O agente beto - paula R cardoso Bruno

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Ele sempre foi um protetor da irmã, agora precisará proteger a mulher que ama. No primeiro livro o Beto ajudou o Jack no resgate da Raquel e naquele episódio conheceu a linda e ao mesmo tempo intragável Doc, uma moça com um passado sombrio e um segredo que vale bilhões de dólares. Investigando a organização que sequestrou a própria irmã e descobrindo que a Interpol não é uma organização tão idônea com ele imaginava, Beto acaba se envolvendo em uma nova trama que colocará em risco não somente a sua irmã, mas também a mulher da sua vida. Será que o nosso grande herói será capaz de escolher quem salvar? Raquel realmente ficou livre da arma química que estava sendo testada em seu corpo? Isso e muito mais na segunda parte da Série O Agente, da autora Paula R. Cardoso Bruno.

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MINHA BASE VERDADES BRASIL RESGATE DOC ESPERA ESPIÃO RECUPERAÇÃO REVELAÇÕES CONFRATERNIZAÇÃO DESPEDIDA ROTINA CASAMENTO ALERTA LONDRES PARCEIRO ATENTADO PERIGOSAS ACHERON


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MINHA BASE – Vamos lá Cadete! Aqui não tem a mamãezinha para limpar a sua bunda! Na lama! – Sim, Senhor. – Se tem nojinho engole e segue, Cadete! E assim eu fui me tornando mais eu, o que hoje eu sou. Os meus pais ainda acreditavam que eu cuidava das finanças da minha unidade militar, mas o meu trabalho ia muito além, extremamente além. Ok, eu os tinha enganado. Eu sempre quis ser um militar, desde quando eu via aquelas paradas de sete de setembro na TV já achava a farda verde oliva incrível. Na escola eu sempre adorava participar dos desfiles cívicos, foi natural eu fazer concurso para uma escola militar e seguir carreira. Os meus professores diziam que eu era vibrador, uma gíria para militar de raiz, aquele que ama o que faz. E assim me tornei um soldado de Caxias. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS A minha mãe sempre morreu de medo de me mandarem para a guerra. Coisa de mãe. Desde o meu curso de formação ela rezava todos os dias para o Brasil não entrar em algum tipo de conflito. Ela mal sabia que nós lidávamos com uma guerra interna todos os dias, na selva, na fronteira, para onde fôssemos chamados. O nosso inimigo não lutava pelos seus ideais religiosos, pelo controle do petróleo ou por represália como os terroristas. O nosso inimigo se escondia nas sombras, invadia as nossas fronteiras trazendo drogas e armamento contrabandeado. No meu curso eu tinha me destacado nas missões de selva, onde a sobrevivência em ambientes hostis te levava ao limite dos seus próprios limites. Na selva você se tornava meio humano, se tornava parte da floresta e era assim que conseguia passar dias esperando para dar o bote. Claro que uma cama macia e um ar condicionado vinham bem, mas eu me adaptava. Quando era necessário eu estava pronto para servir ao meu país mesmo sem ser reconhecido, sem ser aplaudido, sem ser exaltado. Apesar de eu amar a minha família com todas PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS as minhas forças, eu ainda não tinha encontrado um motivo para parar de participar de missões de selva e muito menos me especializar. A mulher capaz de me fazer sossegar ainda não tinha aparecido, eu continuava curtindo a minha solteirice mesmo com 30 anos. A minha dedicação a farda verde oliva era tamanha que eu era enviado para fazer cursos no exterior e depois trazer os conhecimentos adquiridos, como aconteceu com o curso no Exército Americano e no FBI três anos atrás. Eu precisava reconhecer que eles eram muito bons, sabiam trabalhar com a tecnologia a seu favor. Aprendi muito, fiz muitos contatos, incentivei intercâmbios. Graças a estas experiências que o Brasil estava investindo na força militar mais especializada em todas as Forças para garantir a soberania nacional. E foi quando eu estava voltando da minha última missão na Amazônia que recebi uma notícia que abalaria toda a minha família. – O casamento foi cancelado, Beto. Eu não sei o que aconteceu, mas a Quel decidiu e não quer voltar atrás. Cancele o seu smoking. – Como assim, mãe? PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS – Simplesmente assim. – Eu vou ligar pra ela. – Nem perca o seu tempo. – Por quê? – Ela só nos avisou no final de semana passado, mas eles tinham desmanchado na segunda. A Quel entregou o apartamento, Beto. Ela saiu de casa e foi para um hotel. Jogou tudo para o alto mesmo. A mudança dela para um novo apartamento aconteceu em tempo recorde e ela fez tudo sozinha. – Essa é a Quel. – É... Ela ia trabalhar normalmente como se nada tivesse acontecido. Como tinha imóveis sobre a sua mesa, ela mesma fez a negociação da entrega do dela e o fechamento com outro. Para não ficar no prejuízo conseguiu realocar outros clientes. Ela fez uma manobra e pegou um novo em menos de três dias, no quarto a mudança das suas coisas estava feita e o que era do Daniel foi para a casa da mãe dele. Eu nem tenho cara para falar com a mãe dele, Beto. – Deve ter acontecido algo grave, mãe. – Se aconteceu ela não diz. O resultado é que a sua irmã está morando sozinha. Ela está mobiliando o apartamento e ainda disse que ia comprá-lo. Depois PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS de ter se instalado ela pediu férias e está viajando. – Heim? – Isso mesmo. A Quel se instalou no apartamento num dia e poucos dias depois pegou a estrada para o sul do país e sozinha! Como ela tinha férias acumuladas o seu pai ia dizer o que? Você sabe que ele não trata a Quel como filha na empresa, ela é uma funcionária. – Maluca. – Muito! Da última vez que ela me deu notícias estava chegando a Florianópolis. A sua irmã é doida. Sim, ela não era muito normal, mas a sua reação foi muito estranha. Depois de falar com a minha mãe liguei para o Daniel. Nós éramos amigos desde a escola primária, brigamos feio porque ele se apaixonou pela minha irmã. Ele sempre foi louco por ela, eu precisava saber o que estava acontecendo. – Oi, Beto. – Acabei de saber que a Quel acabou com o casamento. – É... – O que aconteceu, meu? – Ela não te disse? PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS – A Quel não deu explicação para ninguém, simplesmente se mandou. Ela está viajando. – Entendi. Olha, foi coisa nossa. Deixa assim, ok? – Beleza. – Continuamos amigos? – Claro... A nossa amizade não tem nada a ver com o que vocês têm ou tinham. – Porra. Tô aliviado, meu... Eu não quis me intrometer na vida deles, mas foi o meu erro. A minha irmã sempre foi muito segura de si, sempre se mostrou extremamente apaixonada por ele, não jogaria tudo para o alto de repente sem um grande motivo. Eu ainda me martirizo por não tê-la apoiado naquele momento. Lembro que a Quel se distanciou muito de mim, eu devia ter percebido os sinais. Como eu servia em Brasília, nós nos falávamos mais pelo telefone, celular e pela internet, principalmente. Ela me deixava a par de como estavam as coisas com os nossos pais. Eu estando longe não tinha como pegar um carro e chegar em minutos como ela, então eu dependia da minha irmã para isso. Para ajudá-la eu fazia alguns serviços em Brasília. A empresa dos meus pais cresceu muito. São PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS Paulo ampliou os nossos horizontes, tínhamos clientes em vários lugares, principalmente em Brasília, a capital do país. Grande parte dos políticos vivia na ponte aérea entre a cidade e os seus domicílios eleitorais, alguns eram nossos clientes. Foi assim que eu comecei a fazer alguns serviços, encontrando casas ou apartamentos para esses políticos recém eleitos e também depois. Quando não eram reeleitos eles nos contratavam para vender ou alugar o imóvel. Sabendo que o meu horário nem sempre era livre, todos os serviços ou agendas para apresentar os imóveis dependiam de como estava a minha vida no quartel. No início foi bem complicado, mas com o tempo fui me adaptando. Era um dinheiro a mais na minha conta. As comissões dos imóveis me salvavam em alguns meses. Eu não tinha aceitado ser um funcionário como a Quel e receber um salário, preferi receber quando eu fazia algo. O meu pai era exigente demais, ficaria no meu pé e eu teria que ficar explicando o motivo de eu simplesmente não trabalhar no horário normal de expediente. Várias foram as vezes que eles precisaram de mim e eu estava incomunicável. Eu trabalhava em escala e de uma hora para outra a minha equipe PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS poderia ser convocada, não tinha como planejar. E foi quando voltei da minha última missão e ouvi a mensagem na secretária eletrônica do meu apartamento que gelei. – Oi, filho. Preciso que você pegue a assinatura do Geraldo para fecharmos a venda do apartamento dele. Eu estou enviando pela empresa de transportes o material para que você vá se adiantando, tá? Quando ouvir a mensagem me dá um Ok pelo menos. – Ouvi a mensagem deixada pelo meu pai na quinta feira da semana anterior. – Filho... Seu pai está preocupado. – A minha mãe disse na mensagem deixada no dia anterior. – Ele não recebeu o seu Ok. A transportadora avisou que deixou no seu condomínio. Te entregaram? Ah... Tem outra coisa. A Quel se envolveu em um assalto. Roubaram o banco onde ela estava, deu até na TV, todo mundo na empresa acompanhou e a gente nem fazia conta de que ela estava lá dentro. Seu pai está possesso! Ela com essa mania de não envolver as suas contas na empresa e deu nisso. O Daniel nunca reclamou de administrar essas coisas, mas desde o fim do noivado ela está assim. Não sei o que deu na sua irmã... Mas pelo menos ela está bem. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS Eu fiquei super nervoso com aquela notícia. Antes de ligar eu fui buscar na internet que assalto foi esse e achei. Realmente em momento alguma falaram o nome dos reféns, mas só de saber que ela estava lá meu deixou nervoso. Para piorar o celular dela estava dando fora de área, tive que apelar para o que ela deixava em casa e mandei uma mensagem que ela só me respondeu vários dias depois. – Oi, Beto. – Finalmente, né? Eu fico sabendo que você ficou refém em um banco e você some! – Eu estava ocupada, só isso. – Sei... Ocupada com aqueles cursos de homens pelados? Conta outra, Quel. – Pior que dessa vez você errou. Eu estou passeando, viajando, curtindo as minhas férias. – Eu só poderei estar em São Paulo para o meu aniversário. Você vai, né? – Vou pensar... – Qual é! – Estou brincando, seu bobo. Eu vou sim. – Quel... Você está diferente. O que foi? O assalto te fez olhar a vida com outros olhos? – Não, seu filósofo de viaduto. Eu estou bem, só isso. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS – Então tá. E veja se não some. Eu te deixei mensagem tem séculos, Quel. Cadê o seu outro celular? – Ah... Molhou e apagou. Eu terei que comprar outro, mas guardei o chip. Estou na esperança que ele seque e retorne dos mortos. – Ela brincou e gargalhou. – Você está de bom humor. Gostei. – A gente se vê lá no sítio então. Beijo. – Ela simplesmente desligou na minha cara? – Resmunguei comigo mesmo. Na segunda eu precisei viajar para uma nova missão, torcendo para voltar antes do meu aniversário e não ter que cancelar tudo. Era uma merda essa indecisão, mas o que eu poderia fazer? Era a minha profissão ficar aguardando um chamado e no meio tempo me manter em forma. A minha equipe ficou entocada por cinco dias no meio do mato esperando o comboio com as drogas passar pela trilha de chão batido e também por uma clareira que tinha sido recém-aberta pelos traficantes. As imagens de satélite revelaram que os colombianos estavam usando aquela rota, nós precisávamos agir e impedir que o carregamento chegasse ao seu destino. Os homens já estavam PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS cansados das rondas e da tensão, mas o grande dia chegou. Nós estávamos bem armados e bem treinados para aquele tipo de missão, então foi o comboio começar a chegar para os pneus começarem a estourar. É claro que eles também estavam bem armados, mas não tinham coragem de dar a vida pelo carregamento por mais que valesse uma pequena fortuna. Um por um os traficantes foram se entregando. Como a nossa operação era conjunta com a Polícia Federal, os presos e a droga foram entregues e a nossa missão encerrada a tempo do meu aniversário. – Espero vocês no sítio. – Não perco por nunca! Comida a rodo, cara! – O Pedrão brincou enquanto guardávamos o nosso equipamento no quartel. – Boca livre às custas do Betão. – O Rafael emendou. – A bebida é por conta de cada um... Estão sabendo, não é? – Eu questionei e ri muito da cara deles. – Vocês são uns filhos da puta, mesmo. – Virou restaurante esse churrasco? – Se o meu pai te ouvisse falando isso ia te colocar para lavar o banheiro de casa, Rafael. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS – Sai fora. Aquela época já passou. Nada de fazer merda na rua e vomitar no sofá da tia. – Ele gargalhou ao lembrar. – Porra. Meu pai ficou muito puto. O velho queria te matar, meu. – Vai rolar um joguinho contra aquele seu primo cheio de marra de novo? – O Pedrão perguntou já rindo também. – Ele é muito mala, odeia perder e a gente adora sacanear o cara. – Está todo mundo confirmado, até a Quel. – E o Daniel também? – Ele é meu parceiro a vida toda. O lance deles acabou tem um ano, são águas passadas. – Se você diz... Eu só o vejo dando em cima dela toda vez que a galera se reúne e ela se esquiva. Sei lá, o negócio terminou estranho demais. – Também acho. Do jeito que ele fica se arrastando atrás dela, parece que foi ela que deu fim na parada e não que foi decisão dos dois. Para mim tem algo mais por baixo, tá sabendo? A tua irmã é super gente boa quando ele não está por perto, quando ele aparece o clima fica estranho. – O Rafael comentou. – Eu também já percebi, mas ela não fala o motivo real. A minha mãe também jura que não sabe. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS – Mudando de assunto, teremos gatas? – Quem sabe. Alguns dias depois eu desembarquei em São Paulo e fui direto para o sítio, precisava descansar. A minha família só chegaria em alguns dias, a casa ficaria completamente lotada, mas enquanto isso não acontecia a piscina era só minha. A solidão não era algo que me assustava, pelo contrário, era uma boa companheira depois de uma missão bem sucedida. Nem sempre eu conseguia dormir bem e ter que explicar alguns pesadelos não era fácil, sozinho eu conseguia superar, mesmo que fosse malhando por algumas horas até apagar. – Cadê o meu filhote? – A minha mãe perguntou ao entrar toda sorridente na cozinha do sítio na sexta a noite. – Você está prestes a nascer, então a mamãe trouxe um empadão de palmito especial, o seu favorito. – Eu te amo, mãe. – Sussurrei depois de a beijar o rosto. – Eu sei. – Parem e escutem o silêncio. Em menos de 12 horas isso aqui estará um caos. – Estamos contando com isso, filho. – O meu pai comentou quando entrou trazendo bolsas de PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS mercado. – Vamos lá, molenga! Está esperando convite para me ajudar a tirar as coisas do carro? – Eu também te amo, pai. Como eu havia previsto a família veio em peso e os meus amigos também. A equipe do buffet que a minha mãe tinha contratado por mim tinha madrugado, estavam deixando tudo pronto. Eu não seria filho da puta e colocar todo aquele peso nas costas da minha velha, seria muita sacanagem. Estava tudo bem até que a minha irmã me aparece com um cara novo, um que eu nunca tinha visto e pelo que percebi nem os meus pais estavam sabendo da sua existência. Ele não era do nosso meio, deu logo para perceber, faltava descobrir como eles tinham se conhecido e porque a minha irmã o trouxe no meu aniversário para apresentar a família. Tinha história por trás daqueles dois e eu precisava saber. – Nós nunca ouvimos falar de você. – Comentei de cara quando apertei firme a sua mão. O cara não se intimidou. – Eu imagino. – Então... De onde você conhece a minha irmã? – Beto! Sou grandinha e capaz de conhecer pessoas longe do seu umbigo. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS – Qual o problema, Raquel? Ofende perguntar? – Questionei e joguei logo a bomba para sentir o clima. – Por acaso ele é um dos seus modelos nus? Eu sabia que a minha irmã fazia aquelas porras de cursos, sempre reclamei. Se aquele cara fosse um desses modelos ou se ela tivesse mentido para ele eu saberia logo, mas me enganei. Na verdade o que eu escutei depois daquilo me surpreendeu bastante. O cara tinha culhões. – Quem me dera... – Jack! Meu Deus! Vocês podem parar com isso? Mãe! Fala alguma coisa! – Não posso, filha... Estamos todos curiosos em saber onde você conheceu esse rapaz tão bonito. – Tá... Nós nos conhecemos no banco. Pronto, satisfeitos? Seguimos com a nossa programação normal. – Que banco? O do assalto? – É, mãe. Nós fomos reféns juntos, tá? Depois a gente se encontrou e começamos a sair juntos e pronto! Satisfeitos? – Não mesmo. – Disse os impedindo de passar e me encostei à parede cruzando os meus braços para saber da história completa. – Queremos detalhes. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS – Não enche, Beto! – A Quel resmungou, mas eu a abrace. – Você é minha irmã. Deixe-me fazer o papel de cunhado mala. – Você é um mala. Deixa o Jack em paz senão ele desiste de mim. Acha que é fácil agarrar um homem como aquele? O único bonitão que conheço é você, não dará certo. – Eu nunca desistiria de você, Raquel. O tal de Jack disse todo mulherzinha para a minha irmã, bem do jeito que as mulheres se derretem, mas o lance foi que ele estava me encarando. O cara teve a audácia de me desafiar na frente da minha família. Ele estava dizendo claramente que nada o impediria de ficar com ela. – Eu entendo esse seu ímpeto em proteger a irmã mais nova, mas fique tranquilo que ela está bem protegida. E não, não sou modelo de nu artístico, sou médico. – Médico? – A minha mãe perguntou toda interessada. O filho da puta estava conseguindo ganhar a minha mãe como ganhou a minha irmã. Eu não estava gostando desse cara. Saquei logo que as mulheres na festa fariam fila por um “oi” do cara. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS Os meus amigos também ficariam putos e ainda descontariam em mim. O cara era a porra do pacote completo para enganar garotas, era o que o meu cérebro gritava. – Trabalho no Médicos Sem Fronteiras, atualmente estou atuando no escritório na Grã–Bretanha. Eu sou filho de um brasileiro e uma inglesa, por isso vivo em Londres. Meus pais já faleceram, mas eu ainda tenho alguns contatos aqui, por isso estou em São Paulo. – E do nada caiu de paraquedas na vida da minha irmã. – Eu tive que completar sarcasticamente, não aguentei. A Quel ficou puta e me deu uma baita rasteira. – Na verdade ele se jogou quando me salvou de um tiro, seu idiota! O Jack se jogou em cima de mim quando teve um tiroteio dentro da agência. – Você não me contou isso. – Por que será? Você fica todo homem das cavernas, Beto! E com isso eu tive que dar o braço a torcer e baixar a guarda, mas nem tanto. Eu ainda precisava de mais tempo para conhecer e tal de Jack. Quem tem esse tipo de nome? – Obrigado por ajudar a minha irmã. – Agradeci ao PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS apertar a mão do tal de Jack que apenas assentiu. – Mas ainda preciso avaliar se você é bom o suficiente. Saiba que você está substituindo um grande amigo meu. Eu estava ansioso para ver a reação dos caras ao novo namorado da Quel, com certeza todo mundo ficaria quem nem partida de ping pong, olhando para eles e para o Daniel. Não era segredo algum que o meu amigo estava tentando voltar com a minha irmã desde que eles se separaram, mas eu sabia que ele andava pegando umas garotas. Nós chegamos a nos esbarrar em umas boates, mas ele apenas disse que estava tentando esquecer. Eu preferia não me meter na vida deles, mas aquela festa mostraria que a minha irmã tinha mesmo partido para outra, mesmo que tenha levado um ano para isso acontecer. Eu sabia que enquanto ele estava à caça, ela estava na dela. A Quel nunca precisou esconder nada, se ela não tinha falado era porque não tinha acontecido. Como era previsto as garotas foram logo se chegando na Quel, mas de olho no cara. E como eu tinha previsto, os meus amigos reclamaram. – O cara é pintoso. – O Pedro comentou enquanto pegávamos uma cerveja. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS – Isso porque você não viu o filho da puta falando inglês. A porra vive em Londres. – Então está explicado o estilo 007. – Olha isso. – O Rafael resmungou quando pegou também a sua latinha. – As garotas só faltam levantar a blusa e mandar chupar. – Mais respeito. – Avisei e lhe dei um tapa na cabeça. – Tem prima minha lá. – Foi mal, mas estou errado? O pior era que ele estava certo. Observando dava para perceber que o cara estava desconfortável. Eles tinham tentado se esquivar, foram para dentro de casa onde passaram um bom tempo, mas não adiantou. Até a minha mãe estava percebendo o assédio sobre eles dois. Então, como um bom irmão eu fui lá e o chamei para interagir com os homens. Ok, eu estava querendo é me aproximar e tirar algumas informações, a quadra foi o melhor lugar. – Estamos precisando de mais um. – Comentei ao me aproximar e indiquei a quadra de vôlei de areia. – Vai lá. – A Raquel o incentivou. Não é que o cara jogava bem? Os meus amigos estavam sacando a minha curiosidade e PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS entraram no clima, sempre perguntando algo enquanto o cara estava jogando. O objetivo eram as respostas automáticas, mas ele parecia estar focado demais em tudo em volta, não deixou escapar nada de interessante. O tal de Jack parecia ter uma cartilha muito bem decorada, mas o meu instinto me dizia o tempo todo que havia algo por trás daquela fachada de médico. Uma coisa eu precisava admitir, ele trouxe de volta o brilho nos olhos da minha irmã. A Quel ficou um ano na dela, não brincava com os outros como antes, estava sempre a um braço de distância, até mesmo de mim. Naquele dia depois de meses ela sacaneou até o meu primo. Ela e o Sandrinho eram como melhores amigos, mas ele também era muito chegado ao Daniel, como eu. Depois que eles desmancharam e nós não afastamos o Daniel do nosso ciclo de amigos, ela naturalmente deu um passo atrás. – Esse meu time vai acabar contigo, Sandrinho! – Sai fora, Quelzinha. Sou da família. – Mas ele é meu namorado e o Beto meu irmão. – Não quero saber! Eu que te passava cola. – É ruim! Até parece, perdedor. – Agora é revanche! Quero revanche, Beto. Vou PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS acabar contigo e esse cara aí. Tá pensando o que? Chega agora na família e quer tirar a minha torcida? – Ela é minha garota. Tem que torcer para mim. – O Jack deu o aviso antes de ir a lateral e beijar a Raquel. As garotas estavam todas em volta apreciando o espetáculo. Deu para ouvir o suspiro dela quando o cara tirou a camisa e deu para a Quel. – Segura aí. – Vai lá, amor. Acaba com ele! Aquela era a minha Quel, ela estava de volta. Eu vi o sorriso dela enquanto jogávamos e também se desfazendo quando o Daniel resolveu se aproximar novamente. Ele era meu amigo, mas a minha irmã estava com um cara novo, tinha que respeitar. Além de mim saquei que o Rafael e o Pedrão também sacaram, mas o problema foi que alguém mais estava alerta e pelo visto sabendo muito mais que eu. – Se liga! – Resmunguei quando fizeram mais um ponto na gente. – Quem é o cara? – O Jack me questionou olhando para o Daniel e a Quel na lateral da quadra. – O Daniel. Ele é meu amigo e ex–noivo dela. – Tô fora do jogo! – Ele avisou erguendo a mão. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS – Qual é! – Ele pode ser seu amigo, mas não vou permitir que ele a magoe mais. – Do que você está falando? – Questionei o segurando pelo braço quando o cara deu um passo, mas foi naquele momento que vi o seu ferimento de bala aberto. O cara tinha salvado a vida da minha irmã e estava sabendo de algo relacionado ao Daniel. Veja como a vida era estranha, dias antes os meus amigos estavam levantando suspeitas sobre o fim do noivado, agora o cara me veio com essa. Eu ia aproveitar o momento para descobrir mais alguma coisa, mesmo que à força. Ficar sem saber estava me incomodando demais. – Bora lá ver isso. – Está tudo bem. – Quel! Eles acabaram indo cuidar do ferimento. Eu fiquei encarando o Daniel que disfarçou e me pediu a vaga. Ficou um clima estranho por um tempo, mas o meu primo era palhaço demais. O Sandrinho tratou logo que colocar uma aposta no jogo valendo um shots de tequila depois da festa, nem precisa dizer que a galera toda se animou. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS – Fala com o seu amigo que a sua irmã agora está comprometida com um médico. – A minha mãe resmungou enquanto eu tomava uma chuveirada perto da piscina. – Não vou me meter nisso. – Precisa. Ele é um ótimo rapaz, é médico e salvou a vida dela. – E daí, mãe? – E daí que ela está feliz... Bem, fica quando o seu amigo não está enchendo o saco, Beto. Olha ele lá conversando com o seu pai. Quantas vezes o Daniel fez isso? Quantas vezes o seu pai ficou tão animado também? O Jack é um bom rapaz e eu estou feliz pela Quel. Dá um jeito nesse seu amigo. A minha mãe estava insistindo tanto que eu fui conversar com o Daniel, mas foi no mesmo momento que ouvi um helicóptero passando baixo. Aquela região não tinha um tráfego aéreo intenso e muito menos heliporto para pousar. – E aí? – Fala, Beto. – Olha, eu nunca me meti na vida de vocês, mas ela está em outra agora, melhor você dar um tempo. – Quem é esse cara? – Não importa, cara. Já faz um ano. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS – Eu ainda tenho esperanças de que ela me aceite de volta. – Não vou entrar na discussão se ela deve ou não. Você é meu parceiro, Daniel... mas ela é minha irmã. A Quel está bem de novo e não quero climão, valeu? Foi enquanto eu conversava com ele que vi a minha irmã entrando às pressas em casa com o Jack. Achei estranho e fui atrás, mas quando saí vi apenas a poeira do carro partindo e ela visivelmente preocupada. – Tudo bem, Quel? – Está sim. – Cadê o seu namorado? – Precisou voltar a São Paulo... Alguma chamada do trabalho. – Sei... Vamos, a mamãe estava te procurando. O meu aniversário estava virando um dia de revelações e ainda estávamos praticamente no meio da tarde. Eu não fazia ideia do que poderia vir pela frente, mas sentia uma tempestade se aproximando. A Quel firmou aquela história do médico saindo para curar os feridos, eu não acreditei. Achei melhor ficar de olho nela para tentar me aproximar e conversar. Eu percebia a tensão dela ao olhar toda PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS hora para o telefone, mas ela não era boba, toda hora se esquivava. Toda hora tinha alguém perto dela, alguém pedindo algo, até que a vi discutindo com o Daniel. Eu tinha pedido para que ele a deixasse em paz, mas pelo visto foi o Jack sair para ele tentar mais uma vez. Pelo visto seria a última. Eu não gostei nada do que eu vi, a forma como ele a estava tratando, mas só consegui pegar o final da discussão. – Quel... Eu sei que eu errei, mas eu te amo. – Ele disse quando a virou para sair e ele a segurou o braço. – Mas eu não. Eu fiquei encarando o Daniel mesmo depois da Quel se afastar. O cara estava exagerando, precisei ter outra conversa com ela. O clima no churrasco ficou pior depois daquilo, o Pedrão e o Rafael se chegaram também e me apoiaram. Não sei quanto tempo nós ficamos discutindo, mas quando fui procurar a minha irmã ela tinha sumido. As minhas tias cismaram que queriam tirar fotos comigo, mesmo sabendo que durante as fotos elas voltariam com as histórias de quando eu era pequeno. Os meus amigos adoravam me ver passando vergonha, principalmente o Pedrão e o PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS Rafael, eles me zoariam com aquilo no quartel eternamente. – O Betinho era um amor de menino quando eram um bebê. Tão lindinho na escola primária. – Conta mais, tia. – O Pedrão perguntou todo interessado. – Ele era apaixonado pela professora, se arrumava todo, tinha que ver. – É mesmo? – Em casa ele até fazia desenhos dela. – Mentira, tia... Olha isso. Para de rir, filho da puta. – Resmunguei quando o Pedrão gargalhou. – Desculpa, tia. Mas esquece isso, pelo amor de Deus. – Não, Beto... Você fez o mesmo comigo. – O Pedrão insistiu e se sentou ao lado da minha tia. – Conta, tia. Eu preciso de detalhes. O Beto por acaso... dançava pelado na chuva? – Como você sabe? – Ela perguntou fazendo todo mundo em volta rir. – O Betinho adorava tomar banho de mangueira no quintal lá de casa. Ficava ele e o cachorro tentando beber água da chuva. – Mesmo, tia? Eu merecia. O Pedrão e o Rafael eram os meus alvos preferidos, mas eu estava pagando. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS Tentei me esquivar para ir atrás da Quel, mas não teve jeito, me alugaram. Até perguntei a minha mãe quando comentei que queria jogar cartas com a Quel, mas ela só apareceu mais de meia hora depois. Era para ser um momento nosso, para nos conectarmos como irmãos e ela ver que eu estava lá por ela, fosse qualquer o motivo. O meu pai tinha um grupo de amigos que gostavam de jogar, então fomos para a sala de casa para usar a sua mesa de feltro verde. Era o único lugar da casa que parecia ter mais privacidade. Do lado de fora dava para ouvir a gritaria na piscina ou o papo animado em volta da churrasqueira. – Notícias do Jack? – Perguntei enquanto eu embaralhava as cartas. – Não. – Sei... Ele volta? – Espero que sim. – Não sabe? – O que é, Beto? Ele foi chamado para trabalhar. Eu não sei se ele volta porque não sei qual a necessidade dele nessa emergência. Mas que saco! – Ih, calma, garota. Só estou preocupado. – E eu estou de saco cheio. – Está na TPM? Se for avisa logo que fico longe. – PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS Brinquei para descontrair o clima fazendo o sinal da cruz. – O Jack não sabe no que se meteu. – Posso jogar? – O Daniel perguntou ao se aproximar. – Não. Esse é um jogo de minha família. A outra dupla são os meus primos. – A Quel avisou logo. – Qual é, Quel. – Estou fora, Beto. A minha irmã se esquivou dele e foi embora nos deixando sozinhos em mais uma discussão. Ele não se tocava que tinha perdido a garota. – Ela ainda gosta de mim, Beto. – Maneira estranha de demonstrar. – Cadê a Quelzinha? – O Sandrinho perguntou ao entrar com o seu pai ao lado. – Ela está fora. Se quiserem, podemos abrir uma exceção e deixar o Daniel jogar. Eu senti que o meu tio não curtiu muito, mas aceitou e começamos uma partida. Nós estávamos no meio do jogo quando vi a Quel passar pelo corredor e não demorou para eu saber o motivo do sorriso der voltado ao seu rosto, o Jack tinha voltado. – Achei que você não voltaria mais hoje. – Comentei com o Jack quando fui pegar uma PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS cerveja e ele estava abraçado com a minha irmã. – No meio do caminho me dispensaram e voltei. Conseguiram um outro cirurgião. – Ainda bem. – A Quel disse toda melosa. – Bom te ver sorrir de novo, maninha. Percebi que o Daniel ficou de olho nos dois, até o meu pai tinha percebido e veio falar comigo. O meu amigo estava bebendo demais também, era capaz de fazer merda. Ele quase seguiu a Quel e o Jack para dentro de casa, tive que intervir novamente.

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VERDADES – Porra. Não vou ficar de babá. – Resmunguei com o meu pai quando ele veio reclamar do Daniel. – Melhor alguém tomar uma atitude. – A minha mãe me pediu. – A sua irmã ficou tão feliz quando ele voltou. Não quero eu ter que dizer algo. – Está bem. Eu vou lá falar com a Quel e depois colocar o Daniel para casa. A minha intenção era conversar com a minha irmã sobre o que estava realmente acontecendo. Eram sinais demais, frases soltas que eu pegava, mas nada fazia muito sentido, até aquele momento. Eu tinha acabado de entrar no corredor quando ouvi os dois conversando. A decepção e a raiva surgiram em mim como nunca. – Ele frequenta a casa dos seus pais depois de ter feito isso contigo! É um absurdo você manter isso para você mesma, como se você fosse a culpada. Fica todo mundo querendo juntar vocês de novo. – Ele é amigo do meu irmão desde que eram PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS crianças. – Por isso mesmo! O Beto deveria saber o que esse cara fez contigo. – O que o Daniel fez, Quel? – Questionei depois de ouvir aquilo e entrei na na sala. – Oh, meu Deus! – Fala, Quel. – Questionei irado e a levantei segurando-a pelos braços. – Larga ela! – O Jack reagiu se colocando entre nós. – Segura a raiva que não deveria ir para ela. – Você sabe então. O que o Daniel fez com a minha irmã? – Com a sua irmã? Nada... – Jack! – A Quel arfou quando viu que ele me contaria toda a verdade. – Ele fez com a diarista. A Raquel pegou os dois fodendo sobre a mesa da cozinha, Beto. O seu amigo, o que frequenta a sua casa e lida com os seus pais sem qualquer cerimônia traiu a sua irmã meses antes do casamento com a diarista dentro da casa dela. O seu amigo é um filho da puta. – Oh, meu Deus! – A minha irmã gemeu e se sentou no sofá mais próximo. – Quel... É verdade? – Questionei pasmo e ela assentiu. – Porque você não me contou? Todo PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS mundo achou... – Que eu o tinha traído e ele tinha descoberto. Eu escutei esse tipo de conversa. Se eu dissesse o contrário quem ia acreditar em mim? – Eu. Eu nunca acharia que você estaria mentindo. – O que está acontecendo? O meu pai tinha ido atrás de nós, mas não chegou sozinho, trouxe o filho da puta a tira colo. – Não! – A Quel me pediu quando eu ia tirar satisfações com o Daniel. – Saia da casa dos meus pais. – Qual é, amigo... – Amigo é o caralho! Seu filho da puta! Você deixou todo mundo achando que ela era a culpada do rompimento enquanto você comia a diarista! – Como é? – Meu pai questionou. Vi que ele olhou para a minha irmã. – Beto... Isso tudo foi um mal entendido. – Mal entendido? – A Quel gritou quando o Daniel tentou se explicar com mais uma mentira. – Seu safado! Está dizendo que estou mentindo? – Não é isso, Quel. – Não me chama de Quel! Não fala mais comigo! Sai daqui! PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS – Foi um momento de fraqueza... – Fraqueza? Seu filho da puta! Naquele momento todo o freio que mantinha o meu punho longe da cara daquele filho da puta não foi suficiente para me segurar. – Seu filho da puta. – Gritei enquanto socava o filho da puta. – Chega, Beto. – O meu pai gritou, mas eu não parei. – Você era meu amigo! Maldito! – Beto! A sala foi ficando lotada enquanto o Jack e o Rafael me seguravam e o Pedrão impedia do Daniel chegar ao Jack. Ele tinha sacado quem o tinha delatado e estava querendo revidar, mas não conseguia. Ele só parou quando o meu pai se colocou entre nós e o mandou embora não somente da nossa casa, mas da empresa. – Passe no RH durante a semana. Eu não quero mais ver a sua cara, rapaz. – Tio... – Tio é o caralho! – Meu pai rosnou baixo. – E faça uma carta de demissão, porque eu não te pagarei um centavo sequer. Quando olhei em volta não vi a minha irmã, PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS mas dava para ouvir o seu choro no corredor. Ela estava abraçada ao Jack, eu precisava de respostas. – Agora nós, mocinha. – Agora não é o melhor momento, Beto. – O Jack me pediu. – Ela não está... – Não me diga como eu tenho que lidar com a minha irmã. – Você está de cabeça quente e ela só precisa de apoio. – Não se meta, cara. – Eu preciso me meter quando você está sendo um idiota. Se coloca no lugar dela. Não entende o motivo de ela ter escondido? Ela só fez isso por sua causa, para não estragar a sua amizade com ele. – Quel? Ela nem precisou dizer nada, era a sua cara aquele tipo de coisa. Eu devia ter desconfiado, mas fui um idiota em acreditar que não deveria me meter. A minha irmã ficou triste demais para quem tinha desmanchado o noivado, na frente dos outros era como se nada tivesse acontecido. Os meus pais também nos abraçaram, ela precisava daquilo. – Eu quero bolo. – Sussurrei fazendo a Quel rir. – Com chantilly e cereja. – Com calda de caramelo? PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS – Se você quiser eu arrumo até uns confeitos. – A calda já está de bom tamanho. O clima ficou bem estranho, mas foi só eu subir na cadeira dizendo que a bebida estava liberada para a galera entrar na brincadeira. O Pedrão e o Rafael começaram a me sacanear, as minhas primas começaram a me pedir para dançar que nem garoto de programa e até a minha tia balançou uma nota de cinquenta reais. O que eu podia fazer? Beber. Eu mesmo estava me julgando como um idiota, um irmão de merda. Vi os meus pais conversando com os meus tios, provavelmente explicando o que tinha acontecido enquanto a Quel era servida pelo novo namorado, o que eu teria que bater um papo em breve. Eu tinha a minha carreira, mas a minha família deveria estar em primeiro lugar. Não saía da minha cabeça que se eu estivesse por perto perceberia melhor os sinais. Os vendo esporadicamente ficava complicado. – E aí? – Oi, Beto. Não acha que já bebeu demais? – Hoje eu posso, Jack. Não vou dirigir e acabei de ficar sabendo que o meu melhor amigo traiu a minha irmã. E tem mais... não é só isso não... Por PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS um ano o filho da puta frequentou a casa da minha família como se nada tivesse acontecido. O filho da puta me pediu ajuda para convencer a Quel a voltar e eu disse que ia ajudá-lo. Um ano sendo o mais otário de todos. – Ele usou a amizade de vocês para... – Mas fique sabendo... eu não caio mais nessa. Se você sacanear a minha irmã despertará um dia com uma 9mm no meio da testa, entendeu bem? Você sabe o que é um 9mm, doutor? – Sei sim. – Muito bem, estamos conversados. Sacaneou, morreu. – Combinado. – Enquanto você a estiver fazendo feliz pode continuar vivo. – Recado dado, irmão mais velho. Lembro vagamente da gente apertando a mão e depois ele me dando um abraço. O cara era legal, pelo menos aparentemente. O resto da festa foi um borrão. Eu realmente bebi demais, acordei com uma puta dor de cabeça jogado na minha cama com a mesma roupa do dia anterior. Uma coisa era certa, a minha mãe me daria uma bronca pesada se eu tivesse aprontado. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS Depois de um banho quente eu me senti inteiro novamente. A cabeça ficou sobre os meus ombros, não jogada por aí como eu me sentia antes. Eu estava precisando desesperadamente de um café, mas precisei de dois para entender que a Quel tinha aceitado se casar com o Jack, um cara que ela tinha acabado de conhecer. A minha mãe também não gostou disso, mas como era coração mole se derreteu toda depois de ver o anel que ele tinha comprado. O cara não jogava para perder. Pelo menos eles concordaram em esperar seis meses para se casar e não sair fazendo aquela loucura. A Quel teve que concordar comigo quando eu lembrei que para entrar na União Europeia era preciso uma coisinha chamada passaporte, sem falar nos trabalhos dela, no compromisso que tinha com a empresa. O meu pai precisaria de alguém de confiança para colocar no lugar dela, não dava para fazer tudo de um dia para o outro. Como eu tinha que voltar para Brasília conversei com a Quel e pedi que ela me desse relatórios diários, o mesmo pedi aos meus pais. Eu nunca tinha me arrependido de ter optado por Brasília até aquele momento. Sabendo que eu teria que ir mais vezes a São PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS Paulo para acompanhar o andamento das coisas entre a Quel e o namorado estrangeiro, assim que pousei em Brasília liguei para um amigo da Aeronáutica. Ele era responsável pelas agendas de voo, sempre me conseguia uma carona. Eu pedi que ele me arrumasse uma carona para um final de semana ainda naquele mês, antes da minha irmã ir para Londres encontrar o namorado, noivo, seja lá o que eles tinham. Em paralelo eu tentei descobrir mais sobre esse tal de Jack. No dia seguinte ao meu aniversário tentei captar o maior número de informações. Investigação não era o meu forte, mas eu tinha contatos. Desde que fiz o meu primeiro curso no FBI mantive contato com algumas pessoas e foi a uma delas que recorri assim que retornei de uma incursão no Pará na semana seguinte. Avisei que era uma questão pessoal, mas também de segurança. O meu amigo não demorou sequer dois dias para conseguir tudo o que eu precisava, confirmou todas as informações. Existia realmente um homem com o seu nome, a mesma foto no passaporte e data de chegada ao Brasil. O meu contato também me confirmou que o Jack residia em Londres, era PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS médico e que tinha embarcado para o seu país exatamente no dia que a Quel me disse. Saber me deixava mais tranquilo, mas além dele ainda havia uma pedra no nosso sapato. – Eu poderia ter pego um taxi. – Disse a minha irmã enquanto íamos para a base aérea. – Você pagou a conta do financiamento esse mês? – Dessa vez paguei. – Ela brincou, mas de repente ficou calada de novo. – Está tudo bem entre você e o Jack? – Está sim. – Ainda vai viajar? – Vou. Estou ansiosa para conhecer Londres. – Então... Você está querendo dizer algo. Despeja. – O Daniel. – O que tem ele? – Acessa a minha caixa postal. Ela me passou o celular e logo na primeira mensagem eu o reconheci. Eram várias mensagens do Daniel pedindo para que eles conversassem, a chamando para almoçar, jantar, tomar café ou qualquer coisa que ela quisesse fazer. O cara ficava dizendo que a amava e até mesmo que estava arrependido. Foi degradante ouvir tudo aquilo, mas ainda tinha mais. Ele estava mandando mensagens PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS nas redes sociais também, ficava postando imagens românticas e até a marcando em fotos antigas deles dois juntos. – Eu estou ignorando. – Melhor coisa. – Mas ele está aparecendo lá em casa, Beto. – O que? – Eu não quis falar com o papai porque ele está com raiva ainda. Quando o Daniel foi lá na empresa foi o maior clima. – Deixa comigo. Fui de São Paulo a Brasília pensando no que fazer em relação ao Daniel. Se fosse necessário eu faria uma visita, mas estava querendo evitar chegar a isso. – Oi, Bet... – Não liguei para bater papo já que de amigo você é uma merda. Estou sabendo que você continua procurando a minha irmã. Qual é? A porrada que levou não foi suficiente? – Estou tentando... – Está perdendo o seu tempo e perturbando a minha irmã. Se toca, Daniel! Se liga que estou te dando um aviso já que éramos amigos, fique longe dela. – Está me ameaçando, Beto. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS – Não me provoca, Daniel! – Tudo bem... Naquela mesma semana a minha irmã me ligou confirmando a sua viagem e que o Daniel tinha dado um tempo. Pude então relaxar. Ficar de olho na vida dos outros tendo a minha em caos era uma merda. Eu estava saindo com uma garota em Brasília, mas não estava mais dando certo. Ela era uma promotora pública e estava sempre questionando as ações dos militares na segurança pública em vários estados. Nós sempre acabávamos discutindo toda vez que ficávamos juntos. Já fazia tempo que não tínhamos mais aquela conversa pós-sexo, agora era discussão pós-sexo, não estava mais valendo a pena. O nosso gênio não batia mais, então dei um fim naquilo da melhor forma possível. – Oi, Mel. Olha, acho que não está mais nado certo. A gente passa mais tempo discutindo do que transando. Você é maravilhosa quando não estamos mais falando sobre trabalho, mas pelo visto não temos muita coisa em comum para conversar. Acho melhor seguirmos em frente, ficar cada um na sua. Eu queria poder falar contigo pessoalmente, mas como tentei falar contigo por cinco dias e você vive PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS dizendo que está ocupada tive que recorrer a sua secretária eletrônica. Então... é isso aí. Se cuida. Acho que não foi a melhor forma de encerrar. Dois dias depois ela deixou uma mensagem mal criada no meu celular, mas como ela demorou dois dias para ouvir a minha mensagem, eu sequer respondi. Eu tinha tentado, ela não tinha me dado a devida atenção, então é vida que segue. Peguei o meu avião e fui para São Paulo novamente, era aniversário do meu pai e a Quel estaria viajando para Londres no dia seguinte. Eu consegui com a minha chefia um dia para ir antes do final de semana. Como não teríamos nada programado, ele me liberou. Daquela vez comemoramos o aniversário do meu velho em casa mesmo. Ele estava querendo tranquilidade e ir para o sítio seria abrir as portas para outra festa, ainda estávamos de ressaca da última. A minha mãe fez o jantar favorito dele e a Quel trouxe uma torta. Às vezes ela se aventurava na cozinha. Como o meu tio tinha ido jantar conosco eu precisei ceder o meu quarto e fui para a casa da Raquel. O voo dela só sairia de noite, aproveitamos para ficar até de madrugada vendo filmes. A minha mãe tinha nos dado parte da torta PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS que tinha sobrado, foi a sobremesa da pizza de quatro queijos que mandamos entregar antes da meia noite. – Sentirei saudades, maninha. – Eu ficarei um tempo lá, mas volto. – Mesmo assim. – A gente se fala mais pela internet mesmo, seu bobo. – Ela brincou me dando um pequeno empurrão. – E quando você for de vez? Quem estará aqui para me dar guarida naquele quarto? – Oh, que drama... Você tem a chave, esqueceu? – Quer dizer que posso usar e abusar do seu apartamento enquanto você estiver fora? – Nada de orgias na minha casa! – Ela gritou e me bateu com uma almofada. – E nada de usar a minha cama! Vou colocar pó de mico nela. – Nem existe mais esse troço, sua velha. Era sempre assim, a gente se divertia. Nós éramos mais amigos que irmãos, por isso passávamos o máximo de tempo juntos, pelos menos era assim antes do rompimento do noivado e agora, depois que ela se acertou com o Jack. Nesse meio tempo eu só fiquei na sua casa umas duas vezes. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS Os meus pais passaram na casa da Quel e fomos juntos ao aeroporto nos despedir. Ela estava super ansiosa, era o seu primeiro voo internacional. Lhe dei algumas dicas e a mamãe também, o que era sempre hilário. – Nos mande uma mensagem quando chegar, filha. – Eu mando. Prometo, mãe. Não fica nervosa, já basta eu. – Tomou o remédio de enjoo? – Remédio de enjoo é para navio. – Brinquei abraçando a minha mãe. – Mas pode acontecer no avião, filho. Ela não mudava, fazia o mesmo comigo todas às vezes, principalmente se o voo era depois do almoço. Eu só tinha conseguido uma carona para o voo às duas da tarde e foi esse que peguei, cavalo dado não se olha os dentes. A Quel já tinha chegado a Londres, estava bem e eu tinha a minha vida para seguir, pena que as coisas não aconteceram como ela esperava. Eu estava jantando quando o meu celular tocou, era a minha irmã. – Beto... – Que merda aquele filho da puta fez? – Questionei quando senti que ela estava chorando. – A gente conversa aí, só quero ir para casa. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS – Pegue o primeiro voo, seja para onde for que eu te encontro. – Vai sair caro. – Foda-se o dinheiro. – Desculpe... – A culpa não é sua. Assim que ela me enviou os dados do voo reservei o meu para chegar quase junto, assim sairíamos de lá direto para a sua casa. Mandei uma mensagem para o Pedrão avisando que tinha dado um problema em São Paulo, ele me cobriria no quartel, pelo menos até eu convencer a minha irmã a ficar comigo por um tempo. Infelizmente eu não tinha um contato com o filho da puta para descarregar a minha raiva. A Quel estava bem abalada quando saiu do portão do desembarque, achei melhor conversarmos na sua casa. Foi um papo sério, bom para que ela desabafasse. Para os nossos pais ela estava em Londres e eu em Brasília, para onde voltei naquele mesmo dia. O Pedrão me avisou que tínhamos sido convocados, eu precisava me apresentar. Ela não quis vir comigo de forma alguma, preferiu curtir a fossa sozinha, infelizmente. PERIGOSAS ACHERON


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BRASIL As informações que chegavam davam conta de que na verdade o Doutor Schneider estava brincando de esconde-esconde com a Interpol fazia um bom tempo. Primeiro vieram àquelas suspeitas de bomba e de envelopes com Antraz que só deixou todo mundo em alerta para nada. Parte dos nossos agentes tinham embarcado às pressas para o Brasil para se juntar aos que tinham ficado de tocaia, uma que não tinha dado certo como se esperava. O chefe estava bem irritado. Pelo que entendi eles estavam indo de cidade em cidade atrás de pistas que iam revelando migalhas, até o Rock ter uma péssima surpresa. – Situação, Rock! – Estou indo para São Paulo, Senhor. – Ele avisou e percebemos a movimentação. – Encontramos fotografias que me ligam a Raquel. – Localização da brasileira? – Eu não sei. – Ele murmurou e senti a tensão. – Eu PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS não consigo contato com ela. – Estou acionando as autoridades locais. – Já fiz isso. – Algum sinal da fórmula? – Questionei. – Nenhuma. Mas porque me fazer ficar indo de localidade a localidade para me mostrar tudo isso agora? Ele fará algo com ela se eu não chegar a tempo, Doc. – Vocês estão com o kit? – O Ty está conosco. – Ele está preparado para qualquer eventualidade, Rock. – Doc... Eu sei que estou pedindo muito, mas... – Eu vou, Rock. – Avisei quando peguei o fone do equipamento viva voz para conversarmos em particular. – Obrigado. Eu sei que estou pedindo muito, mas nem era para ela estar no Brasil. Tudo isso é minha culpa, mas preciso consertar o meu erro. Eu a expus a isso. Eu a envolvi nisso tudo. – Nós vamos encontrá-la. O chefe sequer questionou a minha decisão, apenas mandou que o meu assistente separasse o que fosse necessário e que o avião estaria pronto em menos de trinta minutos. Eu fui até o meu PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS andar, fiz uma mala pequena e voltei ao laboratório para pegar o que fosse preciso. O avião teria que estar preparado para tudo, inclusive para uma arma química como a que conseguimos impedir que fosse concluída no Brasil. – Siga o protocolo caso ela seja encontrada e exposta antes de eu estar lá. – Avisei ao técnico que ficaria em Londres. – Ficaremos em contato direto com eles e com a Senhora para qualquer novidade. Boa viagem, Doc. Foram raras as vezes que eu saí da sede, era perigoso não somente para mim, mas para toda a equipe de escolta envolvida. Eu sabia que a minha cabeça estava a prêmio, por assim dizer. Fazia anos que ninguém sabia o meu paradeiro, mas mesmo assim ainda me procuravam. Se eles soubessem o quanto eu avancei nas pesquisas do meu pai e também nas minhas, o valor da minha cotação dobraria facilmente. Ficar escondida era melhor para todo mundo, mas eu não poderia ficar em Londres sabendo o que ele estava passando. O risco de a sua noiva morrer era muito alto, não precisava fazer muitos cálculos para descobrir. Se o Doutor Schneider colocasse as mãos sobre uma cobaia humana era quase certa a sua morte. O Rock sabia PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS disso muito bem e esse era o seu real medo. Quando chegamos à base aérea o avião já estava pronto nos esperando. Eu precisava ficar dentro do carro escuro enquanto todo o meu equipamento fosse embarcado, só depois eu sairia. Sempre tive medo que aquele fosse o momento ideal para que me pegassem, também não foi dessa vez. Todos os agentes que faziam a minha escolta eram como voluntários, me conheciam bem, já tinham passado pela minha mesa de cirurgia, eu os tinha salvado de alguma forma. – Tudo limpo! – Ouvi quando o Shin avisou dentro do avião. Ele tinha ido checar novamente. – Pode entrar, Doc. – O Katsuo me disse assim que subi. – Obrigada. – Estaremos decolando assim que a Senhora estiver pronta. – O Zanetti me avisou assim que fechou a porta do avião. – Mande decolar agora. A Interpol recrutava pessoas no mundo todo, por isso tínhamos uma mistura de nacionalidades a nosso favor. O objetivo da organização era a proteção do mundo, o controle dos procurados internacionalmente, evitar que inocentes fossem PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS mortos por organizações criminosas que se espalhavam pelos quatro cantos da terra tentando se esconder. Baseado em acordos internacionais, a Interpol tinha livre acesso a informações, passaportes válidos, segurança jurídica. Todas as poucas vezes que saí da sede eu me senti tensa, dessa vez não foi diferente, mas havia um detalhe, eu estava empenhada em pagar a minha dívida. O Jack tinha salvado a minha vida, eu faria tudo que fosse possível para salvar a da sua noiva. O Rock era frio, calculista, determinado. O Jack era carinhoso, um irmão, um protetor que tomou para si a missão de me manter viva desde o início. Pouco tempo depois eu descobri que ele também não tinha pais. Ele tinha se solidarizado comigo, uma menina que tinha basicamente dois destinos: um com um alvo na testa, outro o cativeiro em algum lugar onde eu seria obrigada a trabalhar em prol do terrorismo. Nós já estávamos voando quando o Shin me avisou que eles tinham recebido a informação de que a casa da noiva do Rock tinha sido invadida. Ele estava com o computador ligado monitorando tudo o que podia, enquanto isso eu revia as minhas anotações sobre o que tínhamos encontrado até PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS aquele momento. Nós levaríamos em torno doze horas de voo, durante aquele tempo muita coisa poderia acontecer. Foi durante o voo que recebi uma mensagem no meu celular pessoal, o que somente algumas pouquíssimas pessoas conheciam. Era o Ty me dando uma informação relevante e valiosa.

Possibilidade de traição entre os nossos. Fique alerta. O Ty era um dos melhores, por isso fazia parte da equipe do Rock. Ele desvendava tudo que você poderia imaginar, principalmente os seus segredos mais escondidos, assim ele sabia em quem confiar. Quando olhei em volta e vi os outros agentes acessando seus celulares pessoais me senti mais tranquila, ele com certeza estava alertando as pessoas em quem confiava, as que ele tinha certeza de que estavam livres de qualquer suspeita. Ninguém disse nada, não era preciso. As coisas estavam acontecendo mais rápido do que eu jamais imaginaria. As informações estavam PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS chegando uma atrás da outra. Primeiro ficamos sabendo que Rock e a equipe tinham conseguido mais um apoio no Brasil e tinham partido para a sua busca, eles tinham encontrado o carro abandonado. Havia a confirmação de que ela tinha sido levada ferida e drogada. – Estou acompanhando todos os passos do Rat, Doc. – O Shin me avisou. – Eles estão em contato com os órgãos de segurança, até o Exército está envolvido. – Não gosto de soldados, são prepotentes. – Eu era um soldado. – O Zenetti comentou, mas com uma risadinha. – Era, disse bem. – Todos somos soldados de uma forma ou de outra. – Eu não. – Você é soldado sim, Doc. – Não. – O que você faz nos seus andares? – Encontro formas de neutralizar armas químicas, pesquiso seus efeitos e atuo como cirurgiã para o caso de algum de vocês precisar. – Ponto para o Zanetti. – Ele brincou como se estivesse fazendo uma cesta de basquete. – Ponto? PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS – Você salva vidas, Doc. O que nós fazemos? – Soldados lutam na guerra, estão no campo de batalha, dão a vida por outros às vezes. Mas também podem estar lutando por um ideal que não é o seu, Zanetti. A guerra dos homens poderosos levam vidas de inocentes e de soldados todos os adias. – O seu campo de batalha é apenas outro, Doc. Você corre risco de vida todos os dias lidando com aqueles seus experimentos. Essa é a diferença. Ser um soldado não é ruim quando você sabe pelo que está lutando. Nesse momento mesmo estamos indo ajudar outros que tem um foco, salvar a vida dessa mulher, mas será que salvaremos somente a dela ou como efeito colateral poderemos estar salvando a vida de milhões de pessoas? – Só se eu deixar. – Viu só, pensamento do soldado. – Ele comentou com humor quando se recostou na poltrona do avião e fechou os olhos. – Você sempre tem argumentos. – Sempre, Doc. – Por isso deixou de ser um soldado? – Apenas escolhi um comando melhor, sem falar que fico bem te terno. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS – E olha ele de novo. – O Shin brincou. – Nosso James Bond está de volta, Senhoras e Senhores. Pelo menos o clima no avião estava melhor que no solo. Cerca algumas horas antes de pousarmos tivemos a informação de que o cativeiro tinha sido localizado e que estavam em processo de resgate, mas infelizmente as notícias não foram boas. O nosso plano de voo previa que eu fosse até o apartamento da noiva do Rock em São Paulo para coletar qualquer ponto indicado pelo Ty como possível DNA dos sequestradores, mas as notícias de que havia feridos e uma provável alta contaminação da noiva do Rock no fez mudar os planos. Não somente ela estava com a sua integridade comprometida, mas o Rock gravemente ferido. Como teríamos que abastecer para ir até o interior, aproveitei para ligar para o Rat e ter notícias. – Situação. – Estamos na unidade hospitalar. – E os feridos? Qual o quadro geral? – Ele foi gravemente ferido, mas ainda não sabemos o seu estado. E ela parece que recebeu alguma droga. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS – Ele já foi operado? – Não temos certeza. Só posso ter uma confirmação quando a equipe vier avisar. – Estaremos reabastecendo. Uma equipe de contaminação brasileira foi acionada. Passe o local que chegarei o mais rápido possível para ver eu mesma o estado dos feridos e avaliar os riscos. – Seria bom. – Ele sairá dessa. Avise a equipe médica. Chegaremos o mais rápido possível. – Fico aguardando. Eu sabia que era madrugada no Brasil e o humor do Rat não estava dos melhores. A preocupação era evidente e isso estava me deixando preocupada. O Rat não costumava deixar passar as suas emoções mais profundas como naquele momento, a sua voz estava estranha, tensa. Infelizmente por causa do mal tempo tivemos que pousar no Rio de Janeiro e aguardar a abertura do espaço aéreo. Eu estava preocupada com a situação do Rock, ele já tinha sido operado, mas seu estado estava crítico segundo as informações que recebi. A equipe de descontaminação já tinha começado o procedimento passado pela equipe de PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS Londres algumas horas depois deles terem dado entrada no hospital. Eles tinham me enviado uma imagem dela e o quadro era realmente sério. Visualmente já dava para ver que algo estava sendo trabalhado no seu corpo, algo muito agressivo que precisava ser removido e a única forma seria através de um processo de filtragem do sangue. Era um procedimento delicado e perigoso para o paciente, mas era isso ou a perderíamos em questão de horas.

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RESGATE – Tudo bem com a sua irmã? – O Pedrão me perguntou quando me pegou no aeroporto. – Ficará. – O que houve, cara? Você nunca pulou expediente assim do nada. A chefia estava querendo o teu fígado. – Manda me prender, porra. – Resmunguei quando entrei no carro. – Estou vendo que foi sério. Quem você matou, o Daniel ou o Jack. – O Jack está na minha mira. Alguma coisa aconteceu lá que a fez voltar assim tão rápido, mas a Quel não quis me dizer. Mas toca para o quartel que preciso mudar de roupa. – Beleza, você está no clima. Fomos acionados para descer com tudo. – Traficantes? – Quem mais? Toda a equipe estava pronta só me esperando. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS O meu chefe estava com cara de poucos amigos, mas eu também. A raiva estava me comendo por dentro, eu precisava dar uns tiros. Um avião da Força Aérea nos esperava pronto para decolar. Pousaríamos em Corumbá, divisa com a Bolívia. Como sempre os filhos da puta estavam usando a fronteira, pelo menos foi o que nos foi transmitido antes de sair da base. Quando pousamos uma equipe estava a nossa espera, seria mato por alguns dias. As informações mais recentes davam conta de que os traficantes estavam usando o Rio Paraguai para escoar a mercadoria e depois pegar um avião de pequeno porte até Ponta Porã. Infelizmente acabamos chegando tarde, eles já tinham partido, só conseguimos prender alguns “gatos pingados” que só estavam ali por troca de alguns míseros cem reais. Eles foram presos, mas estávamos atrás dos grandes, dos que estavam no avião, precisávamos impedir que a droga chegasse às grandes cidades. Foram vários dias de busca e caça aos traficantes, mas só conseguimos pegá-los quando os marginais entraram em São Paulo por Ourinhos onde a Polícia Federal estava fazendo uma busca nos veículos nas estradas. Eles ficaram sabendo e PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS pegaram estradas vicinais, o que foi a nossa sorte. Segundo dados do helicóptero que estava nos dando cobertura o caminhão usado por eles acabou quebrando. Foi o que os atrasou e nos deu tempo de chegar. – Todo mundo no chão. – Avisei quando saí da minha viatura. – Sujou! É claro que eles não se entregariam voluntariamente. Um dos homens que estava atrás do caminhão saiu com um fuzil e deu o primeiro tiro, foi o suficiente para revidarmos e acabarmos com quatro mortos e uma carga grande de drogas e munição apreendida. Pela quantidade e o gasto que eles tiveram para entrar com aquela carga havia mais coisa ali, mas não mexemos em nada, a Polícia Federal que estava nos acompanhando lacrou tudo e fez o relatório. Eu mesmo assinei a papelada e solicitei reforço para o caminho. Onde estávamos não tinha como colocar a carga em um avião, teríamos que escoltar tudo por modal rodoviário mesmo até uma base aérea. Apenas um dos nossos ficou ferido, mas foi socorrido pela nossa própria equipe. Ele tinha PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS tomado um tiro de raspão na coxa, nada grave demais. – As ordens são para escoltarmos o carregamento até São Paulo. – O Pedrão avisou depois de contatar a nossa base. – Ficaremos no alojamento de lá mesmo até amanhã. – Beleza! Vamos nessa! – Avisa a tia para colocar água no feijão que estamos chegando com tudo. – O Rafael brincou quando entrou ao meu lado. – A casa da minha mãe não é pensão, filho da puta. – Mas faz a melhor macarronada do mundo. Toca pra São Paulo! – Essa porra é doida. Nós dois fomos no caminhão que levava as drogas e a munição. As outras viaturas nos davam cobertura para qualquer surpresa. A Polícia Federal tinha sido avisada e foi graças a eles que não caímos em uma emboscada. Nós estávamos chegando a Boituva quando uma mensagem no rádio nos avisou para aguardar em um posto de policiamento rodoviário. Uma equipe da Polícia Federal tinha sido alvo de tiros próximo a Sorocaba e ao prender os meliantes ficaram sabendo que um bando nos PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS aguardava mais a frente. Tivemos que ficar aguardando por mais de duas horas, o que atrasou a nossa chegada a São Paulo. Ao invés de levarmos menos de cinco horas, foram quase oito horas na estrada sob tensão. O meu único momento descontraído foi quando falei com a minha irmã, ela parecia bem apesar de ter sido obrigada a ficar em Campos de Jordão, para onde tinha ido participar de um evento. – Tô morto, cara. – Resmunguei quando caí de cara no meu beliche. – Será que tem rancho aqui. Tô azul de fome, cara. – O Pedrão resmungou. – São quase duas horas, cara. O rancho está fechado. Quem ainda tinha ração dividiu com quem estava com fome, eu só queria dormir, mas o meu sono foi bruscamente interrompido. O céu estava negro quando o meu celular começou a berrar acordando parte do alojamento. – Desliga essa porra, Beto. – O Rafael resmungou. – Já vou, caralho! – Resmunguei. Quando olhei o número não reconheci. – Quem porra tá me ligando essa hora. – Beto. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS – Quem está falando? – Sou eu, Jack. – O que você quer? Como você conseguiu esse número? A minha irmã já me disse que vocês romperam. Não vou te ajudar, camarada. O último foi uma merda. – Eu preciso que você me escute até o final. Eu consegui o seu celular porque trabalho na Interpol. Estamos seguindo as pistas de membros de uma célula terrorista que pode estar prestes a criar uma nova arma química a partir do Brasil. Tivemos informações de que eles descobriram alguns passos nossos dados quando eu estava em São Paulo, mas ainda não sabemos como a informação vazou. – O que eu tenho com isso? – Beto... Levaram a Raquel? – Que porra você tá falando? – Gritei acordando os caras a minha volta. – Eu estou no Brasil, na casa dela. Eu não sei onde, mas eles estão com ela. A Raquel entrou em contato contigo hoje? – Explica isso, cara. Eu falei com a Quel ainda essa noite, ela estava em... – Onde? – Puta que pariu! – Gritei enquanto colocava a PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS minha calça e a porra não entrava. – Ela está em Campos de Jordão, me disse que tinha ido a um evento, que tinha conhecido um fotógrafo que conseguiu o passe, mas quando saiu o pneu do carro estava furado. Ela precisou ficar na cidade, mas não me disse o nome do hotel. – O celular dela deu fora de área o dia todo. – O sinal é uma merda lá. – Começaremos as buscas... – Não sem mim, cara. – Avisei enquanto colocava uma camisa. – Onde você está? – Na casa de uma amiga em São Paulo. Chego em menos de meia hora. Eu não estava confiando muito naquela história, então não dei o meu verdadeiro pouso. O Rafael e o Pedro me pediram um resumo enquanto eu checava o conteúdo da minha mochila e verificava a minha arma. – Puta que pariu... puta que pariu... – O que aconteceu com a Raquel? – O Pedrão me segurou antes de eu sair do alojamento. – Eu preciso saber mais detalhes, mas ela pode estar em perigo. O 007 disse que é um agente da Interpol. Estou indo para a casa da Quel. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS – Se precisar de reforço, conta com a gente. – O Rafael disse do seu beliche. – Vou deixar uns caras de sobre aviso. – Isso é coisa pessoal. – Foda-se o pessoal. Vai logo e nos mantenha em contato. Pedi uma viatura que me deixou na porta do prédio da minha irmã em menos de quinze minutos. A rua estava praticamente deserta, não pegamos trânsito. Eu sequer dei ouvidos para o porteiro, subi correndo pelas escadas quando vi que o elevador estava parado no sexto andar. – Identifique-se. – Um policial me barrou quando cheguei à porta do apartamento. – Capitão Guerra. Exército brasileiro. Dê passagem, é a casa da minha irmã. – Deixe-o passar. O Agente Rock está te aguardando. – Um cara todo de preto disse com sotaque inglês atrás do policial. O apartamento da minha irmã estava cheio de gente que eu nunca tinha visto na minha vida. Olhando para a direção do seu quarto vi tudo revirado e pessoas entrando e saindo dos cômodos como se tivesse o direito de estar lá ou procurando uma pista. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS – Situação? – Pedi quando me aproximei do Jack e de outros caras. – Sou Agente Rat. Verificamos que o bilhete dos sequestradores foram impressos aqui mesmo. Eles estão com a Raquel, mas ainda não temos uma pista mais concreta. O Rock está analisando as câmeras de segurança diretamente da sua central de comando em Londres, assim podemos ter alguma pista. – Que câmeras? – Questionei e vi na tela várias imagens do apartamento da Quel. – Mas que merda é essa? – Eu a estava protegendo. Ela sempre soube o que eu era, eu contei no primeiro dia. A Raquel sabia que seria arriscado estar comigo, mas a gente se ama. – Você deveria ter desligado quando ela veio embora, mas... – Ainda bem que não fiz. Sem essas imagens não saberíamos se essa seria uma cena de assalto simples ou não. – Rock. – Um outro cara de preto o chamou enquanto discutíamos e indicou a tela do computador. – Veja essa tatoo. Reconhece? – Puta que pariu. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS Pelo que eu entendi eles tinham reconhecido um dos caras da imagem por causa de uma tatto. O tal de Rat me disse que esse indivíduo fazia parte de uma célula terrorista, o que me preocupou muito. Vendo que eu estava me metendo em algo bem grande alertei os caras, eu precisaria de ajuda no resgate da minha irmã. Eles estavam prontos com toda a equipe, tinham alertado inclusive a minha chefia que tinha ordenado todo o suporte. Os caras da Interpol estavam conseguindo rastrear de algum modo o caminho da minha irmã. O tal de Leroy encontrou uma fatura do cartão dela e usou o número, mesmo que na fatura só viesse o parcial. O Rat viu a minha curiosidade e disse que eles tinham meios de cruzar os dados dela e chegar a todas as informações possíveis. – Temos uma pista que confirma a ida dela a Campos de Jordão. – O Leroy avisou. – Vamos nessa! – O Jack gritou e os caras começaram a recolher todos os equipamentos de espionagem que eu nem tinha visto. Desci as escadas às pressas, chegando à portaria junto com os outros que tinham descido de elevador. Eu estava agitado demais. O meus amigos chegaram também naquele momento. O Jack estava PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS articulando um apoio com a Polícia Federal que estava lá também. – A Quel está desaparecida. Precisamos chegar rápido a Campos de Jordão. – Avisei ao Pedrão assim que ele saiu do carro e depois olhei para o Jack. – Vem comigo ou vai ficar de papo com o seu novo amigo? Os caras tinham conseguido alguns carros e pessoal suficiente para agregar a busca. Na minha viatura foi o Rafael no volante e eu no carona, os 007 foram no banco de trás. Se não gostaram, que se fodessem. Por causa do tempo ruim não teríamos apoio aéreo por um tempo. – A previsão de chegada é de menos de 2 horas se não pegarmos trânsito. – O Rafael me avisou. Para variar a autoestrada estava cheia, era início da manhã. Por causa do tempo ainda tivemos acidente, o que me deixou nervoso. Conhecendo a minha irmã e baseado no que ela tinha me falado era capaz dela estar ainda estar tomando café e era essa a minha esperança naquele momento. – O Doc já está no ar, chegará o mais rápido possível. – Ouvi o Leroy comentando no banco de trás. – Me falem dessa droga. – Pedi. – Qual o nível de PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS risco que a minha irmã pode ficar exposta? – Antraz é fichinha diante do que eles estão tentando criar. Segundo os nossos cientistas trata-se de uma arma química, não uma droga como a cocaína ou o êxtase. Esse tipo de droga pode matar em poucas horas, levando o indivíduo a um rápido nível de desidratação e desintegração celular, o que provoca hemorragia interna. A sua volatilidade também é um fator de risco. Ele pode ficar suspenso no ar facilmente, além de ser contagioso. – O Rat me explicou. – Isso quer dizer... – Se ela estiver ou for exposta teremos que isolá-la até que uma equipe chegue para descontaminação e controle dos danos. Faremos de tudo para salvá-la. Depois de conseguirmos passar pelos acidentes e engarrafamento chegamos à estrada que nos levaria a Serra da Mantiqueira por volta das sete da manhã, mas parecia que os problemas nos acompanhavam. Havia carros virados de cabeça para baixo na estrada impedindo os carros de subir. Todo mundo dentro da viatura achou aquilo suspeito e estávamos certos. – Não é possível. – O Jack resmungou quando saímos da viatura para ver o engarrafamento. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS – Rock. Temos informação de outro acidente na descida da Serra da Mantiqueira pouco depois da saída da cidade também. – Alguém fechou a Serra! Sai daí! Quando olhei o Jack estava entrando no lado do motorista. Ele mesmo pegou a direção e nos levou pela lateral da pista, no meio do matagal até depois do acidente. Sem o jipe não conseguiríamos subir a serra, a pista estava cheia de destroços. O Jack dirigia quem nem um louco passando por cima de tudo, cantando o pneu naquela estrada perigosa. – Calma aí. – Pedi quando nós quase saímos da pista. – Cala a boca! – Não estaremos vivos para chegar até ela. – Melhor ficar calado. – O Leroy avisou atrás de nós. – O Rock é bom isso. Ele conseguiu subir a Serra da Mantiqueira mais rápido do que eu poderia imaginar. Dentro de mim algo me dizia que ele sabia de algo mais que não tinha me contado e isso estava me deixando muito nervoso. Ele estava muito focado, sequer parecia ouvir o Leroy e o Rat no banco de trás avisando que a Polícia Federal tinha conseguido PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS colocar o helicóptero no ar e estava a caminho. Assim que chegamos perto do portal da cidade vimos que a descida também estava bloqueada, mas o mais importante, havia uma ambulância vindo da contramão. – Qual a emergência? – O Jack questionou o motorista da ambulância depois de o impedir de seguir viagem. – Tira essa merda da frente! – Me responda! – Ele mandou segurando o cara pelo pescoço. – Recebemos uma mensagem que um carro caiu na descida. – Descrição? Algo me dizia que teríamos que correr, então tomei a direção e comecei a manobrar o jipe. Avisei aos outros carros que tinham acabado de nos alcançar e começamos a descer a serra assim que o Jack entrou. A descrição do carro envolvido no acidente batia com o da Quel, eu gelei. Enquanto eu descia a serra ouvia o Rat falando com os seus contatos pelo rádio. O cara arranhava no português, mas conseguia se comunicar. Nenhum carro tinha descido a serra fazia um bom tempo, uma equipe PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS estaria começando a limpeza da pista em pouco tempo. Nós precisávamos ser rápidos. – Ali! O Jack foi o primeiro a nos alertar. Ele nos indicou as marcas de pneu no asfalto logo depois da curva. As marcas na pista iam até a mata na lateral. Confesso que gelei novamente naquele momento. Eu pensava nos meus pais e em como eu daria uma notícia ruim caso o pior se confirmasse, mas ao mesmo tempo no que eu faria quando colocasse as minhas mãos sobre os filhos da puta que ousaram pegar a minha irmã. Assim que parei ouvi os pneus cantando atrás de nós e todo mundo saltando das viaturas. Nem precisava chegar muito perto da margem do barranco para ver como o carro tinha destruído a vegetação antes de parar ao bater em uma árvore. A frente do carro dela estava bem danificada, dava para ver a capota amassada levantada e as portas abertas. O Leroy e o Rafael já estavam tirando o equipamento do jeep quando me virei, nós teríamos que descer com equipamento de escalada. Foi o tempo de eu e o Jack nos aprontarmos para começarmos a descer, os outros viriam depois. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS Enquanto eu me apressava para chegar ao carro percebi o Jack fazendo paradas e analisando os galhos e troncos que tinham sido afetados pelo carro. – Nenhum sinal dela. –Passei a situação quando vi o interior do carro. – Temos sangue. O airbag foi acionado. – Está úmido... Eles não estão longe. – O Jack comentou quando tocou na mancha de sangue. – Eles a retiraram do carro e desceram. – O Rat avisou quando se aproximou também. – Os federais estão lá embaixo, ninguém desce a Serra tem mais de meia hora. Mandei um dos carros descer para ver se encontra alguma pista. – Rock! – O Leroy chamou e indicou manchas de sangue em um pano branco no chão três metros à frente. – Eles a drogaram. – Isso significa que ela está viva. Sobe e pega o equipamento para avaliarmos as possibilidades. Eles precisam de um lugar para se esconder. Nos dividimos para tentar encontrar alguma pista do caminho feito pelos sequestradores, mas ninguém foi capaz de conseguir algo concreto. A serração e a umidade pelo visto estava contra nós, foi o que o Rat comentou quando vimos o PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS helicóptero fazendo um sobrevoo para tentar encontrar alguma pista cerca de quinze minutos depois. Eles não poderiam estar muito longe e com certeza ainda estavam na serra, era o que mantinha a minha esperança acesa. O Jack parecia calmo e focado, mas a forma como ele olhava para o relógio revelava a sua verdadeira face, o cara estava muito nervoso. – Precisamos reunir todo pessoal possível. – O Jack me pediu quando voltamos para a estrada. – Me fale desse pessoal. – São terroristas, assassinos, não medem consequência. Eu comandei a missão que acabou com os seus planos. – Quando? – No dia do seu aniversário. – Eu ouvi o helicóptero... Eles foram te buscar. – Exatamente. – Ela sabia? – Alguma coisa. – A Quel só se mete em furada. Nem olhei para a cara dele para ver a sua reação, eu não estava nem aí. Por enquanto eu precisava dele para achar a minha irmã, depois nós conversaríamos. O cara tinha equipamento PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS especializado, eu vi nas bolsas e malas que eles levavam, mas eu tinha número. Enquanto os federais revistavam todos os carros que passavam pelo bloqueio nós começamos a buscar pistas na cidade. Era a nossa maior esperança. – Ferida eles não teriam como ficar em um hotel ou pousada por aqui. – Comentei enquanto passávamos pelo portal da cidade. – Concordo. Se eles estão com o Doutor Schneider terão condições de cuidar dos seus ferimentos. – O Jack deu a sua visão. – Isso significa que os hospitais também estão fora da rota. – Exato. Se eles tivessem invadido uma casa já estaríamos sabendo. A cidade é pequena e com certeza alguém já teria chamado a polícia. – Nada nas redes sociais também. – O Rat comentou no banco de trás. – O Ty está me mantendo informado também. Ele ainda está no apartamento buscando qualquer pista. Já passei a localização do carro dela, ele virá assim que terminar lá. – Quem é esse? – Um dos nossos. – O Jack me informou e indicou uma rua paralela. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS Como o tempo estava passando e não tínhamos conseguido nenhuma pista pedimos ajuda aos policiais da cidade, eles tinham mais contato com a população que poderia nos fornecer pistas sobre pessoas estranhas, que não se parecessem com turistas comuns. Enquanto isso começamos a fazer as buscas pelo ar. O helicóptero do exército tinha conseguido pousar em uma região mais aberta, do alto conseguiríamos ver melhor. – Um comerciante viu um carro suspeito passando em frente a sua loja hoje cedo. Ele disse que o carro estava com muitas folhas presas na lataria. – A informação veio pelo rádio. – Onde? Era a primeira pista e a seguiríamos minunciosamente. Repassei as informações para o meu pessoal que estava percorrendo a cidade e eles começaram a se deslocar. Quando começamos a avistar casas em meio a árvores e plantações achamos que seria mais prudente pousar e irmos por terra, chegaríamos de surpresa. Conseguimos ver um carro escondido atrás de uma das casas e foi essa a nossa eleita. Outro motivo foi o homem que tinha saído da casa para checar o som do helicóptero e voltado rapidamente, mas não antes PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS de notarmos que ele não estava vestido como um homem do campo, da roça. Quem usa calça social para capinar? O Jack também comentou que ele se parecia com o homem que tinha invadido a casa da Raquel. Nós tentamos encontrar uma região para aterrissar, mas havia muitas árvores, o jeito foi descer de rapel mesmo. Mandei que o piloto desse uma volta e aguardasse as nossas instruções. Tanto eu quanto o Jack nos preparamos e descemos com armamento pesado para enfrentar os filhos da puta. O Leroy e o Rat desceram logo depois levando mais equipamento. – Vou na frente. – Avisei enquanto via o Jack pegando uma arma de longo alcance de dentro de uma maleta. – Isso vai longe? – Vai. Foi com ela que matei os três cientistas e será com ela que esses filhos da puta morrerão. Vá à frente e me diga se vê alguma coisa, eu cuido da retaguarda. Rat? – Tudo pronto. Faremos o cerco. – Ele avisou depois de nos passar o equipamento de comunicação. – O Leroy seguirá por lá. – Silêncio na rede até descobrir algo. – Combinado. – O Leroy disse e seguiu pelo seu PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS caminho. Aquele equipamento de escuta era muito bom, eu tive que admitir. Com ele nós conseguimos nos comunicar sem falar em voz alta, apenas com sussurros e foi assim que escutei o Leroy e o Rat avisando dos sensores e armadilhas que estavam encontrando. Isso me serviu de alerta, eu também comecei a prestar atenção em tudo. – Nenhum homem do campo colocaria esse tipo de sensor. – O Jack comentou na escuta. – Estamos na pista certa. Com muito cuidado fui passando as informações para o Rafael pela internet mesmo, era arriscado usar a frequência da polícia ou do exército, eles poderiam estar nos monitorando. – Hackeei uma rede oculta que detectei e direcionei para a central. Eles estão monitorando. – O Rat avisou no rádio pouco tempo depois. – Estamos na pista certa. – Conteúdo das mensagens? – O Jack perguntou e parei para ouvir também. – Eles estão com ela, Rock. – Me mantenha informado. Passei a informação para o Rafael e o Pedrão, inclusive da minha localização. Eles começaram a PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS correr na nossa direção, além de repassar aos outros. Eu precisava buscar a minha irmã. – Estou chegando. – Ouvi o Leroy sussurrar no comunicador. – Um dos homens está fazendo ronda. – Aguarde. – O Jack ordenou. Pelo menos agora tínhamos a confirmação e um homem no visual do cativeiro, seria questão de tempo, mas isso também me preocupava. Até aquele momento não sabíamos o estado físico da minha irmã e pensar nas possibilidades dadas pelos Agentes, àquelas informações me dava um medo real por ela. Com o equipamento apropriado o Leroy informou que havia quatro pessoas na casa, uma delas deitada, provavelmente a Raquel. Ele acreditava ser dois capangas e o cientista, o Jack também, mas havia um detalhe que precisávamos ficar alertas. – Está faltando um, ele pode estar na mata. Fiquem atentos. – O Jack avisou no comunicador. O Jack estava preparado para atrair a atenção dos criminosos e foi isso que ele fez. Deu para perceber que eles trabalhavam junto há muito tempo, o Rat sabia bem o que ele faria e se PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS posicionou. Aconteceu rápido e como tínhamos planejado sem colocar a vida da Raquel em risco. – Ao meu sinal. – O Jack sussurrou no comunicador e eu me posicionei também. A nossa tática visava atrair os caras para fora da casa, fosse pela frente ou pela parte de trás e foi na lateral que me posicionei, eu também estava com um artefato para disparar no momento certo. O Jack jogou a bomba de efeito moral para o Rat e esse a detonou na lateral da casa. – Deu certo. – O Rat avisou depois do estouro. Foi tudo bem rápido. Primeiro dois homens saíram da casa armados e foram abatidos pelo Jack e pelo Rat. O Leroy avisou que um outro correu para o quarto onde havia o último indivíduo deitado, provavelmente a Raquel. A nossa dúvida foi respondida quase instantaneamente com um grito de mulher vindo de dentro da casa. Eu sequer pensei, atirei a bomba pela janela do quarto. O Jack e o Rat estavam com máscaras e entraram logo depois da explosão, enquanto isso eu me posicionei para eliminar o filho da puta que mantinha a Quel sobre seu domínio. Eu conseguia vê-los pelo buraco feito pelo artefato, o filho da PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS puta estava com algo no pescoço dela, a machucando. Os gritos dela doíam os meus ouvidos, eu via vermelho. Com o sangue gelando nas minhas veias eu mirei na fronte do filho da puta e atirei. Foi um tiro certeiro que o derrubou na mesma hora. – Jack! – Ouvi a minha irmã gritar e corri para dentro da casa. – Chame os helicópteros! Rápido. – Ouvi o Jack gritar. O Leroy conseguiu entrar primeiro e fui atrás, eu precisava ver se a minha irmã estava bem, mas o seu caso era crítico. Ele e o Rat estavam do lado de fora do quarto já se comunicando com a equipe de resgate. – Quel? – Não se aproxime.– O Jack me pediu e parei quando percebi a cena dele a amparando. – É o que eu estou pensando? – Não sei... A minha irmãzinha estava muito debilitada, não precisava ser um médico para perceber. Ela tinha sangue no nariz, sua pele estava pálida, ressecada e parecendo fina, ela tinha olheiras profundas em seus olhos. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS – Mandem todo mundo para cá rápido! – Gritei no rádio quando saí da casa para verificar se havia mais algum filho da puta. – Situação? – O Pedro quis saber. – Eu preciso salvar a Quel, cara. Manda todo mundo pra cá rápido. – Estamos chegando. Naquele momento eu ouvi o helicóptero se aproximando. Os caras desceram em peso de rapel mesmo e cercaram a casa. Ainda havia uma ameaça na mata esperando para dar o bote, eu sentia. – Só saiam quando for seguro. Os federais pousarão naquela pequena clareira. – O Rafael me avisou quando se aproximou e ia entrar, mas não deixei. – Não é seguro. – Por quê? – Ela está com... eu não sei cara, mas ela tem algo que pode ser contagioso. Não quero perder ninguém hoje. – Está tão ruim assim? – Ele me perguntou e eu apenas assenti. Assim que o helicóptero pousou eu corri e peguei a maca para o resgate e entrei na casa. Ela e o Jack já estavam com uma roupa de proteção, o Rat me passou uma máscara igual a que eles PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS estavam usando e coloquei. Fiz questão de ajudar a levar a minha irmã apesar dela nem estar com os olhos abertos. Vi os meus amigos do lado de fora se olharem quando viram o estado da Quel, mas nem parei, corri ao lado do Jack para colocá-la no helicóptero o mais rápido possível. A vida dela estava em claro risco, o tempo estava correndo. – Homem armado! – Alguém gritou assim que colocamos a Quel no helicóptero e o policial dentro do helicóptero caiu. Ele tinha sido atingido. Quando olhei o Jack se jogando sobre a Raquel e seu corpo dando um solavanco saquei que ele tinha sido atingido, então me virei para pegar o filho da puta que tinha mirado na minha irmã. Não sei dizer quem o atingiu primeiro, mas ele foi rapidamente derrubado depois de receber vários tiros. E foi naquele momento que começamos a correr contra o tempo. – Abatido! – Gritei. Eu estava certo de que tínhamos conseguido evitar mais mortes, mas infelizmente o filho da puta tinha conseguido atirar. – Homem ferido! – Alguém gritou. Quando me virei vi o Jack desacordado em PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS cima da Raquel, ele a tinha protegido com o seu corpo e evitado o pior. – Temos que levar os feridos! – Gritei para o piloto. – Ajudem aqui! – O Rafael pediu ao apoiar o policial ferido. – Avisem ao hospital mais próximo. Além do Jack, um policial tinha sido atingido e a Raquel estava desacordada. O médico avisou que o quadro deles era delicado, o hospital local não teria condições de receber os feridos. – O Rock tinha mandado avisar o hospital Militar de São José dos Campos. – O Leroy avisou quando viu a discussão. – Sobe logo piloto! Enquanto o médico tentava reanimar o Jack que parecia estar em choque, vi o Rat atendendo o policial ferido na coxa e o Leroy fazendo a escuta dos sinais vitais da Raquel. – Rock! Vamos lá cara. Aguenta firme. Estava claro que o Jack estava correndo risco de vida. O Rat, assim que terminou com o policial foi ajudar o amigo enquanto eu me segurava e apoiava a maca da Raquel, estava balançando muito. Não demoramos muito a chegar ao hospital. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS Uma equipe médica já preparada tirou a Raquel e o Jack que ainda sangrava bastante e depois policial. Eu, o Rat e o Leroy corremos atrás das macas, mas fomos impedidos de entrar no centro médico por alguns soldados armados. – Estamos na unidade hospitalar. Ele foi gravemente ferido, mas ainda não sabemos o seu estado. E ela parece que recebeu alguma droga. – Ouvi o Rat falando no celular. – Não temos certeza. Só posso ter uma confirmação quando a equipe vier avisar... Seria bom... Fico aguardando. Pelo visto a Interpol estava muito interessada no que a minha irmã tinha recebido do tal cientista e pude ter essa confirmação do Leroy enquanto esperávamos notícias. Uma equipe especializada em contaminação química chegou menos de uma hora depois e entrou para avaliar o risco. Eles tinham isolado a Raquel. Enquanto isso o Jack estava sendo operado. Ele tinha perdido muito sangue e estava com uma hemorragia interna. Aquela foi a informação que nos deram duas horas depois dele entrar no centro cirúrgico. Àquela altura parte da equipe que tinha participado do resgate estava começando a chegar. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS Pelas informações que recebi, os Federais deixaram um pessoal cuidando dos corpos e fazendo a perícia. Nós estávamos aguardando o resultado dos exames para saber o que tinham injetado na Raquel. Ela aparentemente estava estável, tinha despertado e perguntado por nós. Os médicos não contaram que o Jack estava lutando pela vida. Como ela estava em isolamento só poderia receber visitas no dia seguinte. Eu achei melhor não contar nada aos nossos pais até ter uma notícia mais concreta. Ninguém podia chegar perto dela até que os médicos achassem seguro. Dispensei os meus amigos que tinham ajudado no resgate e agradeci. Eles foram muito importantes, sabiam da necessidade do sigilo. A nossa equipe era especial, seguíamos um regulamento diferente. O Rat e o Leroy passaram a noite na recepção comigo. Eles tinham nos liberado o espaço quando viram que não iríamos embora. Passava das três da madrugada quando chegou a notícia de que o Jack estava na UTI. Antes do amanhecer mais três agentes da Interpol chegaram ao hospital querendo notícias, mas o quadro dele ainda era considerado PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS muito grave. O resultado dos exames da Raquel foi mais animador. Apesar de o médico ter tentado fazer testes com ela, o material injetado estava sendo eliminado do seu corpo por meio de um processo semelhante à hemodiálise. O Rat comentou comigo que os técnicos e cientistas da Interpol estavam em contato com os médicos que a acompanhavam e passaram o que era necessário fazer. Eles tinham desvendado a mecânica da droga e os efeitos colaterais. Faltava apenas um estágio para a minha irmã se tornar a vetora da mais nova arma química e biológica. – Se não chegássemos a tempo seria tarde demais. – O Rat comentou enquanto tomávamos mais um café às nove e meia. – Eles usariam o sangue dela como um tipo de incubadora. – O Leroy emendou. – Nós estávamos atrás deles faz tempo. O Rock quase os pegou em Bangladesh no ano passado. Nós não tínhamos como provar o envolvimento deles até esse ano, quando eles se reuniram em São Paulo. Nós demos corda para que eles se enforcassem e o Rock eliminou os indivíduos antes que eles finalizassem. Infelizmente um deles estava fora e fugiu. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS – Estou exausto. – O Rat resmungou, mas o seu celular tocou. – Perfeito. Ficamos aguardando. – O que foi? – O Doc acabou de pousar na Capital. Está a caminho. – Quem é Doc? – Questionei. – O melhor médico e cientista do mundo. O Rock tinha mandado uma mensagem assim que chegamos ao apartamento e vimos a imagem das câmeras. Ele sempre se adianta, nesse caso ele quis o Doc o mais rápido possível. O Rock sabia que ela precisaria de uma ajuda a mais. – O Doc também vai dar uma olhada nele. – O Leroy brincou ao dizer. – Ele é tipo um médico monstro, sempre nos reconstrói. Eu estava curioso para ver quem era esse tal médico, mas nada me preparou para aquilo. O Doc na verdade era uma mocinha de pouco mais de 1 metro e meio vestida com um terno preto muito bem cortado e de óculos escuros. Ela chegou em um carro preto que estacionou na frente do hospital de onde ela saiu toda na pose. Ela simplesmente olhou em volta e entrou na recepção seguida por um homem que levava uma grande maleta. – E aí Doc. – O Rat disse ao se levantar e fez uma PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS pequena reverência. – Onde eles estão? – Lá dentro. O Rock ainda está mal. – Não por muito tempo. Ela tinha voz de anjo, mas parecia uma fera. Quando tirou os óculos eu vi os olhos azuis mais lindos do mundo, mas foi ela abrir a boca para o encanto se quebrar. – Quem é esse? – Irmão dela. – Da noiva do Rock?– Ela questionou e o Rat assentiu. – Muito prazer. – Disse e estendi a mão, mas ela ficou apenas me olhando. Atrás dela o Rat fazia um sinal de negativo com as mãos e o Leroy dava um tapa na própria testa. – Você está imundo, soldado. – Ela disse com cara de nojo. – Tome um banho pelo amor de Deus. A sua irmã está vulnerável. Se você chegar perto dela contaminado da cabeça aos pés é capaz de matá-la. – O prazer foi meu, doutora. – Resmunguei recolhendo a minha mão. – O que a Senhora pode fazer pela Raquel? – Salvá-la o que mais? Ela simplesmente disse e virou as costas. Não PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS posso dizer que a aquela visão não me desagradava, mas o seu gênio acabava com qualquer atributo físico. O Rat tratou de chamar o chefe da equipe médica que indicou o caminho e eles entraram. Eu não entendi nada, aquela linda boneca era um dragão. – Ela não gosta muito de toques, coisa dela. – O Leroy me contou enquanto eu ainda olhava a porta fechada. – Eu devia ter te falado, mas como ela nunca sai me esqueci. – Tudo bem. – Mas uma coisa ela tem razão, estamos uma merda. Vou tentar encontrar algum lugar para tomar um banho. Um dos meus amigos me ligou para ter notícias e pedi que ele me trouxesse uma muda de roupa de qualquer shopping que ele encontrasse no caminho e um barbeador. Eles não tinham voltado para São Paulo, estavam em um quartel do Exército na cidade vizinha. Ficaram para me dar apoio.

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DOC O tempo passando e esses homens querendo conferir coisas puramente burocráticas estava me irritando. Nós estávamos lá para salvar vidas, mas acho que eles não tinham entendido. Só conseguimos pegar a equipe que estava em São Paulo para seguir para o interior depois que um órgão brasileiro foi consultado e nos liberou. Eu já tinha avisado que tinha pousado, mas estávamos atrasados. Eu estava muito preocupada. Somente depois de um tempo e algumas discussões finalmente as pendências foram resolvidas, a equipe e o equipamento embarcados. Como pousamos direto dentro da área do hospital chegamos rapidamente. A minha paciência já tinha terminado faz tempo e isso acabou que fez o meu primeiro encontro com a família da noiva do Rock um desastre. Eu não aguentava mais perder tempo. Assim que cheguei às instalações médicas vi o PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS quão atrasado era. Eles sequer tinham o mínimo na sala de cirurgia, eu teria que fazer milagre. Assim que examinei o Rock e li os seus exames tive a certeza de que um tomógrafo seria necessário e lá não tinha. – Eu preciso disso tudo. – Avisei ao Shin que me acompanhava depois de entregar a lista. – Como eu vou conseguir isso, Doc? – Eu não sei. Veja se tem como trazer um portátil. Eu preciso disso. – Darei um jeito o mais rápido possível. – Só posso operar o Rock se tiver uma precisão. Eu tenho certeza de que ainda há estilhaços. O que foi retirado dele não chega a dois terços do projétil. – Ainda está nele? – Está matando o Jack, Shin. Ele correu para fora do CTI depois daquilo. Se tinha alguém capaz de trazer o que eu precisava, esse alguém era ele. Enquanto eu era obrigada a esperar fui ver a moça. - Estamos fazendo o que nos foi passado. – O médico me disse enquanto eu olhava os exames dela. Ainda bem que estava parte em inglês. – O soro? – Todo o conteúdo filtrado está armazenado na PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS nossa geladeira. – Preciso de um reservatório de criogenia. Não deixe que ninguém mais use esse refrigerador. Era um absurdo, mas era onde eles estavam realmente guardando o material. Eu não quis ser grosseira, mas a cada segundo eu via que eles não estavam preparados para um evento como o que tinha acontecido. Armazenar um material altamente contaminante em uma simples geladeira era o cúmulo da incompetência ou ignorância, pelo menos a moça estava corretamente isolada. O Jack já tinha comentado comigo que o Brasil não costumava ter eventos tão graves como acontecia na Europa e nos Estados Unidos e pude ver em primeira mão. Os brasileiros não estavam acostumados a serem alvos de terroristas e talvez fosse esse o motivo dos cientistas terem escolhido o país. Quem acreditaria que uma arma química estivesse sendo criada aqui? Eu não. O governo brasileiro estava colaborando conosco e fez acontecer. Um grande hospital da capital de São Paulo cedeu o equipamento portátil e pude realizar as intervenções necessárias no Rock. Tudo o que eu pedi chegou de helicóptero em pouco tempo. Assim que o exame foi concluído eu PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS pude verificar a exata localização dos estilhaços, eram mais de seis peças de tamanhos diferentes que a olho nu não seria possível localizar. Um dos estilhaços era tão pequeno que estava dentro de uma artéria lentamente se movimentando. – Devagar. – Sussurrei para o cirurgião que estava comigo. – Aqui. – Teremos que ser rápidos. A localização era muito delicada. Teríamos que interromper o fluxo sanguíneo em dois trechos, drenar o sangue para retirar a peça e depois refazer a ligação. Era um procedimento de risco, mas era isso ou o perderíamos. – Em três, dois, um. Agora. Em questão de poucos minutos o procedimento tinha sido realizado e passamos para o seguinte, o fígado. Só no órgão havia três estilhaços que foram removidos sem grandes problemas. O restante ficou preso na pele mesmo, mas sem oferecer risco foram retiradas. Desde que eu o tinha visto observei aquela cicatriz mal feita. Ele tinha reportado que tinha sido baleado, mas não tinha me deixado ver. Eu fiz a correção naquele mesmo dia já que eu estava no PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS centro cirúrgico. – Parabéns, Doutora. – Obrigada, Doutor. – Essa sua técnica é muito interessante, passarei adiante. – Ficarei aqui até o Rock estar preparado para voltar a Londres. Estarei à disposição. Enquanto conversávamos eu fazia a correção da cicatriz e monitorava o meu paciente. Foi um dia muito longo e parecia não ter fim. Infelizmente o Rock teve mais duas recaídas, estava difícil controlar a hemorragia interna. Ele nunca teve um ferimento tão grave e tão extenso, pela primeira vez temi perdê-lo em algumas ocasiões. Precisei informar a minha chefia a situação. – Isso quer dizer que você não tem certeza se ele sobreviverá. – Estou fazendo o possível, Senhor. – Todos nós confiamos na sua capacidade, Doc. – Obrigada, Senhor. – Descanse um pouco. Você parece cansada. – Realmente não durmo desde que saí daí, mas o Rock precisa de mim. – É uma ordem, Doc. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS – Sim, Senhor. Como ele não estava lá para checar fiz como eu achava melhor. Fiquei me revezando entre a sua noiva e o Rock, avaliando os seus casos e registrando em seus prontuários. Eram dois casos extremamente graves, eu sabia. A diferença estava no fato de que a salvando neste momento não queria dizer que ela sobreviveria por muito tempo. Eu já tinha avançado muito no material e nas anotações que me foram entregues pelos agentes. Os cientistas estavam com a fórmula pronta de arma química completamente fora do convencional e prestes a usar, mas não apenas isso, eles tinham relatado cada etapa da sua ação, cada efeito no organismo, cada órgão afetado. Não se tratava de uma arma biológica simples e comum, era algo muito mais agressivo ao organismo do indivíduo, por isso tantos anos para concluí-la. A minha esperança era de que o procedimento feito na Raquel tenha retirado o máximo possível das drogas que tinham sido injetadas e que estavam afetando seu organismo a nível celular. Somente com o tempo eu teria uma estimativa de rejeição ou uma expectativa de vida. PERIGOSAS ACHERON


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ESPERA Eu não aguentava mais ficar sentado naquela cadeira esperando notícias. Era um absurdo, mas eu só pude ver a Raquel mais de seis da noite. Durante o dia todo foi um entra e sai daquele corredor me irritando, eu queria notícias e nada de concreto me era passado. Até aquela médica insuportável me ignorou conversando no que parecia ser francês com os Agentes. – Fica tranquilo. Se algo de ruim tivesse acontecido com a noiva do Rock já tinham te falado. – O Leroy me disse enquanto mexia no seu notebook. – Eles não estão mais noivos. – Estou sabendo, mas fica sabendo que ele não desistiu dela. – Eu não sei mais de nada, tá sabendo. – Resmunguei em português. – Você fala engraçado. – E desde quando você entende alguma coisa de português? PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS – O Rock é meio brasileiro e nos ensinou algumas coisas. Não é a nossa primeira vez por aqui. – Estou percebendo. Ele falou que abateu três cientistas além desse que abati hoje. Já sabem que tipo de fórmula eles trabalhavam? – Só a Doc sabe. Ela chefia o centro médico e também o centro de análise de armas químicas. – A dona da porra toda que está cuidando da minha irmã? – Ela vai adorar esse novo apelido. – Ele riu ao dizer. – Mas sim, ela mesma. A Doc está chefiando a equipe que está analisando o que conseguimos resgatar e provavelmente ficará a frente no que recolhemos do cativeiro. O Ty ainda deve estar lá. – Vou comer alguma coisa. – Avisei e me levantei. – Ok. – Aqui está o número do meu celular. Se liberarem a minha entrada e eu não tiver voltado... – Eu te aviso. A minha sorte foi que aquela unidade era imensa, tinha até um mercado. Foi lá que eu consegui comer algo além de uma barra de cereal. O meu estômago parecia que estava colado nas costas. Alguns militares me olhavam, eu estava com uma farda do exército mesmo, foi o que o PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS Pedrão me conseguiu no almoxarifado da unidade em que eles estavam. A notícia do que tinha acontecido e mais, que o hospital estava fechado por causa do risco de contaminação correu. – Estamos torcendo pelos feridos. – Um coronel disse ao se colocar ao meu lado na gôndola de biscoitos. – Obrigado, Senhor. – Essa contaminação... – Está controlada pelo que me foi reportado. – Perfeito. Mais dois outros militares se chegaram, mas apenas como curiosos. As pessoas estavam preocupadas, mas eu garanti que estava tudo bem mesmo que eu ainda não tivesse total certeza. Era o que a tal de Doc falava e eu apenas repeti. No caminho de volta eu resolvi mandar uma mensagem para os meus pais e mentir. Segundo o que eu tinha entendido até aquele momento a Quel teria que ficar muitos dias internada e depois de repouso em casa. Seria muito tempo sem ver os nossos pais, sem voltar a trabalhar, sem dar notícias. Eu precisei fazer o meio de campo, inventar uma história mais plausível. Como eles sabiam que ela tinha voltado eu inventei que tinha PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS tirado umas semanas como desconto das minhas férias vencidas e tinha viajado com ela. Para não ter que inventar mais coisas eu disse que ela estava dormindo e bem, apenas cansada da trilha que tínhamos feito. A nossa viagem fictícia era no Pantanal Mato-grossense, assim justificaria a falta de comunicação pelo celular. Antes de eu chegar ao hospital chegaram várias mensagens dos meus pais, a maioria da minha mãe avisando para não esquecer o repelente e dormir agasalhado, por exemplo. O Leroy e o Rat me agradeceram pelos lanches que eu levei. Amaram o pão de queijo que tinha acabado de sair do forno, ainda estava quentinho. Foi quando eu estava explicando de onde era a receita que a médica asquerosa me chamou. – A sua irmã o aguarda. Agora que o Senhor está apresentável e limpo pode vê-la por alguns minutos. – Obrigado, majestade. Eu nem liguei para a cara de raiva dela para mim, apenas entrei e perguntei a enfermeira qual o quarto da minha irmã. A médica veio atrás resmungando algo, mas ainda bem que eu não PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS entendi. Apesar de lúcida, a minha irmã estava extremamente abatida. Ela sempre foi magra, não esquelética como estava. A Raquel tinha emagrecido facilmente uns dez quilos em questão de menos de 24 horas, isso era assustador. Havia vários equipamentos lhe monitorando, além do soro e mais alguma outra medicação presa em seu braço. – Quel. – Sussurrei quando me sentei ao meu lado. – Porra! Você quase me matou de susto, garota. – Pelo visto essa palavra “morte” está em alta, heim. – Como você está? – Melhor agora. Beto... E a mamãe e o papai? – Eles não sabem de nada, estou enrolando. Eu mandei uma mensagem dizendo que a gente ia acampar. – A mamãe deve ter dado um monte de recomendações. – Trocentas! – Brinquei para descontrair. – Fala. – Achei que ia te perder, mana. – Sou vaso ruim. – Não, você é o meu vaso preferido, tipo um vaso chinês milenar super caro e raro. Se não fosse o PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS Jack... Esse cara arrasta uma frota de caminhões por você. – Você já o viu? – Não. A pequena Hitler não deixou ninguém entrar. – Resmunguei a fazendo rir também. – Ele passou por várias cirurgias, mas acho que agora ele vai sair dessa. Pelo que ouvi a tal de Doc falando com o Rat e o Leroy, o projétil se fragmentou quando o atingiu e pegou vários órgãos. Ela deu um nome científico para isso, mas eu não lembro. Essa baixinha se sente, né? – Eu também gostei dela. – A garota é um dragão, Quel. Você tinha que ver a pose da sujeita. – Mas parece que ela é boa no que faz. – Segundo os caras é a melhor, por isso veio de Londres para cuidar de vocês. – Que bom que você está aqui. – Ela sussurrou e chorou. – Eu tive tanto medo. – Agora acabou. Depois com calma conversamos. – O Jack... – Ele sai dessa. O Leroy disse que a Hitler os reconstrói. Estou achando que ela está mais para médica Frankenstein. – Não me faz rir que dói tudo. – Ela gargalhou e se PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS engasgou. Pelo visto a mulher tinha um radar. Antes mesmo que eu encostasse na campainha para pedir ajuda ela voltou toda prepotente. – O que o Senhor está fazendo com a minha paciente? – Olá de novo, majestade. – Resmunguei enquanto Quel não sabia se ria ou tossia. Eu tive que falar em português para a doutora monstro não entender. – Agora é sério Quel. Para de rir, garota. A doida vai me mandar embora. – Está tudo bem, Doc. Eu apenas me engasguei, nada demais. O Beto não fez nada. – Você precisa de repouso. – Desculpe. – Pedi a minha irmã e beijei seus cabelos úmidos. – Eu vou pegar uma toalha e secar esse cabelo. Você pode ter uma pneumonia por causa da negligência da equipe médica, sabe? – Mas que... – Vocês dois vão ficar brigando? Sério mesmo? Esforcei-me e não impliquei mais com a doutora monstro, pelo menos na frente dela. A minha irmã estava viva, mas precisando da minha ajuda e foi o que eu fiz. A ajudei em tudo que ela precisasse. A Raquel sequer podia sair da cama, PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS não tinha forças. – Eu vou mandar te trazerem algo para comer, mas não force. – A tal da Doc disse antes de sair e me olhou. – O seu irmão pode fazer algo de útil? – O que for preciso pela minha irmã. – Me adiantei em dizer. – Apenas a ajudar a se alimentar. A loirinha era mesmo petulante. O seu olhar para mim tinha todo ar de desprezo, mas eu não dei atenção, cuidei da minha irmã. A Quel era mais importante do que implicar com aquela mulher. – Coma devagar, cara. – Estou morrendo de fome. – Eu sei, mas... Nem deu tempo de terminar, ela colocou tudo para fora na mesma hora. A tal da Doc estava lá conosco e a ajudou também. Por um segundo vi algo estranho nos seus olhos, mas foi tão rápido que eu mesmo achei que estava vendo coisas. Era um misto de pena e preocupação, a mesma que viu outras vezes enquanto a Quel esteve internada.

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ESPIÃO Durante aqueles dias de internação eu fiquei teoricamente dispensado do trabalho, apenas fui escalado para uma nova missão. O meu comando tinha me dado todo o apoio necessário para o resgate da Raquel, envolveu até outras forças de segurança, em contra partida quiseram relatórios de tudo o que acontecia. – Como está a sua irmã? – Se recuperando. – Muito bem. – Obrigado pelo apoio. – Precisamos saber tudo sobre essa droga, Capitão. – Sim, General. – O Senhor ficará exclusivamente dedicado a isso até que eles saiam do país. Há previsão? – Depende da recuperação do Agente. – Seu cunhado. – Exato. – Muito bem. Esperamos relatórios diários. A Força PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS Aérea também está acompanhando os fatos e compartilhando as imagens de segurança. Naquele momento vi na tela do computador do seu assessor as imagens internas do hospital, inclusive da doutora que examinava alguns papéis que pareciam os prontuários dos seus dois pacientes. Percebi logo que a minha nova missão seria então era recolher todas as informações possíveis, inclusive sobre ela. Eu não contei a ninguém sobre aquilo, apenas passava o dia no hospital e a noite fazia os meus relatórios. A Quel achava que eu estava em um hotel da cidade, mas na verdade eu ficava em um hotel de trânsito lá mesmo naquela unidade militar. O meu quarto tinha um computador ligado direto a uma comissão que estava avaliando os riscos de contaminação e também de interferência externa. A Interpol não tinha notificado o Brasil da primeira vinda do Jack e muito menos do incidente ocorrido em São Paulo. Vidas brasileiras foram postas em risco e não tínhamos sido comunicados. Se a minha irmã não tivesse sido sequestrada talvez nós nunca saberíamos. O Brasil estava muito interessado em saber os resultados dos exames, eu também. Como aquela doutora monstro só ficava dentro PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS das instalações internas do hospital militar eu só conseguia pegar algumas informações do Leroy, do Rat e do Ty que conheci mais somente depois que ele retornou do cativeiro e veio saber do Jack. Com o tempo os convenci a pelo menos fazermos as refeições em um restaurante decente, ninguém mais aguentava comer qualquer coisa que encontrássemos. Eles eram bem unidos, muito amigos e preocupados com o futuro da equipe. O cabeça ainda estava em coma e não sabíamos como ele sairia daquele estado. – A chefia está querendo notícias do Rock. – O Leroy comentou quando se sentou na mesma mesa que nós para o almoço. – O chefe também me ligou hoje cedo. – O Rat também contou. – A Doc não dá previsão e nos deixa nessa situação. – Pelo que conheço dela, a Doc está apenas esperando o Rock estabilizar. Ela já pediu um jato com equipamento médico para a transferência. – O Ty comentou casualmente. – Você a conhece bem? – Questionei e ele riu. – Claro. Trabalhamos juntos praticamente desde que ela chegou à Interpol. A Doc gosta dos seus PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS brinquedos, aqui ela não tem liberdade. – Sei... – Em Londres ela tem tudo que o Rock e a sua irmã precisam, mas ela só autorizará a viagem quando for seguro para os dois. Apesar da sua irmã está aparentemente melhor precisaremos monitorar o seu quadro. Ela não teve uma gripe, foi exposta a um agente químico muito forte. – A Raquel comentou que fizeram uma limpeza no seu sangue. – Exatamente, mas como ter certeza se realmente está tudo limpo? E quais os danos causou? – Foram apenas horas... – Foi o suficiente. Acredite em mim, é mais seguro para a sua irmã vir conosco. É mais seguro para ela e para todo mundo que qualquer perigo seja contido a tempo. Claro que essa informação me deixou preocupado. O meu comando também não gostou nada de saber daquilo, a diferença era que eu estava tenso pela saúde da minha irmã, eles com uma cidade inteira. Eles exigiram explicações da Interpol, mas não tiveram nada conclusivo já que fazia apenas alguns dias do sequestro. Não tinha dado tempo de PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS ter qualquer posicionamento conclusivo, mas uma coisa eles puderam garantir, a minha irmã não seria capaz de transmitir qualquer ameaça ao povo brasileiro.

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RECUPERAÇÃO Os dias passavam e o Jack não saía do coma. Eu o mantinha em sedação, mas não o suficiente para deixá-lo naquele estado, apenas para poupá-lo da dor. Os seus exames clínicos estavam estáveis, mas a sua mente não. Ele tinha episódios de aumento da frequência cardíaca, mas nada que o fizesse despertar. A Raquel, uma semana depois do sequestro já estava bem melhor do que eu mesma esperava. Ela estava aos poucos pegando peso, se alimentando normalmente e até conseguindo realizar as suas funções fisiológicas normais. A presença do irmão era imprescindível já que ele a ajudava em tudo, até no banho. Eles pareciam realmente bem unidos. A primeira impressão que tive dele como um homem imundo apesar de lindo foi aos poucos se dissolvendo. Contudo, a arrogância e o sarcasmo ainda me incomodavam demais. Como eu era obrigada a aturar fazia o possível para evitá-lo. O PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS meu chefe disse que ele era o contato entre nós e os brasileiros, eu precisava o deixar a par da situação dos meus pacientes. O problema estava no fato de que ele aproveitava todos os momentos em que nos encontrávamos para me provocar e mesmo eu me considerando uma mulher centrada, acabava me deixando levar por algumas provocações. Eu não via a hora de voltar para casa levando o Jack e a Raquel, me vendo livre finalmente daquele homem insuportável, mas as coisas não saíram como eu imaginava. Oito dias depois de ter dado entrada no centro cirúrgico o Jack finalmente despertou. Eu resolvi levar a Raquel para vê-lo, era uma tentativa de fazer o meu amigo acordar que acabou dando certo. Ela estava bem emocionada de ir vê-lo, me perguntou tudo que pode assim que ficou ao seu lado. – Como ele está? – Estável. Eu começarei a tirar a sedação que ainda resta hoje à noite, espero que amanhã ele comece a despertar. O ferimento já está cicatrizando. Levantei a manta que o cobria e mostrei como tinha ficado o seu ferimento da bala. Ela pareceu PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS impressionada. Apesar de a cicatriz ser mínima, o estrago feito no seu corpo foi significativo. – Eu faço bem o meu trabalho. Com o tempo essa cicatriz quase desaparecerá. Aproveitei para concertar essa porcaria de marca de tiro que fizeram nele. Coisa de amador. A Raquel estava realmente preocupada, então a deixei a par de tudo o que tinha acontecido, de todas as cirurgias e a expectativa de restabelecimento depois que ele recobrasse a sua consciência. Ele já não respirava mais com a ajuda dos aparelhos e isso era um grande progresso. Vendo como ela o olhava resolvi dar aos dois um tempo juntos. Prometi que ela poderia voltar no dia seguinte, mas que naquele dia teriam apenas quinze minutos de visita. Nós estávamos em um ambiente que requeria cuidados, inclusive com ela. Os seus exames estavam bons, mas a Raquel ainda escondia algo dentro de si, eu tinha certeza. Com o tempo e com os exames que eu faria em Londres, eu descobriria. Assim que saí do centro cirúrgico fiquei conversando com o Shin para saber novidades sobre o material coletado no cativeiro e que já estava em Londres. Segundo os nossos técnicos, ele PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS estava seguindo passo a passo da fórmula com a Raquel e isso me preocupava muito. Quando eu ia solicitar a remoção dela vi uma comoção dentro do quarto. – Jack? – Chamei quando os vi juntos, 1 – Devushka . 2 – Vy zhivy . 3 – Spasibo . Eu nem tinha reparado que tínhamos saído do inglês, então naturalmente voltei para que a Raquel pudesse entender. Apenas passei a sua situação e respondi as suas perguntas sobre o que tinha acontecido durante todos aqueles dias. O Jack era prático e experiente, sabia que o seu quadro não era o dos melhores ainda, precisaria de recuperação para voltar ao trabalho com a segurança de antes. Eu raramente falava russo, apenas quando eu estava com as minhas emoções fora de controle ou como naquele momento, querendo me conectar com a pessoa mais importante da minha vida. Ele era a minha única família, o meu único porto seguro no mundo, eu não poderia perdê-lo. Com quem eu contaria se ele morresse? Como era esperado, um dia depois ele já PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS estava sendo o Jack que eu conhecia: mandão e exigente, não importasse o protocolo. – Impossível. – Vai acontecer. – Não mesmo. Você precisa de monitoração. – Ela também. Ficarmos juntos é a melhor solução, Doc. – Isso aqui não é um hotel, é um hospital, Jack. – Eu preciso ficar perto dela, Lana Smirnov. – Não me chame assim! Não aqui. – Eu ficarei com ela. Assine a minha transferência, coloque um agente vinte quatro horas na nossa porta e um enfermeiro de plantão. A Raquel precisa de toda a assistência. – Ela já está recebendo, você que está na UTI. – Por pouco tempo. Eu sei que você me reconstruiu e que preciso de alguns dias antes de irmos embora, mas eu ficarei com ela sob as minhas vistas. Preciso de equipamento de monitoração também. – Não sou sua agente de campo, Jack. Eu sou a sua médica e só te darei alta quando eu achar melhor. – Também preciso que deem um jeito no apartamento dela. A Raquel foi alvo de uma organização criminosa porque se ligou a mim, a Interpol tem que devolver um apartamento apto à PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS moradia. – Quer ligar para o chefe? – Perguntei ao estender o meu celular, mas ele apenas riu. – Eu tenho certeza que tem câmeras para todos os lados. Como eu disse, experiente. Antes mesmo de eu falar qualquer coisa o meu celular tocou e ele pode falar com o nosso chefe. Todo mundo estava feliz com a sua melhora e aguardando a sua volta, que não seria tão breve assim. Acabei tendo que ceder, deixei que os dois ficassem internados no mesmo quarto, mas em leitos separados. Eu não entendia o motivo, mas se era para que os dois me obedecessem no tratamento eu estava aceitando. O Jack sempre foi um paciente teimoso, com ela ficava pior. Um agente foi enviado para ficar na porta o dia todo, ele era rendido por outros que se revezavam. O Jack teve tudo que precisou, inclusive uma visita longa com o cunhado ainda na UTI, ele queria saber algumas coisas sobre o resgate, eu não participei dessa conversa. Outros agentes também o visitaram antes dele ser transferido para o quarto. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS Enquanto eles seguiam a risca o tratamento e se restabeleciam para voltar para casa, fiquei sabendo que o apartamento estava pronto para receber os doentes. A minha missão estaria encerrada depois da alta e eu voltaria para casa. Eu não estava aguentando mais ficar longe da minha vida, queria voltar para o meu lugar seguro e conseguir dormir em paz. Desde que eu tinha chegado ao Brasil o sono tinha fugido de mim. Eram apenas cochilos de poucas horas em qualquer canto, eu não conseguia relaxar e ter paz. Durante os poucos momentos de sono os pesadelos voltavam, eu estava me sentindo vulnerável e desprotegida. Além disso, tinha aquele homem que tinha começado a invadir não somente a minha privacidade, mas os meus sonhos também. Para todo o lado que eu olhava ele estava lá, observando, questionando. – Não faz isso comigo, Senhor. – Seus relatórios mostram que é necessário um acompanhamento do caso Raquel. Ninguém melhor que você, Doc. – Mas eles terão alta e ficarão na casa dela. Eu os ouvi comentando com o irmão, chefe. Os seus planos já estão prontos e os meus também, voltar PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS para Londres. – Seus planos foram alterados, Doc. Depois da alta um carro a levará para São Paulo. – E o Shin? E os outros agentes? – Eles estão voltando hoje, apenas uma equipe de apoio ficará no Brasil. Preciso deles aqui. Com isso resolvido, boa noite, Doc. Ele simplesmente desligou. O Jack ainda estava vulnerável e eu teria que ficar naquele país sem sequer saber falar a língua. Eu sequer seria capaz de identificar se estavam me ameaçando. Uma equipe de apoio não seria capaz de nos proteger e isso estava me deixando em pânico. Precisei tentar respirar um ar puro, mas quando me virei dei de cara com o irmão da Raquel saindo do quarto deles. – E aí, doutora. Pronta para se livrar de nós? – Me deixe em paz, soldado. – Nossa. A majestade está nervosa hoje. – Você não tem outra pessoa para perturbar? – No momento não. – Por que eu? Nós ficamos nos olhando por alguns segundos sem dizer nada. Os seus olhos pareciam me queimar, mas graças a um enfermeiro que estava PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS chegando com a troca de soro dos pacientes a nossa ligação foi quebrada. Ele mexia comigo, eu só não sabia como e nem o motivo. Naquela noite eu não me senti nada bem, tive pesadelos que me fizeram quase entrar em pânico no meu quarto do hospital. O Shin, que tinha ficado de plantão por mim, acabou de dando um sedativo, coisa que eu odiava, mas que não reclamei. Ele faria a alta dos pacientes por mim antes de ir embora. – Obrigada. – Tente descansar, você está precisando. Depois disso foi só um apagão que durou pouco mais de oito horas, o suficiente para que eles fossem embora e eu tentasse mais uma vez uma volta antecipada para casa. Não deu certo, foi pior. Eu tentei conversar com ele por vídeo conferência para que ele visse a minha indignação em ficar. Acontece que o chefe também estava em conferência com um representante do Brasil e ainda o colocou na conversa. Eles ficaram me perguntando várias coisas sobre o tratamento, depois mandou que o Shin me levasse para São Paulo e pegasse o primeiro avião. Antes eu os acompanharia por um tempo, agora eu tinha sido PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS colocada fora de função. O Shin tinha contado o que tinha acontecido comigo e o chefe achou que eu precisava de umas férias. Eu nunca tinha tirado férias na minha vida e não queria que a primeira fosse no Brasil, principalmente perto daquele homem. Durante todo o trajeto eu fiquei me preparando para o que aconteceria e não me decepcionei. Assim que o agente me levou até a porta do apartamento e toquei a campainha o meu inferno começou. – Ah, não. O que você está fazendo aqui? – Como assim? Eu sou a médica deles. – Mas eles tiveram alta. Você... – Senhorita. – A Senhora, Senhorita, Doutora, Doc, ou seja, lá o que você é pode voltar para a sua caverna. Eu ficarei esses dias aqui cuidando deles. Pode ir embora tranquila. – Eu acho que não. Dava para ouvir as risadas de dentro do apartamento, então entrei e fui atrás deles. O Jack e a Raquel estavam rindo da minha desgraça enquanto algo estava queimando no fogão, algo que tentei salvar antes que virasse carvão. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS – O chefe me mandou ficar aqui até você voltar à ativa. – Avisei ao Jack que ainda parecia achar graça de tudo. – Eu questionei, mas ele não me ouviu, simplesmente me tirou de função e disse que eu tinha que tirar umas férias... Como se eu soubesse o que isso significa. Eu questionei, resmunguei, então ele me mandou ficar contigo, Jack. O chefe disse que era para eu tomar conta de vocês dois e só retornar a Londres com vocês. Isso te inclui, Raquel. Você terá que ser monitorada por pelo menos dois anos pela Interpol. O governo brasileiro já concordou com isso. Aliás, aquele homem é intragável. Por isso estou aqui, presa neste cubículo com vocês por um bom tempo, pelo menos dois meses. Esse é o tempo mínimo para que vocês consigam suportar as quase doze horas de viagem, fora isso será um retrocesso. Não sei como suportarei essa sensação de claustrofobia. Eu sugiro que todos nós nos mudemos para um apartamento maior ou uma suíte em um hotel, de preferência uma cobertura onde entre oxigênio mais puro. Aquele apartamento era menor que o meu escritório, estava me deixando nervosa. Eu olhava em volta e não conseguia entender como a Raquel conseguia viver ali. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS – Pisa no freio, Doc. – A Raquel me pediu, – Onde é o meu quarto? – Quarto? – O irmão dela questionou de braços cruzados. – O único quarto disponível é meu. Se não quiser dividir a cama terá todo o chão à sua disposição. O sofá da sala também é confortável... – Você fica com ele. – O que? – O Senhor me fará dormir no chão ou em um sofá? Que tipo de soldado é o Senhor? Deixará uma mulher no chão? Que tipo de lição esses brasileiros recebem? – Quel? – Vocês são muito engraçados. – Ela apenas riu e abraçou o irmão. – Eu vou te responder com uma pergunta, tá? O que a mamãe diria? – Merda! Eu fico no sofá. – Perfeito. – Avisei e me virei para o fogão. – Isso precisa de tempero, está uma porcaria. Realmente um hotel seria o melhor para a nossa saúde. – Deixa o meu almoço em paz, dona da porra toda. – Do que você me chamou? – Aprenda com o soldado tupiniquim, moça. Dona da porra toda é uma pessoa que acha que pode tudo, que é dona de tudo e que todas as suas decisões são PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS leis. Agora dá licença que eu vou terminar o almoço que fiz para três e não quatro. Terei que aumentar a receita já que a madame se abancou na casa sem ser convidada. – Eu vim porque recebi ordens. – Que seja... Eu não estava ali para ser destratada e o Jack viu logo que o meu sangue estava esquentando. Enquanto o soldado mal educado foi terminar o almoço deles, o Jack me levou até um quarto. Ele ainda caminhava com um pouco de dificuldade. – Tenta ter paciência, Doc. – Ele é insuportável. Onde eu posso colocar as minhas coisas? – Eu te ajudo. – A Raquel disse ao entrar. – O Beto tinha acabado de colocar as suas roupas no armário. Será que podem dividir? – Eu deixo na mala mesmo. – Doc... – Dois meses passarão rapidamente, não tem problema. Não vamos provocar mais o soldado mal educado senão é capaz dele salgar a comida de vocês. – Eu ouvi! – Ele gritou da cozinha. – Eu cozinho muito bem, madame. Fique certa de que a minha PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS irmã e o noivo dela não morrerão de fome. Agora a Senhora, faça a sua. – Com certeza eu não comerei nada feito pelo Senhor, soldado. – Muito bem, doutora. E não mexa nas minhas roupas. Nós realmente não nos dávamos bem em nada, nunca. Naquele mesmo dia chegou ao apartamento o meu equipamento de monitoração dos exames da Raquel. Se era para ficar e eu não sairia de lá por todo aquele tempo, pelo menos eu começaria as minhas pesquisas. Como era de se esperar o troglodita tentou me atrapalhar em tudo. O equipamento era pesado e eu estava acostumada, mas ele não deixou de implicar. Mesmo enquanto eu tentava me concentrar ele atrapalhava, fosse conversando alto na sala, fosse cantando enquanto cozinhava, fosse respirando enquanto dormia. – Você parece cansada. – A Raquel comentou três dias depois da minha chegada enquanto eu colhia o seu sangue mais uma vez. – Eu tenho dificuldade para dormir aqui. – Se eu puder fazer algo... – Não precisa. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS – Eu quero que você se sinta bem aqui. Eu posso imaginar que a sua casa seja enorme e luxuosa, ao contrário da minha, mas você é bem vinda aqui. – Não por todos. – Ele não é normalmente assim. – Ele é assim desde que nos vimos pela primeira vez. Mesmo naquele apartamento minúsculo eu fiz o possível para me manter longe dele. Era um alívio quando ele precisava sair para comprar mantimentos, ou seja, lá para mais o que. O lugar ficava mais tranquilo e silencioso, pelo menos até ele voltar a me perturbar o juízo. – Não sabe bater? – Resmunguei quando ele entrou no quarto com apenas uma toalha envolvendo a cintura. – Esqueci a minha roupa. – Pegue e saia. – Está gostando do que vê, doutora? – Ele questionou e cruzou os braços me olhando. – Um corpo como qualquer outro. – Fala verdade... Um corpo muito bonito. – Já vi melhores. – Onde, posso saber? – Ele questionou com raiva. – A Interpol tem agentes muito mais fortes e PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS fisicamente mais atraentes que o Senhor. Essa vista não me afeta em nada. Agora pegue a sua roupa e se retire, estou lendo. Ele resmungou algo em português e saiu batendo a porta. O meu coração estava disparado, foi por pouco que não o deixei notar como ele realmente tinha me afetado. O soldado intragável tinha um corpo perfeito, simétrico, muito atraente. Eu normalmente não reagia ao sexo oposto como acontecia com ele. O soldado era um homem insuportável, mas que me fazia sentir coisas estranhas, como os descritos nos meus livros secretos. Ninguém sabia que eu gostava de romances adultos, que era a minha leitura preferida depois dos livros técnicos. Era nos meus momentos de lazer e privacidade que eu me transportava para dentro daqueles romances onde os olhos eram gentis, carinhosos, educados e devotos das mulheres que amavam. Eles eram o oposto do soldado e isso me deixava muito confusa. Por que eu estava sonhando tanto com ele nos últimos dias? E foi em uma noite que eu estava tendo um sonho maravilhoso que fui bruscamente interrompida por um ronco ensurdecedor. Não era todos os dias que ele parecia uma britadeira, mas naquele dia estava PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS insuportável. Eu já tinha sugerido de tudo, mas ele apenas ria e dizia que gostava de saber que mesmo dormindo era capaz de me fazer pensar nele. – Você é maluca? – Ele gritou depois que joguei uma almofada na sua cara. – Para de roncar. Ninguém consegue dormir aqui! – Sua louca. – O que acha de nós dois irmos para um hotel e deixar esses dois se matando aqui? – Ouvi a Raquel perguntar ao Jack atrás de mim e ele apenas rir enquanto eu os encarava. – Você não vai me deixar aqui com esse homem, Jack! – Você precisa exercitar a sua interação com as pessoas, querida. Ele é um grande homem que salvou a Raquel e colaborou de forma brilhante para que a missão fosse um sucesso. Não podemos de forma alguma desrespeitar o Senhor aí, o que o Chefe diria? – Droga, Jack! – O que foi isso, uma pirraça? – O soldado insuportável debochou quando bati o pé no chão de raiva. Foi algo instintivo. – Não é que ela é gente? Pensei que dentro de você tivesse apenas engrenagens. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS – Boa noite! – Resmunguei, mas antes de entrar no quarto dei o meu aviso. – Pare de roncar como um caminhão senão eu mesmo arranco todas as suas amígdalas com as minhas próprias mãos! A minha vontade era de esganar aquele homem. Eu normalmente era muito centrada, mas ele conseguia me tirar do sério. Eu ficava xingando em todas as línguas possíveis enquanto ouvia os três conversando do lado de fora. O meu sono tinha ido embora. Eu estava no meio de um sonho muito agradável. – Eu não ronco assim. – Ela tem problemas com sono. – Ouvi o Jack comentar. – De onde ela veio a noite era barulhenta. Ela era vigiada durante o dia enquanto fazia faculdade para se tornar uma médica e química como o pai e servir a máfia russa. A noite ela era trancada em um cômodo apertado, por isso a sensação claustrofóbica. Ela dormia em um quartinho no porão de uma taberna em Moscou. A Doc era quase um zumbi quando a resgatei. Ela vive em Londres quatro andares abaixo do solo em uma área só dela. – Quatro andares? Por isso é tão branquela. A garota não pega sol. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS – Metade da área é o seu espaço pessoal, o outro seu laboratório. No terceiro piso abaixo do solo é onde ela nos reconstrói normalmente. Todos os feridos são levados direto para ela. Poucas pessoas têm acesso a sua área pessoal e você ficaria impressionado com o que tem lá. – O que? – Ela me mataria se eu contasse. A Doc conhece bem as formas de matar sem deixar vestígios. Eu nunca a trairia. – É bom mesmo! – Gritei do meu quarto e os ouvi rindo. Tentei voltar a dormir mesmo ouvindo a conversa na sala. O Jack estava tentando amenizar as coisas. Não sei o que ele fez, mas o troglodita parou de roncar. Eu só descobri o motivo alguns dias depois quando fui beber água de madrugada, ele tinha comprado um aliviador de ronco em forma de adesivo nasal. O som tinha diminuído bastante. Também notei que ele ficou menos chato com o passar dos dias, até fez comida para quatro. Até aquele dia eu que tinha que fazer o meu almoço, o intragável não colocava sequer uma colher a mais de macarrão na panela. A Raquel estava proibida de PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS cozinhar, o Jack era uma negação, sobrava para nós dois. Poucas vezes eu cheguei a experimentar a sua comida e era muito boa, mas ele nunca saberia por mim. A recuperação do Jack estava indo muito bem. Eu já tinha tirado praticamente todos os pontos externos, os internos seriam absorvidos. Como eu tinha vários equipamentos para exames, além dos feitos na Raquel, também fiz vários nele. A transfusão de sangue tinha dado resultado positivo, a ingestão das minhas pílulas também. Eu mesma preparava os compostos de vitaminas diárias para a ingestão das vitaminas que me eram negadas por conta da falta de exposição ao sol, bem como o soldado intragável tinha comentado. Estar exposta ao sol era o mesmo que estar exposta ao inimigo. Já os exames da Raquel não eram muito animadores. Seu sistema imunológico estava frágil demais. Eu percebia que a cada banho ela saía mais ofegante, então precisei melhorar a sua dieta e entrar com alguns compostos também. Mesmo não achando que era muito seguro, recomendei o banho de sol que ela tomava durante meia hora no início da manhã com o irmão. Ele a levava até o telhado do prédio onde era menos visível. A Interpol ainda PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS estava buscando mais informações sobre o grupo terrorista. – Nós conseguimos rastrear algumas pistas do Doutor Schneider e também de dois outros químicos até o Sudão e a Síria. Temos algumas pistas que nos levam a Coreia do Sul, mas não são muito precisas. – O Rat comentou na conferência que fizemos enquanto a Raquel estava fora. – Ainda manteremos o sigilo da nossa localização então. – O Jack meditou. – O chefe também concorda com isso. O edifício é seguro para vocês três. Nós colocamos câmeras de segurança no entorno para rastrear qualquer rosto que esteja no banco de dados das redes de segurança. Qualquer suspeito será identificado e tomaremos as providências. – Há perigo? – Questionei. – Não, Doc. Fique tranquila. Você está segura aqui. – O Jack me garantiu. Mesmo com todas as garantias naquela noite os meus sonhos molhados foram substituídos pelos pesadelos. Além de mim, o soldado intragável também morria tentando me salvar. Ele se colocou entre mim e a bala, mas o projetil atravessou o seu corpo e me atingiu nos fazendo morrer juntos. A PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS dor que senti foi tão grande que acordei suando e sentindo os braços de alguém ao meu redor. – Shh. Tudo bem. – Não quero morrer. Não quero morrer. – Gritei novamente. – Ninguém vai te pegar, eu te prometo. Somente naquele momento que o vi, era o soldado me amparando. Ele estava parecendo realmente preocupado, mas se afastou quando o Jack entrou aflito no quarto. – Doc? – Jack! – Sussurrei quando ele me abraçou. – O que houve? – Eu... Eles virão me pegar, não virão? – Não... – Eu estou sentindo que vou morrer logo, Jack. Eu não quero morrer. Eu sei que se eles me levarem eu... – Chega!

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REVELAÇÕES A ver chorando tão frágil daquele jeito mexeu comigo, muito mais do que ela vinha mexendo. A Doc estava com muito medo, dava para perceber na forma que ela se encolhia nos braços dele e chorava compulsivamente. – Eu preciso de Oreo e leite de cabra. – O que? – Acredite em mim, eu preciso disso, Beto. Eu achei que ele estava de sacanagem com a minha cara, mas era verdade. A Raquel também tinha acordado e me pediu para sair e comprar o que o Jack tinha pedido. Pelo visto eu era o único por fora de alguma coisa, então saí e fui atrás da encomenda. Demorei mais de uma hora para ir e voltar, quando entrei no apartamento ainda dava para ouvir o choro dela. Era incrível, mas a mulher estava meio catatônica sobre a cama falando em russo, pelo que entendi. Assim que me viu o Jack pegou o copo que já PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS estava sobre a mesa e colocou o leite. Sobre o prato colocou os biscoitos. Foi incrível ver como ela foi se acalmando ao sentir o cheiro do leite e depois beber. Parecia bruxaria, mas deu certo e ela parou de chorar. O Jack ficava falando alguma coisa que eu não entendia e segurava a sua mão. – O que são essas marcas? – Sussurrei a pergunta ao Jack quando a Raquel levou a louça para a cozinha e a Doc dormia. – Você nunca as viu, entendeu? – Tudo bem, mas o que são? – Marcas de tortura. – Heim? – Ela é uma sobrevivente, Beto. Tente entender um pouco o seu jeito porque é fruto de muitos anos sob o domínio de mafiosos que pretendiam vendê-la. A Doc tem muitos medos, eu só conheço alguns, mas são suficientes. Acabei saindo do quarto quando a Raquel voltou para ficar com ele. Os dois ainda estavam se restabelecendo, mas pelo visto naquele momento a médica estava precisando de cuidados que eu sequer tinha direito de lhe oferecer. A gente só trocava farpa, querer ajudar poderia ser mal interpretado. O jeito que o Jack a estava protegendo PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS me deu uma noção de quão perto eles eram. – Ela finalmente dormiu. – O Jack comentou quando chegou à sala. – E a minha irmã? – Também foi para cama. – Ok. – Quer perguntar algo? Faça, eu respondo se for possível. – Porque Oreo e leite de cabra? – Por que foi o que eu lhe dei depois de salvá-la. Sempre que ela fica assim é o que a acalma. Acho que a faz lembrar, não sei. – Estranho. – Mas funciona e eu continuo fazendo. – Acontece muito? – Raramente. – Então por que agora? – Questionei e ele se sentou. – A Doc nunca sai da sua toca, como eu chamo aquele calabouço. Não posso entrar em detalhes, mas você viu como ela é boa no que faz. Olhe o meu corpo. – Sim, você é lindo... – Existem marcas aparentes? Não. Sabe por quê? Por que ela é ótima no que faz. Eu já fui alvejado PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS pelo menos uma dúzia de vezes em todos esses anos, ela sempre me reconstruiu com perfeição. Até as cicatrizes antigas ela apagou. A Doc nos faz mais fortes com o que produz no seu laboratório, nos faz mais inteligentes que a média. Ela consegue de alguma forma acumular tanto conhecimento e processar tantas informações que é capaz de desvendar o mecanismo de qualquer fórmula. A Doc é a maior cientista do mundo, Beto. – Se ela tem todo esse potencial, por que não divide com o mundo? São tantas que pessoas ela pode ajudar! – Exatamente... Agora me diz, se você tivesse a chance de ter em mãos uma pessoa tão inteligente assim e quisesse usar esse conhecimento para o mal... Quanto você pagaria para tê-la? O que você faria para tê-la? – Ele me questionou e se levantou para olhar a vista. – Estou entendendo. – Agora eu te peço para lembrar-se da sensação de ter aquele filho da puta na sua mira enquanto ele ameaçava a Raquel. Lembrou? – Nunca esquecerei. – Agora se lembre do alívio de ter metido uma bala no meio da cabeça dele e ter salvado a sua irmã. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS Foi a mesma sensação que tive ao eliminar todos os que tentaram tirá-la de perto de mim. Eu sou a única pessoa entre ela e qualquer um que queira usá-la. Eu sou a única pessoa que ela confia a sua vida. A Doc é um trunfo que terroristas do mundo todo sonham colocar as mãos e é por isso que ela tem medo. Estar aqui em um simples apartamento em São Paulo sem todas as barreiras que temos na Sede está sendo um sofrimento psicológico para ela. Qualquer som estranho, qualquer movimento suspeito, qualquer rangido de porta a assusta. A Doc está fora da sua zona de conforto, Beto. Eu nunca a pediria para vir se não fosse pelo medo de perder a Raquel, mas eu também não pensarei duas vezes se algo ou alguém a prejudicar. – Estou entendendo o recado. – Você é meu cunhado e eu sei que entenderá o meu ponto de vista. Ela é para mim o que a Raquel é para você. – Bom saber disso. – Boa noite, cunhado. Eu não consegui dormir o resto da noite, ficava pensando em como uma garota tão frágil conseguiu sobreviver. Aquela pose de dona de tudo era uma casca, a mulher que tinha por baixo era PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS apenas uma menina assustada, uma menina muito inteligente assustada. Prometi a mim mesmo pegar mais leve com ela. Eu estava todo dolorido quando o sol entrou pelas portas duplas da varanda, mais uma vez eu tinha esquecido de fechar as cortinas. Achei que estava todo mundo dormindo enquanto eu fazia um café. – Bom dia. – Bom dia. – Fiz o café. – Não, obrigada. Estou sem fome. – Uma fruta? – Cadê o Jack e a Raquel? – Dormindo ainda. Eu vou tomar um banho. Fique à vontade para tomar seu café. Ela estava visivelmente constrangida, eu também. Acho que ambos estávamos pisando em ovos naquele momento, então preferi sair de cena e não a provocar. A doutora monstro tinha o seu lado insuportável, mas quem não tinha? Durante todo aquele dia eu fiquei na minha. A Raquel topou assistir uma maratona de filmes e o Jack resolveu limpar seu equipamento. Ela ficou o dia todo trancada no estúdio da minha irmã. A Quel PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS tinha deixado a Doc usar como seu local de trabalho já que ela estava proibida de chegar perto de produtos tóxicos por um bom tempo. Paralelo a tudo isso eu continuava fazendo os meus relatórios diários. Resolvi deixar aquele episódio fora das minhas anotações, mas algumas coisas eu não podia ignorar. Fisicamente a minha irmã estava melhorando, mas pelo visto as drogas usadas em seu corpo estavam começando a fazer efeitos. – Ela falou alguma coisa? – Nada. – Alguma notícia do papai? – Nenhuma. Para falar a verdade estou até estranhado, você não está? – Muito. Você sabe onde foi parar o meu celular? O de casa está no cofre ainda, mas e o outro? – Desligado na cabeceira da sua cama. Eita cabeça de vento. Esqueceu, foi? – Esqueci? – Eu te avisei quando chegamos, Quel. – Acho que esqueci isso também. – Como assim também? – A senha do cofre, eu esqueci. – Mas é o nosso aniversário de Disney. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS – Eu fiquei dois dias para lembrar. O Jack, que estava limpando o seu equipamento parou e ficou a observando. A Raquel nem percebia, continuava comendo pipoca e vendo o filme enquanto nos encarávamos. Ele discretamente levantou e foi conversar com a Doc. No dia seguinte uma nova bateria de exames foi realizada. Eu não sabia exatamente o que estava acontecendo, mas percebi uma mudança de comportamento em todo mundo naquele apartamento. Como eu não queria preocupar a minha irmã resolvi falar com a Doc depois que eles foram dormir. – A gente pode conversar? – Pedi depois de bater a sua porta. – O que é, soldado? – Sem sete pedras, doutora. É sobre a Raquel. – Tudo bem. O que você quer saber? – Tudo. Ela está com falhas de memória, não está? – Está. Eu fiz alguns testes com a ajuda do Jack e vimos que há algumas lacunas, mas isso não quer dizer que seja permanente. – Não entendi. – Esse sintoma pode não estar relacionado exatamente com a química usada no cativeiro, mas PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS com uma oxigenação do seu sangue. Você tem notado que a Raquel anda mais cansada, dormindo muito e demorando a ter alguns reflexos. Isso é resultado de uma falta de oxigenação, não exatamente por causa das drogas. – Entendi. – Mais alguma pergunta? – Talvez, mas... No momento em que eu ia implicar com ela para não deixar passar a chance, toda a energia do apartamento foi cortada. O silencio foi ensurdecedor, eu só ouvia a sua respiração acelerada. A Doc estava entrando em pânico. – Shh. Eu estou aqui. – Disse ao abraçá-la. – Não fale alto, podem nos ouvir. – Quem? – Alguém cortou a energia, seu idiota. – É apenas uma falta de energia, mulher. Veja... – Sai de perto da janela! – Relaxa, ok? – Não me deixa sozinha! Cadê o Jack? – Eles estão dormindo. Vem comigo. Eu tinha deixado armas espalhadas pelo apartamento no mesmo dia que chegamos. O Jack estava ciente daquilo, havia algumas pistolas no PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS quarto deles, no banheiro e até na área de serviço. – Fica calma, ninguém vai te fazer mal. Precisarão passar por cima de mim primeiro. – Prometi depois de pegar uma pistola de dentro de uma gaveta do armário do seu quarto. – Você sabe atirar? – O Jack me ensinou, mas eu odeio armas. – Então fica com a lanterna. Nós precisamos chegar ao meu celular. Vou conferir se é apenas uma queda de energia ou se algo localizado. – Estou com medo. – Ela sussurrou e segurou forte a minha mão. Nós fomos até a sala sem problemas apesar de ela estar tremendo muito. Assim que peguei o celular conferi que todas as portas e janelas da casa estavam trancadas e o sistema de alarmes acionado. Todo o bairro estava às escuras, dava para ver por todos os ângulos visíveis pelas janelas. – Fica tranquila. É uma queda de energia normal. – Avisei quando nos sentamos no sofá da sala. – Normal? Que absurdo deixar as pessoas no escuro. – Bem vinda a São Paulo. – Doc? – Estamos na sala. – Avisei quando o Jack chamou do corredor. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS – O que houve? – Queda de energia. Todos os acessos foram checados, inclusive o alarme. – Contei quando ele apareceu no corredor e nos viu. Ele também estava armado. – Cadê a Raquel? – Dormindo. A energia demorou mais de duas horas para ser restabelecida, mas foi o suficiente para a Doc dormir encostada em mim enquanto eu e o Jack conversávamos sobre esporte. Nós estávamos nos entendendo mais. Ele olhou como ela estava aconchegada em mim, mas não fez qualquer comentário. – Você a leva? – Deixa comigo. Foi a primeira vez que a tive em meus braços. Naquele dia eu não fazia ideia de que os nossos destinos já estavam traçados e que o futuro seria agitado para nós dois. Os dias seguintes foram até tranquilos demais, nós quatro estávamos conseguindo viver em uma certa harmonia. A Raquel pareceu recuperar mais a sua capacidade de memorizar os fatos e relembrar algumas coisas. A Doc tinha começado com uma PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS medicação que pareceu estar fazendo efeito. O problema foi que enquanto nós achávamos que estávamos vivendo em um mundo paralelo, as pessoas do lado de fora começaram a notar a nossa ausência. Eu tinha acabado de levantar quando a campainha tocou. Nós não estávamos aguardando ninguém, sem falar que o porteiro sequer tinha interfornado. Saber disso chamou a atenção de todos. Toda a nossa mentira tinha sido descoberta. – Mãe? – Arfei quando a porta foi aberta de repente e a vi. A Raquel estava parada no corredor com os olhos arregalados. – O que a Senhora está fazendo aqui? Como se não bastasse ela, o meu pai também estava lá com cara de poucos amigos. Os dois foram entrando para começar os seus questionamentos. Seria complicado inventar algo. – Ora ora... Você por aqui também? – Ela questionou quando viu o Jack ao lado da Raquel. – O que está acontecendo nesta casa! – But what shouting is this? Can not you study in peace? Is absurd how people do not respect others 4 in this country . – A Doc resmungou ao sair do quarto, mas a minha mãe não entendeu nada. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS – Quem é essa? Ninguém disse nada. A minha dúvida era se nós deveríamos dizer toda a verdade ou não, a Raquel estava visivelmente diferente. Acabou que o meu pai mandou todo mundo sentar. Ele estava muito puto, dava para perceber. – A verdade! – Meu pai exigiu de braços cruzados. – O porteiro já nos disse o que aconteceu por aqui. Que negócio é esse de polícia federal aqui? E você, Beto? O que você tem a ver com isso? – Senta, pai. – Estou bem de pé. – Tudo bem, então lá vai o resumão. Ele é da Interpol, ela é uma médica CDF, a Quel quase morreu contaminada por uma arma química e eu faço parte de uma equipe de elite do Exército. Já fiz até curso no FBI. É isso. – Heim? – A minha arfou e se sentou. – O que aconteceu com a minha filha? – Eu estou bem agora, mãe. – A Raquel prometeu quando ela chorou. Só naquele momento a minha mãe notou a diferença. – O Beto meteu uma bala na cabeça daquele médico e o Jack me salvou. A Doc cuidou de mim e está aqui cuidando da gente. – O meu filho matou uma pessoa? PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS – Melhor você calar a boca, Quel. O que importa é que está tudo bem agora. Tudo bem que a Quel terá que ficar dois anos em Londres sendo monitorada pela Doc, mas ela está viva, isso que importa. – Cala boca você, Beto. – A Raquel resmungou e deu um tapa na minha mão. 5 – What´s going on, Jack? O Jack cuidou de explicar a ela quem eram aquelas pessoas enquanto eu questionava os meus pais como tinham nos descoberto. A Raquel também estava querendo saber já que não era normal eles darem incerta no seu apartamento. – O Daniel apareceu na empresa essa semana. – O que ele queria? – Foi lá querendo notícias suas, filha. O que mais ele poderia querer se já não trabalha mais para mim? Acontece que ele comentou casualmente, não tão discretamente, que tinha vindo aqui e ficou sabendo que o seu apartamento estava em reforma depois de um assalto. Parece que alguém comentou alguma coisa e ele ficou preocupado, acho que foi o porteiro. Como ninguém estava sabendo de qualquer incidente aqui foram me questionar e eu passei pelo pai desinformado! – Enxerido. – A Raquel resmungou. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS – Ele chegou com todo o histórico, até que tinha dado polícia federal aqui.– A minha mãe comentou. – Achei que tínhamos nos livrado dele. – O Jack resmungou. – Obrigada. – A minha mãe disse segurando a mão da Doc e beijou o seu rosto. – Eu sei que você não me entende, mas obrigada por salvar a vida da minha filha e do meu genro. A coitada da garota não estava entendendo nada, estava visivelmente assustada ao meu lado, então expliquei a deixando mais segura, pelo menos superficialmente. Garanti que não tinha necessidade de ficar assustada com os meus pais. Para aliviar o clima a Raquel chamou a minha mãe para a cozinha, nós nem tínhamos tomado café ainda, enquanto isso explicamos ao meu pai o que tinha acontecido, pelo menos o suficiente. Nem eu e nem o Jack entramos em detalhes. – Bom saber que a sua irmã está segura, mas você poderia ter me contato, filho. – O meu pai comentou enquanto tomávamos um café na varanda. – Eu não podia, pai. – Nem para mim? – A minha divisão é discreta, digamos assim. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS – Tudo bem... – Fica tranquilo, pai. Estamos todos bem. Todo mundo aqui sabe onde se meteu. – Só é complicado assimilar que o meu filho matou alguém. – Não foi o primeiro, pai. E nem será o último, mas não sou um assassino. – Não disse isso. – Era ele ou a Quel. – Melhor eu não saber dos detalhes senão a sua mãe vai me fazer contar. – Concordo. Depois que eles foram embora sentamos os três para conversar. A Doc tinha entrado no seu quarto e de lá só saiu para lanchar, sequer para o almoço. A menina tinha ficado cismada. O Jack comentou que socializar não era o seu forte, mas foi quase obrigada. Como era de se esperar acordamos no dia seguinte com a minha mãe trazendo comida e preparando um café da manhã de batalhão. Eu e a Quel estávamos acostumados, ela nos fazia comer daquele jeito quando estávamos doentes. A Doc vinha, comia e fugia. A minha mãe gostava de tocar, de abraçar, de beijar todo mundo quando PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS chegava em casa. Entre nós era normal, pelo visto os europeus não eram tão calorosos. Foram duas semanas interessantes dentro daquele apartamento. A Raquel foi pegando peso, o Jack conseguindo se movimentar melhor, eu e a Doc nos entendendo, ou não. Estava claro que havia uma química entre nós ao mesmo tempo faísca. A gente sempre acabava discutindo. O meu comando estava satisfeito com os relatórios que eu enviava diariamente contando a evolução no quadro clínico da Raquel. A previsão de eles voltarem para Londres estava se confirmando. Tanto o Jack quanto ela estava em condições de aguentar a viagem, sem falar que a Doc estava precisando levar todo o material que tinha sido armazenado. Pelo que entendi a Raquel estava bem, mas ela precisava de exames que não poderiam ser feitos no Brasil. Pedi e ela prometeu me manter informado. O dia de nos despedirmos estava chegando, então os meus pais sugeriram uma festinha familiar no sítio. A Doc quase comeu o meu fígado quando comentei animado que faríamos um churrasco. O Jack prometeu que era seguro, ela não concordou. Demorou alguns dias para convencermos a mula a PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS desempacar. Ela foi de São Paulo até o sítio resmungando que o Jack não deveria ter omitido aquela saída da sua chefia, mas ele apenas a mandava relaxar e aproveitar. A doutora monstro aproveitar? Aquela mulher era gelo puro quando queria.

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CONFRATERNIZAÇÃO A invasão do meu espaço pessoal estava me tirando do sério. Eu não conseguia entender essa mania dos brasileiros de ficar dando beijos e abraços em pessoas que mal conheciam. Eu só não fui grossa por que se tratava dos pais da Raquel, mas era desagradável ver mais gente dentro daquele apartamento todo dia. A mulher chegava trazendo bolsas de comida como se o que tivéssemos não fosse suficiente. Isso sem falar que eles pareciam não ter percebido que eu não entendia nada. Custava falar em inglês para que eu pudesse entender? Pelo visto custava. Vendo que esse seria um grande problema para sempre eu resolvi já no segundo dia começar a estudar o português. A minha maior motivação era me dar bem com a Raquel. Ela e o Jack estavam parecendo ser um pacote que duraria até a eternidade, eu precisava entender o que eles tanto PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS falavam. Nos intervalos das minhas análises dos exames eu me dedicava a aprender a língua. Como eu já falava bem o espanhol não seria difícil migrar para o português. Em alguns momentos eu mesma ficava espantada com as minhas reações e sentimentos conflitantes sobre essa família brasileira. Como eu não tive uma família tradicional ficava difícil entender essa necessidade de carinho. Ao mesmo tempo eu sentia falta quando a mãe da Raquel percebia o meu desconforto e apenas me dava um bom dia. O soldado também tinha o mesmo tipo de reação, um dia carinhoso, no outro um troglodita, como no dia em que ele estava animado em comer carne. Os três estavam ansiosos por ficarem horas em um carro indo até um lugar onde teria um concentração de pessoas curiosas e que eu sequer entendia. – O que eu vou dizer quando me perguntarem algo? Oi, sou uma médica da Interpol, mas se você contar isso a alguém te matarão. Vai uma salada? – Questionei enquanto o soldado dirigia para o tal sítio. – Quanto drama... – Não é drama. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS – É sim. Relaxa, doutora. Só terão amigos no sítio. Amigos, cerveja, churrasco e piscina. – Maravilha. Curiosos, bêbados, esfomeados e seminus. – Vai que um dos meus amigos te chama para sair. – Sair para onde? – Sair... Beijar na boca... Dar uns amassos. – Do que você está falando?

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DESPEDIDA – Deixa a Doc em paz, Beto! – A Raquel reclamou em português no banco de trás. – Chata. Nós conseguimos chegar antes da galera, mas por pouco tempo. Em menos de meia hora a casa foi invadida pelos meus tios e pelos meus amigos. A Doc não sabia onde se escondia enquanto a Raquel e o Jack faziam os seus pratos. Os meus pais não contaram a ninguém o que tinha acontecido, mantiveram a mentira combinada, que a Doc era prima do Jack, também uma médica, o que não era de todo mentira. O problema foi que os meus tios ficavam querendo conversar, mas ela não entendia e ficava cada vez mais nervosa. – Tudo bem contigo? – Me deixe em paz, soldado. – Menos, doutora. Que agressividade. – Eu não vejo a hora de ir embora e nunca mais voltar aqui. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS – Você vai sentir a minha falta. – Brinquei e me aproximei mais. – Não mesmo. Ela ficou visivelmente afetada, mas fugiu como vinha fazendo. Depois que nos esbarramos algumas vezes enquanto eu saía do banheiro eu comecei a perceber que ela sempre entrava para tomar banho depois de mim. O banheiro estava cheirando ao meu shampoo. Eu sentiria falta dela, era certo. Como o sítio não tinha um sistema de segurança além dos cachorros que ficavam soltos no quintal à noite, o Jack me convenceu a voltar para São Paulo. A Raquel também estava bem cansada, não queríamos abusar. A doutora monstro ficou animada quando foi informada, apoiou a nossa decisão. No apartamento ela se sentia mais segura. Durante todos os dias que restavam eu tentei me aproximar mais dela. Foi sendo cada vez mais difícil convencer a mim mesmo que a atração era superficial. Eu percebia aqueles olhares furtivos me analisando discretamente perturbando o meu juízo. Durante a madrugada eu ficava de tocaia esperando a Doc se levantar para ir até a cozinha ou checar se PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS as portas estavam fechadas para mais uma tentativa, mas ela sempre se esquivava. – Sou repulsivo para você? – Questionei quando a encurralei no corredor na noite anterior a partida definitiva deles. – Me deixa em paz. – Escute o que eu estou dizendo... Vai chegar o dia em que você vai me pedir para te beijar, Doc. – Nunca. – Ela resmungou e se esquivou para o quarto. – Nunca diga nunca, loirinha. – Boa noite. Olhando aquela porta fechada eu vi a minha última chance se esvaindo. As malas estavam prontas na sala, ela realmente partiria e eu não fazia ideia de quando nos encontraríamos novamente. Eu tinha a minha vida e a minha carreira no Brasil, ela era uma médica da Interpol. Nossos destinos não tinham motivos para se cruzarem. – Eu sentirei a sua falta. – Vamos nos falar o tempo todo pela internet, Quel. – Não será a mesma coisa. – Me prometa que ligará se tiver qualquer problema. – Eu prometo. Você fará o mesmo? PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS – Eu cuido deles, fica tranquila. Nós já combinamos bem como lidaremos com a empresa. O importante é que você fique bem. – Vamos? – O Jack perguntou quando voltou ao apartamento. – As coisas estão no carro. Está na hora, amor. Fiz questão de ir com eles até o hangar do jatinho no Campo de Marte. Os meus pais já tinham ido embora depois de se despedirem e fazerem mil e uma recomendações. A Raquel pediu e o Jack concordou em não partir sem se despedir. A Doc já tinha ido na frente antes mesmo dos meus pais chegarem, ela queria checar se todo o seu equipamento estava embarcado. Ela sequer me disse adeus, mas eu a pegaria de jeito antes dela subir naquele avião. – A gente se vê, Quel. – Vamos nos falar sempre pela internet. – Ela prometeu com humor repetindo a minha frase enquanto nos abraçávamos. – Se cuida, tá? Não deixa a Doc ficar te furando sem necessidade. – Pode deixar. E pode deixar que eu cuido dela também. – Que seja. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS – Você apaixonado é tão engraçado, Beto. Eu vou arrumar um quarto para você. Você será sempre o meu melhor hóspede. – É bom que eu seja. Agora vai e beba algumas cervejas nos Pubs Londrinos por mim. – Eu cuidarei dela. Tem a minha palavra. – O Jack disse quando apertou a minha mão. – Eu sei disso, cunhado. – Te esperamos no casamento. – Conta comigo. Havia vários agentes de olho em tudo enquanto eles seguiam para o jatinho. A estrutura era profissional, dava para ver que todos os envolvidos estavam preocupados com a segurança deles e também da Doc. – Adeus soldado. – A Doc disse e estendeu a mão para mim pela primeira vez e eu apertei. – Até logo, doutora. Eu sabia que não teria uma outra chance então a puxei para mim e a beijei como eu tanto desejava. Ela até resistiu por um segundo, mas eu senti seu corpo tremer e se entregar. Ela tinha lábios macios, uma boca gostosa, um corpo que se encaixou perfeitamente no meu. Infelizmente o beijo durou muito menos do que eu necessitava, mas terminou PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS cheio de promessas. Eu vi aqueles olhos azuis queimarem de desejo quando nos separamos. Ela não me rejeitou, não me deu um tapa, ela também gostou. – A gente se vê, doutora. – Avisei antes de entrar no carro e partir. A imagem dela parada naquele hangar tocando os próprios lábios ficou marcado na minha mente. Enquanto eu dirigia para a casa dos meus pais para deixar o carro da Quel antes de voltar para Brasília, eu prometia a mim mesmo que a veria novamente e em breve. A necessidade de sentir o seu gosto não tinha sido satisfeita.

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ROTINA Foram semanas de reuniões para colocar o meu comando a par de tudo o que realmente tinha acontecido. Eles tinham livrado a minha bunda de um inquérito por eu ter matado o tal cientista, mas eu tive que responder tudo que eles inventavam. Era cada pergunta mais absurda que a outra, mas eu tive toda a paciência do mundo. Mesmo sem eles pedirem eu consegui firmar um contato com alguns agentes, principalmente o Leroy e o Rat, com quem eu já tinha feito uma certa amizade. Como eu sabia que a Raquel mentiria se algo de ruim acontecesse, eles me mantinham informado. Naquele primeiro mês depois que eles foram embora a única notícia que eu tinha da Doc vinha da Raquel. Como prometido nos falávamos quase todos os dias pela internet. A sua vida em Londres estava tranquila e calma apesar de todos os exames que fazia. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS – Ainda bem que ela tem mãos de fada, como a vovó dizia. Toda semana eu preciso refazer os exames de sangue, tomografia, raios-X e outras coisas que ela faz lá no seu parque de diversões. – Parque? – Sério, Beto. A garota adora tudo aquilo. Assim que chegamos fomos para lá e ela parecia nas nuvens. É a Disney dela. – Que bom que ela está se sentindo segura. – E a mamãe e o papai? Conseguiram alguém? – Conseguiram sim. Eles conseguiram colocar o filho de um amigo que agora é contador no seu lugar. A firma é mais perto da casa dele, foi a solução perfeita. O cara acabou de ter uma filha. – Que bom. – Tenho que ir. Amanhã saio para uma missão. – Dará tempo de você vir com o papai e a mamãe? – Eu não sei. – Mas... – É a minha vida, maninha. E como eu previa, eu não consegui chegar a tempo de ir com eles para Londres. O Leroy até me disse que conseguiria uma passagem, mas eu voltei da minha missão quando eles estavam quase retornando ao Brasil. Seria inviável e cansativo PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS demais. Eu andava exausto querendo dormir até não poder mais, mas o trabalho estava me pegando pelas bolas. Além das missões da minha equipe que aconteciam de repente eu ainda fui escalado para treinar novos companheiros. Nem todo mundo tinha pique para aguentar o nosso ritmo, precisava estar fisicamente preparado e tecnicamente apto. Não bastava fazer flexões e corrida com um companheiro nas costas, precisava saber o que fazer em situações de risco. Todos nós precisávamos de noções avançadas de socorrista para ajudar os nossos companheiros. Naquela semana era dia das provas eliminatórias. Não significava dizer que quem não concluísse seria desligado da sua força militar, voltaria para casa e seguiria com a sua vida. Ele ou ela poderia tentar no ano seguinte até conseguir entrar. Não era vergonha ser eliminado, estar tentando já era uma vitória. Nós éramos uma máquina muito bem azeitada, uma peça mal preparada poderia significar a morte. Todos eles sabiam disso quando começavam os treinamentos, sabiam que só ficariam se fossem capazes de se encaixar. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS – Raça, Sargento! – Gritei quando o sargento da marinha caiu entre os obstáculos. – Sim, Senhor! – Ele gritou quando se levantou e continuou o percurso. Nós estávamos em uma unidade militar do Rio de Janeiro onde as provas definitivas seriam realizadas em duas semanas. Somente quem fosse considerado apto naquele dia faria um teste de campo na Amazônia sob a supervisão do Rafael e voltaria para as finais. – Um instrutor me disse uma frase um dia e vou repetir para vocês! Aqui não tem a mamãezinha para limpar a sua bunda! Na lama! – Sim, Senhor. – Todos os dez gritaram em coro. – Se tem nojinho engole e segue. – Gritei para uma sargento do exército que estava tentando pela terceira vez. – Sim, Senhor! Eu precisava eliminar quem não aguentasse o tranco e já estava notando a fadiga em dois do grupo. Nós pegávamos pesado, levávamos todos eles a exaustão física e mental para selecionar os mais resistentes e inteligentes. Depois de cada prova física eles eram colocados para executar uma tarefa de precisão, como desmontar uma arma e PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS depois remontar no menor tempo possível. – Esse grupamento não admite erros! Dez segundos! E era assim que eu passava os meus dias, as noites eram diferentes. Eu estava parecendo um idiota apaixonado olhando as fotos furtivas que eu tinha tirado dela enquanto ficamos morando juntos na casa da Raquel. Aquele beijo não saía da minha cabeça. Todas as noites eu sonhava que estava transando loucamente com ela e acordava muito excitado. Como um adolescente descontrolado eu me masturbava pensando nela. Não era como um alívio diário no chuveiro, era o tesão me dominando. A Raquel não colaborava com o meu sofrimento, todas as vezes que nos falávamos pela internet ela arrumava um jeito de colocar a Doc na história. Ficava me contando como elas estavam ficando amigas, até que tinham saído juntas um dia. Ela seria a madrinha do casamento ao meu lado, ou seja, estaríamos os dois juntos perto de um juiz de paz e eu com certeza sofrendo com um tesão contido. Apenas dois conseguiram concluir o curso com excelência, incluindo a sargento. Ela era a PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS primeira mulher da equipe, mas não teria moleza. Ninguém tinha privilégios na nossa corporação, todo mundo sabia muito bem o seu papel. A formatura de conclusão foi emocionante para todos nós. Dois companheiros estavam voltando para as suas unidades de origem e dois estavam ingressando. As suas famílias estavam presentes e felizes pelos seus feitos. A diferença entre elas estava no fato de que dois estavam voltando como heróis e vivos, os outros começavam um tempo de tensão, perigo e alerta diário. – Nós somos a elite das elites das forças de segurança. As nossas famílias não precisam saber a verdade sobre o que executamos e o que estamos aptos a fazer. O cidadão comum não precisava saber tudo o que acontece no submundo. Senhores, nós somos a sombra, mas também a luz para a nação. – O General disse a tropa quando nos apresentamos novamente em Brasília na segunda feira. – Sombra! – Aos recém-chegados eu dou as boas vindas e desejo garra e sucesso nas suas missões. Contem sempre com os seus companheiros dentro e fora das missões. Aqui não pode haver segredos e intrigas! PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS Aqui nós precisamos de união e confiança. A sua vida depende do seu companheiro. A vida do seu companheiro depende da sua. A nação depende de nós! Aquilo tudo terminou dois dias antes de casamento e as minhas malas ainda não estavam prontas. Assim que terminou o expediente eu corri para casa, o meu voo sairia em cima da hora, eu chegaria praticamente direito para o casamento. A Interpol conseguiu me colocar em um voo direto para a Itália já que os outros estavam lotados. Eu não tinha como prever o dia que eu sairia para comprar com antecedência, teve que ser assim. Pelo menos os meus pais tinham levado o meu smoking caso eu esquecesse algo. Eu tinha avisado o meu comando que era casamento da minha irmã e pedido uns dias. Eu sabia que eles estavam sendo complacentes demais e que depois eu pagaria o preço, mas era o casamento da Raquel e ninguém me impediria de estar lá. Mandasse me prender depois, foda-se!

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CASAMENTO – Seja bem vindo. – O Rat disse ao me abraçar. – Fez bom voo? – Obrigado. O voo foi tranquilo. Sentei ao lado de uma Senhora que me contou toda a vida do neto que estava vindo visitar. Se quiser te conto como ele terminou a escola com menos de quinze anos. – Dispenso. – Ele gargalhou ao dizer. – O Leroy me paga. – Vamos nessa que a sua irmã estava ansiosa te esperando. O Jack ficava dizendo que sem padrinho não teria casamento. – A Raquel não muda. Ela sempre cai nas brincadeiras dos outros. O Leroy estava no carro nos esperando. Ouvi as novidades de lá até o hotel onde eu mudaria de roupa que não ficava muito longe do aeroporto, deu para colocar o papo em dia. O Rat me avisou que os exames da Raquel estava cada dia melhores, o que deixava todos nós mais tranquilos. Eu ri muito PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS deles falando dos meus pais pela cidade. Como a Raquel não podia ficar zanzando por aí ainda, ele e o Leroy foram selecionados para a tarefa de mostrar os pontos turísticos londrinos novamente. Em momento nenhum ele mencionou na Doc. – Beto! – A Raquel gritou e me abraçou assim que o Jack abriu a porta do casarão. – Por que demorou tanto? – Sabe como é... São muitos pontos turísticos para ver. – Sem falar nas tabernas. – O Leroy emendou. – Ainda não esqueci o que você fez...Valeu pela velhinha faladeira. Todo mundo começou a rir. É claro que eles já sabiam o que eu tinha passado, havia um outro agente no avião. O Jack me contou depois que era apenas uma medida de proteção. Eles ainda estavam tentando encontrar a tal organização criminosa envolvida com os cientistas, mas pelo visto todos eles sumiram do mapa. Como eu me envolvi no resgate e não sabíamos se havia algum olheiro, todos nós poderíamos estar sendo monitorados. Antes ainda era possível conseguir algumas pistas, agora o silêncio era a palavra de ordem. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS Eu queria ter ido conhecer as instalações da Interpol, mas ainda não foi daquela vez. Achei que a Doc estava me evitando. Enquanto o meu pai me levava para dar uma volta pela propriedade antes do casamento enquanto a Raquel terminava de se arrumar eu tentei encontrála, mas não tive sucesso. Só entendi o motivo depois. – Achei que a madrinha não viria. – Comentei quando a vi saindo do carro preto. – Olá, soldado. – Você não é a noiva para chegar atrasada, sabia? – Não sabia, mas obrigada pela informação. Ela não tinha mudado o seu gênio como tinha mudado o corte de cabelo. Com aquele vestido colado estava me deixando louco. A Doc estava literalmente vestida para matar, me matar de tesão. Eu estava ao ponto de agarrar a madrinha no primeiro armário que eu encontrasse no caminho. – Não acredito que a sua irmã vai me deixar esperando. – O Jack resmungou enquanto esperávamos a noiva já no altar. – Faz parte da cerimônia. – Ela podia dispensar isso, não acha? – Deve ser retaliação por não ter um padre. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS – Não acredito. – Não esqueceu as alianças, não é? – Não. – Está a altura da minha irmã? – Está duvidando? – Me deixe ver de novo. – Você já viu, Beto. – Foi pela internet, não deu para avaliar. A minha irmã merece uma aliança perfeita. Os caras que estavam perto ficavam rindo da cara do Jack enquanto eu analisava as alianças na caixinha de veludo. Eu tinha direito a uma retaliação pela velhinha faladeira do avião. O Leroy tinha me contado que foi obra do Jack me colocar ali quando viu a lista de passageiros. O filho da puta teve a cara de pau de dizer que era apenas para eu não me sentir sozinho enquanto na verdade eu queria ir dormindo a viagem toda. Foi lindo ver a carinha de felicidade da Raquel ao passar pelos arcos floridos. Ela estava linda da cabeça aos pés. Os nossos tios e amigos não puderam participar pelo motivo óbvio, mas não deixou de ser especial. O meu pai também estava emocionado enquanto a levava pelo braço até o homem que seria seu marido. Tenho certeza que na PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS cabeça de todos ali passava a mesma coisa, ela poderia estar morta naquele momento. O juiz de paz disse as palavras de praxe em inglês e também em português antes deles dizerem o sim. A Doc observava tudo com atenção, mas também me olhava furtivamente às vezes. Ela parecia muito emocionada. – Você está linda, Quel. – Obrigada, Beto. – Ela sussurrou nos meus braços. – Eu estou muito feliz que você conseguiu realizar o seu sonho. – Eu estou muito feliz. – Isso que importa. E você, meu oficialmente cunhado... Cuide bem da minha irmã. Ela é a minha única irmã, entendeu? – Entendido. Mais esse recado está dado e anotado. – Ele disse com humor e nos abraçamos. O almoço do casamento começou mais de duas da tarde e foi serviço em uma tenda. Os noivos ofereceram um pequeno coquetel antes da refeição principal com direito a tudo que você poderia imaginar. Não haviam muitos convidados, todos lá pareciam se conhecer muito bem, eram todos agentes da Interpol mais chegados ao Jack e PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS também a Raquel. Ela estava fazendo amizade com todo mundo, como não poderia deixar de ser. E ela. A Doc estava sempre ocupada, parecia se esquivar sempre que eu me aproximava, inclusive quando eu a pegava me olhando. Acho que ela teve medo de receber outro beijo como eu ansiava tanto. A Raquel me pegou olhando a amiga algumas vezes e apenas sorriu. Ela tinha percebido faz tempo que eu estava arrastando alguns caminhões pela doutora monstro. A festa estava indo muito bem até que uma mulher se colocou ao meu lado enquanto eu via a Raquel e o Jack cortando o bolo. – Ela não serve para ele. – Heim? Quem é você? – Não sou ninguém. O meu instinto estava berrando no meu ouvido que era hora de esquecer a paquera e me concentrar em algo muito mais sério. Aquelas palavras ficavam se repetindo durante a recepção do casamento da Quel e do Jack. Eu nunca tinha visto aquela mulher, mas ela parecia conhecer os noivos o suficiente. Estranhei muito já que todo mundo ali parecia feliz com o casamento, menos ela. Cheguei a pensar em falar com o Jack, mas não quis trazer PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS problemas para o dia deles, então fui atrás do Rat. – Você viu uma ruiva de um metro e setenta, 65 quilos e vestido preto por aí? – Não... O que foi Beto? – Uma mulher falou umas coisas estranhas perto de mim tem uns dez minutos, mas sumiu. – Que coisas? – Que a Raquel não servia para o Jack. – O que? – Ela disse “Ela não serve para ele”. – Porra! – Ele resmungou e me mostrou uma foto no celular, mas a mulher era morena. – Parece com ela. Quem é? – A Hellen. O Rat me contou que a tal era da equipe do Jack, mas que foi dispensada. A tal de Hellen tinha sido pivô da briga que separou a minha irmã do Jack e a levou de volta para o Brasil, onde ela foi sequestrada e quase morta. Eu não sabia daquela história toda e isso me preocupou mais ainda, a tal não tinha sido convidada. A Quel nunca aceitaria a presença da mulher que os separou. Sem levantar suspeita fomos a central das câmeras de segurança para tentar localizar a tal e confirmar a sua identidade. Ela tinha conseguido PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS entrar de alguma forma, precisávamos descobrir como. Bingo! Era ela mesma. As imagens das câmeras desde o momento que ela falou comigo foram capazes de vê-la tirando a peruca antes de entrar no carro Sport e partir. Faltava descobri como ela tinha entrado, mas isso levaria tempo. – Coração partido? – Eu não sei... Mas farei uma verificação assim que tiver acesso ao meu equipamento. – O Jack e a Quel não precisam saber disso, pelo menos por enquanto. – Vou reforçar a segurança aqui pelos dias que eles ficarem. Vou avisar também ao meu chefe. Ele precisa saber que a Hellen esteve aqui. – A Hellen estava aqui? – Ouvimos a pergunta e eu logo reconheci a voz dona dos meus sonhos eróticos. – Olá de novo, madrinha. – Brinquei, mas ela olhava fixo para o Rat. – Então, Rat? – Esteve, Doc. Ela já foi embora, mas nem devia ter entrado. – Isso não é bom. Deu para perceber a preocupação neles. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS Ambos acreditavam que ela não tinha falado comigo à toa. Como ela tinha ido embora voltamos para a festa. – Doc. – Eu preciso... – É sério agora. Essa mulher, a tal de Hellen. Essa mulher é um risco para a Raquel? – A Hellen sempre foi apaixonada pelo Jack, mas ele nunca lhe deu esperanças. Ela era da equipe e eles chegaram a ter alguma relação pelo que deu para perceber, mas foi algo antigo, faz anos. – Mulher de coração partido pode esperar décadas para se vingar. – Eu não acho que ela faria algo contra eles. A Hellen é da Interpol. Não se entra sem ter todo um perfil. – Obrigado. – Fique tranquilo. A Raquel estará segura. – E você? – O que tem eu? – Quem vai te proteger? – Eu estou segura também. Assim que terminar o casamento eu volto para casa. O avião já está pronto e os agentes também. – Aqui está o meu celular. Qualquer problema me PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS ligue. – E você chegará o que? Em... treze horas se eu tiver sorte? Não se preocupe, tem muitos agentes me protegendo, soldado. – Mesmo assim. Ela acabou pegando o pedaço de papel e guardou consigo. Era o meu instinto gritando na minha cabeça. Algo estava por vir e isso me deixava tão nervoso que esqueci até o tesão. Eu e os meus pais nos despedimos da Raquel no início da noite. Eles ficariam alguns dias por lá, nós voltaríamos para o hotel para mudar de roupa e depois pegaríamos o avião para o Brasil. A nossa vida era lá, um oceano de distância dela. – Você pode enganar todo mundo, filho... Não a sua mãe. – Está tudo bem, mãe. – Garanti depois de nos acomodarmos na poltrona do avião. – O que foi? Ela não está correspondendo? – O que? – A Doc. Eu vi a troca de olhares. – Mãe... – Ela é uma boa moça. Meio estranha, mas uma boa moça. – A Senhora anda vendo coisas. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS – Eu também? – O meu pai perguntou com humor. – Oh, meu filho. Está na cara que vocês dois estão atraídos um pelo outro. – Oh, comissária! Tem como me mudar de lugar? Acho que esses coroas aqui estão meio bêbados. – Beto! Depois daquilo a nossa viagem foi muito bem humorada, mas sem mais comentários sobre eu e a loirinha mais linda do mundo. Merda! Eu estava apaixonado mesmo. Que merda!

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ALERTA Devo confessar que foi complicado para esse cara aqui tentar esquecer a doutora Frankenstein. Eu não podia ficar com a cabeça vazia por um segundo que ela voltava. Eu até tentei sair com algumas garotas, mas não rolou. Os caras estavam sempre me convidando para sair com os amigos e eu até fui, mas não rolou química alguma com nenhuma das garotas que me foram apresentadas. Uma era infantil demais, outra não tinha conteúdo algum. Em todas eu ficava fazendo comparação com aquela maldita loira dos infernos! A verdade era que tudo era motivo para eu me lembrar dela e quando os meus pais me pediram para fazer um favor é claro que eu disse sim. Duas semanas depois do casamento eu tive que voltar ao apartamento da Quel para buscar alguns documentos da empresa do meu pai. Como era domingo e eu tinha vindo visitar no final de semana, fiz aquele favor. Tudo bem que era uma PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS forma de lembrar os momentos em que vivemos praticamente juntos 24 horas por dia. Eu ria cada vez que me lembrava das nossas trocas de farpas. A Raquel tinha deixado o documento em um cofre que somente nós dois sabíamos a senha. Nós costumávamos guardar coisas extremamente importantes lá dentro, como as joias da vovó. Foi quando abri a porta que vi aquela prova, o bilhete do resgate. O Jack tinha entregado a Quel e pediu para que ela guardasse em segurança quando voltamos do hospital. Eles acabaram deixando para trás, não levaram para Londres como era o planejado e eu sequer sabia o motivo. Depois de pegar os documentos para o meu pai, quando eu já estava fechando a porta, o conteúdo da carta me chamou atenção. Era a mesma frase. Esse foi o alerta um. Lembrando o que o Jack tinha falado no momento em que eu entrei no apartamento da Quel e vi tudo revirado, me veio à luz que o bilhete tinha sido impresso no equipamento dela, o que a minha irmã nem tinha mexido mais. – Está sem senha? Alerta número dois. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS A Quel sempre usava a mesma senha em todos os seus equipamentos, mesmo no celular. Eu cansava de dizer que não era seguro fazer assim, mas ela não me escutava. Pelo visto foi fácil descobrir que a porra da senha era o seu aniversário. – Espero que ela tenha aprendido a porra de lição! – Resmunguei comigo mesmo. – Vamos lá... Cadê o seu rastro. Como a mensagem tinha sido impressa no computador eu tinha a esperança de descobrir qual o caminho utilizado. Seria muito mais fácil pegar uma caneta e rabiscar o bilhete. Pelas imagens das câmeras do Jack dava para ver que eles usaram luvas o tempo todo, não era lógico usar o computador e a impressora da Quel. Um bilhete feito anteriormente, usando recortes de jornal, como nos filmes de antigamente, por exemplo, nos atrasaria muito mais. Eles poderiam ter nos despistado facilmente se quisessem, mas não o fizeram, bastava descobrir o motivo. Para a minha sorte parece que o capanga era meio anta. Alerta número três. Analisando o computador da Quel descobri PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS que o capanga que tinha feito a baderna não digitou o bilhete, apenas o imprimiu. O arquivo impresso estava na lixeira em PDF, o que significa que ele tinha sido enviado por alguém. Não teria lógica ele digitar em doc, salvar em PDF e depois imprimir. Para quê ele perderia esse tempo? Por que ele não esvaziou a lixeira? Continuando a minha busca eu fui atrás do caminho feito pelo capanga. Eu precisava saber a origem do documento, se veio para a máquina da Quel por um pendrive ou e–mail. O nome do documento era “REVENGE”, tudo a ver com o que tinha acontecido, pelo menos superficialmente. O Jack tinha acabado com os planos do grupo terrorista, tinha eliminado os cientistas e estragado um planejamento de anos. O Leroy havia me revelado que eles tinham planejado concluir a fórmula aqui no Brasil, acreditavam que passariam despercebidos pelas autoridades. Segundo a sua investigação, a loja de fotografias tinha sido aberta dois anos antes já pensando no dia em que eles concluiriam o trabalho. Nada aconteceu de uma hora para outra, eram bem organizados. Olhando os dados do arquivo eu estava PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS chegando a uma conclusão, o capanga foi extremamente idiota, ele acessou um e-mail do computador da vítima e deixou um rastro enorme. Por mais que ele tenha tentado apagar o arquivo, ficou na lixeira. Por mais que tenha fechado o navegador, não apagou o histórico e para fechar com chave de ouro, o e-mail ficou logado. – Muito anta! Obrigado, anta! Os últimos e-mails pareciam mostrar a troca de mensagens entre ele e o bando. Estava em outra língua, eu não conseguia entender, a não ser um deles. Alerta número quatro. O e-mail enviado para ele continha apenas o anexo com o mesmo título do encontrado na lixeira, mas o endereço do remetente era composto por mais de dez números não sequenciais, diferente dos outros. Olhando com mais calma vi que o capanga recebia e-mails de apenas três endereços além deste, todos iniciados um mês antes do sequestro da Quel, o último enviado no dia em que encerramos a missão de resgate. Isso me sinalizava que o e-mail foi criado depois que eles descobriram a relação entre a minha irmã e o Jack. – Você sabe que eu... PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS – Preciso de uma ajuda. – Aguarde. Eu não queria levar ao Jack as minhas suspeitas ainda. Ele a Quel estavam em clima de Lua de Mel, precisei falar com o único agente que eu tinha mais contato. – Agora pode falar, estamos criptografados. – Eu achei uma coisa no computador da Quel, Leroy. – Que tipo de coisa? – No casamento uma mulher se aproximou de mim... – O Rat me contou, a Hellen. Ela conseguiu entrar com um convite falso. Os convidados estavam chegando ao mesmo tempo e estavam deixando passar quando o motorista mostrava o papel. Idiota. – Acontece que ela disse algo que me incomodou, que a Quel não servia para o Jack. – Mas isso é passado. – É a mesma frase do bilhete do sequestro. Eu vim até o apartamento da Quel buscar um documento no nosso cofre e o bilhete estava lá. É a mesma frase. O bilhete foi enviado por e-mail para o capanga que invadiu a casa da minha irmã e estou olhando neste momento para o remetente. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS – Ele foi tão idiota a esse ponto? Deixou tudo isso para trás? – E tem mais... O e-mail tinha sido enviado para um dos membros do grupo e encaminhado, foi assim que descobri. Leroy... Há uma quinta pessoa envolvida no sequestro da Quel, nós apagamos quatro naquele dia. – Quando o e-mail do bilhete foi enviado para o primeiro destinatário? – No dia seguinte em que a Quel deixou Londres. – Me passe o endereço do remetente. Eram vários números, uma imensidão de possibilidades para encontrar a raiz daquele problema. Eu sabia que seria difícil encontrar o verdadeiro dono da conta, mas contava com a expertise de um Agente. Segundo o Leroy, ele poderia ter feito uma conta apenas para aquele fim de qualquer lanhouse no mundo, sem falar que, se fosse um hacker, ele poderia maquiar o seu rastro usando IPs de outros países. Sabendo que seria um trabalho grande e que levaria pelo menos algumas horas, resolvi passar na casa dos meus pais para entregar o documento e seguir para o aeroporto. Eu começaria um curso de selva na segunda feira, mas precisava voltar a PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS Brasília antes. Acontece que os meus planos foram bruscamente alterados. – Fala, Leroy. – Onde você está? – No aeroporto. Estou indo para Brasília, tenho um curso de selva amanhã, por quê? – Estou liberando uma passagem agora para você. Corra para o embarque e apresente o código que estou enviando para o seu celular. O avião sai em menos de 20 minutos. – O que você descobriu? – Perguntei enquanto seguia para o embarque depois de ouvir o bip de uma mensagem que tinha acabado de chegar. – Não pelo celular. – Leroy! – Não se preocupe com passaporte, eu estarei dentro do desembarque te esperando. – Leroy! – Venha para Londres. A pessoa enviou o e-mail da Sede da Interpol. A ligação durou menos de um minuto e meio, mas foi suficiente para sentir a tensão na voz do Agente Leroy. Correndo para o setor de embarque sem qualquer bagagem, apenas com uma carteira de PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS documentos e cem reais, eu nĂŁo fazia ideia em que eu estava me metendo. Uma coisa eu tinha certeza, se fosse para encontrar a pessoa que provavelmente tinha entregado a minha irmĂŁ para aquele cientista e quase matado o meu cunhado, eu faria o que fosse preciso.

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LONDRES Como ele tinha me dito, com apenas um código eu fui enviado para a primeira classe. Eu não sabia como ele tinha conseguido aquilo, mas foi a primeira vez que eu tinha embarcado tão rápido. A comissária me perguntou se eu tinha alguma bagagem, mas era apenas eu e a minha aflição. O Leroy tinha conseguido colocar minhocas na minha cabeça que foram se multiplicando por doze horas de voo. Eu sequer tinha avisado os meus pais ou os meus amigos no Brasil. Só me dei conta disso mais de três horas depois do avião ter decolado. Como eu estava na primeira classe arrisquei ao perguntar para a comissária seu eu tinha como fazer uma ligação ou usar a internet. Qual é! Sou um militar, não ricaço! Entrando na internet pelo meu celular através do wifi disponível eu consegui me comunicar com o Rafael e explicar mais ou menos o que tinha PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS acontecido. Ele ficou de avisar os meus pais que eu tinha chegado bem e que tinha sido escalado para um serviço. Achei melhor não falar que eu estava indo para Londres. Foi uma surpresa a chegada da mensagem dele algumas horas depois dizendo que o comando tinha recebido uma mensagem da Interpol. Eles estavam avisando ao Brasil que eu tinha sido recrutado para uma missão às pressas, mas que aquilo não devia ser divulgado. Ele só soube por que foi dar o meu recado. Com aquilo eu tive a minha bunda salva novamente, o meu superior devia estar querendo o meu fígado. Assim que o avião pousou em Londres eu fiquei esperando que a polícia fosse me deportar, mas o Leroy estava lá me esperando. Ao contrário dos outros passageiros eu fui encaminhado direto para uma garagem subterrânea e depois para um carro todo escuro onde ele mesmo era o motorista. – Aqui está um documento que te resguarda. – O que é isso? – O que nós usamos, uma identificação exclusiva da Interpol. – Eu falei com um amigo que me disse que vocês avisaram o meu comando. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS – O chefe está a par do que você me reportou e agilizou as coisas. Nós nos encontraremos com ele amanhã pela manhã. – A Raquel está ciente de que estou aqui? – Não, somente o meu chefe e o Rat. Ele que rastreou o e-mail e nos encontrará na casa do Rock. – O Jack... Rock. Ele sabe? Essa porra de nome código é uma merda. – O Rock também não sabe. Chegaremos e iremos para o covil, lá conversaremos. – Covil? – Você entenderá. O Leroy não perdia tempo, dirigia como um louco pelas ruas de Londres. Olhando aquele documento eu previa que algo radical faria a minha vida mudar em pouco tempo. Como previsto, o Rat estava nos esperando. Ele apenas apertou a minha mão e me indicou o caminho, o interior do edifício onde a minha irmã e o Jack... Rock estavam vivendo. Eles não diziam nada, nem eu. Pelo visto o silêncio era nosso amigo, sequer uma piadinha saiu das nossas bocas. – Beto? – E aí, cunhado. – O que está acontecendo? – Ele questionou PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS quando viu o Leroy e o Rat comigo. – No covil. – O Leroy pediu. Naquele momento vi o meu cunhado mudar para o Agente Rock. A Raquel não estava a vista, mas enquanto eu e os caras por uma passagem que ficava atrás de uma porta falsa ouvi o meu cunhado dizer a Raquel que estaria analisando alguns documentos. O covil era um andar inteiro cheio de equipamentos e armamento pesado presos em baias ou em suportes nas paredes. Tudo aquilo ficava abaixo do que eu achava ser o andar térreo da cobertura dele. O cara tinha de tudo lá, era incrível. – O que está acontecendo? – O Beto descobriu algo muito sério. – O Rat disse e entregou uma pasta parda contendo alguns papéis. – De um computador com IP da sede? – Assim que descobri comuniquei pessoalmente ao chefe e ele determinou o bloqueio de tudo. Toda a sede está sendo monitorada para tentarmos descobrir de que equipamento saiu aquele e-mail. Pelo que eu consegui checar a pessoa tentou despistar passando por IPs de várias partes do mundo, inclusive de computadores dentro de PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS escritórios de consulados e embaixadas. Usou IPs furtivos, Rock. – Só pode ser um de nós. – Se não fosse o Beto nunca descobriríamos isso. – Essa pode ser uma pista para chegarmos aos verdadeiros mandantes dessa organização. Eles estavam nos despistando debaixo dos nossos narizes. – E agora? – Questionei. – E agora você está dentro, cunhado. – Dentro? Como assim, dentro? – O chefe te recrutou. – O Rat explicou e me entregou um documento. – Ele enviou o mesmo ao seu país. Agora você serve na Interpol. – Porra! O documento com o timbre da Interpol era claro. Estavam descritos normas, acordos internacionais, tudo que justificasse o meu recrutamento. Os dados diziam claramente que a negativa do governo brasileiro seria visto como uma quebra de acordos firmados há décadas e que colaboraram para que criminosos fossem presos. Eles não deixavam margem para uma recusa. Junto eu recebi um novo passaporte, um documento que me autorizava estar em solo britânico e um cartão PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS de crédito. – Amanhã uma conta será aberta no seu nome. – O Leroy comentou enquanto eu olhava tudo aquilo. – Lá na sede alguém vai te explicar como funciona. Hoje você terá que ficar aqui mesmo, mas providenciaremos um apartamento para você. – Os meus pais... – Você poderá falar com eles assim que terminarmos a nossa reunião. É importante que eles mantenham sigilo até que tudo isso seja esclarecido. – Tudo bem. – A Raquel vai adorar te ter por aqui. – O Jack brincou. – Ela está bem? – Está, mas depois falamos nisso. Me explique tudo o que você fez. Eu detalhei tudo o que eu tinha feito. Como eu tinha conseguido mudar a senha fiz um acesso por um dos computadores deles e fui mostrando o que eu vi. O Jack imprimiu o bilhete e anexou a uma pasta com todos os e-mails que fomos imprimindo. Depois que terminei o Rat começou a fazer a sua mágica e rastreou novamente. Ele conseguiu hackear e entrar em cada uma das contas de e-mails PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS que foram acessadas. O cara era bom. Todas as contas foram invadiras e começaram a ser analisadas. Era muito trabalho, mas pelo visto a noite estava só começando. O Jack mandou que eles se acomodassem por lá mesmo enquanto nós subíamos. Tinha chegado a hora de a minha irmã descobrir que teria um hóspede. – Beto? – Ela perguntou quando me viu sentado no sofá. – E aí, maninha. – O que aconteceu? – Ela arfou e correu para os meus braços. – O papai... a mamãe... – Hei. Calma, Quel. Eles estão bem. – Então? Por que você veio de repente sem avisar? – Se não tem um canto para mim... – Beto! – Ela resmungou quando eu me virei e comecei a ir para a porta. – Amor. – O Jack a chamou e a levou para se sentar. – O Beto descobriu algo importante sobre o seu sequestro. – Que coisa? – Ele rastreou um e-mail e chegamos a sede da Interpol. Foi alguém de dentro que nos traiu e agora ele vai nos ajudar a descobrir quem. Ele foi PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS recrutado. – O meu irmão é um Agente agora? – Ele é da minha equipe agora. Ele explicou algumas coisas a ela enquanto ela me fazia um sanduíche, mas não entrou em detalhes. Eu percebi que o Jack não queria assustála de todo jeito. Depois daquilo liguei para o meu pai. – Essa é uma boa promoção. – É sim. O Senhor está bem com isso? – Eu fico preocupado e nem sei como a sua mãe vai reagir, mas... – Pensem em vir para cá. – Nem pensar. – Não precisa ser agora. – Depois falamos nisso. E a sua irmã? – Estou na casa dela e do Jack. Ficarei aqui por enquanto. Eu terei que ir ao Brasil cuidar da minha mudança, mas não sei quando. – Eu posso cuidar disso. – Valeu, pai. – Você está seguro disso, Beto? – Eu preciso descobrir quem fez isso com a Quel e aqui eu tenho como. – Estou muito orgulhoso de você, filho. Mas se PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS cuide. Eu vou tentar explicar a sua mãe da melhor forma possível. Ela fala toda hora que está com saudades da sua irmã, agora terá de você também. – Porra, pai. – É a verdade. – Ele riu ao dizer. Como eu estava exausto a Raquel me colocou em um quarto de hóspedes, o que eu ficaria até encontrar um lugar só meu. Enquanto eu olhava para o teto esperando o sono chegar era o rosto dela que eu via. Achei que demoraria meses, talvez até mesmo anos para rever a loira, mas o destino resolveu me dar uma forcinha. Agora eu estava lá no mesmo país dela e em algumas horas no mesmo local. Eu sequer podia imaginar qual seria a sua reação quando descobrisse que seríamos colegas de profissão. A Raquel acabou tendo que fazer café da manhã para cinco. O Rat e o Leroy passaram a noite no covil trabalhando. Eles se revezaram no rastreio dos e-mails e de todos os contatos. Quando eles subiram trouxeram consigo muitos papéis que foram impressos com tudo o que tinham PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS encontrado. O Jack disse que até descobrirmos quem tinha nos traído não dava para deixar nada no sistema, era melhor imprimir. A sede da Interpol era bem maior do que eu imaginava. O edifício era muito mais moderno e conectado do que qualquer um que eu já tinha entrado, inclusive do FBI. O Jack liberou a minha entrada e fomos direto para um andar onde eu teria que começar a fazer a minha inserção no quadro de Agentes. Ele foi com o Rat e o Leroy para o 12º andar, a sua divisão. O cara com quem eu passei a manhã me perguntou tudo o que podia, só faltou o meu modelo de cueca. Todo o meu histórico militar já estava impresso e inserido no sistema. Uma equipe coletou as minhas digitais e outra a amostra do meu DNA. Eles coletaram meu sangue, fios de cabelo e pedaço da minha unha. Foi estranho. Eu fui informado que eles precisavam fazer vários exames, mas isso seria agendado com a equipe médica durante a semana. Quando vi já passada das duas da tarde e eu estava morrendo de fome, mas todo aquele processo não tinha acabado. Eu ainda teria que passar por outro setor onde eles PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS tiraram fotos minhas de vários ângulos para o banco de dados. Com todas aquelas informações a Interpol seria capaz de me rastrear onde eu fosse. – Esse é o dia mais chato. – O Leroy comentou quando chegou a sala de interrogatório onde eu voltei a responder perguntas. – Me diz que não será a mesma coisa amanhã. – Não. Por hoje acabou. Vamos nessa que o chefe quer te conhecer. Eu me lembro de ter visto aquele homem no casamento da Raquel, mas não chegamos a ser apresentados. Quando entramos na sua sala o chefe, como todo mundo o chamava, apertou a minha mão e me deu boas vidas. – A sua ficha é impressionante, Guerra. – Obrigado, Senhor. – O Rock já tinha me pedido a sua ficha antes. – Ele comentou e tocou em uma grande pasta parda sobre a sua mesa. – Depois daquilo e do seu desempenho no resgate da sua irmã começamos a analisar o seu perfil. Seria questão de tempo para entrarmos em contato com o seu comando e te recrutar. – Não sabia disso. – Claro que não. Normalmente esse tipo de PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS recrutamento ocorre em sigilo, mas diante do que você descobriu resolvemos acelerar o processo. – Espero ser uma boa aquisição a equipe do Jack. – Rock. Aqui não falamos nomes pessoais, apenas codename. – Eu serei Guerra ou War? – É o que significa o seu nome? – Exatamente. – Que seja. Vamos lá, War. Temos uma reunião com a sua nova equipe. O Rat e o Leroy conseguiram descobrir algumas coisas interessantes nas últimas horas. Havia uma grande sala de monitoramento no andar do Rock, como eles chamavam toda aquela divisão. Na grande mesa havia vários documentos espalhados e atrás uma série de fotografias no monitor gigantesco. Eu nunca tinha visto algo como aquilo. Pelo visto essa estava sendo a minha frase padrão. – Nós conseguimos rastrear vários contatos e descobrimos que alguns se tratavam na verdade da mesma pessoa. – O Rat comentou quando entramos. – É essa pessoa que acessou o e-mail e enviou o bilhete. Não sabemos ainda se é homem PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS ou mulher, mas é alguém com uma capacidade incrível. – Além disso começamos a chegar a algum lugar. Alguns dos contatos foram facilmente localizados pelas câmeras de segurança. Eles acessaram de lanhouses em Zagrebe, na Croácia, Szeged, na Hungria e Bishkek, no Quirguistão. – O Leroy emendou. – Todos estes sujeitos têm relação com um grupo terrorista que monitoramos há anos, o que não encaixa é essa ligação com os cientistas. Esse grupo sempre usou da força, do massacre para mandar seus recados. Eles nunca usaram esse tipo de agente detonador. – Agente detonador? – Questionei. – É o termo que usamos para nos referir ao ataque em massa, independente do tipo de meio usado. – O Jack me explicou e assenti. – Tudo tem um começo. Sem falar que se eles tinham alguém aqui dentro, esse mesmo alguém pode ter dado a ideia. Vocês já têm uma ideia de quem pode ser a pessoa que enviou o e-mail daqui? Quando o Rat ia colocar na mesa os seus suspeitos uma mulher entrou aflita na sala de reuniões sem sequer bater. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS – Chefe! A equipe de remoção foi acionada. – Quem? – A Agente Hellen. Tem quinze minutos que as suas digitais foram pesquisadas no banco de dados de um hospital nos arredores de Colne Valley Regional Park. Eles já estão a caminho. – Situação? – Ainda não sabemos. O protocolo foi disparado. – A reunião está suspensa.

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PARCEIRO O meu dia estava indo de mal a pior. Para começar a minha cafeteira tinha quebrado, depois o meu uniforme estava manchado de sabe lá o que azul ciano. Eu estava ficando relapsa e a culpa era dele. Aquele soldado imundo que vivia me tirando do sério até quando não estava por perto. Desde o casamento que eu não paro de sonhar com ele. Quem eu quero enganar? Desde que eu o vi aquele maldito homem não sai da minha cabeça, fica infernizando a minha paz e o meu juízo, mas foi depois daquele maldito beijo que eu me pego pensando nele ao invés das coisas mais básicas como verificar se a minha caneta tinteiro preferida não estava no bolso do meu jaleco antes de colocar para lavar. Ela caiu quando tirei as outras roupas. Que raiva. E para piorar os exames da Raquel estavam PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS inconclusivos. Alguns mostravam uma melhora, mas na semana seguinte novamente erros na contagem das células. O Jack contava comigo, eu precisava descobrir o disparador destas irregularidades. Eu já estava começando a duvidar da minha própria capacidade. – Bom dia. – O que tem de bom? – Estamos azeda hoje? – O que você quer, Jack? Estou trabalhando. – Bem, eu achei melhor vir falar contigo antes. – O que houve? A Raquel está bem? – Ela está ótima e feliz que estamos com visita. – Visita? – O irmão dela. – Não... Me diz que aquele homem insuportável está de passagem. – Eu também gosto dele. – Jack! – Bem... Ele não está apenas de passagem, agora ele é membro da equipe. O Beto encontrou evidências sobre quem estava por trás dos cientistas abatidos no Brasil. O Rat e o Leroy estão rastreando as evidências. Ele veio para ficar, Doc. – Não... PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS – Isso será um problema? O Beto será uma ótima adição à equipe. – O chefe concordou? – O chefe o recrutou. – Então eu não tenho nada a dizer. Aquilo aconteceu bem antes do almoço e eu ainda estava trancada lá. Eu não sabia como seria o nosso reencontro, preferi adiar o máximo possível, mas as circunstâncias mudaram bruscamente com a chegada de uma emergência quase no início da noite. – Doc. Paciente grave na baia três. – Quem? – Agente Hellen. Enquanto eu me preparava a minha assistente foi me passando a situação da agente. – Ela foi encontrada em um carro abandonado nos arredores de Colne Valley Regional Park sem qualquer documento nesta manhã. O hospital que a atendeu só fez a busca pelas digitais no meio da tarde e foi quando a equipe de remoção saiu para buscá-la. Foram extraídos quatro projéteis que estão na perícia, mas ela tem várias escoriações e perfurações feitas aparentemente por objeto cortante, provavelmente uma faca. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS – Vamos. A visão da Agente Hellen era realmente perturbadora, para dizer o mínimo. Seu rosto estava quase irreconhecível, ela tinha marcas de espancamento e tortura por todo o corpo, inclusive com marcas típicas de choques elétricos. Havia marcas de queimaduras em volta das pequenas perfurações. Precisei fazer uma tomografia para avaliar o seu estado antes de começar os procedimentos e o que vi não foi nada bom. Ela tinha várias hemorragias internas em andamento, um fígado perfurado, pulmão direito comprometido, além de pelo menos quatro ossos quebrados. Ficava difícil saber por onde começar. Toda equipe médica estava a postos. – Precisamos conter as hemorragias. – Avisei a equipe quando cheguei a sala de cirurgia. – Depois partimos para os outros órgãos. Se ela sobreviver cuidamos das lacerações. – Nunca um agente chegou assim. – O Shin comentou ao se aproximar. – O que fizeram com ela? – Sem conversas paralelas. O primeiro bloco de cirurgias demorou mais PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS de quatro horas. Nós conseguimos conter as hemorragias e realizar a reconstrução do fígado, mas o órgão não estava sendo capaz de funcionar normalmente. A Agente Hellen tinha muito que ser reconstituído, mas o seu estado era tão grave que realizar todos os procedimentos ao mesmo tempo poderia causar um choque. Eu achei que ao sair do centro cirúrgico eu poderia analisar melhor o quadro da paciente para ver o que poderia ser feito, mas havia uma comitiva querendo notícias. – Boa noite, Senhores. – Qual o estado da Agente Hellen, Doc? – Será um milagre se ela sobreviver, Chefe. O quadro dela é extremamente grave. Avisei a eles que só teríamos uma posição mais concreta no dia seguinte. Eu provavelmente faria mais algumas intervenções durante a noite. Toda a equipe ficaria de plantão para tentarmos salvá-la. Foi uma longa noite. A Agente Hellen acabou tendo duas paradas cardíacas enquanto tentávamos a operar novamente. Uma das costelas quebradas estava pressionando o pulmão que ainda estava PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS funcionando, mas a pressão subiu demais. Precisei induzir um coma depois da segunda parada cardíaca. Outra preocupação estava no coágulo que tínhamos encontrado. Ela tinha um grave ferimento na parte traseira da cabeça que tivemos que drenar. Eu não fazia ideia se ela teria sequelas se sobrevivesse, mas estava fazendo o possível para evitar. – Alguma pista? – O chefe me perguntou enquanto eu tomava um café no meu escritório. Eu tinha convocado toda a equipe. – A tomografia me mostrou uma fissura na parte traseira do crânio e tivemos que raspar para fazer a reconstrução e drenagem do coágulo. Ela algum dia falou algo sobre uma tatuagem na cabeça? – Não... – Ela tem uma tatoo em forma de âncora no crânio. – Âncora? – O Rat questionou e olhou para o Leroy, depois de volta para mim. – Essa âncora tinha uma cobra a envolvendo? – Isso mesmo. – Que merda! – É igual a do homem que apareceu nas imagens do apartamento da Raquel. – O soldado comentou e eles assentiram. – Isso quer dizer... PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS – Que pelo visto descobrimos quem nos traiu. – O Rock completou. O Rat comentou que estava indo por este caminho também. Ele não queria acusar sem provas, mas juntando a suspeitas trazidas pelo soldado, o fato dela ter falado a mesma frase no casamento, no bilhete e também para o Jack no dia em que a Raquel estava no seu apartamento, as evidências eram todas contra ela. – Ela estava no meu casamento? – O Jack questionou. – Foi o que ela me disse que me fez lembrar do bilhete. – O soldado comentou. – Meu Deus! A Hellen? Eu estava tão cansada que nem consegui seguir a linha de pensamento deles. O Chefe acabou saindo enquanto eles conversavam. O soldado ficou na porta por alguns segundos me olhando, mas não disse nada, nem eu. Péssimo reencontro, não acha? Foram dois dias até que ela começasse a recobrar a consciência, pelo menos parcialmente. A Agente Hellen oscilava entre o choque e a calmaria na UTI. – Doutora. – O Shin me chamou da porta. – PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS Reduzimos a sedação e ela parece estar começando a despertar. Uma câmera monitorava tudo o que acontecia no centro cirúrgico e os equipamentos que monitoravam a sua situação. Quando cheguei a UTI vi que o seu ritmo cardíaco estava acelerado, assim como a pressão. Mesmo com a intubação por conta de um dos pulmões comprometidos, a agente tentava dizer alguma coisa. Ela apenas sussurrava, mas eu conseguia entender alguma coisa. – Você está segura, Agente Hellen. – Doc. – Isso. Estou cuidado de você. Fique tranquila que todos os seus amigos estão fazendo o possível para encontrar quem fez isso contigo. – Doc. – Você lembra de algo, Agente Hellen? – Doc... Fuja. – O que? – Smirnov. – O que? O que você disse? Naquele momento o monitor cardíaco disparou mostrando que ela estava tendo outra parada cardíaca, ao mesmo tempo ela começou a convulsionar. Toda a equipe médica precisou agir PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS para tentar controlá-la. – Dobre a sedação! Agora! – Mais uma dose e ela morre! – Obedeça! Eu precisava garantir que ela sobrevivesse. A agente Hellen tinha dito o meu sobrenome, uma informação altamente sigilosa e isso me deixou em pânico. – Não é possível. – Sussurrei enquanto andava de um lado para o outro na minha sala. – Doc? – O que você quer? – Gritei quando vi o soldado parado na porta do meu consultório. – Não é uma boa hora. – Estou vendo. Você está bem? – Eu pareço bem? Por favor, me deixe sozinha. – Não mesmo. Ele acabou entrando e fechando a porta. Eu estava prestes a me descontrolar e ele não parecia perceber. – Abaixe a guarda. – Eu preciso falar com o Jack. É urgente. – Ele me pediu para vir saber das novidades. – Você me ouviu. Eu preciso do Jack agora! Não de você. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS Vi como ele ficou chateado, até mesmo magoado, mas eu não podia pensar naquilo. Os meus sentimentos estavam a flor da pele, o medo foi tomando conta de mim. As paredes pareciam querer me esmagar, mas ele finalmente chegou. O Jack era a única pessoa que poderia me ajudar. – Doc. – Jack... Ela disse o nome dele. – Que nome? – Do meu pai. – Você tem certeza? Você está muitas horas acordada. – Veja a gravação! Ela disse! – Eu verei, mas se acalme. – Como? E se eles... – Respire. Eu quero que você vá para casa e descanse. Eu vou rever tudo, prometo. Nós estamos vasculhando todo o escritório dela. O Rat está fazendo uma varredura. O Leroy está agora mesmo indo para a casa da Hellen descobrir alguma coisa. – Eu estou com medo. – Eu não vou deixar que nada aconteça contigo. – E se... – Sem “e se”, Doc. Nós vamos descobrir quem fez aquilo com ela e se tem alguma coisa a ver com PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS você e com a Raquel. – Promete? – Prometo. Agora eu quero que você tenha paciência e não brigue com o Agente que fará a sua segurança. – O Shin está... – O Beto. Todo mundo está ocupado e ele se ofereceu. – Não, Jack... Eu não tive outra alternativa a não ser aceitar. Os agentes estavam sobrecarregados. Dentro da Sede eu estava segura, seria apenas alguém para me fazer companhia e ficar alerta, seria suficiente. O problema era que a companhia seria ele. – Sem pedras, Doc. – Ele disse assim que saímos do meu consultório. – Vamos. Avisei a equipe da UTI que eu estaria em casa. Qualquer problema eles me contatariam e eu voltaria em questão de minutos. A paciente tinha estabilizado no coma, agora tínhamos que esperar. A cada duas horas eles refariam os curativos para evitar infecções que pareciam piorar mesmo com a medicação. – Você nunca pensou em mudar para um PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS apartamento? – O soldado me questionou enquanto o elevador descia. – Não. – Eu ainda vou procurar um. Alguma sugestão? – Não. – Você não quer conversar. – Não. – Isso não foi uma pergunta. Depois daquilo foi apenas o silêncio. Ele entendeu bem que eu estava nervosa e preocupada, então apenas entrou na minha casa, pegou uma cadeira e ficou sentando na frente da porta que foi trancada como se fosse uma barreira impenetrável. Pelo visto o Jack deve ter informado que aquela era a única entrada e saída de lá, ele sequer pediu para ver o restante do meu calabouço. Por mais que eu não o quisesse lá foi o suficiente para eu me sentir mais segura e tomar um banho em paz. Normalmente os agentes ficavam do lado de fora, mas eu não me importei com ele me olhando fazer as tarefas normais. A minha casa era toda em conceito aberto com exceção do meu cinema, ele podia ver tudo. – Quer café? – Perguntei, mas ele apenas negou com a cabeça. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS E assim foram as próximas duas horas. Tudo o que eu falava ele apenas negava com a cabeça e ficava lá. Eu liguei a TV em um canal de filme e o vi olhando, mas também não disse nada. Em alguns momentos o soldado olhava o celular, digitava algo e até sorria, mas o sorriso sumia quando era para mim e isso estava me incomodando muito. Infelizmente eu só consegui dormir por algumas poucas horas. A minha cabeça estava fervilhando, mas as respostas estavam começando a chegar. O Jack tinha razão, dormir me ajudou a clarear as minhas ideias e encontrar algumas respostas. – Ela está com febre. Não sei o que está acontecendo. – O Shin comentou quando me ligou no meio da tarde. – Estou voltando. – Fico te aguardando. Eu nem precisei dizer nada, quando ele me viu chegando já pronta para voltar ao centro cirúrgico simplesmente abriu a porta com uma pistola na mão, verificou se havia alguém e depois me autorizou a sair. O silêncio ainda era a sua marca. Assim que cheguei a UTI, ainda no lado de PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS fora do quarto a olhando pelo vidro, solicitei as informações ao enfermeiro de plantão. – Situação. – Tem menos de quarenta minutos que vim checar o seu quadro clínico e estava o mesmo, mas quando voltei para trocar o soro ela estava ardendo em febre. Como isso é possível? – Isolem a área. – Por quê? – A Agente Hellen está com algum agente químico atuando em seu sistema. Eu preciso saber qual é. Naquele momento ele soou um alarme silencioso para o celular de todos os agentes que indicava o isolamento de todo o centro cirúrgico. Os médicos e enfermeiros que estavam de plantão foram direto para o alojamento tomar um banho com agente descontaminante e se livraram de toda a roupa. – O que está acontecendo? – O soldado questionou assim que se aproximou de mim. Ele estava próximo ao quarto quando viu a movimentação. – Eu preciso que você saia. Teremos que isolar isso tudo aqui. A Agente Hellen está com algum agente atuando no seu corpo e você pode ficar doente. – E você? PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS – Eu sou uma médica. – Avisei enquanto ia para o meu consultório. Eu precisava das minhas últimas anotações. – E daí? Eu não posso deixar que você fique exposta. – Não será a minha primeira vez, soldado. – Doc... – Eu preciso salvar a minha paciente. Se você me der licença... – Não! – Ele disse firme e fechou a porta atrás de si. – Você está louca se eu vou te deixar ficar doente. Ela é uma traidora. – Ela é uma paciente. – Mas... – Infelizmente nesse momento eu não posso optar, ok? Eu preciso fazer de tudo para salvar a minha paciente. O agente que eu desconfio estar em seu sangue está atenuado e tenho alguma chance. Eles poderiam ter simplesmente metido uma bala na cabeça dela, mas não fizeram. Por quê? Eles a torturaram para quê? Aquela mulher resistiu a tudo isso e ainda está viva. É o agente, entendeu? – Não. – Existe um agente biológico que mata aos poucos, mas também não deixa a pessoa morrer de PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS imediato. É confuso, eu sei. Eles provavelmente injetaram o primeiro para que ela resistisse a tortura e depois o outro para que ela morresse aos poucos, mesmo com uma intervenção médica. Um está combatendo o outro, por isso ela oscila entre uma melhora e uma piora até agonizar por semanas e morrer. Eu preciso encontrar um jeito e isolar o segundo agente contaminante e salvar a Agente Hellen. Ela precisa nos dar respostas. Ela precisa dizer o que contou e por que nos traiu, soldado. Só eu posso fazer isso. – Você pode mandar alguém lá. – Precisa ser eu. – Avisei e ia passar por ele, mas o soldado segurou o meu braço. – Tome cuidado, por favor. – Eu sou uma médica, sempre tomo cuidado. – Eu ficarei por perto. – Não... – Não é uma pergunta. Eu ficarei contigo. Eu saí do meu consultório ouvindo o soldado falando no celular com alguém, como era português eu não fazia ideia do que era dito. Infelizmente os meus estudos da língua ainda não eram suficientes para que eu pudesse entender aquele rápido diálogo. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS Como prometido, ele ficou no centro cirúrgico o tempo todo, pelo menos aceitou colocar uma roupa protetora como todo mundo. A equipe de isolamento já tinha instalado o isolamento e nós começamos a examinar sobre aquela ótica. – Bom dia, Doc. – O dia não está muito bom, Chefe. – Estou ciente de que há uma suspeita de agente nocivo. – Está confirmado. Eu levei amostras de sangue dela para o meu laboratório e é realmente um agente agindo em seu sistema. – Eles nos fizeram trazer isso para a Sede. – Exatamente. Se eles quisessem se livrar dela seria fácil. – Todo mundo que entrou em contato com ela precisará ser examinado? – Já convoquei todo mundo daqui. A nossa sorte é que não precisamos nos preocupar com quem estavam no hospital que a atendeu. Esse agente só começa a agir quarenta e oito horas depois, que é o período de maior risco. Não temos como precisar a hora em que ela foi exposta, mas pelos exames que estávamos fazendo dá para ter uma noção. – Mesmo eles a tendo operado lá? PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS – Mesmo assim. Eles seguem o protocolo, estão seguros. – Mesmo assim vou mandar uma equipe para checar. – Ok. – Tome cuidado, Doc. – Sim, Senhor. Eu sempre tomava todos os cuidados possíveis, já estava cansada de ficar ouvindo as pessoas falarem a mesma frase. Era como se eu fosse uma novata naquele tipo de situação ao invés de uma profissional experiente.

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ATENTADO Eu já tinha participado e treinado militares para atuar em muitas missões. No meu curso no FBI fui treinado sobre como agir em casos de atentados terroristas, armas químicas e até mesmo radiação, mas nunca me preparei para estar do lado de fora vendo alguém que eu me preocupo tão exposta ao perigo e manter a calma. Desde que o Jack me mandou ficar com ela, enquanto eles vasculhavam a vida da Agente Hellen, só tive momentos de paz enquanto estávamos trancados na sua casa. Não que eu não estivesse tenso, afinal foi uma das poucas vezes que estivemos sozinhos, mas era diferente. Ficar do lado de fora daquele aquário gigante a vendo lidar com uma bomba relógio era tenso. A confirmação de que a responsável por entregar a minha irmã já tinha chegado. Os agentes da equipe estavam empenhados, passaram as últimas horas observando cada detalhe, colhendo PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS digitais na casa da Agente Hellen e até invadindo o sistema de rastreamento do seu celular e do GPS do carro. Eu não fazia ideia de que mesmo desligado o GPS era atualizado periodicamente e foi assim que as respostas foram chegando. Quatro dias depois de a Agente Hellen ter dado entrada no centro cirúrgico ela ainda lutava pela vida enquanto nós lutávamos atrás de respostas. A Doc tinha convicção de que salvaria a Agente e que ela nos daria as respostas que faltavam, mas a cada dia estas palavras se tornavam mais descartáveis. Por causa do meu trabalho acompanhando a Doc durante o dia eu não conseguia ficar por dentro de tudo o que estava acontecendo, mas o pouco era suficiente. O Rat me disse um dia que tinham conseguido coletar DNA de sêmen de um homem fichado na Interpol no apartamento da Agente Hellen. O tal homem era suspeito de participar de uma célula terrorista no Tajiquistão. Só isso já a colocaria em suspeita, mas tinha mais. A Agente Hellen tinha um cofre na sua casa onde mantinha um HD cheio de arquivos internos da Interpol, arquivos que ela não tinha autorização para copiar. – Estamos analisando tudo o que foi possível pegar PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS na casa dela. – Encontraram alguma confirmação sobre o contato dela com o tal Doutor Schneider? – Conseguimos sim e mais, ela continuou a ter contato com uma quinta pessoa mesmo depois de abatermos o cientista. – Que merda. – Estamos tentando chegar à identidade dele, mas as evidências estão nos levando a crer que ela se arrependeu tarde demais. O Ty está responsável por montar a sequência lógica e cronológica de tudo e ele é o melhor. Algumas trocas de mensagens em um celular que encontramos dentro deste cofre tem data do dia em que a Sede ficou sabendo do estado do Rock. Acreditamos que o objetivo dela era eliminar a sua irmã, não o Rock, mas os terroristas não pensavam como ela. – Ele já sabe? – Sabe e está bem puto. A Hellen sempre teve uma queda por ele. – Mas estava fodendo com o inimigo. – Acho mais que ela estava fodendo com um parceiro. Ela era o nosso inimigo e nem fazíamos ideia. O chefe está revendo o passado de todo mundo para entender como deixou passar alguma PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS informação. Todos nós somos recrutados, estamos tentando entender como ela conseguiu isso, se já veio como Agente dupla ou se bandeou para o outro lado depois. O Ty vai nos dar essa resposta. Aquela conversa com o Rat não saiu da minha cabeça por semanas. Eles estavam trabalhando firme para desvendar toda aquela trama e ao mesmo tempo tentando proteger a Sede. Independente do que eles encontrariam relacionado a Agente Hellen uma coisa era certa, a Sede foi violada, era preciso saber até que ponto as informações vazaram. O trabalho na Interpol não era nada emocionante, era tenso e estressante todos os dias. O Jack me disse que eu tinha chegado no meio de uma tempestade, que normalmente não era assim, mas que eu me acostumaria. – Como você está? – A minha irmã me perguntou no café da manhã. – Estou bem, Quel. Você já me perguntou isso duas vezes. – Desculpe. É que você chegou e mal parou aqui. Estou vendo essa ruga entre as suas sobrancelhas e isso me preocupa. Você sempre teve bom humor, desde que chegou está sisudo. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS – Sisudo? – É... Eu tenho lido muito, não me enche. – Ele ainda não te deixa sair? – Ele não me proíbe, mas tem pesadelos se eu digo que estou pensando em ir ao cabelereiro. Eu não faço ideia do que está acontecendo, mas o Jack anda muito estranho. A Doc nem me liga mais e você aí, desse jeito. Alguém bem que poderia me falar alguma coisa para que eu não fique inventando coisas na minha cabeça. – Relaxa, garota. – Me fala, Beto. – Ele não pode. – O Jack disse ao entrar na cozinha e lhe dar um beijo na cabeça. – O seu irmão agora é um de nós, amor. Ele apenas está se adaptando. – Você também está? – Ela questionou de braços cruzados. Eles ficaram se encarando e eu resolvi sair do meio do fogo cruzado. Antes de ir para a Sede eu precisava comprar umas roupas. Desde que eu tinha chegado não tinha conseguido colocar a minha vida nos eixos e sequer sabia quando eu poderia ir ao Brasil. – Estou indo nessa. Quando ela fica assim... PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS cuidado, cunhado. – Não enche, Beto! – Sai fora, TPM! – Brinquei fazendo o sinal da cruz e ela me tacou um pão. – Olha o desperdício, garota. – Sai daqui! Aquele foi o primeiro sinal de que o meu dia seria especial. O segundo sinal veio da vendedora de roupas masculina que o sacana do Rat me indicou. Eu já estava ficando de saco cheio daquele ar pedante dos londrinos. O terceiro sinal veio da Doc. – Então... eu soube que você é brasileiro. – Uma enfermeira comentou. Eu estava no corredor do andar do hospital fazendo a escolta da Doc como em todos os dias. Ela estava dentro do quarto da Agente Hellen novamente, eu podia vê-la pelo vidro. A cortina dessa vez estava totalmente aberta, era como nos olhávamos às vezes. Se ela achava que eu não estava percebendo, estava redondamente enganada. – Isso mesmo. – Eu já fui ao Brasil em um cruzeiro com amigos. Nós fomos por uma agência de turismo. – Percebi que o turismo no Brasil é divulgado aqui PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS pelas agências. Vi algumas hoje mesmo. – Nós adoramos o nordeste e as dunas. Não é assim que se fala? – Assim mesmo. – Na minha sala, soldado! Eu estava percebendo que a Doc estava nos observando conversar. Ela tentava disfarçar, mas a cada segundo ficava mais evidente o seu ciúme. Eu estava adorando a provocar. – Algum problema? – Questionei depois de entrar. – Você está aqui a trabalho, não para ficar de conversa no corredor com as enfermeiras. Temos um trabalho sério a executar. Isso aqui não é lugar de flertes, soldado. – Flertes? Meu, Deus. – É isso mesmo. Você é apenas a novidade na Sede, por isso o interesse delas. – Primeiro eu atrapalho o andamento do serviço e agora eu não sou atraente. Não tem mais nenhum veneno para destilar, Doutora? – Eu apenas... – Eu entendi. Mas não se preocupe, eu já tenho um encontro para hoje! Fique tranquila, estou indo embora. Pedirei ao Rock para mandar outro no meu lugar. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS – Como assim? – O que? – Você acabou de chegar a Londres e tem um encontro? – Ao contrário do que você imagina, algumas mulheres me acham atraente. – Avisei e fechei a porta depois de sair da sua sala. Sim, eu menti. Nesse jogo de gato e rato que estávamos tendo eu precisava jogar com as armas que eu tinha. Acontece que assim que saí da sua sala um alarme soou. A Doc passou correndo por mim e entrou no quarto de vidro. Vi que a Agente Hellen começou a convulsionar e se debater na cama enquanto os enfermeiros tentavam contê-la. A cena por si só já seria chocante para qualquer um, mas quando a Agente começou a gritar algumas palavras dentro do quarto a situação complicou. O seu quadro tinha evoluído para uma melhora na última semana, tinham até tirado a intubação no dia anterior e ela estava respirando por conta própria, mas pelo visto eles tinham se enganado. Eu não conseguia entender direito o que estava acontecendo lá dentro por causa dos comandos PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS dados o tempo todo, mas de repente a paciente disse algo que deixou a Doc extremamente perturbada. Ela arregalou os olhos e se afastou, colando seu corpo na parede enquanto os enfermeiros ainda tentavam conter a paciente. Ela me olhou assustada como eu nunca tinha visto. Eu queria entrar, mas a porta estava trancada, não abria de jeito nenhum. Eu sequer tinha visto a porta fechar, o que não era normal. Havia uma capa plástica entre o corredor e o quarto de vidro mesmo que teoricamente não haveria mais risco de contaminação. – Doc! Abre a porta! – Gritei e bati na porta chamando a sua atenção. – Não está abrindo! – Ela gritou quando tentou e não conseguiu. Eu não estava gostando disso. A Agente Hellen, que estava se debatendo, de repente tombou na cama deixando todo mundo congelado. Ela simplesmente parou de se debater e ouvimos o bip constante do monitor cardíaco. Naquele momento uma fumaça começou a sair de um dos equipamentos de monitoração. – Abre! – Gritei para o enfermeiro que estava na mesa de recepção do andar médico. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS – Não está aceitando o comando. – Beto! – A Doc gritou antes de começar a tossir. – Ligue para o Rock! – Gritei para o enfermeiro antes de sacar a minha arma. Eu não pensei duas vezes, apenas mandei a Doc se afastar e atirei contra as dobradiças da porta. Todo aquele sistema era a prova de balas, mas como em tudo, havia um ponto fraco. Foram dois tiros certeiros, suficiente para que o sistema todo começasse a berrar em todo o andar e disparar o sistema de sprinklers dentro do quarto, mas funcionou. Os enfermeiros foram os primeiros a sair correndo, eu precisei pegar a Doc em meus braços, ela já estava desacordada no chão. A água que caía do teto ajudou a pousar aquela fumaça. – Doc! – Gritei quando a coloquei sobre uma maca na entrada da emergência. – Alguém ajuda aqui. – Afaste-se. – Um médico ainda a paisana me pediu e começou a examiná-la. – O que aconteceu? – Depois que o sensor cardíaco apitou começou essa fumaça e as portas foram trancadas. Como ela está? – Parece uma sedação. – Toda a Sede está bloqueada. – Um enfermeiro PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS avisou ao se aproximar. – Doc? – O Jack gritou ao chegar. Logo atrás eu via o Leroy e o Rat. Nós três ficamos perto enquanto o médico a examinava, seu nome era Shin. O Jack me disse que ele era um Agente de campo antigo na Interpol e por causa da sua formação também ajudava no laboratório e no centro cirúrgico quando ela precisava, situação muito mais comum do que se imaginava. Eu estava todo molhado, mas não saí de lá enquanto ela não despertou. Realmente ser recrutado foi o mesmo que abrir uma comporta para uma mudança radical da minha vida. Era isso que eu pensava enquanto andava pelo corredor do andar tentando acalmar a mim mesmo. O Leroy me questionou como tudo começou e expliquei. O Rat, que estava por perto foi para a recepção analisar o sistema. O Ty, que também tinha chegado, ligou para alguém para passar a informação. Nós estávamos no meio de um pesadelo que parecia estar apenas começando. O pior era ficar de fora das maiores descobertas. Eu era novato, não tinha acesso a tudo e a todos para poder ajudar. Enquanto na minha equipe no Exército eu era O PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS Cara, na Interpol eu era parte. A sensação que eu tinha muitas vezes era que eu realmente era um soldado, no sentido militar da palavra, estava apenas começando a minha carreira. O problema disso tudo era que a vida dela estava sendo posta em risco e isso estava mexendo comigo. Eu não fazia ideia da profundidade do seu passado, era algo sério e perigoso, dava para perceber. Não era a toa que ela ficava confinada na Sede, o problema naquele momento era que toda aquela estrutura estava parecendo ser pouco. – Você vai para casa, mocinha. – Ouvi o Jack falando com ela quando cheguei à enfermaria. – Obrigada. – Ela disse quando me viu e eu assenti. – Eu quero ir para casa... Preciso. – Está tudo bem. – O Jack murmurou quando ela chorou. Eu ouvi os dois sussurrando algo em russo, não consegui entender, mas ela desceu e tentou andar, mas seus joelhos fraquejaram. – Vem comigo. Com ela em meus braços pegamos o elevador com o Jack até o seu andar subterrâneo. A Doc se agarrou em mim como nunca tinha feito, ela estava com medo real. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS – Eu preciso voltar e descobrir o que aconteceu. – O Jack me disse depois de abrir a porta com um código. – Eu volto contigo? – Fique com ela, por favor. Mantenha essa porta trancada até segunda ordem. – Alguém sabotou o sistema de segurança do andar, Jack. – Avisei em português. – Eles a trancaram lá dentro. – Estou indo checar isso. – O que eu posso fazer para ajudar? – Já está, mesmo que você não tenha noção. Estou te deixando como única barreira entre o que tem lá fora e ela, Beto. Eu não pediria isso a ninguém antes. – Eu preciso entender o que está acontecendo. – Ela é o nível máximo de segurança. Isso já deve bastar por enquanto. – Por enquanto... – Não abra para ninguém. Assim que ele saiu eu ouvi o click do sistema de fechamento ser acionado. Pensei que ela ia preferir descer do meu colo, mas a Doc estava grudada como chiclete. Como eu sabia o caminho, fui até o final de um corredor feito pelos móveis até PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS o seu quarto e a coloquei na cama. – Não me deixa sozinha. – Eu ficarei aqui. – E a Agente Hellen? – Morta. – Eu a perdi. – Ela estava condenada. Eu posso pegar uma roupa para você? Acho melhor você tomar um banho. – Estou com medo, Beto. – Ela sussurrou e se encolheu. Foi a segunda vez que ela tinha dito o meu nome. Por causa daquilo tudo tínhamos avançado um degrau, então me arrisquei. Eu também estava molhado por causa dos sprinklers, mas me deitei ao seu lado e a abracei. – Eu não vou deixar que te façam mal. – Promete? – Prometo. – Sussurrei e beijei seus cabelos. Demorou, mas consegui convencê-la de tomar um banho e tirar aquela roupa de hospital. Eu mesmo peguei uma muda de roupa e troquei os lençóis enquanto ela se banhava. – Eu tenho umas roupas do Jack aqui se você quiser. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS – Por que teria roupas dele aqui? – São meio antigas... – Me responda. – Às vezes eu tenho uns pesadelos... tinha, quer dizer. E quando eu sentia que o pânico estava voltando ele ficava no quarto de hóspedes. Não consegui ver mentira em seus olhos, apenas o medo. Por mais que o ciúme estivesse me comendo por dentro não era o momento de arrumar uma briga. – Tudo bem. Se tiver um moletom tá bom. – Você pode usar esse banheiro aqui? – Eu uso o do quarto de hóspedes mesmo. – Não... Usa esse. – O que foi, Doc? – E se conseguem entrar enquanto você estiver lá? – Ninguém vai entrar aqui. – Mas e se conseguirem? – Você se sentiria mais segura se trancar a porta enquanto eu estiver lá? – Ela apenas assentiu. – Tudo bem. – Tem toalha no armário. Tomei o banho mais rápido da minha vida, mas mesmo assim quando saí a vi sentada no chão ao lado da porta me esperando. O medo a tinha PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS despido de sua arrogância normal e a vendo daquele jeito comecei a entender que era tudo uma questão de autodefesa. Ela não conseguia confiar nas pessoas e eu começaria a finalmente entender. – Quer que eu te faça alguma coisa para comer? – Não. – Eu vou fazer uma ronda e já volto. – Posso ir contigo? Chiclete novamente. Eu sabia que só havia uma forma de entrar, mas para que ela se sentisse mais segura peguei a minha arma e vistoriei cada canto da sua casa. – Eu não tinha reparado nessa academia. – Eu me exercito todos os dias. – Tem de tudo aqui, mas você não sente falta da luz do sol e da natureza que tem lá fora? A Sede tem um jardim muito bonito. – Não é seguro. – E se fosse? – Eu não sei. Estar lá fora é estar exposta a germes. – Er... nah! – Isso é de um seriado americano de humor. – Exatamente e significa que você acabou de falar uma bobagem. Se a minha mãe te ouvisse dizendo isso te colocaria uma semana cuidando da horta do PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS sítio e sem luvas. – A sua mãe me parece ser uma pessoa bem rígida. – A sua não era? – Eu não tive mãe. E o assunto morreu. Enquanto eu tentava fazer um lanche na cozinha super equipada dela, a Doc apenas ficava lendo um livro de medicina que parecia muito pesado e fazia anotações em um notebook. Para onde eu ia, ela ia atrás, mas não falava nada. O primeiro dia foi apenas uma repetição. Enquanto eu queria saber o que estava acontecendo lá fora, recebia sempre a mesma resposta do Jack, ela ficava calada. Naquela noite eu tive que dormir no chão do quarto. Ela não aceitou que eu ficasse no quarto de hóspedes, ainda estava com medo. Foi a única troca de palavras que tivemos até que o Jack apareceu. A Doc estava se exercitando na sua academia particular. – Chegaram essas coisas para você, a Raquel mandou te entregar algumas roupas. – O Jack me disse na manhã do dia seguinte. – E a investigação? – A Hellen abriu a boca demais enquanto fodia com PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS o inimigo. Pelo visto ele tinha acesso ao nosso sistema. O Chefe está muito puto. – Que merda. E agora? – Agora o Ty está tendo que vasculhar tudo enquanto é dado um reset no sistema. Nem sei quanto tempo isso vai durar, mas será necessário. – E eu? Preciso ficar de babá até quando? – Quer dizer que ficar aqui comigo está sendo tediante, soldado? – Desde quando você fala português, Doc? – O Jack questionou. Eu também fiquei curioso. – Tem um tempo, mas não é isso que importa. Quer saber? Vocês podem ir embora, os dois. Eu não preciso de vocês! – Pronto... – Não me provoque, soldado! – Agora eu voltei a ser soldado? Ontem você me chamava de Beto, né? Quando você precisa eu sirvo, doutora? – Você é um Agente! – Não sou seu empregado! – Olha, eu vou deixar isso aqui e sair da linha de tiro. – O Jack disse com humor ao colocar a mala no chão. – Você não respondeu a minha pergunta. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS – As ordens são de isolamento total da Doc. Estamos deixando escapar que ela foi para um outro isolamento fora da Sede. Não sabemos quem sabe de toda a verdade e se realmente tem alguém atrás dela. O importante nesse momento é você ficar aqui enquanto chegamos a essa organização criminosa. – Merda. A Doc tinha ficado calada ouvindo a nossa conversa até que resolveu querer dar o golpe de morte. – Jack... Você poderia mandar outra Agente? Pede ao Shin... – Claro que você quer o Shin, seu amante! – Gritei perdendo a paciência com ela. – Eu não tenho amante nenhum ao contrário de você. Pena que o seu encontro de ontem ficou a ver navios, soldado. – Eu avisei e remarquei. – Não me interessa os seus assuntos pessoais. – Não é o que parece. – Chega! – O Jack gritou nos parando. – Realmente vocês precisam de um período de isolamento para se acertarem. Estou indo nessa e a previsão é que eu volte em cinco dias! PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS – Você não pode me deixar cinco dias com essa mulher, cunhado. – Ordens do Chefe. Ele se foi nos deixando sozinhos por eternos e malditos cinco dias. Ela andava insuportável, teria sorte se terminasse aquela semana viva.

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RAT A minha mesa estava uma bagunça, mas era daquele jeito que eu teria que trabalhar no próximo mês. O sistema de dados da Interpol não era mais confiável, eu precisava descobrir até onde eles tinham ido. Mesmo o pessoal da cyber-segurança garantindo que nada mais sairia do sistema, eu não estava acreditando. A vida de muita gente poderia estar em risco, inclusive a minha. Tive que fazer três linhas de frente diferentes, uma a partir da chegada do Rock no Brasil, depois do sequestro da Raquel e o mais complicado, antes disso tudo. Tive que recorrer aos métodos arcaico de quadros, documentos impressos e fotos na minha sala depois de desligar todas as câmeras de segurança e verificar se havia alguma escuta, para a minha sorte não existia. A morte confirmada da Agente Hellen nos deu acesso a documentos sigilosos sobre a sua vida passada armazenados no arquivo da Interpol, mas o PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS mais importante veio de um advogado. – Tem apenas seis meses que a Hellen é minha cliente e depois de receber a informação da sua morte acredito que ela esperava que algo poderia acontecer. – O Advogado nos disse em uma reunião convocada pelo Chefe. – Ela simplesmente entrou um dia no meu escritório, pediu que eu registrasse o seu testamento e ficasse com a posse de alguns documentos que deveriam ser entregue na Sede da Interpol no caso da sua morte. Sobre o conteúdo do testamento, todas as providências foram tomadas seguindo as suas orientações. Cada beneficiário já foi contatado. – Podemos saber quem são? – O Chefe questionou. – Três orfanatos em Bruxelas e um asilo em Bucareste. As instituições foram beneficiadas com quantias em dinheiro já previamente estabelecidas. – Então nos diga, o que a Agente Hellen deixou para ser entregue aqui? O homem tirou de dentro de uma mala vários envelopes grossos e cheios de documentos e os colocou sobre a mesa. – Deixe-os sobre a mesa que o nosso esquadrão contra armas químicas e biológicas analisará antes de verificarmos. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS – Não entendi... – Obrigado, Doutor. A entrega está feita. Eu tinha entendido bem a estratégia do Chefe. Se a Agente Hellen queria que tudo aquilo chegasse até nós depois da sua morte, os envelopes deveria estar devidamente lacrados sem risco para o advogado, mas não confiávamos no conteúdo. Assim que o advogado saiu uma equipe entrou e levou todo o conteúdo que nos foi entregue apenas dois dias depois. Tivemos que nos dividir para analisar tudo aquilo com calma e paciência, o problema foi que muitos documentos eram russos e da época em que a Doc tinha chegado à Interpol. Apenas o Rock tinha pleno conhecimento da vida anterior dela, o restante sabia o necessário. Não era nosso costume ficar bisbilhotando, mas pelo visto a Hellen bisbilhotou demais. – Que merda! Ela invadiu a minha sala para ter acesso a isso. – O Rock se alterou. – São documentos que a Doc me entregou, os que conseguimos pegar no dia em que a resgatei. Que merda! Isso estava no meu cofre! – Será que ela mostrou isso a alguém? – Somente eu e o Chefe conhecemos a verdadeira PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS identidade da Doc, mas a Hellen disse. Nenhum documento aqui tem a verdadeira identidade dela, somente alguém que sabe a sua história poderia ter contato. – Isso não é bom. – Agora sabem que a Doc está aqui sob a nossa proteção. – Mas... – A Doc é uma Smirnov. Seu pai era um cientista russo que trabalhava para a máfia russa. – Você está dizendo que a nossa Doc é aquela mulher? Essa? – O Ty questionou quando mostrou uma imagem de uma menina que eu já tinha visto várias vezes. – Essa aqui é a Doc? – É ela mesma. – Eita, porra! Estamos com essa bomba aqui na Sede? – Questionei. – É por isso que ela está aqui na Sede. – O Rock me garantiu e se levantou. – Agora eles sabem se a Hellen abriu o bico. A vida da Doc está em grave risco. – Onde ela está agora? – O Beto está fazendo a sua escolta pessoal. – Precisamos descobrir até onde eles sabem e se for o caso, remover a Doc daqui por um tempo. Eles PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS simplesmente não podem colocar as mãos nela, caso contrário o mundo poderia estar em grave perigo, Rock. – A Doc sabe demais e precisamos ter o controle sobre essas informações. Depois daquele dia nós intensificamos a nossa pesquisa. O Ty tinha uma dívida com a Doc, ela o tinha salvado mais de uma vez, tirou um projetil que ficou alojado poucos centímetros do seu coração. Médico nenhum seria capaz de reconstruílo como ela fez, estava na hora de devolver o favor. O Chefe deu a ordem e a Doc ficou completamente isolada do mundo externo com o Beto em sua caverna. Somente poucas pessoas sabiam disso, como eu, o Ty, o Rock e o Leroy, não sabíamos exatamente em quem confiar. Todo o resto da esquipe ficou sabendo que ela tinha sido removida. O Shin ficou a frente do andar médico. Analisando os computadores, tablets, celulares e HDs apreendidos na sala e no apartamento da Hellen eu consegui resgatar várias informações importantes para o nosso caso, o mais importante foi saber que ela disparou o alerta sobre o Rock e a Raquel depois que ele a expulsou da equipe. Ela tinha um domínio sobre a deepweb muito maior do PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS que imaginávamos e era por lá que ela conversava com os seus comparsas. No cofre da sua casa encontramos um tablet de última geração que era por onde ela acessava para enviar os e-mails. Havia um programa instalado que simulava vários IPS para despistar qualquer investigação. Olhando as redes acessadas verifiquei que ela usava o equipamento em cyber cafés em Londres. – Encontrei algumas fotos que precisamos passar pela análise. – Avisei ao Rock alguns dias depois. – Farei isso do meu sistema. Eu verifiquei tudo lá junto com o Ty, ela não teve acesso a nada que tenho armazenado em casa. – Isso é uma boa notícia dentro disso tudo. – Mais alguma novidade? – Estou indo levar mais dados para o Ty. Ele está tentando montar uma rede de contatos dela para encontramos as ligações e quem sabe chegar aos caras que a torturaram. – Ela deixou um diário que está sendo analisado pelo Leroy. Pelo que ele me disse os seus últimos registros demonstram que ela estava com medo de que algo poderia acontecer. Acho que os seus comparsas não estavam satisfeitos com o seu desempenho aqui dentro. Eles queriam informações PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS que ela não estava passando. – Será que ela queria cair fora? – Se ela realmente quisesse teria nos pedido ajuda, mas ao invés disso, uma semana antes de ser torturada estava fodendo com o inimigo. Encontramos mais de um DNA de esperma no apartamento dela. A Hellen estava fodendo com o bando todo menos de uma semana antes pelo visto. Ela colocou a mim, a Raquel e agora a Doc em perigo.

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Ty – Essa trama está ficando cada vez mais confusa. Eu sequer conseguia mais dormir direito, só vinham imagens, documentos, ligações na minha cabeça. Quando eu acordava encontrando uma resposta para as minhas dúvidas eu precisava me levantar e registrar. A minha vida particular estava uma merda por causa da idiota da Hellen. – Volte a dormir, Kalel. – Eu já vou, amor. – Eu tenho que dar aula amanhã cedo, mas sem você a gente não dorme. – Você está linda, a grávida mais linda do mundo. – Disse e beijei a sua barriga. – E você será um ótimo pai. – Não poderei ser um pai muito presente... – Mas fará com que todos os momentos que você estiver conosco especiais. Ela entenderá com o tempo, não se preocupe. Ninguém sabia que eu seria pai a não ser o PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS Chefe. Ele tinha me prometido sigilo quando revelei a ele que tinha comprado dois apartamentos em dois edifícios vizinhos em um bairro nos arredores de Londres para que a minha mulher pudesse ter segurança dois anos atrás. Durante as obras para reforma dos apartamentos eu paguei caro a uma construtora para quebrar o fundo do closet de um apartamento para sair no quarto do outro, assim ninguém desconfiaria de nada. A entrada dos imóveis ficava em ruas diferentes. Agora ela estava grávida de três meses e eu no meio desse caos na Interpol. Depois da entrega dos documentos pelo advogado algumas coisas começaram a se encaixar. A Hellen tinha conseguido se infiltrar na Interpol graças ao seu desempenho na força policial do seu país, a Romênia. O asilo em Bucareste me levou até a sua mãe, internada neste asilo há mais de cinco anos. O problema foi descobrir que para todos os efeitos a Hellen era órfã. – Veja aqui. – O Rat me chamou ao mostrar um álbum de fotos. – Está reconhecendo esse rosto? Compare com esse. – É a mesma pessoa? Mas esse aqui não é o Spike Franklin, terrorista sérvio? PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS – Veja a cicatriz acima do olho direito nas duas fotos, Ty. A primeira estava em um envelope antigo do cofre dela nomeado com o nome do orfanato onde ela cresceu, a outra com o advogado. – Eles cresceram juntos no mesmo orfanato? – Pelo visto sim, mas enquanto ela teoricamente foi para as forças de segurança, ele se tornou um criminoso com contatos no submundo. Estou tentando identificar quem são as outras crianças. – O que a sua intuição diz? – Você sabe que vou longe, mas algo me diz que tudo começou aqui, Ty. Nós precisamos saber o que há de ligação entre essas crianças. Porque essas crianças foram parar em um orfanato de Bucareste? Na minha cabeça já vem até um sentimento de vingança. – Mas contra quem? – Contra o sistema, contra as forças de segurança do mundo. Não se esqueça que toda guerra gera órfãos que ficam para trás e são enviadas para orfanatos quando seus pais são dados como mortos e nenhum parente é encontrado. A Hellen só encontrou a mãe tem poucos anos. Onde a mãe dela estava todos esses anos? – Temos que encontrar respostas, Rat. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS – A minha intuição me deu uma teoria. – Qual? – A Doc também não tinha família. A sequência cronológica que consegui montar até agora mostra que a Hellen só descobriu a história da Doc depois de saber quem ela era. Entendeu? – Ela se identificou com o passado. Que merda! Ela foi torturada pelos comparsas para contar a verdade sobre a Doc e a protegeu! É isso! – Temos que ter certeza, Ty. – O Rock e o Chefe precisam saber disso. Juntando todos os dados que conseguimos analisar até o momento, mais o que o Rock tinha descoberto em casa, fomos capazes de ter mais respostas.

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ROCK – Está tudo bem? – Apenas verificando algumas coisas. Você sabe que não deve ficar vindo ao covil, amor. – Ninguém mandou você me contar a senha. – Ela brincou e beijou o meu rosto. – Senti saudades. – Eu já vou subir. – O que você está fazendo com uma foto do Dylan? – Quem é Dylan? – Esse aqui. Ele está mais novo aqui, mas é ele mesmo. O Dylan é o fotógrafo que conheci em Campos do Jordão, lembra? – Amor... Qual a última vez que você lembra tê-lo visto? – Não tenho certeza. Eu tenho alguns flashes do sequestro e em alguns momentos ele aparece, mas eu não tenho certeza. – Me explique. – Jack... O que ele tem a ver com o seu trabalho? – Dependendo do que você me disser, tudo, amor. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS A Raquel nunca tinha entrado em detalhes sobre a pessoa que tinha conseguido lhe colocar para dentro do evento. Até aquele dia nós tínhamos chegado a conclusão que teria sido uma coincidência já que todos os envolvidos tinham sido mortos e ela os tinha reconhecidos em fotos, principalmente o Doutor Schneider, focamos no fato de terem furado o pneu. A meu ver eles a estavam seguindo, mas pelo visto chegaram mais perto do que imaginávamos. – Esse homem enganou a Raquel no Brasil, ele a atraiu para um evento dando tempo de o Doutor Schneider chegar e preparar o cativeiro. – Contei a equipe no dia seguinte de manhã. – Ele não aparece em nenhuma das nossas imagens. É o quinto homem envolvido no sequestro da Raquel. – Ela o reconheceu? – O Rat me questionou. – Exatamente. É a primeira vez que ele surge nessa investigação, mas descobri que esse homem que a Raquel chamou de Dylan é na verdade Costel Dragos, criminoso procurado pelo seu envolvimento com terroristas iraquianos. Ele desapareceu tem três anos, pelo visto andou escondido na América do Sul. – E qual a ligação entre ele, a Hellen e o Spike PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS Franklin? Nós conseguimos identificá-lo em uma foto da Hellen ainda criança. Os dois estavam no mesmo orfanato. – Costel Dragos é filho de Grigore Dragos, testa de ferro de Iancu Razvan morto pela Interpol no início dos anos oitenta. Depois da morte de Iancu, Grigore passou a responder a Yerik Ekomov que herdou o controle sobre o tráfico de pessoas entre a Europa e a Rússia. – O Chefe nos explicou. – Grigore Dragos foi abatido enquanto negociava mulheres em um restaurante de Craiova que era apenas fachada para atrair mulheres. Elas eram atraídas do mundo todo com a promessa de que trabalhariam como modelos, mas na verdade eram vendidas como prostitutas ou mortas para o tráfico de órgãos, o mais novo comércio lucrativo depois do avanço no transplante de órgãos. Eles assassinavam pessoas e entregavam os órgãos encomendados, principalmente para os Estados Unidos. Com a morte de Grigore Dragos, seu filho foi enviado para um orfanato em Bucareste. – Fechado o círculo. – O Ty comentou. – Costel Dragos ficou no orfanato até fazer dezesseis anos, quando saiu para a escola e nunca mais voltou. Ele foi visto envolvido com terroristas PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS alguns anos depois e identificado como filho de Grigore Dragos. Pelo visto os comparsas ficaram com o garoto. – O treinaram e ele pode ter voltado ao orfanato e recrutado os amigos. – O Rat meditou. – Mas o que eles tem a ver com a Doc? – Ela é uma médica muito experiente. Não sabemos se esse Dylan ou Costel Dragos ficou ferido no cerco do resgate da Raquel ou fugiu quando viu que tínhamos chegado e só voltou a ter contato semanas depois. – O Leroy levantou a hipótese depois de ficar andando de um lado para o outro. – Pensem comigo. Nós só descobrimos esse homem agora. Eles precisam de uma química experiente para dar andamento da fórmula da arma... a Doc. A própria Hellen pode ter dado a sugestão de sequestrá-la e a forçar a continuar com os experimentos, quando descobriu o seu passado se arrependeu, mas era tarde demais. Os comparsas com quem ela andava dormindo a torturaram para saber mais coisas sobre a vítima, mas ela não deu. – Ou deu e eles a usaram para conseguir isolar a Doc. – O Ty emendou. – Se eles não soubessem tanto porque a deixariam ser trazida para cá e não a mataram logo. Desde quando o equipamento da PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS Doc estava adulterado e como eles ativaram o sedativo? Pelo que temos até o momento pelo prontuário feito pela Doc enquanto a Hellen estava internada, a Hellen tinha recebido doses de diferentes drogas. Eles sabiam bem o que estavam fazendo. – Existe alguma ligação entre Costel Dragos, Spike Franklin e algum químico? – O Chefe quis saber. – Não conseguimos avançar ainda. – Precisamos descobrir se eles estão de posse de doses dessas drogas, se as estão produzindo ou se existe mais alguém nessa célula terrorista. E foi a partir desta reunião que as respostas mais concretas começaram a surgir. Por mais que tudo levasse a crer que a Hellen de algum modo tentou proteger a Doc, foi tarde demais. Além disso, ela tinha entregado a Raquel como vingança e isso eu nunca seria capaz de perdoar. Naquele momento a única coisa que eu pensava era em como manter a Doc longe das mãos desses terroristas.

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ISOLAMENTO Mal o Jack saiu e ela começou despejar toda a sua amargura para cima de mim. A minha vontade era de ir embora, mas eram ordens e eu tinha que cumprir, teria que ficar lá com ela. Ok, é mentira. Ela me irritava muito, mas eu era apaixonado por aquela louca. Eu sabia que os sentimentos por mim também eram recíprocos, só precisava entender porque ela reagia daquela forma tão grosseira. O melhor a fazer era me controlar e não perder a cabeça. Como eu não sabia em que momento as coisas mudariam eu resolvi me preparar fisicamente. Durante praticamente todo o dia eu ficava malhando na academia. Era ela de um lado e eu do outro, não nos falávamos mais, sequer as refeições fizemos juntos. O contato com o mundo externo estava fechado e por mais que eu estivesse preocupado o PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS silêncio era um bom sinal de que ela ainda estava segura. Pena que aquele cenário mudou antes do que eu esperava. Nós estávamos na tarde do nosso terceiro dia de confinamento quando o Jack chegou e me chamou para a parte externa da casa da Doc. Não era um bom sinal e eu tive razão quando ele começou a falar. – Teremos que remover vocês. – Situação. – Estamos crendo que a Hellen pretendia sequestrar a Doc, mas desistiu quando descobriu o seu passado depois de invadir a minha sala e copiar alguns documentos sigilosos. Infelizmente eu tinha confiado na pessoa errada e a colocado na minha equipe. Todos nós temos um cofre em nossas salas, ela de algum modo conseguiu abrir o meu. – Foda. – A Raquel ainda tem aqueles flashes do sequestro e não conseguiu recuperar completamente a memória, mas ela reconheceu um homem que conheceu em Campos de Jordão. Um fotógrafo. – Ela comentou comigo na época, mas depois da investigação ele foi descartado. – Ele é um dos comparsas da Hellen. A Raquel me PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS disse que ele nunca deu em cima dela, foi simpático, segundo a sua irmã. Esse homem estava sumido, mas pelo visto estava agindo de outra forma, atraindo as vítimas. Estamos buscando a sua localização, mas até lá é melhor que vocês não permaneçam aqui até segunda ordem. Pelo que a perícia nos passou a própria Hellen pode ter plantado o dispositivo que ativou o sedativo no equipamento de monitoração cardíaca, resta saber como foi ativado depois da sua morte. Ela não teria como fazer isso naquele estado. – Tem mais alguém aqui dentro envolvido, Jack. – Esse é o meu receio, então é melhor que vocês fiquem fora daqui. – Qual o procedimento? – O voo sairá de madrugada. Mande a Doc fazer as malas também. Tome, use essa e somente esta forma de obtenção de fundos. – Ele avisou depois de me passar um cartão de banco e me falar a senha de acesso. – Não sabemos quem está ciente de que você está fazendo a escolta e segurança dela, não podemos dar mole, Beto. – Ela ficará segura. – Vocês saberão o destino final depois da decolagem. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS – Ok. – Tome cuidado, Beto. A Doc tem um notebook, leve-o. Estarei enviando imagens e dados para o seu e-mail da Interpol. Esse equipamento foi preparado pelo Ty e é seguro. Estude cada um deles durante o voo, memorize aqueles rostos e depois delete. Eu estarei lá na decolagem com mais equipamentos e armamento para você proteger a Doc. Ela é prioridade, então em qualquer sinal de perigo entre em contato que o agente mais próximo chegará para te dar apoio, até lá você estará sozinho. – Ok. – Você pode dar conta disso? – Ela estará segura. – Perfeito. Estou indo providenciar a partida de vocês. Voltarei às duas da madrugada, estejam prontos. Eu sabia que ela ficaria nervosa. Assim que entrei a vi parada no corredor com uma panela na mão. Eu não sabia quanto tempo ela estava lá, mas pela temperatura da panela que peguei de suas mãos já fria dava para imaginar. Com a maior paciência do mundo a levei até o sofá e avisei que teríamos que partir. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS – Para onde iremos? – Eu ainda não sei, então faça uma mala e pegue o que achar necessário. Não sabemos quanto tempo ficaremos fora. – Tudo bem. – Ela sussurrou e depois me olhou nos olhos. – Ficaremos seguros? – Eu te manterei segura. – E você? – Nós ficaremos bem. – Me desculpe ser tão intransigente às vezes. – Não se preocupe com isso, ok? Apenas faça as malas que sairemos de madrugada. Aquela mulher estava sempre preparada para todas as ocasiões. De dentro do seu closet ela tirou uma mala preta que parecia pesada e só quando ela abriu que vi o seu conteúdo. Eram equipamentos e suprimentos médicos, tinha de tudo que você pode imaginar. Ela apenas checou se estava tudo lá e voltou ao closet trazendo outra mala. – Desde quando você tem todo esse armamento e munição? – O Jack me deu isso antes de ir para uma missão e depois não pegou de volta. Ele e o Leroy me ensinaram a atirar depois de me resgatar enquanto ficamos isolados em uma ilha no Caribe até ser PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS seguro me trazer para cá. Depois eu só treinei no stand de tiros aqui da Sede algumas vezes, mas acho que me lembro. – Não será necessário. – Você pode ficar com isso. – Obrigado. Agora faça a sua mala. Pegue as roupas mais casuais e que possa nos fazer passar por um casal de férias, nada de roupas de médica, nada de ternos, ok? Se for preciso compramos depois, mas pegue o que puder. – Tá. – Hei. – Chamei quando ela abaixou a cabeça e toquei no seu queixo. – Eu não vou deixar que nada aconteça contigo. Levei as duas malas para a sala e chequei o tipo de equipamento que ela tinha, era muito bom. Fiz a minha mala também e peguei algumas provisões, como garrafas de água mineral, barras de cereal e biscoitos que ela tinha em casa. Eu precisava me preparar para tudo. Eu queria ter equipamento de acampamento para o caso de necessidade. A minha experiência em selva poderia ser necessário. A noite chegou mais rápido que imaginávamos. A Doc estava bem tensa, mas fez PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS tudo o que eu pedi. Dentro da minha mochila coloquei os equipamentos eletrônicos e o necessário para nossa subsistência. – Vamos nessa. – O Jack disse ao chegar exatamente no horário combinado. Não foi preciso dizer nada, apenas peguei tudo que podia enquanto a Doc apenas puxava a mala com o equipamento médico. Ela fez questão de ajudar e deixei. A Doc precisava se sentir útil e não uma vítima naquele momento. Ela era importante, mas precisava saber se defender e eu cuidaria disso assim que chegássemos ao nosso primeiro pouso. O tempo da Doc dondoca tinha acabado. – Como você não é muito conhecido na Sede ainda, não notarão a sua falta. – O Jack comentou enquanto dirigia para o hangar. – O Chefe já forjou um documento em que te envia para um curso nos Estados Unidos. Para todos os efeitos a Doc ainda está incomunicável. Estamos espalhando a notícia de que ela ficou afetada com o que aconteceu e pediu isolamento. Não será a primeira vez, então acreditarão. – Para onde vamos, Jack? – A Doc questionou. – A ilha. O hangar parecia vazio quando chegamos, mas PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS um brilho me chamou atenção assim que saí do carro e saquei a minha arma. – É o Ty e o Leroy aqui dentro. – O Jack avisou abaixando lentamente a minha arma. – O Rat está lá fora. – Beleza. – Nada de me acertar, companheiro. – Ouvi a voz do Leroy no meu comunicador. – Acabei de verificar o interior do avião. Entre com a Doc que estamos assegurando o perímetro. – Obrigado. – Boa viagem, parceiro. – O Ty me disse no comunicador também. Peguei todo o nosso equipamento e entrei no jatinho primeiro, só depois busquei a Doc que ainda estava dentro do carro blindado. O Jack me informou que tinha enviado tudo o que eu precisava saber para o meu e-mail, eu verificaria durante o voo. Ele também me entregou uma outra mala com equipamentos, disse que eu poderia precisar para verificar o perímetro da casa apesar dela estar preparada. Foi um momento tenso deixá-la exposta até que a porta do jato fosse fechada, mas deu tudo certo até aquele momento. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS – Use esse comunicador. – O piloto me disse quando me sentei ao seu lado na cabine. O piloto nos informou que o tempo de viagem seria de aproximadamente oito horas. Lá nos teríamos uma lancha nos esperando e seria a nossa carona até essa ilha. A Doc tinha ficado sentada na primeira poltrona, conseguíamos nos olhar enquanto ele taxiava. – Merda. – O que foi? Pelo vidro da cabine pudemos ver um carro parado na lateral da pista de decolagem e um homem do lado de fora com uma arma de longo alcance apontada para nós. Antes que eu pudesse dizer qualquer coisa vimos que ele tinha sido abatido. Quando olhei para o hangar vi o Jack com uma arma de longo alcance também e fazendo sinal que era para decolarmos. – Acelere e decole! – Apertem os cintos! Indiquei que a Doc fizesse isso e ela me obedeceu. Quando apertei o meu escutei os tiros vindo em nossa direção, mas o segundo homem que tinha saído do carro também foi abatido. – Fomos atingidos? – Questionei o piloto. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS – A integridade da nave está segura. – Ele me informou depois de observar os sensores. – Não fomos atingidos. – Perfeito. – Nosso plano de voo está mantido até o momento. – Até o momento? – Caso sejamos perseguidos tenho ordens de pousar em uma base militar, mas não há qualquer sinal de perseguição. – Me informe qualquer alteração. A Doc estava bem nervosa quando fui checála, mas com o tempo e a confirmação de que o nosso voo seguiria direto para as Bahamas ela relaxou. Enquanto isso eu fui verificar novamente toda a nave, estava tudo limpo. Todo o nosso equipamento e também o que o Jack me entregou estavam seguros. Foi tenso. No e-mail do Jack fiquei ciente de tudo que eu encontraria depois que pousássemos e quem eu encontraria. A ilha pertencia ao Leroy, mas era usada pela equipe quando necessária. Havia um cômodo secreto onde eu teria acesso a todo o perímetro da ilha, inclusive dos sensores de movimento. Ele também emprestava a ilha a alguns PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS amigos e até alugava para despistar. Para todos os efeitos nós éramos amigos que estariam em lua de mel, tive que avisar a Doc. Uma pessoa nos receberia no aeroporto e seria todo solícito, teríamos que cooperar. – Contato físico será necessário. – Tá. – Eu prometo não exagerar, mas se você quiser pode me tocar, noiva. – Não exagere, soldado. – Beto. – Tá bom... Beto. – Muito bem. Eu te chamarei de amor ou loira para não dar qualquer tipo de nome, está bem? – Tá. – Tente descansar e se quiser pode mudar de roupa. – Eu não tenho roupa casual para agora e nem para depois. – Não se preocupe, o Jack me disse que foi tudo providenciado. Durante o restante do voo eu memorizei cada um dos suspeitos e seus nomes. O Jack tinha sido bem específico e claro nos riscos que estávamos correndo. A qualquer sinal de perigo eu teria equipamento e armamento para nos proteger até PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS uma lancha chegar e nos tirar de lá. Ele tinha deixado claro que eu tinha liberdade de ação, então comecei a formular uma saída e com quem eu poderia contar no caso de uma necessidade. Nós tínhamos passaportes e dinheiro, poderíamos ir para qualquer lugar do mundo. O calor que fazia nas Bahamas assim que pousamos me fez tirar aquele blazer. A Doc não conseguia muito disfarçar a tensão, mas foi só eu abraçá-la e beijar os seus cabelos para ela se sentir mais relaxada, pelo menos superficialmente. Ela precisava entrar no clima. O piloto colocou as nossas malas na SUV que nos esperava e depois voltou para o jatinho, ele voltaria para Londres depois de abastecer. O motorista era só sorrisos. – Sejam bem vindos. – Obrigado. – O Senhor Leroy Mitchell me deu todas as recomendações para que o casal tenha a melhor estadia. – Ele disse ao abrir a porta para a Doc. – A casa está abastecida com tudo que vocês possam precisar para o seu mês de lua de mel. O freezer está cheio, a dispensa também e os empregados foram todos dispensados. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS – Perfeito. Nós queremos ficar sozinhos por um tempo mesmo. – Todas as compras que o senhor fez já foram entregues e estão na mala também. Foi sorte conseguir que entregasse a tempo. – Que ótimo. A lancha que nos levou até a ilha parecia mais um iate. A Doc ainda não tinha dito nada, apenas ficava abraçada a mim enquanto olhávamos o mar. Poderia até parecer que estávamos olhando a vista, mas eu queria mesmo era ver se estávamos sendo observados. Foi necessário duas horas para chegarmos a tal ilha e de longe já dava para ter uma noção do que nos esperava. Pelo que o motorista da SUV e também corretor que cuidava da casa me disse, só existia aquela mansão na ilha. Era uma propriedade de dois andares e sete quartos, todas suítes. A suíte máster onde ficaríamos tinha acomodações especiais que eu pude conferir quando nos instalamos. Ele fez questão de me mostrar tudo enquanto a Doc olhava a vista da praia. – Aqui está o meu contato. Toda a propriedade está abastecida com tudo que for necessário, mas qualquer dúvida é só entrar em contato. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS – Obrigado. Fiquei observando a lancha se afastar do deck quando ele partiu. O céu estava azul, o mar tranquilo e uma brisa corria refrescando o meu rosto, mas apesar de toda aquela beleza ela estava chorando em silêncio.

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ILHA – Você está segura. – Avisei quando a abracei. – A única vez que estive aqui eu estava com tanto medo. Agora eu preciso voltar aqui porque querem me pegar novamente. Eu não queria ser assim. Por que continuam atrás de mim todos esses anos? – Porque você é especial. – Eu só queria ser normal. – Vamos nos instalar. – Avisei e a levei pela mão para dentro da casa. – Você pode ficar com a suíte máster. Enquanto ela ia se instalar eu fui até o menor dos quartos de hóspedes acessar a sala segura. Dentro do pequeno closet tinha o teclado numérico para liberação do cômodo. Inserindo o código enviado pelo Jack pude verificar que a grande sala escondida era parecida com o covil e foi lá que deixei os equipamentos da Doc e a maior parte do nosso armamento, conferi também o perímetro da ilha, inclusive todas as câmeras instaladas. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS – Estamos instalados. – Avisei o Jack por meio de uma vídeo conferência segura. – E ela? – Se instalado. Como foi o desfecho no aeroporto? – Eram apenas assassinos de aluguel contratados pela internet. Foram abatidos e entregues as autoridades. Para todos os efeitos eles tinham tentado fazer um roubo, mas que foram impedidos. – Eles foram apenas um aviso que sabiam dos nossos movimentos. – Exatamente. – Precisa descobrir quem está nos traindo, Jack. Precisamos saber se é seguro ficar aqui com ela, caso contrário eu faço os meus movimentos. – Você tem suporte para agir como achar necessário, apenas me mantenha informado. – Combinado. – Deixe o celular sempre perto. Qualquer complicação você será notificado. Resolvi ficar no quarto ao lado da suíte máster que dava para a praia e depois fui manter a casa mais segura. Deixei uma pistola escondida em cômodos estratégicos e conferi que todos os quartos que não seriam usados estivessem com todas as entradas lacradas e a porta trancada. Todos os dias PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS eu teria que conferir se algum ponto tinha sido violado. – Doc? – Estou aqui. – Ela disse de dentro do closet. Assim que ela saiu eu pude vê-la pela primeira vez de saia e camiseta. Mesmo no churrasco que fomos ao sitio dos meus pais ela se manteve de calça e blusa de mangas, foi a primeira vez que a vi mais casual. – Você está linda. – Obrigada. – A casa e todo o perímetro estão seguros. Estou indo ver o que temos na dispensa e fazer algo para comermos. Quer vir junto? Eu sentia como ela estava tensa então a levei até a sala segura e mostrei tudo que tínhamos a nosso favor. Qualquer alteração receberíamos um alerta. Mostrei também o armamento escondido e um celular via satélite para termos contato com o Jack e o Leroy se fosse necessário, mas até lá deveríamos ficar sozinhos e evitar chamar atenção. Os primeiros dias foram os mais tensos. A ilha não estava na rota de nenhum navio, o silêncio só era quebrado pelo som do mar e dos pássaros nas árvores. Qualquer coisa que pudesse parecer com PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS um motor deixava a Doc nervosa, mesmo o motor da bomba de água da casa. A ilha tinha uma grande área de mata que a convenci a explorar no nosso primeiro final de semana. Conhecer melhor o perímetro era uma forma dela se sentir mais tranquila. De início ela ficou meio indecisa de sair da casa, era o seu porto seguro, mas acabou indo. – Aí estão vocês. – Disse quando vi as araras no topo de umas árvores. – São pássaros silvestres. – São lindas. Esse é o meu lugar, no meio da mata. – Cheia de mosquitos? – Natureza, Doc. Quer manga? – O que? Aonde você vai? Tirei a minha mochila e resolvi subir em uma das árvores para pegar algumas frutas. A Doc estava em choque enquanto eu me divertia pela primeira vez desde que tínhamos chegado. A árvore era forte e segura, facilmente aguentou o meu peso até que eu alcançasse as primeiras mangas. Estavam doces e macias como deveriam ser. – Você vai cair daí, soldado. – Esse não é o meu nome... – Desce, Beto! Eu não vou te reconstruir se você se PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS machucar. – Deixa de ser dramática. Daqui de cima dá para ouvir uma cachoeira. Que tal um mergulho, doutora? – Desce, Beto! – Relaxa, Doc. Não tem ninguém por perto. Que tal se deixar levar um pouco por esse paraíso, heim? Olhe em volta, estamos sozinhos nesse lugar lindo. Você está segura, acredite em mim. – Eu não sei ser essa pessoa que você quer, Beto. Não deu para perceber ainda? – Ela está aí dentro. – Avisei depois de saltar do alto da árvore até a sua frente. – Você poderia ter se machucado. – Eu sou resistente. Agora vamos, quero encontrar essa cachoeira. Seguimos pelas árvores por alguns minutos até que o som da cachoeira ficou mais alto. A Doc comentou que da outra vez que eles estiveram lá ela quase não saiu da casa, não fazia ideia de que tinha uma cachoeira por ali. A água era bem fria, mas depois de toda aquela caminhada valeu a pena. – Anda! Vem logo, Doc. – E se tiver animais no fundo? – Você sobe em mim. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS – Boa tentativa. – Brinquei quando ela tirou o tênis. – Deu certo? Pela primeira vez ela não revidou e eu percebi. A Doc estava aos poucos se aproximando, cedendo e se deixando levar. Ver um sorriso no seu rosto fazia o meu dia e naquele eu tive várias amostras que debaixo daquela casca forjada pela vida havia uma pessoa querendo ser feliz. – Viu... Nenhum animal monstruoso, apenas água fria. – Muito fria. Ela é bem transparente. – Estou vendo. – Disse quando notei a transparência da sua blusa mostrando a parte de cima do biquíni. – Você pode tirar a camisa se quiser, não faz diferença. – Pare de olhar. – Não dá não. – Disse ao me aproximar mais. – O que eu preciso fazer para você ceder? – Ceder a que? – A mim. Achei que ela me afastaria, mas pela primeira vez ela me beijou de volta. Seu corpo colado ao meu fez a água ferver. A sua boca macia e gostosa fez o meu corpo acender como nunca. Era a nossa PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS vez de sermos felizes, mesmo dentro de todo o caos. – Nossa. – Eu também gostei. – Para um segundo beijo foi incrível. – Podemos tentar melhorar no terceiro. Ficamos namorando na cachoeira por um bom tempo, só depois começamos a caminhada de volta para a casa. Pela primeira vez ela aceitou me dar a mão sem tensão, mas por mais que eu estivesse curtindo estar com ela, não deixei a minha missão de lado. Antes de entrar na casa digitei o código de segurança e a mantive na cozinha até que eu verificasse todos os cômodos. Essa era a minha rotina. – Está tudo como deixamos, pode entrar. – Ainda sou a sua missão. – Você sempre foi mais que uma missão. – Avisei e a beijei. – E agora mais do que nunca eu preciso te manter segura. – Sua missão. – Não, minha obrigação. – Garanti e ela me olhou como se eu estivesse falando grego. – Cuidar de quem a gente gosta é uma obrigação, Doc. – Você gosta de mim? PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS – Muito. A coloquei sobre a bancada da cozinha e antes que ela reclamasse que lá era onde fazíamos as nossas refeições a calei com a minha boca. Ela precisava se entregar de corpo e alma para mim, mesmo que isso demorasse um pouco. A paciência eu tinha de sobra. – Tome um banho que vou preparar algo para almoçarmos. – Tá. Está calor. – Também estou sentindo. – Você pode me beijar de novo? – Você quer? – Quero. – Então me pede. – Me beija, Beto. Se antes eu tinha algum freio esse foi para o espaço naquele momento. Pela primeira vez ela falou o meu nome com carinho, a sua voz mostrava desejo. Com as suas pernas envolvendo a minha cintura a levei para o sofá e me sentei com ela sobre mim. – Boca gostosa. – Está mais quente. – Ela gemeu quando lambi a sua garganta. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS – Eu quero te sentir fervendo. Não precisa se conter comigo, estamos somente nós dois aqui e ninguém para te impedir de sentir tudo que deseja. – Eu não sei o que desejar. – Ela disse enquanto tocava no meu peito. – Eu... Me deseje como eu te desejo, Doc. Pela primeira vez ela tomou a iniciativa e me beijou. Eu me senti o filho da puta mais sortudo do mundo sentindo como ela me tocava e buscava a minha língua. A Doc estava se soltando como eu queria. – É assim que eu deveria me sentir? – Não existe uma fórmula quando a gente gosta de alguém. Você simplesmente se deixa levar. – Mas como eu saberei se não estou ultrapassando algum limite. – Não existe limite. Tocando no seu corpo como ela tocava o meu o tesão foi me dominando e já estava fácil sentir meu corpo acordado entre as suas pernas. Cada vez que ela se movia e se esfregava em mim o tesão aumentava, mas eu precisei parar. Estava claro que ela também estava excitada, mas eu precisava que ela tivesse certeza. – Eu não sou de ferro. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS – Está parecendo. – Isso foi uma piada? – Perguntei com humor a fazendo rir. – Foi engraçada? – Foi perfeita como você. Agora eu preciso de um chuveiro frio. – Eu também. – Mas antes... Aquela boca rosada era irresistível e depois de ver como ela estava excitada como eu ficava mais complicado ainda. Precisei de alguns minutos para poder me levantar. O meu pau estava tão duro que chegava a doer, tive que me masturbar de novo no chuveiro para ter condições de descer e ver o nosso almoço. Foi uma surpresa vê-la cozinhando e cantando quando. A Doc pareceu mais relaxada depois de resolvermos aquela questão. Nós estávamos sempre nos provocando, sempre trocando farpas, mas era tudo uma farsa para a verdadeira necessidade do toque e da atenção. – Adorei a música. – Comentei ao abraçá-la pelas costas. – Pensei em fazer espaguete. – Perfeito. – Sussurrei antes de beijar seu pescoço. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS – Que tal um cinema hoje a tarde? – Onde? Não podemos sair daqui. – Deixa comigo. Enquanto ela fazia o almoço eu cuidei de preparar um dos cômodos para ser nosso cinema particular. Levei várias almofadas e as coloquei no chão de frente para a TV de tela grande e selecionei um dos filmes da biblioteca do Leroy. Ela teria uma boa surpresa, mas não deixei a nossa segurança de lado. Toda a casa precisaria estar isolada e os sensores ligados como se fosse de noite. O almoço foi maravilhoso. Ela se empenhou pela primeira vez em nos fazer algo mais sofisticado, deu para perceber. Tivemos direito até a vinho, coisa que eu evitava consumir, mas que eu a tinha visto beber em casa. – Temos essas opções de filmes, Senhora. Pode escolher a de sua preferência. – Avisei quando entramos no quarto quase escuro. – Bem que a Raquel disse que você gosta de comédias românticas. – Linguaruda. – Vocês são engraçados. – Então, qual filme? Com a casa totalmente segura e o filme PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS escolhido passamos a tarde nos divertindo enquanto víamos as comédias de Steve Martin e também os mais recentes dos Vingadores. Ela adorava cinema, deu para perceber, eu também. – Nunca me diverti assim. – Acostume-se. Eu posso te manter segura para que momentos como esses possam acontecer. – Meu Agente pessoal? – Pode me chamar do que quiser. – Sussurrei e a beijei. – Você é lindo, Beto. – Se você acha... – A sua pele é tão quente. – Ela sussurrou e tocou no meu peito. – Você me deixa quente, Doc. – Disse antes de me deitar sobre ela. – Você gosta mesmo de mim? Eu sou uma bagunça de pessoa, de vida. Sou extremamente preocupada com tantas coisas que... – Não consegue relaxar. Eu sei, mas agora você está e comigo. Nós dois merecemos ter esses momentos. Não é errado querer ser feliz e desejada. – É tanta coisa na minha cabeça que é complicado administrar tudo o que penso com o que sinto. Eu não consigo confiar plenamente nas pessoas ao PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS ponto delas se aproximarem sem querer ter o que está na minha mente. – Do que você está falando? – Das coisas que eu sei. Do que o meu pai me ensinou. Do trunfo que pode mudar o rumo do mundo se for controlado por pessoas de má índole. O que o Doutor Schneider fez com a Raquel e o que fizeram com a Agente Hellen não é nada, Beto. Eu sei fazer muito pior e é por isso que me querem. Eu tenho muito medo de não conseguir dizer não se alguém com quem me importo estiver sob a mira de uma arma. Eu vou acabar cedendo e ser responsável pela morte de milhares de pessoas. – Não pense nisso. –Pedi quando ela foi ficando nervosa. – Se eles nos pegarem e te ameaçarem eu não conseguirei dizer não, eu cederei para te salvar, Beto. Isso tem me apavorado desde que nos conhecemos, por isso eu fiz de tudo para te afastar. Eu nunca senti nada disso por ninguém e isso me deixa apavorada. – Se estivermos juntos e preparados ninguém vai te pegar. Eu não vou deixar ninguém te tirar de mim. – Me beija. Foi a primeira noite que dormimos juntos na PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS suíte máster. Não aconteceu nada além de uma troca inocente de carinhos e poucos beijos. Não havia clima algum para algo mais, apenas a necessidade de ficarmos perto um do outro. Com a casa completamente isolada e os sensores ativos a deixei dormir no meu peito até quase meio dia. Foi a primeira vez que aquilo aconteceu, ela estava mentalmente exausta. Só precisei me levantar quando o celular via satélite vibrou. – Fala, Jack. – Já conseguimos identificar mais alguns elementos da célula terrorista depois de rastrear de onde veio o dinheiro que pagou os atiradores do aeroporto. Eles foram presos em Belgrado nesta manhã. Estou indo participar do interrogatório, darei notícias mais tarde. Como estão as coisas por aí? – Tranquilo. Estou mantendo a casa segura quando estamos fora. – Perfeito. Voltamos a nos falar. – Me mantenha informado. – Alguma novidade? – A Doc me perguntou quando me virei. – Escutando a conversa dos outros? – Questionei e a beijei, mas ela apenas ficou me olhando. – Eles PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS prenderam parte da célula terrorista. O Jack ligou para avisar e isso é um ótimo sinal. – É? – É sim, eles estão deixando rastros que nos levará aos cabeças e te livrará das ameaças. Ninguém faz ideia que você está aqui linda nessa cama e me olhando, nem que eu sou o filho da puta mais sortudo do mundo que dormiu contigo. – Depende do ponto de vista. – Não entendi. – Estar comigo é estar na mira de uma bala, Beto. – Eu levaria quantas fossem necessárias por você. Vamos tomar café. Hoje vamos a praia. – Mas nós estamos na praia. – Teremos direito a sunga e biquíni. Faremos sanduiche natural igual aos banhistas das praias cariocas. Eu vou lá ver se temos guarda sol. Levante-se que hoje é dia de praia, loirinha. – Você sempre acorda de bom humor? – O que teria de ruim para reclamar? Estou em uma ilha com a mulher mais linda do mundo toda descabelada na cama. Eu tenho tudo para celebrar. Como prometido tivemos uma tarde divertida na praia. A Doc parecia criança brincando na areia comigo. Eu contei a ela o que o meu pai fazia PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS quando éramos crianças e ela me pediu para mostrar. Às vezes me batia uma grande tristeza ao ver que ela nunca teve uma família, nunca tinha experimentado coisas banais como castelo de areia ou passeios em trilhas. Olhando a Doc sorrindo eu via como eu e a Quel tivemos sorte e senti falta dos meus velhos. Eles foram essenciais na construção da nossa personalidade, nos deram amor e responsabilidades, nos ajudaram a estudar e nos levaram a parques, coisas que ela nunca teve. Era triste. – Isso é feito de que? – Nem me pergunte, pode ter pata de arara e pelo de gambá que matei ontem a noite. – Brinquei quando ela arregalou os olhos olhando para o sanduiche. – Relaxa, Doc. – Seu... – Vem cá! – Me solta, Beto! Com ela nos meus ombros corri para a água e a joguei. Eu precisava espantar a melancolia da minha cabeça e nada como uma briga de água para começar e uns amassos na areia para completar. Nós tínhamos que aproveitar todos os momentos. – O que faremos hoje? PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS Todas as manhãs ela me fazia a mesma pergunta. A Doc estava se acostumando a experimentar novas experiências enquanto eu sofria de bolas azuis de tanto tesão. Em todos os banhos eu precisava me tocar para controlar o desejo de arrancar as suas roupas e enterrar o meu corpo no seu. – Hoje será surpresa, mas eu te aconselharia a preparar a sua melhor roupa. – Vamos dançar? – Ela perguntou animada ao me olhar. – Esse é o problema de ter mulheres muito inteligentes por perto. – Brinquei e a beijei. – Sim, hoje a noite vamos dançar. Pela primeira vez vi a Doc empenhada em se preparar para a nossa noite. Depois do almoço ela ficou várias horas no quarto, nem quis fazer uma caminhada. Quando ela desceu no final da tarde vi que os seus cabelos estavam diferentes e ela tinha se maquiado. A Doc estava vestida com uma roupa nova, preparada para dançar como eu. Eu tinha afastado os móveis de uma das salas que tinha um deck para a praia e preparei a nossa pequena festinha. A casa tinha tudo que eu precisava, incluindo som ambiente e luzes indiretas PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS que acenderam quando a noite foi caindo. Isso sem falar naquela vista maravilhosa que tínhamos do mar. A lua estava cheia completando o clima romântico. – Nunca dancei assim. – Estou gostando de te mostrar um lado bom da vida. – Estou amando, Beto. – Eu também. Ficamos dançando até quase meia noite, quando o sistema de alarmes automaticamente fechou todas as portas e janelas. Segurando a sua mão a levei para o quarto que passamos a dividir e liguei a música do meu celular. – Achei que iríamos dormir. – Eu queria ter você mais tempo nos meus braços. Você parece mais feliz quando estamos juntos assim. – Você me faz feliz, Beto. Começamos a nos beijar enquanto dançávamos. Ela estava entregue e me desejando como eu a desejava. Quando ela deu um passo atrás de se deitou na cama eu deixei que o meu coração me guiasse. – Você tem certeza? PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS – Eu te quero como você me quer. Não tinha mais para onde ir depois daquilo. A beijando com desejo fomos ficando nus naquela cama enorme. Seu corpo lindo estava macio e cheiroso, me atraindo, me deixando louco. A minha boca parecia que tinha vida própria percorrendo o seu corpo, provando, sentindo. – Oh... Isso é tão bom. – Gosta da minha língua entre as suas pernas? – Faz de novo. A sua entrega ao sexo foi a coisa mais linda e excitante que eu já tinha visto. A Doc gritava o prazer sem inibição, ela queria gozar, estava ansiosa por isso, assim como eu. Foi o tempo de vestir uma camisinha que eu tinha na minha carteira e sentir seu corpo recebendo o meu. – Oh... Beto! Mais! Oh, mais, Beto! – Eu sonhei com isso. – Isso é tão intenso. – Eu te desejei no momento que te vi. – Gemi enquanto entrava e saía dela cada vez mais intenso e esfregava o seu clitóris. – Oh... Não pare! Não pare! – Vem gozar gostoso. – Sussurrei no seu ouvido e a penetrei mais intensamente. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS – Isso! Oh, aí... Isso! – Caralho. Aquele calor começou a subir pela minha espinha enquanto eu a via gritando, sua pele ficando vermelha por conta de toda aquela agitação e ela puxando os cabelos enquanto parecia que gozava sem parar. Eu não consegui me segurar e despejei em jatos no preservativo. O tesão foi muito intenso, eu só não esperava ouvir aquelas palavras no pós-sexo. – Eu nunca achei que seria assim tão incrível. – Ela disse ofegante deitada no meu peito. – Comigo? – A minha primeira vez. – Ela sussurrou e me deixou tenso. – Não senti... – Eu mesma tirei a minha virgindade. – Heim? – Pouco depois de o meu pai morrer eu escutei um dos homens do chefão da máfia russa dizer que o homem que me comprasse também estaria comprando a minha virgindade. Eu percebi que eles estavam negociando não somente a minha mente, mas o meu corpo. – Doc... PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS – Como eu tinha acesso a vários aparelhos eu mesma consegui tirar a minha virgindade. Quando chegou o dia em que eles me drogaram para me examinar viram que não existia mais hímen. Havia um capanga que era o pior de todos, ele me batia muito para fazer o meu pai cooperar. Ele riu quando mataram o meu pai na minha frente. Eu tinha ficado amarrada por dois dias inteiros sendo torturada para contar a fórmula e onde ele tinha escondido milhares de dólares da máfia que tinha conseguido desviar. Eles tinham descoberto todos os seus planos de fugirmos. Eu não contei nada como o meu pai tinha me pedido várias vezes e ele desistiu, mas eu me vinguei. Quando eu acordei da dose fraca da droga e fui questionada de quando eu tinha perdido a minha virgindade, menti ao dizer que ele tinha me estuprado. Ele foi morto na minha frente me chamando de todas as coisas mais horríveis do mundo. – Eu sinto muito, Doc. – Lana. Meu nome é Lana. – Lana. – Sussurrei e beijei os seus cabelos. – Eu nunca imaginei que seria tão maravilhoso me sentir amada como me sinto contigo, Beto. Não foi preciso dizer mais nada depois PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS daquilo. Em seus olhos eu vi pela primeira vez a mulher da minha vida despida de todas as suas barreiras. – Eu te amo, Lana. – Oh, Beto. – Ela chorou em meus braços. – Não diga isso e se acontecer algo? – Eu agradecerei a Deus pelos dias que tive contigo. – Garanti olhando em seus olhos. – Eu nunca me arrependerei de nada. – Eu tenho medo de te perder no meio disso tudo. – Se estivemos juntos conseguiremos nos livrar dessa ameaça. – Me abraça. Ficamos abraçados até ela pegar no sono. Eu me levantei, tirei o preservativo, tomei um banho e fui até o quarto secreto. Eu precisava ter mais informações do que estava acontecendo na Sede e a evolução das descobertas. – Bom dia. – O que é isso? – Café na cama. – Adorei. – Ela disse ao pegar uma florzinha que coloquei na bandeja. – Isso é rotina depois de uma noite de sexo? – Não faço ideia, eu só quis fazer para você. Café PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS da manhã, beijos e praia? – Adorei a sua agenda, eu só preciso da minha mala médica. – Para quê? – Eu preciso das minhas injeções mensais e trimestrais. Eu tomo uma série compostos para compensar a falta de sol entre outras coisas. – Algo que eu deva me preocupar? Você tem tomado sol aqui. – Não precisa se preocupar. Nós tomamos o nosso primeiro banho juntos e pude observar melhor o seu corpo. Havia marcas fracas de cicatrizes antigas principalmente em suas costas e abaixo dos seios, marcas que eu não tinha reparado até aquele dia. Além delas havia as marcas em seus pulsos que o Jack já tinha me pedido para não comentar. – O que...? – Cada um deles pagará com a vida se um dia pensarem em fazer um centésimo disso contigo. – Lhe disse depois de me ajoelhar e beijar cada cicatriz em seu abdome. – Ninguém toca na minha Lana. – Sua Lana? – Exatamente. – Garanti depois de beijá-la os PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS lábios. – Agora vamos tomar café. – Primeiro as minhas injeções. Confesso que aquela história não estava me cheirando bem, então fui atrás para ver o que ela faria. Primeiro ela foi até o freezer da casa e pegou uma caixinha preta que eu nem tinha visto. Na sua mala médica havia um reservatório com vários frascos vazios. A Doc usou os frascos vazios para misturar um pouco de cada coisa, usou um equipamento para misturar e depois aplicou em si mesma. Era incrível como ela ficava concentrada em tudo. – O que é tudo isso? – Esse é um complexo que ativa a concentração, a perspicácia e aumenta a resistência mental. Me ajuda na concentração. Se eu não tomar acabo tendo algo como uma aceleração dos pensamentos que me deixa confusa. Tomo desde que o meu pai fez alguns experimentos em mim quando eu tinha apenas seis anos. – Ele fez experimentos em você? – Questionei pasmo e ela apenas assentiu. – Esse me dá mais força para suportar a falta da vitamina D durante os anos que fiquei confinada, os anos mais necessários para a criança. Eu cresci PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS muito rápido, tive um desenvolvimento diferente das crianças normais e isso afetou algumas partes, como a concentração de cálcio nos meus ossos e a oxigenação sanguínea. Sem isso eu corro risco de quebrar os meus ossos com mais facilidade ou desmaiar. – E esse último? – Esse evita que eu produza óvulos, controla a liberação de alguns hormônios e que eu tenha o meu ciclo menstrual. – Tipo anticoncepcional? – Age como regulador hormonal, mas você poderia dizer isso também. – E quando você precisa tomar isso tudo de novo? – Em aproximadamente três meses, a não ser o da vitamina D. Esse preciso tomar no máximo em dois meses. Como eu não sabia quanto tempo ficaríamos fora eu trouxe tudo. – O que eu posso fazer para ajudar? – Nada. Não é preciso, é a minha natureza. – Não é comum precisar de tudo isso. Se você não vivesse na Sede não precisaria de tudo isso. – Mas eu vivo. Vamos tomar café? Ela não quis mais falar naquilo, não forcei. Depois do nosso café da manhã fomos fazer uma PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS caminhada na praia, ela precisava do sol e lá tínhamos de sobra.

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DESTINO INCERTO Eu não sabia que o Beto estava em contato constante com o Jack durante todo aquele tempo. Para mim nós estávamos incomunicáveis, mas me enganei. Na sala secreta ele tinha como saber o que está acontecendo e foi em uma conferência conjunta que recebemos notícias do Jack no final do dia. – Conseguimos arrancar algumas informações importantes para a investigação. A Hellen pelo visto te fez vários elogios, Doc. Isso despertou a cobiça dos membros da célula terroristas, eles encontraram alguém para substituir os cientistas que abatemos no Brasil. Até esse momento não temos a confirmação de que eles sabem exatamente quem você é. Fique tranquila quanto a isso, mas mesmo assim não podemos descuidar. Eles tinham uma fotografia sua tirada recentemente dentro da Sede. – Tem como saber a data? – O Beto questionou. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS – O Ty está tentando encontrar o momento certo em nosso banco de imagens. Toda a Sede é monitorada, ele conseguirá encontrar. – Ninguém me tira da cabeça que existe mais alguém dentro da Sede. – Estou avaliando todas as possibilidades. – Há alguma chance de nos rastrearem até aqui? – Zero chance! – Então continuaremos aqui. – O mesmo homem que os levou até aí chegará em cinco dias para entregar suprimentos. – A manterei segura. – Jack... E como está o meu centro cirúrgico? O que estão falando? – Estamos mantendo a mesma história. O Shin está de frente e atendendo todo mundo que precisa. Ele também está de frente do laboratório de perícia. Me disse que sente a sua falta. – Será que poderei voltar? – Claro que sim, Doc. Isso é temporário. – Está bem. Qualquer lugar é a minha casa. – Sem depressão nesse momento, Doc. Eu preciso que você fique firme. – Ser caçada não é divertido, Jack. – Eu estou fazendo o possível. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS – Eu sei, me desculpe. – Você pediu desculpas? O que ela tem feito por aí, Beto? – Trilhas, praia, caminhadas. – O Beto disse com humor nos fazendo rir. – Não tem muito que fazer por aqui. – Continue estudando o seu português, Doc. A Raquel ficou contente quando contei que você estava se empenhando. – Tenho saudades dela. Aprendi essa palavra antes de vir para cá. – Ela também. A Raquel me disse ontem mesmo que sente falta das suas tardes de garotas. – Se puder diga a ela que também sinto. Aquela conversa me deixou deprimida. Para todo lugar que eu olhava não me encontrava naquele lugar. Mesmo da sacada da suíte que dividíamos eu não me sentia eu mesma. Olhando o Beto se exercitando na areia da praia me encontrei. Durante toda a minha vida eu me senti estranha às pessoas. Eu era super inteligente, super capacitada e depois super perigosa. O meu pai tinha colocado um alvo na minha testa ao me passar todas aquelas informações e até hoje eu não tinha chegado à conclusão se nascer foi uma dádiva ou PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS uma maldição. Dividir aquele segredo com alguém poderia significar colocar mais uma pessoa em risco, mesmo que diminuísse o meu peso. Até me livrar daquele dinheiro não seria fácil. Mesmo com os artifícios modernos de acesso a conta pela internet poderiam me localizar, seria arriscado. Eu já tinha pensado em doar, mas mesmo isso seria complicado, me localizariam. Era dinheiro sujo, manchado de sangue de inúmeras vítimas que deveria ser usado em prol de instituições que impedissem o tráfico de pessoas. O pior é que eu sequer tinha certeza se aquele dinheiro era fruto disso ou do trabalho do meu pai. Poucas pessoas sabem que ele chegou a ganhar um prêmio Nobel de Química, mas em nome de outra pessoa. Sendo quem ele era não seria levado a sério, mas eu era a prova de que sua pesquisa tinha dado certo. No meu DNA estava a prova de que era possível salvar vítimas de exposição radioativa. Ele tinha fecundado um óvulo especial – como ele dizia – em laboratório e eu nasci de uma barriga de aluguel, nunca tive mãe. Mesmo extremamente doente nos meus primeiros meses de vida eu sobrevivi e me tornei quem sou, uma bomba PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS relógio. Era assim que eu me sentia o tempo todo, menos quando eu estava com ele. O Beto era o meu bote salva vidas para a vida. Conseguir me manter viva ia além da minha integridade física e ele sequer sabia disso. Eu não sabia se era amor aquilo que eu sentia por ele, mas era algo que passou a ser um objetivo nessa vida maldita que me foi dada. A forma como ele mostrou se importar comigo ainda no Brasil me fez olhar pela janela e ver uma flor pela primeira vez e a achar bonita. O Beto me fez olhar o mundo como algo além de paredes que me mantinham enclausurada mesmo depois do Jack ter me resgatado. A verdade foi que eu saí de um cativeiro e mudei para outro. A Interpol nunca me pressionou para dizer a verdade sobre os meus segredos, me deixou livre para atuar como médica e usar o que aprendi para salvar vidas. Mas apesar de tudo isso a Interpol nunca conseguiu me dar a liberdade para viver como uma pessoa normal. Acontece que eu não sou normal. Precisei mentir para o Beto sobre as doses hormonais que eu precisava injetar em mim mesma. Algumas drogas me impedem na verdade PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS de morrer. A radiação a que fui exposta ainda bebê alterou o meu DNA. A esperteza do meu pai reverteu alguns sintomas, mas o meu corpo era vulnerável. Ao mesmo tempo em que as drogas controlam o ritmo do meu coração e do meu cérebro evitando micro hemorragias e enxaquecas terríveis, melhoram outras coisas. Em pessoas normais os efeitos são notados apenas no aumento da capacidade cognitiva, em mim não. Dizer ao Beto que eu sou uma pessoa condenada logo de cara não seria fácil, preferi ser covarde e esconder. Eu me importava com ele. Ele se importava comigo. O que era isso que eu sentia? Ele sofreria se eu morresse? Enquanto eu não descobrisse uma solução para a minha própria doença eu teria que viver dependente de tudo aquilo. O meu futuro era incerto, eu sabia. Naquele momento até o meu destino era incerto. Eu fiquei tanto tempo parada contemplando o horizonte e analisando a minha própria vida que sequer percebi o tempo passar. – O que tanto você pensa? – Ele perguntou ao me abraçar pelas costas. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS – Na vida. – Não pense demais. A minha mãe sempre diz que temos que viver um dia depois do outro. Ficar imaginando não nos leva a lugar algum, viver sim. – A sua mãe é sábia. – Ela é, mas não diga isso a ela. A minha mãe já é convencida demais sem isso. – Eles sabem onde estamos? – Ninguém sabe. Tenho certeza que o Jack arrumou um jeito de deixá-los seguros que estou bem. – Deve ser bom saber que se tem alguém se importando contigo. – Como você se sente? – Sobre o que? – Sobre saber que eu me importo contigo. A Raquel e o Jack também se importam. – Se importam? – Muito. Eu não estaria aqui se não me importasse. – Sou sua missão, como sou do Jack. – Você é minha garota, Lana. – Nunca fui garota de ninguém. – Para tudo tem uma primeira vez. Os dias seguintes foram uma repetição dos anteriores, conosco fazendo trilhas, desbravando a ilha, como o Beto dizia, enquanto isso as minhas PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS pesquisas estavam estagnadas. Lá eu não tinha acesso ao que eu precisava para encontrar uma cura. O meu tempo estava passando enquanto víamos filmes. – Eu gosto de te ter aqui desse jeito. – Que jeito? – Apenas de férias vendo um filme nessa praia isolada do mundo. – Não estamos de férias. Estamos nos escondendo. – Ah, então agora você está me escutando? – Não entendi. – Desde aquela conferência com o Jack que você está estranha. Eu já tentei conversar, mas você novamente está fechada como uma concha. Me diz o que passa pela sua cabeça. – Não quero falar nisso. – Eu sei que você viveu sozinha dentro do seu próprio mundo por mais de vinte anos, Lana. Mas eu estou aqui. Você pode confiar em mim. Eu estou aqui para te ajudar seja lá qual for o problema, faz parte de um relacionamento, não apenas o sexo. – Como eu vou saber? Todos os pontos de QI que tenho não me explicam o que é ser parte de algo além de mim mesma. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS – Você precisa aprender. Eu vou para cama. A casa já está isolada e os alarmes acionados, apenas não saia. Ele acabou subindo e me deixando sozinha no andar inferior para pensar mais, a única coisa que eu fazia ultimamente. Olhando o casal do filme que passava na TV eu vi como eu estava perdendo tempo. Será que a minha vez tinha chegado? Assim que subi não o encontrei na suíte máster, mas no quarto de hóspedes que ele tinha se instalado incialmente. O Beto estava me dando o espaço que eu não precisava. – Desculpe. – Pedi quando me deitei ao seu lado e o abracei. – Não pense que eu não me preocupo contigo, eu me preocupo além da missão. Não é somente sexo, Lana. – Eu preciso me adaptar a esses sentimentos. – Não precisa de adaptação, apenas se deixe levar. Sentimentos nem sempre são precisos e previsíveis. A minha irmã costuma dizer que o amor é o sentimento mais burro que existe, então nem adianta tentar aprender com ele, apenas conviva com algo que está fora de seu controle. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS – Eu gosto do seu cheiro. – Sussurrei quando me deitei sobre ele. – Eu gosto do seu gosto e do seu corpo. – Ele disse enquanto me tocava. – Me ensina a te dar prazer. – Só precisa respirar. Ele tinha o dom de me fazer esquecer de tudo em volta e isso era maravilhoso. Cada vez que a sua mão percorria o meu corpo e a cada peça de roupa nossa que caía no chão eu me sentia mais Lana. Pela primeira vez eu me deixei levar e o toquei como eu tanto ansiava, como eu via milhões de vezes nos filmes que eu assistia. O Beto tinha um corpo perfeitamente simétrico, com os músculos definidos que lambi e mordi o deixando extremamente excitado. Ele tinha um pênis claramente acima da média que me preenchia completamente, mas eu tinha curiosidade de sentilo em minha boca como ele tinha feito comigo, mas tinha medo de fazer algo errado. – Oh, Deus! Isso é muito bom! – Ele gemeu quando o lambi. – Estou fazendo certo? – Não faça perguntas... apenas continue. Sua boca é o paraíso, amor. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS Ele gemia alto enquanto eu o lambia, mas quando coloquei seu pênis na minha boca ele tremeu de prazer e eu gostei de ter aquele poder, pena que ele não me deixou ter o controle por muito tempo. – Eu preciso estar dentro de você agora. Forte como ele era, o Beto me virou, ergueu meu quadril e o senti naquela posição pela primeira vez. Foi muito mais intenso e profundo que da primeira vez. – Você ultrapassou um limite e não tem jeito de voltar. – Ele sussurrou no meu ouvido enquanto me penetrava intensamente. – Que limite? – Do meu controle. Me segurando firme o Beto perseguiu o nosso prazer como eu ainda não tinha sentido. Tê-lo tocado intimamente despertou algo nele que estava adormecido, foi o que senti pela forma que ele me agarrava e segurava nos meus seios. – Eu preciso te sentir toda. – Mais, Beto. – Não me pede assim. – Mais forte. Mais! E era naquele momento que eu senti pela PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS primeira vez um orgasmo fulminante percorrer o meu corpo e o dele ao mesmo tempo e seu gozo as minhas pernas. – Eu precisava demais disso contigo. – Meu coração está disparado. – Sussurrei enquanto sentia seu corpo sobre o meu. O nosso suor misturado e o cheiro do sexo eram como uma droga invadindo o meu sistema e despertando algo dentro de mim que eu mesma sequer conhecia. O desejo pelo prazer do sexo virou uma obsessão. – Eu gostei de te tocar desse jeito. – Comentei enquanto tomávamos um banho juntos e o toquei. – Sou todo seu, amor. Pode usar e abusar o quanto quiser. – Você também pode? – Eu quero tudo contigo. – Ele gemeu na minha boca e me tocou entre as pernas. – Gosto de brincar assim. – É gostoso. Encostada na parede do box eu o vi se ajoelhar na minha frente, erguer uma das minhas pernas e me olhar intimamente. Com apenas um dedo ele me examinou, me tocou e me sentiu. Olhando nos meus olhos ele lambeu minhas partes mais íntimas, PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS trazendo um prazer novo, inesperado e delicioso. Quando ele uniu os lábios e me chupou forte eu quase não consegui ficar de pé, ele que me apoiou. – Mãos na parede e se inclina. Eu não conseguia dizer não, fazia tudo que ele mandava. Eu sabia que viria prazer de tudo o que o Beto faria comigo, um prazer que me neguei por tempo demais. Sentir sua boca me lambendo daquele jeito foi incrível, mas nada foi melhor que o sexo na parede. O Beto estava firme em me mostrar todas as formas de sexo, todas as formas de prazer na mesma noite até que apaguei na cama. – Bom dia, dorminhoca. – Ele disse quando desci a escada até a sala principal. – Bom dia. – Eu estava checando o alarme. Já ia te levar o café. – Você anda fazendo todas as minhas vontades. – Disse ao me sentar nele. – Eu gosto disso. – Ele comentou quando me sentiu nua sob a blusa comprida que encontrei ao lado da cama. – Gosto de sentir a sua pele nua aqui. – Uhm. – Você é muito gostosa, Lana. – Ele gemeu quando me tocou entre as pernas. – Ah... Isso é gostoso. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS – Vem, senta em mim, amor. Foi só eles descer um pouco a sua roupa para nos encaixar perfeitamente. Daquele jeito eu controlava o quão fundo ele ia e podia ver o desejo dominando aquele homem lindo. Cada vez que eu ia fundo via seus olhos revirando de prazer. – Me fode, Lana! Ah! Assim, amor. – Ah! Eu gosto! – Vem fundo, amor. Vem fundo e forte. – Ah! Beto! – Não para! – Ele rosnou entre os dentes e acelerou a penetração segurando no meu quadril. – Me fode forte. Ah! Assim que eu gosto! – Beto... Ah! – Isso. Goza gostoso. Sente, Lana. – Isso foi incrível. – Gemi quando tombei sobre ele. – Agora vira. Ele me colocou de joelhos no chão com o corpo apoiado no sofá antes de ir fundo dentro de mim. O Beto ainda não tinha gozado, mas faltava muito pouco. – Adoro ver nossos corpos unidos assim. – Ele gemeu segurando o meu traseiro. – Não para! – É a coisa mais erótica que já vi. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS – Ah! Mais, Beto! – Olhar você recebendo o meu corpo dá muito tesão. Você está toda gulosa. – Ele gemeu no meu ouvido. – E sabe o que me dá vontade quando eu sinto isso? Te foder. Eu nem tive tempo de perguntar, ele me mostrou o que queria dizer com isso. Novamente me segurando forte o Beto foi fundo e intenso dentro de mim até que nós dois estivéssemos gritando de prazer e luxúria. Eram sensações diferentes no mesmo sexo, eu estava começando a entender e a apreciar. Durante todo aquele dia nós fizemos todo tipo de sexo, no sofá, na cama e até sobre a bancada da cozinha, mas nada superou o sexo na praia de noite. Ele levou um lençol e me deixou nua sob as estrelas. – Linda. – Ele me disse enquanto me olhava nua. – Eu sonhei em te ter aqui desse jeito desde que chegamos. Se eu pudesse gravaria esse momento para sempre. – Eu te amo, Beto. – Jurei quando toquei o seu rosto. – Eu também te amo, Lana. Fizemos amor longo e lento naquela noite. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS Nos entregamos sem barreiras, sem pressa, apenas esperando o tempo certo do prazer nos dominar e gozarmos o que sentíamos um pelo outro. Foi um momento especial. Era como se nós estivéssemos pressentindo que o nosso tempo naquela ilha estivesse chegando ao fim. Foi a nossa primeira manhã chuvosa na ilha. Era como se a natureza estivesse chorando, sabendo que seríamos obrigados a partir. O mar estava bem agitado, havia a previsão de uma forte tempestade se aproximando e que duraria alguns dias. Sabíamos que a casa tinha sido construída para suportar grandes ventos e tempestades, mas não invasores indesejáveis. O Beto todos os dias checava os cômodos que não usávamos, assim como as portas, janelas e acessos quando acordávamos, o mesmo acontecia antes de dormirmos. Eu senti uma tensão quando ele acessou o sistema pelo tablete por volta das dez da noite, nós tínhamos acabado de fazer um lanche. – O que foi? – Eu preciso que você venha para o quarto seguro. – Beto. – Não discuta agora. Ele pegou uma pistola que ficava escondida PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS em uma das gavetas da cozinha e foi comigo até o quarto onde ficava o equipamento de monitoração. Enquanto eu me apressava ele vinha atrás de olho nas janelas que davam para a praia. – Dois sensores que ficam na janela dos quartos que dão para a parte traseira da casa estão desligados. – Ele sussurrou depois de fechar a porta e ligar as câmeras. – Vista isso. – Um colete? – Apenas vista, amor. – Ele pediu e me beijou rapidamente. Fiz o que ele pediu enquanto o Beto checava a mala de armamentos e o sistema fazia uma varredura na casa. As janelas não tinham sido violadas, poderia ser uma falha no sensor por causa do temporal ou não. Até descobrirmos ficaríamos ali, então ele achou melhor avisar o Jack. – O que aconteceu? – O Jack questionou quando surgiu na tela. – Dois sensores foram desligados, mas é noite aqui, não posso verificar. – Estão seguros? – Estamos. – Me conecte ao sistema daí. – Feito. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS – Tem menos de uma hora que isso aconteceu. Não estou gostando disso, melhor remover vocês imediatamente. – Estamos no meio de uma tempestade tropical. Não é seguro tirá-la daqui nessas condições. – Merda. – Teremos que aguardar o dia clarear para que eu possa fazer uma ronda, enquanto isso ela fica aqui dentro. Acione o homem da lancha para a primeira hora. Dependendo do que eu encontrar a levo daqui. – Estou acionando o Leroy. Ele melhor que ninguém pode nos dar um panorama do que você tem por aí. – Ficarei on line de olho nas câmeras. Acionei a visão noturna. O Beto me pediu para tentar dormir na cama de solteiro que tinha em um dos cantos, mas como eu conseguiria sabendo que poderia ter alguém do lado de fora da casa? Nós dois passamos a noite em claro olhando as câmeras, mas não dava para ver nada direito. O Leroy disse com certeza que o sensor não daria defeito por causa de uma tempestade e apoiou o Beto quando este decidiu fazer uma ronda pouco tempo antes de o dia PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS amanhecer. Ele vestiu uma roupa toda preta, colocou uma toca que só deixava os seus olhos de fora e depois óculos de visão noturna com câmera. – Eu prometo que volto. Não saia daqui por nada, entendeu? – Cuidado. – Pedi segurando firme a sua mão. – Eu te amo. – Ele sussurrou e me beijou de leve.

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FUGA Os primeiros sinais de que havia algo errado foram as marcas de terra preta. Havia marcas na ponta do piso no corredor externo da cozinha demonstrando claramente que o invasor deu uma volta na casa para tentar nos localizar. Aquela marca não estava ali antes de subirmos. – Está vendo isso? – Sussurrei no comunicador para o Jack. – Você tem um visitante, com certeza. Sem disparar o alarme abri a porta da casa e fui seguindo os rastros. O Leroy estava analisando as câmeras e descobriu duas desligadas, mas tínhamos outras duas que nos davam cobertura. Foi assim que consegui encontrar o nosso invasor. – Seja rápido. – O Jack me avisou no comunicador. – Acabou de chegar a informação que Costel Dragos embarcou tem meia hora para o Caribe com um passaporte falso. O Ty o reconheceu pelas câmeras de segurança. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS O invasor não era profissional, dava para perceber. Ele parecia estar de tocaia para garantir que estaríamos lá, foi a conclusão que cheguei pelo menos até ver o armamento pesado que ele tinha. Eu tinha duas opções, a primeira seria colocá-lo na mira e abatê-lo, mas isso poderia me causar problemas. Eu estava fora da minha jurisdição, tive que partir para o corpo a corpo e imobilizá-lo. A minha intenção era chegar de surpresa, mas a queda de galhos atrás de mim por conta do vento chamou a sua atenção. Precisei ser rápido e partir para o combate antes que ele atirasse. A minha sorte foi que ele era menor e mais fraco, mas em contrapartida era mais rápido. – O que você está fazendo? – Ouvi o Rock questionar no meu comunicador. – Abate logo esse filho da puta, porra! – Onde estaria a diversão? – Perguntei enquanto imobilizava o cara e o asfixiava. – A Raquel vai te matar. Abate logo! – Não conta para a minha irmã, porra! Estou fora da minha jurisdição. Atirar aqui poderia nos causar problemas. – Você é Interpol, porra! Ele invadiu a ilha sem permissão para te matar e pegar a Doc. Pare de PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS brincar e abate logo! – Já que você insiste. Foi só o tempo de fazer o movimento e quebrar o pescoço dele. Esperei para ver se haveria uma retaliação, se existia mais ninguém esperando a luta acabar para vir contra, mas não aconteceu. Continuando a minha ronda encontrei a trilha que ele usou. Como o dia estava clareando vi que o invasor tinha deixado marcas por todo o trajeto, completamente amador. Provavelmente um contratado para ficar de tocaia e caso tivesse uma oportunidade agir. – Consegui achar. São centenas de câmeras, mas encontrei, Beto. Ele chegou sozinho de jet-ski. – O Leroy me avisou antes de eu entrar na mata. – Ele entrou pela parte posterior da ilha. Provavelmente antes de escurecer uma lancha o levou até o mais perto possível e ele seguiu caminho. – Volte e reviste o invasor. – O Jack me pediu. Eu consegui encontrar um celular por satélite, ferramentas para desligar o sistema e muito armamento. – A última mensagem diz “estou embarcando, mantenha o perímetro”. – Avisei ao Jack. – Está na hora de partir. A lancha deve chegar em PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS uma hora, aprontem-se. Assim que escondi o corpo do invasor no meio da mata e peguei seu equipamento corri para dentro da casa e comecei a arrumar as nossas coisas. A Doc ficou o tempo todo dentro do quarto seguro, só saiu quando eu fui buscá-la. Dava para ver como ela estava assustada, mas pelo menos segura. – O que aconteceu? – Está tudo bem. – Você está ferido? – Não, amor. Estou bem, se apresse. – Para onde vamos? – Brasil. Tentarei alugar um jato quando chegarmos ao continente assim que conseguir fundos para pagar em dinheiro. – Isso é o suficiente? Dentro do fundo falso da mala médica havia muitas notas de cem dólares americanos presas em pequenos lotes, provavelmente de mil dólares. Não entrei em detalhes, apenas contei que abati o invasor e que era hora de irmos embora. Aquele dinheiro com certeza nos ajudaria a ficar fora do sistema por um bom tempo. – Isso é perfeito. – Eu estou pronta. Me tire logo daqui, Beto. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS – Vamos. Fique ao meu lado o tempo todo. Assim que saímos da casa acionei todos os alarmes e fomos direto para o deck. Deu para ver a curiosidade do homem quando ele chegou com a lancha, mas apenas avisei que uma emergência em Londres adiantou a nossa partida, que eu mesmo cuidaria do nosso voo. Com tudo embarcado partimos do nosso refúgio para um lugar mais seguro. A Doc estava bem tensa, mas o tempo todo segurando firme a minha mão. – Não diga o meu nome. – Avisei quando ele atendeu. – E aí... – Lembra da nossa última grande missão dois anos atrás? – Claro, parceiro. Diga aí. – Estarei entrando por lá, preciso de resgate aéreo para qualquer lugar seguro. – Tá podendo heim. – Estou com companhia, prioridade um. – Beleza. A gente se vê então. – Em sete horas. Confirmo antes de decolar. Avião de pequeno porte. – Eu vou chamar os caras para um chopp, tá a fim? PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS – Apenas o necessário. Estou em remoção. – Combinado então, parceiro. O Rafael tinha entendido exatamente a gravidade da situação e nos daria suporte para sair de Boa Vista assim que pousássemos. Pedi e a Doc colocou um chapéu de passeio escondendo os cabelos e óculos escuros antes de desembarcarmos, assim passaria por uma turista qualquer e esconderia o seu rosto. O sol já estava mais forte. De posse de todo aquele dinheiro consegui convencer um piloto a nos levar a Boa Vista. Menti dizendo que era uma urgência familiar e ele acreditou. Paguei uma pequena fortuna quando apresentei dois passaportes falsos para não haver qualquer menção ao nosso verdadeiro nome, foi o suficiente para que a empresa liberasse a nossa partida com solicitação emergencial. O piloto fez um plano de voo e em menos de meia hora começamos a embarcar as nossas coisas no jatinho. Não era nada cinco estrelas, mas o suficiente para nos tirar de lá antes que fôssemos reconhecidos. Tivemos que caminhar por uma área completamente descoberta até o hangar onde estava o jatinho que nos tiraria de lá, foi muito arriscado. Eu não podia chamar atenção, precisava contar com PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS a minha experiência e a pistola que estava a meu alcance. Ver a aeronave já com os motores ligados a nossa espera foi um alívio, principalmente depois do que vi. A Doc tinha acabado de entrar no jatinho quando vi um avião de grande porte apontar no desembarque menos de cento e cinquenta metros de nós. Os passageiros estavam descendo a escada, mas foi fácil identificar aquele maldito do Costel Dragos. Um dos seus capangas saiu primeiro, olhou em volta e somente depois ele apareceu. Foi por pouco. Achei melhor não revelar aquela informação para ela, apenas avisei o Rafael que estávamos decolando, ele tinha pouco tempo para chegar a Boa Vista e nos ajudar a sair de lá. – Está tudo bem agora. – Prometi a Doc quando me sentei ao seu lado. – Estou com medo. – Ele não nos alcançou. Assim que chegarmos ao nosso novo porto seguro eu aviso ao Jack a nossa localização. – Para onde iremos? – Estou avaliando as possibilidades. – Fica comigo. – Ela pediu e me beijou. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS – Ninguém vai me tirar de perto de você. O voo até Boa Vista foi tranquilo. Como estávamos em um voo civil eu não pude sequer verificar as chamada e mensagens feitas no celular do invasor, mas uma coisa era certa, Costel Dragos tinha perdido a viagem. Imaginei que o Jack estaria preocupado já que eu não tinha dado informações sobre o nosso destino, mas diante do fato de que pela primeira vez tinham descoberto a ilha do Leroy, eu não quis arriscar. A Doc não voltaria enquanto o traidor não fosse descoberto. Pousamos no aeroporto de Boa Vista quase ao mesmo tempo em que o Rafael chegou com a nossa escolta. Nós conhecíamos muita gente por lá, então foi fácil nos livrar de toda a burocracia. Enquanto o piloto foi para um lado depois de desembarcar a nossa bagagem, a Doc entrou no carro escuro que eu indiquei. Vi a sua tensão, mas ela fez o que pedi. – Obrigado. – Disse ao Rafael quando nos abraçamos. – Situação? – As piores possíveis. Eu preciso de um lugar seguro para ela por uns dias e pensar com calma o nosso próximo passo. – Tem uma chácara em Bom Jesus, no Mato PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS Grosso, que pertence a minha família, ninguém acharia vocês lá. – O Pedro sugeriu. – Podemos colocar vocês em um helicóptero e pousar dentro da propriedade sem problemas, mas primeiro teremos que ir de avião mesmo, cara. Pousamos em Cuiabá e pegamos um helicóptero até a propriedade. – Seria seguro? – No meio do mato? É a nossa área, cara. Para todos os efeitos vocês são meus amigos e ficarão por um tempo. Tem empregados que cuidam da propriedade, mas é tranquilo. – Para início acho que não temos opção, mas não podemos envolver os militares. Para todos os efeitos eu não estou no Brasil. – Particular sai caro. – Nesse momento dinheiro não é problema. – Humilhou. – Ele brincou nos fazendo rir. – Deixa comigo então. Passa a grana. – Dólares? – O Rafael questionou e não fez uma cara muito boa quando entreguei uma boa quantia. – É o que temos por enquanto. Não é seguro usar cartão de crédito. – Eu dou um jeito. Tivemos que aguardar mais de meia hora até PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS que o Rafael voltasse com a confirmação do nosso voo para o Mato Grosso em menos de uma hora, era apenas questão de liberar o plano de voo. A mesma empresa acertou de nos levar do aeroporto de helicóptero direto para a propriedade e o melhor, aceitou o pagamento em dólares. A Doc não estava entendendo bem o que estava acontecendo, estava apenas confiando. Os caras notaram logo que estávamos próximos demais. As nossas mãos juntas o tempo todo deixava bem claro que a nossa relação de gato e rato tinha evoluído. – Para onde vamos? – Para uma chácara. Nós ficaremos lá por um tempo. – E o Jack? – Avisarei quando chegarmos. Melhor ficarmos fora do sistema por um tempo. – Está bem. Enquanto esperávamos a autorização para a decolagem já dentro da aeronave eu aproveitei para verificar o celular do invasor usando o sistema da Interpol que o Jack havia me fornecido. Os meus amigos estavam do lado de fora de olho em qualquer movimentação estranha. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS – Ele foi contratado. – Quem? – O invasor. Ele recebeu uma grande quantia em dinheiro para confirmar a nossa localização e me matar. Ele recebeu ordens expressas para te manter em cativeiro até que a remoção fosse feita, mas que era para abater qualquer Agente de segurança. – A Interpol precisa saber disso. – Onde ele conseguiu a informação da nossa localização? A ilha do Leroy foi considerada segura até hoje. Alguém de dentro está passando as informações, Doc. Não podemos confiar que a nossa mensagem seja enviada somente para o Jack. – Eu me comunicava com a Raquel por meio de um programa de mensagem, mas sem nos identificar. Não tem fotos e nunca falamos nada que pudesse nos comprometer, eram só coisas banais, como filmes, maquiagem e roupas. – Você está com esse celular? – Está na minha mala. Ele está desligado, mas ainda deve ter bateria. MANINHA LINDA. A VISTA DE CASA É A COISA MAIS LINDA PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS QUE PODERÍAMOS TER NESSE MOMENTO. EU VOU TE MATAR! TAMBÉM TE AMO. O CACETE. BOCA SUJA. ENTENDIDO O RECADO. LUXO E RIQUEZA NÃO ROLA AGORA. ESSA VIDA DE ESTRELA DE CINEMA NEM SEMPRE É O IDEAL. GOSTO DO ANONIMATO A PAPARAZIS. MAS AS ESTRELAS SEMPRE VOLTAM AOS PALCOS MERECEM UM DESCANSO, CONCORDA? 100% NOSSO ATOR PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS PRINCIPAL PERDEU O SEU PAPEL NESSE EPISÓDIO. ESTAMOS ATRÁS DE UM COADJUVANTE. PAGUE-O BEM E QUEM SABE ELE FAZ UM PAPEL MELHOR OH, PAGAREI SIM. VOCÊ É MUITO ENGRAÇADA. MEUS FÃS ME AGUARDAM. BOM SHOW. ADORO ESSAS NOSSAS CONVERSAS DE ESTRELAS DE CINEMA. Ficou claro que o Jack tinha entendido onde estávamos e a necessidade de anonimato. Seria quase impossível nos localizarem agora, mas assim que chegássemos à chácara eu teria que fazer contato. Durante todo o voo até Cuiabá eu conversei com o Rafael e o Pedrão nas últimas poltronas para PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS evitar que o piloto escutasse. Eu precisaria de um apoio, mas eles tinham que ficar cientes do risco. A Doc era minha prioridade. – Conta conosco. – O Pedrão me garantiu. – E o quartel? – A gente dá um jeito. – Não quero dar problemas para vocês. – Não fode, Beto. A Chácara ficava no meio de um terreno bem extenso com criação de vaca leiteira. Havia um pasto enorme indicado pelo Pedro no helicóptero. Como ele tinha avisado da nossa chegada dois carros da propriedade foi nos receber no meio do pasto onde pousamos. Eu não fazia ideia que a família dele tinha aquelas posses. – Meu Pedrinho está de volta. – Uma senhora disse ao sair de um dos carros e o beijou. – Oi, vó. Eu preciso que os meus amigos fiquem uns dias na casa de hóspedes. – Mas a casa maior tem quartos a vontade. – Eu sei, mas é uma questão de segurança mesmo. – Quem são essas pessoas, Pedro? – Amigos que precisam ficar seguros até encontrarem outro lugar. Ela está em perigo, vó. Ninguém pode saber que eles estão aqui, nem a PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS mamãe. – Isso não está me cheirando bem. – Lembra que contei a senhora o que aconteceu menos seis meses em São Paulo? – Ele questionou e ela me olhou. – Ele agora é um deles e está protegendo uma pessoa muito importante. – Se não for seguro para a sua família... – Deixe disso, Beto. – A mulher me cortou me surpreendendo ao conhecer o meu nome. – Essa velha aqui também já combateu seus inimigos. Vamos, eu tenho o que vocês precisam. Eu não estava entendendo nada, de repente aquela senhora se transformou em uma mulher muito segura de si. Estava na cara que era tudo um papel desenvolvido para enganar quem não a conhecia bem. Ajudei a Doc a descer do helicóptero enquanto os caras tiravam todo o nosso equipamento, era bastante coisa. Ela estava bem receosa, olhava tudo em volta, mas seguiu ao meu lado até um dos carros e entrou. O Pedro dispensou o helicóptero que levantou voo assim que nos afastamos. A chácara era realmente bem grande e muito bem equipada. Eu consegui localizar algumas câmeras de segurança e sensores na porta principal. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS O Pedrão apenas me observava e ria, ele estava me sacando. Fomos direto para um quarto no segundo andar, era uma suíte bem grande e confortável. – Se instalem e desçam para conversarmos. Vocês estão seguros aqui. – A mulher nos disse antes de sair e olhou para o Pedrão e o Rafael. – E vocês, meninos... Venham comigo. Eu via como ela estava exausta e psicologicamente perturbada com tudo aquilo. A Doc ainda não dominava o português, estava se sentindo insegura. – Ficaremos bem. – Prometi e a beijei. – O que está acontecendo? – Vamos descer e conversar com a avó do Pedro, depois descansamos um pouco. Acho que ela não é uma simples dona de fazenda. – Não entendi. – Vi sensores e câmeras pela casa. Ela deve ter uma central de monitoramento. A minha intuição estava certa, aquela senhora era muito mais que uma fazendeira. Foi uma surpresa descobrir que a avó do Pedro tinha trabalhado como espiã. O seu avô era americano, um antigo agente da CIA morto em uma missão no Iraque próximo a queda de Saddan Hussein. A sua PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS avó, dona Sofia, apesar de ser brasileira, também atuou como olheira em uma embaixada na mesma região e na mesma época. Casada com ele, se naturalizou e ajudou os Estados Unidos a derrubar o ditador iraquiano. Desde a morte do marido ela se refugiou o Brasil com os filhos e é onde está desde então. – A minha casa está aberta para vocês ficarem o quanto for necessário. – A dona Sofia disse em inglês para que a Doc entendesse bem. – Vocês estão seguros aqui. – Não ficaremos muito tempo. – Garanti. – Obrigada. – A Doc disse em português. – Estou aprendendo a sua língua, mas muito obrigada. – Seja bem vinda, querida. Vocês parecem muito cansados por conta da viagem. Vá dormir um pouco e mais tarde conversamos. – Realmente estamos cansados. – Comentei. – Tem quase vinte quatro horas que estamos nessa operação de remoção. Assim que subi mandei mais uma mensagem para o celular da Raquel avisando que estávamos seguros e instalados. Nós não precisávamos ser claros, o Jack estava compreendendo o que se passava. Vi a Doc checando a sua mala médica e PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS depois ligando uma espécie de câmara fria para os seus compostos. Ela tinha pegado tudo antes de sairmos da ilha, era importante. – Tente descansar. – Pedi enquanto tomávamos um banho juntos e a abracei. – A minha cabeça está explodindo. – A minha também. Foi bem tenso, mas o importante é que você está segura aqui comigo. – Eu te amo. Fiquei com medo quando você saiu daquele jeito de madrugada. – Tente esquecer isso e focar em relaxar um pouco. – Será que conseguiremos... – Shh. Em pouco tempo nós voltaremos para Londres. A Doc apagou no meu peito depois do banho, mas por mais que eu estivesse exausto precisei ter certeza que estávamos seguros. O Rafael e o Pedrão estavam na sala me esperando quando desci. – Vocês... – Estamos juntos sim. – Garanti ao Rafael. – Não posso dar detalhes, mas ela é prioridade da Interpol nesse momento. Estamos lidando com o mesmo grupo que sequestrou a Raquel, agora querem a Doc para continuar a arma química. Não podemos deixar que eles a peguem... Eu não posso. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS – Não acredito que você caiu nessa e se apaixonou pela sua missão, Beto. – O Pedro resmungou ao se sentar. – Envolver sentimentos nunca dá certo. – Eu já estava com os pneus arriados antes, mesmo não sendo desculpa. Mas o que me importa é mantê-la viva até descobrirmos quem está nos traindo. Está um caos na Sede em Londres, vocês não têm noção. – Aqui vocês estão seguros. – A dona Sofia disse ao se aproximar. – Se quiser eu consigo uma saída suave para os Estados Unidos, ainda tenho contatos por lá. – Obrigado, mas prefiro ficar por aqui. – Que seja. Todo o perímetro da minha propriedade está sendo monitorada, também acionei o sistema de alerta de aproximação aérea. Não estamos em uma rota convencional, eu serei notificada. Preciso de nomes para saber se algum dos caras maus ousarem entrar no Brasil e vir até aqui. – Spike Franklin e Costel Dragos. – Dragos? Ele por acaso é filho de Grigore Dragos? – Esse mesmo. – Se for como o pai e envolvido com esse Spike Franklin, estamos em uma enrascada. Vou tentar descobrir alguma coisa com os meus contatos. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS – Por favor, não revele nada sobre a Doc. Ela precisa ficar invisível. – Não sou novata, rapaz. Ficar ali no primeiro momento foi a nossa saída, mas eu estava sentindo que seria por pouco tempo. O Pedro confiava plenamente na sua avó, mas eu não. Algo nela me deixava inquieto e isso nunca era um bom sinal. A exaustão estava batendo a minha porta querendo arrombar a minha mente, então resolvi subir e dormir um pouco. A cabeça cansada não me deixava pensar direito. A Doc ainda estava apagada quando entrei no quarto. – Nós estamos em um local seguro, mas por pouco tempo. Penso em ir para um lugar meu. – Avisei ao Jack quando fizemos uma conferência naquela noite, era madrugada em Londres e ele estava no covil. – Imagino onde seja. – Eles nos darão apoio. – Faça como achar melhor, mas a mantenha segura. O Leroy está muito puto com o que fizeram na casa. O Costel Dragos não ficou muito satisfeito em chegar e encontrar o seu capanga morto e a casa vazia. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS – Imagino. O nosso amigo terá que comprar outra ilha pelo visto, essa já era. – Ele já tem outra em vista. E ela? – Muito abalada, mas firme. – Percebi que vocês se acertaram. – Somos um time agora, como você e a Quel. – Mas ela não é como a Raquel, Beto. – Estou ciente. – Ok. Me mantenha informado. – Alguma novidade por aí? – O Chefe está puto, faz dias que o Ty não dorme direito, o Rat e o Leroy estão caçando quem está nos traindo e eu estou avaliando as possibilidades de uma mudança radical. A sua irmã está me deixando louco aqui. Ela reclama que não tem verde nessa cidade. – Você está muito ferrado, cunhado. – Brinquei o fazendo rir. – Percebi. Ela sente falta de amigos e no meio desse caos ela perdeu a única que tinha. – A Doc. – Exatamente. – Avise a Quel que voltaremos antes que ela perceba. – Aguarde... Alguém nos Estados Unidos está PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS buscando informações sobre Spike Franklin e Costel Dragos. Contei a ele sobre a avó do Pedrão, ele me pediu para tentar descobrir quem ela realmente era. A mulher tinha conseguido informações rápido demais para o meu gosto e o dele também. Era mais um sinal de que deveríamos partir logo. Se os Estados Unidos colocassem as mãos na Doc também não seria nada bom, ela ficaria sobre o domínio deles. Eu e o meu cunhado comungávamos da mesma opinião. – Para onde iremos? – A Doc sussurrou quando se aconchegou em mim na cama. – Eu entendi um pouco do que vocês conversavam. – Estou pensando no sítio em Araçoiaba da Serra, mas ir por outra rota. – Que rota? – Que tal um tempo na estrada? Demoraria alguns dias para chegarmos sem pressa, mas seria mais seguro e divertido. Eu pensei em irmos até Brasília para trocarmos alguns dólares com um homem que eu conheço e assim comprarmos um carro blindado. Não podemos usar os recursos da Interpol. – O que você achar melhor. Eu confio em você. – PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS Ela sussurrou e me beijou. – De quanto você acha que precisaremos? – Eu não sei, talvez com trezentos mil nós conseguimos um bom veículo e fundos para pernoitarmos em algum lugar no caminho se for preciso. Usar cartões deixa rastros. – Eu tenho como conseguir fundos praticamente ilimitados, apenas me diga para onde enviar. – Ela sussurrou no meu ouvido e a olhei achando estranho. – A máfia matou o meu pai por causa do que eu sei e também por causa desse dinheiro, ele será usado para me esconder deles agora. Eu nunca toquei em um centavo, mas se você precisa para nos manter seguros ele é seu. – A Interpol vai te reembolsar? – A Interpol não tem conhecimento desse dinheiro. O meu pai me contou onde o colocou e depois de um tempo eu mudei essa localização. Ele me disse uma vez que era uma indenização pelo que aconteceu comigo e pelo que eu ainda poderia vir a sofrer caso ele não conseguisse nos livrar daquele tormento. Só eu e agora você sabemos que ele existe e onde está a fortuna da Máfia russa, Beto. Use o que for preciso para nos manter vivos. – Obrigado por confiar em mim. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS – Eu nunca tive ninguém. Não quero te perder por estar comigo, por causa dessa minha maldição. – Ela sussurrou quando me abraçou forte. – Você não é uma maldição, amor. Não diga mais isso, está bem? – Mas... – Você é uma dádiva na minha vida, Lana. – Sussurrei no seu ouvido. – Eu te amo. Eu não sabia se a casa tinha escutas, algumas coisas era melhor ficar em segredo. Fiquei satisfeito de ela ter confiado aquele segredo, mas pelo visto o peso de guardá-lo não seria tão leve. Antes mesmo de amanhecer começamos a procurar alguma agência de carros blindados na região pela internet. A Doc estava convicta de que conseguiríamos fazer negócio e partir o mais rápido possível. Ela também não tinha gostado do clima naquele lugar. Como ele conhecia melhor a região, o Pedrão me indicou uma loja e me levou até lá. – Nós temos alguns modelos que podem ser blindados em um prazo bem curto. – O gerente comentou enquanto nós olhávamos as SUVs. – E que prazo seria esse? – Duas semanas e está pronto. – E se eu precisasse agora? PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS – Impossível. – Ele riu, mas parou quando me olhou. – Então... – A nossa lista de espera é grande. O Pedrão, que conhecia o dono da loja, o viu chegando em sua própria SUV preta com todos os vidros escuros. Era o que eu precisava. Ele chegou no dono, disse algo e eles dois vieram até mim. O dono dispensou o gerente e se apresentou. Aquele homem parecia ser alguém com quem se negociar realmente. – O nosso amigo aqui disse que você precisa de algo especial. – Então... Eu preciso de uma SUV blindada o mais rápido possível. Algo como em no máximo 48 horas. – Impossível. – A vista. – Infelizmente... – Uma transferência em dólares para uma conta em qualquer parte do mundo. – Agora estamos falando de algo possível. A Doc tinha me dado carta branca, então parti para a negociação. Eu não tinha como falar com ela, mas se ele tivesse como nos fornecer o que PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS precisávamos sem questionar eu estava disposto a pagar. Como ele conhecia o Pedrão sabia que eu poderia ser de alguma força de segurança, isso pareceu ser algo que o interessou quando me mostrou o próprio carro, uma BMW X7 recém chegada à loja e recém blindada. O carro era lindo e confortável para a Doc, mas o principal era o fato de ser rápido e resistente a tiros em uma perseguição. Com a negociação em andamento voltamos para a chácara. A Doc precisaria dar a última palavra. Ela estava conversando com a avó do Pedrão quando chegamos, então deixei para mais tarde. Com a sua aprovação no início da noite liguei para o dono do carro e fechamos negócio. Seria uma quantia monumental, mas necessária, depois eu veria o que faria com o carro quando voltássemos para Londres. Ele me prometeu liberar o carro em 24 horas, apenas faria uma revisão padrão da empresa. – Como faremos essa transação? – Ele vai me passar o número da conta. – É seguro? – Se ele vier de graça eu prendo o filho da puta. – Adoro quando você é forte e rígido assim. – Ela PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS sussurrou quando se deitou sobre mim. – Fica excitada. – Fico. – Não foi uma pergunta. – Avisei quando e derrubei na cama e a beijei. – Uma coisa esse período da estrada tem de bom. – Qual? – Toda vez que você quiser usar e abusar de mim é só parar em um hotel. – Gemi enquanto lambia a pele do seu pescoço. – Isso é gostoso. – Você consegue não gritar? – Gritar? – Eu quero você, Lana. – Sussurrei no seu ouvido. A Doc era uma mulher incrível, mas era a Lana que eu queria na minha cama todas as noites. Ela era uma mulher incrível, me deixava louco querendo sempre mais. A cada transa ela se soltava mais, mostrava como ela estava curtindo estar comigo. – Beto... – Shh. – Disse tapando a sua boca enquanto a fodia forte e ela revirava aqueles olhos azuis. – Caralho! Isso é muito bom, amor. – Uhm. – Ela gemeu na minha mão. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS – Pode gozar, amor. Eu sei que você quer. Ela sequer me deixou terminar de falar para se deixar levar pelo prazer de me ter indo fundo. Seu corpo era tão perfeito no eu que era difícil de conseguir aguentar muito tempo. Mesmo dentro de toda aquela tensão era nela que eu queria estar o tempo todo.

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TRAIDOR De que adiantaria contar a eles o que estava acontecendo em Londres? Nada. Foi isso que eu disse a equipe depois de tentarem invadir a Sede alguns dias depois deles irem embora. O mesmo aconteceu nos eventos seguintes. Nós estávamos tentando rastrear o traidor, mas era complicado fazer isso dentro da Interpol. A princípio eram todas pessoas idôneas e empenhadas no mesmo objetivo. Eu mesmo ainda estava meio chocado com o fato de a Hellen ter nos traído. Nós já tínhamos conseguido descobrir muita coisa, agora estávamos saindo à caça. O Leroy estava muito puto com o que tinham feito com a sua casa. O Costel Dragos simplesmente incendiou a propriedade e nós tivemos que ver tudo queimar até que todo o equipamento fosse desligado. Felizmente as últimas câmeras que ficavam mais distante foram capazes de pegar todos os momentos em que eles PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS espalhavam combustível e o próprio Costel iniciou o incêndio. O Chefe disse que a Interpol o reembolsaria, mas havia o seguro. Ele sabia que teria que comprar outra ilha, mesmo assim ficou muito irritado. Isso acabou colocando um dos meus melhores Agentes em uma missão pessoal, caçar e matar aquele filho da puta. Além do Costel nós tínhamos que pegar o Spike Franklin. Eles tinham se dividido para nos dividir. Depois de o Franklin tentar informações com o pessoal da torre do aeroporto de Londres com uma arma em sua cabeça, eles resolveram tentar informações em várias frentes. O Ty estava empenhado em conseguir mais informações nas profundezas da deepweb e foi lá que ele começou a encontrar algumas respostas. Infelizmente o traidor parecia inicialmente estar inserido na equipe de segurança da Interpol, mas essa hipótese foi descartada posteriormente. Ele conseguiu de alguma forma rastrear um indivíduo da deepweb até a Sede. O cara era muito bom no que fazia. Apesar da pessoa não estar usando a nossa rede, por meio de triangulação de antenas o Ty chegou até o nosso prédio depois começou uma PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS busca através das câmeras de segurança. E foi assim que uma nova decepção se abateu sobre a equipe. A primeira vista eu não consegui acreditar que ele pudesse estar fazendo isso com ela. Eles eram grandes parceiros, o Chefe o tinha enviado para o Brasil como seu Agente de segurança e também como apoio durante o meu tempo no CTI, mas era verdade. O Chefe me chamou para vigiarmos juntos o momento em que ele foi detido ainda conectado na deepweb passando informações internas para um indivíduo na rede, provavelmente o Spike Franklin. Ele sequer imaginava o que aconteceria, viu o Agente de Segurança passar e até riu depois de cumprimentá-lo, mas o bom humor terminou quando o mesmo Agente voltou e pegou o equipamento dando voz de prisão. Eu fiz questão de interrogá-lo. – Nós só queremos saber o motivo. – Rock... – A verdade, Shin. Nós já temos provas suficientes, mas queremos saber por que você nos traiu e pior, traiu a Doc. – Ela se acha demais! Aquela mulher é uma víbora! PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS – Ela era sua amiga. – Amiga é o caralho, Rock. Ela me dava ordens como a um cachorro. – Se não estava satisfeito com algum tratamento dado pela sua superior... – Aí que está! Superior? O que ela fez para ser minha superior? Eu trabalhava aqui antes dela chegar e ao invés de me darem o comando do Centro Médico deram a essa novata. Eu deveria ter recebido essa promoção! – Isso tudo por causa de rixas profissionais? – Você é chefe da sua equipe, não sabe o que é ser rebaixado e ter que receber ordens de uma fedelha! – Onde a Hellen entra nisso? – Ela enxergou o que vocês não viram. A Hellen me entendia. – Ou seja, você estava fodendo com ela também. – Ela me amava. – Tá bom... Igual amava todos os outros DNAs que encontramos no apartamento dela? Acorda, Shin! A Hellen te usou, seu idiota! – Ela não me usou, ela me deu o que eu queria, a Doc fora daqui. – Infelizmente você não foi capaz usufruir muito tempo do comando do Centro Médico e agora terá PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS que responder por traição. – Pelo menos eu sei que eles a encontrarão e farão aquela mulher pagar por todas as humilhações que sofri. Eles a pegarão, Rock. – Tirem esse merda daqui. – Avisei ao Agente de Segurança. – E Rock... Isso é só o começo. Eu terei o prazer de ver cada um de vocês cair. – Tem certeza que estará vivo para ver isso acontecer? – Questionei depois de pegá-lo pela gola e jogar seu corpo contra a parede. – Você não vai me matar... O grande Agente Rock não vai contra as regras. – Você não sabe nada sobre mim. De posse do equipamento dele começamos a atrair os nossos inimigos. O Shin ficou encarcerado na própria Sede, para todos os efeitos ele estava no Centro Cirúrgico de outro prédio, de outra equipe. A essa altura o que me deixava mais tranquilo era a certeza de que a Doc estava no Brasil em segurança. O Beto me dava notícias esporádicas. Eles tinham conseguido um meio de deslocamento terrestre seguro. Dessa forma eles evitavam aeroportos e câmeras que pudessem colaborar com a sua localização. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS Tanto Costel Dragos quanto o Spike Franklin ainda confiavam no falso contato dentro da Interpol. O Ty tinha nos avisado que não daria para fazer tudo acontecer rapidamente, eles desconfiariam, então tivemos que simular vários episódios de forma a os atrairmos sem detonar o plano. O Leroy não estava gostando daquilo, ele queria ter Costel Dragos na sua mira, mas teve que aguentar. O plano teve início com uma simulação de bilhete com Antraz no Parlamento Britânico. O Shin tinha passado informações valiosas sobre o domínio da Doc quando era aquele o assunto, sem falar que ela era essencial para a Interpol. Quando a informação chegou ao Costel Dragos ele voou de volta para a Europa após receber a informação pelo Spike Franklin, que também estávamos conseguindo monitorar. O Ty descobriu que a célula terrorista não era tão grande como imaginávamos. Eles tinham muito dinheiro e preferiam contratar assassinos de aluguel a criar a sua própria organização criminosa. A deepweb fornecia tudo que você pudesse imaginar ou precisar para cometer todo tipo de crime. Foi assim que conseguimos atrair o Spike Franklin, PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS usando o perfil de um profissional da morte que outra equipe da Interpol conseguiu prender antes que ele fechasse negócio. Todo o plano deveria acontecer no momento certo. Além da vida da Doc precisávamos garantir que outras não fossem perdidas. Só não contávamos com uma estratégia genial deles, infelizmente.

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EMBOSCADA O Ty e o Rat resolveram se revezar para monitorar todas as comunicações entre o Costel e o Franklin na deepweb, nosso mais novo canal de investigação neste caso. Eles estavam desconfiando das informações que o falso Shin estava passando, precisamos incrementar mais as informações para dar realismo ao que eles ficariam sabendo. Como Costel já havia se envolvido anteriormente no sequestro da minha mulher, ele achou melhor não se envolver no Brasil para procurá-la. Eles tinham levantado o fato como hipótese depois do fracasso nas Bahamas, Costel preferiu fazer o cerco na Sede e também no campo aberto que jogamos no ar. Isso acabou atraindo o Franklin, causando um mal estar entre os comparsas. Já estávamos notando um desentendimento entre eles e a possibilidade de o motivo ser a Hellen estava cada vez mais evidente. O Ty tinha lido em uma das conversas PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS resgatadas os terroristas discutindo sobre a forma que lidaram com o “problema Hellen”. Pelo que pudemos entender o Costel não tinha concordado com a forma que o Franklin pressionou a Agente a contar mais sobre a Doc. Eles desconfiaram que ela estava escondendo informações, como realmente foi provado. Imaginando que a Doc estivesse novamente envolvida no combate a tal arma química enviada para o Parlamento, ambos terroristas começaram uma caçada por ela em plena Londres depois de roubar um carro no estacionamento do aeroporto. Foi assim que pudemos rastreá-los, o carro tinha GPS. Nós precisávamos levá-los para algum lugar mais distante, evitando assim que civis fossem colocados na linha de tiro. Esse tipo de terrorista era capaz de tudo, mas nós também. Foi aí que eles começaram a cometer erros atrás de erros. A ganância deles seria o nosso maior aliado. Os comparsas a queriam muito, dava para perceber. Tínhamos lançado na deepweb a informação falsa da existência de uma unidade escondida onde haveria um laboratório próprio para a análise de agentes químicos e biológicos próximo a Watford. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS Seria muito óbvio que ela estivesse encabeçando os trabalhos e ficando no alojamento interno como era o procedimento, o Shin tinha feito questão de deixar claro que ela nunca delegava poderes tão significativos, fazia questão de ser a Chefe. A Hellen também tinha deixado claro que a Doc era extremamente dedicada, eles tinham a certeza que ela não ficaria de fora, era profissional demais. Enquanto o Ty os monitorava pelas câmeras de trânsito e o GPS, nós nos preparávamos para garantir o cerco àqueles filhos da puta. O Leroy e o Rat estavam posicionados no prédio como eu, outros Agentes de apoio faziam o cerco. Tudo estava plantado e armado para o ápice, a prisão dos terroristas. Eles chegaram em três carros diferentes e se posicionaram na lateral do edifício mais de três da madrugada, no mínimo achando que pegaria todo mundo de surpresa enquanto dormiam. Chovia forte na Inglaterra naquela noite, um clima normal para a época do ano, mas que dava uma sensação muito pior de que as coisas poderiam sair diferente do que nós esperávamos. O Costel e o Franklin tinham chamado reforços durante o caminho, o que significava que PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS precisaríamos ser precisos e eliminar um por um sem chamar atenção demais, especialidades do Rat e do Leroy que desceram os andares e começaram a agir assim que começaram a encontrar seus alvos. – Dois entraram pela porta oeste. – O Rat informou no comunicador. – Três na ala sul. – O Leroy informou. – O Costel e o Franklin ainda estão no carro. – Informei. – Dois abatidos. – Rat comunicou. Pouco a pouco fomos eliminando os comparsas dos terroristas e isso acabou atraindo o Costel e o Franklin. Eles provavelmente não estavam conseguindo contato, mas foi um tiro que tinha sido disparado e as luzes internas apagadas que chamou atenção. Se eles acharam que chegariam a uma instalação desprotegida se enganaram. O Franklin foi o primeiro a ser derrubado. A ordem era para prendê-los, não eliminá-los como eu ansiosamente desejava. Eles eram uma forte ameaça a Doc, mas o Chefe queria saber mais sobre o funcionamento daquele submundo no interrogatório que seria realizado na Sede. Se eu não podia abatê-lo, poderia muito bem incapacitáPERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS lo. O Franklin tinha entrado pela saída de incêndio achando que nos pegaria de surpresa, mas ele que foi surpreendido. Assim que ele passou pelo portal saltei da escada e o acertei na coluna. Mesmo com dor ele se levantou e tentou me acertar com uma faca, a sua pistola tinha saltado para longe. Ele era bom, mas eu também. Apesar de eu terminar a luta com alguns cortes ele terminou desacordado depois de ser asfixiado e algemado uma estante de ferro presa na parede do depósito de suprimentos. Depois de ter a informação do Leroy da localização do Costel dentro do prédio eu fui atrás do maldito. Ele tinha enganado a Raquel no Brasil e facilitado a vida do Doutor Schneider, estava na hora de revidar todo o sofrimento pelo qual a minha mulher tinha passado. Com ele era uma questão pessoal. Nós tínhamos forjado um laboratório no terceiro andar e foi lá que encontrei o Costel, ele estava prestes a entrar quando o peguei. Toda a instalação estava vazia, mas dispositivos simulavam conversas internas como se os cientistas estivessem discutindo como sair sem serem mortos. Ele caiu na nossa armadilha. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS – Chega, Rock! – O Leroy me pediu enquanto eu socava o maldito. – Me larga! – Chega, parceiro. Vamos levá-lo. – Está rindo do que? – Questionei enquanto via aquele maldito com a cara quase deformada gargalhando. – Você acha mesmo que a manterá a salvo? – O que você está falando? – Questionei o segurando pela gola da camisa. – Se ela não está aqui só há um lugar para onde aquele brasileiro a levou, não é? – Ele gargalhou. – Não somos os únicos... Ela ainda será nossa! – Fala! – Ordenei quando coloquei a minha arma na sua testa, mas ele não quis cooperar, então tomou um tiro na coxa como incentivo. – Araçoiaba. – Ele gargalhou ao dizer. – Que porra de nome esquisito para um lugar tão agradável, não é mesmo? A essa altura ela já deve estar sob nosso poder! Você perdeu, Agente Rock. Agradeça ao FBI. Com um soco bem dado ele desmaiou naquele momento. Revistando seus bolsos encontrei um celular contendo uma última mensagem enviada menos de PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS cinco minutos antes. CRONOGRAMA EM DIA. ALVO LOCALIZADO. PERÍMETRO ISOLADO. REMOVEREI A DOUTORA PARA O LOCAL INDICADO AO ANOITECER. AGUARDAREI REMOÇÃO. – Precisamos entrar em contato com o Beto. – O Leroy comentou quando leu também. – Estou fazendo isso. – Avisei enquanto esperava completar a ligação. Como eu não conseguia falar com o Beto de jeito nenhum liguei para a Sede naquele momento e avisei ao Chefe que precisávamos de carona, o helicóptero que estava de prontidão precisava nos levar até o aeroporto o mais rápido possível, mas o mal tempo não estava colaborando. Foram horas até termos permissão para decolar por causa do mau tempo. Parecia que tudo conspirava contra nós. A Interpol pediu reforço policial no entorno da casa do Beto, mas era uma PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS burocracia insuportável para liberar as forças de segurança e deslocá-las até o interior do estado de São Paulo. Nós fomos liberados para voar e ainda não havia chegado a comunicação de que ele teria reforço. Àquelas horas de voo foram as mais tensas da minha vida. Eu precisava atravessar um oceano para ajudar o meu cunhado e não fazia ideia do que estava acontecendo. Nós já estávamos voando havia mais de seis horas quando o Rat me avisou que eles estavam mandando ajuda, mas não tinham confirmado a hora de chegada. A Sede ainda continuava a tentar contato com o Beto, mas nada. Aquilo nos dava indícios de que o inimigo tinha instalado bloqueadores de celular em volta, impedindo que o Beto pedisse ajuda. Aquilo não era bom. Faltava menos de duas horas para pousarmos quando chegou mais uma notícia. Depois de tentar pedir reforços locais a Polícia Federal acabou descobrindo que toda a força policial da cidade estava envolvida na caça de algum maníaco que estava espalhando corpos pela cidade o dia todo. Não sabíamos disso, provavelmente o Beto também já que eles estavam isolados na casa. O pessoal em PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS Londres começou a tentar contatar os amigos do Beto, foi a Raquel que ajudou naquilo. O Ty entrou em contato com ela e foi o que nos deu alguma esperança. Só tive alguma notícia depois de pousar em São Paulo quase oito da noite. – Beto? – Mande reforço! – Ele gritou quando atendeu e ouvi tiros. – Cadê a Doc? – Escondida! – Situação? – O que você acha, porra? – Estamos a caminho! Estamos alertando as forças de segurança. Aguenta firme, parceiro. – Não tenho outra opção!

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ESTRADA Eu queria ir embora. Eu queria distância daquele lugar antes que eu me arrependesse de ter aceitado ficar. Depois que o Beto saiu com o amigo, a Dona Sofia me chamou para um lanche no meio da manhã. Achei estranho, mas não quis ser grosseira com a pessoa que estava nos acolhendo. Eu preferia ficar no meu quarto aguardando as novidades, mas fui. O seu inglês era perfeito, quase britânico como aprendi ainda muito criança. – Como você está? – Muito bem. Obrigada pela sua hospitalidade. – De nada. Eu fico muito sozinha aqui, é bom ter visitas. – Entendo. – Você não fala muito. – É costume. – Seu sotaque tem uma mistura russa e britânica. Acertei? PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS – Já me disseram isso também. – Escorregadia. – Ela comentou e eu apenas sorri. – Fique tranquila, não sou o inimigo aqui. – É costume. – Você disse. – Ela comentou e ficou me olhando. – Você me lembra muito um antigo amigo. Ele tinha esse mesmo olhar desconfiado, inteligente... muito inteligente. Ele era russo, um Agente duplo. – Agente? – Eu trabalhei para a CIA com o meu falecido esposo. Ele também era um Agente até morrer em missão. Foi muito difícil superar a sua perda, mas eu tinha os meus filhos e precisava protegê-los, por isso voltei para o Brasil. Esse nosso amigo era um Agente duplo, mas ficou muito próximo a nós, principalmente quando a minha filha nasceu. Ele adorava a pegar no colo... A sua esposa tinha falecido em um ataque terrorista e ele precisou deixá-la para trás para não descobrirem que ele nos passava informações valiosas. Ela estava grávida de uma menina, se chamaria Lana. O meu coração disparou naquele momento, mas me controlei. Ela estava falando coisas que eu sequer imaginava, mas ao dizer o meu nome chamou a minha atenção. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS – Não quero falar de coisas tristes, mas de coisas divertidas. Essa noite teremos uma seresta, quer ir? – O que é isso? – Uma festa onde as pessoas cantam. – Talvez, então. A conversa migrou para outras coisas menos tensas apesar das suas palavras ficarem se repetindo na minha cabeça. Se fosse verdade muita coisa que eu imaginava ser verdade eram falsas. Será que o meu pai me fez para compensar a filha morta com a esposa? De forma alguma eu perguntaria mais sobre aquela história, a deixei falar mais sobre a sua propriedade, mesmo que eu não fizesse ideia do que eram aquelas coisas. Nunca me interessei por criação de gado e muito menos por essas festas. Eu nunca tinha chegado sequer perto de um cavalo a minha vida inteira. Quando o Beto e o seu amigo chegaram fomos almoçar. Eu nunca fui fã de carne, mas pelo visto esse era um país de carnívoros. Eu preferia os legumes e cereais ao peso de digerir uma carne vermelha por dias. O Beto já tinha percebido. Ele sorria ao olhar o meu prato, mas não comentava. Na ilha eu preferia mil vezes um peixe a aquela PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS carne congelada sabe-se lá por quanto tempo. Eu estava tensa, incomodada e extremamente desconfortável lá e o Beto tinha reparado, por isso acabamos subindo e ficando no quarto planejando o nosso trajeto e resolvendo as questões da compra do carro. Precisaria ser perfeito, não podíamos descuidar apesar de tudo conspirar para que nós os tivéssemos despistado. Ficar naquela casa estava me deixando inquieta. Naquela noite, depois do Beto me fazer sentir viva e especial novamente, fiquei horas olhando a vista da janela do quarto enquanto ele dormia. Algo me dizia que era hora de ir, era como uma aflição apertando o meu peito e eu não fazia ideia do que era. Vendo o dia nascer eu só pensava que teríamos mais 24 horas por lá até que o carro estivesse pronto, mas as coisas precisaram ser antecipadas. O Beto sabia que eu não aceitaria ficar lá sem os amigos dele nos dando cobertura. Aquela casa me fazia mal, eu queria ir embora e quando chegou uma mensagem para que os seus amigos se apresentassem para uma missão na fronteira o Beto pressionou o dono do carro e ele nos liberou o PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS veículo de tarde. Com tudo pronto, inclusive um processo de documentação que o Beto acertou com um homem na própria loja com a ajuda do Pedro que tinha alguns conhecimentos importantes na cidade, pegamos a estrada. Nós tínhamos levado toda a nossa bagagem e de lá mesmo nos despedidos do Rafael e do Pedro, grandes amigos que nos ajudaram muito. O carro era muito confortável. O Beto tinha escolhido muito bem, feito um ótimo negócio. Eu achei que de lá partiríamos direto para Brasília como cominado, mas ele acabou fazendo uma parada em uma oficina mecânica. – Esse tipo de carro tem um sistema de monitoramento remoto, não precisamos disso. – E do GPS? – Vamos parar para comprar um novo e instalar. Quero tirar todo tipo de comunicação do carro com seguro ou com qualquer tipo de monitoração, por isso o mecânico está fazendo as alterações que pedi. Eu sei que queríamos partir hoje, mas estou pensando em ficarmos em um hotel por aqui ou no caminho e partir para Brasília assim que amanhecer. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS – Obrigada por me tirar de lá. – Sussurrei depois de beijá-lo. – De nada. Você se incomoda de ficarmos por aqui? – Melhor sairmos cedo, você tem razão. Como o serviço de desligamento do sistema e instalação do GPS demorou mais que esperávamos o Beto me pediu e fiz uma pesquisa sobre pousadas e hotéis. Acabei escolhendo um hotel agradável na cidade. Era mais distante, mas valeu a pena. Conseguimos trocar alguns dólares para suprir as nossas necessidades básicas em uma casa de câmbio e pudemos pagar sem usar cartão, como o Beto tinha comentado. Foi bom eu ter aquela quantia em dólares. Ele disse que nos ajudou muito, evitou que deixássemos rastros. Sem dúvida aquela viagem foi o início de novas descobertas. Normalmente eu recebia uma proteção e um cronograma que eu sequer era informada antes, o Beto não fazia isso, me via como parte da equipe. Eu tinha voz e opinião sobre praticamente tudo, apenas a questão da segurança armada ele cuidava. Se fosse um Agente qualquer ele tomaria as decisões e eu simplesmente teria que acatar. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS Apesar de estarmos dormindo juntos o Beto não me tratava como se eu fosse de louça, pelo contrário, me viu como uma parceira. Eu já tinha visto o relacionamento de um casal no Jack e na Raquel, mas não podia usar como parâmetro de análise, ela ainda estava doente e pior, todo aquele tempo provavelmente sem os cuidados necessários, isso me deixava preocupada também. – Eu não vejo a hora de voltar. – Comentei com o Beto quando nos deitamos. – Achei que você se sentia enclausurada lá. – Eu me sinto, mas o meu trabalho está lá. A Raquel ainda precisa de cuidados também. – Por pior que possa parecer, eu estou feliz tendo esse tempo contigo. Provavelmente quando voltarmos eu serei enviado para outra missão, você voltará a sua vida no Centro Médico... – Você poderia ficar comigo lá. – Eu não conseguiria viver quatro andares abaixo da terra, Lana. Não sei como você consegue. – Costume, eu acho. – Você não tem vontade de ter uma casa, como tivemos na ilha? – A Interpol precisa de mim. – Não digo morar em uma ilha, mas ter ar livre. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS – Eu adorei a ilha dessa vez. Antes de amanhecer nós começamos a nossa viagem. O Beto comentou que o trajeto de Brasília para São Paulo era mais seguro, valia a pena fazer esse caminho. Se fôssemos direto até o sítio no interior de São Paulo levaríamos mais de um dia de viagem porque teríamos que fazer algumas paradas e até dormir em algum lugar. Seguindo o seu plano chegaríamos ao nosso destino em pouco mais de 16 horas fazendo algumas paradas e pernoitaríamos. Eu nunca tinha ido a um mercado. O Beto me disse que precisaríamos de suprimentos para o caminho, então paramos em um estabelecimento para fazer compras. Eu me diverti muito vendo as pessoas tão entretidas no mesmo lugar em busca de alimentos. Na Sede eles me forneciam o que eu pedia com antecedência, era muito mais divertido fazer compras. Com ele tudo parecia ser mais divertido realmente. O Beto conhecia cada lugar que passávamos graças ao seu tempo de serviço no Exército. Durante todas aquelas horas nós nos conhecemos mais, ele me contou histórias e fez a minha imaginação voar algo. Em vários momentos PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS eu sentia inveja da Raquel por ter vivido tudo que ele me contava, inclusive os tombos e perigos, como uma vez que ela quase se afogou na praia. Estar com o Beto era me sentir Lana e não Doc e eu estava seriamente pensando em fazer algumas mudanças na minha vida se conseguíssemos sair vivos e voltar para Londres. – O que foi? – Questionei o Beto quando o vi olhando várias vezes pelo retrovisor. – Não tenho certeza. – O que você está vendo? – Veja se você consegue identificar a placa daquele carro prata atrás do vermelho atrás de nós. – NUG2477. – Contei depois que ele me passou um binóculo. – Anote isso, Doc. – O que foi? – Tenho a impressão de ter visto esse mesmo carro quando passamos em Barra do Garças e depois em Jussara. – Estamos sendo seguidos? – Não sei. – Onde estamos? – Itaberaí. Tem um posto da Polícia Rodoviária em alguns quilômetros, vamos parar como se PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS quiséssemos informação. Ele terá que seguir e teremos a nossa resposta. Fizemos o que ele disse e o tal carro prata seguiu caminho. O Beto fez o que tinha dito, pediu algumas informações desnecessárias ao policial e seguimos viagem. Nós fomos bem até chegarmos em Anápolis e ele localizar o carro prata de novo atrás de nós. Não sabíamos se era coincidência ou não, mas ficamos alerta. Com os vidros escuros o motorista do outro carro não poderia nos ver, nós sabíamos que existia apenas uma pessoa teoricamente nos seguindo. Como ele conhecia bem Brasília, o Beto pegou algumas ruas curtas para que o tal carro prata desaparecesse do nosso retrovisor e nos levou para um grande hotel na capital do Brasil. De lá ele ligou para o negociante de dólares e combinou a troca de vinte cinco mil dólares para que ficássemos tranquilos, cerca de cem mil reais. Era o que o homem poderia nos fornecer sem aviso prévio, ficamos com apenas mais cinco mil de reserva. O Beto não me disse como conhecia aquele homem, mas eu tinha que confiar. Sem moeda brasileira deixaríamos rastros. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS Confesso que aquela noite foi bem tensa. O Beto passou horas tentando contato com o Jack no covil e não estava conseguindo. Ele comentou que eles deveriam estar agindo em Londres e isso poderia ter vários desfechos, entre eles alguém se ferir, pensei. O Beto até pensou em me mostrar uma parte do planalto central, mas eu estava muito tensa, queria chegar logo em um porto seguro, no nosso caso o sítio dos seus pais. Teríamos mais de doze horas de viagem pela frente, preferi sair bem cedo e chegar com o dia ainda claro, mas infelizmente tivemos um imprevisto. Nós pegamos um trânsito pesado pouco mais de uma hora depois que saímos de Brasília por conta de um grande acidente e isso nos atrasou muito, mas o pior veio depois. Nós estávamos passando por uma cidade chamada Uberlândia quando o pneu do carro furou. Sem o estepe seria arriscado seguir viagem, então resolvemos parar. Não vimos mais o carro prata. Chegar ao sítio me deu um alívio enorme. O Beto estava muito cansado depois de todas àquelas horas de estrada mesmo naquele carro confortável. Ele estava sempre tenso olhando tudo em volta PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS enquanto eu apenas admirava a paisagem e perguntava onde estávamos. O Brasil é um país muito grande, leva-se horas e mais horas para ir de um lugar ao outro enquanto na Inglaterra é tudo muito mais próximo. Até aquele momento não tínhamos qualquer sinal do Jack. – Descanse um pouco. – Sugeri quando ele abriu a mala com armamento e mais equipamentos de segurança sobre uma cômoda no nosso quarto. – Não posso. Eu preciso instalar alguns sensores em volta da propriedade. Se alguém entrar eu saberei. – Posso ajudar de alguma forma? Me senti muito mais útil mesmo apenas levando algumas coisas com ele. O Beto estava bem armado enquanto instalava os sensores em todos os muros, eu também. Antes de sairmos da casa ele me entregou uma pistola e me explicou o que fazer. Confesso que fiquei com medo, mas não era a minha primeira vez segurando uma Glock automática. Já estava escurecendo quando terminamos e voltamos para casa. Eu precisava de um banho, estava morrendo de fome, mas não queria fazer PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS nada. A saída foi simplesmente esquentar um dos pratos congelados que a mãe dele sempre deixava no freezer enquanto o chuveiro lavava a poeira dos nossos corpos. – Isso é bom. O que é? – A minha mãe chame de escondido de carne. Ela pega a mandioca, amassa, coloca uns temperos... eu acho. Mas o melhor é que ela pega a carne, pica e faz um refogado maravilhoso antes de colocar na travessa. Depois vem mais mandioca. É o meu prato preferido em todo o mundo. – Estou vendo. Deve ser legal ter uma mãe. – Desculpe... Eu sempre me esqueço que você nunca teve essas coisas. – Tudo bem. – Você pode usufruir da minha se quiser. – Ele brincou. – Obrigada. Se ela for como a Raquel eu não tenho escolha. – É só você não ficar na defensiva. Naquele momento um dos sensores disparou o alarme de invasão e o Beto ficou alerta. Ele me mandou entrar no banheiro e trancar a porta. Foi um dos momentos mais tensos que passamos nas últimas setenta e duas horas. Foi horrível ficar lá PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS dentro agachada esperando algo acontecer, mas eu não tinha escolha, até que ouvi um grito e a discussão do lado de fora. – Ahhh... – Porra, mãe! Quase matei a Senhora! – Vira essa merda para lá, Beto! – Desculpe, pai... Eram os pais dele chegando de repente. Quando o Beto abriu a porta do banheiro vi seus pais atrás dele, mas eu mal conseguia me mexer. Ele precisou me ajudar para que nós pudéssemos conversar na sala depois dele armar o sistema de novo. Percebi que o Beto tentou desconversar com os pais inventando qualquer mentira me português e disse que precisávamos dormir, mas o pai dele acabou batendo na nossa porta tarde da noite. Como eu já entendia alguma coisa de português consegui acompanhar, mesmo escutando atrás da porta. – Agora me explica porque você está aqui e não nos Estados Unidos como a sua irmã nos disse, rapaz? – Quanto menos vocês souberem melhor, pai. – O que essa moça tem a ver com isso? PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS – Tudo. Não me peça para falar mais, pai. Eu sei que estou abusando vindo aqui sem avisar, mas eu quero que o senhor e a mamãe voltem para São Paulo amanhã cedo. – Heim? Essa casa é minha, rapaz. – É para a segurança de vocês. – Ela está sendo perseguida? – Ela é minha missão, mas também é a mulher da minha vida, pai. Eu e a Doc estamos juntos. Nós tivemos que fugir do nosso esconderijo porque nos encontraram. Não sei se estão nos caçando ainda, pai. O Jack está fazendo de tudo em Londres para pegar esses malditos e nos mandar de volta, mas até lá eu preciso ficar atento a tudo. Eu sozinho não posso proteger três, entendeu? – Chama a polícia, porra. – Eu entrei no país por Roraima em um jato particular. Tem dias que estou fora do sistema sem deixar rastros. O Senhor quer que eu chame a polícia para os terroristas chegarem aqui antes que eu termine a ligação? – Que merda. Tá bom... Amanhã cedo a gente vai embora. Eu dou um jeito de convencer a sua mãe. – Obrigado, pai. Eu estava com saudades. – Nós também, filho. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS Voltei rápido para a cama tentando disfarçar, mas não teve jeito. – Eu sei que a Senhora estava bem escutando atrás da porta. – Ele sussurrou no meu ouvido me fazendo rir. – Da próxima vez apague a luz para não fazer sombra embaixo da porta, espertinha. – Anotado, soldado. – Vem cá que eu quero te mostrar a minha pistola. – Ele brincou, mas eu não aguentei, tive que rir muito. – Assim você acaba comigo, amor. – A sua pistola? Sério mesmo? Apesar de tudo aquilo ainda tínhamos um bom humor que fui descobrindo dia a dia. O Beto era sério e duro quando o assunto era segurança, mas quando estávamos na cama ele se transformava. – Bom dia, querida. – A mãe dele me disse em inglês quando chegamos à cozinha e ela beijou o rosto do filho. – Estou estudando para quando for visitar os meus filhos em Londres. Falei direitinho? – Falou sim, Senhora. – Que bom. Agora sentem que fiz bolo, pão e panquecas. – A Senhora dormiu, mãe? – Na verdade não e já que eu estava acordada adiantei o café. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS – São sete horas, sabia? – Sabia. O seu pai disse que temos que voltar, então resolvi pelo menos fazer o café para o meu filho. – Não chora, mãe. A mãe dele estava visivelmente preocupada, deu para perceber. Como eu nunca tinha tido aquele tipo de interação familiar apenas fiquei quieta, mas ela acabou me abraçando e beijando o meu rosco. Não entendi aquele formigamento no meu peito. Depois que eles foram embora o Beto voltou a tentar contato com o Jack, mas nada. Esse silêncio estava me preocupando e muito.

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INVASÃO Tirar os meus pais da casa foi a melhor coisa que eu fiz. A propriedade não era grande como a ilha, mas eu também não tinha equipamento suficiente para cercar todos os lados, precisei ser seletivo e profissional calculando ângulos e probabilidades me colocando na mente do terrorista. Se eles queriam pegar a Doc sabiam que as chances dela estar na casa era grande, então tive que me preparar para o pior. A primeira coisa que fiz foi colocar o carro blindado bem perto da frente da casa, assim protegeria de um ataque frontal a tempo de tomar algumas medidas mais rápidas. Mantive um colete a prova de balas o tempo todo por perto da Doc e fiquei com o notebook ligado no sistema de segurança que tive que montar. Eu sentia que a Doc estava preocupada, tanto quanto eu. Era como se nós dois estivéssemos PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS pressentindo algo. O primeiro sinal de que algo estava errado surgiu no meio da manhã quando reparei que um mesmo carro estava passando várias vezes na frente da propriedade. A câmera era acionada com movimento e como o sítio ficava um pouco afastado da cidade eu tinha uma noção de aproximação. Era o maldito carro prata que eu tinha visto na estrada várias vezes, eu tinha certeza. Para me prevenir comecei a isolar as possíveis entradas da casa. Nas janelas e basculantes da cozinha e dos banheiros eu coloquei cadeiras de ferro deitadas presas nas ferragens impedindo a passagem. Nós precisávamos ser rápidos. Além disso, empurramos móveis para a frente das portas e das janelas, deixando apenas uma brecha para que eu pudesse ver o exterior da casa. Na cozinha usei a geladeira e até mesmo uma mesa bloqueando a janela que dava para a área da piscina. Apesar do medo em seu rosto a Doc me ajudou nisso. Tentei explicar a ela o que poderia acontecer. Eu já estava com a minha decisão tomada, se conseguíssemos sobreviver àquela noite eu a levaria para um quartel do Exército mais próximo. Foda-se a diplomacia e os acordos PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS internacionais. Eu só queria manter a gente vivos. – Amor, vem cá. – Chamei a Doc quando vi no notebook um dos sensores da entrada principal ser acionado no início da noite. – O que foi? – Coloca isso e fica embaixo da cama no quarto da Raquel. – Pedi já colocando o colete nela. – O que houve, Beto? – Estão rondando a propriedade. – Não... E agora? – E agora que vou matar esse filho da puta antes que ele mate a gente. – Beto... – Toma essas duas Glocks e os pentes. Fica embaixo da cama e não saia de lá enquanto eu não for te buscar. A cama está encostada na parede, fique o mais longe possível da janela. Se alguém passar por mim e entrar mete bale nele, entendeu? – Estou com medo, Beto. – Eu te amo. – Prometi depois de beijá-la. – Agora vai. Eu preciso saber que você está segura para manter as luzes apagadas. Assim que ela entrou no quarto verifiquei a tranca da janela e fechei a cortina. Fiz o mesmo em todos os cômodos, verifiquei novamente se todas as PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS portas estavam bloqueadas. Eu tinha a garantia de que tinha transformado a casa em uma fortaleza enquanto eu tentava contato com alguém de confiança. A merda do celular do Jack estava dando fora de área, o mesmo acontecia com o do Rat, do Leroy e até do Ty. Parecia que todo mundo estava morto em Londres. No Brasil tentei contato com o Rafael e o Pedrão, mas eles estavam no meio da mata. Eu estava sozinho nessa porra e o invasor não estava mais tentando se esconder como antes depois que a noite caiu sobre Araçoiaba da Serra. Com o notebook na minha linha de visão fui acompanhando o maldito caminhar pela lateral da casa armado até os dentes e me posicionei. Com uma arma de longo alcance mirei e dei o primeiro tiro atingindo o maldito no peito, mas ele também estava de colete. Podemos dizer que a comporta foi aberta naquele momento. A quantidade de munição que o cara descarregou na parte traseira da casa já no primeiro momento me dava a noção de que ele não era um amador como o que eu tinha abatido na ilha. O filho da puta estava atirando na casa dos meus pais PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS e morreria. Como eu tinha atirado primeiro ele teve a noção de onde eu estava, então correu para outro ponto para tentar entrar no imóvel e foi assim que ele acabou disparando cada sensor me dando a sua localização. – Eu não tenho pressa, Agente War. Mas vou te dar uma chance. A nossa proposta é de dez milhões. Você sai vivo se me entregar da doutora. – O maldito gritou do lado de fora se escondendo na direção do carro na parte da frente da casa. – Também tenho outra. Meto uma bala que custa uma merda qualquer na sua cabeça e ela continua comigo. – Infelizmente terei que recusar. Depois daquilo ele começou a atirar novamente por cima do capô do carro que ao mesmo tempo me protegia e o protegia. Ok. Não foi a melhor tática. O jeito era partir para cima dele e eliminar o invasor antes que escurecesse mais. Era incrível que mesmo com o tiro comendo solto lá a polícia ainda não tinha aparecido. Assim que ele tentou passar para a lateral da casa onde ficava o quarto da Raquel eu meti bala PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS para cima dele e o fiz recuar. Um dos tiros acertou o poste de energia que ficava próximo ao portão. Não sei o que eu acertei, mas de repente o meu celular começou a tocar junto com o telefone da casa. O filho da puta no mínimo tinha instalado algum bloqueador que por sorte detonei a bala. – Beto? – Mande reforço! – Gritei quando reconheci a voz do Jack e o invasor mandava bala para a casa. – Cadê a Doc? – Escondida! – Situação? – O que você acha, porra? – Estamos a caminho! Estamos alertando as forças de segurança. Aguenta firme, parceiro. – Não tenho outra opção! Naquele momento um tiro varou a parede da sala e me acertou de raspão no ombro. O celular foi parar no chão todo fudido. A bateria tinha voado longe e a tela estava quebrada. Eu estava na merda, mas tinha que aguentar. Sabendo que alguma ajuda estava a caminho fiz o possível para manter o cara longe da casa ou matá-lo de uma vez. Eu estava sangrando, mas fiz um torniquete no ombro e voltei para o combate. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS Ele não passaria por mim tão facilmente, ela dependia de mim para sobreviver, para ficar longe das garras daqueles malditos que a usariam sabe-se lá para quê. O meu estoque de munição era grande, mas não ilimitado. Quando olhei a mala e o meu suprimento mais de meia hora depois do primeiro tiro comecei a me preocupar. O cara estava me fazendo correr para todo lado como se estivesse brincando, me fazendo queimar munição à toa. A porra do reforço não chegava. As minhas balas estavam acabando quando consegui acertar o filho da puta em uma das pernas. Ele tinha tentado entrar pela cozinha novamente, estava forçando a porta quando mirei pela fresta da janela e disparei. Quando ele caiu eu o acertei mais uma vez. Infelizmente ele também conseguiu me atingir com uma bala que atravessou a porta de madeira.

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PAVOR Eu nunca senti tanto medo na minha vida. Ficar embaixo daquela cama no quarto escuro ouvindo os tiros me fez reviver os tempos da taberna em Moscou quando os mafiosos me mantinha sob cรกrcere. Por mais que eu tampasse os ouvidos os sons vinham cada vez mais altos. Era como se tudo aquilo estivesse acontecendo dentro do quarto. O medo de o Beto estar ferido tentava me forรงar a sair de lรก e ajudar de alguma forma, mas o medo era muito maior. Eu sรณ queria que tudo aquilo acabasse.

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REMOÇÃO Graças ao colete o tiro não pegou no meu abdome, mas doeu pra caralho. O impacto foi tão forte que me derrubou no chão. Ele estava usando uma arma de grosso calibre, deu para perceber. Tive que correr na sala e pegar armamento pesado para matar logo aquele filho da puta. Não dava para ficar carregando tudo o tempo todo. Mesmo meio zonzo eu consegui chegar a mala onde estava um fuzil e mais uma belezinha para mandar aquele filho da puta para o quinto dos infernos de uma vez por todas. A brincadeira tinha acabado, era o que eu pensava enquanto preparava a AWM. Era um rifle pronto para detonar aquele maldito. Sabendo que eu tinha corrido para a sala o filho da puta fez o mesmo. Eu vi por uma das câmeras que ele estava mancando, mas estava vivo, infelizmente. Ele tinha acabado de se refugiar atrás da SUV quando ouvi o barulho de um helicóptero PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS se aproximando e um feixe de luz cortar a noite. Tudo aconteceu em questão de segundos, mas para mim parecia um filme em câmera lenta. Era como se o meu corpo se transformasse em um bloco de gelo enquanto eu o via dando um passo para trás, olhar para o céu e cair morto com um tiro direto no meio da testa. Era o fim daquele filho da puta! Mal ele caiu vi vários homens todos de preto descendo de rapel no meu quintal com armamento pesado nas mãos garantindo o perímetro. – Identificação! – Gritei. – Interpol, cunhado! – O Jack gritou no meio deles e ergueu o seu fuzil. – Finalmente, porra! – Pegamos trânsito. – Ele me disse quando saí da casa e nos abraçamos. – Onde ela está? – Vem comigo. Quando abri a porta do quarto vi a Doc sentada na quina da parede oposta com os olhos arregalados, congelada segurando a pistola automática em sua mão. Dez centímetros acima da sua cabeça tinha uma marca de bala e em seus cabelos reboco de parede. – Ela está em choque. – O Jack disse, mas o parei PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS quando ele deu um passo. – Ela está armada e eu disse que era para atirar em qualquer um que se aproximasse que não fosse eu. – Mas... Ele confiou em mim e ficou do lado de fora com o Leroy que também tinha entrado. Dava para ouvir o som de mais homens do lado de fora e mais helicópteros sobrevoando a casa. – Sou eu, amor. – Sussurrei quando me aproximei e ela tremeu. – Está tudo bem agora. – Está? – Está. Me dê a arma, amor. Eu tinha tentado pegar, mas ela estava segurando firme. Naquele momento ela soltou e me abraçou forte. A Doc estava fria, tremendo muito de medo ou sei lá mais o que, mas ela estranhamente não chorava. – Precisamos tirá-la daqui. – O Jack disse e eu assenti. – O Helicóptero pousou aqui perto. – Leve-a. – E você? – Ele questionou depois de pegá-la no colo. – Preciso ver o que esse filho da puta fez com a casa dos meus pais. Eu estava muito cansado, me sentei e encostei PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS na parede do quarto. Havia várias marcas de bala feitas pelo invasor. Foi sorte a Doc não ser atingida como eu. – Você está uma merda. – Bom te ver também, Leroy. – Preciso te levar para o hospital. – Estou bem. – Estou vendo. Com o sangue quente não senti tudo o que tinha me acontecido. Eu lembrava do tiro de raspão no braço e o que pegou no colete, mas eu ainda tinha uma bala na perna e no ombro. Foi só olhar para o meu cérebro processar isso e começar a doer. – Valeu por me alertar. – Resmunguei fazendo ele e o Rat rirem da minha cara de dor. Dava para ouvir os caras do lado de fora gritando que a área estava livre. Era somente aquele maldito que achou que sozinho conseguiria pegar a Doc de mim. – Vamos nessa, Agente War. – Um enfermeiro me pediu depois de tapar os ferimentos. Enquanto eu era ajudado a dar cada passo para fora de casa via as marcas de tiro nas paredes. Eu sequer tinha percebido aquilo acontecer. Ele PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS poderia ter me matado com aquele tipo de armamento, mas de alguma forma não conseguiu. A casa estava parecendo uma peneira, os móveis destruídos e provavelmente eu teria pais extremamente putos comigo em pouco tempo. Havia mais de vinte homens do lado de fora, alguns de preto e outros com um camuflado que eu conhecia bem. Dois deles eu conhecia muito bem. Assim que me viram vieram ao meu encontro e nos abraçamos. – Vamos te levar para um hospital do exército, parceiro. – O Rafael me disse depois de me olhar bem. – Ok. – Você está uma merda. – O Pedrão comentou com humor. – Não mais que a casa. Olha isso, cara. Meus pais vão me matar. – Cara... Eles vão mesmo. O sangue estava esfriando. A dor estava tomando conta de mim, eu sequer conseguia andar mais. Por mais que eu não quisesse admitir, era hora de entregar os pontos. Ela estava viva e sob a proteção da Interpol, a minha missão estava completa. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS Só me lembro de terem me colocado em uma maca e som alto do helicóptero subindo, depois foi só escuridão até eu acordar naquele quarto de hospital. Havia aquele cheiro característico, a visão turva e o som do bip do monitor cardíaco. Eu até achei que estava a salvo até ouvir a gritaria do lado de fora. – O Senhor está impedindo uma mãe de entrar no quarto do seu filho? Escuta aqui... – Calma, Senhora. – Calma o cacete! Saia da minha frente agora! Não demorou sequer cinco segundos para a minha mãe entrar no quarto e parar. Quando ela me olhou tapou a boca e começou a chorar copiosamente, ela viu o meu estado. O meu pai precisou ampará-la, eu sequer conseguia me mexer direito. – Meu filho! – Estou vivo, mãe. – Me diz que você matou esse filho da puta! – Ela gritou nos braços do meu pai. – A Senhora está em um hospital, pelo amor de Deus! – O médico resmungou, mas ela não estava nem aí. – Cala boca! PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS – A Senhora me respeite senão a coloco para fora daqui. – Tenta! Tenta! Ela não estava nem aí com quem ela estava gritando enquanto o Leroy e o Rat riam do lado de fora junto com o meu pai. A minha mãe tinha encontrado alguém para descarregar toda a sua angústia e aquele Capitão tinha sido pego para Cristo. Ela só parou quando ergui a minha mão que não estava presa e ela correu para me abraçar. Doeu como um inferno, mas eu não estava reclamando. – Meu filho... Oh, meu Deus! O que fizeram contigo? – Estou vivo e o filho da puta morto e é isso que importa. – E aquela menina? – Essa hora ela já deve estar em Londres. Não sei quanto tempo estou aqui. – Tem quase dois dias, filho. – Nem senti passar. Me desculpe pela casa, pai. – Pedi quando o vi se aproximar. – Casa se constrói, o meu filho não. – Ainda bem que vocês não estavam lá. – Gemi quando a dor me tomou de novo. – Eu não posso perder vocês. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS – Acho que a visita acabou. Dois dias depois eu consegui que me liberassem daquele hospital. Eu precisava voltar para Londres e ver como ela estava, o Leroy e o Rat não podiam me dizer nada, era sigiloso. Eles tinham ficado para me dar cobertura no Brasil como tinham feito com o Jack. Sobre ele também não havia comentário. Só fiquei sabendo que os Agentes de limpeza cuidaram de tirar todo o nosso equipamento de dentro da casa dos meus pais, inclusive o material dela e colocar em um avião. Uma equipe estava levantando o que seria preciso para devolver a casa dos meus pais intacta, a Interpol os indenizaria. Foi o tempo de responder algumas perguntas do meu antigo General, me despedir dos meus amigos e sair de lá. – Você podia ter pedido apoio. – O General me disse enquanto eu terminava de me arrumar com uma roupa que os meus pais tinham levado. – Não sou mais Capitão, General. Eu agradeço muito terem me trazido para cá, mas está na hora de voltar a Interpol. – Uma vez Verde Oliva, sempre Verde Oliva. – Obrigado, General. – Agradeci ao apertar a sua mão. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS – E pelo amor de Deus, se livra desse cavanhaque. Eu estava em São Paulo, era só o tempo de me despedir dos meus pais antes de partir e ir atrás de respostas. Mesmo com um braço imobilizado por causa do tiro, mancando e vivendo a base de analgésicos, eu precisava voltar. – Eu prometo dar notícias assim que pousar. – Disse a minha mãe em sua casa. – Não pode ficar mais tempo? – Não, mãe. – Fique tranquila... Ele ficará fora de combate por um tempo, Senhora. – O Rat brincou depois de me dar um tapinha no ombro machucado e eu me encolher de dor. – Valeu, filho da puta. – Resmunguei e olhei para a minha mãe. – Eu aviso assim que pousar. – Estou orgulhoso de você, filho. – Meu pai sussurrou no meu ouvido quando nos abraçamos. – Valeu, pai. De lá fomos direto para o aeroporto. Havia um jato nos esperando com vários Agentes garantindo a segurança do local. Poderia até parecer exagerado, mas fiquei sabendo que eu tinha me tornado o inimigo número um dos terroristas. A notícia do que tinha acontecido no Brasil já PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS tinha se espalhado graças a mídia e a internet. O cara que tinha ido atrás da Doc, um assassino de aluguel, tinha custado muito caro, era um dos melhores profissionais da morte, como o Rat comentou enquanto voávamos para casa. O Ty tinha contado que o submundo da internet, a deepweb, estava agitada com a notícia. O cara era muito cotado, tinha clientes em todo o mundo e agora estava morto graças a mim, ou melhor, graças a um Agente da Interpol que ainda não tinha sido identificado. Fiquei sabendo que o Costel e o Franklin tinham pagado muito caro, mas pelo visto eles estavam em um nível baixo no mundo do terrorismo. Segundo as últimas investigações que aquela célula terrorista estava desfeita, mas não podíamos descuidar. Eles tinham contatos que os tinha levado até o assassino de aluguel, não sabíamos o que eles tinham fornecido em troca. Muita coisa tinha acontecido na Europa enquanto eu a Doc estávamos isolados naquela ilha e principalmente depois de termos conseguido fugir. Fiquei muito chateado quando soube que a propriedade tinha sido transformada em cinzas. O Leroy me disse que assim que ele viu a imagem de PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS um invasor sabia que teria que procurar outra propriedade, mas mesmo assim ficou puto. Faltava pouco para pousarmos quando fiquei sabendo que a Doc estava na casa do Jack desde que tinha voltado. Ela estava muito abalada, era melhor deixá-la próximo a pessoas em quem ela confiava, como a Raquel. O Rat me contou que a minha irmã estava bem preocupada comigo também, mas muito mais puta do que preocupada.

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REENCONTRO Pousamos em uma Londres chuvosa e fria apesar de estarmos no início da primavera. Havia apenas duas SUVs e outro sedan preto no hangar dos esperando. Achei que me levariam direto para a Sede, eu precisava contar tudo o que eu tinha acontecido, mas os planos eram outros, o Chefe estava dentro do Sedam me esperando. Nós tivemos uma conversa enquanto o carro seguia pelas ruas de Londres. – A Interpol agradece o seu empenho em defender a Doc, Beto. – Missão cumprida, Senhor. – Com perfeição, devo dizer. – Obrigado, Senhor. – Sabe que terá relatórios a fazer, não é? – Sim, Senhor. Posso fazer uma pergunta? – Faça. – Pegamos os terroristas que queriam a Doc? – Costel Dragos está detido na sede. Spike Franklin PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS também. – Eu gostaria de fazer algumas perguntas, se for possível. – Podemos dar um jeito nisso depois que o Dragos sair do Centro Médico. – E o traidor? – Também está detido. – Ainda não me disseram o nome. – Era o Shin. Por isso a Doc não está na Sede ainda. Estou estudando e reavaliando se lá é o melhor lugar para ela depois do que aconteceu. – Ela gostaria muito de viver ao ar livre. Uma casa segura longe de Londres onde ela pudesse ter um laboratório com todos os seus brinquedos e até mesmo um Centro Médico para quando a Interpol precisasse talvez fosse a solução, mas é apenas uma sugestão. Ele não disse nada, apenas assentiu com aquele jeito britânico de ser e ficou calado. Quando me dei conta estávamos entrando na garagem do edifício do Jack. Vi seu carro partir assim que saí do sedam, o Leroy e o Rat subiram comigo. – Seja bem vindo, cunhado. – O Jack me disse ao abrir a porta quando me aproximei. – É bom estar de volta. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS – Ela está na cozinha. Um aviso: não contei tudo o que aconteceu contigo, mas ela está puta e preocupada. Se prepare. Fui caminhando lentamente até a cozinha, mas ela continuou de costas para mim. Eu a conhecia bem, ela estava evitando me olhar. A Raquel sempre ficava abalada quando eu me envolvia em brigas na rua, não foi diferente dessa vez. – Eu também te amo, maninha. – Disse quando a abracei pelas costas. – Eu te odeio por me deixar preocupada e sem notícias. – Foi preciso. – A mamãe me ligou. Naquele momento ela se virou e me abraçou forte enquanto chorava. Doeu muito, mas não reclamei. Estávamos juntos novamente, era o que nos importava. Ela era a minha família em Londres. O Jack estava nos olhando e me fez sinal para segui-lo, então beijei o rosto da minha irmã e fui com ele. – Ela está trancada no quarto de hóspedes desde que chegamos. – Está ferida? – Não fisicamente. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS Assim que entrei no quarto vi que as cortinas estavam fechadas deixando o ambiente sombrio. Ela estava deitada encolhida na cama, visivelmente dormindo. Pensei duas vezes antes de me aproximar, mas eu precisava saber se voltaríamos a estar juntos ou se eu voltaria a ser o soldado. Resolvi me sentar em uma poltrona ao lado da cama bem a sua frente e esperar que ela acordasse. Mesmo na penumbra eu podia ver as olheiras profundas em seu lindo rosto. A minha vontade era me deitar ao seu lado e descansar tendo a certeza de que ela estava segura, mas naquele momento o único inseguro era eu. A noite caiu e eu acabei apagando sentado naquela poltrona. Ela parecia estar dopada. Era tempo demais apagada, mas quem era eu para atrapalhar? Talvez ela estivesse apenas precisando de um tempo de paz para si mesma como eu também precisava. Desde que o Jack me colocou com ela ainda na Sede eu não consegui dormir profundamente. Mesmo enquanto eu estava sedado no hospital a minha mente estava alerta. A sensação era de que de uma hora para outra algum novo invasor estaria com um rifle de longo alcance mirado no meio da minha testa. Eu estava meio lá PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS meio cá como quando o sono está leve quando de repente senti seu corpo chocando com o meu e logo depois a sua boca na minha. – Beto! Você está realmente aqui? – Ela perguntou quando me abraçou forte. – Estou, amor. Acabou. – Jura que não é coisa da minha cabeça? – Estou aqui em carne, osso e alguns pontos. – Pontos? Somente depois de acender o abajur ao lado da cama que ela teve noção de como eu estava. Naquele momento a Lana sumiu e a Doc ressurgiu das cinzas cheia de ordens e determinações. Para começo de história ela mandou que eu me deitasse depois de tirar a roupa e ficar somente de cueca. Até tentei fazer uma brincadeira, mas ela estava determinada a me examinar. – Jack! – O que houve? – Ele entrou aflito no quarto já com uma pistola na mão pronto para matar alguém. – Preciso que mande alguém me trazer a maleta que tem no meu consultório. – Do que você está falando? – Ele questionou e me viu rindo na cama. – Que porra sinistra vocês estão PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS fazendo na minha casa?

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INTERROGATÓRIO A nossa vida foi então voltando ao seu normal. No dia seguinte a minha volta a Londres fui até a Sede com o Jack. Com a situação aparentemente resolvida tinha chegado a hora de confrontar os filhos da puta e ter algumas respostas. A Doc ainda permaneceria em segurança na sua casa por um bom tempo. Ela não se sentia mais segura vivendo lá, mesmo sendo seu lugar de trabalho. O Chefe tinha lhe dado um mês de férias, seria um bom tempo para pensarmos no que fazer. Eu também não tinha resolvido nada da minha vida por lá e precisava me estabelecer já que ficaria um tempo fora de missões. – Eles ainda não sabem que a Doc está viva e nem que você mantou o assassino de aluguel. – O Jack me reportou enquanto juntos víamos o Franklin na sala de interrogatório. Estávamos atrás de um vidro e ele não conseguia nos ver. – Esse aí ficou isolado de todo mundo esse tempo todo. O Costel PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS também ficará no isolamento quando sair no Centro Médico. Vamos jogar verde com esse e quem sabe temos algumas respostas. Fique aqui. Quando o Jack entrou na sala de interrogatório o Franklin começou a rir e falar como ele lutava bem, mas que não tinha sido suficiente para salvar a médica. O meu cunhado estava com um grande curativo no braço, resultado do embate entre os dois. – Acabou? – Estou apenas começando. – Que tal você começar a falar quem era o seu chefe? – Não temos chefes como você, Agente Rock. – Como você chegou a Cornel Remus? – Quer dizer que vocês se encontraram? E aí? Ele é bom... – Como você chegou a Cornel Remus? – Ele matou o Agente brasileiro? Claro que matou... Se você acha que eu direi onde a doutora está, perdeu seu tempo. – Responda! – Ela será uma ótima adição a nossa causa. – Que causa? – O mundo precisa pagar caro pelo que nos fez PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS passar! Vocês mataram nossas famílias! Estupraram nossas mães! Usam do poder para controlar as pessoas! Usam o poder para matar inocentes! – Sua causa então é contra a Interpol? – A Interpol é apenas uma marionete. Estamos entranhados em suas organizações! FBI, CIA, Scotland Yard, Gendarmaria, Bundespolizei! Não importa! Estamos em todas e vamos acabar com vocês. – E a Agente Hellen? – Questionei e ele ficou calado. – Ela agonizou por muito tempo até morrer. – Ela sabia onde estava se metendo. – Ou seja, fodendo com vocês... Canalhas que quando acharam que ela não servia mais a descartaram. – Não fiz aquilo com ela. – Não é o que os indícios nos levam a crer. – Não fiz isso com ela! – Ele gritou e tentou avançar sobre o Jack, mas ele estava algemado. – Eu a amava, o Costel também. Nós nunca faríamos aquilo com ela. A Hellen apenas achou que poderia controlar coisas além do seu alcance. – Quem a esfaqueou e a deixou para morrer em Colne Valley Regional Park com quatro tiros, PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS várias facadas, traumatismo craniano, várias escoriações por todo o corpo e sem falar nas drogas em seu sistema? Se você a amava como diz, nos diga quem fez isso. – Eu não sei! Se eu soubesse o filho da puta estaria morto como o seu Agente brasileiro. – Nós encontramos rastros de DNA que batem com o do Costel nas roupas dela... Nas roupas que ela estava usando quando foi levada para o hospital. – Impossível. – Nós encontramos. Ele esteve com ela antes da sua morte. Talvez o seu amigo não fosse tão dedicado a causa quanto você pensava. – Impossível! Tinha mais de dois anos que o Costel não via a Hellen. Ele não poderia nunca ter seu DNA ligado a morte dela. Isso é um blefe! – Quem fez aquilo com a Agente Hellen? – Se você descobrir me dê cinco minutos com ele. – O Franklin pediu e riu. – Talvez seja a mesma pessoa que está com a doutora. – Quem? – Estou com fome... Tem um cheeseburger nessa espelunca? – Você acha realmente que não chegaremos ao seu chefe? PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS – Somos uma família! E família não dedura família. – Mesmo que um dos membros esteja mentindo? O Costel participou da tortura da Hellen, acredite você ou não. – Você está mentindo para nos jogar um contra o outro. O Jack saiu da sala de interrogatório e fomos conversar com a equipe na sala de reuniões. Uma coisa pudemos pegar daquele papo desagradável, havia mais gente sim. Eles eram um grupo, tínhamos que saber se existiam mesmo esses contatos nas outras agências. – Ele pode não ter tantos contatos internos em todas as agências de segurança, mas em uma temos certeza. – O Jack comentou quando se sentou. – Do que você está falando? – Questionei. – Quando o prendi ele me disse que eu deveria agradecer ao FBI por eles estarem na cola de vocês. – Ele e o Costel estavam aqui porque acreditavam que ela estava em Londres, mas ao mesmo tempo contrataram aquele assassino para verificar outras pistas. – O Leroy emendou. – Alguém dentro do FBI os avisou que alguém no Brasil estava investigando. Seria fácil encontrar esse local e começar a perguntar. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS – Preciso ligar para o Pedro! Foi a avó dele que tentou nos ajudar. Somente dois dias depois ficamos sabendo que a Dona Sofia estava bem, mas o mais importante, com a descrição do assassino de aluguel o Pedro descobriu que o homem realmente andou fazendo perguntas. Ele conseguiu chegar a loja onde compramos o carro e provavelmente de algum modo a placa. Ele não era amador, com poucos dados ele conseguiu nos rastrear e chegar ao sítio. Sabendo quem eu era seria fácil chegar a informações sobre a minha família. Sem falar nas informações que foram passadas pela própria Hellen e pelo Shin, o maldito traidor. Um memorando enviado pelo Chefe aos diretores de todas as forças de segurança do mundo que tinham acordos com a Interpol os alertou sobre possíveis traidores. Menos de uma semana depois, enquanto eram transferidos para uma penitenciária de segurança máxima, Franklin e Costel foram assassinados. Uma mensagem cifrada deixada na deepweb naquele mesmo dia deixou claro que eles tinham sido eliminados porque falaram demais. Depois da mensagem era possível ver o desenho de uma PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS âncora com uma cobra a envolvendo. De fato tanto o Franklin e o Costel, depois de ser liberado pelo Centro Médico da Interpol, prestaram novos esclarecimentos. Ao contrário do comparsa, Costel estava disposto a colaborar e contou algumas coisas que tinham começado a ser investigadas, mas uma coisa ainda estava em aberto. Costel jurou que não esteve com a Hellen, o que levantou um novo questionamento: Como alguém com DNA do Costel esteve com a Hellen?

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EPÍLOGO A morte de Costel e Franklin deixou claro que eles tinham cometido erros e foram eliminados pelos próprios comparsas. Uma organização criminosa que até aquele momento atuava de forma discreta ficou evidente. Seus membros começaram a ser caçados em todo o mundo pelas forças de segurança. Várias pessoas ligadas de alguma forma aos dois foram denunciadas e presas, pouco tempo depois também assassinadas dentro da carceragem. A Interpol fez uma grande auditoria e verificação dos antecedentes de todos os Agentes e funcionários. Até o faxineiro teve a vida revirada para deixar claro que lá só eram aceitas pessoas com passado limpo. Eles reviraram até mesmo as contas bancárias dos parceiros e dos filhos de todo mundo. Para mim foi a melhor coisa que aconteceu, significava que a Doc estaria segura. Nós estávamos firmes e fortes. É isso mesmo, nós estávamos morando juntos PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS em uma propriedade simplesmente enorme em Luton, no condado de Bedfordshire. O castelo, como o Jack falava, ficava pouco mais de uma hora de carro de Londres. A Doc tinha descoberto essa propriedade com a Raquel. Enquanto eu e o Jack estávamos empenhados em descobrir tudo que fosse possível sobre o passado do Costel e do Franklin as duas estavam planejando umas férias. O Chefe tinha nos intimado a dar um tempo. Toda a equipe do Jack foi intimada depois de todo aquele ano de estresse. Elas tinham descoberto um hotel com direito a SPA não muito longe, na pesquisa por acaso essa propriedade apareceu como se estivesse a venda e as levamos em um final de semana para conhecer. Menos de uma semana depois a Doc a comprou e não apenas me convidou para morar junto, mas chamou a Raquel e o Jack também. Ela estava cansada de viver sozinha, queria os amigos perto de nós também. As obras para deixar o castelo em condições seguras demorou mais de seis meses. Apesar de a propriedade ser dela, a Doc tinha deixado claro que só precisava de um jardim interno para que ela pudesse ter contato com a natureza, um laboratório, PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS um Centro Médico para quando a Interpol precisasse e o nosso quarto. Como eu e o Jack éramos Agentes, ela sabia que precisaríamos de um covil como havia na cobertura, então ela nos deu carta branca e dinheiro ilimitado para fazermos o que quiséssemos. Já viu criança em loja de brinquedos? Foi mais ou menos assim que nos sentimos quando montamos o nosso covil no castelo. Os nossos parceiros nos ajudaram nessa empreitada. Existia toda uma necessidade de estarmos conectados com o sistema da Interpol com a autorização do Chefe. Todo aquele sistema não era simples, mas divertido. O Centro Médico da Doc e o seu laboratório eram quase que como uma reprodução do que existia na Sede. Ela tinha deixado claro que tudo aquilo seria usado para o combate contra o terrorismo. Em momento nenhum ela nos questionou nada, apenas confiava que o dinheiro estava sendo bem empregado. Todas as noites, quando nos deitávamos, ela repetia que me amava e que viu em mim um motivo para continuar viva. A Lana nunca me explicava o motivo daquela frase, mas era a mesma PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS todas as noites. Eu sabia que ela estava trabalhando em algo importante e que teve que pausar suas pesquisas até que nós tivéssemos o laboratório pronto. Talvez a frase tivesse algo a ver com aquilo, mas ela nunca era clara. Os meus pais tiveram a casa completamente reformada pela Interpol antes do final do ano. Era tradição o réveillon lá, mas acabou que os convencemos a passar as festas de final de ano conosco. Seria o nosso primeiro Natal no castelo e eu queria que fosse especial. A Lana nunca teve aquele tipo de experiência também, eu estava fazendo questão de criar situações para que ela vivesse plenamente. Os meus pais ficaram simplesmente encantados quando os buscamos no aeroporto e os levamos para a nova casa. Nós tínhamos nos mudado fazia menos de vinte dias. A Raquel e a Lana tinham cuidado da decoração de toda a área de livre acesso onde os funcionários trabalhavam. Você achou que nós daríamos conta de limpar aquilo tudo? O castelo era uma construção enorme de três andares. Havia quadro alas que se ligavam pelas extremidades, como se fosse um cubo oco. No PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS centro das alas havia um jardim que as meninas faziam questão de cuidar mesmo no inverno, em uma estufa que tinha sido instalada. O jardim externo ficava a cargo do jardineiro que passava as duas as instruções de como lidar com cada planta da época. O Jack dizia que o nosso jardineiro era um santo. Também seria naquela área externa onde faríamos às refeições às vezes, elas gostavam de lanches ao ar livre. Ar livre e natureza eram as palavras favoritas da Lana. Na parte inferior de uma das alas havia uma piscina interna aquecida e toda uma academia para que pudéssemos nos exercitar. No andar superior era onde ficava o cinema. É claro que providenciei um cinema como ela tinha na Sede. Todos os filmes foram enviados junto com as estatuetas que ela tinha ganhado. Praticamente todos os móveis da Sede foram levados para a casa nova. Outra parte preferida da Lana era a sua cozinha. Isso mesmo, existia duas cozinhas na propriedade. A sua cozinha era onde ela testava uma infinidade das suas receitas com a Raquel. Elas tinham se tornado quase que como irmãs. Nós PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS e os nossos amigos éramos as suas cobaias. Voltando ao Natal e a chegada dos meus pais, eles fizeram questão de criar todo um clima em volta da festa. A minha mãe tinha percebido que a Lana não tinha ninguém antes, mas agora tinha e precisava se acostumar. Ela fez questão de ensinar novos pratos típicos de Natal e até mesmo o significado. A Doc ainda não tinha uma religião e a minha mãe estava empenhada em trazê-la para a sua. Foi o melhor Natal da minha vida. Eu vi os olhos da Lana brilharem junto com as lâmpadas da árvore de Natal e sua emoção quando viu seu nome na meia sobre a lareira. Claro que tínhamos uma lareira. É Inglaterra, esqueceu? A minha mãe tinha feito uma meia para ela e outra para o Jack e trazido junto com as nossas. A Raquel estava animadíssima com tudo aquilo, não via a hora de todos os amigos chegarem para a nossa festa. O segundo andar de uma das alas foi preparado para o Natal. Havia uma enorme mesa para a ceia, mas também uma grande sala com sofás e mesas com petiscos. Lá era tudo grande, largo, suficientemente aberto para que víssemos PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS tudo como ela gostava. Conceito aberto era o objetivo. Os amigos da equipe da Interpol tornaram-se a nossa família na Europa. Sempre que podiam estavam conosco e foi assim que descobrimos a família do Ty. Ninguém fazia ideia de que ele era casado e pai. A sua princesa tinha nascido alguns meses depois do caos da minha vida e da Lana. Esse foi o motivo que ele não foi para o Brasil e ficou em Londres. O Chefe o tinha preservado. O castelo ficou lotado de amigos que passaram os últimos dez dias do ano conosco. Claro que nós Agentes sempre dávamos um jeito de fugir para o covil para colocar qualquer conversa em dia, mas quase sempre éramos descobertos. – Eu sei que você tem tudo o que queria aqui como você mesma disse, mas acho que ficou faltando uma coisa. – Comentei enquanto observávamos os nossos amigos conversando. – Eu estou tão feliz. – Nós nunca falamos nisso, mas eu fiz mesmo assim. Fica aqui. O Rat foi o meu comparsa naquilo. Nós tínhamos passado em um petshop em Londres naquela semana. Em uma conversa eu tinha PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS comentado com ele sobre a Doc ter contato com um animal de estimação também. A verdade era que eu estava o tempo todo encontrando formas de trazer a vida para a vida dela, fazê-la esquecer daqueles anos horríveis que ainda a assombravam, um pet poderia ser um caminho. Ele tinha levado o cachorrinho para a sua casa e cuidado dele até o Natal. A mulher da petshop me vendeu tudo que você possa imaginar para cuidar de uma yorkshire terrier, até uma bolsa para levar a cadelinha. O Rat a tinha levado no petshop no dia anterior para ser lavada, escovada e mais tudo que eles faziam por lá. A cadelinha chegou cheirosa e até de lacinho. Confesso que eu fiquei bem nervoso naquele momento, ela poderia reagir de várias maneiras, mas como sempre a Lana me surpreendeu. Eu peguei a cachorrinha com cuidado da bolsa aonde ela veio e fui para o salão principal onde os nossos amigos estavam reunidos. Todo mundo parou para nos observar quando a yorkshire latiu, inclusive a Lana. – É... é para mim? – Ela me perguntou com lágrimas nos olhos. – Se você quiser. Ela é uma yorkshire terrier. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS – Eu posso pegar? – Ela é sua, amor. As duas se deram muito bem. A cadelinha ficou animada no colo dela e a Lana estava iluminada, era o adjetivo que eu podia dar. A Raquel se chegou logo para conhecer a nova amiga delas já que tudo entre elas era compartilhado. Vi quando ela olhou pidona para o Jack. Pelo visto teríamos em breve um canil se dependesse delas. Esse foi o pontapé inicial para que nos tornássemos realmente uma família naquele castelo enorme. Era eu, a Lana e a Diva, a nossa yorkshire. Sabíamos que teríamos muitas provações pela frente já que a minha mulher estava convicta em descobrir o seu passado. Ela queria respostas sobre a sua criação, como ela se referia ao seu nascimento. A Lana tinha me contato sobre a conversa que teve com a avó do Pedrão. Confesso que também fiquei preocupado. Se tudo aquilo fosse verdade, tudo que ela acreditava até aquele momento era mentira. Seu pai a havia enganado durante todos os anos que estiveram juntos até ser assassinado. Algumas respostas poderiam lhe trazer muito sofrimento e isso me preocupava. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS Mas uma coisa era certa, estaríamos juntos nessa.

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BONYS TY No meio de todo aquele caos eu precisava administrar a minha vida pessoal. A minha filha estava a caminho e eu era um Agente da Interpol extremamente cotado para a cyber espionagem. Depois da morte da Hellen observamos que os contatos terroristas estavam sendo realizados em sua maioria na deepweb, onde teoricamente era mais difícil de rastrear. Aquele local, se você pode mencionar aquela realidade paralela assim, era onde tudo era possível, até mesmo contratar um assassino de aluguel, combinar um sequestro ou comprar um órgão, mesmo por encomenda. Os primeiros sinais de que a célula terrorista envolvida no sequestro da Raquel e que tentou roubar a Doc de nós era muito maior vieram depois que nós teoricamente tínhamos resolvido o caso. Aquela mensagem com o desenho de uma âncora com uma cobra a envolvendo nos trouxe muito mais que um aviso. PERIGOSAS ACHERON


PERIGOSAS NACIONAIS Voltando aos arquivos deixados pela Hellen depois da sua morte eu encontrei várias marcas d ´água com aquele símbolo. Eram marcas suaves, quase imperceptíveis a olho nu. Quando coloquei os documentos e fotos em um equipamento com a chamada luz negra pude ver essa e outras marcas escondidas. Ali começou a minha etapa nessa história. Aqueles símbolos me levariam as maiores dores que uma pessoa poderia sonhar em ficar exposta e eu só poderia contar com algumas pessoas para sobreviver e trazer de volta o que me seria tirado.

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Notes

[←1] “Menina” em russo.

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[←2] “Você está vivo” em russo

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[←3] Obrigado.

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[←4] Mas que gritaria é essa? Você não pode estudar em paz? É um absurdo como as pessoas não respeitam os outros neste país.

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[←5] O que está acontecendo, Jack?

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