EQUITAÇÃO
N. º 1 1 4 | JU NHO / JU LHO 2 0 1 5 | C O Nt. pre ç O | € 4 , 5 0 | w w w. e q U itaC aO. C O m
OBSTÁCULOS LUÍS SABINO VOLTA A GANHAR O GRANDE PRÉMIO DE LISBOA
ANTÓNIO MATOS ALMEIDA CAMPEÃO DE PORTUGAL
A CONSAGRAÇÃO DA COUDELARIA LUÍS BASTOS ÉGUA DE OURO EXPOÉGUA CAMPEÃO DE CAMPEÕES FIPSL
EDITORIAL
HELP, SENHORA MINISTRA!!! ssisti também com pequenas interrupções para desanuviar, a mais um aborrecidíssimo desfile de Modelo e Andamentos que continua a ter como adeptos, pelo menos os criadores que se classificam. Assisti ainda a mais um escandaloso momento, o da "aprovação" de garanhões da raça lusitana, digo escandaloso porque se perpetua com a mesma perversa fórmula, há demasiados anos e por estar apadrinhado por uma associação de criadores a quem o estado delegou as responsabilidades inerentes à raça Lusitana, que a continua a promover com exigências absolutamente medievais. Em pleno séc. XXI é ignorado tudo o que é avanço técnico ou conhecimento científico, bem como as actuais exigências do mercado internacional. Ignoram por exemplo que o Raio X já foi descoberto, que os cavalos só se vendem por preços rentáveis se passarem um exame veterinário em acto de compra, que há mesmo compradores que exigem uma análise de sangue para verificar possível doping. No histórico desta "aprovação", só há incoerência e inconsistência de critérios, sem qualquer dado que possa ajudar os criadores ávidos com informação transparente. Vejam-se as notas compostas que se atribuem, nunca se saberá se o 6 na cabeça e pescoço é de um mau pescoço ou de uma cabeça feia, ou se o 5 em dorso e rim, o problema é do rim ou do dorso. Acreditem ainda porque é verdade, que um cavalo medalhado no ano anterior pode ser chumbado no ano seguinte, ou o cúmulo do ridículo e alvo já da chacota geral, o melhor Lusitano de toureio de Portugal (prémio atribuído pela APSL) afinal também não vai ser um bom garanhão e chumbamno!
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ACABO DE CHEGAR DA CADA VEZ MAIS SIMPÁTICA FEIRA DO CAVALO DE PONTE DE LIMA, ONDE TIVE O PRAZER DE ASSISTIR A UM EXCELENTE CONCURSO INTERNACIONAL DE EQUITAÇÃO DE TRABALHO, AO MELHOR CAMPEONATO DE PORTUGAL DE DRESSAGE QUE RECORDO, COM BOM NÍVEL DE CAVALOS E EQUITAÇÃO VI AINDA INÚMERAS PROVAS DE DIFERENTES MODALIDADES.
Francisco Cancella de Abreu Director
É "demasiada a escorregadela na maionese"!! Aceitam-se uns e cruelmente rejeitam-se outros por razões meramente estéticas, normalmente fúteis, por não serem hereditárias ou facilmente compensáveis com boas éguas. Negam também que com este "sistema" o que cientificamente se sabe: a espécie equina, não está geneticamente programada para ser seleccionada pelos conceitos de beleza dos humanos. Ao exigir exclusivamente beldades e esquecer a parte atlética, estes animais degeneram em modelos fotográficos, basta ver o que aconteceu com o cavalo espanhol e a uma boa parte do cavalo árabe, inúteis para o serviço de sela e a anos de luz do que se exige ao cavalo de desporto, porque são raças que continuam a ser vítimas de excessivas exposições de beleza. Em selecção natural as éguas não elegem o mais bonito, mas sim o que derrotou a concorrência, o que evidencia ter genes mais fortes e vigorosos. Hoje na selecção de outros países, recria-se a dura natureza, por uma exigente testagem de reprodutores/as ou através do esforço desportivo, em busca de informação verdadeira e transparente, do real valor atlético de cada animal.
Lamentavelmente o actual sistema dita que: em 5 minutos serão condenados alguns e aprovados outros. Por isso impõese levantar algumas questões. Quem nos garante que os chumbados, porque tinham algumas imperfeições estéticas não são exactamente os melhoradores, os que fazem falta a uma raça cujo padrão foi definido numa época em que os criadores não cuidavam minimamente a alimentação, e eram produzidos em série manadas de raquíticos, para abastecer as remontas do exército e GNR?? Quem nos garante que os maus aprumos não foram causados por ancestral subalimentação ou pelo desleixo do criador que não os corrigiu enquanto era tempo? Qual é o risco desses aprumos serem transmitidos? Quem nos garante que um lusitano de perfil recto, não pode produzir perfis sub-convexos e até acarneirados? Se toda a sua ascendência está inscrita por ser típica? Gravíssimo e demolidor é continuarem a aprovar cavalos de cor "Isabel" quando cientificamente se sabe que os cremelo descendente de ruços, sofrem habitualmente morte prematura por melanomas migrantes que se instalam nas partes
mais inconvenientes do corpo. Esses 5 minutos permitem aceitar um animal que evidencia sinais de estar sedado como já vi. Como avaliar correctamente os andamentos, se o cavalo está visivelmente mal montado ou até, carregado de anti- inflamatórios, tal como há inúmeros casos conhecidos. Curiosamente 75% dos reprovados que recorreram a uma segunda avaliação passaram mediante o pagamento de uma taxa suplementar de 500 euros. Assim reprovar acaba por ser o negócio de toda esta obscura operação Resumindo: Este irresponsável sistema promove e oficializa a degradação da raça Lusitana, autorizando animais de mau temperamento, ou outros portadores de doenças transmissíveis, a multiplicar-se às centenas. Assegura-se assim um futuro bem negro para um cavalo português que devíamos aperfeiçoar e honrar mas que em breve será um inútil invendável. Senhora Ministra, agora que se mostrou interessada pelos cavalos, faça um enorme favor às nossas raças, regulamente a criação de cavalos em termos aceitáveis internacionalmente, e termine de vez com esta degradante "apresentação/ aprovação" pois existem alternativas mais adequadas que vão da liberalização sob controlo veterinário à exigente testagem, senão é melhor esquecer a desejada excelência para o Lusitano. n REVISTA EQUITAÇÃO
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SUMÁRIO 04 04
FEIRAS E EVENTOS
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FESTIVAL INTERNACIONAL DO PSL 12
FESTA DO CAVALO, PORTO SALVO
FEIRAS E EVENTOS
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EXPOÉGUA 2015, GOLEGÃ 14
54
FEIRA DA AGRICULTURA, SANTARÉM
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CSIO DE LISBOA
TAUROMAQUIA POR DOMINGOS DA COSTA XAVIER
OBSTÁCULOS
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CSI 2* DE ALFEIZERÃO 22
CRÓNICA POR RITA GORJÃO CLARA
16
OBSTÁCULOS
20
CORRIDAS POR VICTOR MALHEIRO
FEIRAS E EVENTOS
16
FEIRAS E EVENTOS
VETERINÁRIA POR JOANA ALPOIM MOREIRA
OBSTÁCULOS
62
CSI 1* DA GOLEGÃ
HISTÓRIA DA ATRELAGEM POR ALEXANDRE MATOS E J.P. MAGALHÃES SILVA
24
OBSTÁCULOS TAÇA DE JUVENTUDE DE COIMBRA
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INSTITUCIONAL COUDELARIA MEZÖHEGYES, HUNGRIA
26
COMPLETO
26
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FINAL DA TAÇA, CEGARREGA
EQUITAÇÃO NATURAL POR JANET HAKENEY
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RAIDES
72
CAMP. DE PORTUGAL, FRONTEIRA 30
NUTRIÇÃO POR LILIANA CASTELO
RAIDES
74
FESTIVAL DE ENDURANCE, RIO FRIO
CRÓNICA POR HENRIQUE SALLES DA FONSECA
28 32
CAVALO LUSITANO
74
POR ANTÓNIO VICENTE,
POR JOSÉ CID
NUNO CAROLINO E LUÍS T. GAMA 40
78
CRÓNICA
FOTO DE CAPA JURDANEA POR RITA FERNANDES
ARTE DA EQUITAÇÃO POR BRUNO CASEIRÃO
FICHA TÉCNICA
DRESSAGE LUSITANO INT. DRESSAGE TEAM
POR JOÃO PEDRO GORJÃO CLARA 44
CRÓNICA
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ÚLTIMA HORA CAMPEONATO DE PORTUGAL
Director: Francisco Cancella de Abreu Editor: Eduardo de Carvalho Conselho Editorial: Afonso Palla (in memoriam); Adolfo Cardoso; Coronel Joaquim Arnaut Pombeiro (in memoriam); Dr. Domingos da Costa Xavier; Prof. João Pedro Gorjão Clara; João Bagulho; Dr. Joaquim Duarte Silva; Coronel José Miguel Cabedo; Dr. João Paulo Marques; Dr. Manuel Heleno; Dra. Rita Gorjão Clara Colaboradores: Dra. Antonieta Janeiro; Dr. Bruno Caseirão; Epona; Galiano Pinheiro; Dr. Henrique Salles da Fonseca; Idés Marchal; Janet Hakeney; Jaime de Almeida Ribeiro; J. Alexandre Matos; Arq. J.P. Magalhães Silva; Dra. Joana Alpoim Moreira; João Maria Fernandes; Dr. José Pedro Fragoso Almeida; Eng. João Moura; Dr. Manuel Lamas; Engª. Liliana Castelo; Paulo Vidigal; Eng. Victor Malheiro Chefe de Redacção: Ana Paula Oliveira Redacção: Ana Filipe; Cátia Mogo; Carla Laureano Publicidade: José Afra Rosa; António Sobral; Assinaturas: Fernanda Teixeira Fotografia: Aurélio Grilo; Emílio de Jesus; Nuno Pragana; Paula Paz Propriedade: Invesporte, Lda; Praceta S. Luís, Nº 14 CV Dto.;Laranjeiro 2810-276 Almada; Cap. Social 5.000 Euros; Cont. 505 500 086; Empresa jornalística registada no ERC nº 223632 Redacção/Publicidade: Praceta S. Luís, Nº 14 CV Dto. Laranjeiro 2810-276 Almada; Tel. 21 2594180 - Fax. 21 2596268; equitacao@invesporte.pt; equitacao@netcabo.pt Edição online: www.equitacao.com Impressão: Manuel Barbosa & Filhos; Zona Industrial de Salemas; Fracção A2 - 2670-769 Lousa LRS Distribuição: Urbanos Press S.A - Rua 1º de Maio Centro Empresarial da Granja - Junqueira - 2625 - 717 Vialonga Tiragem média: 30.000 exemplares Registo ERC: N.º 123900 Depósito Legal: N.º 93183/95. Todos direitos reservados. Interdita a reprodução total ou parcial dos artigos, fotografias, ilustrações e demais conteúdos sem a autorização por escrito do editor. Os artigos assinados bem como as opiniões expressas são da responsabilidade exclusiva dos seus autores, não reflectindo necessariamente os pontos de vista da Direcção da Revista, do Conselho Editorial ou do Editor.
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EQUITAÇÃO
FEIRAS E EVENTOS
FESTIVAL DO LUSITANO oi em tons de Índigo e de festa que decorreu mais uma edição daquele que é considerado o mais importante evento do Cavalo Lusitano no mundo, onde estiveram presentes alguns dos animais que se destacaram no último ano e onde a raça demonstrou mais uma vez a sua funcionalidade através de diversas provas desportivas. Cada vez mais ligada ao Lusitano e às actividades equestres em Portugal, a Ministra da Agricultura e do Mar, Assunção Cristas, marcou presença neste evento, onde contactou com criadores, proprietários e cavaleiros de várias nacionalidades. No que diz respeito ao tradicional Concurso de Modelo e Andamentos, houve 92 animais inscritos, aos quais os juízes
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DE 19 A 21 DE JUNHO REALIZOU-SE NA QUINTA DA MARINHA, EM CASCAIS, A XXVII EDIÇÃO DO FESTIVAL INTERNACIONAL DO CAVALO PURO-SANGUE LUSITANO (FIPSL), ONDE ÍNDIGO - FERRO LUÍS BASTOS E PROPRIEDADE DE PATRICIA PELLEN E ALAIN VISSOUZE SE SAGROU CAMPEÃO DE CAMPEÕES, COM VISTOSA - DE CRIAÇÃO SOCIEDADE DAS SILVEIRAS E PROPRIEDADE DA COUDELARIA LEONARDO FRANCO - A FICAR COM O TÍTULO DE CAMPEÃ FÊMEA. entenderam atribuir 16 medalhas de ouro e 15 de prata. Nas fêmeas, foram vencedoras com ouro: na classe de 1 ano Jurdânea (Escorial x Quénia do Top), da Coud. Luís Bastos; na classe de 2 anos Íris (Escorial x Bemparecida), do mesmo criador; nas Éguas Afilhadas Vistosa (Ofensor x Lailai), ferro Soc. das Silveiras e propriedade da Coudelaria Leonardo Franco, e no Grupo de Três Éguas Afilhadas, Alfama, Alfarroba e Cafeina, criação da Dra. Mi-
chaela Kleba e propriedade da Coudelaria Vila Viçosa, com as três primeiras a ir à disputa do título de Campeã Fêmea. Harpa d'Atela (Soberano x Zincada), de Francisco Bessa de Carvalho, foi vencedora com medalha de prata na classe de 3 anos e nas Éguas Montadas ganhou, também com prata, Geada do MT (Assírio d'Atela x Urtiga) ferro Coud. Monte da Tramagueira e propriedade de Angelique Hofman Borba. Sagrou-se Campeã Fêmea a
égua afilhada Vistosa. Já nos machos, foram vencedores com ouro: na classe de 1 ano Jackpot (Escorial x Arpa) e na classe de 2 anos Índigo (Escorial x Upal), ambos da Coud. de Luís Bastos, sendo Índigo da propriedade de Patrícia Pellen e Alain Vissouze; na classe de 3 anos Hércules d'Atela (Soberano x Vaqueija d'Atela), do criador Francisco Bessa de Carvalho; na classe de 5 anos ou mais Dólar do Penedo (Xis x Xaquira), da
FEIRAS E EVENTOS
EM TONS DE ÍNDIGO Campeão Macho e Campeão de Campeões: Índigo ferro Luís Bastos e propriedade de Patricia Pellen e Alain Vissouze
REVISTA EQUITAÇÃO
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FEIRAS E EVENTOS
Coud. Resina Antunes e na descendência de garanhão Escorial, criação da Coud. de Santa Bárbara e propriedade da Coud. Luís Bastos. Nos 4 anos, venceu ainda sem medalha Grão das Figueiras (Único x Pagica), criação da Sociedade Quinta das Terras e propriedade da Coud. Leonardo Franco, com Índigo a ser escolhido como Campeão Macho. Decidiram os juízes que o título de Campeão de Campeões do FIPSL de 2015 seria entregue a Índigo, para grande alegria dos proprietários franceses que vieram até Portugal apresentar o poldro adquirido cá há cerca de um ano. Para Patricia Pellen, esta vitória "é uma grande valorização para o cavalo e também para o criador, o Sr. Luís Bastos, e eu como cavaleira espero poder dar-lhe ainda maior valor debaixo da sela, quando o montar". Índigo, comprado com um ano, era já uma certeza de qualidade aos olhos da nova proprietária, que desde cedo fica de olho no pai, Escorial. "Desde que o Escorial tinha dois anos e meio que reparámos nele e quisemos comprá-lo,
mas o Sr. Luís não o quis vender. Então acompanhámo-lo à mesma, de perto, e reservámos os seus dois primeiros poldros, porque era um cavalo que nos seduziu pela elasticidade, a relação entre a força e a suavidade, que é fora do normal", explicou à EQUITAÇÃO a cavaleira que considera que Índigo partilha as características do pai, o que lhe dá "uma grande vontade de o trabalhar e de o poder montar". Para o criador, Luís Bastos, a vitória de Índigo, foi também vivida com grande intensidade, "como se fosse meu, é fabuloso! Vendi-o com um ano e fico ainda mais contente por já ter outro proprietário, que é sinal que deixa outra pessoa muito feliz. É um animal do meu ferro que está muito bem entregue, pois a Patricia Pellen é uma excelente cavaleira e acho que ele vai ser um cavalo brilhante e vai dar muito que falar". Luís Bastos, que trouxe de sua casa outros sete animais, conseguiu ainda cinco medalhas de ouro e quatro primeiros lugares neste Concurso de Modelo e Andamentos, o que lhe deu o prémio de Melhor Criador
deste Festival. "Para mim é o expoente máximo, ter este prémio. Não trouxe muitos animais, não estava a contar com isso, mas são todos excelentes e foi muito bom. A selecção que fiz foi pela idade, só deixei dois poldros em casa, que ainda eram muito novos para isto. Na minha opinião, o que os une é a expressão, até na descendência de garanhão, nós olhamos para os animais e vemos o Escorial. As éguas também são muito parecidas, com uma linha vincadamente Veiga, muito expressivas e com andamentos fora do comum", afirmou. Já Vistosa, a vencedora do título de Campeã Fêmea, é descrita pelo dono, Mário Franco, como "uma égua de grande qualidade, muito bem pontuada, uma excelente mãe, pois ainda hoje tivemos aqui uma filha dela reconhecida como reprodutora recomendada. É uma égua em que apostei porque acho que tem uma excelente conformação, tem excelentes andamentos e vir aqui foi manter a tradição de trazer um animal ao Modelo e Andamentos e marcar presença da melhor maneira". Este é o 2.º título de
Campeã Fêmea desta égua de 13 anos, que desta vez veio da Coudelaria Leonardo Franco acompanhada pelo cavalo de 4 anos Grão das Figueiras, ferro Sociedade Quinta das Terras, que revela a nova aposta da Coudelaria Leonardo Franco neste tipo de provas morfológicas. "Queremos trazer animais montados para comprovar a funcionalidade. O Grão das Figueiras foi um cavalo comprado há três meses, com pouco trabalho, mas que revela um grande potencial para desporto. Não é um animal de Modelo e Andamentos, mas aqui estando em casa era de trazer, para nos apresentarmos com um macho e uma fêmea. Trouxemos dois animais, levámos dois primeiros lugares, só posso estar muito satisfeito", disse Mário Franco. José Miguel Vinagre, da Companhia das Lezírias, foi considerado o Melhor Apresentador deste concurso. Este ano entendeu a Associação Portuguesa de Criadores do Cavalo Puro-Sangue Lusitano (APSL) homenagear uma das casas mais antigas de criação do cavalo Lusitano, a Coudelaria
Campeã Fêmea: Vistosa Criação Sociedade das Silveiras e propriedade da Coudelaria Leonardo Franco
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COUDeLaria LUiS BaStOS Coudelaria Luís Bastos | Quinta Casal das Faias | Porto de Muge | 2070-503 Muge Tel: 937566922 | info@coudelarialuisbastos.com | www.coudelarialuisbastos.com 1
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5 1 ) JURDÂNEA | 1 ANO | OURO | 1.º FIPSL 2015 ÉGUA DE OURO DA EXPOÉGUA 2015 2 ) JACKPOT | 1 ANO | OURO | 1.º FIPSL 2015 E EXPOÉGUA 2015 3 ) INDÍA | 2 ANOS | OURO | 1.º NA EXPOÉGUA 2015 4 ) IRÍS | 2 ANOS | OURO | 1.º NO FIPSL 2015 5 ) INDIGO | 2 ANOS | OURO | CAMPEÃO DE CAMPEÕES FIPSL 2015
RUA DA MOURARIA, 25 | 7300-142 PORTALEGRE | TELEFONE: 914764874 COUDeLaria Campeà DO FipSL 2015
4 anos, Grão das Figueiras (Único e Pagica), criação da Sociedade Quinta das Terras e propriedade Coud. Leonardo Franco
1 ano Jackpot (Escorial x Arpa) ferro Coudelaria Luís Bastos
3 anos Hércules d'Atela (Soberano x Vaqueija d'Atela) Criador Francisco Bessa de Carvalho
Ministra da Agricultura e do Mar, Assunção Cristas, marcou presença neste evento
Manuel Tavares Veiga, com quase dois séculos de história, pelo seu contributo para o desenvolvimento da raça quer nacional como internacionalmente. O presidente da APSL, Manuel Paim, explica que é "a favor que se homenageiem figuras que possam estar entre nós ou assuntos actuais. A Coudelaria Veiga foi sugerida por um membro da direcção e foi aceite imediatamente pelos restantes. Esta coudelaria é um marco da criação do Cavalo Lusitano, é seu expoente máximo, não há criador que não tenha sangue Veiga na sua coudelaria e achamos que isso é razão mais do que suficiente para esta homenagem, pelo que foi com muito agrado e satisfação que o fizemos". 8
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Harpa d'Atela (Soberano x Zincada), de Francisco Bessa de Carvalho, foi vencedora com medalha de prata na classe de 3 anos
Grupo de Três Éguas Afilhadas, Alfama, Alfarroba e Cafeina, criação da Dra. Michaela Kleba e propriedade da Coudelaria Vila Viçosa
A Coudelaria Veiga apresentou-se em pista a cavalo, com onze animais trazidos da Quinta da Brôa, montados por diversos membros da família. O criador, Manuel Veiga, afirmou que "todos montamos, e resolvemos vir a cavalo porque é uma coisa natural que fazemos lá em casa. Agradeço imenso a atenção que tiveram connosco, pois reconhecem que a minha família ao longo destes anos tem tido um papel importantíssimo na raça lusitana, que eu procuro continuar e transmitir aos meus filhos essa continuidade. Estou muito satisfeito, porque sem família nada se consegue na vida". Apesar da longa história da coudelaria, iniciada por Rafael José da Cunha, “não Homenagem à Coudelaria Veiga
5 anos ou mais Dólar do Penedo (Xis x Xaquira) Coud. Resina Antunes
1 ano Jurdânea (Escorial x Quénia do Top) Coud. Luís Bastos
2 anos Íris (Escorial x Bemparecida) Coud. Luís Bastos
FEIRAS E EVENTOS
parámos no tempo, somos pessoas actualizadas e temos procurado acompanhar os tempos, não indo muito em modas, criando os cavalos que nós gostamos. Hoje em dia tenho um filho concursista, já entra em provas internacionais, monta bem e os cavalos acompanham e isso dá-me uma grande satisfação". 2015 é também o ano em que se comemoram quatro décadas sobre a fundação da Associação Brasileira de Criadores do Cavalo Puro Sangue Lusitano (ABPSL), uma data que o seu actual presidente, Ismael Silva, não quis deixar de assinalar, em conjunto com os anteriores presidentes Orfeu Ávila e José Francisco Brito Eusébio, com uma homenagem a diversas figuras de relevo para a raça: Manuel Paim, Diogo Lima Mayer, Manuel Campilho, Luís Vinhas, Vasco Freire, João Ralão Duarte e ainda Pedro Ferraz da Costa, que agradeceu em nome de todos esta menção da ABPSL, recordando também Espectáculo do CELG
Carrossel de Eq. de Trabalho
o trabalho realizado pelo saudoso criador Arsénio Raposo Cordeiro. À EQUITAÇÃO, Ferraz da Costa falou sobre a importância da criação da associação brasileira para os portugueses, "numa altura muito difícil aqui em Portugal, onde depois das ocupações de terras havia muitas coudelarias quase a desaparecer, e o facto de os brasileiros terem feito muitas compras de cavalos em Portugal foi muito importante para a continuidade da raça Lusitana. Eles tiveram um papel decisivo nessa altura e acho que nós lhes devemos estar sempre gratos por isso". Agora com cerca de 12 mil Lusitanos inscritos no Brasil, com uma média de 2 mil a 2500 novas inscrições a cada ano, a ABPSL tem uma aposta forte na divulgação da raça, em especial através de resultados desportivos, tendo já conseguido medalhas importantes no Ensino nos Jogos Pan-Americanos. Ismael Silva releva que reTroféu José Manuel de Mello
Pedro Torres e Miguel Ralão
Éguas Montadas: Geada do MT (Assírio d'Atela x Urtiga) ferro Coudelaria Monte da Tramagueira e propriedade de Angelique Hofman Borba Equitação de Trabalho Vasco Mira Godinho, Bruno Pica e Eduardo Almeida
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FEIRAS E EVENTOS
centemente, no evento que foi a 2.ª qualificativa para os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, estiveram presentes "76 conjuntos no Ensino, mais de 300 inscrições na parte morfológica, fizemos uma festa com mais de 4 mil pessoas envolvidas... Acho que o que está a acontecer no Brasil vai reflectir, com muita sabedoria, a criação portuguesa, porque aqui é o berço da Raça, foi aqui que tudo começou e temos cá genéticas que nos interessam muito e sempre que há novos criadores, todos querem vir a Portugal". Já o presidente da direcção da APSL, Manuel Paim, confirma esta aproximação entre os países, salientando que actualmente "tem havido um estreitamento de relações entre as direcções da APSL e da ABPSL e estamos agora em «velocidade de cruzeiro», com tudo a correr dentro da normalidade". Como local de reconhecimento do mérito do Cavalo Lusitano que o Festival é, no último dia do evento não faltou a tradicional apresentação e entrega de diplomas aos animais que se destacaram ao longo de 2014 nas disciplinas de Equitação de Trabalho, Ensino, Atrelagem, Saltos de Obstáculos e TREC. Nos prémios especiais, para os melhores cavalos de Toureio de 2014, foram vencedores em Debutantes Átila, criação da Quinta da Encosta, montado por Luís Rouxinol, e em Consagrados Amoroso, ferro José Teixeira da Silva, montado por Joaquim Bastinhas, que brindou o público presente com uma pequena demonstração das qualidades do seu cavalo. Quanto à distinção para o melhor cavalo de Atrelagem, o Troféu José Manuel de Mello 2014 foi entregue a Bailador (Quixote x Nevada), um cavalo do ferro da Sociedade Quinta das Terras e propriedade do Agro-Turismo de Manuel Cidade Moura. Em 2014, com apenas 6 anos, que é a idade mínima, Bailador foi conduzido 10
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por António Valente no Campeonato do Mundo de Atrelagem a 1 cavalo em Izsak na Hungria e alcançou uma das melhores marcas lusas de sempre na prova de maratona, na qual obteve um 4.º lugar entre mais de setenta participantes. PROVAS DESPORTIVAS O Ensino foi a disciplina que reuniu maior número de participantes, 17, com Duarte Nogueira a conseguir a vitória em três níveis, com os cavalos da Coudelaria de Alter: Coronel ganhou a S. Georges, Douro a Complementar e Guhapo a Pre-
liminar. Já André Costa venceu a Elementar com Farol e Manuel da Costa Alves foi o melhor na Média, com Famoso II. Na Equitação de Trabalho decorreram as provas a contar para a IV jornada do Campeonato Nacional, em três escalões, com Bruno Magalhães Pinto a ganhar em Juniores com Aole, seguido de André Lúcio e Zorba em 2.º e de Nuno Tanganho Neves/Xgaudi das Lezírias em 3.º. Já nas outras duas classes foi Vasco Mira Godinho quem dominou, primeiro com Diospira em Consagrados - onde foi secundado por Miguel Fonseca/
Amoroso, Melhor Cavalo de Toureio de 2014 (Consagrados), ferro José Teixeira da Silva, montado por Joaquim Bastinhas
Damscarey em 2.º e Eduardo Almeida/Vitorino em 3.º - e depois com Trigo, em Masters, onde o 2.º lugar ficou para Bruno Pica da Conceição/Trinco e o 3.º para Eduardo Almeida/ Santo. Já na Equitação à Portuguesa, venceu Fábio Ventura/Califa no nível A e Ricardo Moura Tavares/Fado no nível B. Para abrilhantar o fim-de-semana, não faltaram os diferentes espectáculos como os Cabrestos da Companhia das Lezírias, um Pas-de-Quatre de Dressage e Equitação de Trabalho, o Centro Equestre da Lezíria Grande, o Carrossel do CMEFED (Mafra), o Carrossel de Equitação de Trabalho e ainda demonstrações de Falcoaria. No final, o presidente da APSL entendeu que o Festival "correu bem", ainda que com menos cavalos a concurso, pois apesar disso foram mais as coudelarias a apresentar os seus animais. "Voltámos a ver bastantes coudelarias que há vários anos que não participavam, houve uma ou duas que normalmente apareciam com um número elevado de animais, que este ano não participaram, mas o saldo é positivo. Ficámos satisfeitos, o público apareceu, as bancadas estavam cheias e talvez este tenha sido o ano em que tenha estado mais gente" afirma o dirigente que considera que "a qualidade dos animais se tem mantido, o Cavalo Lusitano está em constante evolução e viu-se na decisão dos Campeões a grande qualidade, até mesmo na divisão de opiniões que houve nos juízes. Parece-me que estamos no bom caminho, as pessoas estão satisfeitas, em termos comerciais isto está a ressurgir, havia uma grande percentagem de estrangeiros nas bancadas há contactos e há negócios, o que tem o seu interesse!".n Cátia Mogo/Fotos: Lusitano World (Media Partner Oficial FIPSL 2015) Rita Fernandes/Alia Anor
FEIRAS E EVENTOS
JURDÂNEA CONQUISTA TÍTULO MÁXIMO NA EXPOÉGUA A GOLEGÃ RECEBEU MAIS UMA EDIÇÃO DA EXPOÉGUA ENTRE 28 E 31 DE MAIO, COM OS EVENTOS A DECORREREM NO LARGO DO ARNEIRO MAS TAMBÉM NO CENTRO DE ALTO RENDIMENTO DA CAPITAL DO CAVALO. a 17.ª edição da Expoégua a Golegã foi mais uma vez o ponto de encontro de criadores, que marcaram presença neste certame para apresentar os seus animais no Concurso de Modelo e Andamentos, um dos pontos altos da feira. O Presidente da Câmara da Golegã e da Feira Nacional do Cavalo, fez um balanço positivo de mais uma edição da Expoégua que "em termos de inscrição de animais foi um dos melhores anos de sempre. Isto permite-nos ir melhorando de edição para edição, fazendo com que a Expoégua possa continuar a ser um sucesso nos próximos anos", adiantou Rui Medinas. No concurso de Modelo e Andamentos, para além das éguas, foram também apresen-
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"Égua de Ouro": Jurdânea; poldra de ano propriedade de Luís Bastos
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A consagração do criador Luís Bastos com mais um troféu máximo do Modelo e Andamentos tados poldros de um e dois anos. No total foram entregues nove medalhas de ouro a animais de raça lusitana. Na luta pelo troféu "Égua de Ouro" estiveram Jurdânea, pol-
dra de um ano, e India, poldra de dois anos, ambas de criação e propriedade de Luís Bastos, e a égua afilhada Gazela Plus, criação e propriedade da Dressage Plus - Desporto Equestre. A vencedora foi Jurdânea, por Escorial e Quénia do Top, com Luís Bastos a afirmar: "Não sei o que é que vai acontecer à poldra, porque tem um ano, mas o caminho de todos os meus animais é o Ensino." Jurdânea foi um dos quatro animais que Luís Bastos levou à Expoégua, todos filhos de Escorial e todos premiados com medalhas de ouro. Na classe de poldras de três anos a vencedora foi Hurzula, criação e propriedade de Dias Ferreira Agro Pecuária, Lda, enquanto Geada do MT, criação de José Filipe Guerreiro dos Santos e propriedade de Angelique Hofman Borba ganhou na classe de éguas montadas
de quatro anos ou mais. Nos poldros de um ano ficou em 1.º Jackpot, criação e propriedade de Luís Bastos, enquanto nos poldros de dois anos o vencedor foi Iluminati, criação e propriedade da Coudelaria Abbatiale. Já o "Troféu de Ouro" da Associação Portuguesa de Criadores de Raças Selectas foi entregue a Hybaloua Parisol, uma poldra Português de Desporto de três anos da Coudelaria Parisol. Nas Raças Selectas foram vencedores de classes Jazzy Lady F, poldra de um ano Português de Desporto da criação da Casa Agrícola Victor Frias e propriedade de Transfialense, S.A; Inconcad'Ora Parisol, poldra de dois anos Português de Desporto, criação e propriedade da Coudelaria Parisol; Iduca F, poldra de dois anos Cruzado Português, criação da Casa Agrícola Victor
India, poldra de dois anos, criação e propriedade de Luís Bastos
Frias e propriedade de Transfialense, S.A; Horta do Loyal, poldra de três anos Cruzado Português, também de criação da Casa Agrícola Victor Frias e propriedade de Transfialense, S.A; Atena, égua afilhada Português Desporto, criação de Amadeu Matos Silva e propriedade de Transfialense S.A; Garlie Ige, da classe de éguas montadas de quatro anos ou mais Português Desporto, criação e propriedade de International Gosto Equino; Ezia, da classe de éguas montadas de quatro anos ou mais Cruzado Português, criação de Ortigão Costa e propriedade de Fonte do Pinheiro. Nos machos foram apresentados animais na classe de poldros de dois anos Português Desporto, que teve como vencedor Icorland, criação da Coudelaria Parisol e propriedade de Patrigold. Esta edição da Expoégua destacou-se ainda pela vertente desportiva, integrando também
este ano um Campeonato Regional do Centro de Ensino. Tem havido uma aposta cada vez maior na realização de provas desportivas porque "traz mais pessoas, mais atletas e essa é uma ambição, pois embora seja um certame destinado aos criadores, do ponto de vista da Câmara interessa-nos atrair novos públicos", explicou Rui Medinas. Para além das provas de Ensino, o Largo do Arneiro recebeu
a 2.ª jornada do Campeonato Nacional de Equitação de Trabalho. Já o Centro de Alto Rendimento foi palco das provas de Horseball (3.º SF Horseball Tour 2015), Derby de Atrelagem do Campeonato Regional do Centro e da 4.ª jornada do Campeonato Nacional de Corridas de Trote e Galope. No âmbito da Expoégua a capital do cavalo acolheu várias exposições de pintura e espectáculos musicais, mostrando também uma aposta da organização na vertente cultural do certame.n Carla Laureano
Poldros de ano ficou em 1.º Jackpot, criação e propriedade de Luís Bastos
Va l e d e Vaz 3350- 110 Vila No va d e Poi are s Te l. : 2 39 423 882 Tl m 96 200 10 01 Email: geral@hippusb.pt Website: www.hippusb.pt l
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FEIRAS E EVENTOS
FEIRA NACIONAL DA AGRICULTURA A CRESCER A 52.ª FEIRA NACIONAL DE AGRICULTURA/62.ª FEIRA DO RIBATEJO TEVE A MAIOR ÁREA DE EXPOSIÇÃO DE SEMPRE, COM MAIS DE 700 EXPOSITORES PRESENTES, AFIRMANDO-SE, UMA VEZ MAIS, COMO A GRANDE MONTRA DO SECTOR AGRÍCOLA EM PORTUGAL. ste ano dedicado ao tema "Floresta Portuguesa", o certame esteve no centro do calendário político, com diversas individualidades a marcar presença, como o caso do Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, o Vice-Primeiro Ministro, Paulo Portas, a Ministra da Agricultura e do Mar, Assunção Cristas, o Ministro da Economia, Pires de Lima ou o Ministro do Ambiente e do Ordenamento do Território, Jorge Moreira da Silva. Na parte equestre o destaque vai para o Concurso de Coudelarias, ganho pela Companhia das Lezírias, com Vistosa (ferro Soc. das Silveiras e pro-
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priedade da Casa Agrícola Leonardo Franco) a ganhar o Concurso da Égua Afilhada e Luzio (ferro e propriedade da Casa Agrícola Leonardo Franco) a vencer a categoria de Poldro Mamão. Destaque também para os Cavalos do Sorraia, cedidos pela Coudelaria Nacional/Companhia das Lezírias à Escola Superior Agrária de Santarém, que estiveram presentes em diversos eventos desta FNA, nomeadamente numa demonstração de Hipoterapia e Equitação Terapêutica, o Circuito de Ensino do Ribatejo, o Troféu Dressage Póneis e também no Concurso de Modelo e Andamentos desta Raça.n Cátia Mogo
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Foto: Nuno Pragana
Foto: Verónica Marques
SALTOS DE OBSTÁCULOS
Luís Sabino Gonçalves
CSIO 2015: E VÃO TRÊS PARA LUÍS SABINO! EM QUATRO ANOS, LUÍS SABINO GONÇALVES VENCEU PELA TERCEIRA VEZ O GRANDE PRÉMIO DO CSIO DE LISBOA. DEPOIS DE IMPÉRIO EGÍPCIO MILTON, EM 2015 FOI UCHINGO IMPÉRIO EGÍPCIO QUE O LEVOU À VITÓRIA! elo segundo ano consecutivo, Luís Sabino Gonçalves fez levantar as bancadas do Hipódromo do Campo Grande e entoar em uníssono "A Portuguesa" ao vencer o Grande Prémio do internacional de Lisboa. Se em 2012 a primeira vitória foi inesquecível, 2014 ficou na memória do cavaleiro por a ter repetido com Milton. A terceira, com Uchingo, voltou a ter um sabor especial. "Foi ma-
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ravilhoso!" afirmou o cavaleiro, que confessou à EQUITAÇÃO, que das três vezes "nunca acreditei que fosse possível ganhar! Desta vez pensei que o cavalo ainda não estava preparado, e fiquei muito feliz! Ganhar é sempre bom, mas fico ainda mais satisfeito quando os cavalos saltam bem e consigo cumprir o programado. E sentir que o púbico está comigo, dá-me um grande conforto." O CSIO de Lisboa teve desenhos de pista de Guilherme Jorge -
course designer brasileiro que vai assinar os percursos dos Jogos Olímpicos do Rio 2016 ele que preparou uma primeira mão em que o tempo se mostrou apertado para muitos dos 55 cavaleiros neste GP Audi. Embora não contasse com a vitória, Luís entrou com uma estratégia bem delineada. "Na primeira mão queria ir para o zero e não arriscar fazer 1 ponto. Estava difícil mas consegui". Passaram à segunda mão 14 cava-
leiros, sendo que apenas seis vinham sem faltas. Sabino foi o primeiro a fazer o duplo limpo, aliás, o primeiro e o único. "Quando vi o percurso reparei que havia umas linhas compridas. O meu cavalo tem muito sangue e quando 'abro' o galope ele aquece um pouco. O facto de ter feito a Taça das Nações conjugado com o calor, levou a que estivesse hoje mais calmo. Entrei mentalizado para galopar o máximo que conseguisse sem arriscar a falta, me-
Foto: Nuno Pragana
Equipa Portuguesa chefiada por Francisco Louro
Foto: Nuno Pragana
Equipa de Espanha vencedora da Taça das Nações
Foto: Verónica Marques
Mário Wilson Fernandes
Foto: Verónica Marques
Foto: Verónica Marques
Luís Ferreira
João Pedro Gomes
tendo pressão nos outros ao virar curto. O meu objectivo era fazer um tempo rápido, cuidando o zero e consegui. Os que se seguiram tentaram ir mais rápido e acabaram por tocar". Depois do português entraram outros três conjuntos. Com 4 pontos no somatório das duas mãos, os seguintes lugares da tabela classificativa foram ocupados pela família Hecart, com Michel e Quatrin de la Roque em 2.º e Adeline em Pasha du Gue no 3.º posto. À segunda mão passou também por Portugal, João Pedro Gomes com Âme Moi O Sandor, conjunto que finalizou na 13.º posição (12 pontos). Uma dúzia de cavaleiros portugueses entrou nesta prova que encerrou o CSIO de Lisboa e quatro dias de festa e competição. A 95.ª edição do evento decorreu na Sociedade Hípica Portuguesa (SHP), este ano entre os dias 28 e 31 de Maio, com a presença de concorrentes de 16 países, nove dos quais com equipas para a "Taça das Nações Furusiyya FEI presented by Baloubet du Rouet": Finlândia, Grã-Bretanha, Itália, Espanha, EUA, Portugal, Irlanda, França e Bélgica. Este é o terceiro ano consecutivo que Lisboa integra o calendário do circuito Furusiyya FEI, tendo lutado por pontos em Lisboa, Portugal e a Finlândia. E se as coisas para os finlandeses não correram como esperado, com o chefe de equipa Hervé Godignon a retirar a equipa na segunda mão, após a eliminação do segundo cavaleiro, Portugal, este ano com Mário Wilson Fernandes, João Pedro Gomes, Luís Ferreira e Luís Sabino Gonçalves, subiu quatro lugares na tabela classificativa da primeira para a segunda volta, sendo apenas por 1 ponto que não foi preciso um desempate. A Espanha vinha sem faltas da primeira mão e após três cavaleiros na segunda, somava 8 pontos, que levaram o chefe de equipa Luis F. Gil-Fournier
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Foto: Nuno Pragana
a não arriscar fazer entrar o último conjunto. A Espanha ganhava a Taça das Nações, com Portugal em 2.º lugar com 9 pontos. Em toda a prova, apenas Mário Wilson Fernandes/Abanderado MZ e o espanhol Gerardo Menendez Mieres/Cassino DC fizeram o duplo limpo. Quanto aos restantes concorrentes lusos, João Pedro Gomes (que envergou a casaca vermelha da selecção sénior pela segunda vez) cometeu uma falta na primeira mão e limpou na segunda com Electra S. Luís Ferreira (que debutou em Taças de Nações) somou 4 pontos no primeiro percurso e foi eliminado no segundo devido a duas desobediências de Quechua d'Emeraude no triplo. Já
António Matos Almeida
Foto: Nuno Pragana
e isso dá-nos uma enorme satisfação." A equipa espanhola foi composta por Alberto Marquez
Mário Prieto
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Ana Filipe
Foto: Nuno Pragana
Luís Sabino, começou por fazer 5 pontos (que não foram contabilizados, por ser retirado o pior resultado da equipa) e na segunda volta manteve-se longe das varas, somando 1 ponto por excesso de tempo. No final, Francisco Louro, seleccionador e chefe de equipa, estava "muito orgulhoso". Embora a equipa tenha repetido o 2.º lugar do ano passado, "este ano soube melhor e por vários motivos: por um lado porque subimos do 6.º para o 2.º posto, e por outro, porque foi mais um ano em que lançámos dois jovens na equipa, com pouca experiência em Taças de Nações,
Galobardes/Belcanto Z, Gerardo Menendez Mieres/Cassino DC, Laura Roquet Puignero/Quilate del Duero e Ivan Serrano Saenz/Condor, a quem Luis F. Gil-Fournier não poupou elogios na conferência de imprensa, relembrando que se tratam de cavaleiros jovens com montadas pouco experientes, mas que provaram em Lisboa "ter vontade e nível para participar em concursos de dificuldade ainda mais elevada". Sobre esta vitória, o chefe de equipa afirmou que se tratou de um "acontecimento a não esquecer!" Em 3.º lugar, com 14 pontos, ficou a França, composta por Geoffroy de Coligny/Qaid Louviere, Titouan Schumacher/Paradis Latin, Maelle Martin/Giovanni de la
Pomme e Adeline Hecart/Pasha du Gue, com Thierry Pomel como chefe de equipa. Apenas a Itália não passou à segunda mão. Com várias provas pontuáveis para o ranking FEI (e mesmo qualificáveis para o Europeu de Aachen e Jogos Olímpicos do Rio 2016), os cavaleiros portugueses fizeram tocar o Hino Nacional por seis vezes ao longo do concurso de 3*. António Matos Almeida com Tidelio Des Nauves bisou a 1,40m, Mário Wilson Fernandes e Zurito destacou-se na grande de 1.50m do primeiro dia e Mário Prieto às rédeas de Quintus de Mazin venceu a classe de 1,35m de sábado. Luís Sabino Gonçalves, com Osiris Kerbouarh, venceu também a Prova Revista Equitação, de 1,40m, na última jornada, horas antes do GP. No final do CSIO de Lisboa foram entregues o "Prémio Sabino Saddle-Pro/Melhor Cavaleiro" a Anthony Condon (IRL), "Prémio SHP/Melhor Cavaleiro Português" a Mário Wilson Fernandes, "Prémio Âme-Moi/Melhor Amazona" a Clementina Grossi (ITA) e o "Prémio Intacol/Melhor cavalo nascido em Portugal" a Zurito (montado por Mário Wilson Fernandes). Este foi o primeiro CSIO da nova direção da SHP, eleita dois meses antes, e para o Presidente, José Manuel Figueiredo "o balanço é fabuloso. Os objectivos traçados foram ultrapassados e reuniram-se as condições para que este evento fosse um sucesso. O Clube está de parabéns!".n
Harriet Nuttal
EQUITAÇÃO TV Assista à 2.ª mão da Taça das Nações na íntegra com comentários de António Frutuoso de Melo, para tal basta aceder a www.equitacaotv.pt/eventos
SALTOS DE OBSTÁCULOS
CSI2* DE ALFEIZERÃO MÁRIO WILSON FERNANDES ARRASA NO CEIA POUCOS DIAS DEPOIS DOS BONS RESULTADOS ALCANÇADOS NO CSIO DE LISBOA, MÁRIO WILSON RUMOU A ALFEIZERÃO ONDE FECHOU O CSI2* COM A VITÓRIA NO GRANDE PRÉMIO, ÀS RÉDEAS DE DAKAR VL. erca de 30 conjuntos alinharam para a prova rainha do concurso internacional, realizado no Centro Equestre Internacional de Alfeizerão (CEIA). Disputada na pista exterior, a duas mãos, a 1.45m, uma dúzia concluiu a primeira sem penalizações, passando à fase seguinte. Com os 12 em pé de igualdade, a segunda mão prometia emoção, pois todos eles teriam de galopar forte e assegurar o zero para que ficasse decidida a classificação final. Apenas três viriam a conseguir repetir o percurso sem faltas, com Mário Wilson Fernandes a fazê-lo no melhor tempo, de 44.12 segundos, com Dakar VL, de apenas 7 anos, propriedade de Peter Ernest Matthes, que esteve em Alfeizerão a assistir às provas. "Foi fantástico! Sendo o cavalo tão novo, não esperava ganhar com ele um Grande Prémio de 2*!" afirmou à EQUITAÇÃO Mário Wilson Fernandes. "Na primeira mão saltou bem, embora se tenha mostrado surpreendido com as alturas, pois é um cavalo que normalmente salta 1,35m. Na segunda mão senti-o mais con-
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Mário Wilson Fernandes venceu com Dakar VL o Grande Prémio do CSI2* fiante. A minha estratégia era ir o mais rápido possível, dentro dos limites dele e experiência. Tentei a minha sorte, os outros arriscaram e tocaram!" Mário foi o 7.º a entrar, batendo os zeros já existentes até ao momento de Francisco Fleming/Zillions Fidalgos e Carolina Aresu Gracia Obregon/Ocento du Lerchenberg (ESP), que viriam a ficar respectivamente em 2.º e 3.º lugar. Depois dele, seguiramse outros cinco conjuntos, com as faltas a aparecerem. Mário Wilson Fernandes optou por levar ao CEIA cavalos mais Francisco Fleming com Zillions Fidalgos novos e elogiou a organização foi 2.º classificado na prova maior do concurso. "Gostei muito da forma como encontrei a pista principal, fizeram um óptimo trabalho. Estão de parabéns". A qualidade do piso foi enaltecida
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Pela Espanha, Carolina Obregon ocupou o 3.º lugar do Grande Prémio com Ocento du Lerchenberg
mana em que se realizaram diversos eventos desportivos em simultâneo, o que influenciou o número de inscritos. Embora não tenham recebido "o número de concorrentes que esperávamos", Rogério Nunes, do CEIA, afirmou-se "satisfeito pelas críticas recebidas por parte de cavaleiros e juízes", em particular pelos comentários relativos "à qualidade do piso, que ficou top!" Estiveram em Alfeizerão 95 conjuntos, com concorrentes de Portugal, Brasil, Espanha e Hong Kong. O calendário do CEIA encontra-se preenchido ao longo da época, com provas de Saltos de Obstáculos, mas também de Dressage e Horseball.n Ana Filipe Fotos: Ana Margarida Vicente
por diversos cavaleiros ao longo do fim-de-semana, com a organização frequentemente a molhar e alisar o terreno, num fim-de-semana em que as temperaturas passaram os 30 graus. Quanto aos resultados das restantes provas, destaque para as vitórias de Ivo Carvalho/Corrabe na de Masters (sábado) e nas grandes de 1.40m, a cargo de Hugo Carvalho/Tsar d'Audouville (sexta-feira) e João Pedro Gomes (quinta-feira). Os desenhos de pista do CSI2* estiveram a cargo de Luís D'Orey que também preparou as provas nacionais (cavalos de 4 e 5 anos, 1m e 1.10m) que decorreram por estes dias. O concurso teve lugar de 4 a 7 de Junho, num fim-de-se-
Ivo Carvalho foi o vencedor da prova Masters
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CSI1* GOLEGÃ JOÃO PEDRO GOMES EM FOCO NA PROVA RAINHA O CENTRO DE ALTO RENDIMENTO DA GOLEGÃ RECEBEU, DE 19 A 21 DE JUNHO, O TERCEIRO CSI* DO ANO, ORGANIZADO PELA GREEN HORSE. JOÃO PEDRO GOMES DESTACOUSE AO CONQUISTAR OS DOIS PRIMEIROS LUGARES DO PÓDIO NO GRANDE PRÉMIO. a prova mais esperada deste CSI*, disputada em formato de Tabela A ao cronómetro com jumpoff, entraram 25 conjuntos, com dez a passarem ao desempate. João Pedro Gomes levou duas montadas para o GP e, já no jump-off, foi o primeiro a entrar em pista, montando Fonka, onde colocou o tempo a bater em 38,65''. Quanto regressou desta vez com Âme Moi O Sandor, o cavaleiro ocupava ainda o primeiro lugar na tabela provisória, mas conseguiu ser mais rápido, concluindo o percurso em 37,82''. Assim, João Pedro Gomes terminou o GP sem qualquer falta, assegurando o 1.º e 2.º lugar do pódio, com Âme Moi O Sandor e Fonka, respectivamente. Também com um duplo limpo mas com um tempo de 39,18'', António Matos Almeida terminou na 3.ª posição, com Nikel de Presle. Inicialmente programado para ser uma prova de Tabela A com duas mãos, a segunda ao cronómetro, o GP acabou por ser
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João Pedro Gomes destacou-se no Internacional disputado na Golegã disputado como Tabela A com jump-off. Minutos antes do início da prova os cavaleiros pediram que fosse feita esta alteração, uma vez que as altas temperaturas que se fizeram sentir no domingo exigiam um maior esAntónio Vozone forço por parte dos cavalos. O Lacy Woman pedido foi aceite pela presidente de júri Ana Jordão depois de uma votação unânime por parte dos cavaleiros neste GP. HUGO CARVALHO RIAG De 8 a 10 de Maio o Centro de Alto Rendimento recebeu outro CSI*, este que encerrou a Rota Internacional Alfeizerão-Golegã (RIAG) e que culminou com a vitória de Hugo Carvalho, ao levar para casa o prémio de melhor cavaleiro do GANHA
Hugo Carvalho venceu a RIAG e a prova Equitação do 3.º CSI 1* da Golegã circuito internacional, um conjunto de quatro provas entre as duas localidades. Já no que diz respeito ao circuito nacional, a vitória coube ao jovem Fran-
cisco Costa Lopes que montou Beethoven das Gaiola. No Grande Prémio do CSI* Golegã, que encerrou a rota, foi António Vozone que se des-
tacou, na sela de Lacy Woman, com Hugo Carvalho a ficar em 2.º e a amealhar com Tsar d’Audouville os pontos necessários para chegar ao prémio maior.
Fechou o pódio o júnior Bernardo Ladeira com Urania 54. Passaram pela RIAG cerca de 350 binómios.n Carla Laureano/Fotos: Silvano Lopes
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TAÇA DA JUVENTUDE DE COIMBRA
JOVENS MOSTRAM RAÇA ENTRE 5 E 7 DE JUNHO O CENTRO HÍPICO DA MATA DO CHOUPAL RECEBEU A JÁ TRADICIONAL TAÇA DA JUVENTUDE DE COIMBRA, COM FINAIS DISPUTADAS ATÉ AO ÚLTIMO SALTO. m Iniciados, as meninas dominaram, com três delas a concluírem as três classificativas sem faltas, o que obrigou a um desempate, com duas irmãs frente-a-frente na luta pela vitória. Acabou por ser Sofia Laranjeira a levar melhor sobre a concorrência ao fazer o percurso sem faltas no tempo mais rápido, com Laguna I. Também Ana Marta Abreu limpou ao comando de Upa-Upa Do Paço, ficando em 2.º lugar, com Carolina Laranjeira e Oitava no 3.º posto, fruto de 8 pontos. Igualmente em Juvenis foi necessário recorrer a uma barrage, neste caso por três conjuntos se encontrarem com 4 pontos. Vasco Martins Escudeiro, que fez a sua falta logo no primeiro dia, não voltou a tocar, e O2, no momento decisivo foi o mais rápido. Já João Maria Lopes Costa, que trazia 4 pontos da segunda classificativa, conseguiu também concluir o jump-off com Colina M sem derrubes, mas o tempo colocou-o no 2.º lugar do pódio, que foi completado por Maria Gonçalves Cirilo, que montou Vanimpa (12 pontos na barrage). A Taça da Juventude de Coimbra contou com 46 concorrentes, 22 dos quais no escalão de Ju-
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Em cima: pódio de Iniciados; baixo: Juvenis e à direita pódio de Juniores niores. Apenas neste nível o vencedor foi conhecido logo após o final da terceira classificativa, com Mário Monteiro e Apache do Rio a fecharem o concurso com a folha imaculada. Com 1 ponto (na 1.ª classificativa) ocupou o lugar da prata Luca Mota Sousa em Cinderella 597 e com 4 pontos (na 2.ª classificativa) fechou o pódio Catarina Ventura Magalhães no Dicaprio. Marina Frutuoso de Melo marcou presença no CSN-B
Em paralelo decorreu um CSN-B, em que os cavaleiros mais jovens se mostraram à altura do desafio, que o diga Margarida Pontes, cavaleira de Aveiro de apenas 18 anos que venceu o Grande Prémio às rédeas de Darling Du Poker. Sete conjuntos passaram ao desempate da prova maior, tendo cinco repetido o limpo, com o vencedor apurado pelo tempo.
Seguiu-se a Margarida na tabela classificativa final: Marina Frutuoso de Melo/Ceniki-W em 2.º, Tiago Carvalho Morais/Divogh Gandarinha em 3.º, Duarte Canavarro/Broadway Do Cabo em 4.º e Nuno Martins/Querouef De Blondel em 5.º. Entraram no Grande Prémio Cidade de Coimbra, de 1.35m, cerca de 30 conjuntos.n
Margarida Pontes venceu o Grande Prémio
Ana Filipe
Major Lauro Marinho e os irmãos Maria da Graça e Anthony Hart
FINAL DA TAÇA ACCE FESTA RIJA NA CEGARREGA! NEM O (BANHO DE) CHAMPANHE FALTOU NA CERIMÓNIA DE ENTREGA DE PRÉMIOS DA FINAL DA 3.ª EDIÇÃO DA TAÇA ACCE, EM QUE SUBIRAM AO POSTO MAIS ALTO DO PÓDIO O MAJOR LAURO MARINHO E OS IRMÃOS MARIA DA GRAÇA E ANTHONY LUPI HART. elo segundo ano consecutivo os Cegarrega Horse Trials receberam a Final da Taça, este ano com o evento a aumentar de duração (dois dias, 9 e 10 de Maio) e a decorrer em Fronteira (Dressage e Saltos de Obstáculos no Centro Hípico da localidade) e Sousel (Cross na Herdade da Cegarrega). A competição da Associação Portuguesa de Concurso Completo de Equitação (ACCE) contou
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nesta edição com quatro jornadas (arrancou em Novembro em Sousel, em Janeiro passou pela pista da Mata do Duque, em Março por Alter do Chão, regressando à Mata do Duque em Abril) antes desta final, à qual chegaram na liderança dos seus escalões os irmãos Lupi Hart. Maria da Graça ocupava com Toddy Two e Quinto os dois primeiros lugares de Juvenis, com Anthony em igual posição nos Juniores, com Ry-
lane Lady e Master Malibu. Após as provas e resultados do fim-de-semana, em que ela entrou no CNC Iniciação e ele no CNC1*, os irmãos conquistaram mais pontos e não deixaram escapar a Taça, sagrando-se vencedores pela primeira vez, subindo ao pódio lado a lado para deleite dos pais e irmãs presentes. "Estou muito orgulhosa" afirmou Maria da Graça Lupi Hart. "Foi bom para mim ganhar esta Taça, pois mo-
tivou-me para continuar e evoluir" acrescentou. Também Anthony não escondeu a alegria, "sintome satisfeito e acho que foi merecido porque trabalhei para este resultado". Anthony que está de partida para Inglaterra com Rylane Lady , para se preparar para o Europeu de Póneis, em Malmö (Suécia), que decorre em Agosto. Já em Seniores, era o Major Lauro Marinho quem liderava antes da Final e com um 4.º
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lugar no CNC1*, conseguiu também ele assegurar a Taça, um objectivo que tinha traçado no início da época, como o próprio explicou à EQUITAÇÃO, "a equipa de CCE da GNR seleccionou as provas que pertenciam às jornadas da Taça com vista a conseguir bons resultados nesta competição". Major Lauro Marinho montou Artur, que define como "um cavalo muito fácil e sempre do lado do cavaleiro". De todos os locais por onde passou esta época, o vencedor elegeu a Cegarrega como a etapa favorita, "especialmente este último pelo simbolismo que teve, associado ao Francisco Seabra". A 2.ª edição dos CNC Cegarrega Horse Trials contou com cerca de 60 conjuntos e provas de três escalões, com a atribuição, pela primeira vez, do Troféu Francisco Seabra, um prémio criado pela organização do concurso, que será continuado ao longo dos anos, com os nomes dos vencedores a serem gravados em chapas na base do troféu. O primeiro a constar nele foi o de Carlos Grave, vencedor do CNC1* com Bocage, cavaleiro próximo de Francisco, que "quando soube que havia este troféu, fiz tudo para ser o primeiro nome a aparecer nele. Estou feliz por o ter conseguido" afirmou emocionado. Carlos concluiu a prova com 36,4 pontos, fruto da nota do Ensino e uma falta nos Obstáculos (no último!). Em 2.º lugar ficou Anthony Lupi Hart/Master Malibu (38,5pts) e em 3.º o 2.º Sargento Luís Fortes/Xeique (44,4pts). Os prémios para a família Grave não se ficaram por aqui, com Joaquim a vencer o CNC Preliminar em Esmeralda (49,4pts), seguido na tabela classificativa por João Netto Bacatelo/Fernhill Casino (49,4pts) e Luís Quadrado Filipe/Camigo (55,6pts). No CNC Iniciação ganhou Madalena Viegas de Almeida com Wicklow Cassy N, com João Rodrigues/Flora
em 2.º e Eduardo Trindade/Calipso em 3.º. Nestas duas provas, devido à igualdade pontual, foi o tempo do Cross a ditar os vencedores. A organização dos Cegarrega Horse Trials está a cargo dos jovens Augusto Calça e Pina, Francisco Stilwell, João Duarte Silva, Luís Bissaia Barreto e Tomás Manzarra. Depois do sucesso da edição passada, Nuno Ravara, Presidente da ACCE, não só não hesitou em entregar a Final da Taça a esta organização, como não se arrependeu. "O balanço de toda a temporada da Taça é muito positivo, com os cavaleiros a aderirem ao longo da época às diversas jornadas de forma relevante. Quanto a este concurso, concretamente, é sem dúvida uma aposta ganha. Esta organização tem evo-
luído todos os anos, com os concursos a aumentarem de qualidade. Houve um investimento forte em adquirir novos saltos de cross, a pista e os pisos têm melhorado imenso e faz todo o sentido acabar a época aqui!" Ao longo do concurso foi de facto a qualidade da prova de campo que mais elogios recebeu por parte dos cavaleiros. Luís Bissaia Barreto faz "um balanço muito positivo. Somos hoje uma organização mais madura. Tivemos um número de concorrentes muito bom e vamos agora considerar os vários aspectos em que ainda podemos melhorar". Quanto ao futuro, não esconde "organizar um concurso internacional é o nosso próximo objectivo e as instalações do Centro Hípico de Fronteira vieram aproximar-nos dessa meta. Já faltou mais!". António Gomes,
Vereador da Câmara Municipal de Fronteira defende que com estas instalações, "temos de divulgar, criar condições e apoiar!" O evento contou também com apoio do Município de Sousel. Na noite de sábado decorreu um jantar convívio no Centro Hípico de Fronteira que reuniu mais de 200 pessoas, entre cavaleiros, equipas, familiares e amigos, e onde foram entregues os Troféus ACCE, uma iniciativa da Associação com o objectivo de distinguir individualidades que se destacaram na disciplina ao longo da época passada.n Ana Filipe/Fotos: Clouds & Stars
Joaquim Grave
Madalena Viegas de Almeida
Carlos Grave
ERRATA Na nossa última edição, obviamente por lapso, referimos que a Herdade da Barroca d’Alva se situava noutro local que não o Concelho de Alcochete. Aqui fica o reparo.
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RAIDES
CAMPEONATO NACIONAL LANTERNAS RECUPERA O TÍTULO DOIS ANOS DEPOIS, RUI LANTERNAS VOLTOU A CONQUISTAR A MEDALHA DE OURO NO CAMPEONATO NACIONAL DE RESISTÊNCIA EQUESTRE (CEI ATOLEIROS), NUMA COMPETIÇÃO DISPUTADA ATÉ À ÚLTIMA ETAPA. Campeonato de Raides realizou-se em Fronteira, de 1 a 3 de Maio, e teve a participação de 16 conjuntos e ainda do campeão e a vice-campeã de Juniores, a disputar simultaneamente o CEI3*. Foram 160km corridos em seis fases dentro do concelho, sendo a grande maioria do percurso por terra batida e parte pela antiga linha ferroviária, cujo troço foi recuperado e reutilizado para o efeito. De acordo com o vereador António Gomes, responsável pelo desenho dos percursos, "não tínhamos forma de fazer chegar o raide ao nosso centro hípico e precisávamos de fazer alguma coisa para divulgar este local. Então tirámos a linha do caminho de ferro e fizemos uma pista por onde passa a partida e a chegada ao centro hípico de Fronteira", uma intervenção elogiada pelo Presidente da FEP, Manuel Cidade Moura, que à EQUITAÇÃO afirmou ser algo "que muitos outros municípios poderiam fazer, porque as condições dessas plataformas de via estreita - que não têm qualquer utilidade - para fazer passeios pedestres, de bicicleta ou a cavalo são óptimas, visto que têm inclinações muito suaves e são pistas excelentes. Fronteira foi pioneira nisso e está de parabéns!". A competição decorreu no Centro Hípico de Fronteira ao longo de dois dias, mas foi no sábado que se disputou o Campeonato Nacional, um dos mais participados dos últimos anos. Dos 16 binómios, cinco iam claramente na disputa do título à penúltima fase, mas Ana Mar-
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Rui Lanternas voltou a conquistar o Campeonato Nacional de Resistência Equestre (CEI Atoleiros) garida Costa/Andorinha e José Pedro Filipe/Beleza dos Chaparros foram eliminados por claudicação, assim como outros dois conjuntos, deixando apenas três cavaleiros na luta pelo título. O primeiro a partir para a etapa final foi António Vaz Freire, com Zeus do Inquisidor, mas o Campeão Nacional de
2014 viu o seu cavalo perder o ritmo e acabou por se conformar com o 3.º posto, num raide feito em 9h54m19s, à velocidade média de 16,153km/h. "Apostei num cavalo mais jovem, com menos experiência e fizemos uma prova muito forte desde o início, com muito calor e paguei a factura agora no final, pois tive de «levantar o pé». Foi uma prova
Pódio do Campeonato Nacional com Rui Lanternas no 1.º lugar, António Vaz Freire no 2.º e Ricardo Relvas Batista no 3.º posto
muito competitiva, os cavalos que andaram na frente e os que terminaram têm muito valor, pois foi muito duro, foi um dia muito quente e muito abafado. Não deu para ganhar, mas não dá para ganhar todos os anos", disse o cavaleiro, que levou para casa a medalha de bronze. Em 2.º lugar e com a medalha de prata ficou Ricardo Relvas
Jaime Magarreiro em Zara da Tapada ganhou o CEI 2**
Iñigo del Solar Llansó com CG Zalameo 75 venceu o CEI1*
Batista, com Xélio, conjunto que terminou os 160km em 9h54m16s, à velocidade média de 16,154km/h. Para o cavaleiro, esta medalha "é muito importante, porque foram muitos meses de trabalho para este Campeonato. Não foi possível o 1.º lugar, ficámos com o 2.º, o que já é muito bom. Senti alguma dificuldade aos 120km, porque vios abalar e pensei que já não os conseguia apanhar, mas com muita calma lá consegui". Ganhou a prova e a sua segunda medalha de ouro em Campeonatos Nacionais o cavaleiro de Elvas Rui Lanternas, ele que terminou o raide com Alcantava em 9h26m21s, a uma média de 16,951km/h, e foi de forma emocionada que recebeu a aprovação na grelha veterinária, que lhe garantiu o título maior da resistência equestre em Portugal. Depois de no ano passado ter ficado impedido de revalidar o título de 2013 por lesão da égua que iria montar, o cavaleiro assume que "este ano queria mesmo vir e vim por tudo. Ao início tentei pôr o cavalo na frente, porque ele é muito nervoso na saída, então fui um pouco mais rápido do que os outros cavaleiros e fomos indo até que só saíram três cavalos. Um ficou para trás e eu
consegui vir à vitória". Para além do CEI3*, realizou-se também um CEI1* no mesmo dia, ganho por Iñigo del Solar Llansó/CG Zalameo 75, e um CEI 2** no dia seguinte, ganho por Jaime Magarreiro/Zara da Tapada, bem como várias provas nacionais ao longo do fim-de-semana, que ficou marcado pela estreia em pista da Atoleiros Endurance Team, um projecto de valorização dos cavalos árabes da Coudelaria Nacional, que tem o apoio do Município de Fronteira. Para Rogério Silva, Presidente da Câmara Municipal de Fronteira, a importância de receber o evento no município "é grande por isso temos persistido na sua realização. Durante estes dias há um grande esforço que é realizado pela CM de Fronteira, com diversos parceiros, mas também temos o retorno que resulta deste trabalho, em termos de participantes, equipas que os acompanham, que tem impactos directos na restauração e na hotelaria e é por isso que mantemos a realização desta prova pelo quarto ano consecutivo". O Campeonato Nacional realiza-se em Fronteira nos próximos dois anos.n Cátia Mogo
RAIDES
FESTIVAL DE ENDURANCE ANIMA PÓLO EQUESTRE DE RIO FRIO O PROJECTO NASCIDO EM 2008 ESTÁ A MATERIALIZAR-SE EM 2015 E ESTE FOI O SEGUNDO EVENTO HÍPICO DO ANO, NUMA COMPETIÇÃO INTERNACIONAL QUE CONTOU COM CERCA DE 50 BINÓMIOS ENTRE AS VÁRIAS PROVAS. uma herdade que ronda os 4 mil hectares, a prática dos raides assenta que nem uma luva no Pólo Equestre que agora se está a desenvolver. O Festival de Endurance de Primavera decorreu a 30 e 31 de Maio como parte das comemorações dos 500 anos do Foral de Alcochete, festividades que se prolongam durante 2015. Realizaram-se várias provas nacionais e internacionais, com o jovem João Maria Moura a destacar-se no CEI 3* de 160km, onde se classificaram quatro de seis conjuntos. O cavaleiro alentejano fez a prova em 9h10m02s, à velocidade média de 17,453km/h, na sela de Cereja. "O raide começou bem, começámos devagarinho, tentando manter a performance dos cavalos o melhor possível até ao fim da última etapa e penso que a égua chegou nas melhores condições ao final e conseguiu o 1.º lugar", disse após a prova à EQUITAÇÃO o cavaleiro que deixou os adversários para trás já na derradeira fase, em busca da vitória. Em 2.º lugar ficou João Moreira em C XL, com um tempo de 9h10m34s (17,437km/h), com Ana Margarida Costa/Zina a fechar o pódio de antigos campeões nacionais com um tempo de 9h13m31s (17,344km/h). Classificou-se ainda José Manuelito em Dinamarca. Já no CEI2* a vitória coube ao cavaleiro espanhol Iñigo del Solar Llansó em Cg Zalameo 75, conjunto que terminou o raide de 120km em 06h21m41s, à velocidade média de 18,864km/h. Numa chegada
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João Moura vencedor do CEI3*
João Moreira e Ana Margarida Costa foram 2.º e 3.º lugar no CEI3*, respectivamente
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atribulada, com direito a uma queda sem consequências após cortar a meta, ficou no 2.º posto Pedro Godinho, com Diva da Ameira (18,863km/h), com António Vaz Freire/Tibete em 3.º (18,861km/h). Nesta prova classificaram-se 11 dos 13 participantes. Quanto ao CEI1* foi Maria do Carmo Cruz quem mais rapidamente percorreu os 80km, montando Damasco do Alcaide, em 4h03m32s (19,710km/h), com Sofia Simões/Xiita da Tapada em 2.º e Jaime Magarreiro/XL da Tapada em 3.º, num raide em que os sete participantes se classificaram. Para as provas internacionais, foram ainda entregues os troféus Puro-Sangue Árabe, para os melhores cavalos árabes de cada competição, que foram, respectivamente, no CEI1*, CEI2* e CEI3*: XL da Tapada, Tibete e C XL, com esta última montada de ferro da Coudelaria de Vale Lameira a receber também o prémio de Melhor Condição Física. Decorreram ainda um CEN1*, um CEP 80km, um CEP40km e um CEPI 20km neste dia. Durante a cerimónia da entrega de prémios, que contou com a presença dos autarcas locais, foi ainda apresentado o picadeiro e as antigas cavalariças de Rio Frio, agora recuperado, que fazem parte do projecto de revitalização da Herdade, que se iniciou em 2008. "Nesse Iñigo del Solar Llansó ganhou o CEI2*
ano começámos a trabalhar com as Câmaras de Alcochete e de Palmela no estabelecimento de uma visão para o território e fomos introduzindo várias valências. Em 2011 consolidámos essa visão na componente equestre e do turismo equestre no sentido lato do termo, com parte de visitação, parte de lazer, treino, competições e o processo foi começando a ser formatado. Em 2013 idealizámos «Rio Frio 2015» que foi um conjunto de eventos, sendo este o 2.º evento deste ano, estamos a concretizar a visão de colocar Rio Frio no centro do mundo equestre, para potenciar não só a área metropolitana de Lisboa, mas todo o território nacional com um centro de lazer que tenha como foco principal a actividade equestre", explica o Presidente da Sociedade Agrícola de Rio Frio, José Augusto Ramos Rocha, que conta com Filipe Cacheirinha e com o TenenteCoronel Abel Matroca na parte equestre. Por agora, o presidente adianta que "já estamos a trabalhar no programa para 2016" e revela que a aposta está nas corridas de cavalos, que entende como "uma oportunidade importante para nós, uma vez que temos o projecto do hipódromo consolidado e estamos a montar essa operação em parceria com os municípios para termos corridas de cavalos em Rio Frio".n Cátia Mogo Fotos: Organização/Clouds & Stars
Maria do Carmo Cruz dominou o CEI1*
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CAVALO LUSITANO
A CONVITE DA REVISTA EQUITAÇÃO, NA PESSOA DO SEU EDITOR, EDUARDO CARVALHO, RESOLVEMOS ACEITAR O DESAFIO DE, NOS PRÓXIMOS NÚMEROS DA REVISTA, DIVULGAR ALGUNS DOS RESULTADOS DE UM EXTENSO E APROFUNDADO ESTUDO DE CARACTERIZAÇÃO E SELECÇÃO DO CAVALO PURO-SANGUE LUSITANO, CONTIDOS NO NOSSO TRABALHO DE DOUTORAMENTO INTITULADO “CHARACTERIZATION AND SELECTION OF THE LUSITANO HORSE BREED”. ESPERAMOS QUE GOSTEM!
António Vicente
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1,2,3
Nuno Carolino
2,3,4
Luís T. Gama
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1 Escola Superior Agrária do Instituto Politécnico de Santarém, Apartado 310, 2001-904 Santarém, Portugal; Unidade Estratégica de Investigação e Serviços de Biotecnologia e Recursos Genéticos, INIAV, IP 2005-048 Vale de Santarém, Portugal; 3 CIISA - Faculdade de Medicina Veterinária, Universidade de Lisboa, 1300-477 Lisboa, Portugal; 4 Escola Universitária Vasco da Gama, Estrada da Conraria, 3040-714 Coimbra, Portugal;
CARACTERIZAÇÃO DEMOGRÁFICA DO CAVALO LUSITANO (1ª PARTE) a primeira parte desta divulgação vamos centrar as nossas atenções na caracterização genética por análise demográfica do cavalo Lusitano. Para a gestão da diversidade de uma raça, que inclui a sua preservação e utilização futura de um modo sustentável, a caracterização demográfica é um aspecto essencial ao delineamento de uma estratégia correcta de utilização, conservação ou de melhoramento com sucesso (FAO, 2007). Segundo Gama (2002), qualquer programa de melhoramento genético deve iniciar-se pela caracterização do sistema de produção, incluindo o conhecimento aprofundado da estrutura demográfica de uma raça ou grupo populacional. A conservação ou utilização sustentável dos recursos genéticos pressupõe a manutenção de um número mínimo de animais, que garanta a sobrevivência de uma determinada raça e permita a sua reconstituição quando se julgue necessário. A par da manutenção de um número mínimo de ani-
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mais numa população, revelase também importante a manutenção da variabilidade genética dessa população, pelo que será fundamental ter em consideração outros critérios (tais como a consanguinidade, pelo estudo das genealogias, o intervalo de gerações, os ascendentes e fundadores, …), para além da dimensão do efectivo reprodutor, que permitam
definir e tirar partido da estrutura populacional em causa. A variabilidade genética de uma população pode ser estudada através da análise da informação genealógica, por intermédio da estimação de parâmetros genéticos de caracteres produtivos de interesse em produção animal ou através de diferentes tipos de marcadores genéticos.
Figura 1 – 1.º volume do “General Stud Book” do cavalo Puro-sangue Inglês publicado em 1791 pela editora inglesa Weatherbys. Adaptado de www.bloodhorse.com. Mais info: https://www.weatherbys.co.uk/stud-book/history
A análise demográfica permite-nos descrever a estrutura e a dinâmica de uma população, considerando-a um grupo de indivíduos em permanente alteração e tendo em conta o seu pool genético. Assim, a análise das genealogias é uma metodologia importante de caracterização das populações, já que descreve a variabilidade genética e a sua evolução ao longo das gerações. Para a caracterização demográfica de uma população equina, é necessário ter em conta determinados aspectos, tais como a consanguinidade da população em estudo e a forma como ela evolui, de modo a não comprometer a sua variabilidade genética futura. Entende-se por consanguinidade o acasalamento de indivíduos aparentados, isto é, indivíduos que têm entre si ascendentes comuns (Gama, 2002), sendo o coeficiente de consanguinidade de um indivíduo (Fi) a probabilidade de dois alelos no mesmo locus serem iguais por descendência, ou seja, serem cópias de um gene do mesmo ascendente comum. O coefi-
Figura 2 – Éguada Lusitana em pastagem ciente de consanguinidade pode também ser encarado como a proporção de loci de um indivíduo que, sendo heterozigóticos em indivíduos não consanguíneos, são homozigóticos num indivíduo consanguíneo (Gama, 2002). Em populações fechadas, como é o caso da do cavalo Lusitano, organizada com um Studbook fechado desde 1989, a consanguinidade tende necessariamente a aumentar, dado que mais cedo ou mais tarde os reprodutores têm ascendentes comuns. A consanguinidade de uma população pode ser encarada como o coeficiente médio de consanguinidade dos indivíduos que a constituem. Para além do conhecimento das genealogias e estudos da consanguinidade, é igualmente importante o estudo dos fundadores e ascendentes, nomeadamente analisando o grupo de animais ancestrais que mais contribuíram para a população actual. Sendo o intervalo de gerações a idade média dos pais quando nascem os filhos que os vão substituir (Gama, 2002), interessa também conhecer este parâmetro para um estudo de demografia. Pretende-se então, numa caracterização demográfica, de-
terminar alguns indicadores da variabilidade de grupos populacionais, estabelecidos com base na informação genealógica disponível e que possa ser compilada, bem como identificar a evolução dinâmica e activa da estrutura dos efectivos de determinada raça. Alguns parâmetros demográficos relevantes para uma caracterização são: dimensão dos efectivos; intervalo de gerações; grau de preenchimento das genealogias; número de gerações conhecidas; consanguinidade individual; grau de parentesco; acréscimo da consanguinidade por ano ( F/ano) e por geração ( F/geração); tamanho efectivo da população; contribuições genéticas de fundadores e ascendentes; número efectivo de fundadores; número efectivo de ascendentes; etc. Ainda que com uma escassa população global, existindo sensivelmente cerca de 5000 éguas reprodutoras registadas, o cavalo Lusitano é bastante conhecido e está bem representado em todo o mundo. Os maiores produtores são Portugal, Brasil, França, México e Espanha, se bem que existam vários criadores na Bélgica, Colômbia, Reino Unido, Alemanha, Holanda, Itália, Canadá e EUA, entre tantos outros. Em Portu-
gal, as éguas estão localizadas principalmente junto ao vale do rio Tejo - no Ribatejo e Alentejo, mas também mais ao norte do país e nos Açores. A criação do cavalo Lusitano sempre foi caracterizada pela existência de algumas famílias muito influentes (Veiga, Andrade, Alter Real e Coudelaria Nacional), bem como a dominância de algumas linhas de animais que se tornariam muito populares e difundidos. Por isso, têm existido ao longo dos anos bottlenecks (afunilamentos) que podem ter influenciado a diversidade genética desta raça, que devem ser identificados para evitar que, no futuro, uma maior perda de variabilidade genética possa ocorrer. No passado, vários problemas e constrangimentos ameaçaram a sobrevivência do cavalo Lusitano, em particular as guerras dos séculos XIX e XX, invasões estrangeiras, mecanização agrícola, revoluções políticas e cruzamentos não controlados com outras raças de cavalos, que podem ter levado a efeitos nefastos e que obviamente limitaram a base genética da população. Apesar da antiguidade da raça, o Studbook só foi instituído em 1967 com uma pequena base de animais. Por conseguinte, a população actualmente existente é derivada de um número muito pequeno de animais fundadores (Lopes et al., 2005). De um modo geral, os Livros Genealógicos de Equinos (Studbooks) apresentam mais informações e conhecimento genealógico que os livros genealógicos de outras espécies de animais domésticos, dada a grande importância que, historicamente, todos os criadores de cavalos sempre depositaram nas genealogias de seus animais, como no caso do cavalo Purosangue Inglês que oficializou o primeiro registo genealógico a nível mundial, em 1791, com a criação do “General Stud Book” (Figura 1) (Cunningham
CASCOS
ARTICULAÇÕES
MÚSCULOS
HIPPUS
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Va l e d e Vaz 3350- 110 Vila No va de Poi are s Te l. : 2 3 9 423 882 Tl m 96 200 10 01 Email: geral@hippusb.pt Website: www.hippusb.pt l
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CAVALO LUSITANO
et al., 2001). Regra geral, os equinos apresentam um amplo e aprofundado conhecimento genealógico, que pode chegar a mais de 15 gerações conhecidas (Zechner et al., 2002). Nos últimos anos tem havido grande ênfase no estudo da dinâmica de populações de animais domésticos, sua diversidade genética e evolução ao longo do tempo, através da caracterização demográfica de diferentes espécies pecuárias. Os equídeos não foram excepção e existem várias e extensas referências bibliográficas que caracterizam a demografia de diferentes raças de cavalos, como são o PRE (Valera et al., 2005), o Lipizzano (Zechner et al., 2002), o Puro-sangue Inglês (Cunningham et al., 2001), o Mangalarga Marchador (Costa et al., 2005), o Noriker na Áustria (Druml et al., 2009), o cavalo do Sorraia (Pinheiro et al., 2013), o Hanoveriano (Hamann e Distl, 2008), o cavalo Pinto na Alemanha (Siderits et al., 2013), o Puro-sangue Húngaro (Bokor et al., 2013), o cavalo holandês de atrelagem (Schurink et al., 2012); e os asininos, como o burro de Miranda (Quaresma et al., 2014) e o burro Catalão (Gutierrez et al., 2005). O objetivo deste estudo foi analisar a estrutura genética do cavalo Lusitano, baseada em genealogias, e as respectivas tendências do passado e presente na raça, com a identificação de factores que possam ter afectado a diversidade genética, fornecendo uma base para a sua utilização e melhoramento sustentável no futuro. MATERIAIS E MÉTODOS O cavalo Lusitano tem uma longa e rica história, com informações genealógicas muito completas, disponíveis a partir do início do século XIX, o que nos fornece um enorme manancial de dados com interesse para o estudo e caracterização desta população. O sistema de produção desta raça é baseado, na sua generalidade, em éguadas explo34
REVISTA EQUITAÇÃO
Figura 3 - Número de poldros, éguas e garanhões inscritos no livro genealógico da raça Lusitana por ano e respectivo número de coudelarias produtoras radas em condições de pastoreio semi-extensivo (Figura 2). O acasalamento ocorre principalmente por monta natural, onde os garanhões são colocados em liberdade com as éguas ou realizando reprodução controlada, à mão. Até 1997, a inseminação artificial não era permitida segundo as normas do Studbook, mas desde essa altura, com a sua autorização, tem sido cada vez mais utilizada. Oficialmente, o studbook do cavalo Lusitano foi criado em 1967, no entanto os registros genealógicos têm sido mantidos desde meados do século XIX por criadores privados e pelos Serviços Coudélicos (Alter Real e Coudelaria Nacional). Até 1989, o studbook permaneceu aberto ao registo, a título inicial, de novos animais, mas desde então foi “fechado”, permitindo apenas a entrada de animais descendentes de cavalos
previamente inscritos. Até 1992, os registos genealógicos dos animais a inscrever baseavam-se nas declarações de cobrição e nascimento fornecidas pelos criadores, mas desde então foi estabelecido o controlo oficial de filiação/paternidades, inicialmente com recurso ao hemótipo (grupos sanguíneos) e, desde 1998, por determinação do genótipo, com o uso de marcadores moleculares (microssatélites) pelo Laboratório de Genética Molecular de Alter do Chão. Para este estudo, foi utilizada a base de dados do Registo Nacional de Equinos (RNE), (fonte fundamental para este trabalho instituída pelo, infelizmente extinto, Serviço Nacional Coudélico) fornecidos pela, também extinta, Fundação Alter Real (FAR) (actualmente tutelado pela Direcção Geral de Alimentação e Veterinária - DGAV) e
Figura 4 – Percentagem de machos aprovados e reprovados ao Livro de Adultos
complementados com informações fornecidas pela Associação Portuguesa de Criadores do Cavalo Puro-sangue Lusitano (APSL). Depois de filtrados e validados os dados, compilou-se um ficheiro com 53411 genealogias de animais nascidos entre 1824 e 2009. As análises demográficas foram realizadas utilizando um software desenvolvido especificamente para o efeito (Carolino e Gama, 2008) ou com recurso ao software Endog v4.8 (Gutierrez e Goyache, 2005) ou SAS (SAS Institute, 2004). RESULTADOS E DISCUSSÃO Desde a institucionalização do livro genealógico da raça em 1967, houve um aumento significativo no número de poldros inscritos até 2004 (Figura 3), em especial, a partir de 1989, quando o studbook foi fechado à entrada de animais a título inicial. Durante este período, o número de criadores que produzem cavalos Lusitanos tem aumentado significativamente (até cerca de 700, com um máximo de 784, em 2004), graças a um interesse crescente nesta raça, dados os seus atributos de temperamento, beleza e funcionalidade. No entanto, e embora tenha havido um enorme aumento no número de coudelarias, nos últimos anos muitas delas têm apenas um animal inscrito ou mesmo nenhum (especialmente após 2004). Entre 2005 e 2008, considerando as coudelarias com 1 ou mais produtos inscritos a média é de 2.18±3.00 poldros registados por coudelaria, ou 4.20±3.81 animais, para os produtores que registam 2 ou mais produtos. A média global anual de poldros inscritos variou, neste período, entre 0 a 32 produtos (Coudelaria de Alter Real) e somente 303 coudelarias tinham mais de dois poldros registados. Também se pode constatar, a partir do gráfico da Figura 3, que existe uma queda significativa na criação e registo de Lusitanos a partir de 2004. Esta redução pode ser, em parte, explicada
CAVALO LUSITANO
pela enorme crise económica e financeira que tem afectado os principais países produtores mas também devido a atrasos na inscrição dos animais no RNE, especialmente para animais nascidos no estrangeiro. No que diz respeito à admissão de animais ao livro de adultos (LA) da raça, o número médio anual de éguas reprodutoras inscritas foi de 283.4±265.0, com um máximo de 1310 éguas, inscritas em 2007. Para os machos candidatos a reprodutores a média anual foi de 108.6±110.1 animais classificados. Os valores máximos, por ano, de candidatos a garanhões classificados ao LA foi de 523, 435 e 353 animais, respectivamente, em 2007, 1996 e 2003. De 1967 a 2009, 18305 animais foram avaliados para admissão a LA, sendo 5328 machos e 12977 fêmeas. A taxa global de aprovação de garanhões (Figura 4) foi de 89,0%, com um mínimo de 77,3% (1995) e um máximo de 99,1% (1989). Do total de éguas candidatas, 98,7% das fêmeas foram aprovadas como reprodutoras. O número total de machos e fêmeas aprovados foi de, respectivamente, 4562 garanhões e 11902 fêmeas, perfazendo um total de 16464 indivíduos. A raça Lusitana tem evoluído e aumentado significativamente nos últimos anos (desde 1989), como observado anteriormente. Analisámos igualmente a sua distribuição em Portugal e no mundo. Na Figura 5 apresentase a distribuição cumulativa de nascimentos de poldros Lusitanos, por região, em Portugal, até 2009. Para melhor se compreender a distribuição de cavalos lusitanos nascidos em Portugal, apresenta-se, na Figura 6, um gráfico de barras que mostra a percentagem de nascimentos nas principais regiões (distritos) de Portugal, onde se constata a grande influência do distrito de Santarém na criação do cavalo Lusitano. Isto deve-se principalmente aos concelhos de Benavente, Santarém, Golegã, Coruche, Salva36
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Figura 5 – Distribuição total da inscrição de poldros Lusitanos em Portugal, por distrito de nascimento (n=35206 animais, até 2009) terra de Magos, Samora Correia, Almeirim, Cartaxo, Chamusca, Alpiarça e Abrantes. Em segundo lugar, em ordem de importância, apresenta-se o distrito de Lisboa, com as regiões circundantes à capital produtoras de animais,
mas também porque muitos criadores fornecem o endereço do seu escritório ou empresa como o lugar de nascimento dos poldros e não o local onde efectivamente estão as éguas em actividade reprodutiva. Como tal, e ainda
Figura 6 – Distribuição, em percentagem, do nascimento de cavalos Lusitanos por distrito, em Portugal (n=35206 produtos até 2009)
que com muito cuidado na validação dos dados existentes, o distrito de Lisboa poderá estar algo sobrevalorizado. Seria bom que de futuro houvesse mais rigor na compilação de todos estes parâmetros, fundamentais para análises deste tipo. Portalegre apresenta-se como o terceiro distrito com maior número de nascimentos, essencialmente devido à coudelaria de Alter Real, que produziu centenas de animais desde a fundação da raça. Histórica e tradicionalmente sempre se considerou o Alentejo e Ribatejo, perto das margens do rio Tejo, como o berço da raça, algo que é confirmado com estes dados, com uma produção muito concentrada no centro/sul do país. No entanto não podemos deixar de referir a importância crescente da criação do cavalo Lusitano mais a norte de Portugal, bem como no arquipélago dos Açores. Para além do estudo da dispersão da população Lusitana em Portugal é igualmente importante observarmos o que se passa a nível mundial. Com a informação de que dispomos (dados até 2009) constata-se que a criação de Lusitanos abrange 32 países, estando presente nos cinco continentes, com uma distribuição observável na Figura 7. Existem éguas lusitanas em produção da Austrália ao Canadá. Se considerarmos que existem somente cerca de 5.000 éguas reprodutoras, podemos dizer que a expansão desta raça se revelou espectacular, sendo um dos principais produtos de exportação do mundo rural português. Mas queremos sempre mais! Na figura 7 referimo-nos somente a nascimentos de produtos que foram inscritos como Lusitanos pois se consideramos a presença do cavalo Lusitano além-fronteiras a sua expansão apresenta-se muito mais abrangente. Se consideramos os maiores países estrangeiros criadores da raça (excluindo Portugal, o berço desta população) há claramente quatro países que se destacam,
CAVALO LUSITANO
nomeadamente (por ordem de importância): Brasil, França, Espanha e México (~ 91% dos nascimentos no estrangeiro) (Figura 8). Há também outros importantes países produtores como são a Bélgica, Alemanha, Reino Unido, Itália e Holanda. Obviamente, e como sabemos, podem existir atrasos no registo dos animais no Studbook em Portugal (dados até 2009), mas, com os indicadores de que dispomos, o Brasil já criou mais de 7000 mil animais (~43% do total) e, em França, a criação desta raça começou em 1972 e em 1976 já eram registados mais de 10 produtos por ano. O cavalo Lusitano apresenta-se como a principal raça estrangeira em França, com mais de 4500 cavalos Lusitanos criados, a seguir às raças autóctones francesas. Em relação à distribuição por idade dos pais ao nascimento dos seus primeiros descendentes podemos observar que as éguas produzem o seu primeiro poldro com uma idade média de 5.44±2.04 anos e os garanhões com 7.30±3.62 anos (Figura 9). Esta grande diferença de idades ao nascimento do 1º filho entre machos e fêmeas é devida, principalmente, à necessidade de submeter os animais a uma aprovação morfo-funcional para o livro de adultos, onde o macho deve ser obrigatoriamente apresentado montado, nos 3 andamentos, logo a partir dos 4-5 anos de idade, enquanto que as éguas são apresentadas à mão
Figura 7 – Dispersão mundial de criadores do cavalo Lusitano por 32 países diferentes ou em liberdade (a partir de 3 anos) para começar a sua atividade reprodutiva. Outro aspecto interessante refere-se à grande variabilidade temporal da utili-
maioria das éguas começa a sua atividade reprodutiva entre os 4 e 8 anos de idade (principalmente aos 5 anos), enquanto os garanhões começam a deixar des-
Figura 8 - % de nascimentos de cavalos Lusitanos pelos principais países estrangeiros produtores zação pela primeira vez em reprodução dos animais, estendendo-se desde uma idade de 3 anos até mais de 20 anos! A
Figura 9 – Distribuição da idade ao 1º filho (anos) de garanhões e éguas Lusitanos
cendentes dos 4 aos 13 anos de idade ou mais. Globalmente, a média de idade dos garanhões ao nascimento
dos seus descendentes é de 11.33±5.23 anos (Figura 10), mas também há um número significativo de machos com idade reprodutiva para além de 20 anos até à idade máxima de 34 anos! Para éguas, em geral, a idade média ao nascimento dos descendentes é de 7.30±3.62 anos, com uma idade máxima de 29 anos! Estes valores indicam uma prolongada utilização temporal em reprodução, comparativamente com outras espécies pecuárias, o que poderá atrasar o progresso genético, mas que no entanto é prática comum em equinos. Ao analisarmos a Figura 10, observamos que éguas têm a maioria dos seus descendentes entre os 6 e 10 anos de idade, em contraste com os machos cuja actividade reprodutiva é mais longa, muitas vezes para além dos 15 anos de idade. Devido ao longo período de utilização, o total de descendentes obtidos de reprodutores com mais de 10 anos de idade é de 51% para os garanhões e de 40% para as éguas e ainda cerca de 10% dos nascimentos totais são fruto de garanhões com mais de 19 anos de idade. O uso prolongado dos reprodutores nas coudelarias pode atrasar os benefícios dos programas de melhoramento genético e ao mesmo tempo originar o acasalamento entre animais aparentados (por exemplo, pai-filha, mãe-filho, meios-irmãos, etc.). Mas, no caso do Lusitano, o aca-
Figura 10 – Distribuição da idade (anos) de garanhões e éguas ao nascimento dos seus descendentes REVISTA EQUITAÇÃO
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CAVALO LUSITANO
salamento entre pais e filhos foi inferior a 2%, indicando alguma cautela dos criadores em evitar emparelhamentos incestuosos. Se estudarmos em pormenor todos os garanhões que deixaram descendência registada na raça (mais de um produto inscrito) e consideramos o número total de descendentes de garanhões por classes de número de filhos (Figura 11), observamos que a maioria dos reprodutores produz menos do que cinco poldros inscritos (~ 52%). Igualmente, somente 10% dos garanhões aprovados e com filhos registados tem mais de 40 descendentes.Também constatamos um pouco o oposto, ou seja, existe um número significativo de poldros que provém de um pequeno número de garanhões (e.g. 17 garanhões produziram quase 6% do total; ~3000 poldros). Existe assim um enorme desequilíbrio no nº médio de descendentes por garanhão, dando origem a um valor médio global de 13.13 ± 22.53 produtos! O garanhão aprovado com maior descendência na raça foi o Afiançado da Flandes (criação Quinta da Flandes) com 281 produtos inscritos no livro genealógico durante o período de 1987-2009 (actualmente já conta com mais de 340 produtos inscritos!), seguido do reprodutor Nilo (ferro Manuel Veiga) com 224 produtos registados no studbook durante o período 1976-1999. A utilização muito irregular e disseminada dos garanhões aprovados, como observado na figura 11, também pode ter contribuído para travar o aumento mais significativo dos níveis de consanguinidade na população, como veremos mais à frente neste estudo. Outra comparação interessante refere-se ao estudo da relação existente entre o número de filhos/garanhão e a pontuação de um reprodutor para o livro de adultos. Com vista à melhoria da conformação e morfologia da população Lusitana, seria de es38
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Figura 11 – N.º de poldros Lusitanos inscritos por garanhão perar usarem-se mais em reprodução os garanhões com melhor pontuação ao LA, contribuindo com mais descendentes para as gerações seguintes. Pela análise da Figura 12, onde apresentamos a relação entre a pontuação ao LA de um garanhão e o seu nº de descendentes inscritos na raça, constata-se que este não é o caso e mais pontos de aprovação ao LA não significa obrigatoriamente mais descendentes. Este aspecto é claramente evidenciado pela muito fraca correlação positiva, de apenas cerca de 8% (R2), existente entre a pontuação e o número de filhos, valor muito baixo, ainda que significativo. Podemos ainda realçar o facto de existir um total de 2191 garanhões aprovados ao LA (até 2009) que nunca tiveram nenhum filho registado no livro de nascimentos! Deste modo, podemos concluir que, em muitos dos casos, a aprovação de gara-
nhões Lusitanos ao LA, sempre controversa e complexa, não é mais que uma etapa na vida do animal que serve como atestado da sua qualidade morfológica e fidelidade ao padrão racial, para assim mais facilmente poder ser comercializado ou promovido pelos criadores/proprietários do que efectivamente uma etapa de selecção na vida do animal que contribua para o melhoramento e progresso genético da população.■ No próximo número da Revista continuaremos com a temática da demografia na raça Lusitana! Até lá!
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Figura 12 – Relação entre o número de filhos de um garanhão e a sua pontuação ao Livro de Adultos (LA) da raça Lusitana e respectiva correlação (R2)
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CRÓNICA
Foto de António Pires Cardoso
A CAPA DOS ROMEIROS DE SÃO MARTINHO SEGUNDO A LENDA S. MARTINHO CORTOU COM A ESPADA DE OFICIAL ROMANO A SUA CAPA AO MEIO E DEU METADE AO POBRE QUE, À BEIRA DA ESTRADA, TREMIA DE FRIO. O POBRE ERA JESUS CRISTO QUE LHE APARECEU NESSA NOITE EM SONHOS E QUE LEVOU MARTINHO A CONVERTER-SE AO CRISTIANISMO. e quiserem saber mais pormenores sugiro que leiam o pequeno livro “Os Romeiros de S. Martinho” Edição (e propriedade) da Câmara Municipal da Golegã, à venda na secretaria da Feira Nacional do Cavalo. Se o comprarem confirmem que tem o CD com o Hino dos Romeiros na contracapa. Por esta razão entendi que os Romeiros deviam usar só meia capa e que o meio da capa devia ter o aspecto de tecido cortado com espada, sem remate (Fig.1), como teria
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João Pedro Gorjão Clara
ficado a meia capa que São Martinho usou depois do encontro com Cristo. Levantaram-se-me algumas interrogações. Em que tecido deveria ser confecionada a capa? Os Soldados Romanos es-
palharam-se por lugares com diferentes climas e era natural que as capas fossem frescas, de linho, ou quentes, de lã, de acordo com o local onde as legiões prestavam serviço. S. Martinho integrava uma Legião estacionada na Panónia
(hoje correspondente á parte ocidental da Hungria) onde as amplitudes de variação da temperatura são grandes e neva no Inverno. Então a capa dos Romeiros seria de lã. Os Romeiros de S. Martinho que se queixam que a capa é quente para usar em Maio, sabem agora que a capa é de lã porque quis que se identificasse com a que teria usado o nosso Santo padroeiro. Na participação na Romaria da Senhora del Rocio, onde a embaixada dos Romeiros de
CRÓNICA
Fig.2 - El Greco (1541 –1614)
Fig. 1 - O bordo da meia capa vermelha debruada a púrpura, com o aspecto de ter sido cortado com espada (foto de Mário Fernandes)
S. Martinho marcou uma presença inesquecível, tive oportunidade de me lembrar do nosso aforismo que diz: “o que
protege do frio defende do calor”. No calor abrasador de fins de Maio, na Andaluzia, fiquei horas ao Sol à espera que a Irmandade de Jerez de la Frontera, onde estávamos integrados, fosse chamada para desfilar em frente da Igreja da “Blanca Paloma”. Defendi-me do Sol com a meia capa de lã do meu traje de Romeiro e lamentei que não tivesse em vez de meia capa um lençol para me proteger melhor dos raios solares. Tinha outra dúvida. De que cor devia ser a capa? Nas pinturas que representam S. Martinho, que como vos escrevi no artigo anterior, não têm rigor iconográfico e que mostram o Santo como um cavaleiro soldado da época do pintor, a cor da capa é variada. No quadro pintado por El Greco a capa é verde (Fig.2).
CRÓNICA
Fig.3 - Anthony van Dyck (1599-1641)
Fig. 5 - Ilustração popular de S. Martinho
No quadro de Van Dyck, que como o anterior de El Greco aqui volto a reproduzir nesta crónica, a capa é vermelha (Fig. 3). Na ilustração francesa de cerca de 1290, copiada por Linda Rush, a capa é branca por dentro e vermelha por fora (Fig.4) Numa ilustração popular, de autor desconhecido, a capa de S. Martinho é azul (Fig.5). É provável que a cor da capa dos soldados Romanos variasse entre as legiões e os locais onde as mesmas estavam sediadas. 42
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Esta afirmação é especulativa, mas não existe informação segura sobre o assunto. Conhece-se um texto de um general Romano, do Século II, chamado Flavius Arrianus, que descreveu as túnicas usadas pela cavalaria como predominantemente vermelhas e também nalguns casos de cor castanha alaranjada, com origem na mesma cor vermelha (In: Legions of Rome: Where It All Began. By Stephen Dando-Collins). É possível que a cor predominante fosse o vermelho, porque este pigmento era fácil de obter pela pulverização das raízes de uma planta que entre nós se chama Garança ou Ruiva dos Tintureiros. A Garança ou Ruiva dos Tintureiros foi usada para tingir os tecidos de vermelho até ao século XIX, altura em que o pigmento vermelho foi sintetizado em laboratório. Outra cor muito apreciada na época era a cor púrpura. Esta cor era sinal de poder e riqueza e era reservada ao Imperador e aos Senadores. O Imperador usava tecidos púrpura, os senadores apenas algumas aplicações de tecido com
Fig.4 - Cópia de uma ilustração francesa de cerca de 1290 por Linda Rush
esta cor nas suas túnicas. A cor púrpura obtinha-se de búzios do género Murex, existentes no Oceano Atlântico e no Mediterrâneo. A extração era laboriosa mas sobretudo exigia grandes quantidades de búzios. Para se conseguirem extrair pequenas quantidades de pigmento púrpura, 1,5 gramas, eram necessários 250 quilos de Murex. Os búzios que se comem nas nossas cervejarias são uma das variedades dos búzios do género Murex (fig.6). Recordando estes factos a capa também tem aplicação de cor púrpura a debruá-la (Fig.1) Estava decidido. A meia capa dos Romeiros de São Martinho seria de lã e de cor vermelha, pois assim deveria ter sido a do Legionário Martinho, na Panónia. Colocá-la-íamos sobre o ombro esquerdo para na mão direita podermos usar a varinha
Fig.6 - Búzio do género Murex
de marmeleiro. Assim foi criada a Capa dos Romeiros de São Martinho que todos os Romeiros devem usar no dia da Romaria. ■
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Os irmãos David e Mafalda Oliveira Santos
DAR CONTINUIDADE AO SONHO REVISITANDO A COUDELARIA OLIVEIRA SANTOS, UM ANO DEPOIS... Bruno Caseirão
ientes do legado que herdaram, procuram criar Cavalos Lusitanos com inegável bom temperamento a par com uma crescente funcionalidade e, nesta, uma particular veia desportiva, mantendo assim vivo o sonho do pai.
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APÓS UM ANO DO DESAPARECIMENTO DO CRIADOR VASCO OLIVEIRA SANTOS, FOI TEMPO DE REVISITAR A HERDADE DAS VALADAS E INTEIRARMO-NOS DOS NOVOS VENTOS DE MUDANÇA QUE POR LÁ SE SENTEM AGORA QUE A COUDELARIA É GERIDA PELOS DOIS DINÂMICOS IRMÃOS MAFALDA E DAVID OLIVEIRA SANTOS. Passou um ano desde que o Vasco, vosso pai, nos deixou. Desse universo de poesia e de sonho que para ele era criar cavalos Lusitano o que ficou? Mafalda Oliveira Santos: O Bruno descreveu exactamente o que representava para o nosso
Pai criar cavalos Lusitanos. Mas mesmo com essa sua visão apaixonada e romântica em relação ao Lusitano, ficaram fortes alicerces e boa matéria-prima para prosseguirmos esta viagem. Partimos de uma base fantástica o que nos deixa extremamente
empolgados e com esperança de podermos dar continuidade a esse sonho. Uma das grandes qualidades dos cavalos da Coudelaria Oliveira Santos é um excepcional temperamento. Sendo esta uma das características, a par com
ARTE DA EQUITAÇÃO
Vasco Oliveira Santos na Feira Nacional do Cavalo trajando à portuguesa, a predilecção pelos fatos de Augusto Tomé
Paula Paz
a preocupação com a funcionalidade, que o vosso pai mais se orgulhava de ter alcançado. Será este o vosso caminho? MOS: Sem sombra de dúvida que esse foi o maior estandarte e imagem de marca dos seus cavalos, onde o sucesso foi e é reconhecido por muitos, tanto nacional como internacionalmente. Para além das características que referiu, já sobejamente reconhecidas, e sem nunca nos afastarmos do padrão da raça, tentaremos acrescentar uma maior dimensão e movimentos naturais mais direccionados para o desporto. Neste momento têm dois cavalos em competição... David Oliveira Santos: Actualmente temos, nas nossas mãos, dois cavalos no circuito nacional: o Fogo e o Girassol. O Fogo é filho do Lidador com uma égua filha do Opus-72. É
um cavalo muito correcto, com três bons andamentos e que, pelo seu óptimo temperamento e respectiva facilidade na aprendizagem, acreditamos que irá potenciar todas as suas qualidades nos níveis mais avançados da competição. O Girassol é filho de um garanhão do nosso ferro, o Barlavento, com uma égua filha do Neptuno. Tal como o seu progenitor, também o Girassol revela grande talento para a Dressage. Iniciou apenas o seu desbaste em Dezembro, entrando em competição algo atrasado em termos de ensino quando comparado com os restantes. É nossa expectativa que, com o trabalho a desenvolver, os resultados irão ser ainda melhores. No CDN da Beloura, em Maio, estreámos também o Duque no nível Complementar. Ainda um pouco “verde” (como se usa na gíria) e sem qualquer experiência em pista. No entanto, teve um bom desempenho e transmitiu excelentes sensações quanto ao seu potencial. Em termos de criação há novidades, nomeadamente com a introdução de um novo garanhão. Gostavam de explicar esta nova opção? DOS: Com a venda de três dos nossos garanhões, Barlavento, Xangai e Corsário, ficámos na Coudelaria com poucas opções. No entanto, possuímos um filho do Xangai já aprovado mas sem descendência e, como tal, ainda não conseguimos aferir as suas qualidades como reprodutor. Após algumas pesquisas e depois de alguma ponderação, optámos por arriscar e escolher o Dragão das Figueiras. Consideramos que seja um cavalo com uma qualidade, enquanto atleta, inquestionável. No entanto, sabemos que na criação de cavalos nada é matemático! Considerando o bom temperamento dos nossos cavalos, estamos confiantes de que iremos obter, com o Dragão das Figueiras, bons resultados atendendo à sua ascendência,
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ARTE DA EQUITAÇÃO
David Oliveira Santos montando o garanhão Xangai em Intermediária II na 1ª Jornada da Taça de Portugal funcionalidade, dimensão e qualidade nos andamentos. É o que procuramos, acima de tudo, com esta nossa aposta e investimento. Longe de Portugal, embora exemplo da qualidade e da relação estreita com os utiliza-
David Oliveira Santos montando Fogo em Elementar
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dores dos vossos cavalos – muitos dos quais se tornam amigos –, temos o Barlavento, o qual, após um notável desempenho em Portugal, tem feito igual percurso na Alemanha. Aliás, refira-se que o acompanhamento tanto dos "seus" cavalos
como dos amigos que estes propiciavam, era algo muito caro ao vosso pai. DOS: O Cavalo Lusitano tem ganho, cada vez mais, notoriedade internacional e, como consequência disso, houve um incremento de vendas a clientes
estrangeiros. Muitos dos nossos clientes chegaram até nós por diversas formas e razões, mas todos ficaram “fiéis”, pela maneira como eram recebidos e tratados pelo nosso Pai. Como refere, o Barlavento foi adquirido por uma senhora que para nós não é só e apenas uma cliente mas sim uma amiga da família. Para ter uma ideia, o Barlavento foi o quinto cavalo que a sua actual proprietária adquiriu na nossa Coudelaria. Após estar a residir na Alemanha há dois anos, o cavalo reiniciou a sua carreira desportiva com a filha da proprietária, a qual tem agora 19 anos e com resultados excelentes, médias entre os 68% e os 72%, em M level, o que aqui, em Portugal, corresponde ao nível Complementar. Não podemos deixar de mencionar o cavalo Califa, que com a sua cavaleira e proprietária, também tem obtido excelentes resultados na Suécia.
Vasco Oliveira Santos durante o Evento "O Cavalo Lusitano e o Alentejo. Um Mundo de Paixão"
Paula Paz
Estes exemplos são mais uma prova de que os nossos cavalos, sem qualquer sombra de dúvida, têm qualidade em qualquer parte do Mundo. Actualmente, tal como o nosso pai o fez, por forma a podermos acompanhar da melhor forma o percurso dos nossos cavalos, tentamos manter sempre que possível o contacto com os clientes. Como é natural, um projecto como uma coudelaria passa por várias fases, criadores e intervenientes. Quais são as principais alterações, novidades e objectivos que podemos encontrar nesta nova fase da Coudelaria Oliveira Santos? DOS: A nossa primeira e grande prioridade foi a redução de efectivo, que até à data podemos considerar a missão cumprida com sucesso. Esta nossa abordagem talvez um pouco mais prática e menos romântica, fez-nos tentar optimizar o número de efetivos com o espaço e clima que possuímos. Temos algumas ideias e projectos de futuro, mas estamos também conscientes de que neste momento é preciso bastante planeamento para não dar um passo maior que a nossa perna. A nossa ideia primordial é dar continuidade ao projecto deixado em mãos pelo nosso Pai, preservando o que achamos estar bem e tentar melhorar onde achamos que seja possível e necessário. Com isso, esperamos conseguir continuar a obter bons resultados desportivos, tanto nacional como internacionalmente, produzindo cavalos de qualidade para todo e qualquer tipo de cavaleiro. Assim, destacamos o facto de, este ano, se encontrarem seis cavalos da nossa criação no circuito nacional de Dressage e um na Para-Dressage: Fogo, Girassol, Duque, Emir, Czar, Açafrão e Damasco. Isto só vem reforçar a qualidade dos nossos cavalos, que tem sido reconhecida pelas pessoas que nos procuram, compram e concursam.
Paula Paz
ARTE DA EQUITAÇÃO
Rosa e Vasco Oliveira Santos, cumplicidade de uma vida
A concluir, naturalmente transcendendo o universo dos cavalos, uma pergunta que se impõe: qual é para os filhos, o maior legado do (vosso) pai? MOS: Esta pergunta remeto-nos mais para o campo emocional, Bruno. Eu saliento três pilares: Família, Trabalho e Entrega. O sentido de união familiar esteve sempre muito presente nas nossas vidas. O que nos une não é o que nos doeu! Quando fomos confrontados com a doença do nosso Pai, não cedemos à tentação fácil de cada um sofrer por si. Lutamos em conjunto! Hoje em dia, quando nos deparamos perante alguma situação que nos suscita dúvidas, procuramos ouvir a opinião um do outro mas também não hesitamos em consultar as pessoas de que nos são mais próximas. Agimos e trabalhamos sempre em conjunto! O nosso Pai sempre nos demonstrou, por ele mesmo, que sem trabalho e entrega não conseguimos obter resultados. Se queremos assumir em pleno o nosso trabalho, não nos podemos esquecer de que toda a vocação só se consegue concretizar com muita entrega. DOS: Bom, acho que isso remonta aos tempos desde que sou criança até ao dia em que partiu da minha vida. A educação, os valores e a maneira séria e honesta de tratar as pessoas. Reter o muito de bom que fez e tentar aprender com as suas falhas. Sim, o meu Pai era humano. Conseguiu-me dar todas as ferramentas necessárias para crescer e para que nada me faltasse. Espero poder fazer o mesmo quando chegar a minha vez. Não podia deixar de referir a nossa Mãe. De certa forma faz parte do seu legado. É um das pessoas mais fortes que conheço. Tendo perdido já muito na sua vida, continua de pé, firme. Recordo com saudade quem partiu, e rejubilo pelos que ficam e com quem posso contar! n
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FESTA DO CAVALO DE PORTO SALVO
MAIOR E MELHOR! A FESTA DO CAVALO DE PORTO SALVO JÁ CONTA COM 16 EDIÇÕES E ESTE ANO AUMENTOU DE DURAÇÃO, DECORRENDO DURANTE DOIS FINS-DE-SEMANA, COM UM PROGRAMA RECHEADO DE ANIMAÇÃO E DESPORTO.
festa abriu portas a 15 de Maio, com provas de obstáculos. Logo nos primeiros dias teve lugar uma das grandes novidades do certame deste ano, um CAN2*, com a organização, em conjunto com a Associação Portuguesa de Atrelagem (APA), a conseguir que as três etapas se realizassem no recinto da feira. Depois do Ensino e Maneabilidade, foi a Maratona que mais público atraiu. Ana Cristina Guerreiro, que habitualmente se desloca a
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Porto Salvo para competir no Derby, entrou neste concurso completo de atrelagem na classe de quatro cavalos e considerou que "esta prova de maratona está fantástica! Os obstáculos muito bons, há público e as pessoas estão todas contentes!". A condutora encontra-se em preparação para o Campeonato da Europa de Aachen deste Verão, e com 176,32pts e venceu a sua classe sem concorrência. Em Parelhas levou a melhor Hugo Frias com 135,39pts. Já em 1 Cavalo, os
três presentes eram Iniciados mas deram o tudo por tudo, com Mónica Neto a ganhar com 107,27pts, ela que viria também a alcançar o 1.º lugar no Derby do fim-de-semana seguinte na classe de Singulares, data em que Ricardo Baptista se sagrou vencedor em Parelhas. Do programa desportivo equestre fez também parte o II Open Oeiras Dressage Póneis, onde estiveram a concurso 25 jovens cavaleiros. Para cativar novos interessados, entre as reprises de-
correram demonstrações de Equitação de Trabalho e à Portuguesa, corridas de póneis, música, entre outros momentos. Venceu o Open este ano: no nível Preliminar 1 Mariana Campos/Trinco, no nível Infantil 2 Alice Fernandes/Extreme de Cardiga e no nível Elementar 1 Joana Cardoso/Aron, todas da Academia Equestre João Cardiga. A cargo dos cavaleiros mais jovens esteve também o jogo de demonstração de Horseball, com o escalão sub-11 do Horseball
FEIRAS E EVENTOS
Club Colégio Vasco da Gama. A Poule de Equitação de Trabalho contou com duas dezenas de participantes que aproveitaram a prova para rodar e "empistar" novos cavalos. Durante todos os dias, animaram o palco da feira sevilhanas, grupos de danças, cantares e diversos ranchos folclóricos. Outro dos pontos altos foi a gala equestre "Emoções Ibéricas" e o espectáculo "Oeiras Equestre." Na manhã de sábado do segundo fim-de-semana realizouse o 16.º Passeio Equestre na Rota do Vinho de Carcavelos com dezenas de pessoas montadas ou em carros de cavalos, trajadas a rigor, a concentrarem-se no Largo da Igreja Matriz de Oeiras para a tradicional bênção aos participantes. Carlos Morgado, Vice-Presidente da Câmara Municipal de Oeiras, esteve presente, destacou a importância de não se deixar cair em esquecimento antigas tradições em que o cavalo é a estrela da festa e assegurou que o município, "continuará a apoiar este evento", até porque este "traz um enorme retorno" e "contribui para a coesão social no nosso concelho". Para além dos cavalos, os cães também tiveram o seu lugar de destaque no evento, com o 5.º e 6.º Open de Agility Future Dogs e demonstrações caninas. As garraiadas fecharam todos os dias o programa. "Para nós é sempre um orgulho repetir esta festa" diz Carlos Cardoso, da Associação Equestre de Porto Salvo (AEPS), organizadores do evento. "São 16 edições e tentamos sempre melhorar e trazer algo inovador. Este ano alargámos a duração e estamos em força. Tivemos, como de costume, muita participação e sentimos um grande respeito por parte das outras organizações de feiras, que já começam a olhar para Porto Salvo como uma iniciativa do panorama nacional. Esta Festa deixou de ser local e passou a fronteira do concelho. Temos participantes do Algarve
ao Minho." A organização estima que tenham passado por Porto Salvo cerca de 300 cavaleiros. Quanto a público, contabilizaram-se cerca 20 mil visitantes por fim-de-semana. Números que deixam Ricardo Baptista, presidente da AEPS satisfeito, pois só provam que "apesar de todas as dificuldades que o país tem atravessado nos últimos anos, temos ido ao encontro das espectativas". A alteração de datas e o aumento das modalidades desportivas na feira, confirmaram-se "uma aposta ganha" e "até já há quem nos pergunte porque não tivemos eventos durante a semana também!" A 16.ª Festa do Cavalo de Porto Salvo decorreu nos dias 15, 16, 17, 22, 23 e 24 de Maio. n Ana Filipe/Fotos: Aurélio Grilo
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CORRIDAS
CAMPEONATO NACIONAL DE GALOPE E TROTE 2015 JÁ SOB AS NOVAS REGRAS DEPOIS DA EUFORIA INICIAL PROVOCADA PELO FACTO DE O GOVERNO TER AVANÇADO COM O PROCESSO DAS APOSTAS HÍPICAS, INTEGRADAS NUM CONJUNTO GLOBAL QUE ENVOLVE TODO O JOGO ONLINE, CONVÉM RELEMBRAR QUE AINDA FALTAM LANÇAR VÁRIOS DIPLOMAS QUE PODEM CONDICIONAR O SUCESSO OU INSUCESSO DAS APOSTAS HÍPICAS. NUNO VIEIRA E BRITO, SECRETÁRIO DE ESTADO DA ALIMENTAÇÃO E DA INVESTIGAÇÃO AGROALIMENTAR, EM CONVERSA MANTIDA RECENTEMENTE AFIRMOU QUE A SUA PUBLICAÇÃO ESTARIA PREVISTA PARA O FIM DE JUNHO. o que poderá suceder se os Diplomas não forem lançados antes das eleições, que a princípio apontavam para uma mudança de cor política, mas que actualmente apontam para um empate técnico? No passado deu mau resultado, provocando vários atrasos que culminaram com a paragem do processo. Além disso, existe um obstáculo final, também em fim de mandato, mesmo que a legislação esteja toda pronta, o Presidente da República pode vetar essa Lei, ou até nada fazer deixando o processo para o seu sucessor. O passado diz-nos que tudo pode acontecer, embora obrigado pela Troika, este Governo tem mesmo trabalhado rapidamente e com competência. Além disso, foi entregue à Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML), o exclusivo de explorar o jogo online, o que não deixa de ser uma grande ironia, pois o Provedor da SCML é precisamente Santana Lopes, que quando foi Primeiro-Ministro aprovou as Apostas Mútuas Hípicas Urbanas em 2005, que acabariam vetadas pelo Presidente da Républica, Jorge Sampaio! Vamos aguardar para ver o desfecho, existem ainda muitas incógnitas. Mas nada disso impede que continuem a surgir e operar livremente casas de apostas online, sem que o Governo nada faça. Por outro lado, a atribuição do exclusivo do jogo online à SCML fez com que a Pari Mutuel Urbaine (PMU), o gigante fran-
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Victor Malheiro
cês das apostas hípicas e do mundo das corridas, se retirasse do processo português, isto simplesmente porque não quer fazer concorrência à SCML, é que se entrassem no mercado português, a SCML também poderia entrar no mercado francês. Contudo, os responsáveis da PMU afirmaram que estão dispostos a ajudar Portugal em tudo que for preciso, quer a Liga na parte técnica, quer a SCML desde que esta solicite apoio. Ora, a questão que se põe é que esta nova legislação foi baseada no modelo francês da
PMU, que é mutualista e se agora os responsáveis portugueses não solicitarem o seu apoio? Na nova Lei foi contemplado ainda e pela primeira vez o sistema inglês de apostas através dos bookmakers, isto é uma surpresa pois nunca tinha sido posta esta hipótese nem ninguém no Governo parece conseguir dar uma resposta consistente e completa por que é que isso aconteceu nesta altura, havendo até algum secretismo à volta disso. Estranho ou não, o facto é que é muito mais fácil tornar Portugal num gigante casino virtual online,
com todo tipo de apostas, para todos os desportos, 24 horas por dia, do que construir toda uma nova indústria à volta das corridas de cavalos. A Liga Portuguesa de Criadores e Proprietários de Cavalos de Corrida teve, desde 1997, um papel essencial neste processo das apostas hípicas, mas esse protagonismo não se deve a uma só pessoa, como se tem lido em vários sítios mas sim a um conjunto restrito de pessoas chave e da ajuda entre várias entidades. Para que se compreenda como se chegou desde o primeiro Protocolo que legalizou as corridas em Portugal e no estrangeiro em 1999, até aos dias de hoje com o lançamento da nova Lei das apostas hípicas, já comecei o processo de escrita de um livro sobre as corridas
A Recepção em Felgueiras contou com a presença de alguns membros do governo
de cavalos e as apostas hípicas que abrange o período desde a fundação da Liga em 1997, e aí toda a verdade será reposta e serão os próprios intervenientes a narrar o seu contributo para o processo, estando tudo devidamente documentado de várias formas e onde não serão esquecidos os intervenientes que já não se encontram entre nós. A publicação de uma obra deste tipo vem evitar a colagem ao processo das apostas hípicas, se estas realmente avançarem, de todo tipo de individualidades e associações que pouco ou nada contribuíram para o mundo das corridas e que agora procuram apenas protagonismo. É uma questão de justiça e de divulgação dos factos correctos. CANAL EQUESTRE FRANCÊS EQUÍDIA ESTEVE EM PORTUGAL A FAZER UM TRABALHO
CORRICAVALOS E A LIGA O canal de televisão francês Equídia, transmitido em todo mundo, esteve em Portugal quatro dias, no fim de Abril a fazer um trabalho sobre todas as vertentes das corridas em Portugal, visitando algumas quadras, vendo os métodos de trabalho, fazendo um historial das corridas e terminou com a filmagem do Grande Prémio do Maio, não é erro ortográfico, chamam-se mesmo as Festas do e não de Maio, em Felgueiras. Com a vinda da Equídia, que tinha um rígido calendário de programação mundial para cumprir, acabou por se atrasar o começo do campeonato para o dia 1 de Maio, para o Hipódromo da Quinta da Granja, em Felgueiras. O seu proprietário, Ricardo Carvalho, ofereceu uma recepção para a qual foram convidados alguns membros do Governo envolvidos no processo das apostas hípicas e que não deixaram de comparecer. Estiveram presentes, pela parte do Governo, Nuno Vieira e Brito, Secretário de COMPLETO SOBRE AS
DAS DE
A BOLA TV CANAL 12 DO MEO Estado da Alimentação e da Investigação Agroalimentar, Vânia Dias da Silva, Subsecretária de Estado Adjunta do Vice-Primeiro-Ministro, Paulo Portas e Helena Vilasboas Tavares, Adjunta do Ministro da Economia António Pires de Lima, além de múltiplas outras personalidades ligadas ao poder camarário e local e ao mundo das corridas, no passado e no presente. Nem o mau tempo que se fez sentir estragou a festa e foi mesmo um começo de campeonato em grande, cheio de boa disposição e provas muito disputadas. A pista de Felgueiras foi construída de raiz para suportar chuvas fortes, por isso não houve problemas com o mau tempo. A REUNIÃO EM FELGUEIRAS Esta festa em Felgueiras foi a oportunidade para ouvir alguns
dos principais intervenientes no Processo das Apostas Hípicas e na realização do Campeonato Nacional de Trote e Galope. Qual a importância estratégica que vê nas corridas de cavalos e apostas hípicas em Portugal? Nuno Vieira e Brito, Secretário de Estado da Alimentação e da Investigação Agroalimentar: Existe muita tradição e importância em Portugal no que diz respeito às corridas de cavalos. Essa tradição pode ser ainda optimizada a nível da criação de riqueza e desenvolvimento nacional, é dentro dessa abordagem que serão lançados os Diplomas sobre as corridas de cavalos com apostas hípicas, à semelhança do que se faz em outros países europeus. Qual a principal motivação que este Executivo teve para fazer um trabalho tão extenso
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CORRIDAS
com vista à introdução das apostas hípicas em Portugal? O Governo lançou um conjunto de Diplomas na área do jogo, abrangendo o jogo online que era necessário fazer. Quando avaliámos o jogo online observámos que ele pode ser feito nomeadamente nas apostas hípicas em Portugal e nos outros países. Olhando para o que as apostas hípicas online fizeram nos outros países que desenvolveram grandes fileiras equestres, não fazia sentido nenhum não as fazermos, aí permitame dizer que esta é uma estratégia que também está ligada a uma política de desenvolvimento global. Foi a partir daí que trabalhámos com todo o empenho nesta oportunidade para desenvolver as corridas e as apostas hípicas. Nesta primeira fase pretendíamos publicar todos os Diplomas que ainda faltam, provavelmente durante os meses de Maio e Junho, importando criar toda a estrutura legal para que se possa desenvolver esta fileira. Parece-me que desta vez conseguimos e estou muito feliz, independentemente de ser perfeita ou imperfeita, de fazermos uma legislação para que finalmente se possa avançar. Nos países onde se fazem apostas hípicas predomina o sistema francês mutualista, foi uma surpresa este Governo ter incluído na Legislação o sistema inglês dos bookmakers, visto que isso anteriormente nunca foi contemplado, a que se deveu essa escolha? Para as apostas hípicas adoptámos unicamente o sistema francês mutualista, contudo, em circunstâncias especiais, podemos adoptar o sistema inglês após análise e estudo cuidado. O sistema inglês será adoptado em algumas apostas online, nas apostas hípicas adoptamos apenas o sistema francês. A Santa Casa da Misericórdia de Lisboa terá o exclusivo das apostas hípicas iguais ao modelo francês. Quanto aos bookmakers, isso 52
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mo que é essencial para Portugal e é bom que o mercado agarre esta oportunidade, estou confiante que vai resultar.
Nuno Vieira e Brito com Victor Malheiro é um outro Diploma que irá ser feito onde efectivamente os bookmakers poderão entrar nas apostas online em casos específicos. Qual é a posição do VicePrimeiro-Ministro Paulo Portas acerca das corridas de cavalos e apostas hípicas ? Vânia Dias da Silva, Subsecretária de Estado Adjunta do Vice-Primeiro-Ministro, Paulo Portas: Vários Governos tentaram levar a cabo essa tarefa mas não conseguiram, se tudo correr bem nós concluiremos o processo com a publicação dos últimos Diplomas que faltam. Entendemos que era inadmissível deixar ficar para trás um mercado com tanto potencial ao nível da agricultura e da economia nacional. Depois de publicados os Diplomas, ainda falta o aval do Presidente da Républica, antevê alguma dificuldade nesse sentido?
Julgo que não vamos ter nenhum problema nessa matéria. A Santa Casa da Misericórdia de Lisboa e os casinos expressaram publicamente no passado a sua oposição às apostas mútuas hípicas. O Governo desta vez incluiu estas duas entidades no processo com o intuito de não haver forças contrárias ou porque poderiam ser uma maisvalia? Nestas coisas é importante que se consiga o apoio do máximo de entidades para se articular bem as coisas. Para além disso, o conhecimento das duas entidades do mundo do jogo em geral é muito grande e não fazia sentido afastar quem tem experiência nestes processos. Vê com optimismo este processo das apostas hípicas e das corridas de cavalos? Para além do gosto pessoal que tenho pelos cavalos, penso que é da máxima importância dinamizar este sector, diria mes-
Qual a importância que o Ministério da Economia atribui à fileira equestre em Portugal, com o potencial das apostas hípicas como fonte de receita? Helena Vilasboas Tavares, Adjunta do Ministro da Economia António Pires de Lima: Os cavalos de corrida em Portugal vêm desenvolver toda uma actividade económica que gira à volta das apostas hípicas e que é geradora de desenvolvimento e riqueza em todas as suas vertentes. A maior importância é colocar Portugal na rota internacional das corridas de cavalos e das apostas hípicas com todas as consequências positivas que isso traz. Uma das vertentes mais importantes no que diz respeito ao sucesso ou insucesso das apostas hípicas, como aconteceu em vários países, é a parte fiscal, o Governo teve o cuidado de estudar o porquê das apostas hípicas serem um sucesso nuns países e terem falhado noutros? Todas as medidas legislativas, antes de serem implementadas, são alvo de um estudo de impacto normativo, garantidamente que esse estudo foi feito mas há situações que só depois se revelam viáveis ou inviáveis, podendo ser alteradas e melhoradas, o pro-
CORRIDAS
cesso legislativo é sempre um processo dinâmico. Este Governo optou por seguir uma linha em que existe uma carga fiscal maior para o apostador e uma distribuição mais abrangente das verbas resultantes das apostas, a prática demonstra em muitos países que nem sempre é a melhor solução. Porquê essa escolha? O que deve presidir no que se refere à gestão fiscal é o princípio da máxima equidade possível e é isso que deve ser sempre privilegiado pelo legislador. Em relação ao calendário de provas houve várias alterações e o começo do campeonato acabou por ser adiado, a que se deveram essas alterações? Ricardo Carvalho, Presidente da Liga: O campeonato era para começar no dia 26 de Abril, mas devido às condições climatéricas desfavoráveis a primeira prova do campeonato passou para o dia 1 de Maio. Como estavam reunidas as condições para fazer uma reunião memorável, resolvi organizar uma recepção aos membros do Governo aproveitando o facto de estar presente um canal de televisão francês. Este ano, há uma importante alteração que é questão das pistas fixas e não fixas obrigadas pelas alterações feitas ao regulamento já a pensar no futuro das apostas, isso não vai causar problemas porque obrigatoriamente vai deixar de fora algumas das corridas que mais público atrai mas que são realizadas em pistas não homologadas segundo as novas regras? Temos esta contingência mas precisamente para não eliminar provas tão importantes que se realizam no Verão, no nosso regulamento prevemos a realização em pistas não fixas. A diferença para as provas em pistas fixas são as pontuações que não contam para o campeonato nacional.
Em relação aos hipódromos, o que vai estar previsto na legislação? A Lei prevê a construção ou o aproveitamento de uma infraestrutura já existente e depois conforme as necessidades, numa primeira fase, a construção de mais dois hipódromos que cubram o território nacional, Norte, Centro e Sul. Já existem candidatos assumidos à construção de hipódromos? O caderno de encargos relativo às condições que os hipódromos terão que ter ainda não saiu e isso vai condicionar vários projectos existentes por todo o país. Fala-se muito, por exemplo, de Portimão, Vilamoura, Aveiro, Cascais, Coimbra, Lisboa, Oeiras, Leiria, Espinho, Porto, Cabeceiras de Basto, Ponte de Lima, Felgueiras, Maia e muitos outros, mas serão as condições físicas e económicas do projeto-Lei, a solidez financeira dos intervenientes e o interesse turístico que irão condicionar as escolhas. As alterações ao regulamento geral de provas da Liga, im-
postas pela nova legislação sobre as apostas, não vai castrar em demasia o campeonato este ano? Manuel Armando, Director Técnico Nacional de Corridas: Os regulamentos internacionais da European e Mediterranean Horse Racing Federation, da qual a Liga faz parte, obrigam a que sejam feitas alterações nas pistas em Portugal, daí a divisão entre pistas fixas e pistas não fixas. Na prática isso vai fazer com que o campeonato nacional este ano, seja drasticamente reduzido para apenas três locais que estão homologados, Felgueiras, Maia e Golegã, mas penso que isso não prejudicará muito o campeonato, pelo menos não tanto como pode parecer, porque criámos um regulamento próprio para que as provas nas pistas não fixas se possam realizar com todas as condições de segurança, a única diferença é que não pontuam para o campeonato nacional. Sendo poucos os meios em Portugal e não havendo o apoio financeiro das apostas hípicas, isso obriga a uma sobrecarga
cada vez maior dos proprietários. Não se corre o risco de estes se virarem para a realização das chamadas “corridas rurais” que têm muito menos exigências a todos os níveis? Isso é um risco que se corre porque o Norte tem uma forte tradição nas corridas de cavalos populares, a única coisa que a Liga pode fazer e faz é castigar todos aqueles que entrarem em corridas ilegais e impedir que participem em corridas que contam para o campeonato nacional. Como presidente do Centro Equestre da Maia, que faz a gestão do Hipódromo Municipal, esta infraestrutura continua a ter o apoio incondicional da edilidade e respectiva Junta de Freguesia? Sem dúvida, a Câmara Municipal da Maia e a Junta de Freguesia de Nogueira/Silva Escura, apoiam incondicionalmente este projecto que está em constante evolução e terá como objectivo ser um dos três hipódromos que a Lei vai contemplar numa primeira fase.n Fotos de Victor Malheiro/ Ricardo Lopes/Júlio Ornelas
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CRÓNICA
APARELHOS NOS DENTES O SOL FORTE E QUENTE PARECE INDIFERENTE AOS CHAPÉUS DE SOL ABERTOS NO BAR DA PISCINA. EMBORA NÃO OS CONSIGA PASSAR COM TODOS OS SEUS RAIOS, POIS O CHAPÉU REALMENTE FAZ ALGUMA SOMBRA, PARECE QUERER DIZER: - O “REI” SOU EU! EU É QUE MANDO AQUI! calor é quase insuportável (eu gosto, mas o resto das mães parecem prestes a desmaiar). Até o vento parece ter fugido do calor, provavelmente fugiu para um local um pouco mais fresco. Na piscina as crianças refrescam-se em alegres brincadeiras, enquanto a maioria das mães se queixa da sauna gratuita, mas forçada. Sem me queixar, porque o leque que eu trago sempre comigo é-me suficiente para a temperatura que me envolve se tornar agradável, olho em
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Rita Gorjão Clara
volta divertida com todos os queixumes e lamentos. Embalada naquela lamúria de queixas alegres dou por mim a reparar num pormenor: 90 por cento das “mães” que estão no bar da piscina apresentam-se de aparelho ortodôntico, será coincidência ou terá mesmo virado moda? Com mais atenção reparo
que há desde os discretos aos exuberantes de elásticos fluorescentes (este último até é da cor das unhas de gel da sua proprietária). Curiosa começo a reparar nas criancinhas que de vez em quando vêm às mesas para dar ou receber algum recado. Não são todas, mas muitas delas exibem nas suas lindas
dentaduras o dito aparelho. Como não consigo estar muito tempo sem ter nada para fazer, em vez de pegar no livro que tinha trazido para ler (já ando com ele há mais de um ano, levo-o para todo o lado, mas ainda não tive tempo de o terminar) vasculhei a minha carteira à busca de papel e caneta e resolvi
CRÓNICA
escrever o artigo, já tenho tema, os aparelhos fizeramme lembrar de uma conversa que eu tinha tido com uma amiga espanhola, sobre um cavalo a quem os médicos veterinários assistentes lhe tinham colocado um aparelho de braquetes e arames! Tudo começou na Feira de Sevilha, entre dezenas de sevilhanas bailadas e muitos copos de água com gás, gelo e limão bebidos (este é o meu truque para os meus amigos espanhóis pensarem que eu estou a beber gin tónico. Se eles sonhassem que eu não estou a beber uma bebida alcoólica não me deixariam de chatear. Portanto não lhes digam!), quando a Rocío cansada, sentou-se numa cadeira e começou a mostrar-me, no telemóvel, as fotos do dito cavalo. Logo, logo, pensei que ela estava a brincar comigo, mas
depois percebi que os “nuestros hermanos” tinham levado o “arranjo dos dentes” um pouco mais longe… Este cavalo tinha nascido com problemas dentários. Os
pinças centrais não tinham caído, pois os definitivos estavam desviados tendo começado a nascer lateralmente aos de leite. Para que o cavalo pudesse sobreviver (visto os
dentes serem necessários e indispensáveis a uma boa mastigação e consequentemente a um bom crescimento sem problemas de cólicas) tiraram-lhe os pinças centrais e laterais de leite, esperaram que os centrais definitivos nascessem, colocaram um aparelho para os unir, para que no ano seguinte os laterais definitivos pudessem nascer correctamente. Achei o máximo! Sempre vos escrevi sobre a importância de verificar o estado dos dentes dos vossos cavalos, pois os dentes podem ser a razão de claudicações, cólicas e outras doenças, mas ainda não me tinha aparecido nenhum caso em que fosse preciso usar um aparelho! Talvez não seja moda, afinal talvez seja mesmo necessário à saúde e bem-estar de humanos e de alguns animais! n
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TAUROMAQUIA
EM MADRID… QUE OS TOUREIE SAN ISIDRO!!! NÃO É DE AGORA, VEM JÁ DOS ANOS DA VELHA PRAÇA DA PORTA DE ALCALÁ; A AFICIÓN, INSTALADA EM MADRID, POR MAIS SÁBIA QUE SEJA, NÃO PASSA DE INTOLERANTE E ATÉ CRUEL. arece que sofrem de síndrome bipolar colectiva e se é facto que sabem dispensar uma farta ovação de saída aos toureiros que lhe caem no goto, são também capazes de broncas desapiedadas e sem sentido a quem vestido de luzes se tem que enfrentar aos morlacos pesadões que são do seu gosto, que tristemente a opinião do veterinário Borregón Martinez ajudou a impor.
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Domingos da Costa Xavier
É por tudo isso que em definitivo Madrid não é a minha Praça, preferindo bem mais e respeitando bem mais as Praças em que o público sabe exibir sensibilidade. Razão teve “Guerrita”, a seu tempo o ano do
toureio, quando escutou uma bronca a destempo que não entendeu porque havia estado a gosto malgrado as dificuldades do toiro e proferiu – “Em Madrid … que os toureie Santo Isidro!!!” e de facto nunca mais se deixou
contratar para tal Praça. Tudo isto a propósito dos trinta e um eventos isidrenhos que o Canal + disponibilizou, cobrindo a totalidade da maior Feira Taurina de sempre. Foi bonito viver o dia a dia do que dizem ser (e aí concordo…) a Feira mais importante do mundo, chegando até Paco Aguado, um dos mais interessantes intelectuais a escrever sobre toiros ao momento, a afirmar que “Madrid é o exame anual obrigatório para tudo o que é e quer ser grande no mundo do toiro” (dixit). Os cartéis, confessemos estavam rematados, e à parte Ponce, quase todas as figuras surgiram no ruedo. As ganadarias teoricamente recomendavam-se, a prática provou outra coisa. O vento, tanto como os maus toiros, foi o pior inimigo dos toureiros. Sobre o público já falámos, só não tendo referido o fiel mas não raro execrável 7, que tem em seu seio indivíduos que se insultam a si próprios logo de manhã quando vêem a sua imagem ao espelho,
e só vão fazer a barba. É assim. Outro problema de Madrid são as presidências. Raros são os que são mesmo taurinos, e até os assessores exibem alguma senilidade, e assim são mais que discutíveis os seus critérios de atribuição de troféus. Em toda a Feira só uma vez os actuantes saíram todos a ombros e eram… rejoneadores! A facilidade com que premeiam os toureiros montados e o difícil que põem as coisas a matadores honrados que com maus toiros e vento jogam a vida, não nos parece critério rigoroso. Sempre pensei que a saída do interior para a cultura daria resultados, mas passam os anos e os comissários de polícia continuam a ditar a “sua” lei, pois por vezes (muitas) não respeitam a lei geral que reza que o público é soberano e que é a maioria que outorga o primeiro troféu. Enfim, sobra de toda a Feira a grande faena de Castella a um
sobrero de El Toreo, tão só um dos toiros mais bravos que me foi dado ver e o gaulês esteve à altura ou até por cima dele; as faenas de Lopez Simón aos pupilos de Las Ramblas; as Verónicas de Morante ao seu segundo de Alcurrucén; a faena de Manzanares a um de El Pilar; a faena de Abellán a um Parladé no meio do vento e, como já vos disse o que fizeram os do rejoneio, com Moura Filho a creditar-se com uma peluda, Rui Fernandes com uma boa actuação e pesado com os rojões e com Ventura, espanhol de São Sebastião da Pedreira, mais uma vez pela porta grande. Desiludiram as chamadas ganadarias toristas, com Ibán, Partido de Resina, Cuadri, Victorino del Rio, Adolfo Martin, Victorino e Miura (estes até caíram, pese o razoável toiro que Rafaellillo lidou em segundo lugar), deixando provado que têm que rever os seus critérios,
dado que assim nem dão lide nem assustam. Em baixo plano, deixaramse alguns exemplares de Fuente Ymbro, de Parladé, de Juan Pedro e de Cuvillo, que alguns toureiros entenderam e apesar do saldo ter sido melhor que em anos anteriores, o maior sucesso foi mesmo o dos empresários que tiveram quase sempre casa cheia. Que acabe, entre tristezas e alegrias, por aqui confessar a alegria que me deu no dia 14 de Maio no Campo Pequeno, Manuel Ribeiro Telles Bastos, com duas lides magistrais. A cavalo como raros estão, entendeu os oponentes, mexeu como convinha, cravou com maneiras e exibiu o que por vezes em temporadas anteriores lhe faltava – uma alegria contagiante, que chegou muito forte ao público. Que feliz terá ficado o avô David com um triunfo deste calibre. Parabéns Manuel! n
VETERINÁRIA
DENTISTERIA EM CAVALOS DE DESPORTO sistências, etc. Geralmente o mais aconselhado é a extracção destes dentes.
Fig. 1A - Anatomia da boca do cavalo
PORQUÊ PREOCUPAR-SE COM OS DENTES?
Fig. 1B - Nomenclatura usada em dentisteria equina, em que a boca é dividida em 4 quadrantes
Joana Alpoim Moreira
João Paulo Marques
OS CAVALOS TÊM DENTES COMPRIDOS QUE SE DESGASTAM LENTAMENTE AO LONGO DAS SUAS VIDAS, OU SEJA, TÊM UM CRESCIMENTO CONTÍNUO.
medida que a mastigação da sua dieta desgasta um pouco a superfície dos dentes, eles vão crescendo para compensar o desgaste. Porém com o tipo de maneio que os cavalos de desporto têm (pouco ou nenhum tempo no pasto e alimentação concentrada- ração) o cuidado dentário é muito importante.
À
COMO
É CONSTITUÍDA A
BOCA DO CAVALO?
O cavalo tem 12 dentes incisivos (6 na arcada superior e 58
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6 na arcada inferior) e a sua função é a de seleccionar e cortar os alimentos (Fig. 1). Os cavalos machos (castrados ou inteiros) e uma pequena percentagem de éguas têm 4 dentes caninos (2 em cima e 2 em baixo), encontrando-se estes ligeiramente atrás dos incisivos. Atrás destes dentes (e do espaço onde assenta a embocadura) estão os pré-molares (6 em cima e 6 em baixo) e os molares (6 em cima e 6 em baixo), responsáveis pela mastigação dos alimentos. Podem ainda existir
dentes vestigiais, tanto em machos como em fêmeas, e que são conhecidos como dentes de lobo. Estes dentes aparecem à frente dos dentes pré-molares na arcada superior (mais comum) e/ou na arcada inferior. Quando estão presentes frequentemente provocam problemas a nível de equitação, tais como abanar a cabeça quando é exigido contacto, re-
Fig. 2 - Pontas Afiadas (
Cuidados dentários insuficientes podem causar malnutrição, perda de peso, cólicas crónicas, ulceração da língua e bochechas, inflamação da língua, doença peridontal e até mesmo a incapacidade de comer (Fig. 2). No que diz respeito à performance (desempenho desportivo), o desconforto dentário pode manifestar-se como o abanar da cabeça, baixar a cabeça, resistência à embocadura, evitar o contacto com as rédeas, “pendurar-se” numa ou noutra rédea, “ir atrás do bridão” e até mesmo recuar. Também não é de surpreender que a dor causada pelos dentes possa provocar um comportamento difícil e de irritação. Por estas razões, o nivelamento dentário é de extrema importância nos cavalos em geral e em especial nos cavalos de desporto (Fig. 3).
) e Ferida na Bochecha (
)
VETERINÁRIA
EM
QUE CONSISTE O NIVE-
LAMENTO DENTÁRIO?
Fig. 3 – O nivelamento dentário deve ser realizado regularmente de 6 em 6 meses
Cuidar dos dentes do cavalo não se resume apenas a limar as pontas “afiadas” com uma lima. O objectivo é também restabelecer o equilíbrio na boca do cavalo de modo a evitar sobrecrescimentos exagerados e o consequente desgaste excessivo da dentição. Este restabelecimento do equilíbrio do desgaste dos dentes tem uma grande influência no equilíbrio e movimento do cavalo, e também na sua saúde dentária a longo prazo (Fig. 4). Por exemplo, um cavalo com uma boca desnivelada (i.e. os dentes pré-molares e molares não uniformes em altura ou com incisivos muito compridos) pode sofrer uma alteração do movimento das arcadas dentárias e além do cavalo poder não mastigar correctamente também pode sofrer alterações (artroses e dor) nas articulações temporo-mandibulares. Muito frequen-
temente os cavalos com dor nas articulações temporo-mandibulares ficam com um comportamento irascível além de resistirem
a certo tipo de movimentos. Limar as pontas “afiadas” permite ao cavalo mastigar melhor mas além dos benefícios a
Fig. 4 – Os dentes incisivos muito compridos podem impedir o movimento lateral natural da mastigação e também provocar alterações na articulação temporo-mandibular, pelo que devem ser reduzidos quando são excessivos
VETERINÁRIA
nível da alimentação, existem também benefícios a nível da equitação pois os cavalos ficam mais confortáveis com a embocadura. Quando têm pontas aguçadas, reagem mal às “ajudas” dadas pelas rédeas e embocadura, “resistem” às focinheiras, recusam submeter-se a colocações de cabeça, tentam fugir do bridão (evitam o contacto) e mordem o bridão. Podem também desenvolver vícios de equitação para evitar o desconforto na boca causado pelos dentes pontiagudos. Além do nivelamento normal dos dentes, o conforto do cavalo pode ser melhorado e com isso também a sua performance, se forem criados os “bit seats”. O
fortável com o bridão (Fig. 7). De um modo geral um cavaleiro com poucas exigências não notará grandes objecções ou sinais de desconforto nos seus cavalos na ausência de “bit seats” (mas o mesmo não é verdade para as pontas afiadas). Contudo, um cavaleiro mais experiente, que exija uma performance de alto nível com mais contacto pode notar uma resistência considerável do cavalo. Independentemente da disciplina, quanto mais elevado for o nível de trabalho maior é a necessidade de um “bit seat” perfeito.
Dente pré-molar sem “bit seat”
Dente de Lobo
Caninos
Fig. 5 – Os dentes pré-molares devem ser arredondados no seu aspecto frontal para facilitar o contacto com a embocadura
Dente pré-molar após realização de “bit seat”
QUE SÃO E PARA QUE
SERVEM OS “BIT SEATS”?
Consiste na remodelação (arrendondar) do aspecto frontal (parte da frente) dos dentes pré-molares, tanto na arcarda superior (pré-molares maxilares; dentes 106 e 206) como na arcada inferior (pré-molares mandibulares; dentes 306 e 406), de modo a que quando a embocadura aperta a bochecha contra os dentes esta tenha uma superfície lisa e arredondada para fazer um contacto regular e confortável (Fig. 5). A sua forma natural é pontiaguda e angulosa e com o uso
Fig. 6 A - Antes de serem feitos os “bit seats”
Fig. 6 B - Depois de serem feitos os “bit seats”
de embocaduras a bochecha fica presa entre esta e os dentes pré-molares afiados, ou seja o bridão “belisca” a bochecha podendo provocar desconforto e dor (Fig. 6). Por isso é tão importante criar os “bit seats”, pois com este procedimento os dentes ficam arredondados e menos angulosos permitindo um contacto mais constante e con-
Fig. 7 – Com a criação dos “bit seats” o contacto com o bridão é mais confortável
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APENAS OS CAVALOS DE DESPORTO NECESSITAM DE NIVELAMENTO DENTÁRIO E “BIT SEATS”?
O nivelamento dentário é recomendável para todos os cavalos, pois mesmo que não estejam a ser montados podem ter alterações na forma de mastigação e consequentemente perdas de peso. Qualquer cavalo beneficia da realização dos “bit seats” mas quanto maior for a exigência a nível de equitação maior será a necessidade de se criar os “bit seats” e mais perfeitos estes têm que ser. n
J.A.M.
HISTÓRIA DA ATRELAGEM
XENOFONTE, FILIPE II E ALEXANDRE O GRANDE COMO REFERIDO NO ÚLTIMO ARTIGO DESTA SÉRIE, FALAR DE XENOFONTE PARECE-NOS INDISPENSÁVEL PARA A COERÊNCIA DA NOSSA EXPOSIÇÃO. NÃO TANTO PELA ATRELAGEM MAS PELO CAVALO. COMO ERA ENCARADO O SEU ENSINO E A PRÁTICA DA EQUITAÇÃO NA ANTIGA GRÉCIA?
Figura 1 enofonte escreveu a Hippike, usualmente traduzido entre nós como a “Arte da Cavalaria”, e este livro chegou até hoje de modo a constituir uma referência clássica fundamental e dos estudiosos e interessados pelo cavalo e pelo seu ensino desde os tempos antigos. É verdade que a arma principal dos gregos na arte militar era a infantaria com uma falange de hoplitas em formação cerrada de escudos e lanças, que apresentavam ao inimigo uma parede de pontas de ferro das suas sarissas, lança comprida das formações gregas e macedónias, apoiadas por fileiras sucessivas de escudos metálicos que se movimentavam em bloco (fig. 1). Mas já no período clássico (século V a.C.) Péricles viu a necessidade de a complementar com a utilização da cavalaria, alguns dizem que por imitação dos persas que a utilizavam, nomeadamente quando, em diversas ocasiões, invadiram a Grécia.
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J. Alexandre Matos
J.P. Magalhães Silva
Lembremo-nos que os gregos luxo desportivo ou de prestígio, eram muito aficionados, tanto os cavalos bons eram valiosos e de corridas de atrelagem, como não destinados a serem sacrifide corridas de cavalos monta- cados de qualquer maneira em dos, e o domínio e treino dos guerras ou confrontos incertos. animais desde há muito que Tanto mais que os gregos não era importantíssimo na reali- usavam estribos ou selas e que zação destas competições. O a condução dos animais era feita apreço dos gregos pelo cavalo com bridões articulados (que era grande, não só pelo seu constituem, em cavalaria e na uso, como também pela sua atrelagem, as embocaduras mais estética. Nada era superior em frequentes que a arte e o espólio prestígio do que ser represen- arqueológico nos deixaram), se tado em pintura, baixo-relevo bem que o freio já fosse conhecido na Pérsia ou escultura dessa época, montando um conforme afircavalo ou mam alguns guiando uma autores (fig. 2). biga ou uma Xenofonte, quadriga. ateniense culMas, sendo Figura 2 to, historiador objectos de
e erudito, autor de muitas obras hoje ainda conhecidas, que fazem parte da literatura clássica e que são referências para os estudiosos da época, era também um homem de acção, soldado profissional e mercenário ao serviço de Ciro na Pérsia. Mais tarde general, voltou a Atenas e escreveu uma obra chamada “Hippyarchicus” sobre as características que um bom comandante de cavalaria deveria ter. Continuou também Xenofonte a obra de Tucidides sobre a Guerra do Peloponeso e, amigo e discípulo de Sócrates, volta da sua aventura persa de 2 anos e meio, semanas apenas depois da execução deste, obrigado pelo tribunal a tomar sicuta, sob acusações julgadas por muitos à época como injustas mas perante as quais o próprio Sócrates não quis fugir da correspondente sentença. Há mais do que uma razão para nos debruçarmos sobre a figura de Xenofonte e dos seus escritos sobre equitação e outras obras. A principal é que ainda hoje a sua atitude perante o ensino do cavalo e postura do cavaleiro sobre o seu dorso são admirados e tomados como fundamento do melhor saber equestre. O seu método é de treino progressivo, com doçura e persuasão, e de subtileza das ajudas, assegurando uma capacidade básica e atlética ao animal, com repetições de exercícios e flexões várias que unem o cavalo ao cavaleiro numa prática de entendimento mútuo, formando um conjunto coerente de destreza e coragem.
HISTÓRIA DA ATRELAGEM
Figura 3 Não sabemos até que ponto o que Xenofonte escreveu sobre equitação, a postura (ou posturas várias) a adoptar pelo cavaleiro, a subtileza, a doçura e paciência dos seus métodos de ensino, e outras considerações sábias sobre os animais passaram para a arte da atrelagem, mas julgamos que a atenção do conhecimento dos seus contemporâneos sobre esta matéria, foi influenciada pelos seus escritos e estes não só veiculam mas também traduzem, para a actualidade, o interesse que as classes superiores, mais cultas, ricas e poderosas da Grécia (e depois, da Macedónia) dedicavam ao cavalo e ao seu ensino, fosse para cavalaria, fosse para a atrelagem. Há ainda outro aspecto relacionado com Xenofonte e a sua obra escrita que julgamos pertinente focar neste artigo: Xenofonte escreveu sobre a sua experiência de soldado e mercenário na Pérsia, conhecida como a “Anabasis” (ou “Retirada dos 10 000”). Aí se relata como um corpo de soldados profissionais gregos, ao serviço de um príncipe chamado Ciro da Pérsia (não confundir com Ciro I, o Grande, fundador do
império em questão), integrou o exército deste ao disputar com seu irmão, Artaxerxes (depois Artaxerxes II) o trono da Pérsia, deixado vago após a morte de Dario II, em 404 a.C. Ao pé de “Cunaxa“, sobre o Eufrates, a noroeste de Babilónia, Artaxerxes mandou avançar o seu poderoso exército sobre o de seu irmão (fig.3, carro de guerra persa). Mas a formação grega, ao serviço de Ciro, lança por sua vez os seus ataques rápidos e bem sucedidos sobre o adversário com resultados devastadores sobre a ala persa que se lhe opunha, a qual foi tomada de pânico. Mas, noutro sector da batalha, Ciro foi mortalmente atingido num dos olhos por um dardo e, caindo do cavalo, foi massacrado com todos os seus guardas mais próximos e fiéis que o tentaram proteger. Derrotado o exército de Ciro, mas relativamente incólume o corpo grego que o integrava, este estabeleceu um acordo com o Sátrapa (governador de província) Tissafernes no sentido de deixar evacuar os sobreviventes através dos territórios persas sobre os quais agora reinava Artaxerxes. Mor-
to Cloarco e outros oficiais gregos numa cilada montada por Artaxerxes, retiraram os helenos, chefiados então por Xenofonte, até às margens do Mar Negro, passando por muitas privações e aventuras, mas sem que o exército persa se atrevesse a confrontá-los directamente, limitando-se ocasionalmente a atacar-lhes a retaguarda ( fig. 4, “Retirada dos 10 000”: Chegada ao Mar Negro). Em 399 a.C. estavam em Bizâncio, tendo Xenofonte voltado a Atenas. O grosso deste exército grego, no entanto, não dispersou e apesar das muitas vicissitudes por que tinha passado voltou a militar, agora ao serviço de Esparta, contra Tissafermes, continuando a luta na Ásia Menor. Do que atrás se relatou julgamos poder tirar alguns dados e informações: 1º: o exército persa usava carros de guerra nas suas formações de batalha, e é assim provável que os gregos tenham aprendido a contrariar a sua acção, familiarizados que estavam com a sua utilização, face à sua experiência passada como mercenários; 2º: esta luta levou os gregos e
macedónios a aprender também com os persas a melhor utilização da cavalaria, cuja presença em batalha, como arma auxiliar da falange, haveria de resultar em tantos sucessos de Filipe II da Macedónia e, depois, de seu filho Alexandre o Grande, que a haveria de utilizar com uma maestria, a que poderemos chamar cirúrgica, nas suas batalhas principais; 3º: como última nota, salientada pelos historiadores versados nesta época, é a de que a “Retirada dos 10 000”, tal como relatada por Xenofonte na “Anabasis”, foi um êxito militar, convenceu a Grécia e depois a Macedónia, e Alexandre o Grande, de que a Pérsia, não obstante a riqueza do seu império e a multidão de homens armados que a serviam, não era imbatível, e que um exército coerente, motivado e disciplinado poderia, como o tinham feito aqueles 10 000 homens, impor a sua estratégia a forças superiores e sair vencedores contra os pesados carros de guerra da atrelagem militar persa. (ver figura 4, carros persas). Tudo isto será da máxima importância para a fase seguinte da História e para a história da atrelagem. n
Figura 4
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Foto: Alexandra Lotz
MEZÖHEGYES - A MAIS ANTIGA COUDELARIA NACIONAL DA HUNGRIA LIGA A TRADIÇÃO AO FUTURO FORA DO HABITUAL ROTEIRO TURÍSTICO, MESMO NO SUDESTE DA PLANÍCIE HÚNGARA, A APENAS ALGUNS QUILÓMETROS DA FRONTEIRA COM A ROMÉNIA, ENCONTRA-SE UM LUGAR ONDE A HISTÓRIA DA CRIAÇÃO DE CAVALOS FOI ESCRITA: MEZÖHEGYES. pesar de todas as mudanças políticas e sociais, esta base especial pôde preservar o charme dos últimos séculos e até hoje o cavalo está no centro das atenções.
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ao capitão de cavalaria Barão József Csekonics de Zsombolya (1757-1824), que acreditava que a criação cavalar na Hungria apenas podia florescer nas mãos de directores coudélicos
profissionais, sob égide do estado. Ele conseguiu convencer o sucessor de Maria Theresia, Josef II, a estabelecer instituições estatais de criação de equinos e a 20 de Dezembro de
1784 o documento da fundação da coudelaria militar Mezöhegyes foi assinado. A principal função da instituição era providenciar cavalos para o exército. Csekonics foi nomeado como o primeiro director da coudelaria e liderou a instituição por 20 anos.
FUNDAÇÃO COMO Depois das guerras no reinado de Maria Theresia, a monarquia Austro-húngara sofreu uma severa falta de cavalos, o que enfraqueceu a economia e as forças armadas do império. Tal como Bábolna, que foi fundada cinco anos mais tarde, Mezöhegyes deve a sua existência 64
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Foto: Alexandra Lotz
COUDELARIA MILITAR
DESENHADO NA TELA Na Primavera de 1785 a construção iniciou-se numa área gigante de uma propriedade imperial abandonada, árida em grande parte, primeiramente sob os desenhos do famoso arquitecto de Praga József Jung e após 1805 sob a direcção
LOCAL DE NASCIMENTO DAS RAÇAS EQUINAS HÚNGARAS
Nas primeiras décadas a criação cavalar em Mezöhegyes estava destinada ao infortúnio.
Foto: Alexandra Lotz Foto: Endra Tóth
Não existia um tipo de cavalo homogéneo; os critérios da selecção para a criação de cavalos eram o tamanho e a cor. Os padrões de higiene insuficientes e o parco conhecimento veterinário, em conjunto com uma frequente alteração no efectivo equino, típico das coudelarias militares, levou a inúmeras doenças. No final do séc. XVIII a coudelaria albergava vários milhares de cavalos. Em 1793 cerca de 1000 éguas de criação
Foto: Gabriella+Gabór Bunda
de János Hild, responsável pela criação do primeiro plano de renovação urbana de Budapeste. Primeiro, o lugar de 42 mil Kleinjoch (equivalente a 15 950 hectares), que estava rodeado por valas, foi dividido em 84 parcelas quadradas. A estrutura que daí resultou foi pensada desde início para agricultura em larga escala, o que teve um impacto determinante no desenvolvimento futuro. Até hoje a área mantém o número inicial de parcelas de terreno. A base militar esteve sob a autoridade do Ministério da Defesa e foi habitada por soldados, oficiais e respectivas famílias. Pelo seu carácter de pequena aldeia e pelo padrão uniformizado dos seus habitantes, Mezöhegyes era obviamente diferente das outras povoações da planície sulista. No centro da base estavam posicionados os edifícios principais da coudelaria: o edifício da administração, o picadeiro, os estábulos para garanhões, cavalos de montar e de atrelagem e as casas para os funcionários e suas famílias. As construções circundavam três grandes pátios com picadeiros e espaços para execução de reprises. Portões grandes abrem e fecham cada pátio, através dos quais uma rua direita atravessa todo o conjunto arquitectural. A uma curta distância da base, foram estabelecidas quintas-satélite para as éguas e para os poldros. Os grandes celeiros e silos de cereais são ainda elementos adicionais que caracterizam a vasta paisagem da coudelaria. Fileiras de olmos davam sombra e decoravam as ruas principais. Em 1819 foram plantados plátanos vindos da Índia no pátio central da coudelaria e alguns exemplos preciosos ainda podem ser admirados hoje.
pariram 830 poldros. Os registos de 1809 mostram que em algumas semanas uma epidemia varreu perto de 1000 cavalos. Em 1814 o depósito de cavalaria foi abolido e a coudelaria continuou a servir apenas com o objectivo da criação, eliminando-se um importante factor de risco. Nos anos seguintes, três das mais significativas raças húngaras passaram a estar em Mezöhegyes: os cavalos Nonius, Gidran e Furioso-North Star.
Foto: Alexandra Lotz
INSTITUCIONAL
O Lipizano Húngaro também começou a sua criação aqui, mas foi relocalizado várias vezes e está hoje situado em Szilvásvárad, no norte do país. AGRICULTURA EM LARGA ESCALA
Na sequência da indemnização da Áustria à Hungria em Dezembro de 1869 Mezöhegyes, assim como todas as restantes coudelarias húngaras parte do império, foi entregue à Hungria e colocada sob a égide do Ministério da Agricultura, da Indústria e do Comércio como "Coudelaria Real do Estado Húngaro". A coudelaria foi separada da área agrícola e o conhecedor homem de cavalos Ferenc Kozma foi contratado para reformular todo o sistema coudélico do reino. Na sua gestão, Mezöhegyes celebrou sucessos nas feiras mundiais de Viena (1873) e Paris (1878). A quinta também se desenvolveu positivamente e tornou-se uma das maiores e mais modernas empresas agrícolas de Europa. Em 1883 Mezöhegyes foi equipada com a sua própria ligação ferroviária e até ao final do séc. XIX foram erguidas fábricas de açúcar, tijolos e cânhamo, contribuindo para o desenvolvimento económico. 66
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O número de habitantes cresceu de 423 pessoas em 1870 para 7006 pessoas em 1900. MUDANÇAS NO SÉC. XX Tal como noutros locais, as duas guerras mundiais mudaram a vida. No final da 1.ª Guerra Mundial Mezöhegyes foi ocupado pelo Exército Real Romeno. Quando os soldados partiram em 1920, levaram tudo o que podiam carregar. Durante os dois últimos meses da 2.ª Guerra Mundial, a linha da frente passou por Mezöhegyes. A 28 de Setembro de 1949, as tropas do Exército Vermelho chegaram ao centro da cidade. Durante a reforma agrária no final da guerra, a terra foi entregue aos novos habitantes. À maioria faltava equipamentos, animais de tracção e experiência na agricultura, pelo que muitos desistiram dos seus terrenos e acabaram por se juntar à grande empresa agrícola. O estabelecimento da agricultura húngara não parou nos portões da coudelaria. Depois de outra reforma no início dos anos 60, o foco passou a estar nos cavalos de desporto, com recurso a sangue importado, principalmente da região Holstein da Alemanha. Das raças tradicionais húngaras, apenas
os cavalos Nonius permaneceram em Mezöhegyes e após apenas 18 anos, a equipa húngara, que montava exclusivamente cavalos de desporto de Mezöhegyes, alcançou o 4.º lugar nos Jogos Olímpicos de Moscovo em 1980. NOVA
ORIENTAÇÃO E PRE-
SERVAÇÃO DA HERANÇA CULTURAL
Na sequência das alterações políticas no final do século XX, a empresa agrícola estatal à qual a coudelaria pertencia - assim como a maior parte da economia húngara - estava em más condições financeiras. Em 1992 uma empresa maioritariamente detida pelo estado foi criada, na qual o papel da criação cavalar era secundário. Em 2004 a empresa foi privatizada e apenas a coudelaria ficou nas mãos do estado. A Mezöhegyes Ltd. foi fundada com o objectivo de preservar as instalações da histórica coudelaria, a extraordinária herança cultural e a raça Nonius como a primeira raça de equinos húngara. A coudelaria consiste na zona central com as instalações de treino, onde os garanhões e os cavalos em treino são colocados, e os paddocks para as éguas com pol-
dros, que são criados em grupos separados, de acordo com a idade e género. Três funcionários encarregam-se do maneio de cerca de 300 cavalos. A coudelaria oferece visitas guiadas, passeios em carruagens e oportunidades para os visitantes montarem. Os hóspedes podem ficar no antigo edifício dos oficiais, que foi transformado no Hotel Nonius, e não devem perder um passeio pelo centro histórico da cidade, que apesar de alguns resquícios da era socialista, preservou o charme dos tempos áureos em que os oficiais e os habitantes civis enchiam as ruas entre a coudelaria, a estação ferroviária, o hotel e o casino. DESPORTO EM MEZÖHEGYES Apesar da sua localização, da distância para as capitais e para as principais estradas do continente, Mezöhegyes torna-se cada vez mais um centro para eventos equestres. As instalações da histórica coudelaria e o moderno hipódromo providenciam as condições perfeitas para diferentes ocasiões. A grande tradição da atrelagem húngara tem sido continuada com uma competição de três estrelas, que atrai os melhores condutores e também espectadores. Como parte do evento deste ano, de 16 a 19 de Julho Mezöhegyes recebe a 4.ª jornada da Taça de Atrelagem ESSA, a competição de atrelagem das Coudelarias Estatais da Europa. No último fim-de-semana de Setembro, os melhores cavalos novos de atrelagem juntam-se no hipódromo da coudelaria para o seu primeiro Campeonato do Mundo. Duas excelentes ocasiões para visitar Mezöhegyes! n
Texto: Alexandra Lotz/Tradução: Cátia Mogo
Contactos: Mezözhegyesi Állami Ménes Kft., Kozma Ferenc út 30, 5820 Mezohegyes, HUNGRIA Website: http://mamkft.hu/site/en/ (Inglês)
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LIVRE-SE DA RESISTÊNCIA NENHUM CAVALO NASCE COM A “BOCA DURA” A MAIORIA DAS AJUDAS QUE QUEREMOS ENSINAR OS NOSSOS CAVALOS A COMPREENDER E OBEDECER ENVOLVEM CEDER A PRESSÃO CONSTANTE. ESTE É O PRINCÍPIO QUE TEM UMA MENOR COMPREENSÃO INATA POR PARTE DOS CAVALOS, QUE TÊM NATURALMENTE O INSTINTO DE FAZER FORÇA CONTRA ESSA PRESSÃO OU DE SE AFASTAR DELA. ualquer pessoa que já fez “ski equestre”, ou seja, que foi arrastada por um cavalo em fuga enquanto se agarrava às rédeas, pode comprovar isto. Se os cavalos não resistissem contra a pressão aqueles que estão engatados nunca andariam para a frente quando sentissem o peso da charrete atrás deles. Grande parte das pessoas ensina inconscientemente os seus cavalos a serem insensíveis à pressão porque esse é um conceito a que nós, como humanos, não prestamos atenção. Mais tarde, essas mesmas pessoas queixam-se que os cavalos estão insensíveis e entorpecidos ou com a boca “dura” quando montados. Qualquer interacção que temos com o nosso cavalo ensina-lhe algo. Quem diz que não treina os seus cavalos mas que “apenas os montam” está a iludir-se, porque não é assim que o cavalo as vê. Se levar um cavalo do estábulo para o picadeiro, está a treiná-lo. Se criar tensão no bridão ou no cabresto em vez de ter a guia ou rédeas largas, então já o está a treinar para ser insensível às ajudas, e está a destruir o potencial que esse cavalo tem para uma comunicação com ajudas subtis. De cada vez que aplicar pressão a um cavalo estará a ensiná-lo que este deve fazer algo ou que pode ignorálo. A pressão motiva mas é o
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Janet Hakeney
largar que ensina. É no momento em que terminamos a pressão que o cavalo percebe e aprende que o estava a fazer no momento anterior a essa ausência de pressão era o que queríamos dele. O timing do ‘largar’ (quando paramos de pedir que faça algo) é crítico para o cavalo. Se esse largar for feito quando o cavalo está a opor-se ao que estamos a pedir-lhe (fisicamente a fazer força
na direcção oposta da nossa ajuda, algo que se chama reflexo de oposição) então estará a ensiná-lo que essa é a resposta que ele lhe deve dar para que a pressão acabe. É claro que, quando começamos a treinar um poldro ou um cavalo mais velho que aprendeu a ignorar a pressão constante, nenhum deles irá entender uma ajuda mais subtil. Mas se o seu objectivo for trabalhar para ter
? um cavalo que se move voluntariamente ao toque leve da sua perna e que pára facilmente, com o inverso de uma boca dura, apenas com o segurar das rédeas nos seus dedos então terá de ter a paciência necessária para lhe ensinar a resposta apropriada à pressão constante. De cada vez que usamos uma ajuda de pressão devemos começar com a mesma quantidade
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de pressão a que desejamos que o nosso cavalo responda quando já estiver completamente treinado, atento e sensível. Se não começarmos com essa quantidade de pressão, nunca chegaremos ao ponto em que o nosso cavalo é sensível à mesma. Os cavalos sabem “o que acontece antes de acontecer o que acontece”, e nós usamos os seus fortes instintos de antecipação como uma mais-valia neste caso. Eles rapidamente aprenderão, se formos consistentes no nosso treino, que uma pequena quantidade de pressão é seguida por quantidades crescentes de pressão, caso eles não façam o que lhes estamos a pedir, e que se desejam evitar uma forte pressão, então devem prestar atenção a uma pressão pequena e subtil. Obviamente que no início do treino nada irá acontecer com uma pressão leve e teremos de aumentar gradualmente essa pressão até obtermos uma “tentativa” por parte do cavalo. Quando o cavalo se move, mesmo que seja ligeiramente, na direcção que desejamos, então cessamos completamente a pressão. Peça o mesmo novamente e fique feliz com cada nova tentativa até que ele esteja
confiante de que lhe está a dar a resposta correcta antes de lhe pedir algo mais. Um exemplo deste processo pode ser visto num cavalo mais velho que aprendeu a levantar a cabeça quando lhe tentam pôr a cabeçada. Em vez de subir para uma cadeira ou pôr a cabeçada um pouco de cada vez (ambos casos que já presenciei!), ensine-lhe a ser calmo e confiante e a baixar a cabeça usando para isso a pressão constante do cabresto ou pondo-lhe a sua mão no topo do pescoço e
pressionando. Recompense cada pequena tentativa de baixar a cabeça, mesmo que seja por 1cm, com um largar completo da pressão. Deixe de exercer pressão de cada vez que a cabeça do cavalo desça ligeiramente do nível onde estava quando lhe pediu para baixála. Alguns cavalos levam muito tempo a perceber qual é a resposta certa para a questão que lhes estamos a pôr e frequentemente terá de esperar calma e pacientemente algum tempo até que estes juntem as peças
do puzzle e entendam qual será a resposta certa. Não fique frustrado com o animal e comece a puxar ou a dar esticões, mantenha somente a pressão constante e seja mais persistente que ele até que este tente fazer o que lhe está a pedir. Nenhum cavalo é mais alto do que a ponta das orelhas quando tem o focinho a tocar no chão! Há um grande mistério em torno da escolha de bridões para cavalos e como treiná-los para os aceitarem e obedecerem às indicações dadas por estes. A resposta mais simples é que há sete áreas na cabeça do cavalo onde um bridão, de acordo com a sua estrutura, pode exercer pressão (ou dor). São eles: 1. O canto dos lábios; 2. As barras da boca (entre os dentes incisivos e os molares); 3. A língua; 4. O céu da boca; 5. O nariz; 6. A curvatura do queixo; 7. A nuca. A única função de um bridão é exercer pressão, quer seja por peso ou por alavancagem, podendo este também ser inerte e neutro. Se o cavaleiro não está consciente da pressão que está a exercer na boca do cavalo, e se não o treina apropriadamente com o exercer e largar da pressão então este irá
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simplesmente aprender a ignorar essa pressão ou a exibir vários graus do reflexo de oposição, que variam do ligeiro ao extremo dessa escala. Estes cavaleiros tendem a recorrer ao uso de bridões maiores e por norma fecham a boca aos cavalos para que não se note – ou pelo menos não tão obviamente – o quanto estes se estão a opor ao bridão. Isto é tão comum que actualmente é bastante difícil comprar uma cabeçada com bridão que não venha já com uma focinheira restrictiva incluída. No sistema de Equitação Natural que pratico, a forma através da qual ensinamos os cavalos a aceitarem o bridão e entenderem as indicações deste é, inicialmente, não usando um. Começamos por montar os cavalos jovens apenas com um cabresto de corda ou com uma cabeçada e rédeas presas às argolas desta mas sem o bridão. Quando eles já conseguem andar a passo, trote e galope, parar quando abrimos uma rédea e os flexionamos lateralmente e os quartos traseiros são “desactivados”, mover-se na diagonal, virar à esquerda e à direita, ir a direito ou em círculo, tudo isto derivado às ajudas de pressão que lhes damos com o nosso corpo, pernas e a pressão que exercemos na cabeça do cavalo com o cabresto ou cabeçada, então aí podemos introduzir um bridão simples. Limitamo-nos a repetir os exercícios que ele já sabe fazer mas com o bridão. Isto preserva a sensibilidade da boca do cavalo e segue o princípio muito importante de “NUNCA FAZER UMA PERGUNTA A UM CAVALO PARA A QUAL NÃO O TENHAMOS ENSINADO O SUFICIENTE PARA PERCEBER QUAL SERÁ A RESPOSTA”. Na primeira vez que puxamos ambas as rédeas, e assim exercemos pressão no bridão com elas, o cavalo está parado. Es70
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pere (pacientemente e dê tempo ao cavalo para pensar) até que ele dobre ligeiramente a cabeça pela nuca e suavize o contacto da boca com o bridão e aí afrouxe completamente a pressão que estava a exercer. Repita isto muitas vezes até que ele o entenda plenamente. Particularmente, com um cavalo mais velho que já tenha maus hábitos (como a dita “boca dura”), se ele não suavizar a boca nem dobrar a cabeça e começar a recuar violentamente, faça isto com a traseira do cavalo encostada a uma parede. O próximo passo é manter a pressão durante o tempo necessário para que o cavalo faça um movimento para trás. Mesmo que ele não dê um passo para trás mas apenas transfira o seu peso para os quartos traseiros, largue a pressão. Gradualmente, conseguirá que o cavalo recue com um contacto suave na boca e uma flexão vertical na cabeça. Quando esse conceito já estiver assente, pode então andar a passo com rédea larga, puxar as rédeas e
fazer pressão com ambas e o cavalo irá flectir a nuca, parar e começar a recuar para se afastar da pressão leve que está a ser exercida na boca até lhe darmos novamente o “largar”. Quando isto é corretamente compreendido e executado a passo, podemos repetir o processo a trote e a galope para depois fazermos a transição inversa. Mantenha sempre a pressão e aguarde até o contacto na boca do cavalo suavizar e este flectir a nuca antes de soltar completamente a pressão, mesmo que tenha de esperar que este pare e recue para obter essa suavização. Tudo isto é feito sem qualquer ajuda de pernas. Quando tudo isto está bem assente podemos montar o nosso cavalo, puxar ambas as rédeas, fazer com que ele se flexione lateralmente e comece a abrandar, e aí introduzimos uma ajuda de pernas mas apenas por alguns passos, para que o cavalo não abrande antes de lhe darmos o largar. O cavalo dará alguns passos com flexão lateral, um contacto
suave na boca e com uma configuração muito próxima da que os cavaleiros de Dressage chamam de ‘concentrado’. Não seja ganancioso ao ponto de pedir tudo isto de uma só vez. Se seguir este processo pacientemente o seu cavalo terá uma boca devidamente educada porque aprendeu a resposta apropriada à pressão do bridão e não estará constantemente a puxar as rédeas. Se acha este processo frustrante pense nisto como um teste à sua boa forma mental e regozije-se com esta história do Centro de Equitação Natural Parelli: eles promoveram um dia “Sem Resistência” com os seus instrutores. Não importava quanto tempo demorassem, cada um tinha de trabalhar com o seu cavalo e nunca continuar uma tarefa enquanto sentissem que o cavalo lhes estava a resistir de alguma forma, fosse com que parte do corpo fosse. Uma instrutora levou 40 minutos para conseguir levar o cavalo dela desde o estábulo até ao picadeiro, porque a cada pequena resistência que ele lhe oferecia ela parava e afrouxava a pressão que estava a exercer. Se levarmos o tempo que as coisas realmente levam, no fim tudo levará menos tempo. O treino que damos ao nosso cavalo hoje, é um investimento nele para o dia de amanhã. n
Tradução: Patrícia Baptista
Email: equitacaonatural@gmail.com Website: www.enportugal.org/ Facebook: www.facebook.com/ENPortugal
CENTROS HÍPICOS
CENTRO EQUESTRE VALE DE FERREIROS MONTAR EM AMBIENTE EXCLUSIVO O CENTRO EQUESTRE VALE DE FERREIROS, PARTE INTEGRANTE DE UMA UNIDADE DE TURISMO RURAL COM O MESMO NOME, ESTÁ SITUADO JUNTO AO RIO TEJO, NA ALDEIA DO PEGO, A CERCA DE 6 KMS DE ABRANTES, TEM VINDO A CUMPRIR OS SEUS OBJECTIVOS, QUER AO NÍVEL DE TURISMO EQUESTRE, QUER AO NÍVEL DESPORTIVO E DE LAZER. a vertente de Turismo Equestre, recebe clientes do Reino Unido e Escandinávia, cujo objectivo tem sido a prática de modalidades como o Ensino, Saltos de Obstáculos e passeios a cavalo nos trilhos ao longo do rio Tejo, cuja distância chega a atingir mais de 25 kms. Na vertente desportiva foram realizados dois Concursos Nacionais de Saltos de Obstáculos, e um de carácter mais regional, parte integrante da Rota das Beiras, Ribatejo e Alentejo. Este último teve uma grande adesão e um óptimo ambiente, especialmente ao nível dos mais novos, o que para a organização é sempre muito gratificante. Entre os concursos nacionais há que realçar o último, integrado na Taça Ibérica, organizada entre Vale de Ferreiros e o Centro Hípico de Badajoz. Pretendeu-se com este evento replicar uma Taça Ibérica que há anos se realizava em Santarém. Foi um evento que atraiu a Abrantes durante dois dias um conjunto interessante de cavaleiros espanhóis, as suas famílias e amigos, marcado pela qualidade e fair play desportivo, um ambiente saudável e um jantar do concurso com a presença do fadista Gustavo, que animou a noite com a sua fantástica actuação. Esta competição foi muito disputada entre os cavaleiros, realçando o talento dos mais jovens, confirmado pelas classificações obtidas: a prova de 1,30m foi ganha por Diogo Ramires, filho e neto de cavaleiros olímpicos
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portugueses, a de 1,20m pela jovem cavaleira espanhola Alicia Moya, e finalmente o troféu de 1,10m foi entregue a António Silva Santos. Já há planos para a segunda parte do ano, com a mesma dinâmica, pelo que se prevê a realização de um terceiro Concurso Nacional de Saltos de Obstáculos de 1 dia, a ter lugar a 12 de Julho, para o qual contam com um número ainda maior de cavaleiros e de público. Um dos objectivos que pretendem atingir com estes
eventos, e com outros futuramente de Ensino e de CCE, é a dinamização deste desporto a nível regional, especialmente junto dos mais novos, além de atrair cavaleiros de outros pontos do país e do estrangeiro, dignificando assim a região. O 4º Concurso Nacional de Saltos de Obstáculos será de 2 dias, a 26 e 27 de Setembro e por último, prevê-se mais uma competição regional, parte integrante de um circuito designado Rota do Tejo, que terá lugar em Novembro.
Finalmente é de salientar o número crescente de clientes que têm vindo a adquirir os pacotes turísticos, de alojamento e aulas ou passeios a cavalo, e de cavaleiros que têm preferido Vale de Ferreiros para os estágios com os seus alunos. Para o efeito, está disponível uma área circundante superior a 20 hectares, com mais de 1 km de frente de rio, pastagens permanentes, 2 picadeiros, um de treino de 60mX20m e outro de provas de 90mX45m, ambos em areia sílica e fibras. n
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NUTRIÇÃO
OS EQUINOS NOS EVENTOS A IMPORTÂNCIA DA NUTRIÇÃO EVENTOS, EVENTOS E MAIS EVENTOS! POR ESTA ALTURA DO ANO, CRIADORES E APRESENTADORES MOSTRAM-SE PREOCUPADOS, APREENSIVOS, E NO FUNDO DO CORAÇÃO COM UM POUCO DE ESPERANÇA EM COMO O ANIMAL OU ANIMAIS QUE VÃO APRESENTAR NUM CONCURSO DE MODELO E ANDAMENTOS SEJA O ESCOLHIDO PARA FICAR NO GRUPO FINAL E POSTERIORMENTE MEDALHADO! trabalho a desenvolver é gradual, árduo e cada poldro/a “tem” que ajudar! Quanto maior a ajuda, mais facilitada fica a vida do Apresentador, do Júri e do próprio animal em si (Genética+Temperamento), quer seja antes do evento, durante o mesmo ou no transporte de e para casa. Referimo-nos obviamente ao seu comportamento intrinsecamente ligado à nutrição. Todos os poldros/as apresentados neste tipo de eventos estão sujeitos a uma carga de stress enorme, não só pelo treino e trabalho desenvolvidos com o Apresentador diariamente, como também devido à parte de “sair de casa”, transporte e permanência nos locais dos eventos quando necessário.
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Liliana Castelo
Todo este stress vai-se repercutir sobre o seu estado comportamental/temperamento e a sua condição física. Os Apresentadores confessam-nos que os animais perdem muita condição física desde a saída de casa até o momento da apresentação, sendo uma menos valia para estes, obviamente. Nesta edição, achamos por bem fazer referência a este assunto, pois trata-se de um item importantíssimo ao nível dos concursos de modelo e anda-
mentos, sobretudo porque existem certames importantes nesta altura do ano pelo que tem que se levar em conta as condições climatéricas, regra geral existentes, como não sendo as melhores. Perde um poldro/a a sua condição corporal nestes eventos, qualquer que seja a sua idade? 1.º - Durante o seu treino há que ter um plano alimentar bem definido de acordo com o trabalho que lhes é pedido; 2.º - Durante o transporte, não há praticamente nenhum
cavalo que não perca condição corporal, simplesmente há aqueles que perdem menos ou mais que outros; 3.º - Enquanto permanecem em sítios/locais que para eles são completamente "estranhos", ou seja, "não é a casa", aportam um elevado nível de stress que tem que ser controlado da melhor forma possível, sendo por vezes uma tarefa difícil. Quando há mais que um animal do mesmo criador é positivo que fiquem todos lado a lado. Quando por exemplo só há um animal por criador, então há que tentar “colocá-lo” no meio de outros para que não fique tão sozinho. Como podemos então viabilizar um pouco mais a nutrição e o comportamento equino neste caso? Sabendo que o temperamento de um cavalo influencia e muito o seu método de trabalho e o seu plano alimentar, aconselhamos que, aquando do seu treino gradual com o seu Apresentador, faça um concentrado formulado para poldros, acompanhado de uma excelente forragem, de preferência azevém anual. Sendo o concentrado já formulado para poldros, não há necessidade de suplementos em aditivos, desde que o concentrado seja de boa qualidade, apresente principalmente proteína de qualidade e esteja bem formulado. Sendo que os concentrados ao serem formulados para poldros, os seus constituintes analíticos (PB, GB, FB,
NUTRIÇÃO
amidos e açúcares e cinzas) são expressados com base nas necessidades dos poldros de 1 a 3 anos, sendo necessários ao funcionamento do organismo e crescimento; e os seus aditivos (minerais), os macrominerais (P, Ca, Mg) que são constituintes dos tecidos; os Oligoelementos (Fe, Cu, Co, Mn, Zn, I, Se, Na, Cl, K) estes três últimos, electrólitos, sendo indispensáveis ao funcionamento do organismo; as vitaminas, que são necessárias à manutenção da actividade celular. Falamos da A, D, E, K e C e Grupo B. Algumas são sintetizadas pelo cavalo, como a vitamina D, C, devido aos raios solares, a K e grupo B, no intestino grosso. As restantes tem que ser fornecidas obrigatoriamente pelo concentrado. Temos por exemplo um caso em mãos, em que uma poldra de 2 anos que se iria apresentar num evento, só tinha no seu plano alimentar concentrado para poldros e forragem de azevém. Ao fim de algum trabalho, percebemos que lhe faltava algum "gás"! Introduzimos então um concentrado de médio rendimento à forragem de azevém + trabalho de manhã + paddock de tarde (funcionou às mil maravilhas!) Tornou-se outra poldra, mais viva, com mais vontade de andar, de se mostrar, de mostrar os seus andamentos, a sua beleza extraordinária! Grande Iris, muito Orgulho de ti! Pensamos que a maioria dos Apresentadores com currículos invejáveis não descuram de forma alguma os planos alimentares dos poldros/as que têm para apresentar. Voltando novamente ao transporte, aqui pode e não se pode por vezes actuar tal como gostaríamos. Com as altas temperaturas alcançadas já em Maio-Junho, muito têm aguentado os nossos/as poldrinhos/as. Esta é para nós, talvez, a fase mais crítica. No transporte deve
existir sempre feno de óptima qualidade à disposição, água fresca, boas camas (também muito importante) e o concentrado apenas administrado nas horas normais do maneio alimentar. Se a forragem de azevém tiver a qualidade que referimos aqui, eles/elas nem chegam a desidratar, pois é um feno que se apresenta verde e com alguma humidade e com uma relação de PB/FB e minerais equilibradas para este tipo de situação. Em certos casos podemos aplicar os electrólitos, quando não se possui uma boa forragem ou quando mesmo assim, a situação o exige; quando vemos os poldros muito desidratados, deprimidos, ou com sudação exagerada. Estes minerais (electrólitos), irão repor o equilíbrio da termorregulação, aumentando nos poldros/as um pouco mais a vontade de comerem e beberem água, restabelecendo um pouco o equilíbrio metabólico. A água representa 70% em média, da massa corporal, sendo necessária as reacções químicas que ocorrem nas cé-
lulas e aos câmbios entre os diferentes compartimentos celulares, dos tecidos, do corpo, à excreção de compostos tóxicos na urina e na regulação térmica, sendo por isso indispensável a vida. É pois deveras importante ter a certeza que o metabolismo dos nossos animais está a funcionar e para isso é necessário vigiá-los muito bem! Durante este tipo de eventos, tem que se ter muita atenção ao seu temperamento, ir dando uma "vista de olhos", reparar se estão dentro das boxes a suar ou não, se comem, se bebem, se se sentem calmos, relaxados, tranquilos ou nervosos... tudo conta, tendo sempre em mente a condição corporal. Ora estes três pontos são fundamentais a ter em conta quando se "sai de casa" pela primeira vez, ou não, com "produtos" novos para serem mostrados ao nosso mundo equestre. O seu plano alimentar não passa mais do que administrar um concentrado formulado para si, um bom feno, azevém, se possível, anual ou inglês, treino
e muita cumplicidade. Nos transportes sempre presente uma excelente forragem à descrição (supra referido e descrito) assim como água e nas viagens longas, nunca esquecer as paragens, abeberamentos e voltas a passo, para que possam "esticar as pernas"! Quando são animais um pouco "moles", mas neste caso, já fizemos referência à situação da poldra de 2 anos, já poderá ser necessário incluir no plano alimentar concentrados que ajudem a obter algum "rendimento", algum "gás". O seu temperamento mantém-se, devido um pouco à presença do Mg, a sua E rápida aumenta, aumentando também a sua E de resistência, pois aumentamos-lhe a FB, amidos e açúcares, mas muito ligeiramente. Obviamente não podemos negar que a genética está lá toda, a morfologia, os andamentos, o temperamento, alguns destes já um pouco trabalhados e com grande mérito para o Apresentador a quem está entregue, no entanto importa referir que este ano foram apresentados animais com melhores condições corporais que no último ano, o que nos deixa bastante felizes e que dá a entender que a nutrição em Portugal começa a ser levada um pouco mais a sério e a ter a merecida importância. Porém continuam a aparecer animais menos compostos nos eventos e nós acreditamos piamente que essa condição corporal possa ser alterada, principalmente com transportes e permanência nos eventos. Por favor, Criadores a Apresentadores, não deixem descurar este aspecto tao importante! Vamos trabalhar todos juntos num só sentido, para que Portugal continue a ter belíssimos animais, como os que tem apresentado ate hoje! Viva Portugal, viva o Cavalo Lusitano! Grande Abraço Equino! ■
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CRÓNICA
O MEU LEGADO MILITAR - 3 DEPOIS DE UMA ESTADIA DE 13 MESES EM NAMPULA, INICIEI A VIAGEM NO MEU CARRO PARTICULAR COM DESTINO À NOVA COLOCAÇÃO MILITAR EM LOURENÇO MARQUES NO DIA 14 DE JULHO DE 1971. FORAM CERCA DE 2200 QUILÓMETROS QUE PERCORRI EM OITO DIAS NA COMPANHIA DE DOIS AMIGOS. MAS ESSA É OUTRA HISTÓRIA...
Henrique Salles da Fonseca
hegado a Lourenço Marques – onde tinha iniciado a minha comissão militar – retomei a condição de sócio do Centro Hípico e dei de imediato início às lides equestres. Cumprindo-me exercer a função de tesoureiro do Comando Territorial do Sul, tinha como Comandante o Brigadeiro Henrique Calado e como Chefe do Estado-maior o Coronel Carlos Vasconcelos Porto. Não seria fácil imaginar melhor enquadramento funcional, humano e equestre. Como habitualmente digo, Deus conduziu a mão de quem me nomeou para esta missão.1 Sendo o Preboste alguém que se sentia mais à vontade com carros de combate do que com cavalos, perguntou-me se eu não me importava de «pôr um olho» nos cavalos militares que estavam alojados no Centro Hípico e se lhes dava uso quando eles não estivessem distribuídos a alguém como montadas de desporto. Sim, Deus continuava a pairar por ali... Foi assim que me deparei com um cavalo, puro-sangue inglês que o nosso Exército comprara na África do Sul, que estava muito tolhido de mãos e todos os dias tinha que ser ajudado a levantar-se; uma égua, também sul-africana e puro-sangue, tinha «pelo na venta» e não havia voluntários para a tomarem como montada de desporto. Dediquei-me a es-
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Campo de treinos do Centro Hípico de Lourenço Marques, hoje Maputo
ses dois mexendo um pela manhã e outro pela tardinha. O cavalo estava nitidamente com os «sapatos apertados» e a égua tinha uma evidente falta de musculatura no dorso. Como o terreno do Centro Hípico (donde eles não saíam) era de origem arenosa com muito húmus das folhas caídas das abundantes árvores, pu-los a ambos em regime de «bare feet» e pedi ajuda veterinária. Equestremente foi muito fácil levar o cavalo a desistir das meias passadinhas e à égua bastaram uns dias à guia a esticar o dorso (sempre gostei do trabalho de chambon sem chambon, apenas com cabeção e guia leve) para que ficassem em condições de lhes passar a perna. A égua também tinha uma contractura muscular na perna direita que a ajuda veterinária resolveu com relativa facilidade. O cavalo recuperou de imediato a equitação que alguém lhe ensi-
nara e deu-me enorme prazer levá-lo até às passagens de mão a 2 tempos (fiquei até hoje na dúvida sobre se ele não as faria já antes mesmo de eu o ter visto pela primeira vez). A égua, com os músculos do dorso em vias de clara retoma, sem cavaleiro «agarrado aos queixos» e com a perna praticamente recuperada, deixou de ter motivos para ter mau feitio, aceitou-me lá em cima e fez as pazes com o mundo. Era pelas 6 da manhã que todos os dias me encontrava com o Brigadeiro Calado e com o Coronel Vasconcelos Porto no Centro Hípico, cada um com seu cavalo, a tempo de «pegarmos ao Serviço» no quartel pelas 8 horas. E foi numa dessas manhãzinhas que o Brigadeiro Calado me ouviu o queixume de que a égua fugia da vala de água como se lá houvesse crocodilo. - E Você quer mesmo saltar a vala?
- Oh meu Comandante, se a égua lá se chegasse, eu gostava de experimentar. Mas não estou a ser capaz. - Então, comece por fazer um círculo a trote tão solto quanto possível que passe junto ao limite da zona de que ela tem medo. Faça hoje isso para as duas mãos até ela deixar de ter medo desse limite. Contente-se com pouco e amanhã cá estaremos para ver como vai ser. Essa primeira sessão acabou por imperativo horário mas com a égua quase descontraída na zona limite. No dia seguinte comecei por a trabalhar como era habitual longe da zona do medo e já debaixo do olho sábio do Brigadeiro Calado, retomei o círculo a trote junto da zona que a égua considerava perigosa. Dada uma volta a trote solto para cada lado e ficou relativamente calma junto do tal limite. Mandado pôr a passo no círculo, que parasse
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no local do antigo medo e fizesse uma festa deixando-a olhar e cheirar tudo naquele local para ela tão «perigoso». E agora fazer os círculos a galope e voltar a parar no local do medo. Cheirar e olhar com uma festa à mistura. Desenhar o círculo de modo a que a tangente coincidisse com a trajectória do salto da vala (entretanto reduzida à largura mínima e com uma sebe bem vistosa). Cumprindo a orientação do Mestre, apontei-a a trote à sebe da vala e, conforme previsto, estacou relativamente longe do objectivo. Mais duas tentativas e cada vez se chegava mais à sebe. Na vez seguinte deu um salto fantástico e eu, já prevenido, consegui acompanhá-la. Sessão de festas e dose de cenouras na boxe logo de seguida. Voltei a saltar a vala mais duas ou três vezes até ao fim da minha estadia em Lourenço Marques com a
certeza de que o problema desaparecera. Uma curiosidade: essa égua tinha um trote muito bom e entrou na passage com um brilhantismo raro mas à medida que se foi entregando, descontraindo e alongando a linha de dorso, perdeu a dita passage que, pelos vistos, ela fazia à base da nervoseira. Quando recuperou o dorso e se acalmou, perdida a passage por completo, tive que lha ensinar a partir do zero. Nunca voltou ao brilhantismo que o nervo antes lhe dava. Finda a comissão de serviço militar, vim a Lisboa passar à disponibilidade e regressei a Lourenço Marques como civil. O Exército decidira vender esses dois cavalos e eu comprei-os. Quando se deu a «revolução dos cravos» e eu decidi regressar a Portugal, dei os cavalos a amigos laurentinos que
eu julgava lá ficarem. Nem um nem outro lá ficaram, encontrei-os em Lisboa mas nunca lhes perguntei o que tinham feito aos cavalos para não ter alguma tristeza. Visitei o Centro Hípico de Maputo uma trintena de anos depois e não fiquei triste com o que por lá vi. E assim concluo o relato do meu legado militar. A partir daqui, foi só aprender com os próprios cavalos pois não houve mais ninguém disponível para me orientar. Recorro aos espelhos no picadeiro que mais frequento, o «Fernando Sommer d’Andrade» na Sociedade Hípica e à sombra quando monto na rua. Só eu sei como me faz falta um «olho amigo» que não me deixe fazer muitas asneiras. Finalmente, uma referência à condição física dos cavalos, tema nunca abordado por ne-
nhum cavaleiro civil com quem eu tivesse montado tanto em Portugal como na Alemanha. Foi o Brigadeiro Calado que me disse certa vez, ainda em Lisboa e muito antes de eu assentar praça, que o cavalo tem que ser um atleta porque o dorso é das zonas com menos músculos e, logo para azar dele, é onde o cavaleiro faz incidir o seu peso. A musculação do dorso é fundamental não só por essa razão mas também porque é com toda a linha superior que o cavalo se suporta a si próprio como se fosse uma ponte suspensa. Segue-se a «estacaria» em que a ponte assenta, os membros. Depois vem tudo o resto... que é muito. ■
1 - Essa mão era do então Brigadeiro Silvino Silvério Marques, 2º Comandante Geral da Região Militar de Moçambique, com quem tive a honra e a felicidade de servir durante a minha estadia em Nampula.
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JOÃO MOTA: O CAVALEIRO DA MONTE-CLÁSSICA José Cid Tavares
ltamente competitivo e descomplexado em relação às grandes pistas europeias, entrava sempre para ganhar, e ganhou algumas. Foi Campeão e ViceCampeão de Portugal em Seniores; Vice-Campeão de Portugal de Juniores, representou o nosso país em mais de uma vintena de Taças das Nações,
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DURANTE AS DÉCADAS DE 90 E 2000, HABITUAMO-NOS A VÊ-LO COMO CAVALEIRO INDISCUTÍVEL DA EQUIPE NACIONAL E GANHADOR DAS PROVAS MAIS IMPORTANTES DE GRANDES CONCURSOS NACIONAIS E INTERNACIONAIS.
três Campeonatos da Europa de seniores e um campeonato do Mundo no mesmo escalão para além de inúmeras vitórias em provas e Grandes Prémios nacionais e internacionais. João Mota começou em muito jovem, apoiado por José Manuel Soares da Costa (pai de Marina Frutuoso de Melo), e mais tarde por António Vo-
zone (que tão bem transmite aos alunos a sua classe de grande cavaleiro). Recebeu deles, a competitividade e a monte-clássica com que tanto nos admirou e entusiasmou. Recentemente uma doença súbita interrompeu a sua carreira de cavaleiro, da qual tudo podíamos esperar, mas não parou!
Neste momento transmite, no norte, os seus enormes conhecimentos a novos cavaleiros baseados nas suas próprias experiências de muitos anos de pista. A sua avó paterna, a quem chamávamos de Zézinha Lago Cerqueira, foi minha amiga até à morte. Conversávamos ao telefone, quase diariamente.
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Era sobrinha, afilhada e secretária do grande poeta Teixeira de Pascoes (de Amarante) que ela conheceu como ninguém. Autora de um livro notável: “Na sombra de Pascoaes” (que vos aconselho vivamente a ler), Zézinha Lago Cerqueira, foi sempre grande referência, e ternura do seu querido neto João Mota. Um dia, eu comprei-lhe um cavalo que ficou na memória de todos nós: o Kiew, mais conhecido por “Pintinhas” (por ter algum sangue Appaloosa). Este cavalo morreu debaixo de mim com uma síncope cardíaca na final do campeonato nacional de 92 quando estávamos entre os 10 finalistas. Só me lembro do João Mota abraçado a mim a chorar como eu e muitos outros que
ali estavam a assistir à final. Era um Beka (coudelaria espanhola). Nascera selvagem no delta do rio Guadalquivir entre zebras, camelos, cabras selvagens e outros cavalos selvagens como ele. Era um cavalo rebelde, cheio de personalidade e que ganhou o raide Madrid/Lisboa com Benito Moura, toureou com o João Moura e fez carreira brilhante de obstáculos com João Mota. Claro que eu beneficiei do cavalo, anteriormente tão bem preparado. Com ele, saltei internacionais em Portugal e Espanha e foi sempre um elemento de grande amizade e conversas entre mim e o grande cavaleiro João Mota. Vêmo-nos por aí Joãozinho. E até breve! Um abraço grande. Tio Zé Cid. n
José Cid e Pintinhas
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Loja: Centro Hípico Sport Club do Porto Rua Silva Porto,201 | 4250-472 Porto Horário: Seg a Sex - 14h30 às 20h Sábado - 9 às 19h
DRESSAGE
LUSITANO INTERNATIONAL DRESSAGE TEAM OBJECTIVOS COLECTIVOS O PROJECTO ENTROU NA 2.ª FASE, COM OS 20 CONJUNTOS SELECCIONADOS A INTEGRAR AGORA UM PLANO MENSAL DE TREINOS COM VISTA À COMPETIÇÃO.
Raquel Falcão com Elegante Plus, PSL, Coudelaria Dressage Plus ntre Junho de 2013 e Janeiro deste ano, cerca de 50 binómios mostraram interesse no Lusitano International Dressage Team (LIDT), uma ideia de Francisco Abecasis em conjunto com Frederico Pintéus, que se associaram aos cavaleiros olímpicos Daniel Pinto e Miguel Ralão Duarte para "um projecto de natureza colectiva, que agregasse e potenciasse
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os escassos recursos existentes, geralmente espartilhados e subaproveitados, em prol de objectivos colectivos". Um deles, sublinha Francisco, é "potenciar e privilegiar o Puro Sangue Lusitano (PSL) na medida em que é um produto nacional de qualidade", pois ainda que este não seja um projecto exclusivo para cavalos da raça, no entender do responsável, "o LIDT é uma ferramenta útil no processo de
melhoramento da criação/raça, pois, ao utilizarmos um processo de treino regular, semelhante, sistemático e metodológico, que depois é posto à prova na competição, os resultados permitirão ao criadores obter dados muito objectivos. Por outro lado, através da agregação de meios, esforços e organização, este projecto permite obter uma qualidade e frequência de treinos com custos que viabilizam o acesso e per-
manência na competição". Depois da 1.ª fase de divulgação e captação, o LIDT entrou já na etapa de preparação para a competição, com 20 binómios seleccionados em seis concentrações. Segundo Miguel Ralão Duarte, do Comité Técnico, a escolha "foi feita em função do interesse e empenho manifestado pelos cavaleiros e do potencial desportivo dos seus cavalos".
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Já Daniel Pinto considera que "o balanço é muito positivo. Antes de cada treino convocamos os cavaleiros e, salvo casos pontuais, todos comparecem com vontade de dar continuidade ao trabalho já desenvolvido. Estamos muito satisfeitos com a evolução que os conjuntos têm registado". Por agora, o objectivo "é chegar à 3.ª fase e conseguir ter conjuntos a competir com bons resultados e, se possível, em provas de grau elevado", explica Frederico Pintéus, que revela que para quem não teve oportunidade de integrar o projecto, ainda há hipótese de participar, pois "no fim de 2015, em função dos apoios e do número de conjuntos existentes, avaliaremos a possibilidade de voltarmos às concentrações de treino e repetir o projecto com novos conjuntos". Entretanto, para a 3.ª fase, onde os conjuntos seguirão um plano de treino preparado em função da competição, Miguel Ralão Duarte sublinha que a intenção "é que exista um trabalho conjunto com a Federação Equestre Portuguesa (FEP) no sentido de aproveitar da melhor maneira os talentos que possam surgir daqui e também com a Associação de Criadores do Cavalo PSL no sentido de divulgar e potenciar a exposição destes cavalos". Frederico Pintéus destaca o importante apoio dos que têm vindo a acreditar no projecto, nomeadamente a FEP, a quem deixa "um agradecimento dirigido em particular ao Senhor Presidente da FEP, Dr. Manuel Cidade Moura e ao Presidente da Comissão Técnica de ensino, Eng. Francisco Borba. Outro apoio relevante que temos tido é o da Intacol, que tem fornecido aparas para o treinos e se tem disponibilizado para dar aconselhamento aos cavaleiros sobre a alimentação dos seus cavalos em função das exigências desportivas". Além disso, os cavaleiros que passem à 3.ª fase, "poderão contar com o apoio da Intacol na elaboração de um plano alimentar e forne-
Inês Pires com Embaixador de Serpa, PSL, Coudelaria Luis Miguel Folgado
CALENDÁRIO DE TREINOS 2015 22 e 23 de Julho 28 de Agosto (6.ª feira antes da Taça) 26 e 27 de Setembro 10 e 11de Outubro 28 e 29 de Novembro
Inês Valença Câncio com Xeque- Mate, PSL, Coudelaria Quinta da Cerca
CONJUNTOS SELECCIONADOS Carolina Guerreiro/ Destinado da Coutada Filipa Reis/Chocolate do Zambujal Francisco Abecasis/Divagante do Pilar Francisco Cancela d'Abreu/Fineza Frederico Pintéus/Ulisses Gonçalo Pedro/Vendetto Inês Mano Pires/Sofia Mariz/Embaixador de Serpa Inês Valença Câncio/Xeque-Mate João Embaixador/D-Único Joaquim Pontes/Santo Estêvão Plus José Domingos Gomes/Duelo Marta Moreira Ramos/Barão Luís Valença Cardoso/Waltimore Nuno Vicente/Fangarifau Pedro Castro Monteiro/Fidalgo Raquel Falcão/Elegante Plus Ricardo Almeida/Elice Ricardo Lourenço/Cantador Salvador Pessanha/César d'Atela Salvador Pessanha/Xenofonte d'Atela
cimento da ração e com descontos nas inscrições em provas organizadas pela Dressage First". Quanto à APSL, "apoia institucionalmente e acreditamos que poderá existir um maior envolvimento". O próximo treino será a 22 e 23 de Julho.n Cátia Mogo/Fotos: Rui Godinho
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ÚLTIMA HORA
CAMPEONATOS DE PORTUGAL DE SALTOS DE OBSTÁCULOS
ANTÓNIO MATOS ALMEIDA CAMPEÃO! DECORREU ENTRE OS DIAS 25 E 28 DE JUNHO MAIS UMA EDIÇÃO DOS CAMPEONATOS NACIONAIS, NA PISTA DA SOCIEDADE HÍPICA PORTUGUESA, EM LISBOA, COM O CAVALEIRO DE VISEU, ANTÓNIO MATOS ALMEIDA A CONCRETIZAR O SONHO DE VENCER PELA PRIMEIRA VEZ O CPCO. O FEITO FOI ALCANÇADO ÀS RÉDEAS DE NIKEL DE PRESLE. CONFIRA EM BAIXO TODOS OS NOVOS CAMPEÕES DE 2015. (FOTOS: NUNO PRAGANA/IMAGEMEDIA)
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Iniciados 1.º Gustavo Galvão Granjo 2.º Daniel Garcia Mateus 3.º Luís Costa Bragança
Seniores 1.° António Matos Almeida 2.° João Pedro Gomes 3.° João Chuva
Pré-Juvenis 1.º Jorge Escudeiro 2.º Diogo Portela Mendes 3.º Nicole Vilarinho
Juvenis 1.º Bernardo Nobre Palma 2.º Bernardo Prazeres Carvalho 3.º Ana Margarida Gomes
Pré-Juniores 1.º José Filipe Neto Rebelo 2.º Luca Mota Sousa 3.º Magda Morgado Soares
Juniores 1.º Bernardo Ladeira 2.º Nuno Tiago Gomes 3.º Bárbara Vasconcelos
Jovens Cavaleiros 1.º Marcelo Mota Sousa 2.º Joel Monteiro
Amadores 1.º Cap. Pedro Pinto 2.º Filipe Avillez 3.º Francisco Charola
Coltaire Z despediu-se das pistas na SHP, após uma queda, no mesmo palco onde, montado por Marina Frutuoso de Melo, foi campeão por 5 vezes
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