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FIM E INÍCIO JOSIANE VEIGA

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FIM E INÍCIO

JOSIANE VEIGA

1ª Edição 2018

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Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por quaisquer meios (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem autorização escrita da autora. Esta é uma obra de ficção. Os fatos aqui narrados são produto da imaginação. Qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real deve ser considerado mera coincidência.

Título: Fim e Início Romance Histórico/Medieval

ISBN

-

9781719953573

Texto Copyright © 2018 por Josiane Biancon da Veiga

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Sinopse: A Saga Medieval líder de Vendas na Amazon chega ao fim.

Masha, Bran e Cashel enfim concluem seu plano de encarnarem em corpos mortais. A luta contra o Maligno torna-se mais ameaçadora a cada momento, especialmente porque nenhum deles sabe em quem confiar. As aparências enganam. Das mais belas bocas saem as mais venenosas palavras. Dessa vez, a trindade precisará vencer não apenas os dogmas humanos, como também a sua própria incerteza diante da missão a eles confiada.

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Sumário JOSIANE VEIGA Nota da Autora Ordem de Leitura da Saga dos Reinos PARTE 1 OS DEUSES O FIM Capítulo Dois A RUIVA Capítulo Tr ês A

PERDA

Capítulo Quatro O NEGRO Capítulo Cinco O BRANCO PARTE 2

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PERIGOSAS NACIONAIS A JORNADA Capítulo Seis A VIAGEM Capítulo Sete A PRISÃO Capítulo Oito É L E N Capítulo Nove CASTELO BRANCO Capítulo Dez O RAPTO Capítulo Onze ASYA Capítulo Doze BRAN E MASHA Capítulo Treze DESAMOR Capítulo Quatorze CASTELO NEGRO Capítulo Quinze PAIXÃO

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PERIGOSAS NACIONAIS Capítulo Dezesseis SONHO Capítulo Dezessete O ATAQUE Capítulo Dezoito O PAI Capítulo Dezenove O ERRO Capítulo Vinte FIM E INÍCIO DEMAIS LIVROS DA AUTORA

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Nota da Autora

T

udo começou com Esmeralda. Seus cabelos escarlates, seu temperamento completamente descontrolado, seu olhar verde capaz de adentrar almas. Eu temi que as pessoas, ao lerem essa versão um tanto estranha de uma protagonista, fossem odiar a obra como um todo. Desde o começo eu entendia o tamanho desse universo. Sabia o início e o fim de cada detalhe de cada uma das histórias narradas. Mas, e a coragem de colocá-las no papel? Foram mais de quinze anos de dúvidas cruéis sobre escrever ou não sobre um mundo grotescamente parecido com o nosso – e nessa obra vocês descobriram o quão profunda é a semelhança – sem ofender o ego humano como um todo. Por fim, veio à coragem. E então comecei a dedilhar as letras. Primeiro, falei sobre Brione e Iran, como eles geraram aquele fruto impuro. Da dor perpétua da primeira fase do livro Esmeralda, chegamos a, ironicamente, a graça que carrega a segunda parte do livro. Cedric e Esmeralda são tão antagônicos que o simples

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PERIGOSAS NACIONAIS fato de serem um casal torna a história uma comédia. E foi o riso que manteve os leitores ativos na Saga, apesar de que suas continuações pouco traziam de alento. Elisabeth e Joshua sofreram muito. Norman e Melissa também. Deles, veio Élen que sequer devia ter amado Gideon. Nesse ínterim, em passos trôpegos, Mah aproximasse. Sua única passagem em “O Pecador” e sua menção em “O Perverso” é tão importante que se tornou memorável. Lana e Brian coroam a história e a preparam para o derradeiro final. Assim que conclui o 6º livro, percebi o inevitável. Eu não poderia encerrar a saga sem que os leitores entendessem as passagens citadas pelos protagonistas em momentos diversos. Uma coisa era eu dizer que os profetas morreram, outra era trazer a dor deles aos leitores. Então, veio “O Homem de Gelo”. E, como a religião conseguiu enganar a todos por tanto tempo? O sistema se corrompe na trilogia dos Irmãos Balden (O Rei Águia/A Sacerdotisa Águia/ O Príncipe Águia). É chover no molhado dizer que não há a menor possibilidade de você ler esse livro e entendê-lo sem ler a Saga Completa. A ordem de leitura é à sua escolha, mas eu prefiro o tradicional. Abaixo deixarei os livros na ordem a

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PERIGOSAS NACIONAIS serem lidos. Espero sinceramente que gostem. Um adendo importante, vocês notarão a semelhança desse livro com as muitas religiões existentes no mundo. Usei como base desde o hinduísmo, até mesmo a mitologia Tupi. Não é intenção do livro desrespeitar nenhuma fé e sim apenas ser ficcional usando as vertentes disponíveis. Josiane Biancon da Veiga Agosto de 2018.

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Ordem de Leitura da Saga dos Reinos

1º Esmeralda - https://amzn.to/2eLR0gQ 2° Avassalador - https://amzn.to/2e4CrRA 3° Arrebatador - https://amzn.to/2e6KTzJ 4° O Vilão - https://amzn.to/2mfRb8A 5° o Pecador - https://amzn.to/2zVgWhF 6º O Perverso - https://amzn.to/2DhSsRM

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PARTE 1 OS DEUSES

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Capítulo Um

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O FIM

A

s paredes daquele casebre lembravam o bordel no qual Mah serviu durante boa parte da sua vida. E, infelizmente, não havia sido a mais fácil das existências. Não que fora renegada pelo destino e traída pelo próprio nascer. Bem da verdade, se analisasse bem, colocasse cada detalhe de sua existência em cheque, perceberia que tinha tudo para ter se tornado uma distinta senhora de terras em Masha. Alguém cujos olhares resplandeceriam respeito e admiração. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS Mas, foi um homem que a desgraçou. Um homem... um nome... Mael. Porque, como uma ingênua moça de boa família, ela era sonhadora o suficiente para acreditar em amor à primeira vista e em almas gêmeas. Foi do jeito difícil que a verdade corrompeu seus bons pensamentos. Após se entregar ao desgraçado que a arruinou, e pegar barriga dele, foi abandonada tanto por seu amor quanto por sua família. Virou escória. Perdeu qualquer lugar que já tivera no seio dos parentes. Abandonada, sem condições de se manter, viu a desnutrição matar seu bebê antes mesmo de nascer. O aborto espontâneo ocorreu durante uma febre. Sentiu o sangue escorrer pelas pernas enquanto as lágrimas de agonia lhe transbordavam PERIGOSAS ACHERON


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pelos olhos. E agora estava ali, a observar as paredes do casebre... Após o aborto, virou puta do cais. Nunca creu que seria nada além disso. E esperou pacientemente que um dia sua dor tivesse fim. Que Masha se apiedasse dela e a matasse com uma das muitas doenças que as putas costumavam pegar. Contudo, quem conhecia os propósitos dos deuses? Quem poderia descobrir que aquela jovem ingênua, tola e maculada era a joia especial do olhar de Masha, a Deusa Mãe? Como a mais vil pecadora podia ser o ser mais especial do universo, escolhida desde o princípio dos tempos para a mais sagrada das missões? Mah não sabia, sequer suspeitava, que foi preparada séculos antes de tudo ocorrer. Ainda no PERIGOSAS ACHERON


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tempo em que Esmeralda fugia de seus captores, escorraçada por ser imunda, Masha, a deusa ruiva, pensou em um plano caso tudo falhasse. Não apenas em um, é claro. Houve Iwan, além de mais tentativas de salvar o mundo e os que nele habitavam, mas... Quando tudo falhasse... Se tudo falhasse... então... Era ali que Mah entraria. Antes de Cael aceitar o amor de Kian, numa das noitadas com muitas das mulheres com quem se acostou, Masha guardou sua semente. Cael nunca soube disso até porque de nada lhe valia essa informação, na época. Sim, ele teve um filho. Um filho criado por outro homem que não desprezou o garoto, compreendendo que a mãe – puta, na data da concepção e do nascimento – não teve escolha a não ser gerar o bebê. O menino foi bem criado. A mãe mudou de PERIGOSAS ACHERON


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vida quando conheceu um bom agricultor que cuidou dela com gentileza, e ensinou o ruivinho de sangue especial a ser honesto e honrado. E esse filho teve outros filhos. E outros. E muitas gerações e gerações de uma raça ruiva. Uma semente que foi passando de ventre em ventre, cuidadosamente protegida pela deusa. Dias, meses, anos... Séculos. E então nasceu Mah. Era tão linda. Seus vibrantes cabelos vermelhos e seu olhar verde intenso parecia dizer ao mundo que jamais haveria beldade maior. Foi amada. Muito. Mais do que qualquer ser vivo no universo. Talvez não pela família, mas pela Deusa que lhe amparou. Masha esteve no quarto onde à mãe de Mah deu à luz. Invisível aos olhos de todos, chorou diante do bebê. Porque, pelos PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS céus, como a queria bem. Mais que tudo... Mais que a todos. Viu sua dor e sofrimento ao ser enganada por um braiano. Mas, não interviu. A dor fortalece as pessoas, e Mah precisava ser forte para o que viria. Era assim que se definia a vida. Em livros sagrados escritos posteriormente, dir-se-ia que é no fogo que o ourives molda a joia. Foi no fogo da desesperança que Mah fortaleceu seu caráter. Secretamente, os planos dos deuses foram tomando forma. No momento fatídico, Masha não teve coragem de ir até Mah, então, Bran a interceptou numa noite calorosa. Numa taberna, adentrou o lugar escondido por uma capa, como homem comum, caminhando PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS entre mesas sujas e mulheres destruídas. Um Deus entre mundanos. O quão terrível aquilo era? Mah o encarou quando Bran se aproximou dela. — Venha comigo — ele ordenou. E ela o seguiu. Não apenas porque era puta e precisava do dinheiro do sexo, mas porque havia algo na voz dele que a determinou. As ordens que ouviu eram diretas. Ela devia embarcar em um navio e ir para Cashel. Lá, deitarse-ia com um homem completamente desconhecido, e dele pegaria barriga. A criança, uma menina, devia se chamar Masha. E ela devia protegê-la até que a menina PERIGOSAS ACHERON


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tivesse idade suficiente para tomar conta de si mesma. Não vou mentir para você, leitor. Você conhece as outras histórias. Você sabe que Mah temeu cada passo a ser dado naquele plano. Mas, se um Deus te manda saltar, a única questão a ser resolvida é: em qual altura? Mah não tentou fugir, e jamais passaria por sua mente meditar nas implicações daquela ordem. Se ela precisava de abstinência sexual por algum tempo e depois sentar-se sobre a virilidade de alguém que nunca vira, ela o faria. Era isso. E fez. Com certa repugnância, não porque o homem negro chamado Gideon não fosse belo, mas porque aquele ato parecia o mais cruel, sendo-o realizado aos olhos pueris da princesa Élen. Contudo, e apesar de tudo, pegou barriga. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS Ao retornar para a terra quente, recolheu-se em um casebre, sendo cuidadosa de racionar a comida e o dinheiro guardado para que nada lhe faltasse e para que não perdesse aquele bebê como aconteceu com o primeiro. E então, ali... As paredes feias... A dor de moer os ossos lhe envolvendo de tal forma que todo seu corpo ardia e queimava. Aos seus pés, uma parteira empurrava sua barriga para baixo. As forças pareciam se findar. Mas, ela tinha que sobreviver. A menina precisava ser protegida até ter idade para isso. Não podia morrer. Não podia... — Tem que empurrar — a mulher disse, um tanto grossa. Nenhuma parteira gostava de atender putas. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS Temiam pegar alguma doença nas mãos. E o olhar feroz para ela fê-la adquirir forças e empurrar mais. Sentiu, entre a vulva, um corpo alheio, passando entre si. Sorriu. Aquele corpo escorregou para fora e caiu sobre as mãos da parteira que logo lhe batia rapidamente nas costas para fazê-la chorar. — É uma menina — a mulher avisou. Mah sentiu as lágrimas caindo pela face. O quão felizarda era? Assim como Brione de Cashel, muitas eras antes, ela era a mãe de um ser especial. — Dei-me — pediu. A parteira lhe estendeu a criança, e depois volvia para suas partes baixas. Com um balde começou a limpar os restos que vazavam de sua vagina. — Que nome vai dar? — indagou. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS — Será Masha. Não viu o olhar incrédulo e raivoso contra si. E, mesmo se o visse, não se importava. — Isso é uma grave provocação — o murmuro da parteira ela desconsiderou. Claro, aos olhos de todos, era uma blasfêmia. Chamar de Masha a filha de uma meretriz? Devia ser queimada por simplesmente pensar no fato. Contudo, não se importou. Era uma ordem, e ela a cumpriria sem hesitar. Além disso, desde que Iwan assumira o trono, a religião pouco podia contra gente comum. Beijou a menina. Masha... Masha... Sentiu as mãozinhas pequenas da filha PERIGOSAS ACHERON


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fechando-se na sua. Sua respiração acalmando-se, o choro indo embora. Sua pequena Masha que parecia tão assustada diante do mundo, agora era aquecida pelo seu calor. O mundo temia aquela entidade, mas Mah entendia que uma era tudo para a outra.

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Capítulo Dois

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A RUIVA

A

cama rangia. A menina de sete anos, ainda protegida pela inocência de sua infância, escondida num armário bem fechado onde nada podia ver, era incapaz de imaginar o que acontecia no quarto. Desde que se conhecia por gente, sabia que quando homens vinham a sua casa, ela devia ir para o armário. O móvel bem fechado era o lugar onde ela permanecia enquanto a mãe entretinha quem quer que fosse. Depois disso, elas sempre tinham dinheiro para comer. Se homens faltassem, também sumia as PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS espigas de milho da mesa, assim como a carne ou as batatas. Homens eram sempre uma alegria. Quando não apareciam, a mãe sentava-se na cama, os cotovelos nos joelhos e o rosto agonizante escondido nas mãos. Depois, volvia o olhar para ela, preocupada, e então a chamava para seu colo. Apertava-a com força. Beijava seus cachos ruivos, respirando seu cheiro. A menina sempre sorria diante do carinho, ignorando a barriga que costumava roncar nessas ocasiões. Masha, a menina ruiva, demorou algum tempo para perceber que o mundano pouco lhe importava. Tão logo a primeira infância findou-se, veiolhe a constatação de que não era como outros. Era divina. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS E, assim percebendo, soube que poderia ter escolhido o melhor castelo ou a Casa mais poderosa e bem quista de qualquer dos reinos para renascer. Mas, ela escolheu Mah. Ela escolheu uma prostituta pobre que precisava batalhar muito para lhe dar comida. O motivo? Nem o mais puro ouro poderia equiparar-se ao amor encontrado naquele colo, naquele abraço, naqueles beijos. Durante toda a eternidade em que existiu, durante todos os séculos que andou por entre Reinos, erguendo Reis, lutando contra o mal, buscando salvar aquela humanidade podre de seus designíos, em seu íntimo havia a urgência desesperada pela mãe... Quando as memórias surgiram, aos poucos, PERIGOSAS ACHERON


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em sua cabeça infantil, soube que não fez tudo que podia para os mortais. Ela quis renascer. Ela quis encarnar. E tudo por causa dela... Por Mah. Ela queria tão desesperadamente o abraço da mãe que permitiu ao Maligno agir e destruir quem quer que fosse, a um preço baixo. Naquela idade, a culpa de seus atos ainda não a assolava, como viria a acontecer mais tarde. Agora, aos sete anos, ouvindo o ranger da cama, ela sorriu, ciente de que assim que o homem fosse embora, Mah seria totalmente sua. Um urro masculino invadiu o quarto. Parece que o que quer que fosse que o homem quisesse com sua mãe, havia findado. Masha preparou-se para sair do armário. Aguardou. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS Som de roupas sendo vestidas. Ainda levouse certo tempo até enfim a portinhola abrir-se. A mãe, com o rosto enrubescido, mas sorridente, a puxou do armário e lhe trouxe para os braços. — Masha! — exclamou. — Vamos jantar hoje! Era uma noite bem aventurada. Teria a mãe e teria comida. O que mais era preciso para ser feliz?

Aos doze anos ela recebeu sua primeira espada. Mah havia conseguido o objeto com um dos homens a qual servia. A espada velha e um PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS tanto enferrujada iria ser jogada fora, então a mulher lhe pediu. O homem a entregou de graça, e ela surgiu no casebre em que morava com o presente como se fosse um dos artefatos mais preciosos do mundo. E, de fato, o era. Nas mãos de qualquer pessoa, seria uma espada inútil e sem fio. Nas mãos de Masha, era a mais mortal arma de guerra. A menina encarou o objeto com nítida paixão. Depois, empunhou-a. Foi automático. Seu instinto sabia como manejar aquela arma, e logo ela andava em passos ritmados pela casa, aos olhos contentes da mãe, vibrando a lâmina de um lado para o outro, pronta para a batalha. — Por que, amor? — a indagação de Mah fêla volver-se para a genitora. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS — O quê, mama? — indagou. — Por que deixou a imortalidade para se tornar a filha de uma prostituta? Por que trocou a glória pela miséria? Masha sorriu. Aquela fileira de lindos dentes brancos parecia acalentar o coração da sofrida Mah. — Por que seria, mama? É porque te amo.

Aos quinze anos procurou trabalho. Descobriu, pasma, que mulheres não podiam trabalhar sem a autorização de um homem. Não tinha pai. Gideon, preso nas masmorras do castelo de Bran, sequer suspeitava de sua PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS existência. E o irmão, Cashel, devia se manter alheio ao que ocorria a ela. — Mas posso te empregar como uma serva pessoal... — um dos homens da taberna comentou, lambendo os lábios e dando a ela o seu mais intenso olhar lascivo. Antes mesmo de tentar convencê-la, o fio da espada já se encontrava à altura de seu pescoço. — Estou interessada — Masha murmurou. A maldade dominava seu olhar. — Prossiga. Contudo, a mão suave da mãe surgiu por trás dela e fê-la baixar a arma. O homem respirou, aliviado. — Cuido de você, filha — Mah indicou, e Masha sentiu lágrimas nos olhos diante disso. A mãe era obrigada a se sujeitar para dar-lhe de comer. Não era justo. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS — Sou forte e capaz — objetou. — Posso fazer qualquer coisa. — Mesmo para empregada, precisaria de que um homem te autorizasse ao trabalho. A única das profissões que nos permitem é aquela que me avassala há mais de duas décadas. Não permitirei que passe pelo mesmo. Masha observou a própria mão, querendo novamente que seus poderes despertassem. Mas, ela sabia que havia sacrificado sua divindade pela carne que agora habitava. O olhar sofrido de Mah a encará-la fez o peso daquela decisão tornar-se grande demais.

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Capítulo Tr ês A

PERDA

U

mas das muitas verdades que pouco se podia ser confessada é que o combinado com Cashel e Bran estava completamente abafado pelos sentimentos de Masha. Eles haviam acertado, ainda deuses, de que quando Masha restaurasse a memória, se uniria ao irmão e o marido, a fim de cumprir o propósito para a salvação dos Reinos do terrível Maligno que há muito ameaçava aquela civilização. Vergonhosamente, desde os treze anos, PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS Masha lembrava-se exatamente de cada detalhe como divindade. Ainda podia ouvir o tilintar da espada de Esmeralda, as reclamações de Iwan, a determinação de Lana e a forma como o mar costumava ecoar cada vez que batia no casco de Avassalador. Contudo, toda vez que pensava em afastar-se de Mah, ela recuava, preferindo a vida quieta e sofrida ao lado da mãe, do que as aventuras fraternas com Cashel ou a paixão de Bran. A eternidade tinha um preço caro. O maior deles foi esperar, dia após dia, hora após hora, o momento de encontrar Mah. Depois, saber que a mãe iria morrer, talvez dali a pouco, talvez depois de muitos anos, lhe afirmava ainda mais a necessidade de aproveitar tudo que pudesse ao seu lado. E Masha? Agora encarnada, também teria PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS fim. Mas, o que ocorreria com sua alma? Voltaria para junto de Mah? Ou se dissiparia no tempo? Assim, marcava cada detalhe da face da mãe em sua mente, alentando-a para o sofrimento da separação inevitável. E, antes do esperado, ela veio. A dor da separação. A perda. Aquela amargura que parecia rasgar sua alma, afogar sua sanidade e destruí-la como nada mais fora capaz. Na dor em tempos outrora, Masha tornou sua terra árida e sem vida. Agora, sem poderes, tudo que conseguia era chorar ao lado do leito onde Mah suspirava na agonia mórbida de uma das doenças de puta que pegara no bordel. — Embaixo do saco onde guardo o trigo — a mãe murmurou. — Lá há dinheiro para que você parta atrás de seu irmão. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS — Não quero — a moça murmurou. — Não quero... — Já é mulher, filha — Mah afirmou, num sorriso confortador. — Eu sou grata pelo tempo que tive contigo. Agora, é tua hora de ser o que veio para ser. Fui sua mãe, agora é você que deve ser a mãe. Era como lhe longínquos: a Mãe.

chamavam

em

tempos

Dois suspiros fortes. E o ar fúnebre invadiu o ambiente. Masha sentiu o choro sufocá-la e ela afogou-o contra os seios da genitora. Mah... seu amor... Seu mais sublime amor... — Está certa, mãe — murmurou. — Mas, é muito mais do que ser mãe. É arrasar o Maligno. Por causa dele meu tempo contigo foi escasso. E eu o farei pagar por isso. PERIGOSAS ACHERON


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Capítulo Quatro O NEGRO

C

ashel poderia se considerar um bom Rei. Desde que havia assumido o trono, entregue a ele pela mãe Élen, passava os dias resolvendo os inúmeros problemas existentes nos Reinos. Problemas esses que seriam de fácil resolução se o povo fosse simplesmente um pouco mais justo. — Com todo o respeito, meu Rei — um dos conselheiros se aproximou. — Não pode autorizar mulheres a trabalharem em qualquer ocupação, sem PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS que os homens que lhes são donos lhes permitam tais tarefas. Seu tio-avô Iwan costumava dizer que ninguém era dono de ninguém. Tão logo assumiu o trono, percebeu que ninguém do clero ou do Conselho concordava com o ruivo. — Preciso resolver o problema das mulheres sem famílias — Cashel ralhou. — Sempre há uma ocupação sem que haja necessidade do aval masculino — o Conselheiro sugeriu. Aquilo estava errado. Ele sabia. Ele sentia. Por que ninguém se importava com as mulheres que eram obrigadas a prostituição? Por que o mundo parecia a cada dia mais asqueroso? Antes que pudesse prosseguir em sua discussão o semblante da mãe apareceu à porta da PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS sala de reuniões. Cashel suspirou, dispensando os homens. Lá vinha a mesma ladainha de sempre...

Cashel não se lembrava de exatamente quando a mãe começou a enlouquecer. Talvez ela sempre fora meio desajustada, mas ele não entendia isso até ter idade suficiente para saber que suas frases não combinavam com a realidade que viviam. Recordava-se de que na infância ela lhe chamava de pequena benção. Depois de um tempo, o colocava no colo e lhe contava histórias sobre PERIGOSAS ACHERON


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como ele era sábio e poderoso. Só deu-se conta de que a mãe realmente acreditava que ele era o Deus Cashel quando chegou à juventude. E aquilo o assustou. O pai, preso nas masmorras, parecia não saber como aconselhá-lo diante do fato. Sem alguém que pudesse lhe dar suporte – pois desde pequeno a mãe assumira como Soberana – ele passou a viver entre a loucura e a fixação de também não tornar-se um demente. — Não entendo como pode estar tentando governar o Reino quando sua missão é tão maior que essa, Cashel. Élen parecia nervosa diante dele. Era sua mãe, ele lhe respeitava. Mas, como lidar com uma lunática? — Estou fazendo o melhor que posso. — Devia ir atrás de seu primo Bran — PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS apontou o norte, onde morava os parentes. — E atrás de Masha, onde quer que ela esteja! Por que diabos tia Lana havia dado um nome divino ao filho? Pobre Bran, também sofria o diabo nas mãos da mãe, que o instigava a ser o Senhor dos Deuses. E o coitado sequer acreditava nas divindades. — Mãe — começou, não queria ser desrespeitoso. — Precisa entender que o fato de me dar à alcunha de Cashel, não me torna o Deus negro. A mulher sentou-se próxima dele. Segurou suas mãos. Sorriu para o filho. — Sabe como conheci seu pai, não? Gideon era parte de um grupo fanático que matava brancos nas terras de Cashel. — Já me contou isso. É por isso que ele vive PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS há tantos anos no calabouço. — Antes de eu embarcar para Cashel a fim de lutar contra ele, você apareceu para mim no jardim. — Mãe, teve uma alucinação... — Não! Era você! Disse-me que eu seria sua mãe. Céus, por que não se lembra? — Porque nada disso é real — afirmou. — Mãe, se eu fosse o Deus Cashel, eu teria poderes, não? Ela não sabia. Nunca foi lhe explicado o papel dele naquela existência. — Lana diz a mesma coisa sobre o filho — perseverou. — Por que ninguém acredita em nós?

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A masmorra onde Gideon havia passado os últimos vinte anos era escura, fétida e deprimente. Mesmo assim, quando o filho surgiu diante do homem por trás das grades, recebeu dele um sorriso feliz, como se o ambiente não contaminasse suas emoções. — Posso te dar o perdão real — Cashel avisou, pela milésima vez desde que passou a ir ter com o pai desde criança. — Por que precisa viver aqui? Já não pagou caro por tudo que fez? — Paguei? — Gideon respondeu. – A vida dos que matei irá retornar? PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS — Estava sendo manipulado. — Isso não é desculpa — o homem negro recusou, e então estendeu a mão além das grades e tocou o ombro do filho com carinho. — O que houve? O que não houvera? Ele era jovem demais para ser rei. Seu pai vivia desde que ele lembrava por trás daquelas grades. Sua mãe havia enlouquecido. — Ela insiste em achar que sou um Deus — murmurou. — Sua mãe passou por muitas coisas — Gideon abrandou. — Tenha paciência. — Estou tendo. Gideon queria muito abraçá-lo, dizer-lhe que tudo ficaria bem. Mas, o olhar descrente do filho era uma barreira pior que as grades que os PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS separavam. — Na época do seu nascimento, vi e vivi muitas coisas que não são explicáveis. — Também está se contaminando pela loucura dela? — Não se atreva a falar dessa forma sobre sua mãe — Gideon avisou. — Posso estar por trás dessas grades, mas ainda sou seu pai, e sei que aquela mulher sacrificou muito por ti. Ela o ama mais que tudo nessa vida, então a respeite. Cashel baixou a fronte. — Tem razão. Peço desculpas. Logo, o filho afastou-se. Com a testa encostada na grade, Gideon condoeu-se por não estar disponível para Cashel e para cada dúvida que podia assolar seu amado filho. PERIGOSAS ACHERON


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— Às vezes penso que Iwan nunca devia ter ido embora — Gideon murmurou. Suas costas estavam encostadas na grade. Atrás dele, na mesma postura, sua mulher também se sentava no chão, ignorando sua realeza, simples como a mais pueril camponesa. — Foi bom — ela negou. — Desde que Masha parou de responder suas preces, meu tio não mais parecia um devoto. — Iwan nunca deixou de ser amargurado por tudo que tentou e não conseguiu fazer pelos Reinos. Élen suspirou. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS — E quer dor maior do que ser Rei de um povo cruel e desumano? — Nem todos são assim... — A maioria é — Élen retrucou. Repentinamente, suspirou alto. — Bran também não aceita quem é. Por algum motivo, creio que Masha é a única resposta a todas essas questões que me tiram o sono e tornam meus dias agonias sem fim. Breve silêncio. — Élen, tem certeza de tudo isso? Subitamente, ela também passou a duvidar de si. E se tudo houvesse sido uma ilusão provocada por sua mente desesperada às vésperas de se tornar Rainha? Lana estaria tendo as mesmas dúvidas? PERIGOSAS ACHERON


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Capítulo Cinco O BRANCO

E

le era homem. Capaz de tomar as próprias decisões, mesmo que essas fossem completamente contrárias à vontade da mãe, Lana.

O pai, coitado, evidentemente não tinha coragem de retrucar a esposa. Bran jamais entenderia como, no passado, ousaram chamá-lo de Perverso. Brian era o mais gentil e dedicado dos maridos. Mas, isso era entre eles. Marido e mulher. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS Como mãe, Lana era louca, psicótica e desesperada em sua própria irracionalidade. E, vergonhosamente, o filho percebia que ela havia conseguido influenciar até mesmo a Rainha Mãe, Élen. De início, Bran não a desmotivou de sua loucura. Ora, era até satisfatório ter a genitora tratando-o como um Deus. Todavia, conforme a idade avançava e ele via a ter seus próprios pensamentos, aquela baboseira passou a ser um fardo. Em muito porque Bran era completamente cético. Não havia nenhuma prova racional da existência de deuses mantenedores. Os ditos milagres murmurados por alguns não aconteciam há tempos, e mesmo o antigo regente, Iwan, um dos homens mais sábios e fortes que ele conheceu, parecia descrente de suas raízes. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS O outro motivo, o mais importante de todos, era Asya. A mais linda jovem da casa de Clark. Doce, gentil, caridosa. Lindos cabelos escuros, longos como um mar negro que deslizavam pelas suas costas em ondas aveludadas. O olhar também escuro, a boca generosa, e o corpo delgado completavam a figura magistral que o fazia perder a cabeça. Foi por causa dela que teve a primeira grande discussão com a mãe. — O quê? — Lana berrou, quando ele lhe avisou que namoraria a órfã criada no vilarejo. — Sei que o pai e a mãe de Asya não foram as melhores pessoas conhecidas, mas ela não tem culpa. — Nunca disse que tinha — Lana retrucou. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS — Mas você já é casado! — O quê? — Com Masha! O rapaz revirou os olhos, enquanto a ouvia discursar sobre um amor milenar, que atravessou até mesmo as existências. Ironicamente, naquelas palavras estava outra prova de que não era Bran, o Deus: ele não nutria nenhum tipo de atração por ruivas. — Com todo respeito, minha mãe, a senhora é louca. O pai interviu naquela ocasião. Foi admoestado por ter sido rude com sua mãe. Depois, Brian volveu-se para Lana e lhe consolou por ter um filho tão retardado e idiota que não confiava em sua palavra sincera e em sua sagrada missão que, caralhos, ela não fazia ideia de qual era. PERIGOSAS ACHERON


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— Conversou com ela? Asya o aguardava no lugar de sempre. O celeiro de Castelo Branco, palco de grandes amores, encorajava aquelas duas almas apaixonadas ao amor proibido. — Minha mãe não tem condições de entender nossa situação. — O que ela tem contra mim? Sei que meu pai foi um homem horrível, mas minha mãe se arrependeu de suas falhas. Além disso, ela morreu no parto, tantos anos atrás. Por que ainda guarda tanta mágoa? PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS Bran, surpreendentemente, viu-se no encargo de defender a mãe. — Não se trata disso. Minha mãe acredita que eu já tenho compromisso com a tal deusa Masha. — Mas, isso é loucura... — Acha que não sei? — O que faremos? Vamos nos sacrificar? — Está louca? Mesmo que minha mãe esteja histérica com essa história de encarnação divina, meu pai ainda mantém o mínimo de bom senso. O abraço de Asya ele recebeu com um suspiro apaixonado. — Prometa-me que jamais me abandonará — ela pediu. — Eu juro. PERIGOSAS ACHERON


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Castelo Branco era um pequeno pedaço do paraíso naquela imensidão gelada ao norte de Bran. O tempo parecia não ter passado desde que Thomas Clark havia construído o palácio, até séculos depois, quando Andrew Clark, avô do atual senhor Brian, venceu sua própria amargura e trouxe novamente para o seio da família o pirata e irmão Joshua, o bisavô do atual monarca. Ali estava, o palácio pálido pelo cal, o celeiro enorme onde alguns cavalos eram mantidos, a estrebaria, a casa dos cavaleiros e, adiante, as ruas povoadas de gente simples e casas modestas, que mantinham a vida com dignidade apesar da PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS decadência moral com que todos os Reinos pareciam estar cedendo. Bran cavalgou até uma das casas. Bateu na porta. Aguardou a abertura e sorriu para a mulher de meia idade que o recebeu com um abraço. — Meu sobrinho... — ela murmurou. — Tia Edna — Respondeu, devolvendo o cumprimento. Apesar da relação difícil com a mãe, ele era sempre muito gentil com as demais mulheres. Edna, em especial, era quase como uma segunda genitora para ele. — Ewen já voltou? — Mandou-me uma missiva de Masha — respondeu. — Está terminando seus estudos de cura na terra da Mãe Ruiva, e depois partirá para o reino de Cashel. Logo estará entre nós. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS — Sinto falta de meu primo. O primo e Asya eram irmãos. Ele, fruto de um estupro – o pai dos jovens havia submetido Edna há tempos distantes –, ela, o resultado de um caso de amor de uma antiga linda serva chamada Morgana. Ninguém, contudo, falava sobre isso. Tanto Ewen quanto Asya mantinham certa distância. Bran sentou-se à mesa. Aceitou o chá de camomila que foi lhe dado. — Preciso de sua ajuda — disse. — Tudo que quiser — Edna retornou. — Precisa falar com minha mãe. Está louca. Toda a família sabia das ideias estranhas de Lana. Ninguém ousava retrucá-la. Era, acima de tudo, uma Vagante, uma mulher criada entre PERIGOSAS ACHERON


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Reinos, conhecedora de magias e de ervas, alguém cuja presença denotava respeito. Mais que isso, para Edna, Lana era uma irmã. — Sua mãe não está louca — retorquiu. — Quero me casar — ele antecipou. — Asya e eu nos amamos. Ela, contudo, interfere. Impede. Tem essa ideia maluca de que eu preciso esperar por Masha. — E não precisa? Bran abriu a boca, pasmo. — O que quero dizer é que você ainda é muito jovem. Asya é seu primeiro amor. Devia conhecer mais o mundo para decidir-se antes de empenhar-se em algo que não poderá alterar mais tarde. Quando desposar Asya, será para sempre. — E é esse meu desejo. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS — Está errado. Tem pouco mais de duas primaveras. E tem coisas que apenas o tempo nos dá. Precisa viver mais. — Já sei o que quero. — Entenda, Bran. Quando eu tinha vinte e poucos anos tinha uma mentalidade. Agora, quase aos cinquenta, tenho outra. Por que não faz como seu primo e viaje por algum tempo? Conheça a terra de Masha ou Cashel — aconselhou. — Ou vá a corte ter com seu primo, o Rei. Bran pareceu meditar no assunto. — Sabe que todos os meus conselhos são desprovidos de interesses. Eu o amo e apenas o quero bem. Terá tempo para se casar. Somente, precisa ter certeza desse passo antes de tomá-lo. As palavras de Edna cravaram fundo no coração do jovem. PERIGOSAS ACHERON


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PARTE 2 A JORNADA

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Capítulo Seis A VIAGEM

H

avia algo místico no mar. Masha não sabia exatamente o que era, mas aquela infinidade de água que parecia sem fim, assim como o som calmante das ondas, a fizeram sorrir. — Sabe o que dizem sobre o mar? Ela embarcou naquele navio há dois dias. A PERIGOSAS ACHERON


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despeito do olhar estranho dos homens para uma mulher desacompanhada, manteve todos eles bem afastados com a simples demonstração de que sabia manejar bem a espada. Numa das noites um dos marinheiros entrou em seu quarto e saiu correndo, erguendo as calçolas e gritando por ajuda, após tentar submetê-la. Masha sabia como o mundo funcionava. Sempre fora assim e sempre seria. O leão só se aproveita da ovelha desprotegida, Ela, com uma espada, era uma presa impossível. Agora, observando o jovem braiano que se aproximava, sorriu. O reconheceu. Sabia quem era. Ewen. Filho bastardo de Mael, o homem que desgraçara sua mãe. O jovem também era uma vítima, mas conseguira superar aquele passado desgraçado através do amor gentil de Edna, a tia de Bran. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS — O que dizem sobre o mar? — repetiu a pergunta, simpática. Recebeu um sorriso como resposta. Não sabia que o jovem havia embarcado naquele navio, era a primeira vez que o via desde que encarnara, e era a primeira vez que conversara com alguém desde que deixara a terra quente para ir atrás do irmão, Rei. — Que Masha, ao se separar de Bran, chorou tanto que preencheu as lacunas de terra, tornandoas oceano. A gargalhada da mulher o surpreendeu. Masha mal conseguia se conter, e segurou-se no braço dele, enquanto contorcia-se num riso debochado. — Céus, Masha jamais choraria por aquele idiota! — despejou. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS Se o demonstrou.

homem

ficou

ultrajado,

nada

— É mesmo? O que pensa sobre isso? — Ora, Masha e Bran nunca ficaram separados. Ambos podiam se transportar para qualquer lugar, assim cumpriam sua rotina de cuidar de sua gente e ficarem juntos sempre que quisessem. — Amantes ou irmãos? — ele indagou, de súbito. — Como? — Muitos dizem que são amantes. Outros irmãos. Tem alguns que falam até em inimigos, mas acho que você não concordaria com isso. O que acha que eles são? — Masha é irmã de Cashel — ela contou. — De Bran, é esposa. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS Ewen sorriu. — Fala com tanta certeza sobre isso. — Porque o tenho. Logo ele curvou-se. — Foi um prazer conhecê-la. Aliás, como se chama? A ruiva pareceu pensar um pouco. — Mah. — Então, sou Ewen — apresentou-se. — Sou da casa Clark em Bran, mas desembarcarei em Cashel durante poucos dias. Sei que está sozinha no navio, e que irá para Bran. — Deixou claro que havia perguntado. — Se não tiver para onde ir, vá para o norte. Para Castelo Branco. Meu tio irá empregá-la. — Não tenho homem para me autorizar a PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS trabalhar — ela o testou. — Somos parentes do Rei e um tanto excêntricos. Não atendemos exatamente as normas da etiqueta e boa conduta — piscou para ela. Masha adorou o homem que Ewen tornou-se, e ficou feliz por Edna ter feito a coisa certa, tantos anos antes, quando recusou o aborto. A vida ainda era a melhor decisão.

Ewen desembarcou em Cashel, conforme havia lhe dito, mas as semanas que transcorreram juntos serviu para Masha acabar por saber um pouco sobre como estava Cashel e Bran. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS Não que as notícias fossem agradáveis. Pelo que entendeu ambos tinham problemas com suas mães. E, sabendo o quão valorosas eram as mulheres, ela revoltou-se pela falta de consideração que o marido e o irmão estavam tendo com Lana e Élen. Claro, daria neles uma lição assim que os encontrasse. Uma surra bem dada faria os homens ajoelharem-se e implorarem perdão as suas mães. Mas, antes, ela tinha que chegar a terra fria. E o barco parecia transcorrer muito vagarosamente após a partida de Ewen. Não havia mais ninguém com quem pudesse conversar. Temia as intenções dos marinheiros, não porque não pudesse se defender, mas porque não queria ferilos, apesar de merecerem. Ela já havia machucado demais. Perdera o PERIGOSAS ACHERON


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controle muitas vezes no passado. Foi por sua culpa que sua terra agora ardia naquele calor insuportável. Ela precisava de remissão mais que qualquer outro ser vivo. E essa remissão se daria quando cumprisse seu papel final. Tudo, afinal de contas, devia voltar às mãos seguras do Criador.

Aqueles vinte e poucos anos que transcorrera após encarnar não havia mudado muito o estado do reino de Bran. Ela desceu da embarcação em uma das PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS cidades portuárias que ficavam próximas a capital, onde o castelo se localizava. Subitamente, estremeceu. Pensou em Cashel. Nunca, desde que o Divino os criou, ela estivera separada do irmão. Aqueles anos poderiam ter alterado em algo o amor que sempre sentiram um pelo outro? Travou. Parada em meio a um caminho de madeira nas docas, ela encarava o destino com temor. E medo não era algo que costumava seguir Masha. E Bran? Ainda a amava? Ainda a queria? Por que nenhum deles partiu atrás dela? Deu-se conta do pensamento de forma repentina. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS Por que diabos nenhum deles partiu atrás dela? A raiva começou no estômago. Aquele calor que percorreu seu corpo e logo chegou a sua face. Seu rosto enrubesceu. Deixaram Mah a mercê de tudo para criá-la. Fizeram-na embarcar SOZINHA em um navio cheio de homens ansiosos para lhe tomar, a fim de ir até os dois! Como aqueles miseráveis desgraçados se atreveram? E desde quando era dela a obrigação de ir até eles? Masha pousou a mão sobre a espada. Que Cashel e Bran se preparassem. O Maligno não era seu único alvo, agora.

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Capítulo Sete A PRISÃO

o momento...

É

Foi Cashel que esteve ali, ao seu lado. Cashel PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS seria o último a ser concebido. Ele o primeiro. Enquanto Masha preparava-se para ser encarnada em Mah, ele agora também sentia a vida sendo gerada em Lana. — Eu sei. Mas, tem algo errado. — O quê? Por ser o primeiro dos mantenedores, o mais forte, o mais preparado pelo Criador, Bran sabia reconhecer nuances na atmosfera que nenhum dos demais deuses podia. — Sinto que o tempo se perderá de nossa mente. Apenas uma pequena fração, tão frágil, nos restará... Cashel negou com a face. — Não é possível. Se assim o for, de que nos adiantará perder a divindade se não saberemos o que fazer tão logo sejamos carne? PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS — Talvez eu consiga transferir minha memória e a tua para Masha. Ela não se recordará de tudo, mas do principal. — E acha que ela estará preparada? — Diga-me, cunhado: se ela esquecer quem é, qual de nós a convencerá? Ela pode nos convencer, sempre conseguiu nos manipular. Mas, nós a ela? Impossível. Cashel teve que rir diante das palavras. — Ficará reconhecermos.

furiosa

quando

não

a

— Se não nos matar antes, teremos uma chance de que as coisas voltem ao início.

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Ele abriu os olhos se supetão, um tanto assustado com aquele sonho estranho. Sentando-se na cama, mal percebeu quando a porta abriu e a mãe entrou em seus passos retos, parecendo ansiosa para um novo dia. — Acorde, Bran! O que era aquela felicidade no tom da voz? — O que aconteceu? — Sua tia me disse que conversaram e que você parece disposto há esperar um tempo antes de tomar Asya por esposa — ela respondeu. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS Só por ouvir aquela clara alegria na voz ele tinha vontade de negar a informação. A mãe o irritava demasiadamente, sempre tentando controlar sua vida, e o pai era completamente compassivo em tomar uma atitude. Certa vez lhe disse que, apesar de não ter provas, acreditava nela. “Um dia armaram para mim. Apesar de num primeiro momento sua mãe ter me dado um belo cruzado de esquerda, logo em seguida ela arrependeu-se e ficou ao meu lado. Ela confiou em mim, e eu confio nela”. Entendia aquilo. Mas, sobre o filho ser um Deus? Era ridículo. “Talvez eu consiga transferir minha memória e a tua para Masha”. Afastou os pensamentos enquanto Lana saia PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS do quarto. A loucura da mãe poderia ser contagiosa?

O reino de Bran estava mais frio do que ela se lembrava. Com seus parcos recursos, comprou uma capa escura, não apenas para esconder sua presença chamativa, mas também para se proteger do vento que parecia congelar os ossos. Lembrou-se de que há muito tempo estivera ali, parada à praça diante do Castelo do Rei, vendo a coroação de Brione. Lembrava-se de que fazia calor, e de que os pássaros cantavam uma sinfonia harmoniosa. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS Agora, não havia som de pássaros. Os animais fugiram para o sul, em direção ao reino de Cashel. Volvendo os olhos para o céu, percebeu que a iluminação também era falha. Nuvens grossas de neve pareciam preencher todo o local. Há tempos, a parte mais atingida era o norte. Agora, aquela era glacial também se aproximava da capital. Mas, aquilo logo teria fim, não? As coisas iriam melhorar. Ela só precisava cumprir o que estava determinado. E para isso precisava de Cashel. Por isso, postou-se na praça diante do Castelo e ficou aguardando. Precisava de uma maneira de conseguir chegar o irmão. Se dissesse aos guardas que era a deusa Masha e que a deixassem entrar, ririam da cara PERIGOSAS ACHERON


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dela. Então, tudo que precisava era apenas visualizar o Rei. Tão logo ele a visse, as coisas se resolveriam. Passou a tarde toda ali. O Reino, apesar de todas as coisas escusas que ocorriam nos bastidores, era próspero. Lembrou-se com saudosismo de quando tudo que a incomodava era a pobreza das pessoas. Ah, se soubesse... O ouro – ou a falta dele – não era nada diante da maldade que as pessoas cometiam apenas por diversão. Ela sabia, mesmo que não tivesse mais onisciência, de que as mesmas pessoas bem vestidas que cruzavam por ela com ares de sociedade perfeita, eram as que atacavam os pobres e maltratavam a fauna. A tarde começou a desaparecer. Masha, PERIGOSAS ACHERON


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subitamente deu-se conta de que precisava de um lugar para dormir. Provavelmente Cashel não era dado a demonstrações públicas. Todavia, tão logo esses cruzaram, o clarinete foi soado.

pensamentos

O Rei iria cruzar a praça para ir até o templo, fazer suas orações vespertinas. O povo começou-se a reunir em volta do caminho onde ele andaria. Masha logo foi afastada por pessoas mais fortes que ela. Enfim, o viu. Ele continuava igual. Seus olhos molharam de uma felicidade que não sentia desde que recebera um abraço de uma Mah saudável. — Cashel — gritou. Ela e mais uma dezena de pessoas. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS Céus, ele não a veria! Não em meio à multidão! — Cashel! — Tentou falar mais alto. Foi quando viu uma pilastra. Correu até ela. Se conseguisse subir, poderia fazê-lo olhar em sua direção. E bastaria isso. Se seus olhares se cruzassem, as coisas estariam resolvidas. Com dificuldade, começou a agarrar-se no concreto. Os pés sendo guiados até pequenas rachaduras, onde se apoiava para continuar a subir. Volveu o olhar para trás. — Cashel! — berrou, o mais alto que pôde. Enfim ele a encarou. Ele e todos, porque parecia uma doente mental subindo em cima de um obelisco como se fosse parte normal de seu dia a dia. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS — Tirem aquela mulher dali antes que caia e arrebente a cabeça — ouviu as ordens do irmão. Mais que isso. Sentiu a completa apatia na voz e no olhar. Enfureceu-se. Perdeu tudo para estar ali, para buscar por ele, e o cretino sequer se dignava a lhe dar um segundo olhar? — Cashel! Desgraçado! Eu vou te matar! — puxou a espada. Tão logo fez isso, perdeu o equilibro e caiu por cima do braço direito. A espada escapou de suas mãos, enquanto sentia uma dor aguda do ombro até o cotovelo. A mão formigou. Sentiu o impacto emocional mais que tudo, porém. Era o braço que usava para lutar. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS E foi por isso que quando os guardas a cercaram, não teve forças de brigar por si. — Está presa — um dos homens disse. Ao longe, Cashel desaparecia, guiando-se até o templo. — Presa? — Ousou ameaçar nosso Rei diante de todos. O rosto esquentou. A raiva sem limites a dominou. Tentou se erguer. Não conseguiu. — Não é uma ameaça! — berrou. — Eu vou te matar, Cashel! Desgraçado!

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Capítulo Oito ÉL EN

A

quele lugar era horrível. Fétido, escuro e claustrofóbico. Os corredores estreitos davam para uma galeria de celas, uma diante da outra, onde pequenas camas de pedra compunham o ambiente que era residência aos seus ocupantes. Não era a primeira vez de Masha ali. Quando Esmeralda foi presa por Iran, ela a seguiu. Queria lhe dar conforto, na época, mesmo PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS sabendo que não era direito surgir para a mulher. Mesmo assim, nunca pensou que ficaria na mesma posição. — Que ódio! — berrou. Caminhou de um lado para o outro. Dois passos de um lado, dois passos de outro. Aquilo era tão estreito que ela sentiu-se como se estivesse sendo esmagada. — Eu te odeio Cashel — murmurou. — Desgraçado! — berrou, novamente, mesmo sabendo que o irmão não a ouviria. O que estava pensando? Era algum tipo de vingança por alguma coisa que pudesse ter feito? Mesmo assim era muito atrevimento. Sentou-se no chão. Lágrimas brotaram em seus olhos. Secou-as com as mangas do vestido. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS O braço ardia muito. Não conseguia fechar a mão direito. Era uma luta desigual contra a dor e o psicológico. Precisava recuperar a razão para conseguir escapar dali. — Ei! — O som fê-la erguer a face e observar o homem negro na cela diante da dela. Ele tinha nas mãos um cantil de couro, e parecia prestes a jogá-lo em sua direção. — Quer água? Reconheceu-o imediatamente. — Não quero nada, assassino. O homem pareceu surpreso, mas não negou o fato. Apenas recolheu seu cantil e assentiu, compreensivo. — Sabe o que fiz no passado? — ele indagou. — Ora, todos sabem... — respondeu a própria pergunta. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS — Sei tudo sobre você, Gideon. Sei que matou muito dos meus ruivos. Algo no tom feminino fê-lo arrepiar-se pelas palavras. — Quem é você? — indagou. — Você sabe — ela retorquiu. — Diga seu nome claramente — exigiu. Não obteve resposta. O rosto debochado da jovem a sua frente denotava que ela pouco se importava com sua opinião. — Ouviu falar sobre as ilusões de Élen, não é? Por ser ruiva, decidiu vir atrás de Cashel para obter alguma regalia já que minha esposa está à espera de Masha? Aquela acusação a enrubesceu de puro ódio. — Diga-me, Gideon: não me reconhece? Sou PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS sua filha. Houve um breve silêncio. Aquela distância entre uma cela e outra parecia gigantesca. — Nunca me deitei com branca. — Ora, não seja mentiroso. — Nenhuma branca, além de minha esposa. — Nós dois sabemos que isso não é verdade. Aliás, nós três — murmurou. — Élen também sabe... Ele pareceu assustado. — E sabe o motivo daquela mulher linda e incrível ter surgido naquela noite em sua caverna? Repentinamente, a figura gentil de outra dama surgiu no corredor. — Masha e Cashel são irmãos — A Rainha respondeu por ele, de súbito entendendo porque PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS fora obrigada a ver Gideon tendo relações com aquela ruiva, tantos anos atrás. — Por isso aquela mulher surgiu naquela noite. Por isso... — balbuciou. — Porque ela precisava engravidar de Gideon. Masha sorriu para a Rainha Mãe. A última fagulha do sangue de Esmeralda e Cedric agora se volvia para ela. — Como sua mãe se chamava? — Élen inquiriu. — Mah — respondeu. — E onde está agora? — Morta. Élen estendeu a mão e tocou a jovem no ombro. Era um consolo gentil. — Vou soltá-la — avisou. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS Logo, guardas surgiram com as chaves nas mãos. Assim que a porta foi aberta, Élen caminhou até Masha e ajoelhou-se a sua frente. — Não há porque me adorar, não sou mais eterna — a ruiva recusou. — Sempre será a Mãe — Élen murmurou. Masha seguiu Élen para fora da cela. Seus olhos então se voltaram para Gideon e o percebeu emocionado. — Eu... — Nunca te chamarei de pai — ela antecipou-se. — Nunca te quis como genitor, e não me importo se enganou Cashel e Bran com esse falso coração. De mim não recebe nenhum sentimento. Só então seguiu para fora do calabouço. PERIGOSAS ACHERON


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— Cashel? O Rei negro ergueu a face dos pergaminhos que analisava. Havia muito trabalho a ser feito, mas ele jamais desprezava a mãe, mesmo ela sendo extremamente difícil com seu fanatismo religioso. — Sim? Ao volver seu olhar para ela deu-se conta de que a outra pessoa no recinto era uma ruiva de estatura média e de aparência deslumbrante. Repentinamente, reconheceu-a. A louca que subiu no obelisco e que o ameaçou. — Você não devia estar presa? — indagou. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS Percebeu a jovem ruiva tomar uma tonalidade vermelha. A pele esquentou e subitamente ela começou a andar rapidamente em sua direção. Todavia, foi contida por Élen, que se postou entre eles. — Cashel nunca entendeu o que é — Élen lhe explicou. Pelo olhar raivoso de Masha, ela não acreditava nenhum pouco nisso. — Ora, que cômodo para você esquecer-se de tudo! — Masha... — Élen tentou, mas foi interrompida pelo filho. — Não me esqueci de nada porque não há nada para se esquecer. Não sei quem é e porque está ludibriando a Rainha Mãe... — Eu posso provar quem sou, imbecil! PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS Cashel gargalhou. — É mesmo? Mostrar-me-á seus poderes? Uma Deusa que sobe pelas paredes? — Sou carne como tu e não tenho mais nenhum poder, mas me lembro do passado, e me lembro de coisas que apenas seu pai e sua mãe sabem. Se as direi, poderá ir até Gideon e lhe questionar. Se eu provar a verdade, exijo que cumpra sua parte em nosso acordo. — Que acordo? — Se faz de desentendido até nisso? — ela berrou. Cashel quase riu. Aquele tom irônico era deveras familiar. — Não altere o tom ao falar comigo — ele postou-se de pé e andou até as mulheres. — Sou seu Rei. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS — Só não o mando para a puta que pariu porque sua mãe é uma mulher digna. Mas, se ela sair da minha frente agora, juro que acabo com sua raça! Por fim, ela pareceu se acalmar. — A escute, filho — Élen pediu. Cashel assentiu, não apenas porque sempre considerou um dever obedecer e respeitar sua mãe, mas também porque estava curioso sobre o que se sucederia. — Você não é tão bondoso como todos acham — Masha jogou. — O quê? — Não é o que dizem? O Deus Cashel é o Deus sábio e bom? — É o que a religião fala. Mas, não sou o PERIGOSAS ACHERON


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Deus Cashel. — Você o é. E, assim como teu pai, tem morte inocente nas costas. Cashel arqueou as sobrancelhas. — Do que fala? — Quando escolheu Élen por mãe não considerou o amor real dela. Precisava de que ela sentisse atração por Gideon e conseguiu. Os dois devem ter estabelecido um amor e amizade com o passar dos anos. Mas, tudo isso foi a sacrifício do verdadeiro amor dela. Alguém teve que morrer para que você nascesse. E se você diz que não se lembra de nada, não deve fazer a menor ideia do que falo. Acredito que sua mãe e seu pai devem tê-la mantido em segredo durante todos esses anos. Quiseram salvar a memória e a honra de alguém maravilhosa. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS Cashel olhou para a mãe e a viu com lágrimas nos olhos. Havia alguém no passado que poderia a mãe ter amado mais do que um dia amou seu pai? Subitamente sentiu o cheiro de Masha. Ela havia se aproximado tão rapidamente que mal se deu conta. O corpo inteiro o reconheceu e ele arrepiou-se. Murmurado em seus ouvidos, um nome distante fê-lo fraquejar diante das mulheres.

— Cashel? Gideon aguardou pelo filho desde que Élen e PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS Masha haviam saído das masmorras. — Pai — o jovem rei aproximou-se das grades. — Conte-me sobre Nyalla...

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Capítulo Nove CASTELO BRANCO

A

carruagem real percorria aquele trajeto cheio de neve com certa velocidade. Os cavalos de Bran eram preparados para aquele tempo. Criados em meio às montanhas, acostumados ao frio, recebiam sempre uma ferradura mais resistente e uma coberta nas costas para não sentirem tanto a friagem que fazia. — Isso é um absurdo... — Cashel murmurou tão baixo que a ruiva a sua frente quase não lhe PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS ouviu. Masha volveu o olhar para a portinhola da carruagem e tentou conter a raiva. Como ele se atrevia a duvidar depois da prova que dera no castelo? Seguiu com ela porque tinha palavra. Havia uma promessa implícita. E a história de Nyalla foi por demais convincente para o homem negro. O pai e a mãe foram firmes em declarar que a jovem guerreira crescida nas terras montanhosas foi uma aliada e amiga importante para que seu nascimento ocorresse. — Você gostava dela — Masha balbuciou, após alguns minutos de um silêncio deveras incômodo. — De Nyalla? — Foi você que a buscou. Foi você que lhe PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS disse para drogar seu pai para que ele coabitasse com minha mãe. — Meu pai foi drogado? — De que outra maneira nós o faríamos fazer sexo com Mah? Aquilo era loucura! — Nós manipulamos o destino? — ele parecia chocado. — Achei que fossemos bons! Ela negou. — Não somos bons, Cashel. Somos falhos. Eu mais que todos. — Por quê? — Houve um tempo que minha terra era verdejante e bela. Mas, perdi o controle. A raiva me dominou e conforme minha divindade se apodrecia, o calor passou a dominar todo o Sul. Logo os rios PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS secaram, as plantas e animais morreram. Não foi difícil para o Maligno convencer a todos sobre a história de puros e imundos. — Maligno? — O Mal tomou forma e corpo. Antes de encarnarmos ele estava em um sacerdote chamado Vogan. Mas, morreu antes de você e eu nascermos. Não sei em que corpo está agora e o que fará para nos impedir. — Impedir de quê? — De cumprirmos o plano. Ele parecia consignado. — Somos tão ruins como deuses, mas ainda temos um plano? — Tivemos muitos. Esmeralda, Brione e Iwan eram os principais. Esse plano que agora PERIGOSAS ACHERON


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estamos colocando em prática era nossa última saída. — E qual é ele? — Devo ser mãe — ela murmurou. — Para que a terra renasça.

— Cashel? O som da voz feminina fê-lo abrir os olhos. No balançar da carruagem ele dormiu. Era estranhamente familiar, e quando percebeu ser a ruiva, não pôde conter um sorriso. E se fosse verdade? PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS Porque aquela sensação de pertencimento era muito poderosa. Ele sabia disso. E, subitamente, seguir a loucura da mãe não pareceu nenhum pouco ruim. Sempre quis irmãos. Preso naquela masmorra, seu pai não conseguiu lhe dar uma família tradicional. Não o culpava. Nem a mãe. Mas, agora, de fronte a ruiva, ele não conseguia evitar o pensamento confortador. Claro, não devia ser a deusa. Essa história ainda era ridícula. Mas, mesmo assim, se o pai dormiu com uma ruiva – e Gideon afirmou que aquela jovem era sim sua filha – a jovem de cabelos escarlates era seu sangue e sua carne. — Qual seu nome? — indagou. — Você sabe, Cashel. — Masha? — ele riu. — Por favor, nenhuma PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS mãe nobre além da Rainha e da louca da tia Lana tivera coragem suficiente para pôr um nome sagrado nos filhos. Se qualquer Casa ao Sul tivesse feito isso seríamos avisados. — Não sou de nenhuma casa — ela retrucou. — Minha mãe era puta do cais. Ficou chocado. — E por que uma deusa escolheu uma puta? — Porque eu a amava. Aquela resposta foi tão firme e decidida que Cashel soube imediatamente que era sincera. — Masha... — murmurou o nome, pela primeira vez crendo que ele realmente pertencia a ela. — E por que me acordou, Masha? — As montanhas próximas de Castelo Branco... — ela indicou a janelinha. — Que PERIGOSAS ACHERON


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saudade dessa visão! Mais uma vez, a verdade absoluta nas palavras. Percebeu lágrimas nos olhos verdes. Cashel teve impulsos incontroláveis de pegá-la no colo e a ninar. — Nós somos almas gêmeas? — indagou, de supetão, surpreendendo a si mesmo. — Sim — ela respondeu, com uma simplicidade que cravou seu coração de maneira tal que soube, naquele instante, que nunca mais a perderia de vista.

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PERIGOSAS NACIONAIS — Não é o lugar mais lindo de todos os reinos? Castelo Branco era uma edificação que datava da época da Guerra dos Mil Dias. E ainda mantinha sua classe e sua imponência mesmo que a neve quase cobrisse suas estradas e seu arredor. — Céus — ela murmurou, olhando para ele. Criados corriam em volta dos dois, nervosos e assustados pela presença real. — Vou ver Bran depois de tanto tempo. Cashel sabia que a boa maneira exigia que aguardassem o lorde e a senhora do lugar para os devidos cumprimentos, mas Masha era alheia à etiqueta. Correndo ao redor do castelo, ela parecia ansiosa para buscar por Bran. E, por todos os demônios do submundo, ele, um Rei preparado e bem educado, percebeu-se a PERIGOSAS ACHERON


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correr atrás dela, lutando para fazê-la aquietar-se um tanto antes de verem o primo. Subitamente, Masha travou. Cashel atrás dela quase trombou nas suas costas. Ao longe, o olhar feminino parecia confuso e chocado. Seguiu-o. Seu primo Bran estava perto do celeiro. Tinha no rosto um sorriso apaixonado e nos braços uma braiana de beleza deslumbrante. — Ma... Não pôde terminar a frase. Não conseguiu sequer segurá-la nos braços antes que ela fosse atingida pela raiva e pelo rancor. Já estava espumando de raiva por ele não se lembrar dela, o que faria diante da traição de seu PERIGOSAS ACHERON


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suposto marido? Enquanto ela se aproximava, Bran se curvou diante da outra mulher e lhe deu um beijo gentil nos lábios. Algo tão romântico, cortado pelo urro de puro ódio que se seguiu. O braiano nem viu o que lhe atingiu. Cashel se lembrou das antigas lendas onde se narrava que Masha era mais rápida que os olhos. Naquele momento, acreditou. Em um segundo, o primo estava namorando a braiana, em outro estava no chão, com a mão no queixo, de olhos arregalados e assustados, e em outro, a ruiva subia em cima dele, esquecida até mesmo do braço machucado e tentando lhe arranhar a cara enquanto lhe chutava as partes baixas. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS — Quem é você? Louca! — Bran gritou. A mulher também começou a gritar. Logo, uma comitiva de guardas correu até a confusão, mas Cashel ergueu a mão e todos ficaram parados. Não... Ninguém tocaria nela. — Desgraçado! — ouviu a ruiva gritar. — Sempre soube que tinha uma queda por braianas, mas nunca acreditei que chegasse a tanto! — Mulher! Quem é você? — ele repetiu, conseguindo segurar seu braço. Ouviu um lampejo de dor. — Mulher dos infernos, como se atreve? — Como quem sou eu, infeliz? Ela se ergueu. Olhou para Asya que começou a recuar os passos, crendo ser a próxima vítima. — Depois de ter de ti o que quero, Bran, vou te matar! — Masha avisou. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS — Você é louca? — Não — ela respirou fundo. — Eu sou Masha.

Lana havia sido avisada da chegada da comitiva real enquanto ainda se arrumava no quarto. Brian havia ido verificar algumas cercas no feudo, e ela decidiu receber Cashel, o Rei, com sua melhor vestimenta, antes de comunicá-lo de que devia aguardar seu esposo, caso estivesse ali para tratar algo referente às terras. Contudo, tudo ficou esquecido pela gritaria que se sucedeu. Esquecendo-se das inúmeras joias PERIGOSAS ACHERON


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que costumava usar, ela correu escadas abaixo, em direção ao celeiro, onde um montante de pessoas admirava uma briga. Viu Cashel em pé, ao lado dos soldados. Por que ele não se intrometia? Subitamente, deu-se conta de quem apanhava. O filho. E quem batia era uma ruiva temperamental que parecia a mulher mais afrontada do mundo. Ao perceber Asya de um canto, soube imediatamente o que havia acontecido. Masha havia regressado. E aqueles tabefes em Bran eram muito bem dados. Ela mesma devia ter feito isso há tempos. Correu até a confusão. Discretamente, curvou-se para Cashel, e depois o deixou e foi até Masha. Segurou seu braço. Percebeu-a vacilar PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS levemente, e depois chorar. Puxou-a contra si. — Está tudo bem, minha querida — murmurou, maternal. Havia criado Bran. Sabia que o filho era um idiota completo. — Ele... ele — Masha fungava, entre palavras desencontradas. — Venha, vamos lavar esse rosto e tomar um chá para se acalmar. Enquanto ela guiava a mulher para dentro do Castelo, Bran encarava o primo. — Com licença! E eu? Eu sou a vítima aqui! Ninguém se importava.

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— Cashel também diz que não sabe quem é — Masha murmurou, aceitando uma xícara de chá. — Mas, mente! Como pode não saber, se eu me lembro de tudo? — Lembra-se de mim? — Lana parecia orgulhosa. — Sim, nos encontramos no porto antes de vir a Bran. Conheceu minha Mah e a tratou com generosidade e carinho. — E como ela está? — interessou-se. — Sempre quis saber o que aconteceu àquela beldade ruiva. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS — Morreu há alguns meses — a outra ruiva respondeu. — E então decidi que era a hora de seguir em frente e cumprir com o que nós combinamos. — Nunca soube os planos. Sempre me interessaram. Por que perderam a divindade? Por que se tornaram carne? — Porque o Criador se sacrificou para que nós nos tornássemos divinos. Assim, para que ele renasça, precisará do meu ventre em carne. Ele nascerá como divino, nascido nas mãos de Cashel, que tem a cor da terra molhada... — Nascido no barro... — Lana murmurou. — Falava-se disso em lendas do meu povo. — Era uma figura de linguagem. Cashel precisa realizar o parto. E o Criador deve ser concebido pelos primeiros criados para ser um PERIGOSAS ACHERON


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casal: Bran e eu. Masha suspirou. — Mas a minha vontade agora é de castrar aquele infeliz e não ter um filho com ele! Lana senta-se ao lado da outra. — Por favor, tente entender que ele não se recorda de nada. Assim, é nítido que por ser um jovem saudável, tenha se encantado por uma mulher bonita. O que precisamos é que ele repense suas atitudes. — Repensar? — Eu penso que um tempo afastado daqui e a sós com seu irmão e você o ajudará a recordar-se de tudo. Masha assentiu. — Mas, não virá comigo de boa vontade. E PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS machuquei meu braço. Não conseguirei derrubá-lo numa luta e forçá-lo a seguir conosco. Lana riu. Ela já havia conseguido derrubá-lo nas mesmas condições. — Esqueceu-se de que eu sou uma Vagante? Eu posso fazer isso.

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Capítulo Dez O RAPTO

E

le

estava com esterco de cavalo na bunda! O primo nem parecia incomodado. Ao contrário, ao olhar de soslaio para Cashel, quase o percebeu rindo de sua situação ridícula. Volveu o olhar para o lado, a procura de Asya. Assim que aquela ruiva maldita chegou, sua namorada desapareceu, provavelmente assustada com aquele demônio em forma de mulher. — Masha? — Seu olhar era incrédulo. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS — Masha. — Cashel confirmou. — Eu sei que é ridículo, mas meus pais me forçaram a vir. E sua mãe, imediatamente, também foi levada pela mesma loucura. — Pois eu não iria querer aquela mulher do demônio mesmo que fosse a última da face da terra! Mulher infeliz! Olhe o que fez comigo? Pomposo como sempre foi, Cashel não se surpreendeu em vê-lo revoltado por conta da sujeira que lhe manchou as vestes. Bran caminhou em direção ao castelo. O Rei o seguiu. Eram amigos desde criança, apesar da distância. Conheceram-se em um evento familiar, depois passaram a trocar cartas. Sempre mantiveram contato, e um foi o apoio do outro quando Lana e Élen enlouqueceram. Assim que chegaram ao quarto de Bran, PERIGOSAS ACHERON


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Cashel o percebeu tirando a roupa. Sentou-se na cama do primo e o aguardou. — Tenho algo a confessar — Bran disse, num estranho momento enquanto arrancava a camisa. — O quê? — Há alguns dias tive um sonho estranho contigo. Um sonho que me fez adiar a decisão de me casar com Asya. — Que sonho? — Que nós realmente éramos deuses. Cashel riu. — Falo sério. — Isso é influência da sua mãe e da minha. E, agora, daquela maluca que me chama de irmão. — Disse para ti que algo aconteceu e que não PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS nos lembraríamos de nada, mas que nossa pouca memória poderia se transferir a Masha. Isso explicaria porque apenas ela se recorda. Realmente, era um sonho estranho. — Você não sente nada diferente? —Bran indagou. — Quando a viu, não sentiu nada? — Ela me xingou, chutou, me ameaçou de morte... — E? — E eu estou aqui, seguindo-a igual um idiota, dizendo a mim mesmo que é por causa da minha mãe e de meu pai, mas... Não é verdade. Estou aqui por ela. Soube disso quando os guardas tentaram impedi-la de tocar em você e eu os contive. Quis protegê-la. Bran respirou fundo. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS — E você? Sentiu algo? — Quer dizer? Algo além dos socos, chutes e arranhões? Cashel riu. — Se meu sonho quis dizer algo, sinto que a resposta está com quem Masha mais gostava nessas terras. Houve um estranho silêncio. — Nós sabemos quem era o xodó dela, não? — Iwan deve querer a solidão de sua velhice. Não sei se nos receberá bem. Ficou muito descrente depois que sua deusa parou de receber suas orações. — Ela parou bem ao tempo em que nascemos — Bran percebeu. — Ela parou porque encarnou? — A dúvida pairou entre eles. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS — Só tem uma forma de descobrir. Enquanto você tenta segurar as pontas por aqui, irei até meu tio. Repentinamente a porta do quarto abriu. Antes mesmo dos homens conseguirem darem-se conta da outra presença, Lana ergueu um pedaço de madeira e o fincou com toda a força na cabeça do filho. Enquanto Cashel abria a boca, em choque, Masha surgiu e começou a puxar o desacordado pelas pernas. — Vai ficar só olhando? — ela indagou ao irmão. Cashel, sem saber exatamente porque, começou a ajudá-la a arrastá-lo. — A charrete já esta preparada. — Lana avisou. — Boa sorte. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS Enquanto eles colocavam Bran dentro do veĂ­culo e partiam de Castelo Branco, ele indagava a si mesmo o que diabos estava acontecendo.

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Capítulo Onze ASYA

A

sya sempre soube o que era. E, bem da verdade, nunca, naquelas terras brancas de neve, alguém teve a delicadeza de esconder. O pai se chamava Mael. Um homem cruel, abusador de mulheres, primo bastardo do senhor PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS Clark, que morreu pelas mãos de Lana, a vagante com quem Brian casou-se. A mãe, Morgana, era mais discreta. Não que fosse boa pessoa, muito se falava sobre ela, mas ao menos não era uma assassina depravada. Morreu no parto. A menina poderia ter sido abandonada, já que não tinha parentes oficiais, mas Lana e Brian assumiram sua tutela. Morava com a parteira que a ajudou a vir ao mundo, e recebia uma pensão dos Clark – vamos lembrar que Mael e Brian tinham laços de sangue por conta da mãe do Clark. Sua vida podia ter sido uma mesmice sem precedentes não fosse o caso de que o filho único dos Clark se enamorou dela. Ah Bran... Quanta sorte lhe deu. Desde o primeiro olhar, ele a notou. Seguiu-a PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS e a cortejou deixando claro, desde o princípio, que seus sentimentos eram sérios. Não importava que o pai dela havia tentado matar Brian Clark. O passado era o passado. Asya não era como eles, e não devia pagar por seus crimes. Trocaram um primeiro e casto beijo em uma noite de festival ao deus Bran. Estranhamente, apesar do nome, o filho Clark era cético e descrente. Odiava sua alcunha e nunca participava das festividades. Mas, naquela noite ele foi por ela. Dançaram, flertaram, e quando ela menos esperou, foi arrebatada pelos lábios gentis. Desde então, firmaram compromisso, mesmo a relutância de Lana Clark. A cadela vagante havia matado seu pai e PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS agora tentava roubar-lhe o namorado Por isso, quando Asya foi procurar por ele, naquela manhã enuviada, não ficou surpresa quando lhe comunicaram que viram seu namorado sendo transferido desacordado para uma charrete. Sentiu-se inflamar de ódio. E era até prazerosa aquela quentura em prol de vingança. Vagabunda! Não pararia até separar-lhe do namorado! Claro, não podia fazer nada agora, mas quando Bran assumisse o Castelo Branco e seus pais fossem mais velhos, ela iria puni-la por tudo que lhe fez.

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PERIGOSAS NACIONAIS — Senhor Brian! O grito de Asya fez o homem parar o cavalo e a observar com atenção. Olhou adiante e percebeu a carruagem real e também os soldados da Coroa a beberem chá quente enquanto se aqueciam envoltos da fogueira. — Olá Asya — ele respondeu, descendo do alazão. — O que houve? — Sua esposa enlouqueceu de vez, meu senhor... — Acalme-se, por favor — suspirou. — O que Lana fez? O que Lana não fazia? Avassalava o filho deles com uma crença sem fim. Brian não duvidava de seus dons, e a amava tremendamente para desrespeitá-la, mas às vezes sentia pena do filho e ânsia de enfrentar a esposa. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS — Não vi a cena — a moça de cabelos negros explicou. — Mas contaram-me que ela desacordou Bran com uma paulada e depois o colocou em uma charrete qualquer, mandando tanto ele quanto o Rei embora. Brian arregalou os olhos. — Irei verificar — retrucou. E enquanto sumia de suas vistas, Asya sentiu um sorriso profundo escapando-lhe dos lábios. Brian Clark ficaria ao seu lado.

“Masha não perdoará uma miscigenação de raças”. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS Uma voz masculina soou em seus ouvidos. Enquanto caminhava em direção a um banco para aguardar o resultado do confronto do senhor e senhora de Castelo Branco, ela viu a si mesma, em forma de homem, a conversar com uma mulher ruiva chamada Megan. “Imundo... imundo serão vossos filhos”. Sentou-se no banco. Veio-lhe então, assim, de súbito, uma sabedoria milenar. Respirou fundo, mantendo a calma. Soube que ela havia começado a divisão de raças a séculos. Aquela certeza devia lhe sobressaltar, mas seguiu-se o contrário. Sentiu um prazer poderoso nisso. Mas, então os deuses conseguiram trazer a vida uma guerreira poderosa. Esmeralda. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS Maldita imunda! Maldita Esmeralda! Ninguém foi capaz de matá-la! Nem mesmo Iran, tão guerreiro, conseguiu ser mais poderoso que aquela vadia de cabelos vermelhos. E assim ela anulou seus planos. — Puta — murmurou. “Um bastardo sempre carregará a culpa do erro de seus pais”. O tempo passou. Agora, era mulher. Uma sacerdotisa. Uma luta contra bastardos. Porque não podia haver paz. Ela precisava da contenda. A paz a deixava fraca. Era na maldade dos povos que ela se firmava e que sua alma se fortalecia. E por séculos torturaram, estupraram e PERIGOSAS ACHERON


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massacraram os bastardos. Até ele... Novamente, um ruivo. Iwan. Iwan destruiu seus planos. Era sempre Masha que se impunha em seu caminho. Renasceu como Vogan. Iwan novamente, pela presença de Masha, destruiu seu antigo sonho de divisão. “Dividir para conquistar”. — Há séculos Masha levanta homens e mulheres contra mim — percebeu. — Mas, agora ela veio pessoalmente — murmurou, dando-se conta de quem era a ruiva. — E em carne — sorriu. — Em carne eu posso matá-la.

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— Lana, enlouqueceu? A vagante bebia chá com Edna, sua irmã. Não parecia preocupada pela entrada obtusa no salão, nem pelo estado de nervos do marido. — Ela veio — disse, simplesmente. — Ela quem? — Como quem? Masha, é claro. E acompanhada de Cashel. Brian precisou respirar fundo. — Uma mulher ruiva qualquer vem em nosso castelo e você expulsa nosso filho a pauladas, PERIGOSAS ACHERON


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mandando-o embora junto ao Rei? E sem a guarda real? Você enlouqueceu? E se algo se suceder a eles? — A trindade tem seu próprio caminho e não cabe a nós decidir. Eles devem se proteger. — Lana... — tentou conter o tremor nas mãos. — Agora você passou de todos os limites. Repentinamente, Desafiadora.

ela

postou-se

de

pé.

— Acha que não sei quem é aquela mulher? Esquece que eu já a vi antes? Quando embarquei para cá? E foi ela que me alertou sobre você. Então ao menos uma vez nesses últimos anos, tente me tratar como uma esposa correta e não como uma ensandecida. Edna levantou-se, parecia preparada para deixar a sala, pois não queria se envolver na briga PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS do casal. — Fique irmã — Brian ordenou. — Quem sabe possa colocar um pouco de juízo na cabeça de minha esposa. Preparou-se para sair quando sentiu as duas mãos da vagante o firmando. — Confiava em mim quando jovens. Por que não acredita agora? — Não pensa? Se nosso filho fosse quem diz que é não devia ter ao menos um pouco de fé? O rapaz é um descrente em absoluto! — Vai mudar. Ele reencontrou sua esposa. Devia ficar feliz por ele. — Lana, estou é preocupado! E se algo acontecer? Cashel é o Rei! E você o mandou embora para sei-lá-onde... PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS — Foram atrás de Iwan... — Iwan? Não se lembra de que se tornou um recluso? Que desde a morte dos pais, a única presença que aceita é a do irmão? Lana soltou seu braço. — Se for atrás deles e provar sua descrença em minha palavra, Brian... Juro, juro por todos os deuses, pela criação, pelo meu povo, partirei dessa terra e você nunca mais porá os olhos sobre mim, novamente. A pior parte para Brian Clark é que conhecia a esposa e sabia que ela cumpriria a ameaça. — As estradas estão seguras desde que Iwan passou a morar em Castelo Negro — Edna afirmou. — Tenha um pouco de fé, irmão. Você é tão devoto. Confie que seu filho e o Rei estarão protegidos. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS Antes de assentir, a entrada de outra pessoa fez a atenção desviar-se momentaneamente. Edna sorriu e correu até o recém-chegado. — Meu filho. Ewen abraçou a mãe e depois beijou seus dedos gentis. Então, foi até a tia e também lhe transmitiu seu carinho. Por fim, chegou-se ao tio. — E Bran? — indagou. — Quero muito ver meu primo.

Depois de ficar inteirado do que ocorrera em Castelo Branco, Ewen seguiu com a mãe até sua pequena e modesta casa na floresta perto do PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS vilarejo. — O que pensa? — Indagou a ela porque a opinião da mãe sempre lhe importou demasiadamente. — Você conhece sua tia — ela murmurou. — E sabe que Lana é verdadeira. Se ela diz que é assim, é porque é assim. Ewen partiu daquela terra para estudar. Havia conhecido a prática da medicina. Queria ajudar as pessoas. A ciência em muito lhe influenciava, mas sempre pensou que não o colocaria de lado oposto a fé. — A Rainha Mãe sofre o mesmo — Edna apontou. — Sempre tratada como louca. Mas, ficou firme. Lana também. Não acha que todos esses anos em que debocharam delas, sua postura irrepreensível não é uma prova da veracidade? PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS A mãe era sábia. Ele concordou. Repentinamente, bateram na porta. Edna o encarou, pois não esperavam visitas. Por fim, o filho a abriu. Do outro lado, estava Asya.

Eram irmãos. Sempre souberam disso. Mesmo assim, nunca antes haviam trocado mais que um saudação constrangedora quando se cruzavam pelo lugarejo. — Olá — ela o cumprimentou. Ewen volveu-se para a mãe e viu seus olhos arregalados. Por fim, retornou a bela morena e a PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS convidou a entrar. Todos ali eram cientes que nenhum dos dois jovens eram culpados pelas praticas de seu pai. — Desculpe, não quero incomodar — Asya murmurou. Edna negou com a face, lhe estendendo a mão, convidando-a a sentar-se. — Vou deixá-los a sós — avisou, depois disso. Ewen sentou-se diante da irmã. Eram muito parecidos. Nenhum deles conheceu Mael, mas acreditou, pelo olhar e pelos lábios, que aquela característica receberam do genitor. — Nunca tivemos a chance de conversarmos — ela murmurou, parecia envergonhada. — E quando apareço, venho para pedir sua ajuda de irmão. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS O jovem quis dizer muitas coisas a ela. Sempre ansiou para que criassem um vínculo. Mas, permaneceu em silêncio. — O que é? — questionou. — Está ciente que Lana expulsou Bran do castelo junto ao Rei e a uma desconhecida? — Sim. — E sabe também que Bran e eu nos amamos? Assentiu, apesar de não ter exatamente certeza. — Vou atrás dele. Preciso dele. Eu o amo. E temo ir sozinha. Mas, você é carne da minha carne, sangue do meu sangue. Não tenho mais ninguém nessa vida. Se não me acompanhar, partirei sozinha, mas peço... PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS Sentiu as mãos quentes de Ewen sobre as suas. — Não precisa implorar, irmã — ele murmurou. — É claro que a protegerei.

Élen desceu as escadarias que levavam a masmorra no horário de sempre. Lá embaixo, no mesmo canto, estava Gideon. As últimas duas décadas foram seguidas daquelas visitas diárias e doloridas para ambos. — Bom dia, meu amor... — Élen lhe murmurou, estendendo-lhe a jarra com água e a cesta de pães. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS — Lembra-se de quando me disse que me daria o perdão real? — ele indagou, e ela se surpreendeu. Nem nos seus piores momentos Gideon havia aceitado aquela sugestão. — Preciso ir até ela — explicou. — É minha filha, Élen. Eu sei, eu sinto. Élen sentiu lágrimas nos olhos. — E é Masha. Pelos céus, como pude duvidar de sua palavra em todos esses anos? Como pude não ficar ao seu lado, quando estava tão certa? — Não se culpe. — Ela machucou o braço, não é? — Parecia ansioso e preocupado. — E me odeia... — murmurou em seguida. — Me odeia porque sou um assassino. Não está errada. Mas, ao menos posso usar a arte da espada para mantê-la segura. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS Élen puxou o maço de chaves. — Temo por ela, Gideon — murmurou. — Nosso filho e Bran de Clark são descrentes. Ela está sozinha. Então, sim, por favor, vá até ela e a salve. Livre pela primeira vez depois de tantos anos, antes de qualquer coisa, Gideon antecipou-se e lhe tomou nos braços. Deu-lhe um beijo profundo, transmitindo-lhe seu amor. — Nyalla e você podem ser almas gêmeas — murmurou. — Mas, nós construímos um amor. Élen assentiu, emocionada. O amor tinha, verdadeiramente, muitas faces.

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Capítulo Doze BRAN E MASHA

N

ão foi o balanço da charrete que o acordou. Era o tom insuportavelmente alto e feminino que parecia estar pouco se importando com sua dor de cabeça que o fez abrir os olhos. Volveu o olhar para cima e percebeu Cashel e a ruiva diante dele, numa discussão imbecil sobre eras distantes e guerreiros ancestrais. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS — Por Bran... — murmurou, massageando a nuca, esquecendo-se momentaneamente que era descrente. — O que está acontecendo? Onde estamos? — Numa charrete em direção à Castelo Negro? — Por quê? — era tudo que conseguia questionar. Repentinamente, o olhar verde-esmeralda o atingiu. Havia raiva nele. Mágoa. — Traidor miserável — a mulher o acusou. Bran sentou-se. Parecia confuso. Talvez a mãe houvesse batido com demasiada força. — Divindade dos infernos — murmurou. E logo em seguida arregalou os olhos diante da frase não pensada. Encarou o par a sua frente e PERIGOSAS ACHERON


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percebeu que Cashel parecia dividir sua confusão e nervosismo. — Sempre teve uma queda por braianas, não é? Se eu não ficasse de olho teria tentado me trair bem antes. — Do que diabos está falando? Eu sequer a conheço. — Ah, se fará de inocente? Bateu na portinhola. A charrete parou. — Quem está guiando? — Bran questionou o Rei. — Sua mãe ordenou um dos cavalariços... A frase travou junto com a abertura da porta. O vento frio os atingiu. Quanto mais ao norte iam, mais gelado se tornava o ambiente. Masha, porém, não pareceu incomodada. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS Envolvida em mantas, e vestindo um dos vestidos quentes de Lana, ela desceu do transporte e começou a caminhar em direção ao enorme vazio branco. — Aonde ela vai? — Cashel indagou. Sem saber por que, Bran também desceu. — Ficou louca? Vai congelar! Volte à charrete! — Você não manda em mim! — ela retrucou. — Vá se foder! Estava possessa. Ele percebeu que quando ficava zangada, todo seu rosto ficava rubro. Repentinamente, aquilo o fez rir. — Está ficando demente também? — Cashel murmurou, chegando-se ao seu lado. — Ela parece disposta a ir a pé até Iwan. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS — Iwan vai colocá-la para correr tão logo a vir. Sabe como ele é obcecado pela sua deusa. — Não sei de mais nada, mas vamos seguir a correnteza. Nossos pais estão do lado dela. Vamos ir a Castelo Negro e quando tudo isso for desmentido, ficaremos livres. Então Cashel correu até a mulher. Segurou-a no braço. — Me solte — ela gritou. Céus, como era zangada. O tempo todo. Sempre tensa e nervosa. — Sou seu irmão, não é? Ele pode não ter o direito de te mandar, mas eu ordeno. — Vá se foder também. — Diga isso novamente, e irei esbofeteá-la mesmo que me parta o coração. Aprenda a PERIGOSAS ACHERON


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controlar essa boca! — berrou. E se era um teste, Cashel soube naquele momento o quanto aquela mulher era um furacão. Subitamente, ela pareceu crescer. Seu corpo enrijeceu e ela se aproximou tanto dele que parecia atingi-lo com raios. — Erga sua mão, então — mandou. — E me bata... Faça isso. Quero ver se tem coragem. Não. Nunca havia batido numa mulher. E algo no fundo de sua alma, cravado em sua consciência, lhe disse que também nunca havia atingido a ela. Tocou seu braço, no intuito de puxá-lo. Tardiamente, lembrou-se que estava machucado. Ao ouvir o gemido de dor, logo se compadeceu. Era estranho. Sabia que era louca. Sabia que todos eram loucos. Mas, ainda assim a amava. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS Ergueu-a nos braços. Masha não recusou. Estava exausta. Simplesmente aceitou que o irmão a levasse novamente para a charrete. — Siga a correnteza — Cashel disse a Bran quando se encontraram no caminho. O moreno não respondeu. Mas, quando ele seguiu o Rei para a charrete, soube que aceitara a ordem.

O vento era muito gelado, mas os cavalos precisavam descansar e eles precisavam sair da charrete e montar acampamento. Malar, o guiador de cavalos, ajudou Bran a PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS erguer as tendas, e a montar a fogueira, enquanto Cashel verificava o braço inchado de Masha. — Precisa ver um médico. — Preciso é ficar grávida logo — ela negou. O olhar de Cashel arregalou. — O quê? — Preciso que Bran me dê sua semente. — Ficou louca? — Vou estuprá-lo. A gargalhada que preencheu o ambiente fez com os dois homens ao longe volvessem o olhar para o par. Vendo que o assunto não lhes convinha, voltaram sua atenção a cobrir os cavalos e alimentá-los. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS — Ficou louca? — O que foi? Acha que não posso? Por milênios os homens violaram as mulheres, agora não posso fazer o contrário? — Com seu marido? — Vou largá-lo depois disso. Não me merece, maldito desgraçado. Sabe quantas vezes olhei para outro? Nenhuma! Sempre fui fiel. Vou estuprá-lo e depois lhe cortarei as bolas para nunca mais se engraçar com nenhuma mulher! Que temperamento! — Você é uma criatura peculiar, sem dúvidas — Cashel murmurou. — Me conte seus planos. Ela o encarou. Sorriu. Céus, tinha um sorriso tão lindo. Por que não sorria mais? — Ele me dá sua semente, eu gero o divino, PERIGOSAS ACHERON


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e pelas suas mãos ele nasce. — E por que encarnamos? — O divino nos deu sua imortalidade ao nos criar. Precisávamos abnegar desse dom para que ele voltasse. — E por isso estamos aqui? Por que Bran e eu não nos lembramos de nada? — Não sei — admitiu. — Mas, eu lembro... — Me fale sobre Nyalla? Eu a sacrifiquei mesmo? Ela pareceu triste. O sorriso bonito sumiu de sua face. — Você precisava nascer. Nós fizemos muitas coisas que não devíamos. Sei que ela lhe perdoou. — Como ela era? PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS A pergunta era tão sincera que, pela primeira vez, Masha sentiu que Cashel acreditava nela. — Era maravilhosa. Linda, perfeita. Era tão forte. Não com espadas, nunca soube lutar. Mas, tinha suas armas. Ela salvou seus pais. Graças a ela, o Maligno não venceu naquela ocasião. — O Maligno? — De início, esse mal era apenas uma sensação ruim que dominava os criados. Depois, criou corpo, forma, personalidade. Viveu em muitos corpos. Nós não conseguíamos identificá-lo até que fosse tarde demais. — E quem ele é, agora? — Não faço ideia. Seu último corpo era Vogan. Um sacerdote que treinou seu pai... — Nosso pai — corrigiu-a. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS — Enfim — ela ignorou. — Vogan era muito bom com as palavras. Convencia qualquer um que o ouvisse. Agora, não faço ideia de onde está e como está. Pode ser qualquer um de nossa idade, porque encarnou quase ao mesmo tempo em que nós.

— Montamos pequenas tendas para que cada um de nós possa ter o mínimo de privacidade — Bran avisou, aproximando-se deles. Cashel viu o sorriso oculto de Masha e quase exigiu que ela ficasse ao seu lado. Por fim, creu que PERIGOSAS ACHERON


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as ameaças da mulher não seriam nada além disso — ameaças — e aceitou ir a sua própria tenda. No tempo que se passou, Malar fez um ensopado e distribuiu o pão. Eles se aqueceram no fogo até que o sol sumisse no horizonte e depois foram para dentro de suas respectivas tendas, a fim de descansar. Masha, contudo, não fechou os olhos. Encolheu-se embaixo dos cobertores, esperando que o tempo passasse. De tempos em tempos ela ouvia os passos de Malar indo até a fogueira, para alimentá-la. Depois, novamente silêncio e breu noturno. Não havia barulhos, além do crepitar do fogo. Antigamente, os animais livres conseguiam sobreviver ao norte daquela terra, mas agora se ficava nítido que nada vivia ali. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS Estavam sozinhos, de muitas maneiras. Quando, por fim, creu que todos dormiam, ela afastou as cobertas e se levantou. Bran ficava em uma das tendas a sua direita e ela foi direto para lá. Puxou o pano que cobria a entrada e o viu, dormindo. Sorriu. E ali estava seu marido, exatamente como sempre se lembrava dele. Lindo, perfeito e... tentador. A carne mexeu com seus brios. Era diferente quando não tinham um corpo mortal. Antes, o amor era mais sublime, como luzes no céu. Agora era paixão e lasciva. Ela queria experimentar o que sabia mover homens e mulheres através dos tempos. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS Achegou-se a ele. Deu-lhe um leve beijo nos lábios. Bran remexeu-se lentamente, e então ela lhe cravou os dentes. Queria-o. Mordê-lo, pegá-lo, afogar-se naquele calor que brotava em seu peito e descia até suas partes mais íntimas. — Mulher! — ele tentou afastá-la. Mas, ela queria. E se Masha queria algo, ela teria. Subiu sobre Bran, prensando-o com suas pernas, obrigando-o a beijá-la, rebolando sobre ele, fazendo-o ficar duro. — Pare com isso, agora! A voz austera de Cashel chegou a seus ouvidos. Gelou. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS — Por que nos interrompe? — ela gritou, nervosa, contra o irmão. — Isso mesmo, Cashel, nos interrompa! — Bran parecia implorar. Quis bater no marido, mas antes que pudesse esboçar uma agressão, o irmão a puxou da cama. — Vai dormir na minha tenda! — avisou. E Masha urrou de raiva naquela noite.

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Capítulo Treze DESAMOR

∞ Ela estava emburrada. Bran não conseguia esconder o sorriso diante do bico encantador. Ao seu lado, Cashel nem parecia perceber o suspiro alto dado a cada minuto. Agia como se a irritabilidade de Masha não lhe incomodasse nenhum pouco. Repentinamente, um solavanco e a charrete parou. — O que houve? — Cashel murmurou. Masha foi a primeira a saltar. Os homens a PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS seguiram, já entendendo que ela não era uma dama que sempre precisava de amparo e ajuda para se mover. — Loba morta — Malar indicou à estrada. Masha sentiu a dor. Sempre sentia. Amava aos animais. Os queria mais que a tudo. Sempre punia com mais severidade seus ruivos que fossem maldosos com as pequenas criaturas. Aproximou-se da loba congelada. Perto dela um pequeno lobinho choramingava, tentando puxar o leite do cadáver. Sentiu as lágrimas descerem pelo rosto. Aquilo também era culpa dela. Se não perdesse o controle em seu reino, Bran não precisaria congelar sua terra para manter o ecossistema equilibrado. — Está tudo bem, garoto. Assustou-se pela presença do marido. Ele PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS puxou o pequeno lobo e o escondeu dentro do casaco, para aquecê-lo. Desde que se encontraram, ela apenas se irritava com ele, assim, havia quase esquecido do quanto Bran era sensível e generoso. Sorriu para ele. Sentiu que aquele ato pareceu deixá-lo atordoado. Deu-lhe as costas e voltou para dentro da charrete.

Lana havia colocado um cantil com leite entre os mantimentos. Bran arrumou um pequeno copo e deu o alimento ao filhote. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS Evitou observar Masha enquanto fazia aquela boa ação. O sorriso dela... Estava sempre carrancuda e irritável, mas quando lhe sorriu... De repente tudo pareceu valer a pena. O gosto dela ainda estava cravado em sua boca. Aquela mulher irrequieta que se atreveu a ir procurá-lo, oferecer-se... Que tipo de mulher era aquela? Mas, ao mesmo tempo, ela cria ser sua esposa, não? Subitamente, deu-se conta de que não gostou de Cashel tê-lo “salvado” das mãos macias e da pele sedosa. Olhou o Rei. Por que diabos se meteu? Ele mesmo podia ter resolvido tudo. Não é? PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS De relance, a observou. Ela parecia focada no pequeno lobo, e esquecida de sua presença. Era louca... Mas o que o impedia de tê-la? O agradava, não? Repentinamente, deu-se por conta dos pensamentos. Balançou a mente, afastando aquele pecado da sua mente. Era um homem honrado. Tinha um compromisso com Asya. Não podia trai-la só porque Masha tinha um olhar penetrante, uma pele macia, um tom sensual... — O que foi? — a voz potente da mulher o pegou desprevenido. Mal percebera que a encarara sem discrição. — Quer fazer sexo? — ela indagou à queima roupa. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS — Com licença — a voz de Cashel soou irritada. — Eu estou aqui, caso não tenha notado! — Eu também estou aqui! — Masha retrucou. — Eu estou aqui — repetiu. — Você está aqui — apontou. — E esse inútil do meu marido também está aqui! — quase gritou. — E para quê? Pronto, o sorriso já havia ficado esquecido. Agora tudo que restava era a face enfezada. — Só estava olhando-a — Bran retrucou. — Acha que eu aceitei encarnar apenas para que me olhasse? Que aceitei perder minha imortalidade apenas para ser alvo de seus lindos olhos? Sou obrigada a suportar a dor, medo, frio, fome! Nem vou mencionar a porcaria de sangue que desce todo mês e molha minhas calçolas, obrigando-me a usar toalhas no meio das pernas! E tudo para quê? Para meu irmão ser um Rei mimado PERIGOSAS ACHERON


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e meu marido um puritano! — Você consegue falar sem gritar? — Bran retorquiu, estava começando a perder a paciência. — Foda comigo, e nem precisaremos mais um olhar para a cara do outro! — berrou. — Eu estou aqui! — Cashel relembrou-os, também aos berros. Bran bateu na portinhola. Novamente, a charrete parou. Dessa vez foi o moreno que saiu do veículo, chutando a neve, ansioso por torcer algum pescoço. — Eu preciso engravidar! — ela o seguiu, parecia muito irritada. O servo que conduzia a charrete arregalou os olhos. — Posso ajudá-la, moça? — questionou, PERIGOSAS ACHERON


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como quem não quer nada. Três olhares assassinos puseram-se sobre ele. — Perdão — sussurrou, volvendo-se aos cavalos, não querendo se envolver no embate entre os nobres. Subitamente, Bran riu. Era simplesmente ridículo. Uma mulher linda estava desesperada por tê-lo e ele parecia aterrorizado pelo fato. — O que é tão engraçado? Repentinamente, caminhou rápido até ela. Segurou-a nos braços e lhe deu o beijo mais intenso que já havia dado em uma mulher. Por quê? Precisava saber. Ela era sua? Se fosse, sentiria no instante em que suas línguas se tocassem. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS E então, naquele instante mágico em que reconheceu aquele corpo contra si, que ficou aterrorizado com as coisas que pareciam se encaixar. A pior delas: desde que deixara a casa de seus pais, não sentia a menor falta de Asya. Asya? Empurrou-a. — O que foi? — Masha murmurou. Claramente, ela queria que continuasse. — O que diabos foi isso? — Já Cashel não parecia estar gostando nada da cena. — Eu tenho um compromisso com uma moça muito gentil... — Comigo, idiota! — Masha rebateu. — Não. Uma braiana chamada Asya que está PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS me esperando... E toda sua tentativa de se explicar perdeu-se no soco forte que recebeu na cara. Masha não estava interessada no que ele andara aprontando enquanto encarnado. Queria a semente dele, e não descansaria até tê-la.

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Capítulo Quatorze CASTELO NEGRO

H

aviam estruturas que desafiavam o tempo, mantendo a sua dignidade intacta mesmo que todo o resto ao seu redor desmoronasse. Castelo Negro era exatamente esse tipo de edificação, uma mancha escura em meio à neve clara, algo que sempre chamava a atenção e que mantinha seu charme irretocável, mesmo em épocas longínquas, onde os Clark lá moravam e mantinham sua gente. Era um dos lugares favoritos de Masha. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS Não sabia exatamente o porquê. Enquanto observava o lugar ao longe, sorriu. Foi ali que ela conseguiu abrigo para Bianca, após ter sido violada por um dos irmãos Clark, em tempos anteriores a Esmeralda. E foi ali que Iwan foi concebido. Aquele lugar conheceu o amor e o ódio. Paixão e degradação. E ainda assim era um abrigo aos ruivos naquela terra temível e gelada. Caminhou em passos retos em direção ao castelo. Atrás dela, Cashel e Bran desciam da charrete e também pareciam dispostos a segui-la. — Deve esperar — Cashel avisou. Sua voz parecia perder-se no soar forte do vento. — Meu tio não gosta de visitantes... Masha não lhe deu ouvidos. Empurrou a grande porta. Lá dentro, o ambiente aquecido PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS estava deserto. Era estranho que o antigo grande Rei dos reinos não tivesse criados, mas Masha era capaz de entendê-lo. Subiu a escada, andando pelo corredor. Ela sabia aonde ia. Mesmo sem sua divindade, ela o sentia. Esmeralda e Iwan haviam sido suas preciosidades, suas criações próprias, como se fossem seus próprios filhos. Empurrou uma porta. Entrou. Sentado em uma cadeira próximo de uma janela, Masha o viu. Seu cabelo já grisalho, seu rosto sofrido e marcado de rugas, seu tempo que parecia findar. — Eu a vi chegando — a voz de Iwan soou, e ela se emocionou. — Eu rezei por ti durante todos esses anos, e nunca me respondeu. Mas, no final de PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS tudo, você veio... Ele estava velho. Estava com os dias contados. Masha aproximou-se de sua cadeira e ajoelhou-se a sua frente. Deixou que seu rosto descansasse nas pernas do homem. — Está diferente — ele murmurou. — Eu encarnei — ela contou. — Por isso não pude respondê-lo, porque me tornei carne para cumprir minha missão. Iwan assentiu. Sempre a compreendia. — Não pude cumprir a minha — pareceu fadigado. — Só há maldade na raça humana. Todos deviam morrer, inclusive eu mesmo. — Não fique assim, as coisas vão melhorar. Não tinha certeza, mas queria lhe dar PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS qualquer esperança. Nenhum deles percebeu os dois homens à porta, pasmos diante da cena. — Meu tio... — Cashel murmurou. Só então Iwan volveu-se para ele. — Olá, Cashel. — murmurou. — Liam foi pegar lenha. Seu quarto está arrumado. — depois olhou para o outro. — Bran... Você cresceu desde a última vez que o vi.

Ela dissera a verdade. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS Bran entregou o pequeno lobo para Liam, que sorriu diante do animalzinho, afagando seu pelo e lhe arrumando leite quente. — É tudo real — murmurou. — E você duvidou disso em algum momento desde que a conheceu? Não sabia responder. — Sabia que a sentia, mas... — Mas? — Sempre me considerei um homem correto. E quando assumi minha relação com Asya, a respeitei e a quis por esposa. Nunca pensei em outra. Mesmo que surgissem tentações, me mantive firme porque a dignidade de um homem se mostra no seu caráter com a sua mulher. — Só que Asya não é sua mulher. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS — Agora sei disso — murmurou, e estranhamente, havia um certo alívio em sua alma. — Terei que ir até ela e lhe explicar. O que não será nada fácil porque não tenho lembranças de minha vida com Masha. — E não a ama? — A Masha? Não a conheço. — Ah, mas você conhece. — Liam riu. — Desde o começo dos tempos. Você só precisa fechar os olhos e sentir.

Fechar os olhos e sentir... PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS Sorriu. A dita esposa estava arrumando a cama onde dormiria naquela noite. Iwan havia escolhido o antigo quarto dos pais para sua deusa favorita. Era estranho observá-la assim. Acreditava que tudo se resolveria quando ali chegassem. Que Iwan a confrontasse, e então as coisas voltassem ao eixo. E – sim, podia ser algo horrível de se pensar – ele não estava se importando que nada saíra como planejado. Subitamente, desde que a viu aos pés do antigo Rei, consolando-o e sendo consolada como a Deusa que ele passou a crer que era, nada mais daquilo que antes lhe era importante agora pesava. Lamentava por Asya, mas ela teria que entender. Ora, ele era casado. Com aquela ruiva. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS “Masha... Você tem que parar”, ouviu sua própria voz em sua mente. Perto dali, em meio a um amontoado de neve, cercada por um rio de sangue, a deusa assistia a um pelotão de homens decapitados. “Você vai defender estupradores?” ela questionou. “Seu último profeta morreu”. Sentiu o baque poderoso da lembrança. Repentinamente, estava novamente no quarto, a ruiva a encará-lo. — O que foi? — “Cashel e você me temem porque sou mais poderosa” — ele citou. — Disse isso alguma vez? Ela respirou fundo, como se estivesse aliviada. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS — Você lembrou? — Disse? — Sim, há muito tempo. Antes mesmo de Esmeralda nascer. Antes da Guerra dos Mil Dias. “Está louca. Mas, eu a amo”, a mensagem surgiu em seu âmago e ele segurou-se na pilastra da porta, tentando conter o temor nas mãos. — O que nós fizemos? — ele murmurou. — Não me lembro de tudo, mas sei que somos os culpados por todas as desgraças. — Falhamos — ela murmurou. — Deixamos o povo livre para escolher entre o bem e o mal, e nossa descendência escolheu o mal. Agora, precisamos ressuscitar o Criador. — Todavia não somos ruins. Por que os nossos são? PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS — Há uma entidade sem nome. Chamam-no de Maligno. Ele influência através da beleza, da arte, da religião ou simplesmente da boa oratória. Ele ajuda o povo a se convencer que não há nada demais quando se escolhe o que não está certo. — E deixamos isso tudo acontecer? — Nossa culpa agora será nossa morte. Nosso corpo carnal, nossa punição. Nós aceitamos isso. Envelheceremos e morreremos para que o Criador renasça. — E para isso você precisa ter um filho meu, é isso? — Ele nos criou, e nos deu sua imortalidade. Através de nós, devolveremos a ele o que lhe pertence. — É um tanto estranho de se pensar. — No quê? Que precisamos coabitar para PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS que isso ocorra? — Soa blasfemo. — Sou sua esposa. — Ela ficou possessa. — Imoral é o que você estava fazendo com aquela braiana. Bran suspirou. — Não se preocupe, não aconteceu nada. Eu jamais tomaria uma mulher sem antes tê-la como esposa. Ela praticamente atirou as mãos pra cima e depois apontou para si mesma. — E está esperando o quê? Um convite? Mesmo que não se lembrasse de praticamente nada entre eles, soube naquele instante o porque a amava. Seu humor era desgraçadamente sarcástico. Naquela vida sem fim, PERIGOSAS ACHERON


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onde os dias eram lutas contra o mal, Masha era exatamente o que o fazia relaxar e rir. Só ela conseguia isso dele... Entrou no quarto. Fechou a porta. Não temeu o que se sucederia porque sabia que não era a primeira vez. O corpo dele estava ciente disso. Masha era letal. Mas, igualmente, deliciosa.

— Não me teme, não é? — Murmurou, aproximando-se dela. Masha sorriu. Céus, como ele adorava PERIGOSAS ACHERON


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quando ela sorria assim... — Me conhece o suficiente para saber que nada me dá medo. — Nem mesmo seu marido? Muitas mulheres temem um homem quando estão para levá-las ao leito. Nesse seu corpo carnal, é sua primeira vez, não? — A única dor que pode me provocar, Bran, é a da traição. — Já disse... — Não importa — o interrompeu. — Resolvamos nossos problemas depois. Há um longo caminho pela frente. Sei que terá que avisar aquela braiana de que me pertence, e terá que dispensá-la. Não quero o sofrimento de nenhuma mulher, mas eu te vi antes. Muito antes. No alvorecer dos dias. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS Ele sorriu. Aquele charmoso sorriso que sempre a desarmou. — Brigaria por mim? — O que você acha que eu sou? — devolveu. — Me dê um filho — exigiu. — Se depois quiser se separar e ficar com a morena, que faça bom proveito. Mas, antes... Interrompeu-a com um beijo. Porque, afinal de contas, já sentia o calor que ela passava a emanar. Asya já era passado. Foi no exato momento em que ele pousou os olhos sobre a esposa. Seus nervos retesaram. A mão ardia na vontade de apertar aqueles seios empinados que se espremiam contra seu tórax. Ela gemeu quando o beijo findou-se. Reagiu ao encanto feminino no exato instante. Céus, como PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS era linda. Como era perfeita... Como a queria! Beijou-a mais uma vez, agora, acariciando as costas com a ponta dos dedos, subindo e descendo, sem pressa alguma. Uma tortura tão prazerosa que a musculatura baixa de Bran reagia a cada movimento. Masha também experimentou uma ponta de desejo na parte inferior do corpo, uma fome insaciável que a aqueceu do baixo-ventre até as coxas. — É estranho, Masha. Sei que, de alguma forma, esperei por você... — Engraçando-se com outra? — ela rebateu. — Não a tomou porque queria estar casado, não é? Seu sangue unido ao dela em matrimônio. — Bom, essa era minha desculpa, mas... — Mas, o quê? PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS — Até você aparecer, eu sequer acreditava nos deuses. A religião nunca teve a menor importância para mim. Portanto, se eu realmente quisesse Asya, a teria tomado sem culpa. Mas, a verdade é que nunca a quis... Riu baixo. — Céus, como fui maldoso e covarde com ela — condoeu-se. — Eu a usei para mascarar meu tempo. Para dizer a mim mesmo que não esperava nada. Para confrontar minha mãe. Mas, no fundo... sempre esperei você. E agora que a tenho, não a deixarei escapar. Subitamente, Bran afastou-se. — Devo ser honrado. Antes de tê-la, esposa, preciso explicar a situação a Asya. Não quero ferila. Deu-lhe as costas e preparou-se para sair. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS Masha sentia cada fibra dolorida, tremendo, cada músculo insatisfeito. Haveria um submundo para homens como Bran, e Masha desejou que ele apodrecesse lá, por despertar sentimentos e calores nela, e depois a deixá-la completamente insatisfeita.

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Capítulo Quinze PAIXÃO

∞ Masha sempre soube que Bran voltaria ao quarto mais tarde. Não porque ela ainda tivesse poderes que poderiam lhe trazer essa noção, mas porque ela sentiu que o marido havia se afastado contendo uma forte urgência por ela. E Bran nunca fora bom em esconder o quanto a queria. Mesmo no passado, diante das muitas brigas, ele sempre a buscou. Quando a noite caiu, e tudo que restava era o PERIGOSAS ACHERON


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silêncio no castelo, ela ouviu o ranger da porta. Logo, o peso de um corpo ao seu lado, no leito. Antes mesmo de tocá-la, a mulher já sentia-se muito bem, sua pele, seu corpo sensível e vivo. Mãos passaram por entre suas pernas, sobre os seus seios, um joelho abrindo os seus. Parecia um sonho. Mas, era real. Depois de tantos anos, enfim, eles estavam juntos novamente. Voltou-se no leito e ficou de frente ao olhar escuro de Bran. Ela era o fogo, mas ele parecia queimar. Bran agarrou-lhe um seio, a palma da mão amassando os bicos excitados, algo pelo qual ele sempre teve certo fascínio. Masha foi resvalando para trás, enquanto o corpo do marido subia por cima dela. Deixou-se ficar, sentindo sua camisa grande que servia de PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS camisola ser aberta, e sua pele nua sendo revelada aos olhos daquele que sempre conseguia dela o que desejava. — Achei que quisesse esperar — ela murmurou. Impotente, ele se reclinou sedento de paixão. Desceu o olhar até a sua boca e lhe deu uma leve mordida. — Sim, era o certo — murmurou. — Mas, não consigo... Bran se mexeu, livrando-se das próprias roupas, colocando suas desnudas coxas entre os joelhos dela, separando-lhe as pernas e movimentando-se de forma extremamente sensual. Bran procurou com os lábios os alvos sensíveis de seu pescoço, pontos eróticos que só ele conhecia. Com os dentes, mordiscou o lóbulo da PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS orelha e o ombro, arrancando-lhe uma ofegante respiração, delirante de prazer. Masha agarrou-o pelos ombros. Ele era tão másculo, tão macho. Ela sempre excitou-se pela presença marcante. Os ombros largos, os músculos no estômago, os pelos escuros no peito... Tudo nele era selvagem e arrebatador. Subitamente, o ato deixou de ser apenas uma obrigação para com o plano tramado a fim de o Divino nascer. Agora, só queria ser parte dele, sua amada, sua esposa, sua... — Você está pegando fogo, Masha. E isso era cômico porque era exatamente seu elemento. — Não entende? É você que faz isso comigo — ela murmurou. Bran não precisou de mais nenhum outro PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS encorajamento. Impaciente, levou a mão para dentro das suas coxas, instigando sensações. A cada toque, Masha sentia-se mais excitada. Estremeceu, antecipando a posse dele. O que não demorou muito. Deitando-se em cima dela, Bran a penetrou. E ali, naquele canto esquecido ao norte daquela terra gelada, todos os limites foram ultrapassados. Da dor e do prazer, do sexo e do gozo. Ela podia sentir cada centímetro dele, do seu mastro duro e grande achegando-se nela, afundando, tocando-a, e então se afastando, numa dança animalesca. Masha quis gritar de prazer, mas a boca do marido tomou a sua. E quanto mais rápido ele ia, mais ela era absorvida pela lascívia. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS E foi assim que aquela deusa encarnada, conhecedora do tempo, viu-se perdida diante do tanto de sentimentos que transbordava em seu peito. Porque era amor... Sempre se amaram, e agora pareciam mais unidos que nunca. Se ela viveu por ele durante tanto séculos, agora aceitava morrer com ele, pelo tempo que lhes restasse. Porque ela o queria. O desejava. Não conseguia mais imaginar um pedaço de sua existência sem a presença de Bran. Bran suspirou, atingindo o auge, e ela também arrepiou-se de prazer enquanto era inundada pelo sêmen e pela poderosa sensação de pertencimento. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS Estava feito. — Bom... — ela murmurou —, conforme o combinado, agora você já está dispensado — brincou. A gargalhada sonora inundou o quarto. Logo, eles abraçaram-se e permitiram-se descansar.

“Já passo a existir novamente”. Cashel volveu o olhar para a figura de cabelos claros como o sol. No quarto, a visão PERIGOSAS ACHERON


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parecia um tanto nublada. — Estou sonhando? — indagou. — Está — ele lhe respondeu. Sabia quem era. Masha conseguiu. Estava grávida. A aura Divina voltava ao mundo. — Levarei nove meses para nascer — o loiro contou. — Minha mãe está com o braço machucado. Precisa de proteção. — Proteção? Contra quem? — O mal já sabe quem é ela. Tentarão matála para evitar que vençamos. Iwan já é velho, e nenhum ruivo além de Masha poderia me proteger. — E o que devemos fazer? — Cashel indagou, sentando-se na cama. — Ir para o vazio. Longe de qualquer aldeia. Esconderem-se nas cavernas. Fiquem longe de PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS todos, não confiem em ninguém. Cashel assentiu. Logo, acordou. Lágrimas brotaram em seus olhos quando percebeu que nada mais seria como antes.

O cavalo escuro extremamente rápido.

vinha

a

um

trote

O vigia da torre sul tocou o sino, chamando a atenção de Brian Clark que, naquele momento, estava supervisionando um carregamento de peles para a terra montanhosa. O homem aproximou-se do portão, dando PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS ordens para que os guardas deixassem o cavaleiro solitário adentrasse a fortaleza de Castelo Branco. Logo, contudo, o reconheceu. O conhecera nas terras de Cashel, quando ajudou a salvar Élen de um sequestro. Nas poucas vezes que fora até o palácio real, visitava o pai do Rei dentro das masmorras. Fez um calculo mental, e concluiu que ainda não havia se passado todos os anos com os quais Gideon fora punido pelos seus crimes. Assim, soube imediatamente porque o homem estava ali, na sua frente. Sentiu a presença de Lana antes de vê-la. Logo, a esposa se aproximava. Parecia apreensiva. — Eles estiveram aqui — Gideon concluiu, assim que os viu de olhos arregalados. — Aconteceu algo? — Lana indagou ao PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS homem. O negro desceu de seu alazão e curvou-se diante da senhora. Depois, estendeu a mão para Brian. — Ela é Masha. A verdadeira Masha — contou. — Assim, devíamos estar tranquilos, pois ela pode se defender. Contudo, não me sinto assim. Ela foi presa na corte porque estava ferida. Não consegue segurar a espada. Lana havia visto aquilo, mas cria que o irmão e o marido poderiam protegê-la. Brian havia repassado a arte da espada ao único filho, e sabia que Cashel era treinado. — Ela é minha filha — Gideon declarou. — E é minha obrigação mantê-la a salvo. Lana assentiu. — Você está certo. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS — Para onde foram? — Até Iwan. Gideon agradeceu a informação e preparouse para retornar ao cavalo quando a voz de Brian o interceptou. — Irei contigo. — Bastarei para proteger Masha — Gideon recusou. — Além do mais... — Mais nada. Seus dois filhos estão lá. E o meu também. Tenho certeza que Bran arriscaria a vida para defendê-la, caso fosse necessário. Então, também irei. Ao retornar os olhos para a esposa, Brian soube que tomara a decisão certa.

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Capítulo Dezesseis SONHO

A

o

perceber a imagem do homem alto e belo diante dela, Masha soube imediatamente que estava sonhando. Tanto porque já se fazia muitos milênios que não o via, em muito porque agora a sequência se invertia. Antes, ele era seu Criador, agora passava a ser sua criatura. — Você lembra-se dessa terra? PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS Muito ao sul de Masha, ela percebeu Ván. A palavra significava Esperança. Foi lá que Masha guardou sua compaixão e manteve o lugar seguro de sua própria ira. Aquele ambiente de vasta floresta foi esconderijo de imundos e animais durante muitos anos. Um lugar onde o Maligno nunca conseguiu alcançar. Esmeralda se refugiou ali, quando fugia de Cedric. Foi ali que Brione de Bran nasceu, a seiva dos três deuses. Aquela era terra sagrada. — Agora, não se chamará mais Ván — ele murmurou. — É mesmo? — inquiriu. — Por quê? Aproximou-se dele. Sentiu o toque gentil das mãos contra as suas. Havia uma emoção especial no ato. Eram mãe e filho. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS — Agora se chamará Éden. E será aqui que irei recomeçar a criação. Não mais com deuses mantenedores que possam falhar. Mas, com humanos que serão imortais e terão felicidade eterna. — Todos? Mas, e se o maligno os atingir. — O Maligno não os tocará. Basta que cumpram um simples ritual. Um sinal de obediência a Criação. Mostrou-lhe uma enorme árvore. A maior de todas. Uma que crescia bem ao meio da ilha. — Basta não comerem o fruto... — Só isso? Será muito fácil... — Ah, mãe... — ele riu. — Não, não será fácil. Temo que essa nova geração seja fraca como as outras. Eles sempre começam com uma pequena coisa... E quando percebemos estão matando, PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS roubando, mentindo... Ela obrigou-se a concordar. — E o resto dos Reinos? Irá destruí-los? — Não. Manterei meus olhos sobre as boas pessoas que vivem nessas terras. Mas, não terá mais o nome de vocês três. Não posso manchá-los. Portanto, se chamará Node. — Node? Terra de fuga? Por quê? Ele não lhe respondeu. Masha não insistiu. — Viverei para te ver crescer? — ela indagou. — Se conseguir me proteger a tempo de que eu nasça, depois de vivo, nada de mal te sucederá, mãe... Não ao menos durante os dias que te restarem para que chegue a velhice. Naquele instante Masha acordou. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS O braço firme de Bran estava sobre ela. Mas, uma amargura providencial tomou conta de sua intuição.

— Nunca vai melhorar — Masha insistiu na ideia, fazendo Cashel arquear as sobrancelhas. — A mesma otimista de sempre — Bran ironizou. — Somos uma raça maldita. A nova criação também será. O melhor era deixar tudo por conta dos animais. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS Iwan riu, acariciando o pequeno lobo. — Eu também disse isso, certa vez, a Liam. — Enquanto a vida há esperança — Liam insistiu. — Vamos acreditar. — Vão falhar. Porque é o que fazem. Vão falhar e então meu filho terá que fazer algo para corrigir os erros das criaturas. E se precisar se sacrificar como nós fizemos? — Como pode ter tanta certeza? — A merda da nossa existência e nossa moral é como uma estrada em linha reta. No final dela, há dois caminhos. Uma subida e uma descida. É mais fácil descer que subir. É mais fácil ser um imoral nojento do que seguir um caminho difícil, mas correto. Bran aproximou-se dela. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS — Masha, não é nosso papel questionar. Agora somos criaturas também. Cumprimos o que nos foi ordenado e deixamos as coisas nas mãos do Criador. — E por isso precisamos fugir — Cashel os lembrou. Havia contado seu sonho pouco antes. — Castelo Negro é seguro — Iwan afirmou. — Lugar nenhum é seguro — Insistiu o negro. — Precisamos buscar cavernas na encosta. — Não vão sobreviver. Nada sobrevive lá fora. — Iremos — Cashel afirmou. — É nossa única chance.

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CapĂ­tulo Dezessete O ATAQUE

∞

A

caverna era exatamente como Cashel imaginou que fosse. Numa montanha coberta pela neve, o lugar escuro e aterrorizador parecia o ideal para eles fugirem de qualquer coisa. Haviam chegado ali a cavalo. Trouxeram com os animais bastante mantimentos. Depois, os soltaram, batendo em suas ancas, fazendo-os retornarem a Castelo Negro como eram PERIGOSAS ACHERON


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disciplinados a fazer. — Lugar nenhum é seguro — Cashel repetiu o mantra. Mesmo ali, isolados de tudo, não era. Bran começou a organizar a fogueira com a lenha seca que trouxeram. Depois, ele teria que ir derrubar alguma árvore da floresta próxima para secar a madeira. — Que vida romântica — Masha murmurou ao marido, assim que o viu empilhando tocos de madeira no fundo da caverna. Ele sorriu. Sempre tinha um sorriso doce para ela. — Uma lua de mel perfeita — ele assentiu. — Com seu irmão aqui, nem teremos intimidade. Cashel

suspirou

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alto,

arrumando

os


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mantimentos. — Ele é mais útil aqui que você — Masha retrucou ao marido. — Você não seria você se não dissesse isso — Bran devolveu. — Sempre ao lado do irmãozinho. Masha sabia que ele não se lembrava. Mas sentia que era assim. E estava certo. — Eu podia estar sentado em meu belo trono, comendo do melhor e dormindo no conforto, mas estou aqui, não? — Cashel retrucou. — Então me façam o favor de manterem abstinência até o final de nossa empreitada, porque não quero sair da caverna a risco de, quando retornar, lhe encontrar de bunda empinada, dormindo com a minha irmã. E aquele era apenas o primeiro dia.

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Não que os dias que se sucederam foram difíceis. Apesar dos homens não lembrarem, o trio tinha um excelente relacionamento. Masha era sempre a mais zangada, a que tinha a língua afiada e objetiva. Mas, tanto Bran quanto Cashel nunca se incomodaram com aquilo. Assim, enquanto alimentavam a fogueira e se mantinham aquecidos, eles passaram a discorrer sobre o tempo que estiveram afastados. — A pureza dela sempre foi algo sem igual — Masha murmurou, encantada. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS Falar de Mah sempre lhe acalentava. Nos muitos séculos que precisava de suporte para aguentar o tanto de horror que se passava nos Reinos, era em Mah que seu pensamento se fixava. — E isso me deixa ainda mais revoltada com vocês — de súbito, sentiu o calor em seu âmago. — Como puderam ser tão cruéis com suas mães? — Como poderíamos adivinhar que não eram loucas? — Lhe deviam respeito de qualquer modo. Eles pareceram envergonhados. — Para você é fácil falar, lembra-se de tudo — Cashel retrucou. — Mesmo que não lembrasse, mãe é sagrado. Isso é a Lei da criação. E nada mais poderiam dizer diante dessa PERIGOSAS ACHERON


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inegável verdade.

Para sair da caverna era necessário cobrir-se com uma manta grossa de lã, a fim de não congelar. Masha evitava sair, mas uma ou duas vezes por dia, precisava fazer o esforço e buscar pelo sol, pois sabia que toda grávida precisava receber o banho solar para evitar problemas na gravidez. A barriga ainda não havia crescido muito, mas ela já a sentia despontar. Mais que isso, podia vivenciar cada formação da nova criatura que vivia PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS em si. Seu pulsar, seu balançar... Oh, céus, como ela o amava! Então, caminhando em volta da caverna, ela ergueu o rosto para o céu e sentiu aquele leve aquecer. Sorriu, agradecendo por aquele presente da natureza. Subitamente, porém, algo arrepiou sua nuca. Aquele comichão que sempre a atiçava antes da guerra. Antes mesmo de poder volver-se em direção a onde seus instintos a guiavam, ouviu o quebrar de um galho. Alguém caminhava na mata. Tocou o braço, agora inútil. Respirou fundo e, naqueles breves segundos que teve para decidir, pôs-se a correr. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS Uma lança foi jogada em sua direção. Por sorte, agachou-se. Gritou. Onde estavam Cashel e Bran? O marido surgiu diante dela tão logo pensou isso. Ajudou-a a se erguer, e depois empunhou a espada, indo em direção à mata. — Idiota! Não vá sem defesa! — ela gritou. Mas, Bran estava possesso pela tentativa de machucá-la. Sabia que nada o faria parar. Contudo, subitamente, estancou. Ewen surgiu da mata, as mãos erguidas e o rosto em choque. — Primo? — Bran indagou. Ewen correu até ele e o abraçou. Sempre foram como irmãos. — Achei que havia sido capturado por essa PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS mulher. — O outro narrou. — Mas, está livre... Por que está aqui? – Só então ele pareceu se dar conta de quem era a ruiva. — Mah? Mah? Bran a encarou. — Inventei um nome para ele quando nos conhecemos no navio que me trouxe a Cashel — ela explicou. Repentinamente, outro rosto surgiu atrás do jovem. Asya. Bran a encava com o coração num misto de vergonha e covardia. — Preciso falar com ela — disse ao primo. Às suas costas, ouviu a voz zangada de Masha e se arrepiou. — Pobre moça. Não precisaria sofrer se você não fosse um retardado — xingou. — Até quando você vai jogar isso na minha PERIGOSAS ACHERON


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cara? — Voltou-se para a esposa, zangado. — Sua sorte é que agora é mortal — ela devolveu. — Senão, seria pela eternidade.

— Não compreendo — Asya choramingou diante dele. — Você jurou nunca me abandonar! Todos haviam se afastado para que eles pudessem conversar. Masha levou seu primo para se aquecer na caverna enquanto ele tentava desesperadamente não magoar Asya. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS — As coisas são confusas — admitiu. — Mas, o fato é... — Você me ama? — ela questionou. — Porque se amar, vou perdoá-lo. Poderemos ir embora. Você não tem que cumprir algo apenas pela vontade de sua mãe, ou de outros. Especialmente dessa mulher ruiva que nem conhece. Ali estava o fato. Ele não a amava. Antes, gostava da ideia de se casar com uma mulher bonita e prosperar seu feudo. Mas, desde que Masha surgiu... Nada mais tinha importância. — Eu lhe darei um dote — sentiu-se um miserável por dizer isso. — Não a desampararei. Você, afinal de contas, é irmã de meu primo. Asya permaneceu alguns segundos em silêncio, como se o estudasse. Algo em Bran se PERIGOSAS ACHERON


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arrepiou. — Eu o agradeço — ela disse por fim. E ele ficou aliviado.

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Capítulo Dezoito O PAI

O

olhar

verde-esmeralda parecia queimar em sua direção. — Decidiu ir com ela? — Masha lhe questionou quando se sentou ao seu lado. Bran sorriu. Tentou segurar suas mãos, mas ela desviou. — Você é minha esposa — ele lembrou-a. — Você — afirmou. — Não me importo com essas regras. Se quiser ir, que vá. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS — Quer que eu a deixe? — Quero saber onde está seu coração. — Meu coração está onde sempre esteve — ele teve que ser firme e duro. Masha não o deixaria em paz se não o fosse. — Já fez sua parte — ela insistiu. — Poderá ir quando desejar. Cashel cuidará do resto. — Está me irritando esposa —novamente tentou segurar suas mãos. Novamente, afastado. — Estou falando sério, Masha. Respeite-me. — Me obrigue — ela provocou. E então se ergueu, rumando até Cashel. Depois se sentou ao lado do irmão e se achegou a ele. Bran sentiu-se inflamar diante da afronta, mas o que ele poderia fazer perante uma mulher grávida e com um temperamento incontrolável? PERIGOSAS ACHERON


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Mesmo com o maldito braço machucado, apenas a presença da ruiva causava medo. Asya percebeu o olhar de Bran para a mulher. Era apaixonado, mesmo que ele não assumisse isso, Asya sabia. Ele a amava. Sempre a amou. Mesmo quando encarnado e desmemoriado, sua total apatia em tentar algo mais íntimo com a namorada, demonstrava que seu subconsciente estava sempre ligado a Masha. Ewen e ela foram convidados a passarem a PERIGOSAS ACHERON


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noite ali, na caverna. Voltariam no dia seguinte, apenas com a promessa do futuro senhor de Castelo Branco de que a morena não ficaria desamparada. Ela estava pouco se fodendo para o dinheiro ou casamento. O que Masha carregava no ventre é que importava. Precisava se livrar daquele ser. Podia ouvir as batidas rápidas do coração do bebê. Ela ouvia mesmo que ninguém mais ouvisse. Ela sentia. E isso a desesperava. Teve tantas vitórias para agora perder a guerra? — Asya — Ewen aproximou-se dela. Estendeu-lhe um recipiente com caldo. — Sei que tudo pode estar dolorido agora, mas vai passar. Eu cuidarei de ti. Talvez toda essa situação tenha servido para que nós possamos nos aproximar. Os deuses têm meios estranhos de fazerem irmãos se PERIGOSAS ACHERON


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encontrarem. Ela não ligava a mínima para ele. Mas, assentiu, fingindo compreensão. — Você sabe, estudei para ser médico. Estive no reino de Masha, e a miséria lá parece clamar por alguém de cura. Penso em ir morar lá com minha mãe. Por que não vem conosco? Eu cuidaria de ti, minha irmã. E jamais te casaria contra a vontade. Se um dia se apaixonar, poderá... — Sim, é claro — ela aceitou, apenas para fazê-lo calar a boca. O olhar verde se encontrou com o dela. Masha não parecia estar desafiando-a. Ao contrário, toda a raiva da deusa se voltava para Bran. Subitamente, sorriu. Masha a via como vítima? PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS Quase gargalhou diante do pensamento. Céus, subitamente, tudo pareceu tão fácil. Antes mesmo de o sol nascer, ela já teria resolvido aquele problema.

Masha sentiu um pequeno balançar no ombro. Abriu os olhos, percebendo ser a jovem mulher. — Sim? — Preciso fazer xixi — ela murmurou. O silêncio e a escuridão reinavam dentro da caverna. — Poderia ir comigo? Não quero acordar meu irmão porque está muito cansado da viagem. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS Asya foi concebida após Masha. Dessa forma, a ruiva não sabia se aquela jovem era boa ou má. Não sabia nada dela, sua índole nem seu coração. Mas, por Bran ter gostado da morena, imaginou que tivesse bom caráter. Assim, assentiu, ajeitando as mantas e rumando com a mulher para fora da caverna. — Gostaria de dizer que entendo a situação. E me conformo por ela — Asya murmurou, adentrando a floresta. — É mesmo? Se eu fosse você, castraria Bran. — Masha ralhou. — E você? Por que não faz isso? Ele a traiu também, não? — Eu faria se pudesse. Mas, estou com o braço machucado. Entretanto, quando me curar, pode acreditar que ele pagará muito caro por... — PERIGOSAS ACHERON


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repentinamente, silenciou. — O que foi? — Aqui já está bom — avisou, parecia alarmada. — Não vamos adentrar muito na mata. Não é seguro. — Não há nada em muitos quilômetros. Não carece temer. — Minha vida não é mais apenas a minha — murmurou. Asya assentiu e então caminhou para trás de uma árvore. Masha aguardou. Algum sobressalto antevia sua alma. Sabia do que se tratava: intuição materna. A graça preciosa do Criador para com aquelas que eram dadas a gerarem vidas. Nem todas as mulheres tinham aquele papel, mas as que PERIGOSAS ACHERON


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tinham – e agora ela se enquadrava nisso – podiam sentir, se prestassem atenção, quando algo não estava bem. E, desde a concepção, tudo que Masha fazia era prestar atenção. Deu as costas a Asya e passou a procurar por algo. Havia mais alguém ali além das duas mulheres? Ela podia sentir... Subitamente, uma faca encostada em seu pescoço. Respirou pausadamente, tentando não entrar em pânico. — Não enfiar diretamente — Asya murmurou contra suas orelhas. — Apenas um profundo corte nos vasos que regam o sangue... Aquela mulher já havia matado antes? Como sabia como proceder? PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS — O que está fazendo? questionou. — É por causa de Bran?

Masha

— O que me importa aquele idiota? Faça bom proveito dele. Quero o bebê morto. Subitamente, a mente da ruiva voltou-se para as muitas mulheres que enfiavam agulhas na vagina, ou tomavam chás abortivos. A morte dos bebês sempre parecia prazerosa para algumas, quando não estavam dominadas pelo desespero. Agora entendia por quê... — É você? Não te via desde Vogan — reconheceu. — Já fui tantas coisas, não Masha? Tanta gente. Já fui homem, mulher... Já fui ódio e paixão. Até mesmo amizade falsa. Quando acordei de meu sono, nesse corpo fraco, perguntei-me porquê. Soube quando te vi com raiva do seu marido. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS Prefere ficar sozinha mastigando sua raiva por Bran não ter sido um exemplo, do que se aproximar dele e aproveitar seus breves momentos juntos. Céus, ela realmente iria matá-la. Não com a faca, mas de tédio. Mesmo com o braço dolorido, Masha adquiriu forças para lhe dar uma cotovelada. A ardência foi quase insuportável. Enquanto Asya se afastava um pouco, a ruiva tentou correr para a caverna. Foi segurada. Caíram ambas as mulheres no chão. Gritou. Esperava que a peste do irmão a ouvisse antes que aquela alma desgraçada conseguisse seu intento e a matasse. Não temia por ela, mas pelo filho. Subitamente, contudo, mãos negras puxaram Asya com força. Iria agradecer Cashel, quando seus PERIGOSAS ACHERON


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olhos perceberam Gideon. Ficou em choque. O pai que ela odiava foi exatamente quem a salvou. Atrás dele, Brian apareceu em seu alazão. — Não! — o grito de Asya era tão colérico que ardeu em Masha. Foi quando a mulher conseguiu desvencilhar e correr em direção à mata.

se

— Brigaram por minha causa? — Bran PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS indagou. O olhar revoltado de Masha foi sua resposta. — Meu filho, mulheres nunca brigam por causa de homens. Elas brigam por conta de competividade. Se o braço não doesse tanto, Masha atiraria uma lenha ardente na cabeça dos dois. — Estão surdos? Ela é o Maligno. — O que é Maligno? — Cashel questionou, arrumando a atadura em seu braço. Subitamente, Gideon surgiu em sua frente. Esqueceu-se da resposta malcriada ao irmão. — Por que veio? — indagou. — Sou seu pai — ele respondeu. — É minha obrigação. — Você só fodeu minha mãe — ela retrucou, PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS sem perceber que falava exatamente como Iran, séculos antes. — Você não é meu pai. — Negue o quanto quiser, ainda sou seu pai, ainda é meu dever protegê-la. Sentiu lágrimas nos olhos, mas tentou afugentá-las. Não se daria por vencida. Odiava demais aquele homem pelo que fizera a seus ruivos no passado. Todavia, era inegável que a havia salvado. Não fosse por Gideon, todo o plano do Criador estaria findado. Ewen havia partido atrás da irmã há poucos minutos, e Bran estava focado em uma conversa com o pai. Parecia que Gideon e o Perverso haviam chegado em Castelo Negro há poucos dias e lá tiveram as coordenadas dos filhos. — Ela está grávida? — o mais velho perguntou a Bran. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS Viu o marido assentindo, feliz. Ficou irritada, nem sabia o porquê. Pareciam enxergá-la como uma parideira. — É mesmo? — Gideon questionou. — Terei um neto? Quis negar, mas viu-se concordando. Sentiu a boca dele achegar-se em sua testa, e o beijo singelo que lhe deu foi muito explícito. Gideon estava feliz POR ELA. Subitamente, percebeu que ele tinha qualidades das quais Élen enamorou-se, independente de Nyalla. Por que agora chorava? O que havia de emocionante em receber um carinho dele? — Obrigada — ela murmurou. Ele sorriu. — Sou eu que agradeço, filha. PERIGOSAS ACHERON


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— Por que não seguiu com seu primo? Bran suspirou, resignado. Sentou-se ao lado da mulher e encostou a boca no ombro dela. Um carinho gentil, que parecia acalentar a ambos. — Se Asya não tivesse ninguém, eu iria, porque sou um cavalheiro e ela merece respeito. Mas, ela tem irmão, e ele cuidará dela. — Você é um idiota. Ela é o mal em carne. — Isso é ciúmes? PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS — O que mais me irrita, Bran, no fato de você ter se esquecido de tudo, é considerar que eu seria injusta com alguém apenas por ciúmes. Ele assentiu. — Está certa, me desculpe. — Quero você de volta — ela murmurou. Subitamente, lágrimas escorriam pelo seu rosto. Sabia que era a gravidez que a deixava tão emotiva. Não era de chorar tanto assim. — Não esse fantasma de você, com sua aparência e um pouco da sua personalidade. E sim você. O verdadeiro Bran. Eu preciso de você. Por que não se lembra? Ele também queria entender aquilo. — Estou com você — disse, apesar de tudo. — Não basta — ela retorquiu. E afastando-se, aproximou-se novamente do PERIGOSAS ACHERON


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irmão. Era sua fuga. Buscava por Cashel porque não suportava olhar para ele e não vê-lo. Bran soube naquele instante que o peso daquela falta de memória poderia ser cara demais.

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Capítulo Dezenove O ERRO

E

wen

seguiu o rastro de pegadas na neve. Era importante encontrar Asya o mais breve possível, pois a irmã não resistiria a uma nevasca.

Por sorte, ou não, ele logo a viu, agachada ao lado de uma árvore, parecendo se corroer em dor. Imediatamente, sentiu-se tocado. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS — Está tudo bem, irmã — murmurou, aproximando-se. Em seu coração, Ewen acreditava que a dor de Asya se devia ao fato de ter sido preterida em favor de Masha. Não suspeitava que aquela dor derivava do ódio em ter todos os seus planos sendo destruídos. — Maldita — murmurou. Sempre vencia. A maldita ruiva sempre vencia, Mesmo sem o braço forte de guerra, ela sempre conseguia o seu intento. Por quê? Que regra maldita era aquela que o bem sempre vencia no final? — As coisas irão mudar... Ainda é tão jovem. Irá se apaixonar novamente e... A voz de Ewen travou diante da gargalhada. Asya ergueu-se e volveu ao irmão. Nas mãos, a PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS mesma faca que tentou cravar em Masha. — Acha que me importo com Bran? — Irmã? — Já fui muitas coisas para chegar à vitória. Mas falhei. Contudo, da mesma forma que há esperança para eles, há para mim. A guerra não termina agora. — Do que está falando? Ewen tentou se aproximar. Repentinamente, Asya levou a faca a própria garganta. Era um gesto repetido. Já havia feito aquilo antes na pele de Vogan. — Asya — implorou. — Por favor, não faça nenhuma besteira. — A morte nunca foi impedimento para mim. Apenas passagem. Agora serei serpente. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS E diante do olhar pasmo de Ewen, ela cortou a própria garganta.

— Ela está furiosa. — As palavras de Cashel chegaram a ele como o vento a balançar seus cabelos. “Ficará furiosa reconhecermos”.

quando

não

a

O sonho de dias antes da chegada dos dois a Castelo Branco lhe voltou à mente. Subitamente,

deu-se

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conta.

Ali,

diante


PERIGOSAS NACIONAIS daquela caverna... transcorrera.

Fora

ali

que

o

sonho

Bran começou a andar de forma desorientada. Parecia estar vendo o local pela primeira vez. — O que houve? — Eu... — começou. Subitamente travou. — Era um teste... — Do que fala? — Foi o próprio Criador que nos fez nascer sem memória. O negro ficou chocado. — Do que está falando? — Seria muito simples se nascêssemos com a memória intacta. Não teríamos que provar nada, apenas trazê-lo ao mundo. Mas, ao retirar nossas PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS lembranças, nos deixando apenas pedaços, ele nos daria a chance de nos encontrarmos e nos reconhecermos através do amor. Masha e eu iríamos nos apaixonar de qualquer maneira, e você e ela se reconheceriam irmãos. Nós teríamos escolhas a fazer, e a faríamos corretamente. Mas, eu manipulei o destino. Não confiei no Criador. Por isso tirei nossa memória e transferi a ela. Por isso agora estou pagando... — Pagando? — Minha mulher não me reconhece. Me vê, mas não me enxerga. E eu a sinto, mesmo não a reconhecendo. A quero, mas não sei porquê. Eu construiria um amor ao lado dela se deixasse tudo pelos planos da criação. Cashel enfim compreendeu. — O tempo de Deus... — murmurou. — PERIGOSAS ACHERON


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Tudo devia ser no tempo de Deus. — Mas, temi que nada daria certo e transgredi esse tempo. Manipulei para que as coisas acontecessem. E isso apenas trouxe dor e ela e a nós. Bran caiu de joelhos. As mãos segurando o rosto. — A próxima geração também irá falhar — murmurou. — Sinto isso. — Mas, existe esperança. — Esperança? — Redenção — Cashel afirmou. — Não se trata de acertos e erros, e sim de compreensão e remissão. É como subir uma escada. Um degrau de cada vez. Era uma visão muito otimista, Bran não sabia PERIGOSAS ACHERON


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se concordava com ela.

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Capítulo Vinte

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FIM E INÍCIO

A

li

onde estava, parecia uma visão idílica de um sonho confortador. Masha estava ereta próxima a um penhasco, o olhar a encarar a amplitude da terra gelada, o vento balançando suas madeixas e suas vestes, no olhar uma dignidade digna da deusa que era. — A culpa foi minha — Bran avisou, aproximando-se. — De tudo, foi minha. Ela volveu-se a ele. Havia certa mágoa em seu olhar. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS — Eu retirei nossas memórias e as deixei para ti. — Por quê? — Porque tive medo que falhássemos, e acreditava que você não falharia se de tudo se recordasse. Ela assentiu. De alguma maneira, apesar de triste por vê-lo falho, era capaz de compreendê-lo. Repentinamente, percebeu uma pequena borboleta cortando o ar. Sorriu. — Há muito tempo que não vemos insetos nessa terra... — Bran murmurou atrás dela. — É o recomeço da vida — afirmou. — Ele — tocou-lhe o ventre — começa a se formar, e a vida já começa a florescer. Porque ele é bom. Volveu-se para o marido. Aproximou-se dele PERIGOSAS ACHERON


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e segurou seu rosto. Depois, o puxou e beijou-o nos lábios com ardor. — Isso é um perdão? — Bran indagou, assim que ela o soltou. — O que você acha? — Bom, espero que seja, pois será muito difícil viver com você tentando me matar — ele riu. Masha assentiu e o abraçou. Era difícil julgar quando ela mesma já havia falhado tanto. — Cashel disse que há esperança — Bran murmurou. — Cashel está certo. Sempre há esperança.

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— Serpente? O que ela quis dizer com isso? Ewen aceitou o copo de chá. Precisava acalmar os nervos, porque estava em choque. Lágrimas que ele jamais pensou em derramar se formavam em seus olhos. — Por que ela fez isso? Eu iria cuidar de suas necessidades... Seria um bom irmão. — Ela não existe — Masha murmurou, sentando-se ao seu lado. Sentiu-se confortado. — Foi apenas uma casca que o Maligno usou. Provavelmente a verdadeira Asya morreu ao PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS nascer. Sinto muito. Era algo que ele não estava preparado para ouvir. Não que fosse cético como o primo Bran, mas saber que aqueles três formavam a trindade parecia demais para sua mente. — Está tudo bem — Masha murmurou, e ele novamente sentiu-se acalentado por ela. — Sua mãe sempre soube que você teria um papel importante no mundo, e ele é o da cura. Você tentou curar Asya, mas não poderia porque ela não era a sua irmã. Ela era apenas uma alma atormentada. Mas, há muitos em muitas terras, que precisarão de ti. Por isso, não se desespere e saiba que fez seu melhor. Gideon aproximou-se do filho. — Se Asya está morta, poderão voltar — indicou. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS Não gostava da ideia de Masha grávida naquela caverna sem conforto. — Não. Se o Maligno disse que a morte não seria impedimento, ele estará à espreita. Isso se já não está em outro corpo. — Uma serpente — Bran repetiu. — Poderia adentrar um animal? — Animais não falam — Masha negou. — Como faria para induzir o erro sendo serpente? Provavelmente, quis dizer outra coisa. — De qualquer forma, poderiam ir a Castelo Negro, ou Branco. Ou até mesmo a Corte. Estariam seguros... — Não — Bran negou. — Se meu filho disse que devíamos ficar isolados, é porque ele sabe que precisa dessa proteção. Ficaremos aqui e pedimos para que não voltem. Temos mantimentos para PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS passarmos o tempo certo. E, enquanto isso, o braço de Masha irá se curar. Quando isso ocorrer, o bebê estará seguro, porque a Mãe é a pessoa certa para protegê-lo. — A Mãe Terra — Ewen murmurou. — Era como te chamavam... — disse, observando a ruiva. Ela quis sorrir, mas não conseguiu. — A Mãe também já falhou — murmurou. — Mas, agora não irá falhar...

— Você precisa empurrar — Gideon ordenou. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS Sete meses após a partida de Ewen, Gideon e Brian, enfim Masha começou a sentir as dores do parto. Apesar do frio, ela suava muito, enquanto se retorcia de dores num dos cantos da caverna. Aos pés dela, em meio a suas pernas, seu irmão parecia disposto a ajudá-la a ter o bebê. — Eu vou te matar, Bran! — ela gritou, quando adquiriu forças. Claro, a dor sempre lhe causava raiva. E a raiva era sempre destinada ao marido, especialmente porque fora ele que colocara aquele bebê em seu ventre. Naquele momento, o fato de ter sido Masha a obrigá-lo há fazer isso pouco importava. — Empurre, Masha — Gideon insistiu. — E o que acha que estou fazendo, idiota? PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS — ela gritou. Bran adentrou a caverna, trazendo água que ele havia derretido do gelo. Pôs o latão em cima da fogueira. Precisavam ferver para ajudar na limpeza. — Bran — Masha gritou e ele aproximou-se da mulher. Repentinamente, ela apertou suas partes baixas. — O que está fazendo, mulher maluca? — berrou, saltando para o outro lado do local. — Não é justo que só eu sinta a dor. Apiedou-se dela, mas o olhar colérico em sua direção não lhe deixou aproximar-se. Então, quando ela acreditou que não aguentaria mais, sentiu que o filho deslizava para fora de si. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS Exausta, caiu para trás, enquanto as mãos negras de Cashel seguravam a criança loira. — É incrível... — o Rei murmurou, olhando para a irmã com lágrimas nos olhos. Logo Bran esqueceu-se do perigo e se aproximou. Pegou o filho, aninhando-o no braço, ouvindo seu choro e sentindo-se lacrimejar com ele. — Que nome daremos? — indagou. — Ele é o Criador. A forma Criadora — Cashel murmurou. — Qual é a palavra certa para isso? Um silêncio invadiu o ambiente. — Brahma. — Bran murmurou. —Ele se chamará Brahma. E em algum lugar ao sul dali, um jardim de PERIGOSAS ACHERON


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belas flores começava a se formar. O paraíso que o Criador sempre acreditou ser imaculado. Infelizmente, não seria imaculado para sempre...

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Josiane Biancon da Veiga nasceu no Rio Grande do Sul. Desde cedo, apaixonou-se por literatura, e teve em Alexandre Dumas e Moacyr Scliar seus primeiros amores. Aos doze anos, lançou o primeiro livro “A caminho do céu”, e até então já escreveu mais de vinte livros, dos quais, vários destacaram-se em vendas na Amazon Brasileira.

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