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Raízes do Movimento

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Partilha e PCE

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Excesso de trabalho, cansaço, decepção...

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Excesso de trabalho, cansaço, decepção, desânimo, tédio, desfalecimento. Quantas vezes estas palavras vêm à boca daqueles que atingem os 40 anos, passados já 15 ou 20 anos de casamento? Claudel, no seu “Caminho da Cruz”, exprimiu em termos pungentes esta lassidão que se sente na metade da vida:

“Não é o tropeço na pedra do caminho, nem a corda Puxada com força, é a alma que desfalece de repente. Ó meio do caminho da vida! Ó queda a que somos levados espontaneamente! Quando quem ama perde o polo e a fé não tem mais céu. (...) Sucumbe o corpo, é verdade, mas a alma ao mesmo tempo consentiu. Salvai-nos da segunda queda, que levamos voluntariamente por enfado.” Será mesmo fatal esta recaída? Será apenas uma ilusão da juventude acreditar que a vida deva ser uma subida? Ilusão que não se poderia cultivar, a sério, ainda aos 40 anos. Prestem atenção neste pequeno esquema. A curva X representa o dinamismo biológico: ele sobe impetuosa mente no começo, se inclina, pouco a pouco atinge o ápice e declina. A motivação espiritual é representada pela curva Y. Dou à expressão “motivação espiritual” uma acepção ampla: Y

X

o gosto do trabalho, a generosidade do coração, a aspiração pela perfeição moral e religiosa. O traçado das duas curvas, de início confundido, mostra que o biológico favorece, sustenta a motivação espiritual do começo. Isto provoca ilusões, porque então a gente se imagina muito adiantado no domínio do espírito, crê-se haver atingido um perfeito amor conjugal, uma grande dedicação pelos outros, um generoso serviço de Deus, quando de fato trata-se mais de uma motivação vital que de dinamismo espiritual. Assim, quando o vital começa a perder seu vigor, o espiritual não prossegue mais no sentido ascendente. Fica-se então desconcertado, a gente não se reconhece mais, tenta-se “blefar” a si mesmo, negar a recaída, mas uma inquietude mais ou menos angustiosa invade a alma insidiosamente: impossível não reconhecer que se está perdendo a velocidade espiritual, que

o amor conjugal, a fé, a aspiração para um “algo mais” moral e religioso diminuem. Muitos aí ridicularizam suas ilusões de juventude, se tornam enjoados, resignados, amargos, endurecidos. Este abatimento do meio da vida é então inelutável? Não. Mas é importante que a gente se prepare. É necessário que o espiritual ganhe em vigor, quando está sustentado pelo biológico, para que, quando este venha a se enfraquecer, tenha dinamismo suficiente para prosseguir em sua trajetória ascendente. O biológico é como a rampa de partida: põe o espiritual na direção do céu. Mas que o espiritual passe depressa à frente do biológico, senão quiser ser arrastado com este em sua queda. Não cabe neste curto bilhete falar-lhes longamente dos meios de sustentar e de desenvolver nossa vitalidade espiritual. Quero, porém, ao menos, chamar a sua atenção sobre a necessidade de não negligenciar nunca, de procurar e de frequentar tudo aquilo que pode estimular a sua faculdade de admiração, a atividade intelectual, tudo aquilo que pode fazer surgir em vocês, a piedade, o amor e a dedicação. E isto tanto no plano humano como no plano religioso. Do contrário a esclerose bem depressa tomará conta de suas faculdades espirituais. Enfim, por hoje, um último conselho, que parece contradizer o precedente mas que verdadeiramente o completa e equilibra: aceitem-se a si mesmos, consintam em ser simplesmente o que vocês são, reconheçam e admitam seus limites. Sem revolta, sem azedume, sem crispação. E, mais, creiam que o poder de Deus vem em auxílio da fraqueza do homem quando confessada, quando oferecida. Ouçam São Paulo: “É de coração que eu me gabo da minha fraqueza, a fim de que venha a mim o poder de Cristo... Quando sou fraco, é então que sou forte.” Pe. Henri Caffarel

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Colaboração: Ma. Regina e Carlos Eduardo Eq. N. S. do Rosário – Piracicaba-SP

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