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O material didático

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10. O educador

10. O educador

intento compreendia “exercícios no ambiente cotidiano”, ou “exercícios de vida prática”, como os chamou na primeira das conferências que fez na França (Montessori, 1976, p. 105).

Existiam, principalmente, exercícios de paciência, de exatidão e de repetição, todos destinados a reforçar o poder de concentração. Era importante que esses exercícios fossem feitos a cada dia no contexto de uma “tarefa” verdadeira, e não como simples jogos ou passatempos. Eles eram complementados por uma prática da imobilidade e da meditação, que marcavam a passagem da educação “externa” para a educação “interna”. Em seus escritos, Montessori não se cansa de ressaltar a importância do empreendimento que consiste em desenvolver atitudes em vez de simples competências; segundo ela, a atividade prática deve criar uma atitude, e isso graças à contemplação: “A atitude vem a ser a da conduta disciplinada”. Era, a seu ver, a tarefa essencial à qual as Casas das Crianças deveriam se dedicar:

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O pivô de tal construção da personalidade foi o trabalho livre, correspondente às necessidades naturais da vida interior; por conseguinte, o trabalho intelectual livre prova que ele é a base da disciplina interior. A maior conquista das “Casas das Crianças” era a de obter crianças disciplinadas. (Montessori, 1976, p. 107)

Ela sustenta essa afirmação por uma comparação com a educação religiosa:

Isso leva a pensar nos conselhos que a religião católica dá para conservar as forças da vida espiritual, quer dizer, o período de “concentração interior”, da qual depende a possibilidade de dispor em seguida de “força moral”. É por meio da meditação metódica que a personalidade moral adquire os potenciais de solidificação sem os quais o homem interior, distraído e desequilibrado, não pode ser seu próprio mestre nem se dedicar a nobres fins. (Montessori, 1976, p. 104)

Como Rousseau, Montessori considerava que “ajudar aos fracos, idosos e doentes” era um dever importante a ser cumprido no estágio do desen-

volvimento pessoal, no qual as “relações morais” (Montessori, 1966, p. 58) definem e marcam o começo de uma nova vida, enquanto pessoa moral.

Ela estimava que a adolescência é o período em que essa etapa deve ser ultrapassada, mas nas Casas das Crianças, estas se preparavam para isso de muitas maneiras. As primeiras atividades nas quais se engajavam eram então de importância decisiva, tanto no plano moral quanto no plano físico para as fases seguintes de seu desenvolvimento. O “período sensível” da primeira infância oferece a ocasião única de incentivar um desenvolvimento real. Montessori considerava a educação social como um elemento importante dessa primeira fase, visto que a autodeterminação deve receber sua orientação de outrem para que o indivíduo possa atingir a perfeição enquanto ser social.

No último capítulo de seu livro A descoberta da criança, ela descreveu esse processo:

Nenhum coração sofre com o bem de outrem, mas o triunfo de um, fonte de encantamento e de alegria para os outros, cria frequentemente imitadores. Todos têm um ar feliz e satisfeito de fazer “o que podem”, sem que o que os outros fazem suscite uma vontade ou uma terrível emulação. O pequeno de três anos trabalha pacificamente ao lado de um menino de seis; o pequeno está tranquilo e não inveja a estatura do mais velho. Todos crescem na paz. (Montessori, 1969, p. 33)

O material didático tinha igualmente a função de ajudar a criança a “crescer na paz” a fim de que adquirisse um senso elevado de responsabilidade. Esse material, que constituía um dos elementos do “ambiente preparado” da casa das crianças, era metodicamente concebido e padronizado, de maneira que a criança que tinha escolhido livremente se ocupar de um dos objetos propostos se encontrasse localizada em uma situação previamente determinada e fosse conduzida, sem saber, a encarar o seu desígnio intelectual. O melhor exemplo que podemos dar disso é o exercício de encaixar: cilindros de diferentes tamanhos e cortes devem ser introduzidos nas cavidades adaptadas; uma única solução é possível e, assim, a criança pode apreender seu erro quando o cilindro não pode ser introduzido.

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