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POLÍTICA Guinada contra as drogas no Brasil

• POLÍTICA Guinada contra as drogas no Brasil começou com um áudio do presidenciável Jair Bolsonaro

Durante muitos anos, sobretudo os primeiros do século XXI, o Brasil assistiu de maneira inerte o flagelo da dependência química de álcool e outras drogas crescer assustadoramente. Tudo isso motivado por políticas governamentais baseadas em ideologias que em nada ajudavam a libertar as pessoas do mundo das drogas. Com isso, cresceram as taxas de suicídio, de homicídios violentos e de dependentes em situação de rua. Neste cenário, era necessário um governo que tomasse medidas efetivas para combater a realidade de maneira lúcida e eficaz. Contudo, talvez por falta de interesse ou desconhecimento, nenhum candidato ao posto de Presidente da República Federativa do Brasil propusera a adoção de medidas mais enérgicas para o setor. Foi ai que surgiu Jair Messias Bolsonaro.

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Eleito sem negar ao povo o seu desconhecimento sobre muitas áreas e prometendo promover um governo composto por especialistas sem qualquer tipo de amarras, a preocupação do hoje presidente do Brasil com os dependentes químicos foi confidenciada a um dos seus coordenadores de campanha, no dia 18 de agosto de

Edu Cabral com o presidente eleito Jair Bolsonaro, em sua residência no Rio de Janeiro

2018, ainda durante a campanha presidencial. Naquele dia, por meio do Whatsapp, Bolsonaro enviou a Eduardo Cabral um áudio com os seguintes dizeres: “Cabral, manda um áudio curtinho para mim, com sugestões para tratar dependentes químicos”.

O áudio curtinho solicitado pelo então presidenciável, que já liderava as pesquisas de intenções de votos, parece não ter chegado da forma como ele esperava, uma vez que, devido à sua solicitação, as lideranças do movimento contrário às drogas no Brasil se reuniram e produziram um documento com alguns apontamentos necessários para combater o flagelo da dependência química no país.

O documento, de aproximadamente duas páginas, foi assinado por Pablo Kurlander, então presidente da Confederação Nacional de Comunidades Terapêuticas (Confenact) e gestor geral da Federação Brasileira de Comunidades Terapêuticas (Febract); Célio Luis Barbosa, presidente da Federação Norte e Nordeste de Comunidades Terapêuticas (Fennoct); Ana Martins Godoy Pimenta, presidente da Federação Nacional das Comunidades Terapêuticas Católicas, vice-secretária da Confenact, e coordenadora nacional da Rede de Grupos de Mútua Ajuda Pastoral da Sobriedade; Márcia Regina Batista Valle, presidente da Federação das Comunidades Terapêuticas Evangélicas no Brasil (Feteb); Clóvis Benevides, secretário estadual da Assistência Social de Pernambuco; Quirino Cordeiro Jr., Coordenador Nacional de Saúde Mental do Ministério da Saúde; e Helanio Eduardo Cabral Silva, da coordenação da campanha presidencial em Pernambuco.

Além desses nomes, os apontamentos também contaram com a contribuição do então ministro do Desenvolvimento Social e Agrário,

Osmar Terra, que foi mantido no Governo Bolsonaro; do deputado federal Eros Biondini, presidente da Frente Parlamentar Mista em Defesa das Comunidades Terapêuticas; e da deputada federal Beatriz Kicis. No entanto, o documento somente ficou pronto depois das eleições e nenhum deles possuía algum grau de proximidade com o então presidente eleito Jair Bolsonaro, a não ser Eduardo Cabral.

Por isso, Cabral foi incumbida a missão de entregar o texto ao novo presidente e ela foi cumprida no dia 15 de novembro de 2018, portanto, um dia antes de Bolsonaro se mudar em definitivo para Brasília-DF, uma vez que naquele dia o presidente eleito havia convocado os seus coordenadores de campanha para uma reunião em sua residência, localizada no Condomínio Vivendas da Barra, no Rio de Janeiro, para tratar sobre as perspectivas de futuro para o país.

Com o documento em mãos, Bolsonaro convoca nomes como Quirino Cordeiro Jr. e Adalberto Calmon para participarem do Governo de Transição, para assim prepararem uma estrutura adequada dentro da estrutura do Governo Federal para combater e prevenir o uso de drogas, bem como garantir o tratamento adequado e a reinserção social dos dependentes químicos. Como resultado, o Governo Bolsonaro racionalizou as ações colocando a Secretaria Nacional Antidrogas (Senad) no Ministério da Justiça e Segurança Pública, com a responsabilidade pelas ações de redução da oferta de drogas; e criando a tão sonhada Secretaria Nacional de Cuidados e Prevenção às Drogas (Senapred) no Ministério da Cidadania, a fim de que esta desenvolvesse ações voltadas à redução da demanda por drogas.

Equipe Senapred com minstro Osmar Terra

Aliás, foi graças à Senapred que o Governo Federal passou a reconhecer a importância de outras formas de enfrentamento da dependência química, a exemplo das comunidades terapêuticas, dos grupos anônimos, bem como dos grupos de mútua ajuda e de apoio familiar. Tanto é que, para além do reconhecimento, o novo governo passou a aportar investimentos em tais entidades. As CTs, por exemplo, assistiram o número de leitos financiados pelo governo passar de 2.000 para quase 20.000 em menos de um ano, além de terem atualizados os seus cadernos de emendas para melhorar a sua infraestrutura, sem contar com iniciativas voltadas à fiscalização e capacitação de tais entidades.

Diante de tais atos, o hoje assessor especial da Senapred, Eduardo Cabral, comemora a ação destacando que o presidente passou a acreditar que é possível vencer as drogas graças a uma visita realizada a sede da Fazenda da Esperança, maior comunidade terapêutica da América Latina, em junho de 2019. “Pela primeira vez, as comunidades terapêuticas foram reconhecidas, porque tem um governo que acredita nisso e, apesar do Bolsonaro não entender tanto nessa questão, ele deu abertura para as pessoas que entendem", disse.

"Agora um fato que o tocou muito e o fez acreditar ainda mais que é

Foi graças à Senapred que o Governo Federal passou a reconhecer a importância de outras formas de enfrentamento da dependência química

possível vencer as drogas foi a visita à Fazenda da Esperança, em Guaratinguetá, São Paulo, que ocorreu depois que ele assumiu. Isso tocou o coração dele e o fez acreditar que é possível sim recuperar vidas do mundo das drogas. Por isso, essas coisas estão acontecendo no Brasil”, conta.

Já os grupos de mútua ajuda, de apoio familiar e anônimos passaram a receber investimentos vultosos para expandirem a sua atuação no Brasil, sobretudo em regiões onde há maior vulnerabilidade social. Neste sentido, segundo a reportagem de Imagineacredite apurou, as regiões Norte e Nordeste figuram como as mais visadas pelas entidades contempladas pela iniciativa governamental. “Essa é uma vitória de todos, mas ainda tem muito a construir, ainda tem muito a se fazer, ainda tem muita droga rolando por aí destruindo vidas, mas a gente já vê uma luz no fim do túnel”, comemora Eduardo Cabral.

• ENTREVISTA Osmar Terra

Não se iludam com o canto da sereia sobre a maconha medicinal

Diante do debate envolvendo a legalização da dita maconha medicinal no Brasil, por meio do Canabidiol, para o tratamento de algumas convulsões, a Revista Imagineacredite traz uma entrevista exclusiva com o ministro da Cidadania do Brasil, Osmar Gasparine Terra.

Autor de propostas que endureceram as penas para o narcotráfico, nessa entrevista, você verá o ministro denunciar os interesses escusos por trás deste debate, os riscos que corre o país e seus mais de 200 milhões de habitantes, bem como indicar algumas soluções para vencer as drogas no Brasil.

Imagineacredite: O debate em torno da dita maconha medicinal é bem antigo, mas só agora parece ter ganhado força no cenário nacional. Por que? Osmar Terra: Isso faz parte de um movimento muito maior, inclusive de nível internacional, que é o movimento de pró-legalização das drogas. Então, acho que a população não pode se iludir com as aparências, porque atrás desse movimento que surge aparentemente para ajudar as famílias que têm filhos com problemas de saúde, grávidas e tal, vem um movimento muito mais poderoso, que nem consegue mais se esconder com as grandes empresas canadenses, empresas americanas da Califórnia e empresas brasileiras, que já estão se articulando e fazendo a mente da sociedade para lucrar com o plantio e venda da maconha. IA: Em sua opinião, existe essa maconha medicinal? OT: Na verdade não existe maconha medicinal, o que existe é uma substância ou outra, como por exemplo, o canabidiol. Cada planta de maconha tem em torno de 480 moléculas diferentes. Dessas 480 moléculas, uma que é o canabidiol, ou seja, uma de 480 pode produzir algum benefício para o usuário, para a pessoa que tenha alguma doença e assim mesmo são para doenças raras. Por exemplo, no caso de Epilepsia, o Canabidiol é melhor que os outros medicamentos ou pode ser melhor, pois isso aí ainda está em fase de teste, mas somente para 2% dos casos, porque para os outros 98% os outros medicamentos fazem um efeito até melhor que o do Canabidiol. Mas agora está se usando isso pra dizer que tem que legalizar o plantio de maconha, esse é o jogo escondido por trás do pano: “Legalizar o plantio de maconha, porque a maconha é uma droga leve, que não tem problema”, para criar o clima para depois legalizar e assim vender maconha como se vende cigarro. A gente sabe que, diferentemente da maconha, o cigarro é uma droga lícita e que causa danos físicos, mas não causa transtorno mental grave. Já a maconha é uma droga pesada, não é uma droga leve! Ela é responsável, diferente das outras drogas, por desencadear psicoses e Esquizofrenia, que é incurável. Depois que desencadeou é incurável, e quem tem um parente esquizofrênico, quem tem um conhecido esquizofrênico sabe o que eu estou falando. A maconha cria retardo mental, cria danos de longo prazo nas pessoas que as usam. IA: Mas nesse debate tem pessoas que defendem o uso recreativo, porque alegam usar a maconha e nunca terem sofrido com nada. OT: Em um percentual importante dessas pessoas não é “Ah, mas eu uso há muito tempo e não tenho nada”, e eu vi a entrevista do Nelson Motta agora dizendo isso. Nelson Motta pode ser uma exceção, agora ele não pode usar essa exceção pra negar o dano que a maconha causa, bem como o sofrimento das famílias que têm filhos que são dependentes químicos da maconha e que rapidamente passam para outras drogas também. Pois há que se considerar que a maconha potencializa o efeito de outras drogas. Segundo uma pesquisa da USP, que saiu agora, a maconha não diminui a fissura das outras drogas, ela aumenta a fissura das outras drogas. Então tem todo um jogo por trás que é um jogo econômico. Essas grandes empresas do Canadá, Estados Unidos e do Brasil estão, inclusive, fazendo carteira de investimentos, que é o caso da XP Investimentos. Carteira de investimentos pra quem quer ganhar dinheiro com maconha! Elas não estão preocupadas com a saúde da população, estão preocupadas em ganhar dinheiro. Então é ilusão achar que de repente surgiu um monte de gente interessada em tratar as crianças com Epilepsia Refratária, que são nos casos de Epilepsia menos de 1%. Não é isso. Nós queremos que essa criança se trate, nós queremos que essa criança tenha acesso ao Canabidiol, à molécula da maconha, não à maconha, e não generalizar o plantio e consumo de maconha por causa das crianças que precisam do Canabidiol, que pode ter um efeito melhor que os outros medicamentos que são usados. Então, nós estamos trabalhando nessa questão da maconha e estamos denunciando esse jogo escondido que tem aí, para que as pessoas não se iludam. Essa turma que está defendendo a liberação da maconha medicinal não está preocupada com a saúde, ela está preocupada é com o uso da maconha, em institucionalizar o uso da maconha, inclusive recreativa e depois das outras drogas, porque a lógica que serve para a maconha serve para as outras drogas. A papoula, que é a planta que tem suas resinas Nós estamos trabalhando nessa questão da maconha e estamos denunciando esse jogo escondido que tem aí, para que as pessoas não se iludam

na composição da heroína, que causa danos tremendos, inclusive a maior causa de mortalidade agora nos Estados Unidos é o consumo de heroína, tem efeitos medicamentosos. Tanto é que tinha xarope com moléculas da papoula, tinha o ópio, chamam- -se até de “opióides”. O ópio sai da planta da papoula, mas não precisa legalizar o plantio de papoula pra tu teres. De repente uma substância como a morfina, que é um analgésico potente, é usado em condições muito restritas em hospitais. A morfina é um derivado do ópio, mas ninguém propõe plantar papoula e produzir ópio e produzir heroína para ter o medicamento, ninguém propõe dar heroína pra doente que está com dor. Se separa a molécula e se usa. Já o Canabidiol é uma coisa: Se tem uma molécula que tem efeito positivo, então eu sou a favor dela ser oferecida a população, inclusive pelo Sistema Único de Saúde e de graça. É isso que nós temos que defender! Aos pais e as mães de crianças com doenças raras e que parece que o Canabidiol tem um efeito melhor, vamos garantir para eles o acesso ao Canabidiol e, inclusive gratuito, mas não legalizar o plantio da maconha, não promover a maconha como uma solução para problemas de saúde. Esse lobby das empresas internacionais está colocando propaganda na Folha de São Paulo, que, durante toda primeira semana de outubro, tinha uma matéria de dois textos de página falando das maravilhas da maconha, entrevistando só pessoas favoráveis e quando colocava alguma opinião contrária, botava diminuindo a opinião, fazendo pouco dela, sendo que embaixo dessa matéria sempre tinha uma propaganda paga pela empresa canadense que quer vender maconha no Brasil. Então é isso que estamos enfrentando e a nossa missão é não deixar legalizar a maconha, não deixar aumentar o número de pessoas com Esquizofrenia, com doença mental por causa da maconha, com retardo mental por causa da maconha, com risco de suicídio, e acidente de automóvel que é muito maior com a maconha do que com álcool. Então não deixar isso acontecer, essa é nossa preocupação.

IA: Em sua avaliação, o que seria do Brasil se houvesse a legalização do plantio, venda e consumo da maconha?

OT: Seria uma tragédia! Nós já temos os problemas que chegam com o álcool. Com isso, nós vamos duplicar ou aumentar muito mais esses problemas. Hoje, nós temos entre três e quatro milhões de pessoas que consomem a maconha e até são dependentes, o que é muita gente no Brasil. As famílias que têm uma pessoa com o problema sabem o drama que é isso, pois são elas que têm dificuldades de conseguir um emprego, de trabalhar, de conseguir um diploma e que consomem outras drogas, pois a maconha potencializa esse consumo. Estamos falando de pessoas que têm o risco altíssimo de desenvolver Esquizofrenia e psicoses, de se acidentar com automóvel, então é isso que nós vamos promover? Nós vamos aumentar muito o número de pessoas com transtorno mental nas ruas, em tudo que é lugar! É isso que nós queremos para o Brasil? Por que a maconha foi proibida? Por que a maconha foi proibida no mundo? Vê o que quase todos países que compõem a ONU acham de liberar a maconha. “Ah, mas o Uruguai liberou”. É o Uruguai... “Ah, o Canadá liberou”. No Canadá a experiência está sendo muito ruim. O Uruguai liberou com o discurso do Mujica que ia melhorar a segurança e piorou a segurança. Só no último ano aumentou em 60% o número de homicídios no Uruguai. Um ano aumentar 60%, isso é um recorde mundial! Com isso fica evidente que a maconha legalizada não melhora a segurança, não melhora nada, só piora a vida da sociedade. Então, eu acho que nós temos que garantir que a maconha seja proibida. Hoje, é proibido o plantio e os juízes que estão dando autorização para o plantio estão usando o coração, não a lei, não a razão. Eles acham que estão ajudando aquelas crianças. Entretanto, eles não estão ajudando, eles estão criando uma situação que pode piorar muito a situação de outros que não estão usando e terão acesso fácil à maconha. Então acho que hoje o momento é de denuncia disso e de cobrar da sociedade uma mobilização contra isso.

IA: Como o senhor analisa o julgamento do STF sobre a legalização das drogas e o movimento inicial da Anvisa sobre esse tema? Foram atos casados em favor da legalização? OT: Eu acho que tem um movimento articulado. Mas acredito que o Supremo não esteja nisso, pois esse julgamento do Supremo vem desde

2013, quando ele foi sustado por um pedido do ministro Teori Zavascki, que era contra a liberação da maconha. Então quando ele viu que estava havendo uma tendência com três votos favoráveis à liberação das drogas, ele pediu pra sustar, pediu pra estudar. Ficou depois com o ministro Alexandre de Moraes que devolveu o projeto, ficou uns dois anos com isso na mão e depois liberou pra votação e o ministro Toffoli adiou pra esse ano. Eu acho que é uma decisão muito grave, porque se fizer uma pesquisa junto à sociedade brasileira, você verá que o povo e as famílias vivem o drama das drogas. Pode ter um usuário da maconha que acha lindo liberá-la, porque ele sente prazer quando usa. Uma droga, quando a pessoa a consome, ela não fica se sentindo mal, ela se sente bem. Tanto é que repete. Só que o dano que ela causa no cérebro não tem volta. Então o que as famílias percebem é isso: a deterioração daquele ser humano, daquele ente querido que começa a se decompor psíquica e mentalmente na frente deles. Então são milhões de famílias brasileiras que têm essa vivência e já sabem como é grave isso. Por isso, esses milhões de famílias são contra. Se tu fizeres uma pesquisa de opinião hoje, verás que mais de 70% da população brasileira é contra a legalização de qualquer droga. Então é uma posição da sociedade, depois tem no Congresso uma maioria formada, com a qual nós aprovamos agora uma lei que aumenta o rigor contra as drogas. A última votação no Senado foi há uns 08 meses e resultou no aumento do rigor, e não legaliza nada. Então nós temos uma posição contrária do Congresso Nacional, da população, da sociedade e do presidente Bolsonaro. Eu estou falando tudo isso, eu posso falar isso e posso agir porque tenho o aval do presidente Bolsonaro. Ele está bancando essa posição em nível nacional. Com todo o respeito que eu tenho pelo Supremo, esta é uma decisão política e que não pode ser tomada baseada somente na legislação. Ela acaba sendo pelo voto que os ministros deram. Quando eles dão embasamento do voto, eles dão o voto de uma opinião que não é necessariamente jurídica, mas uma posição pessoal deles. Então, eu não acredito que o Tribunal tenha uma postura de confronto, aliás, isso não devia nem estar no Supremo Tribunal Federal, pois esse é um assunto para o Congresso resolver. IA: E se o STF decidir pela legalização? OT: Eu acredito que se acontecer o fato do Tribunal tomar uma decisão e liberar as drogas no Brasil, nós teremos que fazer um plebiscito nacional, nós temos que convocar, falar com o presidente, os deputados e senadores e convocar um plebiscito pra sociedade se manifestar sobre esse assunto. Isso é muito grave, pois vai causar um dano irreversível para milhões de brasileiros. Isso não pode ser uma decisão tomada só por causa de um artigozinho que foi colocado em dúvida, porque esse artigo que criminaliza o uso de drogas foi votado pelo Congresso e reafirmado pelo Congresso na Lei 11.343, e agora com a nova lei sobre drogas. Portanto, não é punido só o uso, não é punindo com a prisão, mas ele tem que pagar algum tipo de pena para constranger o consumo. Por isso, é crime com pena de prisão o tráfico de drogas; o crime com penas alternativas é o consumo. Então é em cima desse artigo que está se criando toda essa tentativa de liberar as drogas no Brasil, mas atrás disso tem, não em cima do Tribunal, um grande lobby econômico tentando fazer.

IA: Qual o tamanho do poder do lobby em favor das drogas no Brasil, sobretudo em órgãos como do judiciário. O senhor acha que é possível contê-lo? OT: Eu acho que se o Brasil for governado pelos lobbys econômicos, o país não terá futuro. O interesse do empresário ser maior que o interesse da sociedade brasileira é um absurdo, e, para isso, nós temos um presidente que não se curva à pressão do poder econômico dos lobbys. O presidente Bolsonaro colocou, por exemplo, no Ministério da Economia um ministro que não se curva à pressão dos bancos, tanto é que foi o presidente que mais reduziu os juros na história do país. Então só um governo que não se curva a esse tipo de pressão pode tomar uma atitude como essa. Por isso que eu confio muito que esse enfrentamento que nós vamos fazer na questão das drogas tem a ver com essa postura do novo governo federal. IA: Diante desse cenário, de que forma o Governo Federal está se articulando para pôr fim a este assunto e manter o Brasil criminalizando as drogas e promovendo a redução Fica evidente que a maconha legalizada não melhora a segurança, não melhora nada, só piora a vida da sociedade

de consumo e da demanda por entorpecentes? OT: A experiência do Uruguai e a experiência dos Estados Americanos que liberaram a maconha e o próprio Canadá vão mostrar que descriminalizar o uso só aumenta a violência, piora a qualidade de vida, e aumenta o número de pessoas com transtorno mental incurável. A partir desta constatação que proibir a droga é vital, veremos que todos os países que jogaram pesado com as drogas, a exemplo do Japão e da Suécia, conseguiram reduzir o consumo e melhorar a saúde pública e a convivência social das pessoas. Hoje, nós temos leis que já nos permitem agir com firmeza e temos um ministro da Justiça muito empenhado em fazer com que essas leis sejam executadas de fato, que é o ministro Sérgio Moro. E com a decisão do presidente, eu tenho a convicção de que nós podemos. A Suécia tinha o caos instalado no final da década de 60 por causa da liberação das drogas. O Japão tinha o caos instalado quando terminou a segunda guerra mundial, porque eles davam metanfetamina para os operários e para os soldados em combate, para que eles ficassem mais tempo acordados. Então quando termina a guerra tem uma epidemia de metanfetamina no Japão, que o levou a criar uma lei rigorosa, inclusive com prisão de usuário como é na Suécia também, e que fez toda diferença nos anos seguintes. O Japão chegou a prender no ano de 1954, portanto nove anos depois do fim da guerra, 56.000 pessoas por tráfico e consumo de drogas num ano só. Em 58, o Japão só prendeu 270 pessoas porque tirou a droga da rua. Acabou o consumo, acabou o tráfico. Diminuir não quer dizer que acaba, pois acabar é difícil, mas diminuiu e salvou muitas vidas de pessoas que iriam ficar dependentes e não ficaram. Então o Brasil tem que repetir isso. O Brasil tem uma dificuldade adicional para fazer que são as fronteiras com os maiores produtores de drogas do mundo. Então entra muita droga todo dia no Brasil, mas com medidas de restrição... Afinal tu só resolve o problema da segurança e de tranquilidade restringindo o consumo, e não melhorando ele. Além disso, o Brasil vai melhorar o policiamento de fronteiras, onde estamos batendo recorde em cima de recorde de apreensão de drogas. Sem contar que com o pessoal sabendo que consumir e traficar agora tem penas mais duras, nós vamos conseguir reduzir o consumo. Hoje está muito ruim andar nas ruas e ver cracolândia pra tudo quanto é lado, ver as pessoas drogadas se agredindo, roubando, furtando. Então isso com a liberação só vai piorar. Por isso, eu acho que nós temos que garantir uma melhoria da qualidade de vida da população

IA: Que mensagem o senhor deixaria para toda a população? OT: Quero deixar o seguinte alerta: a droga sempre é um fator de decomposição social. Todas essas drogas que são proibidas no Brasil são proibidas em mais de 190 países, não é uma questão brasileira. A China teve o ópio livre por quase 100 anos e hoje é pena de morte pra quem trafica droga por lá. Sou contra a pena de morte, mas na China é pena de morte. A Indonésia teve as drogas impostas pela Holanda, que controlou por um bom período a economia da Indonésia como colônia e depois como país associado, e hoje é pena de morte também. Todos os países que agiram com rigor e diminuíram a oferta de drogas na rua são os países que podem ter um melhor resultado. Os que liberaram... Então não se iludam com o canto da sereia da maconha medicinal, ela é o primeiro passo para legalizar as drogas no Brasil. Não se iludam com isso. Vamos enfrentar isso e a sociedade tem que se mobilizar pra isso.

IA: Sinta-se à vontade pra colocar algo que não foi abordado e que o senhor considere necessário.

OT: Eu acho que a questão de enfrentar as drogas faz parte de melhorar a qualidade de vida da população brasileira. Hoje está muito ruim andar nas ruas e ver cracolândia pra tudo quanto é lado, ver as pessoas drogadas se agredindo, roubando, furtando. Então isso com a liberação só vai piorar. Por isso, eu acho que nós temos que garantir uma melhoria da qualidade de vida da população e esse processo faz parte disso.

Instituto Crescer • PROPOSTA Dependentes químicos em situação de rua ganham alternativa para uma nova vida

Conforme informações colhidas pela Revista Imagineacredite junto à Secretaria Nacional de Cuidados e Prevenção às Drogas (Senapred) do Ministério da Cidadania, nos primeiros anos do século XXI, por políticas equivocadas, o Brasil assistiu de forma inerte o crescimento das cracolândias e consequentemente do número de dependentes químicos em situação de rua.

É que, abalado pelo efeito danoso e nocivo das drogas, o dependente químico acaba sendo excluído da convivência social, por meio da perda de emprego e de vínculos sociais e familiares. Com isso, a tendência são as ruas e toda a violência e vulnerabilidade que a escuridão do mundo da dependência química pode proporcionar, uma vez que o consumo exagerado de entorpecentes, por sua vez, acaba retirando do indivíduo o direito de tomar decisões em sã consciência.

Entretanto, no Distrito Federal, o Instituto Crescer tomou uma medida pioneira e, em outubro de 2019, inaugurou o Centro de Triagem Vem Viver, que está localizado na Avenida das Palmeiras, em Taguatinga. O espaço, segundo nossa reportagem apurou, figura como uma impor

Equipe do Instituto Crescer

tante porta para que os dependentes químicos em situação de rua possam se libertar do aprisionador mundo das drogas.

Segundo Areolenes Nogueira, fundadora do Instituto Crescer, o Centro de Triagem Vem Viver servirá como uma casa de passagem onde os usuários poderão permanecer durante 30 dias contando com atendi

mento médico especializado 24h. A ideia é que, neste período, eles sejam desintoxicados e possam livremente escolher uma forma para vencer a dependência.

“Isso aqui vai tá aberto 24 horas por dia e quem quiser sair da rua agora pode. [...] Nós vamos dar tratamento médico, emitir toda a documentação e somente depois vamos

apresentar uma lista de oportunidades para a vida dele. Vamos perguntar se ele quer ir para um CAPS, para uma clínica ou para uma das 13 comunidades terapêuticas certificadas pelo Conen. A escolha será livre e nós apenas o encaminharemos”, detalhou Nogueira depois de ressaltar que tudo será realizado respeitando o livre-arbítrio dos usuários.

Pioneiro no acolhimento de toxicodependentes em situação de rua, a proposta colocada pelo Instituto Crescer – durante o ato inaugural - logo recebeu o apoio de diversos órgãos de Governo, a exemplo da Senapred, do Ministério da Cidadania, e da senadora Leila Barros (PSB- -DF) – que por meio da ex-governadora Maria Abadia garantiu o envio de recursos via emenda parlamentar -, bem como do Governo do Distrito Federal, por meio do subsecretário de Prevenção às Drogas, Rodrigo Barbosa.

“Essa proposta está alinhada ao Plano Plurianual do Governo do Distrito Federal que atende a sociedade brasiliense alinhada com a Nova Política Nacional Sobre Drogas e que, com certeza, será uma referência para o país”, destacou Barbosa.

Areolenes Nogueira, fundadora do Instituto Crescer

Instituto Crescer conta com um corpo de profissionais qualificados

Uma resposta que precisa de apoio

O Instituto Crescer e o Centro de Triagem são a prova viva de que tudo o que as pessoas que sofrem com a dependência química necessitam é de apenas uma oportunidade. Tanto é que essa ideia pode ser sentida em alguns testemunhos, a exemplo daquele dado pelo ex-residente Genilson Aparecido, durante a inauguração do espaço. Ele passou pelo processo de recuperação, depois de ser acolhido pelo pastor Paulo e Luiz, do Ministério Resgate da Igreja Batista Koinonia e que faz um trabalho de resgate de pessoas em situação de rua, e encaminhado para a Comunidade Terapêutica Caverna de Adulão.

No entanto, foi esse trabalho de resgate e de recuperação na mencionada CT, aliado à primeira oportunidade dada por Areolenes Nogueira no Instituto Crescer, que ele conseguiu retornar ao convívio social com um trabalho formal e de carteira assinada. “Tive uma parte da minha vida jogada ao mundo, dividindo comida com os cachorros, até que um dia o Luiz insistiu para que eu fosse ao pastor Lúcio [presidente da Caverna do Adulão]. Fiquei quase 10 meses lá, onde falaram que eu deveria melhorar as coisas. Foi então que me levaram a dona Areolenes e hoje eu tenho a oportunidade de conhecer a sociedade e demonstrar meu trabalho com carteira assinada”, testemunhou. O Instituto Crescer e o Centro de Triagem são a prova viva de que tudo o que as pessoas que sofrem com a dependência química necessitam é de apenas uma oportunidade Ex-residente Genilson Aparecido

Apesar da inauguração, o Centro de Triagem Vem Viver não está em pleno funcionamento, porque ele ainda não conta com o financiamento necessário para custear toda a sua equipe multiprofissional para realizar o acolhimento dos dependentes em situação de rua. De acordo com Areolenes Nogueira, o Instituto Crescer está viabilizando esses recursos via Senapred, muito embora da sociedade civil também seja de suma importância, uma vez que o público alvo do projeto tem apresentado uma grande demanda no Distrito Federal.

“Depois que fizemos um material com o nosso contato e distribuímos, toda hora vai gente lá. É um movimento constante de gente que quer tomar banho, que quer alimento, que quer tudo. Mas, nesses quatro meses, apenas realizamos o cadastramento de cerca de 100 moradores de rua, pois esse é um projeto caro e a falta do recurso não nos permitiu realizar o acolhimento”, disse Areolenes.

Para a fundadora do Instituto Crescer, o Centro de Triagem Vem Viver é um projeto pioneiro que vem a somar com o resgate de vidas e com todos aqueles que lidam diariamente com os toxicodependentes em situação de rua. “O grande diferencial desse trabalho é que ele vai acolher pessoas que querem sair das ruas à noite. Por exemplo: se está chovendo e ele não tem abrigo, ele sabe que ali ele tem um lugar para ser abrigado, ser triado e ser encaminhado para o serviço de acordo com a sua escolha”, ressaltou.

Instituto Crescer e PMDF se unem pelos moradores de rua Enquanto o financiamento não chega, o Instituto Crescer – pensando em resgatar vidas das ruas - firmou uma parceria com a Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF), o Grupo Francisco de Assis, o Projeto Banho do Bem e voluntários para executar a Operação Dignidade. A ação teve o objetivo de ir, literalmente, ao fundo do poço para mostrar uma alternativa junto aos dependentes em meio a escuridão da noite e das drogas.

Por isso, a Operação percorreu as ruas de Águas Claras e Taguatinga, duas cidades satélites de Brasília, na madrugada do dia 23 de dezembro. Na ocasião, os integrantes da operação realizaram a distribuição de refeições e roupas, bem como a oferta de banhos e cortes de cabelo. Sem contar que o Centro de Triagem abriu as suas portas para aqueles que queriam uma nova vida livre das drogas. Para o coronel Schweitzer, comandante do Comando de Policiamento Regional Oeste (CPRO), um dos idealizadores da ação, a operação deixou um sentimento de enorme gratidão. “Foi bom reunir em nossa unidade (CPRO), uma centena de pessoas distintas, sob propósito comum de fazer o bem”, comemorou o coronel.

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