UNIVERSIDADE DO VALE DO RIO DOS SINOS – UNISINOS INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS
MÁRCIO ANDRÉ MALGARIN
CRIANÇAS VIOLENTAS CAUSAS E CONSEQUENCIAS
SÃO LEOPOLDO 2010
MÁRCIO ANDRÉ MALGARIN
CRIANÇAS VIOLENTAS CAUSAS E CONSEQUENCIAS
Monografia de conclusão apresentado ao curso de Especialização em Educação Infantil vinculada ao Instituto de Ciência Humanas da Universidade do Vale do Rio dos Sinos Unisinos, como requisito parcial para a obtenção do título de Especialista em Educação Infantil. Orientador: Prof. Dr. Euclides Redin.
São Leopoldo 2010
MÁRCIO ANDRÉ MALGARIN
Monografia de conclusão apresentado a Especialização em Educação Infantil vinculada ao Instituto de Ciência Humanas da Universidade do Vale do Rio dos Sinos Unisinos.
Aprovado em _____/_____/2010. BANCA EXAMINADORA _________________________________________________________________________ Prof. Dr. Euclides Redin (Orientador) - Universidade do Vale do Rio dos Sinos – UNISINOS _________________________________________________________________________ Prof. Luciano Bedin (2º avaliador) - Universidade do Vale do Rio dos Sinos – UNISINOS
AGRADECIMENTOS
Ao meu filho Lourenzo por ser minha fonte de carinho e amor o qual sem o mesmo não teria forças para continuar minha jornada. Em especial dedico parte dessa obra a meus pais que me educaram de forma positiva o que influenciou muito na minha formação. A meu pai e minha mãe eu agradeço por ser meu porto seguro todas as vezes que me perdi na caminhada da vida, e que eles nas longas conversas me mostraram novamente o caminho melhor a seguir.
DEDICATÓRIA Ofereço este trabalho ao meu filho Lourenzo Rampanelli Malgarin, meu anjo que pousou em minha vida para ser minha fonte de carinho e amor para suportar os momentos mais difíceis da minha vida. E a meus pais que da mesma forma são meu porto seguro para tudo.
“O exemplo não é a maneira principal de influenciar os outros. É a única maneira possível.” Albert Schweitzer
RESUMO
Este trabalho tem por finalidade a pesquisa na problemática que hoje vem em uma crescente dentro das escolas. Entender as causas e consequencias da agressividade excessiva entre alunos na idade escolar. De acordo com a pesquisa bibliográfica foi proporcionado um diálogo entre autores que discutem esse tema, a fim de compreender melhor essa questão, levantando as causas e consequencias dentro do ambiente escolar e familiar. Com a finalidade de alertar e trazer subsídio a fim de encontrar soluções para lidar com este problema. Palavras-chave; Família, identidade, falta de limites.
ABSTRACT
This work has for purpose the research in the problematic one that today it comes in an increasing one inside of the schools. To understand the causes and consequences of the extreme aggressiveness between pupils in the pertaining to school age. In accordance with the bibliographical research was proportionate a dialogue between authors who argue this subject, in order to understand better this question inside, raising the causes and consequences of the pertaining to school and familiar environment. With the purpose to alert and to bring subsidy the end to find solutions to deal with this problem. Word-key: Family, identity, lack of limits.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................... 10 1.1 DEFINIÇÃO DO PROBLEMA ..................................................................................... 11 1.2 OBJETIVOS ................................................................................................................... 11 1.2.1 OBJETIVO GERAL................................................................................................... 11 1.2.2 OBJETIVOS ESPECIFICOS.................................................................................... 11 1.3 APRESENTAÇÃO DE HIPÓTESES ............................................................................ 11 1.4 JUSTIFICATIVA ........................................................................................................... 12 2 REVISÃO DE LITERATURA ...................................................................................... 13 2.1 IDENTIFICANDO A ORIGEM DA VIOLÊNCIA ...................................................... 13 2.2 AGRESSIVIDADE POSITIVA E NEGATIVA ........................................................... 18 2.3 CAUSAS DA AGRESSÃO NA ESCOLA ................................................................... 20 2.4 A FORMAÇÃO DA IDENTIDADE ............................................................................ 27 3 CONSTRUINDO CAMINHOS SOBRE O ASSUNTO ............................................. 31 4 CONCLUSÃO ................................................................................................................. 34 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................. 36
1 INTRODUÇÃO Hoje vivemos diante de um grande problema em nossa sociedade, a agressividade e violência descomedida que vai crescendo e assombrando o meio escolar devido a vários fatores que o próprio sistema sócio econômico desencadeia na sociedade atingindo os jovens estudantes. As informações televisivas são as que mais causam influências negativas dentre os vários fatores que nesta ocasião serão levantados. A violência que aqui me refiro acontece dentro do ambiente escolar, expressada de diferentes formas e em diferentes contextos e está atrelada a um conjunto de fatores dos quais estamos comumente ligados e os mesmos nos passam despercebidos devido ao um olhar cético que realizamos sobre o mesmo, ou seja, vemos, mas, por não entender, não o percebemos. Durante um grande período observei na hora do intervalo e nas aulas de Educação Física, como se portavam as crianças em suas brincadeiras. Nessas observações notava que algo me incomodava: havia excesso de agressividade entre os alunos, direcionei essa observação para a monografia de Especialização em Educação Infantil. Ao observar os alunos constatei uma agressividade excessiva que aparecia de uma forma explicita e implícita, caracterizada por agressões tanto verbais quanto físicas, ou através de intimidações. Ao levar a observação mais a sério constatei que se tratava de agressões que não seriam normais para um ambiente escolar, talvez o resultado de um processo de exclusão gerado pelo atual sistema sócio econômico, que caracteriza a falta de identidade própria nas pessoas, gerando outra diferente a qual a própria pessoa copia de outra, como forma de inserir-se nesse sistema porque não dizer modismo. Isso acontece na vivência em casa, nos bairros onde moram e através de possíveis ídolos sejam estes positivos ou negativos. Diante de tal fato intenciono pesquisar sobre o assunto “agressividade e violência com crianças em idade escolar”, caracterizando ainda quanto a suas formas e origens. Identificando a mesma dentro da escola, da sociedade e família, desenvolver o tema através da pesquisa bibliográfica estabelecendo um diálogo entre escritor e autores já renomados. E através disso tentar entender a problemática e possivelmente chegar a uma maior clareza do assunto para possivelmente ao entender chegar o mais perto possível de uma solução inovadora que seja capaz de mudar uma realidade que assusta não só aos professores, mas as comunidades como um todo.
1.1 DEFINIÇÃO DO PROBLEMA
O que está causando a formação de crianças agressivas e violentas?
1.2 OBJETIVOS
1.2.1 OBJETIVO GERAL
Identificar a violência e a agressividade na escola com crianças em idade escolar.
1.2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS
- Identificar a origem da violência - Definir os tipos de violência - Identificar a agressividade na escola - Identificar a violência como uma forma de identidade
1.3 APRESENTAÇÃO DE HIPÓTESES
A violência na escola é reflexo da estruturação da atual sociedade como uma forma de criar uma nova identidade frente aos problemas sociais? Há propostas na escola para combater a violência dos alunos?
1.4 JUSTIFICATIVA
Este trabalho se justifica pelo apoio que ele pode criar no sentido de proporcionar aos interessados nesse assunto uma visão ampla das questões que dizem respeito ao tema pesquisado. O assunto escolhido servirá como objeto de estudo uma vez que a preocupação com o assunto carece de estudos mais aprofundados e porque o tema escolhido vem preocupando muitos educadores e causando mal estar nas escolas e projetos sociais. Os alunos que adentram essas instituições são os mesmos que vão responder pela sociedade no futuro. Sociedade esta repleta de influências negativas, onde o aluno deve estar preparado para saber o caminho certo a seguir. Vivemos em um contexto social caótico, a educação hoje vem passando por inúmeras transformações das quais as instituições de ensino não estão conseguindo atender a novas exigências. Os alunos adentram as instituições de ensino e não se adéquam mais ao que lhes é oferecido, reagindo de muitas formas diferentes e uma delas é de forma agressiva. Faz-se necessária a investigação para apontar subsídios importantes que possam ajudar a entender a problemática, para que em âmbito escolar saibamos lidar com a situação e buscar com isso mudanças no quadro da agressividade e da violência nas instituições de ensino.
2 REVISÃO DE LITERATURA
2.1 IDENTIFICANDO A ORIGEM DA VIOLÊNCIA
Para tratar desse tema será necessário investigar a fundo o que levou a aumentar o índice de violência entre as crianças. Hoje encontramos um nome bem específico o Bulling o qual vem assustando e provocando inúmeros problemas nas escolas e projetos sociais. Contudo o tema a seguir acredito, ultrapassarem as barreiras da escola. A violência é um tema complicado, que não vem tendo tanta atenção quando deveria ter por parte das autoridades e educadores. Creio que o assunto hoje esteja sendo encarado como algo normal no cotidiano escolar não merecendo tanta credibilidade, mas que é uma problemática crescente e perturbadora no meio escolar que se fosse trabalhada geraria um meio mais humano e solidário de relacionamentos entre as pessoas. Percebe-se que as faixas etárias não discordam quando falamos da agressão. Nas escolas de educação infantil e nas series iniciais é comum alunos mordidos arranhados ou esfolados dentro do contexto escola, como no relata Zaluar (1992, p. 103) “O trabalho rotineiro de uma escola compreende inúmeras ações agressivas, entre as quais se destacam os conflitos e disputas entre gerações e entre indivíduos da mesma idade”. A causa disso esta atrelada a muitos fatores os quais mencionarei no decorrer do texto. Quando falamos na educação dos filhos lembramo-nos do passado, quando a educação era dada em casa. Muitos pais exageravam nas pancadas e educavam pelo medo, outoritarismo. “O pensamento linear e os objetivos racionais limitados da nossa civilização, baseada na autoridade e somente na autoria do adulto, levaram-nos a desconsiderar os aspectos intuitivos da criança” (REDIN; Euclides, 2007, p. 8). Durante muito tempo esse modelo foi implantado, inclusive nas escolas em que eram permitidas punições do tipo palmatória, ajoelhar-se de frente para parede e outras tantas aplicadas. O poder estava nas mãos dos professores, verdadeiros carrascos, ensinando através da doutrina do medo alienando e conduzindo a educação pelo caminho da disciplina e humilhação. Porém a educação começa a ser explorada por inúmeros pesquisadores o que torna esse caminho cada vez mais curto. Com o passar do tempo essas pesquisas mais o fato da criação do Estatuto da Criança e do adolescente em 1990, muitas praticas foram abandonadas, as famílias se confundem no melhor modo de educar e a escola perde completamente a forma
pedagógica antiga, passando a obter formas mais adequadas aos olhos do próprio Estatuto. Esse período nos permite perceber a criança como um ser igual com seus direitos assegurado pelo Estatuto (ECA, 1990, p. 6). Dessa forma a educação em casa passa da rigorosidade para a permissidade e a escola começa a caminhar para o mesmo caminho tanto na educação dos alunos como na desvalorização do professor. Em um terceiro plano mais aos dias atuais se percebe que os pais passaram a responsabilidade de educar os filhos para a escola. Esse fato agrava cada vez mais a situação, devido a tanta liberdade a maioria das crianças vem vivendo a escola aos tropeços pelo fato da negligencia tanto dos pais quanto da própria escola enquanto instituição de ensino, em resolver o problema. Percebe-se que houve uma grande transformação social dentro das famílias, o casamento virou uma banalidade e o produto disso infelizmente são crianças cada vez mais perdidas, desprovidas de referência dentro de casa. A família que já foi um porto seguro para criança “deixou de ser uma âncora, pois ela se encontra dentre as instituições que mais se desestruturaram na contemporaneidade” (MÜLLER, REDIN, p. 16). Talvez em um futuro próximo o individuo nesse sistema se adapte, segundo Vigostiski
“o humano em seu
psiquismo tem um reflexo de reagir e responder ao meio quando ele se transforma”. Contudo acho que todos os problemas atuais podem ser o reflexo da caminhada dessa adaptação. E dentro desse processo está a violência tão comum dentro de casa e refletida na escola. Para contribuir com minha fala trago relatos retirado do Jornal Zero Hora em que a escritora Eliani Gracez Nedel relata sobre a família com o título “Ensinem Seus Filhos a falhar”: O modelo tradicional de família tem sofrido modificações significativas. O modelo do passado era de uma hierarquia em forma de pirâmide, na qual os filhos deviam obediência aos pais. Esse modelo tornou-se decadente e foi substituído por um novo modelo, em que o filho é tão respeitado quanto o pai, e a mulher tem a mesma igualdade e direitos que o homem. Esse novo modelo não é bom nem ruim, ele é apenas diferente. O problema é que esse novo modelo requer uma nova forma de educação. A nova criança não tem medo, é ousada, não teme os pais e que tem liberdade para fazer suas próprias escolhas. Ela quer ser “dona do seu nariz”. Com isso, os pais perderam a autoridade sobre os filhos. A educação pela autoridade deve se substituída por um novo modelo rico em sabedoria, no qual a criança compreenda sua importância no mundo e seja preparada para exercer seu papel dentro da sociedade. Essa nova criança surge como espelho à liberdade da mulher. A submissão da mulher, no passado, também foi modelo para crianças que deram continuidade ao patriarcado. (Eliani Gracez Nedel, Filósofa)
O excesso de liberdade vem agravando muito as causas da violência, a criança não esta conseguindo encontrar-se no seu meio social e devido à forma como vem sendo tratada em casa ela reflete no seu meio. Meio esse que não confere com o de casa e quando ela se depara com os desafios não sabe enfrentá-los reagindo assim de forma negativa e agressiva.
Em meio a essa mudança toda, tem jovens que não sabem o que fazer com sua liberdade, porque não foram preparados para enfrentar o grande desafio que é viver e fazer escolha. Se no passado os pais faziam escolhas pelos filhos, hoje são os próprios filhos que fazem suas próprias escolhas. Isso exige um preparo que muitos não têm. Exige que os pais preparem seus filhos para fazer escolhas. Nesse novo paradigma, também é preciso ensinar os filhos a lidar com a adversidade e com as falhas humanas. (Eliani Gracez Nedel, Filósofa)
A autora Eliani Gracez Nedel ainda contribui quando fala da desvalorização da escola quando nos diz que a família abandonou sua função em casa, passando ao professor na escola a função direta pela educação de seu filho. Não somos perfeitos, vamos errar inevitavelmente mais cedo ou mais tarde. No entanto, os pais de hoje procuram dar de tudo aos filhos e criam a ilusão de uma vida sem erros. No passado, quando uma criança tirava notas baixas na escola, ela sabia que teria de se justificar diante dos pais. Hoje, quando uma criança vai mal na escola, os pais tratam como se a falha fosse do professor e não da criança. (Eliani Gracez Nedel, Filósofa)
No modelo atual, é o professor que tem que se justificar pelo baixo rendimento do aluno, eximindo a criança do erro. O sonho de uma vida sem erros e repleta de prazer muitas vezes acaba o consumo de drogas. Uma fuga às dificuldades da vida que nem sempre é tão perfeita quanta a infância. Um passarinho que cresceu em uma gaiola, quando é colocado em liberdade, morre, porque ele não aprendeu a voar livremente. As causas da violência estão atreladas com fatores como miséria, injustiça social, desigualdade econômica, baixo nível de educação, perda de valores, a qualificação da força policial, a dissolução da família tradicional, a falta de exemplos, a impunidade, o inchaço das grandes cidades pelo êxodo rural, a influência da mídia sobre as pessoas a desigualdade social e principalmente a centralização da renda. A violência pode se manifestar em qualquer âmbito social com varias formas que vão desde a violência psicológica à violência física. Ela pode ser o resultado de um processo que desencadeia outros tipos de violência conseqüentes da primeira. Ou seja, ela pode estar acontecendo no trabalho, no transito, no meio social e exercendo influencia direta sobre o individuo em sua casa no seu contexto familiar, o que vai repercutir nos filhos e conseqüentemente será trazida para a escola. A violência pode ser identificada como um meio do individuo caracterizar seu manifesto ou angústia por algo ou alguém. Ela pode ter seu emprego em atos silenciosos ou ser manifestada fisicamente. Em suma a violência se origina de qualquer ato em qualquer
lugar. Normalmente está ligada a fatores predominantemente subordinados ou dominantes. Quem domina de certa forma exerce algum tipo de violência mesmo que seja simbólica. Dentre os tipos de violência podemos conceituá-la como três tipos; a violência física, aquela que pode matar consiste em ferimentos, golpes, roubos, crimes, vandalismo, drogas, tráfico e violência sexual; a violência simbólica ou institucional que se mostra nas relações de poder, na violência verbal entre professores e alunos, entre patrão e empregado, por exemplo. A violência simbólica se tece através de um poder que não se nomeia que dissimula as relações de força e se assume como conivente e autoritário; por último às violências incivilizantes, caracterizadas pelas micro violências, humilhações e falta de respeito. (ABRAMOVAY; RUA, 2002, p. 157-166). A sociedade de modo geral não exerce nem um tipo de punição às violências simbólicas ou incivilizantes, apenas punem a agressão física. Na verdade são esses pequenos atos insignificantes aos olhos do sistema que minam o ser humano e culminam em exclusões, revoltas e atentados violentos dentro da sociedade, é preciso perceber também o que ocasiona a agressão propriamente dita. (ABRAMOVAY; RUA, 2002, p. 157) Quando falamos da atual sociedade em que o modelo familiar passa por uma mudança radical, devemos entender que essa mudança de alguma forma vem a mudar o comportamento dos jovens. O sistema econômico capitalista nos influencia com o emprego de outras culturas que se apoderam dos meios de comunicação, vendendo suas marcas e produtos, gerando mudanças em nosso meio as quais influenciam todos os dias nossa cultura. Observamos hoje em detrimento de vários fatores os nossos modelos tradicionais de família, em que o pai vive distante da mãe e o filho vive entre um e outro. Ou o pai e mãe se casam novamente, vivendo os filhos num constante conflito com os padrastos e madrastas. Realidades que vivenciamos em laços matrimoniais homossexuais e que junto a tantos outros passam a idéia de valores totalmente diferentes dos tradicionais. (OUTEIRAL; CEREZER, 2005, p. 29) Será que nós seres humanos estamos conseguindo nos adaptar a essa nova era, de valores descartáveis onde consumir é a marca de todos? Ou nossa reação ao meio está nos tornando seres primitivos que não vemos o outro como um igual e sim como um eterno competidor de disputa de egos e riquezas. Nesse caminho a agressividade está à mostra e nem sempre ela é boa. André Lapierre e Aucouturier (1986, p.61) nos mostram um enfoque com a seguinte frase; “A agressividade é o resultado de um conflito entre o desejo de afirmação pela ação e os obstáculos e interdições que essa afirmação encontra”. Ou seja, se eu não consigo o que quero parto para agressão, muito comum dentro de casa e repetido na escola.
Em outro momento resgato segundo Outeiral; Cerezer uma contribuição quando falamos em valores familiares tradicionais, nos diz que “A ausência freqüente da figura paterna está associada à falta de limites e ao desenvolvimento de padrões alterados de conduta. A função paterna será associada muitas vezes, à figura de um delinqüente “poderoso” ou uma pessoa qualquer negativa que possa influenciar a criança. (OUTEIRAL; CEREZER, 2005, p. 29) Os valores tradicionais de família sofrem crescentes transformações devido as nova realidade econômica e social do país. Com relação à quebra do sistema familiar tradicional, José Outeiral (2005, p. 28) coloca que os processos de identificação são fundamentais principalmente na adolescência para construção da identidade. Os adolescentes buscam um padrão de identificação em indivíduos de seu meio que representam a possibilidade de sobrevivência. A falta de um meio familiar adequado que sustentem as necessidades e as condições para um bom desenvolvimento acarreta na formação de um individuo impulsivo, frustrado e indiferente frente à realidade. Deve-se ter presente o papel da família nas questões afetivas, educacionais, sociais e religiosas básicas na formação da personalidade. É preciso que haja como mediadora dos conflitos enfrentados pelas crianças no mundo que as cerca. A quebra dos modelos familiares tradicionais em função da realidade econômica criou valores conturbados e está formando filhos mal estruturados psicológica e emocionalmente. O decorrente crescimento desse problema em algumas famílias vem fazendo com que a escola exerça a função que seria dos pais. A família hoje em seu modelo não tradicional emprega valores errados a seus filhos, perdeu-se o jeito de educar. A escola esta sendo responsabilizada por uma atitude que cabe aos pais. Mesmo nas famílias ditas normais os pais por trabalharem o dia todo, fazem tudo o que a criança quer como forma de compensar a falta de sua presença durante o dia, alimentando seus caprichos, fazendo com que esta criança cresça e se torne um adulto irresponsável, de mau caráter e que não consegue conseqüentemente conviver em harmonia com a sociedade em que está inserida, sem que cause mal aos outros ou a si mesmo. Quando falamos na classe operária observamos outro aspecto que de certa forma acontece nas famílias e que também está gerando grandes problemas no âmbito escolar, trata-se do aspecto afetivo, onde encontramos pais completamente ausentes perante os filhos. Não se importam com o seu cotidiano, são o oposto dos pais de classe médios alta. Segundo Maria do Rosário (2000, p. 16) “Os vínculos com a família muitas vezes rompidos precocemente, também pela violência, somados à ausência de propostas reais de geração de renda e suporte emocional” é atribuído a esse âmbito familiar.
Essa falta de presença diante dos filhos juntamente com a violência, vem gerando muitos problemas de conduta nas crianças. Quando não há carinho e amor no ambiente familiar conseqüentemente os filhos não conseguiram sentir e passar da mesma forma. Esse processo pode ser também conseqüência do cotidiano duro das grandes empresas que de certa forma tornam o cidadão operário alienado a uma maquina de produção, tornando-os incapazes automatizados dependentes e inertes frente a uma possível mudança nesse processo. A criança que convive nesse meio segundo Sonia Grubits Gonçalves de Oliveira (1996, p. 29) não formará uma boa identidade, pois os aspectos positivos estão ausentes, o que proporciona uma formação negativa espelho da vivência familiar de pais ausentes diante dos filhos. Muito embora a violência física seja a mais percebida pela sociedade é em casa e na escola que a violência simbólica está mais a vista. José Outeiral (2005, p. 25) em relato no seu livro define esse processo em dois aspectos. O primeiro trata de um estado de depravação onde a criança na presença dos pais, perde o marco confiável e a presença do bom objeto, sentindo-se insegura. O segundo diz respeito à privação estado na qual jamais se teve algo, nem a presença dos pais e que resulta em doença mental ou no domínio de uma psicose. Dessa forma ele estabelece que a experiência de depravação e privação dificulta a criança em alcançar o estágio de reconhecimento e preocupação com o outro em um sentido de responsabilidade social.
2.2 AGRESSIVIDADE POSITIVA E NEGATIVA
Embora não haja um consenso sobre a agressividade, no que se refere à nomenclatura adotada em diferentes casos, ou quanto a sua interpretação, é importante lembrar que os estudiosos concordam sobre a intencionalidade do indivíduo, o qual está realizando a ação é que pode definir este ato agressivo como sendo positivo ou negativo. Muito embora para alguns autores não seja a denominação usada para expor a agressividade. Kruger (1986) define, por exemplo, a agressividade como benigna ou maligna. Robert S. Weinberg e Daniel Gould definem a agressividade como “boa” e “má”. Para Krüger, a agressividade benigna é crucial para a sobrevivência do indivíduo e da espécie; já a maligna, que se define como violência inútil, inconseqüente e sádica pressupõe a presença de alguém que, indiscutivelmente sairá prejudicado. Através dessa declaração fica claro que a agressividade maligna exige cuidados, pois traz problemas graves tanto para o
indivíduo como para a sociedade e necessita de cuidados especiais, tanto na sua prevenção, quanto no seu controle. O autor ressalta que este tipo de agressividade, quando está relacionada com alguém de caráter necrófilo (caráter de quem possui atração pela morte ou por qualquer coisa que se constitui em barreira contra a vida), pode acarretar a certeza de homicídio. Refere-se, ainda que este tipo de relação encontra-se em expansão na sociedade atual. De acordo com os relatos acima complementando trago como contribuição a escrita de Zaluar, falando a cerca do que é violência; Optamos pela colocação de Jurandir Freire Costa (1984) para conceituar Violência como o emprego desejado de agressividade com fins destrutivos. Agressões físicas, brigas, conflitos podem ser expressões da agressividade humana, mas não necessariamente manifestação de violência. Na violência, a ação é traduzida como violenta pela vítima, pelo agente ou pelo observador. A violência ocorre quando há desejo de destruição. (ZALUAR, apud. COSTA, 1992, p.103)
Robert S. Weinberg e Daniel Gould (2001, p. 494 - 496) traduzem a agressão em boa ou má, a primeira consiste na disputa saudável por algo como, por exemplo, na disputa por uma bola dentro do jogo; a segunda está ligada à agressão contra uma pessoa ou adversário no caso de um jogo. Os autores definem a agressão como um comportamento físico ou verbal que pode envolver danos ou ferimentos, envolvendo intenção. Segundo os autores ainda os “psicólogos diferenciam dois tipos de agressão; agressão hostil ou reativa e agressão instrumental”. A primeira tem objetivo de causar danos físicos, enquanto que a segunda trata da busca de um “objetivo não-agressivo” a exemplo as lutas como o boxe, onde os socos são um tipo de violência que são apenas instrumentos da modalidade. Para Outeiral (2005, p. 42) “o ser humano necessita de uma quantidade ótima de agressividade para conviver com” outras “pessoas diariamente”. Para Bock, Furtado e Teixeira (1999, p. 331) “A violência é o uso desejado da agressividade com fins destrutivos. Esse desejo pode ser voluntário (intencional) racional e consciente, ou involuntário irracional e inconsciente”. Tal elucidação remete à necessidade de se controlar, de certa forma, a agressividade, ou seja, é importante saber que a agressividade, quando usada para fins não destrutivos, não se configura como violência. Assim, a agressividade usada para fins esportivos ou físicos, que não prejudica nada ou ninguém, pode ser considerada positiva. Em contrapartida, quando esta agressividade não for canalizada para o bem, prejudicando alguém ou alguma coisa, é considerada negativa. As
lutas entram nesse quadro como um instrumento importante de caráter lúdico de combate, em que o aluno aprende a expor sua agressividade de forma simbólica e controlada. A prática dessas modalidades coloca os alunos em um meio de disciplina e autocontrole com regras e respeito à ética onde o aspecto de luta transcende a violência através da canalização da agressividade em gestos simbólicos dos exercícios orientados.
2.3 CAUSAS DA AGRESSÃO NA ESCOLA
A agressão pode ter origem em qualquer âmbito social e de diferentes formas, pode variar também em grau e intensidade estando ligada normalmente ao cotidiano das pessoas. A agressão esta embasada em três teorias que Weinberg e Gould (2001, p. 498) nos apresentam, como um instinto, uma frustração seguida de agressão e outra a teoria da aprendizagem social. A teoria do instinto volta-se para a idéia de que as pessoas tendem a ser agressivas por natureza. Na teoria da frustração-agressão à definição de agressão está voltada para a frustração que um determinado indivíduo sofre como resposta a ela comete a agressão como um meio de liberar a raiva sentida num determinado momento em que se sentiu frustrado. A teoria da aprendizagem social explica a agressão como um ato ligado ao convívio no meio social, onde as pessoas copiam de outros modelos atos agressivos ou respondem da mesma forma a agressão sofrida. Em relação à teoria do instinto constata-se que ela faz parte de cada indivíduo, está presente nas pessoas em qualquer ato por elas realizado com intenção de promover a vida, vivemos em constante meio hostil e para sobrepor determinados obstáculos precisamos ser agressivos, não contra alguém e sim como um meio de nos mantermos vivos. Em relação à causa da agressão vamos restringir esse momento ao espaço escolar, que é a pauta dos nossos estudos. Como as causas de agressão normalmente estão embasadas em alguma forma de se obter poder através da submissão, assim trago vários relatos obtidos da revista Nova Escola do mês de maio de 2002 com o título de “Reprovação alta, preconceito, autoritarismo, desrespeito. O que isso tem a ver com a violência?”. Como uma forma de entender melhor as causas de agressões dentro do ambiente escolar: Causas das destruições do patrimônio escolar está associada a administrações autoritárias, indiferentes ou omissas.
Em vez de desenvolver a cidadania, o sistema os coloca para fora da pirâmide social. Um dos aspectos que tem mobilizado a atenção da sociedade é o fechamento de algumas delas (escolas) em decorrência de guerras entre quadrilhas. Quando imperam os mecanismos disciplinares que impõem a homogeneização e a submissão, a reação tende a explodir. Os modelos a que o jovem está exposto podem ser um dos fatores que fazem com que essa reação venha carregada de agressividade. Fazer vista grossa às manifestações de racismo e segregação, pode ser mais danosa do que um soco ou um chute. Quanto maior o nível de agressão maior o prejuízo na qualidade do ensino. A tensão em sala atrapalha a concentração. Muitas escolas buscam a harmonia impondo regras. A diversidade de culturas que adentra a escola desafia a instituição por meio de atitudes indisciplinadas, apáticas e às vezes violentas. (REVISTA NOVA ESCOLA, 2002, p. 17-19)
Ao trazer esses relatos tão comuns ao ambiente escolar deduzo que a causa da violência está inteiramente ligada ao sistema sócio-econômico e cultural do país. É impossível percebermos o ambiente escolar como um espaço de formação de cidadãos sem que os educadores estejam incluídos e a par do sujeito que ali adentra a escola. Muitos são as expressões de violências e uma das que mais são prejudiciais, tem a ver com a relação (verbal e física) entre os alunos e palavras (excludentes) ditas por alguns professores desprovidos de qualquer sabedoria em relação aos alunos com algum problema em sala, que afetam e prejudicam os mesmos. Enquanto o aluno for tratado apenas como um indivíduo ou um objeto, nunca será sujeito da sua própria vida. O educador insere-se no quadro social dominante, representa a idéia de dominação dentro da classe, esse aspecto é que torna relevantes os caminhos que a violência tende a tomar, será que esta certo? Ou algo deve ser mudado. Diante de uma sala de aula um professor deve ter consciência de que sua turma é complexa em vários sentidos, que vão do aspecto cultural, econômico ao social. Ele precisa entender seus alunos e estar aberto ao crescimento de todos, elevando a relação entre os mesmos de uma forma justa solidária e correta. “Uma criança que se sente rejeitada e excluída do seu meio social, terá maior dificuldade de se tornar um adulto confiante e integrado a sociedade”. (DVD ESCOLA, MEC, 003) Para preparar os alunos para uma relação mais justa e solidária, o educador deve entender três aspectos importantes citados no DVD escola do MEC:
É preciso combater a violência na escola dos alunos mais adaptados contra os alunos com mais dificuldade; Deve haver direito de justiça e equidade (o direito de reconhecer o direito de cada um) independentemente de sua capacidade de concentração da cor de sua pele ou da qualidade de suas roupas; O professor precisa ter consciência de que todos os seus gestos e a entonação de sua voz são registrados pelos alunos como sinais de reprovação ou aprovação. (DVD ESCOLA, MEC, 003)
Para que o processo educacional seja bem sucedido a relação entre professor e aluno, deve ser guardada pelo respeito mútuo, pela confiança dos alunos do saber do mestre, pela esperança do professor pelo futuro de seus alunos. A escola neste processo exerce sobre seus alunos um papel muito importante, mas quando entende os mesmos dentro da pluralidade de suas diferenças. A autora Denise Quaresma da Silva (2005, p. 48) em seu livro nos relata que as “escolas ao homogeneizar linguagens, crenças, visões de mundo, para civilizar os incivilizáveis, portanto os que não são tão homogeneizáveis são mais sujeitos ao lugar do fracasso escolar”. Ou seja, quando a escola sujeita o aluno a uma formatação em detrimento de uma ideologia seguida pela escola, resulta no fracasso do aluno culminando na revolta e na repulsão ao meio escolar. O que pode ser representado através de varias atitudes dentro da escola, a violência é uma delas e a evasão é outra. O aluno deve ser entendido dentro da sua conjunção cultural e não apenas dentro do ambiente escolar, pois, só assim será possível resgatá-lo para um processo inclusivo onde o fracasso e a violência poderão ser melhores trabalhados. Se trabalharmos somente com uma visão de mundo impondo todos a esta razão, as outras culturas ficam de fora como se não participassem da construção da sociedade, voltase aos tempos escravocratas onde a dominação e a desaculturação eram os melhores meios de submissão. Ao constatar um aluno dito problema em sala, o professor muitas vezes distancia esse educando preferindo rotulá-lo em vez de tentar entender o que lhe incomoda. Na verdade a carência com que algumas crianças adentram a escola vem crescendo sistematicamente e aparecendo de várias formas diferentes. O professor despreparado analisa muitas vezes esses alunos como problemáticos, o que na verdade deveria ser ao contrario, pois esses alunos é que precisam de ajuda e mais atenção. É fácil passar o caso adiante e ter em sala apenas alunos quietos e comportados, para o professor isso é mais cômodo, da menos trabalho é a idéia ainda dos antigos sistemas de ensino baseado só na disciplina, todos tem que ser iguais. E o “problema” continua acontecendo e a escola sem perceber exclui e mantém alunos sendo taxados como possíveis marginais, o que na verdade vendo por um ângulo oposto pode-se dizer por que não formando marginal. (REVISTA NOVA ESCOLA, Maio, 2002, p. 18)
A violência se manifesta de diversas formas com características peculiares nos diversos ambientes, contextos e grupos. A violência ocorre dentro de casa (intrafamiliar), na escola, na comunidade, no trânsito, nas instituições e mídia, ou seja, em toda a sociedade. Steinberg (1997, p. 132) relata que a violência infantil cresceu muito e, que as crianças no final dos anos 90 estavam cada vez se envolvendo mais em atos de violência, segundo a autora, isto decorre da mídia que sistematicamente transcreve uma cultura dominante agressiva através de seus filmes e seriados de TV. De certa forma todos os dias assistimos a inúmeras formas de violências que nos são transmitidas de forma alegre e como comédia (vídeos cacetadas, etc.), onde crianças, velhos e pessoas obesas são usados como motivo de riso, desencadeando a perda de valores dentro da sociedade, transmitindo a imagem da desgraça dos outros como uma forma alegre e atrativa. Tal fato, tão pouco levado em consideração, vem influenciando diariamente o contexto escolar. Atitudes nas quais aos olhos das crianças parecem normais estão acontecendo na escola, ou seja, representam a comédia da TV com atitudes não apropriadas ao ambiente escolar. O velho e o obeso também aparecem na falta de respeito aos professores e colegas supostamente mais gordinhos. Nos EUA os adolescentes expressam suas atitudes agressivas imitando os filmes como “Matrix”, invadindo espaços públicos e matando várias pessoas como já aconteceu. (STEINBERG, 1997, p. 132). A idéia de que a vida é totalmente insegura, está sendo passada aos nossos alunos, pelos acontecimentos que hoje o mundo enfrenta. Assim quando falamos em violência na escola, devemos levar em conta não somente os delitos possíveis de enquadramento no código penal, mas também as incivilidades como um todo, muitas vezes invisíveis aos olhos dos professores e de quem convive na escola. As incivilidades não se pautam pelo uso da força física, mas podem ferir profundamente, minando a auto-estima das vítimas. O ambiente escolar quando não avaliado no seu processo educativo permite que as mudanças sociais tomem conta do cotidiano dos alunos. Hoje e sempre o mais comum num conselho de classe é falar do comportamento dos alunos não levando em conta o processo educativo, grau de aprendizagem do aluno e o processo de construção de conhecimento. Quando não se levam em conta esse tipo de processo e não se busca resolução, o espaço que deveria ser de aprendizado tornar-se-á um ambiente agressivo e perigoso, pois o próprio professor está ressaltando só o lado negativo do aluno, é como cultivar coisas negativas a colheita só pode ser violência. A solução pode estar na nossa frente, contudo é preciso querer vê-la.
O Autor João Lyra Filho (1983, p. 72) nos traz uma contribuição a esse assunto quando ele no diz que: “Todas as neuroses devem ser atribuídas ao medo do ambiente”, ou seja, se o ambiente escolar não apresenta um espaço de convivência adequado pode produzir o receio ao mesmo. O autor nos relata: “O medo às vezes é revidado pela violência, que preenche espaços vazios de cultura social”. Muito das medidas selecionadas pelos professores para conter casos de violência, são de forma repressiva com outro tipo de violência, o que acarreta na fortificação da primeira. Os atos violentos, de certa forma têm conotações diferentes em cada indivíduo. Vai depender do meio familiar e social em que a pessoa está inserida. Quando o indivíduo comete algum tipo de agressão de certa forma reflete algo da família ou do meio social em que vive, uma resposta do seu sofrimento. Ao realizar o ato de agressão o agressor busca na verdade, algum tipo de punição para seu ato, um limite que não encontrou ainda para frear sua atitude. A repressão com agressão a qualquer tipo de agressão só faz reforçar mais o agressor e entrar no seu jogo, da mesma forma que tolerar a agressão sem responder a ela só faz com que sua intensidade aumente. O quadro se reverte quando transpomos para o lado simbólico (jogos de agressão simbólica), no qual a agressão poderá ser aceita e desculpada. (LAPIERRE; AUCOUTURIER, 1986, p. 62) Uma das formas de trabalhar a violência na tentativa de controlá-la é abrir o espaço escolar à família e à comunidade. A escola deve ser vista como um espaço democrático de troca de experiências entre a comunidade, a família e os alunos. Os atos agressivos devem ser contidos através do diálogo, da conscientização. O educador deve estar aberto a trazer novas propostas a fim de mudar a realidade em discussão. Quando o trabalho tiver uma conotação de busca de conhecimento através da critica, produzir-se-á uma nova visão sobre o contexto da agressão, seja ela qual for. Muitas escolas estão buscando respaldo em projetos que a Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco) desenvolve em parceria com os estados, na busca de soluções imediatas ao crescente processo de deturpação e exclusão nas escolas. Como exemplo citado na revista Nova Escola de Maio de 2002, os projetos envolvem a comunidade, trazendo-a para dentro da escola. A resposta foi à diminuição de ameaças e depredações. As instituições escolares vêm enfrentando no dia-a-dia, problemas internos relacionados à gestão e a fatores externos inerentes ao desemprego, a pobreza, a exclusão social e ao tráfico de drogas: uma dificuldade de enfrentar as diversas modalidades que a
violência assume no ambiente escolar, variando de intensidade, magnitude, duração e gravidade. A preocupação se resume apenas a violência física, as simbólicas e incivilizantes são vistas por ângulos diferentes, raramente discutidas nos planos de aula ou encontros de professores. Na verdade caracterizam um processo de desestruturação em que quebram os pactos sociais de relações humanas e as regras de convivência. Um quadro de insatisfação por parte dos alunos e professores vem crescendo sistematicamente devido a esse fator sem relevância. A escola não se prepara para resolver esse problema, por não considerar o mesmo como um fator preocupante, muito embora seja o resultante de inúmeras exclusões de alunos e desmotivação por parte dos professores. Neste ambiente imperam fatores como a “lei do silêncio”: ninguém se manifesta, por medo de represália ou possíveis ameaças, até de morte. A típica frase te pego na saída! (frase característica de ameaça de brigas na escola), virou “te mato na saída! (OUTEIRAL; CEREZER, 2005, p. 41) O ambiente em muitas escolas virou refúgio de pequenos delinqüentes, que aterrorizam não só aos colegas, mas a escola como um todo. Relações de solidariedade e companheirismo deram lugar a uma degradação das relações interpessoais, como o desrespeito e o descaso em relação ao outro. Nos momentos atuais nos deparamos com uma grande revolução tecnológica, que vem acontecendo muito rapidamente. O comportamento de alguns alunos nas escolas sofre grandes alterações em virtude do próprio sistema capitalista. Muitos foram e são as revoluções tecnológicas, que influenciam na vida de uma criança e de todos nós, desde a sua alimentação, a sua vestimenta e atitude frente ao meio social. Os alimentos cada vez são mais supérfluos e desnecessários a uma boa forma física. O mundo dos “Fast Food” tomou conta não só da alimentação, mas também da educação infantil, como nos relata Kincheloe (1997, pg. 78), “as grandes corporações como Mc. Donalds e Habibis tem aumentado sua capacidade para maximizar a acumulação de capital, influenciar a vida social e cultural e até mesmo contribuir para moldar a consciência infantil”. Diante da atitude, temos a interferência dos jogos eletrônicos, sofisticados, inteligentes e carregados de violência. Fato que é muito interessante devido à alienação que muitos destes aparelhos causam nas pessoas. Diante desses aparelhos observa-se que tudo está pronto e sempre acaba em morte e destruição para se obter a vitória. Vejamos que vivemos atualmente no mundo dos descartáveis, no mundo das coisas fáceis. E retratando esse assunto não me refiro especificamente a crianças de classe média alta e sim a todas sem restrição. Por que de
alguma forma as crianças tem acesso a esses jogos seja em casa ou nas ruas nas casas de jogos, (Lan Hause) comuns hoje em dia. Uma criança que vive em frente a aparelhos eletrônicos, onde sua experiência se baseia em jogos e programas cheios de agressividade e violência, quando interagir na escola, no seu meio social, vai reprisar suas angústias e frustrações de forma idêntica. Hoje a comunicação está muito rápida, o individuo não precisa fazer muito esforço mental e nem físico. As pessoas simplesmente ficam em frente à tela e absorvem tudo. Ficam inertes diante do aparelho e da comunicação, e esta comunicação é tão poderosa, tão bem feita, com tanta tecnologia que acaba tomando conta, alienando a inteligência do indivíduo. Devido a esta rapidez de comunicação através dos meios tecnológicos, as crianças aprendem tudo muito rápido e fácil sem muito raciocínio, pois tudo está pronto o que entra em contraposição com o que é ensinado nas escolas. Muitos desses programas além de tornar a pessoa alienada, estão carregados de violência, o que de certa forma vai parecer normal às crianças por que já faz parte de seu cotidiano. O abandono dos pais e o excesso do paternalismo consumista vêm proporcionando e restando aos filhos alienar-se a estes aparelhos. O resultado desse fator agravante acaba por contribuir ao crescimento da incidência de violência nas escolas. Muito dos contextos escolares encontram-se ao descaso, os salários são desmotivadores, os alunos representam um fator alienante e violento, tentam conduzir a escola a sua maneira, os padrões de educação (currículos) encontram-se ultrapassados ao prematuro amadurecimento infantil. Nas aulas observa-se a transmissão de conhecimento, a preparação de indivíduos para serem alienados ao sistema. Segundo Outeiral (2005 p. 3-4) a função da escola é educar, isto é conforme o significado etimológico da palavra, “colocar para fora” o potencial do individuo e oferecer um ambiente propicio ao desenvolvimento dessas potencialidades, ao contrário de ensinar, que é in + signo, ou seja, colocar “signos para dentro” do individuo. Contudo com relação ao quadro apresentado como uma questão de despreparo dos profissionais atuantes nesses contextos escolares mais violentos compreende-se que o sistema encaminha e dita às possíveis regras para educação. Se o meio escolar encontra-se da maneira que hoje ai está, é em função de inúmeras transformações sociais, culturais e econômicas, decorrente do sistema capitalista empregado pelas grandes corporações. Como foi relatado anteriormente não há modelos familiares propícios a grande e crescente mudança da sociedade. Na verdade não há mudanças sociais e sim a forma de dominação e seus instrumentos. A família se dissolveu por influencias culturais em contrapartida teve a necessidade de se adaptar ao sistema econômico, novamente adaptar-se. A escola passa por
inúmeras adaptações e não consegue atender a necessidade de seus alunos, outro fator agravante na escola é o que decorre da insuficiência de quadros, tanto administrativos como docente. No que se refere aos professores percebe-se segundo Zaluar, em uma pesquisa realizada (relato em seu livro) que em uma escola de caráter instável cera de 98% são contratos temporário, sendo que em outra escola de caráter mais estável 47% eram contratos em caráter temporário. Esse fato indica uma população flutuante, com pouco tempo de trabalho, sem possibilidade de participar da história da instituição, de modo à nela influir permanentemente, inclusive na identificação de modelos positivos (professor) para os alunos. (ZALUAR; 1992, p. 116) A sociedade encaminha-se a cada ano que passa ao caos. Como menciona Outeiral (2005, p. 4) são necessários três elementos para constituir o tripé do processo educacional; aspectos constitucionais, vínculos familiares e ambiente escolar. Se os três elementos não trabalharem juntos, não haverá solução para tantos problemas apresentados nas escolas, famílias e na sociedade como um todo. Mudar só a educação não basta se seguirmos apenas por esse caminho morreremos como um discurso político. Temos que mudar a sociedade e a família em conjunto com a escola.
2.4 A FORMAÇÃO DA IDENTIDADE
A formação da identidade de um indivíduo está ligada a um processo que se desenvolve desde o nascimento à fase adulta, consiste na formação do “ser social e conseqüentemente da cidadania”. (GRUBITS, 1996, p. 29) Segundo Sonia Grubits Gonçalves de Oliveira (1996, p. 29) na trajetória do sujeito para a construção de sua identidade, os laços familiares, segundo ela, “primários”, nos primeiros anos de vida, são primordiais, pois é nesse meio que a criança vai encontrar sujeitos que darão significado a sua “história-de-vida”. O indivíduo se forma em meio aos aspectos familiares como a base do seu desenvolvimento. E após sobre os contextos da sociedade em si. Normalmente o correto da formação de uma criança seria dar seu primeiro passo dentro de uma família estruturada, para depois dentro do convívio social adquirir outro nível de planificação de formação de sua identidade, da forma que esse ser estaria corretamente identificando-se e encontrando-se no seu meio social, ou seja, a identidade se forma no
coletivo como nos diz Vigostsky “Na ausência do outro, o homem não se constrói homem”. Somos seres sociais; é nas relações que se forma a identidade. Mas se a primeira estruturação da identidade acontece de forma negativa e com falhas o meio social exercerá influencia sobre esse indivíduo e se não for de forma positiva, acarretará danos ainda maiores a essa pessoa. Como cita o autor Roberto da Silva (1997, p. 146) em relato no seu livro que os menores órfãos e abandonados, encarcerados em projetos e instituições do governo, vivem em meio à hostilidade tanto dos próprios pares quanto dos funcionários que lidam com eles de forma autoritária. Sendo que os mesmos têm a violência como uma forma de regular as relações entre os menores, formando uma identidade institucional negativa. Se a família não possui uma boa estrutura o filho perderá suas referências, tornando-se incapaz de projetar-se no futuro. A relação dos pais com a criança seja negativa ou positiva, exercerá influencia na maneira pela qual a mesma “elaborará seus futuros enunciados identificatórios”. (GRUBITS, 1996, p. 35). Nas escolas o professor torna-se a figura a quem o aluno vai endereçar os seus interesses, será o objeto de transferência como nos diz Maria Cristina Kupfer, ”o que se transfere são as experiências vividas primitivamente com os pais” (KUPFER, 2006, p. 88). A autora Evânia Reichert também nos traz uma contribuição da importância da família para a formação da identidade da criança “nessa idade (criança) ocorrem os primeiros registros de afetividade no ser humano. A alegria e os afetos se formam por meio da satisfação gerada pelo vínculo seguro. São aprendizados primais que embasam a referência interna de humanização” (REICHERT, 2008, p. 162). Relato importante para identificarmos a importância da família para criança, a família que aqui me refiro é aquela que se percebe importante na vida e formação dos filhos. A boa estrutura familiar depende de uma série de fatores que estão ligados por aspectos sociais, culturais, políticos e principalmente econômicos. Desde o inicio da colonização nosso país recebe uma identificação dominadora. E esse sistema está estigmatizado na cultura de nossos povos. A própria sociedade em si vive em meio ao caos, devido a esse sistema abrupto de adquirir bens adotados pelo sistema econômico. Como fator resultante desse processo a família, como já foi citado, desestruturou-se e muitos vivem na completa miséria. Os valores sociais perdem-se devido à política econômica, o demasiado crescimento da população e a exploração do trabalho, gerando indivíduos desestruturados que se identificam em meio à criminalidade das ruas, fator que já é agravado desde o século XIX.
Sonia Grubits (1996, p. 29) deixa claro em um capítulo de seu livro que a família é a base de tudo, principalmente nos primeiros anos de vida de uma criança, pois vai ser no convívio com os pais que ela dará seus primeiros passos para formar sua identidade. Levando em conta esse assunto constata-se que quem não possui um meio familiar adequado ou por mais que este esteja nos parâmetros corretos e não for de inteira participação dos pais com os filhos, gerará crianças com falhas na sua identificação, primeiro com o meio familiar e depois com o meio social (escola). A grande desestruturação familiar decorrente do grande processo de exclusão do sistema capitalista é um principio da má formação dos jovens. O nosso país vive em meio a crescentes alterações negativas na sociedade, a corrupções em vários contextos do sistema social e tantos outros aspectos que afloram nas pessoas uma revolta sobre a opressão sofrida. Não a exemplos positivos em que uma criança possa espelhar-se na construção de seu caráter, sem falar da escola. Muitos dos profissionais das distintas áreas não estão apar de muitos fatores que são importantes no desenvolvimento de uma criança, trabalham em meio ao desânimo com formas pedagógicas vagas e sem objetividade, reproduzindo métodos ultrapassados. Se a família encontra-se em plena desestruturação e em alguns casos nem existe o que resta para os jovens é buscar espelhar-se em indivíduos do seu meio social, sobretudo e aparentemente “fortes” seja em âmbito temperamental ou físico. Indivíduos que a própria sociedade inclui como heróis ou até mesmo exclui como os marginais que tem sua identidade formada no crime. Como nos relata Roberto da Silva (1997, p. 147) quando menciona sobre os menores da Fundação Estadual do Bem Estar do Menor (FEBEM) onde ele ressalta que essas instituições se constituem em escolas da criminalidade “cujos valores, símbolos e representações contribuem para a construção de identidades que são, sobretudo, negativas, criminosas”. O caminho da violência e a identidade violenta/agressiva é a própria sociedade que dá ao indivíduo. Em qualquer âmbito da sociedade a violência aparece, mas continuamente vem crescendo de forma a estar presente na expressão e verbalização dos jovens. Não existe mais um controle do ser humano quanto a sua agressividade, poucos são os que canalizam a mesma de forma que ela não seja exposta de forma a ferir outros. Dos vários autores citados nesse trabalho, todos caminham para o mesmo discurso de que a identidade violenta parte de um princípio de desestruturação familiar decorrente do sistema capitalista, onde as famílias não dispõem mais do interesse de preparar seus filhos para o mundo ou mesmo algumas famílias sem condições e por possuir aspectos negativos no contexto familiar como alcoolismo, pais
traficantes, mães prostitutas e tantos outros aspectos que de certa forma como disse Sonia Grubits, “darão significado à sua história-de-vida”. Ao falar da violência como uma forma de identidade, pensamos nela como uma forma de sobrepor-se a alguém ou alguma coisa. O indivíduo de alguma forma se comunica com seu semelhante de várias formas distintas seja pelo contato físico, simbólico ou verbal e dentro desses três aspectos a violência está presente. Uma criança que forma sua identidade em meio ao meio hostil reproduzirá da mesma forma o que aprendeu. E quando representa um quadro social “aceitável” e assim mesmo responder de maneira agressiva, o fundamento pode estar na estruturação familiar ou no reflexo da mídia. Como percebemos no relato do professor Peter Lucas (REVISTA NOVA ESCOLA, Maio, 2002, p. 20), uma criança que assiste muito tempo cenas violentas na televisão num determinado tempo passa a reproduzi-las em seu meio social como se aquilo fosse normal. De alguma forma a violência nos aspectos já citados, aparece como uma forma de identidade. O processo de dominação sempre é aplicado sobre forma de poder e para isso, se utiliza das várias formas de violência para manter o status da dominação. Quando uma pessoa utiliza-se da violência para firmar sua posição frente a um quadro, ela procura sobrepor-se para não se sentir humilhada, para demonstrar sua autoridade ou para tirar proveito no momento da ação em questão, causando medo e afastamento nas pessoas. Hoje as ameaças e humilhações são pronúncias presentes em qualquer espaço social na intenção de abordar e subordinar ações que podem parecer incorretas, na tentativa de submeter o outro a determinada situação. Respostas violentas tendem a aparecer em situações de humilhações, de autoritarismo e como forma de demonstração de poder. Ninguém vive sem identidade, nos identificamos com várias coisas: gestos, posturas, falas, roupas, adornos, etc. Formamos a nossa identidade com o meio e a ele respondemos da mesma forma.
3 CONSTRUINDO CONHECIMENTO SOBRE O ASSUNTO
Para melhor contribuir com a pesquisa, vou à busca de experiências na área da educação que me situem no assunto aqui pesquisado. Foi possível identificar a violência dentro dos vários ambientes sociais em que uma criança possa estar exposta. Contudo não é fato que o que mais assusta não é a violência em si praticada pela criança e sim o olhar do adulto (professor e pais) sobre esta questão. Dentro da escola percebo os professores engajados nas possibilidades negativas, vivem como mensalistas a espera sempre do final do mês para a única coisa que lhes importam o salário. Claro que é muito importante, mas o problema ainda é a desvalorização a que o profissional vem se colocando, em todos os aspectos. Estabeleceu-se um quadro negativo no meio escolar. Vários professores não conseguem perceber seu foco (aluno) e distanciam-se do mesmo, preocupados consigo próprio e com a vida dos outros. As pessoas no geral vêm, a cada dia menos preocupadas com seu presente, vivem constantemente ou no passado ou no futuro com seus pensamentos, não existe felicidade, não existem amor e carinho na ação do professor e pela sua profissão, enquanto percebo que a criança vive o agora é feliz e aproveita cada segundo do seu dia. Esse fato é notável não só na escola como em casa na relação entre pais e filhos. A conseqüência disso é o que estamos vivendo hoje, a aula que é a mesma do passado e não é mudada afasta o aluno, porque o mesmo está em outra realidade. A falta de perspectivas no ensino vem agravando o quadro que se apresenta nas escolas, para contribuir para o pensar em relação a como agir, trago um relato do autor Gérard Guillot da revista Pátio: (...)todos os adultos encarregados de sua educação (criança) têm o dever de assumir suas responsabilidades, evitando o duplo perigo, de um lado, do autoritarismo e, de outro, do permissivismo. Um professor, um pai ou mãe ou educador deve instaurar as “regras do jogo social”, do viver junto, sem impor uma tirania subjetiva nem uma não-diretividade mal compreendida. (Revista Pátio, ano VI – nº17 edição Julho a outubro 2008)
Em outro olhar posso dizer que não é fácil perceber quando um aluno está cometendo algum tipo de agressão ao colega. Faz-se necessário estar preparado e consciente dos fatores que causam a agressão ou mesmo saber enxergar, quando ela vem acontecendo. A realidade do professor não é a de muitos alunos por isso não se percebe quando a violência acontece. Essa mesma realidade causa medo de agir, medo de se expor. Ser professor hoje é estar
preparado para o agora, a comunicação está muito rápida quem não está preparado consequentemente é atropelado. A violência é realidade e só o é porque não estamos querendo se preparar para bater de frente com ela. Bater de frente no sentido de saber lidar com de forma justa, correta sem exercer violência como forma de acabar com outra violência. Percebo que em varias ações na tentativa de conter atos agressivos, nunca obtinha sucesso. Em certa ocasião comecei a olhar para dentro de mim e percebi que o erro vinha da minha ação. Cada vez que tinha que resolver alguma questão sempre chegava de forma ríspida na intenção de conter o que estava acontecendo. Sempre resolvia através da minha ação, porém o meu jeito de chegar e abordar, já vinha carregado de agressividade. Foi preciso um olhar diferenciado para dentro de mim. A minha atitude ao meu ver, era uma das melhores, sempre tive boa intenção, pois sempre fui contra qualquer ato agressivo. Mas não percebia que eu na minha ação era agressivo e isso deixava e ensinava aos alunos a serem da mesma forma “o exemplo não é a maneira principal de influenciar os outros é a única maneira possível” essa frase me incomodava muito, porém quando realmente a entendi é que consegui mudar minha atitude. Não posso ser o exemplo se ao lidar com o problema eu me torno parte e acabo reforçando ele. Nesse sentido mudei minha maneira de perceber a violência e comecei a trabalhar com ela de forma completamente oposta. Minha ação passou a ser bem calculada, deixei de absorver o problema para mim e passei a alisá-lo para poder criar uma forma de resolvê-lo de forma tranqüila e responsável. Sempre que é preciso chamo os envolvidos procuro saber o que causou o incidente e depois com muito carinho e compreensão resolvo dentro de um diálogo procurando refletir com os envolvidos o peso das atitudes ali aplicadas. Evânia Reichert traz uma importante contribuição para esse assunto nos dizendo que; A educação elucidativa é um dos princípios que contempla a auto-regulação. Nessa prática, cada vez que uma ordem ou repreensão é feita, ela é acompanhada de uma explicação que esclareça a criança sobre as consequencias da infração e de como ela pode ser prejudicial. É um dos princípios da Educação Democrática, da Educação Humanista, entre outras. Assim a criança vai compreendendo as medidas e as consequencias do que faz (REICHERT, 2008, p. 193).
Nesse momento e em todos da minha vida, preciso ser apenas água que bate em uma “pedra” fazendo com que ela mude de formato. A educação hoje para mim é isso: é preciso insistência; a violência está tão encravada na vida desses jovens que virou o meio mais fácil de resolver as questões pessoais. E se não houver um olhar diferenciado e depois insistência da nossa parte como professores/educadores para resolver essa questão, acredito que bem em
breve professor mesmo serão muito poucos que vão ter coragem de exercer sua profissão. Ser professor hoje requer mudanças de postura, é preciso desconstruir transmição de conhecimento para construção de conhecimento. Violência gera violência, precisamos estar atentos ao cotidiano das crianças percebendo-os analisando, construindo com eles e através deles sempre o melhor jeito para se educar. Acredito que em princípio a mudança de postura é o primeiro passo a ser dado, só assim será possível haver mudanças no contexto que aí está. Se muitas escolas estão do jeito que estão é devido ao próprio profissional não estar se valorizando, o que não depende só dele. A valorização do profissional/professor depende também de como é tratado pela escola, pelo sistema e pela opinião pública.
4 CONCLUSÃO Ao finalizar este trabalho concluo que as pesquisas a cerca do assunto contribuíram muito para minha caminhada profissional. O trabalho foi uma experiência construtiva em que foi possível constatar a dimensão da realidade pesquisada. A violência na escola não só é um reflexo da atual sociedade como também está formando jovens mais agressivos. Vivemos num mundo extremamente competitivo, onde sistematicamente o consumismo, “dono” da sociedade, revela sua pior face frente aos jovens. O capitalismo foi uma forma imposta desde o período em que nosso país estava se formando. Teve sua formação baseada na exploração das camadas mais pobres, o que resultou na formação de uma dicotomia entre a população, fato este tão claro da exclusão o qual este tipo de sistema causou entre o meio social. Percebe-se que este tipo de sistema vem sendo um dos principais causadores dos atos de violência, que desde o início do século XIX vem se manifestando em resposta ao próprio sistema. O fato é que essa violência e agressividade está envolvendo sucessivamente as pessoas, que sem perceber estão encaminhando-se sistematicamente para uma postura negativa diante da sociedade em geral. Violência física e agressões verbais fazem parte do viver das crianças, como um sistema destrutivo formador de exclusões. Não podemos mudar a realidade do mundo sozinhos, mas podemos semear em cada criança valores e significados positivos, que poderão ser o alicerce
de uma mudança que poderá vir com o tempo. Não sabemos o quanto
marcamos de significados as crianças. Elas absorvem muitas coisas que nós nem imaginamos. Quando esse ser através da cultura, das raízes e da história tiver consciência do controle da agressividade, equilibrando, controlando-a para não se tornar uma violência desenfreada poderá ser um novo agente dessas possíveis mudanças. Não existe uma proposta concreta por parte dos projetos políticos pedagógicos das instituições. O máximo que tinham eram regras e deveres dos alunos para com o ambiente. Talvez na execução do projeto não haja um entendimento mais profundo das causas da violência infantil. Assim também há pouca reflexão sobre o sistema capitalista, onde a maioria dos profissionais se acomoda na reflexão estabelecida. Podem até ter algumas ações positivas, mas na construção coletiva ainda reproduzem valores consumistas. A violência infantil é uma resposta à violência sofrida deste sistema. E tudo vem a aparecer na escola que está despreparada em atitudes, em formação e em encaminhamentos. A necessidade de se estudar a violência, suas causas e entender a importância da agressividade
como fator de defesa e ação contra uma agressão sofrida é de muita importância para estabelecer o próprio respeito entre todos. Não se pode ser um indivíduo apenas dócil sem ação contra uma agressividade sofrida. Precisa-se de reação consciente e positiva para buscar os direitos e a própria afirmação de cidadão. Dessa forma concluo que foi possível constatar que há uma ansiedade muito grande nas pessoas pela melhora do contexto social no que diz respeito à violência. Contudo se faz necessário cada ser refazer suas atitudes e seu modo de perceber o outro. Dar espaço para a mudança pessoal, olhar para si e não para o outro, acredito ser um passo gigantesco na caminhada acerca da contenção desse problema. A violência não acontece ao mero acaso, sempre ambos os lados detêm uma porcentagem de culpa. No caso do ambiente escolar, ambas as partes devem ser ouvidas e as mesmas devem procurar juntas a solução do problema. O educador ocupa um papel importante como mediador do problema nunca como solucionador. É preciso construir. Quem se manifesta através da agressão têm que ter autonomia para achar o melhor meio a resolver o problema, e nesse sentido é preciso a mediação do educador. Desenvolver o senso de auto-avaliação através da promoção do conhecimento e não da transmição, criar autonomia não só para resolver problemas como também para desenvolver/construir para sua própria vida. Formando uma identidade voltada para o senso critico construtivo, promotora de atitudes positivas e solidárias tão esperadas na nossa sociedade.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AMENCAR, Amparo ao Menor Carente (Org.). Violência Doméstica. 1. reimpr. Brasília: UNICEF, 2000. ABRAMOVAY, Miriam. ; RUA, Maria das Graças. Violência nas Escolas. Brasília: UNESCO: 2002. BOCK, Ana Mercês Bahia; FURTADO, Odair; TEIXEIRA, Maria de Lourdes Trassi. PSICOLOGIA: Uma Introdução a Psicologia. 13 ed. São Paulo: Saraiva, 1999. ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE, (ECA) Lei Federal nº 8.069, de 13 de julho de 1990. FREIRE, João Batista. Educação de Corpo Inteiro: Teoria e prática da Educação Física. Scipione, 1997. JORNAL ZERO HORA. Falcões do Sul. Porto Alegre, 26 de Março 2006. p. 4 e 5. KUPFER, Maria Cristina. Freud e a Educação: Pensamentos e Ação no Magistério. 3ª. ed. São Paulo: Scipione, 2006. KUNZ, Elenor (Org.). Didática da Educação Física. 1a. ed. Ijuí: UNIJUÍ, 1998. KRÜGER, Helmut. Introdução a Psicologia Social. São Paulo: EPU – 1986. LAPIERRE, André; ACOUTURIER B. . A Simbologia do Movimento: Psicomotricidade e Educação. Trad.Márcia Lewis. Porto Alegre: Artes Médicas, 1986. LYRA FILHO, João. Introdução à Psicologia dos Desportos. São Paulo: Record, 1983. MENDEL, Eliane Gracez. Ensinem Seus Filhos a Falhar. Porto Alegre: Jornal Zero Hora, 19 de Maio de 2010. MEDINA, João Paulo Subirá. A Educação Física Cuida do Corpo e “Mente”. 8a. ed. Campinas: Papirus, 1989. OLIVEIRA, Sônia Grubits Gonçalves de. A Construção da Identidade Infantil: (A Sociopsicomotricidade Ramain-thiers e a Ampliação do Espaço Terapêutico). 1a. ed. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1996.
OUTEIRAL, José; CEREZER, Cleon. O Mal-Estar na Escola. 2a. ed. Rio de Janeiro: Revinter, 2005. PILETTI, Nelson. Sociologia Da Educação. 12a. ed. São Paulo: Ática, 1993. PRIORE, Mary Del (Org.). História das Crianças no Brasil. 4a. ed. São Paulo: Contexto, 2004. REICHERT, Evânia Astér. INFÂNCIA A Idade Sagrada; Anos sensíveis em que nascem as virtudes e os vícios humanos. Porto Alegre: Vale do Ser, 2008. REVISTA NOVA ESCOLA. São Paulo: Ed. Abril, Maio de 2002. ISSN 0103-0116. REVISTA PÁTIO, ano VI – nº17 edição Julho a outubro 2008. REDIN, Euclides; MÜLLER, Fernanda; REDIN, Marita Martins (Org.). INFÂNCIAS: Cidades e Escolas Amigas das Crianças. Porto Alegre: Mediação, 2007. SILVA, Luiz Heron da; AZEVEDO, José Clóvis de; SANTOS, Edmilson Santos dos. Identidade Social e a Construção do Conhecimento. Porto Alegre: Ed. Secretaria Municipal de Educação de Porto Alegre – Prefeitura Municipal de Porto Alegre, 1997. SILVA, Roberto da. Os Filhos do Governo: A Formação da Identidade Criminosa em Crianças Órfãs e Abandonadas. 1a. ed. São Paulo: Ática, 1997. 205p. SILVA, Denise Quaresma da. “Fracasso” escolar: que lugar é esse? Psicanálise e Educação. Porto Alegre: Evangraf, 2005. STEINBERG, Shirley.Kinder cult ur a: a construção da infância pelas grandes corporações. In. SILVA, L. H. e outros (orgs.). Identidade social e a construção do conhecimento. Porto Alegre: PMPA, 1997 STEINBERG, Shirley R., KINCHELOE, Joe L. Kinder cult ur e: the corporate construction of childhood. Boulder: Westview Press. 1997. TV ESCOLA. Secretária de Educação a Distância. DVD Escola. Convívio Escolar (A Violência na Escola) Ministério da Educação, N 03. MEC 003. VIGOSTYSTKY. LEV. Seminovide. A Formação Social da Mente. São Paulo: Martins Fontes, 1984. WEINBERG, Robert S. ; GOL, Daniel. Fundamentos da Psicologia do Esporte e do Exercício. Trad. Maria Cristina Monteiro.- 2a. ed. Porto Alegre: Artmed, 2001. ZALUAR, Alba. (Org.); VIOLÊNCIA E EDUCAÇÃO. São Paulo: Cortez, 1992.