ter 08.04 12h30
assemblĂŠia piso do museu
1:1000
Dia útil
(Luiz Tatit) pam-pararam-pararam-pararampararam-pararam dia útil muito trampo vai e vem o tempo passa muito tempo ele vivia entre quatro paredes trabalhando o tempo todo e pouco a pouco foi se acostumando a ser assim uma vida sem sentido para alguns rica em detalhes para ele que sabia todos os desenhos do azulejo até as manchas do piso das toalhas e das mesas muito que ele via nos desenhos era tudo que ele tinha de melhor os desejos, tudo da cabeça tava lá, tava lá no azulejo tava lá tudo projetado em seu lugar e quando sentia um tédio mortal ahhh, dava um grito temperamentaltodos paravam, olhavam entre si mas que fazer, ele era assim! mas o tempo foi passando e o progresso foi chegando e as reformas ele foi informado que brevemente uma reforma alteraria todo o piso todo o piso, as mesas e os azulejos era muito para ele já não tinha o que temer foi ao chefe revelou todo o seu vínculo e seus desejos com os desenhos do azulejo e com as manchas do piso das toalhas e das mesas tudo bem o chefe deu a entender que entendeu todo o problema não se aflija! mas ele sabia que era falso que era inútil no entanto preferiu acreditar no dia seguinte chegando ao local ahhhhhhhhh! Deu seu grito como um animal correu pro seu chefe grudou na garganta e só largou na sala do hospital dia útil muito trampo vai e vem o tempo passa pam-pararam-pararam-pararampararam-pararam (enviado por peu)
Nem heróis nem mártires.
Então, estávamos todos lá. Sentados em roda, perto da “caixa” do xerox. Parecia incômodo sentar em outro lugar, em meio ao vazio que preenchia o piso-do-museu. Já havia passado uma semana, desde que o diretor entregara a temida notificação de despejo aos ocupantes do piso e, apesar da gritaria, dos tambores e da mobilização, a Guarda Universitária tinha sido mais imponente. Alguma violência, muitas ameaças e pronto. Não foi preciso mais do que uma semana para a concretização da ordem. Mas, nem tudo estava perdido. Para alguns estudantes, mais organizados, foi motivo e tanto para protestar e escancarar a truculência e o autoritarismo. Foi o estopim para ataques quase físicos ao diretor e tentativas de retribuir suas ações na mesma moeda. Muitas risadas nos corredores, falas exaltadas no Caramelo e atitudes cínicas. À medida que a Guarda avançava sobre bens e pessoas, no piso-do-museu, estes estudantes avançavam sobre a Guarda. Tratava-se de uma hipócrita tentativa de medir forças, em que os estudantes sabiam que perderiam, mas não poderiam deixar passar a chance de expor a violência, provocando-a, para seu próprio divertimento. Estes tiveram bons momentos de adrenalina e fissura nisso tudo. Em tom de voz mais baixo, outro grupo se alinhava na tentativa de manter as coisas como estavam. E, por um momento, pareceu que eles tinham uma chance. Especialmente quando conseguiram envolver professores e alunos menos assíduos nessa trama. Foi realmente um choque, quando perceberam que todas as suas ações, tão bem estruturadas, haviam sido sumariamente ignoradas e subvertidas. A palavra não soa tão bem quanto favorece o outro lado. Ao menos, foi possível espalhar a notícia a tempo. Não havia um estudante que não soubesse o que estava para acontecer. Apesar de que pouquíssimos traziam para a esfera pública seus comentários e suas discussões. De qualquer forma, foi esse grupo que motivou a roda de agora. Quando perceberam que não havia mais saída, retiraram-se do piso-domuseu, puseram-se no A.I. e especularam sobre as possibilidades. Sempre otimistas. Propositivos à exaustão. Chegaram a um panorama nada indesejável. “Talvez a imagem
do piso-do-museu vazio nos permita projetar outra faculdade!”, disseram. Pensaram que, se apresentassem um projeto coerente em pouco tempo, poderiam impedir a destruição que estava por vir. Foi essa idéia que nos trouxe aqui. De fato, são poucas as vezes em que é possível desenhar sobre uma folha quase incólume. E a conversa era boa. Parecia saudável e produtivo ressaltar tudo aquilo que estava errado nesta faculdade. E assim, fomos, das aulas vazias e esvaziadas aos professores e alunos ausentes. Das pesquisas escondidas aos temas opressores, que parecem ser o centro do universo. A grade impraticável, a falta de debate, os exercícios bobos. Em tudo, havia o que mudar. Em tudo que se espalhava pelo magnífico edifício, inexplicavelmente selado, apesar da permeabilidade. Pessoas seladas. E nós, sentados no piso-do-museu, tentando aproximarmo-nos uns dos outros. Já as coisas das quais queríamos nos aproximar, estavam todas no edifício. Boas aulas, boas pesquisas, bons debates. Estavam em algum lugar por ali. Por vezes eram vistas, um pouco borradas, lá longe. E, sentados em roda, tínhamos tantas propostas para elas. Foi quando aconteceu. Um estudante levantouse e disse “São muitas idéias, vamos ver o quanto elas são boas”. A roda transformou-se em burburinho com a repentina mudança de perspectiva. Alguns murmuravam “fura-greve”, outros ficavam em silêncio. O constrangimento era palpável. Mas não se tratava de mais um discursinho ou da simples vazão do pensamento –tão cultivada pelas mais modernas teorias de educação. Ele não falou mais nada e foi fazer o que disse. Subiu várias rampas e entrou na sala de aula em que professores fingiam que era possível ministrar uma aula de qualidade, comprimindo o conteúdo de um semestre em duas horas, antes de apresentar a proposta do exercício, simples reprodução do que haviam dito. Naquele circo aleatoriamente ensaiado para evitar o confronto e a exposição de idéias, ele precisou esforçar-se para inverter a lógica, mas quarenta minutos de intervenções contundentes e um professor a menos –nem todos suportam o diálogo– e ele se viu em outra sala de aula. Era a mesma, mas as pessoas estavam incomodadas, como era de se esperar numa
universidade pública. Nós estávamos extáticos a olhar a cena, espremidos pelo vão da porta. Com a saída do professor intransigente –ou preguiçoso, talvez– foi a vez de outra rebentação. Outro estudante, que assistia aos acontecimentos, seguiu o desertor até sua sala, no breu dos laboratórios. Ele esperou que o professor entrasse, bateu à porta e começou um educado interrogatório. Irritante, de tão educado. Meios-pisos acima, o grupo da sala de aula descia para o estúdio, onde aconteceria a apresentação do
exercício, agora “proposição de trabalho”. O falatório chamou a atenção das gentes dos outros estúdios e, entre irritados e curiosos, todos foram atraídos por aquilo que era diferente. Outra coisa, que não aquilo que se reproduzia cotidianamente. Difícil dizer como será o dia de amanhã. Mas o de hoje foi atordoante. Não foram todos os alunos, nem todos os professores, nem estavam todos conscientes do que faziam. Faziam, entretanto, deixando que suas idéias corressem livres e confrontassem-se com outras. Sentiam na pele e no espaço, a
diferença que uma atitude outra podia ou não causar. Não precisavam vencer concursos de retórica, apenas precisavam de sua própria persistência e capacidade de pensar, por vezes articulada à dos outros. Talvez isso também acabe virando propaganda política, num belíssimo vídeo ou cartaz, e alguém até dê um jeito de dizer que foi idéia sua. Ou talvez passemos os próximos dias discutindo o acontecido. Talvez aconteça de novo. Amália Santos.
Evitar o Desastre
A questão pertinente hoje à FAU é antes de tudo programática. Em sua inauguração na Cidade Universitária, em 1969, abria-se o edifício com uma exposição de Oscar Niemeyer, o qual não compareceu devido ao regime militar e seu exílio em Paris. O edifício da FAU já nasce em situação conturbada, e o exemplo citado mostra como é essencial a clareza diante do contexto para o usufruto dessa escola: o espaço público é também político. Por isso quando vemos a ruína avançando sobre o prédio, nas infiltrações da cobertura, armaduras expostas, estúdio interditado, LAME fechado aos alunos, o que se lê desses sinais é a mensagem que nesse local não se abriga uma escola. Numa escola deve-se ter local iluminado para estudo e prática
do trabalho, assim como espaços reservados para leitura e locais de convivência comuns para prática política. A FAU em projeto atende a todos esses requisitos. Artigas, como grande arquiteto que era, cumpriu com excelência seu papel. Reside hoje em nossas mãos a culpa pela falência deste local, é na esquizofrenia coletiva que se destrói esse espaço. São professores mal organizados e que se digladiam por influencia na burocracia acadêmica, são alunos perdidos diante do vazio que é colocado diante deles, e a própria burocracia se afunda entre conflitos de poder e infindáveis questões legais e judiciais a serem sanadas. O cenário colocado é de completo caos. A mensagem é clara: a FAU deixou de ser uma escola de
arquitetura. Hoje podemos considerá-la um cenotáfio ou um mausoléu, um monumento fúnebre ao que foi uma escola. Esse ano a FAU faz 60 anos. A celebração dessa data deve se constituir como um ponto final. Os estudantes ainda carregam a carga crítica necessária para fazer oposição a esse retrocesso. Um novo programa para a FAU, que se inicie no piso do museu e do caramelo, os espaços públicos e políticos por definição, e se desdobrem para os departamentos, para a biblioteca, para os estúdios e salas de aula, movimento natural conforme a composição do edifício imaginado e concretizado por Artigas. Evitar o desastre, no mínimo. Danilo Hideki Abe
(Pequeno dossiê) GEEF No contexto das diversas e polêmicas reformas que estão em andamento na FAU e em toda a USP, tomamos a iniciativa de investigar os trâmites das decisões que são tomadas nesta faculdade. Afinal, quem são os verdadeiros autores destes projetos? O que pensam eles dos princípios que norteiam o projeto de Artigas? Iniciamos nossa investigação procurando o GEEF-FAU (grupo executivo de gestão dos espaços físicos). Por conta de um erro de informação encontramos uma “sala” localizada no AI. Na verdade, algo que está mais para um “puxadinho”, ou uma “favelinha”, como foi chamado por muito tempo. – É lá que mora o Júlio Maia – nos diziam. Acreditávamos estar no endereço certo, mas na verdade, ali fica o Pró-salas, que mantém e reforma as salas de aula da USP. Por “salas”, entenda-se salas de aula, estúdios, oficinas, laboratórios etc. Quem chefia a Pró-salas é o professor Júlio Maia, da FAU. Neste momento, curiosos com nossa descoberta, perguntamos: - Se aqui é o Pró-salas, foram vocês os autores do protótipo de mesa para os estúdios da FAU? E a surpreendente resposta foi – Não, aquele projeto é do Sawaya. Descrentes da resposta, insistimos. – Não, queremos saber quem é o autor, quem desenhou as
mesas! - Pois então. Foi o diretor, Silvio Sawaya.v Conselho Curador, GEEF e LAME O GEEF (grupo executivo de gestão dos espaços físicos da FAU) é uma instância executiva que responde ao Conselho Curador da unidade. Seu dever é manter os espaços acompanhando obras, detalhando projetos e licitando contratos. Em linhas gerais as atribuições do Conselho Curador são preservar e definir diretrizes para os bens culturais da Faculdade. Ele é responsável por todos os bens, desde obras de arte e livros até os edifícios sob a guarda da FAU-USP. Estivemos duas vezes no GEEF, que fica no final do corredor dos laboratórios. Seus membros nos afirmaram que o trabalho do grupo é meramente executivo, cabendo a eles apenas decisões projetuais técnicas. No entanto, o Prof. Reginaldo Ronconi, membro do Conselho Curador disse que os projetos em andamento na FAU nunca foram apresentados ao Conselho. Sendo assim quem os decidiu? Por algum motivo desconhecido, na única reunião do Conselho este ano, os representantes discentes não foram convocados. Nesta ocasião Reginaldo propôs uma reelaboração da composição do Conselho que hoje conta com excessiva representação do GEEF (a atual composição
cerceamento da LIBERDADE
foi alterada pela diretoria da FAU no início de sua gestão com o intuito da agilizar a execução dos projetos). Nos parece que o atual quadro favorece o ocultamento dos projetos da FAU para a FAU. Essa falta de transparência é conseqüência do acúmulo de tarefas de decisão e execução nas mãos das mesmas pessoas. Os seja, uma função executiva que se auto-delibera, impedindo a crítica e o desenvolvimento de projetos divergentes. Outra mudança recente, que muito desagrada os estudantes, possui os mesmos personagens. Tratase da burocratização do LAME. Seu coordenador, Julio Maia (o mesmo) é responsável pelos formulários, que agora, os estudantes são obrigados a preencher para justificar o uso dos equipamentos. Entendemos o caráter desta exigência como um endosso de autoridade, uma vez que necessita quatro assinaturas para qualquer uso, que não se justificam por medidas de organização ou manutenção das atividades. Na véspera do fechamento deste jornal, procuramos Julio Maia, para um depoimento, que nos parece fundamental. No entanto, não o encontramos. Importantes questões ainda permanecem em aberto. Pretendemos continuar esta investigação que quer entender e pôr em evidência as estruturas da FAU. Bruno S., André, Felipe C.
uso dos espaços restringido
pouco usufruída
interesse pela experimentação descobrir construir
LIVREMENTE afastamento dos meios de produção na dinâmica do aprendizado
não há mais DINÂMICA qual é a formação?
pessoas que não não não não
se aprofundam exploram o vazio criam o novo se ocupam espaços
CONSOMEM
MAIS LIBERDADE PODE MELHORAR A QUALIDADE DO ENSINO?
AMNÉSIA
o passado não passa de uma memória
o aprendizado não se JUSTIFICA
contato ingênuo com o espaço
O museu é nosso! Não é de hoje que a autonomia e a liberdade de manifestação e organização coletiva dos estudantes na USP andam ameaçadas. A repressão a atividades como festas e manifestações e a retirada dos espaços físicos dos estudantes são prova de uma política de cerceamento por parte das “autoridades” desta universidade. As atividades estudantis são agora tratadas como motivo de ocorrências policiais. É o que comprova o relatório da comissão de segurança da FAU, baseado nos boletins de ocorrência da guarda universitária, dos quais oitenta por cento referem-se a festas, manifestações e atividades políticas dos estudantes, como as assembléias durante a greve e o banho no laguinho durante a calourada. Esse relatório é apresentado como justificativa para as chamadas medidas de segurança. Entre elas inclui-se o monitoramento, através de câmeras de vídeo, das áreas coletivas do edilício da FAU. A proposta das câmeras, cujo financiamento vem da reitoria, configura um ato repressivo digno da ditadura
militar, pois é nítido: seu intuito não é outro senão o controle do espaço e dos estudantes: assim como as ocorrências policiais do relatório referemse não a crimes contra o patrimônio, mas às atividades coletivas dos estudantes; também as “medidas de segurança” visam menos à defesa do patrimônio, do que ao controle do espaço. Pois, o projeto prevê a instalação das câmeras em áreas livres e coletivas, como o piso do museu, o salão caramelo e as rampas, onde não há patrimônio a ser protegido. Uma questão a ser ainda colocada é: a quem serviria este novo instrumento de poder, ou melhor, a que instância, ou figura da comunidade, estaria ligado este instrumento de controle sobre os demais? Outro atentado à autonomia política dos estudantes e contra a prática de suas atividades (acadêmicas, culturais e políticas) é a retirada de seus espaços - historicamente consagrados a essas atividades e à viabilidade das entidades políticas e de representação discentes. Atualmente na FAU a gestão do espaço dos estudantes (piso do museu) é
1969 1991 Artigas projeta o A USP cede edifício da FAU. o espaço da Artigas sempre defendeu os amplos espaços livres da FAU como lanchonete ao peça fundamental na formação dos estudantes de arquitetura. Os deGFAU. bates sobre o ensino, a arquitetura, a cidade, as artes e a política, as inúmeras atividades livres realizadas pelos estudantes por fora da estrutura acadêmica da FAU não são nesse prédio algo “externo” ou “conflitante” com o estudo da arquitetura. A partir da tradição das atividades estudantis que ocupavam os porões da FAU Maranhão, o piso do museu foi projetado como piso dos estudantes. O piso como espaço de produção e debates se tornou uma referência não só na USP, mas nacionalmente.
Pouco depois disso a CJ (Consultoria Jurídica) indica aos diretores de unidades que o termo mais conveniente a ser usado era o termo de “permissão de uso”. O termo de permissão de uso restringe as atividades estudantis, já que retira do GFAU a autonomia política e financeira sobre o piso.
objeto da ingerência da Diretoria, que pretende o despejo dos prestadores de serviço, a despeito de um processo de regularização do uso do espaço que está em andamento e sob apreciação das instâncias competentes. Levando-se em conta todo o histórico do piso e os documentos levantados esse ano, assinar o termo de permissão que aparece como uma urgência da burocracia é um claro retrocesso não justificado. Nunca foi apresentado nenhum documento que retire a validade do contrato de 1991. Recentemente parece que ignorando a existência desse contrato e das negociações anteriores o CTA determinou que até 15.04 fossem encaminhados comunicados de desocupação para todos os locatários do piso. Mandar essas notificações significa atropelar a discussão necessária. Raffaela, Manoel, Ilana, Julio
2005 Diretor Toledo reconhece que o piso é dos estudantes
Apesar de reconhecer a importância do piso do museu para as atividades extracurriculares, Toledo colocava o termo de permissão como a única saída para a regularização do piso.
2006 2007 2008 Se acelera o processo de retirada A data limite, 15.04, está muito Os estudantes, dos espaços estudantis em toda próxima. USP; na FFLCH o diretor Gabriel sem garantia Cohn (sem nenhum debate e pasQue fazer? sando por cima mesmo das instânnenhuma da cias antidemocráticas da universidade) concreta o porão, espaço dos manutenção estudantes da Sociais/Filosofia. de seu espaço, Na FAU, o recusam o termo. diretor Sawaya e No termo então em discussão, e que permanence até hoje, o GFAU CTA, atropelam pode ser expulso a “qualquer tempo, mediante simples notificação” da dinegociações retoria. Além disso, o GFAU perderia sua autonomia financeira já que a anteriores diretoria seria a única que poderia alugar o espaço. Depois de várias discussões o CTA da FAU (Conselho Técnico Administrativo, controlado por poucos professores próximos à diretoria) se comprometeu a rever os pontos considerados pelos estudantes como mais problemáticos.
aprovando em CTA uma data limite para o despejo dos locatários (lanchonete, papelaria, xerox e livraria), abstraindo assim toda a história do piso, abstraindo a tradição libertária que Artigas defendia, em que os estudantes poderiam discutir e produzir livremente, sem qualquer controle daquele espaço.