4 minute read

Introdução

Next Article
10. O educador

10. O educador

Sua própria vida e a evolução de suas ideias foram governadas por encontros, inspirações e experiências de renascimento: seus encontros com pessoas cujas preocupações lhe eram próximas foram frequentemente mais determinantes do que a adesão a teorias estabelecidas. Sua grande produtividade se explica, em última análise, pela ação do princípio “hôrmico” na sua vida e no seu pensamento.

Ela quis exercer sobre o mundo certa influência combinando harmoniosamente a teoria e a prática; procurou na prática a confirmação de suas teorias e elaborou sua prática em conformidade com os princípios científicos, atingindo assim a perfeição: essa é a razão do sucesso reconhecido das concepções educativas de Maria Montessori.

Advertisement

arte preto e branco

Considerações Sobre a Influência de Montessori na Educação Brasileira

Danilo Di Manno de Almeida Maria Leila Alves

Introdução

Tecer considerações sobre a influência de Maria Montessori na educação brasileira exige que revisitemos a história das teorias que têm norteado a educação em nosso país. Isto porque Maria Montessori se insere no movimento da Escola Nova, que visou superar o modelo de escola tradicional que não havia conseguido escolarizar a população que adentrava a escola. Há um entendimento (às vezes equivocado e às vezes intencional) de que a melhoria da escola e do ensino depende tão somente de questões relacionadas a teorias e métodos, desconsiderando questões da qualidade de vida da população, do modelo de distribuição de renda, do não investimento no profissional da educação e na organização do ensino e outros.

Essa é uma das razões pelas quais as tentativas de democratização da escola e do ensino no Brasil pautaram-se quase sempre em opções por teorias pedagógicas. Poucas vezes uma política educacional se enuncia com o diagnóstico e a análise da situação sociopolítica do país, a não ser em casos como o de poucos governos estaduais e municipais progres-

sistas que, no final da ditadura militar se propuseram a instaurar uma educação transformadora, como demonstra Cunha (2001).

Também são poucos os estudiosos que consideram o papel relativo que a escola desempenha na transformação da sociedade, compreendendo a exigência de condições estruturais objetivas para a instauração de uma escola efetivamente democrática, em que todos, e não apenas parte dos cidadãos, tenham acesso à cultura elaborada pelo conjunto da sociedade. Para recuperar brevemente a história das teorias da educação no Brasil, como referência teórica para a análise que estamos desenvolvendo, lançamos mão de um estudo clássico “As teorias da educação e o problema da marginalidade”, de Dermeval Saviani, um dos estudiosos a que nos referimos, que aborda o papel relativo que a escola desempenha nos processos históricos de transformação social. Seu ponto de partida, nesse estudo, tem a intenção de caracterizar o que é considerado marginal nas teorias funcionalistas da educação, que vão se sucedendo na história brasileira – a exemplo do que ocorreu em outros países – todas elas teorias não críticas, uma vez que têm como pressuposto que a superação das desigualdades sociais depende basicamente da escola, ou melhor, têm como pressuposto de que o papel da escola é exercer uma função equalizadora na sociedade.

Como na pedagogia tradicional, de acordo com a análise de Saviani, o marginal é o ignorante, acreditava-se que a escola, desempenhando o seu papel de difusora dos conhecimentos, combateria a ignorância, democratizando dessa forma a sociedade. Nessa pedagogia o saber é centrado no professor e transmitido ao aluno, um receptor passivo que, fazendo uso, principalmente dos recursos de sua memória, devolve os conhecimentos dominados por ele nas avaliações e provas pelas quais passa necessariamente em seu processo de escolarização. Isso delineia o formalismo escolar em que a disciplina imposta, o não questionamento da matéria estudada, a não exigência de uma relação dinâmica com os conteúdos do currículo escolar resulta no silenciamento do estudante e na atuação meramente reprodutiva do professor, que também não diz a sua palavra. Já a pedagogia da Escola Nova, propondo superar os problemas da pedagogia tradicional – que efetivamente não dava mostras de alcançar um

desenvolvimento social mais igualitário pela ação da escola – e mantendo a crença no poder equalizador da escola, emerge oficialmente no cenário educacional brasileiro com o Manifesto dos Pioneiros da Educação, em 1932 (acompanhando também um pouco tardiamente o movimento de países economicamente mais avançados). Nesta pedagogia é considerado marginal o desajustado.

No contexto emergente da filosofia da existência, a psicologia diferencial ganha fôlego, vindo a exercer um papel significativo no encaminhamento do processo pedagógico, ao considerar as diferenças mais do que as semelhanças entre os estudantes, como princípio organizador do ensino8. Incluir os marginais significava, pois, respeitar os aspectos existenciais de vida de cada ser humano, e assim, as diferenças entre os alunos passaram a ser a referência principal a ser considerada no processo de ensino-aprendizagem. Nessa pedagogia, a questão central é o ajustamento dos estudantes, deslocando-se conforme Saviani:

o eixo da questão pedagógica do intelecto para o sentimento; do aspecto lógico para o psicológico; dos conteúdos cognitivos para os métodos ou processos pedagógicos; do professor para o aluno; do esforço para o interesse; da disciplina para a espontaneidade; do diretivismo para o não diretivismo; da quantidade para a qualidade; de uma pedagogia de inspiração filosófica centrada na ciência lógica para uma pedagogia de inspiração experimental baseada principalmentenas contribuições da biologia e da psicologia. Em suma, tratase de uma teoria pedagógica que considera que o importante não é aprender, mas aprender a aprender (Saviani, 2000, p. 9).

8 Em outro estudo denominado “Escola e democracia I: a teoria da curvatura da vara”, publicado no mesmo livro do texto que estamos discutindo, Saviani, em um movimento de radicalização, toma emprestada a metáfora utilizada por Lênin e faz uma comparação entre o método tradicional e os métodos novos. Para isso, elabora três teses que atribuem ao primeiro, que se fundam na concepção filosófica essencialista, todas as virtudes, e aos últimos, que se fundam em uma concepção filosófica que privilegia a existência sobre a essência, todos os vícios.Tempos depois, escreve “Escola 38

This article is from: