Emagazine - Edição 8

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E MAGAZINE n.º 8 | 2021 | www.emagazine.pt

MENTALIDADE DE CRESCIMENTO MARGARIDA DIAS CATARINA CARVALHO MODELO, BLOGGER E PROFESSORA NÃO COLOQUE OS OVOS TODOS NO MESMO CESTO ANDRÉ TIAGO ALMEIDA O CHEF DE PASTELARIA PREMIADO INTERNACIONALMENTE MIGUEL LOPES MULHERES À OBRA CAMILA RODRIGUES E CARLA LOPES 'OUVE O TEU CORPO' ISABEL PEDROSO SILVA A IMPORTÂNCIA DO CONTEÚDO ANA PAULA RUSCHEL TRÊS IMPACTOS DA TRANSFORMAÇÃO CULTURAL JANAINA MANFREDINI

recuperar ESTÁ NA ALTURA DE SE APOSTAR NO PATREON EM PORTUGAL DIOGO FERREIRA MANTER O FOCO NA PANDEMIA ANDREIA SANTOS SIMPLY AGREEMENT FOR FUTURE EQUITY – TO BE SAFE OR NOT? RITA TRABULO 'ENVIA-ME UM VÍDEO?' LILIANE MACHADO FAZER ACONTECER NAMI - NÚCLEO DE ALUNOS DE MARKETING DO ISCTE MODELO DE NEGÓCIO RUI PINHEIRO ANDRÉ SOARES, TREINADOR DE BOCCIA DE ALTA COMPETIÇÃO


E MAGAZINE

RECUPERAR ....

JANEIRO 2021 - MARÇO 2021 / N.º 8 / VoL. 1 TODOS OS DIREITOS RESERVADOS. TODAS AS INFORMAÇÕES PUBLICADAS SÃO PURAMENTE INFORMATIVAS E NÃO PODEM SER CONFUNDIDAS COM ACONSELHAMENTO. AS MARCAS REGISTADAS REFERIDAS PERTENCEM AOS SEUS RESPETIVOS PROPRIETÁRIOS. OS AUTORES DOS TEXTOS DESTA PUBLICAÇÃO PODEM ESCOLHER ESCREVER DE ACORDO COM O ACORDO ORTOGRÁFICO EM VIGOR E/OU NOUTRAS LÍNGUAS. EMBORA RESPEITE OS PADRÕES PROFISSIONAIS, ESTE NÚMERO NÃO PRETENDE ATUAR COMO ORGÃO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL OU MEDIA NEM APRESENTAR-SE COMO UM SERVIÇO. A EMAGAZINE FAZ PARTE INTEGRANTE DA PLATAFORMA 'ESCOLA DO EMPREENDEDOR' COORDENAÇÃO: RUI PINHEIRO COLABORADORES: ANDREIA SANTOS, DIOGO FERREIRA, ANDRÉ TIAGO ALMEIDA, LILIANE MACHADO, ANA PAULA RISCHEL, RITA TRABULO, JANAINA MANFREDINI, MARGARIDA DIAS CONTACTO: INFO@EMAGAZINE.PT


EDITORIAL

O ontem não é nosso para recuperar, mas o amanhã é nosso para ganhar ou perder... Lyndon Baines Johnson, 36.º Presidente dos Estados Unidos é o autor desta frase que dá o mote para mais uma edição da Emagazine. A batalha está quase no fim, vamos acreditar e dar o nosso melhor para que o amanhã chegue rápido e que seja para ganhar. Como temos vindo a habituar os nossos seguidores, cada edição da Emagazine traz uma mão cheia de histórias inspiradoras e esta não é exceção. Rui Pinheiro

EDITOR IN CHIEF DA EMAGAZINE

A coach Margarida Dias fala-nos dos dois tipos de mentalidade e do conceito de 'mentalidade de crescimento'. A psicóloga Andreia Santos sobre a importância de manter o foco na pandemia nestes tempos de stress. Entrevistamos Catarina Carvalho, professora, modelo e blogger e conversamos sobre aceitação e autoestima e contamos a história de Miguel Lopes, Chef de Pastelaria premiado internacionalmente. Falamos ainda de Slow Living com Isabel Pedroso Silva, nutricionista, Criadora da Escola Online 'Ouve O Teu Corpo' e do 'O Podcast da Isabel - Isto Não É Só Nutrição'. Falamos com Camila Rodrigues e Carla Lopes, fundadoras da Plataforma 'Mulheres à Obra', que tem vindo a ser reconhecida como um projeto de boas práticas em empreendedorismo feminino. Já o André Tiago Almeida escreveu sobre estratégia de marketing e da sua relação com a pandemia Covid-19, a Ana Paula Ruschel abordou o tema do conteúdo como ferramenta essencial para marcas que desejem ser encontradas online e a jornalista Liliane Machado escreveu sobre o poder de um bom vídeo. Conhece a plataforma Patreon? O Diogo Ferreira conta-lhe tudo, sobre este modelo de negócio que rende mais de 18 milhões de euros por mês a artistas e criadores, mas ainda pouco adotado em Portugal. Importados dos Estados Unidos da América, pioneiros na produção de mecanismos jurídicos e não jurídicos que se aplicam às circunstâncias e necessidades especiais do financiamento do empreendedorismo, encontramos um dos mais utilizados instrumentos de investimento: os Simply Agreement for Future Equity, este é o tema do artigo da advogada Rita Trabulo para esta edição. Ainda tivemos tempo para um artigo da especialista Janaína Manfredini, que escreveu sobre os impactos da transformação cultural nas empresas e para falar com André Soares, Treinador de Boccia de Alta Competição & Mentor do Programa Boccia Sénior Braga. Mas que edição incrível!

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SUMÁRIO 08

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'CRIEI O BLOGUE COMO UM EXERCÍCIO PRÁTICO, PARA (...) QUE ME ‘EMPURRASSE’ NO CAMINHO DA ACEITAÇÃO E AUTOESTIMA'

04 “TORNAR-SE É MELHOR DO QUE SER” Sabe o que é a 'Mentalidade de crescimento'? Este artigo conta-lhe tudo.

'UMA BOA IDEIA NEM SEMPRE É SINAL DE SUCESSO (...), PRECISAMOS DE TER MUITA INFORMAÇÃO, INVESTIMENTO E DEDICAÇÃO'

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'O EMPREENDEDORISMO HOJE EM DIA SURGE COMO RESPOSTA À 'REVOLUÇÃO LABORAL' QUE TEMOS VINDO A ATRAVESSAR NOS ÚLTIMOS ANOS'

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CONTEÚDO: A FERRAMENTA PODEROSA PARA MARCAS QUE DESEJAM SER ENCONTRADASRA Não devemos selecionar O MUNDO! apenas um local de ação, A internet guia grande antes devemos ter vários parte dos processos de locais de ação onde cada nossas vidas (...). Nesse um tem a sua especificidade grande universo repleto de e, em alguns casos, o seu tubarões afoitos por grau de risco. conquistar espaços, está a sua marca...

NÃO COLOQUE OS OVOS TODOS NO MESMO CESTO!

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34 TRÊS IMPACTOS DA TRANSFORMAÇÃO CULTURAL Não estamos a viver uma mudança de era. Mas sim, uma era de mudanças.


INFO@EMAGAZINE.PT WWW.EMAGAZINE.PT

A TUA REVISTA DIGITAL DE EMPREENDEDORISMO

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NAMI: A VONTADE DE QUERER TORNAR TODOS OS PROJETOS ÚNICOS E ENRIQUECEDORES PARA QUEM DELES FAZ PARTE

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ISABEL PEDROSO SILVA. NUTRICIONISTA, FORMADORA, CRIADORA DA ESCOLA ONLINE 'OUVE O TEU CORPO' E DO 'O PODCAST DA ISABEL – ISTO NÃO É SÓ NUTRIÇÃO'

36 ESTÁ NA ALTURA DE SE APOSTAR NO PATREON EM PORTUGAL Um modelo de negócio que rende mais de 18 milhões de euros por mês a artistas e criadores, mas ainda pouco adotado em Portugal. Fica a saber o que é o Patreon, como funciona e que (poucos) casos de sucesso já existem em Portugal.

ANDRÉ SOARES. REINADOR DE BOCCIA DE ALTA COMPETIÇÃO & MENTOR DO PROGRAMA BOCCIA SÉNIOR BRAGA

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40 MANTER O FOCO NA PANDEMIA É inequívoco que estes tempos são de stress e que isso muda a nossa forma de funcionar neurologicamente. A dificuldade em manter o foco agravou-se e para alguns começou a existir.

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SIMPLY AGREEMENT FOR FUTURE EQUITY – TO BE SAFE OR NOT?

'ENVIA-ME UM VÍDEO?'

Importados dos EUA, pioneiros na produção de mecanismos jurídicos e não jurídicos que se aplicam às circunstâncias e necessidades especiais do financiamento do empreendedorismo: são os Simply Agreement for Future Equity.

Quantas vezes você recebeu uma mensagem assim no último ano? 'Manda-me um vídeo?' Em tempos de confinamento e home office, a presença online cresceu e junto com ela a necessidade de nos reinventarmos em vários aspectos.


“TORNAR-SE É MELHOR DO QUE SER” CAROL DEWCK, APÓS TER LIDERADO UMA SÉRIE DE EXPERIÊNCIAS NA UNIVERSIDADE DE STANFORD, CRIOU O CONCEITO DE MENTALIDADE DE CRESCIMENTO. APARENTEMENTE A PERFORMANCE DOS ALUNOS VARIAVA DE ACORDO COM O SEU TIPO DE MENTALIDADE, QUE PODIA SER FIXA OU DE CRESCIMENTO. Margarida Dias COACH E CEO DA INTTOS

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Segundo a autora, todos temos os dois tipos de mentalidade para as diferentes capacidades. Temos mentalidade fixa quando acreditamos que uma certa capacidade é inata. Ou seja, nasce connosco e não pode ser desenvolvida ou melhorada. Quando alguém diz: “Eu não sou criativo” ou “Saio ao meu pai, não sou muito bom a matemática” ou “Eu já sei desenhar” está a mostrar que tem mentalidade fixa naquela capacidade. Independentemente de acreditarmos que temos um alto, médio ou baixo nível de desenvolvimento dessa capacidade, o facto de acreditarmos que nada poderá ser feito para a desenvolver, vai desencadear uma série de comportamentos que vão efetivamente impedir o seu desenvolvimento. Na possibilidade de ocorrência de falha, esta é vista como uma incapacidade pessoal ou falta de talento, por acreditarmos que é permanente. Ou seja, se falhei agora vou falhar sempre que tentar fazer isto ou atingir este nível. Por isso, preferimos aplicar pouco esforço, considerando que em nada adiantaria um grande esforço. E se correr mal, sempre sei que o resultado não é sinónimo do meu valor, porque não dei tudo o que tinha. Nesse sentido, vou procurar executar apenas tarefas fáceis. As que eu sei que já sei fazer. Se surgir um obstáculo, a tendência é para desistir. A crítica é vista como um ataque pessoal. Porque é sentida como um rótulo. A probabilidade de nos expormos a riscos criativos é muito baixa. E por fim, o foco é num objetivo mensurável (exemplo: aquela nota específica, ou cargo, ou casa, etc.). Se nos deixarem “cortar caminho” para atingirmos o objetivo, assim o faremos. Por outro lado, temos mentalidade de crescimento quando acreditamos que podemos desenvolver uma certa capacidade, com o tempo e a prática. Tradicionalmente temos esta mentalidade para o exercício físico e para aprender a tocar um instrumento musical. No sentido em que a maioria das pessoas sabe que com o tempo e a prática pode melhorar nestas capacidades. Aqui já vemos a falha como uma oportunidade em vez de um problema. É a falha que nos mostra o que devemos mudar para evoluir para o nível seguinte. Então, preferimos aplicar muito esforço e escolhemos tarefas desafiantes porque não só não temos problemas com a falha como esta é bem-vinda. Os obstáculos são também vistos como uma oportunidade para experimentar e resolver problemas. A crítica é aceite e vista como mais uma oportunidade para melhorar. A probabilidade de nos expormos a riscos criativos é consideravelmente maior. Aliás, diria que o progresso só acontece quando temos esta mentalidade, porque só nos arriscamos a tentar fazer o que ainda não foi feito, quando estamos dispostos a falhar pelo caminho. O foco, é no caminho de melhoria contínua. Em vez de procurar “cortar caminho” para ter aquele cargo ou aquela casa, procuro em cada dia perceber se hoje sou melhor do que fui ontem. Acredito que mesmo com esta curta explicação dos dois tipos de mentalidade, o leitor já conseguiu identificar ambos em si próprio e possivelmente também noutros. Imagine se ler o livro “Mentalidade

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de Crescimento” da autoria da investigadora Carol Dweck. Este conteúdo tem sido de extrema importância no meu crescimento e no crescimento dos meus clientes. Ilumina uma parte de nós da qual éramos inconscientes e clarifica o caminho para podermos agir de forma mais benéfica em cada momento. É curioso como podemos perceber que outras figuras do passado nos tentaram avisar da importância de ter uma mentalidade de crescimento. Deixo o exemplo de Thomas Edison: “Nossa maior fraqueza está em desistir. O caminho para o sucesso é tentar mais uma vez.”, e de Samuel Beckett: “Tenta. Fracassa. Não importa. Tenta outra vez. Fracassa de novo. Fracassa melhor”. Escusado será dizer que um verdadeiro empreendedor tem mentalidade de crescimento. Se repararmos, quem tem mentalidade fixa, por não aceitar falhas, tem a ilusão de que tudo tem de ser perfeito. Então adia a execução de ideias por considerar que não tem a capacidade, as condições e/ou os recursos necessários para ficar como idealizou. Só considera possível expor algo seu, se considerar que ninguém poderá criticar. Ou seja, nunca! São os chamados perfecionistas-procrastinadores. Enquanto que o verdadeiro empreendedor considera a critica bem-vinda porque sabe que lançou uma primeira versão de algo que terá várias versões. Sabe que está a recolher informação, para que os outros o ajudem a tornar a sua criação (produto ou serviço) algo muito maior e melhor do que se tivesse permanecido por partilhar. Desta forma, também ele, tal como a sua criação, vai se tornando uma melhor versão de si mesmo. Deixo algumas dicas práticas para líderes e empreendedores que pretendem incutir a mentalidade de crescimento na sua equipa: 1. Use a palavra “ainda”. Em vez de dizer algo como “não conseguiste” dizer “ainda não conseguiste”. Esta palavra tem o poder de mostrar que acreditamos que é uma questão de tempo e esforço até à pessoa conseguir alcançar os resultados pretendidos. 2. Valorize e elogie o esforço em vez da inteligência. Um bom líder é aquele que mantém a sua equipa a crescer continuamente. Foque mais no crescimento e aprendizagem do que nos resultados apresentados pela equipa. Mesmo aqueles considerados com alto nível nas suas capacidades, podem sempre evoluir para um nível superior ou desenvolver outras capacidades. 3. Crie um ambiente que aceita erros ou falhas. Só nesse ambiente é que as pessoas ganham coragem para assumir riscos. Uma forma prática de o conseguir seria ao dar o exemplo e partilhar episódios passados de erros ou falhas que cometeu e que hoje servem de lição aprendida.

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4. Incentive a partilha de aprendizagens. Pergunte individualmente se a pessoa aceita partilhar com o resto da equipa as suas aprendizagens individuais. Torne isso um hábito. Desta forma, a falha deixa de ser um tabu e passa a ser considerada parte normal do processo de evolução. 5. Procure contratar internamente. Passa a mensagem que as capacidades técnicas podem ser aprendidas por qualquer um que tenha interesse e o perfil certo para a função. Lembre-se, mais vale contratar aquele que sabe pouco e que está disposto a aprender, do que aquele que sabe muito e não está disposto a aprender. 6. Mostre que é alguém a quem se pode recorrer e pedir ajuda em vez de alguém autoritário preocupado em manter uma imagem forte. Aos que lideram através do medo, é-lhes escondido qualquer problema que possa surgir enquanto for possível. Quando o problema é descoberto, muitas vezes já se tornou 10 vezes mais grave do que se tivesse sido partilhado numa fase inicial. Se depois de aplicar estas dicas lhe parecer tudo inalterado, não se frustre. Trata-se de uma mudança de perspetiva profunda. De uma nova forma de ver a vida, contrária ao que a sociedade nos ensinou. Vai demorar algum tempo. Para os que querem aplicar esta mudança na sua própria perspetiva, posso partilhar a minha experiência pessoal. O que ajudou e ainda ajuda particularmente, é usar uma metáfora. Procuro olhar para qualquer capacidade minha, projeto, etc. tal como uma criança olha para si própria quando está a aprender a andar: a rir-me das quedas; a voltar a pôr-me de pé rapidamente; a tentar outra vez e outra vez dia após dia, enquanto me divirto no processo; sem julgar as quedas como algo mau, mas a aprender a manter o equilíbrio por causa delas; e com toda a certeza, que mais cedo ou mais tarde, vou andar e até correr livremente. Esta perspetiva, além de garantir uma evolução mais rápida, é também mais prazerosa de ser vivida. É por isso que não podia concordar mais com a autora do conceito de mentalidade de crescimento, quando diz que “Tornar-se é melhor do que ser”.

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ENTREVISTA EXCLUSIVA

Criei o blogue como um exercício prático, para mim mesma, para que me ‘empurrasse’ no caminho da aceitação e autoestima. CATARINA CARVALHO | PROFESSORA, MODELO E BLOGGER 08

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Catarina Carvalho tem 30 anos e, embora

marca nacional bracarense especializada em

natural de Braga, vive atualmente na Covilhã. É

tamanhos plus size, e iniciou o seu percurso de

Licenciada em Línguas Aplicadas, com uma Pós-

modelo, sentindo-se cada vez mais à vontade à

Graduação em Estudos da Criança e há 9 anos

frente da camara.

que trabalha como professora, em vários contextos. Catarina confessa que em criança era muito tímida e sempre teve peso a mais desde pequena: 'posso dizer que não sofri muito com isso até à adolescência e ao início da idade

Catarina participou no programa «E Se

adulta, onde a consciência sobre a opinião dos

Fosse Consigo?», onde falou um pouco mais

outros se torna maior'. A professora e blogger

sobre a sua história.

sublinha: 'a partir daí, o peso da imagem perfeita era cada vez maior e olhar ao espelho chegava a ser uma tarefa hercúlea e que me causava

Atualmente o blog Vestígios de um Batom é

muita ansiedade'.

muito mais do que uma plataforma informativa de moda plus size, funcionando também como

Com o tempo, e muito trabalho pessoal,

uma

fonte

de

inspiração

Catarina foi percebendo que a sua imagem só

seguidores.

deveria importar a ela mesma, e começou a

experiências que partilha, sejam dela ou de

trabalhar na sua autoestima para que fosse um

quem a lê, podem ajudar quem precisa. Ou seja:

pilar para o seu bem-estar, e ao partilhar essa

'sempre que vemos um relato, uma história com

sua experiência, talvez fazer com que alguém se

a qual nos identificamos, aprendemos algo com

identificasse com o processo e criou o blogue

ela – é o que acontece comigo e o que espero

Vestígios de um Batom.

que

Catarina

aconteça

com

para

considera

quem

me

os

seus

que

as

acompanha

também'. Assim, e numa altura em que Catarina sentia que tinha atingido o ponto mais baixo da sua

Catarina concilia a carreira de professora com a

autoestima e do seu bem-estar emocional, e

de blogger, uma tarefa difícil: 'o trabalho de

depois de ter passado pelo término de uma

professor, por si só, já é desgastante e envolve

longa relação, decidiu fazer um esforço para

muita preparação fora de aulas. Da mesma

valorizar o seu corpo, por dentro e por fora,

forma, ser blogger também o é. Muitas vezes

como ainda não tinha feito até então.

surgem propostas de trabalho de modelo que não posso aceitar por uma questão de horário –

'Criei o blogue como um exercício prático, para

é impossível deslocar-me a meio da semana para

mim mesma, para que me ‘empurrasse’ no

fazer um casting, quando tenho aulas para dar.

caminho da aceitação e autoestima'. A partir daí

Por isso, recuso muitas vezes convites de

conheceu a marca Boutique da Tereza, uma

agências para me representar'.

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Já os alunos, vão descobrindo o blogue por si ou

sua vida, o seu corpo e a sua imagem, através

por recomendação de alguém, ficando bastante

das redes sociais, e daí poderão surgir muitos

surpreendidos porque Catarina não costuma

sentimentos

abordar essa temática em aula: 'é, no entanto,

mesmos influencia a forma como nos sentimos –

engraçado quando se apercebem e comentam

se eu me sinto bem comigo e com o meu corpo,

comigo em contexto escolar – tanto crianças,

sinto-me mais equilibrada ao nível mental e

como adultos, porque dou aulas a todas as

fisicamente também'.

negativos.

A

imagem

de

nós

idades'. Catarina confessou-nos que gosta mais de ser inspirada do que inspirar outras pessoas: 'saber que posso sair da minha zona de conforto, Catarina marcou recentemente presença

porque algo ou alguém me inspirou a fazê-lo, é

na

uma

revista

onde

abordou

a

sensação

maravilhosa

quando

a

temática da imagem e da saúde mental.

conseguimos alcançar'.

Na revista Cristina Catarina referiu que "a nossa

Aquando da criação do blogue, Catarina seguia

saúde mental é influenciada pela imagem que

muitas bloggers brasileiras que estavam muito

temos de nós mesmos e dos outros." Um facto

mais avançadas em termos de mentalidade e de

preocupante tendo em conta que 'atualmente,

poder de compra, uma vez que o Brasil tem

mais de 9% da população mundial sofre com

imensas opções de marcas nacionais plus size. A

distúrbios alimentares e, infelizmente, na maior

que mais me marcou Catarina foi a Ju Romano –

parte

estão

que, de acordo com a blogger 'ainda hoje

nossa

continua a ser uma sensação neste tipo de

autoimagem'. Catarina acredita que 'cada vez

temática no Brasil'. A nível português, e até

mais cultivamos a comparação com o outro, a

bracarense, sempre gostou de seguir o trabalho

dos

relacionados

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Cristina,

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casos com

esses a

distúrbios

perceção

da


do Estilista Bracarense – e a sua procura de

constante incerteza do futuro. Prova concreta

gente stylish nas ruas de Braga. 'As suas fotos

disso é que o nível de consumo de ansiolíticos e

inspiraram-me muitas vezes a sair da zona de

antidepressivos

conforto e usar a roupa como forma de

exponencialmente durante os meses de março,

expressão'.

abril e maio do ano anterior'.

Para

Catarina

a

pandemia

teve

em

Portugal

aumentou

uma

Para o futuro, Catarina ambiciona trabalhar cada

considerável influência a nível profissional, dado

vez mais na sua autoestima, realizar e promover

que perdeu 1/3 dos seus rendimentos: 'a minha

ações de formação no âmbito da saúde mental,

sanidade mental também ficou mais fragilizada

aliada à imagem corporal e, quem sabe, escrever

não só por força do que disse atrás, mas

um livro sobre o tema.

também por causa do confinamento e das sucessivas restrições à circulação. Quando tudo começou, mantive a esperança de que a situação se resolveria bastante rápido. Nunca

EMPREENDEDORISMO

me imaginei, no primeiro ano fora da cidade

'Significa

onde sempre cresci, viver uma pandemia que

perseverança. Um empreendedor não pode

me impediu de visitar os meus pais meses a fio'.

ter medo de arriscar e até mesmo de falhar.

Quando Catarina se mudou para a Covilhã,

E se isso acontecer, há-que ter em mente

prometeu a si mesma visitar a sua família e os

que

seus amigos uma vez por mês, o que não

oportunidade para recomeçar e tentar de

aconteceu mais do que 3 vezes no ano inteiro.

novo'.

trabalho,

existirá

sacrifício,

sempre

uma

visão

e

segunda

'Penso que, de forma geral, a saúde mental de cada um ficou muito afetada, sobretudo com a

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NÃO COLOQUE OS OVOS TODOS NO MESMO CESTO! Olhando para o título que encabeça este meu artigo na Emagazine, o leitor claramente consegue identificar a expressão, visto que é uma das mais amplamente utilizadas na gíria portuguesa. “Não colocar os ovos todos no mesmo saco” quer dizer que não devemos selecionar apenas um local de ação, antes devemos ter vários locais de ação onde cada um tem a sua especificidade e, em alguns casos, o seu grau de risco.

André Tiago Almeida CONSULTOR DE MARKETING WWW.ANDRETIAGOALMEIDA.PT

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Recorrendo à tendência do momento, as cripto moedas (moedas virtuais que têm valor e estão sujeitas ao mercado da compra/venda/especulação), esta expressão portuguesa encaixa também na perfeição, onde é aconselhado a que os investidores (você) invista um valor controlado nesta nova divisa, no entanto entre várias divisas, repartindo o “risco” e a flutuação em cada uma. Por miúdos quer dizer que se uma moeda baixar de valor consideravelmente terá nas outras a segurança de manutenção ou até mesmo de evolução do valor, compensando as perdas das outras em carteira. Bem, mas não é para falar de cripto moedas que dediquei estas linhas neste artigo (até porque nem sou a pessoa mais entendida no assunto e também porque este assunto tem muito “pano para mangas”). Fica o desafio ao Rui convidar alguém que nos mostre um pouco desse mundo novo! ;) É intuito deste artigo mostrar ao leitor que no que concerne à divulgação do seu projeto/negócio deve equacionar a utilização de vários canais e não apenas um único canal. O princípio é o mesmo do dos “ovos”: se utilizarmos apenas uma cesta e se ela cair, todos os ovos se quebram. No marketing e no Digital o mesmo acontece. Recorrendo a esta esquematização muito utilizada na formação de Marketing Digital, é possível observar-se que existem inúmeros canais a serem trabalhados pelas pessoas/empresas para manterem uma presença digital forte e segura na internet. Como resultado da pandemia provocada pelo vírus Sars-Cov-2, a Covid-19 veio trazer um impulso nunca antes vistos ao setor digital e à digitalização dos negócios e essa digitalização abrupta veio igualmente trazer o bom e o menos bom: a falta de estratégia.

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Assim, olhando para a representação acima é possível ver que o elemento mais importante numa estratégia digital é o site. Este é o único local inteiramente propriedade da pessoa/empresa. Não está dependente de ninguém para o ter (ou pelo menos não o deveria ser). Os conteúdos, a informação, as propostas de valor, a chamada de ação deve estar lá e é lá que o visitante se tornará em Lead e em potencial cliente. O que se assiste contudo é que grande parte dos negócios apenas tem presença num único canal, ou seja a habitual rede social (Facebook ou Instagram), o Outdoor, Flyer ou quadrado no Jornal local e a loja física claro. No entanto veio uma pandemia e a loja física fechou, a empresa voltou-se para as Redes Sociais mas como ela milhões de empresas fizeram o mesmo. Então ela não se destaca, é apenas mais uma igual às outras. E se o Facebook fechar? O Instagram? Qual será a presença digital da empresa na Internet? Voltamos então ao “cesto com os ovos”. As empresas devem ter na sua estratégia uma linha orientadora: possuir uma presença digital própria – site, suportada pelos canais tradicionais; marketing, publicidade tv, rádio, jornal, outdoor, etc e também pelos canais digitais; redes sociais, site, blog, diretórios, link building, afiliados, email, messaging, etc. Isto é ter os “ovos” em vários “cestos” e cada cesto tem uma função específica: levar os seus utilizadores a visitarem o site da empresa, onde poderá (deseja-se) haver uma conversão. A mensagem principal que quero deixar é de que devemos ter sempre vários canais em aberto, potenciando a atração de potenciais interessados nas nossas soluções e evitando que um canal que se feche não afete a estratégia seguida pela empresa. Espero sinceramente ter contribuído para que o leitor tenha uma presença digital mais forte, e que os seus projetos empreendedores tenham o maior sucesso merecido!#

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ESCOLA DO

EMPREENDEDOR

Para os nossos seguidores, somos uma das mais dinâmicas e influentes plataformas de conteúdo dedicadas às temáticas do empreendedorismo, da empregabilidade e inovação. Através do nosso blog e da revista Emagazine. Para as escolas, universidades e empresas, somos apaixonados pela partilha de experiências e pela dinamização de iniciativas, que visam formar para o empreendedorismo e contribuir para a promoção da empregabilidade. Dinamizamos workshops, talks e programas de aceleração de ideias de negócio. Se fazes parte de uma escola, universidade ou uma empresa e pretendes saber mais sobre os workshops e as talks, fala connosco através do e-mail ola@escoladoempreendedor.pt WWW.ESCOLADOEMPREENDEDOR.PT


UMA BOA IDEIA NEM SEMPRE É SINAL DE SUCESSO, APESAR DE SER RELATIVAMENTE SIMPLES EMPREENDER EM PORTUGAL, PRECISAMOS DE TER MUITA INFORMAÇÃO, INVESTIMENTO E DEDICAÇÃO.

José Miguel De Sousa Lopes, 36 anos, nasceu na Vila de Prado, hoje é um Chef

de

Pastelaria

premiado

internacionalmente. A Emagazine foi conversar com ele e conta tudo nas próximas linhas. Simpático e humilde como sempre, Miguel recebeu-nos com o sorrido rasgado que o caracteriza. Ao perguntarmos sobre a sua história, fez referência à sua infância 'bonita, humilde e unida' (...), fomos criados junto com mais doze primos numa casa de agricultor da minha avó e tudo começou por aí, em que realmente estar à mesa e usufruir de uma refeição era o maior momento de família' Foi a parir desses momentos de convívio que Miguel se apercebeu que poderia

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ENTREVISTA AO CHEF MIGUEL LOPES


contribuir para momentos ainda mais únicos e

'Foi realmente o descobrir da vocação,

mais gulosos. Enquanto a sua mãe e a sua avó

trabalhar a tempo inteiro na minha área de

cozinhavam

sonho, fazer as coisas acontecer é uma

Miguel,

ainda

com

10

anos,

propunha-se a fazer a sobremesa.

sensação indescritível'.

'Sempre fui fascinado por doces e daí a

Com o passar dos anos finalizou o curso e com

arriscar a fazê-los foi um passo pequeno e

isso também a disponibilidade e o desejo de se

com as sobremesas para os almoços e

certificar na área da pastelaria. Tirou o curso de

jantares senti realmente que estava no

Pastelaria no IEFP, fez formação na área do Cake

caminho certo. Dava-me muito gozo ver as

Design na Academia Profissional do Cake Design

pessoas comer.'

(caldas

da

Raínha),

semi-frios

na

Ireks

(Barcelona), chocolate na Chocolate Academy A mãe de Miguel que trabalhava nas limpezas,

(Barcelona), pastelaria francesa no Hangar 78

tinha, no seu leque de clientes uma pastelaria,

(Veneza).

nos dias em que a mãe ia limpar essa pastelaria, Miguel acompanhava-a sempre: 'sabia que ia

Com o fecho da Pastelaria onde trabalhava, veio

encontrar pessoal da área da pastelaria e ficava

a possibilidade de Miguel ficar com o negócio:

fascinado vê-los trabalhar, ver tudo funcionava.

'fiquei com entusiasmo e em conjunto com meu

Lembro-me de pensar: é isto que quero fazer na

irmão que é panificador resolvemos empreender

minha vida'.

e ficarmos com o negócio, criámos a Pastelaria Pão D'Oiro, (...) resolvemos praticar uma

Na escola Miguel sempre foi muito aplicado:

ideia de negócio diferenciada, que ia ao

'sempre tive sucesso e isso fez com que ao fim

encontro com as necessidades do cliente,

do 9ºano, o ensino profissional não fosse opção

trabalhar

para mim, visto que os professores e familiares

qualidade, para proporcionar uma excelente

me conduziram para o secundário. Finalizado o

experiência ao cliente'.

com

ingredientes

de

alta

percurso com sucesso, entrou com 18 anos na Universidade de Coimbra no curso de História. 'Foi uma cidade que adorei, em que fui feliz e onde

vivi o espirito académico, porém o

falecimento do meu pai levou a que tivesse de regressar

a

casa

devido

a

dificuldade

económicas, pedi então transferência para a Universidade do Minho para o curso de relações internacionais'. Com o estatuto de trabalhador estudante, Miguel começou a sua carreira na área da pastelaria, uma vez que se empregou também como ajudante de pastelaria.

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O projeto que lançou com o irmão foi um

Pedro Duque, Sandro Silva, Guilherme Nobre, na

sucesso, levando a que, em pouco tempo, se

área do cake design a Teresa Henriques e a Ana

tenham destacado da concorrência, até porque

Crachat são pessoas também inspiradoras'.

Miguel considera que na zona norte existem grandes profissionais de pastelaria e padaria.

Com a visibilidade surgiu o convite de lecionar na EPATV ao qual aceitou de imediato, visto ser um

'A minha necessidade de melhorar e a

dos seus grandes objetivos, partilhar saberes e

minha busca por estar sempre atualizado,

experiências é o que mais gosta de fazer.

gerou em mim vontade de ter experiências internacionais, fui aprender com grandes

'Deixa-me muito orgulhoso pertencer aquela

nomes da Pastelaria Internacional como

família, sabendo o trabalho de elevada

Cécile Farkas Moritel (França), Albert Davi

qualidade ali feito, que levou a escola a

(Espanha), Amaury Guichon (Itália). São

estar nas três melhores nacionais'.

grandes talentos da pastelaria que sempre me influenciaram pela sua arte e sua forma

A pandemia levou a que todos tivessem de se

de trabalhar singular e única'.

reinventar: 'a escola preparou-se e fez uma grande trabalho a nível de organização e de

Nestas

formações

internacionais,

Miguel

segurança sanitária conseguindo assim, não ter

participou também em concursos tendo sido

surtos, o que foi magnífico, (...) sentimo-nos

premiado com 1º lugar em Barcelona de semi-

todos muito seguros'.

frios e em pastelaria francesa em Veneza em Itália, o que o deixa muito orgulhoso.

A pastelaria em si também se reinventou bem como o negócio, ajustando toda a produção e

O Chef considera que em Portugal existem também grandes talentos na pastelaria: 'como o

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trabalhando por encomendas e entregas ao domicílio.


'Tem sido um desafio diário fazer chegar á mesa dos clientes, produtos frescos e quentes. Apesar de tudo, estou muito orgulhoso deste setor que tem dado prova de grande capacidade de trabalho e resiliência'. Miguel considera que empreender em Portugal não é simples, uma vez que ter uma boa ideia nem sempre é sinal de sucesso (...), apesar de parecer simples, precisamos

de

ter

muita

informação,

investimento e dedicação'. EMPREENDEDORISMO Miguel

considera

que

é

um

conceito

complexo que muitas vezes nos leva ao insucesso

pelo

simples

facto

de,

por

exemplo, não se fazer um estudo de mercado adequado ou de faltar a vertente inovação: 'não sermos inovadores, na minha área temos de ter em conta todos os fatores uma vez, que a concorrência é forte. Empreendedorismo é a arte de ter ideias novas,

inovadoras

e

diferenciadas

das

demais, acima de tudo, na minha área é sermos

criativos

para

conseguirmos

aproveitar novas oportunidades'. O FUTURO Para o futuro Miguel gostava de ter o seu espaço de formação, porque considera que 'a formação é um investimento, não um gasto'. Miguel sabe que há uma lacuna na área da formação, reforçando que 40% das pessoas que trabalham na área da pastelaria não têm qualquer formação certificada. Porque no fim de contas, 'a Pastelaria é um MUNDO de sabores texturas e cores'.#

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E MAGAZINE


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'O EMPREENDEDORISMO HOJE EM DIA SURGE COMO RESPOSTA À «REVOLUÇÃO LABORAL» QUE TEMOS VINDO A ATRAVESSAR NOS ÚLTIMOS ANOS' TXT RUI PINHEIRO PIC CAPA CÁTIA ALPEDRINHA CAETANO PICS MULHERES À OBRA

Camila Rodrigues é Licenciada em sociologia, mestre em estudos europeus e doutorada em ciência política pela FCSH. Apaixonada pelas dinâmicas da sociedade civil que permitem aos cidadãos unir-se na defesa de interesses comuns. Já Carla Lopes é tradutora freelancer, deixou um trabalho estável e promissor para se aventurar por conta própria sem qualquer garantia. 14 anos depois, com uma carteira de mais de 200 clientes por todo o mundo e um imenso orgulho no seu percurso, procura novas oportunidades paralelas à sua atividade. Estagnação é uma palavra que não consta do seu dicionário. Juntas fundaram a plataforma Mulheres à Obra, destinado a todas as mulheres empreendedoras e que tem vindo a ser reconhecida como boa prática em empreendedorismo na maternidade. O projeto recebeu já algumas distinções e deu já origem a um livro. Fomos conhecer as promotoras e este projeto e contamos tudo nas próximas linhas.

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E MAGAZINE


Camila e Carla consideram que o percurso delas

sempre orgânico e depende inteiramente da

é influenciado pelos seus pares: 'as mulheres

pertinência da nossa área de atuação e da sede

empreendedoras como nós que todos os dias

de partilha que as mulheres empreendedoras

lutam para garantir a sustentabilidade dos seus

sentem'.

negócios, independentemente da sua dimensão e área de atuação'. E o sucesso do projeto

O livro Mulheres à Obra

Mulheres à Obra mede-se pelas patrocinadoras

A plataforma deu origem ao livro Mulheres à

do mesmo, 160 mulheres que, em quase 130

Obra,

000 membros, reconhecem o valor e relevância

apresentada às fundadoras por Isabel Branco, da

desta

contribuem

Editora IN: 'ela participava no nosso grupo e

financeiramente para a sustentabilidade do

acreditou que a dinâmica que ali observava era

mesmo.

merecedora de registo literário'. A dupla agarrou

comunidade

e

que

resultou

de

uma

proposta

prontamente o desafio 'tão aliciante' e escreveu 'Se continuamos cá hoje é graças a elas;

um livro de e para mulheres empreendedoras,

sem

nossas

que conta com vários testemunhos de diversas

conquistas não seriam possíveis'. A lista, está

mulheres da comunidade que ali partilham o seu

disponível

projeto

percurso. O livro inclui ainda uma série de dicas

(https://www.mulheresaobra.pt/patrocinadoras/

muito práticas sobre a criação e gestão do

a

sua

generosidade

no

website

as do

)

próprio negócio que podem auxiliar qualquer empreendedor no seu percurso. 'É sobretudo

A comunidade Mulheres à Obra surgiu a partir

um livro que nos faz sentir acompanhados,

de uma discussão no grupo de Facebook

pois

4Moms, um grupo dedicado à maternidade.

superações é partilhada de forma frontal e

Camila e

honesta por outras pessoas como nós'.

Carla recordam que 'alguém havia

colocado ali uma publicação a desabafar sobre a dificuldade da conciliação da vida laboral com a vida familiar. Muitas mulheres com o mesmo desafio responderam, entre elas nós as duas, que na altura não nos conhecíamos'. Começaram a trocar mensagem privadas e acabaram por decidir criar um grupo para todas aquelas mulheres poderem falar em fórum. Assim nasceu o grupo Mães à Obra, que depois deu origem às Mulheres à Obra, quando passaram

a

incluir

todas

as

mulheres,

independentemente de serem ou não mães. De acordo com as fundadoras, o crescimento foi

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E MAGAZINE

a

nossa

experiência,

desafios

e


A PANDEMIA

últimos anos. Esta é caraterizada pela perda

Para esta dupla de empreendedoras, a pandemia

de postos de trabalho de baixa e média

acabou por contribuir para o seu crescimento,

especialização,

pois, de acordo com Camila e Carla, 'obrigou

tecnológica, e pela redução do custo do

muitas empreendedoras a apostar fortemente

trabalho, motivada pela crise económica e

no

pela

mundo

digital

constrangimentos

para

colocados

compensar ao

os

contacto

presencial. Assim, muitos negócios que não

em

necessidade

função

de

da

evolução

estimular

a

competitividade num mundo globalizado que se rege por uma lógica neoliberal.

tinham presença nas redes sociais, ou tinham uma presença muito ténue, estão agora a surgir

Neste contexto, surge uma retórica de

nestes espaços que são o nosso terreno de

responsabilização dos cidadãos pelo seu

eleição.'

próprio sucesso laboral, nomeadamente por via da criação do próprio negócio – o

EMPREENDEDORISMO

empreendedorismo'.

Para Camila e Carla, o empreendedorismo hoje em dia surge como 'resposta à «revolução

Para as mentoras do Mulheres à Obra esta

laboral» que temos vindo a atravessar nos

retórica tem um lado perverso, dado que a

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responsabilização dos cidadãos é acompanhada

vindo a criar grupos de trabalho em diversas

pela desresponsabilização do Estado e do grande

áreas de atividade que promovem o trabalho

capital, nomeadamente por via da redução dos

colaborativo

direitos sociais dos trabalhadores. Por isso,

podem dar respostas muito interessantes e

encaramos este processo com bastante cautela,

inovadoras'.

pois estamos conscientes da fragilidade em que

A dupla está ainda em processo de lançamento

muitas das mulheres da nossa comunidade se

de uma academia de formação e de um projeto

encontram,

de Corporate Wellness que irá oferecer soluções

em

consequência

da

situação

descrita.

entre

empreendedoras

e

que

personalizadas à medida de cada cliente. 'Assim que as contingências impostas pela pandemia

24

FUTURO

forem ultrapassadas, pretendemos igualmente

No futuro a equipa quer continuar a crescer e a

voltar a apostar nas nossas coordenações

marcar

regionais, que visam a organização de eventos e

a

diferença

no

mundo

do

empreendedorismo feminino em Portugal. 'Com

iniciativas

a nossa comunidade de patrocinadoras, temos

geográficas.#

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presenciais

nas

suas

áreas


ENTREVISTA EXCLUSIVA

ISABEL PEDROSO SILVA

Isabel confidencia alguma dificuldade em separar a sua história pessoal da profissional 'mas estão mais interligadas do que gostaria! Especialmente para quem tem o próprio negócio, é empreendedor ou freelancer, a linha que separa a vida pessoal da profissional é muito ténue'.

Para

além

de

nutricionista,

Isabel é Formadora, Criadora da

Isabel nasceu numa família de empresários e por isso foi obrigada a

Escola

entender o quão ténue é essa linha desde bem cedo, confessa: 'ah…

Online

“Ouve

O

Teu

Corpo” e do “O Podcast da Isabel

Saudades das reuniões ao telefone que o meu pai tinha na praia!' Por

– Isto Não É Só Nutrição”. Tudo

isso começa por nos resumir a sua formação, deixando a história

nas próximas linhas.

pessoal mais para a frente.

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E MAGAZINE


Isabel licenciou-se na Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto e, desde aí que o seu percurso tem sido muito heterogêneo, tendo encontrado apenas há 2 anos as áreas com as quais se identifica mais. Tirou uma pós-graduação em Nutrição Desportiva, estagiou na Associação do Porto de Paralisia Cerebral, trabalhou com crianças com Sobredotação e Autismo e foi Country Manager na Healthium (a empresa que desenvolveu o Nutrium, um software de nutrição para nutricionistas). Entre todas estas atividades ainda conseguiu formar-se em Microbiota e Saúde Intestinal e em Comportamentos Alimentares e são estas as áreas que mais apaixonam Isabel no momento. Quando saí da Healthium, em 2019, abriu a sua empresa e, desde aí, o seu foco tem sido o acompanhamento nutricional e o desenvolvimento de programas e cursos online para conseguir chegar a mais pessoas. 'No fundo, é toda uma árvore de Saúde, com pequenos ramos que vão desde a nutrição, ao bemestar, à saúde mental, à saúde física, enfim!' Para equilibrar a balança, obriga-se a parar diariamente para fazer, pelo menos, uma tarefa que alimente a sua saúde mental e criativa. Mas, como inconformada que confessa ser, essa tarefa varia sempre muito: entre o yoga, a dança, a meditação, ou ainda a escrita e a leitura. Isabel confidencia que, embora o o interesse pela área da nutrição tenha surgido cedo, o interesse em ser Nutricionista surgiu bem tarde: 'creio que só no 3º ano do curso! Entrei em Ciências da Nutrição como 2ª opção e fui fazendo as cadeiras, mas sempre muito perdida. A 1ª opção foi Medicina, mas, na

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altura, não fazia a mais pálida ideia do que queria fazer no resto da minha vida – a não ser que queria ajudar/ enveredar pela área da saúde'. 'Em criança, os meus pais deram-me a oportunidade de experimentar várias atividades não letivas e aquela que levei desde bem pequena até aos dias de hoje foi a dança. Na altura, o que praticava era ballet e foi aí que o interesse pelos alimentos e a preocupação pelo corpo começaram a surgir'. Aos 16 anos tornou-se vegetariana com a sua mãe, por questões de saúde, e foi nesse momento que começou a pesquisar horas a fio sobre nutrição: 'li revistas científicas (melhorei o meu inglês graças a estas tardes em frente ao computador), enviei e-mails a profissionais (a maioria sem resposta, admito), mas também li imensos blogs e afins com informação que hoje sei que não era fidedigna. É por essa razão que atualmente tento simplificar ao máximo a Nutrição, com base na evidência científica, para que outras pessoas não caiam nos mesmos erros que eu fiz'. Com este percurso em mente, Isabel sabia que a nutrição era uma área que lhe interessava, mas não se imaginava a exercer. Entretanto, foi estudar para a Catalunha e teve, pela 1ª vez, uma cadeira que considerou 'completamente fora do normal': nutrição em situações de emergência. Lembro-me perfeitamente de passar a 1ª aula com os olhos esbugalhados, a beber toda a informação daquele professor (uns dos profissionais inspiradores que auxiliou após o tsunami do Oceano Índico de 2004), e a pensar “porque raio é que ninguém me falou disto antes?”. Aprendi sobre como é que o nutricionista podia trabalhar em situações de catástrofes naturais, desnutrição, apoio a organizações não governamentais… Todo um novo mundo'. Foi por isso que, ao terminar a licenciatura Isabel fez um voluntariado de 2 meses no Brasil: 'Uma das melhores decisões da sua vida'.

INSPIRAR OU SER INSPIRADA? 'Bem… Se não tenho outras pessoas para me inspirar, como posso ser inspirada para inspirar outra pessoa?' Por isso a resposta de Isabel é ambas. No entanto, confessa que antes de abrir a empresa e lançar este projeto na área da nutrição e bem-estar, fez todo um trabalho de delinear objetivos, metas e propósitos, e admite que um dos que lá está é mesmo inspirar outras pessoas: 'trabalhei inclusive uns tempos com uma mentora de negócios que, num daqueles momentos de dúvida que toda a gente vai tendo na sua jornada, disse Isabel, don’t forget you're here to inspire. Not to be relatable. É isto que tento seguir'.

UMA PLATAFORMA DIGITAL E REDES SOCIAIS QUE SÃO UMA FONTE DE INSPIRAÇÃO Isabel confessa que uma das suas principais dúvidas quando começou a divulgar a empresa foi se devia criar novas redes sociais. A questão prendia-se pelo facto de Isabel na altura já ter uma página de Instagram com um bom número de seguidores onde partilhava viagens que ia fazendo.

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'DON’T FORGET YOU'RE HERE TO INSPIRE. NOT TO BE RELATABLE'

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'Debati-me muito se devia misturar a nutrição ali no meio. Mas, lá está, depois de ter definido qual era o meu objetivo a longo prazo, ficou decidido que fazia todo o sentido usar a mesma página. O propósito não era ter um lugar apenas informativo, mas sim um espaço que representava tudo aquilo que acreditava: uma mistura de bem-estar, saúde física e mental. Um lugar onde qualquer pessoa, ao entrar, conseguisse inspirar-se, ao mesmo tempo que colhia algum tipo de informação ou reflexão'. Por isso, sabe que neste momento é uma forma de incentivo para as pessoas que a seguem. Com o passar do tempo, sentiu necessidade de organizar melhor os serviços, informações, artigos de blog, podcast e receitas e, por essa razão, lançou o ano passado o website www.isabelpedrososilva.pt. SLOW LIVING Antes de falar propriamente do slow living, Isabel esclarece que, sim, refere que ajuda a criar uma boa relação com todos os alimentos e associa essa relação não só ao corpo como à mente, porque: a) são mais as pessoas que têm uma má relação com algum alimento do que as que estão completamente em paz com tudo (e ao mesmo tempo optam por alimentos nutritivos). É uma balança que é preciso saber equilibrar, sem extremismos, sem os 8 e os 80. b) Errado quem pensa que isto só acontece para questões de perda/ aumento de peso. Pessoas que têm sintomas gastrointestinais acabam por desenvolver medos alimentares e restrições, devido ao excesso de (des)informação online. Medos esses desnecessários. c) E, inclusive, já tive clientes que achavam que não tinham nenhum tipo de má relação com a comida, mas quando comiam o bolo na festa de aniversário da avó diziam-me “Isabel, hoje fiz uma asneira”. Só esta escolha de palavras já mostra os pensamentos negativos por detrás daquela ação, sendo que o que sabemos é que pensamentos negativos levam a comportamentos negativos. É urgente sair deste ciclo. É por isso que Isabel refere que está tudo interligado. No que diz respeito ao slow living, anda a tentar aplicá-lo desde 2018 e ainda não está como Isabel quer ('sinto que vou passar a minha vida toda a aprimorar este conceito'). Para os leigos, slow living é muito mais do que apenas aprender a abrandar. Engloba a saúde, o bem-estar, os relacionamentos, a contemplação, a valorização do que realmente é importante na nossa relação connosco, com os outros, com a Natureza e com a vida. Além do slow living, temos o slow food (em oposição ao fast food), as slow mornings, slow fashion, slow travel, slow money, enfim…! Em todos estes movimentos valoriza-se o tempo, as pessoas, a disponibilidade, a consciência, o respeito. Para quem tem interesse em saber mais, Isabel aconselha o livro “Essencialismo - Aprenda a Fazer Menos Mas Melhor”, do Greg McKeown. Isabel confessa que a necessidade de embarcar neste movimento veio de se ter apercebido o quão ansiosa e extremamente produtiva era: 'Vivia nessa bolha do hustle, demasiado ambiciosa, e a vida estava a passar por mim sem eu conseguir tocar nela como deve ser. Fui obrigada a parar e foi aí que comecei a praticar o mindfulness e tudo mais'. No fundo, hoje tenta fazer es-

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-colhas conscientes e movimentos mais “lentos”, desde a comida até às ações diárias. 'Desacelerar e não viver na impulsividade (era aquela pessoa que assistia a uma série ao mesmo tempo que enviava e-mails ou respondia a mensagens de clientes enquanto tinha uma conversa com o meu melhor amigo. Era ridículo'). Isabel sublinha que a 'saúde representa um todo. E acho que a minha mentalidade começou a mudar quando percebi que podia levar este conceito não só para a minha saúde, mas também para a minha produtividade e sustentabilidade do planeta'. Sobre esta teoria, recorda-se de ler um estudo que mostrava que as pessoas que praticavam o multitasking eram muito menos eficientes e não atingiam o máximo das suas capacidades cognitivas. 'Nesta área da nutrição, do slow living e afins, ao fazer pequenas ações no nosso dia-a-dia e mudar coisas simples (seja cozinhar, seja praticar uma tarefa de cada vez, seja tirar 1h para contemplar ou meditar), vamos conseguir ajudar, por influência, toda a nossa comunidade a desacelerar este ritmo frenético que vivemos. Levamos um pouco de nós para quem está à nossa volta. Se todos fizermos um pouco, acredito que eventualmente possamos voltar ao equilíbrio como sociedade. Sou mais feliz quando acredito nisso.' A PANDEMIA Antes da pandemia, o trabalho de Isabel era cerca de 80% presencial, algo que a aborrecia imenso, por saber que não era por ali que queria ir, não queria ser a “Nutricionista consultório

convencional de

nutrição”.

do Quando

começou este projeto sozinha Isabel não sabia a 100% o que queria, mas sabia muito bem o que não queria: 'não queria estar presa a um trabalho das 9h às 18h, muito menos fazer a mesma coisa todos os dias. Precisava de mais criatividade e, acima de tudo, mais liberdade'. Durante a pandemia, deu um salto naquilo que lhe estava a dar mais medo: a exposição no digital, com as primeiras aulas online, diretos, o 1º curso online sobre fome emocional e o lançamento do

Podcast:

'consegui

mexer

nas

percentagens e, neste momento, diria

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que a parte presencial do meu trabalho é cerca de 20%. O objetivo é continuar a descer'. Isabel confessa que está extremamente grata pela pandemia não me a afetado negativamente, muito pelo contrário. 'Claro que o sentimento de tristeza, preocupação e empatia por quem está na linha da frente esteve e está sempre presente, mas tenho perfeita consciência que, se queremos mudança, essa mudança tem que começar por dentro, por cada um de nós como seres individuais'. Isabel sublinha: 'não me vale de nada estar colada ao noticiário todos os dias ou lamentar por fatores externos que não posso controlar. Mas o que eu posso fazer se quero mudança é focar-me em mim, mudar a minha forma de pensar e cuidar da minha saúde física e mental'. Isabel acredita que ao fazer isso está a influenciar as pessoas à sua volta: 'sejam familiares, amigos ou clientes, e, por consequência, eles tirarão 1% de mim e vão influenciar outros. É assim que começa a mudança'. Assim, Isabel considera que a pandemia a obrigou a parar, não a nível profissional, mas a nível de reflexão: 'fiz todo um inner e shadow work durante esses meses (e continuo a fazer), primeiro de forma autónoma com recurso a livros e ao journaling e, depois, com a ajuda de profissionais incríveis ligados ao autoconhecimento'. Embora afirme que o ano passado foi um ano muito atípico, foi o ano que pôde, finalmente, pôr em prática aquilo para o qual estava a trabalhar desde o final de 2018: 'liberdade. Saí muito da zona de conforto, meditei muito e tive ainda a sorte de fazer três retiros: um em Portugal, um em Espanha e o último na Grécia'. O FUTURO Isabel confessa que planos são muitos. No final de todos os anos, escreve as conquistas que conseguiu alcançar nesse ano, algo que considera funcionar 'quase como um empurrão', um incentivo para se lembrar de sair da zona de conforto no ano seguinte: 'porque sei que é quando saio da zona de conforto que sinto mais liberdade'. Com isto, Isabel tem uma lista bem extensa de planos guardados na gaveta, e janeiro é o mês de tirar uns 3 ou 4 principais para pôr em prática nesse ano. Embora não esteja autorizada a divulgar já alguns projetos que tem para 2021, sublinha que vai dedicar-se mais à sua vertente de formadora. Mas o objetivo que está no topo da lista é algo que tem tentado trabalhar cada vez mais: 'o dolce far niente'. '(...) Por natureza (e com natureza quero dizer ansiedade), obrigome a ser produtiva todos os dias (inclusive ao fim-de-semana). 2020 foi o primeiro ano que consegui colocar um travão nesta autossabotagem que estava a fazer à minha saúde mental e, por essa razão, defini que em 2021 vou deixar fluir, vou parar mais, vou ter dias só a contemplar, passear'. O tal do slow living outra vez. Sem pressões'. Os sustos mundiais do ano passado foram tão intensos que nos deram uma noção que a vida é muito mais do que trabalho e por isso Isabel recusa-se a responder 'sou nutricionista' quando lhe perguntarem 'Quem é a Isabel?' Por isso e se tudo correr bem (e se a pandemia o permitir) vai voltar a fazer o que mais lhe dá inspiração para inspirar outros: viajar e escrever. 'O objetivo: comprar um bilhete. Só de ida. Seja por 1, 2, 6 ou mais meses. Mas só de ida'.#

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CONTEÚDO

A FERRAMENTA PODEROSA PARA MARCAS QUE DESEJAM SER ENCONTRADASRA O MUNDO!

Ana Paula Ruschel FORMADA EM JORNALISMO E MARKETING CEO DA OFICINA DAS PALAVRAS - INTELIGÊNCIA EM COMUNICAÇÃO

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A internet guia grande parte dos processos de

diferentes

nossas vidas. Uma parceria entre o Hootsuite

profissionais atentos não apenas a boas regras

(sistema

em

gramaticas e estruturação de textos claros,

gestão de marcas na mídia social), com a We Are

objetivos e atrativos. Equipes especializadas em

Social (agência mundial de estratégias digitais)

conteúdo inteligente aliam técnicas de redação

apontou que em 2019 cada pessoa no mundo

às técnicas de SEO, o Search Engine Optimization,

passava em média quase sete horas diárias

ou Otimização de Mecanismo de Busca. Ou seja,

conectada. A mesma pesquisa, já com dados de

entre palavras e informações acerca de um

2020, trouxe que 4,5 bilhões de pessoas no

produto e serviço estão alinhadas palavras-

mundo usavam a internet no ano passado, ou

chaves que vão auxiliar na busca do público

seja, 60% da população mundial está on-line.

interessado em serviços oferecidos por sua

norte-americano

especializado

plataformas

digitais

requer

marca, além de assuntos que atraem audiência Nesse grande universo de possibilidades, mas

qualificada.

igualmente repleto de tubarões afoitos por conquistar espaços, está a sua marca. A

Então é só sair escrevendo seguindo regras de

pergunta que vale milhões é: como obter

SEO e informando os pontos fortes de marcas?

destaque em posicionamento, estar entre os

Claro que não! Mais uma vez, o planejamento

mais

os

entra em cena. Não adianta escrever, publicar

consumidores e ainda chegar até o público-alvo

em espaço de mídia on e off-line sem ter clara a

de maneira ativa e efetiva? Não há milagres ou

noção de onde quero ir e para quem desejo

mesmo

muita

chegar. Conteúdo de resultado tem que ter

construção

propósito e estar alinhado a demais ferramentas

(arquitetura) de site à uma eficiente estratégia

da comunicação, afinal, a comunicação é uma

de produção e distribuição de conteúdo. É

área holística (ampla) que deve estar em

justamente nesse último tópico que desejo

sincronia com demais áreas de uma empresa.

lembrados

fórmulas

estratégia.

e

desejados

prontas.

Desde

uma

Há boa

entre

sim

focar. Em resumo, a palavra de ordem para quem quer não apenas um lugar ao sol, mas

Por fim, um caminho indicado por especialistas

sim, estar entre as primeiras páginas de

em marketing, em especial, os digitais: invista

buscadores de conteúdo na internet é a

essa energia de produção de conteúdo em

ENCONTRABILIDADE.

canais próprios de comunicação. Torne as suas páginas referência para quem busca conteúdo

O que sua marca tem feito para ser achada

do seu segmento. Some a audiência de canais de

nesse grande oceano azul de possibilidades, de

comunicação já engajados e crie uma audiência

marcas com desempenho igual ou superior e

própria

variedades oferecidas mundo afora? Que tal se

impulsionamento de sua marca na internet. Com

abraçar ao conteúdo e encarar esse mar

conteúdo credível, com autoridade e com

desafiador, volátil e mutável de possibilidades?

verdade chega-se à junção de palavras e

e

fidelizada

estratégias Produzir textos e materiais para a postagem em

voltadas

que

à

vai

auxiliar

no

geração

de

resultados.#

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Janaína Manfredini ESPECIALISTA GESTÃO, PESSOAS E ESTRATÉGIAS

TRÊS IMPACTOS DA TRANSFORMAÇÃO CULTURAL Não estamos a viver uma mudança de era. Mas sim, uma era de mudanças. Esse pensamento já permeava os discursos de muitos estudiosos e futuristas, como Thiago Mattos. E a pandemia foi uma grande aceleradora de mudanças e um teste feroz de adaptação e resiliência. E um dos aspectos mandatários para sucesso (ou fracasso) em tempos de grandes mudanças e crise é a cultura organizacional. Assim, a pandemia aflorou a necessidade de adaptação da cultura para uma mais moderna e atual. E alguns dos principais desafios são a autonomia, autogestão e a gestão por entregas e não por tempo. Home office é apenas a ponta do iceberg do que a pandemia nos trouxe de mudanças.

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Desta forma, o empreendedor - seja qual for o

permitir

a

olhar

aspectos

adaptações no atual modelo. Ou seja, novas

impactados

pela

transformação cultural.

parcerias,

bem

de

produtos,

são

e

possibilidades

porte - tem de estar atento a 3 principais que

serviços

novas

como

formas de fazer com que o pão chegue ao consumidor e este até o pão. Além disso, adaptar

1.MODELO DE GESTÃO Um

processo

de

a comunicação com o mercado, tendo em vista as transformação

(ou

fortíssimas mudanças de comportamento do

modernização) cultural busca passar a empresa

consumidor

provocadas

pode

modelos

de uma gestão no modelo tradicional para uma

emergentes, como a nova economia digital,

gestão mais humanizada, integral e sistêmica. E o

economia do acesso e compartilhada. O grande

resultado dessa evolução é o impacto positivo, o

resultado que se pode obter com esta transição é

engajamento por propósito, tanto do time

um modelo de negócio mais resiliente, capaz de

quanto do cliente. Ou seja, existe um modelo

mudar rápido quando necessário, sem grandes

mais claro e, muitas vezes, mais horizontalizado,

custos e, especialmente com escalabilidade. Pois -

regido por um propósito organizacional que

ainda tomando como exemplo a nossa padaria -

conecta todos os steakeholders na mesma

se a única forma de acessar o pão é a porta

direção.

aberta, a padaria ainda depende do cliente ir até o local. Já no caso de outras formas, como

2.MODELO DE LIDERANÇA E GESTÃO DE

delivery, clube de assinatura ou pré-pronto (onde

PESSOAS

o cliente deixa congelado) etc, a padaria passa a

Abandonar o modelo que valoriza o tempo de

ganhar outros tantos canais e aumentar suas

dedicação, presença física e passar para um que

possibilidades e maneiras de vender o pão. Ou

mede e valoriza entregas e seus impactos, bem

seja, além de adaptabilidade, ganha-se escala -

como o engajamento. Ou seja, agora, o modelo

característica principal do modelo de negócio de

de liderança, mais do que nunca, torna-se

negócios emergentes. E ganhe, provavelmente,

imprescindível e um diferencial, ao passo que o

até mesmo um aumento de lucratividade e

modelo "chefia" torna-se arcaico. Ou quem

participação de mercado.

nunca vivenciou uma pessoa de muito esforço sendo parabenizada, sem sequer questionar sua

O que eu sugiro a você, empreendedor? Comece

habilidade com competência com gestão de

saindo do processo de negação - onde toda e

prioridade, recursos, tempo, por exemplo? O

qualquer mudança é sempre avaliada com o viés

grande ganho disso é uma gestão de pessoas e

das razões para não fazer -, e se permita a olhar

times mais fluida, clara e resiliente. E, como já

novas possibilidades. Busque referências, bons

sabemos, resiliência é um ingrediente essencial

exemplos nos negócios que você conhece, perto

na era de mudanças.

ou não. Busque os cases contados na internet, independente do tamanho do seu negócio e,

3.MODELO DE NEGÓCIO

assim, se inspire em quem já fez coisas

Calma, não estou falando da padaria deixar de

diferentes! Adapte ao seu propósito e permita-se,

vender pão! Vai muito além disso. Falo sobre se

ao

menos,

testar!

Possivelmente,

você

se

surpreenderá.#

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Diogo Ferreira CO-FUNDADOR DA CHIBIOUS

ESTÁ NA ALTURA DE SE APOSTAR NO PATREON EM PORTUGAL

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É um modelo de negócio que rende mais de 18 milhões de euros por mês a artistas e criadores, mas ainda pouco adotado em Portugal. Fique a saber o que é o Patreon, como funciona e que (poucos) casos de sucesso já existem em Portugal. As indústrias criativas nunca beneficiaram muito da Internet – pelo menos, a nível monetário. Embora centenas de artistas tenham alcançado a fama e até chegado à famosa “viralidade” através da Internet, a verdade é que as receitas para estes mesmos criativos conseguem ser baixas ou até nulas, dada a distribuição livre e gratuita dos seus conteúdos na Web. Desde queixas constantes dos artistas musicais quanto ao baixo retorno que o Spotify lhes traz até aos problemas e mudanças constantes da monetização do YouTube, a verdade é que o dinheiro geralmente fica do lado das plataformas e não dos criadores. Foi também a essa conclusão que Jack Conte chegou em 2013. Jack e a sua mulher compunham a banda Pomplamoose, que conseguiu crescer a nível de following no YouTube graças a covers e vídeos que se tornaram virais. No entanto, Jack reparou que este volume de seguidores não se traduzia em grande retorno, muito pelo contrário; um vídeo que lhe custou 10 mil dólares a produzir conseguiu apenas umas centenas de dólares no YouTube, apesar de conquistar milhares de visualizações. À beira da bancarrota, Jack teve a ideia de criar uma plataforma que permitisse aos criativos rentabilizar os seguidores ávidos que conquistam através de um sistema de subscrição baseado em pequenos pagamentos mensais ou por projeto – basicamente, um serviço de crowdfunding, como o Kickstarter, mas que financie os artistas continuamente em vez de financiar apenas projetos individuais. Juntamente com Sam Yam, um amigo empreendedor, Jack Conte lançou o website Patreon.com em maio de 2013. Poucas semanas depois, os fãs de Pomplamoose já tinham oferecido mais de 5 mil dólares por cada vídeo realizado. Muito mais, escusado será dizer, do que os 50 a 100 dólares que os mesmos vídeos valiam por mês com base no modelo publicitário do YouTube. Hoje em dia, o Patreon já não é só um pet project de Jack. Mais de 180 mil criadores fazem parte deste ecossistema, apoiados por mais de 10 milhões de fãs, ou “patronos” (patrons), que geram um valor total acima dos 18 milhões de euros (quase 22 milhões de dólares) por mês. Embora a banda Pomplamoose continue a existir, Jack é agora CEO a tempo inteiro deste gigante inovador do crowdfunding, que continua a crescer de ano para ano. Como funciona o Patreon Como previamente referido, a diferenciação do Patreon, e subsequentes plataformas de membership inspiradas pelo mesmo, é o facto de ser um sistema de crowdfunding recorrente, em que os patronos prometem um valor mensal (pledge) a um(a) criador(a).

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A base do sucesso no Patreon assenta num fator: volume. Os pledges rondam em média os 11-12 dólares (cerca de 9-10 euros), pelo que cada contribuição individual tende a ser pequena. No entanto, ao criar um verdadeiro following de pessoas genuinamente interessadas em apoiar o projeto, é possível escalar esse valor médio para um total significativo. O desafio está em conquistar esse following, sobretudo se os frutos desse Patreon forem distribuídos de forma livre e gratuita nas outras plataformas, seja YouTube, Spotify ou outras. Atualmente, o Patreon não tem um custo fixo de lançamento para criadores. O valor que os criadores pagam ao Patreon é uma percentagem da sua receita por patrono, com três planos distintos e respetivas percentagens: o plano mais barato, Lite, atualmente prevê 5% da receita total para o Patreon, enquanto o plano mais caro, Premium, prevê 12% da receita total, em troca de funcionalidades mais avançadas. No entanto, é importante referir que, dado o seu crescimento astronómico nos últimos anos e o interesse em conquistar investidores, existe uma forte possibilidade de o Patreon alterar este modelo de negócio, o qual Jack Conte descreve como “generoso”. A plataforma do Patreon apresenta alguns elementos de gamification para incentivar pledges e o crescimento da comunidade. Um desses elementos são os stretch goals, isto é, objetivos para financiar algum tipo de projeto ao chegar a X seguidores ou X valor mensal no Patreon, um tipo de funcionalidade que outras plataformas de crowdfunding, como o Kickstarter, também possuem. Existe também a possibilidade de criar vários níveis (tiers) de pledges, em que cada tier tem benefícios associados – por exemplo, acesso exclusivo a um servidor de Discord (chat) onde o criador participa, materiais e publicações exclusivas acessíveis no Patreon, participação nos créditos de vídeos no YouTube ou podcasts e até bens físicos para pledges mais elevados. O estado do Patreon em Portugal Todo o tipo de criadores digitais, desde artistas musicais a podcasts, YouTubers e afins, já conseguiu encontrar algum tipo de sucesso no Patreon, com os principais casos de sucesso a conseguirem conquistar mais de 166 mil euros por mês. No entanto, em Portugal, a situação é diferente, com o Patreon a aparentar ser ainda uma novidade curiosa que apenas alguns criativos conseguiram realmente aproveitar. Possivelmente o caso de maior sucesso português no Patreon será o do podcast Maluco Beleza, criado pelo multifacetado artista português Rui Unas. Descrito como o seu “projeto pessoal”, o Maluco Beleza é um podcast de entrevistas a convidados, sobretudo (mas não só) figuras públicas, que conta atualmente com mais de 2400 patronos, mais de 900 acima do stretch goal de conseguir pagar as contas da produção apenas com o apoio dos patronos, embora seja também apoiado por patrocínios. Existem outros casos de sucesso moderado, como é o caso do podcast político Perguntar Não Ofende

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do comentador Daniel Oliveira, que atinge cerca de 600 dólares por mês, mas que, segundo próprio, não é suficiente para cobrir todos os custos associados. Nas notícias portuguesas, o Patreon está mais associado a controvérsias, como o caso da influencer Sandra Silva, que foi criticada por criar um Patreon com conteúdos exclusivos sobre a casa nova. Pode ser que a cultura portuguesa simplesmente não esteja preparada para apoiar, desta forma tão “altruística”, projetos criativos; a mesma cultura que, em estado de crise e pandemia, considerou a própria Cultura como um sacrifício aceitável. Por outro lado, poderá ser apenas uma questão de tempo até o Patreon verificar um impacto real em Portugal; afinal de contas, vivemos num país de influencers, em que figuras das redes sociais são recompensados e contratados para Influencer Marketing com base no seu número de seguidores. Quanto tempo faltará até esta comunidade de influencers se aperceber do potencial de monetizar cada um dos seus seguidores mais fiéis e criar, assim, outra fonte de rendimento, uma em que, potencialmente, têm de fazer pouco a mais do que já fazem? Tendo em conta a crise que enfrentamos e a forte possibilidade dos orçamentos de Marketing das marcas descerem a pique, poderá ser que, em breve, o Patreon se torne quase uma opção de desespero para influencers que necessitem de encontrar novo financiamento. Mais ainda, o surgimento de projetos pessoais de enorme sucesso entre figuras públicas portuguesas, como no caso do Como é Que o Bicho Mexe do Bruno Nogueira (que, neste caso, tem fins puramente altruístas e sociais), poderá levar a que essas mesmas figuras públicas sigam o exemplo de Rui Unas, particularmente tendo em conta a já referida dificuldade a nível de projetos culturais em 2020 e 2021. No entanto, o potencial do Patreon é muito maior do que apoiar figuras públicas já conhecidas ou alimentar o mercado de influencers português. Embora esteja longe de conseguir, sozinho, dar um sustento completo a pessoas criativas – já não o faz lá fora, quanto mais consegui-lo cá em Portugal –, o Patreon poderá ser uma ajuda para dar algum financiamento, nem que seja pequeno, a pequenos projetos criativos em Portugal, uma forma de alimentar hobbies que possam crescer para conseguir um retorno real. Nesse sentido, poderá dar azo a projetos interessantes que, de outra forma, não conseguirão o financiamento para sobreviver. É só preciso que os portugueses estejam dispostos a pôr uns euros por mês de parte por isso.#

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MANTER O FOCO NA PANDEMIA

Há dias perguntei nas minhas redes sociais que assunto gostariam os internautas de ver abordado nesta edição da Emagazine. A resposta mais comum não foi diferente de algumas das queixas clínicas de muitos dos pacientes que vou recebendo. É inequívoco que estes tempos são de stress e que isso muda a nossa forma de funcionar neurologicamente. A dificuldade em manter o foco agravou-se e para alguns começou a existir. Hoje é sobre isto que te quero falar.

Andreia Santos PSICÓLOGA, TRAINER E COACH

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Ando mais esquecida... E tu? Estás a dormir bem? Voltamos a estar confinados, estamos em casa e isso pode dar-nos a ilusão de que temos mais tempo ou de que estamos mais descansados. Contudo e em especial para quem está a trabalhar, na verdade estamos a fazer muito mais que antes, com rotinas onde é difícil planear e gerir o tempo por várias razões. O facto de não existirem fronteiras que dividam o espaço doméstico e de lazer do de trabalho é uma delas, as tarefas misturam-se com facilidade. Outra razão que nos coloca ruído na organização pessoal é a interferência constante das informações e práticas associadas ao combate ao vírus. Todos temos dinâmicas novas, desde o uso da máscara, até aos cuidados particulares que cada um de nós, dependendo da situação que vive, terá que assumir. Quando anteriormente ir ao supermercado seria uma atividade relativamente banal, hoje ela traz consigo rituais e ansiedade. O acréscimo de exigência existiu, existe. O facto de estarmos permanente em casa traz cansaço e sentimentos difíceis de lidar o que por si mesmo provoca a névoa cerebral que nos faz estar em sobrecarga, alguns autores falam no overdrive do córtex pré frontal. O stress ativa sobretudo o nosso cérebro primitivo, mais impulsivo e isto faz com que a zona frontal analítica e responsável pelas funções superiores se feche. Estando ele preparado para responder ao perigo está é a resposta natural nas circunstâncias que temos, ele só está a cumprir o papel de sobrevivência impulsionado pela emoção básica do medo. As nossas funções executivas e a memoria de trabalho estão naturalmente comprometidas, os estudos revelam na prática que que situações de ativação nervosa deste género prolongadas fazem com que rapidamente dispersemos logo após iniciar uma tarefa: "... afinal o que é que eu ia fazer? Estou aqui porquê? O que é que vim buscar à cozinha?..." Estamos assim há quase um ano e isso pesa, apesar dos efeitos na nossa capacidade de reter e devolver informação terem sido imediatos no tempo da pandemia. Os esquecimentos são mesmo mais frequentes, daí as insónias, a fadiga... a falta de vontade e incompetência na concentração. Por outro lado, “... é tentador fazer coisas novas ou preencher nossos dias com mais tarefas" para compensar esta ausência de movimento nas vidas... só que assim não damos tempo para que possamos reabastecer de energia os nossos neurónios... Então, de que modo damos a volta a esta situação? Absolutamente natural e esperada pela ciência comportamental. A primeira e talvez desde logo a mais lucrativa estratégia consiste em reconhecer exatamente isto. "Está tudo bem em não estar tudo bem", porque de facto não estamos iguais e estamos sim a lutar diariamente. Esta assunção dará alívio no imediato porque valida o que somos, o que sentimos. Desistir da pressão de ter que fazer como antes ou tentar ser tão operativo como noutros momentos sem combate será eficaz. Não estaremos agora a 100% porque não podemos estar. Desvalorizar e não se preocupar exageradamente com os lapsos de atenção ajuda. Depois desta normalização e porque a estamos can-

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-sados/as temos que cuidar de nós, no melhor dos sentidos ser nossos amigos e não levar adiante por exemplo o horário de trabalho. Será importante manter uma rotina equilibrada e que contemple um tempo de qualidade para si mesmo: exercício físico em princípio ajuda imenso e funciona como a abertura de uma janela para as nossas conexões neuronais. Para além deste está efetivamente provado e em estudos sobre a pandemia cá em Portugal também que quem usufrui de espaço na natureza acusa menos desgaste psicológico. Na primeira fase do confinamento, pessoas com jardim estiveram melhor. Mesmo que não haja espaço verde tua casa, não estás proibido de sair para ir arejar e isso é muito importante para a tua saúde mental. Comer bem e a horas regulares e manter o sono alinhado também se mostram benéficos para nos ajudar a regular emocionalmente. Uma vez que as nossas emoções e cognições são inseparáveis, para António Damásio por exemplo, nenhum pensamento é sequer possível sem emoção, será então necessário para além de cuidarmos do nossos bem estar com práticas de auto-cuidado, também limitar situações que nos possam intensificar a ansiedade e as preocupações. Não consultar notícias a toda a hora e/ou navegar nas redes sociais exageradamente pode de facto ajudar a escaparmos da overdose de informação. Ainda mais quando existe uma carga muito negativa nesses canais. À custa do que vamos experienciando e porque tendemos a estar menos controlados, algumas pessoas buscaram alívio em substâncias que lhes provocam prazer e descontração. No entanto, correndo o risco de acumular uma adição aos seus problemas. Deixo o alerta óbvio de que o aumento do consumo de álcool ou drogas não vai acabar com a tua ansiedade, apenas piorar o teu estado. Precisamos de ter cuidado de facto com estes comportamentos e com o descuido, que não contribui para a nossa boa relação connosco. Daí que compensará também olhares pela tua imagem pessoal, hidratar e não ficar sempre com a mesma roupa por exemplo, pode dar um impulso à leveza. Assim como continuar a dedicar tempo ao que nos faz repousar, ter lazer. Em termos laborais, para além de sabermos quando parar, será bom se soubermos governar a atenção disponível. E com isto quero dizer monitorizar e fazer pausas. Algumas equipas de trabalho começaram a fazer reuniões de zoom que incluem tempos escuros e de silêncio para inibir a estimulação digital, tu não tens que fazer isto, mas sim perceber quando e como podes descansar entre tarefas. Existem autores que dizem que em pandemia o foco se alterou porque agora ele é para a nossa família, mas não é para todos assim. Nos casos em que isto é verdade, será necessário ter cautela uma vez que o afastamento implícito dos que mais amamos pode também gerar sentimentos mais fortes de tristeza e solidão. Aqui, temos evidentemente alternativas: os telefonemas e videochamadas são a opção mais direta e o canal para atividades partilhadas: contar histórias, debater temas, fazer jogos, até jantar juntos. O mesmo se aplica aos amigos.

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É importante também deixar aqui que após o desaparecimento do stress, regra geral, associado à pandemia e isso existirá, outros estudos mostram que as ligações naturais do nosso cérebro regressam e a auto-organização será mais fácil novamente. Até porque vamos voltar a descansar sem ter que planear muito para que isso aconteça, o facto de termos encontros espontâneos e passear na rua livremente já bastará. Manter a perspetiva certa ajuda e isto significa que, como ontem uma amiga me dizia, já faltou mais e cada dia que passa é um dia a menos na resistência. Portanto, temos que ir andando, persistindo no que podemos efetivamente controlar que é o cuidado que podemos ter neste contexto. Por uma questão de curiosidade, mas também de constatação, outras das respostas à pergunta que coloquei foram pedidos para que escrevesse sobre a importância da empatia e da vida. Precisamos de resolver as necessidades imediatas e por isso o primeiro tema talvez tenha ganho destaque, no entanto isto está quase a par da reflexão geral sobre a humanidade partilhada. Nunca como hoje estivemos tão próximos na experiência que vivemos e isso também pode aumentar a nossa compreensão e apoiar o sentido do caminho, dando foco. Força desse lado! Mesmo quando a produtividade diminui, está tudo bem. Até já. #

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SIMPLY AGREEMENT FOR FUTURE EQUITY – TO BE SAFE OR NOT? Importados dos Estados Unidos da América, pioneiros na produção de mecanismos jurídicos e não jurídicos que se aplicam que nem uma luva às circunstâncias e necessidades especiais do financiamento do empreendedorismo (… ou mais do que uma luva, serão eles um molde?), encontramos um dos mais utilizados instrumentos de investimento: Os Simply Agreement for Future Equity, que, entre amigos, são abreviadamente apelidados de SAFE.

Rita Trabulo ADVOGADA COORDENADORA DASTARTINNOVATION TEAM BY CCA

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Como

sabemos,

investimento

e

existem diversas

vários

tipos

de

founders

e

formas

para

os

investimento,

para sem

a

startup:

pagar

juros

recebem e

o

com

a

concretizar, uns feitos mais à medida do que

possibilidade de não reembolso, apenas havendo

outros, acomodando os vários interesses em

conversão se um dos trigger events se verificar. O

jogo: os da startup e dos sócios promotores (os

investidor permanece não-sócio, não tendo

founders) e os dos investidores – os que já

interferência na estrutura societária. Evitam-se as

seguem no barco e os que irão entrar nele. E

negociações

será que existe colete salva-vidas para todos?

geralmente

de

acordos

acompanham

parassociais os

que

acordos

de

investimento, onde são detalhadas cláusulas Tendo presente que cada caso é um caso e que

necessárias à proteção do investimento, tais

as circunstâncias é que devem ditar as regras do

como cláusulas de anti diluição, de preferência

jogo, lancemos o foco sobre o que geralmente

na

acontece quando uma startup quer levantar

matérias

capital numa fase pre-seed ou seed. O SAFE,

investidores, entre muitos outros exemplos.

liquidação, que

obrigações devem

de

ser

permanência, votadas

pelos

introduzido nestas andanças pela aceleradora de Silicon Valley YCombinator, será uma das opções

Do lado do investidor, para além de poder vir a

em cima da mesa. E porquê?

converter o seu investimento numa participação naquela startup - ainda que num futuro que

Um SAFE é um contrato de financiamento tido

pode ser algo incerto… mas lá chegaremos -,

como simples, ágil e pouco dispendioso, visto

quando o fizer irá converter a um preço inferior

com melhores olhos do que as convertible notes,

ao da próxima ronda, fixando-se uma taxa de

não sendo considerado dívida (passivo) e sem

desconto ou uma valuation cap.

implicar datas de maturidade ou juros, ou até do que as rondas de financiamento que implicam

Parando um pouco neste ponto, num SAFE com

entrada no capital da sociedade. É um contrato

definição de taxa de desconto, o investidor

entre uma startup e o investidor que, em troca

beneficia de um desconto no preço de emissão

do investimento realizado em dinheiro, no

das ações numa futura ronda de financiamento.

presente, dá ao investidor o direito de receber, no futuro, uma participação no capital social, se

um SAFE com valuation cap, esta não é nada

um determinado evento (um trigger event)

mais nada menos do que o montante máximo de

ocorrer. Como eventos que podem desencadear

avaliação pré investimento da startup (a pre-

essa

de

money valuation) que pode ser usado para fixar

investimento futuros, venda da empresa, perda

o preço de conversão do SAFE. Se a pre-money

de controlo por parte dos founders e cotação

valuation de uma nova ronda de financiamento

das

com emissão de ações for maior do que a

conversão

ações

da

encontramos

empresa

rondas

em

mercado

regulamentado.

valuation cap estabelecida no SAFE, o investidor receberá o número de ações com base na

Podemos

descortinar,

portanto,

algumas

vantagens de um “by the book” SAFE para os

valuation cap. Se, pelo contrário, aquela premoney valuation for inferior à valuation cap, o

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preço de conversão será estabelecido pela ronda

ie maior rapidez na injeção do financiamento.

de financiamento em curso (com base na sua pre-money valuation).

A não existência de data de maturidade, que poderia levar a uma conversão independente da ocorrência de

Um SAFE poderá fixar apenas a taxa de desconto

outro evento, dá à startup uma maior liberdade de

ou apenas a valuation cap ou pode prever

atuação e de gestão de expetativas.

ambos. Neste caso, a conversão será feita com base no menor preço de conversão, ou seja, o

Easy peasy… à primeira vista. Mas… será o SAFE

que for mais favorável para o investidor,

efetivamente “safe”?

aumentando assim o número ações a receber na conversão.

Na perspetiva dos investidores, um SAFE não é um título de dívida e existe a hipótese real do SAFE não

São estas duas opções que acabam por definir

ser convertido nunca em capital. Muitas vezes este

os tipos de SAFE: com desconto, com base na

risco é mitigado com a introdução da referida data de

valuation cap ou com ambos. São estes os

maturidade, data em que, caso não tenha ocorrido

principais pontos da negociação do investimento

nenhum dos eventos previstos no SAFE, se avançará

via SAFE entre a startup e o investidor.

com a conversão do investimento em capital.

Podemos acrescentar ainda mais uma proteção

Relembro que o SAFE não prevê vencimento de juros.

para os investidores, a Most Favored Nation Clause

Ora, se pensarmos num financiamento a curto prazo,

ou a Cláusula da Nação Mais Favorecida, que dá

os juros daí decorrentes poderão parecer pouco

ao investidor o direito de converter nos melhores

significantes. Mas, se pensarmos a longo prazo, num

termos e condições existentes à data da

SAFE que se prolonga no tempo sem conversão, os

conversão. Poderão inclusive existir SAFE apenas

rendimentos que daqui poderiam advir para o

com esta cláusula, sem taxa de desconto e sem

investidor, como acontece nas convertible notes, já

valuation cap. Tudo depende da negociação.

teriam outro peso.

Resumindo e alinhando os prós dos SAFE, é

Mais, ao contrário de outros acordos e contratos de

indiscutível

pouca

investimento, em caso de distribuição de dividendos

burocracia que é exigida na formalização deste

da startup, os titulares de SAFE não receberão nada,

acordo.

a

nem com prioridade, nem sem ela. Não existe um

negociação, o SAFE traduz-se num instrumento

impedimento a essa distribuição aos sócios. Podemos

ágil

do

ter assim uma situação em que não é desencadeada a

investimento e entrada do dinheiro. Não é dívida

conversão, por não se verificar nenhum dos eventos,

e entra para as contas dos capitais próprios. Para

em que não existe reembolso do investimento ao

os investidores dá-lhes a possibilidade de

investidor, porque o SAFE não o contempla, mas existe

conversão em capital social, ficando protegidos

sim pagamento de dividendos aos sócios.

e

a

sua

Havendo rápido

simplicidade pouca

para

a

margem

e

para

concretização

em futuras rondas. Para a startup e para os founders, este instrumento representa uma maior flexibilidade

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Passando para o outro lado, para os founders,


entrar

num

a

Outro contra, relevante também para os dois lados,

de

e numa perspetiva mais formal, é a falsa sensação

incorporação e de manutenção inerentes a isso.

de simplicidade. É verdade que não deixa de ser

É

dinâmica

um contrato mais simples do que muitos outros,

empreendedora conduziria sempre à existência

como as convertible notes ou o acordo de

de uma sociedade, nomeadamente quando se

investimento com entrada direta em capital. Não

pensa em obter qualquer tipo de investimento,

deixa de ser, porém, um contrato, com a linguagem

mas não deixa de ser um contra a ponderar na

jurídica e todas as considerações e cautelas que se

fase em que o projeto ou a ideia se encontra.

deve ter sempre em conta. Sem querer puxar a

sociedade um

SAFE

implica

constituída,

contra

que

com

suportável

tenham

os

pois

custos a

brasa à sardinha de ninguém, por mais fácil, Para a sociedade, um SAFE com a fixação de uma

simples e rápido que pareça descarregar uma

valuation cap tem o contra de ter de se

minuta, completar o espaço da taxa de desconto ou

determinar essa mesma valuation cap. Para

o valor da valuation cap, há uma máxima que nunca

startups que começaram a dar os primeiros

pode ser esquecida: cada caso é um caso e as

passos no caminho do financiamento, fazer uma

circunstâncias

avaliação da empresa poderá não ser assim tão

investidor devem ser refletidas no acordo que

fácil, podendo até ser dispendiosa se tiverem de

assinarem.

que

envolvem

a

startup

e

o

contratar terceiros para o fazer. Não existe nenhuma

ronda

anterior

para

servir

de

Relacionado com este tema temos ainda o facto de

indicador. Será a primeira avaliação para muitas

este instrumento ser ainda uma novidade no nosso

empresas e esta avaliação irá ditar os termos da

ordenamento

conversão, quando esta for desencadeada, e até

amadurecer e estão em estudo os casos que não

de novas rondas.

correram assim tão bem dando origem a litígios,

jurídico.

Encontra-se

ainda

a

cuja resolução irá certamente contribuir para um Acresce que num SAFE não existe um requisito

melhor conhecimento e aperfeiçoamento deste

mínimo para se considerar uma ronda de

instrumento.

financiamento para efeitos de conversão, o que pode trazer um sabor agridoce para a startup.

Concluindo,

não

existem

soluções

perfeitas.

Imaginando um (expectavelmente longo) caminho Para mitigar este risco, poder-se-á incluir um

de ladrilhos amarelos que os levam à tão esperada

valor mínimo para que uma futura ronda de

cidade de Oz, ao estatuto de unicórnio ou algo

financiamento seja considerada um trigger event.

semelhante, seguem, lado a lado, founders e investidores, com interesses próprios mas nem

Para ambos, e porque a diluição é sempre uma

sempre opostos ou incompatíveis. É preciso apenas

preocupação em mente, muitas vezes founders e

estar atento aos sapatos que se calçam, …perdão, à

investidores esquecem-se do potencial impacto

forma escolhida para se avançar nesse caminho e

que um ou mais SAFE poderão ter na avaliação

ter consciência da sua fragilidade e dos riscos que

da empresa e na sua cap table futura.

implicam.#

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'ENVIA-ME UM VÍDEO?'

Quantas vezes você recebeu uma mensagem assim no último ano? “Manda-me um vídeo?” Ou então, “Podes enviar um vídeo com o seu depoimento?” Em tempos de confinamento e home office, a presença online cresceu significativamente, e junto com ela a necessidade de nos reinventarmos em vários aspectos.

Liliane Machado JORNALISTA E CRIADORA DE CONTEÚDO EM TEXTO E EM VÍDEO

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Entrevistas em um estúdio de TV ou rádio, ou mesmo uma entrevista de emprego, precisaram ser substituídas por chamadas de vídeo ou envio de conteúdos previamente gravados. Algumas pessoas se sentem à vontade com a câmera, outras já tem um verdadeiro pânico quando precisam gravar algum vídeo. O que queremos com este artigo é ajudar. Criamos um passo a passo de como gravar um vídeo com qualidade, mesmo sem equipamentos profissionais. Vamos a isto! De início é preciso saber que algumas informações básicas precisam ser enviadas por quem solicita um vídeo: O formato do ecrã (vertical ou horizontal), o tempo máximo do vídeo, o enquadramento (rosto, meio corpo, corpo inteiro). A partir destas informações básicas você poderá construir um pequeno roteiro que irá orientar a gravação e ajudará na organização das ideias. Formato Existem vários formatos de gravação, mas se o seu vídeo for gravado a partir do telemóvel, você precisará saber basicamente se o formato deve ser vertical ou horizontal. Essa informação é essencial, afinal, se a ideia for uma emissão em um canal de televisão o ideal é que seja com o telemóvel na horizontal. Porém, se o vídeo for para uma rede social é possível que o formato mais adequado seja na vertical. Tempo O tempo máximo de vídeo, pode ser um dos maiores problemas para quem não tem prática. Procure saber o tempo mínimo e o máximo que o vídeo deve ter. Escreva um mini roteiro, para ordenar as ideias em tópicos, e antes de gravar, faça testes cronometrados. Desta forma, ficará mais fácil saber uma média de tempo que o seu vídeo terá. Enquadramento Saber o enquadramento irá definir a distância entre você e a câmera. O ideal para um vídeo gravado com o telemóvel, é que não seja muito longe da câmera, para que o áudio não fique prejudicado. Um formato padrão, é o chamado “primeiro plano”, ou seja, mais ou menos do peito para cima. Detalhes que fazem a diferença Alguns cuidados podem parecer exagero, mas farão toda diferença no resultado final. Como por exemplo, a iluminação adequada, o fundo e a postura de quem aparece no vídeo. Quer saber um detalhe essencial e que a maioria das pessoas não se lembram? Limpar a lente do telemóvel. Isso faz toda a diferença. Então lembre-se, antes de gravar, limpe a câmera com um lenço de papel, esse simples ato pode melhorar em 50% a qualidade da sua imagem. Roteiro Encontre a fórmula que mais funcione para você. Pode ser em tópicos, ou em pequenas frases que irão orientar o seu raciocínio. Ter um roteiro em mãos vai evitar que a sua fala fique prolixa e o assunto se repita. Saber como irá começar e como irá finalizar o seu vídeo lhe dará segurança e firmeza para

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decorrer a sua ideia. Defina como será a abertura e o encerramento. Se irá se apresentar no início escreva, brevemente como fará essa apresentação. O mesmo serve para se despedir. Iluminação A opção ideal é gravar com uma janela atrás da câmera durante o dia, a melhor iluminação é a natural. Se não for possível, dê preferência para gravar em uma sala bem iluminada sem muitas sombras no rosto. Áudio ou som De preferência com um microfone de lapela, ou um fone de ouvido sem fio. Se não for possível, pode ser o áudio ambiente da câmera ou telemóvel, mas é importante que não haja ruídos no ambiente. Procure um lugar silencioso mas que não tenha efeito de eco. Evite o banheiro e a cozinha, pois são ambientes que por norma reverberam o som o provocam eco. Fundo Um fundo neutro é sempre uma boa pedida, uma parede clara, por exemplo. Outra boa alternativa é utilizar um cenário que tenha a essência do assunto. Por exemplo, se estiver a falar sobre natureza, procure posicionar pelo menos uma planta ao fundo. Cuidado com pessoas e animais próximos de você. Não há nada errado se aparecerem, mas pode tirar a atenção para oura coisa que não seja o tema escolhido. Postura Pode ser em pé ou sentado, o importante é que a pessoa não se balance de um lado para o outro. Isso pode ser evitado se você estiver sentado, mas nesse caso cuidado com a postura, para não ficar curvado nem a girar, se estiver em uma cadeira giratória. Suporte da câmera O ideal é posicionar a câmera ou o telemóvel em um tripé. Se não for possível, improvise, deixe o equipamento apoiado na altura do rosto. De preferência, evite que alguém segure a câmera enquanto grava, isso pode gerar instabilidade e não cria um efeito positivo para quem está a ver o vídeo. O conteúdo sempre será o mais importante Se alguém pediu para você enviar um vídeo para decorrer sobre um determinado tema, é porque o seu conhecimento ou opinião, são importantes. Então tenha clareza de que você tem certo domínio pelo assunto. Mantenha a calma, respire e fale com naturalidade. Evite decorar frases que saiam de forma automática. Apresentação Apresente-se e diga porque está lá. Se foi convidado para falar sobre determinado assunto, poderá agradecer o convite e o espaço que estão sendo dados à você. Por exemplo: “Olá, meu nome é Liliane

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Machado, sou jornalista e agradeço à equipe da EMagazine pelo convite para falar deste assunto.” Antes do REC Leia o roteiro em voz alta quantas vezes forem necessárias. Lembre-se que o roteiro é apenas um guia para ajudar você na hora da gravação. O melhor depoimento é aquele natural, dito com as suas palavras, e sem decorar frases. Por último, uma sugestão que irá ajudar: peça para alguém ficar atrás da câmera, com o mesmo roteiro que você criou e caso você esqueça o próximo assunto, seu ajudante pode dar uma ajudinha. Assim, você pode ficar mais à vontade, como se fosse mesmo uma conversa. Agora que você já sabe como gravar um vídeo com poucos recursos mas com eficiência, pode aceitar o próximo convite. Verás que a frase: “Envia-me um vídeo?” Já não será assim tão assustadora.#

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'EMPREENDEDORISMO (...) SIGNIFICA TRANSFORMAR AS IDEIAS EM REALIDADE, IDENTIFICANDO OPORTUNIDADES PARA CONSEGUIR CRESCER MAIS E MELHOR, DESENVOLVENDO NAS PESSOAS AO NOSSO REDOR UM SENTIMENTO CONTAGIANTE DE QUERER TORNAR TODOS OS PROJETOS ÚNICOS E ENRIQUECEDORES PARA QUEM DELES FAZ PARTE' 52

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Aproxima-se a edição de 2021 das Marketing Journeys, organizadas pelo NAMI - Núcleo de Alunos de Marketing do Iscte e nós fomos falar com as Project Manager deste incrível evento, que nas últimas três edições contou com 42 Keynotes, 3000 participantes, 5 painéis de discussão e mais de 73 parcerias. A não perder a conversa com Bruna Cruz e Sara Cacho nas próximas linhas.

APROXIMAR OS ALUNOS DO MERCADO DE TRABALHO... Para quem ainda não conhece, o NAMI é o Núcleo de Alunos de Marketing do Iscte, foi fundado em 2003 e é um órgão associativo que tem como principal missão representar todos os alunos de marketing do Iscte Business School, sejam estes de Licenciatura ou Mestrado. Os valores desta organização assentam no compromisso de excelência, no trabalho em equipa desenvolvido em todos os mandatos e na integridade de todos os alunos: 'os nossos pilares estratégicos passam pela aproximação dos alunos ao mercado de trabalho, aumentando também a notoriedade do núcleo junto do mesmo, pela maior integração e convívio entre os alunos de Marketing do Iscte e numa maior ligação entre o NAMI e o Iscte no seu todo'. É também o NAMI que organiza a 9ª edição das Marketing Journeys: o maior evento universitário de Marketing em Portugal. Sobre o evento, as Project Manager confessam: 'somos jovens que anseiam poder dar sempre mais e melhor à instituição e a todos os alunos que representamos e que gostam, particularmente, de aproveitar os seus tempos livres para obter conhecimento e ligação de proximidade com o mercado de trabalho, através da organização de eventos dos mais variados géneros ao longo de todo o ano letivo'. A motivação para a organização do evento vem de todas as direções do NAMI que, até ao momento, os motivaram a fazer mais e melhor, completando todo o ótimo trabalho realizado até ao dia de hoje e, tentando sempre, nas palavras de Bruna e Sara, 'exponenciar e pôr em prática as nossas ideias e as da nossa equipa'. No entanto, a equipa destaca um professor que os influenciou e apoiou bastante durante todo este processo e ao qual estão muito agradecidos, o Professor Pedro Dionísio, atual Diretor da Licenciatura em Gestão de Marketing e Coordenador do 2º Ano da Licenciatura em Gestão de Marketing (um dos autores da

BRUNA CRUZ E SARA CACHO

conhecida bíblia do marketing 'Mercator 25 anos - O Marketing na era digital'. 'Desde o início das Marketing Journeys que o Professor

tem

acompanhado

e

apoiado

o

desenvolvimento deste evento, motivando sempre os alunos a irem mais longe e a quererem elevar cada vez mais o nome do NAMI, da instituição académica, o ISCTE, e dos alunos de marketing que

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que representamos'. A equipa confessa ainda que o Professor Pedro Dionísio é ainda conhecido por fazer as entradas mais irreverentes das Marketing Journeys: 'em 2018 desceu com um arnês do teto do auditório e em 2019 fez uma aparição de trotinete no palco'. A EVOLUÇÃO DAS MARKETING JOURNEYS Estas jornadas pelo mundo do marketing nasceram em 2012, fruto da dinâmica de jovens estudantes da Licenciatura em Gestão de Marketing do ISCTE-IUL e que

pertenciam

juntaram-se

e

ao

NAMI.

fizeram

Estes

acontecer

idealizaram, a

primeira

conferência de Marketing organizada por alunos no ISCTE-IUL que, com o passar dos anos, tem vindo a crescer e tornar-se uma referência, cada vez mais forte, no mundo académico e até mesmo no mundo do Marketing em Portugal. O evento, que conta já com 8 edições, visa aproximar empresarial,

os

estudantes

através

da

do

mundo

consciencialização

para vários temas inovadores relacionados com o Marketing, totalmente apresentados na primeira pessoa, com casos reais de sucesso. Nas últimas três edições o evento contous com 42 Keynotes, 3000 participantes, 5 painéis de discussão e mais de 73 parcerias. A edição de 2021 A edição de 2021 será uma grande novidade pois pela primeira vez, as Marketing Journeys irão ocorrer num formato diferente que incluirá a vertente online, que permitirá a todas as pessoas de qualquer parte do país poderem assistir e participar. A equipa confessa: 'vão poder contar com um painel de oradores de peso, maior contacto com as marcas, experiência de evento como nunca vista e

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muito mais. O tema deste ano ainda não foi revelado, por isso, o que a equipa convida é a que fiquem atentos às suas redes sociais porque 'ainda há muito por revelar!' NEM A PANDEMIA OS PÁRA... As Marketing Journeys costumam ser um evento presencial, que costuma juntar 500 pessoas por dia num auditório, e a pandemia veio fazer com que a equipa tivesse de adaptar o formato: 'a pandemia e as restrições que esta exige, tiveram um grande impacto no evento e nos moldes em que este acontece. Mas a verdade é que vimos isto como uma oportunidade de expandir as Marketing Journeys e de as realizar de uma forma nunca antes pensada. Este passo que estamos a dar é bastante ambicioso, mas certamente irá ficar marcado como um feito na história das Marketing Journeys'. O FUTURO Prevendo o futuro das Marketing Journeys, a equipa garante que acredita que as gerações seguintes irão, com toda a certeza, fazer com que o evento evolua e chegue, ainda melhor, ao resto do país'. A equipa organizadora deste ano garante ainda que, 'quando já estiver no mercado de trabalho, irá, com toda a certeza, querer voltar ao Iscte para observar a evolução do evento que ajudou a crescer e a tornar-se no que ainda será. Nós, Bruna e Sara, faremos de tudo para que a geração seguinte saiba que pode contar connosco para qualquer questão que surgir, tal como nós pudemos contar com as gerações anteriores para o esperado sucesso desta edição. Porque Marketing, no Iscte, é mesmo assim: União'.

Nós estamos ansiosos pelo evento e vocês?#

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EMPREENDEDORISMO

hipótese, o que aumenta a chance de insucesso do negócio. “Nenhum plano de negócios sobrevive ao primeiro

contacto

com

um

cliente

(…)

enquanto planos são estáticos, modelos de negócio são totalmente dinâmicos” (Steve Blank)

MODELO DE NEGÓCIO: CRIAR, ENTREGAR E CAPTAR VALOR

É neste ponto que o conceito de modelo de negócio começa a fazer sentido, pois “é a forma como uma empresa cria, entrega e captura valor” (OSTERWALDER; PIGNEUR, 2002). Desta forma, o modelo de negócio pretende definir de que forma é garantida a viabilidade e a sustentabilidade de uma ideia de negócio. E só com a definição do modelo de negócio conseguimos desenhar estratégias de futuro. São muitas as ferramentas de design thinking que nos permitem trabalhar em modelos de negócio,

'aquele que destrói a ordem económica existente

sendo a mais conhecida o Canvas Business Model

através da introdução de novos produtos e

(BMC) ou “canvas do modelo de negócio”, criada

serviços, pela criação de novas formas de

por Alex Osterwalder.

organização ou pela exploração de novos materiais' Foi

assim

que

Joseph

Schumpeter

definiu

empreendedorismo em 1949 e embora já tenham passado mais de 6 décadas, o conceito mantém-se atualizado. Vivemos num mundo onde a informação circula

com

uma

rapidez

fascinante

e

os

consumidores são cada vez mais exigentes. Os planos de negócio são ferramentas necessárias às empresas mas, é impossível uma empresa ter sucesso se passar da fase da definição das ideias/oportunidades diretamente para o plano de negócios. Qualquer que seja a ideia deve ser testada, se assim não for, não deixa de ser uma

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Rui Pinheiro CONSULTOR E EDITOR IN CHIEF DA EMAGAZINE


'O

exemplo

que

exponho

aqui

é

considerado por muitos autores um estudo de caso: o modelo de negócio da consola Wii da Nintendo. Se a Wii veio revolucionar o mundo dos videojogos o seu modelo de negócio conseguiu ser tão inovador quanto o seu próprio produto. Após

uma

época

menos

boa,

a

Nintendo conseguiu distinguir-se das principais concorrentes (da Sony, com a Playstation 3 e da Microsoft, com a Xbox 360 ) produzindo uma consola com um menor desempenho tecnológico, mas muito mais interativa. A Nintendo conseguiu perceber que a estratégia de negócio poderia passar pela venda da consola a um público que liga menos ao desempenho gráfico, mas mais ao fator entretenimento (devido ao controlo por movimento). No fundo, o modelo mudou o segmento de clientes (jogadores):

em

vez

dos

hardcore

gamers, apostaram nos denominados jogadores ocasionais e nas famílias. Com esta mudança, conseguiram ainda reduzir consolas

custos (dado

de

produção

que

estas

nas não

precisavam de componentes com uma elevada exigência gráfica). Se até aqui as grandes empresas das consolas não conseguiam ganhar dinheiro com a venda das mesmas (sendo com a venda dos jogos a geração dos lucros), com a Wii a venda das consolas passou a gerar retorno económico.#

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'EMPREENDEDORISMO SIGNIFICA TER A CAPACIDADE DE PENSAR DIFERENTE / FORA DA CAIXA, DE ENCONTRAR SOLUÇÕES, ÀS VEZES INUSITADAS, PARA PROBLEMAS REAIS E IMPLEMENTÁ-LAS. SIGNIFICA CRIAR OU RECRIAR. SIGNIFICA INOVAR.'

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ENTREVISTA EXCLUSIVA A

ANDRÉ SOARES REINADOR DE BOCCIA DE ALTA COMPETIÇÃO & MENTOR DO PROGRAMA BOCCIA SÉNIOR BRAGA


Com 44 anos, André considera-se ainda um jovem. Nasceu em Castelões de Cepeda, Concelho de Paredes (Porto), no seio do que considera ser uma família muito trabalhadora, 'que várias vezes imigrou à procura de melhores oportunidades profissionais': 'cresci no contexto de pequenas aldeias e vilas do Norte de Portugal, onde tive uma infância pacata, mas feliz, (...) Fui sempre um rapaz alimentado pela curiosidade, com uma vontade enorme de aprender coisas diferentes e um desportista por natureza'. André praticou vários desportos como Atletismo, Judo, Basquetebol e Futebol. Licenciou-se na área da Educação Física e Desporto, possui uma licenciatura como Professor do Ensino Básico, Variante de Educação Física, pelo Instituto politécnico da Guarda, posteriormente, frequentou o Curso de Educação Física e Animação Social no ISLA, mas no 4º ano, insatisfeito com o Curso, solicitou transferência para o Curso de Educação física e Desporto do Instituto Superior da Maia (ISMAI). Mas André tem ainda, entre outras formações, o Título de Treinador de Boccia de Grau II e de nível I de Basquetebol. Apaixonado pelo desporto, André chegou a ser futebolista no Clube os “Torreenses”, embora tenha sido no Basquetebol, na década de 90, que teve a 1.ª experiência como Treinador nos escalões de Minis A e B. No ano 2000 comecei a trabalhar na Câmara Municipal de Valença, como Técnico de Natação. Posteriormente, dedicou cerca de 10 anos da sua carreira à função de Professor de Educação Física. Em simultâneo, surgiu a oportunidade de colaborar na preparação de atletas (crianças e adultos) portadores de deficiência mental e motora para o Campeonato Galego de Natação e posteriormente, em 2006, começou a trabalhar com a modalidade de Boccia, como orientador do treino Individual e 2.º Técnico Assistente Desportivo de um atleta Paraolímpico da classe BC3, sob a orientação do Treinador principal Prof. Luís Marta. Esta experiência na área do desporto adaptado e concretamente na modalidade de Boccia permitiu a André assumir o comando Técnico da Equipa de Boccia de Competição da Associação de Paralisia Cerebral de Guimarães de 2007 até 2009,. Mas em 2009, com a criação da Secção de Boccia do Sporting Clube de Braga, decidiu regressar à cidade dos arcebispos onde permanece até aos dias de hoje, para assumir um grande compromisso com o Clube e Direção Técnica da Secção – é atualmente Treinador de Boccia de Alta Competição e Competição, tendo já assumido na Secção, em simultâneo, o cargo de Diretor de Marketing e Diretor de Projetos Desportivos. E foi no âmbito da experiência de trabalho na Secção de Boccia que surgiu o Programa Boccia Sénior Braga, atualmente implementado em parceria com a Câmara Municipal de Braga.

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INFLUÊNCIAS Quisemos saber quem inspira André... 'Esta é uma pergunta difícil e algo traiçoeira, no sentido de correr o risco de deixar alguém de parte….! Ainda assim, posso afirmar que várias pessoas tiveram um papel fundamental ao longo do meu percurso de crescimento pessoal e profissional'. Em 1º lugar, André destaca a sua família, e particularmente a sua esposa, o empreendedor confessa que nas horas boas e menos boas ela esteve sempre ao seu lado e pronta para o ajudar, dar força e incentivo para conseguir seguir com os seus sonhos. Ainda no contexto familiar e considerando que André é descendente de uma família de empreendedores, que no seu tempo se destacaram pelos seus feitos e mérito profissional, carrega sobrenomes e apelidos que o orgulham e inspiram: “Cunha”, do lado materno e “Gonçalves Soares”, do lado paterno. O avô materno de André, conhecido como Sr. Cunha dos cobres, estabeleceu em Castelo de Paiva, na freguesia de São Martinho de Sardoura, a sua indústria de cobres artísticos - 'construiu uma fábrica com mais de 1000m2 de área coberta, uma das maiores do concelho na sua época, dando emprego a centenas de pessoas locais. Foi pai de 13 rapazes e raparigas que com ele na fábrica trabalhavam. Já naquela altura, a fábrica dispunha de um poli desportivo, disponível para os empregados da fábrica e para a comunidade local, onde se faziam muitos torneios de futebol de salão.' André acrescenta ainda que 'o Avô Cunha, para além de um empresário reconhecido, foi também um extraordinário Presidente da Junta. Um grande empreendedor! Por isso, ainda em vida, a 19.07.2003, a freguesia e o Município de São Martinho de Sardoura fizeram-lhe uma homenagem, atribuindo o seu nome a um Largo – O Largo José Bento da Cunha Ferreira'. Por sua vez, o seu avô paterno, o “Avô Raul Gonçalves Soares”, foi um Professor primário muito res-

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-peitado. Extremamente disciplinado e com um saber que André considera 'do tamanho do mundo, tendo sempre o prazer de partilhar aquilo que melhor sabia e fazia com os seus jovens alunos. Alguns deles acabaram por ter uma carreira profissional brilhante (...). Foi um homem sempre disponível e com um espírito de entrega às causas mais justas no dever de proteção das minorias e dos mais desprotegidos.

Os

seus

serviços

valeram-lhe

o

reconhecimento da Freguesia de Alpendorada e Matos e do Município de Marco de Canavezes que, ainda em vida, em sua homenagem atribuíram o seu bom nome ao Jardim de Infância Raúl Gonçalves Soares. Mais tarde, alteraram o nome do Jardim-de-infância e atribuíram o nome do meu avô a uma Rua - Rua Prof. Raúl Gonçalves Soares'. 'Na minha vida profissional sigo uma das expressões mais célebres de Yoko Ono: Um sonho, sonhado sozinho é um sonho. Um sonho sonhado junto é uma realidade'. Nesta lógica, André não poderia deixar de destacar os promotores do Programa Boccia Sénior Braga, por acreditarem e apoiarem todas as ações desenvolvidas; assim como o Diretor Técnico da Secção de Boccia do Sporting Clube de Braga, Prof. Luís Marta, que considera um 'verdadeiro Mestre', responsável por muitas das suas aprendizagens e crescimento na Área da deficiência motora,

nomeadamente

no

Desporto

adaptado

-

modalidade de Boccia. Para além das pessoas que foram e são uma referência para André e influenciaram o seu percurso (e confessa estar plenamente consciente que não as citou todas…), é igualmente inspirado por autores como Guy Kawasaki, Augusto Cury, Eckhart tolle e Robin Sharma. 'Gosto muito deste último por ser um dos mais influentes gurus de liderança no mundo'.

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DE PROFESSOR DE EDUCAÇÃO FÍSICA A TREINADOR DO DESPORTO ADAPTADO... Tudo começou no ano 2006/2007, com a cadeira de Metodologia da Atividade Física Adaptada, uma das cadeiras do Curso de Educação Física e Desporto, quando André frequentava no Instituto Superior da Maia (ISMAI). A orientadora da cadeira, Prof.ª Helena Bastos - Selecionadora Nacional de Boccia, falou com André acerca da oportunidade de realizar um estágio como 2º Técnico Assistente Desportivo no grupo de competição de Boccia, sediado na Associação de Paralisia Cerebral de Braga (APCB). 'Apaixonei-me pela modalidade e pelas incríveis capacidades (técnicas, táticas e de estratégia) dos atletas com deficiências motoras graves. Foi neste contexto que conheci o meu grande amigo e Mestre, Prof. Luís Marta, uma referência Local, Nacional e Internacional na modalidade de Boccia adapatado / Boccia paraolímpico, responsável pela qualificação de inúmeros atletas para representar Portugal nas competições Internacionais, onde se inclui os Jogos Paraolímpicos, o maior evento desportivo mundial que envolve pessoas com diferentes tipos de deficiências'. A relação pessoal e profissional com o Prof. Luís Marta e as oportunidades de trabalho na área do Desporto adaptado, fizeram André sentir que por ali seria o seu caminho. DESPORTO ADAPTADO: UMA ÁREA EM QUE AINDA E PRECISO MUDAR MENTALIDADES... A reposta é objetiva: 'Sim, sem dúvida'. André confessa que 'Infelizmente, o senso comum ainda associa a pessoa com deficiência motora à imagem de coitadinho ou incapaz, o que é de todo incorreto! Quando conhecemos estas pessoas, particularmente atletas, apercebemo-nos do quanto são grandes e fortes, determinados a ultrapassar as suas limitações, a superarem-se diariamente, sem perder o foco e a motivação para chegar cada vez mais longe!' André acrescenta que na área do desporto, apesar de já se ter assistido a alguma evolução e à implementação de políticas desportivas que tentam equiparar o desporto dito “normal” com o desporto adaptado, ainda persistem algumas desigualdades (por ex., na atribuição de bolsas desportivas…). 'Na Secção de Boccia do SCB trabalha com atletas paraolímpicos que, para além de serem atletas de competição e alta competição, têm em paralelo um emprego de onde provém a sua forma de subsistência (e nem todos têm a possibilidade de ter um emprego). Não conseguem viver do desporto; O desporto não lhes permite obter um vencimento, apesar de estarmos a falar de atletas paraolímpicos. Para além de tudo isto, em termos de imagem e projeção mediática, facilmente concluímos que o desporto adaptado não tem a mesma conotação e visibilidade que o desporto dito normal'. 'Ainda há muito preconceito a ser ultrapassado… ainda há muito a fazer! Sabemos que mudar mentalidades é muito difícil, demora muito tempo, mas o caminho faz-se caminhando e acredito que a longo prazo se possa assistir a algumas mudanças'.

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AS APRENDIZAGENS SÃO OS MELHORES PRÉMIOS Mais importante que os prémios que André alcançou ao longo do seu percurso como Treinador de competição e alta competição de Boccia, o empreendedor considera que é o contacto e as aprendizagens proporcionadas pelos atletas e dirigentes do Clube e da Secção de Boccia do Sporting Clube de Braga. 'Ao conhecer a vida dos meus atletas, passei a ver a vida sob outra perspectiva… Aprendi a dar valor ao que é mais importante, a simplificar os problemas…, a ver as dificuldades como desafios/oportunidades que me obrigam, na maioria das vezes, a “virar a página” e a descobrir forças que pensava que não tinha ou a enveredar por um caminho que eu pensava não existir! Os atletas com quem trabalho são verdadeiros “GVerreiros”, os verdadeiros conquistadores!' Falando das suas 'conquistas' e apesar de nunca as ter considerado como sendo apenas fruto do seu trabalho, mas antes de um conjunto de fatores que garantiram as condições ideais para que todos alcançássem a excelência, o ponto mais alto foi a qualificação de um atleta do Sporting Clube de Braga (Domingos Vieira, classe Bc4) para os Jogos Paraolímpicos de Londres 2012 e Rio de Janeiro 2016. Para além desta Internacionalização, outras qualificações ocorreram, nomeadamente: a presença na Taça do Mundo de Boccia – Belfast 2011 onde foi alcançado o bronze; as presenças em Campeonatos da Europa e Open`s Mundiais; a prova mais relevante, em Poznan, com a conquista do ouro na Divisão individual e coletiva Bc4 - a tão aclamada dobradinha. A nível nacional, destaca-se a conquista do Tri Campeonato Nacional e vice-campeão Sub-21, individual Bc5, e vários títulos regionais nas classes, Bc1, Bc2, Bc4 e Bc5. Várias vezes vice-campeão nacional individual e par Bc4 e individual Bc5.

O PROGRAMA BOCCIA SÉNIOR BRAGA 'Sim, o Programa Boccia Sénior Braga é um projeto muito especial!' Em 1º lugar, porque André considera que constitui um marco na sua carreira profissional, 'uma viragem, uma nova aposta despoletada por um dos piores acontecimentos da minha vida – o desemprego. Depois de uma fase inicial de grande sofrimento, revolta e medo do futuro, arregacei mangas e decidi reinventar-me…' André começou por frequentar inúmeras ações de formação, cursos de empreendedorismo, marketing pessoal, networking, liderança, coaching, etc, e dessa forma explorou e desenvolveu as suas competências pessoais e profissionais. Enquanto se apetrechava de um poder inimaginável ao nível da autodescoberta, literacia financeira e capacidade de planeamento, a Secção de Boccia do Sporting Clube de Braga lançou-lhe o desafio de agarrar uma área totalmente desconhecida para André: o

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cargo de Diretor de Projetos Desportivos. Foi no âmbito desta função que elaborou candidaturas, implementou e coordenou projetos, tendo um deles sido o projeto “Boccia para todos”. Este projeto pretendia, através da prática conjunta da modalidade de Boccia, promover um intercâmbio de experiências e conhecimentos entre indivíduos com deficiência motora grave (Atletas de Boccia da Secção de Desporto Adaptado do Sporting Clube de Braga, portadores de paralisias cerebrais e lesões neurológicas afins) e idosos com mais de 65 anos (seniores). 'A recetividade foi tanta, que rapidamente este projeto foi considerado uma referência enquanto supressor de uma necessidade existente no que diz respeito à prática desportiva sénior. Permitiu atestar que o Boccia é uma modalidade adequada à faixa etária dos idosos com um contributo muito significativo para a melhoria da qualidade das suas vidas, tendo funcionado como rampa de lançamento para a criação do Programa Boccia Sénior Braga.' Este é também um Programa especial porque permitiu que duas grandes organizações (Câmara Municipal de Braga e Sporting Clube de Braga) unissem esforços, para juntas disponibilizarem gratuitamente aos cidadãos seniores do Concelho de Braga uma resposta de cariz sócio-desportivo adequada à sua condição e necessidades. 'É especial porque não estigmatiza'. É uma atividade disponibilizada a todos os Seniores do Concelho de Braga: institucionalizados ou não, de ambos os géneros, com idade igual ou superior a 60 anos, desde que com mobilidade total e/ou assistida e/ou com síndrome demencial ligeiro. Destina-se, igualmente, a indivíduos com idade inferior aos 60 anos, desde que em situações de vulnerabilidade económica e/ou social ou limitações a nível físico/psicológico, facilitando assim a sua integração social. 'É especial pelos seus nobres propósitos'. Este Programa pretende, através da prática da modalidade de Boccia (atividade programada, orientada e especializada), contribuir para o envelhecimento ativo, melhoria da qualidade de vida (entendida como bem-estar físico, social, emocional e psicológico) e longevidade do seu público-alvo. Para além disso, contribui para a valorização e reconhecimento público das capacidades e competências do cidadão sénior, promove a sociabilização e integração social. 'É especial, porque a adesão verificada permite aferir que o Programa responde a uma necessidade real'. Até há data já conseguiu mobilizar 21 uniões/juntas de freguesia (das 37 existentes no Concelho), e 21 Instituições de apoio à 3.ª idade do concelho (lares, centros de dia, centros sociais e paroquiais, associações de reformados). Todas estas instituições aderiram ao Programa, o que se traduz em mais de 4 centenas de utentes/praticantes a beneficiar das atividades desenvolvidas.

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'É especial, porque permite diferentes tipos de atividade, dependendo das características/condição de cada indivíduo/praticante'. Se por um lado existem praticantes que aderiram ao Programa como forma de lazer / recriação/ocupação de tempos livres, existem outros que já são verdadeiros atletas, tendo aderido à vertente de competição disponibilizada pelo SC Braga – Secção de Boccia. 'Existe, no entanto, um denominador comum – todos desenvolvem competências de jogo (ainda que em níveis diferentes) e todos beneficiam da socialização/partilha de experiências/convívio que as sessões e Eventos de Boccia Sénior proporcionam'. A PANDEMIA André confessa que a pandemia tem obrigado, sempre que necessário e/ou exigido por lei, à suspensão das atividades do Programa Boccia Sénior Braga, assim como à interrupção dos treinos com os atletas da Secção de Desporto Adaptado do SCB, por se tratar de públicos de risco. Respeitando e seguindo as orientações da DGS, André colaborou na elaboração de um Plano de risco para a modalidade (Boccia Sénior e Boccia adaptado/paraolímpico). Em momentos intercalados de desconfinamento, retomou algumas sessões presenciais do Programa Boccia Sénior nas Uniões e Juntas de freguesia, assim como os treinos dirigidos aos atletas do Clube, criando e respeitando os respetivos planos de Contingência para a modalidade e o Manual de Procedimentos e de Proteção de cada organização. Uma vez que o Programa Boccia Sénior Braga está integrado no âmbito da Divisão de Desporto, Juventude, Associativismo e Participação Cívica da CMB, durante este período de pandemia, aquando a interrupção das atividades com os utentes do Programa, André acaba por me dedicar a diferentes tarefas do Gabinete, como a reorganização dos Programas Desportivos, actualização da Carta Desportiva e desenvolvimento do Plano Municipal de Saúde. A par disso, as novas tecnologias e plataformas digitais têm permitido manter alguma atividade, nomeadamente treinos online com os atletas do SCB.

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EMPREENDER EM PORTUGAL 'No meu caso, estamos a falar de empreendedorismo social'. André não sabe se o termo 'difícil' será o mais adequado: 'eu diria, que é trabalhoso e exigente. Obriga uma grande determinação, a convicção de que a nossa ideia vai resultar, muita organização, planeamento, resiliência e motivação para por em prática as ações necessárias à concretização do nosso objetivo. Para empreender e ser bemsucedido é fundamental basearmo-nos num diagnóstico de necessidades bem elaborado e fiel à realidade. Não basta termos uma ideia que achamos fantástica e esgotar energias para a pôr em prática. É essencial que essa ideia seja a resposta adequada para uma necessidade diagnosticada. Este critério ditará a probabilidade de sucesso do nosso “negócio”. 'Sabemos que Portugal é ainda um país de certa forma conservador/comodista, mas eu diria que se a nossa ideia for boa e tiver a capacidade de resolver problemas reais, como diz o ditado, primeiro estranha-se e depois entranha-se. Foi isso que aconteceu no meu caso'. André considera

que é obvio que ao longo de todo este processo, desde o diagnóstico de

necessidades, à ideia e sua implementação, é fundamental manter o foco e também estar rodeado de outras pessoas que acreditam na nossa ideia e podem apoiar a sua concretização. 'Devemos estar disponíveis para ouvir e para trabalhar em equipa, ter a capacidade para, se for necessário, “afinar” a nossa ideia, isto é, adaptar o que tínhamos originalmente idealizado ao contexto, ao público-alvo, ao território, enfim, à realidade com a qual nos confrontamos à medida que vamos avançando. Se mantivermos o foco e em simultâneo formos capazes de ser flexíveis sem perder o fio condutor, acredito que seremos bem-sucedidos'. EMPREENDEDORISMO 'A meu ver “empreendedorismo” significa ter a capacidade de pensar diferente / “fora da caixa”, de encontrar soluções, às vezes inusitadas, para problemas reais e implementá-las. Significa criar ou recriar. Significa inovar. Obriga a sair da zona de conforto. Implica coragem e capacidade para arriscar…, o que só se consegue se acreditarmos a 100% na nossa ideia/projeto e gostarmos profundamente daquilo que fazemos. Estes “ingredientes” são fundamentais para tornar o indivíduo resiliente, capaz de ultrapassar as dificuldades, manter o foco, implementar a estratégia e atingir o objetivo. Só assim se é verdadeiramente empreendedor.' O FUTURO André não se considera muito ambicioso. Confessa que aprecia as coisas simples da vida, sendo muito

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agradecido por tudo aquilo que alcançou. 'De qualquer forma, à semelhança do comum dos mortais, sonho com um futuro próspero... Para mim é muito importante manter a saúde, união familiar e qualidade de vida que felizmente tenho tido até agora'. André deseja sobretudo continuar a crescer profissionalmente, ser bem-sucedido e alcançar estabilidade financeira, de preferência a fazer aquilo que gosta: 'dá-me imenso prazer desenvolver iniciativas que se traduzam em valor acrescentado para a sociedade' (...), acompanhar o crescimento dos meus 3 filhos, apoiá-los e orientá-los, para que também eles sejam bem-sucedidos e felizes. André perspectiva ainda a possibilidade de um dia ter um negócio por conta própria, quem sabe na área da gerontologia… 'Sonho com a minha “casinha de praia” e uma reforma passada à beira mar…'#

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