me mostrou a importância de demonstrar o
quais dificilmente o sonho daquela comunidade se concretizaria como
amor pelo outro, cuidar para que eles se sintam confortáveis. Também
planejado. “Foi uma experiência de troca muito importante. A gente deu
entendi que, por mais necessitada que a pessoa seja, ela sempre tem
o que podia e isso vai fazer com que todos zelem pelo que foi feito, já
algo a oferecer para seus vizinhos e amigos”, reflete Max.
que ali existe um pouquinho de cada um que participou”, resume.
Morador do Sítio do Berardo, o eletricista Carlos Alberto da Silva, 58
A postura de Carlos Alberto é também refletida no discurso do
anos, se envolveu no projeto quando foi procurado pelos participantes
historiador Angelo Felipe, 32 anos, morador do Berardo e representante
do Oasis para que se envolvessem com a doação de recursos ou do
da comunidade naquela formação. Segundo ele, o pouco conseguido
seu talento. Sua participação acabou indo além do que já pratica na
durante o Cuidado, representa um passo enorme para sua vizinhança, tão
coletivos da comunidade,
pouco acostumada a se unir em torno de um ideal coletivo. “Os anseios da comunidade são muitos e não se resolveram com essa iniciativa. Mas ela deixa uma semente de otimismo e uma sensação de que, com a participação de todos, poderemos cuidar melhor da comunidade.” O otimismo verificado no Sitio do Berardo também começou a tomar forma na comunidade Vila Nossa Senhora da Luz durante o Cuidado, quando os moradores se reuniram para construir a maquete do sonho que seria realizado nos próximos dias. “Foi um momento emocionante, pois ali começamos a dar um desenho real para o sonho, com a montagem dos bancos, lixeira, das mudas de árvore, tudo na nossa maquete. Foi simples mas nos deu ainda mais esperança de que iríamos conseguir”, lembra o técnico mecânico José Ney da Silva, 57 anos. De acordo com ele, foi essa etapa do Oasis que consolidou o elo entre os moradores da comunidade que participaram do Oasis. “Quando a maquete ficou pronta, tivemos a certeza de que iria acontecer. Só dependia de nós, assim como é nossa a responsabilidade de manter vivo e forte o elo que foi formado entre as pessoas, para que esse projeto se multiplique na nossa comunidade.”
cuidando de si, do outro,
e das aspiraçþes de todos.
55
O MILAGRE
M
adeiras abandonadas que viram bancos, mesas, lixeiras, balanços para crianças. Tiras de tecidos que se transformam em roupas, acessórios, bolsas, colchas. Terrenos antes abandonados, belezas escondidas que se tornam pontos turísticos. Nos dois dias dedicados ao Milagre o impossível se torna visível aos olhos. Também conhecido como Mão na Massa, o Milagre é o território da realização, onde os sonhos finalmente se tornam realidade. Um verdadeiro acontecimento, no qual cada
prego retorcido, lata de tinta já utilizada, pneus velhos, antes destinados a aumentar o lixo da cidade, ganham uma nova vida, com um valor inestimável para aqueles que passaram a semana planejando um sonho antes inimaginável. A alegria contagiante dos participantes do Oasis convence aqueles que ainda tinham dúvidas: sim, é possível, se caminharmos juntos e acreditarmos no valor de cada um, e na utilidade do que antes era descarte e que, a partir de agora, passa a ser paisagem rica para aqueles que acreditam. É o ponto alto do Oasis, onde qualquer dúvida se transforma em crença e a impossibilidade cede o lugar à realização. Foram 20 comunidades beneficiadas pelo projeto Elos no Canteiro Mais Cultura. Mas os sonhos
realizados excederam as centenas, já que para cada muro pintado, roupa costurada, escola restaurada havia um sonhador com um sorriso no rosto que, dali em diante, passava a ser o dono do seu sonho realizado. Simples e completo, como um broche de fuxico ou uma tiara de arame. Na Liberdade, a força do coletivo permitiu a construção de bancos novos, sofás, cortinas, mesas e cadeiras, além da confecção de bijuterias para venda e outros artigos produzidos pelas talentosas mãos dos artesãos locais.
Um presente dado
“A comunidade precisava daquele espaço, porque todos querem tirar as crianças da rua, dar um novo sentido para a vida delas. A comunidade fez por ela mesma, mas, principalmente,
“O projeto Elos no Canteiro Mais Cultura proporcionou a certeza de que, se trabalhamos juntos, com planejamento, participação e sensibilização das comunidades, é possivel atingir qualquer objetivo em um curto espaço de tempo” Maria Teresa de Albuquerque Medeiros, assistente social da Secretaria de Infraestrutura do Estado de Alagoas
pelo filhos, pelo futuro”, diz o dançarino Mauricio Pestana Silva, 23 anos. Segundo o eletricista Diego Henrique Oliveira Sousa, 23 anos, enquanto costuravam tecidos, batiam pregos nas madeiras e reformavam móveis depredados, os moradores da liberdade se divertiam como se estivessem em uma festa. Uma confirmação de que a metodologia foi aplicada como esperado: uma brincadeira séria. “Conseguimos fazer tudo que queríamos, mas em um clima de diversão e brincadeiras. Construímos um sonho com muitas risadas, o que nos deixou mais integrados e contentes”, lembra. Foi nesse mesmo clima de brincadeira que a comunidade Tapanã, localizada em Belém (PA), se reuniu com um projeto ousado: o de reformar toda a praça Cordeiro de Farias, um espaço bastante agradável, que se encontrava praticamente abandonada. Ao reunir recursos dos mais diversos durante a etapa do Cuidado, os moradores do local se dividiram em três equipes que se encarregariam da reforma da quadra de basquete do espaço, da recuperação dos espaços verdes da praça e da pintura do local. Feito o planejamento, era chegada a hora de partir para ação. Dois dias de trabalho intenso, e quase todos os objetivos foram alcançados. Entre as realizações estavam o plantio de diversas mudas de árvores e flores, a pintura de canteiros, bancos, mesas, brinquedos, equipamentos de ginástica, a construção de um novo brinquedo com pneus usados, além da reforma completa da quadra de basquete, agora pronta para receber os jovens da região. “Se conseguimos fazer uma vez, isso significa que conseguiremos fazer sempre”, afirma o tatuador Maximiano Pinheiro Martins, 21 anos, o Max.
a si e ao outro,
por meio da ação coletiva
A sensação de perpetuação de um sonho realizado é, aliás, uma sensação comum a todos os participantes do projeto Elos no Canteiro Mais Cultura. “Antes via minha comunidade muito desunida, as pessoas distantes umas das outras. Com a iniciativa do MinC percebemos que podemos construir muitas coisas, desde que façamos isso unidos. Não vamos parar por aqui”, decreta o produtor cultural Dercides Nunes, 49 anos, morador da comunidade Estrela do Sul, em Campo Grande. Naquela comunidade, a união permitiu algumas mudanças muito simples, mas que transformaram a paisagem e o ânimo do local. Sempre juntos, os moradores ocuparam um espaço antes vazio e transformaram em um parque infantil com gangorras, casinha de brinquedo e balanços. Também se construíram mesas e cadeiras, a partir de carretéis de fios elétricos descartados. Por fim, foram revitalizadas duas quadras do calçadão próximo da escola estadual, com a retirada de entulhos, pintura dos muros, plantio de mudas e o fechamento de buracos. “Sempre fui a favor de trabalhar com o coletivo, mas o Oasis me fez valorizar muito mais o trabalho em conjunto. Agora tenho a certeza de que o trabalho, quando feito com prazer, e com divisão de responsabilidade, pode ser extremamente produtivo”, analisa o presidente da Associação de Moradores da Estrela do Sul, João Marcelo Pereira, 37 anos. Para ele, além da sensação de dever cumprido ficou também o aprendizado proporcionado pelo Oasis. Não o da metodologia, mas aquele que veio com a troca de conhecimentos com seus vizinhos e amigos. “No Milagre existe uma troca de informações muito grande. Oferecemos nosso conhecimento e recebemos o dobro em troca. Aprendi a fazer balanços, brinquedos, móveis e, assim, vou poder ajudar ainda mais minha comunidade”, diz João Marcelo.
transformadora
Não tão distante dali, em Palmas (TO), na comunidade da Quadra 1306, a troca intensa de saberes também mudou a forma como a comunidade se relaciona, conforme atesta o professor de artes marciais Marcelo Alves Dias, 34 anos. “Finalmente tivemos nossos talentos reconhecidos e isso muda a comunidade, que passou a acreditar em si mesma e percebeu que pode fazer mais , sem esperar pelo poder público”, avalia. O reconhecimento, ao qual se refere Marcelo, oferecido pelo Elos no Canteiro Mais Cultura incentivou a comunidade a fazer mudanças que jamais serão esquecidas, segundo ele próprio. Ali, em uma comunidade ainda muito jovem, cerca de 40 pessoas se uniram para limpar um terreno completamente coberto pela vegetação e realizaram o sonho de oferecer às crianças um parque infantil com carrossel, casinha de madeira, balanços e bancos. Mais adiante, um outro grupo construiu um abrigo em um dos pontos de ônibus da comunidade. “O abrigo parece algo simples, mas no calor de Palmas é muito importante. Só esse trabalho no ponto de ônibus já mudou radicalmente nossa comunidade, que agora sente um orgulho muito grande de si mesma. Faremos outros dois e o que mais for preciso para deixar o bairro como queremos”, prevê a funcionária pública Francisca D’Arc Pereira, 28 anos, para quem o Milagre é, acima de tudo, um exercício de superação. “No começo é difícil acreditar que faremos tudo em apenas dois dias, mas à medida que o tempo passa, começamos a perceber nossa força, muito maior do que imaginávamos”, comemora.
apoiada pelos recursos
Se a força de uma comunidade já pode ser tão transformadora, o que dizer quando pessoas de quatro cidades – São Paulo, Santos, Curitiba e Rio de Janeiro – se unem para modificar a realidade de uma comunidade, em conjunto com seus moradores, como aconteceu na formação do Oasis na comunidade do Monte Serrat, em Florianópolis (SC)? “O que vimos acontecer aqui é uma verdadeira revolução. Precisamos criar um elo entre todas as comunidades do Brasil, para que possamos mudar a realidade dos milhões de pessoas esquecidas. Esse projeto é algo maravilhoso, que vai mudar a cara do País”, sentencia o técnico mecânico José Ney da Silva, 57 nos, também conhecido como Faísca, um dos formandos da etapa de Florianópolis. De acordo com ele, um dos mais ativos no eixo de Cultura e Cidades, a experiência do Oasis deve se tornar um marco na história da relação entre o poder público e as comunidades marginalizadas do Brasil. “Somos repletos de riquezas e muitas vezes a política acaba impedindo que elas se desenvolvam. Esse projeto devolve o poder de mudar para as pessoas . Eu nunca vi nada igual”, sentencia. Mesmo que o Elos no Canteiro Mais Cultura não alcance o status de marco histórico, como esperado por Faísca, para a comunidade do Monte Serrat, certamente o projeto vai deixar um legado de união e mudança, como há tempos seus moradores não experimentavam.
abundantes da
“Meu maior objetivo no projeto era fazer com que as pessoas percebessem o que há de rico em torno delas. Tenho certeza que alguém levará a ideia dessa iniciativa adiante” Fernando Nacarato, arquiteto e consultor do eixo Cultura e Cidades
comunidade
Durante os sete dias da formação, os participantes do projeto e os
produzi, por diversão, bonequinhas de Abayomi, que são uma
moradores ocuparam a escola Lúcia do Livramento Mayvorne, o
herança das escravas. Mas o Oasis me mostrou que eu não sabia só
quartel-general do Oasis e principal foco das mudanças promovidas
produzir, mas que também podia ensinar os outros. Agora espero
ali. E as melhorias não foram poucas.
montar uma cooperativa para reunir as artesãs daqui”, projeta a
No eixo Cultura e Cidades, por exemplo, carretéis de fios elétricos
operadora de telemarketing Khristiane Silva, 31 anos.
foram transformados em mesas, cadeiras, bancos e em um palco
A descoberta do talento escondido dentro de si também mudou
para apresentações. O parque infantil foi integralmente restaurado
o estudante Elton Luiz Barbosa, 17 anos, agora guia turístico
e um novo espaço de convivência foi criado. Para aqueles que
do roteiro comunitário. “Nunca tinha tido a oportunidade de
trabalharam na área de Cultura e Cidadania, a experiência permitiu
apresentar minha comunidade para alguém. Agora poderei fazer
descobrir belezas escondidas em um dos morros mais belos de
isso e ainda ajudar na renda do lugar onde vivo e do qual sinto
Florianópolis. Mirantes pouco visitados, passaram a integrar
muito orgulho”, diz Elton. Para ele, e muitos outros participantes
roteiro de turismo comunitário do Monte Serrat.
do Elos no Canteiro Mais Cultura, a transformação
Já os integrantes da turma da Economia e Cultura promoveram
promovida pelo projeto se estende além de qualquer mudança
uma reviravolta no ambiente econômico local. Por meio de oficinas
pessoal ou até mesmo comunitária. “Esse projeto vai chacoalhar
de moda, gastronomia, artesanato e tranças afro, reativaram esses
as comunidades brasileiras. E elas precisam mesmo ser acordadas,
setores, que pareciam adormecidos. Durante o Oasis foi criada
porque ninguém sabe solucionar melhor nossos problemas do que
a marca Monte Serrat e foram produzidas dezenas de roupas e
nós mesmos”, conclui Francisca D’Arc Pereira, de Palmas.
acessórios, bonecas de pano, colchas de fuxico, entre outros produtos. Todos comercializados no último dia do Mão na Massa, durante uma feira realizada na própria localidade. Um trabalho de resgate cultural, que certamente vai deixar uma semente de transformação para os habitantes dali. “Sempre
e motivada pela força
do sonho comum.
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Reconhecer e celebrar
A CELEBRAÇÃO
U
ma etapa curta e simples, porém repleta de significados. A Celebração é o momento no qual a rede de participantes e parceiros formada durante o Oasis se reúne para expor os sentimentos acumulados durante a experiência e comemorar a realização dos sonhos, por meio da exaltação do papel de cada um durante o processo. Divertida, como qualquer comemoração, essa etapa é também fundamental para consolidar as
relações entre todos aqueles que sonharam e construíram juntos uma ideia de mundo melhor. É também um momento de fortalecimento dos elos formados com a comunidade, agora mais consciente do poder que detém para transformar a sua realidade. Na Celebração, cada palavra de exaltação ou gesto de agradecimento é importante. É a hora de reconhecer o valor de si próprio, do outro e do coletivo. Um abraço, uma roda de conversa ou o simples olhar de gratidão podem ser instrumentos poderosos para expressar a admiração pelo esforço empregado na realização do sonho. “Foi na celebração que percebemos como foi importante o Oasis. Ali, finalmente, vimos o sonho realizado e tivemos a oportunidade de agradecer a cada um pelo que foi feito”, lembra a estudante Cynthia Lima de Oliveira, 13 anos, moradora do Vale do Reginaldo, em Maceió (AL). A comemoração do Vale do Reginaldo, realizada logo após a finalização do Milagre, conforme aconselha a metodologia, é uma síntese de como celebrar a concretização de um desejo antes inatingível, mas verdadeiramente simples, quando realizado pelo coletivo.
o empenho de cada um
Tudo começou com dança e música, como manda qualquer manual de festa. Depois, uma roda de amigos, que perguntaram entre si sobre o processo que acabavam de vivenciar. Em seguida, o gesto simples do agradecimento, com palavras, abraços, beijos e o olhar sincero – e cansado – daqueles que doaram parte do seu tempo em prol do bem comum. “Falamos muito do amor pelo próximo e por aquilo que construímos. Foi a oportunidade de conhecer melhor os sentimentos de um monte de gente que eu conhecia pouco, mas que agora são amigos”, afirma Aline, para quem a Celebração ajudou a reforçar o senso de cuidado da comunidade para com si mesma. “Acho que aquele momento ajudou a aumentar ainda mais a consciência das pessoas. Agora ninguém joga mais lixo na rua, todos cuidam da comunidade, porque sabem que esse é o nosso dever”, diz. O efeito ao qual Aline se refere é, acima de tudo, a consequência de um trabalho realizado em parceria, com a leveza e o afeto necessários para gerar envolvimento e permitir a perpetuação da semente da mudança plantada nos corações e mentes de cada participante. “Sem dúvida, o que mais ganhamos em todo esse processo foi a proximidade com pessoas tão diferentes, mas carinhosas e atenciosas. É muito importante valorizar o que o outro tem de melhor e também celebrar as belezas do lugar”, defende a cozinheira Joana D’Arc da Silva, moradora do Jardim Nazaré III, em São Paulo (SP). Para ela, embora haja uma etapa dedicada a celebrar o Oasis feito pela comunidade, todo o processo é uma exaltação às riquezas das pessoas e lugares. “O clima do trabalho é tão bom, que parece um divertimento só. Além disso, sempre que estamos cansados, aparece alguém com uma palavra de incentivo, com um elogio e isso nos enche de força para continuar”, pontua.
na conquista do sonho coletivo,
com a demonstração de respeito
Para os envolvidos no projeto Elos no Canteiro Mais Cultura, celebrar o fim do processo foi mais do que comemorar a realização de um desejo. Foi a afirmação de que a união de talentos, recursos e sonhos é transformadora. Uma verdadeira reverência ao poder do trabalho colaborativo e do talento individual. “O mundo é nosso e de quem for tão esperançoso quanto nós”, resumiu André Martins, 24 anos, artista, barman e morador da Rocinha (RJ), durante a Celebração do Oasis de Santa Catarina.
e afeto pelo o outro
“A ação do Oasis gera um impacto profundo em todos que participam. No meu caso, saio com muitos aprendizados, embora tenha sido convidado a passar meus conhecimentos” Ivo Eduardo Pons, designer e consultor do eixo Cultura e Economia
e a comunidade.
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A RE-EVOLUÇÃO
U
ma política pública bem delineada deve ter um efeito transformador perene, que permita aos seus beneficiários uma melhoria de vida duradoura. No caso do Elos no Canteiro Mais Cultura
esse salto de qualidade significava a autonomia de poder sonhar, e realizar, sem que o poder público estivesse presente em todas as etapas. Com a etapa da Re-Evolução, as comunidades contempladas pelo projeto tiveram a oportunidade de
dar seguimento aos seus sonhos, impulsionadas pelas realizações concretizadas durante o Mão na Massa e por todo o aprendizado experimentado durante o processo. Ferramentas dadas, agora cabia aos participantes articular seus próprios grupos e partir para a conquista de novos terrenos. Oasis finalizado, tudo recomeça com o Encontro de Futuro, realizado no dia seguinte ao Milagre. Nele, participantes do Mão na Massa e outras pessoas interessadas na metodologia têm a oportunidade de avaliar o trabalho realizado, discutir os próximos passos para manter o sonho vivo e consolidar a rede formada durante a experiência intensa dos dias anteriores. Uma vez realizada a reunião, é chegada a hora de iniciar um novo ciclo positivo, como várias comunidades do Elos no Canteiro Mais Cultura fizeram – e continuam a fazer.
Uma das primeiras comunidades a realizar um Oasis em 2010, a comunidade do Vale Dourado, em Natal (RN), foi também pioneira na retomada do processo, por meio do aproveitamento do aprendizado oferecido pelas equipes do Mais Cultura e do Instituto Elos. Se, durante o Milagre, eles conseguiram realizar diversos sonhos, como a recuperação do terreno onde será instalado o espaço Mais Cultura, o que viria a seguir seria uma demonstração surpreendente de união e esforço da comunidade.
Pensar o futuro e planejar ações
“É assim que começa a mudança que queremos ver no Brasil: com conversas significativas, relações de afeto e confiança, sonhos de um futuro promissor e prazer em fazer coisas juntos. Esse projeto foi uma experiência única e muito transformadora” Marina Engels, facilitadora do Instituto Elos
para materializar novos desafios,
Incomodados com um galpão abandonado que servia como ponto de venda e
agora que conseguimos, não pretendemos desistir. Vamos lutar para que
consumo de drogas, os moradores do Vale Dourado resolveram, em conjunto,
esse galpão seja nosso”, diz o professor de capoeira, ressaltando que o
reocupar o espaço de forma pacífica, para que ele fosse usado da melhor
Galpão Cultural do Vale Dourado deve ser fortalecido com a construção do
forma pelos habitantes do local. O que antes era um espaço tomado pelo
Espaço Mais Cultura.
crime transformou-se no Galpão Cultural do Vale Dourado.
A determinação de Ivanildo e seus vizinhos também já contamina outras
“Depois do Oasis, nós que participamos do projeto viramos um ponto de
comunidades da zona norte de Natal, que começaram a se comunicar entre
referência para os moradores. Fomos procurados para discutir o que fazer com
si, para realizar novos Oasis. “Agora queremos montar uma comissão para
o galpão, que tinha virado um lugar muito perigoso. Daí surgiu a ideia: por
discutir novas ações na zona norte da cidade. Vamos infestar as comunidades
que não ocupar e fazer algo bom para o Vale Dourado”, lembra o professor
de Natal de pontos culturais”, prevê.
de capoeira Ivanildo Silva de Lima, 28 anos.
O desejo de replicar o projeto em outras comunidades também impulsionou
De acordo com ele, a ocupação não poderia transcorrer de forma mais
a estudante Amanda Oliveira dos Santos, 20 anos, moradora do Conjunto
tranquila. O consenso gerado pelos moradores, fez com que 50 pessoas se
Ceará, localizado em Fortaleza (CE). Após a realização do Oasis em sua
unissem para reformar o prédio abandonado, que logo recebeu uma nova
comunidade, ainda no primeiro semestre de 2010, Amanda decidiu que a
pintura, mesas, cadeiras, além de diversas atividades culturais, que hoje
metodologia deveria ser posta a serviço de qualquer interessado em melhorar
beneficiam cerca de 150 pessoas.
sua realidade.
“Nós oferecemos oficinas de dança, hip-hop, percussão, cursos de capoeira,
Sua primeira iniciativa foi recuperar um sala comercial pertencente à
entre outros. Além disso, o lugar virou um ponto de encontro para jovens e
organização não governamental (ONG) Ashoka, da qual ela faz parte. “Eles
crianças, que usam o lugar para ensaios e outras atividades”, explica Ivanildo,
tinham uma sala no centro de Fortaleza que não estava sendo usada. Decidimos
um dos coordenadores do Galpão.
reformar o espaço, para que pudesse ser usado como um ponto de encontro
Após reocupar o local, a comunidade agora batalha para conseguir a
de jovens que realizam trabalhos na área social”, afirma. Segundo Amanda, o
posse do prédio, que, embora abandonado, possui um proprietário privado.
processo seguiu integralmente a metodologia Elos –Oasis e acabou por criar
“Ter um centro cultural era um sonho antigo da nossa comunidade e,
uma nova rede de agentes transformadores. Mais de 30 pessoas participaram
sempre juntos e com a energia renovada
da ação. Agora, o jovens têm um lugar para discutir projetos, fazer reuniões de
de crianças interessadas em brincadeiras e também um polo para as
trabalho e aprender uns com os outros”, comemora.
comemorações da comunidade. “Os moradores, por iniciativa própria,
Em Fortaleza, os jovens que participaram do Elos no Canteiro Mais
começaram a realizar dias festivos na praça, sempre com os recursos divididos
Cultura continuam em busca de novos desafios. Um deles é o projeto
entre todos, como acontece no Oasis”, informa Amanda, para quem o
Onda do Bem, que pretende revitalizar a comunidade Titanzinho – um dos
projeto funcionou também como um instrumento de resgate da cidadania
centros de surfe do Ceará – por meio de intervenções artísticas e culturais.
do Conjunto Ceará. “Hoje vejo a comunidade muito mais unida em torno
“Fomos convidados a ajudá-los a trabalhar na mobilização de moradores
dos seus projetos. As pessoas cobram o poder público com frequência e não
dessa e de outras comunidades, para fortalecer o projeto”, revela.
deixam mais que faltem recursos para a comunidade”, explica.
Mas a semente deixada pelo Elos no Canteiro Mais Cultura
Em Brasília (DF), na comunidade do Varjão, a etapa da Re-Evolução permitiu
também floresceu no Conjunto Ceará, foco principal da ação. A praça onde
o resgate de um sonho que estava engavetado há tempos: a revitalização
foi realizado o Oasis acabou por se tornar o principal ponto de encontro
da Central de Costura e Artesanato, uma associação que reúne artesãs e
pela alegria de ver
costureiras locais. Praticamente desativada, a iniciativa ganhou novo fôlego
continuam a se mobilizar. Em comum, elas têm o desejo de melhorar
após a realização do Oasis.
suas vidas, sem que para isso precisem depender do poder público ou de
“Nosso trabalho estava parado. Mas o Elos no Canteiro Mais
qualquer tipo de organização civil. Ainda que mais independentes, as
Cultura valorizou nosso esforço e também gerou uma divulgação muito
comunidades agora possuem o senso de apropriação necessário para o
boa dos nossos produtos”, recorda a artesã Maria dos Reis, 38 anos. De acordo
maior aproveitamento dos Espaços e Bibliotecas Mais Cultura. Sua união
com ela, antes do projeto, as vendas estavam praticamente estacionadas,
renovada, a capacidade de trabalhar em colaboração e implementar
situação que mudou radicalmente nos últimos meses. “Hoje trabalhamos das
projetos culturais com recursos e talentos locais, serão o alicerce para
8h às 22h e ficou até difícil descansar. Temos muitas encomendas por semana
a gestão conjunta dos equipamentos – sonho do Ministério da Cultura,
e agora queremos ensinar outras pessoas por meio de cursos e oficinas, que
que agora se aproxima da realidade. “O Elos no Canteiro Mais
já estamos realizando”, afirma. Como essas comunidades, muitas outras
Cultura despertou nossa garra, renovou a energia da comunidade.
que participaram da ação Elos no Canteiro Mais Cultura
Não pretendemos parar mais”, conclui a artesã.
os sonhos realizados.
ESPAÇOS E BIBLIOTECAS MAIS CULTURA Resumo dos projetos
As páginas a seguir apresentam o detalhamento dos Espaços e Bibliotecas Mais Cultura do edital de 2008, que participaram da ação Elos no Canteiro Mais Cultura.
Espaços Mais Cultura Em 2008 o Ministério da Cultura (MinC) firmou parceria com o Ministério das Cidades para a implantação de espaços culturais dentro das obras do PAC Urbanização, que já estavam em andamento. Essa parceria inclui também os governos municipais e estaduais, executores das obras, assim como a Caixa Econômica Federal, responsável pelo acompanhamento dos projetos. Os recursos repassados pelo MinC podem ser investidos na reforma e ampliação dos espaços já existentes, na construção de novos, assim como na aquisição de equipamentos, mobiliários e acervos. A aplicação dependerá das demandas dos parceiros locais.
Bibliotecas Mais Cultura O Programa Livro Aberto irá implantar bibliotecas públicas em municípios carentes de equipamentos desse tipo. Para implementar o programa, o Ministério da Cultura (MinC) firmou, em 2009, parcerias com prefeituras de capitais brasileiras visando a instalação de Bibliotecas Mais Cultura nesses municípios. Por meio de convênios, o MinC repassa recursos para as prefeituras, que complementam com contrapartidas definidas em conjunto. Os recursos do programa são destinados à construção de novos edifícios, mobilização social e aquisição de equipamentos, mobiliário e acervo.
BIBLIOTECA MAIS CULTURA DA ILHA DO MOSQUEIRO BIBLIOTECA MAIS CULTURA DA USINA DO ASFALTO - BELÉM (PA) As comunidades da Ilha do Mosqueiro de Tapanã receberão duas Bibliotecas Mais Cultura com múltiplos ambientes que serão utilizados para diversas atividades culturais. As estruturas das Bibliotecas contarão
região NORTE
com salas para os acervos, espaços infantis, telecentros, áreas para encontros das comunidades, banheiros, estacionamentos e jardins. Nos espaços serão oferecidas oficinas literárias, projeções cinematográficas, projetos de ação e extensão cultural, entre outros.
Localização: Comunidade Tapanã População: 60.000 habitantes Investimento: R$ 284.611,39 Localização: Comunidade da Ilha do Mosqueiro População: 28.000 habitantes Investimento: R$ 284.611,00 Origem: FNC Parceiro: Prefeitura Municipal de Belém
IMAGEM EM BAIXA
Aplicação: Construção e aquisição de equipamentos, mobiliário e acervo
BIBLIOTECA MAIS CULTURA CASTANHEIRAS BIBLIOTECA MAIS CULTURA JORGE TEIXEIRA - MANAUS (AM) As comunidades de Manaus receberão duas Bibliotecas Mais Cultura. Os espaços contarão com um amplo acervo de livros, revistas e outras publicações, além de setores para estudos, acesso livre à internet, cafeterias e lanchonetes. Entre as atividades programadas para os espaços estão cursos de formação para mediadores e agentes de leitura, Localização: Conjunto Castanheiras População: 10.808 habitantes Investimento: R$ 464.487,00 Localização: Comunidade Jorge Teixeira População: 116.677 habitantes Investimento: R$ 464.487,00 Origem: FNC Parceiro: Prefeitura Municipal de Manaus Aplicação: Construção, mobilização social e aquisição de equipamentos, mobiliário e acervo
oficinas de desenho, teatro, música, dança, programação de cinema e encontros com escritores amazonenses.
CENTRO CULTURAL QUADRA 1304 SUL PALMAS (TO) Instalado em uma região beneficiada por um amplo programa habitacional dos governo municipal, estadual e federal, o espaço cultural multiuso se destina a beneficiar não apenas os habitantes da quadra 1304 Sul, mas também toda comunidade do entorno, distribuída nas quadras 1206 Sul, 1106 Sul e 1306 Sul. Na primeira fase do projeto, o Ministério da Cultura repassará recursos para construção dos espaços das oficinas. Esse espaço contará com salas para ensaios musicais, dança, teatro e artes plásticas. Além disso, também será construída uma praça coberta.
Localização: Quadra 1304 Sul População: 2.000 famílias Investimento: R$ 842.600,00 Origem: PAC Parceiro: Prefeitura Municipal de Palmas Aplicação: Construção e aquisição de equipamentos e mobiliário
ESPAÇO MAIS CULTURA PARQUE LINEAR CÓRREGO DO SEGREDO CAMPO GRANDE (MS) O espaço multiuso prevê ambientes flexíveis que favoreçam o desenvolvimento de oficinas culturais variadas, como dança, teatro, música, artes plásticas, além de sala de leitura, espaço para exposições e anfiteatro para apresentações. A edificação, rodeada pela natureza, respeitará a paisagem e será um motivador para a promoção da educação ambiental, por meio de ações culturais.
Localização: Parque Linear Córrego do Segredo População: 27.000 habitantes Investimento: R$ 671.737,00 Origem: PAC Parceiro: Prefeitura Municipal de Campo Grande Aplicação: Construção e aquisição de equipamentos e mobiliário
ESPAÇO MAIS CULTURA VARJÃO BRASÍLIA (DF) Localizado no Setor Habitacional Taquari (SHTQ), o espaço terá dois módulos idênticos, de 200 m2, que contarão, cada um, com uma sala multiuso – com capacidade para conversão em auditório –, copa integrada ao salão e dois banheiros. Entre as atividades previstas para o espaço estão aulas de dança e oficinas de capacitação artística em teatro, cinema, artesanato e outras manifestações.
Localização: Comunidade do Varjão População: 9.000 habitantes Investimento: R$ 436.340,00 Origem: PAC Parceiro: Governo do Distrito Federal Aplicação: Construção e aquisição de equipamentos e mobiliário
REFINARIA MULTICULTURAL NASCEDOURO DE PEIXINHOS RECIFE (PE) O espaço multiuso será instalado em um sítio histórico onde já funcionou o antigo Matadouro de Peixinhos, desativado em 1976. O complexo de edifícios será ocupado e compartilhado por entidades do governo e não governamentais. O Espaço Mais Cultura será instalado no bloco D e abrigará oficinas de DJ e composição digital, confecção de instrumentos musicais, produção de cinema e espetáculos, artesanato, moda e reciclagem, arte culinária, sanitários, depósitos e cozinhas. O bloco B, onde funcionará o cine teatro, receberá mobiliários e equipamentos, assim como a biblioteca, que também contará com um acervo diverso de livros.
Localização: Comunidade de Peixinhos População: 36.215 habitantes Investimento: R$ 2.040.410,00 Origem: PAC Parceiro: Prefeitura Municipal do Recife Aplicação: Construção e aquisição de equipamentos, mobiliário e acervo
BIBLIOTECA MAIS CULTURA SÍTIO DO BERARDO RECIFE (PE) O equipamento será erguido na antiga fábrica de estopas do bairro Caxangá, e terá uma área construída de 230 m2. Sua estrutura contará com uma sala dedicada à instalação do acervo, um salão de leitura, sala para administração, recepção, copa e cozinha, além de banheiros para seus usuários. Durante sua construção, ao longo de 2011, serão oferecidas oficinas de grafitagem, fanzine, literatura de cordel, contação de histórias, fotografia e produção de vídeos. Após a conclusão do projeto, os moradores da região terão a oportunidade de participar de atividades como concursos literários, leituras poéticas, contação de histórias, campeonatos de xadrez, recitais, dramatização de textos, exposições e oficinas literárias. A biblioteca ainda hospedará parte da programação do Festival Municipal do Livro – A Letra e a Voz, promovido pela Fundação e Secretaria de Cultura do Recife. Localização: Comunidade Sítio do Berardo População: 141.163 habitantes Investimento: R$ 293.839,45 Origem: FNC Parceiro: Prefeitura Municipal do Recife Aplicação: Construção, mobilização social e aquisição de equipamentos, mobiliário e acervo
CENTRO CULTURAL NOVA CONSTITUINTE SALVADOR (BA) O espaço cultural multiuso da comunidade Nova Constituinte será o primeiro equipamento do tipo construído no local, com o intuito de beneficiar toda a população de forma aberta e plural. Sua estrutura física contará com um salão multiuso e auditório com capacidade para 250 pessoas, dois camarins, bilheteria, sala para ensaios de grupos artísticos, espaço para exposições, cantina, banheiros, entre outras benfeitorias. Essa estrutura permitirá a realização de apresentações artísticas, seminários, oficinas, cursos, exposições e demais atividades culturais de interesse da população local.
Localização: Comunidade Nova Constituinte População: 6.000 habitantes Investimento: R$ 1.450.000,00 Origem: PAC Parceiro: Governo do Estado da Bahia Aplicação: Construção e aquisição de equipamentos e mobiliário
BIBLIOTECA MAIS CULTURA CONJUNTO CEARÁ BIBLIOTECA MAIS CULTURA AUTRAN NUNES - FORTALEZA (CE) As comunidades Conjunto Ceará e Autran Nunes receberão duas Bibliotecas Mais Cultura. Os espaços contarão com salas multiuso para atividades diversas, salas para o acervo de livros, espaços para leitura, salas de processo técnico para bibliotecários e espaço externo com jardins e brinquedos. Os espaços serão dedicados à realização de múltiplas atividades culturais, como teatro, dança, música, cinema, além de encontros com escritores, conversas sobre a palavra e contações de história.
Localização: Conjunto Ceará População: 250.000 habitantes Investimento: R$ 448.243,00 Localização: Comunidade Autran Nunes População: 60.000 habitantes Investimento: R$ 448.243,00 Origem: FNC Parceiro: Prefeitura Municipal de Fortaleza Aplicação: Construção, mobilização social e aquisição de equipamentos, mobiliário e acervo
ESPAÇO MAIS CULTURA VALE DO REGINALDO MACEIÓ (AL) Concebido para integrar diversas atividades da área cultural, o espaço será instalado em uma das comunidades mais vibrantes da capital alagoana. O Vale do Reginaldo é conhecido por ser uma das principais trincheiras da cultura e do folclore local, sendo conhecido pelo resgate valorização do Bumba Meu Boi, uma das manifestações mais tradicionais do Estado. O Espaço Mais Cultura pretende proporcionar uma ampliação das atividades culturais já desenvolvidas na localidade, por meio da instalação de um auditório, espaço para exposições, salas para oficinas culturais de dança, música, teatro, artesanato, informática, além de um anfiteatro com 140 lugares destinado às apresentações de grupos locais.
Localização: Comunidade Vale do Reginaldo População: 7.000 famílias Investimento: R$ 886.800,00 Origem: PAC Parceiro: Governo do Estado de Alagoas Aplicação: Construção e aquisição de equipamentos e mobiliário
ESPAÇO MAIS CULTURA TEATRO PADRE HAROLDO/ LIBERDADE – SÃO LUIS (MA) Com capacidade para 50 pessoas, o Teatro Padre Haroldo será completamente reformado e hospedará um Espaço Mais Cultura que vai oferecer atividades de teatro, música, dança e artesanato. Após a reforma, o teatro contará com recepção, camarins, depósito, sala de reunião, salas de artesanato, oficinas ,espaço de inclusão digital com 11 computadores, jardim externo e banheiros.
Localização: Comunidade da Liberdade População: 15.134 habitantes Investimento: R$ 450.000,00 Origem: PAC Parceiro: Governo do Estado do Maranhão Aplicação: Reforma, ampliação e aquisição de equipamentos e mobiliário
CENTRO CULTURAL NOSSA SENHORA DA APRESENTAÇÃO NATAL (RN) Localizado no loteamento Vale Dourado, no bairro da Nossa Senhora da Apresentação, o Centro Cultural Multiuso será construído com objetivo de fomentar as atividades culturais da localidade. Seu espaço contará com auditório para palestras e apresentações artísticas, salas para oficinas e cursos, além de um biblioteca. A biblioteca contará com um acervo diversificado de publicações, sala para leitura, espaço para videoteca, hemeroteca, mapoteca, sala de jogos, salas de estudo individualizado e coletivo, espaço infantil e laboratório de informática com 22 computadores.
Localização: Loteamento Vale Dourado População: 16.664 habitantes Investimento: R$ 1.344.000,00 Origem: PAC Parceiro: Prefeitura Municipal de Natal Aplicação: Construção e aquisição de equipamentos, mobiliário e acervo
ESPAÇO MAIS CULTURA VILA NOSSA SENHORA DA LUZ CURITIBA (PR) O centro cultural multiuso irá enriquecer um terreno já dedicado à cultura, onde funciona o Circo Zé Preguiça, que oferece cursos de arte circense e espetáculos para a comunidade, e a Casa da Leitura Paulo Leminski, além de outros equipamentos públicos, como o Farol do Saber. O espaço contará com um cine-teatro com capacidade para 255 pessoas e um foyer, onde serão realizadas exposições e outras atividades.
Localização: Cidade Industrial – Vila Nossa Sra. da Luz População: 3.444 famílias Investimento: R$ 1.025.420 Origem: PAC Parceiro: Prefeitura Municipal de Curitiba Aplicação: Construção e aquisição de equipamentos e mobiliário
PROJETO CULTURAL ANIMANDO A CULTURA DA ILHA FLORIANÓPOLIS (SC) O Espaço Mais Cultura será instalado no casarão onde funciona a Fundação Vidal Ramos, que já realiza inúmeros projetos de suporte aos moradores do Maciço Morro da Cruz. Os recursos empregados serão dedicados à reforma e adaptação do local, onde serão oferecidos cursos e oficinas permanentes de desenho animado. O local contará com duas salas de produção, uma sala de roteiro e desenho, um estúdio para gravação de áudio e uma sala para o servidor.
Localização: Maciço Morro da Cruz População: 5.677 famílias Investimento: R$ 753.750,00 Origem: PAC Parceiro: Prefeitura Municipal de Florianópolis Aplicação: Reforma e aquisição de equipamentos de informática e mobiliário
ESPAÇO MAIS CULTURA ESCOLA POPULAR DE ARTE E CULTURA PLÍNIO MARCOS – SANTOS (SP) OO centro Espaçocultural Mais Cultura será instalado terá a gestão em umdo prédio Instituto de dois Arteandares no Dique e contará e contará comcom doissalas salões, parabanheiros oficinas edecopa. teatro, O cultura,terá dança, música,ponto estúdio gravação, som e luz, espaçoprojeções cibernético, seis banheiros, três salas espaço biblioteca, dede leitura e vai cabines oferecerde audições musicais, de filmes, ensaios, palestras, administrativas,teatrais, além decursos, um terraço. apresentações atividades de artes plásticas, além de acesso gratuito à internet e cursos de Sua estrutura será dedicada à oferecer oportunidades de transformação e desenvolvimento humano e social informática. 600 crianças, adolescentes, jovens e adultos da comunidade, por meio de ações educativas e de formação profissional dos participantes, nas várias profissões que o segmento da arte e da cultura oferecem. Serão oferecidos cursos e oficinas de percussão, dança, audiovisual, artes cênicas, customização, moda com materiais reciclados e educação ambiental.
Localização: Dique de Sambaiatuba/ Dique da Vila Gilda População: 23.500 pessoas Investimento: R$ 1.946.835,00 Origem: PAC Parceiros: Prefeitura Municipal de Santos Instituto Arte no Dique Aplicação: Construção
ESPAÇO MAIS CULTURA JARDIM NAZARÉ III SÃO PAULO (SP) O centro cultural será instalado em um prédio de dois andares e contará com dois salões, banheiros e copa. O espaço terá biblioteca, ponto de leitura e vai oferecer audições musicais, projeções de filmes, ensaios, palestras, apresentações teatrais, cursos, atividades de artes plásticas, além de acesso gratuito à internet e cursos de informática.
Localização: Comunidade Jardim Nazaré III População: 4.102 habitantes Investimento: R$ 78.000,00 Origem: PAC Parceiro: Prefeitura Municipal de São Paulo Aplicação: Aquisição de equipamentos e mobiliário
ESPAÇO MAIS CULTURA C4 ROCINHA - RJ Com o nome provisório de Centro de Convivência, Comunicação e Cultura (C4), o prédio de seis andares, construído no âmbito do PAC, hospedará uma biblioteca, áreas de exposição, cine-teatro com capacidade para 125 pessoas, duas salas multiuso, estúdio de gravação de áudio, núcleo de produção e edição audiovisual, área de café e convivência, restaurante-escola e cozinha industrial, além de uma horta orgânica. O espaço oferecerá acesso gratuito à internet, cursos de capacitação profissional em gastronomia, atividades de promoção à leitura, sessões cinematográficas e serviços diversos para portadores de necessidades especiais, entre outros.
Localização: Comunidade da Rocinha População: 100.000 habitantes Investimento: R$ 1.176.846,00 Origem: PAC Parceiro: Governo do Estado do Rio de Janeiro Aplicação: Aquisição de equipamentos, mobiliário e acervo
CRÉDITOS/FOTOS CAPA Mosaico com participantes de Florianópolis, Brasília, Belém, Natal, Campo Grande, Palmas, Fortaleza e Recife ABERTURA foto 1. Campo Grande - MS CARTA MINC foto 1. moradora do Sítio do Berardo, Recife - PE foto 2. participantes do Sítio do Berardo, Recife - PE foto 3. participantes em Palmas - TO foto 4. participantes em Palmas - TO ( foto: Julia Toro ) foto 5 . Florianópolis – SC CARTA ELOS MARIANA foto1. 2009- GSA foto2. 2007- GSA foto3. 2003- Oasis Praça Nagasaki, Paquetá - Santos - SP foto4. 2003- Oasis Praça Nagasaki, Paquetá - Santos - SP foto5. 2007- GSA CARTA ELOS THAIS foto 1. moradores e participantes – Campo Grande - MS foto 2. participantes em Recife - PE foto 3. participantes em Palmas - TO ( Foto: Julia Toro ) INTRODUÇÃO pág. 2 . Comunidades de Florianópolis, Brasília, Belém, Natal, Campo Grande, Palmas, Fortaleza, Recife pág. 3 . Morador - Sítio do Berardo - Recife
CAPÍTULO 1 – O OLHAR Capa. moradora da comunidade Monte Serat pág. 4. comunidade reunida em Campo Grande - MS págs. 5 e 6. Rocinha - Rio de Janeiro - RJ pág. 7. comunidades de Florianópolis, Brasília, Belém, Natal, Campo Grande, Fortaleza, Recife pág. 9. participante de Campo Grande - MS pag.10. moradora do Varjão, Brasília - DF pág. 11. participante no conjunto Ceará, Fortaleza – CE pág. 12 – participante no Sítio do Berardo - Recife - PE págs. 13 e 24 – morador – Sítio do Berardo - Recife - PE CAPÍTULO 2 – O AFETO Capa – moradores do Varjão, Brasília - DF pág. 17. participantesem Brasília - DF págs. 19 e 20. moradores de Palmas - TO pág. 21. moradores do Rio de Janeiro - RJ e participantes no Recife - PE pág. 22. moradores doSítio do Berardo – Recife – PE pág. 23. participantes em Curitiba - PR pág. 24. participantes em Brasilia - DF pág. 26. participantes e moradoresdo do Sitio do Berardo - Recife - PE, moradores de Florianópolis - SC, moradores de Brasília - DF, participantes - Natal - RN pág. 27. morador de Florianópolis - SC pág. 28. moradores de Brasília - DF CAPÍTULO 3 – O SONHO Capa. Sítio do Berardo, Recife - PE pág. 32. moradora do Sítio do Berardo, Recife - PE págs. 33 e 34 – moradores – Florianópolis pág. 35. Cartazes feitos por moradores em Palmas - TO pág. 37. maquete montada por moradores em Belém - PA pág. 38. moradores de Fortaleza - CE págs. 39 e 40. material usado em atividade em Fortaleza - CE págs. 41 e 42. moradores do Recife - PE
CAPÍTULO 4 – O CUIDADO Capa. morador de Brasília - DF pág. 45. trabalho realizado pelos moradores em Recife - PE págs. 47 e 48. maquete feita por moradoresem em Florianópolis - SC pág. 50. moradores reciclando o lixo em Brasília - DF pág. 51. morador de Florianópolis - SC pág. 52. maquete feita por moradores em Campo Grande - MS págs. 53. moradores do Sítio do Berardo, Recife - PE pág. 54. participantes e moradores celebrando em Brasília – DF CAPÍTULO 5 – O MILAGRE Capa. produtos manufaturados pelos moradores de Brasília - DF pág. 58. morador de Florianópolis - SC pág. 59. morador de Florianópolis - SC pág. 59. morador – Curitiba – PR img.5605 pág. 61. comunidades de Campo Grande - MS, Belém - PA, Recife - PE pág. 62. Cartaz na comunidade em Brasília - DF pág. 63. Comunidades de Recife - PE, Brasília - DF, Florianópolis - SC pág. 64. moradora do Sítio do Berardo, Recife - PE pág. 65. morador de Brasília - DF pág. 67. moradores de Brasília - DF pág. 68. moradora de Campo Grande - MS pág. 69 . Participantes e moradores em Santos - SP CAPÍTULO 6 – A CELEBRAÇÃO Capa. celebração em Recife - PE pág. 73. moradores e participanetes de Brasília - DF e do Recife - PE págs. 74 e 75. moradores do Recife - PE pág. 76. celebração em Brasília - DF pág. 77. celebração em Brasília - DF CAPÍTULO 7 – A REEVOLUÇÃO Capa. Imagem feita em Curitiba - PR pág. 82. moradores de Fortaleza - CE pág. 83. morador de Florianópoli - SC pág. 85 . participantes em Recife – PE, moradora de Natal - RN pág. 86. moradoresdo Recife - PE e de Belém - PA
LINHA DO TEMPO - MANDÁLA (de dentro para fora) foto 1. 1996- Grupo Reviver o Museu de Pesca, Santos - SP foto 2. 2000- GSA, Santos - SP foto 3. 1996- Museu de Pesca, Santos - SP foto 4. 2000- GSA foto 5. Arquivo Elos foto 6. 2007- Paquetá- Santos foto 7. 2006- Shambala - Canadá foto 8. 2007- GSA foto 9. 2007- GSA – Santos - SP foto 10. 2003- Oasis Paquetá – Santos - SP foto 11. 2007- GSA – Santos foto 12. 2010- Oasis India foto 13. 2009- GSA- Santos foto 14. 2001- Creche da Tia Nilda- Santos - SP foto 15. 2010- Oasis India LINHA DO TEMPO - CRONOLOGIA 1990. ELEA Chile-1995 1995. Praia do Goés, Guarujá - SP 1996. Museu de Pesca, Santos - SP 1999. GSA, Santos - SP 2000/2001. Creche da Tia Nilda, Santos - SP 2003. Oasis Paquetá, Santos - SP 2005/2006. Canadá 2007. GSA, Santos - SP 2008. Arquivo Elos 2009. GSA, Santos - SP 2010. Oasis India FOTO FINAL Participantes em Palmas - TO ( foto: Julia Toro )
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