EQUITAÇÃO 118

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EQUITAÇÃO

A N O X X I | N . º 1 1 8 | B I M E S T R A L | C O N T. p R E ç O | € 4 , 5 0 | w w w. E q u I TA C A O. C O M

VILAMOURA ATLANTIC TOUR CAMPEONATOS NACIONAIS CCE E RAIDES HOMENAGEM FERNANDO PALHA

TAÇAS DO MUNDO FEI MINDERHOUD E GUERDAT CAMPEÕES NA SUÉCIA


VIMEIRO CONCURSOS de SALTOS Equestrian E i Show Sh JJumping i

CSI 2*/ 14 - 17 Julho CSI 2*/ 21 - 24 Julho 4 Provas Ranking CSN-A/C / 1 - 4 Setembro

Portugal 2016 www.csivimeiro.com




EDITORIAL INDÍCE OBSTÁCULOS VILAMOURA ATLANTIC TOUR

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COMPLETO CAMPEONATO NACIONAL

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COMPLETO INTERNACIONAIS BARROCA D’ALVA

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INTERNACIONAL TAÇA DO MUNDO DRESSAGE/SALTOS

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FEIRAS E EVENTOS FEIRA DO CAVALO DA TROFA

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INTERNACIONAL CIRCUITOS SALTOS EM ESPANHA

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O CAVALO E A ARTE POR J.P. MAGALHÃES SILVA

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RAIDES CAMPEONATO NACIONAL

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COUDELARIAS COUDELARIA SANT’IAGO LUSITANOS

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CAVALO LUSITANO POR ANTÓNIO VICENTE, NUNO CAROLINO E LUÍS GAMA

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ARTE DA EQUITAÇÃO POR BRUNO CASEIRÃO

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TRANSPORTE DE CAVALOS JTM TRANSITÁRIOS

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CRÓNICA POR JOÃO PEDRO GORJÃO CLARA

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TAUROMAQUIA POR DOMINGOS DA COSTA XAVIER

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VETERINÁRIA POR JOÃO PAULO MARQUES

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CONSELHOS POR RITA GORJÃO CLARA

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HISTÓRIA DA ATRELAGEM: POR ALEXANDRE MATOS E J.P. MAGALHÃES SILVA

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APONTAMENTOS POR JOSÉ CID TAVARES

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EQUITAÇÃO NATURAL POR JANET HAKENEY

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NOTAS SOLTAS POR HENRIQUE SALLES DA FONSECA

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HORSEBALL POR COR. JOÃO SEQUEIRA

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CORRIDAS POR VICTOR MALHEIRO

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DRESSAGE

FICHA TÉCNICA

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Francisco Cancella de Abreu Director

IMPORTANTE DOCUMENTÁRIO PARA ESTUDO E INSPIRAÇÃO uito oportuno o programa documental de Bruno Caseirão e Eduardo Carvalho intitulado "Cavalo Lusitano, uma Selecção Ímpar". Ímpar porque realmente se compararmos com outras raças, talvez não haja outra onde o cunho e o gosto pessoal de cada criador se tenha reflectido e sido impresso nas eguadas, como em Portugal. Desde há mais de 100 anos, conseguiram-se características e funções bem distintas quase raças dentro da raça, numa época que só o toureio servia de selecção objectiva e a consanguinidade era a solução para o tipo homogéneo. Mais recentemente foi a moda da beleza racial extrema e das respectivas medalhas de ouro, que atraíram as atenções de muitos criadores, porque esses medalhados tinham valores muito interessantes ao exportar, estes concursos de beleza tiveram como principal valia o preocupar os criadores na forma correcta de alimentar os seus produtos. Venderam-se várias "fábricas" de Lusitanos e esses países deixaram de ter a absoluta necessidade

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de se abastecerem aqui, na origem. Parece agora que a tendência na criação é fazer cavalos aptos para o desporto diversificado tendo como dificuldade máxima um Lusitano que possa participar em provas de obstáculos e ainda mais exigente na dressage internacional, já que a atrelagem e a equitação de trabalho se podem considerar etapas superadas. O interesse do documentário do cavalo lusitano é exactamente apresentar para estudo e inspiração um sem número de ímpares sugestões pessoais, tendo todas como objectivo fazer o melhor Lusitano possível. Noutros países, as associações influenciam de forma muito mais visível o nível médio da raça fornecendo, por exemplo, oportunas informações sobre a saúde e outras tendências transmissíveis de cada garanhão, o que realmente facilita em muito as decisões a tomar pelos criadores para conseguirem subir o nível dos seus produtos. Parece agora que a APSL irá dar passos nessa direcção, quando se concretizarem aqui estaremos para aplaudir.■

Director Francisco Cancella de Abreu Editor Eduardo de Carvalho Conselho Editorial Afonso Palla (in memoriam); Adolfo Cardoso; Coronel Joaquim Arnaut Pombeiro (in memoriam); Dr. Domingos da Costa Xavier; Prof. João Pedro Gorjão Clara; João Bagulho; Dr. Joaquim Duarte Silva; Coronel José Miguel Cabedo; Dr. João Paulo Marques; Dr. Manuel Heleno; Dra. Rita Gorjão Clara Colaboradores Dra. Antonieta Janeiro; Dr. Bruno Caseirão; Epona; Galiano Pinheiro; Dr. Henrique Salles da Fonseca; Idés Marchal; Janet Hakeney; Jaime de Almeida Ribeiro; J. Alexandre Matos; Arq. J.P. Magalhães Silva; Dra. Joana Alpoim Moreira; João Maria Fernandes; Dr. José Pedro Fragoso Almeida; Eng. João Moura; Dr. Manuel Lamas; Engª. Liliana Castelo; Paulo Vidigal; Eng. Victor Malheiro Chefe de Redacção Ana Paula Oliveira Redacção Ana Filipe; Cátia Mogo; Carla Laureano Publicidade José Afra Rosa; António Sobral; Assinaturas Fernanda Teixeira Fotografia Aurélio Grilo; Emílio de Jesus; Nuno Pragana; Paula Paz Propriedade Invesporte, Lda; Praceta S. Luís, Nº 14 CV Dto.;Laranjeiro 2810-276 Almada; Cap. Social 5.000 Euros; Cont. 505 500 086; Empresa jornalística registada no ERC nº 223632 Redacção/Publicidade Praceta S. Luís, Nº 14 CV Dto. Laranjeiro 2810-276 Almada; Tel. 21 2594180 - Fax. 21 2596268; equitacao@invesporte.pt; equitacao@netcabo.pt Edição online www.equitacao.com Impressão Manuel Barbosa & Filhos; Zona Industrial de Salemas; Fracção A2 - 2670-769 Lousa LRS Distribuição Urbanos Press S.A - Rua 1º de Maio - Centro Empresarial da Granja - Junqueira - 2625 - 717 Vialonga Tiragem média 30.000 exemplares Registo ERC N.º 123900 Depósito Legal N.º 93183/95. Todos direitos reservados. Interdita a reprodução total ou parcial dos artigos, fotografias, ilustrações e demais conteúdos sem a autorização por escrito do editor. Os artigos assinados bem como as opiniões expressas são da responsabilidade exclusiva dos seus autores, não reflectindo necessariamente os pontos de vista da Direcção da Revista, do Conselho Editorial ou do Editor.


SALTOS DE OBSTÁCULOS

VILAMOURA ATLANTIC TOUR

“QUEREMOS LIGAR OUTUBRO A MARÇO COM COMPETIÇÕES” AS PALAVRAS SÃO DO ORGANIZADOR, ANTÓNIO MOURA, QUE VÊ O SEU CIRCUITO AFIRMAR-SE NA EUROPA, DESEJANDO CRESCER EM NÚMERO DE SEMANAS. NESTA EDIÇÃO REFERE UM AUMENTO NO NÚMERO DE VISITANTES AO LONGO DOS DOIS MESES DE PROVAS. Vilamoura Atlantic Tour decorreu de 16 de Fevereiro a 3 de Abril e contou com a participação de 300 cavaleiros e 1000 cavalos de 27 nações, entre muitos repetentes e também alguns estreantes. Durante seis semanas, num formato de quatro mais duas, com uma pausa de uma semana pelo meio, disputaramse três CSI2* e três CSI3*, com as provas de cavalos novos de terça a quinta-feira. O circuito de pré-época contou este ano com uma dotação de 800 mil euros, 19 provas pontuáveis para o ranking internacional Longines FEI, das quais três qualificativas para o Campeonato da Europa de 2017 e para os Jogos Olímpicos deste ano. Nos Grandes Prémios (GP) o destaque vai para os dois cavaleiros que bisaram nas vitórias em provas rainhas. O brasileiro Stephan de Freitas Barcha ga-

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Martin Dinesen Neergaard

Stephan de Freitas Barcha

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nhou na 1.ª semana com a égua Aliana e na 3.ª com Landpeter do Feroleto e Martin Dinesen Neergaard fez soar o hino dinamarquês na 4.ª e na última semana com Woulon L. Mais uma vez, o chefe de pista Elio Travagliati viajou de Itália para desenhar percursos em Vilamoura, onde foi responsável pelos traçados da 1.ª e 4.ª semana. Na abertura, perante 34 participantes, o Grande Prémio de boas-vindas ficou para o brasileiro discípulo de Nelson Pessoa, Stephan de Freitas Barcha, com Aliana, que foi seguido por dois alemães: Andreas Brenner/Trebox Acorada e Marc Bettinger/Barino. O melhor português em pista foi Luís Sabino Gonçalves, que ficou a um passo do pódio, no 4.º posto com Filou Império Egípcio, assinalando assim aquele que viria a ser o melhor resultado luso em GP.


SALTOS DE OBSTÁCULOS

Matteo Zamana

Na 2.ª semana os percursos estiveram a cargo do britânico Kevin Bywater e foi o italiano Matteo Zamana em Ramita Mail quem conquistou o 1.º lugar na

Nicole Pavitt

prova rainha, com a norueguesa Marit H. Skollerud/Barcelona a ocupar a 2.ª posição e o francês Romain Potin/Tzigano Massuere a ficar em 3.º, entre 48 conjuntos

em pista. Por Portugal, Mário Wilson Fernandes registou o 8.º lugar, com Saltho de la Roque. A 3.ª semana foi a que teve maior número de concorrentes ao Grande Prémio, 54, que foi da responsabilidade de Bob Ellis, chefe de pista que montou os percursos dos últimos Jogos Olímpicos, em Londres, 2012. O hino brasileiro voltou a ouvirse em honra de Stephan de Freitas Barcha que desta vez montou o seu principal cavalo, com o qual tenciona ir aos Jogos Olímpicos, Landpeter do Feroleto. Esta segunda vitória, a somar às classificações que foi fazendo nos restantes quatro

GP deu-lhe o título de melhor cavaleiro das provas rainhas, levando para casa uma sela Sabino. Neste 3.º GP foi 2.º classificado o francês Morgan Bordat/Star de la Bevière, com Samy Colman/Simara Alia, por Marrocos, em 3.º. O melhor conjunto luso foi Mário Wilson Fernandes com Zurito, em 18.º. O primeiro mês de provas terminou com o regresso de Elio Travagliati, que desenhou um GP para 48 conjuntos, ganho por Martin Dinesen Neergaard com Woulon L. Atrás do dinamarquês ficou Louise Pavitt/Unex Chamberlain z (GBR) e François Brichart/Boosty Cha-

Secretária de Estado do Turismo, Ana Mendes Godinho com Vítor Aleixo (Presidente da C.M. Loulé); Desidério Silva (Presidente da Entidade Regional de Turismo do Algarve) e António Moura (organizador do evento)

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SALTOS DE OBSTÁCULOS

Luís Sabino Gonçalves

Duarte Seabra

Bernardo Moura

vannais (BEL). Hugo Tavares fez a melhor prestação lusa neste primeiro de três concursos ao nível de 3*, conseguindo o 16.º lugar com Phebus du Fief. Fez-se então uma pausa na competição, para depois se disputarem as duas últimas semanas, com Bernardo Costa Cabral a ser o responsável por ambos os concursos. A prova maior da 5.ª semana foi ganha por um dos cavaleiros que mais vezes se deslocou aos circuitos organizados por António Moura - quer em Vilamoura, como também na Comporta - falamos, é claro, do francês Julien Gonin, que assim conquistou o tão desejado 1.º lugar, na sela de Soleil de Cornu CH, com o seu compatriota Olivier Guillon/Rafale d'Hyvernière em 2.º e o marrroquino Hassan Methqal/Fiocco HM em 3.º. Luís Sabino ficaria em 6.º em Filou Império Egípcio, entre 35 conjuntos, fazendo o seu 2.º melhor resultado e também uma das melhores prestações dos cavaleiros portugueses

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Ricardo Gil Santos

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neste Atlantic Tour. A última semana de provas contou com 34 participantes no GP, sendo uma vez mais o dinamarquês Martin Dinesen Neergaard a conquistar a vitória, com o irlandês Anthony Cordon/Aristio a ficar em 2.º e a belga Céline Schoonbroodt de Azevedo/Bardine em 3.º. Duarte Seabra com Fernhill Curra Quinn foi 9.º classificado. CAVALOS NOVOS Participaram nas finais de cavalos novos 129 montadas dos 5 aos 7 anos, com o irlandês Philip McGuane a levar dois dos seus cavalos à vitória, nos 5 e nos 6 anos. Na prova para os mais novos, o cavaleiro montou Belle du Courtil e nos 6, Kildberrys Joint Venture. Nos 5 anos, Emma Stoker (GBR) colocou Shariva em 2.º e Sammie Jo Coffin (GBR) levou Follyfoot Arkadia ao 3.º posto. Nesta classe o melhor conjunto português foi Bridge de Riverland, montado



SALTOS DE OBSTÁCULOS

Hugo Cardoso Tavares

por Francisco Rocha. Já nos 6 anos, ficaram atrás de McGuane, Martin Dinesen Neergaard, com Contatour JP, com Faye Schoch/Celina IX (SUI) em 3.º. Simão Maio Reis e Clyde LVB Z, foi o melhor luso em pista, na 11.ª posição. No que toca aos cavalos de 7 anos, esteve melhor a britânica Sophie Fawcett em Winning good, com Julien Gonin e Vip du Forezan em 2.º e Céline Schoonbroodt de Azevedo/Venus de l'Eyre em 3.º. Por Portugal, o melhor resultado foi de Mário Wilson Fernandes com Jasper Van't Gestelhof, em 7.º. Ao longo das seis semanas, foram os britânicos quem mais se evidenciou nas idas à pista, com 66 vitórias nas 160 provas que se disputaram. Seguiramse os franceses, com 31 vitórias, e os portugueses, com 18 cavaleiros vencedores. O Vilamoura Atlantic Tour decorre num espaço de 13 mil m2, com cinco pistas em funcionamento, dois restaurantes, uma clínica veterinária, um SPA

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Mário Prieto

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para cavalos, uma zona comercial e tem todas as condições para que as cerca de duas mil pessoas envolvidas possam trabalhar durante o circuito. Nesta edição, recebeu a visita da secretária de Estado do Turismo, Ana Mendes Godinho, que afirmou que o evento demonstra "uma enorme capacidade de trazer turistas ao Algarve em plena época baixa". A governante revelou-se "surpreendida com a dimensão e organização" do que viu. Ana Mendes Godinho foi acompanhada pelo presidente da Entidade Regional de Turismo do Algarve, Desidério Silva, e pelo Presidente da Câmara Municipal de Loulé, Vítor Aleixo, entre outras individualidades. À EQUITAÇÃO, o organizador António Moura refere que o bom tempo logo no início do ano é uma das motivações que faz os cavaleiros atravessar a Europa até ao Atlantic Tour: "Realmente, o Algarve é outra coisa, por isso é que o Algarve atrai tanto turismo e daí a razão do


Rodrigo Sampaio Peixoto

grande sucesso de todas estas tournées, porque embora possa haver alguns dias com um bocadinho de chuva ou um bocadinho de vento, temos dias extraordinários, dias de verão", afirma. Sem intenção de crescer em números, o responsável explica que agora a vontade é a de aumentar o espaço temporal do circuito. "O nosso objectivo não é o crescimento em termos do número de cavalos, nós já atingimos o máximo, pois este número é confortável para os cavaleiros, para os cavalos e para os proprietários. Onde nós queremos crescer é no número de semanas, aí sim, o grande pro-

jecto e atrevimento da minha parte é ligar Outubro a Março com competições, sem contar com Dezembro, ou seja, num futuro muito próximo, ter também competições em Novembro e em Janeiro. Esse é o próximo grande desafio", revela. A competição regressa ao Vilamoura Equestrian Centre em Setembro, com o Champions Tour.n CM/ Fotos: One Shot

João Pereira Coutinho


COMPLETO

CAMPEONATOS DE PORTUGAL DE CCE

DEBUTE DOURADO PARA PEDRO MARIANO EM SENIORES AOS 21 ANOS O CAVALEIRO DE MONTEMOR-O-NOVO ESTREOU-SE EM SENIORES E CONSEGUIU ALGO QUE NUNCA HAVIA ALCANÇADO NOS ESCALÕES DA JUVENTUDE: SAGRAR-SE CAMPEÃO NACIONAL. Campeonato de Portugal Sénior foi disputado durante um CNC E*** com cinco concorrentes. Pedro Mariano, que chegou a este Campeonato como Vice-Campeão de Jovens Cavaleiros, saiu como Campeão Sénior, uma vez mais com a ajuda de Muriel de Belene. Uma vitória inesperada para o cavaleiro, que "só à ultima da hora", decidiu disputar o Campeonato, uma vez que esta montada não realizava nenhuma prova desde Dezembro de 2015 (precisamente o último Campeonato Nacional). "Sendo o meu primeiro ano de seniores o objectivo passava por terminar a prova, visto que também era o meu primeiro 3*" explicou o Campeão à EQUITAÇÃO. "O Ensino correu relativamente bem, achei o cavalo disponível e tranquilo, o que me agradou muito, visto não ser um animal fácil. Entrei um pouco nervoso para o cross, pois ele não fazia uma prova de campo há quatro meses, mas portouse lindamente, acabando sem nenhum sobressalto, apenas com um pouco de excesso de tempo." Já sobre a prova de Saltos de Obstáculos, onde somou 20 pts (3 derrubes e 8 pts de excesso de tempo), Pedro confessa que "não foi nada fácil, visto que nem eu nem ele sal-

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Pódio de Seniores

tamos aquela altura! Ainda assim, o Muriel esteve bem e acabou por cumprir o objectivo de terminar a prova". Um objectivo que lhe valeu uma medalha de ouro (93,29pts). "Para mim ser Campeão de Seniores é bastante importante, pois não tinha isso em mente no início do ano e ser campeão era um título que já me escapava nos escalões de Juniores e Jovens Cavaleiros. Não sendo espectável que acontecesse já, pois é o meu primeiro ano de Seniores, acho que é fruto do trabalho que tenho visto a desenvolver ao longo dos anos" afirma. Foi Vice-Campeão o 2.º Sarg. Luís

Pódio de Juniores

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Fortes em prova realizada com Xeique (100,06pts). A medalha de bronze não foi entregue pois mais nenhum conjunto terminou a prova: Capitão Bruno Pires /Zarlon e Ten. Coronel Lauro Marinho/Artur foram eliminados e Francisco Stilwell/Super de Fôja retiraram no cross devido a lesão, vindo a confirmar-se mais tarde, o final da carreira desportiva deste cavalo. Sobre os restantes concorrentes, Pedro Mariano não quis deixar de "dar os parabéns ao 2.º Sarg. Luís Fortes pelo segundo lugar. Gostaria também de deixar uma palavra aos concorrentes que não conseguiram terminar a prova, Pódio de Jovens Cavaleiros

ao Francisco pelo azar que teve com a lesão do Super, ao Ten. Cor. Lauro Marinho e ao meu amigo Cap. Bruno Pires por ter sido eliminado na última inspecção veterinária. Sei que muito lhe custou pois ainda por cima seguia na liderança da classificação e é «um morrer na praia»". Quanto ao Campeonato Nacional de Jovens Cavaleiros (CNC**), sagrou-se Bi-Campeão João Netto Bacatelo com Beny Fortunus (83,92pts). Ladearamno no pódio João Maria Duarte com a prata (97,13pts) e Madalena Viegas de Almeida com o bronze (137,23pts), dois cavaleiros que se estrearam neste escalão, depois de no ano passado terem igualmente pisado o pódio, mas de Juniores. João Maria Duarte montou Burguiba e Madalena, Ultimato de Fiúza. Medalha de Prata em 2015, em 2016 Anthony Lupi Hart conquistou o ouro na categoria de Juniores (CNC*) com Tomgard Vinci (75,36pts) em Campeonato disputado num "manoa-mano" com Joaquim Grave e Esmeralda, segundos classificados (84,08pts). Os Campeonatos decorreram nos dias 2 e 3 de Abril em Rio Frio, num fim-de-semana em que se realizaram ainda CNC de Iniciação e CNC Preliminar.n Ana Filipe/Fotos: Clouds & Stars



COMPLETO

Sarah Bullimore com Reve du Rouet

o calendário da época de CCE os Concursos Internacionais da Barroca servem para muitos conjuntos começarem as suas épocas desportivas. No primeiro fimde-semana, de 25 a 28 de Fevereiro, as provas foram CIC, com o nível de 2* a contar com 49 inscritos. Saiu vencedor o cavaleiro olímpico alemão Andreas Dibowski, na sela de FRH Butts Avedon, com uma pontuação final de 46,8. Em 2.º lugar ficou o brasileiro Ruy Fonseca em Tombadill Too (48,6pts), seguido do belga Vincent Martens, na sela de Ardenco (53pts). No CIC1* estavam inscritos 80 participantes, com a vitória a ser conquistada pelo francês Regis Prud Hon, na sela de Kaiser HDB. O cavaleiro, que é uma presença habitual na Barroca, alcançou o primeiro lugar com 41,8pts. Ao 2.º lugar do pódio subiu o indiano Ajai Appachu, na sela de Cocky Locky (44,3pts). A fechar o pódio ficou a holandesa Eff Hammers, em Balou (49,4pts).

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BARROCA D'ALVA

PALCO DE DECISÕES OS CONCURSOS INTERNACIONAIS DE CCE DA HERDADE DA BARROCA D'ALVA ESTE ANO FORAM DECISIVOS PARA OS CAVALEIROS COM ASPIRAÇÕES OLÍMPICAS, UMA VEZ QUE O SEGUNDO FIM-DE-SEMANA FOI A ÚLTIMA QUALIFICATIVA PARA CONSEGUIR OS PONTOS NECESSÁRIOS PARA IR AO RIO DE JANEIRO. No primeiro fim-de-semana disputou-se ainda um CNC Preliminar, com os dois primeiros lugares a serem conquistados por portugueses. Manuel Grave, na sela de Formiga, terminou na 1.ª posição (50,2pts), seguido de Madalena Braz, em Becas (64,6pts). A fechar o pódio ficou Heinz Wherli, com Bantri Bay Chocolat (68,4pts). O segundo fim-de-semana de Concursos Internacionais de CCE na Herdade da Barroca d'Alva, que decorreu de 2 a 6 de Março, teve como prova rai-

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nha o CCI3*, naquela que seria a última oportunidade para alguns cavaleiros conseguirem a qualificação para os Jogos Olímpicos (JO) deste ano. Foi o caso da cavaleira belga Karin Donckers, que garantiu aqui o bilhete para o Rio de Janeiro ao terminar em 1.º lugar, na sela de Fletcha van't Verahof, apenas com a pontuação do Ensino, de 39,5pts. Esta será a 6.ª vez que Karin Donckers estará presente numas olimpíadas. Numa prova que contou com 23 conjuntos inscritos, foram

as mulheres a conquistar o pódio. Em 2.º ficou a britânica Gemma Tattersall, na sela de Chico Bella P (42pts), seguida da compatriota Sarah Bullimore, montando Lilly Corinne (47,2pts). A representar Portugal na prova rainha esteve João Duarte Silva, com Xaft, que terminou na 4.ª posição (58,3pts). Este foi também um resultado importante para o cavaleiro português, que garantiu aqui os mínimos para o CCI4*de Badminton, em Inglaterra. Ao nível das 3* decorreu ainda


COMPLETO Regis Prud Hon Kaiser HDB

Tiana Coudray Sambuca

Manuel Grave Formiga

no segundo fim-de-semana um CIC, onde estavam inscritos 22 conjuntos. A vitória foi conquistada pela britânica Sarah Bullimore, na sela Rêve du Rouet, com 45,1pts. Para se apurar o 2.º e 3.º lugar foi necessário recorrer ao tempo do Cross, uma vez que Andreas Dibowski, com FRH Butts Avedon, e Joris Vanspringel, em Lully des Aulnes, terminaram com 50,7pts. Andreas terminou o Cross dentro do tempo estabelecido, ocupando por isso o 2.º lugar do pódio. Já o belga Joris Vanspringel

Andreas Dibowski em FRH Butts Avedon

Karin Donckers Fletcha van't Verahof

João Duarte Silva Xaft

teve uma penalização de 4,4pts por excesso de tempo, terminando na 3.ª posição. No CCI2*, entre os 28 conjuntos inscritos, destacou-se a norte-americana Tiana Coudray, que esteve pela primeira vez na Barroca. Tiana conquistou o 1.º lugar montando Sambuca, com uma pontuação final de 45,5pts. Padraig McCarthy (IRL) e Mr Chuncky terminaram na 2.ª posição, apenas com a pontuação do Ensino, de 54,8. Já Joris Vanspringel, desta vez na sela de Imperial van de Holtakkers ficou em 3.º (58,6pts).

O CIC1* foi onde houve mais conjuntos inscritos, com um total de 67. Esta prova foi também a segunda edição do Troféu Francisco Seabra, criado em 2015, com a primeira edição a decorrer nos Cegarrega Horse Trials. O primeiro a conquistar o troféu foi Carlos Grave e, na Barroca, sucedeu-lhe Karin Donckers, fruto do 1.ª lugar no CCI1*. Na sela de Jalapeño, a cavaleira belga terminou mais uma vez apenas com a pontuação do Ensino, de 33,6. Em 2.º lugar no CCI1* ficou Yoshiaki Oiwa, um dos cavaleiros

japoneses qualificados para os JO. Yoshiaki montou Calle 44 terminando também apenas com a pontuação do Ensino, de 39,4pts. A fechar o pódio ficou a holandesa Janneke Boonzaaijer, em Campbelle WS (41pts). Esta foi a XIII edição dos Concursos Internacionais de CCE da Herdade da Barroca d'Alva, onde estiveram presentes cerca de 150 cavalos, com cavaleiros em representação de 25 nações.n Carla Laureano Fotos: Clouds&Stars


INTERNACIONAL

GUERDAT E MINDERHOUD

CAMPEÕES EM GOTEMBURGO DE 23 A 28 DE MARÇO A SCANDINAVIUM ARENA, EM GOTEMBURGO (SUÉCIA), RECEBEU AS DUAS FINAIS DA TAÇA DO MUNDO FEI DE SALTOS E DRESSAGE.

Steve Guerdat Corbinian

Hans-Peter Minderhoud Glock's Flirt

primeiro campeão a ser conhecido foi em Ensino, no domingo, com HansPeter Minderhoud a levantar a Taça, depois de ser avaliado em 82,357% no Grande Prémio Kur, com Glock's Flirt, que monta há dois anos. Para o holandês de 42 anos, esta foi a 6.ª final, mas a primeira vez em que subiu ao pódio, concretizando assim um sonho antigo. Minderhoud assinalou a 13.ª vitória da Holanda em 31 edições da Taça do Mundo já realizadas, sendo que a última vez que a nação conquistou este troféu foi, curiosamente, através do seu companheiro Edward Gal, que montou Totilas, em 2010.

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Ladearam Hans-Peter Minderhoud duas senhoras, em 2.º a cavaleira da casa, Tinne Vilhelmson Silfvén com Don Aurelio (81,429%) e em 3.º pelo segundo ano consecutivo, a alemã Jessica von Bredow-Werndl/Unee BB (80,464%). Participaram na Kur os 18 conjuntos apurados para a final da Taça do Mundo, os mesmos 18 que iniciaram o concurso no Grande Prémio (GP) de sexta-feira, onde também foi vencedor Hans-Peter Minderhoud. Para o cavaleiro, "foram dois dias muito longos, desde o GP. Normalmente não fico nervoso, mas hoje pensei que queria mesmo isto! Por isso estou muito contente por ter ganho", disse.

Pódio de Dressage

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MAIS UMA PARA STEVE GUERDAT O campeão olímpico e vencedor da Taça do Mundo de 2015, Steve Guerdat, revalidou o título na Final da Taça do Mundo de Saltos de Obstáculos, juntando mais uma medalha de ouro ao seu currículo. A francesa Pénélope Leprevost ganhou a primeira prova com Vagabond de la Pomme e o alemão Christian Ahlmann/Taloubet Z venceu a 2.ª, mas era o cavaleiro suíço que liderava o ranking, tendo chegado ao final da competição sem qualquer penalização por parte da sua montada, o castrado de 10 anos Corbinian. O 2.º lugar ficou para o holandês Harrie Smol-

Pódio de Saltos

ders/Emerald NOP e o 3.º para o cavaleiro que venceu a final em 2014, o alemão Daniel Deusser/Cornet D'Amour. Estiveram nesta final 35 conjuntos, dos quais chegaram à última classificativa 30, que saltaram o percurso desenhado pelo espanhol Santiago Varela. Para o vencedor "foi muito especial. Não estava a pensar que iria estar aqui como vencedor da Final, hoje. Tenho uma equipa muito forte a apoiar-me, pessoas que se levantam cedo todas as manhãs e que trabalham muito, por isso quero agradecer a toda a minha equipa, porque isto é uma vitória de todos. Temos o mesmo objectivo, apesar de ser eu que estou aqui à vossa frente, há muita gente que deveria cá estar comigo".n CM/Fotos: FEI/Arnd Bronkhorst e Hippo Foto - Dirk Caremans



FEIRAS E EVENTOS

FEIRA ANUAL DA TROFA

IMPERADOR DAS ARCAS E DO NORTE

Imperador das Arcas foi eleito Campeão Macho (Coudelaria Manuel Maia Correia)

Manuel Maia Correia venceu prémio de Melhor Criador

O POLDRO DE 3 ANOS SAGROU-SE CAMPEÃO DE CAMPEÕES DO CONCURSO MODELO E ANDAMENTOS DA RAÇA LUSITANA DA FEIRA ANUAL DA TROFA 2016, QUE DECORREU A NORTE DO PAÍS DE 3 A 6 DE MARÇO. riação e propriedade da Coudelaria Manuel Maia Correia, Imperador das Arcas foi eleito Campeão Macho e defrontou com sucesso a Campeã Fêmea Estiloza, Égua Afilhada, criação de Maria de Jesus Duarte Rico e propriedade da Coudelaria Monte Xisto Mano. Dr. Manuel Maia Correia recebeu igualmente o prémio destinado ao Melhor Criador. Foram entregues 5 medalhas de ouro nas Fêmeas e 3 nas Classes de Machos. Passamos a enumerar os vencedores de cada uma da 10 classes disputadas: Lambreta do Lagar na de Fêmeas de 1 Ano (criação e propriedade da Coudelaria Manuel Maia Correia); Júpiter na de 2 anos (criação Filipe José Fernandes Sousa e propriedade Coudelaria Rio Lima), Invicta Das Arcas na de 3 anos (criação e propriedade da Coudelaria Manuel Maia Correia), a já referida Estiloza nas Éguas Afilhadas e Heroína da Ferraria nas Éguas Montadas (criação Luís Meneses e propriedade Távora Correia). Já nos Machos, alcançaram o 1.º posto: Larapio na classe de

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Júpiter poldra de 2 anos (criação Filipe José Fernandes Sousa e propriedade Coudelaria Rio Lima)

REVISTA EQUITAÇÃO


Estiloza - Éguas Afilhadas, criação de Maria de Jesus Duarte Rico e prop.de Coudelaria Monte Xisto Mano

poldros de 1 ano (criação e propriedade José António Silva Paredes); Jasmim das Arcas na de 2 anos (criação e propriedade da Coudelaria Manuel Maia Correia); o mencionado anteriormente Imperador das Arcas de 3 anos; Hurtega na classe de 4 anos (criação César Augusto Senra Silva e propriedade de Paulo Manuel Rodrigues Mendanha) e por fim Espanhol na classe de cavalos de 5 ou mais anos (criação e propriedade Francisco Sousa Cardoso, Herds).

O Concurso de Modelo e Andamentos é sempre um dos pontos alto da feira, que a nível equestre contou também com cavalhadas, garraiada, HorsePaper, provas de Atrelagem, Horseball e Equitação de Trabalho. Aliás, desta última, a Trofa foi palco da II Jornada do XVIII Campeonato Nacional em conjunto com a I Jornada do Campeonato Regional do Norte. No nacional disputaram-se provas de quatro escalões, com a adesão de 18 conjuntos. Nos da juventude, em Sub-16 ganhou Francisco

Espanhol - Cavalos de 5 anos ou mais - Coud. Francisco Sousa Cardoso, Herds

Xavier Santos Rocha/E-Max da Água Prata (LUS) e em Sub-20 Nuno Tanganho Neves/Xgaudi das Lezírias (CP). Vasco Mira Godinho saiu vitorioso em Consagrados com Diospira (CP) e em Masters com Trigo (LUS). Já o Campeonato Regional teve a comparência de 21 binómios para seis escalões, tendo sido o de Cavalos Debutantes o que mais concorrentes registou, com uma dezena de animais inscritos. Todos os vencedores montaram cavalos de raça lusitana, foram eles: André Costa/Brazão (Sub16), Bruno Magalhães Pinto/Aole (Sub-20), Jaime Gonçalves/Distinto (Cavaleiros Debutantes), Miguel Fonseca/Estribo (Cavalos Debutantes), Joaquim Teixeira/ Barão da Lagoalva (Consagrados A) e Astrid Hedman/Altivo (Consagrados B). Quanto ao Horseball, a feira acolheu o 1º Torneio Qualificativo Horseball Tour 2016, ganho pela Quinta da Figueira, seguindose na tabela classificativa a Quinta de Santo António, La Muralla e Quinta do Corvo. Realizou-se ainda um Derby de Atrelagem, 1.ª Jornada do Campeonato Regional Norte, com 20 concorrentes (alguns deles espanhóis) e os seguintes vencedores: Marco Rodrigues (1 Pónei), Rodrigo Manuel Silva (Parelha de Póneis), João Frias (1 Cavalo), Nuno Silva (2 Cavalos) e Hugo Frias (4 Cavalos). Para Pedro Silva, da organização da Feira Anual da Trofa 2016, o certame "teve um ba-


FEIRAS E EVENTOS

lanço bastante positivo! Recebemos um número considerável de cavalos, quer para competição quer para lazer... Cerca de 250 animais passaram pela Feira! As provas correram todas com um elevado nível e podemos dar maior ênfase ao Modelo e Andamentos, que teve uma qualidade de animais bastante elevada (nas Fêmeas foram atribuídas cinco medalhas de ouro e três de prata e nos Machos três de ouro e cinco de prata!)". Já sobre a vertente desportiva, Pedro Silva, destaca "a prova da Equitação de Trabalho que completou o limite máximo de inscrições, vindo cavaleiros de todo o país! Pela primeira vez na Feira da Trofa realizou-se Prova da Vaca, o que foi um êxito, enchendo as bancadas!". Motivos que levam o organizador a concluir que o evento "foi um sucesso! Esperemos que em 2017 consigamos proporcionar uma feira ainda melhor e maior para agradar a todos os nossos aficionados, com a expectativa de alargar cada vez mais aos criadores de renome nacional!”n Ana Filipe Fotos: Rui Pedro Godinho

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REVISTA EQUITAÇÃO



INTERNACIONAL

CIRCUITOS DE OBSTÁCULOS EM ESPANHA

PREPARAÇÃO DA ÉPOCA COM SALERO DIZ O VELHO DITADO POPULAR QUE "DE ESPANHA, NEM BOM VENTO NEM BOM CASAMENTO", MAS OS NOVOS TEMPOS TRAZEM BONS CIRCUITOS DE PREPARAÇÃO PARA A ÉPOCA. QUE O DIGAM AS DEZENAS DE CAVALEIROS PORTUGUESES QUE DESDE JANEIRO PASSARAM A FRONTEIRA PARA PARTICIPAR NO SUNSHINE TOUR, MEDITERRANEAN EQUESTRIAN TOUR (MET) E COSTA DEL SOL EQUESTRIAN TOUR. A EQUITAÇÃO FOI SABER MAIS SOBRE ESTA EXPERIÊNCIA.

Robert Whitaker Catwalk IV

omecemos pelo Sunshine Tour, em Dehesa Montenmedio, Vejer da la Frontera, que na sua XXII edição decorreu de 16 de Fevereiro a 20 de Março (antecedido por um CSI2*) e contou com CSIYH1*, CSI2*, CSI3* e CSI4*, cinco Grandes Prémios, 22 provas qualificativas para o ranking mundial e uma dotação a rondar os 900.000€. Passaram pela competição cavaleiros de meia centena de nacionalidades (espanhóis e britânicos em maioria) e cerca de 1600 cavalos, o que representou um aumento significativo dos inscritos em relação a anos anteriores. Para além do número de concorrentes, os

C

organizadores orgulham-se da qualidade dos mesmos, este ano com a presença de três cavaleiros do Top 10 mundial: Pénélope Leprevost (FRA), Gregory Wathelet (BEL) e Bertram Allen (IRL). Mas a parada de estrelas não se ficou por aí com a presença de Jos Verloy (BEL), Julien Epaillard (FRA), Pedro Veniss (BRA) ou os espanhóis Sergio Álvarez Moya e Manuel Fernández Saro. Por Portugal passaram por estas pistas, com diversas montadas: Marina e António Frutuoso de Melo, António Matos Almeida, James Everitt, Francisca Vaz Guedes, Salvador Fonseca Ferreira, João Pedro Janeiro, João Paulo Bue-

Marina Frutuoso de Melo

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REVISTA EQUITAÇÃO

Samantha Mcintosh Estina

no Rodrigues, Luca e Marcelo Mota Sousa, Salvador Fonseca Ferreira, Gonçalo Carvalho Martins, João Pedro e Nuno Tiago Gomes e Duarte Romão. A participar desde a primeira edição em 1995, tendo apenas falhado por três vezes, está António Frutuoso de Melo, que se fez acompanhar pela esposa Marina (presente em 12 edições), pelos alunos Francisca Vaz Guedes, Luca e Marcelo Mota Sousa, João Janeiro e Gonçalo Carvalho Martins e pela equipa de tratadores chefiada pelo Fredson Rocha. E porque escolhe António o Sunshine ano após ano? "A principal razão é haver várias pistas (12), das quais são habi-

tualmente utilizadas oito, ou seja, em especial para os cavalos novos, que é sempre a nossa principal aposta, acaba por ser muito bom e importante para a formação dos mesmos, pois podem alternar entre pistas de relva e areia, assim como experimentar vários parques de obstáculos diferentes. Depois também pelo comércio, uma vez que há um grande leque de compradores e vendedores e acaba por haver uma grande procura e oferta dado o elevado número de cavalos e pessoas envolvidas no evento." A equipa levou como objectivo "a formação dos cavalos mais novos, o iniciar progressivo da época Homenagem a Coltaire Z


INTERNACIONAL

para os mais velhos e colocar na montra internacional estes novos produtos que em grande parte são criação nossa e filhos do Coltaire Z." Quanto à evolução dos alunos, fora de casa durante quase dois meses "é muito importante para os cavaleiros mais novos poderem competir entre os grandes cavaleiros internacionais e num circuito de tal importância. São pistas grandes, provas técnicas e a competição é muito exigente ou seja, tem que haver uma maior concentração e empenho para que haja evolução e o facto é que temos conseguido cumprir esses objectivos, tendo os nossos alunos obtido excelentes resultados, fazendo mesmo tocar o hino nacional." No dia 6 de Março, decidiu a organização do Sunshine Tour homenagear o falecido Coltaire Z. "Foi sem dúvida um momento muito especial" recorda António Frutuoso de Melo. "Demonstrou o carinho e admiração que o Coltaire Z tinha por parte da comunidade equestre. Foi colocado um vídeo no écran gi-

Pénélope Leprevost

gante da pista principal minutos antes de iniciar o terceiro Grande Prémio e foi realmente emocionante ver todos os cavaleiros a olhar para o écran durante alguns minutos a ver o Coltaire Z a saltar. Seguiu-se um acto simbólico de entrega de uma salva de prata em homenagem ao Coltaire Z e para surpresa ainda maior, colocaram o nome de Coltaire Z na pista n.º 2. Sem

dúvida que foi uma atitude fantástica de reconhecimento por parte dos proprietários do Sunshine Tour aos quais aproveito para enviar uma vez mais os meus agradecimentos." Quanto ao que o cavaleiro mais gostou desta edição, Frutuoso de Melo destaca "o óptimo ambiente, a qualidade das pistas, dos parques de obstáculos, dos restaurantes, parque de camiões,

etc… Atrevo-me mesmo a dizer que é cinco estrelas!". Mas não foram só os cavaleiros nacionais em Montenmedio, também os oficiais estiveram em força, nomeadamente os juízes João Bourbon, Teresa Bourbon, Manuel Carvalho Martins, Francisco Captivo e Ana Jordão; a assistente de Chefe de Pista Maria Antónia Vinagre e o assistente de Comissário Armando Rebelo. Já naquela que é a quinta edição do circuito de Primavera no Centro Equestre de Oliva Nova, Valência, o MET foi dividido em quatro fases: a 1.ª de 19 a 31 de Janeiro, a 2.ª de 9 a 28 de Fevereiro, a 3.ª de 15 de Março a 3 de Abril e a 4.ª de 12 a 24 de Abril. No total foram quatro meses, com dez semanas de provas de níveis CSIYH*, CSI*, CSI2* e CSI3*. Terão passado pelo MET cerca de 700 cavaleiros (entre os quais Scott Brash, Gregory Wathelet ou Steve Guerdat) e 2800 cavalos. Por Portugal, estiveram em pista: Mário Wilson Fernandes, Bruno Pereirinha, Jessica Roskilly, Gonçalo Barradas, João Pedro


INTERNACIONAL

Gomes, Nuno Tiago Gomes e João Pereira Coutinho. A EQUITAÇÃO conversou com Bruno Pereirinha, no ano da estreia, não só no MET, como em circuitos em terras espanholas. O cavaleiro esteve acompanhado da aluna Jessica Roskilly, para quem esta foi a 3.ª vez nestas pistas, teve a mãe como Comissária Assistente e "sempre me falou maravilhas do circuito, o que obviamente pesou na minha escolha" diz Bruno, que destaca a maneira como as provas estão organizadas, pois o MET tem "na prática, três circuitos ao mesmo tempo (Gold, Silver e Bronze), nos quais varia, mais do que a altura das provas, a complexidade das mesmas, o que oferece diversas opções no planeamento da evolução dos vários cavalos. De facto, esta opção permite, por exemplo, (i) subir os cavalos em termos de altura, mantendo uma complexidade mais simples (Bronze Tour), ou (ii) aumentar a complexidade técnica dos percursos (Silver e Gold Tour), conforme o que se pretenda para cada cavalo em concreto. Por fim, também o excelente parque de obstáculos do MET, sempre em mudança todos os dias, pesou na minha decisão, dado permitir que os cavalos ganhem uma experiência acrescida (várias pistas e vários obstáculos diferentes), mesmo estando no mesmo espaço." Para esta experiência Bruno Pereirinha levou dois cavalos, "os meus objectivos pessoais passavam por cimentar o cavalo Quoi Que no nível de 1.40m e tentar subir a égua Unity para um patamar superior, dado que a última época foi marcada por diversos incidentes que nunca me permitiram competir com a mesma de forma regular. Os objectivos foram plenamente alcançados. Relativamente à Jessica, o plano passava por, por um lado, retomar a boa forma passada com o cavalo Equisto e, por outro lado, ganhar experiência com a nova montada, o Dicaletto Z. A Jessica até ao momento está de parabéns, na medida em que tem estado muito consistente com o Equisto, tendo já bastantes zeros nas provas de 1,30m e com o cavalo Dicaletto está já a saltar provas de 1.40m

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Panorâmica da pista de relva de Oliva Nova

de uma complexidade e competitividade assinalável." Interrogado sobre se dentro de pista há muita competitividade ou se os cavaleiros estão ainda numa fase de preparação/pré-época, Pereirinha afirma que "sinceramente, acho que aqui ninguém tem tempo para 'pré-época'. O nível/complexidade dos percursos e a competitividade de todos os cavaleiros, em geral e em todas as provas (incluindo cavalos novos), são altíssimos. Fazer um percurso limpo, mas sem ser rápido, equivale a ficar, com sorte, no meio da tabela. Para se ganhar no MET não chega ser limpo e rápido, há que ser extremamente rápido. O facto de estarem aqui presentes cavaleiros do topo munBruno Pereirinha

Robert Vos

REVISTA EQUITAÇÃO

dial leva a que todos tentem sempre ser melhores, elevando a competitividade a níveis em que, pessoalmente, nunca tinha estado presente." Sobre o que mais gostou Bruno Pereirinha destaca a aprendizagem "não apenas em termos de equitação, mas também em termos de manuseamento/tratamento dos cavalos. O nível do cuidado que cavaleiros e, acima de tudo, tratadores têm com os cavalos do mais alto nível, procurando que os mesmos tenham o maior conforto e melhores condições físicas possíveis para o esforço a que são constantemente sujeitos, infelizmente, na minha opinião, é ainda muito superior ao que se verifica em Portugal. O trata-

mento dos cavalos terá que ser o meu maior destaque, dado que aqui é também dado aos cavalos e não aos cavaleiros. Infelizmente, a este nível, parece-me que (com honrosas excepções claro) ainda temos muito que aprender, se queremos andar ao mais alto nível. Em termos de organização do MET, gostaria de destacar o belíssimo parque de obstáculos e o cuidado em que, em cada prova, tenhamos alguma dificuldade nova. Todas as provas vão rodando pelas diversas pistas (incluindo campo de relva), existindo sempre obstáculos novos e menos habituais em Portugal (como o muro do MET ou o aqui já famoso BUS). Por fim, destacar também os belíssimos percursos e todos construídos com a mesma filosofia. O trabalho dos mais variados chefes de pista presentes acaba por não ser muito diferente, o que permite que os cavalos evoluam mais, não sendo a cada fim de semana surpreendidos com uma qualquer diferente 'armadilha'." Ao longo destes meses diversos conjuntos lusos conseguiram boas prestações, com zeros e lugares classificáveis. Confira os resultados de todos os portugueses nestes dois circuitos assim como sobre os vencedores dos grandes prémios, em detalhe no website da Revista Equitação. Também em Espanha, mas em Mijas, decorreu ainda o Costa del Sol Equestrian Tour, de 10 a 28 de Fevereiro e 8 a 27 de Março, com CSIYH e CSI2* e a presença de Luís Silva e Filipe Gonçalves por Portugal. Na primeira fase, por exemplo, participaram 580 cavalos de 31 países e cinco continentes. No total, foi entregue uma dotação de 295.300€, nas 90 provas realizadas, das quais sete pontuáveis para ranking mundial. A lusa Cristina Miranda Alves, exerceu funções como Juiz Estrangeiro.n AF/Fotos Sunshine: Moises Basallote Fotografia; Panorama Exploring; Fotos MET: © Hervé Bonnaud/ www.1clicphoto.com



O CAVALO E A ARTE

O PERÍODO HELENÍSTICO E A SUA ARTE

O CAVALO NA PINTURA, NA ESCULTURA E NO BAIXO-RELEVO NA PREPARAÇÃO E ELABORAÇÃO DOS ARTIGOS QUE SE TÊM APRESENTADO NESTA REVISTA SOBRE A HISTÓRIA DA ATRELAGEM MUITO DO QUE TEM SIDO ESCRITO TEM SIDO ACOMPANHADO PELA PRESENÇA, EM DESENHOS E FOTOGRAFIAS, DE MUITAS OBRAS DE ARTE QUE TÊM PROCURADO ILUSTRAR ESTA ACTIVIDADE NOS TEMPOS ANTIGOS. s representações do cavalo têm um enorme significado e importância na história da arte do ocidente, médio oriente e não só, quer pelo seu valor iconográfico, quer pela beleza e conteúdo de que se revestem, quer ainda pela importância que desde sempre foi dada à representação do cavalo. O período helenístico, que podemos considerar como aquele que se segue à morte de Alexandre Magno no século IV a.C., até à preponderância de Roma e do seu império, não foge a esta regra e é particularmente rico na produção artística que chegou até nós, muita da qual está ligada ao cavalo e sua representação na arte de então. A sua principal presença énos veiculada pela escultura e baixo-relevo, já que a pintura, também muito praticada e admirada na época, foi prejudicada uma vez que a sua aplicação no gesso de paredes, a fresco ou de qualquer outra forma, foi alvo de muitas depredações pela mão do homem, por destruições várias ou, simplesmente, por ser um meio mais vulnerável aos efeitos da passagem do tempo e das inclemências do clima. A arquitectura foi servida pela escultura e baixo-relevo, pois

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J. P. Magalhães Silva

quer nos frontões dos templos, que nos arcos triunfais, quer nos frisos dos embasamentos e socos de estatuária, a representação do cavalo está presente, sobretudo como elemento de prestígio de quem o monta ou atrela. Quer no Altar de Pérgamo (figura 1), quer no (já desaparecido) Mausoléu de Halicarnasso, quer em inúmeros sarcófagos deste período histórico, as representações deste nobre animal estão significativa e profusamente adoptadas. Podemos dizer, sem qualquer hesitação, que o cavalo e a sua anatomia, ao serviço do homem ou de per si, foram admirados como algo de belo desde tempos imemoriais, já que podemos abranger nesta afirmação até a arte rupestre da pré-história. Mas vejamos com mais cuidado alguns exemplos da arte helenística e das suas particulares características que no caso

do presente artigo servirão de acompanhamento ao que ficou referido no artigo sobre a história da atrelagem também incluso neste número da “EQUITAÇÃO”. Como primeiro exemplo vejamos a figura 2 que é a foto de um dos 4 cavalos que ornamentam a fachada da Catedral de S. Marcos, em Veneza. É um dos casos mais célebres e conhecidos da escultura mundial e marca bem o lugar que ocupa na história da arte ocidental. Sem haver certezas, terão sido concebidos e realizados no século III ou IV a.C., pelo célebre escultor grego Lísipo, ou por um outro artista da sua oficina, e, segundo alguns especialistas, teriam feito parte de uma das sete maravilhas do mundo, pois constituíam a quadriga que puxava o carro do deus Sol, Hélios, estando este conjunto integrado no conhecido colosso de Rodes, situado à entrada do porto daquela ilha grega. Estiveram 7 séculos presentes em Bizâncio e depois foram levados para Veneza após a conquista de Constantinopla pelos cruzados, em 1204 (quarta cruzada). Ornaram durante outros 7 séculos a fachada da Catedral de S. Marcos em Veneza (figura 3). Atacados pela poluição, foram substituídos por réplicas que hoje

marcam a mesma presença no citado local. Os originais, preservados e expostos hoje no Museu da Catedral, são constituídos por inúmeros elementos de bronze que, unidos por rebites e peças forjadas, foram depois cuidadosamente polidos à mão, formando superfícies contínuas, as quais antigamente estavam revestidas por várias camadas de ouro ainda hoje parcialmente conservadas. As características principais desta escultura ilustram de forma exemplar a arte do seu tempo. São elas: um realismo e um naturalismo no detalhe, aliados a uma harmonia do conjunto, bem assim como outra principal característica que é a do movimento, dada com majestade e força, sem exagero de atitudes ou espalhafato nos efeitos. Quanto ao realismo, ele em nada prejudica o efeito geral, sendo notáveis os cuidados no pormenor de músculos, veias e artérias sob a pele, pregueado na epiderme e verosimilhança nos efeitos das crinas, ornamentando o arquear de pescoço e rabadas (figura 4). As orelhas variam de atitude e o topete de crina num nó à persa (como então se usava nas competições) são pormenores subtis Fig. 2

Fig. 1

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REVISTA EQUITAÇÃO


que ajudam ao realismo do conjunto, sem distraírem o olhar de quem os admira. Vale a pena reparar que não há 2 animais em posição idêntica: os dois cavalos que têm o pescoço voltado para a direita, têm o membro anterior levantado diferente (um, o da direita, o outro, o membro da esquerda). O mesmo acontece com os cavalos que têm o pescoço voltado para a esquerda. Estas diferenças ajudam ao efeito de enorme realismo do conjunto sem lhe macularem a harmonia e o equilíbrio majestático de que a sua presença se reveste. Para além das cabeçadas, que apenas se esboçam nas cabeças dos animais, os arreios estão reduzidos à banda de tracção que lhes cinge o pescoço, sem outros sinais de rédeas, jugos ou tirantes, que julgamos hoje supérfluos aos efeitos deste conjunto, o qual ainda hoje nos impressiona de espanto tal a perfeição da obra. O mesmo deve ter sentido Napoleão quando os viu, pois não se conteve que não os tivesse enviado

Fig. 3

para Paris após a sua passagem por aquela cidade de Veneza, que tomou como coisa sua como já tinha feito a tantos outros locais do norte de Itália por onde tinha passado. Após a queda de Napoleão, foram os cavalos devolvidos à Basílica de S. Marcos e a Veneza em 1815. Tinham estado cerca de 7 anos em Paris. Em tempos de depredações e roubos de arte, esta questão faz-nos pensar:

e que tal devolvê-los a Constantinopla (Istambul)?... e de Istambul para Rodes? Etc. etc. Para finalizar com outro exemplo da escultura em bronze do período helenístico, assumindo todas as suas características exemplares de realismo, movimento e beleza, apresentamos (figura 5) uma foto de um cavalo montado por um menino, escultura com muita acção e beleza, encontrada no mar, cerca

Fig. 4

Fig. 5

do cabo Artemision, na Grécia. Crê-se que esta obra data de 199 a 100 a.C. e encontra-se no Museu Arqueológico de Atenas. Pela qualidade e beleza das peças pensámos que mereciam uma referência especial quando, a propósito de atrelagem, falamos da arte do período helenístico ligada ao cavalo, o que aqui se celebra. n


RAIDES

CAMPEONATO DE PORTUGAL DE RAIDES

BEATRIZ CORREIA SAGRA-SE CAMPEÃ DE JUNIORES O CAMPEONATO NACIONAL TEVE LUGAR A MEIO DE MARÇO, COM A MEDALHA DE OURO A SER CONQUISTADA POR BEATRIZ CORREIA, DE 15 ANOS, NAQUELA QUE FOI A SUA SEGUNDA PARTICIPAÇÃO EM CAMPEONATOS. s medalhados foram conhecidos após o CEI2* YR de 120kms. Ladearam Beatriz Correia no pódio, Isabel Nogueira com a de prata e João Pedro Carpinteiro, com a de bronze. Praticante da disciplina de resistência equestre há três anos, sagrar-se Campeã Nacional é para Beatriz Correia "o resultado de todo o trabalho e dedicação que deposito neste desporto". O raide contou com três etapas, com a cavaleira de Elvas a realizá-lo em 6h28m43s, a uma média de 18,522kms/h. "Ao princípio tive algumas dificuldades em con-

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trolar o cavalo, mas ao longo do raide ele foi-se acalmando e tudo se tornou mais fácil" afirmou a cavaleira à EQUITAÇÃO, para quem "o percurso não era muito técnico. Na primeira etapa fui tentando aproximar-me da cavaleira que estava em primeiro, algo que consegui logo na segunda etapa. A partir daí fizemos o resto do raide juntas" Beatriz referese a Isabel Nogueira, uma cavaleira que conhece bem, pois os cavalos de ambas, Repoker e Maravilha, são propriedade e treinados por Rui Lanternas. "O Repoker é um cavalo pequeno mas com um grande

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galope e com um grande coração. Recupera muito rápido, o que me fez ganhar muitos minutos de avanço. Foi o primeiro raide que fiz com ele e o seu primeiro 120kms, portouse muito bem" descreveu a Campeã. Isabel Nogueira concluiu com Maravilha com uma média de 18,522Km/h. João Pedro Carpinteiro, cavaleiro também de Elvas, competiu com Xénia Tapada, propriedade de Jaime Magarreiro, a uma média de 18,060kms/h. Um total de 16 conjuntos disputaram o Campeonato Nacional de Juniores, numa prova que contou com

20 participantes, tendo vencido o CEI2* YR a eslovaca Lucia Supekova com Eferia do Rio Frio (a uma média de 19,153km/h). Este raide foi uma Prova Teste para o Europeu de Juniores e Jovens Cavaleiros, que decorrerá de 2 a 4 de Setembro, nestas mesmas instalações de Rio Frio. A 12 de Março realizaram-se diversos raides, com a maior adesão no CEI2* de 120km, com 31 conjuntos e vitória da espanhola Maria Ledesma/Caracas de d'Iberia (média de 19,466kms/h), uma égua treinada por Rui Brasão. O conjunto foi seguido na tabela classificativa pelos portugueses Pedro Godinho/Montalban Endurance (a 18.907 km/h) e Conceição Tomás/Consentida (a 18.655km/h). Venceram ainda, neste dia, os lusos: João Amante/Zeus no CEI* 80kms (17, 810kms/h), João Lopes Aleixo Mendonça Marques/Fadista no CEN 80kms (15,868kms/h) e António Saldanha/Vizir no CEN 40kms (15,966kms/h).n Ana Filipe/Foto: Clouds & Stars



COUDELARIAS

COUDELARIA SANT’IAGO LUSITANOS

DE PALMELA PARA OS PRIMEIROS PASSOS NA DRESSAGE TAL COMO O NOME INDICA, A COUDELARIA SANT’IAGO LUSITANOS DEDICA-SE À CRIAÇÃO DE CAVALOS PURO SANGUE LUSITANO. SITUADA NA ZONA DE PALMELA, É NA QUINTA DAS FORMAS QUE OS ANIMAIS NASCEM, SE FAZ O SEU MANEIO E O DESBASTE.

Coudelaria Sant’iago Lusitanos é fruto de um sonho que se tornou realidade quando dois jovens amigos, que já criavam cavalos lusitanos anteriormente, decidiram unificar esforços e conhecimentos criando uma parceria dinâmica e com objectivos definidos. Os proprietários, Arq. Bruno Palaio e Arq. Marco Santinhos, procuram como base principal da criação trabalhar com genética comprovada, no sentido funcional. "As éguas da casa são montadas e testadas para garantir os pontos mais importantes a beneficiar com garanhões igualmente testados em provas de

A

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funcionalidade/competição de alto nível", explicam os criadores. Para Bruno Palaio "o espaço físico da propriedade não poderia ser melhor. A Quinta das Formas conta com 50 hectares e é nestas terras de regadio que se produz toda a forragem de alta qualidade fornecida aos animais". "Nesta casa valoriza-se de sobremaneira a importância da alimentação tendo como parceiro o Sr. João Arruda que representa a Intacol no que diz respeito às rações" acrescenta Marco Santinhos. Com bases bem definidas quanto à escolha de garanhões e éguas, a Coudelaria Sant’iago

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Lusitanos conta com a colaboração de dois cavaleiros e treinadores de grau 2 de equitação, Fábio Gonçalves e Raquel Branco. Ambos formados em Portugal decidiram passar os últimos sete anos fora do país. Primeiro Raquel Branco integrou o espetáculo Cavalia e depois, juntos, fizeram carreira em Espanha, na Yeguada La Lira y la W do proprietário Dr. Enrique Guerrero, presidente da Associação Espanhola do Puro Sangue Lusitano (AEPSL). A experiência adquirida em terras de "nuestros hermanos" incluiu competição em concursos de Dressage, preparação de cavalos e alunos

para provas. Actualmente Fábio Gonçalves, cavaleiro e responsável técnico da coudelaria conta com a parceria que foi desenvolvida por mais de 7 anos em Espanha com Raquel Branco. Para ambos os profissionais "a prioridade é a testagem dos animais criados em casa, para poder avaliar dados específicos e concretos a transmitir aos criadores no sentido de aumentar a capacidade atlética dos produtos" explica Fábio. Neste momento a Coudelaria conta com três animais selecionados para competir na disciplina de Dressage, Fidalga de Sant’iago, filha de Spartacus


COUDELARIAS

(Santa Margarida), que já iniciou a sua época desportiva, Harpão de Sant’iago, filho de Ui (OGC) e Horizonte de Sant’iago filho de Quixote (MVL). Tal como toda a responsabilidade e organização técnica da coudelaria, a carreira destes animais é guiada por estes dois jovens cavaleiros, asses-

sorados e instruídos em treinos periódicos com Francisco Cancella de Abreu. "Temos bem claro que é primordial a importância da montabilidade de todos os animais, para que posteriormente possam ser comercializados com total garantia e confiança de um trabalho coeso" afirma Marco Santinhos.

"Nos dias de hoje a competição é algo fundamental não só para pôr em prática as técnicas e evolução adquiridas, mas também é um exame mais a fazer ao comportamento dos cavalos" reforça Bruno Palaio. Na Quinta das Formas encontram-se também alguns cavalos de clientes entregues a

Fábio Gonçalves e Raquel Branco, assim como na Sociedade Hípica Portuguesa, em Lisboa, uma vez que os dois cavaleiros se dedicam igualmente ao treino de diversos alunos e cavalos em casas particulares, ministrando estágios periódicos, nomeadamente em Espanha.n


RAIDES

enceu o CEN 80kms Jaime Magarreiro/Chico, seguido de Luís Quadrado Filipe/Damasco do Alcaide. Já os pódio do CEP 80kms ficou ordenado com David Romão/ Elliot dos Guelros em 1.º, Pedro Cabaço/Ferrari's em 2.º e Maria Ana Prazeres/Oussam Cabirat em 3.º. Quanto ao CEP 40 kms, saiu vitorioso José Siva/Grace da Defesa, seguido na tabela classificativa por Filipe José/Fantoche e Nuno Oliveira/Daim. O Prémio destinado à montada com Melhor Condição Física recebeu o nome do Dr. Henrique Soares Cruz e foi atribuído ao cavalo Chico montado por Jaime Magarreiro e propriedade de Sofia Coelho, que acabaria por lhe ser entregue pelas mãos de Gonçalo Soares Cruz, filho do médico-veterinário e antigo secretário geral da FEP desaparecido em 2014, e ainda por dois amigos e grandes raidistas Armando João Moura e João Margalho.n AF

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RAIDE HÍPICO DE HOMENAGEM

VALERIE CLARKE VALERIE CLARKE, CAVALEIRA QUE DURANTE A SUA VIDA COMPETIU EM ENSINO, SALTOS, RAIDES E ATRELAGEM, FALECEU HÁ TRÊS ANOS (2013), MAS CONTINUA VIVA NA MEMÓRIA DE MUITOS, TENDO SIDO RECORDADA E HOMENAGEADA NO PASSADO DIA 2 DE ABRIL COM PROVAS DE RESISTÊNCIA EQUESTRE EM ESTREMOZ.

Vencedor do CEP 80Kms David Romão na cerimónia de entrega de prémios Gonçalo Cruz filho de Henrique Soares Cruz também ele homenageado neste evento

Berenice Cisneiros sobrinha de Valerie Clarke entrega uma serigrafia ao vencedor da prova Jaime Magarreiro

O neto de Henrique Soares Cruz fez a prova destinada a crianças e o filho Gonçalo Soares Cruz segura o cavalo

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CAVALO LUSITANO

António Vicente 1,2,3

2

Nuno Carolino 2,3,4

Luís T. Gama 3

1 Escola Superior Agrária do Instituto Politécnico de Santarém, Apartado 310, 2001-904 Santarém, Portugal; Unidade Estratégica de Investigação e Serviços de Biotecnologia e Recursos Genéticos, INIAV, IP 2005-048 Vale de Santarém, Portugal; 3 CIISA - Faculdade de Medicina Veterinária, Universidade de Lisboa, 1300-477 Lisboa, Portugal; 4 Escola Universitária Vasco da Gama, Av. José R. Sousa Fernandes 197 Lordemão, 3020-210 Coimbra, Portugal

AVALIAÇÃO GENÉTICA PARA A FUNCIONALIDADE NO CAVALO LUSITANO:

A EQUITAÇÃO DE TRABALHO NO SEGUIMENTO DO EXPOSTO NAS ÚLTIMAS EDIÇÕES DA REVISTA (N.º 114 A 117) VAMOS CONTINUAR A ABORDAR A TEMÁTICA DAS ESTRATÉGIAS DE CARACTERIZAÇÃO E SELECÇÃO NA RAÇA LUSITANA (VICENTE, 2015), COM A APRESENTAÇÃO DA AVALIAÇÃO GENÉTICA PARA A FUNCIONALIDADE EM EQUITAÇÃO DE TRABALHO, NUMA TENTATIVA DE SELECÇÃO DE ANIMAIS GENETICAMENTE SUPERIORES, COM BASE NO SEU VALOR GENÉTICO ESTIMADO PARA AQUELA CARACTERÍSTICA (GAMA ET AL., 2004).

C

omo uma disciplina equestre internacional recente, criada em 1996, a Equitação de Trabalho (ET), visa promover os vários tipos de equitação empregues nos países, utilizadores do cavalo como meio e instrumento de trabalho de campo. Pretende-se com esta disciplina equestre conservar e perpetuar, não só a equitação tradicional de cada país, mas também as várias tradições de trajes e arreios que fazem parte do seu património cultural equestre. Como tal a ET constitui um excelente exemplo de uma mostra etnográfica e cultural, mantendo os trajes tradicionais e arreios característicos de cada país (WAWE, 2015; http://www.waweofficial.com/we-rules).

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Figura 2 – Dupla Bruno Silva e Zagalo na Prova de Maneabilidade

Como é do conhecimento geral, cada competição de Equitação de Trabalho é composta por três tipos diferentes de provas que são: 1) Prova de Ensino (Figura 1); 2) Prova de Maneabilidade (Figura 2); e 3) Prova de velocidade (Figura 3). Nos campeonatos internacionais existe ainda uma quarta prova por equipas que é a Prova da Vaca (Figura 4). A prova de Ensino consiste na realização de uma sequência de exercícios pré-definidos, como no ensino de competição (Dressage), onde o conjunto (cavalo e cavaleiro) executa uma coreografia de maior ou menor dificuldade, dependendo do nível do teste, numa pista com 20x40m. A prova de Maneabili-

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Figura 3 – Dupla João Duarte Rafael e Trigo na Prova de Velocidade

dade consiste na realização de um percurso, tipo uma gincana, com obstáculos diversos semelhantes aos que poderão aparecer no trabalho de campo

(pontes, portões, saltos, slalom, valas, etc.) em que se classifica a qualidade da equitação empregue para transpor os obstáculos, dependendo da impulsão,

Foto: Andréa Kjellberg

Figura 1 – Dupla Pedro Torres e Oxidado em preparação para a Prova de Ensino

Figura 4 – Prova da Vaca


CAVALO LUSITANO

agilidade, submissão, atitude, facilidade, qualidade dos andamentos, etc. Nestas duas primeiras provas existe um júri (3 a 5 elementos) que dá notas e classifica o desempenho dos conjuntos. A prova de Velocidade envolve, regra geral, os mesmos obstáculos da prova de maneabilidade, mas o objectivo aqui é transpor os obstáculos o mais rápido possível sem falhas de penalização, sendo uma prova contra o cronómetro. Com estas três primeiras fases decide-se a classificação individual, pelo somatório dos pontos obtidos em cada uma delas. A última prova que existe é realizada por equipas de quatro elementos, denomina-se Prova da Vaca, e consiste em separar uma vaca pré-sorteada de um grupo de animais e também é contra o relógio. Nesta Prova da Vaca há apenas uma classificação por equipas e é realizada principalmente em campeonatos internacionais (da Europa e do Mundo) para decidir os resultados finais (WAWE, 2015). A Equitação de Trabalho, mesmo sendo uma disciplina equestre muito recente, está a tornar-se cada vez mais praticada em diferentes países, já com mais de 20 nações que promovem e organizam competições nesta área. Portugal teve a sua primeira participação no campeonato da Europa de 1997, realizado em Espanha, com uma equipa composta por quatro cavalos Lusitanos e desde logo a Associação Portuguesa de Criadores do Cavalo Puro-sangue Lusitano (APSL) dinamizou e organizou esta disciplina equestre em Portugal, tendo iniciado o primeiro campeonato nacional em 1999. Desde então os cavaleiros e cavalos portugueses, individualmente e por equipas, têm participado nos principais eventos nacionais e internacionais de ET, usando uma vasta maioria de cavalos Lusitanos, com resultados internacionais muito expressivos e relevantes, obtendo frequentemente o título de campeões europeus e mundiais, individualmente ou por equipas. A comprovar este facto temos que, no panorama internacional com classes abertas a todas as raças, a presença da raça Lusitana tem sido bastante relevante. Com os dados disponíveis (WAVE, 2015; http://wawe-official.com/working-equitation/international--events-history) e pe-

Figura 5 – Modelo de análise para a Equitação de Trabalho no cavalo Lusitano, considerando diferentes efeitos fixos

los resultados das principais competições internacionais (campeonatos da Europa e do Mundo entre 2002 e 2014), de um total de 250 cavalos que competiram, 115 eram Lusitanos, o que significa uma percentagem global de 46% do total. Bastante significativo! Em 2004 foi criada a WAWE (World Association for Working Equitation), organização mundial desta disciplina equestre, com o objectivo de a promover e desenvolver, homogeneizar as regras e regulamentos em todos os países aderentes, cativar novos países e novos praticantes, tentando que a disciplina esteja, em cada país, sob a égide da respectiva federação nacional, como acontece em Portugal, com a tutela pela Federação Equestre Portuguesa. De igual modo pretende-se dar maior visibilidade à mesma com a sua entrada para a Federação Equestre Europeia (FEE) e esperamos que num futuro próximo possa vir a integrar a FEI. Esta nova disciplina equestre está perfeitamente adaptada ao cavalo Lusitano e é onde ele

pode demonstrar todo o seu potencial de desempenho funcional, sendo uma ferramenta importante para a selecção no presente e futuro desta raça. A selecção histórica do cavalo Lusitano, pelo trabalho de campo, o combate à "gineta" e touradas a cavalo, ajusta-se muito bem aos requisitos exigidos hoje em dia para cavalos a competir em ET, sendo por isso importante estudar e analisar os diferentes dados existentes nesta disciplina equestre. Sendo uma disciplina recente ainda não há tantos dados e registos como acontece para a Dressage. Ainda assim dispomos de mais de 1500 resultados (de 1998 a 2011), mas ao longo dos anos, teremos cada vez mais informação à nossa disposição relevante para ser analisada e contribuir para o melhoramento genético da raça. Como já foi referido e explicado numa edição anterior da revista (Nº 107 sobre a avaliação genética para a funcionalidade em Dressage) interessa ao criador conhecer o valor genético dos seus animais, ou

seja, qual o valor de um animal num programa de selecção, i.e. o que esse animal poderá efectivamente transmitir à descendência, indicador do seu mérito genético. Desde modo, propusemo-nos realizar uma avaliação genética para o desempenho funcional em Equitação de Trabalho, considerando todos os resultados disponíveis de performance em competição de cavalos Lusitanos, com a predição de valores genéticos para esta população, com base na metodologia BLUP – Modelo Animal (Gama et al., 2004; Henderson, 1994). O modelo empregue para este estudo apresenta-se na Figura 5. Foi utilizada a informação genealógica e morfológica do Studbook da raça, cedida pelo Registo Nacional de Equinos (RNE) e completada com informação da APSL, que incluía genealogias de 53417 indivíduos (nascidos entre 1824 e 2009). No que diz respeito aos resultados desportivos utilizaram-se somente os resultados das provas de Ensino e Maneabilidade uma vez que os dados da prova de Velocidade eram dificilmente comparáveis entre eventos e existia um número muito reduzido de dados da Prova da Vaca. Elaborou-se um ficheiro com 1454 registos de 186 cavalos na prova de Ensino e 1524 registos de 211 cavalos na prova de Maneabilidade (entre os anos de 1998 a 2011). Na Figura 6 apresenta-se a distribuição do número de provas disputados por cavalos Lusitanos em ET. Desde a organização do primeiro cam-

Figura 6 - Número de provas disputadas por cavalos Lusitanos em Equitação de Trabalho

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peonato nacional em 1999 que o número de provas disputadas por cavalos Lusitanos oscilou entre 57 e 183 (2004). Por curiosidade, apresentamos igualmente a distribuição percentual dos principais locais que organizaram concursos de Equitação de Trabalho em Portugal entre 1998 e 2011 (Figura 7). De notar que existe um predomínio claro da Golegã na organização de provas de ET, seguida por Santarém e Beja, locais muito relacionados com feiras e festivais agropecuários, onde o cavalo Lusitano é figura de destaque. Através do BLUP - Modelo Animal utilizou-se um modelo misto, com registos repetidos, que incluía os efeitos fixos do evento (combinação de data e local de prova), nível de competição (desde Debutantes até Masters), sexo e ainda o efeito linear da consanguinidade e o efeito linear e quadrático da idade à prova. Os efeitos aleatórios considerados foram o valor genético do animal e o seu efeito ambiental permanente (Figura 5). A distribuição das diferentes provas de cavalos Lusitanos pelos vários níveis de competição apresenta-se na Figura 8. Observa-se um claro predomínio do nível de debutantes (707 provas) e uma mais fraca participação das classes mais jovens (Juvenis e Juniores) (até 2011), algo que tem sido considerado no presente pela APSL e WAWE, com um incentivo à participação de jovens cavaleiros, pela organização de campeonatos europeus da disciplina. As estatísticas descritivas e parâmetros genéticos do cavalo Lusitano para a Equitação de Trabalho estão expostas na Tabela 1.

Figura 7 – Distribuição percentual dos locais organizadores de provas de ET

Figura 8 – Distribuição no número de provas de ET consoante o nível de dificuldade Tabela 1 – Estatísticas descritivas e parâmetros genéticos do cavalo Lusitano em Equitação de numa prova de Maneabilidade, Observa-se que a percentaTrabalho para as provas de Ensino e de Maneabilidade

gem média obtida em provas de Ensino e de Maneabilidade rondou os 61%, com uma ampla dispersão de valores mínimos e máximos (aproximadamente entre os 25 e 85%), ainda mais evidente para a Maneabilidade com um coeficiente de variação de aproximadamente 17%. A heritabilidade (h2), parâmetro genético fundamental, que mede essencialmente a transmissibilidade à descendência de uma dada característica, foi média/alta para a prova de Ensino (0.32) e média/baixa para a Maneabilidade (0.18), possivelmente fruto da maior influência ambiental e de diversos factores que variam

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comparativamente com a prova de Ensino (tipo de obstáculos, piso, percursos, condições climatéricas, etc). Não existe uma tendência fenotípica clara de evolução (positiva ou negativa) das percentagens médias obtidas nas provas analisadas consoante o ano de nascimento dos animais, conforme se observa na Figura 9, ocorrendo uma oscilação entre anos estudados. Após as estimativas dos vários parâmetros genéticos para a Equitação de Trabalho no cavalo Lusitano pudemos então realizar a fundamental avaliação genética com o intuito de obter estimativas


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Figura 9 – Tendências fenotípicas do desempenho funcional em Equitação de Trabalho para a prova de Ensino e de Maneabilidade

dos valores genéticos para os diferentes animais que compõem esta população. Com isto podemos obter rankings de animais consoante o seu valor genético estimado para diferentes características estudadas (prova de Ensino e prova de Maneabilidade).

Obtiveram-se ainda estimativas de efeitos fixos (factores ambientais), precisões das estimativas dos valores genéticos e tendências genéticas ao longo do tempo, indicadores mais objectivos e fundamentais para a selecção e melhoramento genético.

Telef: 00351 265 573395

De realçar que as estimativas dos valores genéticos são dinâmicas, uma vez que dependem da média do conjunto de animais avaliados, querendo dizer que podem e devem ser actualizadas frequentemente (numa base semestral ou anual)

e à medida que vamos dispondo de mais informação de competição desportiva em Equitação de Trabalho poder-se-ão alterar (só apresentamos aqui dados até 2011). Na Tabela 2 apresenta-se o ranking do mérito genético estimado para os melhores 22 animais Lusitanos para a Equitação de Trabalho, ordenados a partir da média do valor genético (VG) para a prova de Ensino e para a Maneabilidade. Como curiosidade, indica-se ainda o ano de nascimento dos animais e a altura ao garrote (AG). No topo do ranking genético para a Equitação de Trabalho estão cavalos com créditos firmados nesta disciplina equestre, com várias provas ganhas e vários títulos nacionais e internacionais, como foram o caso do Oxidado, Navarro e Pintor. De frisar ainda que a média de altura ao garrote dos animais que compõem o top do ranking em Equitação de Trabalho é de 160 cm, inferior à obtida para os cavalos do ranking de Dressage (Edição n.º 107 da Revista) de 164 cm. Possivelmente pela maior facilidade dos animais com


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Tabela 2 - Ranking de mérito genético para a Equitação de Trabalho de cavalos Lusitanos, para as provas de Ensino (VGENS em %) e de Maneabilidade (VGMAN em %), respectiva média (Média VG em %), altura ao garrote (AltG, cm) e ano de nascimento (ANOn).

Figura 11 – Efeito fixo do nível de competição no desempenho em provas de ensino e de maneabilidade de Equitação de Trabalho

um centro de gravidade mais baixo em realizar os percursos de obstáculos sem a necessidade de tão grande amplitude de andamentos e dimensão como no caso da Dressage. De entre os vários efeitos fixos ambientais estudados é interessante apresentar-se o efeito do sexo para o desempenho funcional em ET. Pela análise da Figura 10 podemos observar que existe uma clara superioridade nos resultados obtidos pelos machos na prova de Maneabilidade (em quase 1%). No entanto, ocorre o inverso para a prova de ensino, onde as fêmeas apresentaram resultados mais elevados (~+0.5%) em relação aos machos. Estes dados são curiosos de apresentar ainda para mais sabendo que a proporção de fêmeas relativamente ao total de dados foi somente de ~5%. Sabendo que tradicionalmente

as éguas Lusitanas são quase na sua totalidade utilizadas para reprodução, estes dados confirmam que os criadores/proprietários dos animais só arriscam colocar fêmeas em competição desportiva se forem de qualidade superior, como foram os casos, por exemplo, das éguas Navalha (Romão Tavares) e Gaiata (Sociedade das Silveiras). De igual forma fomos estudar o efeito do nível de competição (de Juvenis a Masters) no desempenho desportivo em ET (Figura 11). De um modo geral, e tendo como referência a classe de debutantes, à medida que o nível competitivo se torna mais complexo tecnicamente, as classificações obtidas vão sendo maiores. A única excepção, onde esta tendência de aumento não se verifica, é na prova de Ensino no escalão de Masters. Efectivamente e dado ser uma

Figura 10 – Efeito ambiental do sexo para as provas de ensino e de maneabilidade de Equitação de Trabalho

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prova com um nível técnico muito mais exigente que as restantes (com passagens de mão aproximadas, passage e piaffé) as médias neste nível tendem a ser menores, facto bem demarcado com este estudo. Com estes resultados obtidos pensamos que o criador de cavalos Lusitanos poderá ter à sua disposição um conjunto de informações e dados relevantes, que o auxiliem nas opções de selecção e emparelhamentos de reprodutores, no que diz respeito ao desempenho em Equitação de Trabalho. Dado o cavalo Lusitano ter uma presença dominante em vários concursos a nível mundial, a quantidade de registos de competição em ET irá aumentar significativamente num futuro próximo. Ao usarmos as informações disponíveis sobre ET podemos ter mais dados objectivos e ferramentas para selecionar os animais. Também uma comparação entre diferentes países pode ser feita, dado o uso do cavalo Lusitano por

outras selecções nacionais, para além de Portugal, tais como a Grã-Bretanha, Brasil, Bélgica, México, Colômbia, França, Dinamarca e Suécia. É também uma ferramenta importante para a selecção funcional da raça em países onde a tauromaquia a cavalo não é praticada ou não é bem aceite. Para uma correcta análise morfo-funcional de uma raça é importante conhecer a sua história, a selecção efectuada no passado e no presente, e como ela foi moldada até chegar ao momento actual. Somente conhecendo bem a história da população, estudando influências e estratégias de selecção seguidas, podemos tomar medidas e ajudar a definir correctas estratégias de selecção para o futuro, tendo sempre em mente o melhoramento genético do maravilhoso cavalo de raça Lusitana.■ Agradecimentos: Ao RNE/AR e APSL pela cedência dos dados para este estudo e por todo o apoio na sua elaboração.

BIBlIOgRAfIA COnSUlTAdA Gama, L.T, Matos, C.P. e Carolino, N. 2004. Modelos Mistos em Melhoramento Animal. Arquivos Veterinários, Nº7, Direcção Geral de Veterinária - Ministério da Agricultura, do Desenvolvimento Rural e Pescas, Portugal. Henderson, C. R., 1994. Applications of Linear Models in Animal Breeding. Third printing. University of Guelph, Canada. Vicente, A. 2015. Characterization and selection of the Lusitano horse breed. Doctoral Thesis in Veterinary Science. Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade de Lisboa. WAWE. 2015. International working equitation regulations. World Association for Working Equitation.



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FERNANDO PALHA (1932 – 2016)

NÃO FUGI À VIDA! QUEM CONHECEU FERNANDO PALHA NÃO LHE FICOU INDIFERENTE. COM UMA PRESENÇA, ELEGÂNCIA E ACUTILÂNCIA DE ESPÍRITO ÚNICAS QUE TODOS IMPRESSIONOU E CONTAGIOU. ra um homem de paixões, causas e da procura de entendimentos e consensos, o que não diminuía ou beliscava em nada a sua determinação na defesa de valores, “sou feio como sou, não tenho preocupação na beleza a não ser de carácter. Há uma coisa que não aceito nunca, é que me chamem de desonesto. Errar pode acontecer, agora nunca numa coisa de carácter e de honra, isto é que já é muito grave e não aceito!”. Tinha uma visão e entendimento muito próprios do que era o Cavalo Lusitano, e da profunda relação deste com o Homem, “tem de ter capaci-

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Bruno Caseirão

dade de sofrimento, uma capacidade que mais nenhuma raça tem. Robusto, rústico, de resistência à natureza, como só eles sabem resistir. Nobreza, algo que nos animais é muito difícil, tanto como aos humanos a virtude. Não pode ser aquele animal que reage com maldade, não pode dar coices, morder

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quando não tem necessidade de o fazer só para fazer mal. Nobre de trato com o homem. É um cavalo de combate por excelência. Panache, o tal cavalo para um rei num dia de glória, tem panache natural nos andamentos, na forma como olha. Dignidade... O Lusitano tem um savoir faire diferente

de todos os outros. Até no relinchar é sonoro, nobre (...) [com] carácter, de confiança e corajoso até às últimas consequências”. Para Fernando Palha o Cavalo Lusitano fazia parte da realidade secular do sul da Ibéria em geral e da lezíria ribatejana em particular. De uma vida dura ao serviço do Homem, “o que se pretendia era o motor não era a estética ou a beleza, o que o homem prático e o agricultor procuravam era a utilidade. (...) Defendo a via do cavalo bom”, mas também, de companheirismo e camaradagem únicas, “quero que eles tenham, como se costuma dizer no campo, «boa bola», que


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não sejam estúpidos e não confundam o arame farpado com uma linha do caminho de ferro”. Ambos tinham uma razão de ser, árdua, de trabalho e devoção a princípios superiores como a honra e a verdade. A responsabilidade de um legado sentia-o agudamente, quer nos touros, de uma ganadaria fundada pelo seu bisavô José Pereira Palha Blanco, “de rezes portuguesas d’El Rei D. Miguel e sementais de Espanha compradas a Fernando Concha e Sierra e mais tarde a Eduardo Miura”; quer nos cavalos, com éguas adquiridas “ao Marquês de Niza; em Alter, da antiga origem, outras a um lavrador da Golegã de nome Saldanha; [comprou] também a um lavrador das Caldas chamado Faustino da Gama, e à Real Éguada de Aranjuez em Espanha. Lança-se então na criação, comprando cavalos de diversas coudelarias espanholas, e é com base no cavalo ibérico que começa a coudelaria”. Particular importância tinha sentir-se herdeiro de um apelido de lavradores célebre como poucos e pelo facto de ter aprendido os segredos da sua Arte em particular com o seu pai: “foi em 1965, que assumi o comando completo da Casa, por doença de meu Pai. Trabalhei com ele durante treze anos e foi o maior mestre, por isso fiquei muito agarrado a sistemas, critérios e filosofias antigas, mas há conceitos que são eternos e verdades que são inabaláveis”, mas também, das memórias que tinha do seu bisavô “apesar de ainda ser muito pequeno lembro-me de visitar o meu bisavô ao domingo (...) como eu gostava muito do avô e lembro-me que ficava muitas vezes a acariciarlhe as mãos porque as considerava muito bonitas”. À família, pilar da Vida, dedicou-se de corpo e alma: “quando chegamos ao fim da vida com a consciência de termos feito o que foi possível para deixar bem servida a nossa família e aqueles que connosco trabalharam (...) não tenho vergonha do meu passado, fiz o que pude, o melhor que pude e o melhor que sabia, em momentos muito difíceis. Há uma coisa que eu digo aos meus filhos e aos meus netos, não fugi à vida (...). A nível profissional procurei evoluir mas com

muita prudência, por isso não me sinto falhado. Como homem sou feliz, tenho a melhor esposa do mundo, tenho sete filhos, tenho dezasseis netos e tenho muitos amigos a quem estimo”. EDUARDO MIURA Falar de Fernando Palha é falar de uma amizade entre várias gerações de Miuras e Palhas. Na realidade mais de 100 anos de amizade, admiração e confiança. Grande amigo, sempre encantado com o touro. Recordo que a sua “afición” e entusiasmo eram tais que certo dia, 9 de Outubro de 2001, “me obrigou” a mim e ao meu irmão, em Vila Franca de Xira, a darmos a volta de honra à arena num concurso de ganadarias, algo muito pouco usual pois nunca o fazemos. Assim se compreende a amizade e respeito que tínhamos por Fernando Palha. Um grande Senhor, Homem de Palavra e uma grande e boa pessoa. LUÍS PIDWELL Homenagear Fernando Palha, escrevendo sobre ele um texto, é coisa que eu não posso fazer! Não sou capaz, não estou à altura do empreendimento, ofendê-lo-ia se o tentasse! Mas posso dar dele um testemunho. Posso dizer o que sinto, posso dizer que perdi um Amigo, já são tão poucos os que assim posso chamar! Conhecemonos há mais de trinta anos, foi uma paixão comum que nos fez amigos, os Cavalos, foram eles que nos aproximaram. Ele, criador de elite com créditos firmados ao longo de muitos anos, continuador de um trabalho proveniente das suas distintas origens familiares, eu, um pouco mais jovem, cheio de entusiasmo acompanhado de minha mulher Piedade, fomos vê-lo ao seu solar a Quinta da Foz. Recebeu-nos, sem nos conhecer antes, com toda a gentileza e cordialidade que lhe eram peculiares, deu-nos o impulso que precisávamos para iniciarmos a nossa vida futura de criadores de cavalos. Daí, desse dia em diante, sempre nos acompanhou, sempre nos distinguiu com a sua amizade, a sua presença nunca nos faltou nos momentos de alegria, foi sempre o primeiro a nos felicitar e cumprimentar nos dias de sucesso e nunca nos esqueceu nos momentos

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mais tristes, nos momentos em que a palavra de um amigo nos dá o maior conforto. Já muito doente, era ele, o meu Amigo Senhor Fernando Palha, que me chamava para saber da minha saúde, para me deixar com uma palavra de conforto e amizade, incutindome esperança para a recuperação que eu precisava ter. Foi assim Fernando Palha, Amigo desinteressado, nunca me pediu nada e sempre me deu o prazer e a honra de usufruir da sua companhia! À Família e filhos em especial, um grande bem hajam e honra, pelo Pai que tiveram. LUÍS ROCHA Conheço o Fernando Palha desde os meus 9 anos, de São Martinho do Porto, até hoje. Passámos tanto juntos, bons e maus momentos. Foi um grande ganadeiro e criador de cavalos. Com uma paixão impressionante pelo touro, pelos seus touros. Fico muito contente de o ter podido ajudar nos anos oitenta quando precisou de um local para a sua ganadaria disponibilizando-lhe a Herdade da Machoa em Monsaraz. Sobretudo, referir o Amigo de uma grandeza de alma, com uma paixão pela família e amigos sem medida. JOSÉ D’ATHAYDE Conheço o Fernando Palha há setenta anos, inicialmente no Colégio de Santo Tirso dos Jesuítas. Estávamos ambos internos. Mais tarde reencontreio em Escola Agrícola em Santarém. Na preparação de uma garraiada, quando íamos ter com o Paulino (para os touros era o Prudêncio), tivemos um desastre de automóvel em que ninguém ficou ferido! Há duas memórias que me são muito caras. Vendeu-me um dos melhores cavalos de toureio que tive na minha vida, o Bailarino; e um dia veio ter comigo ao Jockey pois queria apresentar montadas à amazona quatro gerações da sua família: a sogra, as tias, a mulher, primas e a sobrinha neta, às quais eu juntei também a minha sogra, a minha mulher e a minha filha e lá fizemos a apresentação no Festival do Cavalo Lusitano. Sobretudo, o Fernando Palha, que vi pela última vez no funeral do Guilherme Borba,

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era e fica na minha memória como um Homem com coração, aficionado e entusiasmado que vivia com paixão os cavalos e os touros. JOÃO LOPES ALEIXO Falar de Fernando Palha, é falar de um Homem de boa vontade. Bom criador, quer de ganadaria brava, com tipicidade, interesse e cores, quer na coudelaria. Grande Amigo, sempre disposto ajudar toda a gente, a mim, em particular, quando me cedeu o garanhão Xeque, mas também, no convívio sempre amigo de um Homem de grande qualidade e dignidade. FILIPE FIGUEIREDO (GRACIOSA) O Senhor Fernando Palha deixou-nos! Perdeu-se uma figura ímpar nos meios equestre e taurino portugueses. O Ribatejo ficou mais pobre, pois perdeu-se o Homem apaixonado pela agricultura, pela terra, pelos campos pela sua gente, pelos seus cavalos e pela ganadaria brava de casta "Vasquenha" multicolor que era a menina dos seus olhos. Alto, magro, punha o chapéu de aba larga como ninguém! Contador de histórias fantástico, dava-lhes a graça e profundidade próprias da pessoa culta que era. Tinha os Campinos na alma. Com uma enorme Fé foi um chefe de família exemplar. JOSÉ VEIGA MALTEZ No passado dia 11 de Fevereiro, a Lezíria vestiu-se de luto e engalanou-se o Paraíso, para receber quem merecia o eterno descanso e a recompensa de ter sido como foi! Porque era de uma pureza moral e de uma integridade, que sempre nos marcaram. Porque sempre foi conhecido como sendo de bem e para sempre será reconhecido por ter sido bom! Se o Céu ficou mais rico, mais pobre ficou o nosso campo ribatejano, a sua identidade! Naquela noite escura de Inverno, deixou-nos o grande Lavrador e célebre Criador de Gado, Eng. Fernando Van Zeller Pereira Palha. Dos últimos, da última abencerragem! Do tempo dos “lavradores” deixou um mundo, que agora se foi generalizando de “agricultores”! Sobejamente conhecidas as

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CALENDÁRIO 2016

CSI* LISBOA FIL FEIRA INT. LISBOA 29 A 31 DE JANEIRO

CSI* GOLEGÃ CENTRO ALTO RENDIMENTO 22 A 24 DE ABRIL CSI* PEDRAS SALGADAS CENTRO HÍPICO DAS ROMANAS 06 A 08 DE MAIO CSN-E CALDAS DA RAINHA OESTE LUSITANO 19 A 21 DE MAIO CSI* COMPANHIA LEZÍRIAS HERDADE DO BRAÇO PRATA 17 A 19 JUNHO CSN-B GOLEGÃ CENTRO ALTO RENDIMENTO 09 A 11 DE SETEMBRO CSN-C SANTARÉM CIRCUITO INDOOR DO CNEMA 11 A 13 | 18 A 20 | 25 A 27 NOVEMBRO CSI** EXPO BATALHA BATALHA 02 A 04 DE DEZEMBRO

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Suas vertentes, na criação de gado cavalar e de gado bravo, quaisquer palavras aqui, ficariam sempre aquém sobre o mérito e louvor que emprestou ao associativismo, que ilustremente presidiu, e cooperativismo respectivos, os quais lhe ficarão eternamente devedores! E soube sempre fazê-lo com honra e dignidade. Nunca enveredou por modismos passageiros, como nunca mudou a sua personalidade. E aqui residiu a diferença como era, como foi! Porque nunca foi como tantos, e não poucos, dos seus inter-pares, “políticamente correcto”. Porque não ia em situações indefinidas. Tinha sustento e argumento, no que acreditava. Não era de meias tintas ou de meias verdades, como vem sendo usual, por muitos, pela forma vazia, como concebem a vida, nunca sendo maus, nem bons. Pelo contrário, atravessava-se, comprometia-se! Daí, ter sido para nós também referência e exemplo, que seguimos. Marcounos, como certamente a tantos outros terá influenciado, por ser diferente, por ser distinto, como é próprio dos “grandsseigneurs”, que “acontecem” pela sua origem, pela sua formação, pelo seu carácter, pela educação e cultura!! De uma bondade para connosco inexcedível, sobretudo por nos emprestar o Seu saber e sempre nos dar o conselho próprio da experiência do Seu

viver. Ficamos-Lhe eternamente gratos, por em nós confiar (fez questão, entre outros, que o sucedêssemos na Presidência da APCRS), por nos acompanhar (na Presidência da Câmara Municipal da Golegã, aquando dos eventos equestres), porque a Sua presença nos era tranquilizadora, sendo mesmo protectora. Porque o Seu aplauso era motivador, estimulando-nos o lado empreendedor. Ficámos agora mais longe, de quem gostávamos de ter sempre por perto!! Que nos continue a "mirar" e a guardar Tio Fernando Palha (como carinhosamente o tratávamos desde criança), a nós e a todos os homens que elevam o campo, o cavalo e o touro, enquanto descansa em paz, no Seu “repouso de guerreiro” merecido! ALVARO DOMECQ ROMERO Fui muito jovem a Portugal com o meu pai, quando ainda se passava de barcaça de um lado para o outro dos rios, conheci então muitos homens ilustres de Portugal. O meu pai tinha muitos amigos, o toureiro João Núncio, Simão da Veiga, D. José Infante da Câmara, a família Ortigão Costa, os gémeos Palha e muitos mais, mas foi em Fernando Palha que encontrei um homem romântico, tradicional, grande aficionado do cavalo e do touro. O seu chapéu de aba larga nunca o tirava da cabeça, a sua

ganadaria era impressionante, touros de vários tipos de pelo, cores, de bonitas conformações, com “lámina y trapio”. Pastavam na sua maravilhosa Quinta da Foz onde conviviam com toda a família e seus cavalos. Nem poderia ser de outra forma, sentia-se-lhe uma sabedoria especial, o seu modo de falar e de contar as coisas. Grande sabedor de cavalos e touros, ferrados com esse maravilhoso “P” com uma cruzinha em cima, o qual, tanto na ganaderia como coudelaria, creio ser o mais admirado em Portugal. Conheci grandes cavalos Palha, que toureavam com força e touros bravos de casta. Os seus campinos, os seus bois, a sua família, sempre me encheram de admiração. Sinto que não está entre nós mas que continuará a sua mulher Isabel, os seus filhos e a tantos amigos que o admiramos. ISABEL PALHA FIGUEIREDO A todos que sempre viram o Pai Fernando com os olhos da claridade pura da manhã de Primavera! Primavera, porque foi nela que nasceu! Primavera porque é mais límpida e fresca! E Primavera por mim escolhida porque a todos lhes renovava a Alma de Deus, se lhes faltava a Fé, de Amor que tinha por todos e incondicional por nossa Mãe. Até mesmo com todas as grandes provações de um Homem Charmoso, caloroso

nas suas conversas, perspicaz por uma certa malícia alheia e Belo de porte alto e fino chapéu de aba larga bem colocado numa cabeça de lindos caracóis na nuca sempre aparados por nossa Mãe (como ele dizia," A Minha Viúva"). No mundo dos cavalos era feroz na sua escolha e por isso respeitado mas chamado do Velho do Restelo. Sabia as linhas que não queria ter em sua casa! Por conhecer bem toda a sua história e feitoria. Escolhia pelo trabalho ou pela generosidade imensa dos seu pais ou dos próprios animais em causa, sem perder o perfil e o enquadrado de um cavalo lusitano que ele tanto gostava. Era impulsionador de tantas batalhas em prol do cavalo e do Toiro. Toiro! Esse animal que para ele era uma perdição de histórias, lendas sonhos e amizades incontáveis em tantas terras distantes do mundo. De um toiro sabia a sua história de vida de família e que por terras tinham vindo os seus avós. Agarrava a família em datas marcantes, nos seus lugares próprios e recordava! Os avós e tios avós, que ergueram a casa, os Amigos que estavam presentes as inúmeras dificuldades da vida ao que Deus e a sua Ferreira (Mãe) nunca o desampararam. Para que, quem estivesse distraído da história da Família e dos seus antepassados, nunca esquecem, o quanto é honroso e importante para o nosso futuro de Homens e Mulheres. Pai! Que sempre esteve a meu lado, e que com todos nós 7 se preocupava por igual! Que me deu o gosto, paixão ou loucura pelos cavalos, e neles me levou pela mão a terras indescritíveis, de Senhores maiores e Reis menores, que me ensinou a amar sem ter medo do meu verdadeiro Amor, porque por esse Amor Deus me guiaria nos Seus caminhos sem nunca perder essa Fé imensa que o meu Pai nos transmitia sem duvidar. Com este Fernando tão Carinhoso só poderia existir uma Isabel tão Especial. A nossa Mãe! Pai! Olhe por todos nós.... Que os meus estão aí!....n Fotos (cores): Paula Paz (foto a preto e branco gentilmente cedida por Isabel Palha Figueiredo)

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TRANSPORTE DE CAVALOS

JTM TRANSITÁRIOS

NA ROTA DO LUSITANO A EMPRESA PRESTA SERVIÇOS DE TRANSPORTE AÉREO, MARÍTIMO, TERRESTRE E DISTRIBUIÇÃO E ESTÁ APOSTADA EM DAR RESPOSTA AO MERCADO DE EXPORTAÇÃO DO CAVALO LUSITANO. ctualmente, a JTM tem parcerias com diversas companhias aéreas e marítimas a nível mundial, proporcionando um serviço mais eficiente aos seus clientes, com a garantia de oferecer o melhor preço do mercado. O administrador, João Val, explicou à EQUITAÇÃO o rumo que tem traçado para a sua empresa no que diz respeito ao transporte de cavalos.

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Como começou o interesse em explorar a área do transporte de cavalos? Como profissional na área dos transportes é natural que tenha interesse neste tipo de transporte. O transporte de

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cavalos é uma oportunidade de diversificar o negócio da JTM Transitários. Além do crescimento e diversificação importantes para o crescimento da empresa, existe também o facto de transportarmos um animal vivo e toda a envolvente associada a este tipo de serviço. O empenho neste tipo de transporte tem que ser muito grande, é necessário um acompanhamento a 100%, não só dos profissionais do mundo equestre, como tratadores e veterinários, mas também nosso, como transitário. Este tipo de cuidado no transporte de cavalos agrada-nos, na JTM gostamos de desafios.

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Já tinha alguma ligação ao mundo equestre? Até há pouco tempo a ligação que tinha ao mundo equestre era pontual. Sempre gostei de cavalos, acho que são animais fabulosos, em particular o Puro-Sangue Lusitano (PSL). Recentemente através de um grupo de amigos conheci o José Carlos Carvalho e o Dr. Miguel Seta que nos apresentou ao Dr. Jesus Ayuso e o Dr. Edgar Heyn do Centro de Quarentena de Madrid que são exportadores de referência de cavalos para todo o mundo. Através dele comecei a ter alguma ligação ao mundo equestre e conhecimento sobre cavalos. Não só conhecimento

relacionado com o transporte, mas também sobre as várias raças, características, cuidados especiais, funções dos cavalos, etc... Posso dizer que fiquei fascinado e com um gosto acrescido em trabalhar nesta área. Quais as rotas principais que explora neste momento e quais as que pretende vir a explorar no futuro? Neste momento estamos a trabalhar com os mercados da América Central e do Sul. No futuro temos como objectivo trabalhar com os mercados da América do Norte e Médio Oriente. Claro que só poderemos alcançar para estes novos


TRANSPORTE DE CAVALOS

mercados se formos competentes, rigorosos e uma maisvalia para os nossos parceiros no transporte de cavalos. Contamos poder acompanhar o crescimento das exportações do nosso PSL. Qual a sua opinião relativamente à exportação do cavalo PSL? Sente que o “nosso” cavalo está a ter cada vez mais procura a nível internacional? Olhando para o crescimento no número de criadores, não só em Portugal, e no acréscimo das exportações, podemos considerar que a procura vai aumentar. Desejamos que assim seja e que os criadores portugueses contem com a JTM Transitários para seu parceiro no transporte. Com a experiência que já tem em transporte de mercadorias, que dificuldades encontrou ao entrar nesta área de negócio? As principais dificuldades são as especificidades do tipo de transporte e a competitividade. Para melhorar o conhecimento neste tipo de transporte tornámo-nos associados da ATA (Animal Transportation

Association), temos participado em todos os eventos e acções de formação relacionados com cavalos e o seu transporte. Sentimos que estamos preparados para prestar um serviço de excelência. Em relação à competitividade, sabemos que faz parte de qualquer actividade profissional. Como já referi, trabalhamos para prestar o melhor serviço possível e esperamos ser reconhecidos por isso. Sabemos que este projecto é recente, quais as suas expectativas daqui para a frente? Acreditamos que vamos solidificar a nossa posição neste tipo de transporte, queremos ser reconhecidos como um transitário de excelência no transporte de cavalos. Não vemos o transporte de cavalos como um transporte de mercadorias, sabemos que significa muito mais do que isso. É com esta atitude que acrescentamos valor e somos reconhecidos por parte dos nossos parceiros. Queremos ser um parceiro de negócios dos criadores de cavalos, em particular dos nossos PSL.n

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CRÓNICA

DE NOVO O TRAJE DE AMAZONA João Pedro Gorjão Clara

JÁ TANTA VEZ FALEI NO ASSUNTO E AFINAL SERVIU PARA POUCO O QUE DISSE E ESCREVI. NO ESTUDO SOBRE O TRAJE TIVE DE ME CONFRONTAR COM AS INFORMAÇÕES QUE ALGUNS TINHAM DO MODO DE VESTIR DOS SEUS ANTEPASSADOS, QUE POR ISSO ENTENDIAM SER O MODO DE TRAJAR À PORTUGUESA. comboio e o automóvel facilitaram o acesso à moda internacional às classes socialmente mais ricas. Assim os mais abonados “indo lá fora” traziam peças novas de indumentária que usavam com o nosso traje tradicional, descaracterizando-o. Na evolução normal do modo de trajar, o povo copiava a moda dos “senhores”. Estes logo que se viam copiados alteravam a indumentária para continuarem a impor-se socialmente pelo modo de vestir. Porque o traje ontem, como hoje, mantém também essa função de definir o estrato e a classe social de cada um. O Traje que pretendemos preservar foi o traje que precedeu, como referi, o contacto facilitado pelo comboio e pelo automóvel com a moda internacional. Mas o Traje masculino não tem sido adulterado. A esmagadora maioria dos Cavaleiros vestem-se a rigor, faltando em muitos a cinta, que dizem não saber colocar, ou que não gostam de usar. Confidenciaramme que alguns cavaleiros com necessidade de afirmação acham que o uso da cinta lhes retira “classe”!!!. Paradoxalmente, em casa, com o traje convencional, alguns usam cintas de “neoprene” fechadas a velcro, porque são cómodas e lhes “aliviam os rins”. Ora foi exactamente a verificação de que a cinta era eficaz naquela função que a fez persistir no traje dos Cavaleiros. Mas a justificação desta cró-

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nica é o Traje de Amazona. No final do século XIX e início do século XX um Homem era um Homem e uma Senhora (não se diria Mulher) era uma Senhora. O que eu quero enfatizar é que este é o período de uma norma social que se esbateu algumas décadas depois. As Senhoras eram frágeis, seres encantadores dignos de todo o respeito. Sempre tinham a prioridade na passagem, no lugar à mesa, na ordem em que lhes eram servidas as refeições, no lugar que se deixava vago para que o ocupassem. Usavam pó de arroz e perfume, cabelos compridos artisticamente arranjados. Ofereciam-se-lhes flores, poemas, jóias. A sua intimidade física era protegida com roupa que a cobria da cabeça aos tornozelos. Outra particularidade é de que esta indumentária não podia nunca confundir-se com a do Homem. Aliás o Homem, o Cavaleiro ou Cavalheiro (as palavras derivam uma da outra) acentuava a diferença com cabelo cortado mais curto e com penteado menos complicado que o das senhoras, com vários adereços pilosos (barba, passa-piolho, bigodes, peras, patilhas), não usava perfume e se cheirava a perfume era-lhe perguntado se vinha de algum alcouce (esta palavra era comum na época sobre a qual escrevo). Mas voltando ao traje das Senhoras.

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A Senhora Dona Isabel Herédia com jaqueta com cabeça de manga franzida e sem colete, com laço de seda no colarinho As senhoras usavam saias compridas que podiam deixar antever o sapato e um pouco da meia. Por baixo da saia, da cintura aos tornozelos, vestiam “coulottes”. Montar a cavalo com autonomia era incomum nas mu-

lheres das classes sociais mais modestas. As mulheres do campo deslocavam-se em burros, sentadas de lado na albarda ou à garupa do cavalo que um homem conduzia. Por isso ao descrever o modo de trajar das Amazonas não estou, por esta


CRÓNICA

A Rainha Senhora Dona Amélia com jaqueta simples sem colete

A Rainha Senhora Dona Amélia com jaqueta de quartos e quartilhos impossibilidade, a referir-me à indumentária da trabalhadora do campo, mas ao traje feminino do fim do Século XIX e princípios do Século XX, época do traje do nosso Cavaleiro, usado pelas Amazonas que pertenciam, quase sempre, a classe social economicamente abastada. No início desse período de tempo montavam com as pernas para um dos lados da coluna vertebral do cavalo, mais

Um exemplo de manga de balão (Florbela Espanca 1894-1930)

vulgarmente para a esquerda. Usavam uma saia muito comprida, que para não arrojar no chão, quando a Amazona apeava, tinha uma presilha que se prendia num botão ou numa “peça de valor” com um pequeno gancho. Da cintura para cima a Senhora vestia um casaco muito cintado apenas mostrando o colarinho da camisa enfeitado com uma joia ou um laço de seda ou uma jaqueta aberta exibindo os folhos da camisa branca. Também era comum o uso de uma jaqueta que descrevi no livro do Traje Português de Equitação e que se chamava “jaqueta de quartos e quartilhos”. A manga era justa ao antebraço e acabava no punho muitas vezes sem botões ou atilhos. Era simples na sua ligação ao corpo da jaqueta ou mais frequentemente tinha cabeça de manga, ou era de presunto, de meio presunto, de balão…. É esta variedade de modelos que temos tentado, sem grande sucesso, que as actuais Amazonas vistam. São exemplo destas mangas as usadas pela Senhora Dona Isabel Herédia e pela Senhora Dra. Teresa Tapadas e as que aqui reproduzo de fotografias da Rainha Senhora Dona Amélia e de Florbela Espanca. O corpo da jaqueta tinha caixa de peito, como era de natureza. Duas coisas certas: - Nunca o traje devia deixar dúvidas que quem o usava era uma senhora. - Nunca deveria levar à confusão com um traje de homem. Por estas razões as Amazonas não usavam calças “à homem” nem colete. Mais uma vez escrevo sobre o colete. Esta peça de indumentária masculina vem pelo menos desde a idade média. Com diferentes nomes Gibão, Loudel, com diferentes acolchoados e texturas criado para proteger a pele do contacto direto com o ferro da armadura. Comprido e sem mangas no século XVIII nas Cortes da Europa, foi-se encurtando até ao século XX, mas sempre sendo uma peça indispensável de um fato clássico de homem. Os nossos pais nunca encomendavam um fato no alfaiate, dispensando o colete. Dizem-me que sem imaginação e sem referências, os actuais

alfaiates vestem as senhoras com coletes que lhes aplanam os seios e depois vestem-nas com jaqueta masculina. É agora a cor, nalguns destes falsos modelos de jaqueta de Amazona, que pode distinguir uma jaqueta de amazona de uma jaqueta de homem. Não o corte, mas a cor! Quando as Amazonas começaram a escarranchar, a montar “à califourchon” como se diz em França (foi em Paris no Bosque de Bolonha que a Mulher de um pintor da época, Jaquet, montou escarranchada pela primeira vez, com grande escândalo dos presentes. As Amazonas já escarranchavam nos séculos anteriores, mas isso era incomum e entre outros pareceres afirmava-se que este tipo de monte prejudicava a maternidade). Ao escarranchar a preocupação de esconder a sua intimidade manteve-se.

Jaqueta com manga de presunto. Cópia de jaqueta usada na Golegã cerca de 1904

A Rainha Senhora Dona Amélia com jaqueta com cabeça de manga

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CAVALO LUSITANO

A saia agora necessariamente aberta à frente e atrás para que a Amazona escarranche, continua comprida até ao tornozelo e tem uma roda tal que permite à Amazona, quando apeada, andar normalmente sem mostrar os calções (“coulottes”), não calças, que continuou a usar por debaixo da saia. Por tudo o que escrevi atrás as Senhoras não devem usar calças ”à homem”, nem jaqueta “à homem”, nem colete. Pessoalmente entendo que se não gostam ou não têm costureira que lhes faça um Traje de Amazona, que se vistam à Cavaleiro, obviamente que neste caso, sem a saia. A saia que usam é desajustada e considero-a ridícula, porque não cumpre nenhuma das funções que a fez ser usada pelas amazonas. Sempre acho mal que uma Amazona elegantíssima, vestida à Cavaleiro, use também uma pequena saia que esvoaça de cada lado do dorso do cavalo expondo a calça. Aqui deixo a minha última opinião: a dita evolução do Traje à Portuguesa de que já ouvi falar ou li não sei onde, trará a sua inexorável descaracterização e de novo a situação que existia antes da realização dos citados Concursos do Traje, cuja justificação e história escrevi no número anterior desta revista.■

A Rainha Senhora Dona Amélia com jaqueta com cabeça de manga e sem colete

ão anga de bal as com mse te ad le p co Ta m sa re e A Dra. Te aixo do cotovelo até ab

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A Rainha Senhora D. Amélia com jaqueta de manga folgada no braço e justa no antebraço. Sem colete. Com pregadeira no colarinho

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Lina Gorjão de manga, Clara com jaqueta co sem colete m cabeça m pregadei no colarinehco ra o


KEP FAST

KEP SMART

Ref: BLK.TEXT.BLK

Ref: CRABS.SMART.BLU

CROMO T POLISH MATT

KEP MATT

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TAUROMAQUIA

13 M POR DEMAIS É SABIDO QUE, “O PODER SEMPRE TOLERA A VIOLÊNCIA DESDE QUE A CONTROLE”. A FRASE ATRIBUÍDA A UM SENADOR ROMANO QUE SE SABIA EM RISCO DE VIDA POR SE TER ATREVIDO A DISCORDAR DO IMPERADOR, JÁ FOI CITADA, FAZ ANOS, PELO SAUDOSO FERNANDO TEIXEIRA, NO SEU PRECIOSO “O TOURO E O DESTINO”.

ra, se trago o tema à conversa, é tão só porque por essa ibéria fora, por cá e em Espanha, a proliferação partidária tem provocado profundos estragos, sobretudo porque incapazes de se controlarem a si mesmos tudo fazem para nas áreas da moda (e os ciclos modais são efémeros, por definição…) tentarem intervir. Temos que convir que o animalismo está de moda, e sobretudo os incultos e os mal esclarecidos dão a sua bondade de barato. É pena; também eram animalistas os espectadores dos circos romanos, que carpiam mais a morte de uma qualquer fera que a morte do mártir humano que era suposto o animal sacrificar. Partiditos que a circunstância tem inventado nos últimos tempos querem mostrar serviço, mesmo que espúrio, desde que agrade a quem os paga e su-

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Domingos da Costa Xavier

porta. Vale tudo até a mentira! Vejamos. Isto está de tal maneira que um partido que nas nossas últimas eleições elegeu um Deputado, já conseguiu que as despesas médico-veterinárias tidas com os animais de companhia entrem nas deduções do IRS; tudo bem, com a profissão que exerci, se ainda estivesse no activo até me podia dar créditos, agora, pergunto eu – alguém pensou em vantagens fiscais para os pais que suportam as centenas de filhos com mais de trinta anos ainda a residir em casa, porque o Estado não tem sabido criar condições para recuperar a economia e aumentar a empregabilidade que lhes consinta a conquista da autonomia? É caso para fazer apelo ao vernáculo e gritar – não me … … ! Por Espanha ainda é pior; cada partidelho que por força da desilusão do povo com os partidos ditos tradicionais consegue chegar ao poder, entende que deve deixar na História a marca da sua ferradura. Vai daí, ataca a festa de toiros, evidenciando total desconhecimento quer da filosofia, quer da economia que à mesma concerne. É obra! Uma tia que ao que parece tem cabeça para não se enganar a remendar meias (tou

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parvo, isso já não se usa!), tomou conta da Câmara de Madrid e vá de como primeira atitude querer acabar com a Escola de Tauromaquia de Madrid, que se credita fazendo toureiros e homens de bem. Lá como cá, a equidade é que se permitem consentir manifestações anti-taurinas à hora dos eventos, em cima das portas de entrada das Praças de Toiros, verdadeiras provocações de arruaceiros a soldo às pessoas dignas que demandam o fruir a Festa, pagando esse direito de motu-próprio. Tais atitudes atingiram tal dimensão que a maior parte das autonomias espanholas já criou legislação que coloca tais “manif’s” a um mínimo de quinhentos metros das Praças. Por Portugal, a medida que tomaram, foi enviar polícia de intervenção (que todos pagamos…) para proteger os energúmenos. Os aficionados em geral e os taurinos em particular foram aguentando tal fardo, evitando colocar-se no mesmo plano, mas … já chega! O dia 13 de Março de 2016 vai ficar na História ibérica como o dia da revolta educada - figuras do toureiro; associações profissionais, clubes e tertúlias taurinas, aficionados em geral, todos amigos dos toiros, animais, que respeitam como ninguém, juntaram-se na cidade de Valência para evidenciar que também têm voz. Gritaram tão só – liberdade e respeito – não ofenderam ninguém, marcharam educadamente pelas ruas e praças da cidade, não havia polícia a protegê-los (nem fazia falta …), não houve qualquer perturbação da chamada ordem pública e notem – manifestavam o seu respeito e amor à festa de toiros um número estimada por baixo de cinquenta mil pessoas. Que lição!!! Podem os berradores que para aí andam ficar a saber que a afición jamais se volta a calar. O recado está dado. Em boa hora! Em boa hora também o Campo Pequeno anunciou os primeiros cartéis da presente tem-

porada, e, o facto faz-nos referir outra data – 30 de Junho. Em tal dia, a Praça vestir-seá de gala para uma “Corrida Goyesca” em que José António “Morante de la Puebla” actuará como único espada. O gesto é de se assinalar – não é todos os dias que o figurão do toureio presente que atesoura mais arte (e valor…) aceita encerrar-se em qualquer Praça do mundo, quanto menos em Portugal, ante toiros que se não picam e muito menos se matam, o que só por si anula as estatísticas que nos nossos dias (infelizmente…) caracterizam o sucesso das corridas. Está de parabéns Rui Bento por ter ousado, o Dr. Pedro Marques por ter ajudado, e de parabéns Morante por ter aceite. Que ninguém se convença que o “cigarrero” vem a Lisboa pelo dinheiro em corrida de tal responsabilidade; vem tão só porque respeita a nossa afición e quer afirmar aqui que não é por acaso que detém a justa fama que o precede. Morantista confesso que sou, obrigado toureiro! Tem o público português a obrigação de encher a Praça para lhe manifestar o carinho que merece. A sua genial arte é expoente; que os deuses lhe consintam que em Lisboa a expresse em plenitude. No mundo do toiro existem marcos que o marcam de forma indelével. Este é um deles. Como diria Ortega e Gasset, “tudo o que acontece na vida, acontece porque assim tem que ser.”



VETERINÁRIA

OZONOTERAPIA A UTILIZAÇÃO DO OZONO PARA FINS MÉDICOS NÃO É NOVIDADE NEM NA MEDICINA HUMANA NEM NA VETERINÁRIA E A SUA POPULARIDADE TEM VINDO A AUMENTAR COM O CONHECIMENTO MAIS COMPLETO DAS BASES CIENTÍFICAS QUE EXPLICAM OS SEUS EFEITOS NO ORGANISMO.

Joana Alpoim Moreira

m casos bem escolhidos esta técnica pode apresentar resultados surpreendentes. Uma grande parte da sua utilização em humanos tem sido em atletas e envolvida num certo sigilo, talvez por isso ainda hoje a Ozonoterapia apareça por vezes envolvida num certo grau de secretismo que é necessário desmistificar.

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OZONO O ozono é um gás muito instável e reactivo, composto por átomos de oxigénio (fig. 1).

João Paulo Marques

EFEITOS TERAPÊUTICOS O ozono tem um forte efeito antimicrobiano, não só sobre as bactérias danificando as suas membranas celulares, mas também sobre fungos e vírus, prejudicando o seu desenvolvimento e replicação. Por esta razão também é frequentemente utilizado na desinfecção da água de bebida ou em piscinas. Ao mesmo tempo, por mecanismos diferentes apresenta uma acção importante como estimulador e modulador do sistema imunitário. Deste modo pode ser usado tanto em casos de deficiência de imunidade como em casos de infecção de várias origens e acelerando a cicatrização de feridas infectadas (fig. 3) Outro efeito terapêutico importante é a sua acção anti-inflamatória e analgésica, podendo por isso ser administrado por via sistémica (principalmente endovenosa ou rectal) ou local-

mente nos próprios tecidos inflamados (como uma forma de “infiltração” local). As acções do ozono sobre os diversos tecidos são complexas, em termos práticos ocorre também uma melhor oxigenação e uma estimulação generalizada do metabolismo celular e energético. APLICAÇÕES Como foi referido, nos processos de infecção o ozono é muito útil auxiliando o organismo no combate aos agentes microbianos, assim como nos processos em que existe qualquer fenómeno inflamatório e dor. Outra área de actuação muito procurada mesmo na Medicina Humana é nos atletas de competição pela capacidade do ozono de modulação do stress oxidativo e pelos efeitos sobre a circulação e a oxigenação dos tecidos.

Fig. 5 – O ozono pode ser administrado por via intra-articular

VIAS DE ADMINISTRAÇÃO As principais vias de administração são as seguintes:

- aplicação tópica sobre feridas: quer sob a forma de gás (fig. 4) aplicado directamente quer através de líquidos de lavagem previamente ozonificados - via intrarectal: permite a administração de uma dose maior de ozono que é depois absorvido com efeitos generalizados sobre o organismo - via injectável local: o gás pode ser injectado directamente dentro de uma articulação (fig. 5), ou em volta de zonas de dor ou mesmo em pontos de acupunctura (fig. 6) - via endovenosa: um dos

Fig. 3 – A ozonoterapia está indicada em feridas infectadas

Fig. 6 – Injecção em pontos de acupunctura

Fig. 1 – Molécula de ozono, com 3 átomos de oxigénio

Os geradores de ozono para fins medicinais produzem ozono (O3) a partir de oxigénio (O2) puro, numa determinada concentração consoante o efeito pretendido (fig. 2). A Ozonoterapia deve ser utilizada por um profissional com experiência pois se usada incorrectamente pode ter efeitos negativos no organismo.

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Fig. 2 – Gerador portátil de ozono

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Fig. 4 – Aplicação de ozono directamente em feridas


VETERINÁRIA

Fig. 7 – Autohemoterapia maior (sangue ozonificado)

métodos mais utilizados e eficazes, que consiste na recolha de sangue com um cateter e um sistema de transfusão para uma bolsa ou garrafa apropriada com anticoagulante, onde é administrado o ozono na concentração desejada, sendo esse sangue ozonizado novamente introduzido através do cateter (fig. 7). De referir que o sangue ozonizado também pode ser administrado

Fig. 8 – Administração intra-muscular de sangue ozonificado

por via intramuscular, com efeitos particularmente interessantes a nível de imunidade (fig. 8). Em resumo, a Ozonoterapia

é uma ferramenta muito útil para ser utilizada isoladamente ou como complemento de outra medicação, ou ainda potenciando o efeito de outras modalida-

Fig. 9 – A ozonoterapia pode ser utilizada como complemento de outras modalidades

des “alternativas” como a acupunctura (fig. 9), a quiroprática e a homeopatia.n J. P. M. (jpaulomarques@hotmail.com)


CONSELHOS

HIPOTERMIA

O QUE FAZER? CAMINHAVA PARA O CARRO DEVAGAR, NÃO PORQUE ESTIVESSE CANSADA, MAS PORQUE IA DISTRAÍDA A OBSERVAR A PAISAGEM. céu negro cor de chumbo fazia antever que dentro de poucos minutos iria começar a chover. O vento empurrava as nuvens que se moviam velozmente deixando, no entanto, de quando a quando, o sol brilhar com toda a sua força de quase início de Primavera, por tal razão mesmo à minha frente tinhase acabado de formar um arcoíris! As searas de um verde reluzente, ondulavam ao vento, como se fossem ondas no mar! O frio fazia-se sentir, sentir muito mesmo! Eu sou uma friorenta é verdade, mas estava realmente um gelo, sobretudo para quem caminhava com os pés molhados até ao tornozelo. Tinha tido de passar por dentro de uma poça, não tinha havido outro remédio, pois não havia outra passagem. Os pés gelados incomodavam-me, mas não o suficiente para me impedir de gozar a paisagem. Além dos pés encharcados, caminhava sem casaco pois tinha-o deixado no carro para não me atrapalhar no serviço. De repente um relâmpago cortou o céu e no mesmo instante, um estrondo, forte, profundo, imenso fez-se ouvir! Um segundo depois uma chuva grossa, gorda, intensa começou a cair! Ainda faltava um bom bocado para chegar ao carro… olhei uma vez mais para o céu para ver se seria uma só nuvem passageira, ou se a chuva tinha vindo para ficar, pois ainda se via o sol a brilhar! Decididamente tinha vindo para ficar, o céu estava mais negro e carregado do que nunca, o arco-íris tinha-se tornado mais nítido, mais intenso, mas o sol lá em cima continuava a brilhar pelo buraco deixado entre duas nuvens. Pensei para os meus botões: “A chover e a

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Rita Gorjão Clara

fazer sol, e as bruxas a fazer pão mole!” O vento soprando com mais força, tornou-se mais frio, empurrava as gotas de chuva com tal força que até faziam doer quando me batiam na cara. A correr tentando não meter mais os pés nas poças (não sei para quê, porque de molhados já não passavam) cheguei finalmente ao carro! Com as mãos geladas tirei a chave do bolso das calças de ganga, também estas encharcadas e coladas ao corpo… Entrei finalmente no carro e quando me sentei, senti que me estava a sentar numa poça, tal a quantidade de água que escorria de mim! Estava realmente gelada, liguei a chauffage no máximo, mas como o motor não estava quente, em vez de calor vinha frio das saídas do ar condicionado. Numa tentativa de me aquecer, tentei tirar a roupa molhada e vestir o casaco que tinha ficado no carro e por isso se encontrava seco. Senti-me um pouquinho melhor!

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E foi enquanto esperava que o carro aquecesse para me pôr a caminho de casa, pois sentia-me incapaz de guiar com tanto frio, que me lembrei do dia em que o Damasco ia morrendo de hipotermia (para aqueles que desconhecem o termo, quer dizer que a temperatura corporal desce a níveis tão baixos que é incompatível com a vida). Foi num sábado de manhã, bem cedo logo pela aurora, um amigo ligou-me a dizer que achava o seu cavalo muito “murcho” que era possível que estivesse com uma cólica, pois não queria comer, nem beber… Meti-me imediatamente a caminho e quando lá cheguei vi o Damasco deitado num picadeiro de areia encharcada, sem um único sítio coberto para se abrigar e num sítio bastante ventoso, sem uma sebe para o proteger. Tinha feito muito frio nessa noite… obriguei-o a levantar-se e trouxe-o até às cavalariças, não tinha muita dúvida do diagnóstico, mas observei-o com toda a atenção para ter a certeza que não me

estava a escapar nada. Bradicárdia (batida lenta do coração), extremidades geladas, hipomotílidade intestinal (os intestinos também estavam lentos), temperatura corporal baixíssima, não havia dúvida o cavalo encontrava-se em hipotermia. De imediato pedi que o esfregassem com palha, depois que o secassem com uma toalha turca. De seguida pusemos-lhe um coberjão, levámolo para uma boxe onde ligamos um ventilador para aumentar um bocadinho a temperatura ambiente. Pouco a pouco o Damasco começou a reagir, demorou algum tempo até estabilizar a temperatura corporal, mas finalmente começou a mostrar interesse pela palha que se encontrava no chão da boxe e o seu olhar voltou a estar expressivo! Estou certa que se o Damasco tivesse passado mais uma noite de Inverno ao relento sem nenhum abrigo, neste momento já não estaria fisicamente entre nós! Pois é meus caros leitores, lembrem-se que os cavalos a campo têm sempre sítios para se protegerem das intempéries, árvores, covas, arbustos… mas num paddock de areia, sem sebes, nem abrigos, não têm nenhuma hipótese de se abrigar podendo chegar a morrer de hipotermia! Lembrem-se sempre disto quando deixarem os vossos cavalos nos paddock e mesmo que não tenham mais boxes livres há sempre hipótese de arranjar outras soluções! A solução que se arranjou para o Damasco foi colocar dentro do palheiro um redil com seis grades das vacas, ficou tão confortável como uma boxe normal e bastante mais quentinha e confortável porque a palha isolou o frio que vinha das paredes!n



HISTÓRIA DA ATRELAGEM

O HELENISMO:

OS SUCESSORES DE ALEXANDRE O GRANDE O MEDITERRÂNEO E O PRÓXIMO ORIENTE ESTA SÉRIE DE ARTIGOS SOBRE A HISTÓRIA DA ATRELAGEM, SEM PRETENDER SER COMPLETA E EXAUSTIVA, TEM COMO OBJECTIVO LANÇAR UM OLHAR DE RELANCE PARA A ATRELAGEM AO LONGO DOS SÉCULOS E, SIMULTANEAMENTE, TENTAR RELACIONAR ESTA ACTIVIDADE COM OS FACTOS HISTÓRICOS DAS DIVERSAS CIVILIZAÇÕES OCIDENTAIS E ORIENTAIS ATÉ AO PRESENTE. a abordagem deste tema tão vasto temos seguido a metodologia tradicional que de início nos levou a focar a temática das civilizações mais antigas do próximo oriente, Egipto e Grécia. Assim, até à morte de Alexandre o Grande, em 323 a.C., as civilizações e povos do Mediterrâneo Oriental e da Mesopotâmia e pérsia foram abordadas de uma forma cronologicamente tão coerente quanto possível. Mas não esquecemos que o Mediterrâneo central e ocidental banha terras férteis em contexto histórico, aliás ligados por rotas de comércio marítimo e muitas migrações culturalmente significativas. Com efeito, cerca de 1100 a.C. Cádis (Gades) é fundada pelos fenícios que fundam depois também Cartago em 814: uma colónia de Tiro. Roma é fundada cerca de 753 e Cumes (?) pelos Eubeus, cerca de 750 a.C.. A ocupação de Ibiza data de 654, e em 600 os Fócios (gregos) fundam Marselha (Massilia). De 600 a 500 / 450 a.C. a cultura e a escrita ibérica antiga espalha-se pela península do mesmo nome e, em 590 a.C. os Fócios estabelecem-se em Ampúrias. De 500 a 300 anos a.C. a civilização ibérica estabelece-se com língua comum ao sul da península que toma o seu nome, enquanto, na Grécia, Atenas vence os persas em 480 a.C. O apogeu desta cultura ibérica situa-se entre 500 / 450 e os 300 anos a.C.. As suas comunidades são muitas vezes pequenas e organizadas em “oppida”, ou seja, aglomerados que ocupam os topos de colinas fortificando-os. Os seus contactos com o mundo helénico são intensos, pois os restos arqueológicos encontrados são

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J. Alexandre Matos

ricos em olaria e vasos gregos importados. A sua escultura e baixo-relevo mostram elementos orientais ou gregos sabiamente integrados na sua produção. A presença e importância do cavalo, e sua representação, é significativa e muito preponderante, inclusivamente em contexto religioso. Como exemplo apresentamos (fig. 1) fotografia de um baixo-relevo, encontrado em Villarica (Almeria), do século III / II a.C., e que consta das colecções do Museu Arqueológico da Catalunha, em Barcelona. Representa, segundo se crê, uma deusa biface, que doma, sujeita, ou protege, dois cavalos em postura simétrica, deusa essa que se tem como protectora de animais. Figura 1

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J. P. Magalhães Silva

Os animais e, sobretudo, o cavalo, surgem, no espólio desta civilização, como peças votivas em bronze (cavalos e cavaleiros) que, como se apresenta na (fig. 2), são oferendas aos deuses encontradas em santuários da província de Jaen (na Andaluzia). O cavaleiro de “los Villares” (Albacete), contemporâneo da conhecida dama de Elche, é outro célebre exemplo da importância iconográfica em que é realçada a importância dos cavalos e dos cavaleiros como tema de grande preponderância, em contexto religioso ou não. Esta civilização de populações não necessariamente muito coesas sob os aspectos da sua origem étnica ou linguística, passaram a utilizar, de forma bastante

comum uma linguagem não indo-europeia com uma escrita meia silábica, meia alfabética. A fase orientalizante desta cultura está ligada ao reino de Tartessos, de influência fenícia, o qual, apesar das dificuldades de identificação topográfica, os especialistas localizam na Andaluzia (e sul do Alentejo) entre os séculos oitavo e sexto a.C. e identificam como reino do mítico rei Argantónio. Estamos falando de populações que ocupavam áreas limítrofes do Mediterrâneo, e sabemos que o comércio marítimo era frequente e intenso. Mas, como se faziam as ligações entre os portos mediterrânicos e o interior da península? Não será muito fácil julgar qual a proporção dos bens trocados com o interior fazia o trânsito por dorso de animal ou por viatura de tracção (cavalos, mulas, burros ou até bois) mas tal deveria seguramente depender do estado dos acessos, já que sabemos que anteriormente às vias romanas, a natureza dos caminhos não seria muito favorável à utilização de atrelagem. Esta, no entanto, deveria ter ao seu dispor o mesmo tipo de veículos de qualquer meio onde a influência da civilização helénica se fazia sentir. Será necessário fazer um especial esforço para coligir o espólio arqueológico ligado à atrelagem das épocas pré-romanas em todo o sul da Península, pois, mesmo que não seja muito abundante, ele existe e merece uma apreciação separada que o torne mais significativo. Sendo a madeira muito perecível, este espólio tende a ser constituído por pequenas peças e elementos de metal (bronze, ferro, etc.), quer de arreios,


HISTÓRIA DA ATRELAGEM

quer de ornamentos e detalhes construtivos pertencentes a aspectos funcionais das equipagens (pregos, aros, passa-guias, etc.). Temo-nos referido ao Mediterrâneo Ocidental (a cultura ibérica estendia-se desde o sul de França até ao sul de Portugal), mas o que sucedia no Mediterrâneo Oriental depois da morte de Alexandre o Grande em 323 a.C.? Na última parte do artigo anterior desta série referimos já que, apesar do desmembramento do império macedónio pelo “Diádocos”, como foram conhecidos os sucessores de Alexandre no domínio das terras por ele conquistadas, a cultura designada como helenística prevaleceu com grande força e pujança criativa nos anos subsequentes e durante todo o século III a.C.. Esta influência, que se havia de estender em profundidade até à Índia e Ásia Central, ultrapassou até os limites do que tinha sido o império Aqueménida. Deixemos, pois, os etruscos, romanos e cartagineses, a que havemos de voltar, para que na sequência da narrativa, vejamos o que de interessante se passa com a atrelagem no Oriente Próximo. Ao desmembramento do império de Alexandre, os territórios, cidades e áreas de influência sob o seu domínio, correspondeu à criação de diversas zonas políticas de importância diversa mas que, ainda assim, conseguiram manter, por largos períodos, uma coerência forte: para além da Macedónia, e da restante Grécia, que tinha sido deixada nas mãos de Antípatro (quando Alexandre empreendeu a sua aventura asiática de conquista)

Figura 2

os dois reinos mais importantes, o do Egipto e o da Síria, foram “herdados” por dois dos seus outros generais: Ptolomeu e Seleuco. Ptolomeu criou um dinastia que, baseada em Alexandria, e, apoiada por uma elite greco-macedónia, prosperou como suserana do Egipto e tendo aquela cidade como o centro comercial mais importante do Mediterrâneo oriental. Chegaram os Ptolomeus a recuperar o canal que ligava o Nilo ao Mar Vermelho, o qual foi reaberto à navegação em meados do século III a.C.. Este canal tinha sido aberto por Dariu I da Pérsia mas tinha-se entretanto assoreado por falta de manutenção posterior. Assim, para além do rico Egipto ptolemaico (e para além de diversos pequenos territórios e cidades na península da Anatólia) a segunda maior entidade política que surgiu neste período foi a do Império Seleucida. E aqui a nossa narrativa retoma o tema da atrelagem militar (uma vez que, como transporte

civil, ela é um assunto que se dispersa por todos os pontos civilizados das margens do Mediterrâneo) pois é neste âmbito que o vamos reencontrar na importante batalha de Magnésia. Mas expliquemo-nos: Seleuco I e seu filho Antíoco foram os maiores fundadores de cidades da antiguidade. Estabeleceram rotas comerciais e caravaneiras com o Oriente e fundaram, junto ao rio Tigre, uma capital, Seleucia, onde a civilização e língua grega eram preponderantes. Apropriando-se de muitos dos metais preciosos anteriormente concentrados não mãos do império persa e das suas satrapias, fizeramnos circular criando um fluxo comercial ímpar, onde os produtos da Índia (algodão, pedras preciosas, especiarias, etc.), da China (seda, etc.) e da Arábia (incenso, etc.) circulavam como nunca até então, escoando-se pelos portos de Alexandria e da Síria para ocidente. Este império, que ocupava

parte da Anatólia, a Síria, a Mesopotâmia e a antiga Pérsia na sua quase totalidade, era o que de mais parecido poderia existir com a herança de Dariu III. Os seleucidas tinham, no entanto, o inconveniente de reinar sobre um território que albergaria mais vinte povos e línguas diversas, enquanto os ptolomeus, embora fossem também eles de origem macedónia, geriam um território de povo coeso e habituado a ser governado por uma hierarquia burocrática que sempre os comandara e que, adaptada à soberania ptolomaica, continuou a fazê-lo com hábitos perpetuados por consuetudinário mecanicismo. Se nos cabe agora salientar este aspecto do império seleucida é por que ele se reflecte de uma forma significativa na estrutura militar do seu exército. Ora, é aqui que o nosso tema da atrelagem vem de novo ao caso, como dispositivo guerreiro, se bem que, numa fase em que as formações de carros de combate não constituíam já um elemento tão importante como tinham anteriormente sido nas forças dos impérios persa, do egípcio ou hitita. Mas falemos do nosso tópico fulcral que é o da batalha de Magnésia, na Lídia (actual Turquia), a qual foi travada em 190 a.C. entre as forças do império seleucida e as do império romano, e que foi dos últimos recontros em que formações de carros de combate entraram em campo sectorialmente comandadas por Seleuco, filho de Antioco III, suserano então reinante no império. Na sequência da segunda Guerra Púnica e liderados por Cornelio Cipião Asiático (irmão do Cipião Africano que tinha


HISTÓRIA DA ATRELAGEM

derrotado Aníbal Barca na batalha de Zuma, no norte de África, e que o acompanhava, como legado, no confronto com o exército de Antíoco III) os romanos quiseram estender a sua influência até aquela zona e, quiçá, perseguir e exterminar Aníbal Barca, que tanto trabalho lhes tinha dado aquando das suas deambulações pela península itálica, troçando do poderio romano durante anos a fio. Mas Aníbal não esteve em Magnésio, e a sua triste sorte não pertence já a esta narrativa nem ao âmbito das peripécias da história da atrelagem, pois o seu papel se limitou, sem sucesso, a tentar impedir, com a frota seleucida, que os romanos transpusessem o Helesponto, o que não logrou conseguir. As motivações atribuídas à acção do exército romano, tão longe de Itália, foram múltiplas, entre as quais: os romanos haviam recentemente ocupado a Macedónia e a Grécia, e temiam, fundadamente, que Antíoco III se arvorasse em campeão da liberdade helénica, posta definitivamente em causa pela expansão da república romana. Por outro lado, os romanos aliaram-se ao rico reino de Pérgamo, que ocupava a Anatólia (actual Turquia) ocidental, por cuja independência se tornaram responsáveis, ameaçada desde sempre pelos seleucidas. Finalmente, e como já referimos, Antíoco dera guarida a Aníbal Barca, considerado inimigo mortal da república. Porém, o que nos interessa na batalha de Magnésia, é que o carros de combate do exército de Antíoco III, de tipo semelhante ao anteriormente utilizado por Dariu III na batalha de Gaugamela, (ou seja, com lâminas cortantes aplicadas nomeadamente ao eixo dos veículos) foram utilizados em formação cerrada. Na figura 3 apresentamos um desenho de um destes carros, mas não temos elementos que nos possam garantir da veracidade completa da representação. Antes de mais, dentro do veículo, deveria seguir pelo menos mais um combatente, o qual (com arco e seta, ou com lança) seria indispensável à capacidade ofensiva do conjunto, como era, aliás, usual em termos semelhantes no antigo exército persa. As fontes antigas relatam que

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Figura 3

as forças em presença somavam 70 000 homens para o total do exército seleucida, e de 30 000 para o total romano. Autores modernos divergem e avançam que o relato é tendencioso (escrito pelos romanos) e que o número de combatentes em presença deveria ser mais equilibrado, admitindo-se que haveria cerca de 50 000 homens de cada lado. A descrição da batalha é longa e confusa, e não caberia a sua completa narrativa nestas linhas, mas cumpre referir que as hostilidades tiveram seu começo exactamente por uma carga maciça da formação dos carros de combate comandados pelo príncipe Seleuco, a qual, tendo inicialmente bastante êxito, atacou posteriormente o acampamento romano perdendo-se o efeito prático da sua acção para a batalha. A sua acção desguarneceu até

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a ala esquerda a que pertencia, com prejuízo da integridade das tropas de pé que aí permaneceram, vulneráveis aos posteriores ataques da cavalaria auxiliar utilizada pelos romanos. Voltando à questão da variedade de tropas utilizadas pelos soberanos seleucidas, elas eram de múltipla origem e muitas eram de natureza mercenária, não habituados talvez a uma acção coordenada e com tendência a abandonar o terreno à menor adversidade que o evoluir da batalha pudesse ter. Apesar de disporem de corpos auxiliares, aliados e de cavalaria não romana, não custa a crer que a solidez e coerência das formações bem treinadas das cortes e manípulos das legiões romanas fosse superior ao do heteróclito exército seleucida, apesar dos efectivos superiores que eventualmente pudesse ter.

Figura 4

Na última imagem (fig. 4) evocamos, no campo de Antíoco, a existência de elefantes de guerra, os quais, alvo dos projécteis romanos, acabaram por fazer mais estragos nas fileiras do seu próprio exército do que nas dos legionários. Os elefantes já não seriam novidade para os comandantes e soldados romanos que estavam preparados para os contrariar com eficácia comprovada, tendo em conta a sua utilização recente pelo exército de Aníbal Barca aquando da segunda Guerra Púnica ao invadir a península itálica através dos Alpes. Em outro episódio, recordemos que, 90 anos antes de Magnésia, o rei Pirro do reino grego do Epiro, aliou-se a Tarento (cidade no sul da península itálica, de colonização grega), onde desembarcou em 280 a.C., para dar batalha aos romanos. Levou consigo 20 elefantes de guerra e, apesar de perder muitos homens, a falange de origem greco–macedónica desbaratou as legiões romanas em Heracleia graças à ajuda e efeito aterrador que estes elefantes tiveram nos legionários de Roma. Podemos considerar que os carros de guerra e os elefantes eram os carros de combate da antiguidade pelo peso e importância que poderiam ter contra as forças inimigas. Em Magnésia, elefantes e carros de guerra até estiveram do mesmo lado, mas as legiões tinham entretanto aprimorado a sua táctica e treino, e nem elefantes nem carros de guerra seriam suficientes para as derrotar. Cumpre finalmente referir que o tratado de paz que se seguiu à vitória romana exigiu um tal pagamento de reparações de guerra por parte dos seleucidas que, posteriormente, muito haviam de sofrer as populações sob o seu domínio, com a necessidade de providenciar a este fim. A sua frota foi limitada por acordo com Roma e dispersa a sua força de elefantes de guerra. O império seleucida perdurou, mas não viria a recuperar da perda de prestígio sofrida em Magnésia, e não é difícil de imaginar que a força de carros de combate, custosa de preparar, difícil de treinar e de cara manutenção, tenha ficado reduzida a uma mera utilização episódica de condução de chefes e de oficiais superiores. n



APONTAMENTOS

VÁRIAS GERAÇÕES DEDICADAS “AOS OBSTÁCULOS”

A FAMÍLIA CARVALHO MARTINS O NOME DE FAMÍLIA DIZ TUDO! DESDE OS MAIS NOVOS AOS MAIS CRESCIDOS ENTRAM NAS PISTAS PARA DISPUTAR AO MAIS ALTO NÍVEL E MAIS IMPORTANTE DO QUE ISSO, SABEM GANHAR E SER HUMILDES E PERDER APROVEITANDO A LIÇÃO QUE OS CAVALOS LHES DÃO POIS “OS CAVALOS NÃO SÃO MÁQUINAS” COMO ME DISSE UM DIA, E MUITO BEM, A SORRIR O MEU QUERIDO AMIGO ANTÓNIO CARVALHO MARTINS.

COR. HÉLDER MAR TINS Palmarés Prin cipal l Pa rticipação em 3 Olimpíadas l Ga nhador G.P.

Cavalos Princi pais AVRO Panoplia l Op tus l

l

LHO MARTINS A V R A C L E U N A JOSÉ M José Cid Tavares

ecnicamente perfeitos e transmitindo aos alunos, os seus ensinamentos, uma escola que herdaram do avô Coronel Hélder Martins, e do pai José Manuel que vi muitas vezes montar na perfeição. Sempre educados e divertidíssimos, dão aos concursos um ar de encontro social de amizade fora das pistas. Lá dentro é cada um por si!... Importante e fulcral nesta família de grandes cavaleiros a decana do grupo, a nossa querida MIANA, sempre com um sorriso de grande senhora que é! São décadas e décadas e décadas de cavalos e cavaleiros, um exemplo para aqueles que entram no hipismo em atitude transitória ou de “alpinismo social”. Bravo! Família Carvalho Martins! Sou um grande admirador vosso! Vemo-nos por aí! n

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rincipal Palmarés P cais em 1975 or do G.P. Cas l Venced s em Sintra or das 6 Barra l Venced ncia or Prova Placê l Venced ncipais Cavalos Pri Beduíno Samper l Senator

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l

MANUEL CARVALHO MARTINS Palmarés Principal l Inicia a competição de obstáculos em 1971, foi campeão nacional de Juniores em 1973 e participou no Campeonato da Europa de Juniores em 1974, tendo ganho centenas de provas ao longo da vida equestre, participado em diversos eventos nacionais e internacionais. l Para além de cavaleiro é chefe de pista desde a década de 80, organizador de Concursos (desde 2001), dirigente desportivo (Vice-Presidente da SHP de 2009 a 2015) e Juiz internacional L3.

Cavalos Principais Grinca-Prince Senator l Urget T l l

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APONTAMENTOS

ANTÓNIO CARVALH

GONÇALO MARIA CARVALHO MARTINS

pais Cavalos Princi rince l Grinca-P us es l Rh l Cinala

Palmarés Principal 22 anos, cavaleiro profissional, campeão de Iniciados em 2003 Participou no campeonato da Europa de Childrens em Istambul, onde ganhou a primeira classificativa l Pré-selecionado para o campeonato da Europa de Juniores da Comporta l Emigrou com 18 anos para a Alemanha para trabalhar dois anos com Paul Shockemohle, seguiu-se a Holanda onde trabalhou ano e meio com o actual campeão de Espanha, Manuel Fernandez Saro (Fanfa), para de seguida ir trabalhar, também na Holanda com Mário e Micha Everse, os actuais campeões do mundo de cavalos novos de 5 anos l Atualmente trabalha com a 7 vezes campeã de Portugal, Marina Frutuoso de Melo e com o seu marido António, neste ultimo mês esteve a competir na rota do Sol "Sunshine Tour" em Espanha

O MARTINS

l l

Cavalos Principais Vurioso Kim l Jophie des Carmes l l

GONÇALO CARVALHO MARTINS Palmarés Principal l 46 anos, campeão e vice campeão de Iniciados l Vencedor de inúmeras provas nacionais e internacionais

Cavalos Principais Lambada Moreno van de Breemersen l Royal the Convert l l


EQUITAÇÃO NATURAL

DEIXARIA A SUA FILHA DE 10 ANOS

CONDUZIR UMA MOTA DE 1000CC OU TOMAR DROGAS? A POTÊNCIA DE UM CAVALO (1 CV) PODE SER TÃO VICIANTE COMO COCAÍNA, MAS PODE TAMBÉM PÔR IGUALMENTE A NOSSA VIDA EM RISCO.

Janet Hakeney

s riscos de lesões ou morte causadas pela prática de montar a cavalo têm sido objecto de estudo por parte de inúmeros médicos, companhias de seguros e federações equestres um pouco por todo o mundo. Os resultados são, infelizmente, comparáveis aos da prática de motociclismo, desportos radicais e ao uso de substâncias ilícitas. Reunir os dados necessários para estes estudos de forma fidedigna não é tarefa fácil, mas um dos estudos concluiu que montar a cavalo é 20 vezes mais perigoso que andar de mota. Cerca de 80% das mortes e lesões resultam de montar (ou de desmontar da pior maneira possível quando não estamos à espera), enquanto que os ou-

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tros 20% acontecem quando estamos a interagir com um cavalo sem estarmos montados (exs.: a levá-lo à guia, a limpar a boxe, etc.), sendo as crianças estatisticamente mais vulneráveis a este tipo de acidentes. Os registos hospitalares mostram que por cada morte causada pela

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prática equestre há cerca de 7 ou 8 lesões graves causadas por esta (tais como fracturas na cabeça, costas, pescoço e outros ossos). Contudo, a maioria das lesões causadas por montar a cavalo ou interagir com estes não envolve qualquer tipo de tratamento hospitalar, traduzindo-se apenas em dores e desconforto na zona magoada, sendo estas tratadas em casa e não contando para estes estudos. Tudo isto me afecta profundamente porque a grande maioria dos acidentes provocados pela interacção com cavalos é facilmente evitável. Não sei se alguém já fez a recolha destes dados em Portugal (sugestão: isto seria um óptimo projecto para aqueles que estão a estudar Equitação) mas as estatísticas mostraram também que as raparigas/mulheres têm uma propensão para se magoarem superior à dos rapazes/homens, o que fez com que quase todos os centros de equitação tenham

agora um sério preconceito quanto a cavaleiras, o qual provavelmente irá piorar. Saúdo a geração mais jovem por ter adoptado a boa prática de usar capacetes protectores (vulgarmente conhecidos por ‘toques’) e também os centros de equitação, organizadores de competições, companhias de seguros, monitores e pais por reforçarem esta prática. No entanto, tal como quando se tornou obrigatório o uso de cintos de segurança dentro de automóveis, isto pode facilmente levar-nos a sermos complacentes quanto à nossa segurança. O seu filho ou filha não está seguro porque tem um toque na cabeça, encontra-se apenas um pouco menos frágil caso caia do cavalo. Alguma vez deixaria a sua criança ir passear nos bosques com uma baby-sitter estrangeira de 150kg sobre a qual não sabe nada? A saúde mental de uma série de cavalos é geralmente questionável devido às condições antinaturais em que


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estes são mantidos e ao que eu classificaria pessoalmente como regimes de treino abusivos. É raro ver um cavalo verdadeiramente relaxado, feliz e mentalmente equilibrado que é mantido constantemente num estábulo. Mas claro, como muitas pessoas nunca viram as condições ideais em que os cavalos devem ser mantidos acham que é normal. Então porque é que os cavalos são tão perigosos? Bom, além de pesarem mais de 400kg e terem dentes e cascos, não são. O que os torna perigosos é a forma como interagimos com eles e quão pouco as pessoas que os montam e lidam com eles sabem sobre os mesmos, particularmente sobre o seu estado mental. Quando as pessoas querem aprender a montar a cavalo geralmente dirigem-se a um centro equestre e são directamente postas em cima de um cavalo antes de lhes ser ensinado seja o que for sobre estes, como pensam e normalmente reagem. Este é o primeiro de muitos desvios que a equitação tradicional irá tomar

ao que deveria ser uma aproximação sensata à arte de montar, especialmente para principiantes. Estar com cavalos e montá-los de forma segura é muito muito mais do que conseguir sentar-se em cima deles com uma perna de cada lado e não cair quando ele anda a passo, trote e galope. Esta aproximação é equivalente a ensinar o alfabeto a uma criança começando pela letra N! Uma das razões que me fez deixar de ensinar no Pony Club em Inglaterra foi ter de lidar com pais chatos e intrometidos. Estes queriam que os seus filhos aprendessem a montar para

que pudessem ganhar competições e não estavam minimamente interessados em que eles aprendessem técnicas básicas de como estabelecer uma relação segura e confiante com os seus cavalos, o que ultimamente os teria levado a serem muito melhores e mais seguros cavaleiros que montam cavalos mentalmente sãos. Suspeito que isto também se vê muito aqui uma vez que, após assistir a uma lição dada por um monitor português, perguntei-lhe porque é que este não tinha corrigido alguns erros básicos que o seu aluno cometeu. A resposta dele foi “Eu preciso de ganhar di-

nheiro e eles não estão interessados em trabalhar nas bases, querem é competir”. Trata-se de um monitor muito bom e famoso que sabe que os seus alunos não têm as bases necessárias para se tornarem bons cavaleiros mas que sente que não tem poder para mudar isso. No mundo da dança há um ditado que diz “Os Principiantes querem fazer passos intermédios, os Intermédios querem fazer passos avançados, e os Avançados trabalham sobretudo em aperfeiçoar os passos mais básicos”. Que interessante… Porque efectivamente este processo é seguido pela comunidade equestre por todo o mundo. Num esforço de explicar a todos como tornar os vossos cavalos seguros, quero abordar a ideia que muitas pessoas têm de que os cavalos de Equitação Natural (EN) são ‘aborrecidos’. Isto foi-me dito por uma senhora que veio a um dos meus cursos com o seu cavalo, o qual ela admitiu ser perigosamente inconsistente nas suas reacções e consequentemente a assustou seriamente. Ela olhou para o


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meu cavalo, que fica completamente calmo e bem comportado a meu lado com rédeas soltas até que eu lhe peça para fazer algo, e chamou-lhe aborrecido. A base de treino da EN é um equilíbrio entre Sensitização ("Vai, mexe-te e responde") e Dessensitização ("Uou, menos, relaxa e acalma-te"). Nós dessensitizamos os cavalos para que estes ignorem coisas como sacos de plástico que voam de cercas e sítios inesperados, cordas que são atiradas sobre eles, o som de um chicote, bolas de ginástica gigantes, etc. As gran-

des coisas que assustam a maioria dos cavalos são as mesmas às quais ensinamos os nossos cavalos a não reagir. No entanto sensitizamo-los para que respondam aos mais pequenos toques de perna, mãos e na cabeçada, entre outros. Durante este processo de treino devemos mudar entre Sensitização e Dessensitização frequentemente. É um pouco como exercícios de Terapia de Comportamento Cognitivo para cavalos. Dessensitização até que o cavalo se acalme, e quando ele está calmo começa a ficar mais parado, então sensi-

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tizamo-lo para que se torne responsivo novamente. Isto fará com que ele fique um pouco preocupado, ansioso e reactivo, portanto voltamos a dessensitizá-lo. Continuamos a cruzar esta linha entre Sensitização e Dessensitização durante algum tempo até que chegamos ao ponto em que o nosso cavalo está simultaneamente calmo e responsivo, não apenas lento ou reactivo. De cada vez que cruzamos esta linha estamos a ensinar o nosso cavalo a ter autocontrolo e a saber acalmarse quando algo o assusta ou

preocupa. É um pouco como fazer transições em Dressage para que o cavalo esteja equilibrado e bem posicionado, mas neste caso estamos a falar de um bom equilíbrio e posicionamento tanto mental como físico. Acho que muitas pessoas só lidam com os extremos: cavalos que estão ansiosos e reactivos (e que por isso têm de ser mantidos com rédea curta para que não fujam connosco em cima) ou cavalos que estão parados e desligados e não se querem mexer por muito que os incitemos. Os do primeiro tipo são obviamente perigosos e não es-

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tão mentalmente equilibrados, mas os do segundo tipo podem também causar problemas. Se um cavalo que habitualmente é lento e taciturno se assustar, este pode não só reagir muito mal mas também ter imensa dificuldade em acalmar-se e ‘voltar à Terra’, uma vez que por não se assustar regularmente, não possui capacidades de autocontrolo nem sabe como se acalmar a si próprio. Um cavalo que aprendeu a ter autocontrolo e consegue regular as suas próprias emoções em situações de stress é o mais próximo da definição de um cavalo seguro que podemos ter. A equitação tradicional não aborda a segurança desta forma e em vez disso depende de microgestão, bridões maiores e rédeas restritivas. Apenas os aspectos físicos de como controlar um cavalo são abordados, ao invés de lhes ensinar autocontrolo. Na EN apresentamos pessoas inexperientes aos cavalos juntamente com os conhecimentos que estas necessitam para saber como eles pensam e reagem, e demonstramos e ensinamos isto primeiramente sem os montar. Para nós, isto é o equivalente a ensinar o alfabeto começando pelo A. Se conseguirmos ler a linguagem corporal de um cavalo e entender a razão pela qual ele reage a certas coisas dessa forma estaremos muito mais seguros quando interagimos com ele, e claro, estaremos muito menos em risco de sermos magoados. Por norma usamos uma corda de 4 metros para conduzir um cavalo, porque se usarmos uma corda de apenas 2 metros, ou mesmo as rédeas, isso pode causar um sentimento de claustrofobia no cavalo e é mais provável que ele se assuste e nos atropele. Se segurarmos o cavalo muito perto de nós ou

de forma rígida isso pode também fazer com que o cavalo se sinta claustrofóbico, e no caso dele tentar fugir temos de soltar a corda ou seremos puxados para baixo dele. Saber como conduzir um cavalo à guia de forma segura é uma das noções mais básicas que a maioria das pessoas que têm ou trabalham com cavalos há muitos anos não possuem. A EN põe a segurança e a saúde física e emocional dos nossos estudantes e cavalos no topo da nossa lista de prioridades. Nunca vi um estudante de EN ser forçado a fazer coisas para as quais não está preparado e deixar a aula em lágrimas ou numa ambulância. Mas vi ambos acontecerem noutros sítios. Nós divertimo-nos enquanto aprendemos e damos o nosso melhor para produzir cavalos que são física e emocionalmente sãos. Queremos ajudar as pessoas a entender melhor a natureza dos cavalos para que um dia mais tarde montar a cavalo não seja um desporto de alto risco e para que todos possamos desfrutar de montar cavalos seguros.n Janet Hakeney, presidente da APEN Tradução: Patrícia Baptista

equitacaonatural@gmail.com www.facebook.com/ENPortugal



NOTAS SOLTAS

A MINHA RAZÃO EQUESTRE – 2

NO PRINCÍPIO ERA O CÍRCULO HOJE TRAGO AQUI O CÍRCULO COMO BASE DA EQUITAÇÃO POR CONTRAPONTO COM A LINHA DIREITA.

omo diria Monsieur de La Palisse, comecemos pelo princípio: é com a rédea de abertura que o cavalo é levado a seguir o caminho que a sua própria cabeça foi aconselhada a percorrer. E essa rédea de abertura serve para fazer uma curva a qual se pode fechar desenhando um círculo. Continuando, ao longo das nossas vidas equestres teremos todos os motivos para desenharmos círculos pois o cavalo arredonda-se naturalmente na volta. Cumpre assim ao homem extrair dessa realidade todas as virtualidades inerentes à comodidade da sua monte. O arredondamento da linha de dorso é cómodo para o cavalo e só um cavalo que se sente con-

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Henrique Salles Fonseca

fortável pode sê-lo para o seu cavaleiro. E para que se monta a cavalo? Para se ter prazer. E o prazer tem que ser cómodo. Ou seja, não há comodidade equestre sem o círculo. Mas chega de silogismos e passemos à equitação propriamente dita. O primeiro alerta tem a ver

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com o descair para dentro da volta nessa tendência para encurtar caminho que todos temos – e os cavalos também – encurvando-se ao contrário da volta a percorrer. Então, o círculo que deve começar a ser feito numa única pista, não pode ser encurtado por iniciativa do cavalo sob pena de ele sair do controle do cavaleiro, se pendurar na espádua de dentro e começar a ter dores por excesso de peso nessa mão. Daí a mancar e a chamar o veterinário vai um instante. Quando, afinal, bastava ter encurvado suavemente o cavalo ao círculo com a rédea de dentro e ter conduzido com a de fora de modo a que ele se mantivesse numa única pista, encurvado naturalmente e com o peso uniformemente distribuído pelos quatro membros. E é também na volta que se faz a mobilização da garupa cujo ensino começa com uma ajuda lateral do lado de dentro da volta com leve indicação da cravache na garupa em complemento da dita ajuda lateral até se conseguir fazer o exercício com a perna quase isolada. Segue-se lá mais para diante a fixação da rédea contrária a «puxar» a garupa para esse lado (o do lado de

fora da volta) e não tardará muito que esteja o cavalo a perceber o que é a ajuda diagonal. E quando, ainda lá mais para diante, a garupa se deslocar no sentido da rédea de fora, aí temos todos os motivos para avançarmos para a ajuda lateral do lado para que o cavalo se desloca e a isso chamamos ajuda lateral interior (relativamente ao sentido da deslocação). E para que lado se encurva o cavalo? Começa por se adaptar à volta; deixa de se encurvar quando nessa mesma volta percebe a acção da rédea de fora a «puxar-lhe» a garupa para fora; passa a encurvar-se ao contrário do círculo quando, já ligeiro, percebe a ajuda lateral do lado de fora da volta inicial. Até porque nessa fase já apetece «puxar-lhe» a espádua com a rédea do lado para que se desloca numa volta em sentido contrário ao círculo inicial. Volta e contravolta sempre e quase só com o peso das rédeas. E aí, Caro Leitor, atingimos o «nirvana» e podemos apregoar que montar a cavalo é um prazer enorme. E o cavalo agradece uma festa e as rédeas soltas sobre o pescoço. Mas... e a linha direita? Bem, essa une duas voltas. Base de treino por ser facilitador da performance do cavalo, o círculo é acessível a qualquer um independentemente do nível de ensino em que se encontre e das qualidades físicas de que disponha; a linha direita, sem os atractivos facilitadores da volta, é só para quem a consegue executar. Eis por que tenho o círculo como fundamental no ensino e reservo a linha direita às apresentações de nível elevado. Sim, no princípio era o círculo. E no fim, também. Vá, acabe lá essa lição com uma mobilização de garupa para cada lado, de rédeas quase soltas, inspirando-se no exercício da perna isolada.n



HORSEBALL

SOBRE A ORIGEM DA DISCIPLINA

PEQUENA HISTÓRIA DE UM HORSEBALL PREMATURO SOBRE A ORIGEM DA DISCIPLINA DE “HORSEBALL” CONSTAM “TESES” DIVERSAS , UMAS MAIS FUNDAMENTADAS, OUTRAS, NEM POR ISSO. A MAIS REMOTA REFERE-SE AOS PRIMEIROS ANOS DO SÉCULO XIII CONTANDO, - COM INEGÁVEL HUMOR NEGRO - QUE O GRANDE CONQUISTADOR MONGOL, GENGIS KANT, PERMITIA AOS SEUS CRUÉIS CAPITÃES DECAPITAR ALGUNS INIMIGOS VENCIDOS, PARA UTILIZAREM AS RESPECTIVAS CABEÇAS NUM SINISTRO JOGO A CAVALO ONDE, EM GRANDES GALOPADAS PELAS ESTEPES ASIÁTICAS, SE DISPUTAVA A POSSE DAS MESMAS ENTRE OS BÁRBAROS CAVALEIROS.

João Sequeira

om bastante mais fundamento se atribui a origem do horseball ao “Jogo do Pato” que, na Argentina, é ainda hoje um dos jogos mais populares, entusiasmando multidões e movimentando muito dinheiro em apostas. Na verdade este jogo tem regras semelhantes ao horseball de hoje, ainda que existam diferenças substanciais que os distinguem. Sobre a origem deste jogo, justificada pela sua designação dizse também datar de meados do século XIX e que, na pampa argentina, os gaúchos se entretinham a jogar à apanha de um pato vivo. Parece que o mesmo era lançado em pleno galope num terreno demarcado, ganhando o primeiro gaúcho que, de cima do cavalo, o conseguisse apanhar à mão. Este jogo deveria ser muito dispendioso pois certamente o bicho, ao ser agarrado pelo pescoço, com o aperto do gasganete e as patadas dos cavalos, não deveria ficar de boa saúde, não tendo outro préstimo que não fosse a panela da cozinha… Com o tempo o pato foi substituído por uma bola com argolas (pègas) que era passada entre os jogadores da mesma equipa até ser lançada para a baliza contrária, ganhando a equipa que metesse mais golos. Quando a bola caia no solo, o jogador disputava a sua posse de cima do seu cavalo, dai as tais argolas.

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Haverá, provavelmente, outras teorias, ou outras origens para o horseball mas uma coisa é certa, ele não nasceu de geração espontânea com a mesma configuração que tem hoje, e isso consigo provar com esta pequena história que eu próprio vivi de perto. A primeira vez que ouvi falar de horseball foi aos dezasseis ou dezassete anos, há cerca de setenta anos, quando cursava o 6º ano do Colégio Militar, tendo a ventura de ter como mestres de equitação dois professores excepcionais, o Capitão Reymão Nogueira e o Ten. António Romeiras. Contou-nos o primeiro que em Fontainebleau – França (Escola Militar de Equitação), onde ele próprio estagiara, fazia parte do currículo dos primeiros anos, uma disciplina designada por horseball, usando uma bola, duas balizas, um picadeiro e duas pequenas equipas, cujo objectivo era, como no andebol, meter

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golos na baliza contrária. Enquadrou essa actividade, não como uma nova disciplina equestre, mas antes como ginástica a cavalo, procurando equilíbrio (ligação ao movimento), solidez, flexibilidade, mas acima de tudo desembaraço e à vontade. Julgo que no ano imediato à nossa saída do Colégio (1951), ambos os mestres iniciaram ali no Colégio Militar o horseball com os alunos mais adiantados (6º e 7ºs anos). As regras desse jogo eram diferentes das actuais, bem como as balizas, mais parecidas com as do râguebi em vez dos actuais cestos (ver fotos). Em Portugal era algo completamente novo e julgo que, mesmo em França não estava institucionalizado, só tal acontecendo, como disciplina equestre, alguns anos mais tarde, com regras idênticas às que hoje existem. Posso pois afirmar que em Portugal este desporto teve início no Colégio Militar em 1951/52.

Quando em 1955 terminei o curso de instrutor de equitação em Mafra, depois de passar pelo Regimento de Lanceiros 2, fui mandado em “diligência”, para a Escola do Exército (hoje Academia Militar) na Amadora onde se ministrava o Curso Geral Preparatório, primeiro ano do curso de oficiais. Aí assumi as funções de instrutor de equitação dos “infras” (alcunha que então se dava aos caloiros). Fui lá encontrar uma mão cheia de antigos alunos do Colégio Militar meus contemporâneos, pois as diferenças de idade não eram grandes. Eles já eram “veteranos” nessa nova actividade competitiva da equitação a sabiam bem mais do que eu. Entre outros recordo o Filomeno Malheiro–Garcia, o Zé Manuel Carvalho Araújo, o Luís Marinho Falcão, o Manuel Barão da Cunha, o Tito Lívio Xavier e o Ruben Domingues. Que me perdoem os omitidos, mas a


minha memória já está fraca. O primeiro desta lista veio a desempenhar um papel muito especial na história do horseball em Portugal, conforme contarei adiante. Foram eles os “culpados” de me ter metido naquelas andanças, pois o seu entusiasmo era verdadeiramente contagiante. Claro que a primeira coisa que fiz foi procurar os meus antigos mestres Reymão e Romeiras para me explicarem como deveria conduzir a sua iniciação na Academia, onde a maioria dos cadetes só conhecia os cavalos “de vista”, aos quais dedicavam especial antipatia… Mas a minha maior preocupação, nessa altura, não era o horseball, mas sim como poderia dar aulas de equitação normais, com um mínimo de segurança para cavaleiros e cavalos, quando na verdade, nem um verdadeiro picadeiro descoberto existia. As aulas que se iam ministrando decorriam dentro dum rectângulo de terra barrenta vedada por uma cerca com paus horizontais a 1,20m de altura, cujo piso variava entre a dureza dum corno de vaca na época seca, e poças de água com lama escorregadia, na época chuvosa mais convidando à prática do pólo aquático do que a uma lição de equitação. Chamavam-lhe com grande descaramento “picadeiro descoberto” e era lá que os meus antecessores e eu próprio procurávamos dar aulas de equitação em condições péssimas. Pretender iniciar, nesse recinto, o horseball com pessoas, muitas das quais nem sabiam montar a cavalo, era um absurdo, um verdadeiro disparate. Acontece que o entusiasmo trazido pelos já experimentados “Meninos da Luz” acabou por

contagiar também o Capitão comandante da Companhia, bem como o próprio TenenteCoronel, comandante do Destacamento da Amadora. Na verdade ambos sonharam com um belo e entusiasmante espetáculo de horseball a animar as festividades do próximo Juramento de Bandeira. Como bem me competia, perante o entusiasmo dos meus superiores hierárquicos, expliquei-lhes com algum “tacto”, a impossibilidade de realizar tal sonho, sem instalações minimamente ajustáveis, o que implicava, no mínimo, abrir uma caixa inclinada com 70 cm de fundo, implantar drenos de escoamento das águas pluviais e substituir totalmente o piso barrento impermeável, por matéria permeável como uma mistura de areia, sal e serradura (nessa data não existiam os pisos sintéticos hoje utilizados). Com a mais cuidada solenidade, possível a um jovem Alferes de 23 anos, insisti que o piso existente representava uma grave ameaça para a integridade física dos alunos e dos cavalos, independentemente de se pretender ou não jogar horseball naquele espaço. Logo a ideia dum espetáculo daqueles nas cerimónias do Juramento de Bandeira teria certamente o maior impacto no público e entre as entidades oficiais, mas era para esquecer sem uma obra de raiz no piso do tal recinto. Não me arrisquei a falar na vedação para evitar um chumbo à partida. Fiquei agradavelmente surpreendido com a reacção obtida, pois sabia que esta questão já tinha sido colocada pelos meus antecessores sem qualquer abertura do Comando. Na verdade a espectativa do tal espactáculo motivou o Tenente-Coronel de

tal sorte que logo ali se prontificou a apresentar uma proposta escrita ao General Comandante da Escola do Exército, mas precisava que eu lhe desenhasse um croqui da obra a realizar e uma estimativa de custos, pois ele iria pessoalmente falar com o “nosso general”. Soube entretanto que esse trabalho prévio já tinha sido feito por um dos meus antecessores e houve apenas que o descobrir, actualizar e redesenhar, juntando uma pequena memória descritiva, o que fiz em menos de uma semana, dadas as minhas anteriores aptidões de “projectista”. Contra todas as espectativas, o projecto foi imediatamente aprovado pelo General Comandante, que descobriu em qualquer lado a necessária verba orçamental. Mobilizou-se então a engenharia militar com o seu equipamento de remoção de terras, e a necessária mão-de-obra entre o pessoal da Formação de Comando. O material indispensável foi encontrado através de um empreiteiro que forneceu a pedra e a gravilha para os drenos, bem como a areia misturada, para o piso. O trabalho ficou concluído em dois ou três meses, e passei a poder ministrar aulas de equitação a todos os cadetes, em condições de segurança, pois era esse o meu objectivo, malgrado a vedação ter acabado por ficar para “outras núpcias”, mas “quem tudo quer tudo perde”. Logo que foi possível comecei a ensaiar as passagens de bola a galope, os remates à baliza, a treinar o “apear e montar” a galope com selim mas sem estribos e a treinar os voos dos guarda-redes. Arranjar cadetes em número suficiente para formar duas equi-


HORSEBALL

pas de cinco jogadores mais dois ou três suplentes, foi a tarefa mais fácil: lembro-me que as equipas não foram completadas apenas com antigos alunos do Colégio Militar já experientes no horseball. Alguns outros acabaram por ser seleccionados entre os voluntários mais desembaraçados que já estivessem “a cavalo” e em condições. Recordo o Botelho (já falecido) que se apresenta na fotografia em “preparação de voo” para defender um remate à baliza. Não me recordo bem das regras do jogo pois já lá vão mais de 60 anos. Sei que obrigavam a que, quem recolhesse a bola do chão (o primeiro que apeasse e a segurasse), só poderia passá-la a um jogador montado e tinha poucos segundos para o fazer. Não podia movimentarse no terreno com a bola, ou rematar do chão, nem podia disputar a posse da bola estando já apeado antes desta ter caído no solo. Pretendia-se que a bola fosse trocada entre os jogadores montados, que a deveriam passar uns aos outros dentro da mesma equipa, ainda que a sua posse fosse disputada por intercepção de uma passagem, encosto de cavalos ou por saque directo do esférico na posse de quem a transportasse. As balizas eram guardadas por guarda-redes meio ajoelhados em cima do arreio dum cavalo destinado a ficar imobilizado (ver foto). Esses dois cavalos eram aparelhados com rédeas fixas e escolhidos pelo seu “sangue de lesma”, isto é, deveriam ser os dois maiores “bornais” da fileira para no meio daquela confusão se manterem impávidos e serenos com o guarda-redes em equilíbrio instável, pronto a voar para defender os remates. Para que o espectáculo pu-

desse ter uma duração mais interessante, as equipas contavam com jogadores suplentes que iam substituindo os mais cansados pois sem dúvida que se tratava de um jogo extremamente duro. Quanto aos cavalos não havia necessidade de substituições, pois eram animais da fileira com pouco sangue, num espaço pequeno superlotado, para além dos cavaleiros não poderem usar esporas nem stick. A dificuldade era o arranque e depois mantêlos a galope. Conforme se pode ver nas fotografias juntas, obtidas durante a festa do Juramento de Bandeira, os jogadores equipavam calção, camisola e botas altas. A cabeça vinha descoberta pois então os militares não podiam, usar “toques” protectores, nem mesmo nas provas de saltos ou de cross, o que era obviamente uma grave imprudência. No dia do espectáculo a assistência foi numerosa, principalmente constituída pelos cadetes sobrantes, como mostram as fotografias. Isto passou-se em 1955 na Escola do Exército. Depois e durante cerca de 30 anos, pouco ou nada se ouviu falar em Portugal no horseball, embora em França tivesse evoluído de forma muito

significativa, substituindo as balizas por cestos (tipo basquete mas maiores e inclinados), adoptando regras totalmente diferentes. Os cavaleiros passaram a montar com estribos e a jogar a bola sempre montados. Até o tipo de cavalo é diferente, normalmente animais mais vibrantes, rápidos e manejáveis. Nos anos 80 Filomeno Malheiro-Garcia, meu muito estimado amigo, Coronel de Cavalaria e então comandante do Regimento de Cavalaria da GNR, lembrando-se certamente dos seus tempos de aluno do Colégio Militar e de cadete da Escola do Exército, decidiu implantar o horseball na GNR para desembaraçar os respectivos militares. Conhecendo as novas regras e com a ajuda do Tenente Bartolomeu Costa Cabral (hoje Coronel reformado de Cavalaria) iniciou a actividade entre os militares do Regimento. Para a divulgar em Portugal, no ano de 1988, durante a Feira da Golegã, organizaram um jogo/demonstração com duas equipas francesas, montando cavalos do Regimento de Cavalaria da Guarda. O êxito desta demonstração foi tal que, muito rapidamente, o horseball conseguiu a adesão de imensos

jovens cavaleiros a esta nova competição equestre, já largamente praticada na Europa. Para maior divulgação selecionaram duas equipas com as cores heráldicas dos Esquadrões do Regimento de Cavalaria, devidamente equipadas para a prática desta disciplina que foram fazendo demonstrações em diversos pontos do País. Para dinamizar mais a prática deste desporto as equipas da GNR apresentaram-se publicamente jogando contra equipas civis do Centro Equestre da Lezíria Grande e da Escola de Equitação Fernando Ralão. As fotografias que ilustram o artigo foram tiradas no 4.º Esquadrão da GNR (Ajuda), mostra como bem se apresentavam equipados. Diz respeito a certames disputados internamente nas comemorações do Regimento de Cavalaria em 1989 e 1990. Devo também lembrar a equipa dinamizadora que apoiou o Coronel Malheiro-Garcia nesta missão, por isso aqui ficam, para além do já citado Coronel Costa Cabral, os então Tenentes de Cavalaria da GNR, Maximiano Gomes e José Luís Câmara Lomelino. O surto de peste equina que grassou em Portugal no ano de 1990 veio interromper esta dinâmica no interior da GNR, mas a modalidade estava lançada no País e hoje aí a vemos cheia de entusiasmo e competência posicionando-se junto das melhores equipas europeias. Pena tenho que não tenha prosseguido na GNR, pois certamente teria sido muito útil para a formação física e moral dos militares podendo, à semelhança do que acontece com a sua Charanga, ser um excelente meio de representação e prestígio público da Instituição.n Cor, Cav.. Ref. João Sequeira

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CORRIDAS CORRIDAS DE GALOPE EM PORTUGAL

OLHAR PARA O PASSADO PARA RTE A P ª . 2 COMPREENDER O PRESENTE CONTINUANDO A PERCORRER O HISTORIAL DAS CORRIDAS DE CAVALOS EM PORTUGAL, ESTA SEGUNDA PARTE ABORDA UM PERÍODO O QUAL PODE SER CLASSIFICADO COMO ANO ZERO DOS TEMPOS MODERNOS DAS CORRIDAS DE CAVALOS EM PORTUGAL, POIS A ASSINATURA EM 22 DE MARÇO DE 1999, DE UM PROTOCOLO COM O SERVIÇO NACIONAL COUDÉLICO, VEM PELA PRIMEIRA VEZ TORNAR LEGAIS NO ESTRANGEIRO AS CORRIDAS DE CAVALOS PORTUGUESAS.

Hipódromo de Ponte de Lima

Victor Malheiro

or outro lado, a luta para a introdução das apostas mútuas hípicas urbanas continua junto do Governo, já que o Governo só abriria um 3.º concurso público para adjudicar o seu direito de exploração desde que estivessem reunidas condições de sucesso, face ao fracasso dos dois anteriores concursos, apesar de todo trabalho feito pela Liga e independentemente das cores políticas dos sucessivos Governos isso só veio a acontecer em 2005, por parte do Governo de Santana Lopes, para depois as apostas serem vetadas pelo presidente da República Jorge Sampaio. Podem mudar os Governos, os nomes, as formas, o tipo de apostas hípicas e o que é certo, é que mesmo com a imposição da Troika quando esteve em Portugal, nos dias de hoje, ainda não estão em prática as apostas hípicas online em Portugal, período que será abordado na terceira e final parte deste historial. A nível interno da Liga, um dos fundadores e o seu primeiro presidente, José de Freitas, decide não se recandidatar por motivos pessoais e é substituído no seu cargo pelo vice-presidente, Ricardo Carvalho, eleito presidente no biénio 2003/2004, tornando-se no segundo presidente da Liga, posição para a qual tem sido reeleito até aos dias de hoje.

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NOVA TENTATIVA DE LEGISLAÇÃO Ainda em 1997, os espanhóis começam a demonstrar um interesse cada vez maior pelo Hipódromo de Ponte de Lima e pelo Campeonato Nacional, celebrando-se vários Protocolos. A secretaria de Estado dos Desportos, entidade responsável pela elaboração do processo de atribuição do direito de explorar as apostas mútuas hípicas urbanas, em colaboração com a Liga, faz uma análise aprofundada de todo o processo, para que não se voltem a verificar as falhas cometidas nos concursos públicos anteriores, pois o Governo só abriria um 3º concurso público para exploração das apostas mútuas hípicas se estivessem reunidas as mínimas garantias de sucesso. A Liga é consultada para a elaboração de um novo Caderno de Encargos, mantendo contactos, ao longo do ano, com o então secretário de Estado, Miranda Calha e com o presidente da Comissão Coordenadora de Corridas e Apostas, José Ca-

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nelas, que sempre contribuiu de forma fundamental directamente com Manuel Armando e Victor Malheiro, tendo sido estabelecidos sólidos laços de amizade. No último dia do ano, o Decreto-Lei n.º 301 aprova o regime transitório a aplicar às apostas mútuas hípicas urbanas, corrigindo dessa forma um dos pontos mais polémicos e praticamente garantindo o sucesso da abertura de um 3º concurso, o que nunca chegou a acontecer, quer pelas mãos de governos PS, quer pelas mãos de governos PSD. OS PRIMEIROS ANOS Em 1998, realiza-se, já sobre a responsabilidade da Liga, em Ponte de Lima, um Campeonato Nacional composto por dez dias de provas que culminou com a realização do Grande Prémio de Portugal. É notório o desenvolvimento a todos os níveis verificado em relação a épocas anteriores. Pela primeira vez é utilizado o método de Starting Gate nas partidas, substituindo o utilizado anteriormente, de corda

ou elástico. Nesse mesmo ano, o trabalho político “silencioso” da Liga, a cargo de Victor Malheiro e Manuel Armando, junto do Governo começa a dar frutos e a 28 de Abril, realiza-se a primeira reunião de trabalho governamental com o então secretário de Estado, Miranda Calha, onde é feita a ligação entre a Liga e José Canelas. Muitas outras se seguiram, inclusive com todos os Grupos Parlamentares da Assembleia da República. O importante passo seguinte foi dado a 22 de Março de 1999, com a assinatura do primeiro Protocolo com o Serviço Nacional Coudélico (SNC), onde estiveram presentes o seu director, Costa Ferreira, Telles de Carvalho, director dos Serviços Veterinários, José Canelas, como responsável pela legislação das apostas hípicas de 1956 e presidente da Comissão Coordenadora de Corridas e Apostas e a representar a Liga o seu presidente, José de Freitas, Manuel Armando, director técnico, Lícinio Laranjeira, responsável técnico pelas partidas, Serafim Silva, histórico proprietário e Victor Ma-


CORRIDAS

lheiro, responsável pelos contatos institucionais e quem redigiu o Protocolo, revisto e aprovado pelo SNC. Este Protocolo é reconhecido oficialmente pelo Serviço Nacional Coudélico, entidade designada pelo ministério da Agricultura como responsável máximo sobre as corridas de cavalos em Portugal e representante destas no estrangeiro, tendo, por sua vez, legitimado a Liga como única entidade autorizada a realizar corridas de cavalos em Portugal. Da mesma forma, Manuel Armando é designado oficialmente pelo SNC como director nacional de corridas. Este Protocolo é extremamente importante pois com ele faz-se pela primeira vez o reconhecimento oficial a nível internacional da Liga e das corridas de cavalos a galope em Portugal, numa primeira fase, foi logo reconhecido pelo ministério da Agricultura através do SNC, pela Comissão Coordenadora de Corridas e Apostas, pela Jefatura de Cria Caballar, de Espanha e France Galop, de França. A esmagadora maioria dos cavalos de corrida importados para Portugal, vinham destes dois países, mas não só, assim como as Quadras portuguesas que corriam no estrangeiro, faziam-no em França e Espanha. A partir daqui, pela primeira vez, os cavalos de corrida, de origem nacional ou estrangeira e os jóqueis portugueses, com a aprovação

do SNC, que zelava pelo cumprimento das regras internacionais em conjunto com a Liga, puderam começar a correr de forma legal no estrangeiro, assim como os estrangeiros que quisessem vir a Portugal correr, maioritariamente espanhóis, também passaram a poder fazê-lo de forma legal. UM NOVO SÉCULO, UMA NOVA DINÂMICA A entrada do novo século, veio trazer a regularidade de provas aos Campeonatos Nacionais de Corridas de Cavalos. Durante a década de 2000, devido a sucessivas mudanças governamentais, não se registaram avanços no processo das apostas mútuas hípicas urbanas. Os responsáveis governamentais foram sendo sucessivamente substituídos, provocando novos atrasos no processo. A secretaria de Estado dos Desportos, organismo que tutelava o processo das apostas, passou a ministério do Desporto e da Juventude. Numa organização da Liga, realizouse mais um Campeonato Nacional, pela primeira vez com transmissão televisiva diferida de todas as oito provas, em Ponte de Lima, Maia, Santarém e Penafiel. Em 2001, o calendário de provas foi composto por 15 reuniões. Além dos hipódromos utilizados nas épocas passadas, Coimbra e Vila do Conde pas-

Hipódromo da Quinta da Granja - Felgueiras

Hipódromo Municial da Maia

Manuel Armando com Vieira de Carvalho, presidente da Câmara Municipal da Maia e Bragança Fernandes, vice-presidente

saram também a acolher provas. Furtado Mendonça, proprietário e director do Hipódromo de Ponte de Lima, protagonista e impulsionador da nova geração de hipódromos, falece no princípio do ano de 2002, deixando muitas saudades e um importante legado. Consciente da necessidade de alargar ao maior número possível de público as corridas de cavalos, durante a década de 2000, a Liga vai apostando em ambiciosos calendários compostos por vinte e uma reuniões, com, entre outros, os Hipódromos de Felgueiras, Barcelos, Vila Nova de Gaia e Santarém a estrearem as suas pistas no Campeonato Nacional. José de Freitas, fundador da Liga e primeiro presidente, satisfeito com o importante trabalho feito, mostra vontade em não se recandidatar ao cargo de presidente da Liga, entretanto, Ricardo Carvalho, um apaixonado pelo mundo das corridas de cavalos, é convidado a entrar na direcção da Liga, após aprovação dos seus membros e as suas qualidades perfilam-no como futuro sucessor como presidente, o que veio a acontecer no biénio 2003/2004 até aos dias de hoje. Continuando na linha do trabalho feito anteriormente, imprimiu o seu cunho pessoal com a celebração de importantes acordos com entidades internacionais. Em 2003, dá-se mais uma perda inestimável para o mundo das corridas, dado que aquele que é considerado o grande mentor das apostas em corridas de cavalos em Portugal, José Canelas, falece, causando uma perda irreparável. Presidente da Comissão Coordenadora de Corridas e Apostas, foi o responsável pela legislação de 1956 sobre as apostas em corridas de cavalos. A regularidade do Campeonato Nacional mantémse, sempre sobre o comando da Liga.

GOVERNO DE SANTANA LOPES APROVA APOSTAS MÚTUAS HÍPICAS URBANAS, PARA DEPOIS SEREM VETADAS POR JORGE SAMPAIO Em 2005, o Governo de transição que tinha como primero Ministro Santana Lopes, aprova a abertura de um 3º concurso para explorar as apostas mútuas hípicas urbanas. A notícia é recebida com alegria por todos aqueles ligados ao mundo da equitação em geral, pois todos sabem que as corridas de cavalos com apostas são um factor importante de crescimento de toda a fileira equestre, tendo sido feito o anúncio oficial na Coudelaria de Alter. Em conversa informal com Pedro Santana Lopes, este não compreendia como era possível os Governos anteriores ainda não terem legislado sobre tão importante matéria. Contudo, de forma pública, quer a Santa Casa da Misericórdia, quer a Associação Nacional de Casinos eram de forma aberta contra as apostas mútuas hípicas e o facto é que o presidente da República, Jorge Sampaio, acaba por vetar o Diploma das apostas mútuas hípicas urbanas, alegando que era um assunto demasiado importante para ser aprovado num Governo de transição. Ironicamente, passados exatamente dez anos, é à Santa Casa da Misericórdia que o Governo entrega as apostas hípicas, numa altura em que o seu Provedor é Santana Lopes.n Na próxima edição finalizaremos este historial sobre as corridas de cavalos e as apostas hípicas em Portugal. Texto de Victor Malheiro/Artur Bacelar e Manuel Armando (Consultor Técnico) e José Canelas até à década de 80

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DRESSAGE

NA DISCIPLINA DE ENSINO

GONÇALO DIABINHO EM DESTAQUE EM ESPANHA O JOVEM CAVALEIRO PORTUGUÊS TEM DADO QUE FALAR NAS COMPETIÇÕES INTERNACIONAIS DE DRESSAGE QUE TEM FEITO. JÁ TINHA CONSEGUIDO BONS RESULTADOS NO INÍCIO DE MARÇO, NOS CDI DE JEREZ DE LA FRONTERA, E VOLTOU A EVIDENCIAR-SE, MAIS RECENTEMENTE, NAS PROVAS DE JOVENS CAVALEIROS EM OLIVA NOVA. ste é um concurso novo no Mediterranean Equestrian Tour - cuja primeira semana de competição decorreu em paralelo com os já habituais saltos de obstáculos - e contou com a participação de dois cavaleiros a representar a bandeira portuguesa: Mariana Assis Silva com Espanto em Juniores e Gonçalo Diabinho em Jovens Cavaleiros. Montando Uige, antiga montada de Filipe Canelas Pinto, Gonçalo Diabinho venceu logo no primeiro dia, com 67,325%, subindo a nota no sábado para 67,456%, média que não lhe permitiu manter a posição, descendo ao 2.º posto. Já na Kur de domingo Gonçalo voltou a acrescentar pontos à nota final, que ficou fixada em 69,542%, sendo desta feita 3.º classificado. O cavaleiro atravessa um bom momento de forma com a sua montada, tendo subido 19 posições no ranking internacional de Jovens Cavaleiros, e ocupando actualmente o 29.º posto. No Top 100 do escalão de Jovens Cavaleiros está ainda Maria Inês Valência Câncio/Xeque-Mate e Manuel Vinagre/Almansor. Ela subiu 13 posições desde a última actualização, estando agora em 87.º e ele 9, ocupando o 97.º posto. Manuel e Almansor surgem igualmente no ranking mundial FEI de Juniores em 56.º. Este é o escalão que conta com mais portugueses, quatro deles entre os melhores 100. Para além do já referido, Martim Meneres/Equador é 75.º, Luís Valença Rodrigues Cardoso/Waltimore é 94.º e João Nogueira/Zelo do Ilhéu está em 95.º.n

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CM/AF - Foto: 1clicphoto

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