Amor e vida

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Angela Pastana

Amor & Vida Romance –

Belém - Pará – Brasil 2018

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PREFÁCIO

Verbo Possível

Abrir este livro é abrir o coração. Nas páginas a seguir, dores serão lançadas, angústias marcarão as pontas dos nossos dedos e a ferrugem do nosso olhar. Sim, é sobre o outro a história deste livro, sobre uma outra vida. O outro anônimo, que ao nosso lado – invisivelmente – sofre da maior das dores do mundo: o preconceito. Poluídos de pressa, palavras cinzeladas por sentenças formadas de condenação, muito rapidamente, julgamos o outro. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS Nossa maior defesa, a distância, nosso segredo mais guardado, o preconceito, que deriva de não conhecer, não saber, não querer tomar parte: a nossa ignorância. Angela Pastana, neste comovente Amor e Vida, escreve uma história de muitos e de todos nós nesse barco mútuo da existência e convivência que é a VIDA. Nos capítulos dolorosos da história da protagonista, estamos todos nós no teatro dos nossos dias, nossos fascínios, nossas pequenezas, nossos silêncios vis, nossas dádivas de última hora, nossos desencontros marcados, nossas solidariedades infinitas, nossos desprezos, nossas vontades do outro, enfim, nossas humanidades. Há um caminho redentor nesta história de dores: o AMOR. Sim, é ele, esse mundo de AMAR as pessoas, esse verbo possível ainda, que Ângela PERIGOSAS ACHERON


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Pastana nos deixa depois do ponto final do livro. Do amor vem a bênção de viver, o cuidar do outro para cuidar de si, amando, compreendendo e estando ao lado. Em pequenos grandes gestos, em palavras e em todos os silêncios do mundo, o amor pode e deve estar. Sim é ele, esse verbo possível ainda. Angela Pastana sabe desse verbo vida. Este livro, agora aberto, é para amar... e sempre amar. Boa leitura! Janeiro, sol e chuva de um reinício, 2014. Daniel da Rocha Leite PERIGOSAS ACHERON


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A você que tem em suas mãos este livro, por compartilhar desta viagem.

PRÓLOGO

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Amor & Vida.

O auditório estava superlotado. Diana aguardava sentada na primeira fileira. As autoridades da cidade de Belém estavam presentes naquele evento. Vestida num conjunto bege, no braço o relógio e a pulseira, nos dedos os anéis e na orelha os brincos (não sei ficar sem eles - comentou uma vez com uma amiga). Os cabelos caíam em seus ombros num tom castanho, com mechas cinza, chapeado e também fora maquiada com discrição (fora ao salão de beleza). Ali estava... Ansiosa. De estatura baixa, o corpo franzino, porém, nela tudo se encaixava perfeitamente. Sim, era uma mulher madura, porém ainda conservava uma PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS beleza exótica. Havia sempre uma luz expandindo naquele rosto pequeno com uma vivacidade contagiante, muito falante e amável, conquistava sem muito esforço, muitos amigos e amigas. Aquele dia estava sendo muito especial para ela, pois estava sendo reconhecida pelo seu trabalho e por sua dedicação ao longo de anos. Com seu empenho, estava ajudando a outros também a lutarem arduamente contra tudo e contra todos por um sentimento de humanidade onde o desprezo assola. E da sua experiência fazer com que as pessoas sejam conscientizadas a ajudar e a não discriminar. A sua parte estava fazendo, agora precisava de um apoio maior e isso ela propagava nas palestras em todos os lugares. Alguns dias antes, ela recebera a correspondência convidando-a para comparecer no evento onde seriam homenageadas as pessoas que PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS se destacaram naquele ano, por seus trabalhos junto às comunidades. Estava sobrescrito no envelope seu nome “convidado especial”. O coração estava palpitante pela emoção naquele instante. Era indescritível aquela sensação de vitória que se apossava em todo o seu ser. Em pensamento agradecia a Deus por isso. Sentia que suas forças redobravam por saber que sua luta não estava sendo em vão, que existiam outras pessoas como ela que se empenhavam na NÃO DISCRIMINAÇÃO e a lutar pela VIDA! E essa história de vida, vinha de longa data.

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CAPÍTULO I Todo Início.

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Em meados de dezembro de 1988. Naquele final de tarde ensolarado, o bar do Paulo estava apinhado de frequentadores que vinham se refrescar do calor com uma bebida gelada. Paulo, um rapaz de estatura mediana, magro, branco beirando seus vinte cinco anos, de sorriso PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS aberto, desdobrava-se em presteza. De comunicabilidade fácil, cativava os clientes que passavam e entravam, seja para beber ou para uma boa prosa. O local por ser de esquina ficava num ponto estratégico e ele se esmerava em conservar sempre limpo e organizado. Ficava apenas a alguns metros de sua casa onde vivia com seus pais e irmãos. Em meio a tantos clientes entrou um rapaz. De aparência elegante, alto, cabelos louros e encaracolados que caiam até os ombros. A barba bem aparada denotava esmero e os olhos esverdeados fascinavam quem os fitasse. Vestia-se todo de branco. Entrou e veio sentar-se em uma das mesas que se enfileiravam no salão do bar. Ao vêlo sentar-se, imediatamente Paulo saiu detrás do balcão vindo atendê-lo. Quando chegou à frente dele perguntou-lhe. - Diga moço o que você deseja – com sorriso PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS cativante. - Uma cerveja – respondeu-lhe o estranho observando todo o local. - Trago já para você – disse Paulo anotando o pedido num bloco, dirigindo-se para detrás do balcão. Retornou logo em seguida com uma garrafa de cerveja na mão e um copo. O serviu e em seguida foi atender aos outros clientes que solicitavam sua presença. Após muitas idas e vindas servindo - o trocaram algumas palavras sobre o tempo e a cidade. A noite ia avançando lentamente nas horas. O estranho levantou - se e veio até o balcão onde Paulo estava naquele momento e pagando a conta despediu-se. No outro dia na mesma hora ele chegou. Ao entrar, avistou Paulo no balcão e foi até lá. - Boa tarde. – cumprimentou - o amistosamente. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS - Boa tarde. Uma cerveja? - perguntou Paulo já com a caneta e o bloco de notas na mão. - Sim – respondeu e foi sentar-se detrás de uma mesa dessa vez mais próxima do balcão. Enquanto Paulo o servia, ele curiosamente perguntou: - Como se chama? - Paulo. E você? - Rodolfo. Gostei de vir aqui. – comentou sorrindo. Paulo amigavelmente apoiou a mão no seu ombro num afago e retribuiu o sorriso. Com o passar dos dias, a presença de Rodolfo tornou-se assídua no bar. Às vezes passava apenas para cumprimentar Paulo e entabular conversas a fio quando havia poucos clientes. Com os meses passando, ele de boa conversa foi tornando-se amigo de Paulo e a partir dessa amizade também começou a entrosar-se com a família dele. PERIGOSAS ACHERON


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O mês de outubro chegou. Já se iam dez meses desde que Rodolfo passara a ir todos os dias na mesma hora. A cidade estava se preparando para o Círio de Nazaré festejada no segundo domingo. Os romeiros chegavam de todos os lugares. A cidade movimentava-se com os que vieram antecipadamente para a festa. Era a primeira sextafeira do mês. Diana retornava do trabalho quando olhou o relógio. Ainda eram dezoito horas. Resolveu então, antes de ir para a casa, dar uma ajuda para o irmão no bar. Sempre que chegava mais cedo passava para ajudá-lo. Havia muitos meses que estava “assoberbada” de trabalho, chegava em casa já com a noite avançada. Porém fazia muito tempo que não ia lá e, ainda era cedo ao verificar a hora. Mudou de rumo ao perceber que o bar estava lotado. “Paulo com PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS certeza estava precisando de ajuda” - pensou. Jovem ainda, muito formosa, sua pele alva e seus longos cabelos louros desciam em sua costa. De bom coração, assim como seu irmão, estava sempre pronta a ajudar as pessoas e sua vivacidade a todos encantava. Casara cedo. No entanto, separou quando estava grávida de seis meses. Saíra do casamento ficando com a casa e o carro. Nascera da relação a pequena Ana, agora com um ano e meio a qual era muito dedicada. Como morava só as duas, quando tinha que ir trabalhar, deixava Ana na casa de seus pais, distante apenas algumas casas. Durante a semana levantava cedo. Alimentava Ana. Pegava as sacolas arrumadas: uma com fraldas e roupas e os remédios e a outra, as mamadeiras com mingau. Com ela no colo, vinha deixa-la com os avós para ir trabalhar. E à noite quando retornava passava para busca-la. E assim PERIGOSAS ACHERON


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vivia para criar sua filha, desdobrando-se em dois trabalhos para dar um futuro melhor para ela. Decidida, desviou-se do caminho de casa e entrou no bar. Ia caminhando por entre as mesas quando se deparou com aquele rapaz estranho conversando com seu irmão, sentado à mesa. Sentiu à primeira vista, uma grande antipatia por ele. A sua intuição dizia- lhe para manter distância. Era Rodolfo. Ao passar por seu irmão apenas o cumprimentou. - Oi Paulo! – Oi mana! - respondeu ele. Seguiu adiante, sem olhar para trás. Chegou à portinhola do balcão que separava o bar do salão, abriu e passou, fechando-a em seguida. Deixou a bolsa no armário e veio ficar no balcão como fazia sempre. Ao vê-la passar Rodolfo ficou olhando-a até que ela ficou detrás do balcão. Nesse momento PERIGOSAS ACHERON


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Paulo já se dirigia a outro cliente que o chamara. Ele levantou-se e foi caminhando na direção do bar. Parou na sua frente pelo lado do salão. Apoiou os braços no balcão e cheio de sorrisos interpelou-a. - Como você se chama? - Diana – disse ela apenas. Pelo tom da voz na resposta, dava a entender que respondera simplesmente por educação. - Gostei de você. Tu és muito bonita. – falou com um largo sorriso no rosto. - Obrigada, mas, desculpe-me te achei muito antipático - respondeu com franqueza sem nenhuma manifestação de que gostara da observação. - É. Talvez porque você não me conheça bem, mas pelo menos podemos ser amigos não é? - É talvez... - falou não muito convincente. E deixando-o ali afastou - se indo para o caixa PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS do bar que ficava no outro canto. Sentou-se no banquinho que havia, ficando de frente da caixa registradora. Ele por alguns minutos ficou ali parado, observando os movimentos dela. Ao vê-la acomodar-se saiu de onde estava e veio até ela, parando novamente em sua frente como se a conversa de antes não tivesse terminado ficou a observá-la, tornando-se irritante. Ela já sem saber o que fazia com aquele homem plantado ao seu lado. Levantou a cabeça e nesse momento seus olhares se cruzaram. Com aquele olhar penetrante fixando-a nos olhos disse: - No primeiro momento que a vi gostei muito do seu jeito. Você é muito comunicativa, batalhadora... Eu já sei tudo sobre você e também já conheci e gostei muito da sua filha. – e não obtendo nenhuma resposta continuou - gostaria de te namorar. Sei que no momento estou desempregado, mas estou procurando, para que PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS mais tarde não te envergonhes de mim – havia franqueza na sua voz. - É impossível! Eu já tenho namorado e se chama Jonatas! Eu gosto muito dele e ele de mim! – disse categórica e seu rosto ficou rubro de raiva pela petulância dele. “Que cara presunçoso!” – pensou. Já estava habituada com os caras desses tipos de conversas quando estava ali. - Mas isso para mim não é problema, pois ficarei esperando o tempo que for preciso para ficar contigo – respondeu sorrindo se deliciando com o jeito dela. - Não perca seu tempo, pois nos amamos e já faz tempo que namoramos e quem sabe vamos nos casar. - retrucou com raiva da audácia dele naquele momento. - Não tem problema eu posso esperar, serei paciente – falou como se antevisse o futuro para PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS eles. “Realmente esse cara é maluco! Amo o Jonatas e não vou deixá-lo por esse aí”. – pensou e deu-lhe as costas indo atender um cliente que queria pagar a conta. Rodolfo viu que não ia conseguir nada naquele momento com ela, afastou-se. Postou-se novamente no lugar onde antes estivera. Ajeitou-se na cadeira para ficar observando-a melhor. Seu olhar seguia os movimentos dela insistentemente. O modo como agia atendendo os clientes, o encantava, porém não se aproximou mais. E por sua vez ela se comportava como se ele não existisse ali. Quando o bar esvaziou um pouco mais, comunicou para seu irmão que iria embora: estava cansada. E pegando sua bolsa foi embora dali sem sequer olhar para Rodolfo. Diana realmente estava convicta do amor que sentia por Jonatas. Estava de namoro há quase PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS três meses. Ele, Jonatas, trabalhava como modelo fotográfico. Aparentava seus vinte e dois anos, com um metro e setenta de altura, cabelos negros lisos, de pele clara, realmente podia-se dizer que era muito charmoso. Além de ser um dançarino assim como ela, adoravam se divertir nas festas juntos. Sempre atencioso com ela e sua filha. Não deixava de todas as vezes que vinha encontrá-la de trazer um mimo. Muito romântico, seu amor demonstrava nas cartas que enviava todos os dias e nos telefonemas amiúdes quando não estavam juntos. Poderia se dizer que era um homem que sabia cativar uma mulher. Alguns meses depois... Na segunda feira, o calor tropical já abrandava na tarde com a vinda morosa da noite. Diana ao chegar do trabalho encontrou Ana já com seus dois PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS anos, sentada na calçada brincando em frente da casa, observada pela avó, da cadeira do pátio. Foi até ela, que ao vê-la, sorriu candidamente. Chegou e sentou ao seu lado abraçando-a. - Como foi na escola hoje? – perguntou-lhe colocando a filha no colo. - Foi bom. - O que você fez? – indagou a mãe. - Eu ajudei a tia - respondeu Ana toda contente na sua meiguice. - E.. Meu coleguinha. Nesse instante pressentiu como se alguém as observasse. Fez o movimento com a cabeça para o lado e deparou com o olhar de Rodolfo a fitando insistente, em pé, lá da porta do bar. Não lhe deu muita importância. E novamente retornou para a conversa com a filha. Ele embevecido olhava aquela cena de mãe e filha conversando, e saindo do bar, caminhou até a casa dela. Deparou-se com dona Marta ainda sentada no pátio e entrando PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS entabulou a conversar. Depois de alguns minutos conversando com Ana decidiu levantar – se. Estava cansada, iria tomar um banho e trocar de roupa. Convidou a menina para ir com ela. E assim fizeram. Ao entrar, porém, já o encontrou no pátio com dona Marta. Entretida que estava com a filha não percebeu quando ele chegou. Ana vinha na frente dela e quando passou por eles, Rodolfo comentou com a avó. - Essa sua neta é tão bonita, pena que não goste de mim. Ana virou o rosto para ele e disse: - Eu não gosto de ti! - dizendo isso fez uma cara zangada e passou ligeira entre eles, porta adentro. Diana que vinha logo atrás, ao passar entre os dois falou: - Com licença. Mas Rodolfo muito insinuante sugeriu: PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS - Porque você não senta e conversamos todos juntos? - É mesmo! - retrucou a mãe querendo sair dali e não sabia como. - Tudo bem. Vou deixar minha bolsa lá dentro, pois cheguei do trabalho alguns minutos atrás comentou entrando na casa. Pouco depois retornou e sentou – se. - Aqui estou, qual é o assunto mesmo que vocês estão conversando? - perguntou gentilmente. Nessa hora dona Marta aproveitando a chegada dela levantou – se dizendo: - Fica fazendo companhia para o Rodolfo que eu tenho algumas coisas para fazer lá dentro - e entrou deixando-os sozinhos. Ele todo empolgado com a chance de estar com ela ali iniciou a conversa. - Você trabalha muito, quase não a vejo. – disse ele. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS - É que eu tenho muitos compromissos no trabalho para resolver e às vezes termino muito tarde. É por isso que as pessoas daqui quase não me veem – respondeu com um sorriso “baixando a guarda” com relação a ele e continuou - nos finais de semana tenho que cuidar da Ana ver o material da escola, essas coisas que uma mãe tem que verificar – concluiu. - Você deveria trabalhar menos e se divertir mais, porém eu vou acabar com isso quando estivermos namorando - disse num tom que a desagradou. Sentiu- se como se fosse propriedade dele. Ela o fitou com raiva e retrucou meio atravessado. - Eu, namorar contigo? Nunca! - dizendo isso levantou da cadeira e entrou em casa revoltada o deixando sozinho no pátio. Rodolfo percebera que fora infeliz na sua investida. E vendo-se ali sozinho, levantou e foi embora. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS Depois que deixara Rodolfo sozinho no pátio, não falara mais com ele. Vivia da casa para o trabalho e vice versa. Os dias passavam melancólicos... Lá se fora uma semana que ele não a procurou mais, tampouco telefonava. Ela perdia-se na solidão. Mesmo com sua vida intensa de trabalho, mas ainda existia espaço para sentir a falta de Jonatas. Às vezes se encontrava devaneando os momentos tão felizes quando estavam juntos. Agora sua ausência tornara-se amiúde. Foram-se três meses de namoro. E agora... A indiferença revelava-lhe o quanto estava diferente o comportamento de Jonatas. Ele há dias que simplesmente evaporara-se. Diante de tanta frieza por parte dele, começou a desconfiar de que tivesse outra namorada já que mudara tão radicalmente havia alguns dias atrás. Ainda procurou conversar com ele, sem sucesso. Ele não atendia seus PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS telefonemas e na casa dele quando o procurava não estava. Aquele amor cheio de ternura que demonstrara por ela, pouco a pouco sentia se esvaindo e não sabia o motivo. Ainda tentava rebuscar na memória algo que realmente houvera para esse silêncio, mas não encontrava. “O que será que tinha acontecido para ele ter mudado assim tão radicalmente?” - pensava e não compreendia o porquê daquela mudança. Seu coração entristecido, não queria aceitar o fim do amor que pensara ser para toda vida e que agora se perdia pela ausência absurda da total falta de diálogo. “Onde estava aquela pessoa tão apaixonada? Onde se escondera o amor tão grande que jurara sentir e que a enchiam de sonhos de uma vida a dois?” – as inúmeras perguntas tumultuavam seu coração. Buscou refúgio no seu trabalho. A dor era maior quando chegava a hora de retornar para PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS casa. Ainda ficava na expectativa que ele estivesse a sua espera. Vã ilusão. E nessa lacuna que ficou, sem ao menos um adeus, resolveu então, não mais se envolver com ninguém. Era mais uma pessoa, que saía da sua vida deixando cicatrizes. No trabalho era incansável, em casa, abrigou-se no amor por sua filha para não sofrer, com a ausência que ainda sentia por ele.

Fecha-se uma porta. Naquela manhã de novembro bateram à porta. Dona Marta veio atender e deparou-se com a mãe de Jonatas em lágrimas perguntando desesperada. - Dona Marta! Dona Marta! A Diana está aí? - Está! - respondeu ela. - Por quê? O que foi que aconteceu? – Indagou vendo a aflição em que a PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS outra se encontrava. - O Jonatas dona Marta! Faz uma semana que desapareceu de casa e desde então, não tenho notícias dele. Estou desesperada! – desabou a sua preocupação para a amiga. Ela, comovida pela aflição estampada no rosto da vizinha convidou-a para entrar. E a segurando pelo braço adentraram na sala. Pediu que sentasse no sofá. Era visível no semblante choroso o desespero da mãe com o sumiço do filho. - Mas porque a senhora só agora veio aqui? Podia ter vindo antes! – comentou solícita. E acrescentou. – espere um pouco que ela está aqui em casa. Vou chamá-la. Foi na direção da cozinha chamando alto. - Diana? Diana? Venha aqui que dona Laura quer conversar contigo! Ela ao ouvir sua mãe gritar seu nome veio rapidamente ao seu encontro, trazendo Ana pela PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS mão. Estava ajudando no almoço enquanto sua filha ao seu lado brincava. Juntas vieram atender o chamado. Entrando na sala ficou surpresa ao encontrar dona Laura aos prantos. Imediatamente veio até ela. - O que foi que aconteceu? – abraçando - lhe perguntou, aflita com o estado emocional da senhora. Acomodando-se ao seu lado - Eu vim ver se o Jonatas estava aqui. – respondeu soluçando, enquanto as lágrimas rolavam copiosamente na face. - Ele não está aqui. Já faz muitos dias que eu não encontro com ele – respondeu melancólica mas diga - me o que devo fazer para ajudá-la? – perguntou visivelmente preocupada, enxugando as lágrimas do rosto dela. Dona Laura no auge do desespero lhe suplicou. - Você poderia me ajudar a procurá-lo? Então PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS seríamos três; eu, você e o irmão dele o Alan. Cada um iria para um lado. Você verifica nos hospitais se deu entrada ou se está internado; o Alan irá para as delegacias. E eu vou procurar pela casa de parentes e amigos dele. - Tudo bem dona Laura eu vou – concordou - mãe eu vou deixar a Ana aqui. - Está certo. Pode deixar que eu cuido dela. disse a mãe. E assim fizeram. Foi um rebuliço na rua com a notícia do desaparecimento de Jonatas. As pessoas amigas se prontificaram em ajudar a mãe desesperada. Rodolfo soube por Paulo o acontecido e prontificou-se também em ajudar na procura junto com os outros amigos. O dia todo naquela busca, porém ninguém sabia onde ele estava. Percorreram as delegacias, hospitais e casas de amigos, nada! Não PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS conseguiram respostas. Já era noite quando ela e sua mãe foram até a casa de dona Laura. Não conseguiram notícias, mas existia a esperança de que pelo menos dona Laura já tivesse alguma informação. Bateram na porta. Quando a porta se abriu a encontraram com os olhos vermelhos de tanto chorar. Entrando na sala a abraçaram. - Não tem novidades ainda, não é dona Laura? – perguntou Diana comovida. - Não, ninguém sabe nada. Foi como se o chão tivesse aberto e Jonatas desapareceu nele. - ela comentou chorosa. Para amenizar sua dor Diana fazendo conjecturas comentou. - Talvez ele só esteja viajando. Com certeza vai chegar. Não se preocupe. Vamos esperar. Logo, logo ele vai dar notícias – cogitava procurando acalmá-la. - É mesmo! - reforçava a mãe - a Diana tem PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS razão. Daqui a pouco ele vai chegar você pode ter certeza! – e afagou-a passando a mão no braço da amiga. Dona Laura agarrou-se a essa ideia como náufrago. E quando elas saíram já a deixaram com o semblante menos sombrio. Após duas semanas desse episódio, Diana estava na casa de sua mãe quando comentou sobre o assunto de que não tinha nenhuma notícia. E então decidiram retornar à casa de dona Laura para saber se ele tinha aparecido. Bateram na porta. Apareceu dona Laura. Convidou-as para entrar. Notaram que seu semblante já não era o mesmo de antes. Havia o brilho de alegria iluminando aqueles olhos antes marejados de lágrimas. Ao entrar tiveram uma grande surpresa quando se depararam ali, esparramado no sofá da sala, como se nada houvesse acontecido... Ele! PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS - Jonatas! Onde estavas? Ficamos procurando você por todos os lugares! Sua mãe estava desesperada! – Diana questionando veio ao seu encontro. De repente passou pela sua cabeça que ele estivera todo aquele tempo na casa de alguma garota. Enquanto sua mãe seguia dona Laura para a cozinha. Foi então que ele, endireitando-se, vindo por fim a sentar-se, respondeu com a maior naturalidade. - Eu estava na casa de um amigo. - Mas por quê? – replicou ela, na frente dele. - Na verdade, eu discuti com a mamãe, então peguei minha mochila e fui para casa do meu amigo. - E você já o conhecia muito tempo? - Eu o conheço há mais de um ano e ele me falou que quando precisasse poderia ir para o apartamento dele. Ela ficou pensativa analisando aquela atitude e nas mudanças que vinham PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS ocorrendo já há algum tempo. Realmente ele não era o mesmo. Havia mudado muito, principalmente com ela. Nos olhos dele não tinha mais o brilho de antes. Daquele amor cheio de ternura e cumplicidade onde estava? A única coisa que vinha em seu pensamento é que para ele o amor que dizia ter não era verdadeiro. Diante dessa frieza, sem um pouco de consideração pelo sentimento dela, via ruir seu castelo de sonhos como areia a desmanchar-se entre seus dedos. “Como pudera ser tão tola! Por não querer enxergar o que nas mudanças dele estavam tão visíveis!” Agora ali, na sua frente, ele se portava como se ela fosse apenas uma estranha. Que nada tivesse que ser explicado. “Não! Essa não era a pessoa que ela amava tanto”. Sentia que seu coração se partia em mil pedaços em constatar o gelo daquele diálogo. “Não! Não havia retorno, chegou à conclusão de que agora era claro, que não fazia mais parte na PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS vida dele”. Foi tirada de suas divagações quando ele comentou. - Bom, mas já estou aqui não é? – esparramou-se novamente como se com aquele gesto estivesse dando por finalizada a conversa. - É, e nós já estamos indo. Vamos mamãe! – chamou-a - Tchau! – disse e seguiu para a porta. - Tchau! – respondeu ele. - Nós já vamos então. – despediu-se a mãe de Diana saindo com dona Marta da cozinha e dirigindo-se para a porta de saída. - Até logo! – disseram. - Até logo- respondeu dona Laura. Elas se retiraram. Enquanto caminhavam para casa, Diana tomou a decisão: que a partir daquele dia, colocaria o ponto final para a história de amor entre eles. Não voltou mais a procurá-lo. O visitante. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS No final de semana seu pai lhe pedira que fizesse um almoço especial. Já se passara uma semana da conversa que tivera com Jonatas. A família reunida ao redor da mesa na sala de jantar. Ouviram bater na porta. Jaime levantou-se e foi atender. Retornou. Foi com surpresa que Diana viu quem o acompanhava naquele momento. Sim, era Rodolfo, com aquele típico riso no rosto saudando a todos. Seu Antônio o patriarca gentilmente o convidou, para que viesse sentar-se à mesa e participar da refeição com a família. Rodolfo não se fez de rogado e prontamente se sentou na cadeira vazia que havia ao lado de Diana. - Filha, pegue um prato e sirva o nosso visitante. - pediu o pai. Ela levantou-se acatando o pedido de seu pai e o serviu. Após colocar o prato em sua frente se afastou dali indo para a cozinha quando ele perguntou: PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS - Diana foi você que fez o almoço? - Foi - respondeu para não ser mal educada, antes de entrar na cozinha. - É... Você tem muitas qualidades – comentou com um sorriso. Ela apenas lançou lhe um olhar feroz e se retirou, não mais voltando para a sala de jantar, enquanto ele permaneceu na casa. No sábado seguinte havia o aniversário da filha da vizinha. Rodolfo chegando já entrou na casa. Era normal ele entrar sem precisar ser anunciado, pois já o consideravam como amigo da família. Encontrou com Diana na sala sentada no sofá verificando as tarefas que sua filha trouxera da escola, enquanto ela brincava do seu lado. Ao se aproximar dela perguntou: -Você vai ao aniversário? Eu também fui convidado! – e não obtendo qualquer confirmação por parte dela, retirou do bolso da calça um PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS pacotinho, gentilmente a ofereceu. - Olhe eu trouxe um presente para você e também para Ana. - eram dois bombons de chocolate. Ele abaixou-se e entregou um para Ana que estava do lado dela e novamente estendeu a mão. Desta vez ela aceitou o mimo oferecido. Porém levantou-se, foi até a estante e o deixou lá em cima, retornando para o mesmo lugar. Rodolfo viu a grande indiferença com que ela pegou e deixou o presente que dera. - O teu gesto mostra que não me suporta. Agora percebi pelo modo com que pegaste o bombom – comentou entristecido. - É verdade! – respondeu ela, com firmeza. - Mas eu vou mostrar para você que estás errada a meu respeito! – dizendo isso categoricamente indo embora dali, sem esperar a resposta atravessada, que com certeza, ela diria. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS Os dias passavam e Rodolfo cada vez mais se tornava parte integrante daquela família. Estava em todos os lugares, especialmente dentro da casa de seus pais. Embora ela o tratasse com frieza não dando a mínima importância. Mas em algumas vezes em que passara por onde ele estava, o seu olhar cruzava com o dele espichado em sua direção. No domingo seguinte, um amigo de Diana chegara com uma fita de vídeo. Queria mostrar o trabalho que estava desenvolvendo numa cidade do interior e trouxe para que assistissem. Acomodaram - se na sala para ver e, lá estava também Rodolfo que viera com Paulo, depois que este fechara o bar. Bom para assistir filme melhor fazer pipocas. Pensando assim ela foi para cozinha. Quando estava pronta trouxe e serviu a todos. Com a vasilha já vazia foi até a cozinha e deixou a tigela na pia. Na porta entre a sala e a cozinha havia uma cortina separando-as. No exato instante em que a PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS cruzava vindo da cozinha para a sala, deparou-se de frente com Rodolfo, que rapidamente a puxou contra si, e deu-lhe um beijo na boca. Pega de surpresa, ela o empurrou, nesse instante seus dedos entrelaçaram na corrente que ele trazia no pescoço arrebentando-a e derrubando ao chão. - Eu te amo! – falou ele apaixonadamente. Com um safanão ela desvencilhou dos braços dele e saiu em direção do quarto com raiva. Ainda caminhava pelo corredor quando cruzou com sua mãe que observara a cena e comentou: - Eu vi tudo. Você sabia que ele está gostando de ti? - Mãe, não se preocupe, ele não me interessa! - e dizendo isso, entrou no quarto se jogando na cama. Ficou lá até quando soube que Rodolfo tinha ido embora. Depois desse incidente nos dias que se seguiram não mais falou com ele, porém, começou PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS a procurar saber com alguns amigos, quem era Rodolfo afinal e, como tinha aparecido ali. A semana escorria... Na quinta feira já anoitecia quando, chegando do trabalho, resolveu passar no bar para falar com o irmão. Ao entrar dirigiu-se até o balcão onde Paulo estava. Após ter conversado com ele avistou Rodolfo sentado num canto. Percebeu algo estranho com ele. Estava ali todo encolhido e notou que de vez enquanto, estremecia. Ficou olhando-o.... e sentiu compaixão. Lembrou-se que ele estivera na procura de Jonatas, agora, era ele que estava precisando de ajuda. Seu coração se enterneceu e solícita se aproximou. Ao chegar à sua frente perguntou - lhe: - O que está acontecendo contigo? - Não estou me sentindo bem. Tenho muito frio e dor de cabeça – respondeu com a voz entrecortada e o corpo trêmulo. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS - Deve ser gripe. Vou pegar um analgésico e um lençol para te cobrir, logo passará o frio. E assim fez. Foi até sua casa trazendo o remédio e o lençol. Ao cobri-lo tocou-lhe no braço e sentiu que ele estava queimando de febre. Foi até seu irmão e conversando disse o que tinha observado e propôs que a melhor solução agora, era tomar uma providência. - Paulo! Vamos levá-lo a um posto de saúde, ele está precisando de cuidado médico urgente! - É verdade Diana. Então vamos! - Paulo concordou olhando para Rodolfo enrolado no lençol, tremendo de frio ali, na cadeira. E então fechou o bar, que naquela hora, estava sem clientes. Chamou o táxi e o levaram para o hospital. Ao chegar ao pronto socorro, o médico que o atendeu verificou que, seu estado de saúde estava muito grave e após as formalidades o PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS internou imediatamente. Na manhã seguinte, antes de ir para o trabalho foi até o hospital para verificar como estava. Quando chegou ao balcão de informações e solicitou notícias sobre Rodolfo disseram que o paciente já tinha recebido alta, porém ainda permanecia no quarto e que poderia ir até ele. Ela dirigiu-se para lá. Ao chegar o rosto de Rodolfo iluminou-se. - Obrigado Diana! Eu nunca tinha encontrado alguém que ajudasse outra pessoa, sem ao menos conhecê-la direito - falou agradecido pelo gesto dela e de Paulo. E assim Rodolfo abriu o livro de sua vida e contou alguns trechos das páginas. Ela ficou ouvindo-o falar e tirando algumas das interrogações que pontuava a vida dele que ela queria saber como: Que chegara a alguns meses de São Paulo e viera tentar trabalhar em Belém. Tinha poucos PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS conhecidos e seu primeiro amigo naquela cidade estranha tinha sido Paulo. E agora ela que o ajudara. Naquela conversa franca Rodolfo conseguiu que ela baixasse sua guarda com relação a ele e a atingiu no sentimento tão pungente que tinha: a solidariedade. - Não se preocupe. Nós sempre ajudamos as pessoas que precisam – disse - eu já vou, tenho que ir trabalhar. Tchau! – e saiu. Restabelecido Rodolfo voltou a frequentar a casa, porém, ela mudara sua atitude, antes tão arredia, agora já trocavam algumas palavras, sem muito despeito. Os dias iam passando... E na sua procura de mais informações, Diana curiosa começou a indagar sobre como ele tinha aparecido ali, mas eram vagas informações que soubera. Tinha aparecido no bar todo vestido de branco no dia oito de dezembro. Disseram ainda, que naquele dia ele PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS mencionara que estava chegando da orla do distrito de Icoaraci onde estava acontecendo as homenagens a Yemanjá, divindade adorada pelos seguidores do candomblé, e que para os católicos é o dia de Nossa Senhora da Conceição. Que viera de São Paulo com um amigo que o hospedara em sua casa quando chegara a Belém. E, essas eram as únicas informações que conseguira saber. Diana estava na casa de seus pais quando Rodolfo chegou e a encontrou, sentada no sofá da sala lendo uma revista. Aproximou-se e sentandose ao seu lado falou. - Eu sei que você gosta de bombons então, trouxe um para ti e outro para Ana - enquanto falava meteu a mão no bolso da calça e retirando mostrou sorrindo. Ela calmamente virou a página da revista, e nesse ínterim, olhou para ele e depois para a mão que mostrava os bombons, voltando a olhar PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS novamente para a revista, sem nenhuma emoção, apenas respondeu. - É... Dá para a Ana e o meu deixe aí na mesa. - Porque você é sempre tão fria comigo? Mas um dia esse teu jeito vai mudar. Você ainda será minha! – disse convicto do que queria, porém ela revidou. - Eu! Cruz Credo! – e dizendo isso bateu três vezes com a mão na mesinha que estava próximo dela, com cara de espanto pela audácia dele. Ele, porém não se fez de rogado com a resposta, aproximou-se de Ana que brincava perto dela, desembrulhou um e o deu para a menina que recebeu sem pestanejar e o outro, deixou em cima da mesa como ela dissera, e saiu rindo em direção do bar. Ela ainda estava no mesmo lugar quando sua mãe passou por ela e viu o bombom, pegou e colocou na estante seguindo para a cozinha. Passaram - se três dias do acontecido quando PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS ela ao voltar do trabalho viu o bombom ainda na estante e o comeu. A partir daí ela viu seu mundo dar reviravolta. Dessa noite em diante, passou a sonhar com Rodolfo. Ele vinha em seus sonhos, brincando e sorrindo para ela. Acordava assustada com aquilo. Muitas noites sucederam-se de ter o mesmo sonho. Ás vezes acordava, levantava - se ia até à cozinha tomar um pouco d’água para se acalmar. Os dias foram passando e todas as noites voltava a sonhar com ele. “Meu Deus o que está acontecendo comigo? Eu não o suporto, como é que ele fica vindo sempre em meus sonhos? O que está acontecendo? Será que estou começando a gostar dele? Será?” - perguntava – se no auge da sua angústia. Outra semana fora-se. Naquela segunda feira já no final do expediente o segurança veio avisá-la que havia uma PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS pessoa a sua procura. Ela saiu da sala e se dirigiu até o hall. Chegando tomou um susto. Seu coração acelerou com a surpresa, quando se deparou que a pessoa que estava lá era: Rodolfo! Num ímpeto de raiva, aproximou-se e ordenou-lhe apontando a saída. - Vai, vai embora daqui! O que vieste fazer? - Eu vim te levar para tua casa – respondeu ele com um sorriso largo na face. - Mas eu não te pedi nada! Pode ir embora! falou com aspereza. As pessoas pararam para observar a cena. De repente ela caiu em si ao notar pelo olhar das pessoas o vexame que estava dando ali no trabalho. Engoliu em seco e para não ser muito mais grosseira, pois estava no ambiente de seu trabalho disse: - Tá bom então fica aí! - e dizendo isso foi para sua sala “pisando fundo” com raiva dele. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS Chegando, sentou - se e ficou pensando: “Ó meu Deus como se não bastasse ficar perturbando - me lá em casa, agora, ele vem aqui no meu trabalho!” E quando terminou o expediente ele a acompanhou, até sua residência. Ao chegarem Rodolfo pediu: - Fica um pouco para conversar. Porém ela deu uma desculpa, estava muito chateada com a atitude que ele tomara sem a consultar. - Não! Eu estou muito cansada, e vou dormir cedo – entrou sem dar tempo de ele argumentar. No dia seguinte, lá estava ele a esperando novamente. Desta vez ela não agiu como na tarde anterior e aceitou a companhia. Que com o passar dos dias se tornou rotineiro. Rodolfo com ideia fixa de conquistá-la a envolvia nas artimanhas em que o sexo oposto se utiliza para conseguir seus objetivos: gentilezas. E assim era fácil conquistá-la. Sua vida envolta em mistério, diante dela se PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS descortinava aos poucos com as conversas que tinham no retorno do trabalho, o que a fazia mais e mais interessada em saber realmente quem era ele e sua história de vida. Rodolfo cada dia a envolvia em suas artimanhas, não deixava de dar ênfase no sentimento que nutria e que realmente estava apaixonado. E ela cada vez mais ia enveredando nas conversas e atitudes de bom moço, tirando com isso a primeira impressão que havia sentido antes, quando o achara muito mau caráter e faroleiro.

Página Virada. Chegara o final do ano. As casas enfeitadas davam um ar festivo na cidade. Seu Antonio recebera o convite para ir com a família na casa de uma vizinha para a festa de final de ano. Rodolfo chegou dizendo que também havia PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS sido convidado e sendo assim, foi na companhia deles. A festa estava movimentada. Os vizinhos eram pessoas de muita vivacidade. E iam chegando. A mesa aos poucos ia ficando cheia com os comes – e - bebes, que cada vizinho trazia para a ceia. Instalaram o som, e a música inundou o ambiente. O salão começou a encher com os pares dançando em meio a muita alegria. Rodolfo no meio do salão entre os convivas dançava com uma garota. Diana começou a observá-lo e seu interesse foi aguçado por que ele, realmente dançava muito bem. E nesse terreno ela sabia muito bem porque adorava dançar. Ao olhar e viu que havia chamado a atenção dela. Olhou-a de soslaio e um risinho despontou em seu semblante, e, quando iniciou a próxima música foi quando ele se aproximou e pediu que aceitasse dançar, dessa vez ela não se fez de rogada, e foi. Depois te terem dançado várias músicas, já bastante PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS cansados, sentaram-se num canto da sala e ficaram a conversar sobre os mais diversos assuntos. E foi então que realmente ela abriu seu coração falando da sua vida, sobre sua filha e a dolorosa separação com o pai de Ana. E assim a festa transcorreu na maior alegria entre eles. Já os primeiros raios da aurora coloriam o firmamento, quando a festa terminou e todos saíram. Rodolfo e Diana já em frente da casa dela beijaram-se longamente na hora da despedida. Enfim Rodolfo vencera a resistência dela. Já havia decorrido um mês desde que estavam namorando. Todos os finais de semana que ela não estava trabalhando saíam para o cinema e depois iam tomar sorvete. Ela estava radiante diante de tanta demonstração de afeto e carinho, renascia com esse novo sentimento por ele e penetrou pelos caminhos floridos que o coração se extasia diante de tanto desvelo. Cada vez mais PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS aquele sentimento de antipatia de antes ficava distante. Tudo caminhava às mil maravilhas. Mas o destino fez das suas, quando seu irmão mais novo Jaime que também não ia muito com a cara de Rodolfo os viu, caminhando de mãos dadas. Ficou atônito com aquilo e, encostando-se ao umbral da porta de entrada ficou olhando a cena sem querer acreditar. Enquanto isso eles paravam em frente ao bar do Paulo. Abraçaram-se e beijaram-se apaixonadamente. Depois que a deixou entrou no bar, ela continuou caminhando para casa. Teria que buscar Ana. Assim que entrou Jaime a seguiu questionando. - Mana, tu estás namorando, com esse cara? Nós nem sabemos quem ele é? Só que veio de São Paulo. Ninguém conhece realmente a família dele. E tem mais, nem empregado está! Apenas vive vindo aqui. Quem sabe até tenha alguma coisa com PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS a justiça de onde veio ou talvez alguma doença contagiosa que mais tarde venha a te prejudicar – realmente ele a questionava por querer protegê-la. Amava a irmã e só queria preveni-la para que não sofresse. Mas Jaime não sabia que já era tarde demais. Ela não queria escutar ninguém. Estava envolvida por aquele rapaz gentil que Rodolfo demonstrava ser. E a partir daquele dia em diante ela não teve mais sossego. “Sua família tratava Rodolfo como se fosse amigo da família. Então porque começaram a criticá-la desde que souberam que estavam namorando?” - questionava-se. Já se passaram alguns dias desde que Jaime os pegara no “flagra” e que passara a ouvir as censuras de seus familiares a respeito do namoro. A noite soturna avançava no tempo. Ela estava deitada pronta para dormir, porém, o sono não vinha. Seus pensamentos voaram em direção PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS aos momentos com Rodolfo. Depois pousavam no atrito que estava havendo com sua família por estarem namorando. Começou a refletir sobre isso e, principalmente as insinuações que Jaime fizera vieram martelar em seus pensamentos. “Será que ele tem razão? Realmente seria amor o que estava sentindo por Rodolfo? Ou apenas se apegara por carência afetiva? Mal o conhecia. Essa era a verdade. O que sabia dele? Apenas o que lhe dissera. E se seu irmão tivesse razão?” De repente percebia que uma névoa estava se desfazendo diante de seu olhar. A razão começava a se sobrepor ao sentimento do coração. A madrugada chegou e ainda a encontrou revolvendo-se entre travesseiros, na cama pensando sobre o assunto. De manhã, quando levantou da cama, já havia tomado uma decisão, porém iria aguardar até a noite, quando ele chegasse. A noite PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS chegou sombria, no tempo e no coração de Diana. Estava nervosa, ficava olhando o relógio e o tempo passar lentamente e ele... Demorava-se. Já eram vinte horas. Depois de várias vezes ter indo no pátio, ela avistou Rodolfo aproximandose da casa. Ao vê-la lhe esperando ali, estampou o mais belo sorriso no rosto e acelerou o passo, aproximando-se mais rapidamente da casa. Ao chegar à sua frente foi abraçá-la, porém ficou estupefato quando sentiu a atitude estranha dela esticando os braços com as mãos espalmadas na sua frente num jeito defensivo fugindo do seu abraço. Ali parada em sua frente ela desabou sua decisão. - Rodolfo eu estou terminando tudo. Não quero atrito com a minha família. Pela expressão do rosto dele notava-se visivelmente que ficou sem entender aquele PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS comportamento dela. - Mas por que Diana? - perguntou espantado com aquele rompante. - Porque você não tem emprego, apenas está morando na casa de seu amigo de favor! – e assim desfiou o rosário de respostas que até então vinha ouvindo todos os dias de seus familiares quanto a situação atual dele. - Mas eu ainda tenho dinheiro que eu trouxe de São Paulo! Por enquanto eu não preciso trabalhar! – revidou suas desculpas. - Quando o dinheiro terminar como você irá fazer? - Não se preocupe eu me viro. Isso não é motivo para você terminar tudo. – redarguiu sorrindo. Porém naquela hora ela estava irredutível não dando ouvidos aos apelos dele e deu o seu ultimato. - Não adianta. Está tudo terminado! - e PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS virando-se deu as costas e entrou na casa deixando ele plantado lá no pátio sem tempo de replicar. Ficou sem ação com a atitude dela. Viu-se ali, sozinho, sem ação e.... foi embora.

O Pedido. Nos dias que se seguiram, Rodolfo não apareceu no bar e tampouco na casa dela. Pensando que estava tudo resolvido ela seguia sua vida normalmente. Ouviram batidas na porta. Dona Marta veio atender. Ali estava uma senhora de meia idade querendo falar com sua filha. - É aqui que mora a Diana? - Não. Ela mora mais adiante. Aqui é a casa dos pais. Mas ela sempre vem para cá com a filha, no sábado – respondeu ela. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS - Eu queria muito falar com ela. - Não se preocupe, porque hoje ela está aqui. - Ela está? Eu preciso tanto falar com ela. pelo jeito como se iluminou o rosto da senhora era notório que, era urgente o que tinha a dizer, dona Marta percebeu. - Está sim. Entre. - pediu encaminhando-a para sala – Sente-se aqui – e indicou-lhe um lugar no sofá. Dona Marta já estava acostumada com as pessoas que chegavam querendo falar com sua filha em busca de que lhes prestasse algum favor. E gritou da sala. - Diana tem uma senhora querendo conversar contigo! Vem aqui! Não demorou muito ela veio atendendo o chamado. Chegando à sala tomou um susto ao reconhecer a senhora que ali estava. Era a dona da casa onde Rodolfo estava morando. Mas não se fez PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS de rogada e aproximando-se gentilmente perguntou. - Diga senhora. - Eu vim aqui te pedir que vá até em casa, Rodolfo está muito doente, não tem se alimentado desde terça feira. Pediu-me que viesse aqui para dizer que quer falar contigo com urgência! Diana estava num beco sem saída. Ela não sabia o que fazer naquela hora. De um lado sua família, do outro uma pessoa que precisava de ajuda. Naquela indecisão olhou para a mãe e perguntou. - O que eu faço mãe? - Vá minha filha ver o que esse traste quer, para depois não dizerem que ele morreu por tua causa – resmungou com cara de poucos amigos e saiu da sala indo para a cozinha. Ela olhou para a senhora, com um sorriso amarelo como a pedir desculpas pelo que a mãe PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS dissera. - Espere um instante. – disse. Foi até seu quarto, trocou de roupa, pegou sua bolsa e retornou para a sala. E ao chegar na frente da senhora convidou. - Podemos ir agora. Vamos? - Obrigada por ter atendido ao meu pedido – agradeceu a senhora levantando com certa dificuldade. - Não tem de quê senhora – respondeu enquanto saíam. Ao chegar o encontrou com aparência abatida. Estava deitado no sofá da sala com os olhos semicerrados. Ao avistá-la levantou-se como se de repente aquele corpo antes inerte tivesse criado vida. Um sorriso expandiu-se naquele rosto pálido, cheio de olheiras, denotando noites mal dormidas. - Diana eu já arranjei emprego! Estou numa PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS sociedade com uma amiga. Eu comprei algumas máquinas de costuras e ela entrou com os tecidos, você não sabia que eu sou estilista não é verdade? falava pelos cotovelos e era notória a alegria de têla em sua presença. - É, fico feliz que você esteja se saindo bem. – comentou sem muita eloquência, olhando tudo com atenção. Ali estavam realmente as máquinas de costuras. Na mesa, tecidos cortados, papéis rabiscados, lápis espalhados em cima denotando que alguém estivera trabalhando muito. - Agora nós já podemos voltar a namorar – falou todo esperançoso segurando uma das mãos de Diana. - Não! Vamos primeiro dar um tempo, até você se estabilizar, depois veremos como ficamos – redarguiu retirando a mão que ele segurara. A senhora que a trouxera ainda estava na sala, e, observara que o modo como o diálogo entre PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS eles estava caminhando, não estava realmente indo para um final feliz e resolveu interceder por ele. - Você está perdendo um bom partido. Ele já fez nesta semana algumas peças lindas. - dizendo isso foi até uma cadeira e trouxe uma peça. Que estava dobrada no assento, e suspendendo falou. – Olha só este vestido? - era um vestido longo, azul turquesa, rodado, no feitio tomara que caia. - e ainda tem mais – disse - e mostrava o vestido para ela, com visível alegria no rosto, procurando também comovê-la. Diana olhava tudo com atenção. Rodolfo pediu que o acompanhasse até a mesa para mostrarlhe mais algumas peças e, os rascunhos dos desenhos feitos por ele, de que realmente estava trabalhando. Quem sabe assim conseguiria seu intento: demovê-la da decisão. Ouvia os pormenores que ele ia explanando sobre o trabalho. A calma dela exterior era o PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS reverso que dentro de si estava. Estava diante de um impasse, como iria fazer? Se de um lado seguia seu coração ou se do outro ouviria a sua razão! Conversaram por algum tempo ainda, enquanto Rodolfo mostrava-se animadíssimo. Pensava ele que: se ela estava ali, era porque resolvera voltar com ele. Porém, para sua surpresa quando ela se despediu repetiu. - Não Rodolfo! Não vim aqui reatar nosso namoro. - estava firme no propósito de que por enquanto, não queria reatar e despediu-se. Ele ficou sem ação, ali em pé no umbral da porta, vendo Diana se afastar. Duas semanas depois daquele encontro, Rodolfo voltou a vir buscá-la depois do trabalho. Após alguns dias tentando nas suas investidas amorosas, naquele final de tarde finalmente conseguiu seu intento. Abraçou-a e beijando-a falava baixinho, as palavras mais envolventes em PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS seu ouvido, os sentimentos de amor e paixão que nutria por ela. Que não conseguia viver sem ela, e assim conseguiu convencê-la de que realmente estava apaixonado. Envolvida pelo desejo de seu coração desta vez ela não o afastou e correspondeu. E quando ele sussurrou em seu ouvido que aceitasse como namorado ela concordou. Depois que ela se despediu foi para a casa de seus pais buscar a filha. E quando deu a notícia para a família o mundo desabou na sua cabeça. Todos criticaram pela sua decisão. Seus pais eram contrários ao namoro, deixaram bem claro para ela, naquele momento ali na sala.

Será Amor? Dois meses de namoro... Rodolfo a cada dia a enfeitiçava com seu carinho e isso era notório. Os passeios, as gentilezas, eram como afagos na vida PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS de Diana depois da desilusão que tivera. Ele a envolvia de tal maneira que já não bastava se encontrarem por algumas horas. À noite estavam ali abraçados no sofá da sala, quando Rodolfo cheio de amor, falou do seu desejo. - Diana eu te amo. Quero casar contigo. Não posso mais deixa-la aqui sozinha com Ana. Eu não consigo viver sem você. Você aceita o meu pedido? – e a abraçou carinhosamente beijando-a apaixonadamente. - Eu aceito, mas tens que pedir para os meus pais. – ela impôs sua condição. Mas como sempre ele não se deu por vencido, sorriu e concordou. - Tudo bem, nós iremos até a casa deles amanhã quando chegares do trabalho. Não se preocupe, vou pedir sua mão para eles, como queres. Está bem assim? - ele falou baixinho a envolvendo em seus abraços novamente. - Está certo então. – disse ela aconchegando PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS mais nos seus braços. No outro dia à tarde Rodolfo fora buscá-la no trabalho, como sempre fazia. Ao entrar na sala onde ela trabalhava, recebeu o mais belo sorriso de mulher apaixonada. Então teve certeza que ela agora estava em suas mãos e retribuiu o sorriso dela. Foi até ela que estava em meio a tantos papéis. Beijaram-se. Depois foi sentar-se aguardando Diana sair. Terminado o expediente ela pegou sua bolsa e saíram de mãos dadas. Antes de seguir para casa, foram buscar Ana na casa dos avós. E como havia sido combinado, ele faria o pedido. Chegaram. Quando entraram na casa, os pais de dela estavam sentados no sofá, na sala, vendo televisão. Ele sempre muito educado cumprimentou a todos como fazia sempre. Avistou uma cadeira ao lado do sofá onde os pais dela estavam. Aproximando-se veio e sentou. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS Enquanto isso Diana dirigiu-se até o quarto pegar as sacolas que trouxera de manhã com as coisas de sua filha. Retornou logo em seguida para sala trazendo Ana pela mão. Eles se entreolharam dando a entender que chegara o momento. Ele então levantou e foi até onde ela estava e segurando-lhe a mão a trouxe diante dos pais. “O que ele queria?” – perguntavam-se sem entender aquela atitude estranha. Ele então se pronunciou. - Eu quero pedir a mão de Diana em casamento. - falou sorrindo para ela. - Como? – perguntaram espantados. - Eu quero casar com Diana e estou pedindo sua permissão. – e sorriu para o pai que estava com cara de espanto pelo pedido e como, estava acontecendo. Remexeram-se no sofá. O pai olhou para a mãe que também foi pega pela surpresa. Passado um minuto, já refeito, o pai a fitou e perguntou. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS - E você quer casar com ele, minha filha? – indagou o pai. - Quero papai! - respondeu ela, sorrindo para Rodolfo. - Mas não achas que é muito cedo? Vocês estão namorando a pouco tempo... - a mãe questionou, não gostando muito daquele pedido. - É verdade minha filha! Vocês se conhecem tão pouco! Porque não esperam mais um pouco até se conhecerem melhor. – insistia o pai. Mas Diana não dava “ouvidos”, a preocupação que seus pais tinham. Não queria saber das inúmeras interrogações que existia na vida de Rodolfo. Sua mãe ainda tentava de todos os meios “abrir seus olhos” para aquele pedido tão importante. Argumentaram, porém, ela estava irredutível na decisão. Não dando ouvido, a eles. A única certeza que tinha era que amava Rodolfo e sim queria casar com ele. Realmente ele a PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS emaranhara em sua teia de sedução tão forte que ela não queria tomar conhecimento do que lhe alertavam. Seu pai sentiu que debalde era agora insistir. Sua filha já tinha tomado a decisão e nada que dissesse, iria demovê-la. Então, sem muita emoção acatou o pedido. - Está certo então. Tem o nosso consentimento. Mas, com uma condição: a Ana ficará morando conosco. Ela acatou a condição que seu pai impôs aprovada pela mãe. Sabia que sua filha estava em boas mãos e que poderia vir vê-la todos os dias. No início de fevereiro casaram. Rodolfo viera para a casa de Diana e a partir do dia do casamento Ana passou a morar com os avós. Final do mês de fevereiro. A manhã estava ensolarada. Depois de uma semana de trabalho o sábado chegava para relaxar. Resolveram ir PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS almoçar no final de semana com os pais dela. Mesmo tendo concordado em deixar a filha sob os cuidados dos avós, não deixava de vê-la todos os dias, na volta do trabalho, antes de ir para casa.

Solidariedade. Naquele dia Rodolfo tinha saído e ela ajudava a mãe preparar o almoço, quando bateram palmas lá fora. Jaime sentado no sofá da sala fazia seus trabalhos escolares, ouviu as palmas e levantou-se indo atender. Era Alan irmão de Jonatas. Notou no semblante dele as rugas de preocupação e perguntou-lhe: - Oi Alan o que foi que aconteceu? - A Diana está? Queria tanto falar com ela... – pediu ele. - Está sim. Diana, Diana! O Alan quer falar PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS contigo! – chamou alto ele, preocupado com o olhar triste do amigo. - Já estou indo! – respondeu ela no mesmo tom lá de dentro da cozinha. Ao se dirigir para a porta da frente a fim de atendê-lo, dona Marta que estava também na cozinha a acompanhou. Ao chegarem notaram que algo estranho estava se passando pelo jeito tristonho dele. - Oi Alan o que houve? – perguntou apreensiva se aproximando. - O Jonatas pediu que eu viesse até aqui te buscar. Ele precisa muito conversar contigo. – respondeu ele. Ela estranhou o pedido, porque desde aquele dia após o sumiço dele, não o tinha visto. Agora estava casada, com certeza ele já sabia. Então, porque queria conversar com ela? – ficou pensando... Mas resolveu ir. E olhando para dona Marta falou. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS - Mãe eu vou até lá – e dizendo isso acompanhou Alan. A casa ficava a duas quadras da sua. Durante o trajeto conversaram sobre coisas banais, porém, Alan não disse nenhuma palavra sobre o assunto que o irmão queria conversar com ela. Ao chegarem ela parou no pátio, Alan a deixou ali. Entrou seguindo para a cozinha. Diana o chamou pensando que ele estivesse na sala como da outra vez. - Jonatas? - sem resposta - Jonatas! – repetiu – não obtendo resposta entrou na sala. Não havia ninguém no seu interior. Tentou outra vez mais alto. - Jonatas, Jonatas! – repetiu novamente mais alto. - Venha aqui Diana, estou aqui no quarto! – ouviu que a resposta vinha do quarto dele no andar de cima. Caminhou para lá. A porta estava PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS entreaberta. Abriu-a devagarzinho e parada ali, verificava o recinto. - Olá Diana, vem até aqui. – convidou-a. Ela se aproximando, o encontrou deitado na cama, debaixo do cobertor. Achou estranho aquele jeito dele, porque lá fora, fazia um calor imenso. Observou o estado deplorável em que se encontrava. Estava com profundas olheiras, o rosto pálido e o corpo antes tão elegante agora definhava a olhos vistos. - O que foi que aconteceu com você? – perguntou apreensiva ao chegar à sua frente, sem entender o que realmente estava acontecendo. - Diana eu gostaria que você me ajudasse – pediu ele quase implorando. - Em quê? – perguntou espantada. - Estou doente há três meses com problema de diarréia e passei a ter febre todos os dias. Gostaria que você me ajudasse já que PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS conheces tanta gente na área de saúde. Fui ao médico que me falou que deve ser algum problema com a água, mas já tomei o remédio e não adiantou de nada. - Pode ser algum problema de estômago. Deves procurar um especialista – ela comentou. - Qual? – perguntou ele. - Um infectologista para saber o que tens disse. Vou te dá o endereço do laboratório de um amigo meu. Diga que foi a Diana quem indicou para que faças exames e assim detectar o que realmente tens - e dizendo isso foi até a mesinha que havia no quarto. Encontrou uma caneta, um caderno e pegou também. Abriu-o e anotou o endereço e o nome da pessoa. Tirou a folha e entregou- lhe. - Obrigado Diana. – agradeceu segurando o papel com as anotações. Ela fitou-o compadecida vendo o estado PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS debilitado em que se encontrava, indo a todo o momento ao banheiro. Ainda conversaram sobre que remédios ele tinha tomado, os efeitos dos medicamentos e, o que estava sentindo. Esgotado o assunto ela se despediu. - Eu já vou indo, ainda tenho que terminar algumas tarefas em casa – frisou e saiu. No trajeto para a sua casa ficou pensando “O que será que ele tem? Vou fazer de tudo para ajudar” - falou mais alto no seu coração a solidariedade humana. Chegando em casa, ao entrar no pátio, sua mãe a interpelou. - O que o Jonatas queria contigo? - ela ficou pensativa, não tinha coragem de falar como o tinha encontrado e apenas respondeu: - É que ele está um pouco adoentado e queria que eu conseguisse uma autorização para PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS que fizesse alguns exames o mais breve possível. – e entrou na sala encontrando com sua filha que brincava. Com o passar dos dias ela não conseguia deixar de pensar no estado deplorável em que vira Jonatas. E depois de muito pensar não se conteve com a falta de notícias e resolveu lhe fazer uma visita. Ainda encontrou-o de cama, estava mais abatido do que o vira dias atrás. Sentiu um aperto no coração ao vê-lo. Suspirou fundo, se aproximou, parou na sua frente e sorrindo perguntou: - Como você está hoje? Foste ao laboratório? – indagou-o. - Fui. O médico requisitou vários exames e sugeriu que fizesse o teste do HIV (Vírus da Imunodeficiência Humana – é o vírus causador da AIDS). Estou preocupado. Será que ele pensa que eu estou com AIDS (Síndrome da Imunodeficiência PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS Adquirida)? – Sua voz saiu estremecida como se a última pergunta tivesse sido feita mais para ele do que para ela. - Não! Não vamos pensar no pior. Talvez ele só queira tirar algumas dúvidas. – disse com eloquência tentando não fazê-lo pensar numa situação pior do que já estava. - quantos dias vão levar para entregar os exames? – interpelou-o. - Vou receber o resultado depois de três dias de alguns exames, mas o outro ainda vai demorar um pouco – respondeu ele. - Qual? – perguntou ela frisando o cenho. - O teste de HIV. - Quantos dias? - Trinta - respondeu ele apenas num sopro de voz após um longo suspiro. Uma nuvem de angústia pairava no ar, inundando aquele quarto e também os pensamentos. Ela perguntou sobre o estado de PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS saúde, os remédios que estava tomando e outras coisas banais. Depois de algum tempo ali ela foi embora. Enquanto se passavam os dias, Diana continuou sua vida. Às vezes Jonatas povoava seus pensamentos e, vinha à tona o exame que ele ficara de fazer, mas, nada dissera ainda. E, passaram os trinta dias, sem ele entrar em contato. Diana nesse dia fora a casa de seus pais visitar Ana e ficara ajudando sua mãe a preparar o almoço. Cortava os legumes quando bateram palmas à porta de entrada. - Vou lá ver quem é - disse ela para a mãe. Deixou o que estava fazendo, lavou as mãos e quando estava enxugando ouviu novamente bateram palmas. Saiu dali ligeira em direção ao pátio. Já fazia quarenta e cinco dias desde que PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS falara com Jonatas, e agora, ele aparece ali, na sua porta. Pela aparência debilitada deduziu que, ainda não estava bem. - Olá Diana. Queria falar contigo - pediu cabisbaixo – e também com a dona Marta – completou tristemente. Ela estranhou o pedido, mas sorrindo saudou-o. - Oi Jonatas, vamos entrar? – convidou ela. Ele a seguiu até a sala. - Ela está na cozinha, vou chamá-la. – foi até a cozinha e expôs a sua mãe o que tinha acontecido e sobre o pedido dele. Sem pestanejar, foi com para a sala, onde ele as aguardava. As duas sentaram-se cada uma de um lado dele no sofá. Apreensivas, com a aparência debilitada, entreolharam-se. Ali estava uma pessoa derrotada. A cabeça baixa, ombros caídos como se o fardo que carregava estava além das suas forças. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS E que, só o fato de estar ali se expondo, fosse um sacrifício sobre humano. - Eu queria conversar com vocês duas um assunto muito importante. Mas quero pedir que, guardassem este segredo. Não quero que a mamãe e ninguém mais saiba o que vou revelar para vocês – falou desolado. Com esse pedido sentiram que seria uma conversa muito sigilosa e chegaram a uma conclusão que seria melhor que conversassem em outro lugar. - Vamos para o quarto. - sugeriu dona Marta levantando-se e caminhando para o local, seguida por eles. Foram para lá. Entraram, sentaram-se na beirada da cama. Jonatas ficou entre as duas novamente. Naquele momento Diana perto dele o fitou, e viu naquele semblante que uma tristeza extrema ali, transparecia. A cabeça baixa, a palidez PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS no semblante, as olheiras profundas... Era como se ali estivesse uma pessoa derrotada. E naquela conclusão, sentiu um calafrio percorrer todo seu corpo. O silêncio, gélido pairou naquele instante no quarto. Após alguns minutos, com os olhos marejados de lágrimas ele começou a falar baixinho, entrecortado, chorando muito. - Dona Marta eu... sou portador do vírus do HIV...eu, estou com Aids - e num impulso a abraçou dando vazão as lágrimas. O silêncio só era quebrado pelo choro dele. Abraçava dona Marta como um filho procura proteção de sua mãe. Os minutos se passavam sem ninguém proferir uma palavra sequer. Depois de se acalmar a soltou e com os olhos marejados virou-se para Diana e suplicou: - Me perdoa Diana. - disse ele desolado. Perplexa ainda com a confissão dele, fitou aquele rosto banhado de lágrimas, sem entender o PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS sentido daquele pedido. Ainda estava em transe com a confissão sentindo como se tivesse levado um soco no estômago. Pelo modo com que o olhava era nítida a impressão que seu cérebro tinha entrado em “parafusos” revirando. O que realmente estava por vir? Devia estar se perguntando quando retrucou. - Como isso aconteceu se nem namorada você tinha? – perguntou ela. - Aí é que está. Eu poderia conversar com você a sós? - perguntou para ela sem olhar para dona Marta. Dona Marta já perplexa com o que acabara de ouvir levantou-se e se retirou, deixando – os ali sem dizer uma palavra. Ela fitou-o profundamente dentro do seu olhar por alguns segundos e, perguntou já inquieta. - Porque você pediu que eu te perdoasse? - Eu te pedi perdão porque, na verdade nunca PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS fui àquela pessoa que você imaginava que fosse. Eu não fui digno do teu amor. Quando estava contigo te traía. - confessou ele. - Mas quem era ela? – perguntou com o coração dilacerado. - Ela? Vou te dizer. Não sei se sinto vergonha de te falar ou raiva de mim mesmo. Ela na verdade é. Ele! – dissera ele. - Ele? Então você me traía com outro homem? - o horror estampava-se no rosto dela. - Sim, e há bastante tempo. – respondeu ele. Desviou o olhar, não conseguia encará-la. “O fardo, pesado demais, precisava tirar de seus ombros.” Não conseguia mais continuar mentindo. Não para ela. “Diria tudo, foi para isso que viera ali”. – pensava decidido. Por alguns minutos ficou ali com os olhos arregalados olhando para ele estupefata! Digerindo o que acabara de ouvir da boca de Jonatas. “Então PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS tudo fora mentira? Não conseguia acreditar! E as declarações de amor por ela, foram inverdades? Não sabia o que dizer”. O mutismo caiu no meio deles! Passados alguns minutos, Diana rompe a mudez ainda perturbada pela declaração, pergunta. - Você, o ama? – perguntou ela, buscando nos olhos dele a certeza da resposta. - Sim. Estou apaixonado por ele. - respondeu ele sem pestanejar. - Então aquele seu sumiço era no apartamento dessa pessoa que você estava? – ela viu cair a névoa que embaçava o desaparecimento e a atitude dela naquela ocasião. - Sim. - confirmou, sem esboçar nenhuma emoção. - E ele já sabe que você é soro positivo? ela o indagou. - Sim, porque logo que recebi o resultado o PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS procurei, foi então que ele revelou que também era soro positivo e que havia me contaminado. - E você não vai fazer nada? Não ficou com raiva dele? - ela o inquiria, não conseguindo admitir tanta passividade por parte dele. - Não, eu o amo muito. – declarou ele, sem inculpabilidade. Aquela revelação fora demais. Tudo que idealizara com ele, ruíra. Daquele Amor, não restava pedra sobre pedra, apenas, pó ao vento. Diana estava desolada com tudo. Nada mais havia para ser dito entre eles. - Eu já vou embora. – disse Jonatas – vim aqui te dizer por que queria que soubesses por mim tudo o que te falei agora – acrescentou, levantandose. E, saíram do quarto, até o pátio. Ali se despediram amistosamente e ele foi embora. Daquele amor de antes, agora apenas existia solidariedade por uma pessoa que precisava de PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS ajuda, apenas isso, concluiu vendo ele se afastar. Apรณs essa conversa Jonatas nรฃo voltou mais a procurรก-la. Soubera depois que ele passara a viver a vida que escolhera.

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CAPÍTULO II Vereda Tortuosa.

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Estava amando novamente. Vivendo sua história de amor. Rodolfo demonstrava sua paixão intensamente a cada dia e ela correspondia seduzida por tanto amor. Viviam na mais perfeita harmonia. Com muita ternura e paixão. Há oito meses que estavam casados. Já era tempo para que a confiança que tinha nele fizera PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS com que, deixasse de lado a questão dele usar o preservativo. “Não havia razão para usá-la, ele me ama” pensou. Estavam casados, não precisava usar preservativo (a camisinha) e assim, deixaram de manter relações sexuais usando-a. Quando saiu do trabalho já era noite. Chegou em casa. Entrou. Encontrou Rodolfo deitado no sofá da sala vendo televisão. Sorriu. Foi até ele e deu-lhe um beijo. Ele correspondeu e voltou a prestar atenção no noticiário na TV, enquanto ela seguia direto para o quarto. - Vou tomar um banho, o dia para mim foi exaustivo com tanto trabalho. – comentou, ela. Entrou no quarto, foi até o cabide e deixou sua bolsa pendurada. Despiu-se e vestiu o roupão de banho. Foi para o banheiro. Quando entrou ouviu Rodolfo chamando-a. - Diana venha aqui um instante, rápido! – PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS gritou ele, lá da sala. - Já estou indo – disse ela retornando para a sala. Ao chegar ele continuou a falar. - Venha ver o noticiário que está passando agora na televisão. Ela sentou ao seu lado. Ali ficou com os olhos bem abertos e ouvidos atentos no que o repórter noticiava na tela. A entrevista estava sendo feita com um soro positivo que nas suas últimas palavras revelou que a partir dali, só estava esperando a morte, um fim muito triste para uma pessoa que ansiava por viver. A matéria era sobre os pacientes contaminados pelo vírus do HIV em fase terminal. Era questionado o porquê de ainda não ter medicamentos para combater a doença. Quando foi encerrada a entrevista ela comentou chocada com o que acabara de ouvir. - Essa doença é tão terrível e ainda não tem medicamento para combater? Como é que vão ficar PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS as pessoas que são desse grupo de risco? perguntou horrorizada com a notícia e num relance lembrou-se da confissão que Jonatas fizera há tempos atrás. Ela já tinha ouvido falar desse grupo de risco na clínica que trabalhava como técnica de patologia clínica, porém, não sabia da extensão que a doença acometia os portadores. - Como vai ficar? Elas vão morrer! respondeu Rodolfo sorrindo. - É muito triste saber disso. Antes o sexo tinha significado de Amor hoje é de Morte. – frisou tristonha. Rodolfo sorrindo mais ainda colocou o braço em seus ombros e a puxou para junto de si, com uma das mãos segurou seu queixo. Agora o riso dele era de escárnio, enervante, naquele rosto que ela amava tanto. Olhou-a bem no fundo dos seus olhos e comunicou. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS - É querida. Você sabe que já faz parte dessa família? - Que família? – perguntou espantada. - Dos aidéticos. – sentenciou ele. Foi como se tivesse levado um choque elétrico. Ela se afastou abruptamente dele com os olhos arregalados pelo susto. - Como? Eu nunca me envolvi com esse grupo de risco! - disse categórica para ele. - Aí é que você se engana! – respondeu ele com um risinho cínico. - Por quê? – indagou não conseguindo entender. - Você se envolveu. - e gargalhando ficou de pé na sua frente. - Com quem? – perguntou incrédula, levantando bruscamente, saindo de perto dele, pálida. Sentiu o sangue querer fugir das veias. - Comigo. Eu sou bissexual – falou com a PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS maior naturalidade indo até ela a envolvendo de novo num abraço. Ela deu um safanão nele, desvencilhando daquele abraço. Sentiu o chão se abrir e afundar atingida por um raio fulminante. Visivelmente apavorada o olhava não conseguindo acreditar no que Rodolfo acabara de revelar. - Você só deve estar brincando! – falou apavorada com a notícia macabra que acabara de ouvir. Ele por sua vez se deliciava com o pavor que os olhos dela refletiam a cada momento em que revelava seu segredo. O medo e o terror estavam ali estampados no rosto dela. Era com satisfação mórbida que ia expondo toda a realidade para ela. Apunhalando-a pouco a pouco em que ia desvendando o mistério em que estava envolvido e que durante muito tempo escondera. - Não, não estou brincando e posso te PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS provar que fazes parte dessa família. - acrescentou ele. Enfiou a mão no bolso da calça, retirou a carteira e de documentos e de dentro dela um papel que desdobrou e depois lhe entregou. Com as mãos trêmulas ela segurou o papel e leu. Ali estava o atestado de positividade feito pelo hospital das clínicas de São Paulo. Aquela era a comprovação de que tudo o que dissera era verdade. Sua visão embaçou. Sentiu fraquejar suas pernas. Apoiou-se no sofá. Não acreditava no que estava lendo. O sangue gelava nas veias com essa revelação bombástica! Não aguentou mais, desesperada desabou em lágrimas. Os pensamentos se atropelavam em sua cabeça. “Ouvia o Jaime falando. É... Só agora sabia que ele tinha razão. Porque não dera ouvidos a ele? O que iria fazer agora? Seus pais não queriam que ela casasse. Porque não os escutara? Tanta coisa que deixou para trás... Sua filha, família e agora não sabia que PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS rumo tomar”. O chão desaparecia sob seus pés e ela enveredava num redemoinho louco. Estava caindo vertiginosamente num abismo. Andava trôpega, para um lado e outro da casa, as mãos no rosto, chorando copiosamente. Enquanto ele ria, sarcástico, vendo o desespero em que ela se encontrava. - Não se preocupe meu amor você não vai morrer ainda. – dizia ele, e gargalhava como se tivesse possuído por espíritos malignos. Ela não o ouvia mais. Pensou na sua família, como iria chegar e contar para eles? E andava da sala para cozinha e entrava e saía do quarto, pensando, pensando... Estava marcada para morrer! Quanto tempo teria? Um mês, dois ou quem sabe, talvez até três! – naquele momento ruía por terra todos os seus planos de vida, apenas as palavras sinistras que Rodolfo dissera repercutiam em sua PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS cabeça. Enquanto ele ria vendo o modo como ela agia. - Não se preocupe meu amor você não vai morrer ainda – falava. Fechou-se em “copas”, não sabia como iria fazer a partir daquela revelação. Ficou trancada em casa sem ir trabalhar. Tinha dois empregos. Um no escritório de Assessoria de Comunicação, onde trabalhava de manhã, há quatro anos. E a tarde, seguia para a clínica de saúde, onde já fazia nove anos, que atuava como patologista. Na clínica, quantas vezes chegara pacientes acometidos dessa doença, já em fase terminal. Aquelas imagens tão doloridas, passavam como um filme retornando das suas lembranças... O estado em que eles se encontravam, era, desesperador! E agora, ela se via como um deles. Não iria ver sua filha crescer. Estava fadada ao infortúnio. Aquilo ficava martelando em sua PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS cabeça dias após dias. Amanhecera nublado. Após duas semanas sem sair tomara a decisão de contar para a família. Rodolfo saíra. Ela bebeu um pouco de café, arrumou tudo na casa, trocou de roupa, pegou a bolsa e saiu. Caminhava apressada, o frio da manhã batia-lhe no rosto e gelava seu corpo e a alma. Ela precisava urgente de calor, de calor humano. Durante o trajeto até a casa de seus pais, fazia suas conjecturas de como seria recebida. “Será que iriam aceitá-la? Sim, eles iriam, era sua família.” Esperava que a acolhesse. Mandaria Rodolfo embora da sua casa e viveria como antes. Sua família não iria abandoná-la. Iriam compreender a situação dela agora. E com esses pensamentos otimistas, chegou à casa de seus pais. Foi recebida como sempre, com carinho pelos pais e irmãos. Brincou com sua filha. Tudo estava tão PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS igual, tudo como antes. Mas a exceção ali era ela, na sua cabeça havia uma tempestade tenebrosa, deixando seu coração envolto numa tristeza sufocante. As horas passavam e ela com o coração cada vez mais acabrunhado. Tinha que ter coragem para contar o que acontecera. Queria ficar ali com eles, não desejava mais voltar, para Rodolfo. Ali, estava protegida, no seio da sua família. Sim, iria contar. Dividir aquele sofrimento que lhe martirizava a alma. Seus pais e irmãos estavam na sala assistindo televisão. Foi até sua mãe e a abraçou, em seguida com o pai fez o mesmo gesto. Estavam todos na sala, essa era a hora de falar-lhes. Suspirou fundo. Seu coração oprimido acelerava em seu peito. E, então, numa força sobre humana comunicou. - Eu quero falar com todos. Tenho que lhes confessar... – parou. Um nó preso em sua garganta a sufocava enquanto as lágrimas desabavam na sua PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS face. – eles a olharam curiosos. Engoliu em seco. E por fim, o mais doloroso que tinha a dizer, relatou voz entrecortada. - eu me contaminei... Com o vírus do... HIV. - falou soluçando. A bomba estava lançada. Eles se entreolharam estupefato com aquela declaração. Olhavam-na com visível constrangimento. Passado o primeiro momento do impacto da revelação dela, dona Marta num ímpeto se levantou e rispidamente perguntou. - Como tu te contaminaste? Essa doença é só de grupo de risco! - Foi com Rodolfo, - respondeu soluçando ele me disse e... Comprovou para mim... que é soro positivo. - falou arrasada. - Bem que eu não gostava dele! - replicou Jaime com raiva, andando de um lado para outro. Tinha o punho fechado e socava na outra mão, como se com isso, procurasse dar vazão ao ódio PERIGOSAS ACHERON


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que naquele momento estava sentindo. - E o que você veio fazer aqui? – a mãe perguntou com rispidez. - Mãe, eu vim pedir apoio – suplicou chorando amargamente. Ali estava sentindo-se tão sozinha e abandonada. Queria que eles a ajudassem, neste momento tão difícil, que não conseguia raciocinar direito. Alguma palavra de carinho era o que precisava agora, para amenizar a cruel realidade que estava passando. Porém não contava que sua mãe agisse daquela forma. Ela fora compreensiva com Jonatas e ele não era filho. - Pode ir embora! A partir deste momento em diante eu não tenho mais filha! E esqueça também a Ana! – vociferou sua mãe indicando-lhe a porta de saída. E seu pai naquele momento também a repudiou. - Eu também não tenho mais filha, ainda mais com essa doença baixa – falou ele, exaltado pela PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS raiva e levantou – se, virou as costas, abandonando a sala. - E não venha mais aqui! Que pode contaminar todos nós. Eu te avisei, para não te meter com ele e você não deu ouvido! Também agora não te queremos mais! Pode ir embora. E não chega perto da Ana, que podes passar a doença para ela e também para nós. Saia daqui agora! Não chegue perto! – falou a mãe, saindo da sala furiosa. Jaime chorava, porque não podia fazer nada para ajudá-la e Paulo possesso com a situação, gritava. - Eu vou matar esse calhorda! Eu vou matar! Veio aqui abusar da nossa confiança! – e andava nervoso na sala, vermelho de raiva. “Havia sido usado por Rodolfo para chegar até sua irmã”. Era a conclusão que o abatia naquele momento. A situação estava chegando ao extremo e Diana suplicava para que Paulo desistisse daquele PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS intento de vingança. - Não Paulo, não faça isso! Não vale a pena sujar as tuas mãos com ele. Pense nisso meu irmão, eu imploro! Aos poucos ela e Jaime conseguiram acalmálo, demovendo da intenção de cometer desatinos. Seus pais já haviam se retirado da sala, indignados com a atual situação diante da revelação que fizera. Fora repudiada pelos pais agora não tinha mais ninguém. Não, não era isso que ela viera buscar no seio da família. Despediu - se dos irmãos. Foi embora mais desesperada do que quando chegara. Agora não tinha mais ninguém. Sentia - se perdida para a vida. Andou por várias horas a esmo. Até quando deu por si, estava diante de sua casa. Quando entrou Rodolfo estava deitado no sofá. Ao vê-la a inquiriu por que tinha passado todo aquele tempo fora. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS - Onde estavas? – perguntou ele. - Fui conversar com meus pais. – respondeu ela com a tristeza na alma. - E como foi lá? O que eles falaram? - Você conseguiu que todos me abandonassem! Vá embora, me deixe! – respondeu com ódio dele, e foi direto para o quarto. - Não, eu não vou. Eu sou teu marido e daqui eu não saio! – foi categórico. Ela estava revoltada e mandava que ele desaparecesse da sua vida. Mas Rodolfo gargalhando falava. - Não se preocupe meu amor. Eles vão encontrar a cura. As primeiras gotas. No dia seguinte... Ali estava ela. Na sala do diretor da clínica. Aguardava nervosamente ele PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS terminar a ligação. Seu coração angustiado apertava, mais e mais dentro do peito. Fazia um esforço tremendo para não desabar as lágrimas em sua face. Diante dela aquele senhor meio atarracado, de bigodes e barba bem feito, calvo e os poucos cabelos que ainda tinha já começavam a embranquecerem. Antes tão amigo, agora, assumia proporções gigantescas diante da situação em que estava vivendo. “Será que ali estaria um anjo ou um carrasco?” – indagava-se. E os minutos passavam... E ela a esperar. Finalmente o diretor desligou o celular e o depositou em cima da mesa. Recostou-se na poltrona, olhando-a sorriu complacente. - Então dona Diana, o que a senhora quer falar comigo? – perguntou ele. - Eu tenho uma declaração a fazer e espero sinceramente a sua compreensão – disse ela, e PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS baixou a cabeça e o olhar, enquanto apertava as mãos frias e suarentas. - Mas fale? – indagou-a - vamos ver o que podemos fazer pela senhora. – disse compreensivo. - É que meu marido... – as palavras davam nó na sua garganta, e saíam atropeladas pelo nervosismo – ele me contaminou com o vírus... do HIV e eu... – não conseguiu prosseguir, o diretor pôs se de pé como se fora impulsionado por uma mola. - O quê? O que estás me dizendo?! A senhora não pode mais trabalhar aqui! – no semblante dele estava o horror estampado, com o que acabara de ouvir. Ficou andando de um lado para o outro na frente da poltrona enquanto suava “às bicas,”. - Eu preciso ficar trabalhando! Tenho que sustentar minha filha. – falou ela cabisbaixa. - Você pode a vir contaminar a todos os meus funcionários. Não, não posso ficar com você PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS trabalhando aqui! - Por favor! Deixe-me ficar! – insistia ela desesperada. - Vou assinar sua demissão. Passe agora na tesouraria para receber seu pagamento. - falou categórico. E no mesmo instante pegou o celular e ligou para o departamento de pessoal e ordenou que fosse feito imediatamente a baixa de sua carteira de trabalho. - Agora a senhora passe na tesouraria para receber suas contas. – disse ele, sem ao menos olhar para ela. Naquele momento estava dando por finalizado o assunto com ela. Diana olhou aquele rosto e ali estava o preconceito estampado. Aquele senhor sempre tão afável, agora a tratava como um ser desprezível. Sempre fora uma funcionária exemplar, mas ali, não fora levado em consideração. Abalada com a reação dele, ainda questionou. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS - O senhor sabe que isso é discriminação e preconceito? Um médico não pode falar como se fosse uma pessoa sem estudos. - revoltada ela ainda argumentava. Mas ele, apenas apontou-lhe a porta. Já estava atendendo outra ligação. Diana saiu e dirigindo-se até a tesouraria, recebeu um envelope com a sua indenização. Caminhou para a porta de saída com a alma em prantos. Tantos anos trabalhando, sempre procurara ser uma funcionária exemplar e agora fora despedida. A partir dali, ela se deu conta de que, a condenação de ser soropositivo é levar o fardo da discriminação e do preconceito. Retirou-se. Durante o trajeto para casa, já no ônibus, resolveu passar antes, na casa de seus pais. Entregaria a metade do pagamento que recebera para custear as necessidades da filha. E assim fez. Quando chegou bateu palmas na frente. Atenderam. Porém não a deixaram sequer passar do pátio. Ali, PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS seus pais a ouviram relatar o que tinha acontecido. Trataram-na como se estranha fosse. Tampouco trouxeram sua filha para vê-la com medo de que se tocasse na criança iria contaminá-la. Ela então tirou de dentro da bolsa um envelope amarelo e em seguida entregou para seu pai. Dentro dele continha a metade do pagamento que recebera da indenização. E este repassou para mãe que, com meticulosidade pegou o dinheiro que ele tirou do envelope. Dissera-lhes que seria para ajudar nas despesas com Ana. Ficou um silêncio entre eles. Nada mais foi dito. E ali a deixaram. Recebia mais uma punhalada: a discriminação da sua família. E desta vez a mais cruel, a mais dolorida, foi, a de não deixarem ver sua filha. Saiu dali cabisbaixa e tomou o rumo da sua casa. Não fora ao escritório de Assessoria. Tinha medo que recebesse a mesma resposta que fora PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS proferida pelo diretor da clínica. Fechou - se na sua dor, nada mais importava. “Iria expulsar Rodolfo de casa. Ele era o culpado de estar vivendo nesse inferno que se tornara sua vida”. - pensava desvalida de qualquer atitude de otimismo. Havia decidido colocar tudo para fora o que estava sentindo e seguir adiante, sozinha. O amor de antes se transformara em desprezo. Já passavam das vinte e duas horas quando Rodolfo chegou. Entrou e jogou-se no sofá exalando bebida alcóolica e a perfume barato. Ela se aproximou, e diante dele tomou coragem e foi decidida. - Eu quero que você vá embora daqui para sempre! Não achas que já foi longe demais o que fizeste comigo? Fiquei sem minha filha e sem minha família. Será que ainda não é o bastante para ti? Pegue suas coisas e vá embora! – falou rispidamente. Ele a olhou abismado com aquela PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS atitude dela, antes tão passiva! Levantou-se. Mas na sua arrogância não se deixou intimidar e a ameaçou: - Eu vou sair daqui! Mas ficarei na mesma cidade, isso você não pode proibir! – ele não se deixava intimidar e ainda a ameaçou. - Está pensando que vai trabalhar? Tenha certeza que farei de tudo para que não retornes ao teu trabalho de antes! – arrotou sua ameaça. Ela com raiva foi até o quarto, abriu a cômoda, retirou as roupas dele, trouxe e jogou-as nos pés dele. Pegou a mochila que estava pendurada num cabide e jogou em cima. - Aqui estão! Pegue suas coisas e vá embora daqui. Já arruinaste minha vida! Esqueça me! – naquele instante ela o expulsava, da sua casa, da sua vida. Mas ele, não se dava por vencido e continuava falando em altos brados. - Você pode me expulsar, mas eu continuo PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS sendo seu marido! E vou ficar aqui por perto. Você não vai se livrar de mim – e juntou suas coisas, meteu-as na mochila bufando de raiva e foi embora, batendo a porta ao sair. Rodolfo fora embora. Naquela noite soubera pela vizinha que viera conversar com ela, que ele alugara um quarto na mesma rua, distante apenas duas quadras de onde Diana morava. A porta da casa ela fechou-a literalmente. Com os dias passando não saia sequer até o pátio. Não conseguia se alimentar. A única coisa que vinha em seus pensamentos era que iria morrer. Só o que sabia sobre essa doença era o que algumas pessoas informaram. As pessoas contaminadas não tinham muito tempo de vida. Diziam que seria logo, então para que se alimentar? Se a única certeza que tinha era que a partir dali, ficasse apenas esperando a morte chegar. “Sou portadora, vou morrer!” Isso a dominava em todos os PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS momentos. As pessoas que conversara sobre o caso diziam que ela tinha pouco tempo de vida. Essa doença não tinha remédio. A única certeza era de que sua vida estava por um fio. E na sua mente em desalinho delineava a proximidade do peso do cajado da morte! Enquanto isso, Rodolfo, com o passar dos dias, após sair da casa de Diana não se interessou mais pela empresa que montara. A vida para ele era gastar todo o dinheiro que recebia, com bebidas, mulheres e jogos de azar. A empresa que montara, sem ele para comandar começou a decair. A sócia resolveu pôr fim a sociedade, já que ele não comparecia para dar seguimento nos trabalhos. Vindo por fim, a fechar a loja de confecções. Eles fizeram o levantamento do que havia ainda, venderam e dividiram o montante em duas partes. E de posse do seu quinhão a partir dali estava desfeita a sociedade. Cada um seguiu para o seu lado. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS Depois de ter gasto todo o dinheiro que lhe coubera na partilha dos bens da loja, Rodolfo começou a vir todas as noites bater na porta da casa de Diana a suplicar que voltasse com ele. Mas ela mantinha – se irredutível. Não dava ouvidos às lamúrias dele. Estava sozinha, porém, sentia-se aliviada pela ausência do seu carrasco. Já bastava ter que viver atormentada pela visão de que, nada mais poderia ser feito para reverter o que já tinha: O vírus da AIDS. Definhava na sua solidão. Os dias passavam horrivelmente nebulosos em sua vida. Sem vontade de se alimentar enfraquecia a cada dia. Estava deitada no sofá, quando em seus devaneios veio na sua memória como uma luz no final do túnel. Sim, lembrou que seu tio e a avó não sabiam o que estava ocorrendo, quem sabe eles poderiam abrigála por um tempo. Ou até o seu momento terminal chegar. Decidiu que os visitaria no dia seguinte. E PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS assim fez. Como previra seus parentes a receberam com muito carinho. Seu tio, um senhor de um metro e setenta. Já de certa idade, forte, branco, um pouco calvo seus cabelos já prateavam. O bigode bem cuidado e o sorriso franco emolduravam sua face. Cuidava de sua avó, uma senhora de seus oitenta e cinco anos. De média estatura, branca, sempre existia um sorriso meigo naquele rosto rosado e olhos da cor do céu de tão azuis, quando conversavam. Seus cabelos, já estavam branquinhos, parecidos como nuvens de algodão, preso num coque. A casa deles era simples, mas acolhedora. Ali se sentia em paz. Ela tinha o carinho deles. Depois de conversarem bastante, mencionou que atualmente estava vivendo sozinha e comentou que agora ali com eles estava se sentindo tão feliz... Será que poderiam a deixar morar com eles? E que também poderia ajudar nas despesas de casa, PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS concluiu. E a avó frisou que ela viesse assim teria mais uma companhia. Eles concordaram e a acolheram. Diana mudou-se no mesmo dia. Estava morando com eles há quase dois meses. Sua vida mudara radicalmente estava vivendo em paz finalmente. Naquela tarde, porém, quando chegou do comércio seu tio enquanto abria a porta lhe falou: -Diana! Tens visita. – ele falou sorrindo. Ela sentiu um calafrio percorrer todo o seu corpo. Quando entrou, ele completou. - Está na sala a tua espera – concluiu retirando-se para a cozinha. Ao adentrar o recinto, deparou com Rodolfo muito à vontade no sofá. Quando a viu chegar levantou-se sorrindo vindo ao seu encontro querendo abraçar e beijar-lhe, como se tudo estivesse bem entre eles. - Eu vim saber se estava bem meu amor – PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS falou ele, com um risinho sarcástico, todo gentil. “Mas aquilo era uma afronta! Que cara de pau!” Sua raiva era tanta que ela explodiu: - O que você está fazendo aqui? Pode ir embora! Deixe-me em paz! Eu estou com as únicas pessoas da minha família que me aceitaram. Não estou passando necessidade e fome como quando eu estava contigo! - Mas tu sabes que te amo e que nunca vou te deixar – falou melosamente passando o braço envolto da sua cintura para abraça-la amorosamente. - Vai embora daqui! Eu não preciso de ti! – disse ela e com um safanão desvencilhou-se do abraço, saindo daquela armadilha que ele feito cobra peçonhenta, queria lhe emaranhar. – eu não preciso de ti! - rejeitou veementemente as insinuações de bom moço. Com os ânimos exaltados entre eles, seu tio PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS Juca veio até a sala para ver o que se passava. Ela então se deu conta que não poderia passar dos limites, ali não era sua casa, seu tio e avó não poderiam presenciar uma cena como essa. Caminhou furiosa até a porta de saída. Abriu-a, e com o dedo indicador apontou a rua indicando-lhe a saída. Rodolfo fuzilava toda a sua raiva naquele olhar ameaçador que lhe desferiu e saiu. Ela fechou a porta como se quisesse com isso fechar também aquela parte da sua vida, tendo em vista o impacto com que batera a porta. Mas vã era a sua ilusão em pensar que tinha se livrado dele. Porque após alguns dias, ele, recomeçou com seus assédios e ameaças. Cansada de tudo, tomou uma decisão. Não era justo ficar expondo aquela situação ao tio e a avó que sempre a tratavam bem, e na hora do almoço contou para eles que naquele dia ia embora. Estava com vergonha do incidente que presenciaram. Eles ainda tentavam demovê-la, PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS porém, inutilmente, Diana estava decidida. Tinha medo que Rodolfo reaparecesse vindo tirar a paz de todos. Agradeceu o carinho e o apoio que recebeu quando precisou naqueles momentos difíceis da sua vida. E, já era de tardinha quando arrumou suas coisas na mochila, veio até a sala e os encontrou vendo televisão. Aproximou-se do seu tio Juca, abraçou apertado, depois até sua avó e abraçou-a também e em retribuição, sentiu o caloroso abraço dela. Deu-lhe um beijo na face, enquanto as lágrimas desciam copiosamente pelo seu rosto, se despediu. Voltou para sua casa, convicta de que devia dar um basta naquilo tudo. Rodolfo nem estava se preocupando em arranjar trabalho. Com certeza ele andava atrás dela porque queria era receber a parte dele, já que ainda não estavam separados legalmente. Diana não tinha ideia quanto tempo ainda lhe restava de vida. Só o que havia escutado era que PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS a pessoa que contraía esse vírus tinha pouco tempo de vida. Então para quê ter um carro se dali a poucos meses morreria? E assim colocou a tabuleta de venda no carro. Havia passado um mês que colocara a placa e logo apareceu um comprador. Após os trâmites legais conseguiu vendê-lo. Na manhã seguinte o comprador veio buscar o carro e entregou-lhe o valor referente ao pagamento e ela as chaves. Quando ele se retirou levando o carro, Cristine entrou em casa, foi para o quarto, dividiu o dinheiro, embrulhou numa folha de papel. Foi até a cômoda tirou de dentro uma blusa e a bermuda e vestiu, no bolso colocou o pacote. Fechou a porta e seguiu até a casa de seus pais. Encontrou-os no pátio. Contou-lhes que já havia vendido o carro e viera trazer a metade do valor para ajudar na criação de sua filha Ana. Enquanto falava retirou do bolso o embrulho e lhes entregou. Eles abriram PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS o pacote e lá estava o dinheiro que ela dissera. Sentiu com que frieza eles a discriminavam. Saiu dali sem ter visto sua filha, como das outras vezes em que estivera lá. E assim, deixou novamente a parte que cabia a Ana com seus pais. Quando retornou Rodolfo estava na porta a sua espera. - Então já vendeu o carro, não é? E eu como ainda sou teu marido quero a minha parte, o meu quinhão – falara mais como se estivesse dando ordem. Alegou com riso irônico. Rodolfo estava ali para receber também. Colocou em relevância o fato de que ainda eram casados e tinha seus direitos sobre a venda. Ela não questionou, queria mantê-lo o mais distante de si. E assim fez, dividiu o que tinha em partes iguais, lhe entregou o que coubera a ele. E embolsando o dinheiro, ele se retirou. PERIGOSAS ACHERON


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Segunda chance. Alguns meses se passaram... E na sua memória a figura da sua filha vinha tão amiudamente a povoar seus pensamentos, trazendo a dor da saudade a escorrer em lágrimas na face. Alguma coisa ela tinha que fazer para não enlouquecer. Ficava horas pensando no que poderia fazer. Sim, precisava trabalhar para manter sua filha enquanto vivesse. O dinheiro que recebera da indenização da clínica e da venda do carro terminava. Ali na sala na frente da televisão não conseguia aceitar aquela inatividade. Era sempre ativa e aquela.... Não, não fazia muito seu espírito que sempre estava envolvida em alguma atividade. Tinha que ser feito alguma coisa, não poderia ficar como estava. E num rasgo de lucidez resolveu voltar ao escritório de Assessoria e conversar com PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS o seu antigo patrão. Naquela manhã de sexta-feira se vestiu de esperança e foi na Assessoria falar com seus antigos patrões. Conversou com eles sobre a situação que estava passando. Eles a ouviram e compreenderam a atitude dela e a readmitiram retornando para o trabalho de antes. Mas, desta vez, ela omitira a verdade, dissera apenas meias verdades, não falara sobre o porquê da sua ausência por tanto tempo. Rodolfo quando soubera que Diana tinha sido readmitida, também foi à tarde do mesmo dia falar com os patrões dela, mentindo que era seu marido e que estavam juntos. E assim, conseguiu o emprego. Na segunda feira Diana arrumou-se toda, queria chegar cedo ao seu primeiro dia de retorno ao trabalho e saiu. Entrou no escritório toda animada e, iniciou o trabalho que já conhecia. Em PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS meio às papeladas verificou que, precisava de algumas assinaturas para que fossem liberadas as notas. Só que o departamento era situado no outro bloco. Então colocou os relatórios em seus braços e saiu da sala para o corredor. Ia caminhando quando de repente... Ficou estupefata! Rodolfo ali em pé encostado na parede do corredor, olhando-a enquanto passava. Refeita do susto seguiu em frente. E não lhe deu a mínima importância. Já na sala perguntou para a recepcionista sobre o rapaz que tinha encontrado no corredor. Foi informada que ele tinha sido admitido como motorista. Diana tomou um susto com aquela revelação, porém se conteve, não queria que a recepcionista percebesse qualquer atitude da sua parte com relação a ele. Os dias iam passando e Diana esmerava-se em desenvolver as atividades que lhe eram incumbidas. Enquanto isso Rodolfo era um tremendo fanfarrão, relapso no trabalho e ainda PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS ficava se vangloriando com os colegas dizendo que vivia às mil maravilhas com ela. Chegara o final do mês. No fim do expediente passou na tesouraria para receber seu salário, foi quando o filho do patrão a chamou de lado e perguntou. - Diana é verdade que Rodolfo é teu marido? Que vocês vivem muito bem? Ao ouvir a pergunta, ela sentiu o sangue ferver em suas veias, engoliu em seco, tão grande era a raiva que sentiu naquele momento. - Não! Não é verdade o que ele anda dizendo! Eu apenas vivi há algum tempo atrás, mas já o deixei – disse ela sentindo em seu coração tamanho desprezo por Rodolfo. Ele observou que pela expressão do semblante dela, estava dizendo a verdade. - Olha o meu pai só deu o emprego para ele porque falou isso. E como nós te conhecemos há PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS muito tempo o contratamos. – acrescentou. Só então Diana soube como foi que Rodolfo tinha conseguido o emprego. Os dias passando e Rodolfo com suas artimanhas voltou a assediá-la. Diana no trabalho que desenvolvia precisava deslocar-se para ir as reuniões nas empresas ou verificar o andamento dos projetos. Mas, quando menos esperava, Rodolfo chegava espionando os lugares em que estava trabalhando. Observava se havia algum homem com ela. Já não tinha paz. Rodolfo trabalhando de motorista deixava seu posto de serviço para andar atrás dela e monitorar todos os movimentos. E mais ainda, ficava comentando nas rodas de amigos, que viviam na mais perfeita harmonia, e que ele não poderia viver sem ela. Quando comentavam isso, ficava cada vez mais enojada, com tanta pressão PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS por parte dele. Saturada com as pressões que Rodolfo fazia querendo reatar com ela e as inverdades que ficava propagando aos quatro ventos sobre suas vidas, resolveu falar com o filho do patrão o que realmente estava acontecendo. Naquele dia estava decidida. Entrou na sala dele e disse-lhe: - Eu queria conversar com você sobre o que está acontecendo. Eram amigos de longa data. Ele percebeu que alguma coisa estava acontecendo. Olhando-a mais atentamente notou o semblante triste da amiga. Deixou as anotações que estava fazendo de lado, pediu que sentasse na cadeira à frente de sua mesa. E com paciência e carinho perguntou para ela. - Diga Diana, o que a está afligindo - falou pacientemente. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS Ela veio e sentou- se, e abriu o coração para ele. - Estou com muito medo do Rodolfo. Ele está ameaçando bater-me caso me encontre, ou se souber que alguém esteja me cortejando. Tenho medo de que ele cometa essa loucura ou que aconteça algo pior. Por isso resolvi contar-lhe tudo. – disse ela com grandes sulcos no semblante de preocupação. E então lhe falou das artimanhas que ele usava para ficar espionando-a. Ele depois de ouvi-la procurou acalmá-la. - Não se preocupe. Fique calma. Eu vou arranjar um jeito de cuidar disso. – falou ele. Depois que ela saiu da sala, ficou pensando naquela situação que foi exposta. Diana era uma funcionária exemplar e Rodolfo um relapso. Quantas vezes procuravam por ele, e, não estava no posto. “É, realmente ela tem razão. Melhor prevenir do que remediar, antes que aconteça algo pior aqui PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS na empresa com ela.” – concluiu seu pensamento. No final do expediente mandou chamar Rodolfo e dizendo que não precisava mais dos seus serviços o despediu. Rodolfo depois soubera que ela estivera falando com o filho do patrão. “Com certeza devia ter sido por causa disso que tinha sido despedido.” – deduziu com raiva. Seguiu na direção do setor em que ela trabalhava e foi tirar satisfação com ela. Entrou na sala, enraivecido. - O que foste falar de mim para o patrão? Fala? Eu sei que a culpa é tua deles me mandarem embora! Você vai se arrepender do que fez! – a ameaçou. E ele cumpriu. Depois desse dia as perseguições e ameaças tornaram - se mais e mais amiúdes. Ela já não conseguia nem trabalhar com medo que ele cometesse alguma loucura. Quando menos esperava, ele aparecia na sua frente falando PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS para todos que era o marido e que ninguém se aproximasse, como se com isso dissesse, que ela, era propriedade dele. Já cansada de tanta pressão, resolveu falar seriamente com ele. Não tinha por que as atitudes que ele vinha tomando, porque há muito tempo que estavam separados. Não, não havia razão para ela ficar passando todo dia aquele vexame no trabalho. Chamou-o em particular. A discussão foi exaltada. Rodolfo exasperou-se. Em vão foram as tentativas para que parasse com o modo como vinha agindo. Então, ela lançou mão da única defesa que tinha, e deu seu ultimato: - Rodolfo eu te peço, que me deixe em paz. Caso continues como vens fazendo, vou à delegacia denunciá-lo. - Vai, vai, pode ir! Eu não tenho medo! Mas, você sabe do que eu sou capaz! - retorquiu colérico. - ele foi embora a insultando enfurecido. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS Ela sabia que ele era capaz de qualquer coisa para feri-la ou conseguir alguma coisa. Diante desse rompante de Rodolfo, ficou com pavor. Já não sabia o que realmente fazer. “Será que não fora longe demais dizendo aquilo para ele?” – pensou. Rodolfo arquitetou um plano sórdido para ferir Diana. Sim, já sabia como iria atingi-la. Foi nas lojas e começou a comprar roupas, sapatos e aparelhos eletrônicos. Na hora de preencher o cadastro dava o nome dela como sua esposa, o endereço da casa e o local onde trabalhava. Em outras lojas, preenchia com o endereço dos pais dela. Ela teria que pagar para não ter o seu nome incluído no SERASA (cancelamento de seu crédito). Assim no final do mês desde que Rodolfo fora demitido ela se viu envolvida na mais infame vingança. Começaram a chegar os boletos para pagamento das compras efetuadas e os cobradores a PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS bater na sua porta e também na casa de seus pais. No sábado pela manhã, ela pegou todos os boletos que haviam chegado e foi nas lojas. Queria explicar que não tinha efetuado nenhuma compra. Porém, ao questionar, foi pega de surpresa ao ser informada que Rodolfo, dizendo ser seu marido, tinha feito várias compras e que teria que pagar realmente o valor descrito nos boletos. Saiu dali arrasada e bufando de raiva dele. Com tanta pressão por parte da família e dos cobradores, ela viu - se obrigada a ir tomar satisfação com ele, do que estava acontecendo. Não o encontrando, deixou recado para que entrasse em contato com ela. Já era de tarde quando bateram na porta. Diana veio abrir e deparou-se com ele, cheio de sorrisos, fedendo a álcool e a perfume barato. Seus olhos lampejaram de ódio ao vê-lo com aquele riso cínico no rosto. E foi logo despejando em cima dele PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS tudo, tudo, que estava sentindo em seu coração, torturado por tanta pressão que vinha sofrendo, dilacerando seu íntimo. - Faça o favor de deixar em paz: eu e minha família! Você fica comprando pelas lojas e não paga! Os cobradores estão todos os dias na minha porta e na casa da minha família. E tem mais! Eu é que os ouço, dizendo que eu vivo com um cara safado e cafajeste! Vê se me deixa em paz cara! – falou com raiva. Os ânimos se inflamaram, até chegar ao último grau da exasperação. Rodolfo encolerizado deu uma bofetada tão forte no rosto de Diana que ela veio ao chão. Com o rosto latejante, ainda no chão, ela viu num relance, a tesoura de costura embaixo da cadeira perto da sua mão. Esticou-se e a pegou escondendo na mão a encobriu atrás da costa. Nesse ínterim, ele, novamente levantou a PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS mão, para lhe bater, mas desta vez, ela foi mais rápida, e antes que ele a esbofeteasse, ela retirou a mão das costas e lhe enfiou a tesoura na coxa e a puxando permanecendo com ela na mão, como única arma que tinha para se defender. Ao sentir o golpe rasgando sua carne, e o sangue escorrendo, Rodolfo berrou: - Ai! Agora você vai ter que me levar no hospital! - Eu não! E pode dizer que fui eu que ti furei. Assim vou à delegacia e conto tudo o que está acontecendo - respondeu no mesmo tom. Rodolfo vendo que ela não iria mesmo, e desesperado de dor, saiu porta a fora mancando com a perna sangrando. Foi até a casa de um amigo ali próximo, contou o que tinha ocorrido. Ele se prontificou e imediatamente o levou até o carro, e, seguiram para o Pronto Socorro. Deram entrada. Ao ser PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS interpelado do que ocorrera, Rodolfo inventou uma desculpa esfarrapada. - Estava trabalhando e ao me afastar, tropecei e cai. Na queda a tesoura enfiou na minha coxa. Eu sou estilista - comentou. Por alguns dias ele não apareceu na casa dela. Estava tudo calmo. Pensou que estava livre dele e voltou a trabalhar tranquilamente. Mera ilusão. Ele reapareceu e recomeçaram as ameaças. Por várias vezes de madrugada acordara assustada, com ele batendo na porta da casa chamando-a. Estava bêbado. Não tinha mais paz. Nas vezes que abria a porta ele ficava lamuriandose dizendo que tinha dormido ali na porta. Falava tentando demovê-la, mas ao ver que ela se mantinha irredutível começava a ameaçá-la. E ela num ímpeto, fechava a porta na cara dele. “Não poderia ceder depois de tudo que tinha passado e que ainda vivia.” PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS Ela vivia uma verdadeira tortura, não tinha mais paz em sua casa: de dia eram os cobradores querendo receber o dinheiro das dívidas que ele ficava fazendo; de madrugada era ele batendo na porta além de também ficar no trabalho a seguindo. Não sabia como ele sempre dava um jeito de estar nos lugares em que ia, ficando a observar todos os passos que dava. Estava se sentindo como se fosse sua prisioneira. Que ele era o seu dono. Não aguentava mais! Sua vida virara um inferno. Estava exausta de tudo aquilo. Mas havia uma surpresa que ela sequer imaginara...

Natimorto. Começou a sentir tonturas e suores frios. Procurou um médico. Descobriu que estava grávida PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS de dois meses e meio. Fragilizada pela situação sem ter ninguém que viesse estar com ela. Foi alvo fácil para Rodolfo que ao saber da gravidez, não contou estórias. Apelou, dizendo que não iria deixar acontecer, a mesma situação como foi com a Ana. E arrumou as malas e voltou a morar com ela. Ele simplesmente se alojou na casa embora dormissem separados. Diana sem saída não tinha como mandálo embora. Optou por deixá-lo ficar. Não havia ninguém para estar com ela na sua gestação. Todos a discriminavam. No terceiro mês disse para ele que iria fazer o pré-natal. Mas qual sua surpresa quando ele categoricamente a proibiu dizendo que todos iriam discriminá-la. E, temerosa de que o médico descobrisse a verdade, não foi. Quando entrou no quarto mês, começou a sentir dores e perdas de sangue com coágulos. No quinto mês de gestação, com dores mais PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS fortes e, o sangramento continuava, resolveu deixar o emprego. A gravidez estava sendo muito complicada. Conversou com o patrão e pediu sua demissão. Ele entendeu a situação em que ela se encontrava e a indenizou com todos os seus direitos adquiridos. Ao recebeu sua indenização, fizera como na venda do carro. Foi até a casa de seus pais, e novamente deixou a metade da indenização recebida, para a filha, porém com a discriminação de antes, mantiveram Ana, distante dela, não deixando sequer que a visse. O tempo ia passando. Todas as vezes que precisava ir ao médico, Rodolfo alertava, para que não dissesse: que era soro positivo. No sexto mês as coisas se complicaram mais ainda. Naquele dia as cólicas com a hemorragia, estavam tão terríveis que, foi levada às pressas para o hospital. Ao ser examinada foi logo encaminhada PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS para a sala do pré – parto, onde já se encontrava mais duas parturientes, aguardando também a hora do parto. Veio um médico para atendê-la. Ela então não se conteve mais e, falou que era soropositivo. A reação dele a deixou alarmada! E a partir daquele momento o mundo veio abaixo em sua cabeça. Não tinha noção até aquele momento, o quanto sua vida mudara! E porque Rodolfo a proibira de fazer o pré-natal. E nas vezes que precisara de médico tivera que omitir a sua situação de soropositivo. Viu nos olhos daquele médico o terror estampado. Ele Imediatamente ordenou para as enfermeiras. - Retirem-na daqui! Que vá para outro hospital. Eu não quero essa paciente aqui! Porém o destino foi contra sua ordem. E no grito lancinante de dor de Diana ele veio fazer o exame, e percebeu que o pé da criança já estava aparecendo. Foi um alvoroço geral. - Vamos rápido! Levem essas pacientes PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS imediatamente para outra sala! Agora! – ordenou não tem mais jeito, vou ter que fazer o parto. Mas, assim que eu terminar, ela deve ser mandada embora – ele foi categórico. Diana sofria as dores do parto. No rosto estampava o sofrimento, e inundava seu corpo de suor, misturando-se as lágrimas, que escorriam abundantemente pelo rosto. A criança estava nascendo de pé. A cabeça ficara presa. Iniciou-se uma luta contra o tempo para libertá-la. Foram várias tentativas da mãe, do médico, e com a ajuda da enfermeira conseguiram, com que a criança enfim nascesse. Pálida pelo sangramento do parto arfava ainda, transtornada pelo esforço repetitivo. Olhava seu filho inerte nas mãos do médico, que fazia de tudo para reanimá-lo. Depois de tanta luta, de tanto sofrimento, não conseguia acreditar que, não sobrevivesse. Viu quando o médico o deixou na mesa e veio até ela, dando o único veredicto que PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS não queria ouvir. - A criança passou da hora. Não sobreviveu. – concluiu o médico. Sentiu uma dor lancinante traspassar seu peito, tão forte que estremecera todo o seu corpo. A dor da perda de seu filho. Perdera. Depois de tanta agonia, seu filho jazia ali, inanimado. Ela desmaiou. Quando voltou daquele torpor, ouviu o médico ordenando as enfermeiras. - Cuidado com o sangue! Queimem todas as roupas dela e também as coisas que ela trouxe para o bebê. Foi feito como ele ordenara. E ali, estava ela, enfraquecida. Viu quando levaram suas roupas e a bolsa com as roupinhas do seu bebê. Não tinha forças, estava exausta! Vieram até ela, vestiram com uma bata do hospital. Retiraram-na da maca e a colocaram em uma cadeira de rodas, deixando-a na porta do PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS centro cirúrgico, sem nem ao menos ser medicada. Ali do lado de fora. Como um lixo, jogado fora. Sentiu na alma, a extensão total do preconceito com os portadores soropositivo. Ficou espiando ao longo do corredor. Alguns minutos se passaram quando delineou a figura de Rodolfo vindo em sua direção. Estava chorando. E quando chegou perto lhe disse: - Sabe onde está o nosso filho? Deixaram-no lá na capela! – e desabou no choro. Enquanto ela naquele instante, o semblante era a expressão maior da dor. Banhada em lágrimas que feito rio escorriam no rosto, ali na porta, na cadeira de rodas, abatida, pálida como cera. Ele se aproximou dela e imediatamente a tomou nos braços e a levou para fora do hospital. Desceu as escadarias carregando-a e caminhou até a parada. Havia um táxi estacionado. Foi até lá, entraram e o motorista rumou para a casa deles. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS Havia se passado mais de vinte e quatro horas do parto, quando Paulo ligou para ela informando que iria fazer o enterro do bebê, que ainda continuava na capela. Explicou que conversou com alguns amigos sobre a situação, e eles se prontificaram em ajudá-lo. E assim foi feito. Estava em casa sem ninguém que pudesse ajudá-la. As dores intensas do pós-parto fazia-a sofrer muito. Estava só, sem ao menos tomar alguma medicação. Sem poder levantar-se não tinha como comprar remédio. Rodolfo a deixara no descaso. Mas tinha Fé, que Deus enviaria alguém em seu socorro. Sua prima de terceiro grau era enfermeira, soubera por Paulo da situação que ela estava passando, e veio visitá-la. Ao deparar-se com o estado debilitado em que se encontrava, sem estar tomando nenhuma medicação, condoeu-se. E a partir dali, durante três dias veio aplicar-lhe soro, PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS trazendo ainda os medicamentos que uma parturiente precisava tomar durante o resguardo. Os dias foram passando e o dinheiro escasseava. O processo de recuperação estava muito lento. Ainda sentindo dores, debilitada, não tinha condições física de sair para procurar emprego. O alimento se tornava escasso em casa. Enquanto isso Rodolfo não queria saber de trabalhar. Não se importava se ela tinha comida ou não. Saía e passava dias fora. Não tinha quem desse um pouco de comida. Por várias vezes sentiu-se desmaiar de fome tal era a falta de alimento, que seu corpo padecia. Seu único consolo era rezar para que Deus a ajudasse a sair da miséria em que se encontrava. As lágrimas de dor desciam pela sua face ao recordar da vida que havia levado com sua família antes de casar com Rodolfo. Seu coração mais e mais apertava, sofrendo com o desprezo deles e PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS entristecido com a ausência da filha tão pequena ainda, que fora arrancada dela. As lembranças misturavam-se em sua memória e o amor de antes transformou - se em ódio por Rodolfo, e que aumentava cada vez mais. Ele não se importava com ela. Agora que ela não tinha dinheiro ele só passava para mudar de roupa. E às vezes quando vinha fedia a bebida e a perfume barato, para atormentá-la ainda mais, comentando que havia estado com outras pessoas infectando-as também. E gargalhava como se isso lhe fosse prazeroso. Ele era o culpado de tudo! Da vida que estava levando. Um cafajeste! Um ser odioso! Que a lançara na lama do desprezo. Bem que sua intuição avisou e ela não dera “ouvidos”, e, a sua família tanto a alertara. E agora! Era tarde demais! Lastimava-se. Como única esperança rezava para que Deus na sua infinita misericórdia lhe ajudasse, PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS dando-lhe forças, para continuar vivendo. Passara quinze dias desde que saíra do hospital, quando Paulo apareceu na sua casa trazendo duas sacolas com gêneros alimentícios para ela. Ficou surpreso com o estado deplorável em que a irmã se encontrava. A grande necessidade que ela estava passando, a palidez de seu rosto e o quanto tinha emagrecido. Algumas lágrimas assomaram em seus olhos. Disfarçadamente enxugou-as com a costa da mão. Aproximou-se e abraçando-a deu-lhe um beijo na testa e entregou as sacolas que trouxera. - Diana, eu trouxe alguns mantimentos para ti. Vim, sem eles saberem - confessou ele, sem jeito. - E como estão? – perguntou ela, num fio de voz. - Eles não querem saber de ti. Disseram que para eles, você está morta. Não querem saber nada PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS do que está acontecendo contigo - falou tristemente. Ela tirou o olhar dele e fitou o chão. O peso daquelas palavras ensombrou mais seu coração martirizado. E lágrimas escorreram abundantes em seu rosto. Naquele momento sabia que não tinha volta. Eles a renegavam. Enxugou as lágrimas e sorrindo, agradeceu calorosamente seu irmão pelo alimento que trouxera. Falou-lhe que, Rodolfo passava dias fora de casa, e não trazia nada para ela comer. Ainda conversaram por mais ou menos uma hora quando ele se despediu. - Eu já vou. Não quero que eles saibam que estive aqui em tua casa. - Obrigada meu irmão. Deus ouviu minhas preces e tocou teu coração. Agora eu tenho o que comer! – agradeceu abraçando-o. Quando o alimento que seu irmão trouxera acabou, ela voltou a passar fome novamente. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS Rodolfo nem sequer queria ter conhecimento do que ela estava passando. Fazia da casa dela, apenas um lugar, para vir de vez enquanto trocar de roupa, ou às vezes para se esparramar no sofá, já bêbado ou drogado. Quantas vezes ela pediu que ao menos trouxesse algum alimento, pois estava com fome, porém, nesses momentos aumentavam ainda mais as discussões. Ele a mandava pedir nas casas. - Por que você não vai pedir nas portas? Eles vão te dar! Porque eu não tenho dinheiro para trazer comida para ti. - dizia ele. E depois saia dali, batendo a porta atrás de si. Um mês e meio do parto ela decidiu vender a casa. Não tinha trabalho e tampouco condições de procurar. Ninguém iria dar trabalho a uma pessoa que poderia morrer em poucos meses, e que deixaria contaminados a quem chegasse perto, no simples fato de apertar a mão ou conversar. Iria PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS morrer logo, então para quê trabalhar? Se pelo que havia ouvido falar, as pessoas como elas não tinham futuro. Apenas esperar o dia da sua morte, e que falavam não estar muito distante. Era discriminada pela sua família, fora proibida de chegar perto de sua filha e quando as pessoas sabiam de sua situação de saúde, se afastavam. O que restava então? Nada! Isso era o que ela era agora. Um nada! Tinha apenas o cajado da morte rondando ao seu lado para o golpe final. Dentro dela esses questionamentos a abalavam. Enquanto isso Rodolfo estava entregue aos jogos, drogas, bebidas e mulheres. E quando esporadicamente aparecia, ficava jogando na cara dela a situação atual, e se deliciava sarcástico. Dentro dela esses questionamentos a abalavam. Num rasgo de lucidez decidiu vender a casa, não queria morrer e deixar que Rodolfo se apossasse dela. “Vou vendê-la. E entregar para o PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS papai, a metade do dinheiro que é para minha filha.”. - pensou. A casa foi deixada pelo pai de Ana do casamento anterior, e era lógico que não ia dar o gosto para Rodolfo ficar com tudo. Colocou uma placa de venda. Com poucos dias chegou um comprador e a venda foi concluída. E após receber o dinheiro, Diana tirou a metade para custear as despesas com Ana e entregou ao pai. Sabedor de que Diana havia vendido a casa, Rodolfo apareceu querendo receber o seu quinhão, pois ainda estavam casados e cobrava seus direitos na parte da venda. Era o que ele dizia. E assim a outra metade que ela tinha ficado foi dividida entre eles. A partir daí Rodolfo foi embora. Diana não tinha mais nada. Estava sem trabalho e sem um teto para morar. Só, apenas com uma mochila com os seus pertences. Ela saiu da casa entregando as chaves para o novo morador. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS Estava andando na rua quando encontrou uma amiga. Conversou com ela e contou-lhe sua situação atual. Ela enternecida disse-lhe. - Eu tenho uma quitinete na Terra Firme. Lá tem cama, fogão e alguns utensílios de cozinha. Se quiseres podes ficar morando lá. Está desocupado agora. Estou querendo alugar. Mas, enquanto não aluga você pode ficar morando. - sugeriu-lhe. - Obrigada minha amiga! Eu vou sim. E não se preocupe que vou cuidar muito bem. – agradeceu imensamente feliz. E assim Diana por quatro meses tinha um teto debaixo de sua cabeça. Porém, sua felicidade durou pouco. A amiga veio lhe solicitar que desocupasse a quitinete, já tinha conseguido alugar. Diana agradeceu pelo tempo que passou e, no mesmo dia entregou-lhe as chaves. Saindo de lá com a mochila nas costas rumou para o bar do Paulo. Conversaram. Paulo já estava PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS casado e morava com sua esposa num quarto e não tinha como alojá-la. Ela entendeu a situação que ora se apresentava, não queria incomodar e então se despediu indo embora. Estava na rua da amargura.

A solidão das ruas. Ficou perambulando na cidade. Para ela nada mais importava. Acreditava que a qualquer momento iria morrer então, porque se preocupar com bens materiais? A noite ficava acordada andando até encontrar uma casa com pátio. Batia, e quando vinham atender, pedia, para que a deixasse dormir ali aquela noite, e que de manhã iria embora. Por sorte às vezes encontrava alguma alma caridosa que perguntava se não queria tomar banho. Dizia que sim. E como era bom lavar a sujeira do corpo e da alma. De banho tomado, lhe era PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS oferecido algo para comer. Depois de fechada a porta, ela se acomodava no banco do pátio e adormecia. Aos primeiros raios da manhã saía novamente sem rumo. E assim, iam-se passando os dias. Já alguns dias que não se alimentava, sentiase muito enfraquecida. Bateu na porta de um, e de outro, para que lhe dessem um prato de comida. Mas nem sempre encontrava caridade humana, e o que recebia como resposta na maioria das vezes: “ Vai trabalhar vagabunda!”– ali não existia nem um pouco de solidariedade humana. As lágrimas desciam em sua face, ao lembrar como era feliz antes. Sua família de classe média alta. Tinha tudo o que queria. Que destino cruel o seu! Agora mendigava um prato de comida. Sua formação religiosa não a deixava enveredar pelos caminhos tortuosos do mal. Não, isso não! Não iria se prostituir, usar drogas ou PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS furtar para obter alimento de modo ilícito. Esperava a morte, desde que soubera, naquele fatídico dia, que era portadora do vírus da AIDS. Mas isso não iria transformar sua decisão, de ser uma pessoa temente a Deus. Nem tampouco em uma pessoa desonesta. Sofria com a carga que pesava em seus ombros, doía-lhe o estômago com a falta de alimento, mas algo a alimentava: a sua Fé em Deus. Que Ele iria protege – la das maldades que assolam a quem mora nas ruas. Naquela noite andando na Avenida Nazaré viu um casarão antigo que tinha um pátio. Foi até lá e, ficou encostada no portão. Estava ali fazia alguns minutos, quando apareceu uma senhora. E vendo-a toda maltrapilha. Aproximou-se e perguntou para ela. - Porque você está aí? - É que queria pedir, que me deixasse dormir aí no seu pátio. Eu sou moradora de rua. Por favor! PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS Deixe-me ficar! – ela suplicou com os olhos cheios d’água. A senhora foi lá dentro e trouxe a chave e abrindo o portão, disse – lhe. - Vamos entrar. Você está precisando é de tomar um banho primeiro. Trocar de roupa e com certeza se alimentar. É verdade, não é? – disse-lhe sorrindo. Diana retribuiu o sorriso. - Sim, a senhora tem razão. Já faz muito tempo que não tomo um banho direito. - seu coração batia cheio de alegria. Aquela senhora era uma pessoa enviada por Deus. - Venha! - chamou-a. - Vou lhe trazer uns vestidos para ti, esse que está usando está muito sujo. Enquanto isso pode ir para o banheiro tomar o seu banho - falou sorrindo enquanto entrava no pátio, seguida por Diana. Após o pátio, adentraram no salão. Diana observava tudo com muita PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS curiosidade. O casarão de estrutura antiga resistia ao tempo bem conservado. Haveria de ter conhecido o luxo aquele casarão. Notava pela disposição dos acessórios que compunha a mobília, os candelabros, os quadros famosos que entremeavam entre os outros, de valor puramente sentimental que adornavam as paredes do salão e seguiam no corredor. Os quartos enfileiravam-se num total de quatros. O corredor terminava numa ampla sala de jantar. E mais adiante a cozinha bastante espaçosa. A senhora apontou onde havia a toalete social. - Tome seu banho enquanto vou buscar o vestido para ti. - e a deixou ali. Diana espiava tudo atentamente o ambiente. Tudo ali denotava ser cuidado com esmero. Entrou na toalete precisava urgente de um banho. Tirou a roupa e entrou debaixo do chuveiro. Deixou a água escorrer pelo seu rosto e inundar seu corpo. Por PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS alguns minutos esfregou todo o corpo com a esponja e o sabonete tirando a sujeira e em seguida lavou os cabelos. Quando estava se enxugando a senhora bateu na porta. Abriu e ela lhe entregou o vestido. Quando saiu do toalete estava se sentindo outra. A senhora na cozinha colocou na mesa o prato com comida e pediu que sentasse para comer. Após estar alimentada a senhora que se chamava Joana começou a indagá-la. Aquele casarão era um asilo e ela tomava conta. – Como você se chama? - Diana. - respondera. Dona Joana queria saber o porquê de ela estar vivendo daquele jeito. Foi então que Diana contou sua história relatando que era portadora do vírus do HIV/ AIDS. Que as pessoas ao saber que ela era portadora dessa doença, tinham preconceitos e a discriminavam. Depois de ouvi-la com atenção a senhora falou. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS - Eu sou católica do grupo de oração, é constante chegar aqui pessoas como você, e sempre procuramos ajudá-los. Tenha Fé, que Deus vai te ajudar. Aqui é um asilo, por isso não podemos abrigar outras pessoas, porém, você pode dormir no pátio. E quando não tiveres onde dormir venha para cá. Nós temos reunião quase todos os dias. Assim, se quiseres, também podes fazer parte. - Muito obrigada minha senhora por tudo. E eu virei sim! - respondeu ela sorrindo acomodandose no banco do pátio.

Pedras no caminho. - Bom dia Diana, entre! Que bom que você veio! –falou. Era a mesma pessoa que dois dias atrás, abrindo o portão, lhe deixara dormir no pátio do casarão, a dona Joana. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS - Daqui a pouco vai começar o encontro, mas ainda dá tempo de você tomar um banho, e comer alguma coisa. – falou para ela. - Bom dia. – respondeu Diana entrando. - Você vai gostar de ter vindo. – dona Joana comentou sorrindo. Entraram. E como naquela noite, dias atrás, Diana foi ao toalete. Banhou. Tirou de dentro da sacola o vestido que ela o presenteara e o vestiu. Depois que saiu do banho, foi lhe servida um prato de comida. - Quando você terminar venha para o salão. Estamos esperando outras pessoas chegarem para o grupo e assim iniciarmos a oração. - dissera dona Joana. - Sim senhora. – respondeu ela. A vinda para assistir e compartilhar do grupo deu uma nova visão para Diana. Ali encontrara a paz de espírito que tanto precisava para seu coração PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS acabrunhado. Realmente ali fora resgatada da lama em que estivera mergulhada, desde que soubera que era portadora do vírus do HIV. Aquele grupo ajudava os necessitados que chegavam sem nenhuma esperança, sem nenhuma Fé, como ela. Aprendera que ainda havia almas caridosas, que mesmo com pequenos gestos, palavras, poderiam dar alento aos que dentro de si, não mais tinham. O grupo era formado de pessoas católicas que encontravam moradores de ruas e os convidavam para ir lá. Na maioria das pessoas ali, tinham o mesmo problema que os dela: a discriminação e o preconceito. Naquele casarão, podiam tomar banho, se alimentar e ouvir a palavra de Deus através das orações. Não existia discriminação por qualquer um que ali estivesse. Com o passar do tempo Diana passou a frequentar assiduamente as reuniões, que aconteciam três vezes na semana. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS Sentia – se fortalecida pela fé. Já não chorava tanto pela sua má sorte. Não existiam remédios para sua cura, mas acalentava de que um dia, iria surgir, alguma descoberta para paralisar o andamento da destruição, que o vírus acometia o organismo da pessoa infectada. Juntos rezavam, pediam a Deus, que a medicina fizesse essa descoberta salvando tantas vidas, que por um motivo ou outro, haviam contraído a doença. Já se iam quatro meses em que ela passava os dias na rua e quando a noite chegava vinha dormir ali e a frequentar as reuniões. Mas, naquele dia, vindo para mais uma reunião, fora comunicada que haveria de chegar outro jovem, com o mesmo problema que o dela. Estavam todos no salão, quando foi anunciado que o tão esperado convidado, chegara. Surgira no umbral da porta do salão um homem. O coração de Diana disparou. Aquele homem, aquele olhar. “É ele” - pensou. E PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS empalidecera. Ele se aproximava do grupo seguindo dona Joana. Seu olhar perscrutou por todos como se procurasse alguém. Até que cruzou com os de Diana. Ela sentiu o frio do aço daquele olhar, como punhal atravessando sua paz. Chegando perto dela apresentou-se para todos. - Eu sou Rodolfo. – e dirigiu-se para o lado direito do salão onde havia uma cadeira desocupada e sentou. Houve um murmúrio de boas-vindas por parte do grupo, e logo em seguida retomaram suas atividades. As lembranças acenderam em seu cérebro, transformando-se num vulcão em erupção. Tudo retornava à sua mente. O porquê de estar ali agora. E tudo o que tinha deixado para trás por causa dele. Seu coração caía em angústia. “Não, aquilo era demais para ela”, pensou. Após as orações ele chamou dona Joana em PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS particular e lhe falou que Diana era a mulher dele. - Eu a encontrei apoiada aqui no portão faz alguns meses. - disse. E, porque ela anda pelas ruas? – perguntou a senhora. - É que ela me deixou. Estava procurando-a faz bastante tempo. Eu a amo muito. Nós somos casados. Mas é ela que quer viver assim. Converse com ela quem sabe a senhora falando, ela volta comigo para casa. – pediu ele. Dona Joana enternecida com aquele pedido disse que sim, iria conversar. Já quase no final do encontro ela chamou Diana em particular e relatou o que Rodolfo tinha dito sobre ela, e começou a lhe dar conselhos. Que no casamento fizera um juramento diante de Deus. Frisou que devia voltar para seu marido. Ele dissera que a amava muito e estava pronto a perdoar tudo que fizera. Diana ouvia tudo em silêncio e sentiu revolta pelo modo com que Rodolfo conseguia manipular as pessoas a PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS seu bel prazer. “É, realmente não poderia mais ficar ali, onde havia conseguido um pouco de Paz. E agora, ele viera para acabar com sua vida”concluiu. Foi embora daquele local sem que Rodolfo percebesse sua saída. Ainda retornou, depois desse episódio, em mais duas reuniões, porém, como dona Joana insistisse em que ela reatasse com o marido, decidiu não voltar mais ali. Não, não suportava mais ficar e ter que aturar as artimanhas de Rodolfo. E, não mais retornou ao casarão.

A mão estendida. Rodolfo a encontrara. Precisava sair daquele bairro. Enveredou caminho pela Avenida Almirante Barroso, e seguiu em frente, sem destino certo. Caminhou por muitas horas... Estava exausta! Precisava de um descanso. Seus pés reclamavam PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS doloridos de tanto andar. Não sabia para onde ir. E assim pensando quando deu por si, passava ao lado de uma igreja. Era como se a convidasse para entrar aquela porta aberta. Entrou. Viu apenas um casal que se movimentava como se estivesse arrumando os paramentos para as funções litúrgicas. Sentouse. Ficou ali, rezando naquele silêncio aconchegante. O casal realmente providenciavam tudo para as funções religiosas da tarde, percebeu que, aquela mulher jovem ainda, toda maltrapilha, já estava ali, há bastante tempo, comentaram entre si, que com certeza não se alimentava havia alguns dias, tendo em vista o corpo emagrecido e as feições sulcadas pelos vincos que se via na face. Diana dava a impressão de estar meio adormecida ou desfalecida?! Tal a palidez do semblante contrastando com o rosto queimado de sol. Seu corpo pequeno e debilitado supunha-se que não se PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS alimentava. Naquele jeito de total abandono, denotava o quanto estava exausta. No entanto embora tenha feito essas observações, não se aproximaram dela, voltando aos seus afazeres de antes. Após terminaremos vieram caminhando pelo centro da igreja para ir embora. Ao passar pelo penúltimo banco em que Diana estava, pararam. Ela já não se encontrava naquele torpor de antes. Aproximaram-se. - Olá, vimos você chegar. Deve estar muito cansada não é? – falou a senhora. - Sim senhora. Vim caminhando há horas pela rua. Não tenho onde morar. – falou com a voz sumida. - Deve estar com fome também – falou o senhor alto e magro muito sorridente que estava junto. – e acrescentou – Nós somos do grupo de oração desta igreja católica. Venha conosco? PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS sugeriu. - Vamos então? Lá em casa você pode tomar banho, se alimentar e terá um lugar para dormir. completou a senhora com sorriso meigo. - Sim é isso mesmo senhorita. Minha esposa tem razão. Você pode ficar morando conosco. – e o bom homem, olhou para a esposa, que confirmou com a cabeça. Nesse ínterim a senhora já segurava a mão de Diana fazendo com que ela levantasse do banco. Diante daquele convite e das circunstâncias Diana antes de sair, olhou para o altar e, agradeceu a Deus por aquele encontro. E aceitou o que lhe era ofertado com solidariedade e seguiu com eles até a casa, que ficava a poucos metros da igreja. Chegaram. A casa era pequena com uma sala, a cozinha, o banheiro e apenas um quarto, mas muito aconchegante. Depois que estava banhada e alimentada, Diana relatou-lhe sua história. Eles não tinham preconceito quanto a isso, disseram. E na PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS hora de deitar eles a acomodaram no sofá da sala. Durante duas semanas Diana convivera com eles. Ficou frequentando o grupo de jovens na igreja. Mas apesar de todo o carinho que recebia sentia-se inibida morando ali. Estava tirando a privacidade do casal. Conversou com eles. Eles procuraram achar outra solução para ela. Foi então que disseram que, um dos jovens tinha um barraco e estava desocupado. O jovem fazia parte do grupo do bairro do PAIAR. O senhor entrou em contato e ele veio conversar com eles. Expuseram o que estava ocorrendo e se podia ceder o barraco para ela morar. - Realmente eu ainda tenho e está desocupado. É um barraco na invasão, mas se quiseres, podes ficar morando. Pelo menos se estiveres morando lá, fica mais difícil de ser invadido. – dissera para ela. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS Diana não tinha escolha se não fosse, teria que voltar para as ruas. Então aceitou na hora sem pestanejar. Pegou sua mochila e agradeceu ao casal que tão bem a acolhera naqueles dias e seguiu com o jovem para o PAIAR. NOTA: O PAIAR era considerado o bairro com a maior invasão naqueles dias. Ao chegarem ao PAIAR, a manhã ensolarada a encontrou ali. Diana deparava-se com o que era realmente uma invasão. Os barracos se apinhavam por todos os lados. Era gente andando para um lado e para o outro. Chegavam trazendo madeiras, lonas e iam montando os barracos. E por fim os que já vinham trazendo nos carrinhos de madeiras a sua mudança. Após serpentearem entre gentes, madeiras, barracos e, esqueletos de barracos, chegaram onde era o do jovem. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS - É este aqui! – disse ele com os olhos brilhantes de felicidade. Foi na abertura que o barraco tinha. Afastou a cortina que servia de porta entrou e ficou segurando a cortina para que ela também fizesse o mesmo. Já dentro o olhar de Diana ia de um canto a outro e se enchia daquele lugar. Apenas um quadrado de três por três levantado com esteios de madeiras. Paredes e telhados coberto de lona. O piso de terra batida. E o pano de cortina servia como porta. Bom, para quem não tinha onde ficar. Aquele local estava perfeito. - Você pode ficar aqui. Pelo menos eu sei que não ficará abandonado. E também não corre o risco de ser invadido, por estar desocupado. – sorriu largamente. - Eu vou ficar aqui! - falou ela correspondendo ao sorriso dele. - Olhe! Também trouxe aqui na mochila uma PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS rede para você. – tirou a mochila das costas, abriu o zíper e de dentro tirou a rede. Desenrolou e começou a amarrar o punho de um lado e depois o outro no esteio do barraco. - Bom aqui está, já atada para você. – sorriu ele sentando na rede para ver se estava bem amarrada. - Obrigada de novo! Você é um anjo – agradeceu ela feliz. Depois ele caminhou até num dos cantos como se procurasse algo, e, cavou o chão um pouco com a mão, a terra solta logo apareceu o buraco. Tirou de dentro de um saco de plástico coberto de terra, a lamparina a querosene que estava enterrada. - Aqui está ela! Ainda tem querosene – e mostrava para Diana como um tesouro que houvera encontrado. - deixei aqui, quando vim dormir no final de semana. Você sabe! É invasão ainda, e não tem energia elétrica por perto. – estendeu a mão PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS entregando-lhe a lamparina e ela recebeu prontamente lhe agradecendo. Transpuseram novamente a porta de cortina. Saíram para frente do barraco. O movimento ali era grande. Havia pessoas ainda montando barracos, outras substituindo a lona da parede por tábuas. Era um gritando pelo vizinho, que estava precisando de prego, outro que queria alguém para ajudar com as tábuas, crianças brincando, mulheres vizinhas se conhecendo e se ajudando... Eles se entreolharam e começaram a sorrir. - Bom já vou indo. Aqui está! Estes são os dias da semana em que há os encontros de jovens na igreja e o endereço. – entregou-lhe um papel com as anotações – anotei também o meu telefone. – completou - caso precise falar comigo. - Mais uma vez obrigada! – agradeceu ela. - Já vou então. Tchau!- despediu-se ele. - Tchau! - respondeu ela. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS Depois que ele se retirou, ficou ali observando a movimentação quando uma senhora de meia idade, forte, de pele morena queimada de sol, se aproximou dela. - Olá você vai ficar morando aqui também? – perguntou para ela amistosamente. - Sim. Vou ficar. - respondeu com um sorriso. - Olha, aqui não tem sanitário nem banheiro. Mas, quando quiseres te servir, tem um ali adiante que é comunitário. – e apontou para um quadrado de um metro cercado de madeira, um pouco distante dos barracos. - Você já almoçou? Eu ainda tenho um pouco de farofa de charque você quer? – perguntou a senhora bonachona. - Sim senhora eu quero, ainda não comi nada – disse ela sorrindo. - Venha! - e a pegou pelo braço levando – a PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS para dentro do barraco ao lado como se fossem velhas amigas. Quando entrou... Quanta coisa diferente da dela. Ali já tinham divididos os compartimentos: a sala, o quarto e a cozinha. Havia alguns bancos, a mesa e os utensílios de cozinha. A senhora levou-a para cozinha. Pediu que sentasse enquanto pegava um prato no armário, serviu e entregou para ela. Depois de ter almoçado retornaram para a sala. Conversaram bastante. Foi então que Diana pediu que se soubesse de alguém que precisasse de ajuda ela estava ali também. Só queria em troca: um prato de comida. E assim ela ficou vivendo. Ajudava um e outro e recebia seu alimento em troca. Foi ali também que na solidão do seu barraco encontrou respostas: “O pobre, sempre ajuda outro pobre”. Já se passavam seis meses que estava morando ali. À noite era a hora mais difícil para ela. Por ser uma invasão muito grande, havia todo PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS tipo de pessoas a transitar. A cada dia ia se tornando mais perigoso morar ali. Uma vez ou outra acordava sobressaltada ouvindo tiros e, pela manhã a notícia de que haviam encontrado alguém morto. O perigo rondava por perto. Era de madrugada quando ouviu passos aproximando-se de seu barraco. E conversavam. - Vamos invadir aqui? Parece que não tem ninguém – ouviu alguém falar. Diana estava acordada, tremia de medo. Começou a rezar em pensamento. - Meu Deus, por favor, me proteja eu te imploro. – pedia, enquanto rezava o Pai Nosso. Estava em pânico. Suas mãos gelavam, o corpo suava frio, o coração palpitava acelerado no peito e suas pernas tremiam. Não sabia para onde correr, ou se esconder. Só Deus para ajudá-la. As lágrimas misturavam-se ao suor frio. E naquele PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS momento Ele não a desamparou, ouviu suas súplicas. - Deixe para lá. Outro dia a gente vem e invade. – outro respondeu. E os passos foram cada vez mais se distanciando. Quando amanheceu, ela arrumou suas coisas na mochila e foi embora. Chegou à igreja, conversou com o jovem dono do barraco, sobre o que ouvira na madrugada. E disse-lhe que não voltaria mais para lá. Ele compreendeu a situação dela tendo em vista, o pânico que havia passado na noite anterior. Diana agradeceu e despedindo-se foi embora. Novamente estava na rua.

Faca de dois gumes. Caminhava sem rumo. Já exausta, delineou há alguns metros uma igreja. Foi até lá, estava PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS aberta. Entrou. Envolvida por aquela paz, a quietude do lugar. Queria agradecer e rezou. Ficou ali por algum tempo. Quando saiu dali sentia a alma mais reconfortada. Andou sem destino, perdida em seus pensamentos. Quando deu por si, estava em frente à uma praça. Já a noite chegava. Sentou-se num banco e ficou ali. Absorta. De repente deu-se conta de duas jovens na sua frente. - Você se chama Diana? – perguntou uma delas. - Sim – respondeu olhando a que a interpelava. - Você morava no Jurunas? - Sim, meus pais ainda moram lá, por quê? – indagou confusa. - Você não está me reconhecendo, porque eu era menor quando estive na casa do titio. Eu sou tua prima Rosa, filha do teu tio José, lembra? – falou PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS sorrindo. – Eu disse para a minha amiga que eu te conhecia assim que te vi chegar aqui. - Você era pequena. Agora me lembro. - disse ela. - Caramba como cresceste! – falou sorrindo. - Olha! Nós moramos bem ali naquela casa rosa perto do bar. Você vê? – ela apontava o dedo na direção. Diana fixou a visão e então disse; - Sim, estou vendo. - Vamos até lá? Papai e mamãe vão gostar de ti ver. Vamos? Eles estão sentados lá na porta – e a pegou pela mão sorrindo e a puxava. Ela levantou-se e as seguiu. Atravessaram a praça e realmente os encontraram sentados na frente da casa. - Mamãe, papai olhem quem eu encontrei lá na praça! A Diana! – eufórica na sua jovialidade a abraçava efusivamente. - Bênção tio, bênção tia. – falou Diana. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS - Deus te abençoe! – responderam. - Como estão teus pais? Já faz bastante tempo que nós não vamos lá. – perguntaram. - Eles estão bem. Já faz um tempo que eu saí de casa. – respondeu evasivamente. - E o que estás fazendo por aqui? - a interrogaram. - É que tive um atrito com eles e então resolvi sair. – respondeu. - E onde estás morando agora, menina? – perguntou o tio. - Eu não tenho onde ficar. - Então fica aqui em casa, até se ajeitarem as coisas. Rosa a leva para jantar e mostra o quarto que vai ficar. – falou a tia. - Obrigada titia! – sorriu agradecendo. Diana não acreditava naquilo que ouvira. Enquanto sua prima Rosa já a puxava casa adentro, transbordando de alegria. Levou-a até o quarto que PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS iria ficar. Bem arejado e mobiliado como todo quarto de adolescente, onde comportava duas camas de solteiro. - Queres tomar banho para depois jantar? Aqui é o banheiro. – apontou para uma porta de madeira em estilo colonial. Depois tirou uma toalha de dentro do guarda roupa e a entregou. - Sim, obrigada! – agradeceu ela. - Depois que você jantar nós voltamos para a praça, tá? Porque só posso ficar até nove horas. – disse Rosa. - Sim, tudo bem – falou sorrindo. A partir daquela noite Diana passou a viver com eles. Estava tranquila naquela casa. Era tratada com muito carinho. E lá se iam dois meses em que sua prima a encontrara na praça. Naquele início de noite elas foram até a praça, e, estavam tomando sorvete tranquilamente quando Rosa chamou sua atenção. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS - Diana tem um rapaz que não tira os olhos de ti. Acho que você arranjou um pretendente. – falou sorrindo. - Quem? Não vejo ninguém que me interessa – brincou. - Olha já faz tempo que está te olhando sabia? Ainda não percebeu? Ele está do outro lado da rua. Naquele bar que fica do lado de casa. acrescentou ela. - Como é ele? – a indagou. E quando ela o descreveu teve certeza de que era Rodolfo. Quando se virou na direção que Rosa tinha dito que ele estava já o viu aproximando-se delas. - Olá! Tudo bem Diana? – cumprimentou-a com um sorriso cínico nos lábios. - Está – apenas disse, e lhe lançou um olhar cheio de raiva. Ele não se deu por vencido e PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS cumprimentando Rosa lhe falou. - Você sabia que eu sou o marido da Diana? - Não, ela não disse. – respondeu ingenuamente Rosa – mas vem que eu quero te apresentar meus pais, eles estão ali. E foi em direção deles levando Diana também pelo braço, ele, prontamente acompanhou-as. Ela ia remoendo sua raiva por ele agir desse modo como dono da situação. Ao chegarem ela apresentou para seus pais dizendo. - Este é o marido da Diana! - Prazer – ele estendeu a mão para o pai de Rosa. E depois para a mãe cumprimentando-os. - Mas você não disse para nós que havia casado Diana! – disse o tio, dirigindo-se a Rodolfo, mas olhando diretamente para ela. - É verdade tio. Mas é porque não deu certo. – respondeu ela fuzilando Rodolfo com o olhar. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS - Não é bem assim. Eu quero voltar a morar junto, porém ela é que não quer. Prefere estar na casa de um e de outro do que voltar para casa. – explicou Rodolfo. Ali estava ele todo arrumado e elegante. Realmente quem o visse não teria dúvidas de que ele aparentava ser uma pessoa séria e correta e também por causa da conversa. - Tivemos uma discussão fútil em casa e ela simplesmente foi embora. Já faz algum tempo que a estou procurando. Eu a amo muito! Peça para ela voltar comigo! – frisou ele suplicante ao tio. Com sua lábia aguçada conseguiria atingir seu objetivo. Foi o que aconteceu. O tio enternecido com o pedido dele decidiu que, Diana fosse para casa com o marido. Sendo uma pessoa religiosa não aceitava que sua sobrinha ficasse largada do marido sendo casada. - Diana arrume suas coisas e volte com o seu PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS marido. – seu tio estava irredutível na decisão. Na sua concepção de religioso que era, estava fazendo um bem em unir o casal novamente. Ela entrou, enquanto Rodolfo fazia a cabeça de seu tio com conversas de bom moço, que ela já conhecia a fundo. No quarto arrumou suas coisas na mochila enquanto as lágrimas desciam copiosamente. “Ele de novo conseguiu derrubar-me na lama da amargura. Eu vou sair daqui. Mas se pensa que vou ficar com ele, está muito enganado!” – pensava. Saíram de lá juntos e foram para a parada. Quando o ônibus chegou, subiram e ela dirigiu-se para o fundo do corredor, sentando numa das últimas cadeiras. Ele a seguiu e sentou-se perto dela. A partir daí Diana despejou toda sua raiva em cima dele. A discussão tomou proporções na altura das vozes exaltadas. Diana “xingava-o” e ele revidava. - Eu não vou ficar contigo seu cafajeste! Você PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS arruinou minha vida! Não pense que vou morar contigo. Isso nunca! - dizia ela. - Você vai! Ninguém te quer, só eu! E eu não vou te deixar mais! – falava aos brados. Dentro do coletivo as pessoas ficavam observando a briga do casal sem intervirem. Depois de percorrer vários quilômetros o coletivo chegou numa parada para deixar alguns passageiros. Quando o ônibus ia saindo ela rapidamente levantou e, correu para a porta ainda aberta e pulou para fora do coletivo. A surpresa daquele ato pegou Rodolfo desprevenido. Já o coletivo ganhava velocidade levando Rodolfo que esbravejava querendo descer. Ali estava, novamente, caminhando sem destino.

Uma porta se abre. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS Revirou os sacos. Seu rosto se iluminou. Encontrara um pedaço de hambúrguer meio comido. “Graças à Deus tenho o que comer!” – pensou. Degustou lentamente como se fosse a mais deliciosa das iguarias. As roupas maltrapilhas, os cabelos duros de quem já havia dias que não tomava banho. Ali estava Diana. O tempo tinha corrido em dois anos desde que ela deixara tudo e viera morar nas ruas. Estava fraca. Há três dias não colocava nada no estômago. Sua barriga roncava e doía-lhe o estômago. Subiu as escadarias da Assembleia de Deus e ficou sentada na penúltima fileira próxima à porta que ainda estava fechada. Ficou lá. Em pouco tempo deitou-se. Já estava sem forças para se ficar na posição de sentada. Após algum tempo começaram a chegar algumas pessoas e abriram a porta. Aos poucos as pessoas iam entrando. Ao passarem, observavam PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS aquela mulher maltrapilha deitada ali, mas sem se deter entravam na Assembleia. Depois de várias pessoas terem passado por ela, veio um senhor bem vestido, olhou a situação daquela jovem se aproximou. Agachou-se e perguntou gentilmente - Minha filha o que fazes aqui? Ela levantou a cabeça na sua direção. Naquele olhar transparecia toda a dor que estava dentro do seu coração. E as lágrimas encheram aquele olhar. - Eu não tenho para onde ir. – disse tristonha, desvalida. Enternecido com aquela situação o senhor que a interpelara se identificou. Era o pastor do templo. - Vamos minha filha. Levante-se vamos entrar. – pediu. Ela levantou-se um pouco inibida devido a PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS situação em que estava, mas ele muito gentilmente a levou pelo braço. Entraram no salão. Atravessaram-no embora saudando a todos que encontrava, ele não largava seu braço. Seguiram para uma porta lateral que dava acesso a outro salão menor. Havia algumas obreiras. Foi até uma senhora e disse. - Veja alguma coisa para ela se alimentar. E depois vá à loja em frente, compre umas roupas e sandálias. E quando ela se trocar jogue essa que ela tem no lixo. Daqui a pouco vai começar as funções. - e depois olhando para ela falou - quando terminar o culto eu quero conversar com você. – sorriu, em seguida foi para o salão. A senhora bonachona chegou perto dela e entregou uma toalha. - Ali é o banheiro depois venha para cá comer tá? Irei à loja aqui em frente. Daqui a pouco eu chego, enquanto isso você toma banho e se PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS alimenta – disse ela com sorriso meigo. Diana retribuindo o sorriso recebeu, agradeceu o que lhe era oferecido e dirigiu-se para o banheiro. Após o banho alimentou-se um pouco. Seu organismo rejeitava a comida, depois de tantos dias sem alimento. A senhora trouxera quatro mudas de roupas e as sandálias como fora pedido pelo pastor. Ela pegou a sacola e foi trocar-se. Veio trajando um vestido amarelo de bolinhas. As roupas sujas de antes foram para o lixo conforme pedira o pastor. Depois, dirigiu-se para o salão com intuito de alimentar a alma também. Quando terminaram as funções as pessoas abandonaram o local. Diana foi para o lado de fora, na escadaria, no mesmo lugar em que estivera antes. Ficou aguardando o pastor. Depois de alguns minutos ele chegou e pediu que o acompanhasse até uma sala ao lado do salão. Era ali o escritório dele. Havia uma cadeira à frente PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS de sua mesa. Pediu que sentasse. Enquanto ele acomodava-se na poltrona por detrás da mesa. Aquele senhor alto, forte e de sorriso farto a olhava cheio de compreensão: como um pai olha para uma filha que precisava de cuidados. - Então minha filha o que acontece com você. Ela então, entre lágrimas, relatou sua vida. O que havia passado até quando ele a encontrou ali. - Eu já dei entrada já faz muito tempo na papelada da separação, mas até agora ainda não saiu. – soluçava quando terminou de falar. Condoído a escutou calmamente deixando-a desabafar. Enquanto ela se recompunha, olhava-a pensativo. Depois seu semblante anuviou e faloulhe carinhosamente. - Minha filha eu tenho uma ideia. Aqui você não pode ficar, mas, não gostaria de ir para São Paulo? Lá as pessoas têm mais chance de arranjar um emprego. Tantos que vão e se dão bem... Então! PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS Você gostaria de tentar? – perguntou-lhe todo animado. Diana ficou olhando-o incrédula. “Como poderia viajar se não tinha um centavo! Ele só deveria estar meio maluco!”. E sorriu meio amarelado. Mas, ele notou sua desconfiança e a fitou detidamente, depois deu um largo sorriso entre sério e brincalhão. - Ah, já sei! Está pensando como você vai viajar se não tem dinheiro, não é verdade? - Sim, senhor. - respondeu encabulada. - Não se preocupe minha filha! Eu vou te dar o dinheiro para a sua passagem. Você quer ir e tentar viver em São Paulo? - perguntou-lhe. - Sim, eu vou. Aqui não dá mais realmente para ficar, como o senhor disse. – o sorriso iluminou seu rosto. Iria sair da sua cidade, mas aí se abria as portas para procurar a família de Rodolfo em São Paulo. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS Ele então enfiou a mão no bolso e tirou a carteira. Separou algumas notas do dinheiro. Conferiu. E sorrindo lhe estendeu a mão com as notas e disse. - Aqui está minha filha! Vai dar para você comprar sua passagem de ônibus, a comida e ainda vão sobrar alguns. - O senhor é um anjo de Deus que surgiu na minha frente. Muito, muito obrigada, pastor. Que Deus sempre o ilumine e conserve sua alma caridosa. – falou agradecida não se contendo de tanta felicidade que naquele instante inundava seu coração. - Vá minha filha. E que você seja feliz! – falou ele, sorrindo amavelmente. Ela saiu transbordando de felicidade. Entrou na igreja para agradecer a Deus. ELE na sua infinita misericórdia havia colocado um anjo para lhe ajudar. Pedia que ELE estivesse sempre com ela PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS na viagem e indicasse o caminho a seguir. Sim, agora iria rumo para São Paulo.

CAPÍTULO III Outras terras, outro lugar.

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Chegou a São Paulo numa manhã friorenta. De posse do endereço, pegou um táxi na rodoviária e rumou para Itapeva, uma cidade interiorana do Estado de São Paulo. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS Por algum tempo o motorista rodou. Entrou numa ruela e no final dela parou o carro e disse que iria só até ali. Ela colocou a cabeça pelo lado de fora e olhou. Qual foi a sua surpresa ao deparar-se com o lugar onde residia a família de Rodolfo. Estava na periferia da cidade. E diante dela se estendia uma ruela estreita cheia de casas ambos os lados numa subida que dava a impressão de tocar o céu. Pagou o motorista. Pegou sua mochila, a sacola e saiu do carro. Agora era ter fôlego para empreender a subida no morro. Apinhada de barracos que se espremiam uns nos outros dum lado e do outro naquele lugar. As pessoas passavam por ela. Alguns ainda voltavam a cabeça para vê-la, mas, em seguida retornavam como se não mais interessava o objeto de sua observação. E ela subia na sua peregrinação. Lá ia, morro acima. A ruela íngreme tornava mais PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS penosa sua caminhada. A bagagem começava a pesar. A respiração ficando cada vez mais acelerada, no rosto afogueado, escorria o suor. Sua figura esguia desaparecia entre os transeuntes que passavam a seu lado. Parava um pouco, respirava fundo, enxugava o suor do rosto e depois olhava o endereço em sua mão e... seguia adiante. O cansaço ia tomando conta do seu corpo, mas a determinação estava ali, estampada naqueles olhos irrequietos. Depois de uma exaustiva subida encontrou o endereço. Bateu e logo uns olhos desconfiados vieram atender. Falou que tinha vindo do Pará e, que precisava conversar a respeito de Rodolfo. Logo um mal estar se formou na hora que entrou na sala. Eles a olhavam com cara de poucos amigos, sendo recebida por eles, com malquerença. Estava cansada pelo esforço a qual não estava acostumada, suada, com o rosto avermelhado, não poderia ir embora, mesmo vendo a atitude deles para com ela. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS Não, não poderia ir sem antes dizer o que a moveu de tão distante para chegar até ali. Começou a relatar o que vinha acontecendo, o que Rodolfo estava aprontando. Eles não acreditaram na sua versão dos fatos. E diante da família dele enfim, descarregou tudo o que vinha sofrendo, o que Rodolfo estava fazendo da vida dela. - Isso é mentira! Essa cabloca vem sabe lá da onde, vir denegrir a imagem do nosso filho. E ainda quer que acreditemos nela. – falou a mãe com raiva. – eu recebi uma carta dele em que dizia que você era que tinha contaminado ele. - Essa mulher está mentindo! – falavam os outros. Nessa hora Diana percebeu que só falando eles nunca iriam acreditar nela. Então decidiu buscar as provas para que eles vissem a veracidade do que tinha dito. - Isso não é verdade! Foi ele que me contaminou. E vou provar para todos que não estou PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS mentindo. - saiu dali arrasada. Mas não se deu por vencida. Foi até o Hospital das Clínicas, conversou com a atendente, explicou que precisava de uma cópia do atestado, de que Rodolfo era soro positivo. Foi encaminhada para outra sala, onde preencheu uma ficha cadastrando - se também. Logo depois a atendente trouxe a cópia entregando-a. De posse do documento, foi novamente para casa dos pais de Rodolfo. Chegando, apresentou aos pais dele, confirmando a veracidade do que tinha dito. Com a prova contundente nas mãos, ficaram temerosos de que Diana os colocasse na justiça e a deixaram que ficasse morando na casa. No quarto dia em que estava convivendo naquela casa chegou o irmão de Rodolfo. Foi logo entrando no quarto em que ela se encontrava e a agrediu verbalmente: - Sua safada ponha-se daqui para fora agora! - Não! Eu só vou sair daqui depois de PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS descobrir quem é o cafajeste que vivi e que anda infernizando a minha vida! – respondeu no mesmo tom. - Você vai sair sim, porque eu também mando aqui! – vociferou. - Não, eu não vou! Já comecei, a saber, que ele é um cafajeste igual a ti. Ele dizia-me uma coisa e aqui estou sabendo quem ele é realmente. Sei que é puxador de carro e que também já foi preso. Foi embora para o meu Estado fugindo daqui replicou. - Ele é que errou, se metendo com uma cabocla igual a ti! - gritou. Seus olhos lampejavam de ódio estava endoidecido, mas Diana também não “baixava a guarda”. E cada vez mais os ânimos exaltavam-se. De repente ele tirou um revólver da cintura e apontou na direção da sua cabeça. E esbravejou: - Vou matá-la! PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS - Pode matar! Tu vais fazer um favor para mim - respondeu sem se intimidar. No mesmo instante ouviu-se o clique da arma. Não tinha bala. Abriu o tambor e gritou mais alto ainda tomado pelo ódio. - Eu carreguei, tenho certeza disso, quem foi o idiota que tirou as balas? - gritou. Naquele momento entrou o pai esbaforido no quarto e tirou a arma da mão dele, mandando que se retirasse dali. - Você é louco! Quer estragar a tua vida! Vai, vai embora! - gritou. Ele saiu da casa espumando de ódio. Enquanto Diana se isolava em sua dor naquela casa em que todos a odiavam. No outro dia a tia de Rodolfo chegou. Colocaram-na a par da situação. Ela foi até Diana queria ouvir a versão dela. Depois de ouvir tudo o que estava acontecendo, dona Deise a tia de PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS Rodolfo ficou compadecida com a situação que ela se encontrava. Diante disso a convidou para que fosse lá para casa dela. Queria conversar mais com ela. Pois sabia muitas coisas que seu sobrinho já tinha feito e os pais encobriam. Ela aceitou na hora. De tarde ela partiu com dona Deise para o interior da cidade de Cotia.

Uma chama na escuridão. Durante o trajeto ela segredou-lhes informações valiosíssimas. Disse-lhe também que sabia que seu sobrinho era bissexual, pois antes de viajar, ele vivera três anos com outro homem e que talvez tenha se contaminado a partir daí. Ele não era “flor que se cheirasse” e a convidou para morar com ela. Subiram o morro. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS Ao chegar dona Deise estacionou a Kombi e a convidou para entrar. Na frente da casa tinha um mercadinho e um atelier de costuras. Entraram no mercadinho. Encontraram com um senhor que estava atendendo a uma cliente depois que ele se virou para saudá-la dona Deise o apresentou. - Diana este é meu marido. – e o olhando disse - ela vai ficar aqui por uns tempos. Ele sorriu e a cumprimentou. Depois disso entraram por uma porta que havia nos fundos e finalmente entraram na casa. Tomaram café e conversando dona Deise sugeriu. - Diana do outro lado da rua, tem um casebre abandonado. Queres dá uma olhada? Você poderia morar lá. Não tem luz e tampouco água, mas podes vir aqui tomar banho todos os dias. Diana estava precisando de um local para ficar, então, não pestanejou e aceitou logo a ideia. Foram lá. Após verificar então resolveu que iria PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS ficar. Limpou tudo e passou a morar. Estava vivendo ali há dois meses. Trabalhava no atelier fazendo faxina, porém não tinha salário. Suas refeições ela fazia na casa de dona Deise e como pagamento, cozinhava e cuidava da casa, assim ajudava na despesa. Chegara o inverno. A casa em que ela estava morando estava localizada no alto do morro. O frio ali era intenso. Seu organismo não estava acostumado com baixa temperatura então, passou a ter dores no corpo e articulações e suas narinas começaram a sangrar. Após sofrer muito com o frio intenso decidiu ir embora dali. Amanhecia. Ainda eram 5h30min. Dona Deise se preparava para sair. Nos finais de semana, descia o morro dirigindo sua Kombi até o CEASA, para comprar frutas e legumes a fim de abastecer o mercadinho. E foi assim que Diana encontrou dona PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS Deise. Chegou até ela e disse-lhe que iria embora. Contou-lhe o quanto estava sofrendo com a baixa temperatura. Por isso estava indo embora. Não se adaptara ao local por ser muito frio. - Eu vou embora daqui. A senhora poderia deixar-me no centro da cidade? Vou voltar na casa da família de Rodolfo para ver se eles me aceitam. Eu estou só aqui. - Tudo bem se assim queres. Mas antes pega este dinheiro para ti. Sei que não tens e podes precisar. Sabes que gostamos muito de ti. Mas se queres mesmo ir. Não podemos impedir. Não se preocupe, eu te levarei até o centro. Ela trouxe suas coisas colocou na combi e seguiram. Quando chegaram ao centro da cidade já na praça, Diana ficou. Abraçaram-se despedindo se. Dona Deise subiu novamente na combi e foi embora. Diana andou para a parada de ônibus. Quando chegou, subiu e assim retornou para a PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS cidade de Itapevi. Chegando à porta da casa da família dele não a deixaram entrar, estavam irredutíveis. - Não te queremos aqui. Vai embora! – e a expulsaram de lá. Diana saiu dali com o coração em pedaços. Ainda ressoavam em seus ouvidos os tipos de palavrões de baixo calão que a açoitavam. Fora novamente escorraçada pela família de Rodolfo. Saiu dali sem tino. Descia o morro sem saber o rumo, tal o seu desespero. Quando deu por si estava numa praça. Sentou-se no banco e ficou rememorando tudo o que tinha passado até ali. As lágrimas faziam caminhos em sua face. Sozinha numa cidade estranha. Sem saber para onde ir. A noite envolvia a cidade e as luzes de neon sufocavam-se no nevoeiro que baixava cada vez mais feito um véu esfumacento descendo do céu. Ela ali sozinha, sem ter um lugar onde dormir PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS encolhia-se no banco da praça. A noite trouxe a madrugada e ela vestida como uma calça jeans, blusa, de meia e tênis e apenas sua jaqueta servia de lençol, com isso sentia o frio penetrar em seus ossos. A madrugada fora-se e deixou a manhã nevoenta a envolver. A cidade acordava. Às cinco da manhã, um casal chegou com um carrinho para vender café. A senhora vendo-a ali se aproximou e perguntou. - Você dormiu ai? - Sim. - respondeu com a voz tremula. - Você quer vir tomar café em casa? – continuou a senhora. - Ah, minha senhora eu aceito. – disse ela abrindo um sorriso. - Então venha. Eu moro aqui perto. Nós temos uma banca de café aqui na praça. Apontou para uma barraquinha com garrafas de café e leite onde um senhor de meia idade servia um cliente. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS - É meu esposo, então vamos? – falou com sorriso no rosto. Diana esticou as pernas. Sentia os ossos adormecidos por causa da posição fetal em que ficou para que não congelasse. Levantou-se e a seguiu. Andaram alguns metros e chegaram. Entraram. A casa tinha uma sala, o quarto, a cozinha, casa de banho e uma pequena área para a lavanderia. Tinha tudo que deveria ter para o conforto do casal. Ali, reinava a simplicidade. - Você quer tomar banho? Diana foi arrancada das suas observações com a pergunta. Olhou-a e viu refletiva naquele semblante a Paz, a Paz que vem de dentro, e na face rosada cheia de sorriso, a alegria da solidariedade. - Sim senhora, eu quero. - respondeu retribuindo o sorriso. Ela indicou-lhe a casa de banho. Foi até o quarto e trouxe de lá a toalha que lhe entregou. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS Depois de tomar um bom banho quente Diana, trocou de roupa e saiu. Já encontrou em cima da mesa a xícara de café com leite, cheiroso e esfumaçante, e o pão. Sentou e degustou aquele desjejum. A senhora, enquanto isso colocava dentro de uma sacola alguns copos, guardanapos, coisas que deveriam estar faltando na barraquinha de café. Diana já alimentada e a senhora com a sacola na mão retornavam para praça, quando viram uma tabuleta na esquina de uma das ruas transversal. Estava escrito: ‘“Precisa-se de funcionários” e embaixo o endereço da oficina. Pararam e ela comentou. - Olha estão precisando de funcionários. Eu vou até lá. A senhora percebeu um brilho acender nos olhos de Diana. A centelha de esperança iluminava novamente aquela jovem. E então incentivando PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS perguntou. - Você vai lá? Quem sabe tem vaga para ti. - É eu vou. – disse convicta. - Vá, de repente você consegue, vou ficar torcendo para dar tudo certo. - dizia a bondosa senhora lhe abraçando. E ali, Diana agradeceu a senhora e se despediram. Enquanto a senhora seguia adiante para a praça, Diana enveredou caminho pela rua transversal até o endereço da oficina. Andou algumas quadras quando viu novamente a tabuleta pendurada na porta da casa. Parou na frente da porta. A tabuleta indicava que era ali a oficina. Ainda era cedo, mas, poderia ser que já tivesse alguém. Bateu. Quando a porta se abriu apareceu um rapaz, aparentando ter mais ou menos uns vinte cinco anos. Esbelto, tinha os olhos verdes, os cabelos cortados rentes e a pele alva. Diria que o jovem cuidava da aparência sem ser sofisticado. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS -Vocês estão precisando de funcionárias ainda? – perguntou ela um pouco sem jeito. - Sim. – respondeu o jovem. - É que vim ver se tem uma vaga para mim. - E o que você está fazendo aqui? Porque, eu estou precisando de costureiras. - disse ele. - Só que não está dizendo no cartaz - ela comentou sorrindo encabulada - e que tal se você me desse essa oportunidade? - Você sabe costurar? – repetiu a pergunta. - Não, mas eu posso aprender. Pediu que entrasse. Diana deparou-se com um salão cheio de máquinas de costuras industriais. - Bom, eu vou dar uma chance para você. Como se chama? - Diana – dissera. - Pedro, é meu nome. Vou disponibilizar uma máquina e uma pessoa para ensinar-te. Você terá dois dias para aprender. Se conseguir, o PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS emprego é teu. – finalizou. Aos poucos os funcionários iam tomando seus lugares. Ele chamou uma funcionária e passou as ordens para ela. E a partir daquele momento iniciou seu teste. No final do dia ela conseguiu, embora lenta, já costurar em linha reta. O dia se fora dando lugar para a noite que chegava. Os funcionários já tinham saído. O rapaz que na verdade era o dono da oficina se aproximou dela e vendo a indecisão em que estava em ir embora perguntou. - Você tem onde ficar? - Não. – respondeu ela com sorriso triste. - E as suas coisas? - Está aqui! – e mostrou a sacola e a mochila. Seu coração se enterneceu diante daquela situação. Olhou-a por um momento e então como se uma luz surgisse em sua memória sugeriu para ela. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS - Você pode ficar aqui. No refeitório, tem um colchonete para dormires. E há também o banheiro! - falava eufórico com alegria estampada no rosto de ter solucionado o problema que ela enfrentava. - Está ótimo para mim! Obrigada! – agradeceu ela. E então pegou sua sacola e a mochila e foi caminhando para o refeitório. - Até amanhã! – despediu-se. - Até amanhã! – ela respondeu. Enquanto ela sumia no vasto corredor entre as máquinas de costuras, o rapaz saía e fechava a porta da oficina pelo lado de fora. Sentia nesse momento o coração pulando de alegria. Enquanto caminhava para o refeitório, agradecia intimamente à Deus pela graça, de estar trabalhando e ter um teto sobre sua cabeça, pelo menos não iria dormir ao relento como na noite anterior. Agradecia por encontrar pessoas caridosas que tinham amor ao próximo e que ajudavam. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS No final da manhã seguinte do teste ela se descuida... E numa fração de segundos que desviara a atenção, a agulha da máquina, costura seu dedo. Seu nervosismo foi tanto que, ela puxando, rasgou a carne, salpicando sangue, na máquina e no tecido quando o sangue começou a jorrar. O desespero tomou conta dela. Uma funcionária foi chamar seu Pedro. Quando ele se aproximou e viu o estado em que ela estava, pediu que alguém limpasse o sangue e que iria levá-la ao pronto socorro. Porém, ela já sabendo, que o sangue é um dos principais meios de contaminação do vírus, temendo que alguém pudesse ser contaminado, pediu que não se preocupassem, que assim que limpasse tudo, iria ao hospital. Enrolou a mão na sua única jaqueta para que não sujasse mais o local. Após ter limpado e desinfetado o local, ela foi até seu Pedro que já a estava esperando no carro. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS No trajeto ela revelou-lhe que era soropositivo. E contara um pouco da sua vida, até a chegada à São Paulo. Ele a ouvia atentamente e depois, com a voz entristecida confessou - lhe. - Não se preocupe. Eu te entendo. Faz pouco tempo que perdi meu irmão. Ele também era portador desse vírus. – disse com a voz embargada pela emoção. Chegando ao hospital, foi para a Urgência. Fizeram o curativo e foi medicada. Saiu de lá com a mão enfaixada. Retornaram para a oficina. Diana foi para o refeitório. Não tinha condições de trabalhar. As horas iam passando e as dores aumentando mais e mais... Todos tinham ido embora. Ela encolhia-se naquele colchonete. Já tinha tomado mais comprimidos para dor e... Nada! Em vez de passar sentia que a dor começava a se espalhar por todo o braço. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS A noite fora longa, passou em claro. A madrugada ia aos poucos dando lugar a manhã que chegava de mansinho. O frio intenso, as dores maiores ainda. O inchaço da mão subia, agora tomando espaço no braço... Os remédios não estavam mais fazendo efeito. A dor estava ficando insuportável... Temia que algo pior acontecesse. As lágrimas escorriam a largos caminhos pelo rosto. Sozinha... Rezava... Pedia que Deus a curasse. Que tirasse dela aquele sofrimento, porque, já não aguentava tanta dor. E rezou muito... E naquele momento rezava com Fé. De repente ouviu um barulho lá para o salão. Foi como se alguém tivesse aberto a porta. Sentiu um calafrio envolver todo seu corpo. Estava só naquele lugar. Não poderia ter sido aberta a porta àquela hora da madrugada. Só quem tinha a chave era o seu Pedro, e ele só vinha de manhã. E se fosse um ladrão? Cogitou e naquele minuto PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS sentiu o pavor inundar todo o seu ser. E rezava mais e mais. De repente uma voz inundou aquele recinto. Atordoada ouviu que alguém com voz maviosa a chamava pelo nome. - Diana! Apavorou-se. Lembrou que uma vez sua mãe dissera: “A Morte vem no dia seguinte”. Será que, ela tinha vindo buscá-la? É melhor ficar calada – pensou, e se encolheu mais num canto do colchonete. Seu coração batia disparado no peito, como se fosse sair. - Diana? – a voz mansa novamente a chamava. Passaram alguns segundos aquela voz perguntou. - Porque não respondes? Os pensamentos passavam aos turbilhões em sua cabeça, supondo de quem seria aquela voz. “Eu não vou responder, depois, pode ser que seja a Morte” – ela pensou. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS - Estás pensando que eu sou a Morte? É. Você pensa que eu sou a Morte. - A voz dissera. Quem poderia estar lendo até os seus pensamentos? Quem era para ter o poder de fazer isso? Depois de várias conjecturas lembrou: Aquele que é capaz de ler até os nossos pensamentos é somente, Deus! Sim, Deus! Aquele que tudo vê! concluiu. - Diana! – novamente aquela voz a chamar carinhosamente, como o pai chama sua filha. Ela foi sendo envolvida por uma onda de serenidade. Sim, agora seu coração estava sendo tomado por uma calma. Não sentia mais medo. A sua mente iluminou-se. E com surpresa chegou a conclusão que poderia estar escutando um anjo de Deus e sentiu confiança. - Sim. Senhor! – respondeu ela num fio de voz. - Agora sim! Mas, já são cinco e meia. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS Tome seu banho e vá terminar seu trabalho. Você vai levantar agora, dar a volta pela outra entrada, em todo o salão da oficina. Vai minha filha e termine o trabalho que deixaste por fazer ontem. Ao te mexer as dores aumentaram na sua mão machucada... Está doendo tanto? - Está. – ela respondeu, mordendo os lábios, tentando ser forte. - Sim, eu sei que está doendo, mas pense que a dor vai passar, seu dedo vai sarar, e quem vai segurar o seu trabalho? Faça o que estou pedindo, porque seu patrão chegará antes. Ele vai te mandar embora. Mas faça o que eu estou te mandando, que terás uma surpresa. Ela ouvira tudo, ali, de olhos fechados, encolhida no canto. Alguns segundos se passaram, o silêncio voltou novamente a inundar o local. Esperou que continuasse a falar, mas o que ouviu foi novamente a porta bater, mas agora como se PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS alguém tivesse saído e fechado a porta. Movida pela recomendação da voz que a visitara. Numa força sobre humana foi se mexendo aos poucos para sair do colchonete. Mesmo com a mão e o braço latejando de dor ela se levantou. Foi tomar banho. As palavras ficaram memorizadas. Fez tudo o que aquela voz tinha pedido. Ouviu a porta da frente se abrindo, e seu Pedro entrou. Olhou para o relógio, ainda eram sete meias. Como havia previsto a voz, ele chegara antes. Entrou e quando a viu aproximou-se rapidamente dela. Como tinha se restabelecido tão rápido? Estava surpreso deparando-se com ela ali em pé, ao lado da máquina, amarrando o pacote de roupa, que havia terminado de costurar. - Mulher o que estás tu a fazer aí? – a interrogou tendo em vista a mudança do estado de saúde dela, desde que a deixara, na noite anterior. - Terminei o meu trabalho que havia PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS deixado por fazer ontem, antes do acidente – respondeu ela sorrindo. - Você conseguiu? E sua mão? Não está doendo? – perguntou preocupado olhando a mão enfaixada. Embora tivesse tomado as medicações, ainda estava sofrendo dores terríveis do ferimento. Mas, com calma, sem deixar transparecer o que sentia disse. - Não, não está mais doendo. - Como? - perguntou abismado com a resposta dela. - Sim. E eu tenho algo a te falar. A dor vai passar. O meu dedo irá cicatrizar, mas eu resolvi terminar o trabalho, em agradecimento por você ter cuidado de mim ontem. Porque eu sei que irás mandar-me embora. Eu só te dei prejuízo. – enfatizou. Diante de tanta determinação e coragem PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS naquela mulher, seu Pedro rendeu-se. E virando-se para as outras funcionárias que haviam chegado e se acomodavam em seus lugares disse-lhes. - Vocês estão vendo! Ela é merecedora de ficar com esta vaga. Apesar de estar com a mão machucada, ela terminou o trabalho. – e colocando a mão em seu ombro num afago, concluiu sorrindo para ela. - Você conseguiu! O emprego é seu. – e foi para o final do salão onde ficava o escritório. As funcionárias sorriram para ela. Embora fosse tão pouco o tempo que estava ali, mas Diana conseguira com seu jeito meigo, conquistar a todas. Após o conhecimento da decisão de que fora contratada seu coração agora, se rejubilava de alegria. Suas preocupações haviam terminado. E a felicidade transparecia em seu rosto. E naquele momento veio no pensamento a profecia da voz realizada, quando lhe disse “terás uma surpresa”. É realmente... O que acontecera ali naqueles PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS momentos cruciais fora uma maravilhosa surpresa. Já mais aliviada com relação ao seu sustento, ficou ali, costurando os tecidos que fora incumbida a fazer, embora com muita dificuldade, mas não desistia. Todas às vezes que sentia estar passando o efeito do analgésico, levantava e tomava mais um. E assim aliviava a dor. E, retornava para a máquina, não deixando transparecer o seu sofrimento. E assim passara aquele dia. Na hora da saída, quando as colegas de trabalho tinham ido embora o dono veio falar-lhe. - Diana. Você pode ficar dormindo aqui até o final de semana. Eu pago por produtividade, todo sábado. Assim, tens tempo para procurar um kitnet para morar. - Muito obrigada. Na hora do almoço eu vou procurar. – respondeu-lhe agradecida. - Tudo bem, então faz isso. Até amanhã! – despediu-se. Ela estava mais aliviada tinha agora PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS um local para dormir e o trabalho. Só precisava encontrar um lugar para morar, urgente! Naquela noite rezou muito agradecendo a Deus pela graça recebida. Os antibióticos que estava tomando começaram a fazer efeito no seu organismo. E nessa noite conseguiu dormir melhor. Sua mão deixara de latejar tanto. Mais um dia se passava. Após almoçar, aproveitou que tinham uma hora de descanso e saiu pelos arredores procurando um quarto para alugar. Já fazia uma semana que começara a trabalhar e ainda não encontrara a quitinete. Precisava encontrar logo um lugar para morar pensava. E assim no sábado depois que recebera seu pagamento, saíra novamente a procurar. Ia caminhando, observando, já havia entrado e saído em algumas ruas e nada. Decidiu voltar por outra via de acesso quando retornava. E desta vez sua procura não tinha sido em vão. Mais adiante PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS avistou uma placa de “ALUGA-SE” pendurada. Era uma pensão localizada no centro da cidade e não muito distante do seu emprego. Imediatamente dirigiu-se para lá. Já estando na frente do portão bateu palmas. Logo uma senhora apareceu para atendê-la. Explicou que estava ali por causa do anuncio. A senhora abriu o portão e a levou para conhecer o local. Era só um cômodo, com o banheiro de alvenaria. Havia também um sofá e o fogão de duas bocas. Diana adorou. Era tudo que precisava no momento. Olhou e veio conversar com a dona da pensão. Disse que havia gostado e explicou parte de sua história: - Minha senhora, eu comecei a trabalhar agora. Ainda não tenho dinheiro para dar de depósito, a senhora poderia deixar para eu pagar no final do mês? Venho do Pará... – e despejou seu olhar suplicante, comovendo a dona da pensão com PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS a situação dela. - Não se preocupe eu vou esperar até o final do mês. - falou compadecida. - Obrigada por ser tão generosa. A senhora pode confiar que eu não vou lhe desapontar. – respondeu com firmeza. Diana mudou-se no mesmo dia. Ironia do destino. Lá se iam um ano e meio morando naquela cidade. Trabalhava de segunda a sexta feira na fábrica e nos finais de semana, ainda passava roupa para a dona da pensão. Era mais uma maneira de ganhar alguns trocados, para comprar a alimentação. Nesse ínterim Rodolfo ligou para seus pais e ficou sabendo de que Diana havia estado lá. A notícia foi determinante para ele no mesmo dia, PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS arrumar a bagagem e retornar para São Paulo. Diana até então, não havia informado para a família de Rodolfo o endereço de onde trabalhava ou tampouco do lugar onde estava morando. Amanhecera. Eram seis e meia. A manhã friorenta de inverno inundava. Diana chegava para trabalhar. Ainda era cedo. Ficou ali parada na porta aguardando abrir a oficina. Mas, por ironia do destino, naquele momento o pai de Rodolfo passava no local e a viu. Ela tomou um susto. “Será que ele desconfiou que trabalho aqui?” - pensou apreensiva, mas descartou essa ideia. “Rodolfo está no Pará. Muito longe daqui”. E se acalmou ao ter esse pensamento. Mas às vezes, o destino é cruel e insano. Realmente a sua intuição tinha razão. Assim que o pai de Rodolfo chegou em casa, falou para todos que a havia encontrado e com certeza era lá que devia estar trabalhando. Depois daquele dia em que foi escorraçada PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS da casa dos pais de Rodolfo, ela não mantivera mais contato nenhum com eles, salvo o encontro agora com o pai naquela manhã. Porém mal sabia ela que depois de uma semana daquele encontro o próprio Rodolfo apareceria ali. Chegara segunda feira. Oito horas da manhã. Quando as funcionárias entre elas Diana sentaram para trabalhar, o patrão veio até elas e anunciou. - Estará chegando uma pessoa, que entende muito de costura. É estilista. E virá para melhorar a produção com ideias inovadoras. Será meu braço direito. Ele irá se apresentar amanhã. Espero que venha contribuir bastante, e quero a receptividade por parte de vocês também. – sorriu - Que todas cheguem amanhã mais cedo para recebê-lo. Ele estará aqui às oito horas. - e assim finalizou o aviso. Ao simples fato dele mencionar que a pessoa era estilista, Diana sentiu um frio no estômago. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS “Com certeza Rodolfo ainda estaria no Pará”, pensou ela e com isso seu coração se acalmou. Dez horas tocou o relógio. Sentiu como se algo a observasse. Levantou a vista em direção da entrada. No umbral da porta a figura de Rodolfo em pé parado lhe lançava um olhar inquisidor. Sentiu um calafrio invadir seu corpo. Mas foi apenas um segundo. Ele entrou e sem denotar que a conhecia, passou por ela sem dizer uma palavra e dirigiu-se até o escritório da fábrica. Olhou através da porta de vidro. Viu uma jovem senhora, morena, esbelta e bem maquiada. Deveria ter uns vinte cinco anos, sentada por detrás da mesa. Bateu levemente na porta com a ponta dos dedos. Ela levantou a vista e acenou para que entrasse. Entrou em seguida. Naquele momento quem estava no escritório, era a esposa do patrão, que ficara gerenciando a oficina, enquanto ele havia saído. - Sente-se. – pediu - O que o trouxe até PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS aqui senhor? – continuou ela, enquanto selecionava as notas de serviços que estava em suas mãos. Puxou uma gaveta a seu lado, as deixou dentro e depois fechou. Em seguida levantou a vista e, ficou observando-o enquanto ele falava. - Sou estilista. – disse - Já estive conversando com seu marido. Ele falou que precisava de um estilista e que caso não estivesse aqui, poderia falar com a senhora - foi logo direto ao assunto. - É. Realmente ele já tinha me falado que você viria. Nós realmente estamos precisando de um estilista. – respondeu ela. E assim, após acertarem todos os pormenores quanto ao horário e remuneração Rodolfo foi contratado. Enquanto assinava os papéis, seu Pedro chegava. Foi direto para o escritório. Alguns minutos depois retornou ao salão com Rodolfo. E ali no centro pediu a atenção de PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS todos os funcionários e o apresentou. Comentou que ele no dia anterior, já havia conversado sobre a vinda de um estilista. Rodolfo muito gentil cumprimentou a todas e realmente se revelou um perfeito dissimulador, tratando igual a todas: com respeito, não demonstrando que conhecia Diana. - Estou aqui para ajudar. Qualquer problema é só vim dizer-me que estarei pronto para verificar e buscar soluções. - disse muito solícito. E assim, dedilhou seu rosário de gentilezas como era do conhecimento de Diana. Após as apresentações voltaram ao trabalho enquanto seu Pedro e Rodolfo retornaram para o escritório. Na manhã seguinte Diana teve uma decepção. Trocaram-na de lugar. No salão, as máquinas de costuras eram postas em bancadas enfileiradas: três fileiras do lado direto e duas do lado esquerdo totalizando cada fileira com sete. No meio, o corredor central, que dava acesso ao PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS refeitório. No final do lado esquerdo, havia um espaço onde estava uma mesa grande para se talhar as roupas e logo em seguida mais adiante era o escritório. A máquina que ela deveria costurar ficara de frente para a mesa grande, onde se talhava as roupas. É... Rodolfo a colocou bem junto dele. Ela, costurando, e ele, talhando as roupas, ali de frente, um para o outro. O tempo passava e Rodolfo não havia tomado jeito. Quando passava por perto dela, sussurrava palavras de desejos dizendo que a amava e o quanto queria voltar a viver juntos. Porém, ela se mantinha firme na decisão de não o aceitar. Não, não queria mais passar o que tinha sofrido e negava veemente o pedido dele. Os anos iam escorrendo e Diana fazia tudo para que Rodolfo não soubesse onde morava. Sempre dava um jeito, no final do expediente, sair, PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS sem que ele não notasse, para onde ia. Ele chegou a pedir para a tia falar com ela, demovendo daquela decisão. Porém foi inútil, Diana não dava ouvidos a ninguém. Naquela noite ao chegar, a senhora da pensão, veio abrir o portão e comentou. - Diana! Porque não disseste que era casada? Olha, veio um rapaz aqui, dizendo que era teu esposo. Até pediu que entregasse para ele, a cópia da chave de teu quarto. Só que eu resolvi primeiro conversar contigo. - Não! Eu não sou casada e esse homem é um doido! Eu te peço, que não entregue em hipótese nenhuma, para ninguém, a cópia da chave do meu quarto. E como era esse homem? – perguntou ela já antevendo o que iria ouvir. “Isso deveria ser, mais uma das artimanhas de Rodolfo” pensou com raiva. A dona da pensão o descreveu. E assim teve PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS certeza que ele estava fazendo mais uma vez de suas investidas.

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CAPÍTULO IV Um cantinho seu.

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E assim haviam passados seis anos, desde que, deixara sua terra natal. Rodolfo não mudara. Ela já estava cansada de tanta pressão e atrevimento dele para voltar. Não tinha sossego. Com o emocional fragilizado Diana adoecera. A saudade consumia seu coração. Telefonava para saber como estava sua filha, e seus familiares. Sentia tanta falta da sua garotinha... O frio intenso daquele inverno rigoroso a maltratava. Ali, sozinha. E aquele frio doía – lhe até os ossos e a debilitava ainda mais. “Vou voltar para a minha cidade, onde o sol esquenta até a alma” – pensou naquela hora, encolhida na debaixo das mantas. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS No dia seguinte, já havia decidido que rumo iria tomar. Levantou, se arrumou, tomou seu café e saiu para o trabalho. Quando chegou, foi para seu local de trabalho, selecionou todas as peças que havia terminado. Depois se dirigiu até o escritório onde seu Pedro se encontrava. Bateu de leve com os dedos e depois entrou. Ele verificava os pacotes de roupas que já estavam prontas para entrega. - Eu queria falar com você. – disse ela. - Diga Diana! - levantou o olhar para ela, sorriu e, voltou a terminar o que estava fazendo. - Eu queria agradecer todo esse tempo que estive aqui. E, principalmente a acolhida que você me deu. Mas hoje, eu vim pedir minhas contas. Estou indo embora. Vou voltar para minha terra. - Se é assim que queres tudo bem. Sei que estou perdendo uma ótima funcionária. Tem certeza? – ainda perguntou ele a esboçar um sorriso. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS - Tenho. Já tomei minha decisão. – respondeu ela convicta do que dizia. Ele a olhou fixamente como se estivesse indagando, “o que a motivara a ir embora?” Mas, depois lembrou também, já tivera outras funcionárias que vieram de outros Estados e acontecia de irem embora, devidos não se acostumarem com o clima de São Paulo. Passou a mão nos cabelos e deixou o que estava fazendo vindo a postar-se por detrás da mesa dizendo: - Sente-se. Eu vou verificar o que ainda tenho para pagar-lhe. Aguarde só um momento. – sorrindo pegou uma agenda marrom que estava em cima da mesa. Abriu. Olhou. Fez alguns cálculos. Depois, abriu a gaveta, retirou o dinheiro, conferiu e lhe entregou a quantia devida. Diana recebeu o dinheiro, agradeceu e se despediu. Precisava sair dali, antes que Rodolfo chegasse. Já na rua olhou, ele ainda não vinha. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS Aligeirou o passo e foi para a pensão. Já tinha conversado e pago o aluguel na hora do café. Juntou suas economias que havia guardado. Despediu-se da senhora. Pegou sua bagagem e foi para a rodoviária. Comprou a passagem e embarcou no ônibus rumo a sua cidade. As cidades passavam ante os seus olhos, diminuindo a distância que a separava da sua filha. Sentia o peito querer explodir de tanta alegria! Trazia no coração a esperança de que depois de tantos anos decorridos as mágoas tivessem sido apagadas pelo tempo. Chegou à Belém. Da rodoviária foi até um ponto de ônibus circular que sempre pegava para ir direto para a casa de seus familiares. Durante o trajeto, aqueles foram os minutos mais longos que sentiu. O coração transbordava de felicidade. Iria abraçar sua filha. Na parada, desceu do ônibus e se encaminhou PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS para casa. Estava voltando. E a bagagem maior que tinha era a saudade de todos que lhe era querido. Chegara. Ali estava. O coração acelerado, querendo sair do peito. Na frente do portão, suspirou fundo e... Bateu palmas. Estava ali esperando para abraçar a todos, esquecer tudo o que houvera tempos atrás. Colocou o mais belo sorriso no rosto e esperou. Quem veio atender foi Jaime. Ao vê-la foi abrir a porta. E em seu rosto um sorriso acanhado despontou. Ela deu-lhe um abraço sendo correspondida. - Entra Diana. – convidou ele. Ao entrar encontrou – os na sala. Um frio gélido percorreu seu corpo. Estavam a tratando como se fosse uma estranha. - Sente-se. - disse-lhe sua mãe. Ela sem ação sentou-se. “Onde estava a sua família? Onde estava o amor que sempre os uniu?” Foi arrancada dos seus questionamentos PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS bruscamente pela pergunta. - O que vieste fazer aqui? Já dissemos que esta não é mais tua casa! – sua mãe perguntava num misto de raiva e rancor. - Por favor, eu quero ver a minha filha! - a suplicou com lágrimas nos olhos. - Fique aí que Jaime vai buscá-la. – seu pai falou quando tentou levantar-se para ir ver onde Ana estava. Sua dor foi maior quando ela chegou... E não a reconheceu. A sua garotinha nem sequer lembrava de que ela era sua mãe. Tentou ainda abraçá-la, mas Ana se esquivou indo ficar junto da avó. Nesse momento as lágrimas fluírem como rios na face de Diana. - Procure outro lugar, aqui você não fica! - sua mãe falou rispidamente. A decepção a abateu em cheio. Pegou sua bagagem e saiu dali. Não estava suportando tanto PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS desprezo. Foi caminhando pela rua. Levava a tristeza na alma, mais uma vez era rejeitada por eles. Fora discriminada por eles, essa era a dura verdade. Carregava o pesado fardo da dor de que para eles também ela poderia contaminá-los. Não sabia para onde ir. Com a bagagem na mão saiu a esmo. Quando deu por si, estava indo na direção da Avenida Primeiro de Dezembro. Desceu para lá. Enquanto caminhava, percebeu que havia uma grande invasão de casas num local que anos antes era terreno baldio. Dirigiu-se para lá. Na esperança que houvesse alguma para alugar. Ficou olhando as casas até que, quando passava por uma viu uma tabuleta com os dizeres “VENDE-SE ESTA”. Foi na casa ao lado perguntar. Bateu e um senhor de meia idade veio atendê-la. Disse que estava interessada pela casa e perguntou. - O senhor sabe quanto querem pela casa? PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS - Estou vendendo a trezentos reais – respondeu ele. Diana eufórica porque tinha a quantia pedida nas suas economias que trouxera. Dava para comprar e ainda sobrava. - Eu compro! – falou ela. Com essa proposta de compra ele a convidou para entrar e depois pediu que sentasse. Ela em seguida tirou o dinheiro de dentro da mochila e deu para o senhor. Ele foi até a porta que dava acesso para o quarto, onde havia pendurado na parede a chave, pegou e lhe entregou. Estava concluída a compra. E, Diana seguiu para sua nova casa. Era só um cômodo com banheiro, a água e a luz eram “clandestinas” como a maioria, porém, tinha bastante terreno para construir. Nesse mesmo dia foi até uma loja onde vendiam móveis usados e lá comprou a cama, o colchão, um fogão, uma cômoda e outros apetrechos de cozinha. Depois das PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS compras efetuadas, ainda sobrara o bastante para poder sobreviver. Precisava arranjar um emprego. Foi na casa de repouso para portadores do vírus de HIV e arranjou trabalho de serviços gerais. Passava o dia no trabalho. Lá eles davam almoço e jantar. Ganhava pouco, mas economizava por não ter que comprar a alimentação. Diana não sabia que tinha que tomar remédios para que não sofresse com as doenças oportunistas que acomete as pessoas que são portadoras do vírus da AIDS os chamados: soropositivo.

Amor à vida. Após seis anos de ter contraído o vírus e há oito meses trabalhando ali, começou a sentir os primeiros PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS sintomas. Estava com duas amigas almoçando no refeitório. Conversavam sobre o trabalho, quando de repente ela sentiu tontura, tudo rodava na sua frente, numa velocidade vertiginosa. As amigas multiplicavam-se diante dela. Estava com visão dupla. Sentiu o sangue fugir de suas veias. Uma fraqueza imensa foi apossando-se do seu corpo e seguidamente, não viu mais nada. As amigas perceberam que o semblante dela estava ficando branco como cera. E quando iam perguntar o que ela tinha só a viram desabar no chão: estava desmaiada. - Diana! Diana! - a chamavam, porém, ali no chão, inerte, ela permanecia. Vieram outras pessoas. Aproximaram-se para ver o acontecido e perguntavam. - O que foi que aconteceu? - Nós estávamos conversando e de repente ela PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS ficou branca e desmaiou. - disseram as amigas aflitas. -Vamos levá-la para a clínica! Lá tem médico. - sugeriu a outra. E assim fizeram. Como Diana era franzina e de baixa estatura, não houve problemas em carregála. Saíram com ela nos braços rapidamente levando-a para o leito da clínica, enquanto outras pessoas foram chamar o médico de plantão. Ele e as enfermeiras a acudiram e foi medicada. Quando acordou estava com uma terrível dor de cabeça, e seu corpo foi tomado por calafrios. No entanto quando melhorou, foi para a casa. E a partir desse dia começou a ter suores noturnos. Havia passado alguns dias desde que tivera o primeiro desmaio, quando começou a ter febre todos os dias em horários fixos. E, veio a tosse constante, diarréia, dores no corpo todo, falta de apetite e muito cansaço. As doenças oportunistas PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS tomavam espaço em seu organismo que debilitava cada dia mais. Teve a sua primeira convulsão. E... Vieram outras e mais outras... Ficava em casa, não tinha forças para levantar e ir trabalhar. Contava com a ajuda de vizinhos, para levá-la até o hospital quando piorava, ou para trazer alguma coisa para comer. Estava doente, dependendo da caridade das pessoas que iam visitá-la. Quando melhorava um pouco ia para a casa de repouso, pelo menos lá tinha com quem conversar para não se sentir tão sozinha, e mais que tudo, tinha comida para se alimentar. As convulsões foram ficando mais frequentes. Aconteceu que nesse dia Paulo fora visitá-la. Levara alguns gêneros alimentícios para ela. Ao abrir a porta e encontrá-lo foi uma surpresa maravilhosa para ela. Porém para ele vê-la naquele estado, a tristeza cortou-lhe o coração. Diana estava muito mudada. Magra, pálida com profundas PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS olheiras. Estava muito longe do que fora. Só o brilho de alegria nos olhos ao vê-lo era o mesmo. - Oi mano entre! - disse-lhe sorrindo. - Vim ver como estava. Olhe, trouxe algumas coisas para ti. – e entregou-lhe as sacolas. - Obrigada. Estou precisando mesmo! - disse ao verificar o conteúdo. - Como estão todos? – perguntou. Paulo sabia a que ela se referia e respondeu. - Na mesma. - E minha filha. Como está minha filha? – o inquiriu cheia de saudades. Já fazia muito tempo que não a via. E agora ele era a fonte de informações. Queria saber tudo. - Ela está estudando, é uma menina muito inteligente. – e assim desfiou o que fazia e, o que gostava... Foi colocando-a a par de tudo que acontecia com Ana. Estavam ali conversando quando Paulo notou que Diana não mais o ouvia. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS Começava a se retorcer. Estava tendo outro ataque de convulsão. E começou a vomitar muito sangue. Apavorado correu até o vizinho para que fosse ajudá-lo, pois não sabia o que fazer. Telefonaram. A ambulância chegou levando-a para o hospital já quase em coma. Ao chegar no hospital encontrava em coma. Os médicos foram acionados. Fizeram as primeiras avaliações. Ela estava cega. Seu rosto todo deformado pelas convulsões as pernas e as mãos não tinham mais tato. Foi encaminhada imediatamente para fazer os raios X da cabeça. De posse do exame o médico detectou que havia um coágulo na cabeça. Internaram na UTI deixando-a em coma induzido. Outros exames foram feitos para verificar, quais as doenças oportunistas ela tinha sido acometida. Após a análise constataram que devido não estar fazendo nenhuma medicação, quatro tinhamse apossado do organismo dela: a toxicoplasmose, PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS meningite, tuberculose nos gânglios e infecção intestinal aguda. Na época, era o diagnóstico do paciente em fase terminal da doença. Diana permaneceu na UTI em coma por vários meses. Os remédios e a alimentação eram injetados na sua veia, porém, sem muito sucesso. Debilitada emagreceu vários quilos. Apenas era uma sombra do que fora. Estava tão magra que um enfermeiro chegou e olhando-a disse: - Ela está em fase terminal, então para que dá remédio? Se ela já vai morrer! Seu organismo não respondia ao tratamento. Na visita de rotina pela manhã, o médico de plantão ao vê-la e verificar no seu prontuário que ela estava cada vez pior, pediu a enfermeira que estava ao seu lado. - Chame um padre para lhe dar a extremaunção porque pelo estado em que se encontra, sem responder as medicações pressinto que ela não PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS passe deste dia – informara. E assim foi feito. No início da tarde o padre chegou, fez-lhe a unção dos enfermos. E em seguida dirigiu-se aos outros pacientes que estavam na mesma situação. No dia seguinte Diana teve uma parada cardíaca. Foi uma correria. Os médicos vieram e começaram a fazer massagens. Aplicaram-lhe choques elétricos para reanimá-la e na veia injetaram adrenalina como último recurso. Eles não sabiam que com isso devolveriam a vida que em Diana se extinguia. E, com espanto, viram abrir os olhos, e sair finalmente do coma.

Quando a hora ainda não chegou. Ainda na UTI, só que desta vez, já não estava em coma. Foi submetida a vários exames PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS novamente. E desta vez foi detectado, que houvera o rompimento de um vaso na cabeça e que existia outro totalmente esticado prestes a ser rompido. O rompimento desse vaso acarretaria fatalmente ao óbito. Porém, continuaram com as medicações. Ainda existia dentro daquela mulher um quê que inspirava uma forte determinação, um desejo imenso de sobreviver. Os dias iam passando... Pouco a pouco o seu organismo com as medicações que ingeria vencia, as doenças oportunistas que assolavam seu corpo debilitado. A cada dia, seu corpo melhorava sensivelmente. Com o avanço de novos estudos da doença, a AIDS, surgiram novos medicamentos. Os médicos decidiram abandonar as medicações de antes e, iniciar o tratamento com os antirretrovirais que tinham sido descobertos pela medicina mais recentemente. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS Naquela época não havia os antirretrovirais. Decorrido alguns meses que acordara do coma, ainda estava pesando doze quilos. Os médicos perceberam que dia a dia ela vinha reagindo bem aos medicamentos então a encaminharam para ficar internada na casa de Apoio. Nota: A Casa referida era de Assistência, quando servia aos portadores do vírus HIV, para fazer o tratamento por um espaço pouco de tempo. Aqueles doentes que vão apenas fazer visitas periódicas de consultas, receber medicações, orientações ou sendo internado por um espaço breve de tempo. E tornava-se Casa de Repouso, para os que vinham de outros Estados, cidades e do interior sem ter onde morar para fazer os tratamentos. Os que chegavam discriminados pelas famílias e que sofriam preconceitos por ser portador do vírus e, principalmente os da fase terminal da doença, que PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS encontravam ali, uma família, quando todos os havia abandonados. Diana ainda não se alimentava como as outras pessoas e seu quadro estava progredindo embora muito lentamente. Os recursos de medicamento eram quase inexistentes para paralisar a doença. Eles a tinham como portadora do vírus na fase terminal como muitos que estavam naquele lugar. Apenas vivendo seus últimos dias de vida naquele estágio da doença a única eminência era a morte. Ficou no isolamento. Havia uma enfermeira que todos s dias vinha até ela para dar banho e alimentá-la. Lá os enfermeiros, médicos, psicólogos, terapeutas vinham para verificar seu quadro, ministrar os remédios e atendê-la nas suas necessidades. Ainda não conseguia enxergar, andar, falar e ouvir. Além de que ainda tinha as crises de convulsões. Diana tomava os inúmeros remédios sem PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS nada reclamar. Alimentava-se de sopa batida servida pela enfermeira, porque não podia ingerir ainda alimentação normal. Sua baixa resistência não deixava que as pessoas que faziam visitas naquela Casa de Repouso pudesse visitá-la. Só com algumas exceções. Precisava passar por uma seleção de que não tivesse doenças que fossem fatais para ela. Ainda assim tinham que usar máscara no rosto, como prevenção para que ao falar não transmitisse doenças oportunistas uma vez que estava vulnerável a elas. Os dias escorriam e Diana aos poucos começava a enxergar ainda que denotasse apenas figuras embaçadas. Os ruídos chegavam ainda poucos nítidos aos seus ouvidos. Tentava movimentar seus dedos das mãos, mas ainda estavam entrevados e sem tato. Porém no que fora mais prejudicada tinha sido sua memória, atingida pela meningite que tivera. Não recordava o que PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS havia ocorrido anteriormente ao coma em sua vida. Apenas só seu nome: Diana. Dia a dia a recuperação estava acontecendo... Os plantonistas espantavam-se com a melhora embora pouca que a cada dia ocorria com ela. Porém ninguém poderia supor vendo aquele corpo pequenino, franzino todo encolhido que houvesse uma vontade imensa de viver. Que no peito tivesse uma Fé maior ao seu Deus que minava qualquer atribulação que sua alma sentisse. E que sua fome por viver viesse contrariar qualquer veredicto até então dito pela medicina. E assim decorrido quatro meses aumentara três quilos no seu peso. Já estava com quinze quilos. Os médicos que a viram como ela entrou e agora a viam o quanto tinha progredido ficavam felizes, pois ali eles tinham conseguido juntamente com ela uma vitória. Já enxergava mais nitidamente, porém ouvia pouco. Com visível melhora no seu quadro PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS de saúde, a transferiram para a enfermaria das mulheres. Quando a retiraram da UTI para a enfermaria os médicos mudaram sua medicação e começaram a fazer novas análises para ver qual o medicamento que se adaptava melhor, e fizesse efeito no seu organismo. A diretora do Abrigo uma senhora muito caridosa a tratava com muito carinho, como se fosse mais uma filha que adotara. Era mais uma abrigada naquela Casa. A recuperação vinha a passos lentos a cada amanhecer. Ainda não conseguia ouvir direito as pessoas, mas começou a tentar levantar-se. Porém suas mãos sem tato e força ainda não conseguia segurar nada, mas sua visão melhorava. Mesmo com a fala enrolada, tentava se comunicar. Porém era difícil o entendimento por parte das pessoas. Seus cabelos caíram deixando-a careca... Perdera PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS da memória as suas lembranças. Ali era como se estivesse descobrindo o mundo pela primeira vez. As pessoas que a viam naquele estado perguntavam uma para as outras. - Ela não tem ninguém? Nunca vi alguém da família que viesse saber como ela está. O que movia aquela criatura a ter tanta resistência? Não se importando o quanto de remédios tinha que ingerir? A única força, que se via, era aquela vontade de viver! Suportando tudo sem queixas ou raiva. O que eles sequer imaginavam é que existia realmente naquele corpinho frágil: a Fé. Esse era o milagre que a movia na imensa vontade de querer sobreviver! Devia rezar para que Deus a tirasse daquele martírio. Porque a ânsia por viver foi dia a dia contribuindo para conseguir derrotar as doenças oportunistas que consumiam seu corpo fragilizado. PERIGOSAS ACHERON


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Um laço de amizade. - Estou feliz que saíste do isolamento. Ela se virou na cama na direção daquela voz. E deparou-se com um jovem branco, alto, cabelos negros cacheados com um lindíssimo par de olhos verdes a sorrir. - Eu ficava te observando e pensava. Será que eu vou ficar também assim... Tão magro! Só pele e osso? Sem ter ninguém para vir me visitar? E isso me fez vim todas as tardes te visitar. Eu ficava te olhando através do vidro. – continuou ele. Naquele momento ele fitava o vazio. Naquelas palavras proferidas havia muita tristeza escondida. Seu rosto embora bonito mostrava-se visível no olhar, a desesperança de quem não tinha mais ilusão de um futuro. Aqueles olhos tristes, as palavras que dissera, eram o retrato de uma pessoa ainda jovem, que tinha perdido todas as esperanças PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS de viver. Depois voltou a olhá-la e a encontrou sorrindo. Com a voz ainda gaga respondeu-lhe com muita dificuldade. - Que... Que bom que você vinha todo o dia me visitar! - Mas não era só eu, outras pessoas também vinham. Quando era liberada a visita. – ele continuou falando com um sorriso no rosto como se com isso queria dar-lhe alento que nele não havia. – Eu sempre estava aqui. Ficava te olhando... E você aí lutando para viver. Ainda com muita dificuldade de conversar, ela por diversas vezes só apenas sorria. E ele ficava ali com ela durante todo o horário da visita. Olhava para aquele corpo que sumia entre os lençóis naquele leito. Às vezes ela ficava com olhar parado como se entrasse em transe. Perdia-se ali no seu mundo branco sem lembranças. Outras vezes PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS quando saía do seu lado, Diana já estava adormecida. Ele, Gustavo, antes de contrair o vírus trabalhava como ator. Só descobriu que tinha sido contaminado com o vírus do HIV, após os sintomas terem se manifestado. A partir daí entrou para a Casa de Repouso e passou a fazer parte dos abrigados na Casa. Não tinha ninguém a quem pudesse recorrer. Seu pai já falecido e sua mãe depois que soubera que fora contaminado, o expulsou de casa e os parentes, esses, não queriam saber de ter contato nenhum com ele. Pensavam que o simples fato dele estar junto poderia vir contaminá-los. Ali vivia fazendo suas medicações diariamente, sendo atendido pelo grupo hospitalar que existia. Na Casa encontrara uma família. Onde não existia nenhum tipo de preconceito ou discriminação por sua opção sexual. Todos estavam unidos por uma só causa. Viver! Viver o maior PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS tempo que conseguisse. As pessoas vinham de diferentes lugares. Alguns em estado grave ficavam internados. Mas todos sejam eles, homens, mulheres crianças e até recém- nascidos que viviam ali, tinham sido rejeitados pela família com discriminação e preconceito por ser soro positivo. Isto é portador do vírus do HIV. Vinha diariamente conversar com Diana na enfermaria das mulheres. Ela ainda não conseguia andar, e suas mãos também não tinha tato. O diálogo era muito difícil, mas ele não se deixava desanimar. Ela com dificuldade de ouvir e assimilar o que acontecia a sua volta. Mas mesmo assim, ali estava ele chamando-a para a realidade. - Eu também sou portador e estou abrigado aqui. Estás ouvindo? – falava. Ela parecia ausente de tudo. - Oi Diana! Eu estou aqui. Estás me ouvindo? – perguntava ele. Ela com olhar parado, como se PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS estivesse com o pensamento longe... Mas de repente, como se voltasse à realidade ela o olhava e perguntava. - O que você tava falando? Repete de novo! – pedia sorrindo gaguejando. E novamente ele repetia uma, duas, três vezes para que realmente entendesse o que dissera. Assim todos os dias, Gustavo vinha visitá-la na sua missão de fazer com que Diana, fosse resgatada daquela inconstância da realidade. Passava-se o tempo e ela lentamente restabelecia-se. Após meses de tratamento com psicólogos e terapeutas já enxergava, falava ainda um pouco gaga, mas começou a dar seus primeiros passos, amparada pelas pessoas. Passou a frequentar Grupos de Amigos. (Grupos esses em que os portadores do vírus reuniam-se para falar de seus problemas e ouvir, uns aos outros). Gustavo estava ali com ela. Seus encontros PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS passaram a se amiúde no grupo. E na hora do almoço sempre estavam juntos. Ele contou-lhe como e porque estava ali. Falara sobre o desprezo da sua família, as doenças que os acometias e confessou-lhe que era bissexual. Quando menino sonhara ser jogador de futebol, porém não tivera chance de mostrar suas habilidades para algum técnico e agora então que não poderia por causa da doença. Fizera o curso de teatro e até então trabalhava como ator. E que ali encontrara uma família. Não havia discriminação todos possuíam o mesmo problema e ajudavam-se. E desses encontros nasceu uma amizade muito grande entre eles. Às vezes ela pedia que a colocassem na cadeira de rodas para sair um pouco dali da cama. E Gustavo ao lado da enfermeira saia empurrando a cadeira de rodas pelos corredores. E assim a levavam para visitar outras enfermarias. E PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS encontrava homens, mulheres, jovens, velhos, crianças e até recém-nascido que estavam ali naquela Casa de Repouso, abandonados pela família por ser portador do vírus do HIV. Depois de passear a levavam para perto da janela para ver o movimento da cidade. Ela ficava encantada. Numa das vezes vendo os carros ela perguntou. - O que é aquilo? A enfermeira olhou na direção que ela apontava disse. - Aquilo é um ônibus, e aquele outro é um táxi. - E o que é isso? O que é um táxi? – perguntou ingenuamente ela. A enfermeira muito compreensiva explicoulhe o que era um e o outro. E assim ela aos poucos com a ajuda de profissionais ia recobrando a memória. Quase um ano depois de estar tomando os PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS antirretrovirais se notava os efeitos benéficos em seu organismo. Porém todos não acreditavam que ela pudesse sobreviver. Ali na verdade estava na fase terminal. Isto é aguardavam o tempo passar para ver o que aconteceria, pois a qualquer momento o vaso poderia se romper levando-a morte! Naquele dia no horário de visitas Gustavo chegou e sorrindo lhe disse: - Diana essa menina aqui disse, que é tua filha. Ela veio te ver! - Minha filha? – perguntou ela com assombro. Ela não lembrava que tinha uma filha tampouco quem eram seus pais. - Sim! – disse-lhe Gustavo. - Mãe, eu sou Ana, sua filha! – a garotinha de mais ou menos nove anos veio ao seu encontro e a abraçou chorando. - me perdoa eu não queria deixar de falar com a senhora. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS Um casal se aproximou eram seus pais que também ela não recordava. - Me perdoa minha filha por tudo que eu falei - falou ele entre lágrimas abraçando-a. - o senhor que a abraçava naquele momento, era seu pai. Mas a mãe, não se aproximou, e de onde estava, falou. - Eu não te perdoo. Por que você é culpada por tudo que fez. – disse e na voz revelava a raiva que ainda sentia por aquela situação. De repente foi como se uma luz penetrasse nas lembranças de Diana. Via naquele momento descortinar-se do véu do esquecimento, a sua realidade. Tinha uma filha e seus pais estavam ali na sua frente. O semblante dela se iluminou e lágrimas escorriam fartas, em sua face. Só que agora era de felicidade. Sua filha lhe abraçando e a chamando de mamãe em seus braços. Embora sua mãe PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS permanecesse arredia. Mas o que importava para ela naquela hora, era vê-los perto dela. E isso sim, confortava seu coração. A emoção tomou conta de todos naquela enfermaria. Os olhos lacrimejavam de quem via a cena do encontro de mãe e filha. A família de Diana ali com ela trazia conforto para aquelas pessoas, que almejavam também, que um dia suas famílias fizessem o mesmo. A felicidade estampada no rosto dela era indiscutível. Tanto tempo separados e agora eles estavam naquele momento junto dela. Porém o que ela não sabia era que, tinham ouvido dizer que sua vida estava por um fio. O caminho. Um passo de cada vez. Com a ajuda dos médicos Diana recuperava parte de suas lembranças. E uma delas foi o que a PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS fizera contrair o vírus. E foi o que a salvou das garras de Rodolfo. Ele viera fazer mais uma das suas investidas para mantê-la com ele e tirá-la do hospital. Apareceu numa manhã, com alguns parceiros na portaria do hospital procurando por Diana. Como o segurança não o deixasse entrar começou a agredi-lo. Foi acionada a polícia. Os policiais o interrogaram e ele então falou: - Sou marido da Diana. Minha mulher não tem ninguém! Só eu! Quero levá-la. Aqui ela não fica! O policial pelo interfone perguntou ao segurança de dentro do hospital se tinha como saber o que Rodolfo estava dizendo era verdade. O segurança se dirigiu para a ala das mulheres e se aproximou de onde estava Diana chegando ao seu lado indagou-lhe. - Dona Diana tem um homem lá embaixo PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS querendo levá-la. Está dizendo que é seu marido é verdade? - Não seu guarda é tudo mentira desse homem! - A senhora quer que eu o solte? - Não! O senhor pode prendê-lo – falou com firmeza. O segurança retornou a ligação para o guarda da portaria dizendo que o prendesse. Depois de desligar o guarda chegou com os policiais e relatou o acontecido. Um deles chegou perto de Rodolfo e o segurando disse. - É. Ela disse que não te conhece vamos todos para a delegacia agora mesmo. - E colocou Rodolfo e os parceiros no carro. Chegando à delegacia, o delegado levantou a ficha de Rodolfo e onde foram detectados os golpes que ele vinha aplicando, como falsificação de documentos, assinaturas e cartões de crédito. Na PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS delegacia afirmou que fazia isso, para sustentar sua mulher que estava muito doente. E que estava desempregado, e essa foi a única maneira que encontrou para ajudá-la. Afirmou que era casado e deu o endereço, o nome de Diana e o telefone. O policial telefonou de novo. Ao atender o telefonema o policial relatou os fatos e pediu que fosse falar com ela e perguntar se era verdade o que Rodolfo havia dito. Mas Diana negou que fosse esposa e ainda falou que nem o conhecia. Rodolfo fora preso. Depois de muito tempo soube que uma amante com quem ele andava, pagara a fiança e ele havia sido solto. Ainda disseram que, ele sabia que ela estava esperando receber um benefício do Estado. Era por isso que tinha feito tudo aquilo. Depois que saiu da prisão Rodolfo não retornou para importuná-la. Após dois anos fazendo tratamento era notório o seu restabelecimento. Diana conseguia PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS caminhar sozinha e sentia necessidade de se ocupar com alguma coisa. Queria poder ajudar pelo menos nas pequenas coisas. Como varrer ou lavar um prato. Mas a proibiam de fazer qualquer esforço devido recomendações médicas de que, poderia vir a romper o vaso em sua cabeça e viesse a morrer. Era como se ela estivesse por um fio, isto é, apenas um vaso esticado em sua cabeça a mantinha viva. Com isso todos se mantinham em alerta. Depois de ficar tanto tempo sem fazer nada só sentada ela, levantou-se e se dirigiu para a copa onde uma senhora estava lavando a louça do café. - Posso te ajudar a lavar a louça? - Vai embora daqui Diana, se a diretora vê você aqui, ela me mata! – disse apreensiva com a pergunta dela. Quando pegou uma xícara para lavar a senhora tomou um susto! - Não! Não faça isso Diana! Você pode morrer! - falou a senhora apavorada. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS - Como?- perguntou Diana. - O médico disse que se você fizer qualquer esforço: como o de lavar uma xícara, o vaso que está na sua cabeça pode se romper e você morre! É só isso que nós estamos esperando de você. - Credo! Vira essa boca para lá! Eu não vou morrer! Estou bem não se preocupe. - falou espantada. - Então vamos fazer o seguinte. Eu lavo e você seca. E assim Diana que já conseguia movimentar as mãos ficou ajudando-a. Porém a diretora do Abrigo chegou e a viu naquela atitude. Fez o maior estardalhaço. - A Diana não pode fazer nada que precise de esforço. Todos sabem que ela não poderia, por que isso a levaria fatalmente a óbito. – repreendia a diretora. - Mas eu quero! Não consigo ficar, o tempo PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS todo, sentada sem me movimentar. Não posso ajudar em nada que dizem que estou fraca, porque só tomo sopa e estou magra. Eu quero fazer alguma coisa! – argumentava Diana para a diretora. - Tudo bem. Então irás para a sala de terapia ocupacional. Lá poderás fazer bijuterias que não precisa de muito esforço. – respondeu-lhe. E assim Diana passou a frequentar a sala de artesanatos. Lá manipulava as miçangas fazendo brincos, colares e pulseiras. Já aprendera a fazer alguns objetos. Aquilo se transformou em uma terapia para ela. Que por dias a fio vivera ociosa, ora estava sentada numa cadeira vendo o tempo passar ora ficava deitada. Sua memória naquela atividade começou a ser resgatada. E os movimentos das mãos foram aos poucos sendo adquiridos. Os trabalhos que desenvolviam tornavam-se um incentivo para aquelas pessoas que estavam ali, PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS era uma alegria a ser compartilhada. Uma demonstração de Amor à Vida. E depois de feitos a diretora providenciava para que fossem comercializados. E o dinheiro da venda dos objetos era repassado para elas. O tempo é sempre o melhor remédio e para ela, aquele tempo era um recomeço, que dia após dia interagindo na terapia ocupacional (artesanato, pintura, teatro e outras atividades) superava as barreiras das doenças e da inatividade. Foi um milagre para todos quando alcançara o que todos esperavam: aumentar seu peso para os vinte quilos.

O passado no passado. Depois de algum tempo Diana passou a fazer parte também do grupo de teatro onde Gustavo estava. Nas conversas entre eles tinham esperança de que um dia os cientistas descobririam PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS os remédios para a cura do vírus da AIDS. Com o passar do tempo no Abrigo ela e Gustavo começaram a namorar. Ele vinha e iam almoçar juntos e conversar. Entre um diálogo e outro ele afagava sua mão carinhosamente. - Diana se um dia nós sairmos daqui, eu posso ir contigo? - É. Se um dia eu sair daqui. Eu espero sair bem. Você pode ir comigo. E para onde eu for você me acompanha? – Perguntou ela sorrindo. - Eu vou Diana. Sou só no mundo. Meu pai já morreu e minha mãe não quer saber de mim. E a quem eu considerava meus amigos, me abandonaram. – desabafou ele. Eles compartilhavam o mesmo destino, as mesmas provações da discriminação e do preconceito de ser portador do vírus do HIV, isso só fez com que se tornassem mais unidos. Após dez meses namorando decidiram morar PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS juntos. Ela já estava restabelecida da anemia, da toxicoplasmose, da meningite, da tuberculose e das outras doenças oportunistas que a acometera. Porém, ainda tinha lapsos de memória. Esquecera que possuía uma casa. E decididos a morar juntos saíram da Casa de Abrigo e alugaram um quarto. Diana já começara a receber o benefício pago pelo Estado. Por sua vez Gustavo, fizera um curso de informática e com seu trabalho de digitação, conseguia fazer alguns biscates, porque como ator estava muito difícil encontrar trabalho. E assim iam vivendo. Porém algo o perturbava e confidenciara a Diana. - Sabe amor, eu fico pensando até quando vou estar contigo. Será que vou morrer logo? – falara Gustavo. - Não, eu não penso assim. E sim que eu vou ver meus filhos crescerem e até meus netos. Porque PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS acredito em Deus e deposito toda a minha confiança Nele. Você tem que fazer o mesmo falava com muita convicção a sua Fé. - Não sei, mas é que bate uma desesperança em meu coração. Eu, sem pai e desprezado pela minha mãe. - disse Gustavo amargurado. - Mas eu estou aqui do teu lado! Temos um ao outro e isso é o mais importante! - falava com tanto ênfase que ele desanuviou o semblante e abandonou os pensamentos sombrios. Continuaram indo na casa de Apoio participando ativamente das reuniões e tomando os medicamentos que eram entregues para eles religiosamente. Já fazia algum tempo quando numa das suas conversas, surgiu a ideia de fazer palestra de prevenção nas igrejas, nas comunidades, nas escolas e em vários outros lugares. Queriam repassar a informação de como se poderia prevenir contra o vírus do HIV e das DSTS. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS Amadurecida a ideia, foi que surgiu como única opção fundar uma ONG. Conversando mais seriamente sobre o assunto decidiram sair em busca de informações de como criar uma. Foi que souberam que para isso, deveriam ter dinheiro. Bom, isso era o que eles não tinham, e sim, uma enorme vontade de levar avante o projeto. Decidiram sair em busca de parcerias. Conversaram com vários empresários, porém só conseguiram trazer na bagagem as promessas deles. Uma luz surgiu. Estavam numa tarde a conversar sobre o projeto com seu Elias um parlamentar amigo de longa data, que após ouvi-los, decidiu ajudá-los orientando-os quais os procedimentos a serem feitos. E assim fizeram. Oito meses depois conseguiram enfim: a ONG estava com sua certificação. Era uma vitória! PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS E eles foram comemorar na casa de uma amiga que doou uma feijoada para a Associação onde estava o parlamentar e que nesse meio tempo já tinha apadrinhado a ONG. As coisas iam bem. Pois, até aquela data tinham conseguido oitenta associados. Em 1998, fizeram parceria com a DST/AIDS que lhe entregaram os folders, cartazes e camisinhas para doar nas suas palestras. De posso dos materiais Diana e Gustavo começaram a fazer suas palestras de prevenção nas comunidades, nas igrejas, nos centros comunitários e vários outros lugares. Eles eram solicitados também a fazerem parte de fóruns de ONGS e congressos. Os meses passavam e surgiu outra ideia: no Natal doariam brinquedos para crianças, sejam filhos de portadores ou não, de zero a 10 anos e também cestas básicas. Tudo acertados, e em meados de junho iniciavam a preparação dos ofícios para as empresas e supermercados pedindo PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS suas doações. O tempo passou, já ia fazer quatro anos da criação da ONG. No entanto, naquele ano os empresários não doariam mais cestas básicas, somente brinquedos. E, assim mesmo sem as cestas básicas eles decidiram que iriam continuar com os brinquedos no final de ano. Dois anos depois que eles estavam morando juntos. Chegara o final do ano. Ela pediu que fossem no Natal na casa dos pais dela, acreditava no espírito do natal quem sabe eles os aceitassem no convívio familiar. Mas vã ilusão. Depois que eles bateram palmas ainda ficaram ali na frente da casa esperando, e quando vieram atender disseram para que ficassem sentados ali no pátio. Foram servidos, porém mantidos afastados de todos. Diana conseguira depois de tantos anos afastada de seus familiares estar ali, com Gustavo passando a noite PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS de natal com sua família. Depois que deu meia noite, eles retornaram para sua casa.

A cobaia. Era o mês de setembro... Ela esperou vir sua menstruação e.... Nada. Conversou com Gustavo sobre esta preocupação. Já estava entrando para o segundo mês de atraso. Ele então sugeriu que tirassem a dúvida indo até a farmácia e comprasse o teste de gravidez. Fez e... Deu positivo. Estava grávida. Ficou em pânico. No outro dia de manhã procurou sua infectologista para confirmar se realmente o teste estava correto, pois sempre usavam camisinha no ato sexual como poderia estar grávida. Após os exames foi confirmada a gravidez. A camisinha tinha sido rompida no ato sexual. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS - Doutora como pode ter acontecido? Sempre usamos a proteção da camisinha. - É Diana ela não é 100% segura. Agora você já sabe. Porém é a única maneira de se prevenir principalmente do vírus do HIV e outras doenças sexualmente transmissíveis. O que pode ter ocorrido é que a camisinha usada poderia estar danificada – concluiu. Diana ali na frente da médica estava atordoada. Seus pensamentos embaralhavam. “Como iria fazer? Seu filho seria mais um com essa doença? Será que sobreviveria?” - se perguntava. A médica em sua frente procurava as palavras para dizer o que Diana já antevia. - Agora vamos pensar o que faremos com essa gravidez. Não há esperança de que essa criança nasça negativa. Vá para sua casa, vou consultar outros infectologistas, depois quando eu tiver a solução mando-te chamar. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS Ela saiu angustiada do consultório. Não sabia como iria fazer. Como nasceria seu filho? Será que também iria ser um soro positivo? As perguntas se acotovelavam em sua mente. Na semana seguinte sua médica mandou chamá-la no centro de terapia ocupacional para conversar. Entraram no consultório. Quando se sentou à sua frente ela começou a falar olhando diretamente nos olhos. - Diana nós estamos testando uma medicação nas mulheres que engravidam que são soros positivos para que seus filhos nasçam negativos. Você aceita fazer o teste com o seu bebê? – perguntou a médica. - Que medicação é essa doutora? - Você aceita? – retrucou a médica. - Sim eu aceito. Mas gostaria de saber que medicação é essa. - É um antirretroviral para o vírus do HIV. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS Mas ainda está em fase de teste para o tratamento da AIDS.

- Tudo bem doutora eu vou fazer. - Mas Diana pense bem. Já fizeste antes e ele deu uma queda nas plaquetas. Você pode morrer sabias? Você não tem medo? - Não doutora eu tenho Fé. E essa Fé fará que nada aconteça. E que meu filho sobreviverá e terá uma vida sem medo. - Então vamos tentar. Se não fizer mal a você vamos continuar. Só quero dizer-te que és a primeira grávida que irá se submeter a esse teste aqui. Ela saiu dali com esperança e Fé que tinha em Deus que tudo iria dar certo. Conversou com Gustavo sobre sua decisão. Nos três primeiros meses Diana tomou os comprimidos da medicação religiosamente. Após esse período a médica suspendeu. E ela continuou tomando os antirretrovirais de antes e fazendo seu PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS pré - natal. Fazia vários exames e tudo decorria normal na gravidez. Já no sexto mês eles se mudaram para a rua: 14 de Maio. A casa era de uma amiga deles que numa das conversas soubera que onde, moravam era de apenas um quarto e tendo uma casa nesta rua, deu para que eles tivessem um pouco mais de conforto, já que a casa estava desocupada. Gustavo, agora trabalhava como instrutor de informática numa das empresas do senhor Elias, o mesmo que os ajudava com a ONG que, sensibilizado pela situação dos dois: Diana estava grávida e ele fazendo agora só biscate com trabalhos de informática, e que não fora mais chamado para atuar como ator, o empregou. No oitavo mês Diana teve uma crise de eclampse e foi internada. Os médicos constataram que ela não poderia ter normal. O espaço para o bebê nascer era muito pequeno e resolveram operáPERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS la. Antes de entrar no centro cirúrgico foi injetado no soro o medicamento para isolar o vírus do HIV na hora do corte do cordão umbilical. Após o parto o bebê foi imediatamente colocado na incubadora por ter somente oito meses. E iniciou o tratamento novamente, bem como para fazer os exames. Levaram-na para o quarto. Os médicos recomendaram que Diana não amamentasse, uma vez que, esse também era um veículo para a contaminação da mãe para a criança. - Não se preocupe, seu filho será alimentado pelo banco de leite do hospital- falou-lhe o pediatra. Passaram dez dias internados no hospital. Após esses dias ela e o bebê foram liberados. Gustavo os levou para casa. Nas primeiras semanas, a infectologista visitou-os para saber como eles estavam e se a medicação estava sendo feita. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS - Sim doutora. Estou fazendo tudo pelo meu filho e na hora certa ministro os remédios receitados. – respondera ela. - Amanhã vocês levem o bebê ao hospital. Quero fazer um teste se realmente fora negativado ou não. Vamos verificar se o teste deu resultado. – concluiu a médica. Porém ainda era cedo, para que obtivesse alguma resposta. E a partir daquele dia ele ficou sendo acompanhado por uma infectologista pediátrica. Queriam saber quanto tempo passaria até que tivesse a comprovação que estava negativado. Após seis meses ele fez sua primeira carga viral. E o resultado foi negativo. Continuaram com o tratamento e com um ano foi solicitado pela infectologista que fosse submetido ao exame anti-HIV e ter certeza que o teste dera certo e o bebê realmente estava negativo PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS ao vírus. Após um mês de espera chegou o resultado: A infectologista mandou chamar Diana. Ao chegar ao consultório, Diana percebeu no semblante risonho da médica que o que era demonstrado devia ser algo bom. Seu coração se encheu de esperança. – Diana sente. Eu tenho uma boa notícia para te dar. Pode comemorar seu filho é NEGATIVO ao vírus. Agora é só fazer dez exames uma vez por ano. Como medida de prevenção deste teste. Ela recebeu a notícia radiante. Saiu dali com o coração transbordando de alegria. Foi na padaria comprou um bolo e levou para casa. Chegando abraçou-o, beijou-o e olhando-o disse: - Filho, vamos comemorar! Nesse momento Gustavo chegou e perguntou, pois via a felicidade com que Diana abraçava o filho. - O que vamos comemorar? PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS - O novo nascimento do nosso bebê! Ele está sem o vírus! Seus olhos brilharam e veio juntar-se ao abraço. Ali abraçados comemoravam depois de tanto tempo: a vitória! Seu filho seria uma pessoa normal, sem o peso do vírus que os acometiam. O teste dera resultado. Sombras. As crises. Gustavo vinha sofrendo já há algum tempo com as doenças oportunistas que acometem os soros positivos. Quando Diana estava no terceiro mês da gestação ele fora hospitalizado com água na pleura (um tipo de tuberculose). Mas agora, Gustavo novamente, definhava consumido pela infecção. Retornaram ao hospital e dessa vez a médica decidiu que ele deveria ficar internado constatando gravidade no seu estado de saúde. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS Já decorriam quarenta e cinco dias que ele permanecia internado. Diana se desdobrava ficando com ele a maior parte do tempo. De manhã quando a médica veio fazer a visita de rotina assinou a alta. Porém quando lhe entregou a receita recomendou veemente: - Senhor Gustavo, você está de alta, mas deve continuar a tomar os medicamentos em casa para a infecção. Em hipótese nenhuma deixe de tomar os retrovirais, porque é o único meio que você tem de evitar essas doenças oportunistas. E com aquelas recomendações eles foram para casa. Passaram-se três meses e ele tomava as medicações religiosamente. Estava sentindo-se bem sem problemas de saúde foi quando então decidiu: - Eu já estou bem. Não é mais preciso tomar esse monte de remédios – falou para ela. Diana muito preocupada com a decisão dele o aconselhava: PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS - Gustavo tome os remédios. A doutora falou para nós que não deixasse de tomar, lembra? - Não se preocupe Diana eu estou ótimo! Não estou sentindo mais nada. Eu estou muito bem para quê tomar tantos comprimidos! - falava com um sorriso no rosto, e a abraçava querendo tirar as rugas de preocupação que via no semblante dela. E lá se foram sete meses que Gustavo deixara de tomar a medicação, com isso as doenças oportunistas encontraram a fresta para invadir seu corpo, e começou a ter febre, muita tosse e a secreção nasal. Após alguns dias nesse estágio de doença, ela o levou a um Centro de Saúde Especializado em Doenças Infecciosas e Parasitárias para consultar. Chegando lá, a médica olhou fixamente para ele por alguns minutos e de cenho franzido questionou: - O senhor não furou o esquema, não é senhor Gustavo? PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS - Não! Eu estou tomando sim senhora! afirmou desviando o olhar. A médica sabia que ele não estava falando a verdade. Então chamou Diana de lado e a inquiriu. - Ele não está tomando os retrovirais diariamente não é verdade? Diante da afirmação da médica ela não pode negar. - É doutora ele deixou de tomar faz alguns meses. Eu pedi tanto para que continuasse, porém ele falou-me que estava sentindo o corpo com saúde e que não iria mais fazer medicação. A médica disse para ela. - Leve-o para tirar os raios X agora! – falou com firmeza. Eles saíram do consultório. Enquanto Gustavo entrava para sala dos raios X, Diana ficou do lado de fora rezando para que nada de grave houvesse. Após a saída de dele da sala, ficaram no corredor PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS aguardando o resultado para retornar com a médica. Passou-se uma hora quando o radiologista entregou o envelope contendo a chapa e eles voltaram com a médica. A médica verificou a chapa e teve a confirmação que antevira quando viu o estado dele ao entrar no consultório. Depois de depositar os exames em cima da mesa olhou para ele com expressão preocupada e disse: - O seu caso agravou-se. O senhor deixou de tomar os retrovirais, como eu tinha lhe pedido. Vou ter que interná-lo. O senhor está com pneumonia. Vou fazer outro esquema para ver como seu organismo reage. – concluiu. E assim foi feito. Gustavo novamente internado. E Diana incansável se desdobrava entre cuidar de seu filho de dois meses e o marido no hospital. Passara-se vinte dias que ele obtivera alta PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS do hospital e havia retornado para casa. A médica novamente recomendou que não deixasse de tomar os remédios para a pneumonia e os antirretrovirais porque já estava muito debilitado e seria presa fácil para outras doenças oportunistas. Gustavo tomava as medicações, porém não conseguia voltar ao seu peso de antes. Sua fisionomia sempre pálida denotava que realmente deixara de ter vigor no seu corpo. À noite, quando vinha deitar-se ela ficava olhando-o... Aquele corpo tão magro longe do que fora. Percebia quanta fragilidade existia nele, ali, deitado ao seu lado. Seu coração se enchia de tristeza e apertava fundo dentro do peito, ao vê-lo assim abatido. - Você se sente bem? Não estás sentindo nada? - indagou ao vê-lo abrir os olhos. - Estou bem, só sinto muito cansaço - foi a resposta dele. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS - Vamos ao médico amanhã, talvez ele receite algum remédio para passar o cansaço que sentes. - Não, não é preciso! Eu acho que é ainda da pneumonia. Não se preocupe eu vou ficar bem - e deu-lhe um beijo. Em seguida virou-se para o outro lado fechando os olhos para dormir. “Não, ele, não está bem. Está apenas querendo aparentar para mim” - pensava. Com a manhã clareando ela levantou-se e aprontava-se para ir trabalhar. Mas ao vê-lo ainda deitado, seu coração apertava cheio de preocupação em deixá-lo. Tinha medo de que entrasse em depressão, devido ter que ficar em casa sozinho. Ficava a senhora que cuidava do seu filhinho porém não era a mesma coisa. No trabalho contava as horas para voltar para casa. Gustavo continuava com as medicações, porém, seu organismo não estava reagindo. Ele não conseguia se alimentar direito. O alimento quando PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS chegava em seu estômago inchava, ficava empachado e vinha os vômitos. A tontura ficara frequente. Às vezes desmaiava. E a febre todos os dias em horários fixos, dores na cabeça (cefaleia), suores noturnos, crises de diarreia, visão dupla e as crises de convulsões, tosse e o cansaço. Esses eram os sintomas que Gustavo muito amiúde vinha sentindo. Quando se tornou constante e ela ali a cada dia presenciando o definhamento dele que, resolveu parar de trabalhar. Queria estar ao seu lado para ver se conseguia com que se alimentasse pelo menos um pouco, embora, também já tivesse com problemas de gastrite adquirida por causa dos medicamentos antirretrovirais que estava tomando. Mas os dias iam passando e cada vez mais ele se alimentava menos. Levou-o ao hospital. A doutora o examinou e entregando a requisição para fazer exames disse: PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS - Tudo o que ele está sentindo é devido ter parado com a medicação. Mas não deve deixar de tomar. Vamos fazer um exame do estômago para ver como é que está. Trouxeram a endoscopia e após ser avaliada pela médica foi dado o veredicto. - Realmente o senhor está com gastrite um pouco avançada, talvez seja devido os antirretrovirais, mas vou receitar uma medicação para que fique bom e possa comer normalmente. E assim, Gustavo melhorou, e começou a se alimentar melhor. Foram-se duas semanas. Nessa tarde, estavam juntos sentados no sofá da sala quando ele comentou: - Diana eu já estou me sentindo bem melhor com estes remédios. Mas vã ilusão, outras doenças já tinham invadido seu organismo. E ocorreu que duas PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS semanas depois Gustavo veio a ter febre durante três dias. E surgiu herpes em todo o corpo. Diana o levou novamente para o hospital. Ao chegar ao consultório a médica quando viu o estado em que ele se encontrava o internou imediatamente. - Vamos deixá-lo internado pelo menos quinze dias. – disse ela. No hospital, Diana ficou como sua acompanhante. Só vinha em casa tomar banho e ver seu filho que ficava com a babá. Após quinze dias internado ele retornou para casa. Já havia cicatrizado a herpes do seu corpo. Ele novamente se restabeleceu e começou a se alimentar direito. Mas não conseguia ter o seu peso normal. Diana o fitava vendo-o tão pensativo e perguntava. - Você está bem Gustavo? - Estou sim. Eu vou ficar bem. E também vou voltar a trabalhar você vai ver só. - Ele dizia com PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS muito entusiasmo. Diana sorria querendo acreditar nisso também. Passados dois meses que ele saíra do hospital. Fizeram o batismo do bebê na igreja da Sé. Que passou a chamar-se Luiz. - Vamos comemorar em casa. - falou Gustavo expandindo alegria em seu semblante com o pequeno Luiz em seus braços. Foram todos para lá. Os pais com a criança, os padrinhos e a babá. E fizeram a festa. Com direito a refrigerante e bolo. Depois de uma semana ele recebeu o aviso de que deveria comparecer para receber o auxílio doença que é pago pelo INSS. Já havia algum tempo que dera entrada e agora era notificado para que fosse receber o dinheiro no banco. Gustavo todo feliz foi receber. Já fazia muito tempo que estava desempregado por causa da doença. Doíalhe ver Diana sair para trabalhar sem poder ajudáPERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS la. Agora ele recebia esse dinheiro. Estava muito feliz! E convidou-a para ir comprar um guarda roupa, fazer compras no supermercado e trouxe um andajá para o pequeno Luiz.

O mesmo toque, na tecla. Uma semana depois do batizado a mãe de Gustavo telefonou dizendo que estava doente e que viria para Belém fazer alguns exames. Quando ela chegou, levaram-na para o hospital. Após vários exames ela ficou internada durante três dias. E quando saiu foi para a casa deles. Mas as coisas pioraram e ela tinha crises agudas e voltava para o hospital. Eles se desdobravam levando-a no médico nas crises que se sucediam muito amiúde. Havia um mês que a mãe de Gustavo estava morando com eles. Estavam sentados ao redor da PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS mesa da cozinha no início da noite. A mãe de Gustavo queixava-se de que estava sentindo dores. Gustavo com voz magoada falou: – Se você não tivesse abandonado eu e meu pai, talvez não estivesse como está agora. - Só que teu pai já morreu! – ela respondeu rispidamente. - Mas quando meu pai morreu, eu já tinha treze anos e a senhora nos abandonou, quando eu tinha um ano. A minha avó foi quem cuidou de mim. Sabia que o meu pai tinha esperança que você voltasse? É, mas você não voltou. Você nos deixou, para ficar com o grande amor da sua vida, e agora, ele também te abandonou. – chorando ele perguntou – mãe, por um acaso você um dia me amou? Você me ama mãe? Ela ficou em silêncio e não respondeu. Ali, ele só queria ouvi-la dizer que o amava, e que não era um estorvo na sua vida como sempre dissera. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS Diana interveio na discussão pedindo que parassem de discutir. Ela então subiu para o quarto. Enquanto Diana ficou ao seu lado. Ele então desabafou: - Diana a minha mãe nunca me amou, mas mesmo assim eu quero um dia dar um presente para ela. - O que, Gustavo? - perguntou ela, espantada. - Eu vou ficar bom e trabalhar para comprar uma casa para ela. –disse ele, chorando muito no seu ombro. Ela ficou em silêncio abraçando-o até que ele se acalmou. Depois pediu que fossem para o quarto dormir. Ele levantou e foram dormir. Na manhã seguinte a mãe de Gustavo disse que ia embora. Arrumou suas coisas já estava melhor e foi para a casa de sua prima. Souberam depois que ela retornara para o interior. Gustavo voltou a ter os sintomas da febre, PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS dores de cabeça, tosse e a falta de apetite. Retornaram ao hospital. Depois de medicado, voltaram para casa. Porém a febre não cedia e retornaram ao médico. E foi então diagnosticado que estava novamente com pneumonia. Ficou quatro meses indo e vindo. De dia ele ficava no hospital e de noite vinha para casa porque não havia leito disponível para interná-lo. Conversando com algumas amigas elas perguntaram se podiam levar um pastor na casa dela para orar por ele. Quando chegou em casa Diana conversou com ele sobre trazer o pastor. – Está bem. Pode trazê-lo eu só quero ficar bom. – disse ele. O pastor veio e orou. Depois conversando com ele falou. – Gustavo você vai ficar curado, mas tem que ter Fé! A Fé é que cura as pessoas. Depois de alguns momentos conversando ele se despediu e foi PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS embora. Quando o pastor se retirou Gustavo a chamou e disse-lhe: - Diana eu tenho certeza que o Deus que você adora vai me curar. Eu tenho certeza que vou ficar bom. Você me leva na igreja? Mesmo que seja carregado você me leva? – suplicou. Passados alguns dias da visita do pastor, Gustavo amanheceu com o corpo todo manchado de vermelho. Foram ao médico. Diagnosticado que ele estava com rubéola e, para ele que estava com o organismo debilitado o estagio estava mais avançado. Ficou internado no hospital. Decorrido quinze dias tomando as medicações os sintomas da rubéola desapareceram e ele, retornou para casa. Gustavo definhava a olhos vistos. As doenças oportunistas já tinham se apoderado do seu organismo. E depois de duas semanas que estava em casa voltou a diarreia, a febre persistente, a PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS tosse, os vômitos, as convulsões, os lapsos de memória e o cansaço geral no corpo. Já não conseguia mais comer e fraco não levantava mais da cama. Foi ao hospital solicitar um leito para ele, porém disseram que deveria aguardar porque não tinha no momento, e assim que houvesse ela seria informada para trazê-lo. Diana era incansável ali do seu lado. Dava-lhe banho no próprio leito colocando um plástico por debaixo dele para não molhar a cama. Aplicava soro. Falava com amigos para conseguir fraldas geriátricas para ele. As medicações na hora certa. Mas, nada mais estava fazendo efeito. Por várias vezes ele teve lapsos de memória. Não recordava de nada. O que estava fazendo ali, e por quê? A febre de quarenta graus não cedia. Uma das vezes que estava ao seu lado disse. - Gustavo você está com febre. – sentia a PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS quentura mesmo sem tocá-lo só de estar ali perto. - Não, não estou sentindo. – respondeu ele. E ela pegando o termômetro colocou e depois de alguns minutos verificou que estava com quarenta graus. E ela se desesperou o corpo dele já tinha se adaptado com aquela alta temperatura imaginou. Duas semanas se passaram quando Diana foi informada que tinha leito no hospital. Ela conversou com um taxista amigo deles para que a ajudasse a transportá-lo para o hospital. E assim ela, o taxista e a senhora que tomava conta de Luiz conseguiram carregar Gustavo até o táxi. Gustavo fora internado e ela ficara como acompanhante. Gustavo desaparecia entre os lençóis. Sua palidez confundia-se com branco daquele quarto. Seus olhos fundos perderam o brilho. E seu corpo era só uma magreza gritante. Mas o amor de Diana não o deixava desanimar. Chorava às escondidas. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS Não deixando que ele notasse o desespero em que se encontrava vendo – o a cada dia se ir. Estava no estágio terminal da doença. Havia três dias que estavam ali. Dia dos pais. Nessa manhã ela deu-lhe banho como fazia sempre. Passou talco e o perfumou para esperar a visita da médica. Após alguns minutos Gustavo teve uma parada cardíaca. Entrou em desespero e chamou imediatamente a médica. Porém já era tarde demais. Gustavo se fora. Deixara de sofrer. Tivera insuficiência respiratória, vindo a óbito. Diana saiu desesperada chorando pelo corredor do hospital. Não queria aceitar que perdera depois de tanto lutar o seu amor. Não, isso não podia acontecer. Chorava copiosamente. Algumas pessoas vieram acalmá-la. A médica receitou um calmante para ela e pediu para a enfermeira que estava ao seu lado no quarto onde Gustavo jazia. Que desse para ela tomar. Nada poderia ser feito. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS Gustavo tinha falecido e ela deveria ter calma para tratar do que viria depois. Depois de tomar o calmante e passar uma hora do acontecido. Diana inundada de dor, mas veio vestir Gustavo. Vestiu-o todo de branco e nos pés calçou-o com meias branca. Não queria que colocasse sapatos. Telefonou para uma tia dele que sabia que ela o tinha colocado no plano funerário. E a mãe mandou buscar na cidade de Barcarena para o enterro. No enterro a mãe de Diana levou sua filha Ana. Ao lado dela depois de tudo consumado disse. - Eu gostava dele. Parecia ser uma pessoa muito boa para ficar contigo – e foi embora.

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CAPÍTULO V A prevenção. O diálogo.

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Depois de alguns meses do falecimento de Gustavo, Diana retomou as suas atividades de palestrante. Naquele dia, ela estava ali, a comunidade toda presente a aguardavam para que ela iniciasse sua palestra. - Bom dia a todos os presentes! Eu sou Diana! – apresentou-se. - sou a palestrante e venho falar sobre o vírus HIV/AIDS. Estou aqui para pedir aos que não são portadores que façam a PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS adesão na prevenção das doenças do HIV, DST e hepatite C. que usem a camisinha! Ela é uma medida para que não venham contrair essas doenças que mais e mais estão contaminando as pessoas no mundo todo. E aos que são portadores que façam o tratamento que é gratuito no Centro de Saúde. Eles são a prevenção para que as doenças oportunistas não venham acometer seu organismo. E com isso levá-los literalmente a morte. Porque hoje, já existem esses medicamentos que fazem com que o organismo reaja e crie anticorpos para combater e com isso, o portador sendo assistido por médicos, tomando religiosamente os remédios poderá ter muito tempo de vida. Outro tópico que quero abordar é o preconceito e a discriminação. A família do portador não deve se afastar dele. E sim, tratá-lo com carinho porque um abraço, um PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS afago, uma palavra de conforto, um beijo, ficar sentado junto, o suor, as lágrimas, o assento de ônibus, piscina, banheiros, sabonete, toalhas, lençóis, talheres, copos e o aperto de mão. Isso não faz com que a pessoa seja contaminada. O preconceito esse sim, é que faz com que o portador venha a morrer mais depressa. Não deixe que ele carregue esse fardo sozinho. Ajude-o na sua doença com o seu afeto. Isso vai fazer com que ele lute pela vida, sabendo que tem pessoas que o amam mesmo sendo portador. A contaminação só é feita através da relação sexual com o (a) portador (a) do vírus sem prevenção. Neste caso é o de não usar a camisinha ou de não usar corretamente. E a outra maneira é a da seringa usada por diversos parceiros, em que, um deles é soro positivo. Isto é: a contaminação se dá pelo sangue infectado pelo vírus. Por último o leite materno. A mãe portadora do vírus não pode PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS amamentar. As pessoas que são portadoras e que engravidam, peço! Que vá a uma Unidade de Saúde. Já existem tratamentos para que seus filhos nasçam sem ter o peso dessa doença na sua vida. Mesmo os pais sendo portadores, mas se fizer o tratamento durante a gravidez seu filho vai nascer sem o vírus. Também visitamos as famílias que tem em seu seio um portador e que precisam de orientações para ajudá-lo a se tratar. Pedimos a todos sejam adolescentes, jovens e adultos que se protejam usando a camisinha, porque ela é uma prevenção para várias doenças, como HIV/AIDS, DST’s ou a Hepatite C, que são doadas nos Centros de Saúde. Depois de algum tempo, deu por terminada mais uma palestra. Os aplausos ecoaram no recinto. Após a palestra algumas pessoas se PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS aproximaram dela para saber mais detalhes sobre o que foi dito. Nesse ínterim, foram entregues as camisinhas e os folders explicativos sobre o vírus do HIV/AIDS, e as doenças sexualmente transmissíveis DSTs. Como prevenir e onde buscar tratamentos.

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EPÍLOGO A vida continua

Ouviu a voz no microfone inundar o ambiente. Chamaram-na. Ela levantou-se e dirigiuse para o palanque. Estava nervosa. Subiu os degraus. A parlamentar enfatizou o trabalho que ela vinha desenvolvendo na ONG e que aquele troféu simbolizava a Mulher Destaque do Estado do Pará Região Norte. Era com muita honra que entregava para ela esse troféu simbolizando sua árdua luta contra o preconceito e a discriminação dos portadores do vírus do HIV. Ela recebeu das mãos PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS da parlamentar o troféu. E depois um abraço. Fez pose para foto. Pronto! Tudo registrado. Antes de sair lançou um olhar na direção de um rapaz com a câmera fotográfica. Seus olhos se cruzaram e um largo sorriso iluminou-os. Ela então suspendeu o troféu num gesto que indicava. Este é nosso! Depois que ela desceu, o rapaz veio ao seu encontro e a envolveu num abraço caloroso. Abraçados vieram até onde antes ela estava sentada. Beijaram-se carinhosamente. Depois ele a deixou para que retornasse ao seu antigo lugar até o final do evento. Diana vive muito feliz. Depois de tanto sofrimento conheceu José, embora mais jovem que ela, porém, uma pessoa que a ama de verdade. Casaram. E dessa união tiveram filho que também não possui o vírus. Formam um belo casal. Estão sempre juntos, nas palestras levando informações PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS de prevenção e tratamento aos portadores do HIV/AIDS distribuindo folders e preservativos nas comunidades.

POSFÁCIO Entre a ficção e a realidade.

Durante muito tempo e até hoje as pessoas menos esclarecidas ou mal informadas tratam as pessoas portadoras de HIV/AIDS os chamados: soropositivo, com desprezo. Como antes eram PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS tratadas as pessoas portadoras da hanseníase que hoje pode ser incubada isto é, que já existem certos medicamentos que fazem com que a doença paralise, não evoluindo, a pessoa pode conviver com outras pessoas sem que traga risco de contágio. O HIV/AIDS é uma doença transmitida sexualmente e também por contatos de seringas com sangue contaminado com o vírus. A obra é fictícia baseada em fatos reais. Os personagens desta história são como milhares de pessoas que existem no mundo. A minha intenção é, além de promover uma leitura lúdica, mas, também, que seja munida de grandes informações a todos os leitores. O tema abordado é polêmico entre todas as classes sociais. Porém, deixo aqui, algo em que possa refletir, e chegar as suas conclusões, a partir desta leitura. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS Dando ênfase sobre as prevenções, os contágios, os tratamentos e principalmente, um apelo, a não discriminação de pessoas, que fazem parte e que existe no mundo inteiro, desse grupo de risco. E que às vezes estão tão próximas de nós, como em nossa família, amigos e conhecidos. Enquanto esperamos que a medicina descubra o medicamento eficaz para destruir esse vírus totalmente, deixo aqui o meu apelo: Previna-se! “Ame-se amando a quem você ama, prevenindose.”

SOBRE A AUTORA: Angela Pastana nasceu em Belém do Pará onde vive atualmente. É romancista, poetisa, contista, cronista e letrista. Acadêmica. PERIGOSAS ACHERON


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