Revista de atividades para famílias com crianças - Especial Cantinhos de Portugal: 3 a 17 agosto

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CONSULTÓRIO COMPORTAMENTO

O MEU FILHO TEM UM AMIGO IMAGINÁRIO!

“Um dia percebemos que a Joana conversava, ria, brincava e até partilhava aventuras com alguém que não era visível para nós e só ela conseguia ver”. MAGDA ALVES

ANA MARIA GARCIA

Psicóloga Clínica magda.alves@pin.com.pt

Psicóloga Clínica ana.garcia@pin.com.pt

Se há algo que assume um verdadeiro marco no desenvolvimento e carateriza a infância são as brincadeiras típicas do “faz-de-conta”. Nesta brincadeira simbólica a criança, por meio da imaginação, desenvolve um leque de sentimentos e interioriza regras sociais através de uma diversidade de brinquedos e diferentes cenários. Entre as diversas formas que a brincadeira do faz-deconta pode assumir, existe uma que se distingue pela sua singularidade: a criação de amigos imaginários. Há crianças que criam o amigo imaginário e que se caracteriza por ser uma personagem invisível ou pode ser representado através dos seus brinquedos especiais. É uma personagem que vive somente na imaginação, nasce da criatividade da criança e da sua necessidade de preencher a realidade de forma acolhedora e segura. Muitas vezes, essa amizade é tão invasiva e constante que os pais ficam preocupados e até assustados. Mas, nesta brincadeira apesar de a criança estar absorvida nas suas criações, não confunde a realidade da fantasia e tem plena consciência que os seus amigos imaginários são de faz-de-conta. A investigação tem demonstrado que as crianças que têm amigos invisíveis são geralmente tão bem integradas socialmente como as outras, e não os tendem a substituir pela relação com as pessoas de

“carne e osso”. A sua presença está relacionada com caraterísticas positivas ao longo do desenvolvimento, tais como uma melhor evolução ao nível da linguagem e uma inteligência social mais apurada. O amigo imaginário surge por volta dos 3 anos, coincide com o desenvolvimento da linguagem oral, mas será mais comum entre os 4 e os 5 anos, quando a criança está no pico do período de representação simbólica. Com 7 anos, tende a despedir-se, pois os amigos reais tornam-se muito mais interessantes e as brincadeiras mais desafiantes. No entanto, há sinais de alerta que deverão deixar os pais atentos e que não tem exatamente a ver com a idade. Além da preocupação do amigo imaginário não ir embora com o avanço da idade, os pais também terão de se focar na intensidade e no tipo de brincadeira. A presença do amigo imaginário não o pode afastar das suas atividades do quotidiano, nem substituir a socialização com outras crianças, muito menos desenvolver uma relação agressiva ou violenta. Se os pais perceberem que essa interação está demasiado dependente, será necessário uma observação por um médico ou psicólogo especializado. Apesar do amigo imaginário ser algo previsível e natural na infância, o adulto deverá continuar a promover a socialização com crianças reais.

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3 A 17 AGOSTO 2020


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