MANIFESTO
Arquitetura efêmera Vivemos em tempos de constantes mudanças. Acompanhamos as alterações, muitas vezes sem perceber. Em outras ocasiões, nos chocamos com as modificações repentinas. Tentar entender esses processos é sempre complicado, mas não é por isso que deixaremos de discutir e debater sobre. Nesse espaço de discussão, a percepção deve estar aguçada. Estejamos atentos à forma como as mudanças estão acontecendo. Edificações que surgem do nada. Prédios que desaparecem repentinamente sem nenhum aviso prévio. Elefantes brancos e construções fantasmas que permanecem por anos e anos sem uso e sem ninguém questionar sua existência. Nos atentemos a isso. Essa conversa está diretamente atrelada a como funciona o processo projetual e também como é o ensino de arquitetura, pois são questões que passaram por grandes transformações em um curto espaço de tempo. Em questão de poucos anos, surgiram inovações tecnológicas que puderam facilitar o ensino e a produção, mas que possuem suas limitações e também são criticados. Há aqueles que dizem que hoje o desenho no processo projetual não é tão importante e aqueles que argumentam que o desenho estará sempre associado a ele e é uma ferramenta essencial para seu entendimento. Esse é apenas um exemplo da efemeridade do tempo na arquitetura. Estruturas que são feitas para serem efêmeras e temporárias, muitas vezes são bem recebidas e permanecem. Enquanto estruturas que deveriam ser fixas e duradouras, são mal aceitas e ficam subutilizadas. Não há como prever como uma estrutura (itinerante ou fixa) será recebida pelos usuários, mas ao discutirmos o tempo e a arquitetura podemos pelo menos ter um mínimo de consciência de como pode ser prevista determinada estrutura. Uma nova arquitetura, um novo projeto ou um novo espaço em muitos casos tem o propósito de transformar a vida das pessoas. O que acontece muitas vezes é apenas uma mudança, sem alteração significativa e positiva na vida das pessoas. Confunde-se o significado das palavras “mudança” e “transformação”. A mudança é muito mais recorrente e nem sempre causa impacto. Transformação é algo que altera não só a rotina e o espaço das pessoas, mas também sua percepção e até mesmo seu pensamento. A arquitetura em grandes partes tem esse papel. Mesmo que o equipamento seja efêmero ou que seja um local apenas de passagem, pode deixar uma “marca”, uma “reflexão” em quem o utilizou. Essa transformação que a arquitetura pode causar, não é algo fácil de ser alcançado. Isso combinado a sua efemeridade e sua duração se torna um exercício mais difícil ainda. Abrimos a discussão para todos: a rapidez no fluxo das cidades e na vida das pessoas é a principal causa dessa mudança de relações? Seriam as inovações tecnólogicas que provocaram essa rapidez e seriam conseguinte as mudanças? Qual a relevância da alteração no pensamento das novas
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novas gerações e o que eles provocaram no espaço? Qual a melhor maneira de acompanhar tudo isso e tentar transformar a vida dessas pessoas? Vamos esclarecer novamente que nem sempre a mudança traz transformação. Mudanças trazem apenas novas experiências. As transformações farão com que aprendamos a lidar com o meio existente e com quem nele vive. A partir disso iremos propor espaços dinâmicos e impactantes. Fazer com que mesmo que seja efêmero, seja relevante e desperte algo novo e inesperado em cada um. Um corredor de passagem, uma ponte, um cenário de uma peça de teatral, e até a cidade FeNEA em que acontece o encontro de arquitetura tem o potencial de despertar o olhar de quem os vê de fora. Que esses espaços consigam ser mais do que o cenário em que se dão as ações, mas que as ações possam ter relação com o local e até mesmo influenciá-las. E que um lugar pensado para ser duradouro, possa se reinventar e ser adaptável as modificações, para que receba bem seus usuários e que não perca sua função, que essa função se redescubra com o tempo e continue trazendo transformações benéficas a todos.