Educação Sexual: pra que serve?

Educação Sexual PRA QUE SERVE?

UM COMPILADO DE ARTES E TEXTOS Alunos: Bruna Baleeiro, Jara Rampon, Letícia Voltolini Pedro Lobato

Trabalho desenvolvido pelos estudantes da Biologia UFSC para a disciplina de Tópicos em Biologia e Educação com o viés de problematizar a educação sexual no Brasil e encontrar debater nossos papeis como futuros educadores.

Arte: Pedro Lobato

O que é educação sexual?

Educação sexual vem a título de abordar e apresentar uma intervenção necessária nos espaços educativos, uma vez que discute questões importantes como gênero, autoestima, corpo, as mudanças físicas e emocionais que ocorrem em ambos os sexos, como na fase de adolescência, as expressões da sexualidade, o sexo e as responsabilidades que devem ser assumidas ao praticá-lo, principalmente na prevenção de infecções sexualmente transmíssiveis (ISTs) como a Aids, de gravidez não planejada, e, assim como métodos contraceptivos.

Isto contribui, então, para a edificação da personalidade dos indivíduos, oportunizando questionamentos, reflexões e discussões que formam e possibilitam a pessoa se conhecer a respeito de sua sexualidade.

A educação sexual deve possibilitar o desenvolvimento de um indivíduo de maneira a viver a sua sexualidade de forma mais responsável e prazerosa.

Devido a isso, a sexualidade deve ser encarada como um dos elementos que compõem a identidade e identificação pessoal, compreendendo o processo de desenvolvimento integral de cada indivíduo cultural e social. Neste sentido, a educação sexual é denominada emancipatória, por estar comprometida com a transformação social, na qual o indivíduo necessita desenvolver sua autonomia com as questões ligadas aos valores e comportamentos sexuais.

É de suma importância esta educação ser presente em todas as fases de crescimento de um indivíduo, pois, isto implica no conhecimento acerca de si mesmo e do próximo.

O desconhecimento, o não dito, pode gerar fantasias e angústias. E a dificuldade de definir sua própria identidade, pode ser extremamente negativa para o desenvolvimento da criança, porque consequentemente também bloqueia a expressão do ser e de suas emoções, podendo interferir diretamente no seu modo de viver.

É de imenso valor estimular essa busca pelo autoconhecimento e autoestima desde cedo, e não reprimi-la, o orientador ou educador deve abrir espaços para dúvidas e responder aquilo que lhe é questionado de forma natural, abrangente e sem tabus a fim de mitigar a curiosidade que é despertada na formação da criança desde sua primeira infância. Apesar de ser evidente que esse ideal é na realidade muito diferente do nosso atual modelo de educação e tratado como tabu em muitas famílias brasileiras.

Arte: Jara Rampon

O que é educação sexual e a importância dela para desenvolvimento de uma pessoa É tendo conhecimento de si e de seu corpo, que o indivíduo se torna capaz de promover o cuidado consigo e com o outro. Ele tem noção da responsabilidade que carrega em suas escolhas e os meios para que, em suas experiências pessoais, só se leve à diversão.

A consciência e o respeito de como nos identificamos e de quem gostamos também é parte de um processo de transformação social.

Portanto, quando a educação sexual supera tabus e mitos envolvendo as relações de poder, aceitação, respeito pelas diferenças, questões de gênero e sexualidade, ela forma indivíduos com visões positivas da sexualidade, satisfeitos, saudáveis e felizes consigo, assim como cientes de que seu prazer também é um ato político, contribuindo na construção de valores e atitudes sociais.

educação é o melhor contraceptivo!

Arte: Letícia Voltolini

Como a educação sexual é empregada no país atualmente ?

Na década de 1920, feministas lideradas por Bertha Lutz, propuseram implantar educação sexual nas escolas, com foco na proteção da infância e maternidade, mas com o passar do tempo e dos acontecimentos históricos, como o período da ditadura no Brasil, essa luta foi ganhando muitos obstáculos por movimentos conservacionistas.

1970: Comissão Nacional de Moral e Civismo emite parecer contra a ES nas escolas: “não se abre à força um botão de rosa, sobretudo com as mãos sujas ” (BARROSO; BRUSCHINI, 1982)

Mais recentemente, alguns programas surgiram: Programa Brasil sem Homofobia : “[...] promover a cidadania de gays, lésbicas, travestis, transgêneros e bissexuais, a partir da equiparação de direitos e do combate à violência e à discriminação homofóbicas.” (BRASIL, 2004, p. 11).

As Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs) mais gerais foram publicadas em 2013 e as específicas, tratando da formação de professores em 2015: Educar para os direitos humanos, como parte do direito à educação, significa fomentar processos que contribuam para a construção da cidadania, do conhecimento dos direitos fundamentais, do respeito à pluralidade e à diversidade de nacionalidade, etnia, gênero, classe social, cultura, crença religiosa, orientação sexual e opção política, ou qualquer outra diferença, combatendo e eliminando toda forma de discriminação. (BRASIL, 2013, p. 165)

Afinal, o que é "ideologia de gênero"?

O termo foi criado – num contexto da Igreja Católica- como reação contra os avanços das teorizações feministas e de gênero.

Hoje podemos perceber a forte adoção do termo, cercado de argumentos falhos e não científicos, por figuras que incentivam o impedimento da implementação da educação sexual e de gênero para crianças, adolescentes e até mesmo adulto, para barrar avanços dos direitos humanos a demandas envolvendo direitos sexuais e reprodutivos.

Desse modo, outros conservadorismos religiosos passaram a combater, a então chamada “Ideologia de Gênero”

[...] não é apenas a Igreja Católica e as organizações pró-vida “ que se reúnem em torno de seus preceitos religiosos as únicas instituições que lideram essa cruzada. Organizações evangélicas se uniram à “causa” e em vários países da região tiveram um enorme impacto para impedir o avanço dos direitos sexuais e reprodutivos. Somam-se a esses grupos, outros, os quais apoiam a batalha por razões não apenas religiosas, caso do Programa Escola sem Partido, no Brasil, criado em 2004 como reação às práticas educacionais que seus defensores definem como “doutrinação política e ideológica na sala de aula” e “usurpação do direito dos pais sobre a educação moral e religiosa de seus filhos”.

(MISKOLCI; CAMPANA, 2017, p. 729-730)

Nem sempre a busca pela expressão da afetividade e por prazer na juventude é amparada por uma Educação que aborde a sexualidade em seus aspectos biológicos, culturais e sociais, como recomendam os parâmetros curriculares de ciências do Ministério da Educação (MEC).

O resultado disso é a continuidade de comportamentos de risco, como o não uso de proteção durante a relação sexual, por exemplo. De acordo com a Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (Pense), em 2015, dos adolescentes do 9° ano do Ensino Fundamental sexualmente ativos, 33,8% disseram não ter usado camisinha na última relação sexual. Apesar disso, 7 em cada 10 afirmaram ter recebido informação a respeito na escola. Ou seja, apenas passar informação não é suficiente.

Porque devemos lutar por uma educação sexual para todes?

A falta de uma reflexão mais ampla sobre a sexualidade humana também favorece a persistência da intolerância e da violência, enfraquecendo o combate ao preconceito, ao abuso sexual infantil e à violência contra a população LGBTQI+ (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros) e contra a mulher – tópicos fundamentais para o Brasil, que ainda convive com índices alarmantes de crimes dessas naturezas. Avançar em um ensino de Educação sexual de maior qualidade nas escola é, portanto, literalmente caso de vida ou morte.

Trechos retirados de: https://todospelaeducacao.org.br/

Arte:Bruna Baleeiro

Qual o papel do educador nisso tudo Todos nós, desde o momento em que nascemos, somos seres sexuais e, ao longo de nossas vidas, criamos e desenvolvemos diversas características e concepções sobre sexo, orientação sexual, nossos corpos e o que “podemos ou não fazer com eles”. Esse processo de construção e de formação do sujeito e de suas ideias, nada mais é do que processo de ensinoaprendizagem. A sexualidade de cada pessoa, em seus mais variados aspectos, desperta e se manifesta com o aprendizado, sendo uma experiência única para cada indivíduo.

O professor, como educador sexual, tem o papel de lutar para criar condições saudáveis e confortáveis para que os alunos construam seus conhecimentos sobre sexualidade. Também cabe a ele, orientar os alunos sobre a amplitude do tema, realizar abordagens políticas, sociais e culturais sobre o tema e instruílos quanto a questões corporais, médicas e reprodutivas – bem como formação da identidade sexual e a desconstrução de estereótipos e de tabus.

O educador, durante uma aula de educação sexual, torna-se alguém com quem os alunos podem tirar dúvidas, compartilhar experiências, satisfazer sua curiosidade, além de os ensinar a respeitar os outros e a si mesmos.

MATERIAIS QUE INDICAMOS Explicando Ep. 5 Temp. 1 - "O Orgasmo Feminino" (Netflix) Explicando - O Sexo (Minissérie Netflix) New me - ep "Prazer sexual feminino nas relações heterossexuais" (podcast Spotify) "Rubens" - música da banda Premeditando o Breque (Premê) Cartilha "Vamos falar sobre sexualidade?" Material educativo para promover a saúde sexual e reprodutiva na adolescência. (USP, Enfermagem).

REFERÊNCIAS BRASIL. Ministério da Saúde. Conselho Nacional de Combate à Discriminação. Brasil Sem Homofobia: Programa de combate à violência e à discriminação contra GLTB e promoção da cidadania homossexual. Brasília (DF), 2004.

MISKOLCI, R.; CAMPANA, M. “Ideologia de gênero”: notas para a genealogia de um pânico moral contemporâneo. Revista Sociedade e Estado. V. 32, n. 3, 2017.

Brasil. Ministério da Educação. Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais da Educação Básica. Secretaria de Educação Básica. Diretoria de Currículos e Educação Integral. Brasília: MEC, SEB, DICEI, 2013.

BUENO, R.C.P.; RIBEIRO, P.R.M. História da Educação Sexual no Brasil: Apontamentos para reflexão. Revista Brasileira de Sexualidade Humana. V. 29, n. 1, p. 49-56, 2018.

BARROSO, C.; BRUSCHINI, C. Educação Sexual: debate aberto. Editora Vozes: Petrópolis, RJ, 1982. CÉSAR, M.R.A. Gênero, sexualidade e educação: notas para uma "Epistemologia". Educar em Revista, Curitiba, n. 35, p. 37-51, 2009 GUIMARÃES, I. Educação Sexual na escola: mito e realidade.

Campinas, SP: Mercado de Letras, 1995.

BRITTOS, Eritânia Silmara de; SANTOS, Aline Bruna dos; GAGLIOTTO, Giseli Monteiro. A IMPORTÂNCIA DA EDUCAÇÃO SEXUAL NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES: O PROJETO LABORATÓRIO DE EDUCAÇÃO SEXUAL ADOLESCER E A INTERVENÇÃO NECESSÁRIA JUNTO AOS ADOLESCENTES NO ESPAÇO ESCOLAR. Anais do Simpósio Internacional de Educação Sexual, Maringá, n. 3, 2013. Disponível em: http://www.sies.uem.br/anais/pdf/educacao_sexual_escolar/408.pdf. Acesso em: 1 maio 2021.