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Campinas, 14 a 20 de março de 2016 - ANO XXX - Nº 649 - DISTRIBUIÇÃO GRATUITA
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CORREIOS
FECHAMENTO AUTORIZADO PODE SER ABERTO PELA ECT Foto: Antonio Scarpinetti
O caçador de partículas invisíveis 3
Cientistas do Instituto de Física Gleb Wataghin (IFGW) desenvolveram um telescópio que coleta partículas invisíveis, conhecidas como múons, produzidas na atmosfera da Terra pela colisão de raios cósmicos. “Em um metro quadrado, a cada segundo, passam mais ou menos 140 múons”, afirma o professor Anderson Fauth, coordenador das pesquisas.
O professor Anderson Fauth, coordenador das pesquisas, observa diagrama de cinturões de radiação Van Allen
Células-tronco para fins oftalmológicos
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Matemática ajuda a combater o ‘Amarelão’ Metodologia classifica farinha de pão integral
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China vai lançar 2º laboratório espacial
Aplicativo simula anestesia odontológica Biomarcadores para depressão e esquizofrenia
Entidade questiona uso indiscriminado do valor-p
TELESCÓPIO
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Sob a lona do circo, as escolas do riso
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TELESCÓPIO
CARLOS ORSI carlos.orsi@reitoria.unicamp.br
Foto: Andrey Atuchin/Divulgação
Olho de células-tronco
O clima e o ictiossauro
Pesquisadores baseados no Japão e no Reino Unido apresentam, na revista Nature, uma técnica para a conversão de células de pluripotência induzida (iPS) em tecidos que existem no olho humano, como córnea, conjuntiva e retina. Os autores transplantaram células de córnea geradas desse modo em coelhos cegos, e conseguiram restaurar a visão dos animais. Em outro trabalho na mesma edição da revista, cientistas dos Estados Unidos e da China descrevem o uso de células-tronco naturais do corpo do paciente para a cura da catarata. Com uma nova técnica cirúrgica, esses pesquisadores conseguiram retirar o cristalino – uma lente que existe no interior do olho e que se torna opaca na catarata – preservando as células-tronco que existem naturalmente na cápsula que envolve a lente, e que permanece no olho. Operações experimentais realizadas em animais e, também, em crianças mostraram uma regeneração natural do cristalino a partir dessas células, após a cirurgia. Em comentário que contempla ambos os artigos, a pesquisadora em oftalmologia Julie Daniels, do University College London, lembra que uma das principais barreiras aos transplantes é o risco de rejeição, reduzido quando se usam células do próprio paciente, problema contornado tanto no caso das iPS – que são produzidas a partir da pele – quanto da nova técnica para catarata.
Os ictiossauros, grupo de espécies de répteis marinhos pré-históricos semelhantes aos modernos golfinhos, foram levados à extinção por instabilidades do clima, diz artigo publicado no periódico Nature Communications. Os ictiossauros desapareceram 90 milhões de anos atrás, cerca de 30 milhões de anos antes da chamada Extinção K-T, que pôs fim ao domínio dos dinossauros. Pesquisadores da Universidade de Oxford, no Reino Unido, estabeleceram uma correlação entre a perda de diversidade desses animais e mudanças no meio, como variações no nível e na composição dos oceanos. “Os últimos ictiossauros caracterizavam-se por taxas reduzidas de evolução fenotípica, e as altas taxas e extinção correlacionam-se com a elevada volatilidade ambiental”, diz o artigo.
Bactéria come PET Uma equipe de cientistas japoneses anuncia, na revista Science, a descoberta de uma bactéria, Ideonella sakaiensis, que é capaz de consumir o plástico PET (Polietileno tereftalato), largamente utilizado na fabricação de embalagens descartáveis, principalmente bebidas: cerca de 56 milhões de toneladas de PET foram produzidas no mundo em 2013. Embora se trate de um material facilmente reciclável, muito pouco do PET produzido no mundo é de fato reaproveitado. O acúmulo de plásticos no meio ambiente, e seu impacto sobre a vida nos oceanos, é uma grande preocupação contemporânea. Uma linha de pesquisa popular envolve a busca por plásticos biodegradáveis, que se decompõem ao longo do tempo, mas esses materiais costumam ser mais caros e difíceis de produzir que as variedades comuns. Os autores no novo trabalho adotaram um caminho diferente: a partir de um plástico barato e popular – o PET – buscaram, no ambiente, um organismo capaz de decompô-lo. “Ao fazer a triagem de comunidades microbiais naturais expostas ao PET no meio, isolamos uma nova bactéria”, escrevem os autores. “Essa cepa produz duas enzimas capazes de hidrolisar o PET”. Essas enzimas, juntas, convertem o PET em ácido tereftálico e etileno glicol. Num comentário à descoberta, também publicado na Science, o pesquisador alemão Uwe T. Bornscheuer diz que a bactéria poderá se mostrar útil para retirar o plástico do ambiente, e acrescenta que “se o ácido tereftálico puder ser isolado e reutilizado, isso poderia causar enormes economias na produção de novos polímeros, sem a necessidade de matérias-primas baseadas em petróleo”, num ganho extra para o meio.
Par de ictiossauros nada num oceano do início do Cretáceo Superior, época em que a espécie foi extinta
Armas e mortes O número de mortes causadas por armas de fogo tende a cair depois da adoção de leis restringindo a compra e o porte, diz estudo realizado por pesquisadores americanos e publicado no periódico Epidemiologic Reviews. Num levantamento de 130 pesquisas sobre os efeitos das mudanças na legislação de armas de fogo em 10 países – incluindo no Brasil – entre 1950 e 2014, os autores, da Escola de Saúde Pública da Universidade Columbia, apontam que, embora o resultado global seja inconclusivo, leis limitando o acesso a armas de fogo correlacionam-se a um número menor de mortes por acidentes, homicídios e suicídios envolvendo essas armas. “Leis restringindo a compra (por exemplo, checagem de ficha criminal) e o acesso (por exemplo, exigências de armazenamento seguro) também se associaram a taxas menores de homicídios por parceiro íntimo e de mortes acidentais de crianças, respectivamente”. O estudo pode ser lido em http://epirev.oxfordjournals.org/content/38/1/140.full .
Corrigindo a relação entre os sexos Desde o nascimento do primeiro “bebê de proveta” em 1978, mais de cinco milhões de pessoas já vieram ao mundo graças ao procedimento de fertilização in vitro (IVF, na sigla em inglês). No entanto, o processo, que também se mostrou importante para o melhoramento genético de animais, é vulnerável a consequências indesejadas ligadas à manipulação e à cultura dos embriões antes da implantação no útero. Entre essas consequências estão os chamados efeitos epigenéticos, em que perturbações no ambiente afetam a expressão correta dos genes. Uma dessas consequências, já constatada tanto em seres humanos quanto em outros animais, é uma preferência pelo sexo masculino: sabe-se que a IVF produz um excesso de embriões masculinos viáveis. Artigo publicado no periódico PNAS aponta a causa desse desvio, ao menos em camundongos gerados por IVF: a falha na inativação de um dos dois cromossomos X do embrião feminino. Essa inativação é
necessária para evitar possíveis efeitos tóxicos da presença de genes duplicados no par de X presente nas fêmeas. Os autores, da China e dos Estados Unidos, determinaram que a falha é causada pela presença de uma quantidade insuficiente da proteína Rnf12, e que a taxa de machos e fêmeas pode ser reequilibrada por superexposição à proteína, ou pela suplementação de ácido retinoico no meio de cultura dos embriões.
Cuidado com o valor-p A Associação de Estatística dos Estados Unidos (ASA, na sigla em inglês) publicou, no início do mês, uma nota advertindo cientistas contra o uso indiscriminado do “valor-p”, uma ferramenta estatística tradicionalmente adotada para determinar a “significância” de uma descoberta: considera-se significativo um achado cujo valor-p seja igual ou menor que 5%. Esse limiar de 5% acabou se tornando uma espécie de pré-requisito para publicação no meio acadêmico. A nota da ASA condena tanto as interpretações informais do valor-p – muitas vezes visto como equivalente à probabilidade de o resultado do estudo ser falso – quanto o uso indiscriminado do limiar de 5%. “O valor-p nunca pretendeu ser um substituto para o raciocínio científico”, disse, em nota, o diretor-executivo da ASA, Ron Wasserstein. A manifestação da Associação (que pode ser acessada em http://amstat.tandfonline. com/doi/pdf/10.1080/00031305.2016.115 4108) esclarece que o valor-p fornece uma estimativa de “o quanto os dados são incompatíveis com um modelo estatístico especificado” e que esse indicador “não é uma medida da probabilidade de que a hipótese em estudo seja verdadeira, ou de que os dados tenham sido produzidos por pura sorte”. A ASA faz ainda a seguinte exortação: “conclusões científicas, decisões de negócios e de políticas públicas não devem depender apenas de se um valor-p ultrapassa um certo limite”.
China no espaço A agência de notícias oficial chinesa Xinhua anunciou, no fim de fevereiro, que o país asiático lançará seu segundo laboratório espacial, chamado Tiangong-2, no segundo semestre deste ano. Alguns meses depois, uma cápsula Shenzhou-11 levará dois astronautas para ocupá-lo. No início de 2017, um segundo módulo – composto pelo primeiro cargueiro espacial chinês, Tianzhou-1 – será lançado e ligado ao laboratório, ampliando o espaço para experimentos. Todas essas manobras fazem parte do esforço chinês para contar com uma estação espacial própria, permanentemente tripulada, em órbita até 2022. A China vem investindo bastante em seu programa espacial tripulado desde que se tornou, em 2003, o terceiro país a pôr um homem no espaço por meios próprios, depois de Rússia e Estados Unidos.
Recordes orbitais O astronauta Scott Kelly, que retornou à Terra no início de março, após 340 dias a bordo da Estação Espacial Internacional (ISS), tornou-se o americano que mais tempo passou, continuamente, no espaço. Sua missão, no entanto, foi apenas a quarta mais longa de um ser humano fora da Terra: o recorde ainda pertence ao russo Valeri Polyakov, que entre 1994 e 1995 ficou 437 dias a bordo da estação Mir. Assim como no caso de Kelly, a missão de Polyakov tinha por objetivo avaliar as mudanças fisiológicas no corpo humano durante longas viagens espaciais: já então se falava num possível futuro voo tripulado a Marte. Já a mulher que mais tempo passou continuamente no espaço foi a italiana Samantha Cristoforetti, que ficou 199 dias a bordo da ISS entre 2014 e 2015. Por conta dessa missão, Cristoforetti também detém o recorde europeu de tempo passado em órbita.
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3 Campinas, 14 a 20 de março de 2016
O coletor de
Fotos: Antonio Scarpinetti
partículas invisíveis
Telescópio do IFGW investiga os efeitos secundários de raios cósmicos que chegam à Terra CARLOS ORSI carlos.orsi@reitoria.unicamp.br
o subsolo do Instituto de Física Gleb Wataghin (IFGW) da Unicamp, quatro pirâmides metálicas – dispostas como um par de ampulhetas, ocupando todo pé-direito da sala, onde se encontram também bancadas e computadores – coletam múons, partículas invisíveis geradas por raios cósmicos e que passam através das lajes de concreto do prédio e dos corpos humanos sem se fazer notar. “Em um metro quadrado, a cada segundo, passam mais ou menos 140 múons”, explica o pesquisador Anderson Fauth, responsável pelas “ampulhetas” que formam o telescópio Muonca [acrônimo para Múons em Campinas]. “Os múons são partículas instáveis, produzidas na atmosfera da Terra pela colisão de raios cósmicos”, disse Fauth. “Esses raios, por sua vez, são núcleos de átomos, a maioria deles são prótons”. Raios cósmicos podem chegar à atmosfera da Terra vindos de diferentes fontes, e de diversos pontos do espaço. “Há um espectro de energia dos raios cósmicos”, explicou o pesquisador. “Existem raios cósmicos tanto de energias relativamente baixas a até energias que estão entre as mais altas já estudadas, de uma magnitude que não se encontra nem mesmo em aceleradores de partículas”. O Muonca estuda os efeitos secundários de raios cósmicos que chegam à Terra com energias altas demais para serem pesquisados por satélites no espaço. Múons são partículas de carga elétrica negativa (ou positiva), igual à do elétron (ou pósitron), mas com massa cerca de 200 vezes maior. Os que chegam à superfície terrestre são produzidos a partir da interação entre raios cósmicos e núcleos de átomos dos gases da atmosfera, como o nitrogênio e o oxigênio. “Durante a interação de um próton vindo do espaço com um núcleo, o núcleo se rompe e produz partículas secundárias instáveis, que são os mésons. Alguns mésons decaem em múons, que depois vão decair em elétrons e neutrinos”, descreveu Fauth. “Os múons têm a caraterística de ser penetrantes, fazem uma trajetória praticamente retilínea”, disse ele. “Eles não sentem a força nuclear forte presente no núcleo dos átomos que encontram pelo caminho e, embora tenham carga elétrica, como têm grande massa e viajam muito rápido, são muito pouco afetados pelas interações eletromagnéticas”.
Em seu trabalho inicial, descrito na dissertação de Débora e também em apresentação feita na 34ª Conferência Internacional de Raios Cósmicos, realizada na Holanda entre julho e agosto do ano passado, o Muonca foi usado para investigar dois dos chamados “eventos Forbush”, que ocorrem quando a atividade solar impede que parte dos raios cósmicos galácticos penetre o campo magnético terrestre. O nome dado ao fenômeno remete ao físico americano Scott E. Forbush, que estudou raios cósmicos nas décadas de 30 e 40 do século passado. Eventos Forbush acontecem após emissões coronais de massa (CMEs, na sigla em inglês), ocorrências violentas, em que o Sol dispara “labaredas” para o espaço. Quando as CMEs são lançadas na direção da Terra, as partículas emitidas interagem com a atmosfera e o campo magnético do planeta e podem causar problemas para satélites de comunicação e, mesmo, nas redes de distribuição de energia elétrica. Em março de 1989, um blecaute que durou por 12 horas na província de Quebec, no Canadá, foi causado por a uma intensa CME. “Nessas explosões, o Sol acelera partículas, prótons e alguns íons leves”, explicou Fauth. “E, se essas partículas chegam à Terra, podem formar uma espécie de blindagem, uma grande blindagem magnética, que faz com que outros raios cósmicos, originados de outros pontos do espaço, sejam bloqueados”. Esse bloqueio diminui a produção de múons na atmosfera, que leva a uma queda na contagem de partículas no telescópio. “O que estudamos, na primeira parte do projeto, são efeitos de blindagem, os distúrbios no campo magnético da Terra que fazem com que essa radiação cósmica tenha variações”, disse. Variações do fluxo de múons detectadas pelo Muonca e vinculadas a eventos Forbush, em setembro e dezembro de 2014, foram comparadas às variações do fluxo de nêutrons – outro tipo de partícula elementar, nesse caso também vinculada aos raios cósmicos – captadas na estação americana McMurdo, localizada na Antártida. As leituras do Muonca e de McMurdo mostraram-se compatíveis, o que foi uma ótima notícia para o projeto brasileiro. “Fizemos a comparação com McMurdo porque lá se trata de um detector muito estável: se alguém viu o evento, McMurdo viu”, explicou o pesquisador. “E os dados de lá estão disponíveis na internet”. Fauth acrescenta que as CMEs geram efeitos globais, porque são muito maiores que a Terra: “Na hora que vem a nuvem de partículas, a Terra é pequenininha em comparação, então todos os detectores vão enxergar o fenômeno”. No entanto, também há efeitos locais, dependendo da posição do detector na superfície terrestre, e em relação ao campo magnético do planeta.
“Às vezes, se a emissão não é exatamente centrada, haverá um equipamento que vai enxergar primeiro. E o corte geomagnético vai ser diferente, porque cada detector vai ter um corte próprio. Também há partículas diferentes: para produzir os nêutrons, por exemplo, precisa-se de uma energia menor que os múons”. Um retrato mais completo da CME e de seus efeitos sobre a Terra depende, portanto, da combinação dos dados de uma diversidade de equipamentos, tanto baseados em pontos diversos do planeta, como o Muonca e McMurdo, como no espaço, em satélites.
CIÊNCIA E INDÚSTRIA O pesquisador destaca que o Muonca foi todo montado na Unicamp. “Foi construído totalmente aqui. É a única experiência de raios cósmicos que foi construída e que toma dados no Estado de São Paulo, e está aqui, na Unicamp”. Ao chamar a atenção para esse fato, ele afirma que é preciso integrar melhor a indústria nacional à ciência. “Atualmente, você tem a globalização, então tem os grandes experimentos internacionais, e é necessário que o Brasil participe deles”, ponderou Fauth. “Porque a Física é uma ciência experimental: só se avança tomando dados, fazendo medidas, analisando as medidas e comparando com modelos. É um processo que requer obrigatoriamente dados fundamentais: se não tem os dados fundamentais, a Física não progride”. Essa parte experimental, disse ele, envolve esforços cada vez maiores. “O pesquisador precisa inserir o seu trabalho dentro de uma colaboração internacional onde vão estar países como EUA, França, Japão. E a nossa indústria tem que participar disso, e aí é que está o problema”, declarou. “Se me derem US$ 10 milhões para fazer uma experiência, vou comprar equipamentos de última geração lá fora, mas isso não traz desenvolvimento social aqui para o Brasil”.
“Para ter realmente desenvolvimento social, é preciso ter a conexão entre o desafio científico, de fazer um experimento inédito, e a indústria, de tal maneira que você financia a pesquisa e desenvolvimento na indústria para esta construir equipamentos inexistentes e o cientista fazer a experiência de física pura, que não terá aplicação de curto prazo, mas você está financiando o desenvolvimento de um know-how tecnológico para o qual a indústria vai encontrar mercado, seja na agricultura, no setor espacial, nas telecomunicações, onde for”, apontou.
DIDÁTICA
Além de coletar dados sobre raios cósmicos e atividade solar, o Muonca também vem ajudando no ensino de Física dentro do IFGW. “Os múons são perfeitos para a atividade didática”, disse o pesquisador. “Porque você tem condições de fazer medidas de velocidade para mostrar que são partículas relativísticas”. Partículas relativísticas são aquelas que viajam a velocidades altas o suficiente para sofrer os efeitos previstos por Albert Einstein na Teoria da Relatividade Especial, como a dilatação do tempo: para essas partículas, o tempo passa mais devagar do que para um observador parado, ou que esteja se movendo a velocidades comuns. “Usamos os detectores do Muonca e outros equipamentos para medir a vida média desses múons, utilizando um método de medição relativamente simples. A vida média do múon, depois que é gerado, é 2,2 microssegundos”, explica. “Eles são produzidos na alta atmosfera, a 15 km de altitude. Se você faz as contas utilizando a mecânica clássica, ignorando a relatividade, eles deviam se desintegrar depois de viajar 400 metros, não daria tempo de chegarem aos detectores. Só dá para explicar a presença deles aqui usando a relatividade especial, então é uma atividade didática demonstrando que as equações de dilatação do tempo e contração do espaço têm efeitos reais”.
Publicações Dissertação: “Telescópio de múons para estudo da atividade solar” Autora: Débora Nunes Barros de Vasconcelos Orientador: Anderson Fauth
BLINDAGEM
O Muonca é o único observatório de raios cósmicos em funcionamento no Estado de São Paulo. Ele trabalha em conjunto com um observatório-irmão localizado na Universidade Federal Fluminense (UFF), e sua montagem, bem como a tomada de dados inicial, fez parte da dissertação de mestrado de Débora Nunes Barros de Vasconcelos, “Telescópio de múons para estudo da atividade solar”, orientada por Fauth, que também orientou o trabalho “Estudo e montagem de um telescópio de múons” de Henrique Vieira de Souza, que recebeu o prêmio de Mérito Científico no XXII Congresso de Iniciação Científica da Unicamp.
O telescópio Muonca, desenvolvido por pesquidadores do Instituto de Física Gleb Wataghin: cerca de 140 múons por segundo
O físico Anderson Fauth, coordenador das pesquisas: “É necessário que o Brasil participe de experimentos internacionais”
Tese: “Estudo e montagem de um telescópio de múons” Autor: Henrique Vieira de Souza Orientador: Anderson Fauth Unidade: Instituto de Física Gleb Wataghin (IFGW) Financiamento: Fapesp
4 Campinas, 14 a 20 de março de 2016 Fotos: Antonio Scarpinetti
Matemática avalia ação de praga que infesta laranjais Modelo desenvolvido na FEEC analisa impacto do “Amarelão”, doença que mais atinge citricultura do país Lavoura de laranja na região Norte do Estado de São Paulo, maior produtor da fruta no país
SILVIO ANUNCIAÇÃO silviojp@reitoria.unicamp.br
m modelo matemático desenvolvido na Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação (FEEC) da Unicamp pode ajudar os agricultores numa melhor avaliação do impacto de uma praga que vem assolando as lavouras de citricultura do país: a doença Huanglongbing (HLB), mais conhecida como “Amarelão” ou Greening. Ainda sem cura, a praga causada por bactérias tem sido a mais devastadora dos laranjais de São Paulo, o principal produtor mundial de suco de laranja, ao lado do Estado da Flórida, nos Estados Unidos. No final de 2013 produtores brasileiros arrancaram quase 22 milhões de pés de laranja para combater a doença. O melhor tratamento para o HBL, que também atinge plantações de limões, tangerinas, limas e pomelos, é a eliminação de plantas contaminadas e o controle do vetor, o psilídeo (Diaphorina citri), um inseto de três a quatro milímetros de comprimento. Considerando fatores como produtividade, idade da planta e estado epidemiológico, o modelo desenvolvido na Unicamp fornece informações importantes de como a praga se comporta e se dispersa ao longo do tempo. O modelo foi desenvolvido pela matemática Ana Paula Diniz Marques como parte de sua dissertação de mestrado defendida junto ao Programa de Pós-Graduação da FEEC. O trabalho foi orientado pelo docente Takaaki Ohishi, que atua no Departamento de Energia e Sistemas da Unidade. “Nos últimos anos houve uma crise muito forte no setor citrícola ocasionada pelos custos altos da produção, preços baixos pagos aos produtores, falta de alternativas para escoar a produção e o aumento da incidência da doença. Por conta disso, muitos produtores já abandonaram as lavouras de citros. Portanto, um dos nossos objetivos foi desenvolver um modelo para tentar colaborar na avaliação de suas lavouras, já que a praga não tem cura e apresenta como alternativa a remoção da planta infectada”, relata Ana Paula Diniz Marques. Ela conta que o trabalho observa a dispersão da doença em um pomar infectado e como se dá a entrada dos vetores. “O modelo desenvolvido simula e aponta, de acordo com certa situação do pomar, uma estimativa, se, por exemplo, o lucro do produtor vai ser muito baixo em longo prazo. Ou se a produtividade em certo ano é muito baixa, mas no ano seguinte é alta. Na verdade é uma análise de diversos cenários do pomar relacionados ao HLB e um feedback ao produtor”, esclarece. Ainda de acordo com a autora do trabalho, a partir do modelo desenvolvido podem ser confirmadas algumas orientações que ajudariam o produtor no melhor manejo das lavouras infectadas. Estas orientações são
preconizadas pela Instrução Normativa nº 53 (IN53) publicada em 2008 pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). A instrução recomenda a realização da inspeção em um pomar citrícola a cada três meses e a remoção das plantas detectadas sintomáticas ao HLB. A pesquisadora Ana Paula acrescenta para a importância do manejo contínuo de pomares vizinhos já que pode ocorrer uma invasão de psilídeos de outras plantações. “Mesmo para um pomar que possua manejo de remoção de plantas sintomáticas, percebe-se a grande importância do controle dos psilídeos advindos de fontes externas, aliada a uma melhor eficácia humana para a detecção de plantas que apresentam os sintomas do HLB. Isso resultou em uma incidência mais baixa do HLB no pomar. Segundo a literatura, 47% das plantas que são sintomáticas ao HLB são detectadas pelos produtores.” Além disso, Ana Paula atenta para importância de se avaliar a idade da planta. Neste ponto, o orientador do estudo explica que este aspecto tem uma contribuição expressiva sobre a incidência da doença. Isso acontece, de acordo com ele, porque o psilídeo se reproduz nas brotações das plantas, fase que ocorre de modo mais intenso nas árvores mais novas. “Quando a planta está mais velha, ela já não tem muito broto. As portas de entrada para a doença são os brotos. Portanto, se uma planta já está com 10 anos e só foi infectada no décimo ano, o impacto dessa infecção é bem menor do que em uma planta de dois anos, por exemplo. Quanto mais jovem o pomar é infectado, pior é a consequência para a vida produtiva da planta”, exemplifica o professor Takaaki Ohishi.
Outro aspecto relevante indicado pela pesquisa está relacionado ao replantio das plantas para substituir aquelas que foram arrancadas por conta da doença. Levando em conta o fator da idade para o desenvolvimento da doença, Ana Paula explica que a melhor opção, observada nos resultados do estudo, é fazer o replantio com plantas de idade superior a um ano já que apresentam um menor número de brotações. Na pesquisa, ela analisou o replantio com plantas de três anos de idade. De acordo com a estudiosa, este tipo de procedimento não é verificado na prática dos agricultores. “Pela simulação, comparando-se quando é realizado o replantio entre árvores de um ano e de três anos, a produção é maior quando ocorre o replantio com árvores de três anos. Em relação à incidência da doença também foi notada uma leve diminuição nos valores para o cenário em que o replantio ocorre com plantas de três anos.” De modo geral, conforme a pesquisadora da FEEC, a prática do manejo sanitário, estabelecido pelo MAPA, possibilita a maior produtividade do pomar e consequentemente uma maior lucratividade em longo prazo, perante um pomar sem manejo. “Pelo modelo de simulação, nós percebemos também o quão importante é a eficácia humana na detecção dos sintomas do HLB”, pontua.
IMPACTO
O HBL está entre as doenças e pragas mais destrutivas da citricultura mundial, conforme a pesquisadora da FEEC. Um dos principais sintomas da doença, identificada em 1919 na China, é o aparecimento de ramos com folhas amareladas e curvadas. Como consequência os frutos apresentam
tamanhos reduzidos e assimétricos. Em alguns casos, a árvore para de produzir frutos. Três espécies de bactérias, conhecidas como Candidatus Liberibacter (Ca.L.) asiaticus, Ca. L. africanus e Ca. L. americanus, têm sido associadas ao HLB, conforme Ana Paula. “Há que se considerar o impacto da doença para a citricultura brasileira, que desempenha um papel de grande importância para a agroindústria do país”, ressalta a autora do estudo. Dados da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), citados na pesquisa, apontam que o Brasil é responsável por 60% da produção mundial de suco de laranja. Em 2013, o país produziu aproximadamente 18 milhões de toneladas de laranja, cerca de 30% da safra mundial. Em segundo lugar vêm os Estados Unidos com a produção de oito milhões de toneladas de laranjas. Neste cenário, os Estados de São Paulo e da Flórida dominam a oferta mundial de citros.
METODOLOGIA
A simulação proposta pelo estudo de Ana Paula utiliza Modelos Baseados em Indivíduos (MBI), uma das melhores alternativas metodológicas para descrever e analisar as características de cada planta de citros, de acordo com ela. Os modelos baseados nos indivíduos são bastante flexíveis, pois permitem o uso detalhado de parâmetros com maior significado biológico, sendo, portanto, mais realistas do que modelos populacionais clássicos, justifica a pesquisadora. Duas características importantes de seu estudo foram analisar a idade das plantas e simular um pomar com a dinâmica de invasão do inseto vetor, aspectos poucos explorados em trabalhos similares. A pesquisa foi financiada pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ). O trabalho contou com a colaboração da pesquisadora Sônia Ternes, da Embrapa Informática Agropecuária, que foi orientadora de Ana Paula durante sua pesquisa de iniciação científica na graduação. O modelo desenvolvido ainda não apresenta uma interface gráfica voltada para o uso do sistema de simulação.
Publicação
O professor Takaaki Ohishi, orientador da pesquisa: “Quanto mais jovem o pomar é infectado, pior é a consequência para a vida produtiva da planta”
A matemática Ana Paula Diniz Marques, autora da dissertação: “Um dos nossos objetivos foi desenvolver um modelo para tentar colaborar na avaliação das lavouras”
Dissertação: “Um modelo de simulação da dinâmica de dispersão do Huanglongbing (HLB) em um pomar de citros” Autora: Ana Paula Diniz Marques Orientador: Takaaki Ohishi Unidade: Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação (FEEC) Financiamento: Capes e CNPq
5 Campinas, 14 a 20 de março de 2016
Dispositivo simula aplicação
de anestesia odontológica Aplicativo desenvolvido na FOP já foi testado com sucesso por alunos de graduação Fotos: Antoninho Perri
ISABEL GARDENAL bel@unicamp.br
dentista Leandro Pereira acaba de desenvolver em sua tese de doutorado, na Faculdade de Odontologia de Piracicaba (FOP), um simulador virtual para o ensino de anestesia local em odontologia. Chamado Dental Simulator, o aplicativo já foi testado por 23 alunos de graduação. Os resultados se mostraram promissores, aumentando o índice de sucesso no procedimento de 20% para quase 60%, isso em uma semana de uso. A grande vantagem do treinamento virtual é que ele propicia inúmeras repetições em um paciente virtual, para o profissional se sentir mais seguro no uso da técnica, pois é justamente a repetição que trará o aprimoramento. No projeto, que levou quatro anos para ser concluído, um paciente virtual ajuda nas simulações. Sua boca tem as mesmas características anatômicas – tecidos moles e osso – de uma boca natural. Segundo o autor, este treinamento é semelhante ao de um piloto de avião: o treinamento virtual permite ao aluno atuar numa mesma situação real sem expor o paciente a riscos. A ideia, informou, é propiciar uma ferramenta pedagógica para alunos de graduação e de pós-graduação. O novo aplicativo parte de uma plataforma amigável, podendo ser empregado tanto em aparelhos smartphones como em tablets. Essa escolha facilita muito o uso porque a característica multitouch destas telas abre as portas para que o simulador seja acessado de modo bastante intuitivo. Ele também está disponível para outras plataformas como desktop e laptop, embora o sistema mais amigável mesmo esteja presente nas telas multitouch. O Dental Simulator visa contribuir para uma nova forma de ensino de anestesia no mundo, visto que via de regra os alunos nas universidades têm aulas teóricas e depois treinam o procedimento nos próprios colegas de turma. Este trabalho teve a participação do professor do Instituto de Biologia (IB) Eduardo Galembeck, que colaborou no desenvolvimento desse aplicativo no Laboratório de Tecnologia Educacional. Galembeck tem amplo conhecimento na área de ensino e de tecnologias educacionais.
INTERAÇÃO
Em sua pesquisa, Leandro se baseou na técnica que envolve o maior número de fracassos no dia a dia do clínico, que é o bloqueio do nervo alveolar inferior. Em geral, nessa técnica é aceito até 40% de insucesso anestésico, tal a sua dificuldade de execução. No paciente virtual, o estudante pode praticar e aprender as técnicas anestésicas no modo simulação, assistindo a vídeos de procedimentos reais, lendo textos interativos e melhorando suas habilidades. O programa também oferece, em versão beta, a denominada realidade aumentada, em que o usuário pode optar por usar o aplicativo com óculos 3D. Assim é possível fazer o treinamento anestésico em um ambiente simulado em terceira dimensão. Nessa versão, o usuário imprime em sua impressora pessoal duas imagens, denominadas marcadores. Um destes
Um dos procedimentos do aplicativo Dental Simulator: ferramenta pedagógica para alunos de graduação e de pós-graduação
marcadores será identificado pela câmera do smartphone como sendo o paciente virtual. Já o outro marcador, será identificado como a seringa da anestesia. Desse modo, o usuário poderá interagir com os marcadores de papel, movimentando-se ao redor deles, porém visualizando na tela do smartphone um ambiente clínico real e em 3D. Este sistema permite ao usuário introduzir a agulha virtual até a área próxima ao nervo alveolar inferior do paciente virtual e realizar a anestesia. O paciente virtual apresenta uma reação semelhante à reação clínica de um paciente real, ao passar por uma punção (que consiste na penetração do tecido). Quando a agulha toca a gengiva ou o osso, o paciente virtual reage na tela movimentando a língua, como se estivesse sentindo dor. O celular ou o tablet também reagem vibrando, como se o paciente tivesse balançado ou se movido em função da sensibilidade. Quando o usuário finaliza a técnica de anestesia no simulador, recebe um feedback de erros e acertos. Os erros são listados diante dele a fim de que saiba onde falhou. Através de um hiperlink, clica naquele erro e o aplicativo o leva a uma tela em que um texto lhe informa quais informações deveria ter verificado para não incorrer no mesmo erro numa próxima simulação ou num próximo procedimento clínico. Esse mecanismo de correção faz com que o aplicativo, além de agir como um simulador, seja um mecanismo de autoaprendizado para o aluno, colaborando muito para a parte educacional, comentou o professor da FOP José Ranali, orientador da tese. Essa primeira fase do trabalho, da simulação da técnica, pontuou Ranali, serve como um start para desenvolver todo um programa de simulação na anestesia local e talvez oferecer oportunidade de fazer isso em outras áreas da saúde. O intuito é que esse modelo seja seguido por outras especialidades.
PLATAFORMA
O professor José Ranali, orientador da pesquisa: “Existem alguns simuladores disponíveis no mercado, contudo são protótipos e não têm o mesmo nível e proximidade com a realidade”
O dentista Leandro Pereira, autor da tese: “Treinamos como fazer a anestesia, um treinamento préclínico necessário, pois algumas técnicas são de fato muito complexas”
Conforme José Ranali, esse é um aplicativo inédito da maneira como foi concebido. “Existem alguns simuladores disponíveis no mercado, contudo são protótipos e não têm o mesmo nível e proximidade com a realidade”, garantiu o docente. Para levar o Dental Simulator à larga escala comercial, Leandro e Ranali o idealizaram para um público internacional. Criaram o dispositivo em três línguas: português, espanhol e inglês. O projeto foi inteiramente desenvolvido na Unicamp e foi pensado também para funcionar em diferentes sistemas operacionais, como IOS da Apple (antes chamado de iPhone OS), Android (um sistema operacional personalizável), Windows (o sistema operacional mais utilizado em computadores pessoais no mundo) e MacOsX (sistema operacional mais voltado a desktops). “Com essa abrangência, todos os dentistas do mundo poderão acessar esse programa. Há dez dias, ele já está disponível para download na Apple Store. A ferramenta tem uma parte gratuita e outra paga, porém de baixo custo. Assim, o usuário pode fazer compras de algumas técnicas dentro do próprio aplicativo”, esclareceu Leandro. Ranali sinalizou que sempre teve a preocupação em trabalhar com a nova geração de alunos que está chegando à universidade – a dos nativos digitais. De acordo com ele, são
jovens com idade entre 20 e 30 anos que já nasceram num mundo tecnológico. “Eles se educam numa situação bem diferente da que já vivemos em termos de avanços.” Orientador e orientando observaram que trabalhar com ferramentas educacionais tecnológicas e hipertextuais poderia ser uma boa solução na área de anestesia, “pelo fato de trazerem maior motivação e interação dos alunos com instrumentos contemporâneos que atendam à educação e à maneira de vida dessa geração que está chegando, que já chegou”, situou Ranali. O docente então lembrou que o aluno pode treinar no seu smartphone em todos os lugares onde estiver: em casa, na sala de aula ou no ambiente universitário. “O professor pode inclusive avaliar as simulações realizadas pelos seus alunos.”
FOCO
Não é fácil executar as técnicas de anestesia porque elas exigem penetrações profundas da agulha nos tecidos e ângulos muito exatos, salientou Leandro. Como essas técnicas requerem um bom conhecimento anatômico do paciente, o dentista às vezes comete erros, levando a uma anestesia não efetiva. A consequência é que o paciente não fica completamente anestesiado e sente dores durante o tratamento. O procedimento não tem uma alta eficácia anestésica em função da dificuldade técnica. Logo, o novo aplicativo auxilia no quesito técnico do posicionamento da agulha e na execução até dos procedimentos mais meticulosos. O aplicativo proposto está mais ligado à execução técnica da anestesia, ao posicionamento da agulha, à sua penetração e à injeção da solução anestésica. “Num simulador de avião, o piloto treina o voo. Aqui treinamos como fazer a anestesia, um treinamento pré-clínico necessário, pois algumas técnicas são de fato muito complexas”, informou Leandro. O pesquisador explicou que, mesmo a anestesia local não sendo livre de riscos ao paciente, tais riscos podem ser evitados. A realização da técnica adequada em todos os seus conceitos, reforçou o pesquisador, desde a escolha da solução anestésica, é de suma importância para a segurança e a saúde sistêmica do paciente. Através da anamnese, é possível identificar todas as características do paciente, desde a idade, o gênero, as suas condições de saúde, se ele faz uso de medicamentos de uso contínuo, ou não, e as prováveis interações com a solução anestésica escolhida. Todo paciente com alterações de saúde (cardiopatas, diabéticos e com endocrinopatias, etc.) tem seu quadro agravado toda vez que se sente desconfortável para o tratamento. “É o famoso medo do dentista”, afirmou Ranali. “Portanto, antes da anestesia, o profissional precisa ter o cuidado de saber como está a saúde do paciente e fazer com que o tratamento seja o mais confortável possível. Aí lançamos mão de métodos de controle do estresse e ansiedade para que o risco seja mínimo numa situação real.”
Publicação Tese: “Criação, desenvolvimento, aplicação e validação de um simulador computadorizado de realidade virtual para o ensino e treinamento de bloqueio anestésico do nervo alveolar inferior” Autor: Leandro Pereira Orientador: José Ranali Unidade: Faculdade de Odontologia de Piracicaba (FOP)
6 Campinas, 14 a 20 de março de 2016
Coletivo adota plataforma digital para discutir questões agrárias e ambientais
Resistência real no mundo virtual
Fotos: Antonio Scarpinetti
LUIZ SUGIMOTO sugimoto@reitoria.unicamp.br
emente, semeia, teia... Sementeia é o nome da plataforma digital multimídia – www.sementeia.org – criada por pesquisadores de distintas unidades da Unicamp para abrigar conteúdos desenvolvidos dentro da concepção de livre produção e circulação de materiais audiovisuais, textos e imagens. A produção colaborativa do grupo com seus parceiros, sobre grandes temas relacionados a propostas de mudança e ações de resistência no campo e na cidade, já rendeu as primeiras semeaduras, com audiovisuais abordando questões como trabalho rural, movimentos camponeses, agroecologia, economia solidária, comunicação popular e mídia-livre. A Sementeia acaba de ser premiada pelo Ministério da Cultura (MinC), através da chamada de Pontos de Mídia Livre, com o projeto “Multimídia, Educação e Resistências em plataforma virtual” – o que representou um aporte de R$ 40 mil para suas atividades. Atualmente, o coletivo é composto por pesquisadores do Laboratório Terra Mãe, Grupo de Análise de Política de Inovação, Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo (Labjor) e por ativistas dos movimentos de luta pela terra (Assentamento Milton Santos) e pela internet livre (Coletivo Saravá e Coletivo Mídia Livre Vai Jão); e, ainda, por colegas da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), Universidade Estadual Paulista (Unesp) e Universidade Federal do Paraná (UFPR). Márcia Maria Tait Lima, jornalista científica com mestrado e doutorado no Instituto de Geociências (IG), conta que o projeto começou a ser construído em 2013, por iniciativa de professores e pós-graduandos da disciplina “Meio ambiente, questões agrárias e multimeios”, do Laboratório Terra Mãe, que é ligado à Faculdade de Engenharia Agrícola (Feagri), ao Núcleo de Pesquisas Ambientais (Nepam) e ao Instituto de Artes (IA). “Em multimeios, o foco estava no audiovisual como ferramenta para documentar e discutir questões agrárias e ambientais. Um problema levantado pelos participantes diz respeito à circulação, distribuição e articulação desses audiovisuais, que se encontram dispersos e ainda indisponíveis. Daí a ideia de criar este espaço, a fim de disponibilizar e articular os vídeos de forma pedagógica, visando ao uso em salas de aula, a reflexões críticas, etc.” Segundo Márcia Tait, recursos da Pró-Reitoria de Extensão e Assuntos Comunitários (Preac) possibilitaram a contratação de bolsistas para criar o visual e a concepção do site e, a partir de reuniões sucessivas, formou-se um coletivo gestor. “A denominação ‘sementeia’ veio do foco de pesquisa e de extensão de alguns dos responsáveis e participantes da disciplina (agroecologia, questões agrárias e ambientais, temas que remetem à questão da ‘semente’), à ideia de ‘semear’ através de um coletivo articulado e de ‘teia’ enquanto rede. Os pesquisadores e estudantes envolvidos têm vocação para a pesquisa-ação (extensão), com ações e artigos publicados em parceria com o Ipea [Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada] e o Incra [Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária], e oferecendo formação junto a comunidades, como de capacitação para o audiovisual.” Diego Riquelme, doutor em cinema documentário e pesquisador do Laboratório Terra Mãe, lembra que houve toda uma discussão reflexiva sobre o que o grupo poderia produzir no âmbito da Unicamp e, ao mesmo tempo, agregar pessoas de fora da Universidade. “Trabalhar com os alunos e também com as comunidades é uma preocupação que surgiu quando saímos a campo para pesquisar, registrar e filmar fatos de interesse, constatando depois que esse material, na maioria das vezes, não é divulgado. Procuramos sustentar este processo no nosso laboratório e dentro da Sementeia, o que tem sido muito produtivo. O projeto está ganhando uma dimensão que nos surpreendeu.” A cientista social Janaína Welle possui mestrado em antropologia visual na Universidade de Barcelona e acaba de concluir o mestrado em multimeios no IA, com o
A cientista social Janaína Welle: estrutura articulada e multidisciplinar
A jornalista Márcia Maria Tait Lima: difundindo vídeos de forma pedagógica
O pesquisador Diego Riquelme: trabalhando com os alunos e as comunidades
Kellen Junqueira, pesquisadora do Terra Mãe: grande demanda na área
trabalho intitulado “Documentário e meio ambiente no Brasil: uma proposta de leitura ecologizante”. “Quis entrar no coletivo Sementeia para colaborar tanto na parte de informação como de produção de audiovisuais ligados a questão agrária e ambiente. Um projeto como este, que oferece uma disciplina de pós-graduação e também um curso de extensão, é uma boa maneira de integrar saberes entre universidade e comunidade. Assim como o coletivo gestor, criamos um coletivo de professores de diversas áreas e institutos da Unicamp, numa estrutura articulada e multidisciplinar.” Kellen Junqueira, pesquisadora do Terra Mãe e atuante em sociologia e extensão rural, aponta a existência de grande demanda na área por uma articulação e disponibilização de audiovisuais, viabilizando-se diferentes formas de divulgação. “O curso foi de formação tanto de pesquisadores como de pessoas das comunidades externas e movimentos sociais. A maioria dessas pessoas já estava na militância e pôde registrar projetos de pesquisa e de extensão desenvolvidos fora da Universidade – esses documentários foram validados pelas comunidades e agora estamos plantando as sementes, ou seja, divulgando na plataforma os projetos já finalizados.” A jornalista Márcia Tait explica que os grandes temas do site estão divididos em categorias, como saúde/alimentação, rural/ camponês, urbano/cidades, mídia livre e gênero/identidade. “Identificamos potenciais coletivos que também produzam vídeos ligados a essas temáticas e publicamos na Sementeia. São duas frentes de ação: a oferta de uma disciplina articulada à plataforma, que é bastante interessante enquanto formação, convidando profissionais e cineastas de fora da academia para vir falar sobre sua militância e produção; e o processo de coleta de vídeos de parceiros dispostos a articular e divulgar esses conteúdos de maneira mais ampla.” Esta participação externa, como salienta Kellen Junqueira, se dá através do curso de extensão gratuito, formalizado pela Extecamp e oferecido em paralelo à disciplina de pós-graduação ‘Meio ambiente, questões agrárias e multimeios’. “Além do curso, desenvolvemos outras ações junto a comunidades, a exemplo da oficina finalizada no
Coletivo Gestor Sementeia Kellen Junqueira – Pesquisadora Laboratório TerraMãe/Feagri/Unicamp Diego Riquelme – Pesquisador Laboratório TerraMãe/Nepam/Unicamp Márcia Tait – Jornalista, doutora pelo Departamento de Política Científica e Tecnológica (DPCT/IG) e professora participante do Mestrado em Divulgação Científica e Cultural (MDCC/Labjor/Unicamp) Marcelo Vaz Pupo – Educador e estudante doutorado da Faculdade de Educação (FE) Luciana Henrique da Silva – Docente da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS) e Grupo de Comunicação do Assentamento Milton Santos Hugo Melo – Coletivo Saravá Janaína Welle – Mestra em multimeios pelo Instituto de Artes (IA) e em antropologia visual pela Universidade de Barcelona Phillipe Assumpção Cesar – Estudante da Faculdade de Engenharia Agrícola (Feagri), bolsista SAE Vanessa Santarosa – Estudante do Instituto de Biologia (IB), bolsista SAE Bruno Lacerra – Mestre em desenvolvimento territorial na América Latina e Caribe pela Unesp Apoio Antonio Carlos Rodrigues de Amorim – Faculdade de Educação (FE) Josely Rimoly – Faculdade de Ciências Aplicadas (FCA) Fotos Alexandre P. Macedo e João Correia Filho
semestre passado com agricultores familiares de uma cooperativa de Americana; e de um curso de vídeo, em andamento, para jovens assentados da região de Promissão, onde vivem cerca de 300 famílias – e que acontece em parceria com a Unesp de Marília, que nos convidou para integrar o projeto.”
IMPACTO DO PRÊMIO Em relação ao prêmio do MinC, Márcia Tait afirma que o impacto não veio no sentido de envaidecer, mas de se perceber que existe realmente uma demanda enorme por esse tipo de iniciativa, não apenas no Brasil, mas também no exterior. “No doutorado convivi com mulheres camponesas que acharam bastante interessante esta ideia de recorrer a audiovisuais para que os movimentos sociais mostrem suas causas, por se tratar de uma linguagem mais acessível e por despertar o tema da democratização da rede e outros não veiculados na mídia convencional. O prêmio reflete ainda a visão de quem avaliou nosso projeto, elegendo-o como relevante.” Kellen Junqueira lembra que o propósito inicial da Sementeia vem mudando com as experiências e reflexões decorrentes das frentes de ação do coletivo, e que mesmo a utilização de um software livre não era o foco inicial, para depois ser avaliado como fundamental, em função das discussões políticas que grupos como o Vai Jão trouxeram. “A ideia era criar outra linguagem para produções acadêmicas. Quando se vai apresentar uma tese em audiovisual, é preciso repensar o trabalho. Temos estimulado as pessoas a fazerem este exercício: ao invés de reproduzir a tese em vídeo, adotar a perspectiva da comunicação, da integração e do diálogo com a comunidade, repensando a linguagem utilizada tradicionalmente na universidade.” Ainda sobre este propósito, Diego Riquelme observa que quando um estudante ou um pesquisador se propõe a produzir um audiovisual, deve refletir sobre o que é possível mostrar em dez ou quinze minutos. “O curso pretende demonstrar ao aluno que, muitas vezes, a sua pesquisa pode, sim, ter o suporte do audiovisual para melhor divulgá-la através da internet, ao invés de ficar engavetada. E a universidade, em minha opinião, deve disponibilizar todas as ferramentas possíveis para isso.”
7 Campinas, 14 a 20 de março de 2016
Da eletrônica para a biologia
Fotos: Antonio Scarpinetti
Ingrid Alves Rosa, autora da dissertação: “O que pudemos constatar é que a resposta imunológica do organismo dos animais às nanopartículas variou de acordo com o momento da administração”
Estudo colaborativo entre FEEC e IB investiga a interação entre nanotubos de carbono e sistema imunológico MANUEL ALVES FILHO manuel@reitoria.unicamp.br
esmo sem estarem ligados a qualquer fármaco, os nanotubos de carbono têm a propriedade de estimular a resposta imunológica do organismo. Ocorre que, dependendo do momento em que são administradas, essas nanopartículas podem reduzir ou ampliar o tumor maligno. A conclusão é da dissertação de mestrado da tecnóloga em Sistemas Biomédicos Ingrid Alves Rosa, defendida na Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação (FEEC) da Unicamp. O trabalho foi orientado pelos professores Vitor Baranauskas, falecido em outubro de 2014, e Elaine Conceição de Oliveira, pesquisadora colaboradora da FEEC e docente da Faculdade de Tecnologia (Fatec) de Sorocaba. De acordo com Ingrid, os experimentos utilizaram linhagem de células com carcinoma pulmonar de Lewis, que foram injetadas em camundongos. “Nós esperamos entre dez e 15 dias para o desenvolvimento do tumor, para em seguida administrarmos os nanotubos de carbono sem qualquer ligação com fármacos. O que pudemos constatar é que a resposta imunológica do organismo dos animais às nanopartículas variou de acordo com o momento da administração”, afirma. Assim, quando o tumor era pequeno [por volta de seis milímetros], foi possível verificar, após uma semana, uma redução do seu tamanho, por causa da resposta imunológica do organismo à presença dos nanotubos. “Entretanto, quando o tumor era muito grande, ocorreu justamente o contrário, ou seja, o seu aumento”, explica a autora do trabalho. Segundo Ingrid, os ensaios foram feitos tanto com nanopartículas produzidas na FEEC quanto com produtos vendidos comercialmente. “Os resultados foram muito semelhantes tanto num caso quanto no outro”, diz. As razões que levam o organismo a responder de acordo com o momento em que os nanotubos são administrados ainda são desconhecidas, conforme a professora Elaine. “Essa é uma resposta que ainda temos que buscar. De todo modo, o que nós podemos afirmar é que essas nanopartículas podem vir a ser uma importante alternativa para o tratamento do câncer, visto que elas interagem com o sistema imune. Entretanto, nós ainda precisamos trilhar um longo caminho até decifrar os detalhes dessa interação”, adverte. A professora Leonilda Maria Barbosa dos Santos, do Departamento de Genética, Evolução e Bioagentes do Instituto de Biologia (IB) da Unicamp, que iniciou as pesquisas nessa área juntamente com o professor Baranauskas, também entende que um dos desafios da ciência está justamente em elucidar os mecanismos de estímulo ao sistema imunológico, de modo a identificar o melhor momento de se fazer a administração dos nanotubos de carbono, e assim promover a redução do tumor.
Ainda conforme a docente, outra possibilidade é “potencializar” a ação das nanopartículas, fazendo a ligação delas com um fármaco de combate ao câncer. A ideia é transformar os nanotubos de carbono em veículos para transportar a droga até o ponto de interesse e depois liberá-la de forma controlada. “O objetivo, nesse caso, é atacar somente as células doentes e preservar as saudáveis. Como sabemos, no tratamento convencional por quimioterapia os fármacos matam as células tumorais, mas também afetam as células saudáveis mais próximas”.
A professora Elaine Conceição de Oliveira, orientadora do trabalho: “As nanopartículas podem vir a ser uma importante alternativa para o tratamento do câncer, visto que elas interagem com o sistema imune. Entretanto, nós ainda precisamos trilhar um longo caminho até decifrar os detalhes dessa interação”
LINHA DE PESQUISA
A linha de pesquisa que investiga o uso dos nanotubos de carbono no âmbito da Biologia teve início em 2008, quando o professor Baranauskas fez contato com a professora Leonilda. Até então, essas diminutas partículas despertavam o interesse particularmente dos pesquisadores que atuavam na área da eletrônica. Na oportunidade, os dois cientistas começaram a buscar dados sobre a interação desses materiais com o organismo vivo. “A partir das nossas conversas, elaboramos um projeto de pesquisa e o submetemos à Capes [Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, órgão do Ministério da Educação], no contexto do programa Nanobiotec”, lembra a professora Leonilda. A proposta foi aprovada e obteve um financiamento da ordem de US$ 1 milhão. “Esses recursos foram de extrema importância, pois pudemos equipar nossos laboratórios, que à época não dispunham de estrutura para esse tipo de pesquisa. Este foi um grande legado deixado pela linha de pesquisa, além da formação de recursos humanos qualificados. Nesse período, foram defendidas seis teses de mestrado e doutorado, além de vários trabalhos de iniciação científica”, elenca a docente. Entre os estudos desenvolvidos nos últimos oito anos, alguns procuraram desvendar de que forma os nanotubos de carbono são internalizados pelas células. Embora a literatura aponte que as nanopartículas têm a capacidade de ultrapassar as membranas celulares, esse mecanismo ainda não foi totalmente compreendido, como observa a professora Elaine. “Nós constatamos, por meio de um estudo financiado pela Fapesp [Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo], que parte dos nanotubos é internalizada nas células através de um receptor denominado Marco, que está ligado à remoção de partículas inertes e à ativação de resposta imune contra agentes infecciosos”, informa. Entretanto, também foi constatado que outra parte consegue entrar na célula sem a necessidade do receptor. “Ainda não sabemos ao certo o que leva a um e outro com-
Foto: Antoninho Perri
O professor Vitor Baranauskas, falecido em outubro de 2014, foi pioneiro no estudo do uso dos nanotubos de carbono na biologia
portamento”, admite a docente da Fatec de Sorocaba. Outro ponto que precisa ser compreendido, continua, é o que ocorre com as nanopartículas depois que elas cumprem a sua função no organismo. Alguns estudos apontam que elas são eliminadas, por exemplo, através da urina. Outros, no entanto, revelam que os nanotubos vão se alojar no pâncreas, causando a inflamação do órgão e aumentando o diabetes. “Nosso desafio é entender todas essas questões, de forma que os nanotubos de carbono possam ser usados pela Medicina da forma mais segura possível”, pontua a professora Elaine. Fotos: Antonio Scarpinetti
Publicação Dissertação: “Efeito da Administração Sistêmica de Nanotubos de Carbono de Paredes Múltiplas (MWCNT) Sobre a Resposta Imune no Microambiente Tumoral de Camundongos Portadores de Carcinoma Pulmonar de Lewis” Autora: Ingrid Alves Rosa Orientador: Vitor Baranauskas (in memorian) Coorientadora: Elaine Conceição de Oliveira Unidade: Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação (FEEC)
O pesquisador Alfredo Carlos Peterlevitz: “O professor Baranauskas nunca rejeitava novas ideias. Estava sempre disposto a ouvir as pessoas e a considerar suas opiniões”
O engenheiro químico Helder José Ceragioli, pesquisador colaborador da FEEC: “Baranauskas sempre tinha uma palavra de estímulo aos integrantes da equipe”
IN MEMORIAM
As professoras Leonilda e Elaine fazem questão de reafirmar que as pesquisas com os nanotubos de carbono na área da Biologia somente puderam avançar graças à iniciativa do professor Baranauskas, que sempre demonstrou ser um cientista com visão multidisciplinar. “O doutor Vitor não mediu esforços para o estreitamento do diálogo entre as diferentes áreas do conhecimento. No início dos trabalhos, esse entendimento não foi fácil, por causa das especificidades de cada segmento. Entretanto, ele sempre soube conduzir os estudos com muita habilidade e paciência”, revela Elaine. De acordo com o engenheiro químico Helder José Ceragioli, pesquisador colaborador da FEEC, responsável pela produção dos nanotubos de carbono utilizados nas pesquisas, Baranauskas sempre tinha uma palavra de estímulo aos integrantes da equipe, principalmente nos momentos de maior dificuldade. “Além disso, ele também era um entusiasta dos estudos interdisciplinares, pois entendia que algumas respostas precisavam do suporte de várias áreas do saber”. Alfredo Carlos Peterlevitz, pesquisador do Laboratório de Nanoengenharia e Diamantes (LabNano), trabalhou com Baranauskas e enfatiza igualmente o espírito crítico e entusiasmado do cientista. “O professor Vitor nunca rejeitava novas ideias. Estava sempre disposto a ouvir as pessoas e a considerar suas opiniões. Penso que esse comportamento era a força motriz do seu trabalho”, diz. “Mesmo no período em que adoeceu, o professor Vitor se mostrava disponível, pronto a esclarecer as nossas dúvidas”, acrescenta a professora Elaine. Segundo ela, a dissertação defendida por Ingrid fecha um ciclo de pesquisas em torno dos nanotubos de carbono, mas abre a perspectivas de novas abordagens. “O trabalho também é uma homenagem póstuma ao professor Vitor, que foi o deflagrador da linha de pesquisa”. Vitor Baranauskas faleceu no dia 8 de outubro de 2014, aos 62 anos. Era graduado em Engenharia Eletrônica e em Física pela USP. Era professor titular da Unicamp, na FEEC. Atuou na vanguarda da microeletrônica que, aos poucos, avançou para a nanotecnologia, desenvolvendo trabalhos de ponta em parceria com colegas de outros institutos e faculdades. Foi um dos primeiros pesquisadores brasileiros a alertar para o risco oferecido pela telefonia celular, sobretudo nos primeiros anos em que a antena do aparelho era externa. Baranauskas via o assunto como uma ameaça que poderia causar danos irreversíveis à saúde humana. O docente também liderou projeto, em parceria com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), que produziu os primeiros diamantes sintéticos do mundo, fabricados a partir do álcool da cana-de-açúcar. Um dos resultados desta aplicação é a fabricação de vidros de plásticos revestidos por diamante, mais resistentes e impossíveis de serem riscados.
8 Campinas, 14 a 20 de março de 2016
Estudo questiona educação bilíngue Foto: Antoninho Perri
PATRÍCIA LAURETTI patricia.lauretti@reitoria.unicamp.br
undo globalizado, educação bilíngue e uma promessa de futuro. As vantagens deste tipo de ensino, voltado para crianças e adolescentes, são enumeradas nas páginas da internet das escolas especializadas. Afirmações como “o ensino infantil bilíngue é uma forma de educação globalizada, que amplia as oportunidades para a criança descobrir caminhos para a sua realização pessoal no futuro”, ou “no mundo globalizado em que vivemos, o inglês se tornou pré-requisito para uma vida sem fronteiras” estão nos sites de várias escolas. O tema despertou o interesse e os questionamentos de André Coutinho Storto em sua dissertação de mestrado intitulada “Discursos sobre bilinguismo e educação bilíngue: a perspectiva das escolas”, defendida no Instituto de Estudos da Linguagem (IEL) Unicamp. André é professor de inglês e fez a pesquisa em sites de escolas bilíngues particulares em inglês na capital paulista. O objetivo foi tentar investigar como a educação bilíngue é entendida pelas instituições. “Acima de tudo é uma dificuldade avaliar o desempenho dessas escolas, uma vez que não existe regulamentação específica ou monitoramento da educação bilíngue no país”, disse. Ele analisou os textos extraídos de websites buscando elementos que se repetiam, para definir três recortes da pesquisa: a inserção dos estudantes no mundo globalizado, a distinção entre bilinguismo e educação bilíngue e o trânsito entre línguas entre falantes bilíngues. As escolas bilíngues, que vêm se popularizando no país, têm como objetivo desenvolver a proficiência em duas línguas, que podem ser o português e o inglês ou qualquer outro idioma, por meio do ensino de conteúdos curriculares em ambas as línguas. O problema, segundo o pesquisador, é que muitas escolas partem de uma concepção de línguas como “entidades autossustentáveis e autônomas”, algo que deve ser adquirido pelos alunos, ao invés de encará-las como um recurso comunicativo que se transforma e se molda às necessidades e às práticas dos falantes. Ainda se acredita que os falantes
André Coutinho Storto, autor da dissertação: “O bilinguismo não é uma prerrogativa da educação bilíngue”
bilíngues são a somatória de “dois falantes monolíngues perfeitos”, o que se traduz em um grande equívoco, conforme o pesquisador. “Na própria elaboração do currículo as línguas já são separadas: num período fala-se português, em outro, inglês. Mas a prática mostra que falantes bilíngues podem transitar entre as línguas sem mantê-las separadas dessa forma rígida. Há uma alternância de códigos”. Em comunidades de falantes bilíngues, quando a interação ocorre em ambientes menos “regulamentados”, afirma André, a troca de línguas é constante, até mesmo sem que os interlocutores se deem conta. Em todo o mundo existem, segundo a pesquisa, menos de 200 países, mas estima-se que o número de línguas faladas oscile entre 6.500 e 7.000. Na maioria dos países se fala bem mais que uma só língua. “As imigrações, diásporas, enfim, a intensificação dos fluxos humanos através das fronteiras geográficas e a disseminação global do inglês são fatores que favorecem o trânsito entre as línguas, misturando-as. O bilinguismo é um fenômeno comum, corriqueiro e sempre foi apagado pelo monolinguismo do ‘Estado nação’ e sua máquina administrativa”, complementa o autor da dissertação. André observa que a ideia de língua que temos é a de uma construção histórico-social que foi sendo consolidada ao longo dos sé-
culos. “Parto da perspectiva teórica que tem uma concepção de língua pautada nas práticas discursivas e não naquela que é construída de forma dissociada dos falantes e suas práticas”, ressalta. Assim o bilinguismo pode ser compreendido como algo bem mais complexo porque compreende uma série de práticas discursivas que não são mediadas pelas “línguas nacionais padrão” ensinadas nas escolas. Daí outro equívoco que é tomar como sinônimo os termos bilinguismo e educação bilíngue, como fazem os sites das escolas. “O bilinguismo não é uma prerrogativa da educação bilíngue. Não se pode considerar bilíngues somente os falantes que estudaram em escolas bilíngues, esquecendo-nos de que há milhões de falantes bilíngues no mundo que jamais participaram de um programa de educação bilíngue”. André acrescenta na dissertação que programas educacionais bilíngues podem levar ao desenvolvimento de habilidades bilíngues em seus alunos, desde que estejam “intimamente relacionadas às práticas sócio-discursivas nas quais os alunos se engajam, especialmente fora do âmbito escolar”. Novamente as frases dos sites chamam a atenção quando são usados os termos “globalização” ou “mundo globalizado”. Uma escola é apresentada como “um centro de educação que mune os alunos com ferramentas
para atuarem criticamente no mundo globalizado de maneira integral e responsável em dois idiomas”, outra incentiva a participação no atual “mundo globalizado”, uma terceira “visa à formação de pessoas conscientes, críticas e preparadas para participar do mundo globalizado atual”. O pesquisador achou curioso o fato de o termo “mundo globalizado” aparecer com muito mais frequência do que “globalização”. “Essa ideia de ‘incluir a criança’ no mundo globalizado é falsa, uma vez que elas já estão globalizadas, são os filhos da globalização que nasceram num mundo digital. Tento dissociar essa ideia da escola como mecanismo de inserção. Não é necessário estar em uma escola bilíngue para estar inserido no mundo globalizado”. Outra questão levantada por André é que talvez o termo “globalização” seja menos utilizado por remeter a um processo enquanto “mundo globalizado” já representa o que está acabado, fechado. O termo “globalização” também traria conotações negativas por lembrar que existem os que estão à margem, os excluídos, pelos próprios processos de globalização, dos benefícios que ela traz. Para o autor da dissertação qualquer língua é um instrumento de construção do mundo e as escolas bilíngues tem seu lugar à medida que “todos os envolvidos na elaboração, implementação e desenvolvimento destes programas estejam atentos não só às mudanças relacionadas aos usos das línguas na modernidade tardia como à constituição híbrida das identidades e habilidades dos falantes bilíngues”.
Publicação Dissertação: “Discursos sobre bilinguismo e educação bilíngue: a perspectiva das escolas” Autor: André Coutinho Storto Orientadora: Terezinha de Jesus Machado Maher Unidade: Instituto de Estudos da Linguagem (IEL)
Jogando luz na física para crianças Foto: Antonio Scarpinetti
PATRÍCIA LAURETTI patricia.lauretti@reitoria.unicamp.br
uando uma criança de apenas quatro anos afirma categórica que “luz é energia” o que a professora faz? Em primeiro lugar ela escuta, depois questiona: energia de onde? Que tipo de energia? O educador ouve as crianças para então mediar o processo de aprendizagem. Essa atenção, muitas vezes rara nas escolas, foi fundamental para o desenvolvimento do projeto “Brincando com a Luz” com crianças de 3 a 5 anos do Centro de Educação Infantil Nair Valente da Cunha, no bairro Jardim Santa Lúcia, em Campinas. A professora Karina Calça Mandaji, que trabalha na rede municipal de ensino, tinha como objetivo apresentar conceitos de física para os pequenos. O projeto fez parte de sua dissertação de mestrado, apresentada na Faculdade de Educação (FE) da Unicamp. “O projeto nasceu de uma inquietação de como as professoras de educação infantil ensinam ciências, geralmente trabalhando apenas alguns conceitos de biologia e geometria.” Percebendo a lacuna, a professora decidiu que levaria para os alunos conceitos de ótica geométrica, mas de outra maneira. O projeto “Brincando com a luz”, no qual a autora da pesquisa se baseou, foi originalmente proposto pelo professor Fernando Jorge da Paixão Filho, do Instituto de Física (IFGW) da Unicamp, seu coorientador, e é direcionado para professores. Neste projeto há um conjunto de atividades previamente formuladas. A pesquisa modificou parcialmente as atividades ou acrescentou outras, buscando atender melhor os interesses e envolvimento das crianças. Foram elaboradas onze atividades, que envolveram os conceitos do que é luz; o movimento da luz; a sombra; a reflexão da luz; a visão; projeções espaciais e perspectiva. Karina elaborou um diário de campo, gravou áudios e vídeos das crianças realizando as atividades e discutindo coletivamente. Cada atividade foi também registrada pelas crianças com desenhos que compuseram um livro do projeto. Trabalhar os fenômenos da luz já é parte do currículo da educação infantil, está no Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (RCNEI), de acordo com Karina. O problema é que não há quase material pedagógico ou mesmo pesquisas voltadas para esse período escolar.
Karina Calça Mandaji, autora da dissertação: “Aprendi a atentar-me para as falas dos alunos”
A turma de 25 crianças começou a refletir e debater. A primeira dificuldade que Karina observou foi que as crianças não conseguiam explicar o fenômeno da luz e estabelecer relações. Em uma das atividades ela teve a ideia de montar uma cabana escura na sala. “Eles sugeriram uma lanterna para iluminar dentro da cabana e assim traçamos um objetivo que era descobrir o tema de um desenho colocado dentro da cabana”. Desse modo, com uma brincadeira muito simples, a professora conseguiu mostrar que a luz tinha que ser direcionada ao objeto, e que isso dependia de um ângulo. “As crianças foram entendendo que a luz se espalha, que há a absorção da luz, fontes de luz, mas com outras palavras”. Pratos foram usados para explicar conceitos de opacidade e transparência e um projetor serviu para as atividades de sombras.
ARGUMENTAÇÃO
Uma preocupação da pesquisa foi analisar se as crianças argumentavam de fato ou apenas lançavam informações. Observando e mediando as conversas, Karina conseguiu que as crianças começassem a ouvir melhor para depois elaborarem suas respostas aos questionamentos. “O professor tem papel fundamental na argumentação em sala de aula e deve intervir dando oportunidades aos alunos para que argumentem sobre a problemática apresentada”. Com o tempo as crianças avançaram. Suas hipóteses foram submetidas à prova, fazendo com que adquirissem novas práticas de linguagem através da argumentação. “Construir argumentos é um ato social de mediação de ideias e conhecimento, é uma habilidade aprendida. É importante que o professor pense em atividades e contextos que permitam a argumentação das crianças. Ele cria a polêmica através dos problemas propostos, conduzindo a resposta da turma a interesses específicos”. As crianças ficaram mais atentas e questionadoras, acentuou a autora. “Elas terão mais facilidade para aprender ciência, uma vez que já têm os conceitos base”. Karina também percebeu uma mudança nos alunos, que agora já conseguem, segundo ela, estabelecer relações nas ciências e argumentar. “Esse incentivo contribui para que elas passem a identificar padrões, discriminar dados e construir hipóteses”, afirma a autora. Nas considerações finais da dissertação Karina complementa que ela também mudou com o desenvolvimento do projeto. “Aprendi a atentar-me para as falas dos alunos, compreender que nem tudo que eu considero interessante desperta o interesse das crianças”.
Publicação Dissertação: “Projeto ‘Brincando com a luz’ na Educação Infantil” Autora: Karina Calça Mandaji Orientador: Jorge Megid Neto Unidade: Faculdade de Educação (FE)
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Técnica classifica farinhas para pão integral de forma Fotos: Antonio Scarpinetti
Metodologia pode auxiliar as indústrias de panificação na escolha de produtos mais adequados ISABEL GARDENAL bel@unicamp.br
esquisadora da Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA) desenvolveu em sua tese de doutorado um número adimensional capaz de classificar as farinhas de trigo integrais – através de análises reológicas (normalmente realizadas em moinhos e em indústrias de panificação) – em adequadas ou inadequadas para a produção de pão de forma. O trabalho foi feito por Georgia Ane Raquel Sehn para ajudar a resolver uma deficiência no setor industrial em definir a aplicação para farinhas integrais e prever como o pão irá se comportar durante a fabricação. A autora conseguiu estabelecer correlações entre os resultados obtidos nas análises reológicas com as farinhas avaliadas e o volume específico dos pães de forma. “Com muita estatística, alcançamos um número adimensional para aplicar só o resultado dessas análises e ver se a farinha será adequada ou não para a produção de pão de forma. Os parâmetros são os mesmos usados para farinha de trigo refinada, diferindo unicamente o olhar sobre aquele resultado”, relatou. De acordo com a estudiosa, esta ferramenta auxilia as indústrias de panificação em optar, ou não, pelo uso de aditivos e coadjuvantes para melhorar as formulações desses pães, deixando-os com um volume específico maior. “As indústrias poderão colocar em prática esse conhecimento no dia a dia da fabricação dos pães”, constatou. Esse estudo foi orientado pela docente da FEA Caroline Joy Steel e faz parte da linha de pesquisa “Panificação e controle de qualidade de cereais e farinhas”, pela qual a professora é responsável. Georgia agora está entrando com pedido de patente junto à Agência Inova Unicamp, para registro da metodologia. Para chegar a esses padrões através das análises reológicas, é preciso empregar os aparelhos farinógrafo (que mede propriedades de mistura da massa) e o extensógrafo (que mede características como extensibilidade da massa e a resistência desta à extensão). Através dos resultados obtidos, pode-se calcular o número adimensional e prever se a farinha será adequada ou não para a produção de pão de forma. “Os padrões da farinha de trigo não se ajustam aos das farinhas de trigo integrais. Daí a necessidade de criar novos padrões”, ressaltou Georgia. As farinhas de trigo integrais são atualmente empregadas em diferentes tipos de alimentos, entre eles pães, bolos, massas, biscoitos. Nessa pesquisa, o foco foi apenas o pão de forma.
Pão de forma usado em experimento: estudo estabeleceu correlações entre os resultados obtidos nas análises reológicas e o volume específico do produto
Envelhecimento e estocagem Georgia também fez um estudo acerca do envelhecimento dos pães de forma integrais para ver como eles se comportariam durante a estocagem. O principal parâmetro para avaliar isso é a firmeza do produto depois de um determinado dia. Ela também aplicou uma fórmula estatística para prever a firmeza do pão após cinco, dez ou 15 dias. Essa conduta pode contribuir com as indústrias que comercializam produtos antimofo ou ingredientes e aditivos que retardam o envelhecimento,
a um padrão. Por isso tanto pode ser adicionado 3% como 10% de farelo e chamar aquela farinha de trigo de integral. É importante ressaltar que esse produto é diferente da farinha de trigo de grão inteiro, também disponível no mercado, resultante da moagem do grão inteiro, que contém todas as partes do grão inicial: o farelo, o gérmen e o endosperma, nas mesmas proporções encontradas no grão original. Seria então o grão inteiro moído, não a reincorporação do farelo à farinha de trigo refinada, diferencia a autora. Um problema em relação ao pão integral é que as indústrias obtêm uma farinha de trigo integral e, como há uma grande variação, em razão de a legislação não estabelecer um mínimo de farelo para chamar de integral, ou porque cada moinho tritura esse farelo numa granulometria diferente, ou mesmo porque os trigos são oriundos de diferentes regiões do país, isso modifica as características do grão de trigo e da farinha. Logo, é complicado dizer que a farinha de trigo integral, na quantidade de 3%, vai render um pão de ótima qualidade ou se com 5% de farelo de trigo terá essa mesma qualidade.
deixando o pão mais macio. A indústria, já conhecendo a firmeza do pão depois de determinado dia, tem como mudar a sua formulação fazendo com que ela simplifique ou diminua a necessidade do uso de aditivos e coadvujantes no produto final. “A validade de um pão integral gira em torno de dez a 12 dias a partir da data da sua produção”, informa Georgia, que é química industrial e professora da Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc).
Georgia explicou que, quando feita análise reológica com farinha de trigo refinada, ela é capaz de indicar se aquela é uma farinha fraca, média ou forte. Mediante essa classificação, é possível direcionar o uso da farinha. A forte e a média-forte em geral são utilizadas na fabricação de pães; a fraca, na fabricação de biscoitos; e, a muito forte, na fabricação de massas alimentícias. Acontece que, quando se trabalha com farinha de trigo integral, as análises reológicas não conseguem prever essas características. O resultado mostra aparentemente que aquela farinha é muito boa, porém acaba não servindo para produzir um pão de qualidade. Foi aí que entrou o trabalho de fazer um método que classifica essas farinhas de trigo em adequadas ou inadequadas para a fabricação do pão de forma.
MÉTODO A doutoranda, depois de muitas análises com farinhas integrais, desenvolveu uma fórmula estatística cujo resultado pode ser inserido em um aplicativo e predizer se aquele produto (a farinha integral) realmente dará um bom pão de forma.
Esse instrumento permite dizer se pode ser aplicado e se vai dar um pão de forma com um bom volume específico, ou seja, se terá uma aparência bonita, de qualidade; ou se vai dar um pão com baixo volume específico; ou de repente vai sinalizar se é preciso colocar aditivos para ele ficar com maior qualidade com essa farinha. Agora, a ideia é tornar essa metodologia mais acessível ao usuário, pontuou a orientadora da tese, pois tem muita estatística envolvida. Espera-se que os moinhos e as indústrias de panificação continuem fazendo as mesmas análises para farinhas de trigo refinadas, mas com o auxílio de um aplicativo ou fórmulas de Excel e assim conseguir facilitar o dia a dia das empresas tendo rapidamente o resultado, o número adimensional de Sehn-Steel, classificando essas farinhas integrais. Para a docente, a pesquisa de Georgia é muito importante especialmente frente à dificuldade de classificar as farinhas de trigo integrais, uma vez que elas têm um comportamento atípico por causa da fibra. “É ela que altera a reologia, a viscosidade, a consistência de uma massa”, dimensionou. Às vezes são usados os resultados de farinha de trigo integral classificando-a como sendo uma farinha boa, por dar uma boa estabilidade e resistência à extensão, contudo nada disso se reflete no pão final. “Sabíamos o porquê, mas queríamos saber se haveria uma maneira de classificar essas farinhas utilizando até os mesmos equipamentos”, assinalou a professora. Os produtos integrais são de suma importância para uma alimentação saudável. São abundantes em fibras, vitaminas e minerais, prolongam a saciedade e diminuem a fome. No mundo inteiro, nota-se uma crescente busca pelos produtos integrais ou pelos nutricionalmente benéficos. Nos Estados Unidos, eles têm uma legislação na qual para chamar esse produto de integral é preciso ter pelos menos 51% do grão inteiro. “No Brasil, haveria a necessidade de instituir um padrão ou então dizer se o produto é integral porque tem pelo menos uma certa porcentagem de farelo. Verificamos, fazendo pães com as farinhas, como variava o seu volume por conta do que é incorporado de farelo”, comentou a doutoranda. Por outro lado, ainda hoje muitas pessoas têm preconceito com os produtos integrais, devido sobretudo à sua coloração escura (devido às maiores quantidades de farelo). Existem inclusive alguns projetos orientados pela professora Caroline na FEA que testam as fibras brancas substituindo a farinha de trigo.
Publicação Tese: “Desenvolvimento de padrões reológicos para farinhas de trigo e estudo do envelhecimento de pães de forma integrais” Autora: Georgia Ane Raquel Sehn Orientadora: Caroline Joy Steel Unidade: Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA)
LEGISLAÇÃO A legislação brasileira não tem uma definição exata para farinha integral. No país, ela consiste de uma farinha de trigo refinada, na qual se incorporam o farelo de trigo com ou sem gérmen, que são as camadas mais externas do grão de trigo. A farinha branca refinada é somente a parte interna do trigo. Quando se utilizam as partes externas também, esta farinha está sendo chamada de integral. Quando se faz a adição destas camadas, estão sendo incorporados maiores teores de fibra, vitaminas e minerais. No Brasil, a indústria adiciona essas frações na farinha de trigo refinada para produzir produtos integrais. Só que a quantidade de reincorporação não segue propriamente
Georgia Sehn, autora do estudo: “As indústrias poderão colocar em prática esse conhecimento no dia a dia da fabricação dos pães”
A professora Caroline Joy Steel, orientadora da pesquisa: objetivo é tornar metodologia mais acessível ao usuário
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Painel da semana
Painel da semana Conversas sobre música - Curso de Extensão será realizado no dia 15 de março, das 19 às 21 horas, no Instituto de Artes (IA) da Unicamp. O objetivo é oferecer recursos para que pessoas, sem formação musical, possam desenvolver uma escuta mais atenta à música ampliando a sua cultura com essa forma de linguagem artística. O curso é organizado pelos professores Silvia Cordeiro Nassif e Jorge Luiz Schroeder. Público-alvo: Interessados que gostem de ouvir música e que queiram desenvolver uma percepção musical mais consciente. Outros detalhes sobre o curso podem ser obtidos pelo e-mail i155821@dac.unicamp.br ou telefone (19) 9-8322-5274. Música de câmara - Campinas receberá dois jovens pianistas, destaques da música de câmara nacional. Diego Munhoz, exsolista da Orquestra Sinfônica da Unicamp (OSU), e Renata Bittencourt, formada pela Escola de Música e Belas Artes do Paraná. Eles formam o Duo Aurore e farão apresentação única, dia 15 de março, às 20h30, no Teatro Municipal “José de Castro Mendes”. Os ingressos podem ser adquiridos na bilheteria do teatro, a partir de 1 de março. Custam: R$ 20 (inteira) e R$10 (estudantes). A apresentação é apoiada pela Secretaria Municipal de Cultura de Campinas. Café Cinfotec - Próxima palestra tratará das vulnerabilidades em aplicações, que são muitas e tornaram-se ferramentas à disposição de criminosos para realização de fraudes, espionagem, furto de dados, entre outros crimes, que vitimizam usuários e organizações. O encontro ocorre no dia 16 de março, às 9h30, no Auditório do Centro de Computação (CCUEC) da Unicamp. O público-alvo são profissionais de TIC e interessados em geral. Mais detalhes no link http://www.ctic.unicamp.br/cafe_cinfotec Educação a distância - A Faculdade de Educação (FE), por meio de sua Diretoria de Educação a Distância, organiza nos dias 17 e 18 de março, na FE, o Seminário Internacional de Educação a Distância: Inovações à Educação Superior por meio das tecnologias educacionais na Cultura digital. A abertura oficial ocorre às 9 horas. O evento objetiva levar ao conhecimento de docentes, alunos, funcionários da FE e de outras unidades da universidade, bem como das instituições de ensino superior nacionais e internacionais, as potencialidades das tecnologias educacionais para propiciar formas inovadoras de ensinar e de aprender na educação superior com o oferecimento de cursos para a formação e formação continuada nas modalidades: presencial; semipresencial e a distância. No evento serão abordados temas que oferecerão a relevância da preparação docente para a integração das tecnologias educacionais ao projeto pedagógico e ao currículo na contemporaneidade. Inscrições e outras informações no site www.fe.unicamp.br/seminarioead Internacionalização das Faculdades Públicas de Medicina - A Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp receberá no dia 18 de março, às 8h30, o I Workshop de Internacionalização das Faculdades Públicas de Medicina do Estado de São Paulo. O evento é realizado pelo Escritório de Relações Internacionais da FCM/Unicamp, em parceria com os Escritórios de Relações Internacionais, das Faculdades de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) - campi de São Paulo e Ribeirão Preto - Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (Unesp) e da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), com o apoio da Associação Brasileira de Educação Internacional (Faubai), da Associação Brasileira de Educação Médica (ABEM) e da Vice-Reitoria Executiva de Relações Internacionais (Vreri) da Unicamp. Mais detalhes no link http://www.fcm.unicamp.br/fcm/eventos/2015/i-workshop-de-internacionalizacao-das-faculdades-publicas-de-medicina-do-estado-desao-paulo Treinador esportivo: competência, formação e intervenção - No dia 18 de março acontece a primeira edição de 2016 dos Fóruns Permanentes da Unicamp. Os Fóruns são uma iniciativa da Coordenadoria Geral da Universidade (CGU). O tema da
Teses da semana
primeira edição do Fórum de Arte, Cultura e Lazer será “Treinador esportivo: competência, formação e intervenção”. O evento ocorrerá às 9 horas, no Auditório UL12 da Faculdade de Ciências Aplicadas (FCA), em Limeira-SP. O evento está sob a responsabilidade da professora Larissa Rafaela Galatti e tem como público-alvo alunos, docentes e interessados no assunto. Inscrições e outras informações podem ser obtidas no site http://www.foruns.unicamp.br/foruns/projetocotuca/forum/htmls_descricoes_eventos/arte69.html. Para mais detalhes envie e-mail para sonia.mazzario@reitoria.unicamp.br ou entre em contato pelo telefone 19-3521 4759. Seminário com a professora Susanne Lettow - Encontro com a docente da Freie Universität Berlin acontece no dia 18 de março, às 10 horas, no auditório do Instituto de Geociências (IG) da Unicamp. O evento é promovido pelo Programa de PósGraduação em Política Científica e Tecnológica. Na ocasião, Lettow abordará o tema “Capitalizing bodies, capitalizing nature: towards a critical theory of the bioeconomy”. O seminário tem como públicoalvo estudantes de pós-graduação e docentes. Mais detalhes pelo telefone 19 3521-4555 ou e-mail dpct@ige.unicamp.br
Eventos futuros Redação científica na FOP - O Espaço da Escrita oferece aos docentes, pesquisadores de carreira, aos alunos de graduação e aos de pós-graduação da Faculdade de Odontologia de Piracicaba (FOP), o curso básico “Método Lógico para Redação Científica”. Será no dia 21 de março, às 9 horas, no Salão Nobre da unidade. O curso terá 8 horas/aula e será ministrado pelo professor Gilson Luiz Volpato (Unesp/Botucatu). Ele foi organizado para todos que queiram aprender do zero ou aperfeiçoar a escrita de textos acadêmicos desde a perspectiva da ciência empírica. Para mais informações acesse o link http://www.cgu.unicamp.br/espaco_da_escrita/workshop_metodo_logico_piracicaba.php Línguas indígenas - O conhecimento sobre as origens das línguas nativas da América do Sul e seus parentescos está diante de um desafio metodológico: a pesquisa tradicional não tem se mostrado capaz de fazê-lo avançar mais na história dos povos que deram origem às línguas indígenas faladas atualmente. Para apresentar e discutir novas metodologias na área, pesquisadores de diversos países se reunirão na Escola São Paulo de Ciência Avançada Putting Fieldwork on Indigenous Languages to New Uses, de 21 de março a 6 de abril, no Instituto de Estudos da Linguagem (IEL) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Leia mais http://agencia. fapesp.br/novas_metodologias_para_pesquisa_com_linguas_indigenas_serao_apresentadas_na_unicamp/22591/ A curadoria e a produção artística contemporânea A Galeria de Arte do Instituto de Artes (GAIA) da Unicamp receberá, para palestra, o artista plástico e pesquisador de arte, Danillo Villa. No dia 21 de março, às 13h30, à rua Sérgio Buarque de Holanda s/ nº, no piso térreo da Biblioteca Central “Cesar Lattes” (BCCL), ele abordará o tema “A curadoria e a produção artística contemporânea”. O evento é aberto à participação de estudantes de arte e interessados no tema, a partir de 18 anos de idade. As inscrições serão aceitas de 19 de janeiro a 17 de março. As vagas são limitadas. A atividade é viabilizada pelo Governo do Estado de São Paulo e Secretaria de Estado da Cultura, através da POIESIS – Organização Social de Cultura, Língua e a Literatura e da Oficina Cultural Carlos Gomes, em parceria com a Galeria do Instituto de Artes da Unicamp. O palestrante é artista plástico e pesquisador, com graduação e mestrado em Poéticas visuais pela Unicamp e doutorado em Poéticas Visuais pela ECA-USP. Professor de desenho e pintura e curador da Divisão de Artes plásticas da Casa de Cultura da UEL Universidade Estadual de Londrina-PR. Pesquisa o devir do objeto na arte contemporânea. Mais informações pelos telefones (19) 35216561/3521-7453.
Eventos futuros
Árvore dos desejos - No dia 21 de março, às 19 horas, na rua Dr. Sampaio Peixoto 368, em Campinas, acontece a instalação sensorial interativa “Árvore dos desejos”, de Paulo Cesar Teles, com a participação da professora e artista Lucia Camargo. Trata-se de uma interpretação multimídia de lendas orientais sobre uma árvore que tem o poder de realizar os desejos ligados a ela e se constitui de uma escultura tridimensional em forma de árvore feita de embalagens e objetos reciclados. Para mais detalhes acesse a página https://www.facebook.com/events/157787294605068/ Encontro de Teatro Universitário - Evento será realizado no dia 28 de março, o dia todo, no Departamento de Artes Cênicas do Instituto de Artes da Unicamp. Trata-se de um encontro produzido por estudantes de Artes Cênicas das universidades públicas paulistas, a partir das proposições e demandas oriundas do espaço da graduação. Tem como objetivo fomentar a troca e reflexão entre esses núcleos acerca de seus fazeres artísticos. O intuito é criar um espaço de encontro no qual os estudantes da Unicamp, Unesp e USP possam apresentar as produções desenvolvidas nos cursos de artes cênicas, debater processos e rumos e aprofundar as discussões. Tal proposta decorre dos múltiplos caminhos da produção artística da atualidade e os modos como esses assuntos têm sido estudados nas universidades públicas – espaço este que vem se modificando e apresentando urgência de debate. Na Unicamp o evento é organizado pelos alunos do curso de Artes Cênicas, Allan Kawabata, Beatriz Magosso e Gabriel Pangonis. Informações por e-mail, telefones 17-991215704 e 19-983768654 ou no link https://www.facebook.com/ ETU-Encontro-de-Teatro-Universit%C3%A1rio-263716537085467 Comissões da Verdade: políticas, sentidos e práticas - Evento científico a ser realizado no dia 28 de março, das 9 às 18 horas, no Auditório II do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH), busca destacar a questão das Comissões de Verdade através do debate como especialistas na temática do pós-conflito, entre outras questões. Para enriquecer a análise da realidade brasileira, também serão abordados outros dois contextos nacionais significativos, a África do Sul e a Colômbia. A organização é da pesquisadora de pós-doutorado, Adriana Villalón, em colaboração como os docentes Susana Durão, Omar Thomaz e J.M. Arruti. O encontro é aberto ao público em geral. Mais informações pelo e-mail adriana.villalon@gmail.com Encontro de Divulgação de Ciência e Cultura - Nos dias 29 e 30 de março, o Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo (Labjor) da Unicamp realizará o 3º Encontro de Divulgação de Ciência e Cultura (Edicc 2016). O evento, que acontecerá no Instituto de Estudos da Linguagem (IEL) da Unicamp, terá como tema Rumos e perspectivas para a divulgação científica e cultural. Mais informações: http://3edicc.wix.com/edicc2016 Seminário com Alejandro Castillejo - Em continuação ao evento “Comissões da verdade: políticas, sentidos e práticas. Exemplos de Brasil, África do Sul e Colômbia”, no dia 29 de março, às 9h30, na Sala Multiuso do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH), o antropólogo Alejandro Castillejo ministrará um seminário com foco em sua pesquisa: “Dialécticas de la Fractura y la continuidad: elementos para una lectura crític”. A organização é de Adriana Villalón, pós-doutoranda pelo IFCH e dos docentes Susana Durão, José Arruti e Omar Ribeiro Thomaz. O público-alvo são alunos e pesquisadores de ciências sociais em geral. Mais detalhes pelo telefone 19-3521-1601. Diálogos do Antropoceno - Debate está marcado para o dia 30 de março, às 14 horas, no Auditório do Instituto de Geociências (IG). Terá a participação dos pesquisadores convidados Jefferson Picanço (DGRN/Unicamp) e Rosana Corazza (DPCT/Unicamp). O evento visa iniciar uma discussão sobre desafios globais contemporâneos, cuja compreensão exige cada vez mais a cooperação multidisciplinar entre ciências naturais e humanas. O conceito de antropoceno, muito discutido nas ciências sociais apesar de ter origem na geologia, serve aqui de mote para uma conversa entre disciplinas sobre desafios globais, incluindo desastres naturais e a economia dos hidrocarbonetos num contexto de mudanças climáticas. Mais detalhes pelos telefones (19) 3521-4561/4192 ou e-mail markosy@uol.com.br
Destaque do Portal
Fórum de Vida e Saúde - Com o tema “Qualificando a
atenção em saúde materna e perinatal”, no dia 31 de março, às 9 horas, no Centro de Convenções da Unicamp, acontece o Fórum Permanente de Vida e Saúde. O evento está sob a responsabilidade da professora Eliana Amaral. O Fórum, que será transmitido pela TV Unicamp, é aberto ao público em geral. Inscrições, programação e outras informações no site http://www.foruns.unicamp.br/foruns/projetocotuca/forum/htmls_descricoes_eventos/saude83.html
Teses da semana Ciências Médicas: “Relação entre o volume do córtex cerebral
e de estruturas límbicas com memória e resposta ao tratamento em pacientes com epilepsia de lobo temporal mesial” (doutorado). Candidata: Denise Pacagnella. Orientador: professor Fernando Cendes. Dia 18 de março de 2016, às 9h30, no anfiteatro da CPG da FCM. Computação: “Otimização da variabilidade estatística em circuitos physical unclonable functions baseados em atraso” (mestrado). Candidato: Jefferson Rodrigo Capovilla. Orientador: professor Guido Costa Souza de Araújo. Dia 18 de março de 2016, às 14h30, no auditório do IC 2 do IC. Educação Física: “As formas de uso e apropriação do estádio Mineirão após a reforma” (doutorado). Candidata: Priscila Augusta Ferreira Campos. Orientadora: professora Silvia Cristina Franco Amaral. Dia 18 de março de 2016, às 9h30, no auditório da FEF. Filosofia e Ciências Humanas: “Camponeses da bacia do rio Tejo: economia, política e afeto na Amazônia” (doutorado). Candidato: Roberto Sanches Rezende. Orientador: professor Mauro William Barbosa de Almeida. Dia 18 de março de 2016, às 14 horas, na sala de defesa de teses do IFCH. Física: “Dinâmica molecular reativa de sistemas nanoestruturados” (doutorado). Candidato: José Moreira de Sousa. Orientador: professor Douglas Soares Galvão. Dia 18 de março de 2016, às 14 horas, no auditório de Pós-graduação do IFGW. Linguagem: “Oficina de fanfictions na escola: uma análise das práticas de revisão e reescrita” (mestrado). Candidata: Larissa Giacometti Paris. Orientadora: professora Raquel Salek Fiad. Dia 14 de março de 2016, às 10 horas, no anfiteatro do IEL. “Sir Thomas More: estudo e tradução” (doutorado). Candidato: Régis Augustus Bars Closel. Orientadora: professora Suzi Frankl Sperber. Dia 17 de março de 2016, às 10 horas, na sala dos colegiados do IEL. Matemática, Estatística e Computação Científica: “Novas extensões de técnicas de escalarizações no problema de corte unidimensional inteiro multiobjetivo” (doutorado). Candidato: Angelo Aliano Filho. Orientador: professor Antonio Carlos Moretti. Dia 17 de março de 2016, às 14 horas, na sala 253 do Imecc. Odontologia: “Análise de extensometria linear elétrica sobre a deformação de componentes em prótese fixa anterior implantossuportada” (mestrado). Candidata: Raisa Zago Falkine. Orientador: professor Wilkens Aurelio Buarque e Silva. Dia 14 de março de 2016, às 9 horas, na sala da congregação da FOP. Química: “Propriedades eletroquímicas de eletrodos de filme poroso de óxidos mistos de bismuto, tungstênio e cobre” (mestrado). Candidato: Douglas Del Duque. Orientadora: professora Claudia Longo. Dia 14 de fevereiro de 2016, às 14 horas, no miniauditório do IQ. “Polinaftalimidas: síntese e propriedades” (mestrado). Candidato: Douglas Nunes de Oliveira. Orientadora: professora Maria Isabel Felisberti. Dia 15 de março de 2016, às 9 horas, no miniauditório do IQ. “Desenvolvimento de método para a determinação de filtros solares orgânicos por cromatografia líquida de alta eficiência e avaliação da correlação do fator de proteção solar medido in vivo e in vitro por espectroscopia no infravermelho próximo e quimiometria” (mestrado). Candidata: Daiane Camilo Nery. Orientadora: professora Susanne Rath. Dia 16 de março de 2016, às 9 horas, no miniauditório do IQ.
Destaque do Portal Foto: Antoninho Perri
Lançados editais na estratégia
de mobilidade internacional Unicamp lançou, no dia 1 de março, nove editais no âmbito do Programa de Internacionalização para 2016, com prazo para apresentação de propostas até o dia 24 de abril, através do sitewww. internationaloffice.unicamp.br, da Vice-Reitoria Executiva de Relações Internacionais (Vreri). Trata-se de programas de curta duração para fomentar contatos e parceiras com instituições estrangeiras, quais sejam: de Cooperação Mundial, Humanas sem Fronteiras, Faepex/Estudante Estrangeiro, Faepex/Coorientador Estrangeiro, Intensive Course, Mobilidade de Funcionários, Colégios Técnicos, BRICS e Agropolo Campinas. As propostas devem envolver atividades para o período de 1º de junho a 20 de novembro. O professor Luís Cortez, vice-reitor de Relações Internacionais, explica que estes editais fazem parte da estratégia traçada até 2017 para alcançar um novo patamar de internacionalização, gerando mais oportunidades e abrindo outras frentes para áreas e setores menos contemplados da Universidade. “O impacto dos editais de 2015 foi muito bom, com o recebimento de mais de 200 propostas. A expectativa é de passar de 300 inscrições neste ano, por conta da crise que afeta o programa Ciência sem Fronteiras. Apesar do contexto, o professor Tadeu Jorge conseguiu manter os recursos de mais
de dois milhões de reais para o Programa de Internacionalização, com a colaboração do Banco Santander.” Segundo Cortez, a meta é apoiar as boas propostas, cobrindo todas as áreas do conhecimento, mas com atenção especial para o edital de Intensive Course, que contempla a vinda de renomados docentes e pesquisadores para realizar cursos intensivos exclusivamente em língua inglesa. “Esta fórmula teve grande repercussão, com cerca de 20 cursos no ano passado, e gostaríamos de reforçá-la por atingir muito mais pessoas: ao invés de usarmos o recurso para enviar uma pessoa ao exterior, trazemos um especialista estrangeiro cujo conhecimento vai impactar em dezenas de alunos.” O vice-reitor acrescenta que estes editais complementam uma ação desenvolvida conjuntamente com a Coordenadoria Geral da Universidade (CGU) e Pró-Reitoria de Pós-Graduação (PRPG) e voltada a docentes para cursos de inglês acadêmico no Reino Unido. “Nossos professores viajam com o compromisso de, no retorno, oferecer o mesmo curso em suas respectivas unidades. O objetivo é reforçar o hábito do inglês técnico entre os pós-graduandos, pois achamos que muitos dos nossos trabalhos científicos deixam de ser publicados porque falta de maior domínio da língua.” Em relação aos outros editais, Luís Cortez destaca a importância da chamada de Co-
operação Mundial, feita para apoiar visitas técnicas de docentes ou da própria direção das unidades a instituições no exterior. “A Unicamp tem recebido muitas visitas, mas falta oportunidade para que a faculdade ou instituto defina a parceria específica que julgue mais relevante e estratégica. As visitas podem ser para qualquer país, à exceção dos BRICS, que são atendidos por edital à parte – a cooperação com a China vai muito bem, também com a Rússia e está só começando com a África do Sul; nossa grande fronteira é a Índia.” O edital Humanas sem Fronteiras, lembra o vice-reitor de Relações Internacionais, facilita a mobilidade para uma área não contemplada pelo Ciência sem Fronteiras e de interesse do Instituto de Estudos da Linguagem (IEL), Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH), Instituto de Economia (IE), Faculdade de Educação (FE), Instituto de Artes (IA) e Faculdade de Ciências Aplicadas (cursos na área de administração). O Faepex (Fundo de Apoio ao Ensino, à Pesquisa e à Extensão) garantirá a vinda de alunos estrangeiros de pós-graduação, não para cursar uma disciplina, mas para desenvolver parte de sua pesquisa em laboratório da Unicamp; e de coorientadores de países que tenham convênio de cotutela vigente ou em vias de celebração com a Universidade. Luís Cortez ressaltou a preocupação da Unicamp em oferecer esta mesma mobili-
O professor Luís Cortez, vice-reitor de Relações Internacionais: “A expectativa é de passar de 300 inscrições neste ano”
dade internacional para funcionários técnicos e administrativos, com visitas técnicas e estágios profissionais em instituições de qualquer país, dentro da mesma área de atuação. “Queremos assegurar, também, que os Colégios Técnicos de Campinas e de Limeira tenham a sua iniciação internacional. E, por último, há o novo edital Agropolo Campinas, voltado a áreas como de alimentos, agricultura e biologia, dentro de um grande projeto inspirado no Agropolis da Universidade de Montpellier, cujas instalações o reitor Tadeu Jorge visitará no final de março.” (Luiz Sugimoto)
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Grupo busca biomarcadores da depressão e da esquizofrenia CARMO GALLO NETTO carmo@reitoria.unicamp.br
professor Daniel Martins de Souza, do Departamento de Biologia, do Instituto de Biologia (IB) da Unicamp, é responsável pelo Laboratório de Neuroproteômica, em que se estudam doenças neuropsiquiátricas como a depressão e a esquizofrenia. O proteoma é o conjunto de proteínas produzidas pelo organismo. As linhas de pesquisas desenvolvidas no laboratório estão orientadas, então, para o estudo das ações das proteínas relacionadas às funções cerebrais. Elas decorrem das experiências de seis anos do pesquisador no Instituto Max Planck de Psiquiatria, em Munique, na Alemanha, no Instituto de Biotecnologia da Universidade de Cambridge, na Inglaterra e, finalmente na Universidade de Munique, onde iniciou um grupo de pesquisa como investigador júnior. O grupo de pesquisa coordenado pelo docente dedica-se basicamente ao desvendamento de duas das principais doenças neuropsiquiátricas, a depressão e a esquizofrenia, e tem dois objetivos primordiais: 1) compreender o funcionamento dessas doenças a nível molecular, ou seja, descobrir as proteínas que lhe estão associadas e seus mecanismos de atuação; 2) localizar biomarcadores, que são moléculas produzidas pelo organismo e que possam estar relacionados com os estados físicos identificados como depressão ou esquizofrenia. Atualmente para esses dois males não se conhecem ainda biomarcadores, ou seja, proteína ou grupos de proteínas que possam estar associados de alguma forma a essas anormalidades. Explicando melhor, não há possibilidade de, com um exame de sangue, determinar que indivíduos apresentem quadros de depressão ou esquizofrenia, porque não se conhecem ainda proteínas que permitam identificar essas doenças. Bem diferente do exame do PSA, um dos marcadores mais usados na medicina, que sinaliza para a possibilidade de câncer na próstata. Em vista disso, o diagnóstico tanto para a depressão como para a esquizofrenia é realizado exclusivamente pelo psiquiatra, através de entrevistas e testes baseados em pontuação, o que sugere um razoável grau de subjetividade. Mesmo diante dessa subjetividade esses profissionais conseguem lidar bem com os diagnósticos. O problema vem depois: como tratar esses pacientes? Como fazer a escolha da medicação mais apropriada, na dosagem mais adequada? A depressão está relacionada ao humor e se manifesta, em geral, através da tristeza, da supressão da vontade. A esquizofrenia leva a comportamentos psicóticos, como enxergar e ouvir coisas sem existência real. Em nenhum dos dois casos o psiquiatra dispõe de apoio molecular para indicar o melhor medicamento e a dose em que deve ser aplicado, e se vale de suas vivências e experiências profissionais, que envolvem tentativas e erros. Este quadro dá uma ideia da importância das pesquisas realizadas no Laboratório de Neuroproteômica do IB.
cometer suicídio aumenta. Por isso, diz ele, “é imperativo que se descubram biomarcadores que, não só permitam um diagnóstico mais efetivo da doença, mas, principalmente, apontem quais são os medicamentos mais indicados para cada paciente e em que doses devem ser ministrados”. Dentro desse foco, o estudo realizado no laboratório se detém na avaliação das proteínas que estão no sangue dos pacientes diagnosticados com depressão, antes do tratamento e seis semanas depois de ter sido iniciado. O sangue dos pacientes analisados pelo Laboratório de Neuroproteômica foi coletado nas clínicas psiquiátricas das Universidades de Magdeburg e Munique e no hospital psiquiátrico do Instituto Max Planck na Alemanha, grupos com os quais o laboratório mantém parceria. Com base nas avaliações dos psiquiatras, depois de seis semanas do medicamento ministrado, os pesquisadores separam os pacientes em dois grupos: o dos que responderam à medicação e os dos resistentes a ela. Isso permite que, com base nas amostras coletadas antes da medicação, possam ser identificadas as proteínas presentes no sangue de quem não respondeu à medicação e ausentes no outro grupo, ou vice-versa. “Em nossos estudos descobrimos que os pacientes que respondem mal à medicação têm na circulação maior quantidade de uma proteína chamada fibrinogênio. Os componentes dos dois grupos a têm, mas as pessoas resistentes à medicação a apresentem em maior quantidade”, diz Daniel. Ele explica que seguiu esse viés na pesquisa com base em um estudo, realizado na Noruega, em um universo de mais de 70 mil pessoas, que levou a associar altos níveis de fibrinogênio à depressão. Geneticamente ficou constatado, então, que os portadores de depressão normalmente têm níveis mais elevados de fibrinogênio. Ele considera que o seu grupo de pesquisa conseguiu dar um passo a mais, mostrando na verdade que, quem responde mal à medicação tem mais fibrinogênio na circulação de quem responde bem. Essa constatação decorreu da análise de amostras colhidas em mais de cem pacientes. Sobre a presença do fibrinogênio, o pesquisador destaca duas constatações. A primeira é a de que as pessoas com depressão têm um sistema inflamatório mais ativo, coerente com o fato de o fibrinogênio participar ativamente dos quadros inflamatórios. A segunda é que, nas pessoas com problemas circulatórios, a que é administrada aspirina,
Proteínas do sangue podem indicar o melhor caminho para a eficácia de drogas ocorre diminuição das quantidades das proteínas relacionadas à coagulação sanguínea, incluindo o fibrinogênio. Em decorrência, diz ele, “a hipótese com que estamos trabalhando é a de que, nos pacientes com depressão que respondem mal à medicação, se lhes for administrada aspirina, que aparentemente segrega o fibrinogênio, o problema possa ser resolvido. Teríamos então uma solução muito simples para a falta de resposta às medicações”. Trata-se de somente uma hipótese, ainda não testada clinicamente. Na verdade, Daniel postula que o antidepressivo deve, de alguma forma, se ligar ao fibrinogênio, impedindo que a droga chegue ao cérebro ou o faça em quantidade insuficiente. Essa hipótese está sendo testada pelas alunas de pós-graduação Aline Santana, Verônica Saia-Cereda e Sheila Garcia. Se confirmada, o fibrinogênio poderia vir a ser então um marcador que aponta a eficácia da medicação. Ele explica que o emprego da aspirina seria uma forma de lidar com a quantidade alta de fibrinogênio por promover a retirada dessa proteína da circulação, permitindo a disponibilidade da medicação na corrente sanguínea. Portanto, o problema da atuação da droga pode estar na circulação, e não sua atuação no cérebro, onde teria sua chegada impedida ou diminuída. Esses estudos não têm ainda caráter clínico mas, por enquanto, estão sendo conduzidos através de modelos computacionais, que permitem especular sobre as possiblidades das interações moleculares aventadas, com a ajuda do pesquisador do Laboratório Nacional de Biociências (LNBio) Paulo Sérgio Lopes de Oliveira e seu aluno José Geraldo de Carvalho. O docente esclarece que ainda se sabe muito pouco sobre os mecanismos que levam à depressão. Essa vertente também está sendo investigada no laboratório com base em uma coleção de amostras cerebrais coletadas pós-morte. No caso, são determinadas as proteínas presentes nesses cérebros comparando-as com as de pessoas sadias, procurando inferir daí o papel delas no metabolismo cerebral que pode levar à depressão.
Em relação a ela as pesquisas do laboratório são bastante parecidas. São coletadas amostras de sangue dos pacientes para caracterização das proteínas antes da medicação e seis semanas depois de ministrada. Sabe-se que 66% dos indivíduos com esquizofrenia não responde à primeira rodada da droga utilizada. Daí a importância de descobrir um marcador que permita determinar com antecedência os pacientes resistentes ao tratamento. As primeiras evidências dos estudos desse projeto mostram, através das análises de proteínas presentes na circulação, que os pacientes que respondem bem à medicação têm alterações nas quantidades de cerca de 15 proteínas responsáveis pela metabolização de outras proteínas. Pacientes que respondem mal, também têm alterações nestas mesmas proteínas, mas no sentido inverso. O objetivo da pesquisa é o de descobrir porque isso ocorre e a resposta pode levar à identificação de biomarcadores. Cabe agora quantificar se este sentido inverso na produção de proteínas já existia antes da medicação, o que será feito por sua aluna de doutorado, Sheila Garcia. Se isso se confirmar, o grupo terá em mãos um painel de biomarcadores que poderia identificar que pacientes vão responder bem às drogas psicotrópicas antes do tratamento começar. Estabelecido o painel de biomarcadores, diz ele, ”partiremos para verificar sua especificidade para cada uma das três drogas que consideramos no estudo, o que nos permitirá definir qual delas deve ser ministrada em cada caso. É o que tentaremos descobrir. Estamos à procura do que chamamos de assinatura molecular, ou seja, da validação de que a presença de determinadas proteínas permite indicar o melhor remédio para cada pessoa”. Seguindo tendência atual, é o que se chama de medicina personalizada, pois hoje se sabe que as respostas às medicações são específicas para cada indivíduo. Daniel lembra que a esquizofrenia pode atingir hoje cerca de 1% da população mundial, o que equivale a mais de 500 milhões de pessoas no mundo. Os trabalhos desenvolvidos no laboratório envolvem de 50 a 100 pessoas, um universo restrito e que constitui um fator limitante. “O nosso papel é mostrar dados e elementos, que conjuntamente com outros, possam vir a ser usados em trabalhos posteriores, que uma vez publicados sirvam de base para a elaboração de novos medicamentos”, diz ele. Foto: Antonio Scarpinetti
A DEPRESSÃO
A depressão afeta cerca de 10% da população mundial. A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima, para 2020, que quase metade das pessoas que se aposentarem por invalidez o farão devido a ela. Além do aspecto humano, passa a preocupar as consequências econômicas, pois o tratamento é caro e os indivíduos, enquanto em estado de depressão, tornam-se totalmente improdutivos. Mas há questões mais imediatas a serem resolvidas, segundo o pesquisador. Diagnosticada a doença e prescrito o tratamento o paciente retorna depois de cerca de seis semanas para ser avaliado pelo psiquiatra. Se o medicamento não surtiu o efeito desejado, o médico aumenta a dose ou muda a medicação. A reavaliação é feita então depois de mais algumas semanas. Essa situação pode se prologar até que o paciente acuse resposta ao tratamento. E aí ocorre um grande risco, pois cerca de 40% dos suicídios em escala mundial decorrem de estados depressivos. Então, enquanto a pessoa não responde à medicação, a chance dela
ESQUIZOFRENIA
O professor Daniel Martins de Souza, coordenador das pesquisas: “É imperativo que se descubram biomarcadores que apontem quais são os medicamentos mais indicados para cada paciente”
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sob a lona, o poder do riso Foto: Antonio Scarpinetti
SILVIO ANUNCIAÇÃO silviojp@reitoria.unicamp.br
ma escola do riso, que ensina para o teatro e para a vida, com métodos próprios e uma infinidade de saberes. A definição é a que melhor cabe ao objeto do estudo da atriz e pesquisadora da Unicamp, Fernanda Jannuzzelli Duarte: o circo-teatro brasileiro. Em tempo: a consideração de Fernanda Jannuzzelli não é desprovida de paixão e conhecimento de causa. Logo após concluir sua dissertação de mestrado sobre o circo-teatro, a pesquisadora deixou seus projetos pessoais e profissionais mais estruturados para se dedicar inteiramente à atividade nômade de atriz do Circo de Teatro Tubinho, umas das companhias itinerantes de lona estudadas em sua pesquisa. Além do Tubinho, um dos maiores representantes do circo-teatro no país atualmente, a atriz estudou o Pavilhão Arethuzza, uma das companhias mais bem sucedidas do início do século XX, que encerrou suas atividades na década de 1960. “Existe um saber dentro desta lona e das lonas pelo país que, muitas vezes, os próprios circenses não têm a dimensão que eles possuem ter. Há um arcabouço de se fazer teatro que é único. É uma escola neste sentido porque se aprende a trabalhar de uma forma que é preciso estar, a qualquer momento, pronto para entrar na cena”, considera Fernanda Jannuzzelli, graduada em artes cênicas pelo Instituto de Artes (IA) da Unicamp. Ela acrescenta que no Circo de Teatro Tubinho, cujo espetáculo envolve somente a parte teatral, há uma apresentação diferente todos os dias, com uma média de duas horas de duração. “Os ensaios acontecem durante o dia e, já à noite, é preciso estar preparado para a apresentação. E é também uma escola de vida que ensina muito sobre convivência e desapego.” A atriz informa que o circo-teatro apresentado pelo Tubinho atrai, em média, 600 pessoas por dia, de segunda a segunda, exceto às quartas-feiras, o dia de folga da companhia. Toda a arrecadação do Circo de Teatro Tubinho é proveniente da bilheteria, um fenômeno raro hoje em dia, conforme a pesquisadora da Unicamp. “É preciso, portanto, agradar o público. Este verbo é muito usado pelos circenses e pode até soar como pejorativo, se você falar, por exemplo, com alguém do teatro tido como ‘oficial’. Mas aqui este verbo é usado sem nenhum problema. Você precisa garantir que o público vai sair daqui com a barriga doendo de tanto rir e vai voltar amanhã e vai trazer mais um monte de gente. Esta é a sobrevivência do circo-teatro! Portanto, o espetáculo não pode agradar mais ou menos, ele tem que agradar muito a plateia.” Neste ponto, a estudiosa ressalta para o que ela chama de transformação das pessoas pelo poder do riso. “Um dos aspectos que mais me chamaram a atenção durante a pesquisa é que existe um verdadeiro ritual debaixo desta lona. Porque 600 pessoas se encontram e saem daqui transformadas pelo riso. Elas não saem da mesma maneira que entraram. Eu pude acompanhar isso durante toda a pesquisa. Tem gente que já veio mais de 100 vezes no Circo do Tubinho e que vai aonde o circo vai”, constata. O estudo de Fernanda Jannuzzelli, apresentado junto ao Programa de Pós-Graduação em Artes da Cena do IA, foi orientado pelo professor Mário Alberto de Santana, que atua no Departamento de Artes Cênicas da Unidade. O trabalho obteve financiamento, na forma de bolsa à pesquisadora, da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).
Amilton Pereira Junior, o Tubinho, descendente dos fundadores do circo, e Fernanda Jannuzzelli Duarte, autora do estudo; abaixo, o circo na segunda metade do século 20 Foto: Reprodução
fundadores os membros da família Neves. Com o passar dos anos, os membros das famílias Viana e Santoro foram agregados à companhia. A pesquisadora do IA informa que as origens do Pavilhão Arethuzza remontam ao século XIX, quando João Miguel de Faria fundou o Circo Glória do Brasil, entre 1865 e 1875. De acordo com ela, em 1891, Antônio das Neves, um português que vivia no Brasil desde sua infância, passou a trabalhar no Circo Glória do Brasil. Em pouco tempo, por ter se mostrado um excelente artista e administrador, com apenas dezoito anos, tornou-se sócio do comendador João Miguel de Farias, no agora chamado Circo Luso Brasileiro. Em 1895 casou-se com Benedicta Elvira e assumiu a direção total do circo, que ganhou de presente de casamento e que passou a se chamar Circo Colombo. “Em 1925, o Circo Colombo passou, então, a se chamar Circo-Teatro Arethuzza, nome da primogênita de Neves e Benedicta Elvira. A nomenclatura circo-teatro passou a ser usada, pois nessa época a pantomima já era um dos momentos mais aguardados do espetáculo”, explica Fernanda Jannuzzelli. Ela acrescenta que, na década de 1940, o Circo-Teatro Arethuzza consolidou-se como uma das companhias mais bem sucedidas daquele momento, vindo depois a se chamar Pavilhão Arethuzza. “Mas em 1964 a família Viana-Santoro-Neves resolveu encerrar suas atividades ao constatar que não havia mais condições de manter o mesmo padrão de qualidade das montagens com as quais havia se consagrado junto ao público.”
CIRCO DE TEATRO TUBINHO
A autora da pesquisa explica que o propósito do seu trabalho foi estudar a manifestação do circo-teatro no Brasil ao longo do tempo, sob o viés do trabalho do ator. Fernanda Jannuzzelli investigou os elementos da encenação e interpretação do Pavilhão Arethuzza e do Circo de Teatro Tubinho. O objetivo em estudar as duas companhias, segundo a atriz, foi entender como era o circo-teatro na época do Pavilhão Arethuzza e como é, atualmente, com o Tubinho.
MANIFESTAÇÃO RENEGADA
Para a estudiosa do IA somente a partir do início dos anos de 2000 o circo-teatro começou a ser pesquisado na academia, sobretudo com os estudos da historiadora Ermínia Silva e do professor Mario Fernando Bolognesi. “O circo-teatro é uma manifestação que foi renegada tanto pelo circo, quanto pelo teatro tido como ‘oficial’. Esta manifestação foi excluída da história do teatro oficial brasileiro. Se você pegar os livros sobre a história do teatro no Brasil, das décadas de 1960, 1970 e 1980, não há nada sobre o circo-teatro. Além disso, muitos circenses tradicionais julgam que o circo-teatro gerou uma deturpação do espetáculo circense, sendo responsável por diminuir a atividade no Brasil. Portanto, o circo-teatro ficou num limbo, não sendo considerado nem teatro pelo teatro oficial, nem circo pelas companhias circenses”, avalia.
“Neste sentido uma das contribuições do meu estudo é que ele vem para afirmar que circo-teatro é teatro sim e que existe ainda hoje. Fala-se que não existe mais circo-teatro, mas se você vier ao Tubinho, vai ver um circo apresentando para 600 pessoas todas as noites. Houve uma diminuição no geral, mas ainda existem companhias levando a arte teatral pelo país e chegando a cidades e localidades aonde as companhias ‘oficiais’ não chegam”, completa. Com base na experiência viva do Circo de Teatro Tubinho, a autora escreve no último capítulo do seu estudo que o show não pode parar porque um dia sem peça é um dia sem bilheteria. “Na peça Tubinho, o caçador de ídolos, Tubinho e seu escada dão as seguintes falas, que resumem bem o que quero dizer: ‘- As mulheres pintam a cara pela moda. - E eu pela moeda. - As mulheres pintam a cara por vaidade. - E eu por necessidade.’ Dessa forma, esses artistas sobem ao palco todas as noites. E quem apresenta toda noite, aprende toda noite, experimenta toda noite, se põe em risco toda noite, amplia repertório toda noite, se aperfeiçoa toda noite.”
PAVILHÃO ARETHUZA O Circo-Teatro Pavilhão Arethuzza, com quase cem anos de existência, teve como
Já a trajetória do Circo de Teatro Tubinho teve início em 1918, com o casamento de Juvenor Ferreira Garcia (o palhaço Caolho) e Dolores Vilaça Garcia, mais conhecida por Lola. O caçula dos filhos de Juvenor e Lola, Juve Garcia, criou o palhaço Tubinho na encenação Tubinho um Trapalhão, levada no Circo de Teatro Tubinho até hoje. O circo de Juve resistiu até o ano de 1978 quando fechou as portas. 23 anos depois, Amilton Pereira Junior, neto de Juve, mais conhecido como Zeca, decidiu iniciar as atividades do novo Circo de Teatro Tubinho, na cidade de Arapoti, no Paraná. Zeca representa, no palco, o palhaço Tubinho. “O Tubinho tem mais de 100 peças no repertório e permanece meses instalado nas cidades. Em 2014, ficou oito meses em Sorocaba, por exemplo. O palhaço Tubinho é o centro da companhia. É um time que trabalha para o palhaço, para fazer ele crescer. Os integrantes deste time são chamados de escadas, que ‘erguem’ a piada que vai ser arrematada pelo palhaço. Cada um é responsável por um degrau nesta escada e quanto mais degraus conseguimos fazer, mais alto o palhaço vai. E com isso toda a companhia. Esta dimensão é muito clara para todos”, relata a atriz. De acordo com ela, a companhia conta com 40 integrantes, incluindo crianças e as famílias do fundador. Após convite de Zeca, Fernanda Jannuzzelli decidiu viver entre estes 40 integrantes. Ela comprou um ônibus antigo que serve de moradia e, desde então, passou a fazer parte do que chama de escola de teatro e de vida. “Para mim tem sido uma experiência incrível. É como se fosse uma segunda faculdade. Estou fazendo outro curso de artes cênicas, que só vai agregar e somar à formação que eu tive na Unicamp”, reconhece. Fotos: Antonio Scarpinetti
Publicação Dissertação: Circo-teatro através dos tempos: cena e atuação no Pavilhão Arethuzza e no Circo de Teatro Tubinho Autora: Fernanda Jannuzzelli Duarte Orientador: Mario Alberto de Santana Unidade: Instituto de Artes (IA) Financiamento: Fapesp Acima, Fernanda Jannuzzelli Duarte no ônibus onde mora atualmente; à direita, Amilton Pereira Junior se maquiando para interpretar Tubinho