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Campinas, 12 a 18 de setembro de 2016 - ANO XXX - Nº 668 - DISTRIBUIÇÃO GRATUITA
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CORREIOS
FECHAMENTO AUTORIZADO PODE SER ABERTO PELA ECT Foto: Felipe Bomfim
DOS ORIXÁS AO SAMBA DE BUMBO
Arte, celebração e resistência
na Campinas negra 6 7
Três filmes e documentários dirigidos pelo professor Gilberto Alexandre Sobrinho, do Instituto de Artes (IA), revelam a importância e o papel central – apesar das tentativas de apagamento – da cultura negra na formação da cidade de Campinas.
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Método inovador quantifica princípio ativo em fármacos Semelhantes se atraem no Twiter, demonstra estudo
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O mestre de capoeira Jacinto Rodrigues da Silva em cena de “Diário de Exus”, filme que integra a trilogia
Fluxo de cálcio no coração diminui com envelhecimento
Cientista ‘residente’ amplia produção de vilas rurais
A arte da sobrevivência da Bienal de São Paulo
Competidor virtual aumenta engajamento de pesquisador
Nanopoluentes urbanos são achados em tecido cerebral
TELESCÓPIO
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TELESCÓPIO
CARLOS ORSI carlos.orsi@reitoria.unicamp.br
Fotos: ESA/Divulgação
Robô encontrado em cometa No início de setembro, a Agência Espacial Europeia (ESA) divulgou uma imagem do robô Philae, lançado em 2014 sobre o cometa 67P/Churyumov– Gerasimenko pela sonda Rosetta. Philae teve um pouso complicado, quicando inesperadamente após fazer contato com a superfície do cometa e indo parar numa área pouco iluminada pelo Sol – ou seja, com pouca energia disponível – e numa posição inadequada para a transmissão de dados. Ainda assim, conseguiu comunicar-se brevemente com Rosetta, enviando dados científicos por um curto período em 2015. A imagem transmitida agora pela Rosetta permite, pela primeira vez, que cientistas determinem a localização e a posição precisas do robô, o que terá impacto na interpretação dos dados coletados. A imagem de Philae marca o estágio final da missão Rosetta: a sonda deve colidir com o cometa, destruindo-se, no fim deste mês.
Sequência de fotos do cometa 67P/Churyumov– Gerasimenko (visão geral no alto, à direita), mostrando, no destaque, a localização do robô Philae
Pernas na água
Nanopoluição no cérebro
A transição evolucionária dos peixes para os tetrápodes – animais dotados de quatro membros – é um dos principais eventos na evolução dos vertebrados, mas o modo de vida desses primeiros animais dotados de pernas, na passagem da água para a terra, ainda é pouco compreendido. Trabalho publicado na revista Nature aponta que um importante grupo de fósseis de tetrápodes primitivos, datado de mais de 300 milhões de anos atrás, contém animais que morreram jovens e viviam na água. “Um prolongado estágio juvenil com membros não ossificados, durante o qual os indivíduos cresciam até quase o tamanho final, era seguido por um estágio juvenil de crescimento lento, com membros ossificados, que durava por pelo menos seis anos em alguns indivíduos”, afirma o artigo, de autoria de pesquisadores europeus. “O início tardio da ossificação dos membros sugere que os jovens eram exclusivamente aquáticos, e a predominância de jovens na amostra sugere uma distribuição segregada de filhotes e adultos, pelo menos em certos períodos”.
Minúsculas partículas esféricas de magnetita, um óxido de ferro dotado de propriedades magnéticas, foram encontradas no tecido cerebral de 37 pessoas, informa artigo publicado no periódico PNAS. Essa magnetita difere, em tamanho e forma, das partículas magnéticas produzidas por processos biológicos, mas é muito semelhante à encontrada na poluição urbana. De acordo com nota divulgada pela PNAS, as nanopartículas esféricas aparecem no cérebro acompanhadas de traços de outros metais, como cobalto, platina e níquel. As esferas têm cerca de 150 nm de diâmetro, sendo pequenas o bastante para chegar ao cérebro a partir do nervo olfativo e devem fazer parte da poluição industrial presente no ar das cidades, informa o trabalho, de autoria de pesquisadores do Reino Unido e do México. “Esta descoberta é importante”, escrevem os autores, “porque a magnetita de nanoescala pode responder a campos magnéticos externos, estando implicada na produção de espécies reativas de oxigênio (ROS)”. O artigo aponta que a superprodução de ROS no cérebro está ligada a doenças degenerativas como o Alzheimer.
Cientista no local
Internet contra a opressão?
Um programa chinês chamado “Science and Technology Backyard” (“Quintal de Ciência e Tecnologia”), em que cientistas da área agrícola passam a morar em vilas rurais e a conviver com pequenos produtores, trocando informações e experiências, conseguiu elevar o rendimento das áreas plantadas de modo significativo, informa artigo publicado na revista Nature. De acordo com o trabalho, assinado por pesquisadores baseados na China e nos Estados Unidos, a intervenção reduziu substancialmente a chamada “lacuna de rendimento” – diferença entre a produção teoricamente esperada e real – de plantações de milho e trigo na região chinesa de Quzhou, entre 2009 e 2014. Nas 71 propriedades mais bem-sucedidas, a proporção do rendimento esperado efetivamente obtido passou de 68% para 97%; na totalidade das mais de 90 mil áreas da região, o salto foi de 63% para 80%.
O controle estatal sobre o acesso à internet, exercido em diversos países em desenvolvimento, impede que populações marginalizadas cheguem à rede e possam usá-la como meio de libertação, diz artigo publicado na revista Science. Quando é o governo quem escolhe onde haverá pontos de acesso, a internet torna-se mais disponível em áreas dominadas por etnias ou grupos que já dispõem de grande poder na sociedade. O estudo, de autoria de pesquisadores baseados na Europa, descobriu que, mesmo controlando fatores como dificuldade de acesso geográfico e desigualdade econômica, a desigualdade digital revela um “viés político forte e persistente”. “A discriminação digital politicamente motivada, contra grupos étnicos marginalizados, que identificamos nesta análise constitui um desafio para os proponentes da libertação pela tecnologia”, diz o texto publicado na Science. Os autores prosseguem: “Em muitos países, o acesso às modernas tecnologias (...) é determinado pelos governos nacionais. Como demonstramos, isso pode levar a um fornecimento seletivo de comunicação digital, com os governos estendendo esses serviços primariamente a grupos favorecidos politicamente”.
Namoro online Usuários de sites de encontros – onde pessoas vasculham perfis online em busca de um parceiro ideal – apoiam-se muito mais em critérios de exclusão do que de inclusão: a principal preocupação parece ser eliminar o maior número possível de candidatos inadequados, e não focalizar no ideal. A conclusão vem de uma análise estatística de mais de um milhão de interações entre usuários de um site de namoros, publicada no periódico PNAS. Os autores do trabalho, baseados na Universidade de Michigan, acreditam que o algoritmo desenvolvido para essa análise poderá ser útil no tratamento de outras grandes massas de dados – envolvendo, por exemplo, campos como a política e a economia – em busca dos padrões que as pessoas seguem na hora de tomar decisões. “Dados de atividades online (...) possibilitam estudar o comportamento humano com uma riqueza e granularidade sem igual”, escrevem os autores. “No entanto, a pesquisa tipicamente se debruça sobre modelos estatísticos que enfatizam associações entre variáveis, em vez do comportamento dos agentes humanos”.
Vantagem da voz grossa Machos de espécies de mamíferos terrestres onde os animais do sexo masculino são muito maiores que as fêmeas têm uma voz ainda mais grave do que seria de se esperar a partir das dimensões reais do indivíduo. Artigo publicado no periódico Nature Communications aponta que esse fato gera uma ilusão exagerada de tamanho, o que ajuda o animal a atrair fêmeas. A voz tende a se tornar naturalmente mais grossa à medida que o corpo cresce, por causa da expansão proporcional da laringe e de outros órgãos ligados à vocalização. Mas, em algumas espécies de mamífero, os machos contam com adaptações específicas que garantem uma voz ainda mais grave do que seria esperado com base apenas no tamanho do corpo. Uma hipótese busca explicar isso como uma forma encontrada pela evolução para aproveitar a preferência das fêmeas por machos maiores, sem o necessário investimen-
to de recursos e energia no tamanho real do corpo masculino. A nova pesquisa comparou as características vocais e o tamanho corporal em 72 espécies de mamíferos terrestres, incluindo leões, chimpanzés e seres humanos. “Esta investigação confirma que a seleção sexual favorece (...) um exagerador acústico de tamanho”, escrevem os autores, de universidades da Irlanda e Inglaterra.
Pressão virtual Sentir-se deixado para trás pela competição – mesmo uma competição falsa, virtual – aumenta o engajamento de voluntários em projetos científicos, sugere um pequeno estudo realizado nos Estados Unidos, descrito no periódico Journal of the Association for Information Science and Technology. O trabalho, que teve como base uma iniciativa de “citizen science” da Universidade de Nova York, envolveu 120 voluntários inscritos num projeto de monitoramento ambiental, o Brooklyn Atlantis. Nesse projeto, cidadãos são convidados a analisar fotografias tiradas por um robô que nada num rio poluído e a identificar os objetos que aparecem nas imagens – sejam pedaços de lixo, animais ou, mesmo, pessoas. Para a realização do experimento sobre o poder da competição, a interface do programa mudou para registrar a performance de um “parceiro virtual”, que supostamente também estaria envolvido na atividade de identificar as imagens. A performance era medida pelo número de imagens trabalhadas. Esse “parceiro”, na verdade, era um algoritmo. Parte dos 120 voluntários passou a ver o desempenho de um parceiro que “trabalhava” mais do que eles no projeto (a interface revelava que o parceiro havia identificado mais imagens que o voluntário); parte, um parceiro que trabalhava menos; parte, um voluntário com desempenho igual. Outros dois grupos ganharam um parceiro com desempenho independente, e um último foi mantido sem parceiro, como controle. No fim, o grupo que era consistentemente superado pelo parceiro foi o que trabalhou mais durante o estudo; o grupo com o parceiro ineficiente foi o mais preguiçoso. “Nossos resultados demonstram que a contribuição dos participantes pode ser ampliada pela presença de um parceiro virtual, criando um ciclo de retroalimentação onde os participantes tendem a aumentar ou reduzir suas contribuições em resposta à performance do parceiro”, diz o artigo. “Ao incluir parceiros virtuais que sistematicamente superam os participantes, demonstramos um aumento de quatro vezes na contribuição ao projeto”.
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Elaborado pela Assessoria de Imprensa da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Periodicidade semanal. Correspondência e sugestões Cidade Universitária “Zeferino Vaz”, CEP 13081-970, Campinas-SP. Telefones (019) 3521-5108, 3521-5109, 3521-5111. Site http://www.unicamp.br/ju e-mail leitorju@reitoria.unicamp.br. Twitter http://twitter.com/jornaldaunicamp Assessor Chefe Clayton Levy Editor Álvaro Kassab Chefia de reportagem Raquel do Carmo Santos Reportagem Carlos Orsi, Carmo Gallo Netto, Isabel Gardenal, Luiz Sugimoto, Manuel Alves Filho, Patrícia Lauretti e Silvio Anunciação Fotos Antoninho Perri e Antonio Scarpinetti Editor de Arte Luis Paulo Silva Editoração André da Silva Vieira Vida Acadêmica Hélio Costa Júnior Atendimento à imprensa Ronei Thezolin, Gabriela Villen, Valerio Freire Paiva e Eliane Fonseca Serviços técnicos Dulcinéa Bordignon Assine o jornal on line: www.unicamp.br/assineju
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Na medida exata LUIZ SUGIMOTO sugimoto@reitoria.unicamp.br
estes tempos em que o movimento pela “química verde” ganha força, pesquisadores da Unicamp contribuem com uma metodologia inovadora, rápida e barata para quantificação de ingredientes ativos em medicamentos, a partir de um mero papel de filtro e utilizando uma quantidade ínfima de solvente em comparação com métodos tradicionais. A técnica, que promete causar impacto na indústria farmacêutica, é apresentada em artigo aceito pelo Scientific Reports, do grupo Nature, sob o título “Capillary-induced Homogenization of Matrix in Paper: A Powerful Approach for the Quantification of Active Pharmaceutical Ingredients Using Mass Spectrometry Imaging”. O artigo é assinado por Maico de Menezes, Diogo Noin de Oliveira e Rodrigo Ramos Catharino, todos do Laboratório Inovare de Biomarcadores, da Faculdade de Ciências Médicas (FCM). A nova metodologia é resultado da dissertação de mestrado do farmacêutico Maico de Menezes, orientada pelo professor Rodrigo Catharino. O objetivo geral foi a quantificação do insumo farmacêutico ativo (IFA) da rosuvastatina, medicamento para reduzir os níveis de colesterol e de triglicérides, através da técnica de espectrometria de massas por imagem (MSI); e, como objetivos específicos, desenvolver um novo modelo de quantificação de IFAs através da impregnação de matriz em papel, comparando os resultados com a cromatografia líquida de alta eficiência (HPLC), técnica analítica tradicional validada por órgãos governamentais e a mais utilizada nas indústrias farmacêuticas. Menezes explica que a análise quantitativa de ingredientes farmacêuticos ativos desempenha um papel importante na rotina destas indústrias, que devem obedecer às Boas Práticas de Fabricação de Medicamentos (BPF) determinadas pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). “Para garantir a máxima segurança do produto, as diretrizes requerem testes especiais. Abordagens cromatográficas como o HPLC são amplamente utilizadas visando controlar tanto IFAs como solventes residuais e outras substâncias impuras em comprimidos, cápsulas e uma vasta gama de formas de dosagem. A maioria dos medicamentos precisa passar por esses testes para sua certificação.” Segundo o autor da dissertação, o novo método apresentou resultados comparáveis aos do HPLC, com a vantagem de se mostrar bem mais rápido, seletivo, econômico e gerando baixo resíduo. “Eu trabalho em uma indústria farmacêutica que gera 20 litros de solvente por análise de HPLC, a custo elevado e sem poder jogá-los na natureza – há empresas especializadas que são contratadas para fazer o descarte correto. Com esta técnica, não se gasta 100 mililitros, é uma diferença absurda na geração de resíduos e uma grande economia, pois praticamente inexiste gerenciamento de solventes.” Maico Menezes afirma que a espectrometria de massas é uma técnica muito utilizada para análises de insumos farmacêuticos ativos, impurezas e degradantes. “Neste trabalho foi empregada uma nova estratégia: um papel de filtro previamente ‘eluído’ com uma solução de matriz para Maldi [Matrix-assisted laser desorption/ ionization] – um equipamento ainda desconhecido pela indústria. As amostras foram submetidas ao espectrômetro de massas por imagem e sua quantificação feita através das impressões digitais características. A aplicação da nova técnica é imensa, indo da determinação de marcadores de doenças até de fase de processos.” Para o professor Rodrigo Catharino, o melhor da pesquisa veio logo no início, quando foi promovida a modificação estrutural do papel para que incorporasse de forma homogênea a matriz – substância que revela o princípio ativo do medicamento. “A inserção do papel no Maldi para análise de quantificação possibilita dados muito mais refinados em comparação à técnica clássica. Além disso, há o barateamento do processo, já que usamos papel comum ao
Metodologia rápida, barata e inovadora quantifica princípios ativos em medicamentos
Fotos: Antoninho Perri
invés de lâminas de aço inox ou de vidro como base. Outra inovação está no próprio suporte do Maldi Imagine, que é mais comumente utilizado para histologia (visualização de tecidos ou células) e muito pouco para quantificação.” Catharino observa que, embora a indústria precise adquirir o equipamento, a tecnologia está aberta e a transferência é quase imediata. “A técnica também pode ser aplicada para cosméticos, diagnósticos clínicos, alimentos e inúmeras outras áreas, com resultados imediatos e precisos, o que é um sonho destas indústrias. É uma técnica que começou a ser desenvolvida aqui na Unicamp, mas que serve a várias vertentes – e tudo isso através de uma dissertação de mestrado que traz inovação, mostrando sua importância com a publicação em revista de alto impacto, do grupo Nature.”
QUÍMICA VERDE Diogo Noin de Oliveira, farmacêutico e pesquisador do Laboratório Inovare, também assina o artigo como um dos responsáveis pela viabilização do uso de papel como base para técnica analítica. “Estamos trabalhando com este conceito há alguns anos: começamos com uma abordagem clássica na lâmina de inox, evoluímos para a placa de sílica, que tem capacidade maior de absorção, e agora estamos no papel com a matriz integrada. Com essas técnicas estamos procurando facilitar e baratear os custos da análise e de manejo, e também trazendo elementos da chamada química verde, economizando solvente e gerando impacto muito menor em termos de resíduos.” Oliveira reitera que os resultados apresentam diferença mínima comparativamente à técnica clássica disseminada na indústria, com a balança pendendo deste lado devido aos menores custos e uso de solvente, bem como da maior segurança na identificação. “O tempo de análise também é muito interessante para indústria: o resultado vem em minutos ou mesmo em segundos, quando em outras circunstâncias demoraria até horas. Outro ponto interessante é que o monitoramento pode ser feito online, seja durante a produção, em estudo de estabilidade (condições de armazenamento) e verificando um ativo ou produto de degradação. Não é preciso desenvolver um método para cada ativo ou impureza, é uma roupa que serve a todos.”
O papel de filtro e o solvente: técnica deve causar impacto na indústria farmacêutica
O professor Rodrigo Catharino não esconde sua empolgação com a nova técnica, que considera revolucionária, sem nada similar no mundo. “Não é atraente para o nosso grupo apenas copiar algo de fora e adaptá-lo ao Brasil. Queremos justamente inovar, que nos copiem. Estamos adotando tecnologias que já existem e transformando-as para oferecer respostas pontuais em termos de quantificação e determinação de compostos, através de análise rápida e efetiva. É importante, também, ter um pesquisador da indústria conosco, levando a informação de que existe uma tecnologia que baratearia o custo operacional. Ainda que ela não seja aplicada imediatamente, será realidade no futuro, pois é revolucionária.”
O professor Rodrigo Catharino (centro), orientador das pesquisas, com Maico de Menezes (à esq.), autor da dissertação, e o farmacêutico Diogo Noin de Oliveira: artigo publicado em revista de alto impacto
Catharino ressalta ainda que a escolha da rosuvastatina não se deu por acaso, e sim por ser considerada uma “superestatina”, apresentando menos efeitos colaterais e pedindo dosagens menores que suas antecessoras (a mevastatina descoberta em 1976, a lovastatina aprovada em 1987 e a atorvastatina de 2002). A partir de 2004, a rosuvastatina foi aprovada em 154 países e lançada em 56 deles, tornando-se o medicamento para baixar o colesterol mais vendido no mundo. “Outra motivação para a escolha desse fármaco é que temos um grupo grande de pesquisadores trabalhando com a obesidade causada por diabetes”, finaliza o professor.
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Os semelhantes se atraem Estudo do IC constata que usuários do Twitter se conectam majoritariamente com pessoas similares a eles
Imagens: Divulgação
MANUEL ALVES FILHO manuel@reitoria.unicamp.br
esquisa realizada para a dissertação de mestrado do cientista da computação Felipe Maciel Cardoso investigou a presença da homofilia no Twitter. O termo designa a tendência das pessoas se relacionarem com indivíduos similares a elas, seja no plano real ou virtual. O autor do trabalho optou por analisar os diferentes tópicos de informação que os usuários adotam para verificar se a homofilia está presente nas relações construídas na rede social. Por meio de uma modelagem matemática desenvolvida especificamente para o estudo, Cardoso constatou que alguns usuários estão majoritariamente conectados com as pessoas mais similares a eles em toda a rede, e que a similaridade por tópicos é um forte indicador para a predição das conexões. Parte da pesquisa do cientista da computação foi realizada na Universidade de Zaragoza, na Espanha, graças a uma bolsa concedida pelo Programa Santander de Mobilidade Internacional. No Brasil, o trabalho teve orientação do professor André Santanchè, do Instituto de Computação (IC) da Unicamp. Segundo Cardoso, a parceria com a instituição espanhola foi importante por diversos motivos, entre eles o fato de a universidade possuir um banco de dados com informações e mensagens de cerca de 4 milhões de usuários do Twitter, moradores da Inglaterra e Irlanda. “Nós também obtivemos dados de outras fontes para compor o estudo”, explica Cardoso. Os cientistas espanhóis, que têm vasta experiência em pesquisas que englobam relações sociais, tinham interesse em investigar que relações emergiam das conexões entre esses usuários. “Ao estudar o conjunto de dados disponíveis, eu percebi que a análise se enquadrava no tema da homofilia, que é a tendência das pessoas se conectarem de acordo com a sua similaridade”, relata o cientista da computação. Cardoso explica que a escolha do Twitter se deu porque a rede social é utilizada como meio para consumo e compartilhamento de informação, diferentemente do Facebook, que serve mais às relações de amizade. Para tentar verificar a presença da homofilia neste ambiente virtual, Cardoso desenvolveu um modelo matemático capaz de analisar os tópicos de informação que circulam pela rede. “Os tópicos de informação são aqueles que reúnem conteúdo em torno de um tema em comum, como futebol, política, cinema, entre outros”, diz o pesquisador. Segundo ele, existe a intuição de que, havendo similaridade entre as pessoas, é possível que elas se tornem amigas ou tenham um relacionamento amoroso. “Mas será que isso é refletido no Twitter? Em que grau? Estas eram questões para as quais queríamos buscar respostas”, pontua. Após promover o tratamento e a análise dos dados, Cardoso constatou que, na média, os usuários da rede social estão conectados a pessoas similares a eles e que interações mais fortes estão relacionadas com uma alta similaridade por tópicos. “Nós também verificamos que, quando são considerados apenas os usuários dentro de um tópico, a homofilia se
Conjuntos de hashtags que compõem alguns tópicos de informação investigados na dissertação
Fotos: Antonio Scarpinetti
Felipe Maciel Cardoso, autor da dissertação: trabalho contribui para melhor entendimento de como sistemas sociais complexos são estruturados
André Santanchè, orientador da pesquisa: “Nos estudos que realizamos, tentamos interpretar fenômenos que ocorrem em forma de rede. Esses fenômenos podem ser desde a relação entre pessoas, como no caso do estudo aqui tratado, até a relação entre animais ou neurônios”
manifesta diferentemente de acordo com o tópico. Ou seja, ela está relacionada com a semântica do tópico. Nós creditamos que esta pesquisa, além de fornecer uma maneira de aferir similaridade por tópicos, aumenta as evidências de homofilia entre indivíduos, contribuindo para um melhor
entendimento de como sistemas sociais complexos são estruturados”, avalia o autor da dissertação. A homofilia, esclarece Cardoso, pode ocorrer por escolha ou indução. A primeira, como a nomenclatura revela, tem origem na decisão da pessoa de se relacionar
com alguém similar a ela. Vem, portanto, da preferência individual. Já a segunda surge das oportunidades de conexão. “Por hipótese, há pessoas que podem se conectar a partir de questões étnico-raciais, não porque elas tenham priorizado isso, mas porque as estruturas sociais não permitem que se relacionem com pessoas de outras origens. Nesses casos, as relações apresentam graus diferentes de homofilia”, afirma. Fazer esse tipo de identificação, reconhece Cardoso, não é uma tarefa trivial. “Nós não nos aprofundamos nesse tema na dissertação, mas é algo que talvez eu explore numa nova pesquisa”. O cientista da computação foi convidado e aceitou fazer o doutorado na Universidade de Zaragoza. “Lá, devo continuar pesquisando na área da ciência social computacional. Evidentemente, o enfoque da pesquisa vai depender de uma conversa com meu orientador”, pondera. De acordo com o professor André Santanchè, a dissertação desenvolvida por Cardoso está inserida numa linha de pesquisa que ele coordena, cujo foco são as chamadas redes complexas. “Nos estudos que realizamos, tentamos interpretar fenômenos que ocorrem em forma de rede. Esses fenômenos podem ser desde a relação entre pessoas, como no caso do estudo aqui tratado, até a relação entre animais ou neurônios. A ideia de trabalharmos com uma rede social nos foi trazida pelo Felipe Cardoso”, detalha. Os estudos que compõem a linha de pesquisa, prossegue o docente, tem caráter interdisciplinar e sempre buscam a aplicação. “Nós procuramos estabelecer colaborações com colegas de outras áreas, visto que muitos problemas que abordamos não se restringem a somente um campo do saber. As parcerias nem sempre são fáceis de serem concretizadas, mas quando acontecem tendem a gerar bons resultados. É o caso da dissertação feita pelo Felipe Cardoso. Foi a primeira vez que orientei um mestrado sanduíche. Penso que a parceria com os colegas espanhóis foi muito produtiva e deverá gerar novas cooperações”, antevê Santanchè.
Publicação Dissertação: “Homofilia por tópicos em uma rede social online” Autor: Felipe Maciel Cardoso Orientador: André Santanchè Unidade: Instituto de Computação (IC)
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Envelhecimento altera fluxo de cálcio no coração, revela estudo Fotos: Antonio Scarpinetti
Pesquisa demonstra que uma das consequências é a limitação da contração do miocárdio SILVIO ANUNCIAÇÃO silviojp@reitoria.unicamp.br
m estudo de pesquisa básica desenvolvido na Unicamp traz uma série de conhecimentos novos sobre o transporte e a regulação do cálcio no coração humano. Os íons de cálcio, espécie eletricamente carregada do elemento, são responsáveis por iniciar o processo de contração muscular cardíaca, que pode estar alterado em doenças associadas ao mau funcionamento do coração. O estudo da Unicamp avaliou, entre outras questões, se fatores como o sexo e a idade do indivíduo afetam o transporte de íons de cálcio no miocárdio, músculo do coração que possui funcionamento autônomo e involuntário. Os resultados dos experimentos revelaram uma importante influência do envelhecimento sobre essa questão. Conforme a idade do indivíduo avança, há uma tendência de redução na liberação de cálcio pelo retículo sarcoplasmático, estrutura celular responsável pelo armazenamento e liberação deste íon. De acordo com os pesquisadores, isto pode limitar a contração do miocárdio. “Nos últimos cem anos, as doenças cardiovasculares foram as que mais resultaram em óbitos no mundo, conforme dados de 2011 da Organização Mundial de Saúde. Por outro lado, a expectativa de vida tem aumentado bastante, sobretudo no Brasil. Há uma estimativa de que, em 2030, mais de 13% da população brasileira estará acima dos 65 anos. Entender, portanto, como o envelhecimento afeta a função do sistema cardiovascular, em particular do coração, é importante para a prevenção de doenças e melhoria das condições de vida do idoso”, situa Jair Trapé Goulart, um dos autores do trabalho. Jair Goulart defendeu recentemente tese de doutorado sobre o tema. O projeto, conduzido no Centro de Engenharia Biomédica (CEB) da Unicamp, é coordenado pelos professores José Wilson Magalhães Bassani, docente da Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação (FEEC) da Unicamp, e Rosana Almada Bassani, pesquisadora do CEB. Também integram o grupo os médicos e docentes Orlando Petrucci Jr., Pedro Paulo Martins de Oliveira e Lindemberg da Mota Silveira Filho, da equipe de cirurgia cardíaca da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) e do Hospital das Clínicas (HC); o residente Felipe A. S. Souza; e o médico Karlos Alexandre de Sousa Vilarinho, também do HC. Parte do doutorado de Jair Goulart foi desenvolvida no Laboratory for Cardiovascular Experimental Electrophysiology and Imaging, da Georg-August-Universität Göttin-
O professor José Wilson Magalhães Bassani, coordenador do projeto: “O transporte de cálcio é fundamental para a função contrátil do coração, e, como é a contração cardíaca que promove o bombeamento de sangue para todo o organismo, em última análise, ele é fundamental para a sobrevivência do indivíduo”
gen, localizado na Alemanha. No laboratório, coordenado pelo professor Lars S. Maier, o pesquisador da Unicamp trabalhou em técnicas de isolamento das células do coração de pacientes humanos. Os estudos nesta área inserem-se no âmbito da linha de pesquisa “Transporte e regulação do cálcio no coração”, coordenada por José Wilson e Rosana Bassani. O projeto recebeu financiamento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ); da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes); e do Programa Ciência sem Fronteiras.
COMPREENDENDO O CORAÇÃO SAUDÁVEL A pesquisadora Rosana Bassani informa que uma das principais novidades do trabalho é a inclusão, no estudo, de células vivas e intactas de indivíduos sem patologia cardiovascular conhecida. O objetivo, de acordo com ela, foi avaliar quantitativamente a participação de diferentes transportadores de cálcio (isto é, proteínas que transportam o íon) nas células do coração humano. Para isto, foram utilizadas células retiradas de corações captados de doadores para transplante de órgãos na Unicamp. “Os resultados obtidos permitiram caracterizar pela primeira vez a atuação desses transportadores no coração humano saudável. Para que se possa desenvolver e testar terapias para doenças, é preciso saber em qual alvo deve-se intervir. Antes, é preciso identificar o que funciona mal no órgão doente. Mas, para compreender isto, é necessário que se conheça como funciona o órgão sadio. Por isto são tão importantes os estudos com corações de pacientes saudáveis”, explica.
O professor José Wilson Bassani acrescenta que compreender os mecanismos do transporte de cálcio nestas condições possibilita que se crie uma referência para identificação de alterações associadas a diferentes patologias, para o desenvolvimento de novos medicamentos e de novos estudos e pesquisas na área. “O transporte de cálcio é fundamental para a função contrátil do coração, e, como é a contração cardíaca que promove o bombeamento de sangue para todo o organismo, em última análise, ele é fundamental para a sobrevivência do indivíduo. Conhecer como atuam e interagem os transportadores de cálcio em corações saudáveis é fundamental no apoio ao desenvolvimento de estratégias para tratamento de doenças que prejudicam a função cardíaca.” Neste ponto, Rosana Bassani esclarece que não é a primeira vez que se estuda transporte de cálcio em corações de humanos. “Existem grupos de pesquisa, por exemplo, nos Estados Unidos, na Espanha e na Alemanha estudando este tema. A novidade do nosso estudo foi, em primeiro lugar, fazer uma análise dinâmica desse transporte em células intactas e não cultivadas, ou seja, recém-retiradas do coração. Isto permite uma análise em condições mais próximas às reais.” Segundo a pesquisadora, outra singularidade do trabalho é o caráter quantitativo da análise, o que confere precisão aos dados, permitindo comparação, por exemplo, com outras espécies animais e entre diferentes grupos de pacientes. O uso da abordagem quantitativa só foi possível pela existência de um método de análise específico, desenvolvido na década de 1990 com a participação dos coordenadores do estudo. O método foi desenvolvido no laboratório do pesquisador Donald Bers, em Chicago, Estados Unidos.
“Esse método tem sido utilizado por pesquisadores, mas ainda não tinha sido aplicado para corações humanos. Outra novidade é que estamos buscando dados de indivíduos que não têm a doença cardiovascular. Este é um aspecto crucial do trabalho porque normalmente são utilizadas amostras de corações doentes de pacientes submetidos a cirurgias cardíacas”, salienta Rosana Bassani. A pesquisadora esclarece que foram estudadas células de átrios (câmaras do coração que recebem o sangue da circulação) tanto de corações saudáveis, quanto de pacientes de cirurgia cardíaca, sem que houvesse qualquer prejuízo ao receptor do transplante ou ao paciente cirúrgico. “Isto foi possível porque utiliza-se um pequeno fragmento do miocárdio que normalmente é descartado. O projeto recebeu aprovação da Comissão de Ética em Pesquisa da instituição”, ressalta.
OUTROS RESULTADOS
Outro resultado relevante do estudo, segundo o grupo, foi a demonstração de que cerca de 90% do transporte de cálcio em cada contração ocorre entre compartimentos dentro da própria célula cardíaca. “Em outras palavras, 90% do cálcio que se liga no aparelho contrátil no citoplasma fica armazenado no retículo sarcoplasmático. Sua liberação deste compartimento para o citoplasma durante a atividade elétrica dispara a contração, e seu posterior transporte para o retículo sarcoplasmático permite o relaxamento da célula. Isto significa que alterações na função das proteínas envolvidas nesse transporte podem ter um grande impacto na atividade contrátil do coração. Portanto, estas proteínas devem representar importantes alvos para atuação terapêutica”, explica o professor José Wilson Bassani.
Publicação
A pesquisadora Rosana Bassani, coorientadora da tese: “Os resultados obtidos permitiram caracterizar pela primeira vez a atuação de transportadores no coração humano saudável”
Jair Trapé Goulart, autor da tese:universidade alemã na rota da pesquisa
Tese: “Fluxos de cálcio carreados por diferentes transportadores em miócitos atriais humanos” Autor: Jair Trapé Goulart Orientador: José Wilson Magalhães Bassani Coorientadora: Rosana Almada Bassani Unidade: Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação (FEEC) Financiamento: CNPq, Capes e Programa Ciência sem Fronteiras
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Filmes revelam resistên cultura negra em Cam Trilogia mostra a importância de códigos e manifestações populares para PATRÍCIA LAURETTI patricia.lauretti@reitoria.unicamp.br
om a força do orixá Exu, ou de um rio, que “vai serpenteando... e por onde passa interferindo na vegetação, criando uma floresta”, a cultura popular e negra vem resistindo e driblando os livros de história, que insistem em esquecê-la. Não é diferente em Campinas. A invisibilidade das questões do negro não permite contar que a cidade já foi, por exemplo, reduto do samba de bumbo, vertente do samba paulista, ou que abriga grupos com uma trajetória de quase três décadas celebrando a cultura popular. Uma trilogia de filmes documentários realizados pelo professor Gilberto Alexandre Sobrinho, do Departamento de Multimeios, Mídia e Comunicação do Instituto de Artes (IA), procura narrar algumas dessas trajetórias. O filme mais recente, “A Dança da Amizade. Histórias de Urucungos, Puítas e Quijengues”, segundo da trilogia, aborda a história do Grupo Urucungos, Puítas e Quijengues, com sede no bairro Vila Teixeira, em Campinas. O primeiro filme foi “Diário de Exus”, lançado em 2014. Para 2017 está previsto o terceiro filme, com o título provisório “A Mulher da Casa do Arco-Íris”, sobre a trajetória de Mãe Dango, sacerdotisa do candomblé, moradora da cidade vizinha de Hortolândia, líder religiosa e comunitária, idealizadora e coordenadora da Lavagem das Escadarias da Catedral, evento anual de Campinas. “A trilogia propõe elaborar, do ponto de vista poético, narrativas que lidam com a questão do negro em Campinas, realçando seu papel central e formador na constituição cultural da cidade. Há uma presença negra muito forte na cidade e a inscrição de códigos culturais originários de Campinas e que você não encontra em outros lugares”, ressalta. E não se trata de grupos isolados, complementa o professor. “Na verdade existe uma rede tramada com vários agentes, artistas de vários fazeres, gente que há muito tempo está fazendo coisas, portanto, com espessura histórica”. Raquel Trindade é uma delas. No final dos anos 1980, a artista popular, filha do poeta Solano Trindade, foi convidada para dar aulas de danças afro-brasileiras no departamento de Dança da Unicamp. O convite partiu do então professor do IA Antônio Nóbrega. “O Celso Nunes viu, gostou muito e me convidou para as artes cênicas. Fui dar aulas de folclore, teatro negro no Brasil e sincretismo religioso, fui para a graduação e vi que só tinha um negro. Aí eu pedi à Unicamp para fazer um curso de extensão. Vieram negros que eram funcionários da Unicamp, vieram negros da comunidade de Campinas e vieram japoneses, chineses de outras graduações”, conta no documentário. O curso de extensão foi a origem do grupo Urucungos, Puítas e Quijengues, que até hoje defende o repertório ensinado por Raquel e é umas das referências do samba de bumbo, vertente do samba paulista. “Raquel desenvolveu, com o grupo, um repertório de sambas nordestinos, o maracatu, o bumba meu boi, uma série de outras manifestações, como o jongo, o samba lenço paulista, danças populares, enfim, ‘pequenas óperas’ como diz Naná Vasconcellos [percussionista pernambucano], e que não tem esse reconhecimento”, afirma Gilberto. Raquel Trindade é a primeira entrevistada no documentário “A Dança da Amizade”. Parte de uma família de artistas que
A professora Grácia Navarro e Jacinto Rodrigues da Silva, o mestre de capoeira Jahça, em “Diário de Exus”
migra de Pernambuco primeiro para o Rio de Janeiro e, depois, para São Paulo, Raquel é continuadora da obra do pai, e tem seu próprio repertório artístico estabelecido em Embu das Artes. “Solano é um dos grandes poetas da língua portuguesa, mas que também não é muito lembrado, parece haver um esforço de apagamento dessa herança”, reforça Sobrinho. Para Gilberto, o que a artista ensinou para o grupo Urucungos foi, sobretudo, o despertar para códigos culturais ligados à cultura popular aprendidos em casa, no caso dela, em Pernambuco, e isso posteriormente se traduz em performances artísticas. O mesmo acontece quando os participantes, principalmente, homens e mulheres negros, como Alceu Estevam e Ana Miranda, que têm um forte laço com a cidade, “começam a reativar na memória coisas que eles tinham visto nas suas próprias casas e que não ocupavam essa arena”. Assim foi recuperado o samba de bumbo, aquele rio que “vai serpenteando... e por onde ele passa vai interferindo na vegetação e criando uma floresta”, como diz Boni, um dos entrevistados do filme.
EXUS Se “A Dança da Amizade” se ocupa da experiência do grupo Urucungos, Puítas e Quijengues, “Diário de Exus”, o primeiro curta-metragem da trilogia é, na maior parte, ambientado na Unicamp, no curso de Artes Cênicas. A professora Grácia Navarro, também responsável pela pesquisa do filme, aparece no documentário atendendo ao pedido de uma “formatura informal” do funcionário Jacinto Rodrigues da Silva, o mestre de capoeira Jahça, que estava, naquele momento, se aposentando. A ideia então foi fazer uma peça de teatro sobre a divindade africana do Exu, com Jahça como protagonista. “O filme é uma visão um pouco mais livre sobre o negro na cidade, a partir do orixá Exu e do mestre Jahça, que foi funcionário do Restaurante Universitário e depois tornou-se ‘funcionário artista’, atuando como porteiro e mestre de capoeira junto com a graduação”. O processo de criação da peça é registrado pela câmera. “O documentário atualiza o mito do orixá Exu. Mestre Jahça é o fio condutor que conecta
os diferentes lugares onde habita essa divindade” descreve o professor. Para Gilberto, os dois primeiros filmes trazem as relações entre a universidade, a cidade e o racismo. “O lançamento da ‘Dança da Amizade’ adensa algo que já estava colocado no ‘Diário de Exus’, que é uma relação da Unicamp com parte da história da cidade que não é isenta das contradições e do racismo, já que é um grupo de cultura afro-brasileira que nasce aqui na universidade”. A trilogia está inserida nas atividades de extensão universitária. “A história do ensino superior no Brasil é uma história de exclusão dos negros. A criação dessas redes e parcerias se traduz em um projeto de extensão que deve durar. Um desdobramento do curta “A Dança da Amizade” foi uma oficina de formatação de projetos em documentário para as comunidades do Ponto de Cultura Ibaô e Urucungos. Os filmes foram favorecidos por editais do Fundo de Apoio ao Ensino, Pesquisa e Extensão (Faepex) da Unicamp, além de recursos do Fundo de Investimentos Culturais de Campinas (FICC)”. Foto: Antoninho Perri
O professor Gilberto Alexandre Sobrinho: “À medida que os filmes foram se desenvolvendo, eu tive clareza de que estava indo em outra direção, de que eu também estava falando de mim”
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ncia da mpinas
Fotos: Lillian Bento
a formação da cidade Fotos: Felipe Bomfim
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A imagem do negro nos dois primeiros curtas-metragens da trilogia retrata a beleza e a riqueza de um repertório cultural. São filmes de celebração. Nada têm a ver com a representação rotineira da pobreza e da violência presentes na televisão. Uma dessas riquezas foi registrada pela equipe de gravação que participou da “Festa do Cururuquara”, realizada anualmente, desde o dia seguinte à abolição da escravatura, em 1888, em Santana do Parnaíba. A história contada nos filmes da trilogia também diz respeito, pessoal e intelectualmente, ao docente. “Uma questão que permeia a história do documentário é a da exterioridade, são pessoas falando do outro. À medida que os filmes foram se desenvolvendo, eu tive uma clareza de que estava indo em outra direção, de que eu também estava falando de mim. A relação com outro, por meio da realização documentária, contribui, assim, para uma inspeção pessoal sobre minha própria história, um olhar pessoal sobre a formação de territórios e memórias de Campinas e um adensamento na pesquisa sobre os alcances do filme documentário, artisticamente falando.”
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Do filme “A Dança da Amizade. Histórias de Urucungos, Puítas e Quijengues”: 1) Ana Maria Miranda e Elizeus da Cruz durante apresentação do Maracatu; 2) Entrevista com Ana Maria Miranda; 3) Entrevista com Alceu Estevam; 4) Entrevista com Elizeus da Cruz; e 5) Alceu Estavam durante apresentação do Maracatu
Identidades, territórios e afetos GILBERTO ALEXANDRE SOBRINHO Especial para o JU
Tenho me ocupado sobre as relações entre as construções identitárias e o domínio do documentário brasileiro na pesquisa e no ensino em todos os níveis. Desde os filmes cinemanovistas dos anos 1960 até a robusta produção televisiva do Globo Repórter dos cineastas, a questão identitária era definida pelo expediente da nação. Deslocamentos começaram a surgir em meados dos anos 1970, desde então as relações étnico-raciais, de gênero e sexualidade, as representações periféricas e os agenciamentos da subjetividade, notadamente, a emergência da primeira pessoa diversificaram e tornaram mais complexas as relações no campo das identidades. Recentemente, passei a dirigir filmes, dei continuidade à investigação desses conceitos, interessando-me sobre a criação poética de trajetórias relacionadas ao negro. Com isso,
ampliou-se a visão sobre o alcance e os limites dos filmes, numa outra perspectiva. A convite de Grácia Navarro, em 2013, iniciei a realização de um documentário em que o motivo principal era o registro de uma peça de teatro sobre Exu, encomendada por Mestre Jahça, funcionário aposentado da Unicamp e que se identifica profundamente com essa divindade. Do convívio com Jahça, emergiu uma rede de afetos e, assim, de forma intensa, brotou a vontade de lançar um olhar cinemático sobre a cidade de Campinas, sob o ponto de vista de homens e mulheres negras que edificaram um gigante território potente e diversificado. “Diário de Exus”, filme que resultou desse trabalho, demonstra, em primeiro lugar, o meu modo de documentar, algo que aponta para um olhar em construção que define, pela imagem, os territórios negros da cidade. Desse processo, com destaque para a dissertação “Danças populares brasileiras entre a tradição e a tradução”, defendida no IA, por
Alessandro Oliveira, cheguei no grupo Urucungos, Puítas e Quijengues, e outro projeto em fina conexão com anterior começou a se esboçar. Foi no Balaio das Águas do Ponto de Cultura Ibaô que começamos o processo de filmagem de “A Dança da Amizade”, filme que conta a história do Urucungos. À medida que a equipe ia se aproximando dos territórios e das pessoas, pudemos perceber a rede de comunidades que se forma em defesa de um vasto vocabulário religioso, cultural e artístico afro-brasileiro. As amizades foram se tecendo e isso eu penso que está em cada imagem do filme. Além do registro do processo de documentação e da obsessão pela restituição dos momentos que compartilhamos, o filme revela também essa troca de afetos, de amizade e de conhecimento. N’A Dança da Amizade. Histórias de Urucungos, Puítas e Quijengues, o que o espectador vê é o transbordamento dessas relações. Voltando a 2013. Ali, comecei a filmar a Lavagem da Escadaria da Catedral de Campinas.
Esse evento, organizado por Mãe Dango e Mãe Corajacy há 31 anos, é bastante representativo da força ancestral afro-brasileira na região. Nele, religiosos e praticantes da cultura negra em várias frentes descem, simbolicamente, a Rua 13 de Maio com água de cheiro e flores e ocupam a área externa frontal da Catedral. A necessidade de dar um fechamento para essa fase de encontros entre mim e essa Campinas negra, incidiu-se na produção de mais um documentário. Mãe Dango convenceu-se de que sua história poderia ser narrada por mim e pela minha equipe e assim, está nascendo “A Mulher da Casa do Arco-Íris”, um documentário poético que completa minha Trilogia Negra. Provisoriamente, resulta desse processo, a importância de continuar narrando sobre a identidade, assumidamente como umas construções de vários níveis. No caso desses filmes, a moldura do território faz evocar memória, celebração, religiosidade, resistência política e arte.
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Uma lógica para o próximo século LUIZ SUGIMOTO sugimoto@reitoria.unicamp.br
lógica paraconsistente vai centralizar as discussões do congresso internacional Trends in Logic XVI, que depois de 15 edições acontece pela primeira vez no Brasil, na Unicamp, em homenagem aos 40 anos do Centro de Centro de Lógica, Epistemologia e História da Ciência (CLE) e no âmbito das comemorações dos 50 Anos da Universidade. O tema deste ano, “Consistência, contradição, paraconsistência e razão”, é também sobre o que trata o livro Paraconsistent Logic: Consistency, Contradiction and Negation, de autoria dos professores Walter Carnielli e Marcelo Coniglio, que acaba de ser lançado pela Editora Springer de Amsterdam. O congresso acontece de 12 a 15 de setembro, na Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo (FEC). Walter Carnielli explica que a lógica paraconsistente oferece uma base mais ampla e flexível para o raciocínio do que a lógica tradicional, chamada de clássica. “Ela permite que, em presença de contradições em um raciocínio, busquem-se as causas destas contradições ao invés de se cair no desespero que a lógica clássica nos obriga. Pensada desde 1910 por visionários de vários países e tendências, a partir de 1963 a lógica paraconsistente tornou-se um tema brasileiro, com base nas publicações do matemático e lógico curitibano Newton da Costa, que inclusive foi professor visitante na Unicamp e um dos fundadores do CLE.” O Jornal da Unicamp publicou o perfil do professor Newton da Costa em 2003, quando ele explicou que a lógica paraconsistente trata de sistemas de informação onde pode haver contradições. “Por exemplo: ao organizar um banco de dados de medicina, você entrevista muitos especialistas e reúne milhares de informações. Evidentemente, vão aparecer informações contraditórias, pois para um médico certo sintoma pode representar uma doença e, para um segundo médico, outra – e você tem que manipular isto. Se utilizar a lógica clássica, que não consegue tratar de informações contraditórias de modo cômodo, o sistema explode.”
POR L.SCOTT RAMOS scott_ramos@infometrix.com
campo de química analítica trata da identificação e/ou quantificação de substâncias químicas. Os avanços no ramo ao longo dos anos resultaram no desenvolvimento de aparelhos bastante sofisticados que produzem conjuntos de dados complexos e em quantidades enormes. Essa fartura de dados exige ferramentas especializadas para poder extrair informações relevantes. O campo de quimiometria evoluiu justamente para cumprir essa finalidade. No início, pensava-se que o tratamento de dados multivariados simplesmente fosse uma das novas técnicas para manipular dados, como se se tratasse de extensão de métodos existentes. Mais adiante, porém, reconheceu-se que ele deveria constituir um novo ramo da química. Agora, a quimiometria faz parte do currículo das principais universidades do mundo, existem programas de pós-graduação dedicados ao ramo, e as ferramentas de quimiometria se encontram no software de muitos aparelhos instrumentais. Mesmo com a disponibilidade atual de ferramentas bem sofisticadas, há dois princípios fundamentais que não podem ser ignorados. Primeiro, é imprescindível aprender como escolher a ferramenta mais adequada para cada finalidade e saber interpretar os resultados obtidos. Ademais, é igualmente necessário avaliar a integridade do resultado. Foi publicado nos últimos 20 anos um bom número de livros de referência sobre quimiometria. Alguns tratam dos assuntos de uma maneira relativamente superficial, enquanto outros são muito especializados e não alcançam a variedade das aplicações desejada pela maioria dos químicos analíticos. A grande maioria desses livros foi escrita em inglês, limitando a sua utilidade. O lançamento recente de Quimiometria: Conceitos, métodos e aplicações preenche essa lacuna. Porém, este livro é muito mais do que uma referência em português. É de fato uma obra compreensiva de descrições das ferramentas de quimiometria.
Na época, o mentor da lógica paraconsistente comemorava 40 anos de publicação de um conceito absolutamente teórico, sem dúvida com aplicações na filosofia, mas que já estava disseminado por toda a área tecnológica, da computação e robótica à engenharia de produção, extrapolando para a medicina. Newton da Costa teve muitos seguidores que ajudaram a desenvolver a respeitada escola brasileira, quase todos na USP e Unicamp, como Andrea Loparic, Itala D’Ottaviano, Ayda Arruda, Antonio Mario Sette, Luiz Paulo de Alcântara, Walter Carnielli, Elias Alves, Andrés Raggio, Marcelo Coniglio e João Marcos, entre outros. “Eu, que comecei tudo isso, já não consigo acompanhar a literatura mundial”, dizia. A partir de 2001, o grupo de Campinas, situado no CLE e liderado pelo professor Walter Carnielli, iniciou uma nova linha de pesquisa chamada de lógicas da inconsistência formal, que causou uma verdadeira revolução no paradigma paraconsistente e o levou a uma nova gama de aplicações mundo afora. Hoje o tema é estudado em diversos
países, tais como Alemanha, Áustria, Argentina, Estados Unidos, Canadá, Bélgica, Israel, Rússia, Índia, Austrália, Nova Zelândia, China e Japão, entre outros. As aplicações estão em áreas como computação teórica, engenharia, inteligência artificial, física quântica, linguística, matemática, novas teorias da probabilidade e filosofia da ciência. Há inclusive empresas de alta tecnologia da região de Campinas com interesse em lógica difusa paraconsistente e probabilidade paraconsistente para uso em sistemas mais leves e flexíveis para fabricação de filtros de SAW, aprendizado de máquina e processamento da informação. O livro recém-lançado toca em diversas destas áreas, apresenta o estado da arte da lógica paraconsistente na sua forma mais atuante e, segundo Carnielli, já está sendo uma referência internacional. “A ideia de inconsistência formal nasceu aqui no CLE, com a proposta de tentar abarcar vários sistemas de lógica paraconsistente existentes no mundo (como em televisão ou telefonia, há diversos tipos de sistemas). Procuramos Foto: Antonio Scarpinetti
O professor Walter Carnielli, um dos autores do livro “Paraconsistent Logic: Consistency, Contradiction and Negation”: “A lógica paraconsistente permite que, em presença de contradições em um raciocínio, busquem-se as causas destas contradições ao invés de se cair no desespero que a lógica clássica nos obriga”
Ferramentas sofisticadas
trabalhar com as noções de consistência e de inconsistência como elementos primitivos, ou seja, como algo que não se explica, como por exemplo, na geometria: a noção de ponto é indefinida (ou a priori, como chamamos), mas aceitando-o como é, conseguimos esclarecer as noções de reta, círculo, plano, distância, área, etc. Trata-se de uma noção primitiva que propõe que algumas coisas, e os juízos sobre elas, são coerentes (tecnicamente consistentes) por si próprias e outras menos. Aquelas que são menos, ou nada consistentes, podem suportar a força de um raciocínio contraditório sem “explodir”. As outras, não. Esta é a ideia de consistência e inconsistência formal, e de como a contradição opera com tais noções”. O professor da Unicamp acrescenta que o livro faz parte da série “Lógica, Epistemologia e a Unidade da Ciência” e que não teria sido capaz de escrevê-lo sozinho, sem o apoio do coautor Marcelo Coniglio, atual diretor do CLE, e sem o aporte de diversos orientandos, entre eles João Marcos, agora professor na UFRN. “Procuramos trazer não apenas o material técnico, matemático, mas também material filosófico, mostrando aspectos bastante fundamentais. Por exemplo, como a teoria dos conjuntos poderia ser repensada a partir da ideia de inconsistência formal e, a partir daí, formular grande parte da matemática e depois de quase todas as ciências, inclusive as humanas – sai daí uma linha de trabalho para o próximo século.” Em relação ao congresso internacional Trends in Logic XVI, Walter Carnielli informa que o evento é organizado pelo CLE e pela tradicional revista polonesa Studia Logica, com apoio da Fapesp e CNPq. Entre os convidados estão Jacek Malinowski, editor da Studia Logica; Daniele Mundici, lógico italiano e membro do CLE; Marco Panza, especialista em filosofia e história da ciência, professor em Paris e nos EUA; Dov Gabbay, do Imperial College de Londres; Marcelo Finger, professor do Instituto de Computação da USP; Wagner Sanz, do Departamento de Filosofia da UFG e Marco Ruffino, do Departamento de Filosofia da Unicamp, entre outros palestrantes que também passaram pelo CLE. Informações mais detalhadas estão na página do evento: https://www.cle.unicamp.br/ trendsxvi/index.html
SERVIÇO
para os químicos O livro está organizado em cinco capítulos. O Capítulo 1 – “Introdução” – apresenta uma história da quimiometria, uma das mais amplas, e deve ajudar o leitor a entender a evolução dessa disciplina. O Capítulo 2 – “Preparação dos dados para análise” – trata do manuseio de dados e descreve a organização de dados em forma de matrizes, fundamental para análise multivariada. A importância da visualização das informações em forma de gráficos é também enfatizada. Os últimos três capítulos dão ênfase às três áreas mais importantes de quimiometria. Com dados novos, o quimiometrista deve primeiro averiguar se há tendências ou agrupamentos presentes. No Capítulo 3 – “Análise exploratória de dados” – são descritas duas metodologias comuns: análise de componentes principais (PCA) e análise de agrupamentos por métodos hierárquicos (HCA). Atenção considerável foi dada ao método PCA por sua importância em muitas áreas de quimiometria. Esse capítulo tem foco nos fundamentos da matemática aplicada a matrizes, inclusive no conceito de projeção. Termina com a apresentação de vários exemplos oriundos de disciplinas diferentes, que mostram que, mesmo com finalidades diversas, as ferramentas PCA e HCA se aplicam da mesma maneira em cada situação. Mesmo que o analista já empregue um método tradicional para determinar ou inferir a composição de uma substância, esses métodos clássicos sofrem de uma fraqueza crítica: eles presumem que as respostas das medições vêm somente do constituin-
te de interesse. No mundo real, esse é raramente o caso. O Capítulo 4 – “Calibração – Métodos de regressão” – descreve como se usam as ferramentas de regressão multivariada, tais como regressão pelo método das componentes principais (PCR) e regressão pelo método dos quadrados mínimos parciais (PLS), para estabelecer correlação entre dados espectrais e medidas de referência, com exatidão e precisão aprimorada. A autora oferece descrições meticulosas para ambos os métodos, inclusive fragmentos de código de Matlab. Exemplos usando dados reais demonstram os métodos, e gráficos ressaltam os pontoschave. Métodos de regressão são de grande utilidade na modelagem de dados multivariados, e, também, os modelos podem ser utilizados para caracterizar novas amostras. Assim, são introduzidos os conceitos de validação e predição. Outro objetivo comum é procurar saber a qual categoria pertence uma determinada substância. Chama-se essa área de estudo de classificação, ou métodos de reconhecimento de padrões, e ela inclui campos como identificação de bactérias, análise de concorrentes, e aplicações forenses. No Capítulo 5 – “Métodos de classificação ou métodos supervisionados de reconhecimento de padrões” – são discutidos vários métodos de classificação multivariada. Ele aborda técnicas tanto paramétricas como determinísticas e inclui gráficos que mostram bem os conceitos. Medidas de qualidade da classificação são introduzidas e dicas sobre como escolher os métodos mais apropriados são oferecidas.
Título: Quimiometria: Conceitos, métodos e aplicações Autora: Márcia Miguel Castro Ferreira Páginas: 496 páginas Editora da Unicamp Área de interesse: Química Preço: R$ 84,00 www.editoraunicamp.com.br
Como essas dicas dependem do tipo de dados a ser analisado, o capítulo oferece exemplos que ajudam o leitor na escolha das opções a serem consideradas quanto à classificação de seus próprios dados. Quimiometria traz uma excelente contribuição ao campo, especialmente por sua apresentação em português, a sexta língua mais falada no mundo. O leitor vai apreciar as explicações detalhadas dos conceitos junto com sugestões práticas. Quem trabalha na área de quimiometria deve-se ler este livro cuidadosamente e mantê-lo sempre por perto para consultas frequentes ao revistar os seus métodos.
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A hora dos biofungicidas Pesquisa contribui para o combate biológico a patógenos agrícolas CARMO GALLO NETTO carmo@reitoria.unicamp.br
árias culturas agrícolas comercialmente importantes são acometidas por doenças causadas por microrganismos patógenos. São os casos, por exemplo, dos fungos Puccinia psidii, que comprometem plantações de eucalipto; Hemileia vastratrix, que atacam cafezais; e das bactérias Candidatus Liberibacter assiaticus, que prejudicam a citricultura. Doenças causadas por microrganismos patógenos limitam severamente a produtividade agrícola. Especialmente notável é o caso da soja, assolada pelo chamado mofo branco, causado pelo fungo Sclerotinia selerotiorum. Para combater esses males são utilizados fungicidas, que constituem fator de risco para os trabalhadores agrícolas, para a população que consome produtos contaminados e que, além de tudo, comprometem o meio ambiente. Em substituição a esses agentes, inúmeros microrganismos vêm sendo cogitados para serem utilizados como biofungicidas de maneira promissora. Nesse contexto, o uso de biofungicidas pode vir a constituir uma alternativa ao uso de fungicidas comerciais. Essa possibilidade tem despertado interesse por envolver um processo em que os efeitos indesejáveis de um organismo patogênico são reduzidos pela ação de outro organismo, que inibe o progresso, infecção e reprodução da doença no hospedeiro, na planta. Trabalho desenvolvido no Instituto de Química (IQ) da Unicamp traz contribuições para essa possibilidade. O fato desses microrganismos benéficos atuarem por meio da produção de metabólitos secundários com ação antibiótica e antifúngica - caso de enzimas e metabólitos voláteis e não voláteis, é que determina o uso desses fungos como biofungicidas, já que vários desses metabólitos produzidos são tóxicos para os patógenos de plantas, mesmo em baixas concentrações. Em decorrência, os metabólicos voláteis produzidos por microrganismos benéficos, com potencial de controle biológico e seus modos de ação, têm sido cada vez mais estudados devido à sua aplicabilidade na agricultura.
Esclareça-se que as substâncias produzidas no metabolismo de qualquer organismo constituem os metabólitos primários, essenciais à sua vida. Já os metabólitos secundários decorrem do desenvolvimento dos mecanismos de defesa e de ataque dos seres vivos. Mas, para viabilizar o emprego aventado, é necessário entender o mecanismo envolvido nesse controle biológico, o que demanda e tem suscitado diversos estudos. A exploração do metabolismo desses agentes de biocontrole requer técnicas analíticas avançadas de extração, separação e detecção de substâncias por eles geradas, para que o perfil desse conglomerado seja o mais confiável possível, e compatível com a magnitude das concentrações e da diversidade dos compostos presentes, já que se trata de uma mistura complexa de substâncias de várias classes, como carboidratos, aminoácidos, ácidos orgânicos, lipídios, vitaminas, fenilpropanóides, terpenóides e alcalóides. Em relação a muitas delas têm-se evidências do envolvimento em processos de controle biológico, o que sugere as suas participações na mediação do mecanismo de defesa de plantas contra a ação de predadores e de doenças. Em trabalho desenvolvido junto ao Departamento de Química Analítica do Instituto de Química (IQ) da Unicamp, orientado pelo professor Fabio Augusto, a química e pesquisadora Mayra Fontes Furlan empregou técnicas para obter de forma inédita a fração volátil e semi-volátil do metabolismo secundário do fungo do gênero Myrothecium, responsável pelo combate ao mofo branco em soja.
O TRABALHO O objetivo do trabalho foi avaliar que componentes químicos das frações voláteis e semivoláteis do microrganismo Myrothecium, proveniente do semiárido nordestino, têm desempenho de biocontrole sobre o fungo Sclerotinia sclerotiorum, pois se trata de organismo que atende a esse propósito. Para tanto, ela utilizou a técnica de Microextração em Fase Sólida (SPME) aliada à de Cromatografia Gasosa Bidimensional abrangente acoplada à Espectrometria de Massas Quadrupolar (GC×GC-QMS). Com o uso dessas técnicas (de extração e separação) e com o auxílio da ferramenta quimiométrica de reconhecimento de padrões chamada Análise de Componentes Principais Multi-modo (MPCA), ela conseguiu avaliar a cinética de produção de voláteis e semivoláteis em função do tempo, identificando inclusive o dia de maior diversidade metabólica do fungo. Com base nessas informações foi possível à pesquisadora identificar vários
compostos químicos que possuem conhecida ação de controle de patógenos, que podem direcionar os estudos em relação aos biofungicidas e sua indução de resistência em plantas. Mayra enfatiza que o ponto forte do trabalho foi a aplicação da ferramenta estatística aplicada à cromatografia, pois na cromatografia bidimensional abrangente, apesar de vários trabalhos publicados, existem ainda pontos de melhoria na utilização da estatística multivariada, chamada de quimiometria, e acrescenta: “Para os dados de origem biológica, em especial no caso do estudo de fungos, não existe ainda muita aplicação desse recurso. Agora pode-se contar com os trabalhos desenvolvidos aqui no nosso departamento. Trata-se de um campo relativamente novo que exigiu a superação de uma série de dificuldades. Esse acabou sendo o grande diferencial do nosso trabalho”. O estudo desenvolvido se inseriu no projeto “Bioprospecção de fungos no PPBIO/semiárido nordestino para o controle de doenças infecciosas em plantas: indução de resistência”, da Fapesp, que por sua vez fez parte de um projeto maior, o SISBIOTA, apoiado pela Fapesp e CNPq, coordenado pelo professor Sérgio Florentino Pascholati, da ESALQ/USP, que teve como objetivo analisar a possível indução de resistência, desenvolvimento de bioprodutos aliciadores de resistência em plantas e o uso de fungos sapróbios, em especial os provindos do semiárido do nordeste brasileiro, já disponíveis na Coleção de Microrganismos da Bahia. Nessa rede, de que faziam parte pesquisadores de várias universidades brasileiras, de Norte a Sul, foram realizados ensaios biológicos para avaliar o potencial de controle de doenças decorrentes de microrganismos presentes em plantas, através da utilização de microrganismos benéficos e, também, para a caracterização química de metabolitos voláteis, semivoláteis e não voláteis que se mostravam eficientes nesses combates. A propósito a autora esclarece: “No meu mestrado eu estudei o fungo do gênero Myrothecium sp., enquanto outras pessoas trabalharam com outros voláteis. Passei a trabalhar com esse microrganismo depois que os ensaios biológicos realizados por pesquisadores do grupo constaram a sua viabilidade de uso no biocontrole”.
DETALHES Através da cromatografia gasosa bidimensional abrangente Mayra determinou a emissão de substâncias voláteis e semivoláteis pelo fungo estudado, procurando detectar quais delas poderiam matar o fungo não desejado, manifestando-se, dessa forma,
ativas como controladoras biológicas. Realizando essa avaliação durante uma semana, ela determinou o dia em que esse fungo apresentava maior atividade. A partir daí ela precisou identificar quais dessas substâncias provinham do próprio fungo ou se originavam do meio de cultura. Para a resolução dessa complexidade foi necessário a utilização da quimiometria. Determinadas essas substâncias, a pesquisadora localizou na literatura quais delas teriam condições de exercer biocontrole, identificando algumas que poderiam ser utilizadas no controle da doença. Mas esses achados precisam ser mais testados através de maior número de ensaios biológicos a partir dos compostos identificados. Com efeito, a ideia dos pesquisadores envolvidos no grupo era utilizar esse fungo na aspersão na lavoura. Mas, para que isso possa ser viabilizado comercialmente, há necessidade de estudar como se dá esse controle biológico para que se possa determinar qual a melhor forma de utilizá-lo no combate à doença. Mayra enfatiza que na verdade o foco do trabalho não foi o fungo em si, mas o uso das técnicas já mencionadas para o estudo de amostras complexas, como as provenientes de fungos: “Com as técnicas que utilizei consegui extrair, separar e identificar os compostos de um material biológico, processo a princípio bastante complexo. Elas me permitiram identificar o dia de maior atividade biológica do fungo, em que estão presentes mais metabólitos a serem explorados e ainda isolar os que efetivamente provinham do fungo e não do meio de cultura. Depois de identificá-los, pude cotejá-los com a literatura especializada para localizar os possíveis compostos químicos que teriam atividade de controle biológico. O plus foi descobrir que os compostos que identifiquei realmente apresentam histórico de biocontrole. Foram alguns passos de um caminho mais longo a ser percorrido”.
Publicação Dissertação: “Estudos dos metabólitos voláteis de fungos inibidores de fitopatógenos em plantas por HS-SPME e GCxGC-QMS” Autora: Mayra Fontes Furlan Orientador: Fabio Augusto Unidade: Instituto de Química (IQ)
Foto: Antonio Scarpinetti
O orientador, professor Fabio Augusto, e a química Mayra Fontes Furlan, autora da dissertação: determinando a emissão de substâncias voláteis
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Unicamp sobe em ranking QS Universidade ocupa a 191ª posição entre as mais de 900 instituições avaliadas Fotos: Antoninho Perri
A pró-reitora de Desenvolvimento Universitário, professora Teresa Atvars: “A Unicamp mais uma vez se destaca em avaliações internacionais, da mesma forma que vem se destacando nos vários tipos de avaliações nacionais”
O coordenador geral da Unicamp, professor Alvaro Crósta: “Esta nova ascensão no Ranking QS confirma o posicionamento da Unicamp no seleto grupo das melhores universidades mundiais”
CARLOS ORSI carlos.orsi@reitoria.unicamp.br
os últimos quatro anos, a Unicamp galgou 37 posições no ranking global de instituições de ensino superior elaborado pela consultoria internacional Quacquarelli Symonds (QS), de acordo com o mais recente relatório “The Top Universities in the Word” (“As Melhores Universidades do Mundo”), referente a 2016. A Universidade Estadual de Campinas agora ocupa a 191ª posição entre as mais de 900 instituições ranqueadas, e é a segunda melhor avaliada no Brasil. A trajetória da Unicamp no QS manteve-se sempre ascendente. O avanço mais recente, entre 2015 e 2016, foi de quatro posições. O QS reúne dados sobre mais de 4 mil universidades de todo o mundo, sen-
do que 912 entram no ranqueamento. A listagem do ano de 2016 foi publicada na noite do último dia 5, e está disponível no endereço. O ranking tem como base seis indicadores: reputação acadêmica (peso de 40%); reputação no mercado de trabalho (10%); taxa de professores por aluno (20%); taxa de citações por pesquisador (20%); proporção de estudantes estrangeiros (5%) e proporção de professores estrangeiros (5%). Segundo a apuração da QS, a Unicamp está entre as 100 melhores do mundo no critério de reputação no mercado de trabalho. No Brasil, é a que aparece com a melhor taxa de citações por pesquisador. Este último número tem como base dados da plataforma Scopus, e exclui autocitações por pesquisadores. “Trata-se de uma estimativa do impacto e da qualidade do trabalho científico produzido por uma universidade”, diz a definição publicada pela QS.
Painel da semana
Painel da semana Seminário Paulo Freire - Intitulado “Marcas do Mestre”, o XIV Seminário internacional Paulo Freire acontece nos dias 12 e 13 de setembro, das 8h30 às 17 horas, no Centro de Convenções da Unicamp. Inscrições gratuitas podem ser feitas no site http://www.stu.org.br/paulofreire/. Para mais detalhes sobre o evento ligue: (19) 9-9740-4343 / 9-8101-8122. Ciência & Arte nas Férias - A Pró-Reitoria de Pesquisa (PRP) da Unicamp receberá, de docentes e pesquisadores da Universidade, projetos para a edição de 2017 do Programa Ciência & Arte nas Férias. Eles devem ser submetidos ao Fundo de Apoio ao Ensino, à Pesquisa e à Extensão (Fapex/PRP), até 12 de setembro. Para mais informações acesse o link http://www.unicamp.br/unicamp/ eventos/2016/08/08/prp-recebe-projetos-e-inscricoes-parao-ciencia-arte-nas-ferias Concertos da Orquestra do Departamento de Música - Encontros ocorrem dias 13 a 14 de setembro. O primeiro será às 12h30, no Auditório da Faculdade de Ciencias Médicas (FCM). O segundo concerto acontece às 19 horas, no Auditório do Instituto de Artes (IA). No programa, obras de Sibelius, Bruch, Beethoven, Gnattali e Coro Pereira. A organização é do maestro Carlos Fiorini. As apresentaões são abertas ao público em geral. Mais detalhes pelo e-mail fiorini@iar.unicamp.br A inspeção do trabalho e reformas trabalhistas - A próxima edição do Fórum Permanente de Políticas Públicas e Cidadania será realizada no dia 14 de setembro, às 9 horas, no Centro de Convenções da Unicamp. O evento, que será transmitido pela TV Unicamp, visa debater as iminentes reformas trabalhistas sob a perspectiva das relações entre capital e trabalho. O público-alvo são alunos, docentes e interessados no assunto. Programação, inscrições e outras informações no site http://www.foruns. unicamp.br/foruns/projetocotuca/forum/htmls_descricoes_ eventos/politicaspub17.html Festival Lua e Dia - O Instituto Confúcio na Unicamp organiza no dia 14 de setembro, às 12 horas, no Saguão do Ciclo Básico II, o Festival da Lua e Dia. Na abertura
“A Unicamp mais uma vez se destaca em avaliações internacionais, da mesma forma que vem se destacando nos vários tipos de avaliações nacionais, tais como na avaliação da pós-graduação feita pela Capes, na avaliação da graduação feita pelo MEC, etc”, apontou a pró-reitora de Desenvolvimento Universitário, Teresa Atvars.” É uma universidade pública que, consistentemente, é bem avaliada por múltiplos agentes, nacionais e internacionais, e por múltiplos critérios. Para aqueles que se dedicam a construir esta universidade com muito trabalho e dedicação, é muito bom comemorar o aniversário de 50 anos da Unicamp com reconhecimento nacional e internacional”. “Esta nova ascensão no Ranking QS confirma o posicionamento da Unicamp no seleto grupo das melhores universidades mundiais. Trata-se de um sistema de avaliação externa e independente, que
Teses da semana
do evento haverá apresentação do grupo de música chinesa Ensemble Gaoshan Liushui. O Festival também celebrará a abertura de outros eventos organizados pelo Instituto. Tempo de Debate - “A acurácia da informação das mães sobre o cronograma de vacinação de suas crianças. Iêmen, 2012-2013”. Este é o tema que será apresentado por Laetícia Rodrigues de Souza (Nepo), no próximo Tempo de Debate, evento organizado pelo Núcleo de Estudos de População “Elza Berquó” (Nepo) da Unicamp. O encontro será no dia 14 de setembro, às 12h30, no Auditório do Nepo/ Nepp. Mais informações: 19-3521-5898. Bolsa em Engenharia de Produção e Manufatura - A Faculdade de Ciências Aplicadas (FCA) receberá, até 15 de setembro, as inscrições para uma bolsa de pós-doutoramento no programa de pós-graduação em Engenharia de Produção e Manufatura. Leia o edital http:// www.fca.unicamp.br/portal/comunicacao/noticias/920-inscricoes-abertas-para-pos-doutorado-no-programa-de-posgraduacao-em-engenharia-de-producao-e-manufatura.html Projeto VerdeNovo - Estudantes Alphabio Consultoria e Projetos em Ciências Biológicas, empresa júnior do Instituto de Biologia (IB) da Unicamp, dedicarão seus finais de semana, de setembro a outubro, ao Projeto VerdeNovo, um ciclo de revisões do conteúdo programático do ensino médio voltado aos estudantes do terceiro ano do ensino médio matriculados em escolas da rede pública de Campinas e região. Para isso contam com a ajuda de estudantes de outros institutos da Universidade que lecionarão durante os finais de semanas do projeto. O evento ocorrerá no IB por cinco finais consecutivos, a partir de 17 de setembro, das 8h às 18h. A taxa de inscrição é de R$30,00 e cada participante receberá um kit aluno (bloco de anotação, caneta, lápis e borracha), além de terem acesso ao material didático pelo site do projeto. Atualmente o programa dispõe 250 vagas. Os interessados podem se inscrever na página da empresa júnior até o dia 10 de setembro. Veja os eventos que serão abordados no link http://www.unicamp.br/unicamp/eventos/2016/09/01/ verdenovo-projeto-da-alphabio-comeca-no-dia-17 Baja Sae Unicamp - Pela etapa Sudeste da competição, a equipe Baja SAE da Unicamp já está esquentando o motor de seu carro off-road para a prova que será realizada nos dias 17 e 18 de setembro, na Escola de Engenharia de Piracicaba (EEP). A disputa é preparatória
analisa e pondera nossos indicadores acadêmicos. Fomos comparados com outras boas universidades, muitas delas contando com condições bastante favoráveis de infraestrutura e de financiamento, e nos saímos muito bem”, acrescentou o coordenador geral da Unicamp, professor Alvaro Crósta. “Merece destaque o fato de termos recebidos as melhores avaliações nos indicadores da reputação junto ao mercado de trabalho, em que obtivemos a 92a posição no mundo, e da reputação acadêmica, na qual ficamos na 110a posição. O primeiro mostra como os empregadores avaliam de maneira muito positiva os estudantes que nós formamos, enquanto o segundo mostra a excelente visão que as outras universidades têm do nosso trabalho acadêmico”, declarou. “Esse excelente resultado é motivo de muito orgulho para a Unicamp”.
Eventos futuros
para a competição Baja SAE BRASIL, marcada para ocorrer no primeiro semestre de 2017. Para a etapa Sudeste estão inscritas 30 equipes: 12 de São Paulo, 11 de Minas Gerais, quatro do Rio de Janeiro e três do Espírito Santo –, que somam cerca de 600 universitários de engenharia. Denominados Baja SAE, os veículos são projetados e construídos dentro das instituições de ensino pelas equipes, que terão de submeter os carros a provas estáticas e dinâmicas, supervisionadas por juízes, todos engenheiros da indústria da mobilidade.
Teses da semana Computação: “Algoritmos de Branch-and-Price para o problema de empacotamento em recipientes com restrições de classe” (mestrado). Candidato: Yulle Blebbyo Felipe Borges. Orientador: professor Flávio Keidi Miyazawa. Dia 12 de setembro de 2016, às 14 horas, na sala de defesa de teses da FE. “Triangulação colorida de mapas” (doutorado). Candidato: Lucas Moutinho Bueno. Orientador: professor Jorge Stolfi. Dia 16 de novembro de 2016, às 14 horas, na sala 353 do IC. Educação Física: “Análise do perfil de corredores de rua” (doutorado). Candidato: José Vítor Vieira Salgado. Orientador: professor Orival Andries Junior. Dia 13 de setembro de 2016, às 14 horas, no auditório da FEF. Engenharia Elétrica e de Computação: “Emulação de pmd e controlador de moduladores poliméricos para 100 gb/s” (mestrado). Candidato: Anderson Cleyton Bravalheri. Orientador: professor Gustavo Fraidenraich. Dia 15 de setembro de 2016, às 13 horas, na FEEC. “Técnicas para redução de custo em redes ópticas baseadas em múltiplos formatos de modulação” (mestrado). Candidata: Camila de Araújo Souto Diniz. Orientadora: professora Darli Augusto de Arruda Mello. Dia 16 de setembro de 2016, às 9 horas, na sala PE11 da FEEC. Engenharia de Alimentos: “Avaliação de produto diet a base de açaí juçara (euterpe edulis martius) e seus efeitos antiobesogênico, anti-inflamatório e antioxidante em
Destaque do Portal
adolescentes obesos” (doutorado). Candidata: Karina Huber. Orientadora: professora Glaucia Maria Pastore. Dia 13 de setembro de 2016, às 14 horas, no auditório do DCA da FEA. “Efeito de lactato de potássio e sais substitutos ao cloreto de sódio sobre a qualidade físico-química, microbiológica e sensorial de salsichas com alto teor de carne de frango mecanicamente separada com redução de sódio” (doutorado). Candidata: Vanessa Cristina Messias. Orientadora: professora Marise Aparecida Rodrigues Pollonio. Dia 14 de setembro de 2016, às 14 horas, no auditório ll do DTA da FEA. “Efeitos da adição de condimentos a lagarto bovino (músculo semitendinosus) processado pelo sistema sous vide” (mestrado). Candidata: Silvia Satie Tuyama. Orientador: professor Nilo Sérgio Sabbião Rodrigues. Dia 15 de setembro de 2016, às 13h30, no anfiteatro do DEPAN da FEA. Química: “Nanoestruturas caroço-casca bifuncionais hierarquicamente organizadas com propriedades magnéticas e luminescentes” (doutorado). Candidata: Beatriz da Costa Carvalho. Orientador: professor Ítalo Odone Mazali. Dia 15 de setembro de 2016, às 8h30, no miniauditório do IQ. “Células solares utilizando substratos flexíveis baseados em celulose” (doutorado). Candidata: Saionara Vilhegas Costa. Orientadora: professora Ana Flávia Nogueira. Dia 16 de setembro de 2016, às 9 horas, no miniauditório do IQ. Odontologia: “Técnica simplificada em prótese total: influência na qualidade da prótese, função mastigatória e satisfação do paciente” (doutorado). Candidato: Francisco Mauro da Silva Girundi. Orientador: professor Wander José da Silva. Dia 12 de setembro de 2016, às 8h30, na sala da Congregação da FOP. “Avaliação da efetividade de inserção e remoção do curativo de hidróxido de cálcio em túbulos dentinários através de microscopia confocal de varredura a laser: estudo in vitro” (doutorado). Candidato: Fabrício Rutz da Silva. Orientador: professor José Flávio Affonso de Almeida. Dia 16 de setembro de 2016, às 8h30, na sala da Congregação da FOP. “Avaliações das dissipações de tensões em pilares de prótese fixa implantossuportada pelo método dos elementos finitos tridimensional (MEF)” (doutorado). Candidata: Karina Giovanetti. Orientador: professor Paulo Henrique Ferreira Caria. Dia 16 de setembro de 2016, às 9 horas, na sala de seminários da Fisiologia da FOP.
11 Campinas, 12 a 18 de setembro de 2016
Pesquisa da FOP sugere epigenoma pré-neoplásico relacionado à periodontite crônica Estudo desenvolvido em Piracicaba foi publicado na revista Oncotarget Foto: César Maia
Aline Cristiane Planello (em primeiro plano), autora da tese, e a professora Ana Paula de Souza, orientadora: análises em larga escala de amostras de tecido gengival
CÉSAR MAIA Especial para o JU
om o objetivo de entender o possível mecanismo implicado na associação entre doença periodontal crônica e câncer oral, a professora Ana Paula de Souza, da Área de Histologia da Faculdade de Odontologia de Piracicaba (FOP) da Unicamp, desenvolve projeto desde 2011 em colaboração com o pesquisador Daniel Diniz De Carvalho, do Princess Margaret Cancer Centre, no Canadá. O foco principal das investigações foi a Epigenética - informações não-genéticas ligadas ao DNA que, sem mudar sua sequência, podem “ligar” ou “desligar” um gene. A pesquisa recebeu apoio financeiro da Fapesp no âmbito do programa Jovem Pesquisador, e também foi tema da tese de doutorado da pós-doutoranda Aline Cristiane Planello, sob orientação dos professores Ana Paula de Souza e Daniel de Carvalho. Parte do estudo foi desenvolvida no Laboratório de Biologia Molecular da Área de Histologia da FOP. A pesquisadora também fez investigações no Laboratório de Epigenética, liderado pelo professor Carvalho. No Canadá, Aline permaneceu por dois anos. O estudo rendeu publicação na revista científica Oncotarget, especializada em assuntos relacionados ao câncer. “A ideia era tentar encontrar alterações epigenéticas que fossem comuns à inflamação crônica periodontal e ao câncer oral, o que acabou
resultando no primeiro estudo publicado na literatura científica mundial que sugere possível mecanismo molecular associado com a relação periodontite crônica e câncer oral”, explica a professora Ana. Como já havia sido identificado que a periodontite crônica pode aumentar a incidência do câncer oral, a investigação ocorreu no nível molecular para entender o que acontece na periodontite crônica, enquanto inflamação crônica, que poderia predispor aquele tecido ao desenvolvimento de um tumor. Por meio de análises em larga escala de amostras de tecido gengival saudável e afetado pela periodontite crônica, os pesquisadores observaram diferenças epigenéticas em regiões regulatórias específicas do genoma entre as amostras de periodontite e as amostras saudáveis. “Alterações epigenéticas específicas observadas nas amostras de periodontite crônica são também encontradas nas amostras de câncer oral. É importante ressaltar que não se observam essas alterações nas mesmas regiões quando os resultados em periodontite crônica são comparados a dois outros tipos de câncer, que também estão associados à inflamação crônica, sugerindo que os resultados observados na periodontite são específicos e diretamente relacionados ao câncer oral. Nós mostramos também que a função de regiões regulatórias (conhecidas como enhancers), que são responsáveis por garantir especificidade no controle da expressão do DNA, é afetada pelas alterações epigenéticas encontradas na inflamação crônica e no câncer”, explicou.
Para a professora Ana Paula, a importância desse novo achado tem impacto na maneira como os profissionais dentistas devem observar a doença periodontal que tem grande incidência no país. “A importância da prevenção e a necessidade de tratamentos bem sucedidos ganham força diante destes resultados que mostram que a gravidade da periodontite vai além do fato de comprometer a manutenção do dente em função na cavidade oral, há aumento do risco a uma doença gravíssima que é o câncer”, analisa. “A inflamação crônica na cavidade oral deverá ser vista como um fator de risco ao câncer oral, tal qual o consumo de bebidas alcoólicas e cigarro”. O câncer de boca está entre os cinco tipos que mais matam no mundo, e as cirurgias para remoção de um tumor na cavidade oral são invasivas e mutilantes, sendo comum a necessidade de remoção de parte da maxila/mandíbula ou da língua. “Isto gera sequelas graves e promove dificuldades para o indivíduo se alimentar ou mesmo manter o convívio social, podendo gerar baixa autoestima e quadros de depressão”, explica Ana Paula. Em alguns casos, o indivíduo pode morrer não pelo câncer em si, mas pelas sequelas deixadas pela doença. Embora as pesquisas em câncer oral tenham avançando muito na área odontológica, esse cenário ainda é tímido com relação às pesquisas na área de epigenética dentro da odontologia. Enquanto a área da genômica se preocupa em estudar altera-
ções na sequência de bases do DNA (mutações genéticas), o campo da epigenética foca nas alterações químicas do DNA e das proteínas associadas a este. Com isso, a inflamação propicia as mudanças no equilíbrio do microambiente celular que podem levar, por conseguinte, a alterações químicas do DNA. A motivação para o estudo surgiu a partir de uma conversa da professora Ana com um colega da Área de Semiologia. “Ele havia comentado que por observação própria nunca havia visto um câncer de boca em uma mucosa oral que não estivesse inflamada”, conta a professora. Em 2009, surgiu a oportunidade de realizar um pós-doutorado no Instituto Ludwig de Pesquisa sobre o Câncer, em São Paulo. Realizou estudos junto a um grupo de genômica, cujo foco era a pesquisa em câncer de cólon (intestino). A inflamação crônica é o principal fator de risco para o desenvolvimento de tumores no cólon. “A pessoa portadora de doença inflamatória crônica no intestino é acompanhada pelo médico, sendo alguns exames recomendados como rotina. Percebi durante o tempo em que estive no Instituto Ludwig que havia semelhanças em diversos pontos entre doença periodontal crônica e doença inflamatória crônica no intestino”, esclarece. Uma vez que já existiam trabalhos mostrando a relação entre câncer oral e a doença periodontal, ela decidiu seguir essa linha de investigação sobre o mecanismo epigenético.
12 Campinas, 12 a 18 de setembro de 2016
Por dentro da Bienal de São Paulo Fotos: Reprodução
Cartazes e aspectos da primeira e da penúltima edições da Bienal de São Paulo: entre as três maiores do mundo
ISABEL GARDENAL bel@unicamp.br
m 2012, as portas do Pavilhão Ciccillo Matarazzo, no Parque Ibirapuera, que supostamente seriam abertas ao público da Bienal de Arte de São Paulo (http://bienal.org.br/), correram o risco de ficarem cerradas e foi cogitado transformála em uma mostra trienal devido ao corte de custos para o evento, que coincidiu com a crise fiscal da Bienal. Mesmo assim, as portas permaneceram abertas, e estão até hoje. Esse não foi o único obstáculo que a Bienal de São Paulo enfrentou nesses 65 anos. “Mas um dos mais reincidentes foi uma gestão instável, influenciada por diversos atores e fatores, seja pelos próprios dirigentes, seja pelos curadores. Os constantes problemas de gestão sempre foram um ponto de fragilidade na saúde da fundação”, concluiu a midiáloga Verena Carla Pereira, que defendeu sua tese de doutorado no Instituto de Artes (IA). “A última Bienal, de 2014, custou R$ 24 milhões, captados pela Lei Rouanet de Incentivo à Cultura. Por causa dos altos custos a cada edição, há ainda uma forte discussão se vale a pena investir tanto dinheiro em arte no país. Pessoalmente, acredito que sim. Caso contrário, as pessoas podem ficar cegas para o mundo”, defendeu Verena, cujo trabalho envolveu avaliação da gestão da Bienal desde a sua criação, em 1951, até a 30ª edição, em 2012. Apesar das dificuldades, na opinião da doutoranda, a Bienal tem que continuar existindo, pois ainda é o contato das pessoas com a arte mundial, do que vem sendo feito em diferentes lugares, das novidades, do que é mostrado, do quanto é investido e do quanto ela é válida e necessária para a circulação das belas-artes. Verena fez uma grande compilação, um estudo documental orientado pelo docente do IA José Eduardo Ribeiro de Paiva. Explorou a historiografia da gestão da Bienal baseada em material da literatura e do arquivo da Bienal de São Paulo. Ela pesquisou sobretudo o Arquivo Wanda Svevo, nome em homenagem à secretária geral da instituição que morreu em um acidente aéreo a caminho do Peru, em missão pela 7ª Bienal. Wanda era muito próxima de Ciccillo Matarazzo, o grande fundador e mecenas da Bienal. Além desses arquivos, Verena também investigou o arquivo da Fundação Bienal de Veneza, Itália, que foi modelo para a Bienal de SP.
PERÍODOS A autora da tese tentou entender como a Bienal sobreviveu num país de raro acesso ao fomento à cultura e como conseguiu se manter entre idas e vindas de fomento na história da instituição. A Fundação Bienal de São Paulo está entre as três maiores bienais do mundo, depois da Bienal de Veneza e da Documenta de Kassel, Alemanha. A ideia da doutoranda foi dividir as 30 edições em quatro períodos. O primeiro foi quando a Bienal de São Paulo esteve atrelada, por seis edições, ao Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM-SP). Em 1962, ela se tornou autônoma do Museu. Depois disso, já como Fundação Bienal de São Paulo, Verena estabeleceu esse como o segundo período, que se prolongou até 1975. O terceiro período foi de 1976, com a saída de Ciccillo (que teve uma gestão centralizadora), até o início da década de 1990. Se antes a Bienal era uma estrutura mais familiar, aos poucos se tornou uma empresa. Com sua saída da presidência, assumiram vários outros gestores, por períodos não superiores a quatro anos. Eram, na maioria, gestores de empresas e profissionais do mercado publicitário. Com a morte de Ciccillo (1977), outros dirigentes tornaram a Fundação Bienal de fato uma grande empresa. O quarto período, a partir de 1990, foi quando a Bienal passou a lidar mais especificamente com as Leis de Incentivo à Cultura, para o seu fomento, iniciativa que prossegue até hoje, mediante a Lei Rouanet e algumas leis de incentivo municipal e estadual.
EVENTOS A Bienal de São Paulo é uma fundação que promove o seu grande evento a cada dois anos: uma exposição que reúne artistas internacionalmente reconhecidos e que
já recebeu, até sua 31ª edição, cerca de oito milhões de visitantes. Mas a instituição nasceu propriamente para realizar as Bienais de São Paulo a partir de sua sétima edição, depois de deixar o MAM. Verena contou que são três meses de Bienal para um público predominante de estudantes, que participam de visitas guiadas. “Temos um forte investimento na mediação dos estudantes. Uma iniciativa da Bienal é o Projeto Educativo, que busca levar esse público para conhecer a mostra. Trata-se de um projeto fixo que acontece o ano todo. Com certeza, essa iniciativa é a ‘menina dos olhos da Bienal’”, informou a pesquisadora. A Bienal de SP também é uma grande vitrine para exibir os trabalhos dos artistas. “O circuito das Bienais passa por Veneza e pela Documenta, e a tendência atual é formar coletivos de artistas que se reúnem para fazer trabalhos exclusivos para as Bienais.” Quando idealizada a Bienal de SP, o intuito era trazer arte moderna ao Brasil, visto que o país tinha pouco contato com arte num período de efervescência por modernização, especialmente para a nova burguesia de estrangeiros que vinha para cá. Na década de 1950, também notou-se uma grande influência do Pan-Americanismo, do movimento da política da “boa vizinhança”, perpetrado pelos Estados Unidos. Eles trouxeram influências à criação da Bienal com Nelson Rockefeller, que doou algumas obras para o MAM, além de firmarem algumas cooperações. Hoje, a Bienal é uma mostra que reúne artistas e obras no Pavilhão do Parque Ibirapuera. “E o Pavilhão é a grande obra que acomoda outras, assinado pelo arquiteto Oscar Niemeyer”, destacou Verena. Desde a sua primeira edição, a Bienal já teve a participação de 14 mil artistas e de 160 países, que apresentaram 67 mil obras. Foto: Antonio Scarpinetti
INSTABILIDADE Verena considerou no estudo aspectos críticos e contribuições da Bienal. Para começar, ela verificou que a Bienal sempre teve uma gestão instável, pois esse processo foi baseado em sistemas transitórios que iam se remodelando na dependência dos diversos atores que neles influíam (tanto presidentes quanto curadores). “Também não deixaram de ter interferências as políticas econômicas e culturais. Com isso, a instabilidade ia e vinha, e era percebida mais na parte institucional, não sendo visível ao grande público.” No entanto, a 28ª Bienal, de 2008, foi um exemplo emblemático dessa visibilidade. A proposta do curador, Ivo Mesquita, era fazer um evento que discutisse a Bienal e a situação pela qual esse modelo de exposição estava vivendo. Mas a crise não era exclusividade do Brasil. Era uma crise do modelo mundial, tanto que a Bienal de Veneza foi rediscutida, e a Documenta de Kassel e outras também. “A 28ª Bienal, no segundo piso do Pavilhão, determinou que o espaço ficasse completamente vazio. Por isso ela foi conhecida como a Bienal do Vazio. Não houve praticamente exposição. Poucas obras foram mostradas. Eram mais conferências e seminários para debater esse modelo”, descreveu a doutoranda. Como resultado, foram produzidos diversos relatórios, porém essa Bienal de fato, para o público, fugiu ao lugar comum no sentido artístico. Aos olhos dele, viu-se claramente que alguma coisa estava ocorrendo ali de que não tinham sido avisados. Essa Bienal não foi igual às outras. Algumas pessoas acharam essa “parada” fundamental para discutir o modelo de Bienal e pensar até em uma reformulação, ao mesmo tempo que algumas pessoas viram na Bienal uma edição perdida. “Os relatórios foram úteis, contudo não promoveram modificações após o evento”, realçou Verena. Por outro lado, ela reconhece que hoje há no Brasil muitos institutos culturais e museus que têm apresentado grandes exposições. É o caso da Fundação Bienal do Mercosul (http://fundacaobienal.art.br/site/pt/), sediada em Porto Alegre. Mas, durante décadas, a Bienal de SP conseguiu, de modo único, trazer arte ao país como nenhuma outra. A segunda Bienal, de 1953, por exemplo, foi a única vez que Guernica, de Picasso, saiu do The Museum of Modern Art de Nova Iorque (MoMA) e foi recebida pela América do Sul na Bienal de SP, que foi a maior Bienal e uma das mais relevantes. Guernica, de Picasso, agora está no Museu Nacional Centro de Arte Reina Sofia, em Madrid, Espanha. Depois disso, a Bienal de SP teve alguns núcleos históricos com obras de artistas renomados. Verena assinalou que a importância do seu estudo está em contribuir com um corpus de pesquisa para futuros pesquisadores e para gestão cultural de exposição de artes. “Que as pessoas utilizem essa pesquisa para entender onde a Bienal errou, acertou, para fazer avançar o tema e ter um panorama todo da gestão da Bienal, que é o nosso grande modelo de exposição no país.” A próxima Bienal de São Paulo, a 32ª edição, acontece de 10 de setembro a 12 de dezembro, intitulada Incerteza Viva. Leia mais (http://www.32bienal.org.br/).
Publicação
Verena Carla Pereira, autora da pesquisa: estudo foi dividido em quatro períodos
Tese: “A gestão das artes visuais através da Bienal de São Paulo: pode entrar sem medo que é só arte” Autora: Verena Carla Pereira Orientador: José Eduardo Ribeiro de Paiva Unidade: Instituto de Artes (IA) Financiamento: CNPq e Fapesp