16 Amigos em Berlim

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#16AMIGOS EM BERLIM

Eles embarcaram na ideia maluca de correr juntos uma maratona na capital alemã

Fotos: Guto Gonçalves Texto: Yara Achôa



“Amigos são a família que nos permitiram escolher” WILLIAM SHAKESPEARE


©Copyright 2017 by Yara Achôa e Guto Gonçalves

Realização

São Paulo - SP www.estudio13.com.br


PROJETO

#16AMIGOSEMBERLIM Se convencer um amigo para correr uma prova com você, em sua cidade, já é complicado, imagine propor correr uma maratona a 15 pessoas e em outro país? Cris Blanch conseguiu tal feito. E essa emocionante e divertida jornada está nas próximas páginas. Prepare o fôlego!


ENTRE UMA CERVEJA E OUTRA, POR QUE NÃO CORRER BERLIM? Nem bem tinha terminado de completar os 42 quilômetros de Buenos Aires, em 2015, Cristiane Blanch já traçava planos para sua próxima maratona - sempre querendo os amigos por perto. Foi em um churrasco de comemoração após a prova argentina, entre uma cerveja e outra, que o projeto Berlim começou a tomar forma. A ideia era reunir alguns amigos que treinavam juntos na MPR Assessoria Esportiva. A ela se uniram o marido, Ricardo Blanch (mais conhecido como RB), Caio Viana, Cintia Mendes, Daniel Louro, Gleisson Biló, Edna Havlin, Fabiana Santos Biló, Fabiano

Silva, Lívia Costa, Ludia Jung, Marcela Camargo, Marcelo Cassucci Costa, Mariselma Ferreira, Renata Louro e Ricardo Pina. “Todos se inscreveram para o sorteio das vagas da Maratona de Berlim. Mas só a Re e o Dani Louro foram contemplados. Confesso que bateu um certo desânimo. Mas logo vimos que abririam mil vagas com um valor maior, de doação. Elas estariam disponíveis em uma segunda, nove da manhã de Berlim (cinco da manhã no Brasil). Todo mundo acordou cedo e foi para a internet”, conta Cris.


Só que o site congestionou e ninguém conseguiu naquele horário. Então, cada um seguiu com seus afazeres. “De repente o Pina envia uma mensagem dizendo que havia caído um débito no cartão dele. Corri para o computador e fui avisando todo mundo: o Ri fez do trabalho; eu fiz a minha inscrição e também as da Lívia, do Marcelo e do Gleisson. A Re fez da Fabiana. Outros conseguiram de outras maneiras. No final, éramos 16 inscritos! Quando estava tudo certo, tiveram início os preparativos”, lembra. A seguir, cada um dos maratonistas conta sua versão dessa emocionante jornada entre amigos e como foi percorrer os 42,195 quilômetros pelas ruas de Berlim.

se inscreveram para o sorteio das vagas da “ Todos Maratona de Berlim. Mas só a Re e o Dani Louro foram

contemplados. Confesso que bateu um certo desânimo. Mas logo vimos que abririam mil vagas com um valor maior, de doação. Elas estariam disponíveis numa segunda, nove da manhã de Berlim (cinco da manhã no Brasil). Todo mundo acordou cedo e foi para a internet

Cris


CRIS

A PREPARAÇÃO PARA UMA MARATONA É SEMPRE UMA SURPRESA


“Quando a gente se inscreve em uma maratona, primeiro pensa em completar. Depois passa a sonhar em repetir ou melhorar o recorde pessoal (no meu caso, 3h52m, em Buenos Aires)... Foi assim que tudo começou rumo a Berlim 2016. Mas não foi um ano fácil. Logo no início, meu sogro descobriu um câncer e faleceu - e foi um baque para toda a família. A corrida, no entanto, sempre nos motiva e nos ajuda a seguir em frente. Com todos os 15 amigos inscritos, criamos um grupo no Garmin e podíamos ver os treinos uns dos outros. O Caio, nosso ‘coach motivacional’, olhava os resultados e dava até bronca. Dizia que estávamos desperdiçando potencial, que parávamos muito para beber água, que isso e aquilo. Mas também parabenizava quando via nosso esforço. Com isso, todo mundo queria treinar direitinho, porque sabia que o Caio ia ver o treino no final. Fizemos algumas provas juntos durante a preparação. Porém, a que marcou foi uma em que estava sozinha. Em junho, uma semana depois de correr a Meia Maratona do Rio, quando fiz um tempo que não foi tão bom quanto esperava, viajei a trabalho para Chicago e acabei correndo outra meia lá. Falei para todo mundo que seria apenas um treino. Mas quando deu a largada, resolvi arriscar. Pensei: ‘vou correr

o que puder no começo e tentar melhorar ainda mais no final’. E fui indo, melhorando a cada quilômetro. Resultado: bati meu recorde pessoal, com 1h48. Foi uma marca que nunca tinha imaginado. Cheguei emocionada e louca para contar para os amigos. Quando peguei o celular, descobri que o Pina tinha encontrado um aplicativo para acompanhar a prova e, sem eu saber de nada, o grupo todo estava lá, torcendo por mim. Chorei muito. Naquele momento percebi que nunca estaria sozinha - que teria sempre meu marido, minha família e meus amigos na torcida. Em julho, tirei uma semana de férias com meus filhos e fui para a praia, seguindo o ritmo dos treinos. Foi quando comecei a sentir uma fisgada na virilha. Aí começou a saga. No começo de agosto, foi confirmada uma leve lesão. Não precisei parar de correr, mas fui para a fisioterapia e tive que diminuir o ritmo da corrida. Os últimos 45 dias antes da maratona foram assim, cuidando da lesão, treinando, chorando, fazendo fisioterapia, acupuntura, massagem, gelo, promessa. Tudo para poder realizar meu sonho de correr Berlim. O longo de 30 quilômetros seria meu grande teste. Estava tão nervosa, que esqueci de disparar o cronômetro e só percebi dois quilômetros depois do início. Para completar,

fazer a curva final e avistar o “ Ao Portão de Brandemburgo, meus Cris

olhos se encheram de lágrimas


CRIS fazia calor, eu estava cansada, não conseguia acompanhar as meninas... E foi ficando muito difícil. Quando terminei, desabei em choro. Fui consolado pelo meu marido, que contou que quase todo o grupo tinha ‘quebrado’ naquele dia. Apesar do treino ter sido horrível, acho que foi muito importante aquele desabafo. Pior não podia ficar. E de fato não ficou. Dois dias depois, graças ao trabalho de recuperação da fisioterapia, já me sentia melhor. Fui ganhando confiança de novo. Enfim, chegou o grande dia em Berlim. Estava muito ansiosa, parecia que nunca tinha feito uma maratona na vida. Mas também estava muito feliz - todos nós lá, para correr a maratona juntos. Fomos para a largada e, com tanta gente, acabamos nos perdendo uns dos outros. Fiquei com o Ri, o Dani Louro, o Pina, o Fabiano e a Ludia. Pouco antes de começar, tocou a música Try everything, da Shakira, de um filme que tinha assistido com meus filhos. Não aguentei e chorei. Quando os balões que simbolizavam a largada subiram e começamos a correr, caiu a ficha de que o sonho se transformara em realidade. Estava um dia quente e fiquei com medo de desidratar. Fui bebendo água, comendo tudo que a nutricionista recomendou e procurei seguir a linha azul. Na metade da prova, o calor começou a pegar e senti minha panturrilha um pouco travada. Mas resolvi me distrair fazendo contas, projetando meu tempo final, buscando cada quilômetro. Minha cunhada e meu


cunhado estavam lá para nos acompanhar e isso foi demais. Vê-los no quilômetro 7 e saber que acompanhariam minha corrida, assim como outros amigos no Brasil, foi demais. No quilômetro 30, pensei: ‘agora começa a maratona de verdade’. No 35, quando vi o treinador Marcos Paulo Reis, sabia que faltava pouco! Segui fazendo minhas contas e correndo. O ritmo do início da prova tinha aumentado, mas ainda assim vi que dava para baixar meu recorde nos 42 quilômetros. E fui atrás disso. Ao fazer a curva final e avistar o Portão de Brandemburgo, meus olhos se encheram de lágrimas. Mas ainda não era hora de parar. Continuei firme e cruzei a linha de chegada com 3h51m. Olhei o relógio, levantei

Todos terminaram, todos ficaram infinitamente felizes. O sonho tinha se realizado Cris

os braços para o céu e agradeci a Deus, à minha família, aos meus amigos, meus pais e meus filhos. Foi realmente incrível. Na comemoração pós-maratona, descobri que o motivo da Renata ter feito promessa de não comer chocolate - assim como eu - tinha sido que eu melhorasse da lesão e ficasse boa para correr. Chorei demais com essa prova de amizade... Nunca imaginei alguém passar por uma privação dessa por minha causa. Até hoje não tenho palavras para agradecer. Nessa prova, faltaram alguns amigos, como a Dri, a Ju, o Dani e a Fla. Mas os 16 que lá estiveram fizeram bonito. Todos terminaram, todos ficaram infinitamente felizes. O sonho de correr em Berlim tinha se realizado!” Cristiane Santos Blanch, 38 anos, jornalista


RICARDO

O FIM DA MARATONA FOI, NA VERDADE, UM RECOMEÇO DA VIDA “Minha preparação para Berlim foi muito difícil e complicada. Toda vez que eu entrava no ritmo, alguma coisa acontecia. Não corri nos três primeiros meses do ano devido a um assunto familiar. Iniciei meus treinos em abril e, no mesmo mês, tive que fazer uma cirurgia que me tirou da corrida por mais 30 dias. Enfim, comecei a treinar em meados de maio. No final de julho ainda surgiu uma lesão na

panturrilha, que me deixou de molho por mais duas semanas. Não fiz nenhuma prova de 10 quilômetros e nenhuma meia maratona durante a preparação. Foram apenas três treinos acima de 25 quilômetros. E quando me dei conta, estava em Berlim. Para completar, três dias antes da prova, já na Alemanha, uma antiga lesão na virilha deu as caras e começou a doer forte. Eu mancava a dois dias da


maratona. Na manhã da corrida eu ainda sentia dores. Foi assim, neste cenário, que larguei naquele 25 de setembro de 2016. Iniciei a prova com planos A, B, C, D... até Z. Eu tinha bagagem de duas maratonas anteriores (Chicago 2014 e Buenos Aires 2015) e estava preparado para adversidades. Poderia tanto ir para um recorde pessoal como poderia andar os 42 quilômetros para completar. Estava mentalmente preparado para tudo - e esse era meu ponto mais forte, a cabeça. Combinei com outros três amigos do grupo de irmos juntos, no ‘Bonde das 3h39m’. E foi assim que eu, Pina, Daniel Louro e Fabiano seguimos até o quilômetro 21, em um ritmo médio de 5m07s, com muita diversão, dando high-five para as crianças na rua, brincando com os participantes e curtindo muito a prova. O sol abriu e a temperatura subiu rapidamente, mas eu me sentia bem, muito confiante e sem dores! Por volta do quilômetro 28, disse ao Pina que iria acelerar a partir do 30. Então, passei a rodar abaixo de cinco minutos por quilômetro. O calor aumentava, assim como o cansaço, mas segui firme e forçando o ritmo. Até que no quilômetro 40 surgiu uma dor intensa no abdômen. Algo estava errado! Peguei um gel e apenas molhei a boca porque, àquela altura da prova, não tinha água para tomar. Em poucos minutos o incômodo passou, mas o desespero por um pouco de água para diluir o gel me fez correr olhando para os expectadores, procurando alguém na multidão que me salvasse. Fui assim até completar a maratona. Foi uma prova técnica, calculada e recalculada a cada passo.

Saí do Brasil com duas metas principais. A primeira, que considerava agressiva para o pouco volume de treinos que tive, era de 3h40m. A segunda era simplesmente terminar aquilo que eu tinha começado, independente de tempo. Completei em 3h36m05s - meu novo recorde pessoal e debaixo de um calor senegalês. E muito mais importante que o tempo, o que me deixou particularmente feliz foi ter feito uma prova quase perfeita, com 1h47m51s na primeira metade e 1h48m15s na segunda metade apenas 24 segundos de diferença. Cruzei a linha final com a sensação de que todas as adversidades tinham sido superadas e ficado para trás. Aquele ano dificílimo de 2016 terminava ali, naquele momento! Eu finalmente estava livre para seguir meu caminho. O fim da maratona foi, na verdade, um recomeço da vida. A experiência com o grupo de amigos ficou marcada na história de nossas vidas. Muito mais que uma corrida, criamos uma grande família. E descobrimos ainda que além dos 16 em Berlim, haviam mais quatro na torcida no Brasil - gente que acordou às quatro da manhã para nos acompanhar na prova: a Ju de Recife, a Adriana do Rio, o Daniel e a Flavia Moreno de São Paulo. E para tornar tudo ainda mais especial, minha irmã e meu cunhado, que moram em Barcelona, foram até Berlim para acompanhar nossa corrida. Somos apenas dois irmãos. Ver um rosto familiar torcendo por você no quilômetro 39 e 41 não tem preço!” Ricardo Blanch, 45 anos, analista de sistemas


CINTIA


OS AMIGOS ME FIZERAM ACREDITAR QUE, NO FINAL, DÁ TUDO CERTO “Berlim foi minha segunda maratona. Mas a preparação foi muito complicada. E até o último momento não sabia se conseguiria embarcar. Comecei os treinos lesionada e tive de ir para o deep running. Só que também parei por conta de uma alergia. Para completar, meu pai ficou doente e precisei ficar com ele no hospital, em tempo integral. Não tinha como treinar! Faltando três semanas para a prova, meu pai recebeu alta. Foi então que meu treinador liberou uma planilha e passei a treinar. Mas isso não garantia minha ida a Berlim - tudo dependeria de como meu pai estivesse na data da viagem. Mas apesar de todos os tropeços, fui! Sinceramente não sabia se conseguiria terminar a prova. Tanto que nem comprei a camiseta de finisher. Porém, já era uma vitória estar lá. E foi uma prova muito emocionante. Cruzar o pórtico de chegada, depois de 4h53m, foi incrível. Encontrei o Fabiano, meu marido, que me esperava com um abraço cheio de emoção... Completar a Maratona de Berlim significava também que meu pai estava bem e que eu tinha conseguido administrar todas as dificuldades. Ter o grupo de amigos por perto, durante todo o processo, foi fundamental. Foram pessoas muito positivas que me fizeram acreditar que, no final, dá tudo certo!” Cintia Maria Mendes Silva, 47 anos, dentista

Cintia

não sabia se “ Sinceramente conseguiria terminar a prova


FABIANO


ROLOU QUÍMICA

A preparação junto ao grupo foi bem bacana. Porém, tivemos muitas questões de saúde em família, o que deixou a dúvida sobre podermos viajar até praticamente a véspera da prova. Mas

como todo ciclo de maratona, aquela ansiedade gostosa e o encontro com os amigos fortaleceu a vontade de fazer acontecer. Berlim foi minha quarta maratona - e uma corrida muito boa e animada, apesar do forte calor no final. Foi fantástico ver aquilo tudo acontecendo mais uma vez e cruzar o pórtico de chegada em 3h46m, superando a previsão inicial de 4h05m. Ter os amigos me puxando nos primeiros 25 quilômetros fizeram a diferença. Foi um grupo que deu muito certo, rolou química antes durante e depois da maratona!” Fabiano Silva, 46 anos, dentista

Foi fantástico ver aquilo tudo acontecendo mais uma vez e cruzar o pórtico de chegada em 3h46m, superando a previsão inicial de 4h05m Fabiano

“Foi em um evento do grupo #somostodosferas que eu e a Cíntia ficamos sabendo que 14 amigos da assessoria estavam inscritos para o sorteio da Maratona de Berlim. Mas nós tivemos de correr atrás das vagas disponibilizadas por um valor um pouco maior, para doações. Acordamos de madrugada, o sistema travou... Até que, finalmente, deu certo. Foi uma alegria receber o sms do cartão de crédito com ‘compra aprovada’. Daí em diante começou a adrenalina.


DANIEL


A BELEZA DA MARATONA É JUSTAMENTE A INCERTEZA QUE ELA TRAZ “Minha estreia em maratonas foi em Bombinhas (SC), prova de trilha com alta dificuldade, feita em 6h30m. Em 2015, corri Buenos Aires. Na verdade a ideia inicial era fazer só metade da prova, acompanhando minha esposa que corria seus primeiros 42 quilômetros, mas na hora me senti preparado e fui até o final, completando em 4h20m. Berlim, portanto, foi minha terceira maratona, mas a primeira de rua e a que eu fiz ‘para mim’, para forçar e tentar fazer o melhor tempo possível.

A largada certamente foi o melhor momento da prova. A emoção de estar ali foi incrível. Antes de partirmos, propus um ‘abraço coletivo’ para o grupo e falei para lembrarmos o quanto cada um abriu mão para estar ali, vivendo tudo aquilo. E que, portanto, éramos muito merecedores de curtir a experiência. Não sei de onde veio essa inspiração, mas falei!

Os amigos fizeram a diferença em todos os momentos - da preparação à corrida em si. E a Cris, que é a ‘dona’ da agenda de provas de todo o grupo até 2047, foi a grande responsável por esse encontro. E para mim foi ainda mais especial porque dois dias antes da maratona comemorei meu aniversário de 39 anos.

da prova. A emoção de estar ali foi incrível Daniel Louro

certamente “ Afoilargada o melhor momento


DANIEL

Minha prova foi muito boa até a metade. Alguns dias antes tínhamos decidido (eu, Ricardo Blanch e Ricardo Pina) tentar fazer a maratona relativamente juntos, pois tínhamos objetivos e estratégias bem parecidos. Chamamos de ‘Bonde das 3h39m’. Acabamos largando muito forte, um pouco por conta da empolgação e pela adrenalina de estar ali e um pouco puxados pelo ritmo imposto pelo Blanch. Como consequência, bati meu tempo de meia maratona em mais de dois minutos. Mas passando pelo quilômetro 21, comecei a ficar incomodado com a vontade de ir ao banheiro - a ponto de ter de fazer uma parada. Isso me fez perder um pouco o foco na prova e me distanciar do pessoal. Até o quilômetro 35 (onde estaria o apoio MPR) foi uma luta interna sem igual, tentando manter o ritmo e buscando o tempo perdido. Daí para frente foi muito sofrimento me manter correndo. O plano A (3h39m) já tinha ido embora; no quilômetro 35 percebi que provavelmente o plano B (3h50m) também não se realizaria. Então me agarrei ao plano C, meu último objetivo, que era fazer em menos de quatro horas - uma vez que não terminar não era uma opção! Quando finalmente vi o Portão de Brandemburgo, com menos de um quilômetro para terminar a prova, lembrei muito de toda minha preparação. Nos treinos difíceis e nos momentos em que precisava fazer aquele algo mais,


como a vida: por mais que a gente “ Étreine, se prepare e se prive, no final

não temos controle do resultado Daniel Louro

meu pensamento estava ali. Durante meses visualizei cruzá-lo e tocar a mão em uma das colunas, pensando em tudo que estaria sentindo ao terminar minha primeira Major. O que nunca imaginei ou consegui antecipar durante todo esse ciclo é que estaria sofrendo tanto e fazendo tanta força para terminar em um tempo tão acima do que esperava. A primeira coisa que me veio à cabeça foi um pouco de decepção. Achava que passaria por ali, tocaria o portão e daria um sprint final para a chegada. Mas a real é que eu mal conseguia manter meu pace leve de treino. Conforme me aproximava, pensei em passar direto - sem tocar a coluna, para ficar com uma espécie de dívida, uma obrigação de um dia voltar e fazer

de novo aquela prova de uma melhor forma. Maluquice de corredor... Mas eu estava ali e ia completar minha terceira maratona - e não tinha porque me envergonhar ou achar que estava devendo algo. A beleza da maratona é justamente a incerteza que ela sempre traz. É como a vida: por mais que a gente treine, se prepare e se prive, no final não temos controle do resultado. O único controle que temos é sobre a opção de curtir ou não nossa trajetória. Completei Berlim em 3h52m. Agora desejo que venha o próximo ciclo, a próxima maratona e o próximo ‘portão’. Se um dia tiver a oportunidade de fazer Berlim novamente, vou parar e beijar aquele portão!” Daniel Louro, advogado, 39 anos


RENATA

ESTAVA EM UM DIA ÓTIMO, COM UMA ENERGIA INCRÍVEL “Minha preparação para Berlim teve altos e baixos. Quando nos inscrevemos para o sorteio, apenas eu e meu marido, o Daniel, fomos sorteados. Fiquei doida, chorava e dizia: ‘Não quero treinar sozinha’. No final, todos os 16 amigos conseguiram entrar. Sou chorona, tenho essa fama no grupo - e não é à toa. Chorei muito ao longo do ciclo: nos dias de treinos ruins, nos longos intermináveis sozinha, nos treinos bons, com as lesões de amigos.

Mudei de treinador no começo de 2016 e foi muito positivo. Ele me ajudou não só a melhorar minha corrida, como também fez um trabalho mental muito bacana comigo. Preparou minha cabeça, me indicou livros, conversou e teve paciência. Outro fator importante foi ter meu marido treinando para a mesma prova. Isso traz uma parceria incrível, já que os dois estavam no mesmo clima de dieta, treinos, inseguranças e preparação. Além do mais, éramos 16 amigos em busca do mesmo objetivo, treinando em


dias de sol, de chuva, nas férias. Saber que estávamos todos no mesmo barco, nos dando força e ânimo nos momentos mais difíceis, foi um grande incentivo. Sinto que minha corrida amadureceu bastante durante esse processo. A prova foi perfeita! O cansaço nunca chegou, o calor não atrapalhou, o ritmo foi constante do começo ao fim. Eu estava em um dia ótimo, com uma energia incrível. Corri sorrindo do começo ao fim, saí em todas as fotos em um estado alterado de felicidade, mandei beijos para as pessoas que gritavam meu nome, toquei a mão de todas as criancinhas pelo caminho e consegui receber toda a vibração das pessoas que torciam ao vivo ou pelo aplicativo. Alguns amigos queridos, que infelizmente não puderam estar conosco em Berlim, mandaram vídeos um dia antes da prova e ao longo do percurso fui pensando em cada palavra. Também lembrava da voz da minha filhinha dizendo: ‘mamãe, você é muito determinada!’ Tenho certeza que ainda vou conseguir baixar bastante meu tempo de maratona, mas também tenho a sensação de que dificilmente terei uma experiência tão perfeita como foi Berlim. Nada deu errado. Foi a corrida mais maravilhosa que fiz até hoje. Quando passei pelo Portão de Brandemburgo tive que me concentrar para não chorar. Pensava: ‘calma, respira, ainda tem mais para correr’. Mas quando cruzei a linha de chegada a vontade de chorar passou. Eu pulava de tanta alegria e ria sozinha. Nunca vou esquecer esse momento. Meu treinador previu que eu fechasse em 4h07m, meta que achei super ousada. Até o momento da largada tinha em mente que concluir em 4h10m seria ótimo. Completei em 4h03m46s. Muito melhor do que eu imaginava. Foi incrível fazer parte desse grupo, ajudando nos dias ruins, confortando com palavras amigas, elogiando os treinos bons e dividindo sentimentos. Estar com eles em Berlim foi o encerramento perfeito de um ciclo maravilhoso. Estávamos todos na mesma energia positiva, um astral sem igual. Nos abraçamos, choramos, rimos e comemoramos muito o sucesso de todos.” Renata Louro, 39 anos, revisora

Saber que estávamos todos no mesmo barco, nos dando força e ânimo nos momentos mais difíceis, foi um grande incentivo Renata Louro


EDNA

A MARATONA DE BERLIM NÃO TERIA SIDO TÃO ESPECIAL SEM ESSE GRUPO

Completei feliz minha terceira maratona “(também já fiz uma ultramaratona), mas foi a Edna

primeira das Majors. A próxima será Boston


“Eu tinha duas metas de corrida traçadas para 2016. Ou seja, em meados de 2015 já sabia onde iria correr e o que teria de enfrentar. O primeiro objetivo era fazer a Two Oceans, ultramaratona na Cidade do Cabo, na África do Sul. Para isso, precisaria comprovar um índice em maratona até nove meses antes. Escolhi, então, a Maratona de Celebration, na Flórida. Seria no final de janeiro e estaria dentro do prazo para submeter meu tempo para a Two Oceans. De repente, no final de 2015, alguém me diz: ‘Vamos para Berlim no ano que vem? Vai uma turma enorme...’ Fiquei animada, mas achei doideira fazer três provas no mesmo ano, ainda mais para alguém inexperiente. De qualquer forma, falei com meu marido sobre a possibilidade de fazer essas viagens internacionais. Ele disse que não poderia me acompanhar, mas tudo bem se eu fosse. Só que não fui sorteada e também não consegui vaga entre as 1000 adicionais que foram abertas pela organização dias depois. A solução? Comprar

um pacote. Pesquisando agências, encontrei uma em Frankfurt com preço justo - minha ida para Berlim estava confirmada! Em janeiro, lá fui eu fazer a maratona em Celebration - seria minha segunda prova de 42 quilômetros (a primeira foi em Paris, um ano antes). O objetivo era obter o índice para a ultra, treinar a cabeça e as pernas para os 56 quilômetros em março. Mas também tinha um plano ainda mais audacioso: usar essa maratona para conseguir a entrada em Boston 2017. Completei com o tempo de 3h37m. O índice estava garantido - mas não efetivamente, pois o tempo de corte sempre traz incerteza. Resolvi não sofrer e me concentrar na Two Oceans. A ultramaratona foi completada com sucesso em 4h54m56s. No final de abril viajei com meu marido para comemorar meu aniversário de 40 anos. E foi incrível. Acordava cedo, fazia uma corridinha de cinco quilômetros aqui, outra ali, só para não


EDNA ficar totalmente parada. Na volta, em um piscar de olhos, já era junho. E ainda tinha um compromisso de viagem com minha filha mais velha: visitar universidades pelos Estados Unidos e pelo Canadá. Então, tive que ter a disciplina de um soldado para treinar e não ganhar peso. Sempre tinha no carro uma lancheira pronta, muita água e coisas saudáveis para não cair em tentação. Mas de hotel em hotel, dirigindo muito, nem sempre estava disposta para treinar. Sabe o que ajudou? Ter o grupo de Berlim no WhatsApp incentivando! Eu levantava muito cedo ou saía no final da tarde para cumprir minha planilha. Muitos dos meus treinos foram feitos dentro do complexo das universidades, estacionamentos de centro de compras e até mesmo dando voltas no quarteirão. Tive de ser extremamente organizada, calculando todos os nossos passos e compromissos. Funcionou! Duas semanas depois, 14 universidades visitadas e 5000 quilômetros dirigidos e outros corridos entre Estados Unidos e Canadá, eu e minha filha chegávamos à Chicago, onde começaríamos mais uma etapa da nossa jornada: uma reunião familiar que havia sido planejada dois anos antes. Yellowstone era o destino e iríamos acampar. Mudou o cenário, mas não mudei a rotina. Corri em paisagens lindas e em lugares que só um 4x4 passaria... Corri dentro do camping porque havia uma placa enorme dizendo: ‘do not run!’ O motivo? Ursos. O treino saiu ruim: a altitude me pegou e também tinha de carregar um spray de pimenta (a melhor maneira de se proteger de um ataque de urso). Mas treino ruim é aquele que você não fez. Portanto, estava entregue mais um! De volta à São Paulo, a integração


Duas semanas antes de embarcar, uma dor no pé me deixou fora dos treinos e me colocou no transport. Para não me abater, assistia a prova pelo celular enquanto me exercitava. Meu treinador garantia que não perderia condicionamento se fizesse o aeróbio. Mas confesso que fiquei chateada. Afinal, o fim do ciclo que é o gostoso: fazer o último treino na USP e imaginar que a próxima corrida seria a maratona... Em compensação, havia recebido a confirmação para Boston 2017. Já em Berlim, fomos à feira, nos divertimos, almoçamos juntos, fizemos passeios. No sábado, após o trote com a turma da MPR, encontramos com Kipsang e Mutai na rua. Bom presságio! Tiramos fotos e ficamos extasiados. Meu marido chegou no sábado à noite, fomos jantar e logo voltamos para descansar para o grande dia. Seria minha primeira Major! Ver aquelas linhas azuis me deu frio na barriga - a ficha havia caído. O dia seguinte não seria um domingo qualquer. Esposas e esposos que foram de staff fizeram um super esquema para nos encontrar durante a prova. No quilômetro 7, vejo os amigos me chamando e ouço também um ‘I love you’. Era meu marido, Jeff, tirando fotos. Deu uma alegria enorme vê-los ali. Depois eles se posicionaram entre os quilômetros 20 a 23. O cansaço começou a aparecer, mas queria passar bem pelo quilômetro 35, quando

encontraria o coach. Parei um pouco antes e me recompus. Depois de ver o Marcos Paulo, o Fábio e outros que estavam lá esperando, deu aquele up! A cabeça dizia: ‘já veio até aqui, agora são só mais sete, bora terminar!’ No quilômetro 36, Jeff reapareceu feito um ninja e gritou ‘Edeeenaa!’. Mandei beijo e foquei. Alguns metros mais adiante, olhei para o lado e lá estava ele correndo na calçada e gritando ‘Come on, you can do it’. Aquele gesto fez passar um filme na cabeça, me remetendo ao passado: a primeira competição de atletismo da minha filha, eu correndo pela grama, do lado de dentro da pista, ao lado dela, gritando e incentivando. Não sabia que iria fazer isso, foi o impulso de amor, carinho, de querer dizer ‘vai, que estou com você’. Se faltava combustível para os quilômetros finais, esse foi o meu. Depois da última curva, avisto o Portão de Brandemburgo. E pertinho dele, escrito no chão ‘don’t crack under pressure’. Pensei: ‘de jeito nenhum, vem comigo Verinha (Abruzini)’. Dei aquele sprint final, que a gente não sabe de onde tira força. Minha quarta maratona, a terceira do ano, a primeira Major veio em forma de RP. Conclui em 3h29m56s. Uma sensação extremamente boa de dever cumprido. Que ano! O mais brilhante foi a união do grupo, os laços que foram formados e fortalecidos. De longe ou perto conseguimos nos fazer presentes e ajudar uns aos outros. Cada maratona tem a sua beleza, encantamento e particularidade. A maratona de Berlim, com certeza, não seria a mesma sem esse grupo. Extremamente grata por ter feito parte. Foi realmente incrível!” Edna Havlin, 40 anos, analista de sistemas

Sabe o que ajudou? Ter o grupo de Berlim no WhatsApp incentivando! Edna

com o pessoal foi fundamental para entrar no clima da Maratona de Berlim. Em um café da manhã na casa da Ludia - que virou almoço e virou jantar -, o Caio conseguiu o que eu não havia conseguido em meses. Meu marido havia aceitado acompanhar o grupo! Dois dias depois, ele estava com passagens compradas.




RICARDO

FOI MINHA QUARTA MARATONA E A MAIS EMPOLGANTE E MARCANTE “Apesar de ter feito minha inscrição no final de 2015, só confirmei minha ida em julho de 2016, depois de avaliar questões pessoais e profissionais. Antes e durante a preparação aconteceram contratempos, como a mudança de treinador e contusões. Outra dificuldade foi baixar o peso. Mas depois de muitos anos brigando com a balança, acima de 80 kg, consegui reduzir para 78,5 kg. Foi minha quarta maratona e, sem dúvida, a mais empolgante e marcante por diversos motivos. Primeiro, estava com minha esposa, Carmen Lúcia, assistindo, acompanhando e vivendo o clima todo comigo. Depois, foi uma experiência única, compartilhada com amigos tão queridos que

foram cúmplices durante meses de treinos longos e cansativos. Por fim, significava muito percorrer as ruas e as avenidas de Berlim - marcadas por uma triste história de perseguição ao povo judeu e de separação da nação alemã, frutos da 2ª Guerra Mundial, mas que foi reescrita há 27 anos com a queda do Muro. No dia anterior à prova, eu, o Ricardo e o Daniel criamos o ‘Bonde das 3h39m’ - nosso objetivo de tempo para terminar a corrida. Tínhamos feito treinos longos juntos e a meta era factível, dentro do panorama mais favorável. Na expectativa da largada juntou-se a nós outro amigo, o Fabiano. Largamos na segunda onda e sentimos todo


o clima dos mais de 41.000 participantes. Logo imprimimos um ritmo bem mais forte do que o planejado para o início da prova. Mas todos estavam bem e se revezavam no comando do ‘bonde’. Uma ajuda fundamental e que fez diferença nesta maratona foi a Carmen Lúcia e mais dois amigos ‘trabalharem’ como nosso staff durante o percurso. Ela não só me entregou isotônico antes de dois postos oficiais - o que evitou desgaste e estresse -, como esteve presente em mais dois pontos da prova para incentivar e torcer. Cada vez que a encontrava, meu ânimo era renovado e a minha alma massageada. Apesar da manhã quente, havia um vento agradável que minimizava o efeito do calor. E assim o ‘bonde’ seguiu até pouco depois da metade da prova. Eu estava muito bem até o quilômetro 25. Porém, o pace inicial foi bem menor que o planejado e isso pesou na segunda metade da maratona. Depois de duas horas de prova, a temperatura subiu. Além disso, o incômodo na virilha - uma das contusões que tive durante a preparação - reapareceu. A essa altura, apenas eu e o RB estávamos no mesmo ritmo. Foi quando a Ludia (também conhecida como ‘japa ventosa voadora’) passou por nós. O RB acelerou a partir do quilômetro 30 e quis me puxar. Senti que não seria possível. Meu

pace caiu até o 35, mas ainda seria possível atingir o tempo de 3h39m. Quando avistei a igreja Kaiser Wilheim Gedächtniskirche (ainda marcada pelo bombardeio sofrido na 2ª Guerra) sabia que estava próximo da avenida Tauentzienstraße, onde encontraria os treinadores Fabio Rosa e Marcos Paulo para incentivar e entregar a Coca-Cola. E pouco depois reencontrei a Carmen Lúcia passando aquela baita energia. Foi incrível o resultado disso, tanto que melhorei o pace no quilômetro 36. Mas infelizmente não foi possível manter o ritmo. As pernas estavam muito pesadas e não obedeciam mais ao comando. Então, meu foco mudou para diminuir ao máximo meu RP (3h48m15s). Os últimos quilômetros foram bem sofridos e eu só pensava no Portão de Brandemburgo. Pouco antes de cruzá-lo, ouvi um grito de uma voz bem conhecida vindo da torcida junto às grades - era Carmen Lúcia novamente! Estampei o sorriso no rosto, tirei a bandeira do Brasil do bolso, atravessei o Portão pela passagem do meio e desfraldei a bandeira com as duas mãos. E ainda tive força para saltar e encostar os dois pés no ar ao cruzar o pórtico de chegada, com meu recorde pessoal de 3h42m19s. Apesar de ser um atleta amador, sempre busco melhorar o meu tempo a cada prova. E havia conseguido!” Ricardo Pina, 48 anos, engenheiro eletrônico


FABIANA

BERLIM SERÁ SEMPRE LEMBRADA PELA MARATONA DOS MEUS AMIGOS “Berlim foi minha maratona de estreia. Comecei a treinar no início de 2016 e estava tudo indo bem. Até que na Meia Maratona do Rio, no final de maio, me machuquei. Interrompi a corrida e fui para o deep running. Fiz por dois meses e depois, aos poucos, voltei para a rua. Só que nunca havia feito um longo acima de 22 quilômetros ou três horas na piscina. Isso me deixava com medo. Durante todo o tempo pensava no que poderia acontecer, porque essa distância era praticamente a metade da prova. Não tinha ideia se chegaria ao quilômetro 30. Já em Berlim, estava feliz mas queria correr logo.

Comecei muito bem. Só que meu ‘muro’ apareceu no quilômetro 22, exatamente onde sabia que era meu limite. Dali para frente foi uma luta mental. Decidi ir por etapas. Coloquei como meta ir até o quilômetro 30 e fui olhando tudo em volta, curtindo as bandas. Depois, meu objetivo passou a ser chegar até o treinador Marcos Paulo, que estaria no 35. Estava ansiosa, precisava ver um rosto familiar para me dar força. E foi maravilhoso encontrá-lo. Aí, só faltavam sete quilômetros. Pensei: ‘se vim até aqui, vou até o final!’ E segui feliz porque estava fazendo algo por mim e me superando.


Cruzar o pórtico de chegada foi uma das passagens mais emocionantes! Chorei tanto... Ali, percebi que valeu a pena. Vi que podia fazer tudo o que quisesse, se estivesse disposta. Só dependia de mim. Ao chegar, pelo celular, comecei a receber muitas mensagens de amigos que me acompanhavam pelo aplicativo. Foi um momento único. Completei a Maratona de Berlim em 4h35m. Não era exatamente o que eu esperava, mas também como não tinha ideia do que ia encontrar, não me incomodei. Tanta gente machuca e desiste. Outras pessoas chegam em cinco horas ou mais, chorando de felicidade. Eu só tinha de agradecer pelo meu tempo e por ter feito uma boa prova e uma viagem sensacional com meus amigos.

Cruzar o pórtico de chegada foi um dos momentos mais emocionantes! Chorei tanto...

Todos, sem exceção, foram importantes na minha preparação. Mas alguns merecem Fabiana destaque. O primeiro é o Gleisson, meu marido: sem ele não teria conseguido. Ele me apoiou o tempo todo, deu suporte quando eu mais precisava, me ajudando no período da lesão e me fazendo acreditar que conseguiria. A Ludia e a Renata me acordavam todo dia de manhã para treinar. Tenho dificuldade para levantar cedo. Mas com a maior paciência e companheirismo do mundo, elas me ligavam e só ficavam tranquilas quando eu saia da cama. A Cris, minha irmã, foi quem me levou para esse mundo das corridas - sem ela não teria começado isso! E meu cunhado, o Ricardo, que sempre acreditou em mim. Foi meu companheiro em uma prova, aguentou meu mimimi e me ajudou a bater meus recordes. O Caio era a pessoa que revisava os treinos online, dando apoio, suporte e broncas. E teve ainda a família ‘Glamour’ - Lívia, Marcelo e Pina. Ficamos na mesma casa em Berlim. Estar com eles no pré e pós prova foi sensacional e só fortaleceu nossa amizade.” Fabiana Santos Biló, 30 anos, gerente de consultoria trabalhista e previdenciária

Claro que quero melhorar, buscar performance. Mas Berlim será sempre lembrada pela maratona dos meus amigos. Os 16 estavam juntos em tudo. É o tipo de amizade mais sincera que pude conhecer. E cada um buscando sua superação e atingindo seus objetivos... É um orgulho que não cabe no peito.


GLEISSON

NÃO TERIA CORRIDO A MARATONA SE NÃO FOSSE PELOS AMIGOS “Sempre gostei de esportes, mas correr era uma coisa recreativa: gostava de ir ao parque no sábado pela manhã para rodar cinco ou sete quilômetros. Até que minha querida esposa, a Fabi, começou a falar de um tal de Marcos Paulo e passou a ir todo sábado de manhã para a USP para correr. Eu treinava boxe na academia de segunda a sexta e ia com ela fazer aquele cooper suave no sabadão se sol. Daí comecei a ter de levá-la também para fazer provas de 10 quilômetros aos domingos. Até que um dia resolvi correr junto. Depois de algum tempo, ela decidiu encarar a Meia Maratona do Rio. E lá fui eu acompanhar. Sem nenhum treino, consegui uma inscrição em cima da hora e terminei os 21 quilômetros quase morrendo, em 2h31m. Depois de uma semana sem andar direito, resolvi que faria a prova do próximo ano (2016) e entrei para a MPR. Passei a treinar com a equipe, mas no meio da preparação abandonei a assessoria. Corria sozinho e os 15 amigos chamavam isso de ‘treinos secretos’. O fato é que completei a Meia do Rio em 1h58m. A esta altura eu já estava inscrito para a Maratona de Berlim. Aliás, aqui vale uma explicação sobre porque ‘decidi’ fazer a prova. Estávamos em um churrasco na casa dos Blanch - eles e vários amigos comemorando conquistas esportivas -, quando surgiu o papo sobre Berlim. Depois de algumas cervejas, fiquei sem noção e falei que ia correr também. Mas achei que ficaria por isso mesmo, sabe como é, papo de bêbado... Quando vi, estava participando do sorteio. Em dezembro, véspera do resultado, eu e a Fabi


Enfim, chegou Berlim. Quando largamos, esqueci do tempo que queria fazer e fui me divertindo. Corri tranquilo até o quilômetro 35. Os últimos sete foram difíceis. Não conseguia mais ler as anotações no braço, não conseguia pegar gel, não conseguia mais fazer high-five nas crianças. Só queria avistar o portão. Cruzei o pórtico de chegada com 4h19m09s - tempo superior ao sub4h que desejava, mas tudo bem. Não dá para falar de Berlim sem mencionar a ‘Mansão Glamour’, onde naqueles dias viveram os Biló, os Pina e os Cassucci. Foi uma convivência muito legal. Estar com 15 amigos em um desafio como esse me fez perceber que eu não era o único a ter problemas. Foi um desafio para todo mundo. Cada um enfrentou suas dificuldades e se superou. Não teria corrido se não fosse por eles.

fomos para Orlando e ficamos esperando notícias. Logo soubemos que ninguém do grupo havia sido sorteado. Pensei: ‘Ufa! Dei sorte. Vou fingir que fiquei triste de não poder correr uma maratona’. Mas, para minha surpresa, o povo conseguiu dar um jeito. Não tinha como voltar atrás. Depois da Meia do Rio, ainda sem assessoria, decidi continuar meus treinos para a maratona sozinho. Até que meus conselheiros - a ‘Ludia Champa’ e o ‘Professor Caio’ - me convenceram a voltar para a MPR e tentar com o ‘Roses’ (treinador Fábio Rosa). Retornei, mirando fazer Berlim em 3h58m. Daí foi só sofrimento: corria de manhã, corria à tarde e corria à noite. Nos treinos longos não tinha paciência de ficar dando voltas na USP, então saía de casa correndo e inventava o percurso na hora - às vezes estava muito sol, às vezes chovendo, às vezes eu ficava cansado e ligava para a Fabi me buscar no meio do caminho, às vezes falava que nunca mais ia correr uma maratona... Mas essa até que foi a parte fácil. A difícil foi frequentar a casa de um amigo que todo final de semana nos esperava com cervejas, risotos, pão italiano - e isso tudo para quem está de dieta é muito legal! Só que não. Fora que tinha a casa da mãe, da sogra, festinha da Fefê, festinha do Rô, festinha da Cris, festinha de Boston do Cassucci, festinha junina, festinha da escola, festinha, festinha, festinha...

Minha ideia inicial era que Berlim fosse a primeira e última maratona. Mas agora já penso em fazer São Paulo, Rio de Janeiro, Chicago, Tóquio, Nova York. E até Berlim de novo, por que não?” Gleisson Daniel Biló, 38 anos, advogado


LÍVIA

A FORÇA QUE TIVEMOS DURANTE A PROVA VEIO DA VONTADE DE VIVERMOS TUDO ISSO JUNTOS “Berlim foi a minha quarta maratona. Antes corri o Desafio do Pateta na Disney (janeiro de 2013); a Maratona de Santiago (abril de 2014); e a Maratona de Buenos Aires (outubro de 2015). A preparação foi intensa e longa, começando pela dificuldade da própria inscrição, feita em dezembro de 2015. E logo no começo de 2016 tive uma lesão no tendão direito. Fiquei quase um mês sem correr, fazendo fisioterapia. Foquei na reabilitação e fiz tudo direitinho para que o problema não atrapalhasse depois. Pelo caminho ainda tinha a Maratona de Boston, que meu marido, o Marcelo, faria em abril. Conseguir o índice para essa prova é tão difícil e tão maravilhoso, que achei que era o momento dele. Assim, apenas após nosso retorno da viagem aos

Estados Unidos, passei a ter condições de iniciar minha preparação rumo à Berlim. Treinar para os 42 quilômetros exige sacrifícios pessoais, profissionais e familiares. Mas fui muito disciplinada. Fazia tudo o que meu treinador indicava, gabaritava as planilhas, seguia as orientações da nutricionista, fazia fortalecimento muscular, alongamentos, enfim, tudo para ter a melhor condição possível. Ao longo dos meses, evoluía na corrida na mesma proporção em que emagrecia. E o melhor de tudo, sem lesões. A Maratona de Berlim foi maravilhosa. Desde o início me senti bem, forte e focada. Sabia que era o meu dia e que ia fazer um bom trabalho. No início,


estava em um ritmo mais forte do que o planejado, mas tranquila. Pensava em cada mensagem de incentivo que havia recebido, assim como me lembrava de cada amigo e familiar que poderia estar acompanhando a prova e torcendo. Pensei muito, também, no privilégio de estar ali, naquele lugar, fazendo uma das coisas que mais gosto, com saúde. Lembrava a todo momento das minhas filhas, que tinham ficado no Brasil, e do exemplo de determinação que gosto de passar para elas - ou seja, tinha de dar o meu melhor. Várias vezes falei em voz alta: ‘Obrigada, meu Deus!’ No quilômetro 33 o cansaço começou a bater, mas lembrei que dois quilômetros adiante eu encontraria o Marcos Paulo. E segui determinada a encontrá-lo. Ganhei uma Coca-Cola salvadora e, sem parar, gritei que estava bem e parti mais animada até o quilômetro 38. Nesta altura, comecei a controlar minha mente para não me entregar ao cansaço. Antes de cruzar o pórtico de chegada, Berlim nos oferece a passagem pelo Portão de Brandemburgo. Ao avistá-lo, ainda que de longe, a emoção bateu forte, mas me segurei para não chorar, já que estava com um tempo de prova melhor do que esperava e não queria estragar tudo. Faltando uns 200 metros para a chegada, me entreguei à felicidade! Abri os braços em sinal de gratidão por todo o ciclo, por mais uma conquista pessoal, pela oportunidade de ter conseguido chegar ali, feliz. E assim, agradecida e extasiada, concluí a prova em 3h42m51s. Foi uma marca bem melhor do que

imaginava. Em Buenos Aires, já havia conquistado o meu sub4h e tinha como recorde pessoal o tempo de 3h58m. Confesso que o tempo de prova é importante para mim. Gosto de me superar. Várias coisas contribuíram para isso: a disciplina e a determinação durante os treinos; as variáveis que me foram favoráveis no dia da prova (clima, cabeça) e, principalmente, a turma toda reunida e feliz, realizando um sonho que sonhamos juntos! Formamos uma verdadeira família. Foram inúmeros treinos, cafés, almoços, happy hours, aniversários, celebrações. Estávamos sempre juntos, comemorando, torcendo uns pelo outros, trocando mensagens, confidências, angústias e alegrias. Vários percalços - pessoais, profissionais, familiares - surgiram pelo caminho. Em certos momentos, temíamos por um ou outro não poder chegar até o fim. Por isso, foi emocionante ver todos em Berlim, concluindo a prova e se superando. Essa força que tivemos veio desta união, desta vontade de vivermos tudo isso juntos!” Lívia Calovi Fagundes Costa, 42 anos, advogada


MARCELO

AO CRUZAR O PÓRTICO DE CHEGADA BATE UM SENTIMENTO DE DEVER CUMPRIDO

Marcelo

Cada um sabe, pelo olhar, o que o outro está sentido. Não somos mais apenas amigos, somos uma família.


“A preparação para uma maratona nunca é tranquila. Os treinos são pesados. São três meses de dedicação e algumas privações. Para Berlim, que foi minha quinta, em especial, tive pouco tempo de recuperação, já que em abril havia feito a Maratona de Boston. Então, os treinos quase que emendaram. A prova em si foi bem tranquila - o percurso colabora para um bom resultado. E cruzar o pórtico de chegada, como sempre, é emocionante. É aquele instante que passa um filme muito rápido na sua cabeça - os treinos, a dedicação e o quanto foi gratificante se privar de tudo. Bate um sentimento de dever cumprido. Foi meu melhor tempo nos 42 quilômetros: completei em 3h06m - em Boston havia concluído em 3h10m. Sei que tempo não é tudo, mas é importante para mim. Até agora Papai do Céu tem me ajudado neste ponto. Busco sempre melhorar a cada prova e tenho um pouco de ‘medo’ do momento em que isto não acontecer. Meu objetivo, um dia, é ser sub3h. A emoção de correr com este grupo foi sensacional. Cada um sabe, pelo olhar, o que

o outro está sentido. Não somos mais apenas amigos, somos uma família. Estou na MPR há três anos. Mas conheci a Cris e o Ricardo Blanch antes de entrar para a assessoria. Trabalhei com o RB em 1994 em uma empresa de TI. E o destino da corrida fez com que agora, cada um com a sua família constituída, nos encontrássemos novamente. A Cris é ótima e está sempre pilhando a gente para o próximo projeto. A ideia de Berlim surgiu em um almoço na casa dos Blanch. Ela resolveu reunir todos os que tinham feito uma maratona em 2015 e pediu que levássemos as medalhas para a comemoração. Eu tinha feito Porto Alegre (onde consegui o índice para Boston), outros tinham corrido Chicago, outros Berlim... Ali ela lançou a ideia. Lembro que falei: ‘Está doida, Cris? Eu ainda nem fui para Boston e você já está programando Berlim?’ Achei uma loucura. Mas o tempo foi passando, as pessoas aderindo... E não é que fomos e já voltamos e todos estão muito felizes com tudo o que aconteceu antes e depois?” Marcelo Cassucci Costa, 49 anos, engenheiro


LUDIA

SOU MUITO GRATA POR TUDO QUE A CORRIDA ME ENSINOU E ME DEU “Já havia feito a Maratona de Berlim em 2015, completando em 4h23m. Em 2016, meu alvo era a Maratona de Porto Alegre, que aconteceu no mês de junho. Eu e meu marido, o Caio, até nos inscrevemos para o sorteio de Berlim. Como não fomos contemplados e havia a questão financeira, focamos na prova da capital gaúcha. No meio do ciclo, no entanto, com tantos amigos indo para a Alemanha e a criação da hashtag #14amigosemberlim, o Caio secretamente começou a sondar as possibilidades de nos juntarmos a eles. E um dia me apresentou todo o ‘plano’: tinha cuidado de inscrição, parte financeira, datas. Quase tive um treco, até porque iríamos emendar uma maratona na outra. Respirei fundo e com muito medo disse ‘sim’! No dia 22 de maio, em um café da manhã com a turma, contamos a novidade. O Caio começou a fazer um discurso motivacional e, de repente, falou que seriam #16amigosemberlim! Foi uma gritaria. Faltavam 27 dias para a minha segunda maratona e eu já tinha data marcada para a terceira.

A prova de Porto Alegre foi uma grata surpresa. Tudo fluiu muito bem e fiz no tempo de 3h46m, um resultado surpreendente por todo o meu histórico. E uma semana depois, iniciava os treinos para Berlim. Tinha dias que acordava feliz e confiante e dias que não queria sair da cama. Eram tantas restrições (alimentares, vida social, família), que não estava aguentando. Tive treinos muito bons e outros que foram uma porcaria. Um dos mais marcantes foi um longo de três horas, que parei com duas horas e meia. Simplesmente não queria mais, não conseguia dar mais um passo. Depois fiquei mal, me sentindo incompetente e fraca. Apesar dos perrengues, também tivemos muita diversão: café da manhã que virou almoço, que virou jantar; fotos, boomerang, memes, comemorações, conversas. O dia anterior da prova foi um pouco tenso. Foi quando a ficha começou a cair. Berlim havia sido minha primeira maratona, um ano antes, na qual havia passado muito mal. Nos dois últimos quilômetros eu


Quando avistei o Portão de Brandemburgo, vibrei. Estava inteira. Todo o medo tinha ido embora. E me senti mais forte e capaz para qualquer coisa na vida - porque sempre fui muito insegura, medrosa. Naquele momento agradeci pela corrida ter entrado na minha vida. Conclui em 3h36m42s. E com este tempo, também conquistei o índice para a Maratona de Boston 2018. Nunca havia imaginado que isso pudesse acontecer. Foi uma experiência única e mágica. De # 14amigosemberlim passamos para # 16amigosemberlim, que depois viraram #16amigosemberlim + 4 na torcida, resultando em #21amigosemmilaventuras. E também não podemos esquecer de outros quatro integrantes - Jú, Dri, Flávia e Daniel - que ficaram no Brasil torcendo e nos apoiando como parte dessa família tão especial que formamos. praticamente me arrastei. Então, tinha uma ‘dívida’ para acertar e tinha medo de que tudo desse errado de novo. Chorei, conversei com o Caio e orei muito. Pedi a Deus proteção, força e coragem para ir até o fim. Pedi também por todos meus amigos e em especial para o meu marido que estava machucado e não sabia bem ao certo o que poderia acontecer. A largada foi pura emoção. Passou um filme na minha cabeça, desde meu início na corrida. Nunca havia imaginado que eu, uma pessoa sedentária a vida toda e com zero talento para os esportes, estaria fazendo a terceira maratona. Comecei a prova conservadora, por causa do calor. Mas a cada quilômetro ousava um pouco mais. O tempo todo agradecia por poder estar lá, com saúde, com meus amigos. Chorava de emoção e sorria, muito feliz, mas sempre concentrada. Foi bom e revigorante encontrar amigos que nos acompanhavam como staff - Carmen Lúcia, Rafael, Adriana e Gil - em vários trechos da prova, torcendo e tirando fotos. Segui em frente até que encontrei os meninos Dani Louro, Ricardo Blanch, Ricardo Pina e Fabiano. Percebi que estava indo bem. No quilômetro 35, foi a vez de contar com o apoio da equipe MPR. No quilômetro 40 senti um baque - foi justamente nesse trecho que havia ‘quebrado’ em 2015. Perdi um pouco a concentração e a perna chegou a falhar. Olhei para o céu e pedi: ‘Por favor, de novo não. Preciso terminar essa prova’. E assim me recompus.

A grande mentora do projeto foi a Cris - nossa organizadora oficial de eventos. Ela é incansável! Aliás, neste exato momento já deve ter criado mais uns 20 projetos que em breve descobriremos. Sou muito grata por tudo que a corrida me ensinou e me deu. Que venham novas histórias e aventuras. Em breve #21amigosem....” Ludia Fonseca Jung, 35 anos, administradora de empresas


CAIO


MOSTREI O QUANTO EU SOU FORTE E CAPAZ DE SUPERAR DIFICULDADES “Não sei exatamente quando comecei a correr, mas em 2006 fiz minha estreia em provas de rua, em um percurso de oito quilômetros. A decisão de enfrentar a ‘senhora’ maratona aconteceu em 2013. De lá para cá já foram cinco: Buenos Aires, Chicago, Berlim (2015), Porto Alegre e Berlim (2016).

Aparentemente era algo simples - em 10 ou 15 dias estaria de volta ao asfalto. Parei um tempo. Depois fui para esteira. Mudei para o transport. E nada de a dor diminuir. Só quando fui para a bike é que parou.

Eu e a Ludia demoramos um pouco para embarcar nessa aventura com os amigos na Alemanha. Já havíamos estado lá no ano anterior. Além disso, tínhamos outras questões: seriam duas maratonas em um curto espaço de tempo (primeiro faríamos Porto Alegre) e teríamos de ajustar o orçamento, sem contar os riscos de lesões. Depois de muitas análises, em maio decidimos fazer parte desta jornada dos #16amigosemberlim.

O que era simples se mostrou complexo. Precisava manter o cardio com os treinos de bike e o fortalecimento com a musculação, além de tratamentos como fisioterapia, acupuntura, massagem e laser. Para fazer um esforço mais próximo ao da corrida eram necessários quatro treinos de bicicleta por semana, incluindo um longo no sábado de duas a três horas. Mais: duas sessões de musculação por dia, de manhã e à noite, sete vezes por semana. Minha vida se resumia a acordar, treinar, trabalhar, treinar e dormir.

Porto Alegre foi uma prova incrível e com recorde pessoal: 2h56m38s. Eu deveria descansar um mês, mas logo voltei aos treinos - e mantive a dieta e os treinos rigorosos. Só que logo me lesionei.

Faltando três semanas para a prova, a lesão não havia curado. Duas semanas antes, arrisquei um trote na rua. Foram apenas oito treinos de corrida até o dia de embarcar. Foram momentos difíceis.

Daria um ‘tiro’ até onde aguentasse. Respirei fundo e fui Caio


CAIO

E chegou o grande dia em Berlim! Como todo pré-prova, fico concentrado, repassando a estratégia. Aos primeiros raios de sol, fechei os olhos, abri os braços e pensei: ‘Hoje vou fazer força, vou colocar em prática todo o sofrimento que tive até aqui.’ Agradeci a Deus por aquele momento tão especial. Estava pronto! Nos primeiros cinco quilômetros, imprimi um ritmo forte. Apesar do corpo fluir bem, sem dores, sabia que deveria diminuir pois não era aquela minha estratégia e a conta iria chegar. Controlava o pace a cada quilômetro. E como não estava fazendo força máxima, fui curtindo a prova! Tudo foi bem até o quilômetro 15, quando a dor da lesão reapareceu. No quilômetro 20, precisei diminuir. A partir do 25, o quadro ficou preocupante e pensei nos planos B, C e D. O cardio estava perfeito, mas as pernas não respondiam. Passei pelo quilômetro 30 e pensei: ‘Mantenha-se firme para passar bonito no 35, onde muita gente está te esperando.’ A dor já tomava conta de todas as partes do corpo. No quilômetro 39, decidi: era o momento do tudo ou nada. Daria um ‘tiro’ até onde aguentasse. Respirei fundo e fui. Em segundos o coração veio na boca, o pulmão explodiu, o ritmo encaixou e a dor diminuiu muito. Passei por alguns amigos, gritei seus nomes e ao mesmo tempo acelerei. Os três quilômetros finais foram os mais rápidos da prova toda - sendo o último em 3m59s. Ao cruzar o Portão de Brandemburgo, antes da chegada, veio a vontade de chorar,


mas segurei firme. Um ano antes, eu fazia ali em Berlim minha maratona sub3h. Agora, mostrava para mim mesmo o quanto era forte e capaz de superar as dificuldades. Já avistando o cronômetro, segui apertando o pace e tentando fazer pose para as fotos. Braços abertos, gestos de gratidão e muito choro: havia chegado o fim da linha! Chorei de soluçar. Estava em êxtase. Fechei a prova em 3h10m19s. Todo o processo de preparação me fez uma pessoa melhor. Foi um grande aprendizado. Construí um novo Caio, mais forte, mais paciente e com novos parâmetros para suportar a dor. E fazer parte dos #16AmigosEmBerlim foi uma lição de amor e amizade. Espero que cada um possa carregar em seus corações a coisas boas que passamos. Na minha jornada, ainda tiveram outras pessoas extremamente importantes como os @ Runners (Aldo, Beto, Daniel, Peppito, Messa, Robson, Thiago, Vagner, Gui, Octavio, Dario, Luizinho, Marcelo, Gus e João); os fisios Guga, Cassio, Marcelo, Mara, Valeria; o médico DOC Maglioca; os treinadores Fabio Rosa e Marcos Paulo; e em especial minha esposa e parceira, Ludia, que me apoiou em todos os momentos. Devo muito a ela.” Caio Viana, 31 anos, gestor de recursos humanos


MARISELMA

MINHA DETERMINAÇÃO E A FORÇA DOS AMIGOS ME EMPURRARAM ATÉ A CHEGADA


“Berlim foi minha primeira maratona - quando decidi correr 42 quilômetros era lá que desejava minha estreia. Mas até cruzar a linha de chegada, enfrentei muita coisa. Tive uma lesão no pé faltando nove semanas para a prova. À princípio, retomaria os treinos em três semanas - o que não aconteceu. Tive de ir para o deep running. Para quem gosta de correr na rua, ter que fazer todos os treinos em uma raia de piscina é algo enlouquecedor. Mas era o que dava para fazer. Até hoje não sei de onde tirei pique para fazer um longo de 180 minutos dentro da água! Só fui voltar a correr no dia da maratona. Para piorar, 20 dias antes de viajar, tomei - com prescrição médica - um remédio para a dor e tive uma crise de pancreatite induzida pelo medicamento e fiquei internada três dias. Cheguei a pensar que não iria para a Alemanha. Apesar dos percalços, o grande dia chegou e ele estava lindo. Eu não havia me curado da lesão, mas ia correr. A dor veio no quilômetro 10 e gerenciei essa dor por 32 quilômetros, alternando

o comprimento das passadas. Passadas curtas diminuíam o impacto e a sensação dolorosa era menor. Foi psicologicamente muito cansativo. Mas para tirar o foco da dor, eu cantava as músicas quando passava pelas bandas e vibrava com a animação das pessoas pelo caminho. Me lembro de cada detalhe e de como tudo era organizado e bonito. Em todas as fotos da prova apareço sorrindo. Foi sensacional. Sinceramente acredito que a força da torcida dos amigos e minha determinação e vontade de fazer a Maratona de Berlim me empurraram até o pórtico final, concluindo os 42 quilômetros em 3h57m. Não tem outra explicação para não ter desistido daquele sofrimento. Foi ótimo estar perto desses 15 amigos durante a preparação e conhecer outros tantos. Os treinos e a prova, sem dúvida, foram legais. Mas as pessoas que conheci nessa jornada tornaram-se o maior presente. Quase uma segunda medalha!” Mariselma Ferreira, 42 anos, professora universitária

Os treinos e a prova, sem dúvida, foram legais. Mas as pessoas que conheci nessa jornada tornaram-se o maior presente Mariselma


MARCELA

MINHA PRIMEIRA MARATONA FOI UM MISTO DE FORÇA, PODER E FELICIDADE


“Estava muito apreensiva com a preparação para Berlim, pois me programei para fazer minha primeira maratona em 2015 e logo no início do treinamento me machuquei. Desde então, passei a me dedicar aos treinos funcionais para me recuperar da lesão e garantir uma musculatura forte. Todos me falavam que o ciclo era desgastante. E realmente foi. Mas me surpreendi comigo mesma porque gostei muito da preparação. Encarei cada dia como se fosse único, sem pensar nos próximos e, assim, não sofria por antecipação. Cada treino era uma conquista, uma superação, com recordes de distância e tempo. Lógico que nas últimas semanas o corpo começou a reclamar e algumas dores apareceram, mas nada preocupante.

Quando avistei o Portão de Brandemburgo, escorreram lágrimas dos meus olhos. E a sensação de cruzar o pórtico de chegada foi de completa superação. Senti um misto de força, poder e felicidade. A impressão era de que eu ‘podia tudo que quisesse’. Conclui a maratona em 4h15m - longe do planejado, que era sub4h. Fiquei um pouco decepcionada pois de acordo com os treinos que vinha fazendo o tempo seria melhor. Mas depois de alguns dias, quando familiares, amigos e colegas começaram a ligar para dar parabéns e dizer que queriam ver minha medalha, foi que percebi que correr uma maratona já era uma grande conquista (almejada e invejada pela maioria) e que o tempo realmente não importava. Foi muito emocionante estar ao lado de 15 amigos nessa jornada. Formamos uma grande família, dividindo angústias, conquistas, decepções e preocupações. Tudo ficou mais fácil porque, além da corrida, tinha a conversa, a foto, o café da manhã, o aniversário, a fisioterapia, a nutricionista... Tudo isso, com todos juntos e misturados, fez parte da preparação que ficou mais divertida e leve”. Marcela Jardim Camargo, 44 anos, engenheira de alimentos

Formamos uma grande família, dividindo angustias, conquistas, decepções e preocupações Marcela

Em Berlim, a prova começou muito tranquila: estava feliz, calma e confiante. Mantive o ritmo desejado, curtindo cada esquina da cidade. Porém, depois do quilômetro 25, apareceu uma forte dor na virilha, quase insuportável. Tive de me ‘rastejar’ para concluir. O final foi meio dramático, com muita dor. Ao mesmo tempo estava muito feliz por ter conseguido.





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