Escola de Transformação - Um Guia Para Comunidades Empreendedoras

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Escola de Transformação Um Guia Para Comunidades Empreendedoras

Edição: Ricardo Oliveros Autores: Thaís Polydoro Ribeiro, Eleusina Lavor Holanda de Freitas, Ricardo Oliveros, Herbert Santo de Lima, Alexandre Alessio, Clarissa Borges Müller, Gabrielle Astier, Bruna Farine Milani Revisão: Mariana Felippe Projeto gráfico: Eleusina Lavor Holanda de Freitas e Bruno Matinata

Edição 2018



O que guia a

Escola de Transformação

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A Escola de Transformação tem como finalidade central incentivar moradoras e moradores a tornarem-se cidadãs e cidadãos ativos na aceleração e transformação do território, tornando-os responsáveis pela melhoria das condições urbanas, ambientais, econômicas, sociais, políticas e institucionais. Nosso método para unir pessoas é através da ação e do reconhecimento e valorização do que elas querem, gostam e fazem bem! A sala de aula é na vida real, e no lugar em que se vive! A estratégia de atuação permite unir diferentes perfis, pois:

- Apresentamos convites a partir das vontades de pessoas e instituições, que passam a atuar juntas com sua melhor versão – MOBILIZAÇÃO; - Desenvolvemos cursos com conteúdos teóricos que estimulam a troca de conhecimento entre os participantes, provocando o desenvolvimento de suas capacidades – FORMAÇÃO; - Desenvolvemos atividades em que as ações materializam os aprendizados e os sonhos coletivos – REALIZAÇÃO. Este é o resultado prático de uma trajetória de 4 anos como entidades parceiras do DIST. O Instituto Elos, atuando por dois anos na fase I do programa em 4 territórios da Baixada Santista, e a DEMACAMP, trabalhando no mesmo período no Residencial Bassoli, localizado em Campinas (SP), junto ao Instituto Pólis. Nestes dois últimos anos, formamos a parceria Elos e Demacamp, para atuar nos Residenciais Bassoli, Abaeté e Sirius. A intenção deste GUIA é mostrar uma metodologia que pode ser reaplicada em qualquer residencial Minha Casa Minha Vida (MCMV) para alcançar resultados práticos que atendem os eixos de Governança Territorial, Promoção Sociocultural, Gestão Ambiental e Dinamização Econômica. Além disso, promovemos relações de confiança e de coesão e aumentamos o senso de pertencimento e a apropriação do lugar. Esperamos que este guia sirva de inspiração para mais comunidades tornarem-se empreendedoras do seu futuro, que começa aqui e agora. │ 05


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índice


CARTAS OFICIAIS 08 Escola de Transformação é uma forma inovadora

de educação com comunidades (ELOS); 12 Construindo cidades mais justas! (DEMACAMP); 17 Desenvolvimento do território (GERSA); 20 Um novo olhar para o Minha Casa Minha Vida (GIHAB); 24 O QUE É DIST? 28 PRIMEIRO DESAFIO: CONHEÇA BEM O LUGAR ONDE VIVE 29 Você tem direito à cidade

O direito da população à cidade e à moradia digna 30 A inclusão urbana e o problema das desigualdades sociais

A participação social como meio de garantir os direitos 32 Por que fazer um diagnóstico? 34 Por onde começar? 36 37 40 41

SEGUNDO DESAFIO: FORME SUA COMUNIDADE

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TERCEIRO DESAFIO: JUNTE AS PESSOAS A PARTIR DE UM SONHO COMUM

Para qualquer questão, a resposta é a comunidade Fazer junto para chegar mais longe! Que tipo de parcerias devemos procurar?

Mobilização: oportunidades e problemas para resolver Dicas para mobilizar bem Mantenha o grupo animado e façam acontecer juntos Encontre para bater papo 47 Reúna com frequência

48 QUARTO DESAFIO: CONSTRUA UM CENÁRIO DE ABUNDÂNCIA NO SEU BAIRRO 49 7 passos da Metodologia Elos 68 71 72 73 74 76 78

QUINTO DESAFIO: APRENDA A FAZER A TRANSFORMAÇÃO

Criando projetos temáticos Como escrever um projeto? Associações e Cooperativas Quais as diferenças entre associação e cooperativa? Como conseguir apoio? Solução de conflitos e interesses

80 PALAVRAS FINAIS

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Escola de Transformação é uma forma inovadora de educação com comunidades O nome ELOS é a síntese do nosso trabalho: em nossa ação, comunidades e empresas, adultos e crianças, governos e sociedade civil vivem lado a lado, trabalham, e oferecem sua versão mais espetacular para realizar o melhor mundo para todas as pessoas. Para realizar o mundo que todos sonhamos, acreditamos que o caminho é transformar em comunidade. Atuamos no processo de desenvolvimento comunitário, e criamos ferramentas e metodologias que impulsionam projetos de pessoas e comunidades pelo mundo afora. O “aprender fazendo” está no centro de todas as atividades da Escola de Transformação, dentro do tripé Formação, Realização e Mobilização. Nosso objetivo é que os moradores entrem em movimento, e se desenvolvam como cidadãos ativos. Hoje em dia não basta mais ser um cidadão ou cidadã, apenas conhecendo nossos direitos e obrigações. A Cidadania Ativa é um conceito que se aplica a todas as pessoas que integram e se comprometem com sua comunidade. Seu próprio destino e o destino da comunidade estão fortemente atrelados. Ou seja, a cidadã ativa e o cidadão ativo se encontram absolutamente envolvidos em todos os assuntos relacionados à comunidade e à sociedade em que vivem e da qual participam. Esta segunda fase do Desenvolvimento Integrado e Sustentável do Território (DIST) teve como um dos grandes desafios estabelecer diferentes estratégias para os residenciais Minha Casa Minha Vida em Campinas. Cada um tem um perfil diverso: pessoas que vieram de remoções de diferentes partes de Cidade; público que foi sorteado pela Caixa; gente que queria morar lá. A pergunta chave foi: como fazer com que pessoas que não se conhecem queiram se reunir para fazer coisas juntas? │ 09


Ao longo de dois anos de atuação, foram feitas 101 reuniões de articulação estratégica e de parceria com 734 participações, 77 reuniões comunitárias com 1051 participações. Realizamos 60 eventos abertos para 2811 participantes. Aconteceram 108 oficinas e formações para 1858 participantes, além de 50 reuniões de acompanhamento de projetos. As comunidades empreenderam 104 ações com participação de 1970 moradoras e moradores. Ao todo, foram por volta de 500 ações com 8800 presentes. Uma das estratégias que deram resultado dentro da mobilização foram as Visitas de Inspiração. Foram visitados 11 projetos sociais de grande impacto, escolhidos por terem realidades próximas a dos residenciais e serem empreendimentos de sucesso. Assim, começamos a construir um cenário de abundância, longe da visão de escassez a que todas estavam acostumadas. Mostramos que sonhos em comum podem ser realizados quando colocamos a mão na massa em conjunto. Fizemos com que notassem que esses bairros têm muitos talentos e recursos. Antes ninguém os via, mas eles estavam lá todo o tempo. Estes talentos foram convidados por meio de um edital de iniciativas comunitárias, que deu origem a 9 projetos nas áreas de Infância, Cultura, Esporte, Geração de Renda e Educação. Estes projetos receberam um Fundo Semente e consultorias específicas, quando necessário. Isso reforça nossa crença no poder da comunidade. Nosso trabalho é conectar as pessoas ao redor de um sonho comum para construir algo verdadeiro, pois isso faz com que elas aprendam como acessar a diversidade em um ambiente de diálogo, compaixão e criatividade. Para fortalecer as capacidades individuais e as ações em equipe, realizou-se o curso Equipes Transformadoras que reuniu funcionários da Caixa, moradoras e moradores dos Residenciais e outras pessoas de Campinas para uma troca profunda de aprendizados. Se aprender fazendo é o princípio, fazer junto é o nosso método. Estabelecer parcerias ao longo de toda a Escola de Transformação foi importante para as pessoas perceberem que é possível ter experiências colaborativas de grande

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significado. Isso permite a compreensão de que podemos ter parcerias significativas com o poder público, empresas, universidades, associações, onde cada parte é convidada a fazer parte deste movimento e contribuir na construção de novos valores para a sociedade. A partir dessas ações, chegamos a resultados que vão além das mensurações que fazem parte do nosso relatório final, e ficamos felizes por: Realizar uma experiência viva de transformação através de um aprendizado com potencial multiplicador para questões sociais do mundo; Aumentar a autoconfiança e a autoestima das pessoas, gerando um ciclo positivo pelo aprendizado prático sobre si, sobre as outras pessoas, e transformar sua realidade com abundância; Impulsionar a transformação real no ambiente, reduzindo a tensão e o desconforto social; Melhorar o convívio e o bem-estar nas comunidades; Criar uma abertura para o diálogo e o estabelecimento de relações de afeto e confiança que são a base para os projetos de desenvolvimento local. Esta é a nossa colaboração para o DIST: demonstrar uma metodologia inovadora e replicável que apoia a unificação das políticas públicas, construindo uma ação conjunta com diferentes atores envolvidos no tema da Habitação, na qual a participação social esteja no centro, com as pessoas sendo vistas como pessoas, e não como números e estatísticas. Por fim, e não menos importante, queremos agradecer profundamente às moradoras e moradores, a cada pessoa que representou o poder público, às instituições, às fundações que fizeram a diferença nesta jornada. Sua participação foi decisiva para chegarmos até aqui.

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Construindo cidades mais justas! A história da Demacamp tem sido olhar para as cidades, áreas urbanas e rurais, reconhecendo as formas mais diversas de usar o território. Compreender essa diversidade significa mergulhar no conhecimento das pessoas que ali vivem: saber quem são, como habitam, onde trabalham, de onde vieram e também o que sonham. Planejamos cidades, auxiliamos governos na construção de políticas públicas mais includentes. Mas aprendemos que isso só é possível quando envolvemos as pessoas que moram e vivem nelas! Entendemos que para planejar a cidade, é preciso sonhar a cidade que queremos, reconhecer o outro, o vizinho, a região. Assim, o conhecimento do território, do bairro e da região são instrumentos que contribuem para o acesso e o direito à cidade com tudo que ela pode oferecer. A cidade é um bem coletivo, um compartilhamento de interesses, expectativas e usos que se diferenciam entre os grupos sociais que nela vivem e a usam. Ao longo de seus quase vinte anos de história, a Demacamp ajudou a construir algumas transformações no espaço de cidades brasileiras, na demarcação de áreas para moradia de interesse social, na definição de instrumentos legais de compensação financeira que pudessem financiar projetos de interesse público e social, na construção de esferas democráticas de participação social. Tem sido nosso desafio juntar os diferentes atores, segmentos, moradoras e moradores buscando um consenso sobre uma cidade para o futuro. Proteger territórios urbanos da especulação imobiliária desenfreada, garantir terra para moradia social, área rural para produção de alimentos e proteger áreas de manancial da ocupação urbana têm sido nossas metas. Na Escola de Transformação, o papel da Demacamp tem sido inserir a iniciativa “Ação de Desenvolvimento Integrado Sustentável do Território” (DIST) no contexto das políticas públicas estabelecidas pelo Estado, Município e União. Os desafios encontrados ali são resultado, em última instância, do arranjo político e institucional que desenhou o Programa Minha Casa Minha Vida e da forma como o Poder Público local o implementou. │ 13


Assim como em outras cidades brasileiras, a expansão urbana de Campinas foi marcada pelo predomínio da expansão horizontal, produzindo uma mancha urbana espalhada, que também deixou grandes vazios e áreas de ocupação rarefeita, especialmente na direção Sudoeste. Nesse eixo, consolidou-se um padrão de urbanização caracterizado pela precariedade dos assentamentos urbanos. Esta expansão urbana, de acordo com Maria Conceição Silvério Pires, em “Evolução da Mancha Urbana”, gerou uma mancha extensa, encarecendo e dificultando a distribuição de infraestrutura e de equipamentos sociais urbanos por causa do tipo de parcelamento para fins urbanos, e induzida pela localização dos conjuntos habitacionais, e pela implantação de indústrias e equipamentos urbanos de grande porte. Nossa vivência na periferia de Campinas vem da década de 1990, quando participamos da elaboração do Plano Local de Gestão Urbana da Região do Campo Grande, onde estão localizados o Jardim Bassoli e o Residencial Sirius. Em 2009, coordenamos a elaboração do primeiro Plano de Habitação da Região Metropolitana de Campinas (RMC), constatando um elevado déficit habitacional nesta região. Em 2011, estreitou-se nossa relação com o movimento de moradia, quando acompanhamos o Conselho Municipal de Habitação na construção do Plano Municipal da Habitação de Campinas. Nesse período, enquanto de um lado discutíamos os rumos da política de habitação no âmbito da Prefeitura e Conselhos, de outro estavam sendo construídos os empreendimentos do Programa Minha Casa Minha Vida no Jardim Bassoli, Residencial Sirius e Vila Abaeté, locais onde se realizou a Escola de Transformação.

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Projetos habitacionais devem conseguir, como escreveu Jane Jacobs, em “Morte e Vida nas Grandes Cidades”, que seus “moradores neles permaneçam por livre escolha. Isso quer dizer que eles devem ser seguros e também viáveis para a vida urbana (…) na sua reintegração à estrutura urbana, estes projetos precisam adquirir as virtudes de uma estrutura urbana sadia”. Portanto, transformar nossos conjuntos habitacionais em cidade é o nosso maior desafio. Planejar a política de habitação é parte da nossa missão, e compreendemos nesse processo a grande necessidade de desenvolver a autonomia das comunidades ajudando-as a pensar estratégias para concretização de cidades mais justas e includentes. Fazer acontecer em política pública, para quem vive a cidade, significa compreender a correlação das forças que atuam no espaço urbano, reconhecendo seu próprio papel e tornando-se protagonista de sua história. Para nós, o projeto Escola de Transformação é a oportunidade de nos aproximarmos das comunidades que vivem nos espaços produzidos pela atual política pública. Ele possibilita compreender estes espaços sob o olhar daquele que vive, que usa, que se desloca, descobrindo juntos oportunidades de transformação dos territórios de chegada em parte da cidade.

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Desenvolvimento do território A CAIXA, nos seus 157 anos, tem pensado diferente como instituição financeira voltada para pessoas que é. Atuando muito além de que como um banco, apoiou as pessoas negras escravizadas na conquista da liberdade, foi uma das primeiras empresas a contratar mulheres e ajudou na promoção de uma mudança de patamar para 36 milhões de brasileiros que encontravam-se em situação de miséria. Sempre estabeleceu vínculos estreitos com a população do país por meio da sua atenção enquanto agente de políticas públicas, atendendo a necessidades imediatas em relação a benefícios sociais, financiamento da casa própria e saneamento. O amadurecimento da CAIXA quanto à compreensão dos impactos potenciais de sua atuação – tanto como provedora de serviços financeiras quanto como parceira estratégica do Governo Federal – resultou no desenvolvimento da metodologia de Desenvolvimento Integrado e Sustentável do Território (DIST), que é uma estratégia sustentável de desenvolvimento territorial com atuação sistêmica, interconectando as dimensões de governança territorial, dinamização econômica, promoção sociocultural e gestão ambiental, tendo como base o protagonismo das comunidades locais na sua condução, juntamente com a articulação de parcerias e redes de apoio aos territórios nos quais os projetos são implementados. Por meio dessa metodologia, projetos que propõem soluções de desenvolvimento local, integração de políticas públicas e melhor adequação de espaços de convivência social são apoiados, a fim de promover a cidadania, dinamizar economias, melhorar a gestão ambiental e fortalecer a governança territorial. A metodologia DIST conta, para viabilizar a sua aplicação, com o apoio direto de investimento do Fundo Socioambiental - FSA CAIXA. Como parte de seu compromisso com a sustentabilidade, a Caixa criou em 2010 o Fundo Socioambiental – FSA CAIXA, que tem como objetivo efetuar aplicações destinadas especificamente a apoiar projetos e investimentos de caráter social e ambiental, que se enquadrem em programas e ações da CAIXA, principalmente nas áreas relacionadas ao desenvolvimento sustentável – o DIST é atualmente aplicado em áreas com empreendimentos do Programa Minha Casa Minha │ 17


Vida. Além disso, abrange comunidades ribeirinhas atendidas por agênciasbarco na região amazônica. Sua aplicação mobiliza parcerias com entidades especializadas, reconhecidas pela experiência em desenvolvimento territorial local. Desde o início de aplicação da metodologia, já são 18 projetos em 91 empreendimentos Minha Casa Minha Vida, executados ou em execução. De 2013 a 2017, foram investidos mais de R$ 24 milhões via FSA CAIXA, apoiando mais de 50 mil famílias em todas as regiões do país. Existem várias ações que podem ser destacadas nas intervenções DIST junto aos mais diversos territórios brasileiros, sempre vinculadas a cada uma das cinco dimensões da metodologia: estruturação de fóruns comunitários locais de governança, instalação de centro de gestão e negócios congregando empreendimentos associativos incubados pelo projeto e banco comunitário, promoção de curso de gestão de conflitos para a comunidade, mostra de vídeos após oficina elaborada para e com a comunidade do território e mutirão ambiental para atividades de plantio, reciclagem, compostagem, limpeza da área, sistema de irrigação inteligente e técnicas de plantio por clonagem de plantas. Ao término do trabalho do DIST num determinado território, a CAIXA acredita ter criado, em parceria com o agente executor do projeto, uma base sustentável para a continuidade das ações alicerçadas em instâncias de governança territorial ativas e reconhecidas, planos estratégicos plurianuais constituídos, parcerias públicas e privadas pactuadas e instaladas. É importante também frisar a importância do desenvolvimento de senso de coletividade para elevação do sentido de pertencimento da comunidade, apropriação, manutenção e conservação do patrimônio natural e cultural, além da sistematização das tecnologias sociais utilizadas nos projetos visando à sua reaplicabilidade em outros territórios, quando assim apontarem necessário os mapeamentos e diagnósticos realizados nos pré projetos. GERSA

Gerência Nacional de Sustentabilidade e Responsabilidade Socioambiental da CAIXA

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Um novo olhar para o Minha Casa Minha Vida O lançamento do Programa Minha Casa Minha Vida (PMCMV) em 2009 constituiu-se em um importante marco na política de habitação de interesse social no país. Até hoje, em 2018, foram contratadas mais de 5,1 milhões de unidades habitacionais, das quais cerca de 1,8 milhão na Faixa I, voltadas para o atendimento das famílias com menor renda. O PMCMV também deu um passo à frente ao prever, para os empreendimentos da faixa I, a realização obrigatória do trabalho social junto às famílias beneficiárias, a fim de permitir uma melhor apropriação da nova moradia. Em que pesem todos esses avanços, o desafio de entregar tantas moradias em tão curto espaço de tempo – o programa sequer completou 10 anos – trouxe consigo dificuldades para todos os atores envolvidos nessa política pública: o Ministério das Cidades, estados e municípios, construtoras, instituições financeiras oficiais e, evidentemente, as famílias beneficiadas pelo programa. A situação não foi diferente no município de Campinas/SP, onde foram entregues mais de 8 mil novas moradias. Destas, 6.888 se concentram em três empreendimentos: Residencial Jardim Bassoli (2.380 Unidades Habitacionais), Residencial Sírius (2.620 UH) e Residencial Vila Abaeté (1.888 UH). A população residente é oriunda de todas as regiões do município, não apenas daquelas nas quais os empreendimentos foram construídos. Também se observa grande heterogeneidade entre as famílias que foram habitar nesses residenciais. Diante desse quadro, o trabalho social deparou-se com o desafio de atuar nesse contexto de territórios de chegada, ou seja, territórios em que as relações de solidariedade social e de integração com o espaço urbano ainda não estavam constituídas. Nesse sentido, a Gerência Executiva de Habitação - Campinas/SP, teve a grata satisfação de contar com a atuação de dois projetos com a metodologia DIST em nosso município: primeiro, o DIST – fase I, realizado pelo Instituto Pólis e Demacamp, no Residencial Jardim Bassoli; e atualmente, o DIST – fase II, sob responsabilidade do Instituto Elos em parceria com a Demacamp, projeto que foi batizado como “Escola de Transformação para Comunidades Empreendedoras”, │ 21


com atuação nos residenciais Jardim Bassoli, Sírius e Vila Abaeté. A realização desses projetos, além dos evidentes resultados para as comunidades residentes nos empreendimentos, nos proporcionou um inestimável aprendizado. Particularmente no que diz respeito ao “Escola de Transformação”, levaremos conosco as lições e a inspiração de uma maneira inovadora de mobilizar pessoas e realizar sonhos. Trata-se da Filosofia Elos, fundada nas seguintes etapas: Olhar, Afeto, Sonho, Cuidado, Milagre, Celebração e Re-evolução. Essa filosofia se traduz numa outra postura diante da realidade, voltada para o reconhecimento dos seus aspectos positivos e das suas potencialidades (na terminologia da Filosofia Elos, as belezas e os talentos), elementos a partir dos quais os sonhos coletivos podem ser realizados. E é a partir de sonhos comuns que as pessoas se mobilizam e colocam à disposição, umas das outras, aquilo que têm de melhor, constituindo por meio desses elos, redes cada vez mais fortes e capazes de transformar a realidade social. Merece destaque a capacidade de se passar, num curto espaço de tempo, das ações mais sutis e intangíveis (conexão entre as pessoas, identificação das belezas locais, compartilhamento de sonhos) para ações práticas que concretizam os desejos comuns. Assim, fica evidenciado o potencial que as comunidades têm de criar o seu melhor mundo hoje. A partir daí, as perspectivas que se abrem são animadoras: quem colocou a “mão na massa” se vê instigado a recomeçar o ciclo em novos projetos; já quem não participou das ações por vezes muda substancialmente algumas crenças e atitudes ao observar a grandeza dos resultados que se apresentam diante de seus olhos. Por tudo isso, expressamos nossa imensa gratidão pela oportunidade de acompanhar o trabalho realizado pelo Instituto Elos em conjunto com a Demacamp, ao mesmo tempo em que nos sentimos desafiados a disseminar e replicar tudo aquilo que aprendemos nessa experiência inspiradora, de modo que mais famílias beneficiadas pelo PMCMV possam transformar positivamente suas realidades. Gerência Executiva de Habitação CAIXA - Campinas/SP

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o que é DIST? A CAIXA, através do Desenvolvimento Integrado e Sustentável do Território (DIST), realiza ações que estimulam o desenvolvimento e a sustentabilidade nas comunidades formadas por conjuntos habitacionais do Minha Casa Minha Vida, com articulação de parcerias e redes de apoio aos territórios com projetos que propõem soluções de desenvolvimento local. Esta iniciativa apoia a integração de políticas públicas e a melhor adequação de espaços de convivência social, a fim de promover a cidadania, dinamizar economias, melhorar a gestão ambiental e fortalecer a governança territorial.

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Quais as pistas para entender se estamos caminhando para o chamado DIST?

1. Quando a comunidade desenvolve suas capacidades, participa das decisões e ações para melhoria do bairro, realiza reuniões periódicas entre seus moradores e sabe claramente o que precisa ser feito nos próximos 2 anos, ela está caminhando para seu desenvolvimento dentro do tema GOVERNANÇA TERRITORIAL; 2. Quando a comunidade busca e estabelece relações de parceria com instituições governamentais (prefeitura, governo estadual e governo federal), com escolas e universidades, com organizações da sociedade civil, ela também está dentro do tema GOVERNANÇA TERRITORIAL; 3. Quando a comunidade promove a qualificação profissional e empreendedora, apresenta iniciativas de geração de renda conduzidas por moradores, cria ou melhora frentes de comercialização dos talentos locais, ela está na rota para o seu desenvolvimento dentro do tema da DINAMIZAÇÃO ECONÔMICA; 4. Quando a comunidade acessa práticas culturais e educativas (arte, cultura, lazer, esporte, saúde e educação básica) dentro do bairro ou na cidade, possui moradores com a função de comunicar o que acontece lá, seja por jornal comunitário, rádio, Facebook, ou outros meios, realiza iniciativas socioculturais a partir de seus moradores no território, a comunidade está caminhando para seu desenvolvimento dentro do tema PROMOÇÃO SOCIOCULTURAL; 5. Quando a comunidade realiza iniciativas para melhoria do meio ambiente, revitaliza, se apropria ou constrói espaços coletivos com a participação dos moradores nas decisões do desenho e implementação e realiza iniciativas socioambientais, a comunidade está caminhando para seu desenvolvimento dentro do tema GESTÃO AMBIENTAL.

A escolha é de cada comunidade, que define suas prioridades e estratégias de participação e implementação. Antes de se colocar em movimento, é importante conhecer profundamente o lugar onde você vive. 26 │


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Primeiro desafio:

Conheça bem o lugar onde vive

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Você tem direito à cidade A Escola de Transformação traz o conceito de moradia digna como sendo aquela ligada às redes de infraestrutura, e ter acesso ao transporte público, água, esgoto, luz, coleta de lixo, telefone, pavimentação, e ser servida por equipamentos sociais básicos de educação, saúde, segurança, cultura e lazer; dispor de instalações sanitárias adequadas, e ter garantidas as condições mínimas de conforto ambiental e condições de morar, de acordo com padrões técnicos, como está descrito no Projeto Moradia do Instituto Cidadania.

O direito da população à cidade e à moradia digna A moradia extrapola o espaço particular e construído da casa. Faz parte do morar a relação da casa com seu entorno. O acesso aos serviços básicos define a situação de bem-estar de uma família no local onde mora. A elaboração do Plano de Desenvolvimento Integrado e Sustentável do Território (DIST) propõe uma série de estratégias para o avanço das dimensões econômicas, sociais, ambientais, políticas e institucionais, que existam projetos que colaborem para o crescimento e aumento de produtividade , com melhoria do bem-estar da população, e que os moradores sejam responsáveis e ativos na resolução de suas questões centrais e na formulação de parcerias. Desta forma visa atingir a transformação positiva da qualidade de vida das famílias, tendo como principal papel “costurar novamente esse projeto, esse retalho da cidade, na trama urbana – e ao mesmo tempo, fortalecer toda trama ao redor”, como escreveu Jane Jacobs, em Vida e Morte nas Cidades.

Um dos principais atributos de um bairro próspero é que as pessoas se sintam seguras e protegidas na rua. Para isso é necessário construir redes sociais de vigilância pública, redes de confiança e controle social.

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A inclusão urbana e o problema das desigualdades sociais Partimos da ideia de que é preciso evitar tratar bairros como unidades autossuficientes ou que não se relacionam com a cidade. O eixo metodológico está em inseri-los na vida urbana, considerando que as famílias moradoras dos projetos Minha Casa Minha Vida, de uma maneira geral, foram trazidas de áreas precárias, porém melhor localizadas, e situadas nas mais variadas regiões da cidade. Algumas foram transferidas por mais de uma vez, tendo passado pelo aluguel social. Elas provavelmente perderam alguns laços sociais originais. O objetivo é fazer com que os moradores destes residenciais permaneçam morando no conjunto por livre escolha e não pela falta de opções. Tivemos como meta a reconexão dos bairros com a cidade, buscando iniciar um processo crescente e contínuo de melhorias no bairro, que necessariamente deverão ser assumidas pelo poder público local. Os princípios e valores que orientam o projeto afirmam que os programas habitacionais devem estar integrados às políticas urbanas e sociais e respeitar o meio ambiente. Nesse sentido, as políticas públicas são concretização de direitos sociais, por meio dos quais são redistribuídos bens e serviços em resposta às solicitações das comunidades. O direito à cidade é feito com a participação da sociedade civil organizada, com o poder de influir nas decisões e as condições que afetam nossas vidas.

A participação social como meio de garantir os direitos Estimular a participação dos moradores é fundamental para torná-los responsáveis pelas políticas sociais. Para isso, é necessário investir na formação, mobilização e organização local, nas articulações com outros grupos e movimentos sociais, na participação nos espaços existentes de diálogo e negociação com o governo, como os conselhos gestores de políticas setoriais, que são canais institucionais, permanentes, autônomos, formados por representantes da sociedade civil e poder público, cuja função é a de propor diretrizes das políticas públicas, fiscalizá-las, controlá-las e deliberar sobre elas. 30 │


A Constituição de 1988 passou a exigir a participação da sociedade civil nos processos de definição da política urbana e social. O Estatuto da Cidade veio a reforçar estas exigências , obrigando a promoção de debates com a participação da população e de associações representativas dos vários segmentos da comunidade, no processo de elaboração dos Planos Diretores. Entretanto, é preciso considerar a complexidade das disputas travadas no âmbito local e a necessidade de mediação dos conflitos entre o direito privado e o interesse público. Espera-se que o processo participativo possa ser um instrumento capaz de influir diretamente na aplicação de recursos públicos. A questão da cidade e da habitação apresenta-se como um desafio complexo dentro das políticas públicas, marcada por inúmeras contradições decorrentes do crescimento desordenado, do aumento da população por m2, dos conflitos sociais e do enorme déficit habitacional. Ao lado disso, temos as intervenções urbanas dos governos e das empresas, que durante décadas não responderam às demandas populares. Sem dúvida, em programas como o Minha Casa Minha Vida, onde se observa a implantação de grandes conjuntos, o tema da inclusão urbana dos empreendimentos ganha relevância à medida que se observa que os conjuntos em geral estão localizados predominantemente em áreas menos valorizadas das cidades, marcadas pela ausência de equipamentos urbanos e sociais, o que traz impactos urbanos e sociais para a cidade e quem nela vive. A Escola de Transformação atuou de diversas formas no âmbito da política pública: na formação e capacitação das moradoras e moradores, capacitação de outras pessoas envolvidas, agentes públicos ou privados e na mediação de encontros voltados à conciliação sobre as questões divergentes. Foram levantadas as necessidades estruturais para as comunidades, relacionadas ao acesso aos serviços básicos: saúde, educação, lazer. Sobre isso, a ação da Escola de Transformação fez articulações estratégicas, mediação de conflitos entre gestão e população, bem como a facilitação e encaminhamento de proposições levantadas junto à população.

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Por que fazer um diagnóstico? Sabe quando não estamos nos sentindo bem e vamos ao hospital? Muitas vezes, além de explicar o que estamos sentindo, ou seja, os sintomas, são pedidos vários exames para ter uma visão mais precisa, o chamado diagnóstico, e receitar o tratamento correto. A mesma ideia pode ser aplicada em relação aos problemas das cidades. O diagnóstico urbano é um documento complexo. Primeiro mostramos como ele funciona, e no final damos dicas por onde você pode começar a fazer o seu. Entender o território de maneira ampliada na escala do bairro, região e cidade é condição para propor uma estratégia eficaz de transformação. Para se verificar a vitalidade de um espaço urbano é necessário examinar o funcionamento urbano e econômico deste espaço. Podemos dizer que para se fazer um diagnóstico é necessário: 1. Levantar e organizar diversas informações. A busca de informações inicia na prefeitura, coletando dados oficiais. Se o dado não está disponível nas secretarias, é necessário localizar os estudos de planejamento que temos na cidade: Plano Diretor, Meio Ambiente, Transporte, Rede de Educação e Saúde, Transportes, Legislação. A análise deve-se dar sob o ponto de vista da quantidade de equipamentos e serviços disponíveis e como acontecem os acessos e atendimento aos serviços básicos; 2. Analisar a infraestrutura do ponto de vista da microrregião (conjunto habitacional e bairros vizinhos). Por exemplo, os números de vagas disponíveis ou listas de espera nas escolas podem ser muito eficientes como defesa e argumento para os moradores exigirem a construção de uma nova escola no empreendimento onde moram. A carência de áreas públicas vazias na região pode colocar em vantagem o conjunto habitacional que tem uma área disponível para a construção de um novo equipamento social;

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3. Analisar as leis de zoneamento significa compreender qual é o futuro da vizinhança do meu bairro: industrial, comercial, estritamente residencial. Esse conhecimento pode ajudar a entender, por exemplo, porque é tão difícil ter comércio perto da minha casa, ou mesmo compreender que estou ao lado de uma área de produção agrícola, onde os vizinhos estão muito preocupados com a qualidade de seus rios e córregos, ou com a destino dos esgotos e com o assoreamento causado durante a construção do empreendimento. A análise da legislação ajuda a entender por que não foi exigido mais área pública no meu bairro; porque a rua é estreita; por que as áreas públicas estão fechadas com alambrado. A lei responde a estas perguntas; 4. Analisar o desenho urbano dos bairros para entender quais são as áreas públicas que podem vir a ser usadas por todas as pessoas no futuro. Arborização, limpeza e existência de equipamentos públicos também são bons para entrar na lista. A análise de quantas pessoas moram por metro quadrado pode ajudar a compreender porque é importante o surgimento de estabelecimentos comerciais mais próximos. Pode uma quadra com mais de 1.000 famílias morando não possuir um comércio ou conter a expansão informal dele? Ruas largas e calçadas amplas permitem a acomodação adequada do comércio, bem como áreas condominiais em nível com a rua podem ser uma oportunidade para implantação de comércios abertos para a rua; 5. Calcular os trajetos e distâncias percorridas pelas pessoas no dia a dia não é complicado, e dá condições para se avaliar o funcionamento da vida urbana neste local. Fez sentido a população se deslocar por quilômetros diariamente para acessar uma escola, um posto de saúde ou mesmo seu trabalho?; 6. Conhecer o planejamento da prefeitura e saber onde já estão previstos investimentos será fundamental na construção da melhor estratégia de ação; 7. Entender como a vida se organiza no espaço em cada condomínio. Perceber os muros que se erguem fechando a visão das ruas, os comércios improvisados que surgem, os usos que vão se organizar no espaço disponível: dentro ou fora do condomínio, na calçada, nas praças, ou mesmo nos apartamentos. Como se dá a apropriação dos espaços públicos e privados dos empreendimentos do Programa Minha Casa Minha Vida? │ 33


Levantar este conjunto de desafios e oportunidades direciona o processo para a construção de um plano de ação, um plano estratégico, capaz de mobilizar e envolver moradoras e moradores, gestoras e gestores públicos e empresas, tendo como meta resolver as demandas de curto prazo e também o planejamento do atendimento das carências estruturais, que dependem do Estado para acontecer: saúde, educação e lazer. A realização de um diagnóstico tem como resultado o mapeamento de oportunidades e desafios relacionados ao território. Ao realizar a leitura, identificamos qualidades e demandas e também desafios e potencialidades. Se, por um lado, há um número expressivo de questões a serem atendidas sobre o acesso aos serviços básicos, por outro, descobrimos muitas oportunidades nos empreendimentos onde atuamos

Por onde começar? O planejamento urbano é um caminho a se percorrer para alcançar o futuro desejado, através dos sonhos desejados para melhor qualidade de vida, de uma visão de futuro clara para a cidade e suas diferentes regiões, e de um conjunto de ações, propostas e projetos para realizar o que se quer. Para fazer seu diagnóstico:

1. Conheça bem o seu bairro: • Quais são as grandes características do seu bairro ou residencial?; • Conheça e anote as histórias das pessoas, o que está acontecendo de bom no local, liste os principais problemas; • Quem são os moradores, de onde vêm, o que fazem, qual é o número de famílias e crianças?; • Quais as áreas de lazer? Quadras de esporte, praças, pistas de caminhada; • Quais os equipamentos públicos? Creche, escola, posto de saúde, transporte.

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2. Construa uma visão de futuro • Quais são os sonhos coletivos para o bairro? Importante fazer uma lista e chegar a uma conclusão com o maior número de moradoras e moradores. • O que pode ser melhorado no seu bairro? Construa as respostas para diferentes períodos: nos próximos meses, 2 anos, 4 anos, 10 anos. Mesma história: discuta com todo mundo. Podem ser organizadas pequenas reuniões no começo, como por condomínio, por exemplo, e irem reunindo os resultados até chegar a uma lista final.

3. Conheça a Prefeitura • Quais são os principais meios e órgãos de atendimento ao público?; • Liste as principais secretarias que são responsáveis pelas coisas que seu bairro precisa, como Educação, Transporte, Obras, por exemplo; • Quais são os planos existentes para sua área?; • Quem são as parcerias, organizações, fundações, universidades, ONGs que podem colaborar nesta etapa?

4. Com os dados acima, liste o que pode ser melhorado no seu bairro em 2 fases: • O que pode ser feito agora (pintura, plantio, pedidos para cada órgão ou secretaria da prefeitura, como retirada de entulho, troca de lâmpadas, conserto de calçadas, tapa-buracos); • O que pode ser feito em 2 anos (novas construções, implantação de praças, escolas, creches); • Pense que isto é um começo e que é preciso ter muita paciência e insistência. Tenha consciência de que as primeiras conquistas podem demorar. Desistir não é uma opção!

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Segundo desafio:

forme sua comunidade 36 │ ­


Para qualquer questão, a resposta é a comunidade Aristóteles, filósofo da Grécia Clássica, mostrou que o ser humano tem necessidade de viver em conjunto. Sua forma de ser integral só acontece em comunidade. A palavra comunidade vem do Latim COMMUNITAS, “comunidade, companheirismo”, e de COMMUNIS, “comum, geral, compartilhado por muitos, público”. Os aimarás, povo indígena, estruturam sua forma de organização social e econômica através da unidade básica do Ayllu (comunidade), rede interconectada de vínculos sociais e parentesco espiritual que fornece o fundamento da vida. Muito tem se falado, em tempos de tecnologia e redes sociais, nas comunidades virtuais, que têm ligações por interesses em comum, mas que ultrapassam a ideia de que comunidade só acontece através de relações que se dão em um mesmo território. Podemos perceber que o conceito de comunidade atravessa a maioria de culturas em diversos períodos, estruturando suas bases e inspirando relações de solidariedade em sociedades antigas e modernas. Muito se fala do isolamento pessoal nas cidades, na distância que a internet criou do mundo real, e fica a pergunta: é possível construir comunidades? Sabemos que ao deixar de viver em união, acabamos não só enfraquecendo cada pessoa, como desaceleramos a evolução e as conquistas coletivas que nós herdamos. Porém, carregamos as memórias desse modelo de vida e podemos recuperá-lo. Para inspirar a reativação deste sentimento comunitário, buscamos as comunidades tradicionais. Kaká Werá, criador do Instituto Arapoty, que está conosco desde o princípio do Instituto Elos nos trouxe o termo Tekoá, que significa aldeia guarani, ou ainda, “comunidade boa para se viver”.

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O termo não se refere apenas ao lugar habitado, conhecido por maloca, mas significa o lugar do modo de ser guarani, sendo este tekó (modo de ser) entendido como um conjunto de princípios para a vida, que fazem parte das regras cosmológicas herdadas pelos antigos guaranis. Para construir a maloca, é feita uma grande reunião para distribuir as tarefas, buscar recurso e fazer a construção. Tudo é regido por 4 grandes regras:

01. Respeito ao diferente; 02. Respeito pela arte de fazer os acordos; 03. Entendimento profundo do significado do que é família, e que esta não é composta apenas pelos laços consanguíneos, mas por quem ali mora, pelos animais das redondezas, e o próprio lugar onde moram, que é considerado como algo vivo; 04. Reconhecimento de que somos interdependentes.

Em cada uma de nossas ações, queremos no fundo transmitir esta mensagem: é possível nos reconectarmos a esse sentimento e criar um senso de pertencimento e cuidado entre as pessoas e os lugares. No Instituto Elos, e na Escola de Transformação, enxergamos comunidades em todos os lugares que nós atuamos, em especial quando reconhecemos uma conexão comum seja em um bairro, escola, ou empresa. O nosso ideal é quando conseguimos enxergar ou ajudar a criar um propósito comum, que faz com que uma pessoa apoie a outra na construção de um bem comum.

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Por isso que dentro da Filosofia Elos fazemos um grande esforço para ouvir o maior número de histórias das pessoas e encontrar fatos que nos conectem e cultivem laços afetivos, criando um ambiente de confiança propício para o surgimento dos sonhos coletivos que serão materializados.

Agir para algo maior Uma comunidade pode empreender grandes melhorias no seu bairro a partir de uma visão de futuro compartilhada por todo mundo que está comprometido com a transformação local. Quais as qualidades que precisamos reunir para seguir em movimento? • Ter sonhos de transformação que trazem impactos positivos para o coletivo; • Criar caminhos e parcerias para alcançá-los; • Buscar os direitos através das diferentes políticas públicas; e • Fazer acontecer de forma colaborativa a partir dos recursos e talentos existentes. Entendemos desenvolvimento comunitário como a capacidade de uma comunidade realizar coletivamente seus melhores projetos. Para unir pessoas na ação, acreditamos na estratégia de reconhecer e valorizar o que elas querem, gostam e fazem bem! Temos certeza que todo mundo tem um sonho! Isso significa que perto de você tem outras pessoas que compartilham sonhos parecidos e é preciso encontrá-las e reconhecê-las para materializarem, juntas, esse desejo coletivo!

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Fazer junto para chegar mais longe! Acreditamos que a melhor forma de fazer acontecer é FAZER JUNTO. Queremos realizar o encontro de vontades e vocações. Valorizamos e investimos na aproximação de iniciativas inspiradoras capazes de provocar aprimoramento e evolução. Assim, o critério no processo de busca de relações de parceria é a conexão pelo propósito e complementaridade de ações. O segredo é reconhecer que a parceria ocorre na comunicação PESSOA a PESSOA. Neste contexto, nascem relações autênticas a partir do compartilhamento de valores, crenças e premissas em comum. Descobrir o que dá liga e provocar a ação conjunta através de um projeto materializa, nutre e exercita a admiração e confiança – elemento básico para manter as parcerias. Além disso, movimentar e cultivar simultaneamente diferentes setores da sociedade - poder público, iniciativa privada e terceiro setor - com diferentes estratégias de engajamento, como participação, doação de recursos humanos, doação de recursos materiais, doação de recursos financeiros, permutas etc, fortalece a atuação em rede e garante o alcance dos resultados.

DICA • Pesquise e defina pessoas ou organizações com atividades similares às que está pensando em desenvolver. Faça uma visita ou reunião, conheça de perto e compartilhe sua visão de mundo e ideias. Pense assim: o objetivo deste contato é entender se existe de fato proximidade de propósito e valores, e se é possível fazer junto sem gerar novo trabalho ou investimento extra às partes.

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Que tipo de parcerias devemos procurar Uma vez que existe clareza da causa e do que se pretende fazer, o passo seguinte é definir a lista de talentos e recursos necessários para realizar o planejado. O mapeamento de parcerias ocorre a partir desta identificação, ao cruzar sinergias, valores e propósitos e do levantamento dos contatos da rede pessoal dos envolvidos. Deve-se apresentar as oportunidades de parceria a partir de relações próximas - por exemplo, a vizinha de porta, a empresa em que trabalha, o comércio que a comunidade utiliza no dia a dia, a diretora da escola que as crianças do bairro frequentam etc. Esse exercício de criar relacionamento a partir da rede pessoal permite o treinamento e aperfeiçoamento da comunicação da ideia, e tem mais chance de materialização pela ligação afetiva já estabelecida. A expansão para pessoas e organizações desconhecidas se dá a partir de convite e indicação de outras relações potenciais. É muito importante atentar-se à diversidade: cultura, saúde, esporte, educação, diferentes setores e organizações vinculados às políticas públicas, instituições universitárias, comércio, serviços, indústria, fundações, organizações sociais, coletivos e pessoas físicas voluntárias.

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Terceiro desafio:

JUNTE AS PESSOAS A PARTIR DE UM SONHO COMUM 42 │


Mobilização Oportunidades e problemas para resolver Mobilizar é convocar vontades para atuar na busca de um propósito comum.

Bernardo Toro, filósofo e educador colombiano

Se você perguntar para algumas pessoas se querem participar de uma reunião, a maioria vai responder que adoraria, mas está muito ocupada. A questão central está no convite, para o que se está convidando. Se você convidasse para um churrasco, qual seria a resposta? Veja o que é importante anotar antes de marcar sua reunião. Muitas pessoas têm vontade de fazer alguma coisa, mas não colocam a mão na massa porque se sentem meio isoladas ou têm medo de falhar. Saber que outras pessoas estão querendo o mesmo que nós, experimentando os mesmos sucessos e fracassos, dá mais segurança para tomar uma iniciativa e mais motivação para continuar participando. Um dos papéis da mobilização é conseguir bastante gente para participar. Mas existe uma diferença entre “fazer parte”, “tomar parte” e “ser parte”. Isto é um caminho a ser percorrido, e existe gente que não gosta de discutir e quer fazer, ou o contrário: são excelentes na organização, mas não sabem pregar um prego. Entender essa dinâmica faz parte do jogo. No começo pode ser que não tenha tanta gente, mas fazer ações, convidar sempre, persistir e mostrar resultados são formas eficientes de ter mais gente junto. A partir de experiências concretas no seu bairro, na sua comunidade, na sua cidade, as pessoas vão aprendendo e tornando cotidiana a prática da participação social. Cristovam Buarque costuma até dizer que “mais difícil do que botar o povo na rua é levá-lo de volta pra casa”.

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Dicas para mobilizar bem 1. Descobrir o que une seus vizinhos, os interesses que têm em comum, é o primeiro passo para que a coisa dê certo. Na primeira vez que se reunirem, peça para cada um trazer algo gostoso que saiba fazer. Vale tudo! Doces, sucos, salgadinhos. Comer é algo que agrega as pessoas e faz com que queiram compartilhar coisas; 2. O dia e o horário são importantes: esqueça a hora da novela, do jogo de futebol, ou da chegada do trabalho. Todo grupo deve achar o dia certo e a hora certa; 3. Fomos acostumados a entender liderança sob a ideia de políticos e suas relações, ou de quem ocupa cargos importantes, como síndico, presidente de associações. Mas também são líderes aquelas pessoas que estão sempre preocupadas em fazer coisas pelo bairro, assim como aquelas que são queridas por muita gente. Essas pessoas devem ser convidadas, porque podem trazer mais gente. O que importa é entender as verdadeiras motivações que cada pessoa traz consigo; 4. Escolha um lugar de fácil acesso e conhecido pelas moradoras e moradores. Fale com a diretora da escola, com os dirigentes da igreja, com alguém que tenha um salão de beleza, uma garagem, uma sala grande, uma laje; 5. “Veio quem tinha que vir”: faça o melhor que puder com as pessoas presentes. Agradeça as pessoas que puderam comparecer, valorize suas presenças e acredite que estas são as pessoas que podem realizar os sonhos da comunidade; 6. “Lembre-se da lei dos dois pés”: todo mundo tem liberdade para ir aonde e quando quiser. Não se sinta ofendido se alguém tiver que sair no meio da atividade ou escolher não participar, é um direito de todas e todos!; 7. Receber pessoas bem é uma arte, e precisa ser aperfeiçoada com o tempo. Busque sempre ajuda de sua comunidade quando tiver desafios. Às vezes, um olhar diferente do seu é tudo o que precisa para ter sucesso na mobilização de pessoas.

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Mantenha o grupo animado e façam acontecer todo mundo junto Unir e manter um grupo de pessoas animado para transformar uma comunidade é um grande desafio cotidiano. Por um lado, temos questões pessoais (conflitos de família, questões de saúde, jornadas longas de trabalho, por exemplo) que influenciam na presença ou ausência das integrantes. Outro fator é a qualidade na comunicação e a forma de mediar as brigas que surgem. Aí está a chave do sucesso! Criar um ambiente de confiança e respeito entre quem participa com foco no que une e não no que separa. Além disso, é preciso colocarse em ação sempre! A ação cura todas as relações! Como fazer acontecer mudanças sem escutar as pessoas, sem organizar o que precisa ser feito, sem buscar parcerias? Na nossa experiência, provocar encontros frequentes garante a permanência e a evolução do grupo.

Encontre para bater papo O contato e a conexão através de conversas significativas individuais em um primeiro momento e, em grupo, em um segundo momento, contribui para a profundidade nas relações ampliando o nível de envolvimento dos participantes. Cuidar das nossas relações de amizade em nossa comunidade é fundamental, pois temos mais vontade de participar de uma reunião com amigos do que de uma reunião com pessoas que não conhecemos. Então, cuide das relações com afeto! Cultive as amizades e reduza a importância das diferenças. A diversidade é importante! Cultive-a nas relações e não fuja dos conflitos, pois eles são importantes para avançarmos com nossos sonhos para crescimento da comunidade.

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Reúna com frequência Os encontros comunitários ou reuniões do grupo, quando tem uma frequência estabelecida (semanais, quinzenais ou mensais), promovem espaços de diálogos coletivos para dividir os desafios, aprendizados, sonhos e para planejar ações com temas de acordo com o interesse de cada comunidade. Além disso, fortalece o grupo e traz consistência para uma agenda coletiva de ações permitindo um acompanhamento e monitoramento das ações. É muito importante manter a periodicidade para que essa atividade passe a fazer parte da vida das pessoas. Cuide do ambiente do encontro, organize as cadeiras em círculo, faça uma apresentação inicial com nome e expectativa de todos os presentes para aquele momento, construa coletivamente o que vai ser conversado, pense em atividades de integração, filmes inspiradores etc. É fundamental que além das metas de curto prazo, todo processo de mobilização seja pautado também pelo alcance de objetivos de longo prazo e pela construção de um projeto de futuro.

DICA • Valorize quem está no grupo e o que sabe fazer!; • Pessoas de todas as idades são bem-vindas - crianças, jovens, adultas (os), idosas (os). Todo mundo tem muitas ideias para oferecer!; • Construa espaços de conversa acolhedores e harmônicos para que nasçam as ideias; • Cultive uma cultura prazerosa de encontros para que as pessoas queiram voltar; • Um tema que costuma envolver muita gente é o futuro das crianças.

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Quarto desafio:

CONSTRUA UM CENÁRIO DE ABUNDâNCIA NO SEU BAIRRO 48 │ ­


A base metodológica aplicada nas ações da Escola de Transformação é a Metodologia Elos, criada e desenvolvida pelo próprio instituto e hoje com intensa disseminação internacional (o que se expressa especialmente no programa Guerreiros Sem Armas - GSA). De modo bem sintético, as comunidades são convidadas para: • mapear suas belezas e recursos; • conectar talentos; • construir sonhos coletivos; • viabilizar a materialização desses sonhos (projetar e realizar); • celebrar as conquistas; • impulsionar um novo ciclo com realizações associadas a novas e crescentes aspirações da comunidade. Saiba como fazer estes 7 passos para transformar seu bairro

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Passo 1:

Encontrem o belo em sua comunidade

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A prática da Filosofia Elos começa pela busca pelo belo, algo físico que chame sua atenção, por exemplo: um jardim, um desenho, a forma de construir uma cerca, um penteado em uma criança. Estas são pistas para você encontrar sonhadoras(es) talentosas(os) que têm tudo para compor a sua turma. Convidamos você e seu grupo a enxergar belezas, potenciais, talentos e recursos conectados com o sonho de transformação. Exemplo: se você sonha com uma horta, busque pequenos jardins e quem cuida deles. Se você tem um sonho para as crianças, foque o seu olhar em manifestação de belezas como brincadeiras, lugares onde elas se encontram.

Fique de olho Belezas podem ser naturais, construídas, humanas, artísticas ou culturais. Recursos podem ser uma atividade artística, um elemento da cultura local, conhecimentos, ferramentas, equipamentos, materiais, instituições, comércios.

DICA • Convide 3 pessoas que conhece para uma conversa sobre como vocês querem dedicar tempo e atenção para uma ação no lugar onde moram. Façam uma caminhada livre, em silêncio, com o olhar de quem procura por belezas. A ideia é que vocês identifiquem pelo menos 5 belezas e 5 recursos. • Organizem as informações a partir das perguntas abaixo. Leia esse material sempre que estiver duvidando da materialização dos sonhos de sua comunidade. - Que paisagens, lugares e elementos naturais encontramos aqui? - De que coisas as pessoas cuidam com muito carinho? - Onde as pessoas se encontram para conversar e se divertir? - Que instituições, organizações ou pessoas fazem o bem por aqui? - Que empresas, comércios, prestadoras (es) de serviços empregam ou fornecem produtos a quem mora aqui? - Quais são os cheiros predominantes? - Quais são os elementos construtivos que existem aqui (calçadas, ruas, paredes, elementos vazados, escadarias, vielas, tábuas etc)? - Que materiais encontramos muito por aqui?

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Passo 2:

Formem sua comunidade convidando quem está por detrás das belezas

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Retornem aos locais em que encontraram belezas e iniciem uma conversa com as pessoas que as cultivam para conhecer suas histórias. Vocês encontrarão gente com diferentes habilidades e experiências. Recordem suas próprias experiências importantes e identifiquem os valores e ideias comuns que se relacionam com as pessoas por detrás das belezas. Vivenciem cada conversa buscando aquilo que as (os) une - princípios, valores, ideias. O sucesso das ações do grupo é resultado do empenho em realizá-las da melhor forma possível. Marcar novas conversas com as pessoas que vocês já conheceram vai fortalecer o vínculo e a relação de confiança, o que impulsiona a realização de algo juntas (os). Encontrem os talentos afetivos, ou seja, as pessoas que todas (os) querem bem, independentemente de posição política ou crenças. Lembre-se que, em todos os lugares, existem moradoras (es) fazendo o bem para todas (os): pessoas que conhecem tudo de ervas medicinais, jovens com energia para fazer algo inovador, cuidadoras (es), agentes comunitárias (os) de saúde, educadoras (es) dos equipamentos públicos, pedreiras (os), marceneiras (os), boas (ns) cozinheiras (os) etc. Lembre-se sempre de reconhecer o que cada uma (um) gosta e sabe fazer. Nesta caminhada, as diferentes opiniões precisam se ouvidas e reconhecidas.

DICA • Evitem começar a conversa por suas ideias ou apenas para convidar pessoas para fazer parte do seu projeto. • Um projeto comunitário tem maior chance de ter sucesso se for coletivo, construído a partir do encontro de ideias comuns e considerando as opiniões de todas (os). • Este momento é para conhecer as pessoas e suas histórias! • Organizem as informações das pessoas encontradas (nome, endereço, telefone, e-mail) por área (culinária, artesanato, arte, construção, jardinagem, comunicação, representação comunitária etc.). • Busquem um espaço para realizar uma reunião (garagem, salão comunitário, sala da escola etc.) e convidem todas as pessoas que vocês conheceram para um encontro. • A ideia é promover um encontro para que as pessoas se conheçam e compartilhem suas histórias pessoais e da comunidade. Comemorem! A turma está sendo formada! │ 53


Passo 3:

Ilustrações: Juliana Russo

Encontrem o sonho comum

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Descubram os sonhos a partir da visão de um futuro feliz para toda a comunidade. Façam conversas individuais ou em pequenos grupos com crianças, mulheres, homens, residentes mais antigas (os) do bairro, adolescentes, lideranças religiosas, estudantes, professoras (es) e outros profissionais que atuam no bairro. Quando há repetição de um mesmo tema nas conversas com diferentes pessoas que não se conhecem e estão em diferentes pontos do bairro, é sinal de que vocês estão se aproximando dos sonhos que podem unir grande número de pessoas. Perguntas que podem apoiar a conversa: - Qual sua visão de futuro feliz para esta comunidade? - Qual seu sonho para esta comunidade? - O que você faria para transformar a comunidade se não existissem dificuldades nem faltassem recursos? - Que local você sugere para tornar real este sonho?

DICA • Evitem falar dos seus sonhos pessoais e escutem os sonhos das outras pessoas. • Façam perguntas que lembrem momentos felizes do passado. • Não tenham pressa! Acessar os sonhos mais preciosos requer uma conversa longa e tranquila. • Escutem os sonhos individuais, mas busquem os sonhos coletivos, que visem o bem da comunidade. • Fortaleçam a ideia de que ninguém faz nada sozinho! • Convidem todas as pessoas que vocês conheceram para um Encontro de Talentos e Sonhos. Organizem a programação e o ambiente com um espaço para expor artesanatos, comidas, palco para as apresentações. • Apresentem, de forma resumida e usando a criatividade, os talentos, belezas, recursos e sonhos que já encontraram. • Uma boa dica é montar uma “árvore dos sonhos” e convidar as pessoas a escreverem seus sonhos em pequenos papéis que podem ser colados como as folhas da árvore. Outra atividade que pode ser realizada é oferecer um sonho de comer (doce ou bombom) em troca de saber um sonho (desejo) das (os) presentes. • Reúnam as pessoas para contar os sonhos encontrados e definam quais deles são possíveis em um mutirão e em um curto espaço de tempo. • Criem grupos de acordo com os interesses de cada pessoa.

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Passo 4:

Cuidem do sonho nos mínimos detalhes

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Este é o momento de juntar todo mundo para decidir onde, o que e como fazer para que os desejos coletivos se tornem realidade. É um marco neste caminho de transformação para o bem comum. Tenham certeza de que existem outras pessoas neste mundo que já experimentaram formas de realizar algo parecido com o seu sonho coletivo. Buscar exemplos e inspirações ajudará na construção do que desejam. Pode ser na internet, em livros, realizando visitas.

DICA • Definam o local onde irão fazer a transformação. Conversem com os responsáveis pelo local para saber o que pode e o que não pode. • Cuidem para que a escolha do sonho seja coletiva e para que a maioria da comunidade participe da elaboração de maquete do que deseja ser realizado. • Estimulem o grupo a pensar em um projeto que possa ser finalizado no tempo determinado (por exemplo, um final de semana). Os projetos devem atender aos sonhos e necessidades reais da comunidade. • Ajudem a comunidade a se organizar por equipes e captar recursos (materiais e financeiros). Podem apoiar nessa tarefa: lista de materiais, ofício de pedido de doação financeira, rifa com produtos dos talentos da comunidade, venda de algum produto (como bolo, suco, docinhos), festas etc. • O material disponível para realizar a ação será o que conseguirem captar! • Criatividade e sabedoria dos talentos locais fazem milagres! • Convidem especialistas (em construção, pintura, muralismo, costura) para ajudar a fazer acontecer unindo os saberes que vocês acham que poderão contribuir com o projeto!

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DICA • Procurem os talentos da comunidade e façam a lista dos materiais, ferramentas e possíveis parceiros. • Preparem um material de apresentação com fotos do local, dos encontros do grupo e busquem doações e parcerias. • Façam uma lista de todas as doações recebidas para agradecerem depois da ação. • Combinem com os parceiros como mostrarão o que foi construído. Esta prestação de contas pode ser um ofício com fotos, um relatório, álbum de fotos, vídeo, um café da tarde no local. Usem a criatividade! • Contatem emissoras de televisão, rádio, jornais impressos e sites locais para apoiar na divulgação. • Encontrem um local na comunidade para armazenar as doações. • Dividam-se nos grupos para buscar talentos e recursos, divulgar a ação, organizar a alimentação no dia do mutirão etc. • Organizem a programação do mutirão: horário de chegada, roda de abertura, frentes de trabalho, horário de encerramento. • Registrem todas as ações, em foto ou vídeo. • Reúnam-se ao final do dia. Compartilhem o que conseguiram, vejam o que está faltando e organizem as próximas ações. • No último dia antes da mão na massa, reúnam-se em roda, compartilhem o que cada grupo realizou e apreciem as conquistas. • Preparem a logística para a ação: músicas animadas, frentes de trabalho, água, almoço, lugar para descanso, recepção dos voluntários e o que mais considerarem necessário para cuidar de todas as pessoas detalhe por detalhe. • Combinem o ponto de encontro e o horário de chegada.

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Passo 5:

Façam acontecer com a mão na massa

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Depois de planejar e cuidar dos sonhos coletivos, é hora de tirá-los do papel e torná-los reais. Para isso, façam um convite irresistível para colocar a mão na massa! Vale convidar os talentos locais, além da vizinhança, familiares, pessoas da rede de parcerias, amigas (os), oasianas (os) da sua cidade. Pensem em como tornar o trabalho coletivo mais divertido: músicas, lanche, rodas de atividades para marcar o início e o final do dia fazem a diferença e tornam esses momentos mais especiais. Sabe aquele ditado “ninguém quer entrar para um time que está perdendo”? Pois é! As pessoas se aproximam pelo sucesso, beleza, alegria e satisfação de quem está realizando! Por isso, é importante cuidar do clima do mutirão.

DICA • Mantenham a calma e comecem com quem estiver presente. • Se não vier ninguém, parte do grupo que já está mobilizado começa o mutirão e outra parte chama as pessoas. • Se só houverem crianças, valorizem sua presença e iniciem com elas. • Comecem e terminem alguma coisa visível. • Não deixem nada pela metade. • Não parem as ações e busquem estratégias para que o trabalho seja leve e divertido! • Mesmo que o mutirão pareça bagunçado, vocês tenham a sensação de que as pessoas não vão aparecer, não desanimem. O importante é começar e fazer tudo com muita animação para contagiar até quem não acreditava que era possível.

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DICA • Convidem talentos da cidade para fazer parte desta transformação. • Lembrem-se de que tudo o que for construído precisa ser cuidado depois. Se nossa casa precisa ser limpa todos os dias, imagine um lugar que é usado por muita gente! • Cultivem boas relações com quem apareceu no mutirão e criem condições para que estas pessoas engajem-se em grupos de cuidado cotidiano do lugar. • Tirem fotos do local e das pessoas antes, durante e depois da ação. • Organizem as frentes de trabalho estabelecendo metas claras para o dia. • Evitem iniciar várias frentes de trabalho se não há pessoas suficientes para executá-las. • Foquem em finalizar ações, ao invés de iniciar várias tarefas. • Façam primeiro mudanças físicas que sejam mais visíveis e que deixem o local mais convidativo! Comecem com o básico, simples e rápido; • Planejem atividades que possam ser realizadas com as crianças. • Convidem pessoas, peçam ajuda e acreditem no poder da cooperação. • Confiem na abundância: os recursos sempre aparecem e os milagres são possíveis quando confiamos. • Façam uma lista de ferramentas e materiais que chegaram para o mutirão, colocando o nome em tudo que deve ser devolvido (por exemplo, ferramentas emprestadas). Essas pessoas e/ou organizações doadoras também devem entrar nos agradecimentos.

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Passo 6:

Celebrem a participação de cada pessoa

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O Encontro de Celebração é um momento especial do grupo comemorar todas as suas conquistas. Vocês podem realizar um festival cultural, um piquenique, banquete comunitário, festa típica, feira de trocas ou de produtos locais. Convidem todas (os) as (os) participantes para uma roda final e promovam uma conversa, com perguntas como: como cheguei? Como foi estar aqui? Como estou saindo? Incentivem previamente que o grupo pense em uma programação de atividades no novo espaço! Logo após a ação, organizem as informações para as pessoas e/ou organizações parceiras e façam os agradecimentos e/ou prestação de contas conforme combinado.

DICA • Lembrem-se de valorizar todo mundo que participou e de relembrar os momentos importantes do processo. Uma dica legal é fazer uma apresentação ou exposição com fotos de tudo o que aconteceu.

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Passo 7:

Sua turma pode e quer mais!

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Se neste curto espaço de tempo vocês conseguiram chegar até aqui, tornando real o que muita gente não acreditava, imagine o que podem fazer juntas (os) daqui para frente? Organizem um novo encontro comunitário. Realizem rodas de conversa em grupos de 4 pessoas. Após relembrar tudo o que foi vivido, incentivem que as pessoas conversem sobre as seguintes perguntas: - O que mais te marcou nessa experiência? - Se tudo fosse possível, que futuro você desejaria agora? - Qual o próximo sonho que vocês querem fazer acontecer nos próximos 3 meses?

DICA • Não fiquem muito tempo sem voltar no local ou sem reunir-se com o grupo e a comunidade. • Promovam espaços de conversas para curar as brigas, conflitos e desentendimento, caso venham a acontecer. • Revisitem o caminho que fizeram até aqui e comecem tudo de novo, buscando novas belezas e talentos. • Organizem uma visita ou incentivem a comunidade a visitar projetos bem sucedidos relacionados aos sonhos de futuro. • Outra opção é encorajar a comunidade a participar de redes, fóruns, conferências, encontros e cursos que inspirem e ofereçam ferramentas para realização de novos projetos. • Procurem os talentos que dedicaram tempo e energia até aqui, e façam uma agenda de encontros, que podem ser semanais, quinzenais ou mensais. • Criem projetos para uso imediato dos locais construídos ou readequados no mutirão, assim como projetos maiores que demandem mais tempo de trabalho. • Transformem cada encontro em um espaço de produção e realização coletiva. • Essas atividades podem ser também uma forma de ocupar o local do primeiro sonho construído. • Apoie o grupo a pesquisar e convidar talentos especializados para interagir, dar consultoria, cursos ou palestras apoiando as ações programadas.

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Quinto desafio:

APRENDA FAZENDO A TRANSFORMAÇÃO

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Criar projetos culturais, artísticos e esportivos colabora para que as comunidades reconheçam valores e talentos locais, que se dispõem a compartilhar sua experiência em grupos. É uma forma de ampliar os espaços de encontros e de aprendizados coletivos. Já as ações que tenham como objetivo a geração de renda, podem partir daquilo que as pessoas gostam e sabem fazer bem. Procurar cursos profissionalizantes gratuitos colabora muito para a qualificação do trabalho, assim como conseguir parceiros através de projetos bem pensados. Neste desafio, vamos dar dicas de como, por exemplo, escrever um projeto, conseguir parcerias e solucionar as questões que podem surgir no caminho. Temos guias online que podem inspirar você e seu grupo a criar suas próprias atividades:

- Feira de trocas - Comunicação comunitária - Encontro de Comunidades Empreendedoras - Comunicação Não Violenta para resolver conflitos - Mapa de talentos - Criar uma marca para seu bairro - Cinema de rua - Horta comunitária - Qualidades da liderança comunitária - Como lidar com os recursos do grupo - Feira gastronômica Confira os guias aqui:

www.bit.ly/boaspraticaselos E os vídeos da Escola de Transformação:

www.bit.ly/videosescoladetransformacao

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Criando projetos temáticos Quando criamos um projeto para benefício da nossa comunidade, queremos que o melhor aconteça. Sempre devemos ter clareza do nosso objetivo e focar as ações nos benefícios que queremos criar, por isso é importante definir uma área de ação do projeto, pois de outra forma corremos o risco de criar dispersão e confusão, tanto para quem organiza o projeto como para quem recebe os seus benefícios. Numa associação de bairro, por exemplo, que possui diversos objetivos, precisamos saber como seus projetos estão atingindo os resultados propostos. Ao escolher trabalhar com questões da infância e juventude, devemos focar nossas ações para gerar resultados às crianças e jovens, seja promovendo brincadeiras ou reforçando o direito de estudar e brincar. O tema é importante para darmos forma aos projetos, além de ser mais fácil comunicar às pessoas e organizações parceiras nossos resultados e necessidades. Seja qual for o tema escolhido (cultura, educação, geração de renda, educação), é sempre importante buscar parcerias para realizar. Quanto mais pessoas da sua comunidade estiverem alinhadas com o mesmo propósito do seu projeto, mais fácil será sua realização. O segundo passo é sempre buscar ajuda quando se deparar com um desafio, pois eles virão e devem ser superados! Busque parceiras e parceiros que possam dar ideias e mostrar caminhos inspiradores, mas lembre-se: não perca a essência do seu projeto e do seu grupo, afinal queremos realizar projetos que gostamos de fazer e que tenham a cara de nossa comunidade!

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Não sabe qual rumo tomar para um projeto em sua comunidade? Em setembro de 2015, líderes mundiais reuniram-se na sede da ONU, em Nova York, e elaboraram um plano de ação para erradicar a pobreza, proteger o planeta e garantir que as pessoas alcancem a paz e a prosperidade. Eles criaram a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável, que contém o conjunto de 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). A Agenda 2030 e os ODS afirmam que para pôr o mundo em um caminho sustentável é urgentemente necessário tomar medidas ousadas e transformadoras. Os ODS constituem uma ambiciosa lista de tarefas para todas as pessoas, em todas as partes, a serem cumpridas até 2030. Se cumprirmos suas metas, seremos a primeira geração a erradicar a pobreza extrema e iremos poupar as gerações futuras dos piores efeitos adversos da mudança do clima. Se quiser saber mais sobre os ODS, acesse:

www.agenda2030.com.br

Como escrever um projeto 1. Construa uma visão A pergunta central é: onde queremos chegar? A visão é a frase ou conjunto de frases que vai nortear o projeto. É para onde os objetivos, estratégias e ações serão guiados. É importante que uma visão esteja ligada ao tempo de conclusão do projeto: 12 meses, 2 anos, 5 ou 20 anos. 2. Defina objetivos Quais mudanças ou acontecimentos são necessários para que a transformação que deseja aconteça? Cuidado para não confundir objetivo com ação – objetivo não é a ação em si,mas o resultado que você quer alcançar. 3. Detalhe ações, prazos e responsáveis Depois de escrever os objetivos, é hora de detalhar as ações necessárias para atingir cada um deles. Esse é o momento de pensar em cada passo do projeto. Lembre-se que é importante pensar quem é o responsável por cada passo.

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Veja um exemplo prático: OBJETIVOS O que?

Construção do Centro de Saúde (CS)

AÇÕES Como?

PRAZO Quand0?

RESPONSÁVEIS Quem?

Formar um Grupo Local com pessoas interessadas

30 dias

Ana, João e Maria

Listar os terrenos ou imóveis disponíveis

45 dias

João e Jorge

Fazer e entregar um ofício com o pedido na Prefeitura Municipal

50 dias

Ana

Realizar reunião entre o Grupo Local e a Secretaria de Saúde

60 dias

Grupo Local

Iniciar obras

90 dias

Prefeitura e acompanhamento do Grupo Local

Inaugurar o Centro de Saúde

6 meses

Grupo local

Associação e Cooperativas Os projetos, de uma maneira geral, começam pequenos e vão tomando corpo, de acordo com o tempo e a dedicação. Em alguns casos, em especial em alguns tipos de parceria, é preciso formalizar o grupo. Associações e cooperativas são organizações que podem ser muito úteis no desenvolvimento de comunidades empreendedoras. Exemplos são associações de bairro ou uma cooperativa de agricultores. Em alguns casos, as associações e cooperativas já existem. Se este for o caso, busque participar de suas atividades, já que elas são criadas para benefício de toda a comunidade que você faz parte.

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Quais as diferenças entre associação e cooperativa? Uma associação é criada para defender os interesses de um determinado grupo de pessoas, por exemplo: uma associação de moradores de bairro defende as questões das moradoras e moradores, como mais escolas, áreas de lazer, posto de saúde com atendimento para todo mundo, entre outros. A cooperativa é criada com o fim exclusivo de geração de renda e pode ser, por exemplo, uma associação de catadoras e catadores ou de agricultoras e agricultores que se juntam para produzir e ter uma distribuição de renda mais justa. Nestes casos podemos ter uma associação também defendendo os direitos de catadoras e catadores ou de agricultoras e agricultores, lutando por seus interesses, mas sem o objetivo de gerar renda. A seguir, criamos um passo a passo para criar uma associação ou cooperativa: 1. Convide as pessoas que queiram fazer parte do grupo (moradoras, catadoras, trabalhadoras etc). 2. Crie uma reunião para explicar o motivo de criar uma associação ou cooperativa. 3. Deixe claro que a associação ou cooperativa não possui uma dona ou dono. Deve ser criada pelo grupo e para o grupo, sendo assim, as decisões são sempre coletivas. 4. Convide alguém experiente que possa auxiliar o grupo na construção de um estatuto. Este documento faz o grupo ser reconhecido formalmente. Muitas faculdades de Direito e a Ordem de Advogados do Brasil (OAB) colaboram voluntariamente com comunidades. 5. O próximo passo é providenciar o Cadastro de Pessoas Jurídicas (CNPJ) que pode auxiliar no desenvolvimento das atividades legais do grupo. 6. Cuide para que o grupo se reúna sempre e discuta o futuro das ações da organização.

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Como conseguir apoio? Muitas vezes nos deparamos com a falta de recursos para realizar nossos sonhos comunitários, e para isso precisamos de apoio de pessoas ou empresas que acreditam no nosso sonho e querem ajudar a realizá-lo. Conheça algumas dicas para facilitar a busca por apoio, mas lembre-se que a principal delas é: nunca desista! 1. Escreva uma apresentação de seu projeto: muitas pessoas e empresas preferem ler sobre seu projeto, portanto esse material é essencial. a. Título: nome do seu projeto e onde ele é realizado. b. Histórico: conte como seu projeto surgiu e a história das pessoas por trás dele. c. Objetivos principais e visão de futuro: deixe claro aonde vocês querem chegar com o projeto. Descreva como seu projeto pode ajudar a alcançar esse futuro. d. Relato de atividades: contar o que já foi realizado é fundamental para mostrar para suas parcerias como vocês estão fazendo acontecer. Caso não tenha realizado nada ainda, faça uma breve descrição de como as atividades irão acontecer. e. Investimento: descreva como quem se interessar pode investir em seu projeto, por exemplo: com doação em dinheiro, materiais para realização de atividades, cessão de espaço ou mesmo ajuda voluntária. f. Contrapartida: o que você oferece em retorno pelo apoio. Cuidado para não se comprometer com contrapartidas que não são possíveis de ser entregues. Lembre-se que seu maior trunfo é a realização de atividades que transformem sua comunidade. g. Contatos: lembre-se sempre de colocar como quem se interessar pode te achar (como telefone, e-mail) e sempre enviar atualizações, afinal, não queremos perder um parceria porque nosso telefone mudou, não é mesmo?

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2. Mantenha suas redes sociais atualizadas. Se você possuir um site, blog, perfil ou página no Facebook, tenha certeza que estão sempre em dia, poste fotos e conte tudo o que está acontecendo de bom. 3. Crie uma lista e cultive o contato com as apoiadoras e apoiadores. Envie notícias constantemente, mas com equilíbrio. Vale perguntar de quanto em quanto tempo essas pessoas gostariam de receber suas notícias. 4. O financiamento coletivo pode ser uma ótima opção para projetos, pois além de mobilizar muitas pessoas da sua comunidade na captação de recursos, é uma boa forma de divulgar o sonho de sua comunidade. Para criar um financiamento coletivo busque na internet sites como o www.juntos.com.vc ou www.vakinha.com.br, que ajudam a criar seu financiamento coletivo de forma fácil. 5. Seja insistente na busca por parcerias, pois ela nunca acaba. Crie uma agenda para visitar novas pessoas e empresas, leve sempre seu projeto escrito. Quanto mais pessoas souberem sobre o projeto, mais chances de apoio você terá.

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Solução de conflitos e interesses Um desafio que encontramos ao realizar um sonho comunitário é quando temos diferentes opiniões sobre qual caminho tomar para realizar uma tarefa. Tendemos a fugir destes conflitos ou deixá-los para mais tarde para evitar discussões, o que não é nada saudável para um grupo de pessoas que estão realizando algo juntas. Quando este conflito acontece, é hora de parar e sentar para conversar. A dica mais importante é sempre ter clareza do que une todas as pessoas na realização de uma atividade. Chamamos isso de propósito comum. O propósito comum precisa ser acordado entre todo o grupo e, quando necessário, pode-se discuti-lo novamente. Para o propósito comum surgir, organize um encontro de sonhos seguindo os seguintes passos: 1. Convide as pessoas para o Encontro de Sonhos e explique que será uma oportunidade de compartilhar os sonhos do grupo para a comunidade (pode ser seu bairro, escola, condomínio ou mesmo seu trabalho). 2. Dê espaço para as pessoas falarem sobre seus sonhos para esta comunidade perguntando: qual seu sonho para nossa comunidade? A medida que os sonhos forem surgindo, tente agrupá-los e junte as pessoas com sonhos parecidos. 3. Ao reunir as pessoas com sonhos parecidos, pergunte: como esse sonho que é seu pode se tornar um sonho nosso? O que precisamos fazer para que esse sonho seja de todas e todos nós? 4. Ao chegar em um sonho compartilhado por todo o grupo, celebrem e comecem a planejar! Afinal, agora temos um propósito comum!

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Caso o propósito já tenha sido discutido e ainda haja quem discorde, marque uma reunião e pergunte ao grupo: 1. Qual é o nosso sonho comum? 2. Estamos conseguindo viver o nosso sonho? 3.O que precisamos fazer para viver nosso sonho?

Com estas perguntas respondidas, poderemos seguir na construção dos nossos sonhos. Esteja sempre aberto a novas ideias, e disposto a reavaliar suas ações. Acredite na diversidade e que o grupo, junto, tem a resposta para os desafios e para realizar um sonho comum.

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palavras finais

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Este guia é uma fonte de inspiração para pessoas, lideranças comunitárias, associações, prefeituras e suas secretarias, órgãos governamentais, empresas, construtoras e qualquer outro grupo que tenha como objetivo uma cidade melhor em todos os sentidos para todo mundo. Separamos em 5 etapas os grandes desafios para chegarmos ao futuro que todos sonhamos e queremos construir:

- Conheça bem o lugar onde vive; - Forme sua comunidade; - Junte as pessoas a partir de um sonho comum; - Construa um cenário de abundância no seu bairro ; - Aprenda a fazer a transformação ; Sabemos que estes desafios são grandes, que muita gente junta acaba brigando, que tem momentos que a gente quer desistir, que a gente adora reclamar. A lista para algo não dar certo é enorme. Todavia, quando temos um objetivo maior e um profundo comprometimento com uma grande mudança, superar esses desafios é mais fácil e pode ser muito prazeroso. A cada pequena vitória que alcançamos, nossa força fica maior. Nestes longos anos de atuação, conhecemos muitas histórias de sucesso, muitas comunidades que viraram o jogo e são exemplos de superação, de projetos que começaram pequenos, e hoje estão transformando a vida de centenas e milhares de pessoas. O que elas têm em comum? Descobriram exatamente do que gostam, o que sabem e o que querem fazer juntas. A velha história de que a união faz a força não é uma lenda, é a mais pura verdade. Qualquer coisa que vá fazer, faça sempre junto. Esse é o segredo do sucesso. Esperamos ter notícias suas em breve!

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Equipe Técnica da Escola de Transformação Agente executor Instituto Elos Brasil

Facilitação Demacamp Lucia Maria Sousa Gomes

Diretor Executivo e Responsável Técnico Rodrigo Rubido Alonso

Consultor de Paisagismo Arquiteto Eugênio Fernandes Queiroga

Coordenadora Geral Thaís Polydoro Ribeiro

Arquitetos e Urbanistas Alexandre Alessio Gabrielle Astier Monica Mitie Kanematsu Wolf Gabriella Rizzo Juliana Hilkner

Coordenadora Pedagógica Natasha Mendes Gabriel Gestão Administrativo Financeiro André Luiz Rodolfo Pascoal Auxiliar de Administrativo Financeiro Laura Salustiano Benites Design Gráfico Bruno Matinata Comunicador e Jornalista Ricardo Oliveros Facilitação Elos Clarissa Borges Müller Herbert Santo de Lima Patrícia Ledo Luiza de Sá Paulo Farine Milani Fernando Conte Apoio de Produção Bruna Farine Milani Parceiro Estruturante Demacamp Coordenadora - Equipe Demacamp Eleusina Lavor Holanda de Freitas Advogados Evangelina Pinho Rafael Moya 84 │ ­

Estágio Andrey Marcondes Marco Aurélio Arruda Agradecimentos Prefeitura Municipal de Campinas Fundação FEAC Fundação Educar DPaschoal SANASA Consultorias Tomada Cultural Paula Dib/ Renata Mendes Comunicação Não Violenta Yuri Haasz e Sandra Caselato Equipes Transformadoras Cortines & Sebastiá Assessoria em Gestão Empresarial Fotógrafa Isabela Senatore Ilustradora de Futuro Juliana Russo Equipe de Vídeo VU


Oficinas de Audiovisual Instituto Ideia Coletiva Visitas de Inspiração Associações dos Moradores de Heliópolis e Região (UNAS) Associação Comunitária Monte Azul Instituto Arte no Dique Creche Comunitária Tia Nilda Associação do Monte Serrat Instituto Novos Sonhos Horta Bons Frutos Instituto Favela da Paz Cooperativa Antônio da Costa Santos Quilombo Urbano Centro Cultural Casarão Padaria Comunitária da Vila Olímpia Feira de Inspiração Criqué Caiçara Cooperativa de Reciclagem Renascer Julia Luchesi Malu Neves Projeto Vegearte Luiz Carlos Felicidade Coletivo CausArte Coletivo Vie La en Close Instituto Camará Calunga Instituto Anelo

Componentes do Júri Festival Comunidades Empreendedoras Rodrigo Fagundes Tony Marlon Adolf Deny Andrea Santos de Deus (SEHAB) Lincoln Moreira (FEAC) Equipe de apoio para o Mapeamento Afetivo Luísa Leme Simoni (GSA 2017) Maíra Teixeira da Silva (GSA 2017) Lourdes Santo de Lima (GSA 2017) Francina Buonanotte (GSA 2017) Marcelo Vieira Gonçalves Camila Torato Simone Bandeira Enrico Grazina Dantas Acompanhamento Técnico – DIST Gisele Torres Martini Verusca Couto de Oliveira Acompanhamento Técnico – FSA/CAIXA Darlan Bernardes Janaina Oliveira de Souza Gerência – GIHAB Campinas/SP Olavo Faraco Júnior

Curso Políticas Urbanas Dra. Laura Bueno (PUC Campinas) Dr. Sidney Piochi (Unicamp)

Coordenação – GIHAB Campinas/SP Cristina Toshie Shimizu Júlio Barboza Magalhães

Espaços Sesc Campinas CIS Guanabara CRAS Florence ADUNICAMP

Acompanhamento Técnico e Operacional – GIHAB Campinas/SP Bianca Junqueira Franco Caleffi Eduardo Tomoharu Chaves Kimpara Hugo Passos Favery Lucas Pattaro Puime

Parcerias Escola Waldorf Veredas

Nosso mais profundo agradecimento às moradoras e moradores dos residenciais Vila Abaeté, Jardim Bassoli e Sírius pela troca de aprendizados que compartilhamos com vocês. │ 85


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