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O Pilar da Caridade

“Se nos amamos uns aos outros, Deus permanece em nós e seu amor em nós é consumado” (1Jo 4,12)

Na continuidade dos pilares estabelecidos nas Diretrizes para a Ação Evangelizadora na Igreja, apresentaremos o terceiro pilar, a caridade. Caridade e amor são utilizados como sinônimos dentro da Sagrada Escritura por influência da língua latina. No entanto, existem algumas diferenças entre as palavras seja em nosso uso habitual, seja na sua utilização histórica. Amor descreve melhor a dimensão subjetiva, aquilo que sente interiormente, que nos impulsiona a

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agir, iniciando como um sentimento e depois comprometendo o coração. Caridade é utilizada em sentido mais objetivo, seria o amor quando se transforma em ação. Esta ação amorosa, entendida como caridade, é direcionada a quem possui alguma carência, uma necessidade, algo que não poderia ou lhe seria difícil realizar sozinho. Caridade, assim, é o amor demonstrado em ato suprindo a necessidade, material ou espiritual, de alguém. Uma pergunta poderia emergir:

é possível amar sem ter atitudes? Embora as atitudes sejam o testemunho do amor, para serem autênticas, elas fazem parte de um segundo momento. Existem situações em que o amor não produz atos diretos por não dispor dos meios, assim funciona inclusive com as pessoas que possuem certas doenças, pessoas presas etc. Um exemplo é o perdão, que é um gesto de amor, mas não é caridade em sentido estrito. O amor é possível a todos, já a caridade depende muito da situação particular em que cada um se encontra. Assim, este pilar não se refere a sermos capazes de amar, que já é pressuposto, e sim a nossa capacidade de fazer algum bem a quem dele necessita. Neste tempo de pandemia temos muitas iniciativas de caridade que nos mostram a necessidade de ajudar quem sofre mais que nós. Esta preocupação vem desde a origem da Igreja, relembrada por Paulo em seu encontro com Pedro em Jerusalém (Gl 2,10). No entanto, as diretrizes apresentam uma forma de caridade que se dirige a nosso Movimento de forma direta: “Priorizar as ações com as famílias e com os jovens, como resposta concreta aos sínodos da família (2014 e 2015) e da juventude (2018). Esta forma de caridade discreta é talvez nossa maior necessidade, sustentar e animar as famílias e os jovens, que um dia serão famílias, para que sejam sal da terra e luz do mundo. Ajudá-los a superar momentos de crise, fazer com que a esperança jamais ceda lugar ao desespero, equilibrar com nosso bom testemunho de vida, a realidades difíceis e sofridas de tantos matrimônios em nosso tempo. Como o amor impõe prioridade, não podemos descuidar dos mais próximos antes de nos lançarmos na direção dos mais distantes, sendo sempre bom estar atento àqueles que a providência de Deus aproxima de nós para que cuidemos. Uma das belas coisas que me encantaram no Movimento foi essa capacidade de dilatar as famílias, criando vínculos em nossas equipes que muitas vezes superam os vínculos de sangue, seja no amor, seja no compromisso de uns com os outros. Essa caridade cativante é uma grande marca do Movimento, e com certeza nossa prioridade. Casais santos que santificam outros casais pela presença e pelo testemunho, quando é possível. Santidade é como a beleza, ninguém possui defesa contra ela. Nesse sentido termino com uma frase de grande escritor russo, Dostoiévski, utilizada pelo Papa João Paulo II em sua carta aos artistas (1999): “A beleza salvará o mundo”. Deus abençoe a todos.

Padre Antonio Xavier Eq. 101 C – Região BSB I Província Centro-Oeste

*Obras consultadas: 1. Missal, Romano, p. 667; 2. Missal Cotidiano, p. 1754-1755; 3. Altaner-Stuiber, Patrologia, EP, 1995, p.394-404.

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