Jornal daUnicamp www.unicamp.br/ju
Campinas, 22 a 28 de agosto de 2016 - ANO XXX - Nº 666 - DISTRIBUIÇÃO GRATUITA
MALA DIRETA POSTAL BÁSICA 9912297446/12-DR/SPI UNICAMP-DGA
CORREIOS
FECHAMENTO AUTORIZADO PODE SER ABERTO PELA ECT
Fotos: Acervo fotográfico do jornal Última Hora, Rio de Janeiro/Divulgação
Sentados, da esq. para a dir., Donga, Ataulfo Alves, Pixinguinha, João da Bahiana, Ismael Silva e Alfredinho da Flauta, em 1955: sambistas estão no e-Pub “Não tá sopa: sambas e sambistas no Rio de Janeiro, de 1890 a 1930”, o primeiro a ser publicado no âmbito da coleção Históri@ Illustrada, coordenada pela professora Silvia Lara
Vozes ancestrais no mundo digital Os livros “Cafundó – A África no Brasil”, de Carlos Vogt e Peter Fry, e “Não tá sopa: sambas e sambistas no Rio de Janeiro, de 1890 a 1930” (coleção Históri@ Illustrada), de Maria Clementina Pereira Cunha, marcam o ingresso da Editora da Unicamp no mercado de e-Pubs.
3 5 8 4 12 Como traduzir o hibridismo da literatura chicana? Nanoemulsão é usada para carrear fármaco
A ginástica alemã e a educação física no país
Elevação oceânica põe anfíbios em risco
Um tratamento alternativo para a doença de Parkinson
Caixões lembram imigrantes mortos na fronteira EUA-México
2 Campinas, 22 a 28 de agosto de 2016
Criada a Rades: Rede de Apoio à Docência no Ensino Superior Fotos: Antoninho Perri
Professores da Unesp e da Unicamp finalizam regimento e discutem primeiras ações LUIZ SUGIMOTO sugimoto@reitoria.unicamp.br
nicamp e Unesp acabam de criar a Rades – Rede de Apoio à Docência no Ensino Superior, com a finalidade de contribuir para o aperfeiçoamento da formação de professores, inicialmente das universidades estaduais paulistas, para posteriormente alavancar as discussões sobre o tema em nível nacional. Uma reunião para finalizar o regimento e discutir as primeiras ações da Rades foi no último dia 13, no Espaço de Apoio ao Ensino e Aprendizagem (EA)2, que fica localizado no Ciclo Básico da Unicamp. O professor Sérgio Leite, coordenador do (EA)2, conta que a Rede foi lançada em abril, durante o Congresso de Formação de Professores organizado pela Unesp em Águas de Lindóia. “As duas universidades já vêm desenvolvendo serviços voltados para a qualificação docente e para unidades que estão revendo seus projetos pedagógicos. Fizemos reuniões em Campinas e na Unesp de Rio Claro e, nessa troca de experiências surgiu a ideia de criar uma rede, no primeiro momento envolvendo as universidades paulistas e, uma vez formada, abrindo-a para grupos de outras instituições e pesquisadores que lidam com a questão do ensino superior.” A professora Alessandra de Andrade Lopes coordena o Centro de Estudos e Práticas Pedagógicas (Cenepp) da Unesp, que já tem um histórico de 10 anos discutindo e elaborando propostas para a formação continuada de professores da universidade. “Temos 24 campi, cada qual com uma comissão local de professores que promove cursos, palestras e oficinas. Também temos coordenadores de polos, pois são 33 unidades espalhadas pelo Estado. Todos se reúnem uma vez por ano para planejar as ações visando à valorização da docência e do ensino. O Cenepp ainda presta assessoria a grupos de estudos que saem de órgãos colegiados da Unesp.” Sérgio Leite vê nesta parceria com a Unesp a possibilidade de trocar experiências e conhecer políticas de outras instituições para o ensino de graduação, área em que a Unicamp, em sua opinião, precisa avançar bastante. “O ensino é uma área que, em nossa Universidade, nunca foi tão valorizada quanto à pesquisa. Nossa perspectiva é de avanço nas políticas de graduação, o que passa necessariamente pela qualificação docente e pelo suporte ao desenvolvimento de projetos pedagógicos de cada unidade. A parceria nos leva naturalmente a se organizar e a pensar junto. É bom lembrar que o ensino superior é um tema internacional, não está sendo construído aqui. E sinto que estamos atrasados, correndo atrás do prejuízo.” A professora Mara Regina de Sordi, coordenadora de Avaliação do (EA)2, ressalta que Unicamp e Unesp apresentam uma sintonia grande em termos de pensar o que é o ensino superior em uma universidade pública paulista. “Percebemos que tínhamos problemas semelhantes e nos sentimos fortalecidos para discutir estratégicas para enfrentá-los. E o apoio das Pró-Reitorias foi fundamental, pois não se trata de ações de um órgão, mas de uma política para o ensino de graduação, envolvendo duas instituições de peso no sentido de alavancar este debate. A criação da Rades foi aprovada em um congresso com mais de cem pessoas, onde percebemos que há uma lacuna a ser ocupada, estrategicamente importante, especialmente neste momento que a universidade pública vive no Brasil.” Coordenadora de Projetos do (EA)2, a professora Beatriz Jansen Ferreira ressalta que o ensino superior é motivo de discussão muito ampla envolvendo grandes universidades no plano internacional. “Discute-se a centralidade da
Docentes reunidos no último dia 13, no Espaço de Apoio ao Ensino e Aprendizagem da Unicamp
Sérgio Leite: “Nossa perspectiva é de avanço nas políticas de graduação, o que passa necessariamente pela qualificação docente e pelo suporte ao desenvolvimento de projetos pedagógicos de cada unidade”
Alessandra de Andrade Lopes: “Temos 24 campi, cada qual com uma comissão local de professores que promove cursos, palestras e oficinas”
Mara Regina de Sordi: “Percebemos que tínhamos problemas semelhantes e nos sentimos fortalecidos para discutir estratégicas para enfrentá-los”
Beatriz Jansen Ferreira: “A Rades já faz eco com colegas da área e tenho certeza de que a rede vai potencializar uma discussão em nível nacional”
formação de recursos humanos e o impacto disso em termos de desenvolvimento do país e da sustentabilidade deste desenvolvimento. Para nós do Brasil, este é um debate para ontem. A Rades já faz eco com colegas da área e tenho
certeza de que a rede vai potencializar uma discussão em nível nacional, sobre a universidade que precisamos ter e quais ferramentas desenvolver para que o ensino superior no Brasil tenha a potência que precisa.”
UNICAMP – Universidade Estadual de Campinas Reitor José Tadeu Jorge Coordenador-Geral Alvaro Penteado Crósta Pró-reitora de Desenvolvimento Universitário Teresa Dib Zambon Atvars Pró-reitor de Extensão e Assuntos Comunitários João Frederico da Costa Azevedo Meyer Pró-reitora de Pesquisa Gláucia Maria Pastore Pró-reitora de Pós-Graduação Rachel Meneguello Pró-reitor de Graduação Luís Alberto Magna Chefe de Gabinete Paulo Cesar Montagner
Elaborado pela Assessoria de Imprensa da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Periodicidade semanal. Correspondência e sugestões Cidade Universitária “Zeferino Vaz”, CEP 13081-970, Campinas-SP. Telefones (019) 3521-5108, 3521-5109, 3521-5111. Site http://www.unicamp.br/ju e-mail leitorju@reitoria.unicamp.br. Twitter http://twitter.com/jornaldaunicamp Assessor Chefe Clayton Levy Editor Álvaro Kassab Chefia de reportagem Raquel do Carmo Santos Reportagem Carlos Orsi, Carmo Gallo Netto, Isabel Gardenal, Luiz Sugimoto, Manuel Alves Filho, Patrícia Lauretti e Silvio Anunciação Fotos Antoninho Perri e Antonio Scarpinetti Editor de Arte Luis Paulo Silva Editoração André da Silva Vieira Vida Acadêmica Hélio Costa Júnior Atendimento à imprensa Ronei Thezolin, Gabriela Villen, Valerio Freire Paiva e Eliane Fonseca Serviços técnicos Dulcinéa Bordignon Assine o jornal on line: www.unicamp.br/assineju
3 Campinas, 22 a 28 de agosto de 2016
Estudo usa nanoemulsão para carrear ciclosporina Fotos: Antoninho Perri
Objetivo é promover a entrega precisa e controlada do fármaco usado no tratamento de transplantados
Equipamento usado nas pesquisas: ondas ultrassônicas geram gotículas
MANUEL ALVES FILHO manuel@reitoria.unicamp.br
á faz algumas décadas que a ciência tem se dedicado ao desenvolvimento de sistemas que façam o transporte de fármacos no organismo humano. Entre os objetivos das pesquisas está a entrega precisa e controlada de substâncias utilizadas no tratamento de variadas doenças. Tese de doutorado defendida recentemente pela química Daniela Kubota, no Instituto de Química (IQ) da Unicamp, investigou o uso de nanoemulsões para o carreamento da ciclosporina, droga imunossupressora utilizada no tratamento de pessoas submetidas a transplantes, particularmente os transplantados renais. Os resultados do trabalho, orientado pelo professor Francisco Benedito Teixeira Pessine, foram promissores. O estudo realizado por Daniela está inserido na linha de pesquisa coordenada pelo professor Pessine, que tem investigado ao longo dos últimos anos o desenvolvimento de diferentes sistemas carreadores de fármacos. O desafio da equipe tem sido chegar a veículos que se adequem ao medicamento de interesse e à via de administração e que tenham boa afinidade com as células a serem tratadas. “Trata-se de um desafio nada trivial”, atesta o docente. A escolha da técnica da nanoemulsão tem a ver com as exigências mencionadas. A autora da tese de doutorado explica melhor essa questão. “A nanoemulsão pode ser definida, de modo simplificado, como uma mistura de água e óleo. Nós utilizamos um equipamento que emite ondas ultrassônicas que geram gotículas em escala nanométrica, nas quais a ciclosporina já está incorporada. Como o fármaco é lipofílico, não há problema de afinidade entre ele e o carreador”, detalha. Ademais, acrescenta a pesquisadora, muitas das substâncias presentes na nanoemulsão também são encontradas no organismo humano, o que diminui possíveis efeitos adversos ao paciente. Uma das principais premissas das pesquisas desenvolvidas pela equipe coordenada pelo professor Pessine é justamente empregar substâncias que sejam biocompatíveis e biodegradáveis. Segundo o docente, outro aspecto que orientou a escolha da técnica da nanoemulsão foi a definição da via de administração do fármaco, que é endovenosa. “Nesse caso específico, esta é opção a mais recomendável”, diz. Depois de gerar as diminutas gotículas, da ordem de 50 a 600 nanômetros, Daniela analisou a estabilidade delas. A pesquisadora acompanhou, por até sete meses, o comportamento das gotículas. Nesse período, Daniela constatou que não houve crescimento expressivo no diâmetro destas. “Quando jogamos óleo em um pouco de água, nós notamos que são formadas gotas. Com o decorrer do tempo, elas se unem umas às outras, formando gotas maiores. Na nanoemulsão pode ocorrer o mesmo, o que evidenciaria instabilidade da nanoemulsão obtida. Como decorrência, isso provocaria o rompimento indesejado das ‘cápsulas’ onde o fármaco está contido. É bom ressaltar que
De acordo com Daniela Kubota, autora da tese, muitas das substâncias presentes na nanoemulsão também são encontradas no organismo humano, o que diminui os riscos de possíveis efeitos adversos ao paciente
resultado foi obtido em nossos laboratórios, que, diferentemente dos laboratórios farmacêuticos, não são esterilizados. Nestes, o período de estabilidade pode ser prolongado”, prevê. Segundo o professor Pessine, os resultados alcançados demonstram a viabilidade do uso da nanoemulsão como sistema para o carreamento da ciclosporina. “Obviamente, ainda precisamos realizar estudos complementares. Aqui no IQ, nós conseguimos desenvolver o sistema de transporte, determinar as suas características físico-químicas, estabelecer o percentual de carregamento e analisar a eficiência da encapsulação. Agora, precisamos verificar como será a estabilidade delas no meio em que serão colocadas, para posterior administração por via endovenosa”, explica. Respondida essa pergunta, ainda será preciso cumprir outras etapas antes de o método ser utilizado em abordagens terapêuticas, como faz questão de assinalar o docente do IQ. Essas fases compreenderão estudos in vitro, em modelo animal e, por último, em seres humanos. “Ainda temos um bom caminho a cumprir, mas os primeiros passos indicam que estamos seguindo na direção certa”, considera Pessine. A vantagem desse tipo de abordagem, continua o docente do IQ, é que os fármacos utilizados nos estudos do seu grupo já são amplamente conhecidos e aprovados pelas autoridades de saúde. “Isso acelera os resultados, visto que não precisamos executar pesquisas sobre o grau de toxicidade e os eventuais efeitos colaterais que eles podem provocar”. Feita a defesa do doutorado, que contou com bolsa concedida pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), Daniela agora está cuidando dos trâmites para o registro do pedido de patente da tecnologia, sob a orientação da Agência de Inovação Inova Unicamp. A pesquisadora conta que, quando optou por estudar Química, já tinha em mente desenvolver processos ou produtos que pudessem trazer benefícios à sociedade. “Pode parecer lugar-comum, mas isso sempre esteve entre os meus objetivos”. De acordo com o professor Pessine, essa meta também norteia as atividades da sua equipe. “Todos os nossos projetos partem do princípio de que precisamos chegar a resultados que possam ser aplicados. Por isso, temos buscado, sempre que possível, a parceria com a indústria farmacêutica”. Esse tipo de colaboração, reconhece o docente do IQ, não é tão frequente como poderia ser, principalmente quando envolve a indústria nacional. “Já tive parcerias com várias empresas, mas a maioria delas multinacionais. As experiências foram muito produtivas, com ganho para as duas partes. A Universidade ganha porque obtém investimentos privados que são empregados para pagar bolsas para os estudantes de pós-graduação e comprar novos equipamentos. Já a indústria ganha porque pode contar com recursos humanos qualificados e focados na solução de um problema de seu interesse”, considera.
Publicação
O professor Francisco Pessine, orientador da pesquisa: “Todos os nossos projetos partem do princípio de que precisamos chegar a resultados que possam ser aplicados”
Tese: “Desenvolvimento e caracterização de uma formulação do fármaco imunossupressor ciclosporina a, em nanoemulsão” Autora: Daniela Kubota Orientador: Francisco Benedito Teixeira Pessine Unidade: Instituto de Química (IQ) Financiamento: Capes
4 Campinas, 22 a 28 de agosto de 2016
Elevação do nível dos mares é ameaça para grupo de anfíbios Cientistas avaliam impacto de perdas de áreas costeiras para a sobrevivência de sapos, rãs e pererecas CARLOS ORSI carlos.orsi@reitoria.unicamp.br
elevação do nível dos mares, prevista para ocorrer ao longo deste século, representa uma ameaça até agora negligenciada para os anfíbios anuros, grupo de animais que inclui rãs, sapos e pererecas. Esses anfíbios já constituem um dos principais alvos da preocupação de cientistas e ativistas envolvidos com a preservação da biodiversidade. Dois artigos recém- publicados em periódicos internacionais, derivados de tese de doutorado defendida no Instituto de Biologia (IB) da Unicamp, lançam um esforço pioneiro para entender o impacto da perda de áreas costeiras para o oceano na sobrevivência desses animais. “A maioria das espécies que prevemos ter algum problema com o aumento do nível do mar no futuro, hoje não são consideradas ameaçadas”, disse o professor do IB Felipe Toledo, orientador da tese “Análise de múltiplas ameaças à conservação e diversidade de anfíbios”, defendida por Igor Soares de Oliveira e coautor, com Oliveira e outros, dos artigos. “Não há nenhuma bandeirinha de risco nessas espécies, mas verificamos que, certamente, terão uma ameaça iminente. Talvez agora, com esses trabalhos, possamos reavaliar a condição de conservação desses animais e colocá-los como ameaçados, provavelmente como vulneráveis à extinção”. “Dados de grupos muito conceituados afirmam que a elevação oceânica é uma das consequências mais certas do aquecimento global”, acrescentou Oliveira. “Acho que esse nosso trabalho serve como um ponto de partida para que se olhe para essas espécies que têm sofrido com uma certa negligência”, disse. “Algumas foram descritas há muitos anos e não foram mais estudadas. Esperamos que a elevação oceânica passe a fazer a parte da agenda de discussão das estratégias de conservação. Acho que esse alerta é um dos pontos principais do nosso trabalho”.
relação ao nível do mar e em projeções de como ficará o desenho dessas zonas costeiras e baixadas litorâneas em diferentes cenários de elevação do nível do mar entre 2080 e 2100. Em seu quinto relatório de avaliação, publicado entre 2013 e 2014, o Painel Intergovernamental para a Mudança Climática (IPCC) da ONU destaca que “a elevação do nível do mar não será uniforme em todas as regiões”. O relatório afirma que “ao final do século 21, é muito provável que o nível do mar tenha subido em mais de 95% da área oceânica. Cerca de 70% das zonas costeiras do mundo deverão experimentar uma mudança de nível do mar dentro de 20%, para mais ou para menos, da média global”. Os artigos de Oliveira e Toledo trabalham com perspectivas mais radicais do que a média do IPCC, que estima uma elevação de menos de um metro até 2100. O trabalho sobre impacto nos anfíbios costeiros em escala global pondera que “diversos estudos apresentam cenários mais pessimistas, com a elevação do nível do mar podendo chegar a seis metros nas próximas décadas”. Os artigos levaram em conta cenários de elevação do mar de 1, 2 e 3 metros (no trabalho global) e de 3 ou 6 metros (no estudo específico para Mata Atlântica). “Acessamos uma base de dados de um grupo que estuda só derretimento de calotas e projeções de elevação oceânica, o Center for Remote Sensing of Ice Sheets”, disse Oliveira. “Fizemos isso com bastante cuidado, porque a gente estava trabalhando numa escala geográfica muito grande. Como o relevo litorâneo da terra é muito heterogêneo, a gente não sabe a
magnitude do avanço horizontal do mar, especificamente, em cada local. Pegando esses modelos de 3 metros ou mais, bem acima do previsto pelo IPCC, a gente tentou visualizar os efeitos de intrusões marinhas, por exemplo”. “Buscamos identificar geograficamente esse tipo de efeito, e isso acho que foi uma ideia acertada, porque recentemente vi um artigo no qual se relata a primeira extinção de um mamífero pela elevação oceânica numa ilha da Austrália, a Ilha de Bramble Cay”, acrescentou ele. Essa extinção foi noticiada em diversos veículos de divulgação científica, como a revista Scientific American Brasil e a coluna Telescópio do Jornal da Unicamp. “Os autores alertam justamente para esses fatores que apontamos: as intrusões marinhas e as mudanças de maré e tempestades. Por isso que a gente selecionou esses modelos: embora tenhamos trabalhado com valores médios de aumento do nível do mar, devido ao próprio formato da Terra, às características geofísicas do planeta, à forma como ele gira, à distribuição das massas continentais, as elevações não serão todas iguais à média prevista em todas as zonas costeiras mundiais”. Toledo lembra, ainda, que a maioria das espécies de anfíbios, mesmo se tratando de animais que passam parte de suas vidas na água, não tem tolerância ao ambiente salobro. “Quando um sapo entra no mar, ele morre por não tolerar a água salgada. Fizemos então essa subtração: qual a área potencial para o animal no futuro, baseado em modelos de nicho climático, menos a área perdida com a previsão de aumento do nível do mar, restando então somente a área que ele vai ter”.
PREVISÕES O levantamento feito pelos autores sobre a distribuição dos anfíbios anuros pelo mundo revelou que cerca de 2% das espéO professor Felipe Toledo, orientador da pesquisa: “Defendemos a inclusão dos possíveis impactos futuros do nível do mar nos planos de ação para conservação, antecipando e evitando perdas de biodiversidade”
cies conhecidas habitam exclusivamente áreas abaixo da marca de 60 metros acima do nível do mar. Dessas, 86% deverão sofrer algum impacto negativo da elevação do nível do mar, e impactos ainda mais severos de outros efeitos da mudança climática, como mudanças no regime de chuvas ou na temperatura média anual. “Descobrimos que a ecorregião da Australásia abriga a maioria das espécies que sofrem o impacto duplo da elevação do nível do mar e da mudança climática”, diz o artigo. “Com base nesses resultados, defendemos a inclusão dos possíveis impactos futuros do nível do mar nos planos de ação para conservação, antecipando e evitando perdas de biodiversidade”, prossegue o texto. No caso das espécies costeiras da Mata Atlântica, a previsão é de que 15% das 19 analisadas sofram algum tipo de perda de hábitat por conta da elevação do nível do mar e dos demais efeitos da mudança climática. Em alguns dos cenários analisados, a previsão foi de que a área habitável para algumas espécies poderia até mesmo aumentar com os efeitos da mudança climática. Mas a boa notícia é apenas aparente. “Quando a gente fala em áreas adequadas, quer dizer simplesmente que, no futuro, haverá alguns locais com clima favorável à espécie. Mas esse é um fator de preocupação: como essas espécies vão chegar a esses locais com clima favorável?”, questiona Oliveira. Toledo acrescenta: “Esses sapinhos pequenos andam muito pouco. E às vezes o clima favorável vai aparecer no meio de Ubatuba, por exemplo. A gente não considerou ocupação urbana. É difícil, ainda, os animais migrarem em pouco tempo. Porque o clima vai mudar rapidamente, daqui a 50 anos, e em 50 anos as populações provavelmente não vão mudar a sua distribuição”. O orientador lembra que ainda há muito a aprender sobre esses animais: a descrição de novas espécies aparece frequentemente na literatura, por exemplo. “Temos uma expectativa bem conservadora de que pelo menos 20% desses animais da Mata Atlântica ainda não foram descritos”, exemplifica. “Então tem muita espécie nova sendo descrita, a toda hora. Tem gente no Brasil inteiro descobrindo bicho novo. Algumas espécies que podem perder áreas por alagamento talvez nem tenham sido descritas. Podemos perder espécies que nem nome têm ainda”.
Um dos artigos, publicado no North-Western Journal of Zoology,, trata do impacto da elevação do nível do mar e dos efeitos da mudança climática em geral sobre os anfíbios das zonas costeiras de todo o mundo. O outro, publicado em Studies on Neotropical Fauna and Environment, trata especificamente das espécies da Mata Atlântica. Em ambos os casos, os autores se valeram de dados sobre a distribuição dos anfíbios em zonas costeiras ou de baixa altitude em
Publicação Tese: “Análise de múltiplas ameaças à conservação e diversidade de anfíbios” Autor: Igor Soares de Oliveira Orientador: Felipe Toledo Unidade: Instituto de Biologia
Foto: Antoninho Perri
MODELOS
5 Campinas, 22 a 28 de agosto de 2016
Associativismo ginástico marca gênese da educação física no país Tese mostra como imigração alemã no Sul e Sudeste foram importantes para a difusão do esporte PATRÍCIA LAURETTI patricia.lauretti@reitoria.unicamp.br
Clube Ginástico Desportivo do Rio de Janeiro tem em seu brasão um símbolo cujo significado é, muito provavelmente, desconhecido da maioria de seus associados. Trata-se de uma cruz formada por quatro efes que representam palavras escritas em alemão. Elas formam o lema da ginástica alemã que veio para o Brasil com os imigrantes daquele país no final do século 19 e início do século 20. Para eles, a riqueza do ginasta era ser “vivo, livre, alegre e devoto”. Mas a herança da ginástica alemã não está apenas no brasão do clube carioca. Sua principal contribuição foi sustentar, juntamente com a França e a Suécia, o tripé que deu origem à educação física no Brasil. Dentre as três ginásticas, a alemã ainda era a menos estudada provavelmente em razão da dificuldade da maioria dos pesquisadores com a língua. Não foi o caso de Evelise Amgarten Quitzau. Fluente em alemão, ela foi aluna da professora Carmen Lúcia Soares, da área de história da educação física da Faculdade de Educação Física (FEF) da Unicamp, com quem desenvolveu um programa de pesquisa que foi da iniciação científica à tese de doutorado, com o objetivo de investigar parte da história da ginástica alemã no Brasil. Com bolsa Fapesp, Evelise viajou para as regiões Sul e Sudeste, onde houve colônias de imigrantes que criaram associações de ginástica. Também foi mais longe: viajou para a Alemanha, igualmente com bolsa Fapesp, buscando acesso a um conjunto de documentos considerados fundamentais. O resultado da análise foi a tese “Associativismo ginástico e imigração alemã no Sul e Sudeste do Brasil (1858-1938)”, defendida na Faculdade de Educação (FE) da Unicamp, dentro da linha de pesquisa que estuda educação e história cultural à qual sua orientadora também é vinculada. Para além das práticas corporais, o associativismo era a maneira encontrada pelos imigrantes alemães para preservar sua cultura, principalmente a língua alemã e sobretudo o ideal de germanidade, que de fato foi o que sustentou os clubes teuto-brasileiros até pelo menos 1938, quando Getúlio Vargas determina, em lei, a nacionalização.
DIFERENÇAS
Antes é preciso dizer. Educação física, ginástica e esporte são coisas diferentes. “O que a gente chama de educação física hoje era chamado de ginástica. São exercícios que começam a ser sistematizados a partir de questões pedagógicas e científicas. Os alemães, franceses e suecos, no século 19, começam a pensar dessa forma. Temos nessa época também, paralelamente, o início, na Inglaterra, do desenvolvimento do que conhecemos como esporte moderno”, explica a pesquisadora.
O esporte, ressalta, são as práticas burocratizadas, “com caráter competitivo e que tem regras e espaço bem delimitados”. Um torneio de ginástica poderia ocorrer em uma praça, envolvendo várias modalidades praticadas por todos. Um torneio esportivo geralmente se desenvolveria entre quatro linhas, envolvendo uma única modalidade que requer a especialização daquele que a pratica. “A ginástica incorpora, desde os exercícios mais básicos, como as corridas, os saltos os exercícios de equilíbrio e arremessos, a exercícios mais elaborados, como aqueles feitos em aparelhos. Também fazem parte as atividades ao ar livre, como jogos e as caminhadas em meio à natureza”, detalha Evelise. De acordo com a pesquisadora, a confusão entre os termos, se há, pode estar relacionada com um processo de “esportivização” pelo qual a ginástica passou no século 20, bem como outros exercícios físicos. “A ginástica vai deixando de ter um caráter tão múltiplo para se tornar uma modalidade baseada em regras universais, com códigos de pontuação, com primeiro, segundo e terceiro lugares, com federação internacional; ela vai se conformando dessa forma mais burocrática”. Nos clubes estudados na tese, os associados também faziam movimentos em aparelhos, entre os quais as barras paralelas e o cavalo. Havia torneios de ginástica. Porém, o objetivo não era vencer. Quem conseguia uma pontuação mínima já era considerado campeão. “Num torneio com 30 participantes, você poderia ter 25 ou mesmo 30 vencedores. O ginasta que ia para aparelhos também arremessava tijolos, por exemplo. Havia essa multiplicidade, que se perdeu com a esportivização”. As associações ofereciam treinamento em ginástica, mas, ao mesmo tempo, tinham grupos de teatro, de música, de canto. As escolas locais eram atendidas. “As associações buscavam ampliar a atuação no interior da colônia alemã. Como manter-se numa associação custava caro, eles faziam trabalhos em escolas envolvendo as crianças que no futuro, seriam potenciais associados”. Em Porto Alegre, salienta a autora, havia grupos de escoteiros dentro do clube que recebiam, também, crianças que não eram filhas de seus associados. O funcionamento das associações em todos os Estados era similar, baseado em estatutos tendo como finalidade “o fortalecimento moral e físico dos associados bem como a preservação da língua alemã”. Ao lado da igreja e da escola, as associações eram consideradas pilares da ideia de identidade alemã entre os imigrantes que se fixaram no Brasil. “Nos festivais de ginástica as associações se reuniam tentando reproduzir no Brasil o que havia na Alemanha, onde os clubes se organizavam em âmbito regional e também em uma federação. Mas no Brasil as distâncias eram gigantes, a comunicação e os meios de transporte precários, de modo que os festivais se tornam a forma de se aproximar e debater a possibilidade de união”. No Rio Grande do Foto: Antonio Scarpinetti
A professora Carmen Lúcia Soares, orientadora, e Evelise Amgarten Quitzau, autora da tese: trabalho conjunto desde a iniciação científica
Foto: Arquivo Histórico José Ferreira da Silva, Blumenau/Divulgação
Ginasta se preparando para realização de salto em altura na 5ª Deutsches Turnfest organizada pelo Itajaí-Gau em Blumenau, 1932 Foto: Museu Antropólogo Diretor Pestana, Ijuí/Divulgação
Apresentação de exercícios coletivos em festa realizada em Ijuí, sem data; ao fundo, a representação dos “4F” do lema dos ginastas
Sul, em 1895, é formada a primeira e mais bem-sucedida Liga de associações. O estado, juntamente com Santa Catarina, concentrou o maior número de associações de ginástica fundadas pelos alemães. A partir da década de 1930, Paraná e norte de Santa Catarina também tentam se organizar melhor. “Em meados dessa década surge também a ideia de organizar uma entidade sul-americana englobando os teuto-argentinos, teuto-uruguaios, teuto-brasileiros”, afirma. Neste período, contudo, começa o declínio do associativismo ginástico com a política de nacionalização do Governo Vargas, que acerta em cheio as associações no momento em que elas mais cresciam e procuravam se organizar. “As políticas de nacionalização, a partir de 1938, vão influenciar as bases do associativismo ginástico. A primeira base é afetada com a proibição da língua alemã ou estrangeira, porque todos os documentos encontrados estão em língua alemã e as associações propagavam a ideia de serem mantenedoras da língua germânica”, salienta. Até mesmo os nomes das associações precisam ser mudados, bem como os estatutos, que deveriam garantir que os clubes eram entidades brasileiras. “A ruptura é tão grande que muitas associações desapareceram e as que continuaram mudaram suas características. Algumas conseguiram se tornar grandes clubes que permanecem ativos ainda hoje, como é o caso da Sogipa, de Porto Alegre, ou do Pinheiros, de São Paulo, antes Esporte Clube Germânia”. Outro fator complicador: em1938 o partido nazista começa a pressionar as associações para conseguir filiados. Em algumas regiões, pontua Evelise, as entidades acabaram incorporando os ideais e se aproximam do partido nazista, como no Rio de Janeiro ou em Blumenau (SC). O Rio Grande do Sul é o Estado que apresentou maior resistência ao assédio do par-
tido nazista. “A associação de Porto Alegre publica, em 1937, um livreto explicando os motivos de serem contrários à anexação de clubes teuto-brasileiros a associações do Reich. Segundo o documento, os alemães no Brasil não estariam sem pátria, pois escolheram estar no país. Filiar-se a instituições do Reich significaria uma submissão política à Alemanha e colocaria em risco o próprio trabalho realizado por estes clubes no Brasil.”. A década de 1930 marca, portanto, o enfraquecimento do ideal de germanidade que foi construído desde que foi fundada a primeira associação em Joinville (SC). Para os imigrantes alemães, a ginástica estava tão atrelada ao ideal de germanidade quanto à língua. Enfraquecendo uma, a outra também acabou perdendo força. Resgatar parte desta história é de suma importância, considera a professora Carmem. “Evelise estudou as primeiras décadas do século 20 nessa perspectiva básica de que a ginástica fazia parte da vida daqueles que chegavam aqui vindos pelas ondas migratórias. Trata-se de um dos poucos estudos que elegem essas práticas corporais associativistas como elemento consistente das comunidades de imigrantes”.
Publicação Tese: “Associativismo ginástico e imigração alemã no Sul e Sudeste do Brasil (1858-1938) nos do século XIX, início do século XX” Autora: Evelise Amgarten Quitzau Orientadora: Carmen Lúcia Soares Unidade: Faculdade de Educação (FE) Financiamento: Fapesp
6
Campinas, 22 a 2
Da língua do quilombo ao carioca, para ler, ouvir e i Fotos: Acervo de José Ramos Tinhorão/Correio da Manhã/Carlos Malta/ Coleção Lygia Santos./Divulgação
MARTA AVANCINI Especial para o JU
uase 40 anos depois da descoberta de Cafundó, o público em geral poderá conhecer e ouvir a “cupópia”, língua baseada no português, kimbundu e outras línguas africanas, adotada pelos remanescentes de escravos que vivem nesta comunidade rural, localizada em Salto do Pirapora, interior de São Paulo. O acesso à “cupópia”, uma das principais descobertas de uma pesquisa realizada pelo linguista Carlos Vogt e o antropólogo Peter Fry na comunidade nas décadas de 1970 e 1980, com a colaboração do historiador Robert Slenes, tornou-se possível graças ao lançamento em formato digital do livro “Cafundó – A África no Brasil”, resultado do estudo. A edição digital de “Cafundó” é o primeiro e-Pub publicado pela Editora da Unicamp. Reúne, além do texto da segunda edição impressa do livro (datada de 2014), gravações originais feitas durante o trabalho de campo, assim como fotografias e outros tipos de documentos usados na pesquisa. O lançamento desta obra e da coleção Históri@ Illustrada, coordenada pela historiadora Silvia Lara, marcam o ingresso da Editora no mercado de e-Pubs. O primeiro volume dessa coleção, que será lançado no dia 25 de agosto, é “Não tá sopa: sambas e sambistas no Rio de Janeiro, de 1890 a 1930”, da também historiadora Maria Clementina Pereira Cunha - resultado de uma pesquisa sobre o cotidiano dos participantes e frequentadores das rodas de samba no Rio de Janeiro, no início do século 20. “Com este tipo de publicação alcançaremos leitores diferentes, tanto porque alguns preferem este formato, quanto há leitores que têm pouco acesso a livrarias no Brasil”, afirma Eduardo Guimarães, diretor da Editora da Unicamp. “É uma iniciativa que busca entrar de modo sério neste novo mercado de livros, ainda pequeno, mas que deverá crescer”, completa o diretor. Paralelamente, a nova linha editorial reforça seu papel no campo da divulgação científica, enfatiza o reitor da Unicamp, José Tadeu Jorge: “O lançamento de uma linha de e-Pubs marca um salto significativo no acesso às obras publicadas pela editora, uma vez que permitirá maior economia de tempo e conforto para os usuários. Trata-se, também, de um importante recurso para divulgação científica, alinhado com as tecnologias disponíveis”.
DIFUSÃO AMPLIADA
Para o linguista Carlos Vogt, a ampliação da difusão e do acesso potencial à sua obra, somadas às possibilidades de edição inerentes às tecnologias digitais e à redução do custo do produto final, são as principais vantagens propiciadas pela edição digital de “Cafundó”. “Os hipertextos usados nos e-Pubs enriquecem a leitura, ao apontarem para fontes e documentos que aprofundam a experiência”, analisa Vogt. Nessa medida, o público potencial amplia-se. “O livro deixa de ser interessante apenas para pesquisadores, passando a ser atrativo para estudantes e leitores comuns”, complementa o linguista. A coleção Históri@ Illustrada possui objetivos semelhantes: divulgar pesquisas nas áreas da História Social e da Cultura que utilizem documentos textuais, iconográficos e sonoros. “Ao unir texto, imagem e som, os e-Pubs permitem um acesso direto, livre de mediações ou interferências, a fontes não textuais - como as músicas, as artes plásticas, a fotografia etc.”, explica Silvia. “A leitura, enriquecida com ilustrações capazes de dialogar com a narrativa, aumenta o envolvimento do leitor e torna-se mais acessível para o público não especializado”, complementa a historiadora. Em síntese, mais do que adaptar as pesquisas a um formato de livro digital, a coleção propõe uma nova maneira de divulgar os estudos e de lê-los. “Qualquer historiador que
1
2
3
4
5
6
8 7
já tenha trabalhado com cultura sabe o quanto pode ser difícil e, até, frustrante, expressar por meio da escrita os achados de uma pesquisa que usa como fontes música, filmes ou fotografias”, relata Maria Clementina, ao contextualizar sua própria experiência. Assim como ocorre nas ciências humanas, em que os e-Pubs possibilitam o acesso a dados e informações de base que não são passíveis de serem apresentadas na linguagem escrita ou em publicações impressas, nas demais áreas do conhecimento, esse tipo de livro digital oferece informações relevantes e complementares às pesquisas. “Nos livros técnicos permitem acesso a fórmulas, a figuras, a desenhos. Já as obras de referência têm grande vocação para entrar neste modelo, porque a pesquisa fica extremamente facilitada pelo procedimento de busca. Pense num livro de música, por exemplo: será possível ouvir a música e não só ver a partitura”, detalha Guimarães.
NOVA EXPERIÊNCIA DE LEITURA
Nesse contexto, a publicação de livros digitais em formato e-Pub - abreviação do termo inglês Eletronic Publication (publicação eletrônica) -, adotado pelos lançamentos da Editora da Unicamp, possibilita tanto ao leitor quanto ao pesquisador, uma experiência que ultrapassa os limites convencionais de divulgação das pesquisas. Embora o formato e-Pub permita a adaptação de telas de acordo com o tipo de aparelho usado para visualização (tablet, celular ou e-book reader), os livros foram desenvolvidos
1) Paulo da Portela, sem data; 2) Ismael Silva em 1929; 3) Cartola aos 11 anos; 4) Wilson Batista, sem data; 5) Entrada do Morro de São Carlos, em 1928; 6) Quiosque no centro do Rio, sem data; 7) Brancura no Presídio Frei Caneca, década de 1920; 8) Oito Batutas em 1922
com layout fixo, ou seja, não adotam esse recurso. Como se tratam de livros acadêmicos ou didáticos, o layout fixo é uma necessidade, a fim de que as páginas possam ser numeradas, permitindo que as obras sejam usadas como referência e citadas. Por essas características, e por possibilitar a inclusão de arquivos de áudio, imagem ou vídeo, os e-Pubs são diferentes dos livros digitalizados e da publicação online de obras impressas. A Editora da Unicamp já possui, em seu catálogo, mais de cem títulos de livros digitais (formato PDF); estes, porém, não comportam os recursos tecnológicos adotados no formato e-Pub. “A coleção Histori@ Illustrada foi planejada com o objetivo de colocar à disposição, como parte das obras, não só a reflexão do autor, mas também e decisivamente, aquilo que é objeto da sua reflexão. Assim será possível ter acesso a materiais de toda espécie que constituem um certo momento da história”, analisa Eduardo Guimarães. Desse modo, o resultado final é muito mais interessante e dinâmico do que o obtido, por exemplo, ao se agregar um CD com músicas a um livro convencional, aprofunda Clementina. “Trabalhamos com história social da cultura e, num e-Pub, é possível dar o devido destaque à produção cultural que usamos nas pesquisas”, complementa a historiadora. Ou seja, as fontes documentais, base da pesquisa histórica, passam a ser mais do que uma ilustração do texto; diferentemente, são trazidas para o centro do trabalho. “Muitas vezes, imagens e sons deixam de ser usados na redação de um livro por causa
da impossibilidade de serem incorporadas a ele”, reforça Silvia Lara. “O e-Pub é uma ótima saída para divulgar a produção desta área específica”, defende.
VIA DE DUAS MÃOS
Não é só a experiência de leitura que se renova com os livros digitais. Também o pesquisador passa por um processo de aprendizado a fim de apresentar os resultados de seu trabalho nesse formato. Desde que os pesquisadores do Cecult tiveram a ideia de criar a coleção, passaram-se mais de dois anos até que o primeiro volume fosse lançado. As primeiras discussões ocorreram em 2014. No início do ano seguinte, a coleção Históri@ Illustrada já possuía um formato definido. O primeiro volume começou a ser produzido em março do mesmo ano. “Foi um longo caminho de muito aprendizado”, relembra Silvia. O processo envolveu desde questões técnicas relacionadas à produção de um livro digital até a definição dos caminhos viáveis para apresentar uma pesquisa numa plataforma digital – especialmente no caso da área de história, em razão da possibilidade de trazer ao público documentos e fontes que, num livro convencional, permaneceriam desconhecidos do leitor. Para Maria Clementina, este é um desafio que requer uma mudança da maneira de se relacionar com a própria pesquisa e com o público. “Ao ter acesso direto à fonte que deu origem à análise, o leitor pode tanto compreender melhor, quanto discordar do argumento apresentado”, explica.
7
28 de agosto de 2016
ao samba interagir
Editora da Unicamp ingressa no mercado de e-Pubs com obras sobre o Cafundó, comunidade de afrodescendentes em SP, e o cotidiano de compositores do Rio entre 1890 e 1930
Foto: Antonio Scarpinetti
O linguista Carlos Vogt, um dos autores de “Cafundó – A África no Brasil”: “Os hipertextos usados nos ‘e-Pubs’ enriquecem a leitura, ao apontarem para fontes e documentos que aprofundam a experiência”
Fotos: Antoninho Perri
A professora e historiadora Silvia Lara, coordenadora da coleção Históri@ Illustrada: “Ao unir texto, imagem e som, os ‘e-Pubs’ permitem um acesso direto, livre de mediações ou interferências, a fontes não textuais”
‘Cupópia’ foi elo de etnias na escravidão A “cupópia”, originária de línguas africanas e usada pelos moradores de Cafundó, foi usada para a comunicação entre diferentes etnias na época do Brasil escravocrata. Essa foi uma das conclusões a que chegaram Carlos Vogt e Peter Fry ao identificarem, mediante um extenso levantamento realizado em várias partes do país que integrou a pesquisa, semelhanças da “cupópia” com vocabulários adotados nessas regiões – como, por exemplo, na cidade de Mauá (região do ABC paulista) e em Patrocínio de Minas. A hipótese foi comprovada pela constatação de que a língua era usada por pessoas que moram nessas regiões, distantes entre si, e que elas nunca tiveram contato umas com as outras. Esse fato foi interpretado por Vogt e Fry como uma evidência de que a “cupópia” pode ter se disseminado no contexto da escravidão, desempenhando um papel importante na comunicação. No entanto, no Brasil contemporâneo e no contexto de Cafundó, a “cupópia” funciona como um marcador de identidade. Ou seja, ela expressa uma identidade africana daquelas pessoas, que convive com outra identidade, a brasileira.
PARA AS ESCOLAS
A fim de potencializar a difusão dos livros da coleção Históri@ Illustrada, particularmente entre professores e estudantes da educação básica, os volumes da coleção serão vendidos a preços acessíveis e acompanhados de um vídeo de acesso livre e gratuito, disponibilizado no Youtube e no site do Cecult, que apresenta alguns aspectos abordados na obra. “O vídeo não é um trailer do livro. Ele enfoca um aspecto abordado na obra e é produzido para ser usado como material didático e em sala de aula”, contextualiza Silvia. No caso da obra que inaugura a coleção, o vídeo “Sambas e Sambistas” conta a história dos primeiros sambistas, enfocando algumas de suas particularidades e diferenças. O vídeo entrecruza as histórias pessoais de sambistas como Pixinguinha, João da Bahiana, Almirante e Ismael Silva, entre outros, com o cenário social, cultural e musical no qual viveram.
Título: Cafundó – Á Africa no Brasil Autores: Carlos Vogt e Peter Fry Páginas: 416 Áreas de interesse: Linguística e Antropologia Preço: R$ 48,00
Desse modo, o vídeo funciona como material independente e complementar ao livro, passível de ser usado por professores em atividades didáticas ou em outros contextos de discussão sobre os temas em questão. A produção dos dois primeiros volumes da coleção, incluindo os vídeos, foram viabilizados por um projeto de pesquisa, desenvolvido em parceria com a Universidade de Brasília (UnB), financiado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal (Capes) e Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). O segundo título a ser lançado, já em fase de produção, é o livro “Estilo moderno: humor, literatura e publicidade em Bastos Tigre”, de Marcelo Balaban. O livro trata das relações entre humor, propaganda e literatura no Rio de Janeiro do início do século 20. Os e-Pubs “Cafundó” e “Não tá sopa”, assim como os demais livros que integrarão a coleção Históri@ Illustrada, são comercializados no site da livraria Cultura.
Serviço:
Saiba mais:
Mesa-redonda de lançamento da coleção Históri@ Illustrada Onde: Sala da Congregação do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas Data: 25/08/2016 Horário: 14h
Link para o vídeo no Youtube: h t t p s : / / w w w. y o u t u b e . c o m / watch?v=BCwgGyeRThI Link para o site do Cecult: http://www.cecult.ifch.unicamp.br/ http://www.livrariacultura.com. br/p/nao-ta-sopa-104009087
A historiadora Maria Clementina Pereira Cunha, autora de “Não tá sopa”: “Ao ter acesso direto à fonte que deu origem à análise, o leitor pode tanto compreender melhor, quanto discordar do argumento apresentado”
Comportamento dá o tom das composições No início do século 20, os sambistas tinham de dividir seu tempo entre música e trabalho: essencialmente, eram trabalhadores dotados de bom ouvido musical, habilidade rítmica ou facilidade com as rimas. Essa constatação foi o ponto de partida do livro “Não tá sopa”, desenvolvido a partir de uma pesquisa individual de Maria Clementina realizada entre 2001 e 2005 e que integrava um Projeto Temático Fapesp sediado no Cecult. O estudo mostra que, embora esses indivíduos enfrentassem dificuldades semelhantes, eles reagiam de maneiras diferentes frente a elas. Suas opções inscrevem-se nas trajetórias pessoais, nos sambas que assinaram e nas atitudes que tomavam em situações de conflito, inclusive envolvendo a polícia. “Ouvindo esses sambas, percebia, sempre, uma tensão entre os músicos, que não se limita ao estilo de cantar, ao modo de produzir o samba: com improviso, sem improviso; uma base mais leve ou mais pesada”, comenta Maria Clementina. “Existe também uma rivalidade evidente, muitas vezes na forma de xingamento: uns chamam os outros de ‘malandro’, ‘sem-vergonha’. Fui movida pela vontade de compreender de onde vem isso; resolvi parar para entender por que eles brigavam entre si”. A primeira resposta, diz Clementina, é óbvia; eles disputavam o mercado. “Mas me parecia que era mais profundo do que isso, porque afinal eles gravavam juntos. A Casa Edison [uma das primeiras gravadoras brasileiras] era muito eclética”. Outro aspecto investigado pela historiadora e associado às disputas entre os músicos é o envolvimento deles com a polícia. “Todos esses sambistas cultivavam de si mesmos uma imagem de vítimas da polícia. Uma imagem de que o samba era perseguido e que, nos anos 1930, finalmente conseguiu superar essa situação e se tornou a música nacional”, contextualiza a pesquisadora. Assim, diferentemente da historiografia e da memória oficiais, que atribuem ao samba o status de “música nacional”, como se fosse único, a historiadora retraçou, por meio da análise de músicas e registros policiais, a trajetória desses sambistas. “Por que os sambistas seriam mais perseguidos que os operários, os negros, os pobres?”, questiona a historiadora. “Resolvi buscar esses músicos não só na produção deles, falando mal um do outro, mas nesse lugar onde diziam que viviam, a polícia, para encontrar diferenças de padrão, de comportamento para saber por que eles eram perseguidos. Quando vão para a cadeia, por que vão?” A análise dos registros policiais permitiu que Maria Clementina identificasse dois grupos, com diferenças no campo da musicalidade, mas também no comportamento. Um deles, o grupo dos Sambistas Baianos do Rio de Janeiro (Donga, João da Bahiana, entre outros) era ligado aos terreiros de candomblé da Cidade Nova e a grupos que migraram da Bahia para o Rio no final do século 19. “Eles têm um padrão
de comportamento de pessoas religiosas, vivem para construir os terreiros, contribuem com eles, praticam a devoção”. Nos registros policiais, aparecem predominantemente como vítimas. No que diz respeito à música, relata Clementina, as composições são, geralmente, coletivas e quando um deles “se apropriava” de um samba e o gravava, tornava-se alvo de críticas por integrantes das rodas. O outro grupo, o famoso grupo do Estácio que deu origem à primeira escola de samba, a Deixa Falar e do qual participavam Ismael Silva, Bide, Marçal e Baiaco, entre outros – teve uma trajetória diferente na música e no envolvimento com a polícia. “Eles entraram muito mais rapidamente nos castings das emissoras de rádio. Eram promovidos pelos grandes artistas do rádio. Vendiam seus sambas a intérpretes famosos, como Francisco Alves, e apareciam nas fotos ao lado deles”, explica a autora. Também os registros policiais apontam para outro tipo de padrão, no que diz respeito ao envolvimento com a polícia, como por exemplo, a prostituição. Desse modo, o foco do livro ultrapassa o gênero musical propriamente dito, recaindo sobre a vida cotidiana dos participantes e frequentadores das rodas de samba, num cenário em que o Rio de Janeiro mudava rapidamente. Suas escolhas, disputas, valores compartilhados, relações entre esses indivíduos e a multidão de anônimos com que conviveram em bares, cafés, cortiços, terreiros e cadeias também são analisadas na pesquisa.
Título: Não tá sopa: Sambas e sambistas no Rio de Janeiro, de 1890 a 1930 Autora: Maria Clementina Pereira Cunha Páginas: 257 páginas | Preço: R$ 14,00 Área de interesse: História Coleção: Históri@ Illustrada
8 Campinas, 22 a 28 de agosto de 2016
Agulhas contra
o Parkinson
Fisioterapeuta testa o emprego de técnicas da craniopuntura em pacientes com a doença Fotos: Antoninho Perri
O fisioterapeuta Leandro Turati, autor da dissertação: “Verificou-se evolução positiva em quase todos os quesitos analisados”
CARMO GALLO NETTO carmo@reitoria.unicamp.br
terapeuta ocupacional Heloisa G. R. G. Gagliardo, docente no curso de graduação em fonoaudiologia e no Programa de Pós-graduação em Saúde, Interdisciplinaridade e Reabilitação da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp, orientou a dissertação de mestrado do fisioterapeuta Leandro Turati, que teve como objetivo verificar as possíveis influências da Craniopuntura de Yamamoto sobre sinais e sintomas em pessoas com doença de Parkinson. Graduado em fisioterapia pela Unesp, o pesquisador realizou pós-graduação em medicina tradicional chinesa na Associação Brasileira de Acupuntura (Aba) e depois em acupuntura avançada na Escola Brasileira de Medicina Chinesa (Ebramec), entidades oficialmente reconhecidas e que, segundo regulamentação estabelecida, credenciam esses profissionais a utilizar tratamentos com acupuntura. O pesquisador explica que buscou complementar sua formação buscando recursos na medicina tradicional chinesa, que permite tratar uma grande gama de sintomas e sinais de doenças, para atender o amplo leque de patologias presentes em sua área de atuação profissional, entre elas a doença de Parkinson. Ele já atendia pacientes com Parkinson com intervenções fisioterápicas que, embora eficazes, não satisfaziam amplamente as expectativas dos pacientes, sempre à procura de resultados mais promissores. Então se propôs a procurar outros recursos que pudessem complementar os já utilizados e que, além disso, possibilitassem um tratamento mais humanizado. Nesse aspecto, ele considera que a medicina tradicional chinesa é muito efetiva porque não investiga apenas os sintomas, mas as causas relacionadas às condições pessoais e emocionais do paciente, mesmo porque duas pessoas com os mesmos sintomas podem apresentar quadros completamente diferentes. “A pessoa se sente então mais acolhida, mais atendida”, esclarece. Ele buscou particularmente o emprego dessa medicina em virtude dos resultados promissores de pesquisas que consolidaram seus efeitos benéficos em diferentes patologias. A docente explica que a medicina chinesa atua em várias modalidades, estando entre elas a acupuntura e, mais especificamente, a Craniopuntura de Yamamoto, utilizada no estudo. Essa modalidade foca principalmente distúrbios neurológicos, musculares e dores em que se mostra particularmente eficiente. Na busca por mais opções de tratamento, a medicina chinesa chama a atenção pela sua diversidade de técnicas e recursos,
com resultados cada vez mais evidentes, e por quase não causar efeitos colaterais ou apresentar contraindicações. Essa medicina considera a existência de microssistemas que permitem, acessando apenas uma região, o controle de todo o corpo humano, casos da auriculoterapia e reflexologia. A craniopuntura é uma das técnicas que envolvem o leque de atuação dessa medicina, em que agulhas filiformes metálicas são introduzidas no escalpo do paciente e estimuladas pelo terapeuta ou por eletroestimulação.
PARKINSON A doença de Parkinson é progressiva, porque apresenta evolução contínua; degenerativa, porque acomete irreversivelmente o sistema nervoso central; e crônica, porque não tem cura, embora disponha de tratamentos bem estabelecidos. Ela afeta cerca de 1% da população mundial acima de 55 anos e é causadora de aproximadamente 80% das síndromes parkinsonianas, caracterizadas por quatro sinais clínicos principais: tremor, bradicinesia – dificuldade de realizar movimentos, rigidez muscular e alterações posturais, sintomas que interferem na vida funcional do paciente. O Parkinson tem como causa a perda progressiva de células da substância negra no mesencéfalo, ocasionando uma diminuição da produção de dopamina, neurotransmissor essencial no controle dos movimentos corporais. Ela se inicia com a degeneração dos neurônios dessa região, embora os primeiros sintomas desse efeito se revelem apenas quando cerca de 80% deles estão mortos e a doença bem desenvolvida. Apesar da doença de Parkinson ser usualmente associada ao tremor característico, ele foi descrito inicialmente como uma paralisia agitante, pois o doente vai se tornando rígido em decorrência da rigidez muscular, principal agente resultante do seu acometimento. Da rigidez muscular decorre a dificuldade de mobilidade; a incapacidade de iniciar e dar continuidade aos movimentos; o surgimento de alterações posturais, levando o corpo a ficar mais fletido; revelam-se dificuldades na articulação das palavras; enrijecimento da expressão facial; e manifesta-se a dor, entre outros. Para a caracterização da doença, cujo diagnóstico é clínico, vários desses sintomas devem ser concomitantes, pois existem outros fatores que podem gerar alguns efeitos semelhantes. Embora as causas da doença não sejam ainda bem caracterizadas, são aventados fatores genéticos, outros associados a certos tipos de intoxicações como as geradas por indústrias químicas ou têxteis, e ainda
A professora Heloisa G. R. G. Gagliardo, orientadora da pesquisa: “Tivemos o cuidado de estabelecer critérios bem definidos para o trabalho”
a possibilidade do próprio organismo produzir toxinas responsáveis por essas lesões cerebrais.
O TRABALHO Inicialmente o pesquisador entrou em contato com a Associação de Parkinson de Campinas para apresentar como se processa o tratamento da doença com o emprego da craniopuntura, mostrar o caráter experimental da pesquisa que pretendia realizar e que levaria à dissertação de mestrado, e convidar voluntários para a realização do projeto. Confirmadas cinco adesões, ele realizou uma triagem para colher dados pessoais, informar-se sobre o histórico da doença e aplicar um exame mental para testar a qualidade cognitiva dos participantes, porque durante as intervenções ele dependeria de que os indivíduos respondessem questões de forma confiável. Neste caso, existem estudos que mostram qual a pontuação mínima que deve ser atingida para que a amostra de indivíduos possa ser considerada confiável. Os participantes foram então avaliados antes e depois de vinte sessões de tratamento com a Craniopuntura de Yamamoto. Como instrumentos de avaliação foram utilizados a Escala de Estágios de incapacidade de Hoehn e Yahr, que mostra o grau de comprometimento em que o indivíduo se encontra em relação à doença (leve, moderado ou grave); a Escala Visual Analógica (EVA) para avaliação da dor, em que o próprio paciente indica o grau de percepção da dor; um questionário de Qualidade de Vida na Doença de Parkinson; e avaliação das atividades funcionais relativas à mobilidade e capacidade motora. Com base nesses parâmetros, a amostra de doentes foi classificada como leve e moderada em relação ao acometimento da doença. Com base nos dados oriundos desses parâmetros, o tratamento foi realizado em vinte sessões, duas por semana, durante dez semanas consecutivas, depois das quais foram comparados os resultados iniciais e finais e realizado um relato de vivência em que os pacientes, informalmente, descreveram suas sensações e impressões durante e depois do tratamento. A professora Heloisa destaca que o tratamento individual foi realizado com base nas principais queixas de cada participante e que, embora as avaliações iniciais tivessem identificado as dificuldades mais comuns, foram priorizadas nas sessões aquelas em que o paciente se referia como as de maior incômodo.
RESULTADOS Nos depoimentos, os pacientes relataram as melhoras que perceberam durante o tratamento em relação à evolução nos movimentos, ao aumento da flexibilidade e à
diminuição da dor. Para Leandro, essas manifestações sugerem que a medicina oriental pode contribuir para a melhora das condições de vida do paciente de Parkinson. Ele especifica: “Considerando o caráter crônico, progressivo e degenerativo da doença, quando se comparam os escores obtidos nos parâmetros de avaliação aplicados antes e depois do tratamento, verifica-se evolução positiva em quase todos os quesitos analisados, o que indica uma evolução positiva do quadro clínico dos pacientes, que pode contribuir para melhoria na qualidade de vida. Mesmo assim, esses resultados não foram suficientes para gerar dados estatisticamente significativos, devido inclusive ao pequeno número da amostra, o que indica a necessidade de novas pesquisas cientificamente controladas e com maior número de sujeitos”. A professora Heloisa destaca que essa mesma dificuldade se revela em estudos sobre craniopuntura realizados em outros países, mesmo na China, com a agravante de que muitos deles não utilizam a metodologia mais criteriosa. Em vista disso, diz ela, “tivemos o cuidado de estabelecer critérios bem definidos para o trabalho que fizemos, cercando fatores que poderiam interferir nos resultados, o que nem sempre é feito em outras pesquisas a que tivemos acesso. Aliás, uma das razões que nos levou ao estudo da Craniopuntura de Yamamoto foi a escassez de trabalhos reconhecidos pela comunidade científica”. Nessa mesma direção se situa a motivação de Leandro, que sentia a necessidade de uma produção científica relacionada à acupuntura, pois existem muitas dúvidas sobre a validade e eficiência dessa técnica e resistências à sua aceitação. “Esses problemas se resolvem com produções científicas”, afirma. Ele enfatiza ainda que o tratamento pela medicina chinesa possui poucas contraindicações e efeitos colaterais e pode ser aplicado concomitantemente com a utilização de fármacos ou emprego de outras técnicas de fisioterapia, pois atua de forma complementar a todos esses recursos. No estudo, ele se ateve apenas à aplicação da Craniopuntura de Yamamoto.
Publicação Dissertação: “Craniopuntura de Yamamoto na doença de Parkinson” Autor: Leandro Turati Orientadora: Heloisa G. R. G. Gagliardo Unidade: Faculdade de Ciências Médicas (FCM)
9 Campinas, 22 a 28 de agosto de 2016
Diálogos entre diferentes Estudo aborda processos de (re)negociação cultural em colônia de holandeses no Paraná Fotos: Gazeta Press/Reprodução
ISABEL GARDENAL bel@unicamp.br
rapoti, Paraná, é um município ondem vivem cerca de 30 mil habitantes. Nele também residem praticamente 100 famílias holandesas em uma colônia fundada em 1960. Ályda Henrietta Zomer é brasileira por parte de mãe e holandesa por parte de pai. Mora nessa colônia de imigrantes desde criança. Cedo, sentiu que se diferenciava de seus amigos holandeses e também de seus amigos brasileiros, o que fazia com que questionasse muito o seu pertencimento à colônia de Arapoti. Em sua dissertação de mestrado, desenvolvida no Instituto de Estudos da Linguagem (IEL), ao estudar as (re) negociações culturais e as memórias dos holandeses e brasileiros de Arapoti/PR, Ályda chegou à conclusão de que é necessário olhar mais longe para entender o que está em jogo nessa relação: olhar para as diferenças culturais como diálogos que estão sempre em negociação e entendê-los como processo pois, se forem olhados como produtos, não será possível enxergar as tessituras dos discursos. Esse entendimento foi fundamental porque, segundo ela, geralmente se pensa que, numa comunidade de imigrantes, eles são todos iguais. “As pessoas pensam e agem diferente. Mas nosso estudo aponta que existe sim um processo de renegociação cultural entre holandeses, entre brasileiros e entre holandeses e brasileiros.” A pesquisadora conta que uma vez não foi convidada para um aniversário de uma amiga, filha de um casal puro (termo usado pelos holandeses para se diferenciar de casais mistos – brasileiros e holandeses), porque era filha de um casal misto. Outra situação envolveu o primeiro jogo de futebol em que Ályda jogou no Zeskamp [olimpíadas intercoloniais que acontecem todo ano no Brasil]. Ela teve que apresentar identidade para comprovar que descendia de holandeses. Desde a graduação, amadureceu esses questionamentos e trabalhou no mestrado com narrativas orais num trabalho etnográfico. Os dados foram gerados mediante entrevistas, diário de campo e de suas próprias memórias. Utilizou ainda fotografias e objetos para estimular as narrativas de 13 participantes, holandeses e brasileiros em um trabalho feito entre 2014 e 2015. Orientada pela docente do IEL Daniela Palma, a mestranda, que é linguista aplicada, observou os sujeitos que falam de lugares diferentes, mesmo pertencendo à mesma colônia, à mesma cidade. Viu como é a (re)negociação das diferenças culturais entre os próprios holandeses na colônia, pensando em casais mistos também e os que não são da colônia. “É isso que me faz pensar em cultura – um conjunto de costumes, práticas e ideologias que faz com que um se diferencie do outro. É quando sujeitos falam desses lugares diferentes que chamo de renegociação cultural ou diálogo intercultural”, explicou. “As narrativas orais trazem fatos do passado que são renegociados no presente.”
NEGOCIAÇÕES Os holandeses vieram ao Brasil dez anos após o fim da II Guerra Mundial. Eles ainda tinham consequências econômicas e sociais no seu país. Vieram porque apostaram em uma nova vida. Desembarcaram de navio em Santos após 17 dias de viagem. Chegaram a Arapoti de ônibus no dia 9 de junho de 1960. Atualmente, a colônia tem 56 anos. É a mais nova do Brasil (há outras cinco: Holambra 1, Holambra 2, Castrolanda, Carambeí e Não-me-Toque). No início, os holandeses puros eram impedidos de contrair casamentos mistos. Não casavam e pronto. Com o tempo, repensaram essa prática “Não significa que toda colônia os aprove. Até permite-se o casamento, porém muitas vezes deseja conduzir essa hibridação cultural, mesmo sabendo que não consegue controlá-la. Renegociações como o casamento são feitas ‘na’ e ‘pela’ linguagem”, sugere a linguista. Quando a colônia surgiu, três instituições foram postas como pilares: a cooperativa, a igreja e a escola. A cooperativa era relevante como atividade econômica, a religião (em geral a evangélica reformada) para exercício da fé e a educação por causa do conhecimento. Na década de 1960, o ensino era em holandês. O português foi introduzido aos poucos. Apesar disso, em muitas casas, só se falava holandês. O primeiro pastor brasileiro era da década de 1990. Ainda há cultos em holandês, mas já se percebem (re)negociações culturais na igreja. Além da oralidade, a mestranda também verificou os gestos, as imagens e as diferentes linguagens. Com isso, chegou ao futebol e à alimentação como práticas sociais, como linguagem. A divisão dos times de holandeses contra brasileiros e a própria camisa da seleção feminina de futsal podem representar as diferenciações culturais, que também entravam em campo, garante ela. Na casa da sua avó brasileira, a mesa era farta. Tinha três tipos de tortas doces, dois tipos de tortas salgadas, pães, suco, chá, café, refrigerante. Tudo ficava sobre a mesa. As pessoas se serviam. Na mesa holandesa, tinha só café com leite e bolo. Em geral, não havia repetição e exagero.
Na fala dos entrevistados, as mães brasileiras podem representar um risco para o se tornar holandês, pois ficam mais tempo com os filhos e podem contribuir para que os alunos não aprendam o holandês. “Essa visão de língua e cultura é equivocada. Passa a ideia de que, para ser holandês, é preciso falar esta língua, entendendo-a como só verbal. Ocorre que ela é um dos símbolos que representam a cultura holandesa, não o único.” Muitos esquecem que seus filhos usam chaveiros de moinho nas mochilas, camisetas de tamancos, camisas da seleção holandesa, linguagens nas quais a cultura holandesa também se dá, pondera a mestranda. “Eu não imaginava uma colônia a partir do meu pertencimento como um lugar com integrantes tão distintos. Sou filha de um casal misto, não falava o holandês e não ia à igreja. Por isso muitas vezes eu não era holandesa”, relatou. “Quando jogava bem o futebol, daí era. Como criança, isso foi muito difícil. Em troca, eu também segregava os holandeses, como estratégia identitária.”
DESCONSTRUÇÃO
Zeskamp, olimpíadas intercoloniais que acontecem anualmente no Brasil: descendência como pré-requisito
“Olhando para esse gesto de colocar tudo sobre a mesa, nota-se uma diferença em relação ao costume dos holandeses de colocar pouca coisa em um pratinho de bolo e uma xícara de café com leite sobre a mesa. Os diálogos interculturais também estão sentados à mesa”, constata ela. Em sua opinião, isso comporta muitos diálogos interculturais, não como álibi para dizer que não há desencontros, pois estes são parte do processo. Os gestos também contribuem para a compreensão dessas (re)negociações. “Isso é ter a língua como prática social – as diversas linguagens pelas quais nos expressamos.” Um entrevistado relatou que foi tranquilo receber uma nora brasileira na colônia. A esposa dele, da cozinha, gesticulava que não. Negociavam entre eles: um dizendo sim, outro não. “Por isso o conceito de língua não pode olhar só para o verbal-oral. O gestual, as fotografias e os objetos também são linguagens. Olho para o discurso como prática social localmente situada.” Ályda optou por enxergar o futebol como linguagem e prática interseccionada por linguagens. Quando os holandeses chegaram a Arapoti, faziam partidas contra os brasileiros. Essa divisão já era uma linguagem sugestiva de uma diferenciação cultural: holandeses de um lado, brasileiros do outro. Dava a impressão de que o futebol não era uma linguagem em que as diferenciações culturais aconteciam. Era o momento que todo mundo se integrava e que as diferenças não entravam em campo. “Um antigo morador de Arapoti lembra que tinha uma boa relação com os brasileiros coletivamente: no futebol não é preciso falar, é só chutar a bola. O futebol parece então ser uma atividade lúdica, uma integração que não reflete as diferenciações que estão no entorno do campo”, apurou Ályda. Ela viu o futebol e a alimentação como linguagens nas e pelas quais ocorrem os processos de hibridação. “Não entendo holandeses e brasileiros como uma identidade nacional cunhada no nascimento e sim como pertencimento. Sou brasileira de nascimento e também sou holandesa em muitas práticas, assim como muitos holandeses se sentem brasileiros em momentos específicos.” Um brasileiro se torna holandês na colônia quando casa. Também existe muita racialização nas falas. “Os holandeses ficavam de um lado, todos altos e brancos. É como se não existissem holandeses não loiros e não altos, e brasileiros não altos e não brancos”, averigua.
Em vários momentos da entrevista, Ályda imaginava as respostas dos participantes, por ser pesquisadora e integrar a colônia. Quando voltava das entrevistas, sofria crises identitárias, pois os entrevistados não falavam o que ela tinha imaginado. “Isso foi um grande desafio”, relata. Percebeu os holandeses como sujeitos que se sentem pertencentes ao Brasil e à Holanda. Eles mesmos se autodeclaram brasileiros e holandeses. Muitos usam adesivos dos dois países em seus carros. “Então aprendi a ser mais sensível, a pensar nos outros e a ver que eles também têm dificuldades de diálogo com pessoas que falam de diferentes lugares”, diz. As entrevistas colaboraram para que Ályda revisse suas posições. “Esse exercício nos coloca como um pesquisador não pronto e sujeito sempre em negociação. A Linguística Aplicada está preocupada em olhar para as pessoas nos seus contextos e não tirá-las, a fim de olhar para as identidades pensadas no contexto em que esses sujeitos estão situados. Então não foram objeto de pesquisa. Foram meus companheiros.” O que mais a surpreendeu foi ouvir dos entrevistados mais velhos que nenhum deles queria voltar à Holanda. Disseram que, se voltassem, sentiriam-se tão imigrantes como quando chegaram aqui. “Eu imaginava a minha colônia homogênea. Não imagino mais”, realçou Ályda. Sua pesquisa foi feita no Departamento de Linguística Aplicada, na área de Linguagem e Sociedade. “Pesquisar é olhar para o que está acontecendo com mais criticidade. Devo olhar para essas questões na colônia e repensar sobre cada uma delas, levando sempre em conta meu pertencimento, que não pode ser afastado da pesquisadora que tenho me tornado a cada dia.” Ela buscou construir uma dissertação que mostrasse a ligação com o contexto, a fim de indicar também que o fazer ciência está intimamente ligado às particularidades do pesquisador. Em nenhum momento, a mestranda optou por apresentar as suas (re)negociações entre o ser pesquisadora e integrante da colônia. Pelo contrário, vê isso como uma das maiores riquezas do seu trabalho. Foto: Antoninho Perri
Publicação Dissertação: “Narrando as (re)negociações culturais: as memórias dos ‘holandeses’ e ‘brasileiros’ de Arapoti/PR” Autora: Ályda Henrietta Zomer Orientadora: Daniela Palma Unidade: Instituto de Estudos da Linguagem (IEL) Financiamento: Capes
Ályda Henrietta Zomer, autora da pesquisa: “As narrativas orais trazem fatos do passado que são renegociados no presente”
10 Campinas, 22 a 28 de agosto de 2016
Painel da semana
Painel da semana As experiências com MOOCs na Unicamp - O Gru-
po Gestor de Tecnologias Educacionais (GGTE) organiza, dia 23 de agosto, das 14 às 17 horas, no Espaço de Apoio ao Ensino e Aprendizagem (EA²), o evento “As experiências com MOOCs na Unicamp: os desafios da educação online”. Na ocasião será apresentado o apoio institucional da Unicamp e as experiências dos professores com o desenvolvimento e oferta de cursos na proposta de MOOC (Massive Open Online Course), por meio do ambiente virtual de aprendizagem Coursera. Conheça os palestrantes do encontro acessando o endereço eletrônico http://www.ggte.unicamp. br/ggte/?q=node/40. As palestras serão transmitidas online. International Seminar on BRICS Economies Evento acontece no dia 24 de agosto, às 9 horas, no Instituto de Economia (IE) da Unicamp. Da cerimônia de abertura do evento participam os professores Luiz Cortez, da Vice-Reitoria Executiva de Relações Internacionais (Vreri), Hongyan Gao, do Instituto Confúcio da Unicamp, e Paulo Fracalanza, diretor do Instituto de Economia (IE). Mais informações: 19-3521-5733. À Margem das Páginas - O jornalista Guilherme Gorgulho, do Fórum Pensamento Estratégico (PENSES), lança no dia 24 de agosto, às 18h30, o seu livro: “À Margem das Páginas”. O evento acontece na Casa do Professor Visitante (CPV) da Fundação de Desenvolvimento da Unicamp (Funcamp). Da Editora UFABC, a publicação mostra o papel da imprensa no apoio à manutenção do isolamento de vítimas da hanseníase em SP.
Eventos futuros Oficina de pintura com Jerci Maccari - O Grupo
GPECIS do CIS-Guanabara e a Coordenadoria de Desenvolvimento Cultural (CDC) da Unicamp oferecem a oficina de pintura “Introdução à mistura e composição de cores” com o artista Jerci Maccari. Será no dia 30 de agosto, das 14 às 16 horas, à rua Mário Siqueira 829, no bairro do Botafogo, em Campinas-SP. O públicoalvo são adultos, jovens e crianças. O artista tem como temática o homem do campo, geralmente do sudoeste do Paraná. Com cores muito vivas e bem definidas, procura registrar o ambiente sóciocultural do meio rural e suas consequências, além da simplicidade do lavrador como simbologia de vida. Em sua trajetória como artista plástico já participou de exposições individuais, coletivas e internacionais recebendo premiações e chamando a atenção de especialistas, que publicaram artigos sobre seus trabalhos. Mais detalhes pelo telefone 19-3231-6369. Domingo no Lago - O Espaço Cultural Casa do Lago organiza no dia 4 de setembro, mais uma edição do Domingo no Lago. A primeira atração do mês da primavera ocorre na Sala de Cinema, às 10h30, local em que o grupo Já de Teatro apresenta a peça “A Pequena Catadora de Latinhas”. No mesmo horário, na Sala Multiuso, a atração será o espetáculo “O Pequeno Senhor do Tempo” com a Companhia Trilhas da Arte Pesquisas Cênicas. O Domingo no Lago será encerrado com o “Concerto de Primavera”. Ele será executado pela Orquestra de Flautas da Unicamp, às 11h30, também na Multiuso. A Casa do Lago fica na Av. Érico Veríssimo 1011, no campus da Unicamp. Mais detalhes podem ser obtidos pelo telefone 19-3521-1708 ou e-mail casadolago@reitoria.unicamp.br
Teses da semana
Teses da semana Artes: “Noites Paulistanas: O cinema paulista da geração 1980” (mestrado). Candidato: Gabriel Henrique de Paula Carneiro. Orientador: professor Pedro Maciel Guimarães. Dia 22 de agosto de 2016, às 10 horas, na sala 3 da CPG do IA. “Processos ao redor: uma discussão entre técnica e estética a partir de uma outra escuta do filme O Som ao Redor” (mestrado). Candidato: Leonardo Bortolin Bruno. Orientador: professor Francisco Elinaldo Teixeira. Dia 23 de agosto de 2016, às 10 horas, na sala 3 da Pós-graduação IA. “A trilogia Flesh, Trash e Heat, de Paul Morrissey, e o contexto underground” (mestrado). Candidato: Lucas Bettim. Orientador: professor Francisco Elinaldo Teixeira. Dia 22 de agosto de 2016, às 10 horas, na sala 2 da Pós-graduação do IA. “A motivação no método Suzuki: um estudo sob a perspectiva da Teoria da Autodeterminação” (mestrado). Candidata: Marina Maugeri Santos. Orientador: professor Luiz Britto Passos Amato. Dia 25 de agosto de 2016, às 14h30, no IA. Ciências Médicas: “Saúde Percebida e a sua relação com os desfechos da síndrome da fragilidade” (mestrado). Candidata: Dayane Capra de Oliveira. Orientadora: professora Maria José D´Elboux. Dia 23 de agosto de 2016, às 14 horaas, na sala amarela da CPG da FCM. “Atividade física e marcadores de inflamação em pacientes com esquizofrenia” (mestrado). Candidato: Renato Oliveira e Silva. Orientador: professor Paulo Dalgalarrondo. Dia 24 de agosto de 2016, às 14 horas, no anfiteatro do departamento de Psicologia Médica e Psiquiatria da FCM. “Análise do componente avaliativo do PMAQ” (mestrado). Candidata: Sandra Pessoa de Lima Folli. Orientadora: professora Sílvia Maria Santiago. Dia 26 de agosto de 2016, às 9 horas, na sala 35 do departamento de Saúde Coletiva da FCM. “Incidência, caracterização e acompanhamento da resolução de eventos adversos aos medicamentos em paciente admitidos em emergência pediátrica” (mestrado). Candidata: Cinthia Madeira de Souza. Orientadora: professora Patricia Moriel. Dia 26 de agosto de 2016, às 9, no antiteatro do Departamento de Patologia Clínica da FCM. “Fatores clínicos e metabólicos associados com ganho de peso em pacientes do espectro da esquizofrenia em uso de antipsicóticos atípicos” (mestrado). Candidata: Isabel de Andrade Amato. Orientador: professor Paulo Dalgalarrondo. Dia 26 de agosto de 2016, às 14 horas, no anfiteatro do Departamento de Psiquiatria da FCM. Computação: “Alinhamento de sequências restrito por expressão regular usando padrões PROSITE” (mestrado). Candidato: Lise Rommel Romero Navarrete. Orientador: professor Guilherme Pimentel Telles. Dia 26 de agosto de 2016, às 10 horas, no auditório do IC 2 do IC. Economia: “Inovação e crescimento econômico: uma comparação entre modelos endógenos e evolucionários” (mestrado). Candidato: Alexandre Lautenschlager. Orientador: professor Antonio Carlos Macedo e Silva. Dia 25 de agosto de 2016, às 14h30, na sala 23 do pavilhão da Pós-graduação do IE. Educação Física: “Cotidiano escolar e educação física: semelhanças, diferenças e implicações pedagógicas em relação à indisciplina” (mestrado). Candidato: Dirley Aparecido de Moura. Orientadora: professora Elaine Prodócimo. Dia 26 de agosto de 2016, às 14 horas, no auditório da FEF. Engenharia de Alimentos: “Extração de compostos bioativos da folha de graviola (Annona muricata L.) e concentração dos extratos por ultra e nanofiltração” (doutorado). Candidata: Ingrid Vieira Machado de Moraes. Orientador: professor Flávio Luis Schmidt. Dia 24 de agosto de 2016, às 14 horas, no auditório l do DTA da FEA.
Eventos futuros
“Avaliação do efeito da interesterificação enzimática nas características físico-quimicas de nanoemulsões de óleo de buriti” (mestrado). Candidata: Alexsandra Pereira Rodrigues. Orientadora: professora Gabriela Alves Macedo. Dia 25 de agosto de 2016, às 14 horas, na sala 2 de extensão da FEA. Engenharia Elétrica e de Computação: “Investigação de estratégias de mitigação de riscos para a segurança do paciente associados aos sistemas de registro eletrônico em saúde” (mestrado). Candidato: Luiz Ap. Virginio Jr. Orientador: professor Ivan Luiz Marques Ricarte. Dia 23 de agosto de 2016, às 14 horas, na sala PE12 da FEEC. Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo: “Programando a arquitetura escolar: a relação entre ambientes de aprendizagem, comportamento humano no ambiente construído e teorias pedagógicas” (doutorado). Candidata: Sandra Leonora Alvares. Orientadora: professora Doris C. C. K. Kowaltowski. Dia 25 de agosto de 2016, às 14 horas, na sala de defesa de teses 3 da FEC. “Áreas verdes urbanas: por uma abordagem sistêmica” (mestrado). Candidata: Mariana Greco Tavora. Orientador: professor Evandro Ziggiatti Monteiro. Dia 26 de agosto de 2016, às 10 horas, na sala de defesa de teses 2 da FEC. Engenharia Química: “Desenvolvimento e avaliação de partículas à base de blendas entre sericina e alginato para aplicação ambiental” (doutorado). Candidato: Thiago Lopes da Silva. Orientadora: professora Meuris Gurgel Carlos sa Silva. Dia 25 de agosto de 2016, às 14 horas, no bloco D da FEQ. Geociências: “A dinâmica da incorporação imobiliária na produção espacial em Cuiabá-MT” (doutorado). Candidata: Vânia da Silva. Orientadora: professora Arlete Moysés Rodrigues. Dia 23 de agosto de 2016, às 14 horas, no auditório do IG. “Geologia, geoquímica e geocronologia dos granitos foliados da região de Peixoto de Azevedo, setor leste da província aurífera de Alta Floresta” (mestrado). Candidato: Pavel Emil Cañabi Quispe. Orientadora: professora Maria José Maluf Mesquita. Dia 25 de agosto de 2016, às 14 horas, na sala B do DGRN do IG. “Definição de prioridades e seleção de projetos de inovação em uma organização pública de pesquisa” (doutorado). Candidato: Ercilio Santos. Orientador: professor Sergio Luiz Monteiro Salles Filho. Dia 25 de agosto de 2016, às 14h30, na sala A do DGRN do IG. “Extremos de chuva na região metropolitana de Campinas: impactos, análise socioeconômica e políticas públicas” (doutorado). Candidata: Marina Sória Castellano. Orientadora: professora Lucí Hidalgo Nunes. Dia 26 de agosto de 2016, às 9h30, no auditório do IG. “Equilíbrio em geomorfologia: geossistemas, planícies de inundação e morfodinâmica dos rios Jacaré-Pepira e Jacaré-Guaçu (SP)” (mestrado). Candidato: Éverton Vinícius Valezio. Orientador: professor Archimedes Perez Filho. Dia 26 de agosto de 2016, às 9h30, na sala A do DGRN do IG. “A cooperação sul-sul em saúde brasileira: considerando conhecimentos, imaginários e práticas de uma política internacional” (doutorado). Candidata: Nicole Aguilar Gayard. Orientadora: professora Maria Conceição da Costa. Dia 26 de agosto de 2016, às 14 horas, no auditório do IG. Linguagem: ““Igual ao biscoito recheado, aquele meio a meio, meio surda, meio ouvinte”: línguas, identidades e representações em um curso superior bilíngue (LIBRAS/Língua Portuguesa)” (doutorado). Candidata: Andreza Barboza Nora. Orientadora: professora Marilda do Couto Cavalcanti. Dia 23 de agosto de 2016, às 13h30, na sala de defesa de teses do IEL. “Sofística segundo Filostrato - estudo, interpretação e tradução das \’Vidas\’” (doutorado). Candidato: Osvaldo Cunha Neto. Orientador: professor Flávio Ribeiro de Oliveira. Dia 23 de agosto de 2016, às 14 horas, na sala de videocoonferência do IEL. “Língua, arquivo e acontecimento: trabalho de rua e revolta negra na Salvador oitocentista” (doutorado). Candidato:Fábio Ramos Barbosa
Destaque do Portal
Filho. Orientador: professor Lauro José Siqueira Baldini. Dia 24 de agosto de 2016, às 10 horas, na sala de defesa de teses do IEL. “Entre o nacional e o estrangeiro: José de Alencar e a constituição da literatura brasileira em cenário internacional” (doutorado). Candidata: Valeria Cristina Bezerra. Orientadora: professora Márcia Azevedo de Abreu. Dia 25 de agosto de 2016, às 9 horas, na sala de defesa de teses do IEL. “Novos letramentos, novas práticas? Um estudo das apreciações de professores sobre Multiletramentos e Novos Letramentos na escola” (doutorado). Candidata: Ana Amélia Calazans da Rosa. Orientadora: professora Roxane Helena Rodrigues Rojo. Dia 25 de agosto de 2016, às 13h30, na sala dos colegiados do IEL. “Ler por Labirintos: literatura ergódica e letramentos no game The Legend Of Zelda: Ocarina Of Time” (mestrado). Candidato: João Reynaldo Pires Junior. Orientadora: professora Daniela Palma. Dia 25 de agosto de 2016, às 14h30, no anfiteatro do IEL. “Ser mulher, sentir a violência, enunciar os sentimentos: um olhar discursivo sobre a humilhação na condição de violência conjugal” (doutorado). Candidata: Ana Paula Peron. Orientadora: professora Monica Graciela Zoppi Fontana. Dia 26 de agosto de 2016, às 9 horas, na sala coletiva II do IEL. “O ensino de português como língua adicional em contexto de plurilinguismo: perspectivas de uma cooperante docente em Timor-Leste” (mestrado). Candidata: Helena Karla Isoppo Schmid. Orientadora: professora Terezinha de Jesus Machado Maher. Dia 26 de agosto de 2016, às 9h30, na sala de defesa de teses do IEL. “Um estudo exploratório sobre avaliação de aplicativos móveis para aprendizagem de línguas” (mestrado). Candidata: Natasha Guimarães Konopczyk Maluf Farhat. Orientadora: professora Cláudia Hilsdorf Rocha. Dia 26 de agosto de 2016, às 9h30, na sala de defesa de teses do IEL. “Uma visão dinâmica dos processos de apagamento de vogais no português brasileiro” (doutorado). Candidato: Francisco de Oliveira Meneses. Orientadora: professora Eleonora Cavalcante Albano. Dia 26 de agosto de 2016, às 13 horas, no Centro Cultural do IEL. “Escrita de caso e a neurolinguística discursiva” (doutorado). Candidata: Danielle Patricia Algave. Orientadora: professora Maria Irma Hadler Coudry. Dia 26 de agosto de 2016, às 14 horas, no anfiteatro do IEL. “Ação e renúncia na demanda goethiana pela experiência do ‘puramente humano’” (doutorado). Candidato: Marco Antônio Araújo Clímaco. Orientador: professor Mário Luiz Frungillo. Dia 26 de agosto de 2016, às 14 horas, na sala dos colegiados do IEL. “Relação parodística e deslocamento na escrita modernista brasileira” (mestrado). Candidato: Leonardo Paiva Fernandes. Orientadora: professora Suzy Maria Lagazzi. Dia 26 de agosto de 2016, às 14 horas, na sala de defesa de teses do IEL. Odontologia: “Efeito da encapsulação da vancomicina em lipossomas fusogênicos e catiônicos sobre o biofilme de staphylococcus aureus” (doutorado). Candidata: Andreia Borges Scriboni. Orientadora: professora Karina Cogo Muller. Dia 25 de agosto de 2016, às 9 horas, na Congregação da FOP. “Impacto dos desgastes das fresas na instalação de implantes dentários: análise de dois sistemas convencionais em um modelo ex vivo” (mestrado). Candidata: Pauline Magalhães Cardoso. Orientadora: professora Luciana Asprino. Dia 25 de agosto de 2016, às 14 horas, no anfiteatro 1 da FOP. Química: “Estudos sobre os efeitos elásticos de micelas gigantes no colapso de bolhas” (doutorado). Candidato: Rafael Fernando De Santi Ungarato. Orientador: professor Edvaldo Sabadini. Dia 24 de agosto de 2016, às 14 horas, no miniauditório do IQ. “Carbon dots: síntese via carbonização hidrotérmica a partir de fontes proteicas e sua interação com sistemas biológicos” (mestrado). Candidata: Liz Specian de Moraes. Orientador: professor Oswaldo Luiz Alves. Dia 26 de agosto de 2016, às 14 horas, no miniauditório do IQ.
Destaque do Portal
Á agua no centro do debate a perspectiva da espécie homo sapiens, o futuro que está pintando é o fim da espécie. Se a gente é a espécie dominante e, diferentemente dos dinossauros, é uma espécie capaz de produzir tecnologia, capaz de produzir reflexão e capaz de criar novos comportamentos para si o tempo todo, como é que não é capaz de evitar sua própria extinção?”, provocou a professora da Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo (FEC) Emilia Rutkowski, no colóquio “A água na cidade saudável, salubre e sustentável”, ocorrido no último dia 13. A palestra fez parte da série “Colóquios Unicamp Ano 50 - de professor para professor”, que celebra o cinquentenário da Universidade. A professora destacou que o problema da água no mundo hoje não é uma questão de recurso da natureza, mas sim de modelo de desenvolvimento. “Desde que o planeta é planeta, a quantidade de água não diminuiu nem aumentou. O problema é que o modelo de reprodução do capitalismo financeiro transformou água em commodity”, argumentou. “Não é uma questão de recurso, enquanto recurso da natureza. É questão do uso que a sociedade como um todo está fazendo”, completou Rutkowski. A pesquisadora traçou um panorama do processo de urbanização desde a Revolução Industrial, apontando como o desenvolvimento das cidades obedeceu uma lógica de acumulação capitalista. “A água passa de recurso natural inesgotável a recurso industrial escasso e de exploração probabilística”, explica. A alta demanda pela água passou a exigir cada vez mais uma renovação rápida e não a permitir os ciclos longos, nos
quais a água permanecia milhares de anos nos reservatórios subterrâneos. “A gente está trabalhando muito no pequeno ciclo da água. Aquele tempo de águas que ficavam em reservatórios subterrâneos 10 mil anos, passou. Ninguém está deixando isso acontecer”, alerta Rutkowski. Para a professora é fundamental pensar em termos de utopia se quisermos sobreviver enquanto espécie. Ela destaca que apenas uma sociedade na qual as pessoas sejam cidadãos plenos e se apropriem do seu entorno, poderá construir cidades saudáveis, salubres e sustentáveis.
Foto: Antoninho Perri
A professora Emilia Rutkowski fala durante o colóquio: “A água passou de recurso natural inesgotável a recurso industrial escasso e de exploração probabilística”
DE PROFESSOR
PARA PROFESSOR
Adriana Negretti, que ensina geografia para jovens adultos na rede pública e vem acompanhado de perto as comemorações dos 50 anos da Unicamp, destacou a importância do tema para o debate em sala de aula. “A água é um tema bastante presente no ensino de geografia. Tanto na geografia física quanto nas questões políticas econômicas que envolve. Na apresentação, ela fez um histórico do saneamento. Mostrou não só as questões de cunho ambiental, mas as questões políticas e econômicas por trás do tema. É isso que a geografia tenta fazer”, explica Negretti. Segundo ela, persiste uma visão de que a água é um recurso inesgotável, mas a recente crise hídrica fez com que os alunos sentissem na pele algumas das questões trabalhadas no plano teórico. “Só depois dessa estiagem em 2014-2015 que eles começaram a perceber que não é bem assim”, comentou a professora. “Como eu trabalho com adultos, eles vi-
ram a questão econômica com o aumento do custo da água. Muitos deles moram na região metropolitana de Campinas e sofreram com a falta de água”, explicou. Ralph Charles, que veio do Haiti estudar geografia na Unicamp, comparou a relevância das questões ambientais aqui e em seu país de origem. Segundo ele, no Haiti a falta informação e educação ambiental é muito grande. Por outro lado, no Brasil, ele percebe um abismo entre discurso e prática. “Aqui no Brasil tem esse conhecimento, mas nem todo mundo usa. Todo mundo fala em proteger os recursos naturais, mas proteger mesmo é outra coisa”, ressalta.
A relação entre população e território também foi apontada por Catarina Bicudo, que desenvolve mestrado no Labjor da Unicamp, como um dos pontos mais interessantes da palestra. Ela destacou a importância da compreensão de que fazemos parte do território e portanto temos que lutar para ter uma qualidade de vida melhor. “A questão hídrica é uma questão holística. Não adianta só olhar a poluição, ou a necessidade da água. É preciso olhar o todo, como as cidades estão se desenvolvendo, e as necessidades dos seres humanos”, afirmou a mestranda. (Gabriela Villen)
11 Campinas, 22 a 28 de agosto de 2016
Mapeamento socioambiental
revela primeiros resultados Fotos: Antoninho Perri
Levantamento vai subsidiar formulação do Plano Diretor da Unicamp PATRÍCIA LAURETTI patricia.lauretti@reitoria.unicamp.br
Câmara Técnica de Ambiente Urbano (CT-AU), que está realizando um diagnóstico socioambiental dos campi da Unicamp, a pedido do Grupo Gestor Universidade Sustentável (GGUS), apresentou os primeiros resultados de oficinas/teste desenvolvidas no campus de Barão Geraldo. O mapeamento foi feito, até o momento, no Instituto de Geociências (IG) e Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo (FEC), e apresentado na reunião ordinária do Conselho de Orientação Universidade Sustentável (COUS), dia 17, no auditório da Diretoria Geral de Administração. O projeto, que envolve as metodologias da cartografia social e o Green Maps ou “mapa verde”, ferramentas que relacionam nos mapas os pontos positivos, negativos e situações de conflito no espaço territorial, está sendo coordenado pela professora Emilia Rutkowski, da FEC. Estão programadas ao todo 32 oficinas com a participação de toda a comunidade universitária. “Vamos fazer uma oficina por unidade de ensino e pesquisa, uma oficina na área administrativa central, uma na área de saúde, que é diferenciada, uma de centros e núcleos, uma da área de serviços e moradia, CPQBA e no Cotuca”, afirma a professora.
Reunião do Conselho de Orientação Universidade Sustentável, realizada no último dia 17
Álvaro Crosta, coordenadorgeral da Universidade: “Um dos focos da rede é o desenvolvimento de laboratórios vivos que sirvam para definir ações sustentáveis envolvendo atividades de ensino”
O mapeamento prevê o diagnóstico socioambiental e também prognósticos, relacionando as expectativas da comunidade ao objetivo de construir uma universidade sustentável “como um laboratório vivo de sustentabilidade”, de acordo com a docente. Ela explica que o “laboratório vivo é um lugar onde você tem a aprendizagem e o ensino acontecendo em todos os seus espaços, inclusive nos espaços físicos”. Os resultados do mapeamento servirão ainda de base para o Plano Diretor da Unicamp. De acordo com Emilia, os alunos gostariam, por exemplo, de poder se apropriar de todo o campus de bicicleta, ter uma agilidade maior de uso do transporte coletivo interno, ou espaços de trabalho funcionando 24 horas. “São coisas que demandam tempo. Estamos em progresso”, salientou. O diagnóstico socioambiental começou pela Faculdade de Odontologia de Piracicaba (FOP), Faculdade de Ciências Aplicadas (FCA) e Faculdade de Tecnologia (FT). “Consideramos que estes são espaços mais contidos e com menos diversidade de ofertas de áreas diferenciadas de conhecimento, para depois entendermos como lidar com a diversidade do campus de Campinas”. O coordenador-geral da Unicamp, professor Alvaro Crósta, destacou que a iniciativa “vem na linha de atuação participativa que a CGU e a atual reitoria têm desenvolvido porque, ao mesmo tempo em que nós pensamos o espaço sustentável na Universidade, nós fazemos isso de forma pedagógica, envolvendo os alunos, que é o chamado laboratório vivo”. Crósta lembrou que há cerca de dois anos a Unicamp se filiou à rede internacional de universidades sustentáveis, a International Sustainable Campus Network (ISCM). “Um dos focos da rede é o desenvolvimento de laboratórios vivos que sirvam para definir ações sustentáveis envolvendo atividades de ensino”.
A fauna que poucos veem no campus Alunos e ex-alunos do IB produzem documentário sobre animais que vivem na Universidade Fotos: Rafael Kenji/Lucas Meireles
PATRÍCIA LAURETTI patricia.lauretti@reitoria.unicamp.br
vida selvagem é cheia de histórias. Contá-las, porém, não é fácil. Com muita criatividade, poucos recursos e a facilidade de “tropeçar” em animais diversos, um grupo de alunos e ex-alunos do curso de Biologia da Unicamp está encarando a empreitada com o maior prazer. O grupo trabalha no projeto do documentário “Unicamp Selvagem”, para o qual seus integrantes já começaram a captar imagens. A ideia é apresentar a fauna do campus de Campinas que, no dia a dia, passa despercebida pela maioria dos visitantes e da comunidade acadêmica. Os alunos montaram uma produtora e estão fazendo uma campanha para captar recursos e comprar equipamentos. O nome escolhido para a pequena empresa foi emprestado de uma ave audaciosa, que há uma década visita a sala do professor Wesley Rodrigues Silva. Gerações de cambacica já deram uma “voadinha” pela sala do docente para beber água com açúcar. A cena se repete na página do facebook da Cambacica produções. Já são mais de 3 mil de visualizações. Mas este vídeo não é o campeão de acessos. Outro pequeno vídeo com uma família de corujas buraqueiras instalada em um dos canteiros da Unicamp alcança a marca de 187 mil visualizações. As imagens são complementadas com texto e música, que trazem de maneira divertida informações sobre o animal. “O jeito mais fácil de você ensinar biologia é mostrando os bichos, as plantas. A gente faz divulgação científica, educação ambiental e mistura tudo com entretenimento”, diz Rafael Kenji, aluno de mestrado. “A gente quer que as pessoas se apaixonem pelos animais. Sem perceber elas estão aprendendo”, complementa Stella Ditt, aluna do último ano da graduação.
Pássaros fotografados no campus de Barão Geraldo: imagens são postadas em rede social
Além dos vídeos, os alunos postam fotos com histórias na página da produtora. Todo mundo faz de tudo um pouco. Filma, edita, escreve o roteiro. Ninguém tinha experiência nenhuma na área, além do fotógrafo Lucas Meirelles. Até uma “grua” - equipamento usado como suporte da câmera para fazer imagens em movimento - foi construída com peças de ferro velho. A história da produtora começou com o final de um curso dentro de uma disciplina da Biologia, oferecido pelo ex-aluno Cesar Leite, que fez mestrado em Filmagem de Vida Silvestre na Inglaterra com treinamento pela rede BBC. “Surgiu a oportunidade de a gente fazer um documentário na baía do Araçá em São Sebastião”, conta. O filme “Zoé” que fala da degradação da baía sob o ponto de vista de um caranguejo (veja na matéria) acabou selecionado para o Festival Finlandês de Filmagem de Vida Selvagem (Vaasa). Não chegou a ser finalista do certame, mas que foi o suficiente para o grupo tomar gosto pela coisa, disso ninguém duvida.
Foto: Divulgação
Grupo de alunos envolvidos no projeto do documentário: tarefas múltiplas
12 Campinas, 22 a 28 de agosto de 2016
Vertendo a mestiçagem Fotos: Divulgação
SILVIO ANUNCIAÇÃO silviojp@reitoria.unicamp.br
chamada literatura chicana, uma manifestação cultural que trata da cultura mexicana dentro dos Estados Unidos (EUA), foi investigada pela linguista da Unicamp Thaís Ribeiro Bueno no âmbito das teorias de tradução. Entre os principais apontamentos, o estudo revelou que este tipo de literatura, também conhecido como de fronteira, impõe desafios adicionais ao tradicional modelo linguístico nacionalista de tradução, ainda dominante nos dias atuais. Para a pesquisadora da Unicamp, os projetos de tradução baseados no modelo nacionalista apoiam-se em uma noção do ato tradutório como transposição de informações, de uma “língua-fonte” para uma “língua-alvo”, identificando os idiomas como blocos homogêneos, estanques e unificados. “A tradução da chamada literatura chicana para o inglês, por exemplo, tem se tornando um problema justamente porque essa literatura se inscreve em um universo cultural desenvolvido a partir de um longo e contínuo processo de mestiçagem. A literatura chicana traz inúmeros traços do domínio do hibridismo linguístico, que desafia o modelo tradicional de tradução, calcado no mito da cultura monolíngue”, expõe a autora do estudo. A investigação conduzida por Thaís Bueno integrou doutorado sobre o tema defendido recentemente junto ao Programa de Pós-Graduação em Linguística Aplicada do Instituto de Estudos da Linguagem (IEL) da Unicamp. A professora Maria Viviane do Amaral Veras, que atua no Departamento de Linguística Aplicada do IEL, supervisionou a pesquisa. Por meio do programa de Doutorado Sanduíche no Exterior, financiado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), a linguista graduada pela Unicamp fez estágio como visiting research student na Universidade da Califórnia, em Berkeley (UC Berkeley). Coube à professora e pesquisadora americana Candace Slater a supervisão dos estudos em Berkeley. As considerações apontadas pelo estudo da Unicamp indicam, conforme a linguista, a necessidade de reformulação de concepções tradicionais do campo das teorias de tradução, além da adoção de perspectivas menos calcadas em noções nacionalistas de língua e cultura. “Torna-se necessária a adoção de novas percepções a respeito do ato de traduzir para que tenhamos possibilidades reais de diálogos e articulações entre as teorias de tradução e literaturas produzidas em contextos de culturas minoritárias, como é o caso da chicana. Repensar as antigas e tradicionais concepções de tradução revela-se, portanto, uma tarefa urgente quando nos confrontamos com literaturas de fronteira.”
Publicação Tese: “Literatura chicana e tradução – transbordamentos aproximações à frontera” Autora: Thaís Ribeiro Bueno Supervisoras: Maria Viviane do Amaral Veras (IEL) e Candace Slater (UC Berkeley) Unidade: Instituto de Estudos da Linguagem (IEL) Financiamento: Capes
Casal na fronteira México-Estados Unidos
RESISTÊNCIA, APAGAMENTO E CAPITALISMO Thaís Bueno acrescenta que a própria literatura chicana constitui-se numa ação de resistência política e desobediência aos limites nacionalistas de tradução. A autora do trabalho explica que esta literatura de fronteira é entremeada pelo uso recorrente de diferentes idiomas, como o inglês, diversas variedades regionais do espanhol e o nahuatl, língua falada pelos astecas desde o período pré-colonial e até hoje usada por uma parcela de mexicanos. “Os autores chicanos trazem de forma quase proposital essa mistura de línguas, como uma espécie de resistência. E a tradução, como é tradicionalmente conhecida, não consegue acompanhar isso, muito por conta deste modelo nacionalista e também por uma questão muito mercadológica, do capitalismo mesmo”, afirma. Em relação ao aspecto comercial, Thaís Bueno explica que o objetivo das editoras com os quais os autores firmam contratos é a venda de livros para o grande público estadunidense, que não é composto, em sua maioria, por chicanos. Por este motivo, explica a autora da tese, ocorre um apagamento das marcas de hibridismo linguístico.
Thaís Ribeiro Bueno, autora da tese: “A literatura chicana traz inúmeros traços do domínio do hibridismo linguístico, que desafia o modelo tradicional de tradução, calcado no mito da cultura monolíngue”
“Os recursos linguísticos usados pelos autores como uma defesa ideológica da cultura chicana acabam sendo reprimidos e apagados. Tais traduções apagam quaisquer traços de hibridismo cultural expresso no texto e, por fim, invalidam o projeto literário e político dos autores chicanos.” O apagamento das marcas literárias do hibridismo chicano deve ser compreendido, segundo a pesquisadora da Unicamp, no contexto de assimilação da cultura mexicana pela cultura dominante norte-americana. Isso ocorre a partir das primeiras ondas de imigração de mexicanos para os Estados Unidos e, mais intensamente, com o Tratado de Guadalupe Hidalgo. Firmado como alternativa para o fim da guerra entre México e Estados Unidos, o Tratado determinaria, em 1848, a anexação de parte do território mexicano pelos norte-americanos. “Esse histórico de imigração, que é uma história violenta de desterritorialização, de ruptura de heranças culturais, vem desde 1848, quando foi firmado o Tratado de Guadalupe Hidalgo. Pelo tratado, a fronteira entre Estados Unidos e México foi estabelecida tal qual ela é hoje. Além disso, o tratado estabeleceu que os Estados Unidos poderiam anexar um território mexicano, correspondente hoje a Califór-
nia, Arizona, Novo México e Texas. E é por isso que nessa região há tantos descendentes de mexicanos: antigamente, a região era uma terra mexicana.” A linguista da Unicamp acrescenta que muitos historiadores garantem que o tratado inaugurou uma espécie de consciência chicana. “A comunidade chicana seria aquela composta por pessoas que têm ‘um pé’ em cada uma das duas culturas: a estadunidense e a mexicana.”
BORDERLANDS/LA FRONTERA Em seu estudo, Thaís Bueno toma como ponto de partida o livro Borderlands/La Frontera – The New Mestiza, da feminista chicana Gloria Anzaldúa. A partir da obra, referência literária e acadêmica sobre o tema da imigração de fronteira México-EUA, a linguista promove reflexões acerca dos limites que textos como esse impõem às teorias de tradução. “O trabalho não teve o objetivo de fazer uma análise comparativa de traduções, é mais uma proposta de reflexão a partir das tensões reveladas nesta obra”, esclarece. A partir de um olhar atento às tensões teóricas e à problemática levantada por Anzaldúa em Borderlands/La Frontera e também em outras obras da literatura chicana, a linguista desenvolveu uma análise paralela de como os dois campos em questão – o das teorias de tradução e o da literatura chicana – propõem análises e questionamentos sobre língua, cultura e a própria tradução. “Com a articulação de elementos teóricos desses campos e com base em teorias de orientação pós-estruturalista, eu concluo que ambos apresentam possibilidades de enriquecimento mútuo, sobretudo no que tange à necessidade de superação da perspectiva nacionalista e das fronteiras políticas e à adoção de modelos que pensem a tradução como exercício do respeito à diferença.” A autora do estudo informa ainda que a obra de Gloria Anzaldúa põe em relevo, a partir de diversos gêneros e idiomas, o contexto da imigração ilegal e a situação da mulher chicana, sujeita a inúmeras esferas de opressão - de raça, gênero, orientação sexual, classe, entre outras. “O próprio título do livro já se apresenta em dois idiomas. A autora propõe várias questões da identidade chicana e, especificamente, sobre quem é a mulher chicana. Trata-se, acima de tudo, de uma proposta teórica construtiva para olharmos de forma interseccional para essas pessoas e toda a mestiçagem que compõe a cultura chicana.”