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Apêndice C - Asmita - a questão da “Egoidade

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Bibliografia

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Talvez a mais complexa questão levantada pelos Sutras de Patañjali seja a que trata da origem e da natureza do “eu”. Percebemos uma grande confusão de conceitos na quase totalidade das traduções disponíveis, em tudo o que se refere ao caráter do que se convencionou chamar de “egoidade”, ou seja, a condição conceitual da percepção de si mesmo como individualidade independente.

Acreditamos que essa confusão se deve, em parte, a uma distinção obscura entre os diversos aspectos da estrutura e dos princípios mentais, bem como à própria mistura de definições básicas na tradução de algumas palavras sânscritas que expressam os princípios e as estruturas componentes do ser humano. Por essa razão vamos enunciar alguns esclarecimentos sobre a terminologia empregada no texto (parte da qual tem sido utilizada livremente, embora de maneira inadequada, por autores de livros de esoterismo, filosofia e orientalismo, entre outros) e depois traçar umas poucas linhas sobre o surgimento e o destino futuro da “egoidade” na vida individual, segundo o sistema filosófico do Yoga.

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A primeira coisa que deve ficar clara para quem quer compreender a questão da egoidade, é que o Yoga explica o que a filosofia Samkhya chamou de tattvas [princípios] como funcionalidades que se revelam na nossa estrutura corporal. Um tattva é uma abstração, e jamais deve ser confundido com qualquer entidade corporal, seja ela de que natureza for. Assim o princípio atman não tem existência substancial, seja ela densa ou sutil, mas é um tipo peculiar de funcionalidade que pode se projetar sobre alguma entidade substancial, atribuindo a essa entidade a característica de individualidade, que lhe é própria.

O Yoga atua levando em consideração os princípios que regem o funcionamento do organismo físico, psíquico e espiritual do ser humano. Mas procura identificar os órgãos ou estruturas desse organismo que são acionadas nesse processo, como citta, o antahkarana (o agente interno) e outros componentes corporais cujo funcionamento esteja vinculado às características desses princípios.

Vemos a palavra sânscrita “asmita” traduzida freqüentemente por “egoísmo”, o que, a rigor, está incorreto. Asmita expressa um conceito abstrato que substantiva a condição expressa pela conjugação “eu sou” (asmi) por meio de um sufixo (ta) que traz essa característica peculiar de dar nome a conceitos abstratos de ação. O resultado é algo que lembra a idéia ocidental de apercepção, ou seja, a condição daquele que percebe a si mesmo.

Perceber a própria existência é um fenômeno que pode ser compreendido dentro de um largo espectro de variações, desde a inconsciência elemental, passando pela plena consciência intelectual ou emocional, e evoluindo progressivamente para uma perfeita inconsciência espiritual – que é a percepção de si mesmo integrado à totalidade. Esta última forma de perceber que existimos nos oferece a oportunidade de experimentar um sentimento de plena satisfação e felicidade, que os indianos batizaram com o nome de “ananda”.

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