3 minute read
Apresentação
Ler Janaína Mello é desfrutar de contos envolventes, tensos e abismais, mesclado de suspense, mistério e o sobrenatural. A autora apresenta um aparato gótico muito bem dosado, com ou sem alcáceres tem-se a sensação de estar mergulhado em recintos misteriosos e anacrônicos, envolto a névoas, penumbras e sombras noturnas. Nessa atmosfera cruzar com personagens estereótipos e nebulosos. Revela em seus contos uma habilidade incrível ao penetrar imperiosamente nas camadas mais sutis e dissimuladas. É marcante nos seus roteiros o modo em que coloca seus personagens vis a vis, sob colisão intrigante. Como num jogo, as tensões avançam, eclodindo em debates reveladores, evidenciado por diálogos que vão de uma acidez perversa a uma sutileza assombrosa,
mas sempre sob um intento filosófico. Suas reflexões recheadas de profundidade, deixam evidente sua crítica aos viciosos paradigmas e a mecanicidade que parece se apoderar cada vez mais das almas alheias. Um outro ponto perceptível em sua escrita é o quanto explora a polarização e distribui rigorosamente por toda tessitura. Fazendo lembrar uma frase do mestre de suspense Alfred Hitchcock “Loiras fazem as melhores vítimas. Elas são como neve virgem, que mostra as sangrentas pegadas”. — Ora, o que pretende o mestre revelar com essa colocação? Para mim, me parece muito claro, que os conflitos são formados de contrapontos, e essa matéria prima é o germe vital para uma trama perfeita. Janaína parece seguir esses rastros, explorando ao natural tal recurso imprescindível para um verdadeiro suspense. Pode-se ver isso, nesses trechos do conto “Caroline”:
Advertisement
“O ambiente estava escuro, e recebia Luz entrecortada por cortinas brancas. Num silêncio sepulcral, jazia abaixo da luz solar vinda da janela, um corpo pálido e imóvel”.
“Elisabete procurava a sobriedade em meio à tantas flutuações bizarras, e tão poderosa persuasão que aquela que seria uma simples menina exercia todas às vezes. Assim, tentava novamente falar, mas antes que conseguisse, um vislumbre tão rápido a precipitou aos níveis do terror. Pois ocorria que, da mesma janela pela qual há pouco entrava a mais viva luz solar, agora emoldurava um céu nebuloso e negro, da mais densa noite. Seus olhos giraram confusos, procurando a saída daquele sonho estranho.”
Já em sua poesia, de versos livres e simbolistas, no rastro constante da transcendência, embrenha-se nas pantaneiras sombras, procurando aliança com os elementos embriagantes, inquietos e intimidadores. Sua subjetividade tem uma autenticidade alarmante e bela. É evidente que Janaína causa uma vertigem incomum, algo que guarda um mistério e força residual. Eis um fragmento do poema, “Ela 2”: “...Vivia ela nas colinas mais obscuras da Terra onde todas as passagens já foram feitas ela aterrissa negra... invisível... amiga das criaturas da noite, Bailarina dos mortos. Nota dos refugiados do sol.”
O mais incrível de tudo isso, é a lucidez de sua ficção e propósito, como se costurasse com uma linha incomum as teias de suas prosas e versos, fruto de quem sabe operar num campo místico e obscuro. Janaína Mello é uma escritora nata que mostra maestria na aplicação do suspense, sabendo o que fazer dos elementos, ciente de como deve ser manipulado a preciosa substância para o leitor, que bem poderíamos rotular de belo veneno.
Ednézer von Ritter Ocultista e Dramaturgo
Ao verme que primeiro roeu as frias carnes do meu cadáver dedico como saudosa lembrança estas memórias póstumas.
— Machado de Assis
Quem eu sou esconde-se em uma colina de difícil acesso junto às aves quase humanas. minha morada é o celeiro dos que regressam dos segredos todos, o cenho dos que vivem sós onde residem as verdades que por obscuras vivem ocultadas por escombros escondidas atrás de máscaras, dentro de árvores estáticas, cavernas... porque digna não é a luz, de as receber Santuário de criaturas geradas, do que as mais densas trevas puderam conceber entre os nativos. Acostumo-me com quem jamais conhecerá um mundo iluminado pelo sol nem a nenhuma geração antecederá. Já conheci a luz, agora, na escuridão repouso sem necessidades conflitos ou razão sem mais antiga identidade e mais nenhuma maldição.