Revista Cidade Verde 182

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CAPA


HOUS PUBLIC


SE D1 CIDADE


Índice

08

Capa

Bullying: ameaça disfarçada

Páginas Verdes Maura Barbosa

Apostas na mesa

05. Editorial

56. Comércio do Piauí

08. Páginas Verdes Maura Barbosa concede entrevista à jornalista Cláudia Brandão

58. Café com pão, leite não?

18. O cenário eleitoral sem Lula 26. Quem são os eleitores piauienses?

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62. 50 anos depois, 68 ainda não terminou 68. Pegou, virou viral

36. Indústria

74. 125 anos de história do comércio piauiense

38. Mais uma ameaça do mosquito

78. Mudança de hábito

Cecília Mendes

Auxílio luxuoso

24. Ponto de Vista Elivaldo Barbosa

44. Economia e Negócios Jordana Cury 77. Tecnologia Marcos Sávio 82. Passeio Cultural Eneas Barros 86. Perfil Péricles Mendel

Articulistas 33

30

COLUNAS

48

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Zózimo Tavares


foto Manuel Soares

Nunca foi uma simples brincadeira O início do ano letivo costuma trazer muitas expectativas para os alunos. A descoberta de novos colegas e conhecimentos faz com que o retorno às aulas seja desejado com um misto de satisfação e ansiedade. Mas esse mesmo ambiente do convívio escolar, que deve ser de alegria e contentamento, pode esconder também um lado doloroso, manifestado pelo bullying, uma realidade, infelizmente, ainda presente nas salas de aula. O bullying caracteriza-se por um comportamento agressivo, e até mesmo perverso, desenvolvido contra um colega. Diferente do que muitos costumam dizer, não se trata de simples brincadeira, vez que esta última deve ser vista como algo saudável e divertido. Com o bullying, é diferente. Ele maltrata, humilha e afeta seriamente a autoestima da vítima, podendo causar transtornos psíquicos graves, que comprometem o desempenho escolar e até mesmo o relacionamento social. Se o bullying ainda não foi banido da vida escolar, a boa notícia é que ele já começa a chamar atenção, não apenas de professores e diretores, mas também das autoridades públicas brasileiras. Prova disso é a cartilha lançada pelo Senado Federal para jogar uma luz sobre o problema e orientar as pessoas que, de uma forma ou de outra, estão envolvidas com o assunto. A Revista Cidade Verde também entrou na discussão e ouviu vários especialistas, assim como pessoas que foram marcadas por esse tipo de agressão, em uma reportagem que começa na página 48. Nosso propósito é tirar esse tipo de violência da sombra que costuma

cercá-la e tratar a questão de forma clara e transparente para que ela deixe de existir. Esta edição trata ainda de dois temas polêmicos e atuais no Brasil. Um deles é a legalização dos jogos de azar, cujo Projeto de Lei que prevê a sua regulamentação já foi aprovado em várias comissões e está prestes a ser votado na Câmara e no Senado. Quais seriam os benefícios e desvantagens da regularização desses jogos, atualmente proibidos no Brasil? O que eles podem trazer a reboque? Há uma série de questões a serem abordadas, que a Revista Cidade Verde traz para que seus leitores possam formar sua própria opinião a respeito. Outro assunto que merece nossa atenção é o auxílio-moradia, no valor de R$ 4,377 mil, pago aos magistrados, promotores e conselheiros de todo o Brasil. Esse valor, criado teoricamente para custear as despesas com moradia dos juízes que trabalham fora da sua cidade, acabou sendo estendido a várias categorias e, atualmente, é pago para muitos servidores públicos. Na verdade, funciona como mais um “penduricalho” no contracheque, e é pago justamente a quem recebe os maiores salários do serviço público, aumentando ainda mais o fosso existente entre o topo e a base da pirâmide econômica. São as contradições de um país que, em vez de combater as desigualdades sociais e econômicas, as mantém com o carimbo da legalidade para beneficiar justamente os que devem zelar pela justiça social. Cláudia Brandão Editora-chefe

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HOUS PUBLIC


SE D2 CIDADE


Entrevista POR CLÁUDIA BRANDÃO

Maura Barbosa

claudiabrandao@cidadeverde.com

Novo modelo de Escola foto Wilson Filho

O país está se preparando para implantar a Base Nacional Comum Curricular, que define novas competências a serem adotadas em todo o Brasil para formar um aluno mais crítico.

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A partir do próximo ano, o Brasil deve adotar uma base de currículo comum a todas as escolas, definindo o conteúdo mínimo que os alunos devem aprender de norte a sul do país. As peculiaridades culturais de cada região serão acrescidas a um tronco comum. Um dos objetivos é diminuir as desigualdades existentes hoje entre os estados brasileiros. Uma radiografia da educação no país revela um atraso significativo no processo de alfabetização escolar. Mais da metade das crianças brasileiras ainda não sabe ler, escrever e contar depois de três anos frequentando a escola. Uma realidade que o Ministério da Educação pretende mudar. Em recente visita a Teresina para discutir com os gestores municipais a Base Nacional Comum Curricular, a coordenadora pedagógica na área de gestão escolar no Centro de Documentação para Ação Comunitária, Maura Barbosa, concedeu a seguinte entrevista à Revista Cidade Verde, na qual fala sobre o modelo de escola que temos hoje e o modelo que queremos para o futuro.

RCV – Em um mundo de constantes mudanças, por que as escolas parecem ter parado no tempo com relação à prá-

Toda a organização da escola é centrada na era da Revolução Industrial e funciona como o modelo de uma fábrica.

tica do ensino, mantendo o tradicional modelo de aulas? MB – São muitas questões que es-

tão implicadas. Nós estamos em um cenário no qual é preciso valorizar os profissionais do ensino. Nós avançamos com a elaboração do plano municipal de educação. Mas nosso país ainda está muito aquém dos países desenvolvidos nessa questão da tecnologia, por exemplo. Hoje, se briga porque o menino usa a tecnologia na escola e a tecnologia faz parte da vida. Há até um livro que fala sobre isso: “Polegarzinha”. O menino está com o mundo na palma da mão, a questão é saber como a gente pode ajudar o menino com essas informações as quais ele tem acesso, como ele pode filtrar essas

informações, quais são os critérios. A ferramenta existe e não dá mais para voltar atrás. O problema é discutir essa nova realidade com o professor que tem pouca intimidade com a tecnologia. A própria rede, às vezes, não funciona adequadamente na escola.

RCV – O processo, então, deve começar pela requalificação do professor? MB – A requalificação e a ressignificação dessa formação. É preciso investir na profissionalização do professor, do diretor, do coordenador, de toda a equipe técnica, enfim.

RCV – Entre os 65 países avaliados pelo PISA (Programa Internacional de Avaliação de Alunos), o Brasil ficou em 53° lugar. O que precisamos fazer para sair dessa posição desvantajosa? MB – Nós precisamos ter um po-

sicionamento sobre o que a gente quer de fato. Por exemplo, o Ceará investiu tudo na alfabetização; Minas Gerais, Espírito Santo e São Paulo investem no ensino fundamental 1; Rio de Janeiro e Pernambuco, no ensino médio. Esses estados têm um foco. Este momento que estamos vivendo atualmente, que é o da Base Nacional Comum Curricular, está discutindo o que é essencial para que os alunos posREVISTA CIDADE VERDE | 4 DE FEVEREIRO, 2018 | 9


sam exercer a cidadania, porque ler e escrever apenas não basta. O aluno precisa aprender mais que isso, precisa aprender a argumentar, tanto falando quanto escrevendo. Precisamos pensar em um sujeito de direito.

RCV – 34% dos alunos que chegam ao 5° ano do ensino fundamental ainda não conseguem ler. Por que é tão difícil alfabetizar? MB – Alfabetizar não é fácil. Não

foi, não é e não será fácil, porque a gente vem de um modelo de escola que é da era da Revolução Industrial, que divide os alunos por série e tem a preocupação de passar todo mundo no mesmo momento. Se a gente prestar atenção, toda a organização da escola está no modelo de uma fábrica e nós estamos trabalhando com sujeitos que pensam e que formulam hipóteses. Não faz tanto tempo, foi no final da década de 1990, que começou a discussão sobre equidade. Então, você começou a prestar atenção que em uma sala de aula não são todos que aprendem da mesma forma. Daí a necessidade de professores que entendam que os alunos são sujeitos cognitivos e diferentes entre si e, para isso, eles precisam de ajuda, de parceria. As intervenções devem ser feitas de forma diferente para os diversos alunos.

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É o professor que faz a transformação social. É preciso investir e valorizar esse profissional.

RCV - Qual a sua opinião sobre o atual processo de avaliação dos alunos? MB – Apesar de todas as questões

que envolvem o IDEB (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica), eu acho que ele coloca o menino na roda, porque é o menino que faz a prova e que está dizendo o que ele aprendeu ou não. A prova revela o descompasso que existe no país de uma escola para outra, de uma sala para outra. A avaliação traz muitos indicadores para se repensar a política educacional, tanto é que o MEC criou muitos programas para apoiar o desenvolvimento dos meninos.

RCV – O que pode ser feito para tornar as escolas um lugar atrativo para os alunos? MB – O ambiente precisa ser cui-

dado para que as crianças cheguem e se sintam bem. A estrutura física das escolas já melhorou muito nesse país, e olha que eu ando muito pelo Brasil. Hoje, em muitas escolas já há ar-condicionado. Mas é fundamental que a criança se sinta pertencente à escola. E como isso acontece? Quando ela participa de um grêmio, ou das atividades culturais da escola, das assembleias e tem participação ativa dentro da própria sala de aula, onde ela precisa ter voz. É fundamental que os alunos tenham uma escuta, e não apenas da voz, mas das suas atitudes. Quer ver outro dado interessante? Em uma pesquisa recente, foi perguntado aos meninos o que eles valorizam em uma escola e eles responderam que são os professores.

RCV – De que maneira a Base Nacional Comum Curricular pode ajudar a melhorar o aprendizado dos alunos? MB – A partir da definição do que

é necessário que todas as crianças brasileiras devem aprender. Olhando para isso, lógico que vão aparecer estados que estão mais avançados, mas, de fato, vai colocar um foco nisso. Vamos passar a olhar mais para os materiais didáticos, para a avaliação, tudo vai estar baseado no que os meninos deveriam ter aprendido. Então, nós começaremos a nivelar para cima, e não mais para baixo.


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