4 Unicamp finaliza Planes 2016-2020
Jornal daUnicamp www.unicamp.br/ju
Campinas, 21 de março a 3 de abril de 2016 - ANO XXX - Nº 650- DISTRIBUIÇÃO GRATUITA
MALA DIRETA POSTAL BÁSICA 9912297446/12-DR/SPI UNICAMP-DGA
CORREIOS
FECHAMENTO AUTORIZADO PODE SER ABERTO PELA ECT Foto: Antoninho Perri
Técnica inédita detecta tumores
O pesquisador Pedro Henrique Vendramini durante investigação no Laboratório ThoMSon: diagnóstico em nível molecular
Cientistas do Instituto de Química (IQ) da Unicamp e do Centro Infantil Boldrini, de Campinas, começaram a usar uma técnica que obtém a identificação, a classificação e o mapeamento de tumores cerebrais em crianças. O diagnóstico, que é feito em nível molecular, deve aumentar a precisão nas cirurgias e reduzir o risco de mortes e sequelas. A técnica é inédita no país.
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Afeto e sistemas computacionais A relação entre ditadura e educação na Bahia
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Grande SP deixa de atrair migrantes
Computador vence inteligência humana
Dissertação revisita obras de Hans Steiner
Matemático prova teorema e leva o Abel
Missão europeia parte para Marte
TELESCÓPIO
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TELESCÓPIO
CARLOS ORSI carlos.orsi@reitoria.unicamp.br
Intuição artificial bate inteligência humana O computador AlphaGo, criado pela empresa britânica Google DeepMind, uma subsidiária da americana Google, derrotou o segundo melhor jogador de go do mundo, o sul-coreano Lee Sedol, em quatro de uma série de cinco partidas: o computador obteve três vitórias consecutivas, perdeu um jogo e voltou a vencer a disputa final. O torneio foi realizado no início do mês, em Seul, 19 anos depois de o então campeão mundial de xadrez Garry Kasparov ter sido derrotado pelo computador Deep Blue, da IBM. Go, um jogo de estratégia milenar muito popular na Coreia, Japão e China, é regido por regras relativamente simples, mas o desenrolar das partidas tende a ser muito mais complexo do que no xadrez: cada posição das peças num tabuleiro de xadrez dá margem a, em média, 35 movimentos possíveis. No caso do go, cada posição permite cerca de 250 jogadas em resposta. Por causa disso, em go é impossível usar mera “força bruta” computacional para testar e descartar possíveis jogadas até se encontrar uma opção ótima – o processo usado por Deep Blue contra Kasparov. Assim, o AlphaGo foi construído de modo a deduzir critérios próprios para decidir cada lance. Para tanto, a máquina se vale de análises estatísticas de uma memória de milhões de movimentos feitos por seres humanos, e da experiência adquirida em jogos que disputou contra si mesmo. Executivos do Google comparam essa faculdade a um modelo artificial da intuição humana. A lógica por trás do AlphaGo já foi descrita em dois artigos publicados na revista Nature, em 2015 e 2016. Após o torneio contra Sedol, o computador recebeu um título honorário de 9º dan em go, a classificação mais alta do esporte e mesma de seu oponente humano.
Os artigos tratam desde a geologia de Plutão, analisando os sinais de que a paisagem do astro foi e é modificada por fluxos e vulcões de gelo, à composição dos diferentes tipos de gelo encontrados. Também descrevem descobertas feitas a respeito das luas do planetaanão – Caronte, Estige, Nix, Cérbero e Hidra. Há ainda um trabalho sobre as interações de Plutão com o vento solar e outros componentes do ambiente espacial ao seu redor.
Ecologia e paz em Guantánamo
Rússia e Europa rumo a Marte A missão ExoMars 2016, uma iniciativa conjunta da Agência Espacial Europeia (ESA) e da agência russa Roscosmos, foi lançada da base de Baikonur, no Cazaquistão, no início da última semana. Primeira iniciativa do programa ExoMars, a missão é composta por um satélite que vai analisar a presença de gases importantes para a busca de vida extraterrestre, como o metano, na atmosfera marciana e por um módulo que deve pousar no planeta. O módulo, que vai estudar tempestades de areia, recebeu o nome de Schiaparelli, em homenagem ao astrônomo italiano Giovanni Schiaparelli (1835-1910), famoso por suas observações de Marte, incluindo a descoberta de supostos canais na superfície do planeta vermelho, em 1877. Observações posteriores, realizadas no século 20, demonstraram que esses canais não eram estruturas reais, mas ilusões provocadas pelas limitações dos telescópios disponíveis na época. A chegada da ExoMars 2016 a Marte está prevista para o mês de outubro.
Remendo para o coração Pequeno tiranossauro A descoberta, na Ucrânia, de fósseis de um predador do tamanho aproximado de um cavalo, e que em vida deveria pesar cerca de 250 kg, ajuda a preencher uma lacuna na história da evolução dos tiranossauros, diz artigo publicado no periódico PNAS. Entre 80 milhões e 66 milhões de anos atrás, o Tiranossauro rex foi um predador gigantesco, de sentidos afiados e que podia pesar várias toneladas. No entanto, o caminho que levou dos tiranossauroides menores, caçadores do tamanho aproximado de um ser humano adulto e que viveram há 170 milhões de anos, aos gigantes de épocas posteriores ainda é desconhecido, por conta de lacunas no registro fóssil. A descoberta do Timurlengia euotica, de 90 milhões de anos, ajuda a preencher esse espaço. Características da nova espécie indicam que os tiranossauros desenvolveram sentidos aguçados e um cérebro sofisticado antes de atingir proporções titânicas.
Pesquisadores da Universidade Tel-Aviv descrevem, na edição mais recente da revista Nature Materials, a criação de um curativo para infartos do miocárdio feito de células cardíacas integradas a uma base de nanomaterial e a dispositivos eletrônicos flexíveis. “O curativo exibe propriedades eletrônicas robustas”, escrevem os autores. “Permite o registro da atividade elétrica celular e o fornecimento, sob demanda, de estímulos elétricos para sincronizar a contração celular”. O artigo prossegue afirmando que “esperamos que a integração de equipamentos eletrônicos complexos a curativos cardíacos venha a fornecer controle terapêutico e regulação da função cardíaca”.
Cinco vezes Plutão
Em nota distribuída à imprensa pela universidade, um dos autores do trabalho, Tal Dvir, é citado dizendo que “até agora, conseguíamos apenas criar tecido cardíaco orgânico, com resultados incertos. Agora temos um tecido biônico viável, que garante que o tecido cardíaco funcionará adequadamente”.
Em artigo de opinião publicado na Science, pesquisadores americanos sugerem a conversão da prisão militar mantida pelos Estados Unidos na Baía de Guantánamo, em Cuba, numa estação de pesquisa científica, com ênfase em questões de ecologia e mudança climática. Os autores lembram que a floresta tropical preservada no entorno da base já é rara em Cuba, e que as instalações militares abarcam diversos hábitats importantes, incluindo manguezais e recifes de coral. A abertura da estação de pesquisas a cientistas cubanos também ajudaria na reaproximação entre os dois países.
Máscara do aquecimento global A poluição da atmosfera por partículas de enxofre, bloqueando parte da radiação solar incidente, reduziu em cerca de 30% o aquecimento continental causado pelo acúmulo de gases do efeito estufa entre 1964 e 2010, diz artigo publicado no periódico Nature Geoscience. Os autores, de instituições dos EUA e da Europa, avaliaram dados de 1.300 pontos da superfície terrestre. Esse resultado sugere que o clima terrestre é, na verdade, mais sensível às concentrações atmosféricas de CO2 do que se supunha, e que essa sensibilidade vinha sendo subestimada por conta do resfriamento trazido pelas partículas de enxofre. Outro trabalho no mesmo periódico, este de autoria de pesquisadores da Suécia e da Noruega, associa a aceleração do aquecimento na região ártica à redução da poluição do ar por material particulado. “Apresentamos simulações com modelo do sistema da Terra, com química e física abrangentes de aerossóis, que mostram que a redução de aerossóis de sulfato na Europa desde 1980 pode, potencialmente, explicar fração significativa do aquecimento do Ártico”, escrevem os autores. Foto: Divulgação/NASA/JHUAPL/SWRI
A Cordilheira Tartarus foi um dos acidentes geográficos de Plutão revelados pela ‘New Horizons’
DNA denisovano na Melanésia A população atual da Melanésia – uma região da Oceania – preserva vestígios de DNA dos denisovanos, uma espécie do gênero Homo, parente dos neandertais e dos seres humanos modernos, hoje extinta. A descoberta é descrita na edição mais recente da revista Science. Ao buscar características de homininos primitivos, como neandertais e denisovanos, no genoma de mais de 1,5 mil indivíduos de diversas partes do mundo, os autores do estudo, vinculados a instituições dos EUA e da Europa, determinaram que todas as populações não africanas têm algum DNA neandertal, mas que apenas os melanésios têm uma proporção significativa de material denisovano, variando de 1,9% a 3,4% de seus genomas. O artigo também aponta sinais de seleção natural atuando pela eliminação de características importadas dessas duas espécies extintas, principalmente em regiões do genoma que se expressam em áreas específicas do cérebro.
Cova dos neandertais Análise genética de amostras de 28 corpos homininos pré-históricos encontrados numa caverna espanhola indica que a divergência entre a linhagem dos seres humanos modernos e a dos neandertais ocorreu há mais de 550 mil anos, e a divergência entre humanos e denisovanos se deu há mais de 400 mil anos. Essa descoberta tem implicações para a árvore genealógica da espécie humana, já que torna menos plausível a hipótese de que a espécie africana Homo heidelbergensis, datada de entre 200 mil e 600 mil anos atrás, seja a ancestral comum de humanos e neandertais. O trabalho que descreve essa análise, de autoria de pesquisadores da Alemanha, Espanha e Inglaterra, aparece na revista Nature.
Prêmio Abel O matemárico britânico Sir Andrew Wiles é o ganhador do Prêmio Abel de 2016, por sua prova do chamado Último Teorema de Fermat: a conjectura, feita por Pierre de Fermat no século XVII, de que nenhuma fórmula do tipo an+bn=c n é verdadeira para números inteiros, se o expoente “n” for maior que 2. A prova de Wiles, publicada em 1994, marcou o fim de uma busca matemática que já durava séculos. Concedido pela Academia Norueguesa de Letras e Ciências, o Abel é um dos prêmios, ao lado da Medalha Fields, que costuma ser popularmente descrito como “Nobel da Matemática”.
A edição mais recente da revista Science traz cinco artigos elaborados com base nos dados sobre o planeta-anão Plutão enviados pela sonda New Horizons em sua passagem pelos limites do Sistema Solar. Plutão encontra-se atualmente a 5 bilhões de quilômetros da Terra.
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Técnica inédita no país detecta tumores cerebrais em crianças Fotos: Antoninho Perri
Diagnóstico em nível molecular deve aumentar precisão nas cirurgias e reduzir o risco de mortes e sequelas SILVIO ANUNCIAÇÃO silviojp@reitoria.unicamp.br
m grupo de pesquisadores do Instituto de Química (IQ) da Unicamp e do Centro Infantil Boldrini, de Campinas (SP), conseguiu identificar, classificar e mapear tumores cerebrais de crianças e adolescentes por meio de técnicas de Espectrometria de Massas via Desorção/ Ionização em Condições Ambientais (DESI e EASI). Conforme o grupo de cientistas envolvidos, existem trabalhos recentes semelhantes nos Estados Unidos (EUA), mas no Brasil o feito é inédito. O grande diferencial da técnica é a possibilidade do diagnóstico em nível molecular, muito mais moderno e avançado que o diagnóstico anatomopatológico, procedimento convencional que utiliza a microscopia óptica e exames complementares para analisar a morfologia (forma) dos tecidos e a estrutura das células (citologia). De acordo com os pesquisadores, a técnica pode ser associada às análises morfológicas e citológicas, permitindo um diagnóstico mais preciso e em tempo real, durante o procedimento cirúrgico. Além disso, no caso das neoplasias, o diagnóstico rápido e preciso torna-se fundamental para a condução do caso clínico de modo a definir a programação terapêutica adequada para cada tipo de tumor. A expectativa com o trabalho é aumentar a precisão nas cirurgias e reduzir o risco de mortes e sequelas, além de acelerar o processo de recuperação dos pacientes. “Com um pequeno fragmento do tecido sobre uma lâmina, nós fazemos uma espécie de escaneamento químico, sem nenhum preparo na amostra. Este escaneamento detecta os componentes químicos que estão presentes ali: lipídios, proteínas e peptídeos. Portanto, quando o scanner passa sobre a superfície de um tecido sadio, o perfil químico será de um tecido sadio. Quando passa sobre um tumor, o perfil muda drasticamente”, explica o coordenador dos trabalhos, o professor Marcos Nogueira Eberlin, do Laboratório ThoMSon de Espectrometria de Massas, vinculado ao IQ. Esta diferença entre tumores e células sadias ou tumores malignos e benignos nem sempre é perceptível pelas análises morfológicas uma vez que muitas neoplasias têm a morfologia muito similar. O docente do IQ acrescenta que um patologista, pelo método convencional, usa as ferramentas que ele tem disponível há bastante tempo para saber se há tumor e qual o seu tipo. “Assim, ele faz tingimentos, olha no microscópio e analisa a morfologia, utilizando toda sua experiência. Mas isto nem sempre é preciso. Esta nossa técnica se associa ao diagnóstico morfológico e citológico, permitindo uma análise muito mais precisa. O perfil molecular fornece a distribuição do tumor com uma precisão que nunca tinha sido alcançada. Se os marcadores moleculares da doença estão lá no tecido, tem câncer. Se não há marcadores, não tem neoplasia. O impacto disso numa cirurgia de altíssimo risco, envolvendo o cérebro humano, é muito grande”, dimensiona Marcos Eberlin. As pesquisas envolveram a participação da médica Izilda Aparecida Cardinalli, patologista do Centro Infantil Boldrini e dos pesquisadores da Unicamp, Pedro Henrique Vendramini, Célio Fernando Figueiredo Angolini e Nicolas Vilczaki Schwab, todos do Laboratório ThoMSon. Os trabalhos na Unicamp são financiados por meio de projeto temático da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).
Os pesquisadores Pedro Henrique Vendramini (primeiro plano) e Célio Fernando Figueiredo Angolini, no Laboratório ThoMSon: técnica pode ser associada às análises morfológicas e citológicas
A médica patologista do Boldrini cita referências de 2007 da Organização Mundial de Saúde (OMS), apontando que os tumores primários de Sistema Nervoso Central (SNC) exibem um amplo espectro de subtipos histológicos. De acordo com as informações da OMS estes tipos de tumores representam um verdadeiro desafio na reprodutibilidade do diagnóstico, sendo capazes de gerar discordâncias em até 30% dos casos, mesmo entre os mais experientes neuropatologistas. “Somente com a microscopia óptica é muito difícil fazer o diagnóstico dos tumores. Mesmo para os patologistas mais experientes é um desafio. Agora, com esta técnica, será possível fazer um diagnóstico diferencial, mais exato e completo, no nível molecular, somando ao diagnóstico convencional já existente”, reconhece Izilda Cardinalli, que possui doutorado pela Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp. Ela exemplifica, citando a dificuldade do diagnóstico convencional especificamente em gliomas, tumores comuns em crianças e adolescentes. “É difícil até saber o que é tumor e separá-lo do tecido normal. Portanto, um desafio é o cirurgião saber até onde ele pode retirar o tumor. E você imagina o risco disso no cérebro humano.”
A médica esclarece que a técnica utilizada permite, assim como o diagnóstico convencional, uma análise em tempo real, no momento em que a cirurgia ocorre. Isso será possível no Centro Boldrini graças à liberação de R$ 1,3 milhão pela Secretaria Executiva do Ministério da Saúde para a compra de um espectrômetro de massas. Assim, por meio deste equipamento e de um software, será possível analisar com nitidez, pela tela do computador, os fragmentos do tecido cerebral, durante o procedimento cirúrgico. “Nós conseguimos a verba por meio de um projeto apresentado junto ao Ministério da Saúde. Para a pesquisa, nós trazíamos as amostras pós-cirúrgicas para a Unicamp. Com o equipamento, que deve ser adquirido em breve, nós vamos fazer o diagnóstico no Boldrini em tempo real”, informa Izilda Cardinalli. Neste ponto, o professor Marcos Eberlin ressalta que o Centro Boldrini tem duas peculiaridades que estimularam ainda mais a parceria para a pesquisa: a assistência às crianças e adolescentes e o atendimento majoritário a pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS).
BANCO DE DADOS
O pesquisador Pedro Henrique Vendramini explica que cada neoplasia possui
O professor Marcos Nogueira Eberlin, coordenador das pesquisas: “Nossa técnica se associa ao diagnóstico morfológico e citológico, permitindo uma análise muito mais precisa”
Izilda Aparecida Cardinalli, patologista do Centro Infantil Boldrini: “Com esta técnica, será possível fazer um diagnóstico diferencial, mais exato e completo”
um espectro característico devido a marcadores moleculares próprios. Este espectro característico possui uma espécie de representação em duas dimensões do marcador molecular, também chamada de imageamento. O grupo da Unicamp está “mapeando” estes espectros característicos, que vão para um banco de dados do software do equipamento. “Já temos mais de 20 tipos e graus de neoplasias cerebrais mapeadas. Eu tiro um espectro, e esse espectro pode ser de um tecido saudável, de um tecido doente, de necrose, portanto, eu não sei o que este espectro é. Mas os patologistas, com os seus conhecimentos, a partir da imagem gerada pelo espectro, atrelam o espectro ao tipo de tumor: ‘isso é uma neoplasia, isso é necrose, aqui é tecido saudável.’ São com essas informações que estamos montando um banco de dados, que será muito útil para otimizar o diagnóstico”, informa o estudioso, que conduz estudo de mestrado sobre o tema. “Quando você usa uma técnica instrumental como essa, o conhecimento vai sendo acumulado no software. Você imagina, pela técnica convencional, a dificuldade de um patologista recém-formado sem experiência? Portanto, este patologista novo, se ele sabe usar bem aquela ferramenta, ele terá nela todo o conhecimento acumulado por décadas ao seu dispor, e a possibilidade de erro torna-se cada vez menor”, complementa o professor Marcos Eberlin.
TÉCNICA O docente da Unicamp situa que a espectrometria de massas sofreu uma revolução no começo dos anos de 1990 e, a partir de então, o que era uma técnica restrita se tornou mais ampla. Ele relata que no laboratório ThoMSon há trabalhos envolvendo diversas frentes. “Temos parcerias com o Caism/ Hospital da Mulher para o diagnóstico do câncer de mama e câncer de colo de útero. Com o A. C. Camargo nós também estamos trabalhando no câncer de mama. Com a Faculdade de Ciências Médicas (FCM) e Hospital de Clínicas (HC), aqui da Unicamp, temos colaborações para a detecção do câncer de pulmão”, descreve. Ainda conforme Marcos Eberlin há parcerias para estudos envolvendo outros tipos de doenças, como a leishmaniose, junto com pesquisadores do Instituto de Biologia da Unicamp. “Temos, além disso, um estudo que conseguiu tipificar vários tipos de fungos, como os que causam a vassoura-de-bruxa, doença que atinge os cacaueiros da Bahia. A técnica que aplicamos aos tumores pode, portanto, ser aplicada em vários outros diagnósticos clínicos”, exemplifica. Eberlin, que atua há mais 20 anos na área, explica que a técnica de espectrometria de massas detecta e identifica, com muita eficiência, moléculas de interesse por meio da medição da razão “massa sobre carga” (m/z) e da caracterização de sua estrutura química. “A segunda grande revolução nesta área veio a partir de 2004 com as técnicas que permitem analisar diretamente a amostra, com a EASI-MS, com nenhum ou pouco preparo. É o que chamamos de espectrometria de massas em condições ambientais ou ambient mass spectrometry.” O professor informa que uma das técnicas de ambient mass spectrometry foi desenvolvida no Laboratório ThoMSon, fundado e coordenado por ele. Trata-se da Easy Ambient Sonicspray Ionization (EASI-MS). “Esta técnica é hoje, talvez, a mais eficiente e utilizada na área. Mas nunca ninguém tinha empregado estas técnicas para o diagnóstico de neoplasias. Foi Lívia Eberlin, minha filha graduada pela Unicamp, a primeira pesquisadora no mundo a colocar um espectrômetro de massas numa sala cirúrgica e usar estas técnicas para o diagnóstico de tumores. Ela fez isso no hospital da escola de medicina de Harvard e Stanford, recebendo diversos prêmios. Agora, além dessas universidades americanas, o Boldrini vai contar com um espectrômetro de massas na sua sala cirúrgica. O primeiro a ser dedicado aos tumores infantis. Isso será certamente pioneiro e um grande feito para o Brasil.”
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ARTIGO
por: Teresa Dib Zambon Atvars e Alvaro Penteado Crósta
Planejamento Estratégico da Unicamp 2016-2020 CONTEXTO Planejamento estratégico é um instrumento de gestão utilizado pelas melhores universidades do mundo para orientar as decisões acadêmicas, administrativas e de investimentos. A Unicamp começou discussões sobre a metodologia de planejamento estratégico como mecanismo de tomada de decisão no início dos anos 2000. Em 2004 conseguiu organizar um documento mais sistematizado, o chamado Planes II, que foi apresentado e aprovado pelo Conselho Universitário (Deliberação Consu 405/04). Naquele documento, explicitou-se a identidade da Unicamp através da sua missão, dos princípios e valores a serem respeitados e da visão de futuro à época. Definiu-se naquela ocasião cinco áreas estratégicas (Ensino, Pesquisa, Extensão e Cooperação Técnica-Científica e Cultural, Administração e Qualidade de Vida). O conceito de planejamento estratégico como método de gestão foi sendo paulatinamente incorporado à cultura institucional, embora não houvesse ainda uma definição clara sobre que mecanismos a serem aplicados nas tomadas de decisão para que as ações estratégicas necessárias ao desenvolvimento da Unicamp tivessem o impacto desejado, com medidas objetivas do impacto produzido. Para isto ainda são necessárias mudanças nos mecanismos de gestão do processo de planejamento estratégico e na forma como são tomadas as decisões estratégicas. Assim mesmo, muitas iniciativas tomadas geraram resultados, embora não tenham sido documentadas as correlações de causa e feito. Para citar alguns exemplos, há iniciativas realizadas no passado, no âmbito da Pró-Reitoria de Desenvolvimento Universitário (PRDU) e seus órgãos subordinados, que podem ser avaliadas e dimensionadas como muito importantes para o desenvolvimento da Unicamp. Alguns destes exemplos são as ações corretivas, visando à acessibilidade em muitos prédios, as ações de formação de funcionários em gestão estratégica; as ações implantadas pelo Cecom, etc. Há também muitas ações tomadas no âmbito das unidades acadêmicas, que aperfeiçoaram, por exemplo, os mecanismos de contratação de docentes. Portanto, vincular planejamento e ações institucionais é um ponto muito importante para o desenvolvimento da Universidade. No processo de elaboração do Planes 2016-202, buscou-se aperfeiçoar a identidade institucional, redefinindo-se a Missão da Unicamp como sendo a de: “Criar e disseminar o conhecimento científico tecnológico cultural e artístico em todos os campos do saber por meio do ensino, da pesquisa, e da extensão. Formar profissionais capazes de inovar e buscar soluções aos desafios da sociedade contemporânea com vistas ao exercício pleno da cidadania.” Redefiniu-se também a nossa Visão de Futuro: “A Unicamp é uma universidade pública de liderança e referência internacional em todas as áreas do conhecimento, promotora do desenvolvimento sustentável e comprometida com os anseios da sociedade. ” Explicitaram-se também os princípios que deixam clara a posição plural e de respeito às liberdades individual e intelectual que a Unicamp sempre praticou e pelas quais todos os segmentos da comunidade devem se guiar: Autonomia didático-científica, administrativa e de gestão financeira e patrimonial; Compromisso com a excelência; Conduta ética com estrita observância aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência; Gratuidade no ensino público; Inclusão e acolhimento; Indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão; Inserção e responsabilidade social; Liberdade intelectual; Pluralismo de ideias e concepções pedagógicas; Respeito à dignidade da pessoa e aos seus direitos fundamentais, proscrevendo o tratamento desigual por preconceito de qualquer natureza; Respeito à diversidade das áreas do conhecimento; Valorização do ser humano.
INOVAÇÃO DO PLANES 2016-2020 O Planejamento Estratégico da Unicamp de 2016-2020 avança em relação às revisões anteriores uma vez que é fortemente vinculado ao de avaliação institucional das unidades acadêmicas da Unicamp (unidades de ensino e pesquisa, colégios técnicos e centros e núcleos interdisciplinares de pesquisa). Os diagnósticos resultantes das avaliações institucionais internas e das avaliações externas dessas unidades posicionaram os gestores ante os desafios mais relevantes. Desta forma, o resultado da Avaliação Institucional 20092013 e os projetos propostos pelas unidades acadêmicas foram analisados e sistematizados pelas Pró-Reitorias e Vice-Reitorias Executivas e pautaram a discussão da revisão do planejamento no âmbito da Comissão de Planejamento Estratégico Institucional, Copei, e nas reuniões que se sucederam para a elaboração do texto a ser apresentado ao Conselho Universitário. Desta forma, e de maneira inédita na Unicamp, foi feita a vinculação efetiva entre avaliação e planejamento, como ilustrado no Esquema 1.
A lógica do processo está ilustrada no Esquema 3, no qual, no topo, está a visão de futuro a ser alcançada e, na base, os projetos vinculados aos programas e às estratégias corporativas. Detalhes do planejamento e dos programas estratégicos podem ser acessados em http://www.prdu.unicamp.br/ news/planes-2016-2020. Projetos bem-definidos e realizados com sucesso devem impactar positivamente as atividades acadêmicas e de gestão. Mensurá-los é uma das tarefas que precisamos ainda implantar, desenvolvendo para isto indicadores adequados.
Visão Áreas Estratégicas: Ensino Pesquisa Extensão Gestão Estratégias Corporativas: 1-Excelência no Ensino; 2-Excelência na Pesquisa; 3-Excelência na Extensão; 4-Universidade Digital; 5-Internacionalização; 6- Governança Corporativa; 7-Sustentabilidade; 8-Gestão Orçamentária e Financeira; 9-Gestão por Processo; 10-Gestão de Pessoas; 11-Gestão Territorial e Infraestrutura; 12- Disponibilização de Conhecimento; 13- Comunicação
Programas Estratégicos Projetos Estratégicos Esquema 3. Descrição de como se inter-relacionam os elementos, a partir da visão de futuro proposta no Planes 2016-2020.
DIRETRIZES E PRIORIDADES
Esquema 1. Descrição do ciclo de avaliação/planejamento definido pela Unicamp no Planes 2016-2020.
ÁREAS ESTRATÉGICAS/ ESTRATÉGIAS CORPORATIVAS/ PROGRAMAS O Planes 2016-2020 estabeleceu quatro áreas estratégicas: Ensino, Pesquisa, Extensão e Gestão, que se desdobram em 13 estratégias corporativas, para promover as mudanças necessárias e atingir os objetivos institucionais. O Esquema 2 ilustra a inter-relação entre Áreas Estratégicas e Estratégias Corporativas. As estratégias corporativas contêm programas prioritários que serão implantados por meio de projetos a serem propostos pela administração (Pró-Reitorias e Vice-Reitorias), a partir de demandas discutidas com a comunidade ou com a administração central.
Área Ensino
Área Gestão
13 Estratégias corporativas
Área Pesquisa
Área Extensão Esquema 2. Inter-relação entre as quatro áreas estratégicas e as 13 estratégias corporativas do Planes 2016-2020.
Ao serem definidos os programas prioritários, a Copei e os participantes que ajudaram a elaborar o Planes 2016-2020 discutiram algumas diretrizes gerais e definiram prioridades que devem orientar a elaboração e a seleção dos projetos a serem executados, como por exemplo: Flexibilização curricular e o uso de metodologias proativas para aprimorar o processo de ensino-aprendizagem; Internacionalização das atividades-fim e meio da Unicamp: Virtualização da Universidade, em todas as áreas de atuação; Profunda reformulação da gestão universitária e o comprometimento dos dirigentes dos órgãos administrativos com as mudanças que são prementes; Qualificação da gestão de quadros de pessoal (docentes, pesquisadores e funcionários) e a criação de mecanismos de identificação e de reconhecimento de talentos; Explicitação do conceito de sustentabilidade do campus em todas as suas dimensões, como um processo central na vida da Unicamp; Estabelecimento de processos de comunicação como uma estratégia para as atividades principais da Universidade, introduzindo o conceito de “accountability”; Garantia de que os processos de inclusão, de permanência e de respeito à diversidade sejam permanentemente pautados; Garantia à sustentabilidade financeira da Unicamp, pois dela depende a continuidade da autonomia conquistada por meio do Decreto nº 52.255, de 30 de julho de 1989. Desta forma, o Planes 2016-2020 compõe a etapa que define os programas prioritários a serem implantados pela Unicamp e as diretrizes gerais a serem adotadas por todas as unidades/órgãos, com vistas ao cumprimento da missão da Unicamp. Estes foram aprovados pelo Conselho Universitário da Unicamp, em dezembro de 2015 (Deliberação Consu-571/15 de 15/12/2015), por proposta da Comissão de Planejamento Institucional da Unicamp. Dos resultados das implantações dos projetos e dos seus resultados, das avaliações dos seus impactos, decorrerá o novo ciclo de avaliação institucional do período 2014-2018. Fotos: Antoninho Perri
A professora Teresa Dib Zambon Atvars é pró-reitora de Desenvolvimento Universitário
O professor Alvaro Penteado Crósta é coordenador-geral da Universidade
5 Campinas, 21 de março a 3 de abril de 2016
Pesquisa cria conceito de “afetibilidade” para destacar importância da interação entre o ser humano e o computador
Para além da técnica
Foto: Divulgação
MANUEL ALVES FILHO manuel@reitoria.unicamp.br
o momento de desenvolver um aplicativo, o designer deve levar em conta pressupostos técnicos, como funcionalidade e usabilidade, mas também questões bem menos objetivas, como o afeto. A ideia é defendida na tese de doutorado da cientista da computação Elaine Cristina Saito Hayashi, apresentada ao Instituto de Computação (IC) da Unicamp, sob a orientação da professora Maria Cecília Calani Baranauskas. No trabalho, a autora criou o conceito de “afetibilidade”, que destaca a importância dos aspectos afetivos envolvidos na interação entre o ser humano e o computador. A pesquisadora também formulou seis princípios para auxiliar os profissionais da área a contemplarem o tema no momento de desenvolverem seus sistemas. De acordo com Elaine, o tema afetividade não é inteiramente novo no campo da computação, mas tem sido tratado de forma subjacente até aqui. “O assunto é trabalhado na universidade na disciplina de IHC [Interação Humano-Computador], mas analisado de forma muito objetiva pela indústria. A maneira usual de se aferir o padrão afetivo das pessoas, nesse caso, é colocar um aparelho para medir os batimentos cardíacos delas enquanto utilizam um sistema. Depois, os números são interpretados. O que estamos propondo é colocar um pouco de subjetividade em toda essa objetividade”, afirma. O conceito afetibilidade foi criado, conforme a cientista da computação, para chamar a atenção dos designers para o fato de que funcionalidade e usabilidade não são capazes de suprir as necessidades dos usuários nos dias atuais. “As pessoas também querem se divertir e relaxar, entre outras coisas”, observa. Nesse sentido, a autora da tese propôs, juntamente com sua orientadora, seis princípios para auxiliar os profissionais a considerarem a afetividade em suas criações. Estes foram validados durante trabalho de campo realizado em uma escola municipal de educação fundamental, localizada na periferia de Campinas. Participaram cerca de 500 pessoas, entre alunos, professores e funcionários. O primeiro princípio estabelecido pela tese está relacionado à “Livre interpretação e comunicação do afeto”. Elaine lembra que o assunto é tratado em detalhes na obra do psicólogo francês Henri Wallon. Segundo ele, as trocas de emoção e as experiências de comunicação contribuem para o desenvolvimento das crianças. “Foi fácil constatar isso na escola, por meio do comportamento dos alunos. Um exemplo da aplicação desse princípio é o uso de stickers [ilustrações ou animações] em um aplicativo. É uma forma de o usuário expressar seu afeto, para que outra pessoa o interprete”. O segundo princípio está vinculado à “Cultura local e aos valores sociais”. O tema é trabalhado na obra do pensador e educador suíço Jean Piaget, que defende que os valores atribuídos às pessoas e objetos é que dão origem à formação do sentimento. “Na escola, nós percebemos que os alunos se orgulhavam, por exemplo, de cursar o oitavo ano. Era algo importante para eles”, relata a autora da tese. Este princípio pode ser aplicado, de acordo com a pesquisadora, como faz o Google, que adapta a forma e as cores do seu logotipo de acordo com a cultura e os costumes dos diferentes países. “Estamos propondo exatamente isso, que os designers expressem algo que tenha valor para cada local”. O “sentimento de identificação e apropriação com ajustes personalizados” constitui o terceiro princípio sugerido por Elaine. O fundamento da proposta vem das reflexões do educador brasileiro Paulo Freire, segundo o qual o processo de alfabetização
Princípios propostos pela pesquisa foram validados em trabalho de campo realizado com alunos de escola de ensino fundamental de Campinas Foto: Antoninho Perri
A cientista da computação Elaine Hayashi, autora da tese: “O que estamos propondo é colocar um pouco de subjetividade em toda essa objetividade”
de adultos deve ser ajustado à realidade desse público. “Na escola, nós observamos os professores adaptando as lições às situações cotidianas dos alunos. Um exemplo foi a discussão, em sala de aula, sobre as doenças transmitidas pelo mosquito Aedes aegypti, tema que foi abordado de forma transversal em diferentes disciplinas”. Um exemplo de aplicação deste princípio, destaca a cientista da computação, é promover a adaptação das interfaces de um aplicativo, para permitir o registro de imagens que façam referência à realidade dos usuários. O quarto princípio apresentado pela pesquisadora é denominado de “Conexão e colaboração para a construção colaborativa”. A propositura foi baseada nos estudos de Lev Semenovich Vygotsky, teórico russo da educação. Ele defendia a ideia de que as crianças apresentam a capacidade de aprender sozinhas até determinado ponto. Depois, têm a necessidade do auxílio de outra criança ou de um adulto. “Identificamos esse aspecto na escola, durante o uso dos laptops distribuídos para os alunos no contexto do ‘Projeto XO na escola e fora dela’, financiado pelo CNPq [Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico]. Como nem todos os professores sabiam usar a tecnologia, os alunos é que os ensinavam”, conta. Graças a essa experiência, Elaine criou, em conjunto com representantes da escola, a figura do aluno-monitor, que auxiliava os professores nas atividades com o computador. “O resultado foi excelente. O interessante é que as crianças tidas como bagunceiras e inquietas foram justamente a que
se deram melhor na função”. Um exemplo de como o princípio pode ser usado, considera a autora da pesquisa, vem do aplicativo Waze, que estabelece um ambiente de colaboração entre os motoristas-usuários. “Saber o que está acontecendo em seu entorno social” é o quinto princípio formulado por Elaine. Segundo Wallon, as trocas afetivas dependem inteiramente da presença concreta do outro. “Na escola, é fácil observar que a presença de uma criança pode inibir ou estimular a ação da outra. A criança tem um tipo de comportamento quando está sozinha e outro quando está em grupo. No âmbito da computação, esse exemplo pode ser encontrado no aplicativo Whatsapp. Com a ferramenta, o usuário sabe se a pessoa recebeu e leu sua mensagem. Ou seja, ele está ciente da presença da outra pessoa, ainda que de forma virtual”. O sexto e último princípio foi batizado de “Criar um ambiente através do uso de mídias e modo de interação”. Wallon, mais uma vez, falava sobre o poder contagiante das emoções. “É muito difícil você ficar carrancudo ao entrar numa sala em que todos estão rindo”, compara a cientista da computação. De acordo com ela, os designers podem empregar recursos como a música, fotografias e animações para valorizar a afetividade em seus aplicativos. “O desafio está em criar uma atmosfera que atenda às expectativas do usuário”, pontua Elaine. A autora da tese de doutorado destaca que a validação dessas propostas foi feita por meio da realização de uma série de atividades junto à escola municipal de ensino fundamental. Ela desenvolveu na unidade
de ensino, com a colaboração de alunos, professores e funcionários, um joguinho que simulou a conhecida brincadeira do “Amigo Secreto”. Inicialmente, a experiência foi feita em papel e depois transportada para o universo eletrônico, com o suporte de um telefone celular e cartões do tipo RFID [Identificação por Rádio Frequência, na tradução livre para o português], os mesmos utilizados em crachás funcionais. No lugar de presentes, os estudantes foram estimulados a oferecer elogios aos colegas. As mensagens eram gravadas e depois ouvidas por meio do celular. “Todos adoraram a experiência”, assegura a pesquisadora. Além disso, alunos de graduação do IC também foram envolvidos em atividades de avaliação dos princípios propostos. Numa delas, os estudantes redesenharam aplicações educacionais encontradas na internet. Estas foram apresentadas, junto com as versões originais, às crianças, para que elas as avaliassem. “Nós não dissemos quais eram as aplicações originais e nem as redesenhadas. De modo geral, as redesenhadas, que seguiram os princípios da afetibilidade, foram mais bem avaliadas pelo grupo”, relata Elaine, que contou com bolsas concedidas pelo CNPq e Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). A pesquisa de campo deu origem a um vídeo, que pode ser assistido no Youtube, através deste link: https://www.youtube.com/ watch?v=3-G8aT51Wnk. De acordo com a pesquisadora, o conceito de afetibilidade já tem sido utilizado por outros pesquisadores para avaliar os seus trabalhos. Elaine adianta que cogita dar seguimento ao estudo do tema no pósdoutorado, desta vez tendo como público os idosos. “Nós temos uma nova geração de idosos, diferente da anterior, que está familiarizada com a tecnologia. A ideia é propor princípios que orientem os designers a valorizar a questão do afeto no momento de desenvolverem sistemas voltados para esse segmento específico”, finaliza.
Publicação Tese: “Qualidade afetiva em sistemas computacionais: design de interação para e com crianças em contexto de aprendizado” Autora: Elaine Cristina Saito Hayashi Orientadora: Maria Cecília Calani Baranauskas Unidade: Instituto de Computação (IC)
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Campinas, 21 de ma
O pêndulo demográfico Tese revela que a sede e o entorno da Região Metropolitana de São Paulo perdem população e atraem cada vez menos migrantes de outros Estados LUIZ SUGIMOTO sugimoto@reitoria.unicamp.br
capital paulista permanece como polo dominante da Região Metropolitana de São Paulo (RMSP), mas vem crescendo menos e perdendo população para municípios do seu entorno, enquanto Mogi das Cruzes figura como segundo polo e Cotia surge como terceira força graças à Granja Viana, sua indústria e serviços. Ao mesmo tempo, nas últimas três décadas, a sede e o entorno da RMSP perdem população para o interior, bem como o poder de atração de migrantes de outros Estados: se antes, entre 1960 e 1980, a região apresentava um saldo migratório de aproximadamente 2 milhões de habitantes (entre saídas e entradas) por década, houve uma perda de quase 300 mil pessoas na década de 1980 e de outras 300 mil na década de 2000-2010, com tendência de o saldo ser zerado ou mesmo negativado nesta década até 2020. Estes são alguns resultados de um minucioso estudo sobre a mobilidade espacial da população da RMSP, envolvendo os conceitos de espaço de vida, mobilidade residencial e migração, e que mostra as transformações demográficas ocorridas na metrópole desde 1872 (data do primeiro censo), com ênfase para o período de 1980 a 2010. Trata-se da tese de doutorado do estatístico Aparecido Soares da Cunha, analista de Planejamento, Gestão e Infraestrutura em Informações Geográficas e Estatísticas do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Ele foi orientado pela professora Rosana Baeninger, no Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH). Na opinião de Aparecido Cunha, o seu trabalho também contribui com uma nova perspectiva de se observar a mobilidade da população e redefinir o conceito de migração. “Criamos uma metodologia de análise a partir dos ‘espaços de vida’, assim chamados por Daniel Courgeau por se basearem nas atividades e nos espaços que os indivíduos ocupam em seu dia a dia, como para trabalho, estudo ou qualquer outra atividade rotineira, seja dentro do município ou envolvendo outros além do residencial. Essas atividades variam conforme a idade: uma criança, sem autonomia para se deslocar, tem um espaço de vida mais restrito, mas à medida que vai crescendo passa a brincar no condomínio, visitar o pediatra, ir à escola, visitar a avó; o espaço de vida se amplia para o adolescente, jovem e adulto, e volta a diminuir para o idoso.” O autor afirma que sua preocupação maior na tese foi verificar o que acontece em termos de mobilidade da população dentro destes espaços de vida, diferenciando os conceitos de migração e de mobilidade residencial. “Pelo conceito tradicional, que consta no manual da ONU, migração é toda mudança residencial de uma área administrativa para outra. Na tese, coloco a migração como um processo mais difícil e traumático para a população, pois a pessoa sai do seu espaço de vida e vai para outro espaço de vida desconhecido, ou seja, não experimentado, onde precisará se adaptar e interagir com o novo local. Na mobilidade residencial, se a pessoa mora em São Paulo e trabalha em Guarulhos, e decide mudar para a segunda cidade, o deslocamento se dá dentro do ambiente que ele já vivencia e conhece, isto é, dentro do seu espaço de vida. Observou-se que mais de 95% das mudanças de residência dentro da RMSP ocorrem dentro do mesmo espaço de vida, ocorrendo pouca migração.”
Fotos: Reprodução
Foto: Jorge Maruta/Jornal da USP
Na sequência, vistas parciais das cidades de São Paulo, Mogi das Cruzes, Taboão da Serra e Barueri: novas configurações demográficas na RMSP
Cunha concentrou-se nos dados dos censos demográficos sobre movimentos pendulares para criação de espaços de vida, para trabalho ou estudo, ainda que este espaço contemple uma gama maior de atividades do cotidiano e envolva também os deslocamentos ao médico, igreja, casa de parentes, lazer, compras, etc. “Na Pesquisa Origem-Destino da Companhia do Metropolitano de São Paulo (Metrô), identificamos que quase 80% dos movimentos pendulares na RMSP ocorrem para trabalho ou estudo, e pouco mais de 20% para outras atividades que não constam nos censos. Com os dados censitários e a partir dos movimentos pendulares
registrados por um indivíduo de uma determinada localidade (espaço de vida individual), fomos construindo os espaços de vida da população de cada um dos 39 municípios da região (espaço de vida coletivo). Delimitados estes espaços, observou-se a mobilidade espacial da população por município, verificando se ocorriam e predominavam a migração ou a mobilidade residencial.” O pesquisador apresenta dados de 2014 do IBGE apontando que os 39 municípios da Região Metropolitana de São Paulo somam 20,9 milhões de habitantes ocupando uma área de 7,9 mil km2, o que
equivale a aproximadamente 10% da população do Brasil e quase 50% do estado de São Paulo. “Fiz um apanhado histórico dos desmembramentos municipais desde 1548, quando da fundação da Vila de São Paulo, detalhando os processos de desenvolvimento econômico e os deslocamentos populacionais para mostrar os municípios que se tornaram centrais, especialmente São Paulo e Mogi das Cruzes, embriões da RMSP. Avalio o crescimento demográfico e a importância da migração na região, sobretudo até o ano de 1980, a partir do qual vemos uma queda significativa do crescimento da Capital em relação às cidades do entorno metropolitano.” Foto: Divulgação
Aparecido Soares da Cunha, autor da tese: “Observou-se que mais de 95% das mudanças de residência dentro da RMSP ocorrem no mesmo espaço de vida, acarretando pouca migração”
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arço a 3 de abril de 2016 Foto: Flávio Grieger/Folha Imagem
Trabalhadores e famílias nordestinas deixam São Paulo e retornam para as suas cidades de origem: movimento cada vez mais frequente
De acordo com Aparecido Cunha, o espaço de vida de uma população pode ser contíguo ou não, como no caso de um município dependente de outro a 30 km de distância, sem interagir com os municípios do seu entorno. “São Paulo, ao contrário, interage com todos os demais 38 municípios, sendo o único com esta característica; ao passo que Santana de Parnaíba e Juquitiba interagem com poucas cidades da região. Isso depende de componentes como o nível de desenvolvimento econômico e número de habitantes em idade economicamente ativa. Há o caso de Barueri, que recebe diariamente mais população de outros municípios do que a própria população ativa, sendo também a única com esta característica na RMSP, o que se deve à alta concentração de emprego em empresas atraídas por incentivos fiscais.” Entre outras variáveis observadas pelo estatístico está o emprego ligado a serviços em residências de grandes condomínios desse município, que acaba atraindo muitas pessoas do entorno. “As pessoas já não se deslocam em grande número para locais muito distantes, o que é uma mudança do século passado para este. Da mesma forma, as chamadas cidades dormitórios perderam esta característica tão marcante na década de 1970 – Taboão da Serra e Itapecerica da Serra hoje possuem atividade econômica e também empregam, apesar de um excedente populacional que busca trabalho em outros municípios. E Cotia, Barueri e Mogi das Cruzes, antes de vocação agrícola, atraem uma população importante para residência e emprego.
TRANCO NA MIGRAÇÃO O autor da tese fez um levantamento da mobilidade espacial da população do Brasil, considerando o período de 1980 a
2010, observando as migrações inter-regionais, intrarregionais, intraestaduais e interestaduais, oferecendo assim um painel nacional de fundo e um olhar local, intrametropolitano. “Apesar das mudanças ocorridas nos processos migratórios, a RMSP ainda possui alta concentração populacional e continua atraindo muita gente; a questão é que, ao mesmo tempo, expulsa muita gente. É alta a rotatividade, pois tanto a sede como as cidades do entorno não conseguem reter a população. Há uma tendência de transformação do componente migratório na região, em função da queda da migração nacional, intrarregional e mesmo intraestadual – as pessoas estão indo mais intensamente para o interior do estado ou retornando ao estado de origem.” Cunha afirma que esta migração de retorno é a única que permanece em ascensão ao longo das últimas três ou quatro décadas. “O emprego tornou-se mais rarefeito e o processo migratório mais curto, em que o indivíduo vem e logo retorna para o lugar de origem por não conseguir uma colocação com tanta facilidade como ocorria entre os anos 60 e 80. Em relação ao interior de São Paulo, o resultado da migração é negativo para a RMSP, ou seja, o número de saídas é maior que o de entradas, embora o volume ainda seja bem acentuado. Na verdade, o saldo é positivo apenas em relação ao Nordeste.” Uma tabela elaborada pelo pesquisador mostra um saldo migratório de 2,2 milhões de pessoas na década de 70, com uma perda de 274 mil na década de 80, um ganho de 219 mil na década de 80 e nova perda de 299 mil nos anos 2000. “É a partir de 1980 que este componente ficou negativo, como se dessem um tranco no crescimento migratório. A explicação está exatamente na diminuição da migra-
ção interestadual, que era o fluxo preponderante, e na reversão, com pessoas voltando a seus estados de origem e ao interior de São Paulo, sem contar com a influência das transformações demográficas pelas quais o Brasil passou recentemente. A tendência é que este saldo seja zerado e até se torne negativo nesta década até 2020. Se o saldo geral ainda se mantém positivo, é apenas por força da região nordestina.”
ESPAÇOS HETEROGÊNEOS No capítulo que julga central na tese, Aparecido Cunha faz uma análise detalhada dos espaços de vida da população na RMSP nesta última década de 2000 a 2010, mostrando como a população se desloca, segundo a idade média, sexo e origem e destino. “Há muita heterogeneidade na configuração dos espaços de vida da população, sendo que o município de São Paulo não tem a primazia em todos os espaços, mas ainda é o polo dominante na região. Existem vários polos sub-regionais, como Mogi das Cruzes, que aparece como segundo polo em importância. Para quase metade das cidades, o espaço de vida da população é policêntrico. São Paulo é a única que envolve todas as demais municipalidades, criando realmente um espaço de vida coletivo em sua essência.” O pesquisador acrescenta que Cotia, Mogi das Cruzes e a Capital aparecem como municípios primazes, enquanto vários outros (e suas respectivas populações) dependem acentuadamente dos processos econômicos, infraestrutura e empregos que existem nos três primeiros e em outros seis importantes municípios da região. “Uma constatação importante é que nove municípios concentram 79% dos fluxos intrametropolitanos, o que
chamei de centralidades da mobilidade regional: São Paulo, Osasco, Guarulhos, Mogi das Cruzes, Santo André, São Bernardo do Campo, Cotia, Barueri e Santana do Parnaíba. Os demais têm um componente econômico mais rarefeito ou insuficiente, com a população se direcionando para os municípios centrais.” Em suas considerações finais, Aparecido Cunha ressalta que a operacionalização (criação) dos espaços de vida é uma ferramenta para compreender a mobilidade espacial da população sob uma nova perspectiva e com um potencial analítico interessante. “O espaço de vida é uma regionalização social, do cotidiano, das atividades rotineiras e repetitivas da população. A tese ainda abre uma agenda de pesquisas futuras, como por exemplo, buscando avaliar os espaços de vida levando em conta as famílias e os arranjos familiares; tomando como referência as migrações internacionais e a mobilidade pendular internacional; ou analisando a composição dos empregos por espaços de vida e seus diferenciais. O estudo permitiu conhecer a dinâmica socioespacial da Metrópole no início do século 21.”
Publicação Tese: “A migração na Região Metropolitana de São Paulo e os espaços da mobilidade intrametropolitana – 1980/2010” Autor: Aparecido Soares da Cunha Orientadora: Rosana Baeninger Unidade: Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH)
8 Campinas, 21 de março a 3 de abril de 2016
De Manila a Montjuic: a intrincada rede dos nacionalismos e anarquismos no Oitocentos JÚLIA RANY CAMPOS UZUN professorajuliahistoria@yahoo.com.br
Vocês enforcaram homens em Chicago, cortaram suas cabeças na Alemanha, estrangularam-nos em Jerez, fuzilaram-nos em Barcelona, guilhotinaramnos em Montbrisons e Paris, mas vocês nunca destruirão o anarquismo. Suas raízes são demasiado profundas; ele nasceu no coração de uma sociedade corrupta, que está caindo aos pedaços; é uma reação violenta contra a ordem estabelecida. Representa as aspirações igualitárias e libertárias que estão bombardeando a autoridade estabelecida; está por toda a parte, o que torna impossível capturá-lo. E, por fim, matará vocês.” (Emily Henry) O que há de comum entre as Filipinas coloniais, a Cuba revolucionária e a Alemanha de Bismarck? Em Sob três bandeiras: anarquismo e imaginação anticolonial, Benedict Anderson tem como objetivo esclarecer que os processos de transformação que envolveram o fim dos Impérios Coloniais no final do século XIX, a emergência dos nacionalismos na Ásia e na América e a propulsão do pensamento anarquista são todos interligados dentro de uma mesma “astronomia política”, usando a expressão de Melville. A obra se organiza em cinco capítulos, tendo como ponto de partida a cidade de Manila no final do século XIX. Através do método comparativo – utilizado por Anderson desde The Spectre of Comparisons: Nationalism, Southest Asia and the World (1998) – o autor apresenta a trajetória de três homens de letras filipinos: o antropólogo Isabelo de los Reyes, o escritor José Rizal e o dirigente Mariano Ponce. O primeiro deles traz uma série de reflexões sobre a obra de Isabelo de los Reyes. Por ter sido o pioneiro a estudar as tradições e os costumes fi-
lipinos, utilizou-se dos trabalhos de folcloristas e etnólogos da Europa (especialmente da Península Ibérica) para traçar paralelos e tentar traduzir o que as Filipinas tinham de característico. Por sua vez, acabou destruindo muitos mitos implantados pela atividade colonial e pela Igreja na região ao mostrar que havia semelhantes manifestações na Europa. Como resultado, de los Reyes passou a não mais se compreender como um filipino, ainda que não visse a si como um peninsular – ele era, assim, um indivíduo sem caracterização na lógica da alteridade. Tornou-se o thôma. Já no segundo capítulo surge a figura de José Rizal, o mais importante romancista filipino, autor de Noli me tangere e sua continuação, El filibusterismo. Para elucidar a importância de sua obra, tida como o primeiro romance de intenso cunho anticolonial composto por um colono não europeu, Anderson busca montar o quebra-cabeça de suas apropriações intelectuais, sejam elas nas vanguardas francesas, holandesas ou mesmo espanholas, apontando quais elementos compuseram seu arcabouço literário. Rizal continua sendo o protagonista do capítulo seguinte, que passa a relacionar o conteúdo de sua obra com o momento político de sua produção. O autor analisa como as três últimas décadas do século XIX viram emergir diversas frentes do movimento anarquista em diferentes partes da Europa. Também aponta os conflitos que deram origem a um forte movimento nacionalista filipino na Espanha. Por fim, Anderson compara o teor dos dois romances de Rizal: se Noli me tangere transformou-o em um importante símbolo do ativismo contra o colonialismo dentro das Filipinas, El filibusterismo pode ser encarado como um romance mundial, que trata de questões de seu período presentes na Alemanha de Bismarck, na Rússia niilista, em toda a Europa e nas Américas. O quarto capítulo trata das redes revolucionárias que foram organizadas nas diversas partes do mundo entre o período em que Rizal foi exilado e sua execução (1891-6). Anderson começa percorrendo
SERVIÇO
Título: Sob três bandeiras: Anarquismo e imaginação anticolonial Autor: Benedict Anderson Tradução: Sebastião Nascimento Páginas: 304 Editora da Unicamp Coedição: Eduece – Editora da Universidade Estadual do Ceará Áreas de interesse: História e Ciências Sociais Preço: R$ 76,00 www.editoraunicamp.com.br
as transformações sofridas na Cuba de José Martí e a formação das comunidades cubanas em Nova York e na Flórida, passando então para a análise das consequências da transferência de Taiwan para o domínio japonês e para a apresentação do plano (que não saiu do papel) de Rizal para a construção de uma colônia filipina próxima a Bornéu. Por fim, Anderson debruça-se sobre a produção da imprensa anarquista do final do século XIX em vários pontos da Europa, mostrando como os movimentos eram plurais e matizados por seus locais de origem. O último capítulo vai discutir o assassinato de uma das figuras mais conservadoras da Espanha, o primeiro-ministro Cánovas, por um jovem anarquista – relacionando essa ação com a decadência do Império Espanhol no ano seguinte. Entra em cena nosso último filipino ilustre, Mariano Ponce, que deixou a Espanha no final de 1896 para tornar-se um dos maiores diplomatas e propagandistas do governo revolucionário. Anderson esclarece o impacto de sua ação ao analisar sua correspondência com estrangeiros de diversos países. Com sua escrita fluida, quase jornalística, Anderson prende seu leitor para apresentar, nas figuras dos três filipinos, a tríade dos caminhos de ativismo político dentro do mundo colonial fora da via militar: a negação da Coroa e a valorização do nacional, como o fizera de los Reyes; o ativismo político através da imprensa e das mensagens pelos romances, vívido em Rizal; e a diplomacia e a propaganda política, tal qual em Ponce. De forma magistral, Anderson mostra que os três não são apenas estrelas brilhando na escuridão: suas ligações, como filipinos, e as apropriações que fizeram do mundo intelectual oitocentista abrem os olhos do leitor para quão conectado era o mundo no século XIX – e como eles faziam parte de galáxias muito, mas muito maiores. Júlia Rany Campos Uzun é doutoranda em História Cultural pela Unicamp e pesquisadora do Colégio Mexiquense de Toluca – México.
O supletivo que nasceu na Unicamp ISABEL GARDENAL bel@unicamp.br
studo de mestrado apresentado à Faculdade de Educação (FE) sobre a educação supletiva em Campinas mostrou que o Centro Estadual de Educação de Jovens e Adultos “Paulo Décourt” (CEEJA), cujo embrião foi a Unicamp, chegou à estadualização graças a uma grande demanda de alunos desde o princípio e que essa demanda ainda prossegue. Segundo a autora, a historiadora Viviane Brizante Mei, em 1987, havia 1.194 interessados nas 300 vagas do curso de primeiro grau, oferecidas em 1988. O projeto foi uma reivindicação dos funcionários para ampliarem sua formação. “O tempo passou e a escola atende agora 1.043 alunos do ensino médio e 393 alunos dos anos finais do ensino fundamental. Mas muitos outros frequentaram a instituição e cursaram o ensino superior.” A pesquisadora contou que inicialmente o CEEJA teve o nome de Núcleo Avançado de Centro Estadual de Educação Supletiva (Naces)/Unicamp. A escola começou no barracão do Instituto de Física (IFGW) e depois foi transferida para o Ciclo Básico. Era tocada com o apoio da professora Eliane Aparecida Torres, funcionária da rede estadual paulista de ensino e funcionária da Unicamp. Além de o projeto ser uma reivindicação dos funcionários, expôs a mestranda, também partiu de alunos, muitos dos quais participavam de aulas com professores e estudantes da Unicamp. Foi assim que surgiu o movimento para que o projeto fosse lançado, o que veio a acontecer em 1988 mediante cooperação da Pró-Reitoria de Extensão e Assuntos Comunitários (Preac) e da Secretaria de Estado da Educação.
Foto: Antonio Scarpinetti
Para chegar à estadualização, o caminho foi mais longo e com intensa divulgação em periódicos das empresas parceiras e da Universidade, em veículos como o boletim Unicamp Notícias, da sua Assessoria de Imprensa. Com a Secretaria de Estado da Educação envolvida nesse projeto, foram criados ofícios e decretos regulamentando sua criação, seu quadro de professores, normas de funcionamento e currículo. “Chamei esses documentos de políticas de estadualização”, informou a pesquisadora.
NOMECLATURA
O nome Naces permaneceu até 1989 e mudou para CEES (Centro Estadual de Educação Supletiva). Em 2009, foi criado um decreto baseado na LDB (Lei das Diretrizes e Bases) que alterou a denominação de Educação Supletiva para Educação de Jovens e Adultos (EJA), passando a CEEJA “Paulo Décourt”, em homenagem ao botânico, ex-professor do Colégio Culto à Ciência. O CEEJA ficou na Unicamp até 2010, no Centro Cultural de Inclusão e Integração Social (CIS-Guanabara), no bairro Botafogo, até obter sede própria no Jardim Santana. “A escolha do nome Paulo Décourt gerou discussão com a equipe gestora. Os professores discordavam porque na verdade a escola tinha surgido na Unicamp. Mas a essa altura, a instituição já pertencia à Secretaria do Estado da Educação, e a denominação foi ratificada por decreto”, esclareceu Viviane. Para conhecer a história do CEEJA, a pesquisadora analisou documentos da Preac, Secretaria de Estado da Educação e informativos de época. Depois analisou políticas de criação e organização institucional da educação supletiva na Unicamp. Por último, discutiu as mudanças externas e práticas internas da escola a partir dos registros de atas. A dissertação foi orientada pelo professor André Luiz Paulilo.
A historiadora Viviane Brizante Mei: “Estudo possui um componente social”
FUNCIONAMENTO
O curso supletivo na Unicamp era gratuito e por demanda. Quando regulamentado, a presença mínima era de uma vez por mês. Os alunos iam à escola, recebiam o material didático, iam para casa, estudavam sozinhos, retornavam à escola, tiravam dúvidas com os professores (funcionários com formação acadêmica) e passavam por avaliações. “A seleção dos alunos era feita por meio de alfabetização em língua portuguesa e matemática. Só após essa alfabetização, os postulantes ingressavam no curso supletivo”, comentou Viviane.
Quando o supletivo ficava no Ciclo Básico, os alunos dividiam-se por salas de atendimento de acordo com a disciplina que estavam cursando naquele módulo, para eliminação de matérias. O atendimento normalmente ocorria no contraturno do trabalho, conforme disponibilidade dos funcionários. Frequentavam o curso supletivo maiores de 16 anos, que operava por meio de parceria com empresas como o parque industrial de Jaguariúna. Ao ampliar sua oferta, ele também passou a atender a comunidade externa. Atualmente, há somente duas escolas de CEEJAS em Campinas: a Paulo Décourt e a Jeanette Andrade G. Aguila Martins, na Vila Costa e Silva. A educação supletiva tem papel fundamental na formação de pessoas que não puderam fazer o curso regular, opina Viviane. Elas voltam à escola mais tarde com outras perspectivas e experiências. “Este é o primeiro passo. Depois alçam voos em cursos técnicos ou na universidade”, comemorou ela, hoje incorporada ao corpo docente do CEEJA. “Este estudo possui um componente social e registra uma parte da memória da escola supletiva em Campinas. É curioso que ela iniciou num campus universitário e pela vontade dos funcionários. Mas já existia antes mesmo de ser oficializada. É portanto um projeto muito especial da Unicamp”, concluiu ela.
Publicação Dissertação: “Universidade e educação supletiva em Campinas” Autora: Viviane Brizante Mei Orientador: André Luiz Paulilo Unidade: Faculdade de Educação (FE)
9 Campinas, 21 de março a 3 de abril de 2016
Tese investiga a relação entre ditadura e educação na Bahia Foto: Antonio Scarpinetti
A historiadora Daniela Moura Rocha de Souza, autora da tese: “Essa política educacional trouxe consequências extremamente negativas para a educação brasileira, entre elas a desculturalização e tecnização da educação, a privatização do ensino público e a massificação e precarização do trabalho do professor”
Estudo conclui que política educacional implantada no período é responsável por muitas das mazelas enfrentadas pelo setor MANUEL ALVES FILHO manuel@reitoria.unicamp.br
árias das mazelas enfrentadas atualmente pela educação brasileira, como desculturalização do ensino, privatização em larga escala, precarização do trabalho docente e esvaziamento da teoria em favor da prática, desenvolveram-se a partir do modelo educacional implantado no país durante o regime civil-ditatorial, de concepção liberal-progressista. A constatação é da tese de doutorado da historiadora Daniela Moura Rocha de Souza, defendida em fevereiro último na Faculdade de Educação (FE) da Unicamp. O orientador do trabalho foi o professor Sérgio Eduardo Montes Castanho. A pesquisa desenvolvida por Daniela teve como recorte espacial a Bahia, no período compreendido entre as décadas de 1960 e 1980. A historiadora utilizou uma vasta gama de dados, vários inéditos, entre eles os levantados pela Comissão Milton Santos de Memória e Verdade instituída pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), cujo relatório final foi divulgado em agosto de 2014. O estudou também se baseou em jornais estudantis baianos, censos educacionais, documentos oficiais do governo do Estado etc. Entre as informações coletadas e analisadas pela autora da tese, destaque para as iniciativas de quatro intelectuais, todos ligados ao presidente Castelo Branco, que foram os principais responsáveis pela concepção e implantação da política educacional
no Estado: Luís Viana Filho, Luiz Augusto de Fraga Navarro de Britto, Roberto Figueira Santos e Edivaldo Machado Boaventura. O estudo também identificou outros três intelectuais que tiveram participação relevante no processo, mas de forma auxiliar – Manuel Pinto de Aguiar, Zahidé Machado Netto e Antônio Luís Machado Netto. “Um aspecto curioso que apurei é que não há registros críticos sobre a trajetória dessas pessoas, a não ser alguns trabalhos pontuais de cunho memorialista, voltados ao enaltecimento de seus feitos”, conta Daniela. Segundo a historiadora, cada um deles colaborou de forma decisiva para a reformulação da política educacional baiana. Luís Viana Filho, por exemplo, foi governador do Estado e, antes disso, chefe do Gabinete Civil de Castelo Branco. Ele foi responsável, entre outros projetos, pela constituição de uma equipe de professores universitários que formulou diversas políticas nas áreas da cultura e educação do Estado. “Ele tinha como lema ‘Educar para Enriquecer’. Uma das suas principais preocupações era saber as razões que faziam com que a Bahia não se modernizasse, a exemplo do que acontecia com os Estados localizados no eixo Sul-Sudeste”, relata. Navarro de Britto, que substituiu Viana Filho na chefia do Gabinete Civil da Presidência quando este assumiu o governo baiano, ocupou posteriormente o cargo de secretário estadual de Educação. Em sua gestão foi elaborado o primeiro Estatuto do Magistério da Bahia, legislação que organizou o ensino no Estado, em 1967. Também executou o Plano Integral de Educação e Cultura, documento que estabeleceu as diretrizes da política educacional baiana em todos os níveis de ensino. “Em outras palavras, Navarro de Britto, com o lema ‘Educação é Desenvolvimento’, sistematizou e implantou as propostas apoiadas pelos demais intelectuais”, resume Daniela. A atuação de Roberto Santos, que foi igualmente governador, se deu mais no âmbito da UFBA, da qual foi reitor. Coube a ele conduzir o processo de reestruturação da universidade. Edivaldo Boaventura, que ocupou a Secretaria da Educação, teve papel determinante no desenvolvimento e execução do projeto dos
Centros Integrados, propostos por Navarro de Britto, que tinham por princípio oferecer uma educação integrada, voltada para o atendimento do mercado de trabalho. Em larga medida, conforme Daniela, a política educacional defendida e implementada por esses intelectuais seguiu a cartilha formulada pelos Estados Unidos, que apregoavam uma formação mais tecnicista que humanista e também uma formação mais aligeirada do professor, daí o surgimento das licenciaturas curtas. “Um exemplo muito claro dessa concepção foi o acordo MEC-Usaid. Na época, diversos assessores estadunidenses vieram ao Brasil para ajudar na reformulação do ensino superior brasileiro”, pontua a historiadora. “Importante ressaltar que há registros de intervenção estadunidense na educação brasileira desde as primeiras décadas do século XX, a partir de outros convênios, sendo a maioria voltada para o ensino profissionalizante e técnico aos moldes do MEC-Usaid”, complementa. O acordo MEC-Usaid foi firmado em 1964 pelo Ministério da Educação (MEC) e a United States Agency for International Development (Usaid). Dele surgiram diversos convênios com o objetivo de implantar um modelo de educação norte-americano nas universidades brasileiras. “Essa experiência trouxe consequências extremamente negativas para a nossa educação, muitas delas em vigor até hoje. Entre elas podemos destacar a desculturalização e tecnização da educação, a privatização do ensino público e a massificação e precarização do trabalho do professor. Isso ocorreu tanto na Bahia quanto no Brasil de forma geral”, aponta Daniela. À época, continua a autora da tese de doutorado, os focos de resistência à reestruturação da política educacional brasileira e baiana eram representados basicamente pelo movimento estudantil e por grupos de professores. “Ocorreram várias manifestações e protestos no período, a maioria contra pontos específicos do projeto de reformulação. A ditadura, apesar de ter sido muito bem orquestrada e conseguido executar, inclusive com o uso da força, vários de seus projetos para o país, não conseguiu aniquilar a resistência”.
De acordo com Daniela, no Brasil existem poucos trabalhos acadêmicos sobre o tema ditatura e educação. O Grupo de Estudos e Pesquisas “História, Sociedade e Educação no Brasil” (HISTEDBR) da FE-Unicamp, do qual faz parte, é referência nessa área. “Na Bahia, por exemplo, só há um grupo dedicado a esse tipo de estudo, vinculado ao Museu Pedagógico, ao qual também estou vinculada. Temos muitas pesquisas sobre ditadura no país, mas com outros enfoques. Na Bahia, as investigações são mais voltadas a outros assuntos ou abordando um contexto mais amplo. Isso se deve, muito provavelmente, à dificuldade que os pesquisadores baianos da área de educação tinham para ter acesso a documentos do período. Com a abertura dos arquivos e com o trabalho das comissões da verdade, muitos dados estão surgindo e esse cenário tende a mudar”, infere. Daniela conta que decidiu fazer o doutorado na FE por considerar a faculdade e o HISTEDBR referências nos estudos sobre História da Educação. “O melhor lugar para tratar desse tema no país, sem dúvida, é a Unicamp. Aqui eu encontrei o ambiente e a estrutura necessários para desenvolver minha tese. Agora, já começo a me preparar para fazer o pós-doutorado em outra instituição, mas levo comigo a bagagem adquirida aqui”, afirma a historiadora, que durante o doutorado contou com bolsa de estudo concedida pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), agência de fomento do Ministério da Educação.
Publicação Tese: “Intelectuais, ideologia e política educacional na Bahia durante a ditadura civil-militar brasileira (1964-1985)” Autora: Daniela Moura Rocha de Souza Orientador: Sérgio Eduardo Montes Castanho Unidade: Faculdade de Educação (FE) Financiamento: Capes
10 Campinas, 21 de março a 3 de abril de 2016
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Entre o efêmero e a experimentação s alunos de hoje mudaram radicalmente. Em vez de priorizar o conhecimento construído em processos lineares, ou seja, quando uma coisa vem depois da outra, estão ávidos pela experimentação e a simultaneidade. “Tudo ao mesmo tempo agora” faz parte do dia a dia de uma geração absolutamente conectada. Essas crianças e adolescentes costumam prestar atenção em algo por cerca de 10 segundos apenas. Para elas o mundo se baseia em vivências e é, sobretudo, um mundo efêmero. Pensar sobre essas questões pode ser assustador, principalmente se a pessoa é parte de outra geração, aquela que enxerga o mundo como concreto, palpável, que tem sua atenção voltada a uma coisa de cada vez e para quem os conceitos e definições, muitas vezes, são mais significativos do que as vivências. Uma geração a qual pertencem: os professores. É um mundo em confronto e em conflito, como explicou a professora Maria Bernadete Marques Abaurre, do Instituto de Estudos da Linguagem (IEL) da Unicamp, na palestra
Painel da semana Redação científica na FOP - O Espaço da Escrita oferece aos docentes, pesquisadores de carreira, aos alunos de graduação e aos de pós-graduação da Faculdade de Odontologia de Piracicaba (FOP), o curso básico “Método Lógico para Redação Científica”. Será no dia 21 de março, às 9 horas, no Salão Nobre da unidade. O curso terá 8 horas/aula e será ministrado pelo professor Gilson Luiz Volpato (Unesp/Botucatu). Ele foi organizado para todos que queiram aprender do zero ou aperfeiçoar a escrita de textos acadêmicos desde a perspectiva da ciência empírica. Para mais informações acesse o link http://www.cgu.unicamp.br/espaco_da_escrita/workshop_metodo_ logico_piracicaba.php Línguas indígenas - O conhecimento sobre as origens das línguas nativas da América do Sul e seus parentescos está diante de um desafio metodológico: a pesquisa tradicional não tem se mostrado capaz de fazê-lo avançar mais na história dos povos que deram origem às línguas indígenas faladas atualmente. Para apresentar e discutir novas metodologias na área, pesquisadores de diversos países se reunirão na Escola São Paulo de Ciência Avançada Putting Fieldwork on Indigenous Languages to New Uses, de 21 de março a 6 de abril, no Instituto de Estudos da Linguagem (IEL) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Leia mais http://agencia.fapesp.br/novas_ metodologias_para_pesquisa_com_linguas_indigenas_serao_apresentadas_na_unicamp/22591/ A curadoria e a produção artística contemporânea - A Galeria de Arte do Instituto de Artes (GAIA) da Unicamp receberá, para palestra, o artista plástico e pesquisador de arte, Danillo Villa. No dia 21 de março, às 13h30, à rua Sérgio Buarque de Holanda s/nº, no piso térreo da Biblioteca Central “Cesar Lattes” (BCCL), ele abordará o tema “A curadoria e a produção artística contemporânea”. O evento é aberto à participação de estudantes de arte e interessados no tema, a partir de 18 anos de idade. As inscrições serão aceitas de 19 de janeiro a 17 de março. As vagas são limitadas. A atividade é viabilizada pelo Governo do Estado de São Paulo e Secretaria de Estado da Cultura, através da POIESIS – Organização Social de Cultura, Língua e a Literatura e da Oficina Cultural Carlos Gomes, em parceria com a Galeria do Instituto de Artes da Unicamp. O palestrante é artista plástico e pesquisador, com graduação e mestrado em Poéticas visuais pela Unicamp e doutorado em Poéticas Visuais pela ECA-USP. Professor de desenho e pintura e curador da Divisão de Artes plásticas da Casa de Cultura da UEL - Universidade Estadual de Londrina-PR. Pesquisa o devir do objeto na arte contemporânea. Mais informações pelos telefones (19) 3521-6561/3521-7453. Palestra com Diana Vieira - O Serviço de Apoio ao Estudante (SAE), por meio do Programa Saiba Mais, organiza palestra no dia 21 de março às 12h30, na sala CB01 do Ciclo Básico I. Será com Diana Aguiar Vieira, doutora em Psicologia pela Universidade do Porto. Diana defendeu tese de doutoramento sobre a “Transição do ensino superior para o trabalho” tendo recebido o Prêmio Agostinho Roseta, instituído pelo Ministério do Trabalho e da Solidariedade de Portugal. Mais detalhes pelo telefone 19-3521-6539 ou e-mail larissa@sae.unicamp.br Mudanças climáticas e segurança alimentar - No dia 23 de março, às 9 horas, no Salão Nobre da Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA), acontece um fórum que discutirá o estado da arte na investigação das mudanças climáticas e a segurança alimentar no contexto do Brasil e do mundo. O evento está sob a organização da Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA), Cepagri e Nepa. A programação completa pode ser acessada no link http://www.fea.unicamp. br/noticiaforummudancasclimaticas.html. Mais detalhes pelo e-mail : eventfea@unicamp.br ou telefone 3521-3489. Árvore dos desejos - No dia 21 de março, às 19 horas, na rua Dr. Sampaio Peixoto 368, em Campinas, acontece a instalação sensorial interativa “Árvore dos desejos”, de Paulo Cesar Teles, com a participação da professora e artista Lucia Camargo. Trata-se de uma interpretação multimídia de lendas orientais sobre uma árvore que tem o poder de realizar os desejos ligados a ela e se constitui de uma escultura tridimensional em forma de árvore feita de embalagens e objetos reciclados. Para mais detalhes acesse a página https://www.facebook. com/events/157787294605068/ Encontro de Teatro Universitário - Evento será realizado no dia 28 de março, o dia todo, no Departamento de Artes Cênicas do Instituto de Artes da Unicamp. Trata-se de um encontro produzido por estudantes de Artes Cênicas das universidades públicas paulistas, a partir das proposições e demandas oriundas do espaço da graduação. Tem como objetivo fomentar a troca e reflexão entre esses núcleos acerca de seus fazeres artísticos. O intuito é criar um espaço de encontro no qual os estudantes da Unicamp, Unesp e USP possam apresen-
“Os espaços da leitura e da escrita: desafios de um mundo conectado”. A palestra, realizada no último dia 12, foi a terceira da série “Colóquios Unicamp Ano 50”, que traz temas como educação, artes, ciência e cultura e é voltada ao público de professores do Ensino Fundamental e Médio. A série é coordenada pela professora Celene Margarida Cruz e integra as festividades dos 50 anos da universidade, sob a coordenação da professora Ítala D’Ottaviano. Para chegar ao que a professora considera desafios a serem enfrentados pelos professores nas salas de aula, Maria Bernadete fez um longo percurso, começando com os marcos da tecnologia que possibilitaram o aparecimento das mídias sociais. “Uma vez construídos esses espaços eles começaram a ser utilizados de maneira extraordinária. Hoje as informações que invadem nosso mundo são imateriais, são ‘não coisas’, inapreensíveis, apenas decodificáveis”, salientou. A professora ilustrou a palestra com vários vídeos. Para mostrar a diferença entre um “nativo digital” e um “imigrante digital” ela apresentou um vídeo de um bebê tentando
tar as produções desenvolvidas nos cursos de artes cênicas, debater processos e rumos e aprofundar as discussões. Na Unicamp o evento é organizado pelos alunos do curso de Artes Cênicas, Allan Kawabata, Beatriz Magosso e Gabriel Pangonis. Informações por e-mail, telefones 17-991215704 e 19-983768654 ou no link https://www.facebook.com/ ETU-Encontro-de-Teatro-Universit%C3%A1rio-263716537085467 Comissões da Verdade: políticas, sentidos e práticas - Evento científico a ser realizado no dia 28 de março, das 9 às 18 horas, no Auditório II do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH), busca destacar a questão das Comissões de Verdade através do debate como especialistas na temática do pós-conflito, entre outras questões. Para enriquecer a análise da realidade brasileira, também serão abordados outros dois contextos nacionais significativos, a África do Sul e a Colômbia. A organização é da pesquisadora de pós-doutorado, Adriana Villalón, em colaboração como os docentes Susana Durão, Omar Thomaz e J.M. Arruti. O encontro é aberto ao público em geral. Mais informações pelo e-mail adriana.villalon@gmail.com Encontro de Divulgação de Ciência e Cultura - Nos dias 29 e 30 de março, o Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo (Labjor) da Unicamp realizará o 3º Encontro de Divulgação de Ciência e Cultura (Edicc 2016). O evento, que acontecerá no Instituto de Estudos da Linguagem (IEL) da Unicamp, terá como tema Rumos e perspectivas para a divulgação científica e cultural. Mais informações: http://3edicc.wix.com/edicc2016 Seminário com Alejandro Castillejo - Em continuação ao evento “Comissões da verdade: políticas, sentidos e práticas. Exemplos de Brasil, África do Sul e Colômbia”, no dia 29 de março, às 9h30, na Sala Multiuso do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH), o antropólogo Alejandro Castillejo ministrará um seminário com foco em sua pesquisa: “Dialécticas de la Fractura y la continuidad: elementos para una lectura crític”. A organização é de Adriana Villalón, pós-doutoranda pelo IFCH e dos docentes Susana Durão, José Arruti e Omar Ribeiro Thomaz. O público-alvo são alunos e pesquisadores de ciências sociais em geral. Mais detalhes pelo telefone 19-3521-1601. Diálogos do Antropoceno - Debate está marcado para o dia 30 de março, às 14 horas, no Auditório do Instituto de Geociências (IG). Terá a participação dos pesquisadores convidados Jefferson Picanço (DGRN/Unicamp) e Rosana Corazza (DPCT/Unicamp). O evento visa iniciar uma discussão sobre desafios globais contemporâneos, cuja compreensão exige cada vez mais a cooperação multidisciplinar entre ciências naturais e humanas. O conceito de antropoceno, muito discutido nas ciências sociais apesar de ter origem na geologia, serve aqui de mote para uma conversa entre disciplinas sobre desafios globais, incluindo desastres naturais e a economia dos hidrocarbonetos num contexto de mudanças climáticas. Mais detalhes pelos telefones (19) 3521-4561/4192 ou e-mail markosy@uol.com.br Fórum de Vida e Saúde - Com o tema “Qualificando a atenção em saúde materna e perinatal”, no dia 31 de março, às 9 horas, no Centro de Convenções da Unicamp, acontece o Fórum Permanente de Vida e Saúde. O evento está sob a responsabilidade da professora Eliana Amaral. O Fórum, que será transmitido pela TV Unicamp, é aberto ao público em geral. Inscrições, programação e outras informações no site http://www.foruns.unicamp.br/foruns/projetocotuca/forum/ htmls_descricoes_eventos/saude83.html Aula aberta - Com o tema “Sobre manuais e suas narrativas: O caso da Sociologia da Saúde”, a aula aberta do Grupo de Estudos História das Ciências da Saúde da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp acontece no dia 31 de março, às 14 horas, no Anfiteatro da Comissão de Graduação em Medicina. Será com o professor colaborador da FCM, Everardo Duarte Nunes. Mais detalhes no link http://www.fcm.unicamp.br/fcm/centro-de-memoria-e-arquivo-cma/ grupo-de-estudos-historia-das-ciencias-da-saude/cursos-e-reunioes Iniciação científica - A Pró-Reitoria de Pesquisa (PRP) da Unicamp receberá, de 1 a 24 de abril, as inscrições para o seu Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica e Tecnológica. O Programa, que é financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e pelo Serviço de Apoio ao Estudante (SAE), propicia aos alunos de graduação (internos e externos aos Campi), a oportunidade de ampliar a formação acadêmica por meio da concessão de Bolsas de Iniciação Científica (IC) e de Bolsas de Iniciação Tecnológica (IT). O formulário de inscrições será disponibilizado no dia 1º de abril, no site https://www.prp.unicamp.br/pt-br/pibic-pibiti. Investigação geoambiental - A Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo (FEC), por meio de sua Coordenadoria de Extensão e Eventos, está recebendo inscrições para a edição de 2016 do curso “Investigação Geoambiental”, na modalidade extensão. Elas podem ser feitas, até 1 de abril, no link http://www.extecamp.unicamp. br/dados.asp?sigla=FEC-0070&of=009. O curso, que será oferecido no período de 9 de abril a 25 de junho, está sob a coordenação das professoras Miriam Gonçalves Miguel (FEC) e Sueli Yoshinaga Pereira (IG). Mais informações pelo telefone 19-3521-2337 ou 3521-2408.
em vão expandir com seus dedinhos as imagens de uma revista impressa. O imigrante é aquele que “liga para saber se o e-mail chegou e imprime um texto para ser lido no papel, enquanto o nativo já tem a aptidão digital em seu DNA”. O nativo digital é o estudante de hoje, que segundo pesquisa apresentada por Maria Bernadete, atualiza seus status na rede social em sala de aula e conversa muito mais online, do que pessoalmente. “Tirar a conexão dos alunos em sala de aula é visto por eles como uma violência” acentuou a palestrante.
SALA DE AULA
Daí então a professora fez vários questionamentos relacionados à leitura e a escrita. Munida de dados sobre o “analfabetismo funcional” ou a inabilidade de uma pessoa em compreender os textos, que apontaram números muito baixos entre os estudantes dos níveis fundamental e médio, Maria Bernadete perguntou; “Será que essas fileiras não estão sendo engrossadas por alunos que simplesmente não estão acostumados a ler de forma linear?”. A pergunta serviu para uma ampla reflexão sobre como apresentar os conteúdos aos alunos e a importância de apresentar novos repertórios. Maria Bernadete recorreu aos anúncios publicitários, que procuram conquistar, por meio de uma linguagem persuasiva. Uma propaganda do jornal The Guardian mostrava os vários olhares para um mesmo fato fictício, para sugerir que todas as visões
Teses da semana Biologia: “Confirmação e análise funcional da interação de novas proteínas que interagem com a região intracelular do marcador de linfoma de hodgkin CD30” (doutorado). Candidato: Bruno Aquino. Orientador: professor Jörg Kobarg. Dia 21 de março de 2016, às 14 horas, na sala de defesa de teses do 1º andar do prédio da CPG do IB. Ciências Médicas: “O papel da adenosina na ação da peçonha botrópica em edema de pele e pressão arterial de ratos” (doutorado). Candidato: Elionai Marcelino Pereira. Orientador: professor Stephen Hyslop. Dia 31 de março de 2016, às 14 horas, no auditório do bloco 10 da FCM. Educação Física: “Diagnóstico dos centros de treinamento de alto rendimento do Brasil cujas modalidades atendidas têm expectativa de conquista de medalhas nos jogos Olímpicos de 2016” (mestrado). Candidata: Mariana Antonelli. Orientador: professor Roberto Rodrigues Paes. Dia 22 de março de 2016, às 9 horas, na sala de aula 4/5 da FEF. “Esporte paralímpico brasileiro: vozes, histórias e memórias de atletas medalhistas (1976 a 1992)” (doutorado). Candidata: Michelle Aline Barreto. Orientador: professor José Júlio Gavião de Almeida. Dia 29 de março de 2016, às 9 oras, no auditório da FEF. “Sentidos atribuídos por pessoas com deficiência em relação a qualidade de vida no trabalho” (mestrado). Candidata: Maiza Claudia Vilela Hipólito. Orientador: professor Gustavo Luis Gutierrez. Dia 30 de março de 2016, às 10 horas, no auditório da FEF. “Pedagogia do esporte e o modelo bioecológico: indicadores para avaliação de impacto em programa socioesportivo” (doutorado). Candidato: Riller Silva Reverdito. Orientador: professor Roberto Rodrigues Paes. Dia 30 de março de 2016, às 14 horas, no auditório da FEF. “Educação do corpo e do gênero na Educação Infantil- uma análise da produção de conhecimento na área da Educação” (mestrado). Candidata: Rosana Mancini Vieira. Orientadora: professora Helena Altmann. Dia 8 de abril de 2016, às 9 horas, no auditório da FEF. Engenharia Elétrica e de Computação: “Análise da alocação ótima de unidades de medição fasorial e estimação de estado” (doutorado). Candidata: Heloisa Helena Müller. Orientador: professor Carlos A. Castro. Dia 22 de fevereiro de 2016, às 14 horas, na sala PE12 da FEEC. “Uma abordagem de consciência de máquina ao controle de semáforos de tráfego urbano” (doutorado). Candidato: André Luis Ogando Paraense. Orientador: professor Ricardo Ribeiro Gudwin. Dia 29 de março de 2016, às 14 horas, na FEEC. “Análise e implementação do fluxo de transporte de televisão digital aos sistemas SBTVD e DVB-T” (mestrado). Candidato: Andrés Felipe Chicaíza Gómez. Orientador: professor Luis Geraldo Meloni. Dia 31 de fevereiro de 2016, às 10 horas, na sala de congregações da FEEC. “Antenas de micro-ondas para sistemas de comunicações aerotransportados e de solo” (mestrado). Candidato: Juan Pablo Pantoja Bastidas. Orientador: professor Hugo Enrique Hernandez Figueroa. Dia 1 de abril de 2016, às 14 horas, na sala de seminarios da FEEC. Engenharia Mecânica: “Análise de Riser através de uma formulação de parâmetros concentrados” (mestrado). Candidato: Jaime Carbajal Penadillo. Orientador: professor Renato Pavanello. Dia 28 de março de 2016, às 14 horas, na sala KD da FEM. “Falha multiescala de compósitos laminados usando o método dos elementos de contorno” (doutorado). Candidata: Rene Quispe Rodriguez. Orientador: professor Paulo Sollero. Dia 31 de março de 2016, às 14 horas, na sala JD da FEM. Filosofia e Ciências Humanas: “Tem um espirito que vive dentro dessa pele: feitiçaria e desenvolvimento em Tete, Moçambique” (doutorado). Candidato: Inacio de Carvalho Dias de Andrade. Orientador: professor Omar Ribeiro Thomaz. Dia 29 de março de 2016, às 14 horas, no auditorio 1 do IFCH. “Na eternidade cabe lá todo mundo: visita de palhaços a instituições de longa permanência para idosos” (mestrado). Candidata: Ana Teresa Costa Figueiredo. Orientadora: professora Guita Grin Debert. Dia 30 de março de 2016, às 14 horas, na sala 14A do IFCH. “Entre a fé e a ciência: uma análise sobre a teoria do design inteligente” (mestrado). Candidato: Lucas Braga. Orientador: professor Ronaldo Romulo Machado de Almeida. Dia 30 de março de 2016, às 14 horas, na sala 14B do IFCH. Física: “Estrutura de estados que saturam a subaditivitdade forte da entropia de von Neumann limitada e canais quânticos” (mestrado). Candidato: Leandro Raffhael da Silva Mendes. Orientador: professor Marcos Cesar da Silva. Dia 21 de março de 2016, às 14 horas, no auditório da Pós-graduação, do IFGW.
estavam no jornal e, no entanto, a construção da opinião caberia ao leitor. Outro anúncio do jornal The Sunday Times ilustrou a importância do repertório, nesse caso cultural. Maria Bernadete debateu a necessidade de trabalhar com os alunos gêneros discursivos da internet, como posts, chats, comentários, vídeos e até os “memes”. Em analogia, a professora comentou que muitas vezes os professores querem trabalhar gêneros com os alunos que são “textão”, ou seja, textos que são alvos de piadinhas nas redes sociais porque são enormes para os padrões desse tipo de mídia. A professora citou um trecho de um artigo de Juan Carlos Rodríguez Ibarra, publicado no jornal El País, que diz “Um adolescente de 12 ou 13 anos é digital quando se encontra fora da aula e analógico quando se senta em sua carteira”. A palestrante em nenhum momento descartou a importância do papel do professor em sala de aula. “Jamais a tecnologia vai substituir os professores. O mestre é aquele que aponta caminhos. Os professores que usam a tecnologia, estes sim, substituirão os outros”. Maria Bernadete finalizou afirmando que seria uma enorme perda os textos em prosa e poesia não serem mais lidos pelas futuras gerações. “Que bom se a gente conseguisse seduzir nossos alunos para experiências de leitura diferentes da que eles estão mais habituados. Mas tem que ser possível construir uma nova metodologia de trabalho com os nativos digitais”. (Patrícia Lauretti)
“Singularidades de fase em luz clássica” (doutorado). Candidato: Paulo Cesar Aguiar Brandão Filho. Orientador: professor Luiz Eduardo Moreira Carvalho de Oliveira. Dia 1 de abril de 2016, às 14 horas, no auditório da Pós-graduação do IFGW. Geociências: “Aerogeofísica, petrologia e geocronologia u-pb do complexo alcalino Apiaú - Roraima” (mestrado). Candidata: Raisa Fagundes de Figueiredo. Orientador: professor Ticiano José Saraiva dos Santos. Dia 28 de março de 2016, às 14 horas, no auditório do IG. Linguagem: “Efeito retroativo de um exame de proficiência em língua inglesa em um Núcleo de Línguas do programa Inglês sem Fronteiras” (doutorado). Candidata: Eliana Kobayashi. Orientadora: professora Matilde Virginia Ricardi Scaramucci. Dia 24 de março de 2016, às 9 horas, no anfiteatro do IEL. “Discursos sobre a leitura no Brasil: dos documentos oficiais ao livro digital”(Dissertação de mestrado). Candidata: Cidarley Grecco Fernandes Coelho. Orientadora: professora Claudia Regina Castellanos Pfeiffer. Dia: 30 de março de 2016, às 13h30, no anfiteatro do IEL. “Produção oral no seminário: possíveis apropriações em uma prática de ensino” (mestrado). Candidata: Patrícia Raquel de Freitas. Orientadora: professora Márcia Rodrigues de Souza Mendonça. Dia 30 de março de 2016, às 14 horas, no miniauditório do Centro Cultural. “Aspectos morfossintáticos da marcação de posse nominal em línguas ameríndias” (mestrado). Candidato: Paulo Henrique da Silva Pereira. Orientador: professor Angel Humberto Corbera Mori. Dia 31 de março de 2016, às 10 horas, na sala dos colegiados do IEL. “Performance e testemunho no cinema pós-64” (doutorado). Candidato: Carlos Augusto Nascimento S. Pantoja. Orientador: professor Márcio Orlando Seligmann Silva. Dia 31 de março de 2016, às 14 horas, na sala dos colegiados do IEL. “Vestígios de Ovídio em Sobre as Mulheres Famosas (De Mulieribus Claris, 1361-1362) de Giovanni Boccaccio” (doutorado). Candidata: Talita Janine Juliani. Orientadora: professora Isabella Tardin Cardoso. Dia 1 de abril de 2016, às 9 horas, no anfiteatro do IEL. Matemática, Estatística e Computação Científica: “Estabilidade hamiltoniana de subvariedades lagrangeanas de variedades flag” (mestrado). Candidata: Bianca Fujita Castilho. Orientador: professor Lino Anderson da Silva Grama. Dia 23 de março de 2016, às 14 horas, na sala 253 do Imecc. “Álgebras de Clifford e de Cayley-Dickson” (mestrado profissional). Candidato: Heitor Baldo. Orientador: professor Jayme Vaz Junior. Dia 25 de março de 2016, às 10 horas, na sala 253 do Imecc. “Rigor do formalismo Bra-Ket de Dirac” (mestrado). Candidato: Emmanuel Mendes Boldrin. Orientador: professor Waldir Alves Rodrigues Junior. Dia 30 de março de 2016, às 14 horas, na sala 253 do Imecc. “Sobre ciclos degenerados em campos vetoriais descontínuos e o problema de Dulac” (doutorado). Candidata: Kamila da Silva Andrade. Orientador: professor Marco Antonio Teixeira. Dia 31 de março de 2016, às 14 horas, na sala 253 do Imecc. Odontologia: “Efeito do óleo de copaíba associado à radiação no tratamento de carcinossarcoma induzido em ratos” (doutorado). Candidato: Phillipe Nogueira Barbosa Alencar. Orientador: professor Francisco Carlos Groppo. Dia 21 de março de 2016, às 14 horas, na sala da congregação da FOP. “Avaliação tridimensional da posição do forame e canal mandibulares e sua relação com a osteotomia sagital dos ramos mandibulares nas diferentes classes esqueléticas” (mestrado). Candidata: Raquel Werczler Queiroz de Castro. Orientadora: professora Luciana Asprino. Dia 23 de março de 2016, às 9 horas, na sala da congregação da FOP. “Avaliação das interações microbianas e do papel das adesinas de superfície dos colonizadores iniciais streptococcus oralis e actinomyces oris na formação e estruturação dos biofilmes mistos com candida albicans” (doutorado). Candidata: Indira Moraes Gomes Cavalcanti. Orientador: professor Altair Antoninha Del Bel Cury. Dia 29 de março de 2016, às 8h30, no salão nobre da FOP. Química: “Estudos interdisciplinares de compostos de metais de transição em sistemas supramoleculares” (doutorado). Candidato: Sergio Augusto Venturinelli Jannuzzi. Orientador: professor André Luiz Barboza Formiga. Dia 23 de março de 2016, às 8 horas, na sala IQ14 do IQ. “Planejamento de inibidores de fosfatases usando uma estratégia baseada em fragmentos” (doutorado). Candidato: Kishore Reddy Mandapati. Orientador: professor Paulo Cesar Muniz de Lacerda Miranda. Dia 16 de março de 2016, às 14 horas, no miniauditório do IQ. “Desenvolvimento e caracterização de uma formulação do fármaco imunossupressor ciclosporina a, em nanoemulsão” (doutorado). Candidata: Daniela Kubota. Orientador: professor Francisco Benedito Teixeira Pessine. Dia 29 de março de 2016, às 14 horas, no miniauditório do IQ. “Crescimento de nanoestruturas de óxidos recobertas com ouro para aplicação em intensificação do espalhamento Raman por superfície” (doutorado). Candidata: Grazielle de Oliveira Setti. Orientador: professor Dosil Pereira de Jesus. Dia 31 de março de 2016, às 14 horas, no miniauditório IQ.
11 Campinas, 21 de março a 3 de abril de 2016
Técnica permite aproveitamento integral de sementes de urucum CARMO GALLO NETTO carmo@reitoria.unicamp.br
urucum é o fruto do urucuzeiro, planta nativa da América tropical, que atinge de três a cinco metros de altura, tem grandes folhas verde-claro e flores rosadas. Os frutos são constituídos por cápsulas arredondadas, revestidas de espinhos moles, que se tornam vermelhas na maturação, contando de 30 a 40 sementes pequenas e duras. Estas sementes utilizadas pelos indígenas como corante são tradicionalmente empregadas também em cosméticos, contra picadas de insetos e na elaboração de certos pratos tradicionais. O urucum, empregado na culinária para realçar a cor dos alimentos, é conhecido como colorau. As sementes de urucum (Bixa orellana L.) são hoje amplamente exploradas industrialmente com vistas à obtenção do pigmento bixina que possui aplicações em produtos cosméticos, farmacêuticos, têxteis, alimentícios - como carnes, embutidos, sucos, entre outros. O pigmento, que vai da coloração amarela ao vermelho intenso passando pelo laranja, passou a ter particular importância com o advento de legislações que impõem a substituição de corantes artificiais, grande parte deles lesivos à saúde, por outros de origem natural. Pesquisa desenvolvida no Laboratório de Tecnologia Supercrítica: Extração, Fracionamento e Identificação de Extratos Vegetais (LASEFI) da Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA) Unicamp, especializado em extrações de compostos de origem vegetal, por Sylvia Carolina Alcázar Alay, graduada no Peru em engenheira em indústrias de alimentos, usou como matéria-prima sementes de urucum que resultam do processo que utiliza CO² supercrítico - Supercritical Fluid Extraction using CO² (SFE-CO² ) - com a finalidade de extrair a fração lipídica (gorduras) que as constitui, rica em tocotrienóis, antioxidantes importantes na indústria química, farmacêutica, de alimentos e de cosméticos. Os pigmentos, devido a pouca afinidade com o CO² , permanecem nas sementes após a extração da porção lipídica. Desse processamento resultam sementes de muito valor em termos de bixina, pigmento com grande potencial de coloração e múltiplos empregos. O resíduo resultante da extração dos lipídeos mostra-se rico no pigmento, em carboidratos, proteínas e material lignocelulósico e livre de contaminantes nocivos à saúde humana. O trabalho, orientado pela professora Maria Angela de Almeida Meireles Petenate e coorientado pela professora Tania Forster Carneiro, desenvolvido com a aplicação de tecnologias limpas para o aproveitamento integral das sementes de urucum de reduzido teor lipídico, decorreu da constatação de que atualmente em escala industrial são utilizadas técnicas rudimentares e ineficientes para o aproveitamento integral e sustentável das sementes de urucum. O resíduo sólido derivado da SFE-CO² é constituído de materiais ainda passíveis de aproveitamento porque contém polissacarídeos como amido, celulose, hemicelulose e lignina. Estes polissacarídeos constituem as chamadas fibras alimentares, que não são metabolizados pelo organismo mas contribuem em diferentes formas com a saúde. Além disso, estes componentes do material vegetal são considerados fontes de energia renovável. Hoje pesquisas apontam na direção do aproveitamento dessas fontes de energia para a produção de combustíveis e açúcares fermentescíveis, que podem ser utilizados para a síntese de biocompostos ou produção de energia. A pesquisadora propôs-se a estudar, então, técnicas que envolvem tecnologias limpas que possibilitem o máximo aproveitamento das sementes de urucum, segundo uma política de sustentabilidade que elimine ou minimize a geração de resíduos. Frise-se que, atualmente, extraída a bixina, o material residual é em grande parte descartado.
No processo adotado, as sementes de urucum – resíduo do processo de extração da fração lipídica – foram moídas e separadas em função do tamanho das partículas resultantes. Na fração de partículas de menor tamanho constatou-se uma concentração relevante de bixina e que, por isso, foi direcionada para obtenção de extratos com maior concentração desse pigmento. Verificou-se, paralelamente, que as partículas maiores não continham uma concentração relevante de bixina, mas nelas eram importantes os teores de amido, proteína e material lignocelulósico - constituído de hemicelulose, celulose e lignina, o que levou a pesquisadora a tratá-las hidrotermicamente, usando água pressurizada assistida por CO² supercrítico, com vistas a obter modificações na estrutura e propriedades dos seus componentes, visando novas aplicações na indústria. Como resultados desses processos, os produtos gerados na pesquisa foram: 1) pó rico em bixina, composto pela fração de partículas de tamanho menor; 2) farinha de urucum, resultantes das partículas de maior tamanho após tratamento hidrotérmico, com características modificadas e adaptáveis a diferentes processos de aproveitamento, rica em fibra alimentar e com cor característica; 3) carboidratos hidrolisados que podem ser usados como suplemento alimentar ou na produção de energia.
PROCEDIMENTOS
Em vista disso, diz a pesquisadora, “o nosso intuito inicial era o de aproveitar esse resíduo e submete-lo à hidrólise, pois a reação com a água leva a um processo de partição das grandes moléculas de polissacarídeos, constituídas por unidades de glicose unidas por diferentes tipos de ligações. Dessa partição resultam os chamados açúcares fermentescíveis, de que os micro-organismos conseguem se alimentar”. Com base nesse foco, ela pretendia obter um produto hidrolisado com açúcares que pudessem ser utilizados na produção de energia ou de alimentos, embora seu foco maior, como especialista em alimentos, estivesse particularmente centrado neles. Mas a ideia era extrair o máximo do pigmento da semente antes da hidrólise. Já existiam estudos para extração desse pigmento com água ou etanol, usando a tecnologia de extração com líquidos pressurizados
Engenheira de alimentos testa, com sucesso, tecnologia limpa e a baixa pressão, mas como os resultados direcionaram novos estudos sobre o tema, a pesquisadora considerou que seria melhor realizar o processo à pressão ambiente, utilizando como solvente o álcool, substância aceita no processamento de alimentos e com maior afinidade pela bixina do que a água. Para conseguir aumentar a superfície de contato das sementes com o solvente elas foram moídas. Após a moenda as partículas sólidas foram submetidas a sucessivas peneirações de forma a separá-las em várias granulações. Nesse processo ela se deu conta de que nas partículas menores concentrava-se 80% do pigmento, e o restante distribuía-se por outras granulações. Além do que, essas partículas pequenas não podiam ser levadas ao equipamento de tratamento hidrotérmico pelas caraterísticas técnicas do procedimento. Estas constatações levaram a pesquisadora a repensar o trabalho, separando inicialmente as partículas finas do resíduo resultante da mistura das partículas maiores. A partir do granulado mais fino, com vistas à obtenção de um extrato com maior concentração de bixina, ela aplicou um procedimento de extração com etanol que demanda baixa pressão em leito agitado. Foi quando verificou que para a indústria o custo seria mais viável se o pigmento fosse fornecido já na forma granulada, sem necessidade de passar por um processo de extração e evaporação do álcool. No passo seguinte Sylvia submeteu a mistura de partículas maiores a um processo hidrotérmico que viabilizasse seu aproveitamento na área de alimentos. Essas partículas grossas, resultantes da moagem, constituídas de cerca de 80 a 90% da massa das sementes, que contêm ainda reduzida porcentagem do pigmento, amido, material lignocelulósico e também um importante conteúdo de proteínas, passou a ser chamada de farinha de urucum. A ideia era tratá-la de forma a que pudesse ser usada, por exemplo, na panificação ou na produção de macarrão, em mistura com a farinha comum. Para tanto, haveria
necessidade de um tratamento hidrotérmico que, sem destruir o amido presente, modificasse as propriedades reológicas da farinha tendo em vistas as aplicações desejadas.
RESULTADOS A pesquisadora conseguiu então através de tratamento hidrotérmico, sem a utilização de produtos químicos, produzir modificações simples, de baixo custo, viabilizando a utilização da farinha de urucum na produção de alimentos. Essas modificações centraram-se na modificação do amido e os atributos que a farinha passa a ter viabilizam seu uso nas indústrias de alimentos, tornando o resíduo aproveitável. Os subprodutos derivados do tratamento hidrotérmico são monossacarídeos, oligossacarídeos, ácidos orgânicos e outros de interesse comercial para a indústria de alimentos, química e energética. Sylvia enfatiza: “Essa farinha poderá ser usada para substituir nos farináceos, por exemplo, 10% do trigo, reduzindo custos. Hoje as sementes de urucum são usadas em rações ou descartadas, pois seu aproveitamento não é considerado na indústria de alimentos. Ao usar a farinha de urucum aproveita-se ainda uma matéria-prima benéfica para a saúde rica em fibras e que, mesmo depois de desengordurada, contém ainda certa quantidade de lipídeos e antioxidantes, além de cor caraterística”. A opção de tratamento apresentada é sustentável porque não gera resíduos, diferentemente de processos químicos muitas vezes utilizados para os mesmos fins. Além do que, o processo sugerido abre caminho para o aproveitamento de outras fontes de amido não convencionais, provenientes de outros produtos de origem vegetal.
Publicação Tese: “Aplicação de tecnologias limpas para o aproveitamento integral das sementes de urucum (Bixa orellana L.) de reduzido teor lipídico” Autora: Sylvia Carolina Alcázar Alay Orientadora: Maria Angela de Almeida Meireles Petenate Coorientadora: Tania Forster Carneiro Unidade: Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA)
Fotos: Antonio Scarpinetti
Sylvia Carolina Alcázar Alay, autora da tese, e as sementes de urucum (destaque): processo abre caminho para o aproveitamento de outras fontes de amido
12 Campinas, 21 de março a 3 de abril de 2016 Fotos: Reprodução/Divulgação
O olhar desconhecido de Steiner Da esquerda para a direita, as gravuras “Paisagem romântica”, “Urucum” e “Mata pau”, obras de Hans Steiner
Fotos: Divulgação
PATRÍCIA LAURETTI patricia.lauretti@reitoria.unicamp.br
Hans Steiner) “...no Brasil efetuou todo o seu aprendizado artístico, tendo tido a Carlos Oswald como único mestre. A despeito de sua técnica verdadeiramente excepcional, tem escrúpulos de documentarista incompatíveis com a sensibilidade moderna. De uma viagem de estudos ao Araguaia trouxe, contudo, em 1959, uma série de chapas, representando paisagens, espécimes da flora e da fauna da região, muito apreciáveis não só pelo apuro técnico, quanto por um senso até então mal pressentido de fantasia”. Praticamente um verbete. Era o que havia sido publicado até então sobre o artista austríaco Hans Steiner (1910-1974), autor de mais de quinhentas gravuras, realizadas no Brasil entre as décadas de 1930 e 1970. Aluno do pioneiro Carlos Oswald, Steiner incorporou o país em suas obras. De tal forma que, no final da vida, mudou a assinatura de seus trabalhos suprimindo o Hans e acrescentando Rio, de Rio de Janeiro. Steiner Rio encontrou, muitos anos após a sua morte, alguém que lhe resgatasse do esquecimento e que olhasse para suas obras com a devida atenção. Esse encontro se deu em um site de compras, que oferecia uma de suas gravuras a um preço irrisório. Paulo Leonel Gomes Vergolino, alguém especialmente interessado na “seara dos artistas eclipsados”, achou que deveria pagar para ver, e então recebeu em casa uma das gravuras da série Mata pau, que retrata as formas de um tipo de figueira que se desenvolve podendo “estrangular” outra árvore que lhe serve de hospedeira. “Casualmente me deparei com a gravura à venda no Mercado Livre. Fiquei impressionado com a qualidade da gravura, com a técnica quase fotográfica que ele empregou”. A curiosidade fez com que Paulo começasse a buscar por informações sobre o artista. Isso foi muito antes do mestrado, há sete anos. Escreveu para museus do Brasil e no exterior, fez uma varredura na literatura especializada, nas pesquisas sobre a gravura e encontrou apenas duas ou três linhas. “O professor José Roberto Teixeira Leite [aposentado do Instituto de Artes da
O artista austríaco Hans Steiner: mais de quinhentas gravuras feitas no Brasil entre as décadas de 1930 e 1970
Unicamp] já havia citado o artista, mas era só. ‘Meu’ artista é completamente fora da mídia, ele dedicou cerca de 30 anos à realidade do país que o acolheu, ou seja: o Brasil, representando-o em todos os seus peculiares aspectos, porém, ainda o considero um artista desconhecido”.
Esse desconhecido chegou ao país em 1930. Filho único e solteiro, em 1937 iniciou sua produção com a ajuda do professor e amigo Carlos Oswald. Sua gravura é sobre temas brasileiros: índios, baianas e gaúchos, a fauna a flora e os detentos! Sim, Hans Steiner foi a presídios procurar modelos pra representar. “Esse tipo de olhar, típico estrangeiro, é o olhar que Hans Steiner tem e que aparece nas suas gravuras”. O pesquisador descobriu uma coleção no Museu de Arte do Rio Grande do Sul Ado Malagoli, e também obras no Museu de Belas Artes do Rio de Janeiro e Biblioteca Nacional. O levantamento resultou na reunião de cerca de 150 gravuras que o pesquisador dividiu por temas: paisagens, figura humana, flora, fauna realidade, indígena. Com isso Paulo conseguiu publicar seu primeiro texto sobre Hans Steiner disponível hoje no site especializado Revista Museu. A partir daí a pesquisa deslanchou e culminou na dissertação de mestrado. Paulo fez contato com um entusiasta da obra da Hans Steiner, um italiano chamado Eros Cosatto, de Gorizia, cidade onde Steiner passou seus últimos anos e que abriga suas matrizes. O amigo acabou lhe dando um presente fundamental: um livro
de registro feito pelo artista, que descreve a realização de todas as suas obras, desde a primeira até a última. “É o que chamamos na museologia de livro de tombo, e nesse caso, feito pelo próprio artista porque Steiner, como ‘bom’ estrangeiro, gostava de registrar tudo o que fazia”, observa Paulo. Steiner facilitou, e muito, o trabalho de seu especialista. “Parei de supor e consegui descobrir exatamente o que era tal gravura”. Paulo descobriu os temas de predileção do artista, nomeados pelo próprio: Niterói antigo, Guanabara, Mata pau, penitenciária, urubu, vegetação, miniatura e indígenas”. Dados da biografia de Hans Steiner também foram reunidos pelo pesquisador. Como foi a vida dele como estudante de arte no Liceu de Artes e Ofícios do Rio de Janeiro, como desenvolveu seus trabalhos artísticos, além da gravura. “Steiner também foi pintor, aquarelista e desenhista. O que é muito curioso porque a aquarela é uma técnica oposta à gravura no sentido em que a mão precisa ser leve. E ele faz as duas coisas com primazia”. Na dissertação de mestrado Paulo contextualizou a época, falou sobre o Rio de Janeiro da década de 1930, quando o austríaco chegou no Brasil. No final da dissertação, Paulo registrou a produção de 517 chapas que são as matrizes das gravuras. “É um artista que produziu muito e que precisava de pesquisadores para trazer isso a público. Um artista que dedicou sua criatividade e seu percurso de vida ao Rio de Janeiro. Isso precisava ser dito”.
Publicação Dissertação: “O olhar estrangeiro: A obra gravada de Hans Steiner como recorte-modelo para o resgate da história da gravura no Brasil” Autor: Paulo Leonel Gomes Vergolino Orientador: Márcio Donato Périgo Unidade: Instituto de Artes (IA) Paulo Leonel Gomes Vergolino, autor da dissertação: interesse pela “seara dos artistas eclipsados”