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2. Antecedentes do método

estatura etc., não é, evidentemente, fazer obra de pedagogia, mas é trilhar a via que a ela conduz, pois não é possível educar alguém sem o conhecer diretamente”.

A autoridade de Sergi fazia crer que a arte de educar o indivíduo seria consequência quase natural da experiência apenas, o que induziu os seus discípulos (como ocorre frequentemente) a uma confusão de ideias: a confusão entre o estudo experimental do escolar e a sua educação. E, uma vez que o estudo experimental surgia como o caminho para atingir a educação, a antropologia pedagógica foi desde logo denominada pedagogia científica. Por essa razão, as escolas ditas de pedagogia científica ensinavam os educadores a proceder às mensurações antropométricas, a usar os instrumentos de estesiometria, a recolher os dados de anamnese. Assim se formou o corpo dos educadores científicos (p. 10). 1.3 Na França, na Inglaterra e, principalmente, na América, experimentou-se estudar nas escolas elementares a antropologia e a psicologia pedagógica, na esperança de obter da antropometria e da psicometria a renovação da escola. Ao progresso que resultou desse esforço seguiu-se a intensificação do estudo do indivíduo - desde a psicologia de Wundt até os testes de Binet - permanecendo, contudo, sempre o mesmo equívoco. Além do mais, não foram propriamente os educadores que se dedicaram a essas pesquisas, mas sim os médicos, e estes se interessaram mais pela sua própria ciência do que pela pedagogia. Os médicos orientaram mais a sua contribuição experimental no sentido da psicologia e da antropometria que no sentido, tão esperado, da pedagogia científica. Em conclusão, jamais o psicólogo ou o antropólogo ocuparamse em educar as crianças na escola, como também os educadores não se tornaram cientistas de laboratório (p. 10). 1.4 Para que a escola pudesse praticamente progredir, era preciso, pelo contrário, que houvesse unidade de vistas entre os estudos e os propósitos, atraindo os cientistas para o nobilíssimo campo da escola e proporcionando, ao mesmo tempo, aos educadores um nível cultural mais elevado. Com essa finalidade, fundou-se, em Roma, uma escola pedagógica universitária, justamente com o intuito de tirar a pedagogia dos limites de simples matéria secundária da Faculdade de Filosofia, - essa era ainda

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a sua posição na Itália, - para com ela construir uma Faculdade independente, que abrangeria, como a Faculdade de Medicina, as mais variadas disciplinas: a higiene pedagógica, a antropologia, a pedagogia, a psicologia experimental. Porém, enquanto essas ciências desenvolviam-se progressivamente, a pedagogia permanecia no mesmo estado filosófico obscuro em que nascera sem ser atingida e muito menos transformada.

Hoje, entretanto, é o interesse da humanidade e da civilização que anima os que se preocupam com a educação. Todos os que deram sua contribuição a essa causa são dignos do respeito da humanidade civilizada (p. 11). 1.5 [...] pensou-se que, transportando as pedras da dura e árida experiência de laboratório da antiga e abalada escola, poder-se-ia reedificá-la. É que a ciência materialista e mecanizada foi olhada por muitos com demasiada ilusão. Mas, é justamente por se ter trilhado uma falsa via que se torna necessário ir além para encontrar a verdadeira arte de preparar as gerações futuras. Não é fácil preparar educadores segundo as normas das ciências experimentais. Mesmo que lhes tenhamos ensinado, com todas as minúcias, a antropometria e a psicometria, teremos apenas fabricado mecanismos cuja utilidade será problemática. Iniciandoos na experimentação não teremos, certamente, preparado novos educadores. E, sobretudo, teremos deixado os educadores apenas no limiar das ciências experimentais, sem os fazer penetrar na parte mais nobre e profunda onde se formam os cientistas (p. 11). 1.6 Para edificar uma pedagogia científica é preciso seguir outra via que não a trilhada até aqui. Necessário é que a preparação dos professores seja simultânea à transformação da escola. Preparamos professores capacitados na observação e na experimentação; é preciso, porém, que encontrem, na escola, oportunidade para observar as crianças e aplicar seus conhecimentos.

Portanto, um ponto fundamental da pedagogia científica deve ser a existência de uma escola que permita o desenvolvimento das manifestações espontâneas e da personalidade da criança. Se deve surgir uma pedagogia do estudo individual do escolar isto somente será possível graças à observação de crianças livres, isto é, de crianças observadas e estudadas em suas livres manifestações, sem nenhum constrangimento.

Em vão se aguardaria uma renovação pedagógica decorrente do exame metódico dos escolares de acordo com a orientação seguida pela antropologia pedagógica experimental (p. 25).

2. Antecedentes do método

2.1 De modo geral, é de grande importância definir o método, a técnica; da sua aplicação deve-se aguardar os resultados, que surgirão da experiência. Assim, uma das características das ciências experimentais é a de realizar a experiência sem ideia preconcebida quanto ao seu resultado [...] Nesse momento, o experimentador deve despojar-se de todo preconceito; e a cultura formalística faz parte, também, dos preconceitos. Portanto, se desejamos tentar uma pedagogia experimental, não devemos recorrer às ciências afins; pelo contrário, estas devem ser momentaneamente esquecidas, de modo que, com a mente livre, possamos proceder sem nenhum obstáculo à pesquisa da verdade no campo próprio e exclusivo da pedagogia. Não devemos, pois, partir de ideias preestabelecidas sobre a psicologia infantil, mas sim de um método que permita plena liberdade à criança, a fim de que possamos descobrir, através da observação das suas manifestações espontâneas, a sua verdadeira psicologia. E, talvez, esse método nos reserve grandes surpresas (pp. 25-26). 2.2 Eis, portanto, o problema: estabelecer o método próprio para a pedagogia experimental. Esse método não pode ser o empregado para as outras ciências experimentais. Muito embora seja a pedagogia científica integrada pela higiene, pela antropologia e pela psicologia, constituem essas ciências apenas pormenores no estudo total do indivíduo a educar.

O presente trabalho trata precisamente do método na pedagogia experimental e resulta de minhas experiências realizadas nos asilos infantis ou nas primeiras classes elementares. Na verdade, apresento apenas um início do método, que apliquei a crianças de 3 a 6 anos de idade. Creio, porém, que esta tentativa, pelos surpreendentes resultados obtidos, justificará a continuação e ampliação da obra empreendida (p. 26). 2.3 [...] sendo Assistente de Clínica Psiquiátrica na Universidade de Roma [...] interessei-me pelas crianças idiotas recuperadas no próprio es-

tabelecimento hospitalar. Nessa época, estando a organoterapia tireoidiana ainda em fase de desenvolvimento, as diferentes respostas clínicas obtidas com o seu emprego solicitavam constante e cuidadosa atenção dos médicos para as crianças retardadas submetidas a essa terapêutica. Realizando, em seguida, estágios regulares nos serviços médicos de hospitais de clínica geral e em ambulatórios de pediatria, tive a atenção voltada especialmente para o estudo das doenças da infância. [...] interessando-me pelas crianças mentalmente deficientes, vim a conhecer o método especial de educação idealizado por Édouard Séguin para esses pequenos infelizes, compenetrando-me da ideia, então nascente, admitida mesmo nos círculos médicos, da eficácia da “cura pedagógica” para várias formas mórbidas, como a surdez, a paralisia, a idiotia, o raquitismo etc.

O fato de se preconizar a união da pedagogia à medicina no campo da terapêutica era a conquista prática do pensamento da época e nesta direção difundia - se o estudo da atividade motora. Porém, contrariamente à opinião de meus colegas, tive a intuição de que o problema da educação dos deficientes era mais de ordem pedagógica do que médica; enquanto nos congressos médicos defendia-se o método médico-pedagógico para o tratamento e educação das crianças excepcionais, eu apresentava no Congresso Pedagógico de Turim, em 1898, um trabalho defendendo a tese da educação moral. Devo, sem dúvida, ter tocado uma corda muito sensível, pois esta ideia difundiu-se com a rapidez do relâmpago, passando do meio médico ao círculo do ensino elementar (pp. 27-28). 2.4 [...] durante dois anos, preparei, com o auxílio de colegas, os professores destinados a observar e educar as crianças excepcionais, dentro de novos métodos especiais. Além disso, o que é mais importante, após ter estado em Londres e em Paris estudando a educação dos deficientes mentais, dediquei-me eu mesma ao ensino dessas crianças e orientei as educadoras de crianças excepcionais do nosso Instituto. Trabalhava muito mais do que uma professora elementar, ensinando as crianças, ininterruptamente, das 8 às 19 horas. Esses dois anos de prática constituem, verdadeiramente, o meu primeiro título em pedagogia.

Quando, em 1898 e 1900, consagrei-me à instrução das crianças excepcionais, tive logo a intuição de que esses métodos de ensino não

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