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SALVADOR DOMINGO 5/12/2010

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#140 / DOMINGO, 5 DE DEZEMBRO DE 2010 REVISTA SEMANAL DO GRUPO A TARDE

ENVELHEÇA COM MAIS SAÚDE MODA DO SOL

PALMITO CUPCAKES «

A reinvenção do

ACARAJÉ De olho no mercado consumidor, a tradicional iguaria baiana se reinventa com serviços de delivery, atendimento 24h e diversidade religiosa




ÍNDICE

5.12.2010

ABRE ASPAS O geriatra Adriano Gordilho e o envelhecimento saudável

CAPA Baianas e baianos reinventam as tradições do acarajé no século 21

ARTE O artista visual Ayrson Heráclito faz releituras do alemão Joseph Beuys

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24 FOTOS FERNANDO VIVAS / AG. A TARDE

MUITÍSSIMO Aloísio Melo, da Barraca do Lôro, inaugura novo espaço à beira-mar para a temporada de verão

23

BIO O ator Talis Castro é a nova aposta de Fernando Guerreiro, no espetáculo Pólvora e Poesia

34

ATALHO Os nova-iorquinos cupcakes têm endereço no Caminho das Árvores, o Divine Cake

36

GASTRÔ Palmito produzido por cooperativa baiana ganha a aprovação dos grandes chefs

EDITORIAL

N

o tabuleiro da baiana (e do baiano) tem delivery, atendimento 24 horas, siri em lugar de camarão e loura gaúcha servindo a iguaria. Todas essas mudanças no tradicional bolinho baiano apontam para um olhar mercadológico do produto, afinal acarajé é mercadoria e está, cada vez mais, sendo tratado como tal. A jornalista Emanuella Sombra e o fotógrafo Fernando Vivas fizeram um roteiro de bons acarajés pela Cidade do Salvador e mostram como este comércio está tendo suas vendas impulsionadas por recursos há muito já usados pelo negócio da gastronomia. E as mudanças não param por aí. Boa parte dos pontos de venda é ocupada hoje por evangélicos, que dividem a clientela com quem não deixa de lado a tradição do dendê e sua ligação com o candomblé. São as leis do mercado revolucionando os tabuleiros. Também nesta edição, o médico geriatra Adriano Gordilho aconselha: manter hábitos saudáveis é fundamental para ter uma velhice ativa e autônoma. E a chegada do verão inspira roupas masculinas perfeitas para idas à praia. Nadja Vladi, editora-coordenadora

Tabuleiro de acarajé, em foto de Fernando Vivas, com intervenção de Anita Dominoni

» MAKING OF, VÍDEOS E FOTOS EM REVISTAMUITO.ATARDE.COM.BR SUGESTÕES, CRÍTICAS: REVISTAMUITO@GRUPOATARDE.COM.BR SIGA A MUITO EM: TWITER.COM/REVISTAMUITO

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ÍNDICE

5.12.2010

ABRE ASPAS O geriatra Adriano Gordilho e o envelhecimento saudável

CAPA Baianas e baianos reinventam as tradições do acarajé no século 21

ARTE O artista visual Ayrson Heráclito faz releituras do alemão Joseph Beuys

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24 FOTOS FERNANDO VIVAS / AG. A TARDE

MUITÍSSIMO Aloísio Melo, da Barraca do Lôro, inaugura novo espaço à beira-mar para a temporada de verão

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BIO O ator Talis Castro é a nova aposta de Fernando Guerreiro, no espetáculo Pólvora e Poesia

34

ATALHO Os nova-iorquinos cupcakes têm endereço no Caminho das Árvores, o Divine Cake

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GASTRÔ Palmito produzido por cooperativa baiana ganha a aprovação dos grandes chefs

EDITORIAL

N

o tabuleiro da baiana (e do baiano) tem delivery, atendimento 24 horas, siri em lugar de camarão e loura gaúcha servindo a iguaria. Todas essas mudanças no tradicional bolinho baiano apontam para um olhar mercadológico do produto, afinal acarajé é mercadoria e está, cada vez mais, sendo tratado como tal. A jornalista Emanuella Sombra e o fotógrafo Fernando Vivas fizeram um roteiro de bons acarajés pela Cidade do Salvador e mostram como este comércio está tendo suas vendas impulsionadas por recursos há muito já usados pelo negócio da gastronomia. E as mudanças não param por aí. Boa parte dos pontos de venda é ocupada hoje por evangélicos, que dividem a clientela com quem não deixa de lado a tradição do dendê e sua ligação com o candomblé. São as leis do mercado revolucionando os tabuleiros. Também nesta edição, o médico geriatra Adriano Gordilho aconselha: manter hábitos saudáveis é fundamental para ter uma velhice ativa e autônoma. E a chegada do verão inspira roupas masculinas perfeitas para idas à praia. Nadja Vladi, editora-coordenadora

Tabuleiro de acarajé, em foto de Fernando Vivas, com intervenção de Anita Dominoni

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COMENTÁRIOS

SALVADOR DOMINGO 5/12/2010

Mande suas sugestões e comentários para revistamuito@grupoatarde.com.br «

_Cesare La Rocca

Muito boa a entrevista com Cesare De La Rocca! Dentre várias questões importantes que este grande educador colocou, gostaria de enfatizar uma: o Projeto Axé é o único que tem educadores de rua e que criou esta tecnologia social intitulada de Pedagogia do Desejo. Esta metodologia fez e faz diferença no cenário de educação no nosso País. Eu só não entendo por que os governos municipais e estaduais ainda não adotaram esta metodologia como política pública governamental!? Por que há tanta dificuldade de migração de projetos de organizações não-

-governamentais (ONGs) para agendas institucionais de governo? Izabel Portela

_Genaro de Carvalho 1 Fiquei muito feliz em saber que está sendo dado o devido valor àqueles que levaram o nome da Bahia não só para o Brasil como para o mundo, como é o caso de Genaro de Carvalho e outros grandes artistas nascidos e radicados na Bahia. Mando este e-mail com grande alegria, representando o meu falecido pai, Kennedy Bahia, que, se estivesse vivo, também estaria radiante. Cintia Kennedy

_Genaro de Carvalho 2

Fico feliz em saber que a memória e a obra de um dos melhores artistas plásticos brasileiros está vindo à tona. Tenho 55 anos e moro há 35 na Avenida Genaro de Carvalho, que é a via principal do bairro de Castelo Branco. Há muito, tenho consciência da importância deste baiano para a arte baiana e, por isso, sinto grande orgulho em morar em um bairro periférico cujo nome homenageia uma grande personalidade. Parabéns à senhora Nair pelo resgate deste nome tão importante para as artes brasileiras. Gerson de Almeida Alves

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COMENTÁRIOS

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Mande suas sugestões e comentários para revistamuito@grupoatarde.com.br «

_Cesare La Rocca

Muito boa a entrevista com Cesare De La Rocca! Dentre várias questões importantes que este grande educador colocou, gostaria de enfatizar uma: o Projeto Axé é o único que tem educadores de rua e que criou esta tecnologia social intitulada de Pedagogia do Desejo. Esta metodologia fez e faz diferença no cenário de educação no nosso País. Eu só não entendo por que os governos municipais e estaduais ainda não adotaram esta metodologia como política pública governamental!? Por que há tanta dificuldade de migração de projetos de organizações não-

-governamentais (ONGs) para agendas institucionais de governo? Izabel Portela

_Genaro de Carvalho 1 Fiquei muito feliz em saber que está sendo dado o devido valor àqueles que levaram o nome da Bahia não só para o Brasil como para o mundo, como é o caso de Genaro de Carvalho e outros grandes artistas nascidos e radicados na Bahia. Mando este e-mail com grande alegria, representando o meu falecido pai, Kennedy Bahia, que, se estivesse vivo, também estaria radiante. Cintia Kennedy

_Genaro de Carvalho 2

Fico feliz em saber que a memória e a obra de um dos melhores artistas plásticos brasileiros está vindo à tona. Tenho 55 anos e moro há 35 na Avenida Genaro de Carvalho, que é a via principal do bairro de Castelo Branco. Há muito, tenho consciência da importância deste baiano para a arte baiana e, por isso, sinto grande orgulho em morar em um bairro periférico cujo nome homenageia uma grande personalidade. Parabéns à senhora Nair pelo resgate deste nome tão importante para as artes brasileiras. Gerson de Almeida Alves

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MUITO INDICA

Saudações a Gismonti

10º MERCADO CULTURAL Show com Egberto Gismonti e Orquestra de Sopros Pró Arte. Hoje, 20h, Sala principal do Teatro Castro Alves. Gratuito P. BERTON / AE

Craque da experimentação, exímio flautista, pianista e violonista, Egberto Gismonti é dono de uma das obras mais inventivas da música brasileira. Seus discos já chegaram à casa dos 60, sem contar trilhas sonoras e trabalhos como arranjador. Mas o compositor, que carregou por muito tempo o rótulo de “maldito”, ignorado pela grande mídia, continua enfrentando as barricadas erguidas contra a música instrumental. Adversário dos preconceitos, Gismonti apresenta-se com a Orquestra de Sopros Pró Arte, do Rio de Janeiro, no 10º Mercado Cultural. Fundada pela flautista Tina Pereira, morta há dois anos, a orquestra já gravou disco com versões de Tom Jobim, Baden Powell e Hermeto Pascoal. O resto do repertório do show sai de CD dedicado à obra de Gismonti, cujo último álbum, Saudações, dissipa os limites entre a música erudita e a popular. Hoje, 20h, Teatro Castro Alves. VITOR PAMPLONA «

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MUITO INDICA

Saudações a Gismonti

10º MERCADO CULTURAL Show com Egberto Gismonti e Orquestra de Sopros Pró Arte. Hoje, 20h, Sala principal do Teatro Castro Alves. Gratuito P. BERTON / AE

Craque da experimentação, exímio flautista, pianista e violonista, Egberto Gismonti é dono de uma das obras mais inventivas da música brasileira. Seus discos já chegaram à casa dos 60, sem contar trilhas sonoras e trabalhos como arranjador. Mas o compositor, que carregou por muito tempo o rótulo de “maldito”, ignorado pela grande mídia, continua enfrentando as barricadas erguidas contra a música instrumental. Adversário dos preconceitos, Gismonti apresenta-se com a Orquestra de Sopros Pró Arte, do Rio de Janeiro, no 10º Mercado Cultural. Fundada pela flautista Tina Pereira, morta há dois anos, a orquestra já gravou disco com versões de Tom Jobim, Baden Powell e Hermeto Pascoal. O resto do repertório do show sai de CD dedicado à obra de Gismonti, cujo último álbum, Saudações, dissipa os limites entre a música erudita e a popular. Hoje, 20h, Teatro Castro Alves. VITOR PAMPLONA «

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ABRE ASPAS ADRIANO GORDILHO GERIATRA

«Prevenção

é a receita que serve a todos nós»

Texto TATIANA MENDONÇA tmendonca@grupoatarde.com.br Foto FERNANDO VIVAS fvivas@grupoatarde.com.br

Os pacientes de Adriano Gordilho, 56, são sempre mais velhos que ele. Com alguns, é preciso falar alto, mesmo conversando ao pé do ouvido. Geriatra há 32 anos, já está mais que acostumado. “Acho que foi a lembrança de uma avó muito querida que eu tive, uma figura que marcou a minha infância, a inspiradora dessa história”, conta. Para o bem de nós todos, muitos mais deveriam seguir esse caminho – na Bahia, são só 15 geriatras titulados. Resultados parciais do Censo 2010 confirmam que os brasileiros estão envelhecendo. As pessoas com 60 anos ou mais representavam 8,57% da população em 2000. Hoje, são 11,16%. Em seu consultório no Canela, doutor Adriano dá uma bronca geral e irrestrita a quem ainda não “acordou” para a necessidade de manter hábitos saudáveis para ter uma velhice ativa e autônoma. “É uma burrice saber dos riscos, como o sedentarismo, e não tomar providências para mudar”. Na entrevista, ele também fala sobre o mal de Alzheimer, demência mais comum entre idosos, que atinge 700 mil brasileiros.

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Tem alguma idade ou fase em que as pessoas deveriam se preocupar mais seriamente em adotar boas práticas para envelhecer bem? Ninguém fica velho do dia pra noite. Então a preocupação com a saúde deve fazer parte de toda a nossa vida. Quanto mais você se ocupar com hábitos saudáveis, mais ‘estoque’ de saúde terá quando chegar à etapa do envelhecimento, quando há uma tendência fisiológica de declínio funcional. Por estar vivendo mais, o brasileiro está se preparando melhor para a velhice? Nós observamos que algumas pessoas estão caminhando, existe uma preocupação com alguns tipos de alimento, mas isso não acontece de forma sistêmica. Um estudo epidemiológico concluído em 2005 detectou que 83% da população investigada era sedentária. Nós sabemos que a caminhada diminui o risco de uma série de doenças, como infarto, derrame cerebral, câncer, Alzheimer, osteoporose. E, no entanto, nós temos dados mostrando que a maioria da população é sedentária. Então, na verdade, as pessoas ainda não acordaram, embora estejam sendo alertadas continuadamente pela mídia, pelos médicos. Veja que em 1950, o Brasil tinha dois milhões de indivíduos com mais de 60 anos. Hoje, são em torno de 20 milhões. Em 2025, serão 31 milhões de idosos. Isso muda o perfil de doenças da população. No perfil anterior, predominavam as doenças infectocontagiosas. E agora predominam as doenças cardiovasculares. Nós precisamos perceber que essas doenças


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ABRE ASPAS ADRIANO GORDILHO GERIATRA

«Prevenção

é a receita que serve a todos nós»

Texto TATIANA MENDONÇA tmendonca@grupoatarde.com.br Foto FERNANDO VIVAS fvivas@grupoatarde.com.br

Os pacientes de Adriano Gordilho, 56, são sempre mais velhos que ele. Com alguns, é preciso falar alto, mesmo conversando ao pé do ouvido. Geriatra há 32 anos, já está mais que acostumado. “Acho que foi a lembrança de uma avó muito querida que eu tive, uma figura que marcou a minha infância, a inspiradora dessa história”, conta. Para o bem de nós todos, muitos mais deveriam seguir esse caminho – na Bahia, são só 15 geriatras titulados. Resultados parciais do Censo 2010 confirmam que os brasileiros estão envelhecendo. As pessoas com 60 anos ou mais representavam 8,57% da população em 2000. Hoje, são 11,16%. Em seu consultório no Canela, doutor Adriano dá uma bronca geral e irrestrita a quem ainda não “acordou” para a necessidade de manter hábitos saudáveis para ter uma velhice ativa e autônoma. “É uma burrice saber dos riscos, como o sedentarismo, e não tomar providências para mudar”. Na entrevista, ele também fala sobre o mal de Alzheimer, demência mais comum entre idosos, que atinge 700 mil brasileiros.

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Tem alguma idade ou fase em que as pessoas deveriam se preocupar mais seriamente em adotar boas práticas para envelhecer bem? Ninguém fica velho do dia pra noite. Então a preocupação com a saúde deve fazer parte de toda a nossa vida. Quanto mais você se ocupar com hábitos saudáveis, mais ‘estoque’ de saúde terá quando chegar à etapa do envelhecimento, quando há uma tendência fisiológica de declínio funcional. Por estar vivendo mais, o brasileiro está se preparando melhor para a velhice? Nós observamos que algumas pessoas estão caminhando, existe uma preocupação com alguns tipos de alimento, mas isso não acontece de forma sistêmica. Um estudo epidemiológico concluído em 2005 detectou que 83% da população investigada era sedentária. Nós sabemos que a caminhada diminui o risco de uma série de doenças, como infarto, derrame cerebral, câncer, Alzheimer, osteoporose. E, no entanto, nós temos dados mostrando que a maioria da população é sedentária. Então, na verdade, as pessoas ainda não acordaram, embora estejam sendo alertadas continuadamente pela mídia, pelos médicos. Veja que em 1950, o Brasil tinha dois milhões de indivíduos com mais de 60 anos. Hoje, são em torno de 20 milhões. Em 2025, serão 31 milhões de idosos. Isso muda o perfil de doenças da população. No perfil anterior, predominavam as doenças infectocontagiosas. E agora predominam as doenças cardiovasculares. Nós precisamos perceber que essas doenças


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têm fatores de risco. Existem duas formas de envelhecer: o chamado envelhecimento bem-sucedido e o envelhecimento patológico, que é quando você junta a perda normal que vai acontecendo ao longo dos anos com essas doenças, hipertensão, diabetes, osteoporose, artrose severa, que levam o indivíduo a ficar mais dependente. Então é uma cascata de eventos que vai trazendo mais disfunções para o indivíduo. Não pela velhice, mas pela burrice de saber dos riscos e não tomar providências para mudar. Mas em que medida essa ideia de que é possível envelhecer sem adoecer corresponde à realidade? Olha, o envelhecimento bem-sucedido não implica normalmente total ausência de doenças. Implica que você tenha doenças leves, que não tenham grande impacto na sua vida. Tenho pacientes com 90 e poucos anos que têm uma hipertensão controlada por remédios, pela alimentação, por atividade física. Às vezes uma artrose moderada, mas que está fazendo fisioterapia... Na verdade, o grande parâmetro para avaliar a saúde de um indivíduo idoso é a função. Ele pode estar com algumas doenças controladas, mas está funcionalmente ativo. Tem independência nas suas atividades diárias e autonomia para exercitar sua cidadania. Esse indivíduo, para nós, é saudável. O que é fundamental mudar no estilo de vida que levamos? Vou te mostrar dados desse estudo do coração, de 2005. Entre os brasi-

SALVADOR DOMINGO 5/12/2010

«Existem duas formas de envelhecer: o chamado envelhecimento bem-sucedido e o envelhecimento patológico, que é quando você junta a perda normal a doenças» leiros, 35,4% têm sobrepeso; 23% são obesos; 28% são hipertensos; 9% são diabéticos; e 83% são sedentários. Olhe esses outros dados, que interessantes. Quando atingimos 70 anos, qual é a chance de chegarmos aos 90? Se eu não tiver nenhum desses fatores de risco – sedentarismo, hipertensão, obesidade, diabetes, tabagismo –, minha chance passa dos 50%. Cada fator de risco que eu vou agregando, minha chance vai diminuindo. Se eu agrego cinco fatores, são menos de 5% de chances de fazer 90 anos. Então a responsabilidade de envelhecer é de cada um dos indivíduos e também das políticas públicas. O Brasil precisa investir muito em campanhas de promoção de saúde e prevenção de doenças. A Bahia é o Estado com maior número absoluto de pessoas com mais de 100 anos. São 2.473 centenários. Quais os cuidados específicos para esse grupo? Quanto mais o indivíduo se aproxima dos 90, 100 anos, mais suscetível e vulnerável fica. Ele escapou da mortalidade por aquelas doenças do coração, etc. – o maior risco está em fases mais jovens –, mas tem mais risco de queda. Às vezes esses pacientes não bebem água suficientemente, então tem risco de isquemia cerebral, principalmente no ve-

rão, porque desidratam. O sangue fica mais grosso, digamos assim. Eles também correm risco de desnutrição... A política nacional do idoso é muito boa, mas ela não foi implementada de forma sistêmica na população. Se não tem para o idoso jovem, com 60, 70 anos, imagine para o centenário. Pode ser que agora, com esses dados do censo, se implante uma política de nonagenários para cima. Seria o ideal, porque é um grupo diferenciado. São indivíduos no limite das suas funções. Como prevenir as quedas, bastante comuns entre os idosos, não só nessa faixa etária? Precisamos estar atentos aos fatores inerentes ao envelhecimento, como baixa de visão, às vezes catarata; dificuldade de audição, porque uma boa audição ajuda a se posicionar em relação ao ambiente; e doenças neurológicas, que prejudicam o equilíbrio. Também é muito importante fortalecer os músculos dos quadríceps. São eles que nos põem de pé com força, estabilidade. Claro, os idosos não vão entrar na musculação de aparelhos, mas vão trabalhar com pequenos pesos, com caneleiras de meio quilo, de um quilo, aumentando mais a repetição do que o peso, para ganhar mais resistência.

Como distinguir os primeiros sintomas do mal de Alzheimer com o processo natural de envelhecimento? Olha, déficit de atenção e concentração, todos nós temos. O que precisa ser levado a sério são os déficits de memória. Quando o idoso pergunta várias vezes a mesma coisa, quando não se lembra do que aconteceu há uma hora ou o que comeu, quando se perde na rua... São os primeiros sinais. Muitas vezes, a família demora a levar esse paciente ao médico, porque fica achando que é coisa da velhice, e não é. É preciso que um geriatra seja contatado para que os testes sejam realizados.

Esse serviço é ofertado pelo SUS? Sim. Tem o Creasi – Centro de Referência e Atenção à Saúde do Idoso, o Hospital Irmã Dulce e o Laboratório de Neurologia da Ufba. Estes locais também distribuem medicamentos da demência de Alzheimer. Mas como são só três centros e a demanda é grande, o agendamento de consultas demora muito. E como é possível se prevenir? A doença de Alzheimer não tem uma causa, mas existem fatores associados, como depressão, isolamento social, baixa escolaridade, inatividade física. Na verdade, todas as doen-

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ças que acontecem com indivíduos nessa faixa etária têm uma raiz comum, que tem a ver com o estilo de vida. A prevenção é uma receita que serve a todos nós. É você, cada vez mais, ter uma alimentação saudável, com seis a oito porções de frutas e verduras por dia; diminuir drasticamente o consumo de gordura animal; optar por gordura do tipo azeite de oliva extravirgem; utilizar mais peixe do que outras carnes; agregar muita folha, hortaliça e grãos à alimentação; fazer atividade física diariamente. E, além disso, tem o que chamamos de reativação social. Frequentar aniversário, batizado, casa-


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têm fatores de risco. Existem duas formas de envelhecer: o chamado envelhecimento bem-sucedido e o envelhecimento patológico, que é quando você junta a perda normal que vai acontecendo ao longo dos anos com essas doenças, hipertensão, diabetes, osteoporose, artrose severa, que levam o indivíduo a ficar mais dependente. Então é uma cascata de eventos que vai trazendo mais disfunções para o indivíduo. Não pela velhice, mas pela burrice de saber dos riscos e não tomar providências para mudar. Mas em que medida essa ideia de que é possível envelhecer sem adoecer corresponde à realidade? Olha, o envelhecimento bem-sucedido não implica normalmente total ausência de doenças. Implica que você tenha doenças leves, que não tenham grande impacto na sua vida. Tenho pacientes com 90 e poucos anos que têm uma hipertensão controlada por remédios, pela alimentação, por atividade física. Às vezes uma artrose moderada, mas que está fazendo fisioterapia... Na verdade, o grande parâmetro para avaliar a saúde de um indivíduo idoso é a função. Ele pode estar com algumas doenças controladas, mas está funcionalmente ativo. Tem independência nas suas atividades diárias e autonomia para exercitar sua cidadania. Esse indivíduo, para nós, é saudável. O que é fundamental mudar no estilo de vida que levamos? Vou te mostrar dados desse estudo do coração, de 2005. Entre os brasi-

SALVADOR DOMINGO 5/12/2010

«Existem duas formas de envelhecer: o chamado envelhecimento bem-sucedido e o envelhecimento patológico, que é quando você junta a perda normal a doenças» leiros, 35,4% têm sobrepeso; 23% são obesos; 28% são hipertensos; 9% são diabéticos; e 83% são sedentários. Olhe esses outros dados, que interessantes. Quando atingimos 70 anos, qual é a chance de chegarmos aos 90? Se eu não tiver nenhum desses fatores de risco – sedentarismo, hipertensão, obesidade, diabetes, tabagismo –, minha chance passa dos 50%. Cada fator de risco que eu vou agregando, minha chance vai diminuindo. Se eu agrego cinco fatores, são menos de 5% de chances de fazer 90 anos. Então a responsabilidade de envelhecer é de cada um dos indivíduos e também das políticas públicas. O Brasil precisa investir muito em campanhas de promoção de saúde e prevenção de doenças. A Bahia é o Estado com maior número absoluto de pessoas com mais de 100 anos. São 2.473 centenários. Quais os cuidados específicos para esse grupo? Quanto mais o indivíduo se aproxima dos 90, 100 anos, mais suscetível e vulnerável fica. Ele escapou da mortalidade por aquelas doenças do coração, etc. – o maior risco está em fases mais jovens –, mas tem mais risco de queda. Às vezes esses pacientes não bebem água suficientemente, então tem risco de isquemia cerebral, principalmente no ve-

rão, porque desidratam. O sangue fica mais grosso, digamos assim. Eles também correm risco de desnutrição... A política nacional do idoso é muito boa, mas ela não foi implementada de forma sistêmica na população. Se não tem para o idoso jovem, com 60, 70 anos, imagine para o centenário. Pode ser que agora, com esses dados do censo, se implante uma política de nonagenários para cima. Seria o ideal, porque é um grupo diferenciado. São indivíduos no limite das suas funções. Como prevenir as quedas, bastante comuns entre os idosos, não só nessa faixa etária? Precisamos estar atentos aos fatores inerentes ao envelhecimento, como baixa de visão, às vezes catarata; dificuldade de audição, porque uma boa audição ajuda a se posicionar em relação ao ambiente; e doenças neurológicas, que prejudicam o equilíbrio. Também é muito importante fortalecer os músculos dos quadríceps. São eles que nos põem de pé com força, estabilidade. Claro, os idosos não vão entrar na musculação de aparelhos, mas vão trabalhar com pequenos pesos, com caneleiras de meio quilo, de um quilo, aumentando mais a repetição do que o peso, para ganhar mais resistência.

Como distinguir os primeiros sintomas do mal de Alzheimer com o processo natural de envelhecimento? Olha, déficit de atenção e concentração, todos nós temos. O que precisa ser levado a sério são os déficits de memória. Quando o idoso pergunta várias vezes a mesma coisa, quando não se lembra do que aconteceu há uma hora ou o que comeu, quando se perde na rua... São os primeiros sinais. Muitas vezes, a família demora a levar esse paciente ao médico, porque fica achando que é coisa da velhice, e não é. É preciso que um geriatra seja contatado para que os testes sejam realizados.

Esse serviço é ofertado pelo SUS? Sim. Tem o Creasi – Centro de Referência e Atenção à Saúde do Idoso, o Hospital Irmã Dulce e o Laboratório de Neurologia da Ufba. Estes locais também distribuem medicamentos da demência de Alzheimer. Mas como são só três centros e a demanda é grande, o agendamento de consultas demora muito. E como é possível se prevenir? A doença de Alzheimer não tem uma causa, mas existem fatores associados, como depressão, isolamento social, baixa escolaridade, inatividade física. Na verdade, todas as doen-

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ças que acontecem com indivíduos nessa faixa etária têm uma raiz comum, que tem a ver com o estilo de vida. A prevenção é uma receita que serve a todos nós. É você, cada vez mais, ter uma alimentação saudável, com seis a oito porções de frutas e verduras por dia; diminuir drasticamente o consumo de gordura animal; optar por gordura do tipo azeite de oliva extravirgem; utilizar mais peixe do que outras carnes; agregar muita folha, hortaliça e grãos à alimentação; fazer atividade física diariamente. E, além disso, tem o que chamamos de reativação social. Frequentar aniversário, batizado, casa-


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A FIB faz parte do grupo Estácio.

mento, enterro (risos), hidroginástica... O governo deveria botar um professor de educação física em cada praça, promovendo atividades para os idosos. Sai muito mais barato do que gastar dinheiro com fratura de fêmur, medicamentos de alto custo, internamento. O Alzheimer é uma doença incurável e degenerativa. Os medicamentos promovem que tipos de benefício? Até o presente momento, os remédios têm uma ação de deter a velocidade da doença. É como se você continuasse doente, mas com o freio de mão puxado. São eficazes em re-

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tardar a chegada do indivíduo à dependência total. Que conselhos costuma dar para familiares ou cuidadores desses doentes? Você tocou agora no xis da questão. O idoso que tem algum grau de dependência vai precisar ser acompanhado por um parente ou por um cuidador. Muitas vezes, a família contrata pessoas que não têm nenhum treinamento, por isso há muitos casos de negligência, maus-tratos, abusos... Também há os casos de filhos que estão em condição financeira ruim e acabam se apoderando do dinheiro do idoso. Tenho

vários casos assim aqui no consultório. Muitas vezes, os filhos tratam os idosos com demência como se voltassem a ser crianças. E não são, são adultos que perderam a capacidade de cuidar de si mesmos. Quando fazem a mesma pergunta várias vezes, os filhos perdem a paciência... E brigam como se estivessem falando com uma criança de 5 anos. Então é importante ter paciência e, principalmente, educação, nessa questão da formação de cuidadores. A Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia fez no começo do mês um curso aqui em Salvador. Vamos continuar investindo nisso. «

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A FIB faz parte do grupo Estácio.

mento, enterro (risos), hidroginástica... O governo deveria botar um professor de educação física em cada praça, promovendo atividades para os idosos. Sai muito mais barato do que gastar dinheiro com fratura de fêmur, medicamentos de alto custo, internamento. O Alzheimer é uma doença incurável e degenerativa. Os medicamentos promovem que tipos de benefício? Até o presente momento, os remédios têm uma ação de deter a velocidade da doença. É como se você continuasse doente, mas com o freio de mão puxado. São eficazes em re-

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tardar a chegada do indivíduo à dependência total. Que conselhos costuma dar para familiares ou cuidadores desses doentes? Você tocou agora no xis da questão. O idoso que tem algum grau de dependência vai precisar ser acompanhado por um parente ou por um cuidador. Muitas vezes, a família contrata pessoas que não têm nenhum treinamento, por isso há muitos casos de negligência, maus-tratos, abusos... Também há os casos de filhos que estão em condição financeira ruim e acabam se apoderando do dinheiro do idoso. Tenho

vários casos assim aqui no consultório. Muitas vezes, os filhos tratam os idosos com demência como se voltassem a ser crianças. E não são, são adultos que perderam a capacidade de cuidar de si mesmos. Quando fazem a mesma pergunta várias vezes, os filhos perdem a paciência... E brigam como se estivessem falando com uma criança de 5 anos. Então é importante ter paciência e, principalmente, educação, nessa questão da formação de cuidadores. A Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia fez no começo do mês um curso aqui em Salvador. Vamos continuar investindo nisso. «

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SALVADOR DOMINGO 5/12/2010

SALVADOR DOMINGO 5/12/2010

Mais um livro de Lázaro

MUITÍSSIMO RONALDO JACOBINA

DIVULGAÇÃO

O ator Lázaro Ramos tomou gosto pela literatura. Depois de lançar, inclusive aqui na Bahia, no mês passado, A velha sentada, seu primeiro livro infantil, o baiano já começou a se dedicar à próxima obra. Desta vez, o global vai produzir ficção para adultos. O novo trabalho, ainda sem título, deverá ser lançado no segundo semestre de 2011 e sairá pela editora Objetiva. Por enquanto, o autor prefere manter tudo sob sigilo. Certo é que se dividirá entre o livro e as gravações da novela de Gilberto Braga.

Narduzzi na Graça

MARCO AURÉLIO MARTINS / AG. A TARDE

A volta do Lôro A fiel clientela do Lôro (Aloísio Melo Filho) não vai passar o verão sem teto solar. Até o final deste mês, oempresário-surfistavaiinaugurar,naPraiadeAleluia, um novo espaço à beira-mar. Desta vez, nada de barraca. Ele e a mulher, Rô Imbassay, irão comandar uma bela casa de 1,5 mil m² que terá o mesmo conceito do negócio anterior. A casa do Lôro tem projeto do arquiteto Heron Valadares, decoração de Lena Lebram e muitas obras de arte. O espaço funcionará somente durante o dia, com boa comida, carta de vinhos e, claro, o spa gratuito da Natura. Tudo como antes. Só que, desta vez, mais longe da faixa de areia.

Alessandro Narduzzi continua cravando sua assinatura nos cardápios da cidade. O chef, dono do Lupetta, na Barra, virou um dos consultores mais requisitados da cena gastronômica local. Depois de desenhar o cardápio do Habeas Copos e de outros restaurantes, o italiano levou seu know-how em pastas e pizzas para a recém-inaugurada Deli & Cia, na Graça. A pizza de mussarela, presunto de parma e figo é uma das suas criações para a casa. É de pedir bis!

Da Bahia para o mundo Valéria Méier é a nova sensação do mercado fashion europeu. O sucesso, no entanto, não está no alto das passarelas. A baiana tem ganhado fama mesmo é no backstage, onde costuma assinar o make-up e hair de tops internacionais. Vivendo na Suíça desde 2002, onde é professora do conceituado Beauty Und Style Academy, ela acabou de assinar o editorial da Moda City, uma das mais prestigiadas publicações do mercado de moda mundial.

Acima, o empresário Joaquim Nery. Abaixo, a baiana Valéria Méier (de preto) maquiando uma modelo da Elite Model Suíça

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Nery fatura com palestra O empresário Joaquim Nery encontrou mais uma maneira de engordar a conta bancária. Amparado no sucesso da Central do Carnaval e do Bloco Camaleão – dois dos maiores cases de sucesso da área de entretenimento –, o ex-professor de cursinho tem rodado o País ministrando palestras para executivos de grandes empresas. A atividade, segundo ele, ainda não está rendendomuitosdividendos–o cachêestá abaixo dos R$ 5 mil –, mas o resultado tem ajudado a fortalecer as duas marcas e, de quebra, vender o produto Carnaval da Bahia. Por enquanto, a agenda do novo palestrante (que este ano está comemorando 10 anos da Central) ainda tem data disponível. Mas, se for tão bom motivador quanto foi professor de geografia, logo não vai ter mais horário. Até porque essa é uma atividade que rende muito. Não que precise. Mas dinheiro nunca é demais. BORIS MARBERG / DIVULGAÇÃO


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O ator Lázaro Ramos tomou gosto pela literatura. Depois de lançar, inclusive aqui na Bahia, no mês passado, A velha sentada, seu primeiro livro infantil, o baiano já começou a se dedicar à próxima obra. Desta vez, o global vai produzir ficção para adultos. O novo trabalho, ainda sem título, deverá ser lançado no segundo semestre de 2011 e sairá pela editora Objetiva. Por enquanto, o autor prefere manter tudo sob sigilo. Certo é que se dividirá entre o livro e as gravações da novela de Gilberto Braga.

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Alessandro Narduzzi continua cravando sua assinatura nos cardápios da cidade. O chef, dono do Lupetta, na Barra, virou um dos consultores mais requisitados da cena gastronômica local. Depois de desenhar o cardápio do Habeas Copos e de outros restaurantes, o italiano levou seu know-how em pastas e pizzas para a recém-inaugurada Deli & Cia, na Graça. A pizza de mussarela, presunto de parma e figo é uma das suas criações para a casa. É de pedir bis!

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Fotos ALEX OLIVEIRA http://www.flickr.com/ photos/oliveiralex/ Estilo, produção, tratamento de imagens MAYRA LINS http://ex-ato.tk/

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SALVADOR DOMINGO 5/12/2010

SALVADOR DOMINGO 5/12/2010

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BIO TALIS CASTRO

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A verdadeira estreia Talis Castro ainda não se acostumou ao cabelo curto e assimétrico. “Só cortei três vezes: uma, quando eu era pequeno e o pente embolou na parte de cima. A outra, num trabalho anterior de modelo, e a terceira agora, para a peça”, diz, enquanto passa a mão impacientemente sobre a nuca, como num tique nervoso. Desfazer-se dos longos fios faz parte do processo de concepção da peça Pólvora e Poesia, escrita por Alcides Nogueira e dirigida por Fernando Guerreiro, que estreou ontem no Espaço Cultural da Barroquinha. Nela, Castro vive o poeta Arthur Rimbaud, que escandalizou a França do século 19 ao manter um relacionamento amoroso com o também poeta Paul Verlaine. Tanto a vida como a obra revolucionária de Rimbaud já explicariam o frio na barriga que o ator de 24 anos, formado empublicidade, senteaosubirnotablado.Emparte,peladensidadedopapel.E,emparte, porque encarar um Fernando Guerreiro logo de início não é pouca responsabilidade. “Para mim, essa é verdadeiramente a minha estreia no teatro. Não só por trabalhar com Guerreiro e com um texto dramático, mas porque agora eu passo a entender como funciona essa engrenagem”. À frente da Hiper Ativa Comunicação, Talis Castro produz a montagem e ainda faz parte do Clube dos Hienas, um dos primeiros grupos de stand-up comedy de Salvador, com o qual adquiriu experiência e aprendeu a lidar com o público e a improvisação. Mas avisa: “Não quero ser eternamente um ator de comédia”. «

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Texto EMANUELLA SOMBRA esombra@grupoatarde.com.br Foto FERNANDO VIVAS fvivas@grupoatarde.com.br

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SALVADOR DOMINGO 5/12/2010

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25

A evolução dos

Patrimônio cultural imaterial brasileiro, as tradições do acarajé são reinventadas por baianas e baianos de olho no mercado

TABULEIROS Texto EMANUELLA SOMBRA esombra@grupoatarde.com.br Foto FERNANDO VIVAS fvivas@grupoatarde.com.br

U Olga, a baiana que vende acarajé e abará por delivery

ma das filhas da baiana Olga Pereira atende ao celular. “Oi, querida. Eu gostaria de pedir três acarajés com vatapá e salada. Ah, e pimenta só em dois”, diz a voz abafada pelo telefone, enquanto ela anota os pedidos. “E três Cocas Zero, por favor. Não, não, esquece. Coca normal é melhor”, interrompe a escrita da atendente. “Eu me esqueci de checar, vocês entregam no Campo Grande?” O primeiro acarajé delivery de Salvador funciona há pouco menos de um ano. Enquanto a mãe administra um tabuleiro no estacionamento do Extra na Avenida Paralela, Rosângela Pereira distribui itinerários aos motoboys de uma central em Pituaçu. Os bolinhos vão em envelopes brancos, e os recheios, em vasilhas de plástico. A encomenda é transportada numa mochila térmica. Mas acarajé não é bom de se comer na hora, logo depois que sai do tacho fervente, quando ainda está crocante, sequinho, exalando aquele indefectível cheiro de dendê? Dona Olga defende que não, necessariamente. “O que deixa o acarajé mole é a sacola plás-

tica, o nosso vai no papel”, diz, bem paciente, como se explicasse a maior das obviedades do ramo da gastronomia de rua. A mulher de 53 anos que empresta nome ao negócio é negra e bem magra, de sorriso fácil e conversa cativante. Veste a tradicional indumentária bordada em linho branco, mas pertence a outra linhagemdebaianas.Adasquenãoherdaramo ofício das mães ou avós e que, ao contrário do que seria lógico em se tratando de Bahia, não pertencem ao candomblé. “Sou evangélica”, sorri, como quem pede licença ao atravessar um terreno estrangeiro. Tal declaração pode soar como ofensa em alguns terreiros de Salvador, onde o bolinho de feijão-fradinho é comida sagrada oferecida principalmente a Iansã, a mu-


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A evolução dos

Patrimônio cultural imaterial brasileiro, as tradições do acarajé são reinventadas por baianas e baianos de olho no mercado

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SALVADOR DOMINGO 5/12/2010

SALVADOR DOMINGO 5/12/2010

Raimundo Brim, o Rei do Abará, em seu quiosque no Itaigara. Abaixo, Tia Zazá, que vende acarajé 24 horas

lher de Xangô, deus dos raios e trovões. “Nãotemdiferença,minhafilha,areceitaé a mesma. Eu só não faço oferenda“. Para bom entendedor, três palavras bastam. O “Deus é fiel” escrito no toldo, ao lado da logomarca da Olga, funciona como um carimbo cristão. A baiana, que aprendeu o ofício com Regina, famosa por vender seus quitutes no Largo de Santana, no Rio Vermelho, é igual às demais num aspecto: acarajé é mercadoria e ponto.

SEM PORTA NEM CADEADO Elas – e eles, já que os “baianos” vêm promovendo uma lenta democratização dos turbantes – aprenderam a arte dos bolinhos fritos no dendê para ganhar dinheiro. Se antes a atividade existia para que as mulheres negras angariassem recursos para fazer o santo e cobrir os gastos das obrigações de iniciação no candomblé, hoje o ofício é cada vez mais comercial. É como se as leis de mercado impulsionassem uma reinvenção do tabuleiro. Quem poderia imaginar, há meio século, um acarajé 24 horas em Salvador? Pois já existe. O Acarajé da Zazá fritou o primeiro bolinho em 1968 e há poucos meses experimenta a rotina dos estabelecimentos que nunca fecham e desconhecem o que seja uma porta ou cadeado. “Dá a média de uma fritada por hora e 40 quilos de massa por dia”, explica Irênio dos Anjos, enquanto observa um funcionário mexer o feijão triturado com cebola, que, depois de batido com colher de pau, vai ganhando consistência aerada e alva. “Esse é o segredo, tem que ser esse ponto de neve, senão fica massudo. Meus clientes vêm aqui de madrugada, de outros bairros, só para comer um“. Aos 51 anos, ele divide a administração do negócio 24h com duas irmãs, Ilza e Izaildes. A pequena loja tem ares de lanchone-

te, funciona no estacionamento do aeroporto de Salvador e é herança da mãe, Isaltina Ferreira, que se deu de presente a aposentadoria e foi morar no interior. Em vez de dona Zazá, a matriarca, quem atende é Luzia, a mulher de Irênio.

HÓSTIA PARA EXU O baiano morador de Itinga representa 20% do total de cadastradosnaAssociaçãodeBaianasdeAcarajé,Mingau,Receptivosda Bahia (Abam) que não frequentam – ou nunca pisaram – num terreiro de santo. “Isso não é, necessariamente, ruim, mas vira um problemaquandoelesdesrespeitamatradição,escrevem‘bolinho de Jesus’ numa placa, põem Bíblia no tabuleiro”, provoca Rita Santos, presidente da entidade. Rita nasceu no Rio de Janeiro, é filha de Ogã (sacerdote no candomblé) e frequenta terreiros em Salvador. Desde que assumiu a Abam, atende cerca de 2.300 associados na capital, mas estima que o número total de tabuleiros seja o dobro. Foi em meio a entrevistas para TVs e banhos de pipoca com alfazema que ela falou à Muito, no Dia da Baiana, comemorado em 25 de novembro. “Sabe o que é? Todo mundo sabe que acarajé é comida do candomblé, mas não respeita. A associação não é contra a profissional

A baiana Ivone e sua invenção: siri em lugar do camarão

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evangélica, desde que siga as tradições, use bata, saia, torço. Ela não pode é trazer a religião dela para o ponto”, diz, com um sotaque bem carioca. “A gente não vai para a porta da igreja dizer que a hóstia é de Exu ou de Oxóssi. Seria a mesma coisa”. Aos olhos da Abam, a profissão regulamentada por decreto municipal de 1998 deveria supor regrinhas básicas que não são cumpridas porque “a associação não tem poder de fiscalizar”. Seriam algumas delas: não comercializar o produto em delicatessens, não vender refrigerante ou cerveja, não pronunciar o nome dos orixás em vão e não desrespeitar a fórmula acarajé, vatapá, camarão e salada. Há os que respeitam, e até acrescentam algumas colheradas de caruru e uma leve pinceladademolhodepimenta.Etambém os que, munidos daquela intuição culinária que preza pela experimentação constante, resolvem mudar, adaptar, trocar um ingrediente. E quando a receita dá certo, é difícil imaginar que o paladar vá se render a um decreto municipal. Dona Ivone sabe. Tanto que há dez anos vende acarajés com siri catado em vez de camarão, ou então os dois juntos, misturados a vatapá e salada. “Eu dei aquele estalo: vou fazer acarajé com siri, que é parentedocamarão.Devedarcerto”,lembra, sentada num ponto localizado na Rua Território do Acre, na Pituba, ao lado da locadora de filmes GPW. Quem ouve falar ainda estranha.

HAMBÚRGUER DE VATAPÁ “Acarajé de siri? Rá, essa eu não conhecia”. De uma sala da Faculdade de Nutrição da Ufba, ouvem-se gargalhadas. São do antropólogoVilsonCaetanoaosaberdainvenção. “Eu sei que existe o ‘abaralhau’, um abará preparado com bacalhau em vez de camarão, vendido em Nazaré e no Bon-


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Raimundo Brim, o Rei do Abará, em seu quiosque no Itaigara. Abaixo, Tia Zazá, que vende acarajé 24 horas

lher de Xangô, deus dos raios e trovões. “Nãotemdiferença,minhafilha,areceitaé a mesma. Eu só não faço oferenda“. Para bom entendedor, três palavras bastam. O “Deus é fiel” escrito no toldo, ao lado da logomarca da Olga, funciona como um carimbo cristão. A baiana, que aprendeu o ofício com Regina, famosa por vender seus quitutes no Largo de Santana, no Rio Vermelho, é igual às demais num aspecto: acarajé é mercadoria e ponto.

SEM PORTA NEM CADEADO Elas – e eles, já que os “baianos” vêm promovendo uma lenta democratização dos turbantes – aprenderam a arte dos bolinhos fritos no dendê para ganhar dinheiro. Se antes a atividade existia para que as mulheres negras angariassem recursos para fazer o santo e cobrir os gastos das obrigações de iniciação no candomblé, hoje o ofício é cada vez mais comercial. É como se as leis de mercado impulsionassem uma reinvenção do tabuleiro. Quem poderia imaginar, há meio século, um acarajé 24 horas em Salvador? Pois já existe. O Acarajé da Zazá fritou o primeiro bolinho em 1968 e há poucos meses experimenta a rotina dos estabelecimentos que nunca fecham e desconhecem o que seja uma porta ou cadeado. “Dá a média de uma fritada por hora e 40 quilos de massa por dia”, explica Irênio dos Anjos, enquanto observa um funcionário mexer o feijão triturado com cebola, que, depois de batido com colher de pau, vai ganhando consistência aerada e alva. “Esse é o segredo, tem que ser esse ponto de neve, senão fica massudo. Meus clientes vêm aqui de madrugada, de outros bairros, só para comer um“. Aos 51 anos, ele divide a administração do negócio 24h com duas irmãs, Ilza e Izaildes. A pequena loja tem ares de lanchone-

te, funciona no estacionamento do aeroporto de Salvador e é herança da mãe, Isaltina Ferreira, que se deu de presente a aposentadoria e foi morar no interior. Em vez de dona Zazá, a matriarca, quem atende é Luzia, a mulher de Irênio.

HÓSTIA PARA EXU O baiano morador de Itinga representa 20% do total de cadastradosnaAssociaçãodeBaianasdeAcarajé,Mingau,Receptivosda Bahia (Abam) que não frequentam – ou nunca pisaram – num terreiro de santo. “Isso não é, necessariamente, ruim, mas vira um problemaquandoelesdesrespeitamatradição,escrevem‘bolinho de Jesus’ numa placa, põem Bíblia no tabuleiro”, provoca Rita Santos, presidente da entidade. Rita nasceu no Rio de Janeiro, é filha de Ogã (sacerdote no candomblé) e frequenta terreiros em Salvador. Desde que assumiu a Abam, atende cerca de 2.300 associados na capital, mas estima que o número total de tabuleiros seja o dobro. Foi em meio a entrevistas para TVs e banhos de pipoca com alfazema que ela falou à Muito, no Dia da Baiana, comemorado em 25 de novembro. “Sabe o que é? Todo mundo sabe que acarajé é comida do candomblé, mas não respeita. A associação não é contra a profissional

A baiana Ivone e sua invenção: siri em lugar do camarão

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evangélica, desde que siga as tradições, use bata, saia, torço. Ela não pode é trazer a religião dela para o ponto”, diz, com um sotaque bem carioca. “A gente não vai para a porta da igreja dizer que a hóstia é de Exu ou de Oxóssi. Seria a mesma coisa”. Aos olhos da Abam, a profissão regulamentada por decreto municipal de 1998 deveria supor regrinhas básicas que não são cumpridas porque “a associação não tem poder de fiscalizar”. Seriam algumas delas: não comercializar o produto em delicatessens, não vender refrigerante ou cerveja, não pronunciar o nome dos orixás em vão e não desrespeitar a fórmula acarajé, vatapá, camarão e salada. Há os que respeitam, e até acrescentam algumas colheradas de caruru e uma leve pinceladademolhodepimenta.Etambém os que, munidos daquela intuição culinária que preza pela experimentação constante, resolvem mudar, adaptar, trocar um ingrediente. E quando a receita dá certo, é difícil imaginar que o paladar vá se render a um decreto municipal. Dona Ivone sabe. Tanto que há dez anos vende acarajés com siri catado em vez de camarão, ou então os dois juntos, misturados a vatapá e salada. “Eu dei aquele estalo: vou fazer acarajé com siri, que é parentedocamarão.Devedarcerto”,lembra, sentada num ponto localizado na Rua Território do Acre, na Pituba, ao lado da locadora de filmes GPW. Quem ouve falar ainda estranha.

HAMBÚRGUER DE VATAPÁ “Acarajé de siri? Rá, essa eu não conhecia”. De uma sala da Faculdade de Nutrição da Ufba, ouvem-se gargalhadas. São do antropólogoVilsonCaetanoaosaberdainvenção. “Eu sei que existe o ‘abaralhau’, um abará preparado com bacalhau em vez de camarão, vendido em Nazaré e no Bon-


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fim. O povo inventa é coisa. Outro dia, comi um biscoito de farinha de trigo sabor caruru, pode?” Caetano é PhD em alimentação e cultura e frequentador do terreiro do Pilão de Prata, na Boca do Rio, mas, ao contrário do que possa pensar o leitor, sua crença religiosa não pressupõe radicalismos. “Qualquer pessoa pode vender acarajé, em parte porque nós transformamos estes bolinhos africanos em verdadeiros hambúrgueres. Tanto que é inconcebível comê-los sem Coca-Cola”. Ele pausa. “Existe a diferença entre a comida ritual e a vendida na rua. Eu não posso encomendar um acarajé delivery para Iansã”, gargalha mais uma vez. “Mas quando essas mulheres dizem que estão vendendo o ‘acarajé de Jesus’, elas constroem uma identidade que destrói a nossa, do negro. Nós comemos acima de tudo símbolos e valores, mesmo se tratando de um fast-food”. A junção de elementos como um balcão, atendimento rápido e fotografias dos lanches com tratamento de photoshop é cada vez mais comum. Quem se acostumou às negras de Pierre Verger, belas com seus tachos de zinco sobre um braseiro abanado com papelão, deve estranhar quando vê o baiano de acarajé Raimundo Brim, branco, de camiseta gola polo padronizada e calça jeans. “E não pode? Acho um erro pensar que só um tipo específico de pessoa pode fazer um bom abará e um bom acarajé. Tem que ser é bom cozinheiro”, defende o ex-trabalhador da construção civil que administra o negócio no Boulevard 161, no Itaigara. Há quem diga que seu Rei do Abará não deve nada aos acarajés da Cira ou da Dinha, as duas principais dinastias do feijão-fradinho.

NA ONDA DO DENDÊ

A gaúcha Deny, a loura que trocou o surfe pelo acarajé

O que diria, então, Pierre Verger de uma loura com quatro tatuagens no corpo e piercing no umbigo que aprendeu a fazer acarajé para ganhar uma prancha long board? Deny Costa Ramos, idade não revelada, ex-surfista, ex-evangélica e gaúcha (sim, leitor, gaúcha!), abriu o Acarajé da Loura no Horto Florestal depois de uma brincadeira que parecia não dar em nada. “Um amigo meu tinha uma prancha linda, que eu adorava, e disse que, se eu aprendesse a fazer acarajé, me dava ela de presente”. Década de 1980. Deny ainda era secretária de um consultório médico, e o rapaz, que tinha umas duas ou três baianas quituteiras na família, estava tirando um sarro. “Mas eu fiquei com a prancha. Parece que ele queria traçar meu destino”. O amigo morreu, a prancha não existe mais, o surfe deu lugar a duas horas diárias de academia. “Mas a profissão ficou”, diz, enquanto posa para a foto ao lado. Em outras posições testadas, ela segura com o polegar e o indicador o Acarajé de Ouro, pendurado

ao pescoço por um cordão do mesmo material, do concurso realizado pela promoter Licia Fabio. Deny levou os troféus 2002, 2005 e 2007. O tricampeonato ainda gera indignação entre concorrentes, principalmente porque, em se tratando do melhor acarajé da Bahia, a dúvida percorre quatro mil tabuleiros. “Faz parte do provincianismo baiano se exibir para o Sudeste: ‘Oh, vejam como somos bons em alguma coisa. A nossa tradição já foi até desafiada por uma loira’”, debocha um chef baiano, claro, sob as leis sagradas do anonimato. Mas não seria uma espécie de bairrismo cultural achar ruim quando uma loura, numa Salvador em que os negros são mais de 80% da população, ganha um concurso de melhor baiana de acarajé? Ou que, numa cidade onde os evangélicos são 600 mil (19% dos soteropolitanos), uma irmã não

possa aprender a fazer bolinho de estudante e vendê-lo na calçada? Maria da Conceição Lemos não tem um acarajé de ouro, mas um pingente onde se lê, em escrita cursiva, o nome do filho de José e Maria. A irmã Ceicinha usa saia rodada e turbante, só não põe as tradicionais contas coloridas. “O evangélico só come acarajé feito por evangélico, porque sabe que a gente não joga na rua”, diz, em referência aos sete bolinhos ofertados a Exu na tradição africana. Elatrabalhahá12anosemBrotas,aopé da Ladeira do Pepino. Associada à Abam, que abre uma exceção aos neopentecostais, que não pregam em horário de trabalho, Ceicinha queixa-se de preconceito do povo-de-santo. “Não vim contradizer nada, mas ganhar e fazer bem-feito”, diz. A frase no toldo sugere vida longa e prosperidade. Em bom baianês: axé, irmã. «

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O quiosque de Ceicinha: quitutes típicos do candomblé

ONDE COMER Acarajé da Olga Estacionamento do Extra da Avenida Paralela – 9198-2047 Acarajé da Zazá Estacionamento do Aeroporto Internacional de Salvador – 3251-3345 Acarajé da Ivone Rua Território do Acre, ao lado da locadora GPW, Pituba – 8625-4982 Acarajé da Loura Avenida Santa Luzia, ao lado do Bar De Passagem, Horto Florestal – 3232-6805 e 8194-6033 Rei do Abará Estacionamento do Boulevard 161, Itaigara – 8808-2583 Acarajé da Irmã Ceicinha Ladeira do Pepino, Brotas – 8794-8668


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fim. O povo inventa é coisa. Outro dia, comi um biscoito de farinha de trigo sabor caruru, pode?” Caetano é PhD em alimentação e cultura e frequentador do terreiro do Pilão de Prata, na Boca do Rio, mas, ao contrário do que possa pensar o leitor, sua crença religiosa não pressupõe radicalismos. “Qualquer pessoa pode vender acarajé, em parte porque nós transformamos estes bolinhos africanos em verdadeiros hambúrgueres. Tanto que é inconcebível comê-los sem Coca-Cola”. Ele pausa. “Existe a diferença entre a comida ritual e a vendida na rua. Eu não posso encomendar um acarajé delivery para Iansã”, gargalha mais uma vez. “Mas quando essas mulheres dizem que estão vendendo o ‘acarajé de Jesus’, elas constroem uma identidade que destrói a nossa, do negro. Nós comemos acima de tudo símbolos e valores, mesmo se tratando de um fast-food”. A junção de elementos como um balcão, atendimento rápido e fotografias dos lanches com tratamento de photoshop é cada vez mais comum. Quem se acostumou às negras de Pierre Verger, belas com seus tachos de zinco sobre um braseiro abanado com papelão, deve estranhar quando vê o baiano de acarajé Raimundo Brim, branco, de camiseta gola polo padronizada e calça jeans. “E não pode? Acho um erro pensar que só um tipo específico de pessoa pode fazer um bom abará e um bom acarajé. Tem que ser é bom cozinheiro”, defende o ex-trabalhador da construção civil que administra o negócio no Boulevard 161, no Itaigara. Há quem diga que seu Rei do Abará não deve nada aos acarajés da Cira ou da Dinha, as duas principais dinastias do feijão-fradinho.

NA ONDA DO DENDÊ

A gaúcha Deny, a loura que trocou o surfe pelo acarajé

O que diria, então, Pierre Verger de uma loura com quatro tatuagens no corpo e piercing no umbigo que aprendeu a fazer acarajé para ganhar uma prancha long board? Deny Costa Ramos, idade não revelada, ex-surfista, ex-evangélica e gaúcha (sim, leitor, gaúcha!), abriu o Acarajé da Loura no Horto Florestal depois de uma brincadeira que parecia não dar em nada. “Um amigo meu tinha uma prancha linda, que eu adorava, e disse que, se eu aprendesse a fazer acarajé, me dava ela de presente”. Década de 1980. Deny ainda era secretária de um consultório médico, e o rapaz, que tinha umas duas ou três baianas quituteiras na família, estava tirando um sarro. “Mas eu fiquei com a prancha. Parece que ele queria traçar meu destino”. O amigo morreu, a prancha não existe mais, o surfe deu lugar a duas horas diárias de academia. “Mas a profissão ficou”, diz, enquanto posa para a foto ao lado. Em outras posições testadas, ela segura com o polegar e o indicador o Acarajé de Ouro, pendurado

ao pescoço por um cordão do mesmo material, do concurso realizado pela promoter Licia Fabio. Deny levou os troféus 2002, 2005 e 2007. O tricampeonato ainda gera indignação entre concorrentes, principalmente porque, em se tratando do melhor acarajé da Bahia, a dúvida percorre quatro mil tabuleiros. “Faz parte do provincianismo baiano se exibir para o Sudeste: ‘Oh, vejam como somos bons em alguma coisa. A nossa tradição já foi até desafiada por uma loira’”, debocha um chef baiano, claro, sob as leis sagradas do anonimato. Mas não seria uma espécie de bairrismo cultural achar ruim quando uma loura, numa Salvador em que os negros são mais de 80% da população, ganha um concurso de melhor baiana de acarajé? Ou que, numa cidade onde os evangélicos são 600 mil (19% dos soteropolitanos), uma irmã não

possa aprender a fazer bolinho de estudante e vendê-lo na calçada? Maria da Conceição Lemos não tem um acarajé de ouro, mas um pingente onde se lê, em escrita cursiva, o nome do filho de José e Maria. A irmã Ceicinha usa saia rodada e turbante, só não põe as tradicionais contas coloridas. “O evangélico só come acarajé feito por evangélico, porque sabe que a gente não joga na rua”, diz, em referência aos sete bolinhos ofertados a Exu na tradição africana. Elatrabalhahá12anosemBrotas,aopé da Ladeira do Pepino. Associada à Abam, que abre uma exceção aos neopentecostais, que não pregam em horário de trabalho, Ceicinha queixa-se de preconceito do povo-de-santo. “Não vim contradizer nada, mas ganhar e fazer bem-feito”, diz. A frase no toldo sugere vida longa e prosperidade. Em bom baianês: axé, irmã. «

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O quiosque de Ceicinha: quitutes típicos do candomblé

ONDE COMER Acarajé da Olga Estacionamento do Extra da Avenida Paralela – 9198-2047 Acarajé da Zazá Estacionamento do Aeroporto Internacional de Salvador – 3251-3345 Acarajé da Ivone Rua Território do Acre, ao lado da locadora GPW, Pituba – 8625-4982 Acarajé da Loura Avenida Santa Luzia, ao lado do Bar De Passagem, Horto Florestal – 3232-6805 e 8194-6033 Rei do Abará Estacionamento do Boulevard 161, Itaigara – 8808-2583 Acarajé da Irmã Ceicinha Ladeira do Pepino, Brotas – 8794-8668


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SALVADOR DOMINGO 5/12/2010

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O

Ecos da

REVOLUÇÃO PELA ARTE Inspirado pelo alemão Joseph Beuys, que tem mostra inédita em Salvador este mês, o artista baiano Ayrson Heráclito cria trabalho que faz conexões com a natureza e a política, interpretando as relações de segregação em nossa sociedade

Texto VITOR PAMPLONA vpamplona@grupoatarde.com.br Foto FERNANDO VIVAS fvivas@grupoatarde.com.br

artista plástico Ayrson Heráclito, 42, tem à frente um pequeno aquário vazio. Aos pés, um regador de plantas com água dessalinizada e um galão plástico com óleo de dendê. Pega o regador e enche metade do recipiente. Depois vira o galão e, vagarosamente, vê o líquido viscoso e amarelo repousar sobre a água. O resultado é uma caixa com dois líquidos que não se misturam – imagem que lembra experiências escolares, mas, ao ser confrontada com o discurso do artista, produz outros sentidos: “São materiais heterogêneos,coexistindonummesmoespaço sob pressão. É uma imagem que interpreta as relações de segregação em nossa socie-

dade”, explica Heráclito, cujo trabalho é cheio de elementos ligados à cultura afro-baiana, como o dendê, o açúcar e o charque. Dizem críticos e artistas que uma verdadeira obra de arte dispensa explicações. Mas duas palavras são indispensáveis para captar a essência do trabalho de Heráclito, feito especialmente para a Muito: Joseph Beuys (1921-1986), considerado o maior artista alemão do século passado e sua maior influência, que terá obras exibidas pela primeira vez em Salvador a partir do próximo dia 14, na exposição Joseph Beuys – A Revolução Somos Nós. Maior retrospectiva do alemão já realizada no Brasil, a mostra chega ao Museu de Arte Moderna da Bahia (MAM) após ser montada em São Paulo. Apresenta 265 obras: 205 cartazes, 20 filmes e 40 múltiplos, como ficaram conhecidos objetos produzidos pelo artista para ser usados como veículos de propaganda de suas ideias, que podiam ser desde exemplares autografados da revista alemã Der Spiegel, com sua foto na capa, a garrafas de vinho com rótulodomovimentoDefesadaNatureza,criadoporele–militante político, Beuys foi um dos fundadores do Partido Verde alemão.

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Heráclito mistura água e óleo de dendê: materiais heterogêneos, coexistindo num mesmo espaço


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REVOLUÇÃO PELA ARTE Inspirado pelo alemão Joseph Beuys, que tem mostra inédita em Salvador este mês, o artista baiano Ayrson Heráclito cria trabalho que faz conexões com a natureza e a política, interpretando as relações de segregação em nossa sociedade

Texto VITOR PAMPLONA vpamplona@grupoatarde.com.br Foto FERNANDO VIVAS fvivas@grupoatarde.com.br

artista plástico Ayrson Heráclito, 42, tem à frente um pequeno aquário vazio. Aos pés, um regador de plantas com água dessalinizada e um galão plástico com óleo de dendê. Pega o regador e enche metade do recipiente. Depois vira o galão e, vagarosamente, vê o líquido viscoso e amarelo repousar sobre a água. O resultado é uma caixa com dois líquidos que não se misturam – imagem que lembra experiências escolares, mas, ao ser confrontada com o discurso do artista, produz outros sentidos: “São materiais heterogêneos,coexistindonummesmoespaço sob pressão. É uma imagem que interpreta as relações de segregação em nossa socie-

dade”, explica Heráclito, cujo trabalho é cheio de elementos ligados à cultura afro-baiana, como o dendê, o açúcar e o charque. Dizem críticos e artistas que uma verdadeira obra de arte dispensa explicações. Mas duas palavras são indispensáveis para captar a essência do trabalho de Heráclito, feito especialmente para a Muito: Joseph Beuys (1921-1986), considerado o maior artista alemão do século passado e sua maior influência, que terá obras exibidas pela primeira vez em Salvador a partir do próximo dia 14, na exposição Joseph Beuys – A Revolução Somos Nós. Maior retrospectiva do alemão já realizada no Brasil, a mostra chega ao Museu de Arte Moderna da Bahia (MAM) após ser montada em São Paulo. Apresenta 265 obras: 205 cartazes, 20 filmes e 40 múltiplos, como ficaram conhecidos objetos produzidos pelo artista para ser usados como veículos de propaganda de suas ideias, que podiam ser desde exemplares autografados da revista alemã Der Spiegel, com sua foto na capa, a garrafas de vinho com rótulodomovimentoDefesadaNatureza,criadoporele–militante político, Beuys foi um dos fundadores do Partido Verde alemão.

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DIVULGAÇÃO

Beuys, figura fundamental da arte contemporânea, terá em sua mostra filmes, cartazes e múltiplos

Parte dos múltiplos veio da coleção da italiana Paola Colacurcio, dona da galeria Progetti, no Rio de Janeiro. Entre eles, está a famosa Bateria Capri, uma lâmpada que acende com energia retirada de um limão. “Plantei um pé de limão siciliano em casa para poder ter sempre baterias novas”, revela a colecionadora, íntima da obra de Beuys desde 1971, quando foi trabalhar com o galerista Lucio Amelio, em Nápoles, no sul da Itália. Chamado de “escultor da fala”, Joseph Beuys exerce influência enorme não só entre artistas visuais. Inspirada em trabalhos dele, por exemplo, a escritora carioca Paula Parisot passou uma semana trancada num quarto de acrílico na Livraria da Vila, em São Paulo, para lançar seu romance Gonzos e Parafusos, em março passado. A

performance foi chamada por críticos de “Big Brother literário”. Amigo de Paula, o escritor Rubem Fonseca saiu da célebre reclusão para visitá-la e defender suas intenções. Mas para compreender Beuys é preciso voltar mais no tempo. A história das artes visuais tem no século 20 dois personagens-chave muito conhecidos, o francês Marcel Duchamp, inventor da obra de arte “já feita” (ready mades), e o americano AndyWarhol,quetransformouemobradearte ícones pop. Duchamp, como é sabido, deu um nó nas tradições ao expor, em 1913, uma roda de bicicleta fixada a um banco de madeira e, em 1917, um mictório branco (A Fonte). As peças mostraram que a arte pode estar em qualquer lugar. Andy Warhol, por sua vez, estendeu as ideias de Duchamp para os campos do entretenimento e do consumo – quem não conhece suas pinturas de Marilyn Monroe ou da lata de sopa Campbell? Menos conhecido no Brasil, o alemão Joseph Beuys é a terceira peça fundamental para entender o quebra-cabeça da arte contemporânea, que alguns preferem chamar de pós-moderna. Radical em sua obra e sua vida, Beuys levou às últimas consequências a utopia da “arte social” e “transformadora”,comumaproduçãovasta(cinco mil obras), hermética e completamente apoiada em proposições políticas e filosóficas, aliadas à sua mitologia pessoal. Um episódio de sua vida, não raro considerado fantasioso, ocupa o lugar de “mito fundador” de sua arte: piloto da Força Aérea alemã (a temida Luftwaffe) durante a Segunda Guerra Mundial, Beuys teve seu avião abatido em certa altura do combate. Dado como morto, teria saído da aeronave edesmaiadonaneve.Encontradoporcamponeses, foi enrolado em banha animal e feltro, tecido à base de lã. Sobreviveu.

A gordura e o feltro, além do cobre e do mel, se tornaram os materiais preponderantes em suas esculturas. Discípulo do alemão, Ayrson Heráclito manifesta o sentido dos materiais orgânicos no seu trabalho: “Beuys me ensinou a reconectar com a natureza. Ele dizia que era preciso retomar a relação com natureza bruta e primitiva, o que a sociedade contemporânea perdeu”, defende o artista, que dará uma oficina sobre o tema durante a exposição no MAM. A “reeducação dos sentidos” é o alicerce das teorias do alemão. Primeiro, baseia seu método de esculpir, explica Heráclito: “O artista tem que conhecer a matéria para gerar a forma, que é uma consequência do recipiente”.Depoisvemosaltopolítico:em

JOSEPH BEUYS – A REVOLUÇÃO SOMOS NÓS De 14/12 a 13/2, no MAM (Av. Contorno). Ter. a Dom., 13h às 19h. Sáb., 13h às 21h

Beuys, o recipiente ideal é a sociedade, que “molda” os indivíduos segundo suas estruturas e convenções. Sua utopia era a “escultura social”, resultado da influência das ideias contidas nos objetos e ações artísticas sobre as pessoas. “Interessa-me a distribuição de veículos físicos, porque me interessa difundir ideias que contêm a radical mudança política“, justificava o alemão. Solange Farkas, diretora do MAM, que trabalhou com o professor de arte italiano Antonio D’Avossa na curadoria da exposição, crê na atualidade da proposta: “O pensamento de Beuys se torna maisinstigante comopassardotempo.Vivemosummomentoem que se fortalece a conexão entre arte e política”. Os cartazes expostos em Joseph Beuys – A Revolução Somos Nós engrossamo“arsenaldepropaganda”doalemão,especialistaem subverter técnicas de publicidade. Mas talvez os filmes de performances e documentários sejam melhores atalhos para postulados como “Todo mundo é um artista” e slogans do tipo “Criatividade = Capital”. O enigma Beuys, porém, não desaparece. «

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Beuys, figura fundamental da arte contemporânea, terá em sua mostra filmes, cartazes e múltiplos

Parte dos múltiplos veio da coleção da italiana Paola Colacurcio, dona da galeria Progetti, no Rio de Janeiro. Entre eles, está a famosa Bateria Capri, uma lâmpada que acende com energia retirada de um limão. “Plantei um pé de limão siciliano em casa para poder ter sempre baterias novas”, revela a colecionadora, íntima da obra de Beuys desde 1971, quando foi trabalhar com o galerista Lucio Amelio, em Nápoles, no sul da Itália. Chamado de “escultor da fala”, Joseph Beuys exerce influência enorme não só entre artistas visuais. Inspirada em trabalhos dele, por exemplo, a escritora carioca Paula Parisot passou uma semana trancada num quarto de acrílico na Livraria da Vila, em São Paulo, para lançar seu romance Gonzos e Parafusos, em março passado. A

performance foi chamada por críticos de “Big Brother literário”. Amigo de Paula, o escritor Rubem Fonseca saiu da célebre reclusão para visitá-la e defender suas intenções. Mas para compreender Beuys é preciso voltar mais no tempo. A história das artes visuais tem no século 20 dois personagens-chave muito conhecidos, o francês Marcel Duchamp, inventor da obra de arte “já feita” (ready mades), e o americano AndyWarhol,quetransformouemobradearte ícones pop. Duchamp, como é sabido, deu um nó nas tradições ao expor, em 1913, uma roda de bicicleta fixada a um banco de madeira e, em 1917, um mictório branco (A Fonte). As peças mostraram que a arte pode estar em qualquer lugar. Andy Warhol, por sua vez, estendeu as ideias de Duchamp para os campos do entretenimento e do consumo – quem não conhece suas pinturas de Marilyn Monroe ou da lata de sopa Campbell? Menos conhecido no Brasil, o alemão Joseph Beuys é a terceira peça fundamental para entender o quebra-cabeça da arte contemporânea, que alguns preferem chamar de pós-moderna. Radical em sua obra e sua vida, Beuys levou às últimas consequências a utopia da “arte social” e “transformadora”,comumaproduçãovasta(cinco mil obras), hermética e completamente apoiada em proposições políticas e filosóficas, aliadas à sua mitologia pessoal. Um episódio de sua vida, não raro considerado fantasioso, ocupa o lugar de “mito fundador” de sua arte: piloto da Força Aérea alemã (a temida Luftwaffe) durante a Segunda Guerra Mundial, Beuys teve seu avião abatido em certa altura do combate. Dado como morto, teria saído da aeronave edesmaiadonaneve.Encontradoporcamponeses, foi enrolado em banha animal e feltro, tecido à base de lã. Sobreviveu.

A gordura e o feltro, além do cobre e do mel, se tornaram os materiais preponderantes em suas esculturas. Discípulo do alemão, Ayrson Heráclito manifesta o sentido dos materiais orgânicos no seu trabalho: “Beuys me ensinou a reconectar com a natureza. Ele dizia que era preciso retomar a relação com natureza bruta e primitiva, o que a sociedade contemporânea perdeu”, defende o artista, que dará uma oficina sobre o tema durante a exposição no MAM. A “reeducação dos sentidos” é o alicerce das teorias do alemão. Primeiro, baseia seu método de esculpir, explica Heráclito: “O artista tem que conhecer a matéria para gerar a forma, que é uma consequência do recipiente”.Depoisvemosaltopolítico:em

JOSEPH BEUYS – A REVOLUÇÃO SOMOS NÓS De 14/12 a 13/2, no MAM (Av. Contorno). Ter. a Dom., 13h às 19h. Sáb., 13h às 21h

Beuys, o recipiente ideal é a sociedade, que “molda” os indivíduos segundo suas estruturas e convenções. Sua utopia era a “escultura social”, resultado da influência das ideias contidas nos objetos e ações artísticas sobre as pessoas. “Interessa-me a distribuição de veículos físicos, porque me interessa difundir ideias que contêm a radical mudança política“, justificava o alemão. Solange Farkas, diretora do MAM, que trabalhou com o professor de arte italiano Antonio D’Avossa na curadoria da exposição, crê na atualidade da proposta: “O pensamento de Beuys se torna maisinstigante comopassardotempo.Vivemosummomentoem que se fortalece a conexão entre arte e política”. Os cartazes expostos em Joseph Beuys – A Revolução Somos Nós engrossamo“arsenaldepropaganda”doalemão,especialistaem subverter técnicas de publicidade. Mas talvez os filmes de performances e documentários sejam melhores atalhos para postulados como “Todo mundo é um artista” e slogans do tipo “Criatividade = Capital”. O enigma Beuys, porém, não desaparece. «

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ATALHO DIVINE CAKE

Entre pequenos e grandes sabores As irmãs Andréa, advogada, e Tatiane Freitas, administradora, andavam sonhando ter um negócio para chamar de nosso. Andréa pensou em abrir uma lojinha charmosa, mas desistiu depois de ler uma reportagem em que a cantora Claudia Leitte se dizia fã de cupcakes. “Aí, tive aquele feeling, sabe?”. Tatiane achou que era algo muito restrito para as paragens soteropolitanas, mas, por via das dúvidas, foi pesquisar no Google. Abismou-se com os resultados contados aos milhares. Estava decidido. Por quase um ano, Andréa penou para acertar as receitas e recheios dos cupcakes. Os cursos em São Paulo ajudaram a deixá-los fofos e irresistíveis. No dia 13 de novembro, nasceu a Divine Cake. O espaço é “cup”, mas aconchegante. Há 10 sabores de bolinhos, vendidos a R$ 5 (alguns poderiam ser mais úmidos e menos açucarados). O lugar aceita encomendas e também faz oficinas em festas infantis, para ensinar as crianças a montarem os próprios cupcakes. « Texto TATIANA MENDONÇA tmendonca@grupoatarde.com.br Foto LUCIANO DA MATTA lumasdamatta@gmail.com

DIVINE CAKE: Rua das Hortênsias, 478, Pituba. De segunda a sábado, das 11 às 20 horas. Domingos e feriados, das 14 às 20 horas. Tel.: 71 3451-1468 DESTAQUE: não deixe de experimentar o cupcake de banana caramelada

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ATALHO DIVINE CAKE

Entre pequenos e grandes sabores As irmãs Andréa, advogada, e Tatiane Freitas, administradora, andavam sonhando ter um negócio para chamar de nosso. Andréa pensou em abrir uma lojinha charmosa, mas desistiu depois de ler uma reportagem em que a cantora Claudia Leitte se dizia fã de cupcakes. “Aí, tive aquele feeling, sabe?”. Tatiane achou que era algo muito restrito para as paragens soteropolitanas, mas, por via das dúvidas, foi pesquisar no Google. Abismou-se com os resultados contados aos milhares. Estava decidido. Por quase um ano, Andréa penou para acertar as receitas e recheios dos cupcakes. Os cursos em São Paulo ajudaram a deixá-los fofos e irresistíveis. No dia 13 de novembro, nasceu a Divine Cake. O espaço é “cup”, mas aconchegante. Há 10 sabores de bolinhos, vendidos a R$ 5 (alguns poderiam ser mais úmidos e menos açucarados). O lugar aceita encomendas e também faz oficinas em festas infantis, para ensinar as crianças a montarem os próprios cupcakes. « Texto TATIANA MENDONÇA tmendonca@grupoatarde.com.br Foto LUCIANO DA MATTA lumasdamatta@gmail.com

DIVINE CAKE: Rua das Hortênsias, 478, Pituba. De segunda a sábado, das 11 às 20 horas. Domingos e feriados, das 14 às 20 horas. Tel.: 71 3451-1468 DESTAQUE: não deixe de experimentar o cupcake de banana caramelada

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GASTRÔ PALMITO

Nobre

iguaria

Palmito produzido pela cooperativa baiana Coopalm resulta em um produto de textura macia que vem sendo adotado por badalados chefs baianos Texto DANIELA CASTRO dcastro@grupoatarde.com.br Foto FERNANDO VIVAS fvivas@grupoatarde.com.br

E Suflê de palmito, receita do chef Juan Vidal, do 496 Grill & Bar

stá escrito que comer em excesso é pecado capital. Mas a lei que condena a gula bem que deveria vir acompanhada de um asterisco que apontasse para a ressalva: se for por uma boa causa, o digníssimo glutão estará perdoado. Hão de concordar as quase 490 famíliasmoradorasdachamadaÁreadoPratigi que trabalham para que um certo palmito chegue belo e branco às prateleiras e, depois, ao prato nosso de cada dia. Elas são responsáveis pelas atividades da Coopalm (Cooperativa dos Produtores de Palmito do Baixo Sul da Bahia), que hoje disputa espaço nas gôndolas de supermercados e delicatessens com a marca Cultiverde. Você mesmo já deve ter batido o

olho nela, até porque o rótulo promete o paraíso para os foodies de plantão: “100% macio”, diz ali.

TEXTURA E, com a ajuda do chef espanhol Juan Vidal, Muito comprovou que se trata realmente de uma verdade deslavada. “A textura é muito macia. Dá para perceber a diferença em relação à maioria dos palmitos, quegeralmentesãomuitofibrosos”,avalia o responsável pelo cardápio do restaurante 496 Grill & Bar. De seu primeiro contato com o produto nasceuumsuflê,preparadoespecialmente para a revista. O prato foi escolhido principalmente por sua delicadeza, justificou o chef. “É uma coisa que nem todo mundo


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GASTRÔ PALMITO

Nobre

iguaria

Palmito produzido pela cooperativa baiana Coopalm resulta em um produto de textura macia que vem sendo adotado por badalados chefs baianos Texto DANIELA CASTRO dcastro@grupoatarde.com.br Foto FERNANDO VIVAS fvivas@grupoatarde.com.br

E Suflê de palmito, receita do chef Juan Vidal, do 496 Grill & Bar

stá escrito que comer em excesso é pecado capital. Mas a lei que condena a gula bem que deveria vir acompanhada de um asterisco que apontasse para a ressalva: se for por uma boa causa, o digníssimo glutão estará perdoado. Hão de concordar as quase 490 famíliasmoradorasdachamadaÁreadoPratigi que trabalham para que um certo palmito chegue belo e branco às prateleiras e, depois, ao prato nosso de cada dia. Elas são responsáveis pelas atividades da Coopalm (Cooperativa dos Produtores de Palmito do Baixo Sul da Bahia), que hoje disputa espaço nas gôndolas de supermercados e delicatessens com a marca Cultiverde. Você mesmo já deve ter batido o

olho nela, até porque o rótulo promete o paraíso para os foodies de plantão: “100% macio”, diz ali.

TEXTURA E, com a ajuda do chef espanhol Juan Vidal, Muito comprovou que se trata realmente de uma verdade deslavada. “A textura é muito macia. Dá para perceber a diferença em relação à maioria dos palmitos, quegeralmentesãomuitofibrosos”,avalia o responsável pelo cardápio do restaurante 496 Grill & Bar. De seu primeiro contato com o produto nasceuumsuflê,preparadoespecialmente para a revista. O prato foi escolhido principalmente por sua delicadeza, justificou o chef. “É uma coisa que nem todo mundo


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DIVULGAÇÃO

SUFLÊ DE PALMITO 300 g de palmito 50 g de cebola bem picada 10 g de alho bem picado Azeite de oliva a gosto 500 ml de leite 50 g de manteiga 50 g de farinha de trigo Sal e pimenta-do-reino a gosto 50 g de queijo parmesão ralado 6 ovos

O palmito é feito de pupunha, portanto mais ecológico

acredita que pode ser feito com o palmito, então quis dar esse passo à frente”. Além de saboroso, serviu também para mostrar que o leque de receitas à base de palmito se abre para muito além da tradicional saladinha. Mas pensa que isso é o grau máximo ao qual se pode chegar na escala de ousadia culinária? “Acho que dá para fazer até uma sobremesa, quem sabe um pudim”, suspeita Vidal, com aquele sorriso que já revela suas boas futuras intenções.

CLUBE Esse entusiamo não é inédito no métier da gastronomia baiana. Antes dele, chefs badalados como Tereza Paim (restaurante Terreiro Bahia), Edinho Engel (Amado) e Laurent Rezette (Baby Beef e Chez Bernard) já tinham percebido que o negócio tinha um ziriguidum diferente e trataram de incluir o ingrediente na lista de compras de suas cozinhas. As últimas edições dos dois eventos gastronômicos mais expressivos do Estado – Tempero no Forte e Nordeste Gourmet Bahia – também abriram espaço para a divulgação do produto, que já vai dando suas bandas fora das fronteiras onde nasceu. Na Bahia e em Sergipe, o Cultiverde já abocanha 78% do mercado, mas outros 18 estados do Brasil já conhecem o produto. O fato de ser macio e tal já seria um bom motivo para levar o frasquinho para casa, com o palmito inteiro, picado ou em rodelas.

PREPARO Refogue a cebola e o alho em azeite de oliva até amolecer. Acrescente o leite e o palmito e tempere com sal e pimenta-do-reino. Deixe ferver. À parte, misture a farinha e a manteiga e acrescente ao leite. Deixe engrossar. Separe as gemas das claras. Junte as gemas à massa e deixe esfriar. Bata as claras em neve e junte à massa fria. Unte uma forma com manteiga e polvilhe com parmesão. Despeje a massa e asse em banho-maria por cerca de 10 minutos, em forno a 180°C

Mas as razões vão além. É bom saber que o palmito é de pupunha e não de juçara ou açaí. Traduzindo, significa que a palmeira é cultivável, já que se renova a cada 10 meses. Os demais podem levar mais de 10 anos para voltar a dar frutos, o que leva à predatória cultura extrativista. Voltando às famílias citadas lá no início desta matéria, são precisamente 486, sendo que muitas delas têm mais de um integrante empregado na cooperativa. Um deles é Bruno Lawinsky, que atualmente é superintendentedaCoopalm.Elechegouà empresa depois de participar de um programa de incentivo a novos talentos promovido pela Odebrecht. Aos 31 anos, o morador da cidade de Taperoá (295 km distante de Salvador e 27 km de Ituberá, onde a produção está concentrada) orgulha-se de fazer parte desta história, que começou em 2002. “Não é um produto qualquer, existe umacausasocialportrásdoprocesso.Todo o corpo administrativo é formado por pequenos agricultores familiares, e o benefício fica com o cooperado”, avalia Lawinsky, que chegou ao cargo depois de trabalhar no Núcleo de Apoio ao Cooperado e na gerência administrativa.

TRANSFORMAÇÃO O gerente de marketing Juede Andari gosta de falar em “mudança de realidade”. “Muitas famílias conseguem ter uma renda de mais de R$ 1 mil, o que é um grande avanço quando se pensa que muitas viviam somente com a Bolsa Família“ e hoje conseguem ter renda”, exemplifica. Sãoboasnotíciasespecialmenteparaos que reconhecem a importância do consumo social e ambientalmente responsável. Aliás, não faz um mês que a Edelman, maior agência de relações públicas independentedomundo,divulgoupesquisare-

velando que o consumidor brasileiro tem se tornado “mais consciente, atuante e atento à relação entre marcas e causas socialmente relevantes”. Para citar alguns números deste estudo, 80% dos brasileiros consultados tendem a recomendar marcas que apoiam boas causas, em detrimento das que não o fazem, e 94% acreditam que a atuação sobre propósitos deve equilibrar interesses sociais e de negócio.

RECONHECIMENTO Tamanho engajamento vem rendendo louros à cooperativa. Recentemente, a Coopalm faturou o prêmio Cooperativa do Ano na categoria gestão para a qualidade,

SAIBA MAIS O baixo sul inclui os municípios de Tancredo Neves, Valença, Cairu, Taperoá, Nilo Peçanha, Igrapiúna, Camamu, Piraí do Norte, Ibirapitanga, Maraú e Ituberá, onde fica a sede da Coopalm. Informações sobre a cooperativa: www.cultiverde.com.br ou (73) 3256-1996/1997

que é concedido anualmente pela Organização das Cooperativas Brasileiras, Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo e pela revista Globo Rural. Antes deste prêmio, a empresa já tinha sido considerada a primeira do ramo no País a receber o Sipaf (Selo de Identificação da Participação da Agricultura Familiar), oferecido pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário. O processo industrial tem certificados ISO 9001 (gestão de qualidade), 14001 (gestão ambiental) e 22000 (segurança alimentar). De quebra, ainda ostenta a certificação internacional RainForest Alliance, concedida a produtos agrícolas de origem responsável. «


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SUFLÊ DE PALMITO 300 g de palmito 50 g de cebola bem picada 10 g de alho bem picado Azeite de oliva a gosto 500 ml de leite 50 g de manteiga 50 g de farinha de trigo Sal e pimenta-do-reino a gosto 50 g de queijo parmesão ralado 6 ovos

O palmito é feito de pupunha, portanto mais ecológico

acredita que pode ser feito com o palmito, então quis dar esse passo à frente”. Além de saboroso, serviu também para mostrar que o leque de receitas à base de palmito se abre para muito além da tradicional saladinha. Mas pensa que isso é o grau máximo ao qual se pode chegar na escala de ousadia culinária? “Acho que dá para fazer até uma sobremesa, quem sabe um pudim”, suspeita Vidal, com aquele sorriso que já revela suas boas futuras intenções.

CLUBE Esse entusiamo não é inédito no métier da gastronomia baiana. Antes dele, chefs badalados como Tereza Paim (restaurante Terreiro Bahia), Edinho Engel (Amado) e Laurent Rezette (Baby Beef e Chez Bernard) já tinham percebido que o negócio tinha um ziriguidum diferente e trataram de incluir o ingrediente na lista de compras de suas cozinhas. As últimas edições dos dois eventos gastronômicos mais expressivos do Estado – Tempero no Forte e Nordeste Gourmet Bahia – também abriram espaço para a divulgação do produto, que já vai dando suas bandas fora das fronteiras onde nasceu. Na Bahia e em Sergipe, o Cultiverde já abocanha 78% do mercado, mas outros 18 estados do Brasil já conhecem o produto. O fato de ser macio e tal já seria um bom motivo para levar o frasquinho para casa, com o palmito inteiro, picado ou em rodelas.

PREPARO Refogue a cebola e o alho em azeite de oliva até amolecer. Acrescente o leite e o palmito e tempere com sal e pimenta-do-reino. Deixe ferver. À parte, misture a farinha e a manteiga e acrescente ao leite. Deixe engrossar. Separe as gemas das claras. Junte as gemas à massa e deixe esfriar. Bata as claras em neve e junte à massa fria. Unte uma forma com manteiga e polvilhe com parmesão. Despeje a massa e asse em banho-maria por cerca de 10 minutos, em forno a 180°C

Mas as razões vão além. É bom saber que o palmito é de pupunha e não de juçara ou açaí. Traduzindo, significa que a palmeira é cultivável, já que se renova a cada 10 meses. Os demais podem levar mais de 10 anos para voltar a dar frutos, o que leva à predatória cultura extrativista. Voltando às famílias citadas lá no início desta matéria, são precisamente 486, sendo que muitas delas têm mais de um integrante empregado na cooperativa. Um deles é Bruno Lawinsky, que atualmente é superintendentedaCoopalm.Elechegouà empresa depois de participar de um programa de incentivo a novos talentos promovido pela Odebrecht. Aos 31 anos, o morador da cidade de Taperoá (295 km distante de Salvador e 27 km de Ituberá, onde a produção está concentrada) orgulha-se de fazer parte desta história, que começou em 2002. “Não é um produto qualquer, existe umacausasocialportrásdoprocesso.Todo o corpo administrativo é formado por pequenos agricultores familiares, e o benefício fica com o cooperado”, avalia Lawinsky, que chegou ao cargo depois de trabalhar no Núcleo de Apoio ao Cooperado e na gerência administrativa.

TRANSFORMAÇÃO O gerente de marketing Juede Andari gosta de falar em “mudança de realidade”. “Muitas famílias conseguem ter uma renda de mais de R$ 1 mil, o que é um grande avanço quando se pensa que muitas viviam somente com a Bolsa Família“ e hoje conseguem ter renda”, exemplifica. Sãoboasnotíciasespecialmenteparaos que reconhecem a importância do consumo social e ambientalmente responsável. Aliás, não faz um mês que a Edelman, maior agência de relações públicas independentedomundo,divulgoupesquisare-

velando que o consumidor brasileiro tem se tornado “mais consciente, atuante e atento à relação entre marcas e causas socialmente relevantes”. Para citar alguns números deste estudo, 80% dos brasileiros consultados tendem a recomendar marcas que apoiam boas causas, em detrimento das que não o fazem, e 94% acreditam que a atuação sobre propósitos deve equilibrar interesses sociais e de negócio.

RECONHECIMENTO Tamanho engajamento vem rendendo louros à cooperativa. Recentemente, a Coopalm faturou o prêmio Cooperativa do Ano na categoria gestão para a qualidade,

SAIBA MAIS O baixo sul inclui os municípios de Tancredo Neves, Valença, Cairu, Taperoá, Nilo Peçanha, Igrapiúna, Camamu, Piraí do Norte, Ibirapitanga, Maraú e Ituberá, onde fica a sede da Coopalm. Informações sobre a cooperativa: www.cultiverde.com.br ou (73) 3256-1996/1997

que é concedido anualmente pela Organização das Cooperativas Brasileiras, Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo e pela revista Globo Rural. Antes deste prêmio, a empresa já tinha sido considerada a primeira do ramo no País a receber o Sipaf (Selo de Identificação da Participação da Agricultura Familiar), oferecido pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário. O processo industrial tem certificados ISO 9001 (gestão de qualidade), 14001 (gestão ambiental) e 22000 (segurança alimentar). De quebra, ainda ostenta a certificação internacional RainForest Alliance, concedida a produtos agrícolas de origem responsável. «


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SALVADOR DOMINGO 5/12/2010

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TRILHAS ANINHA FRANCO

VINHOS REGINA BOCHICCHIO

aninha.franco@grupoatarde.com.br

As aventuras da uva carmenère

H

á muitas guerras no Brasil neste momento, uma delas, talvez a maior, a poucos quilômetros daqui, no Rio de Janeiro, é contra narcotraficantes, tão seguros de si que conseguiram manter no comando um general preso numa prisão de segurança máxima, Elias Maluco, por 11 anos. Sem comentários. Afora a repressão espetacular, tão espetacular quanto a guerra do Golfo, de 1991, o ataque do Estado alçou a autoestima do Brasil independente, aquele que não precisa da autorização de traficantes para ir e vir, e do Brasil comandado pelo tráfico, um outro País de milhões de habitantes, que tem como gestores narcotraficantes.

VINHO DA SEMANA Casilero del Diablo/ Carmenère/ Chile/ Na Wine (www.wine.com.br): R$ 35

SOBREVIVENTE MudasesementesdevinhasjáhaviamsidotrazidasparaaAmérica durante a colonização europeia. A carmenère, ninguém sabia, estava viva no Chile e sobreviveu recôndita, em meio à plantação de merlot. A localização geográfica do Chile – entre os Andes e o Pacífico – “ilhou” o país, protegendo-o da filoxera. Em razão de toda essa ventura, o ato de degustar um vinho carmenère chileno carrega uma aura diferente. De sabor forte, ele combina bem com carnes assadas e queijos como o gorgonzola e oroquefort.Podeaindacasarbemcommassas,acompanhadasde molhos de sabor marcante. «

AGENDA Jantar Harmonizado de Confraternização 2010. Associação Brasileira de Soomeliers-Bahia (ABS-BA). Dia 6/12, às 19h30. Informações: contato@abs-ba. com.br

» EVENTOS, PERGUNTAS, CRÍTICAS, SUGESTÕES: REGINAB@GRUPOATARDE.COM.BR

DIVULGAÇÃO

Associar a uva carmenère aos vinhos chilenos pode até parecer coisa natural hoje. Mas acredite: até o meado dos anos 1990, o mundo pensava que a uva carmenère, natural de Bordeaux (França), estava extinta da face do planeta quando testes de laboratórioconfirmaram que entre as plantações de merlot, no Chile, existia pulverizada esta que acabou se transformando na cepa de elite daquele país, referência mundial. O fato, curioso, nos remete ao século 19. Lá pelos anos 1850, o vinho era um dos principais produtos do comércio europeu, chegando a representar a ocupação (trabalho) de 80% da população italiana e 20% da francesa. Tudo ia bem até que veio a fatalidade: de forma voraz, as vinhas francesas começaram a adoecer. A praga filoxera – que pode ser comparada, no mundo das uvas, à peste negra, que atingiu os homens na Europa medieval – atacou os vinhedos da França, passando depois para outros países, levando à morte quase generalizada das vinhas europeias. A doença é causada por uma espécie de pulgão que faz com que as uvas cresçam sem condições de uso. Nascem estragadas. Nessa história, a uva carmenère foi dada como extinta. Há, inclusive, quem divida a história da viticultura entre antes e depois da devastação da filoxera. Poucas cepas sobreviveram íntegrasàpraga.Comoa“cura”encontradafoiaenxertia(misturade cepas) com espécies de outras partes do planeta, muitas já não eram as originais.

As cracolândias das cidades

A

repressão, inteligente, alcançou advogados-mulas, com apoio da OAB, e senhoras dos meliantes. Viva! Mas como se chegou a esse ponto? É a pergunta corrente. Por que não se fez isso antes? Os narcotraficantes que o Brasil assistiu fugindo, via Jornal Nacional, em cena que as tropas de elite ainda não mostraram, pareciam ra-

tos abandonando um navio em chamas. Como esses homens mantinham o controle de ir e vir de milhares de brasileiros que votam e pagam impostos? Por que o Poder Constituído pelo voto demorou tanto para reagir? Cumplicidade com o narcotráfico, como insinuam ficção e vida real, tão semelhantes?

E

ssa cumplicidade é letal para um País que precisa emergir. A droga faz parte da vida humana e é usada, desde sempre, por todos os povos do mundo. Para alguns, a lucidez dói, incomoda, e precisa de combate, por isso o consumo e o tráfico continuarão existindo depois dessa baixa no Rio de Janeiro e onde haja concentração humana.

O

que o País não pode mais é assistir o Estado de Direito mesclado ao poder do narcotráfico como se os dois fossem países fronteiriços, e o último pudesse reservar territórios, de trabalho, para si, impunemente, onde o primeiro não pode entrar nem para entregar correspondência. É tempo de ser pragmático com a hipocrisia e discutir o uso e a venda da droga para interromper uma epidemia, um estrago hoje visível em todas as ruas do País, todas as capitais, todas as cidades, todas proprietárias de suas cracolândias. «

«É hora de ser pragmático com a hipocrisia e discutir as drogas»

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TRILHAS ANINHA FRANCO

VINHOS REGINA BOCHICCHIO

aninha.franco@grupoatarde.com.br

As aventuras da uva carmenère

H

á muitas guerras no Brasil neste momento, uma delas, talvez a maior, a poucos quilômetros daqui, no Rio de Janeiro, é contra narcotraficantes, tão seguros de si que conseguiram manter no comando um general preso numa prisão de segurança máxima, Elias Maluco, por 11 anos. Sem comentários. Afora a repressão espetacular, tão espetacular quanto a guerra do Golfo, de 1991, o ataque do Estado alçou a autoestima do Brasil independente, aquele que não precisa da autorização de traficantes para ir e vir, e do Brasil comandado pelo tráfico, um outro País de milhões de habitantes, que tem como gestores narcotraficantes.

VINHO DA SEMANA Casilero del Diablo/ Carmenère/ Chile/ Na Wine (www.wine.com.br): R$ 35

SOBREVIVENTE MudasesementesdevinhasjáhaviamsidotrazidasparaaAmérica durante a colonização europeia. A carmenère, ninguém sabia, estava viva no Chile e sobreviveu recôndita, em meio à plantação de merlot. A localização geográfica do Chile – entre os Andes e o Pacífico – “ilhou” o país, protegendo-o da filoxera. Em razão de toda essa ventura, o ato de degustar um vinho carmenère chileno carrega uma aura diferente. De sabor forte, ele combina bem com carnes assadas e queijos como o gorgonzola e oroquefort.Podeaindacasarbemcommassas,acompanhadasde molhos de sabor marcante. «

AGENDA Jantar Harmonizado de Confraternização 2010. Associação Brasileira de Soomeliers-Bahia (ABS-BA). Dia 6/12, às 19h30. Informações: contato@abs-ba. com.br

» EVENTOS, PERGUNTAS, CRÍTICAS, SUGESTÕES: REGINAB@GRUPOATARDE.COM.BR

DIVULGAÇÃO

Associar a uva carmenère aos vinhos chilenos pode até parecer coisa natural hoje. Mas acredite: até o meado dos anos 1990, o mundo pensava que a uva carmenère, natural de Bordeaux (França), estava extinta da face do planeta quando testes de laboratórioconfirmaram que entre as plantações de merlot, no Chile, existia pulverizada esta que acabou se transformando na cepa de elite daquele país, referência mundial. O fato, curioso, nos remete ao século 19. Lá pelos anos 1850, o vinho era um dos principais produtos do comércio europeu, chegando a representar a ocupação (trabalho) de 80% da população italiana e 20% da francesa. Tudo ia bem até que veio a fatalidade: de forma voraz, as vinhas francesas começaram a adoecer. A praga filoxera – que pode ser comparada, no mundo das uvas, à peste negra, que atingiu os homens na Europa medieval – atacou os vinhedos da França, passando depois para outros países, levando à morte quase generalizada das vinhas europeias. A doença é causada por uma espécie de pulgão que faz com que as uvas cresçam sem condições de uso. Nascem estragadas. Nessa história, a uva carmenère foi dada como extinta. Há, inclusive, quem divida a história da viticultura entre antes e depois da devastação da filoxera. Poucas cepas sobreviveram íntegrasàpraga.Comoa“cura”encontradafoiaenxertia(misturade cepas) com espécies de outras partes do planeta, muitas já não eram as originais.

As cracolândias das cidades

A

repressão, inteligente, alcançou advogados-mulas, com apoio da OAB, e senhoras dos meliantes. Viva! Mas como se chegou a esse ponto? É a pergunta corrente. Por que não se fez isso antes? Os narcotraficantes que o Brasil assistiu fugindo, via Jornal Nacional, em cena que as tropas de elite ainda não mostraram, pareciam ra-

tos abandonando um navio em chamas. Como esses homens mantinham o controle de ir e vir de milhares de brasileiros que votam e pagam impostos? Por que o Poder Constituído pelo voto demorou tanto para reagir? Cumplicidade com o narcotráfico, como insinuam ficção e vida real, tão semelhantes?

E

ssa cumplicidade é letal para um País que precisa emergir. A droga faz parte da vida humana e é usada, desde sempre, por todos os povos do mundo. Para alguns, a lucidez dói, incomoda, e precisa de combate, por isso o consumo e o tráfico continuarão existindo depois dessa baixa no Rio de Janeiro e onde haja concentração humana.

O

que o País não pode mais é assistir o Estado de Direito mesclado ao poder do narcotráfico como se os dois fossem países fronteiriços, e o último pudesse reservar territórios, de trabalho, para si, impunemente, onde o primeiro não pode entrar nem para entregar correspondência. É tempo de ser pragmático com a hipocrisia e discutir o uso e a venda da droga para interromper uma epidemia, um estrago hoje visível em todas as ruas do País, todas as capitais, todas as cidades, todas proprietárias de suas cracolândias. «

«É hora de ser pragmático com a hipocrisia e discutir as drogas»

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FUNDADO EM 15/10/1912 FUNDADOR ERNESTO SIMÕES FILHO PRESIDENTE REGINA SIMÕES DE MELLO LEITÃO SUPERINTENDENTE RENATO SIMÕES DIRETOR-GERAL EDIVALDO M. BOAVENTURA EDITOR-CHEFE FLORISVALDO MATTOS EDITORA-COORDENADORA NADJA VLADI EDITORA KÁTIA BORGES EDITORES DE ARTE PIERRE THEMOTHEO E IANSÃ NEGRÃO EDITOR DE FOTOGRAFIA CARLOS CASAES DESIGNER ANA CLÉLIA REBOUÇAS. TRATAMENTO DE IMAGEM ROBERTO ABREU. FALE COM A REDAÇÃO WWW.ATARDE.COM.BR/MUITO E-MAIL: REVISTAMUITO@GRUPOATARDE.COM.BR, 71 3340-8800 (CENTRAL) / 71 3340-8990 (ALÔ REDAÇÃO) CLASSIFICADOS POPULARES 71 3533-0855 / ATARDE@ATARDE.COM.BR / WWW.ATARDE.COM.BR VENDAS DE ASSINATURAS BAHIA E SERGIPE (71) 3533-0850 REPRESENTANTE PARA TODO O PAÍS PEREIRA DE SOUZA E CIA. LTDA. / RIO DE JANEIRO 21 2544 3070 / SÃO PAULO 11 3259 6111 PROPRIEDADE DA EMPRESA EDITORA A TARDE / SEDE: RUA PROF. MILTON CAYRES DE BRITO, Nº 204 - CAMINHO DAS ÁRVORES, CEP 41822-900 - SALVADOR - BA. REDAÇÃO: (71) 3340-8800, PABX: (71) 3340-8500. FAX: (71) 3340-8712/8713. PUBLICIDADE: (71) 3340-8757/8731. FAX 3340-8710. CIRCULAÇÃO: (71) 3340-8612. FAX 3340-8732. REPRESENTANTES COMERCIAIS / SÃO PAULO (SP) RUA ARAÚJO, 70, 7º ANDAR, CEP 01200-020. (11) 3259-6111/6532. FAX (11) 3237-2079 SERGIPE E ALAGOAS GABINETE DE MÍDIA & COMUNICAÇÃO LTDA. RUA ÁLVARO BRITO, 455, SALA 35, BAIRRO 13 DE JULHO, CEP 49.020-400 - ARACAJU - SE - TELEFONE: (79)3246-4139 / (79)9978-8962 BRASÍLIA(DF) SCS, QD. 1, ED. CENTRAL, SALAS 1001 E 1008 CEP 70304-900. (61) 3226-0543/1343 A TARDE É ASSOCIADA À SOCIEDADE INTERAMERICANA DE IMPRENSA (SIP), AO INSTITUTO VERIFICADOR DE CIRCULAÇÃO (IVC) E É MEMBRO FUNDADOR DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS JORNAIS (ANJ) IMPRESSÃO QUEBECOR WORLD RECIFE LTDA


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SALVADOR DOMINGO 5/12/2010

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#140 / DOMINGO, 5 DE DEZEMBRO DE 2010 REVISTA SEMANAL DO GRUPO A TARDE

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ACARAJÉ De olho no mercado consumidor, a tradicional iguaria baiana se reinventa com serviços de delivery, atendimento 24h e diversidade religiosa


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