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Renato Chiera Uma vida dedicada aos excluídos

Renato Chiera Uma vida dedicada aos excluídos e carentes de afeto • INFÂNCIA E JUVENTUDE

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No mundo existem os santos, os leigos, os bem-aventurados e os abnegados. Neste sentido, pode-se afirmar que o padre ítalo-brasileiro Renato Chiera figura entre o último e o penúltimo dos adjetivos acima listados. É que, mesmo perante os seus 77 anos de idade, ele continua fazendo frente à violência das grandes periferias tupiniquins e à exclusão social que assola os mais pobres para resgatar e promover a vida de jovens, sobretudo, dos mais pobres de renda e também de amor.

Mas o que faz um senhor de idade colocar a sua vida e a sua saúde, que como de praxe requer cuidados, no seio de um reino onde impera a injustiça social, o tráfico de drogas, e a exterminação de vidas notoriamente vulneráveis? A explicação está em sua infância. Filho de um casal de agricultores, o menino Renato Chiera, nativo de Villanova Mondovi, na região do Piemonte, na Itália, bebeu a solidariedade e a dimensão espiritual e religiosa na família e cresceu com o desejo de ser igual a São João Bosco.

“Desde pequeno eu via meu pai viver para os outros e eu queria ser padre para viver para os outros. Quando tinha oito anos, eu queria ser como Dom Bosco, porque, para mim, ser padre era ser como Dom Bosco, que era padre e que amava e se dedicava muito as crianças. Com o tempo esqueci isso, mas sempre amei os jovens. Tanto é que lá na Itália, me formei em filosofia para dar aula e estar com os jovens, sobretudo, aqueles que frequentavam escolas públicas, onde aula de filosofia era uma aula de ateísmo”, relembra o religioso ao Imagineacredite.

Apesar do seu ingresso no sacerdócio e da formação pensada nos alunos da rede pública de ensino italiana, sua biografia deixa transparecer que Deus tinha planos ainda maiores para aquele garoto que se tornara padre e antes de tudo um homem inspirado no legado de São João Bosco, que em sua passagem terrena foi um sacerdote incompreendido, justamente, por ir ao encontro da necessidade e da realidade daqueles jovens que não tinham onde viver e que, portanto, necessitavam de uma nova evangelização e de acolhimento.

Por isso, após a sua formação, Chiera é designado para uma missão no Brasil: conduzir os trabalhos na Diocese de Miguel Couto, na Baixada Fluminense é justamente aí que sua história começa a ser comparável com a do santo que sempre o motivou, uma vez que foi aqui que ele foi aos lugares rechaçados pela sociedade brasileira para levar nada mais nada menos do que amor, compaixão e esperança às vidas destruídas pelas drogas, pela criminalidade e por tudo aquilo que significa o termo exclusão social. Tudo isso o rendeu o título de Padre das Ruas e de Padre das Cracolândias, coisa que ele sente muito orgulho.

“Estou contente em ser chamado assim, porque Jesus foi Deus na rua, evangelizador na rua, foi um homem Deus de rua que estava pouco no templo, porque é na rua que estão os sofrimentos e as feridas, então tem que ser samaritano. Padre das Cracolândias, porque a Cracolândia é o inferno que é o resultado de uma sociedade que não ama mais, que exclui, que joga fora muitas pessoas

Desde pequeno eu via meu pai viver para os outros e eu queria ser padre para viver para os outros. Quando tinha oito anos, eu queria ser como Dom Bosco, porque - para mim - ser padre era ser como Dom Bosco que era padre e que amava e se dedicava muito as crianças"

vistas como descartáveis, e que está profundamente doente. Então a Cracolândia é o rosto de Jesus na cruz que grita o abandono, e Cracolândia sendo o inferno, nós devemos entrar nele como fez Jesus para levar ressuscitado a esperança, simplesmente, amando”, acrescenta.

O fabricante de seres humanos mais humanos

Apesar de importante, a missão do padre Renato no Brasil era ainda maior do que apenas ir às cracolândias. Entretanto, ele somente percebeu isso ao ser indagado aos gritos, durante uma noite fria, na porta da Casa Paroquial de Miguel Couto, por um jovem que estava marcado para morrer. O resultado deste apelo foi a fundação de uma das mais importantes obras sociais do país para a infância e a juventude: a Casa do Menor São Miguel Arcanjo, fundada há 33 anos.

“A Casa do Menor entrou em minha vida através do grito dos meninos que não queriam morrer. “Nos matam todos se você não fizer nada!”, esse grito entrou no meu coração, e entendi que era o grito de Jesus: ‘Aquilo que tu faz ao menor faz a mim’. Aí aquela noite em que um garoto me pediu ajuda, porque já tinham matado 36 jovens em Miguel Couto e ele era o próximo a ser assassinato, foi como se Jesus tivesse me falado: “Renato, você prega que Deus ama, mas tem medo de se comprometer com eles”. Foi aí que dei meu sim e como homem, padre e cristão, entrou a Casa do Menor em minha vida”, recorda o sacerdote.

Com a fundação da Casa do Menor no Brasil, o padre passou a enfrentar a marginalidade para dar perspectivas de futuro aos jovens que seriam utilizados e logo descartados pelo crime organizado que há muito domina as periferias do Rio de Janeiro. Um grande desafio, como ele mesmo classifica. “Os desafios são enormes, recebemos ameaças e se você se coloca com os últimos, você é excluído também nos julgamentos.

Eu já tive ameaça de morte várias vezes, já tive que fugir de casa várias vezes, mas isso vale a pena porque eu sigo um Deus que morreu e eu ainda não morri. Quem sabe um dia? Acho que não mereço isso”, comenta.

Para além dos perigos inerentes à sua própria vida, Renato afirma que tocar a Casa do Menor São Miguel Arcanjo no Brasil também demanda de recursos. Estima-se que, mensalmente, a instituição – que não possui fins lucrativos - gaste em torno de R$ 700 mil para manter cerca de 3.000 crianças e adolescentes usufruindo de creches, cursos profissionalizantes e educação cidadã, nos estados do Rio de Janeiro, Alagoas, Ceará e Paraíba. “Quando chega ao final do mês, a gente tem o coração na mão: “Vamos ou não vamos conseguir?“. Mas a providência nunca nos abandonou. Algumas vezes a gente duvida dela, mas Deus, que suscitou esta obra não vai abandoná-la”, destaca.

No entanto, o maior desafio da obra está no presente e também no futuro e está relacionado à questão de pessoal. “Como ter pessoas vocacionadas que tenham a alma e o amor de Deus, que faça o que ele quer, que ame e que seja missionário e não apenas funcionários? Nós temos o grupo Família Vida e somos poucos demais para tantos jovens e tantas vidas”, observa com bastante preocupação, uma vez que, para ele, a Casa do Menor atua como uma fábrica de seres humanos, restaurando e promovendo vidas. “É como continuar a história da salvação”, completa Chiera.

Diante de todos os desafios cotidianamente enfrentados, o padre fundador da Casa do Menor comemora o fato de que, em mais de três décadas de existência, a obra tenha conseguido salvar mais de 100 jovens e ter garantido o emprego no mercado de trabalho a pelo menos 70 mil deles. “Portanto, enquanto alguém quer matar, nós querermos ajudar e estamos mostrando que o nosso caminho está certo e que é por aí que se resolve a violência”, salienta.

O pai dos filhos de ninguém Tanto dentro quanto fora da Casa do Menor, o Padre das Ruas se comporta como uma espécie de pai dos filhos daqueles que ninguém quer. Por isso, está sempre buscando ser uma família para quem não tem, mesmo que carregue consigo a revolta de um pai ao saber que seu filho foi assassinado depois de ter o seu pedido de ajuda ignorado por aqueles que deveriam estender a mão.

Um exemplo disso está na sua análise dos dados do último Atlas da Violência, o qual mostrou que uma das maiores causas de homicídios no país são as drogas e seus comandantes, e que as suas principais vítimas são adolescentes com idades entre 14 e 24 anos. Para ele, este é o resultado de uma família fragmentada que não sabe mais amar os seus filhos, que querem apenas ser amados do jeito que são. “O menino de rua, na droga, na violência e no tráfico, antes de tudo, ele é filho do abandono da família”, lamenta. Aliada a esta situação, o padre acrescenta que a existência do abismo entre ricos e pobres que, em sua ótica, permite abala as relações interpessoais e os vínculos familiares que faz o jovem, sem perspectiva, ingressar na criminalidade ou na prostituição como meio de vida. “Outro dia um menino me falou que iria entrar para a milícia, porque lá ganharia muito dinheiro mesmo tendo que matar. Agora aquilo que me impressiona Perante os seus 77 anos de idade, ele continua fazendo frente à violência das grandes periferias tupiniquins e a exclusão social que assola os mais pobres para resgatar e promover a vida de jovens, sobretudo, dos mais pobres de renda e também de amor"

é a indiferença. Nós aceitamos como normal aquilo que é anormal. Aceitamos como normal que cada dia mate mais de 175 vidas - só no Rio de Janeiro são 17 por dia - até que se cria um clima de eliminação e de ódio em que as pessoas se sentem autorizadas a matar e depois perguntar quem é a pessoa. Então esta é uma situação que a mim dói muito”, deplora.

Entretanto, como todo bom pai, inquieto e sempre muito firme em suas posições, o Padre Renato elenca uma série de medidas para combater o que ele chama de “aborto comunitário”. “Então analiso que a violência é o grito de quem não está bem e não se sente amado por ninguém, nem por Deus! Portanto, se não sabe se amar e nem amar, vai querer destruir. Esse é o grito de quem não é filho e de quem não tem perspectivas futuras. Agora é ai que nós – socie

Por isso, após a sua formação, Chiera é designado para uma missão no Brasil: conduzir os trabalhos na Diocese de Miguel Couto, na Baixada Fluminense e é justamente ai que sua história começa a ser comparável com a do santo que sempre o motivou"

dade e governo – devemos nos debruçar sem ideologia. A ideologia divide! Vamos ver o ser humano na sua realidade concreta, pois ele não é de direita, de esquerda, de centro, católico, evangélico ou espírita. O ser humano é ser humano e os jovens estão gritando que não estão bem, que nós estamos eliminando-os já quando nasceram. Pois já não têm útero. Então que os continuem ajudando com a escola, com a família e com a sociedade”, orienta. E conclui: “Tudo isso tem solução! A violência não se resolve com a violência. Agora nós somos tão desesperados e tão perdidos que nós, adultos, aceitamos como normal que se matem os nossos filhos; aceitamos que eles sejam uma ameaça, um perigo e não mais um presente. O que está acontecendo com o Brasil? Brasil, mostra a tua cara! O nosso trabalho é uma resposta à violência, mas não uma resposta com a violência, não autorizando a ter arma, não matando, não botando na cadeia que custa caríssimo e fabrica mais bandidos, mas dando família, dando Deus, dando amor, dando escola, dando profissão, dando futuro. Por que não nos debruçamos sobre isto juntos? Por que só pensamos projetos de lei para matar, para jogar na cadeia e não para salvar? Vamos pensar nisso!”.

Igreja Católica investe na escuta das vítimas para conter casos de abusos sexuais • MUNDO

No Brasil, a Fazenda da Esperança exerce uma função central neste processo

Por muitos anos, a Igreja Católica Apostólica Romana, que possui mais de 1,2 bilhão de fiéis, teve a sua credibilidade manchada com acusações dando conta de que uma parcela dos seus sacerdotes e clérigos estavam cometendo abusos sexuais, de poder e de consciência junto às crianças e adolescentes que conviviam no seio religioso das igrejas romanas espalhadas pelo mundo.

No entanto, apesar das acusações, era corriqueiro que a Igreja buscasse abafar os casos, transferindo as vítimas de suas paróquias e mantendo os agressores em seus respectivos cargos sem qualquer laço punitivo. A partir daí, esta que é uma instituição secular foi alvo de constantes críticas por parte da imprensa e viu sua credibilidade para anunciar o evangelho se esvair.

A situação ficou crítica, o que fez ser mais do que necessária a adoção de uma medida urgente e que fosse capaz de sanar as feridas, conquistar o perdão das vítimas, resgatar a credibilidade da Igreja de São Pedro e evitar que novos casos de abusos ocorressem. Foi aí que o Papa Francisco instituiu a Pontifícia Comissão para Tutela de Menores (PCTM).

Integrantes da Comissão Pontifícia de Proteção do Menor

Composta por 16 membros de todos os continentes do mundo, a PCTM tem o objetivo de ouvir, acolher e tratar as vítimas de abusos por parte de representantes da Igreja Católica de Roma. Por ordem papal, ela passou a trabalhar com tolerância zero a quem comete e também a quem acoberta os casos de abusos por parte do clero romano.

Além disso, nesta comissão está o brasileiro Nelson Giovanelli, fundador da Fazenda da Esperança, que - em entrevista à reportagem de Imagineacredite - fez um balanço de todas as ações desencadeadas pelo grupo formado pelo Papa Francisco, nos últimos meses. Segundo ele, uma das maiores conquistas da comissão foi a instituição do Conselho Consultivo de Vítimas.

“Esse é um projeto que existe desde que a Pontifícia Comissão para Tutela de Menores foi instituída. Ele existe em países de língua anglo-saxônica e é um instrumento que ajuda as conferências episcopais e dioceses a como enfrentar a crise do abuso sexual dentro da Igreja, no sentido do cuidado e da escuta das vítimas, para que a voz delas possa ser ouvida de maneira diferente do que estava acontecendo. Porque elas não eram ouvidas e aí pode ser também uma forma de como a Igreja pode conduzir a prevenção e a formação para que não ocorra mais este tipo de delito”, argumenta Giovanelli. No Brasil, Nelson afirmou que o Conselho Consultivo de Vítimas foi instituído com oito pessoas, sendo quatro delas vítimas de abuso. “No momento da formação desse conselho, foi realizado um seminário que acolheu quase 300 pessoas, entre as quais 40 bispos, na Fazenda da Esperança. E foi uma repercussão muito positiva, porque, além de escutar as vítimas, nós tivemos a presença de um dos membros da Comissão Pon

Esse é um projeto que existe desde que a Pontifícia Comissão para Tutela de Menores foi instituída. Ele existe em países de língua anglo-saxônica e é um instrumento que ajuda as conferências episcopais e dioceses a como enfrentar a crise do abuso sexual dentro da Igreja"

tifícia que é um dos maiores formadores no campo de enfrentamento dessa crise que é o padre Ram Suller, um sacerdote jesuíta que viaja o mundo dando temas de formação".

A escuta realmente ajudará a Igreja? Muito embora o processo de escuta das vítimas tenha contribuído para que a Igreja pudesse cicatrizar essa grave chaga aberta em sua vida, tendo como líder o Papa Francisco que rotineiramente se encontra com vítimas de abuso sexuais, a Igreja Católica realmente acredita que essa linha de atuação evitará que novos casos aconteçam? Para Nelson Giovanelli, a resposta é sim. “Quando se fala do assunto e não se esconde ou não se procura colocar embaixo do tapete, sem dúvida se pode prevenir, porque um pecado e um delito dessa monta tende a cair no pacto do silêncio e é isso que prejudica. Então o beneficio desse movimento que o Papa está fazendo é no sentido de enfrentar, de não ter medo de falar, de conscientizar e de entender o que fazer e não fazer para que isso seja evitado”, explica. E completa: “O fato de não falar permite que quem está caindo nesse delito continue o fazendo e agora falando sobre isso, enfrentando com objetividade, se pode cuidar das vitimas, trabalhar o problema do agressor e se prevenir”. "Então esse seminário provocou uma série de desdobramentos no Brasil, especialmente, por parte de religiosos que foram motivados a fazerem outros seminários, a organizarem e já se prepararem para aquilo que o Papa pediu no último Motu Próprio que ele escreveu: ‘Vós sois a luz do mundo’, onde ele pediu que todas as dioceses preparassem um lugar estável, estruturável e visível, onde as denúncias de abusos pudessem chegar e os seus bispos pudessem saber como proceder quando acontecer uma denúncia”, destaca Nelson, que também é um leigo consagrado.

Embora o Conselho Consultivo das Vítimas tenha o objetivo de nortear a tomada de medidas que combatam e previnam tais crimes dentro da Igreja, os processos canônicos, jurídicos e legais ainda permanecem sendo uma atribuição das dioceses, uma vez que a Pontifícia Comissão e o Conselho de Sobreviventes não trabalham sobre casos específicos já ocorridos.

“Agora esse Conselho Consultivo está desenvolvendo uma conscientização através desses seminários que estão sendo feitos. Tanto é que serão realizados outros dois seminários ainda esse ano. Além disso, ele está colaborando com a CNBB e junto com a Comissão Especial para Tutela de Menor da CNBB para que sejam executados os procedimentos que o Papa está pedindo nessas últimas cartas que ele mandou”, acrescenta. Nelson Giovanelli e o Papa Francisco

Mas por que somente agora a Igreja resolveu focar nesse assunto?

Esta é outra pergunta muito comum no meio social e a resposta, de acordo com Nelson, pode parecer um pouco controversa, mas visto do ângulo de quem estava na defensiva pode ser completamente compreensível. “O motivo maior do não enfrentamento era preservar a imagem da igreja, mas isso causou um efeito contrário, porque transferindo os sacerdotes e não enfrentando a questão de cara, o problema aumentou porque a credibilidade que a igreja precisa para anunciar o evangelho foi comprometida", comenta.

Então nos lugares onde se protelou esse processo de se falar, a imprensa entrou por força nesta situação de tal maneira que houve um esforço do Papa Bento XVI e agora do Papa Francisco, com a criação da Comissão Pontifícia e o último encontro em que ele chamou todos os presidentes das conferências episcopais. Então a tomada de algumas decisões concretas e de penas que foram dadas para clérigos fizeram com que, apesar da dor, a credibilidade da igreja, que está ligada à imagem de Jesus Cristo, continue”, justifica.

Por isso, Nelson Giovanelli considera que este momento de enfretamento da crise seja também um momento de purificação de uma instituição que é Santa, mas que também é humana e que precisa ser exemplo para o mundo. “A igreja é humana e este é um problema de ordem humana em que todos os segmentos precisam enfrentar. Nesse sentido, vejo com esperança, claro que com a dor necessária, para sempre mais se eliminar este problema e a igreja continuar sendo um lugar mais seguro para que as crianças e adolescentes possam estar para receber a palavra”, completa.

Fazenda da Esperança figura como plataforma de escuta no Brasil

Segundo o apurado pela reportagem de Imagineacredite, Nelson Giovanelli foi escolhido para integrar a Pontifícia Comissão para Tutela de Menores justamente por ter uma experiência de mais de 30 anos de escuta, resgate e promoção de vidas destruídas pela drogadição na Fazenda da Esperança. Por isso, ele nos informou que o convite do Papa Francisco o fez tomar ciência do tamanho e da importância da obra social para a Igreja.

“O fato de acolhermos há 40 anos as vítimas da dependência química fez a gente perceber que há 40 anos nós estamos escutando vítimas de abuso sexual que por conta desta ferida entraram na drogadição, e o fato de eu ter sido nomeado pelo Papa Francisco fez a gente entender que a Fazenda é uma alternativa de cuidado das vítimas no sentido de oferecer um caminho de cura das feridas e de reconciliação consigo mesmo e com os outros”, analisa.

Diante disso, ele destacou que a Fazenda da Esperança, no Brasil, conseguiu promover eventos de grande impacto nos trabalhos de combate e prevenção ao abuso sexual dentro da Igreja. “Na última plenária que aconteceu, a gente levou os depoimentos das vítimas que fazem parte do Conselho Consultivo e isso causou um impacto muito grande, porque não só se escutou mais uma vítima, mas se percebeu qual é o processo que na Fazenda da Esperança, através do Método do Homem Novo, que está no evangelho, que ajuda as vítimas a conseguirem cicatrizar as suas feridas no sentido de começar um processo de abertura, de perdão e de reconciliação. Então esse impacto foi muito forte na consciência que a Fazenda tomou, uma vez que o Papa recebeu a proposta de ter a Fazenda como uma alternativa de cuidado e de escuta das vítimas”, observa.

Além disso, embora esteja acostumado a ouvir, Nelson Giovanelli destacou que, durante todos esses 30 anos de escuta, o que mais o marcou foi a história de vida de uma mulher identificada por Anelia. “Ela simbolizou uma experiência de esperança muito grande. Porque tendo ela sofrido abuso dentro do seio familiar, ela tendo chegado à Fazenda da Esperança sem qualquer perspectiva de vida, ela conseguiu recobrar a esperança, perdoar o seu agressor e iniciar um processo que hoje dá luz para muitas jovens”, encerra. Nelson Giovanelli integra a Pontifícia Comissão para Tutela de Menores

O fato de acolhermos há 40 anos as vitimas da dependência química fez a gente perceber que há 40 anos nós estamos escutando vítimas de abuso sexual"

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