2015
4OUT EDIÇÃO 195
SABE O BICHO? PEGOU! Pets com perfis em redes sociais ostentam números que superam os de ídolos como Madonna e Brad Pitt
CECÍLIA EMILIANA Hoje ainda é domingo, mas Catarina já não tem agenda para o próximo fim de semana. Tampouco para o outro que se seguirá. Seus sábados e domingos têm ficado cada vez mais ocupados com convites para marcar presença em eventos – compromisso incluído em alguns contratos de publicidade que ela vem fechando com empresas.
Entre segunda e sexta, a mocinha até tem algumas algumas folgas - mas só depois da sessão de fotos e vídeos que faz quase que diariamente. O material é distribuído por três espaços virtuais: o Instagram, rede na qual mantém um perfil, atualmente com cerca de 6 mil seguidores; o Facebook, em que é tema de uma recém-criada página de popularidade promissora; e o Youtube, onde acaba de estrear um canal.
A exposição nesses canais, naturalmente, exige atenção com a aparência. E por isso mesmo a dondoca também reserva parte de seu tempo a alguns rituais de beleza, que contemplam hidratação, um tapinha nas unhas, decoração do corpo com decalques, entre outros procedimentos. Essa rotina atribulada poderia ser a de uma celebridade qualquer em ascensão, ou de uma dessas it-personalidades que ditam moda, tendências e comportamentos na internet. E é mesmo. A diferença é que a figura em questão é uma peludinha de quatro patas da raça Beagle, xodó da estudante belo-horizontina Jéssica Vilaça, de 21 anos.
Com 1 ano 2 meses, a personagem canina é mais famosa que uma boa quantidade de humanos, incluindo sua dona. “Em muitos lugares onde eu vou com a Catarina, o pessoal logo a reconhece e vem brincar com ela. Sou praticamente uma mão que segura a coleira, ninguém sabe sequer meu nome!”, brinca Jéssica, que introduziu a cadela no universo online de maneira despretensiosa. “Desde que trouxe a Catarina pra minha casa, eu já a fotografava bastante e publicava as imagens nas redes sociais - só que nas minhas contas. Mas chegou num ponto em que as pessoas começaram a falar ‘Nossa, no seu Instagram só tem sua cachorra!’. Com esses comentários, me veio a ideia de criar um perfil separado pra ela. Não achava que isso ia bombar, a ideia era só ter um lugar para eu mesma ficar babando no meu bebê. Os posts, porém, começaram a ser muito curtidos e compartilhados, até que chegamos onde estamos hoje, com quase 6 mil seguidores”, recorda a jovem.
Tendência Catarina ilustra uma fenômeno que cresce exponencialmente nas redes sociais: o petworking, termo inventado para definir a cultura da criação de identidades virtuais para pets. Entre os colegas de metiê da Beagle há verdadeiros superstars de quatro patas, que certamente causam inveja a muita estrela da espécie Homo sapiens. Estamos falando, por exemplo, de Mishka, cadela da raça Husky Siberiano que acumula perto de 460 milhões de visualizações em seu canal Youtube e está na frente da cantora Madonna, que acaba de romper as 450 milhões. Ou Maru Taro, o it-dog da linhagem Shiba-Inu que, se falasse, provavelmente diria a Leonardo Di Caprio: “Perdeu, Playboy!”. Seu séquito no Instagram, afinal, tem 1,9 milhões de fãs, 600 mil a mais que o do ator.
É pouco provável que um usuário padrão de mídias sociais saia de uma navegada básica sem ao menos ouvir falar desses, ou de outros perfis do gênero. A sensação que se tem é a de que as redes, hoje, são um verdadeiro mar de bichos. Foise o tempo em que interagir com o cachorro do vizinho implicava ir até o quintal dele. Não há, contudo, estudos que digam, com precisão, quantos focinhos já adentraram a web – embora dados de abrangência local e pesquisas adjacentes em contextos desvinculados da internet permitam vislumbrar a dimensão deste número.
Para se ter uma ideia, um levantamento encomendado pela companhia britânica de seguros The co-operative insurance em 2014 detectou que 1 em cada 4 animais de estimação do Reino Unido – onde vivem 58 milhões de pets segundo a PFMA (uma associação de fabricantes de ração) – têm perfis online. Nos Estados Unidos, o estudo mais recente realizado relacionado ao tema foi conduzido pelas empresas Ebay Classified e DoogLoot, que verificaram em torno de 11 milhões de perfis criados só de cachorros no Facebook. Ou seja: 27 milhões de criaturas não-humanas inglesas e americanas já povoam a esfera virtual.
O Brasil, onde não há registros do tipo, por certo faria a estimativa crescer bastante se entrasse na conta. Casa de celebridades como Estopinha, a vira-lata com 2,3 milhões de curtidas no site de Mark Zuckerberg; e do gato Chico, protagonista, na mesma rede, da página Cansei de ser gato, que já ultrapassou 345 mil likes, o país é hoje o quarto no ranking mundial de bichos de estimação. Informações do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) dão conta de que os lares brasileiros abrigam 132,4 milhões de gatos, cachorros e outras espécies de companhia – população que, diga-se de passagem, já supera a de crianças.
Ampliando-se, por fim, o leque estatístico para um âmbito global, a conclusão é a de que não é absurdo pensar que nação de pets online esteja próxima da casa das centenas de milhões. De acordo com a Euromonitor International, especializada em pesquisas de marketing, no Planeta existem aproximadamente 1,5 bilhões de bichos alegrando a vida da humanidade.
E se o homem os trata cada vez mais como gente, membro de famĂlia cada vez mais inserido nos lugares que frequenta, ĂŠ natural que carregue seus inseparĂĄveis companheiros para o mundo onde, atualmente, passa grande parte de seu tempo: o virtual.
It-cash Nem só afeto e identificaçãomotivam o crescimento de perfis de usuários de quatro patas internet afora. Cada fotografia fofa, comentário engraçadinho e, principalmente, cada fã conquistado nas diversas redes sociais redem, em muitos casos, bastante grana.
Que o diga Tabatha Bundesen, americana proprietária de Tardar Sauce, mais conhecido como Grumpy Cat (gato ranzinza, em português). Ela trabalhava como garçonete quando adotou o felino, que faz sucesso sobretudo por sua aparência peculiar: devido a problemas ósseos (uma espécie de nanismo), ele nasceu com uma fisiono-
mia naturalmente fechada, como se estivesse constantemente mal-humorado. A expressão “fria” e “cruel” do gato é perspicazmente associada a memes com frases ácidas, tais como “eu gosto do som que você faz quando está calado” ou “bom dia pra quem?”.
Três anos depois da primeira aparição do bichano no Facebook, ele reúne mais de 8 milhões de curtidas no Facebook, perto de 1 milhão de seguidores no Instagram, 32 milhões de views no Youtube e uma horda de fãs em ascensão no Snapchat, o último espaço que colonizou. A popularidade é muito bem recompensada. Segundo Bundesen, o gato engordou sua conta bancária em cerca US$ 100 milhões. O dinheiro vem, sobretudo, de merchandising e produtos licenciados pelo animal, que tem sua própria marca de café gelado, cappucino, e outros produtos que comporiam uma extensa lista. Sauce estrelou ainda um filme. Intitulado Grumpy Cat’s Worst Christmas Ever (O pior Natal do gato ranzinza, em tradução livre), o longa estreou nos EUA em novembro de 2014.
Rafael Mantesso, “pai” do cão Jimmy Choo é outro caso bem-sucedido. O Bull Terrier é internacionalmente conhecido por posar em fotografias artísticas compostas por seu carisma e os desenhos de seu talentoso dono. Adquirido em 2006 por Mantesso e sua esposa, o cachorro permaneceu anônimo enquanto pertenceu ao casal. Em 2013, porém, eles se separaram, e a divisão dos bens ficou assim: todos os móveis da casa para ela, e o cachorro para Rafael (única coisa de que disse fazer questão).
Certo dia, ao voltar para o apartamento vazio, moço sentiu um misto de tristeza e solidão. Para espantar as más vibrações, decidiu na ocasião, retomar um hobby antigo: desenhar. “Naquele momento, eu queria dar um pouco de vida à casa, que ficou sem nada, nada mesmo. Daí comecei a desenhar e pregar os papéis na parede. Teve uma hora, por
puro acaso, que o Jimmy se sentou em cima da minha folha. Eu fiz um desenho em volta dele e gostei. Depois peguei uma caixa e desenhei um esqueleto, como se fosse do Jimmy fazendo um raio x. Posicionei-o atrás do objeto, fotografei, e compartilhei o clique no instagram. As pessoas gostaram muito das fotos, e o Jimmy foi ficando famoso”, conta.
O estrelato pra valer veio quando o cãozinho – hoje com mais de 391 mil seguidores no Instagram e 20 mil curtidas no Facebook – despertou a atenção da marca de sapatos Jimmy Choo, de quem herdou o nome. Atenta à oportunidade de lucrar com o pet, a grife pediu que Mantesso desenvolvesse o design uma coleção de bolsas e carteiras estampadas pelo bichinho (lançada em julho deste ano). Depois disso, o cão já
estrelou comerciais da Neflix e da Fiat. As cifras atingidas com essas e outras parcerias, Rafael prefere não revelar. Pontua somente que é bastante procurado por anunciantes, mas aceita poucos convites. “Meu intuito principal nunca foi ganhar dinheiro com o Jimmy, é nós dois nos divertirmos. E só é legal porque é assim. Sou muito criterioso para analisar propostas. Só embarco quando aceitam fazer do meu jeito”, afirma.
Em 27 de setembro, Rafael e seu melhor amigo lançaram um livro de fotografias – do cachorro, é claro. Publicada pela Penguin, a maior editora do mundo, a publicação está já à venda nos EUA, e deve chegar ao Brasil ainda neste mês.
TOP 10 pets mais famosos da internet Sim, existe um ranking oficial dos bichos mais influentes na web. A lista é mantida pela empresa Fur Card, que soma número de seguidores únicos (não repetidos) no Instagram, Facebook, Twitter e Tumblr das pet celebridades. Saiba quem são os 15 animais mais poderosos do mundo.
Nala Quem olha para essa gatinha cheia
go. Hoje, a felina – mais famosa do
de charme e expressão assustada
mundo – samba a cara da sociedade
nem imagina que, até pouco tempo,
com quase 1,9 mihões de seguidores
ela estava abandonada em um abri-
no Instagram,
Maru Taro Maru Taro, um cãozinho de 7 anos da raça Shiba-Inu, vive no Japão. A fofura
de olhos puxados tem mais de 1,5 milhões de fãs no Instagram.
Tuna Tuna, a cadelinha que está constantemente sorrindo – na verdade, por causa de um problema na mandíbula –, é
uma feiurinha muito amada. Com 1,3 milhões de seguidores, é a terceira do ranking.
Marnie, the dog Queridinha das clebridades americ anas, Marnie vive de linguinha pra fora, feliz da vida. Tal-
vez porque sabe que tem 1,27 milh천es de pessoas babando por ela nas redes sociais.
Boo Boo é o Lulu da Pomerânia mais fofo do mundo. Carrega atrás dele nada menos que 1,056 milhões pessoas hipnotizadas por sua simpatia.
Maddie O cachorro da raça Coonhound pertence ao fotógrafo Theron Humprey. O itdog é conhecido por suas habilidades
acrobáticas, como conseguir ficar em pé em cima de qualquer objeto. Reúne em seu perfil cerca de 833 mil admiradores.
Lili Bub A gatinha encontrada no interior de Indiana, nos Estados Unidos, foi diagnosticada com uma série de anomalias genéticas que causaram deformidades em suas patas, ausência de dentes e
uma redução no maxilar - o que explica porque ela sempre está com a língua de fora. Nada disso, contudo, foi suficiente para diminuir o carisma da gatinha, que já ultrapassou 714 mil seguidores.
Harlow and Sage O perfil é de um trio de cachorros, que começou com o weimaraner Harlow e sua melhor amiga, Sage, uma dachshund em miniatura. Sage, porém,
morreu e, em seu lugar, entrou Indiana, outra dachshund. As poses divertidas e fofas dos animais conquistaram nada menos que 976 mil fãs.
Akira, Blaze, Shiloh e Phènix O quarteto de huskies siberianos famosos soma mais de 680 mil seguidores. Phènix tem 1 ano; Blaze e Shiloh 2; e Akira, 3.
Manny, the frenchie Com 671 mil seguidores no currículo, Manny the Frenchie é um dos cidadãos mais ilustres de Chicago (EUA), cidade em que vive. O Bulldog Francês
não invadiu apenas as redes sociais: está também na App Store, como personagem do jogo The Flying Frenchie, em que caça petiscos de bacon.
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