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Campinas, 26 de setembro a 2 de outubro de 2016 - ANO XXX - Nº 670 - DISTRIBUIÇÃO GRATUITA
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CORREIOS
FECHAMENTO AUTORIZADO PODE SER ABERTO PELA ECT Foto: Antonio Scarpinetti
O desmonte da COISA PÚBLICA 6 7
A corrosão do SUS e a precarização da força de e trabalho do IBGE, ambas iniciadas na década de 1990, são abordadas em dissertações desenvolvidas, respectivamente, pela socióloga Letícia Bona Travagin e pela economista Ana Carla Magni. As pesquisas foram orientadas pelos professores Eduardo Fagnani e José Dari Krein, do Instituto de Economia.
Usuários do SUS em hospital de Campinas
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A relação entre sono, alimentação e diabetes A atualidade da obra de Ferdinand de Saussure
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Do videogame para as pistas de atletismo
Placa plástica produz hologramas acústicos Genomas e a história da espécie humana O teletransporte
Quando o discurso virtual é quântico de dados combustível da violência real TELESCÓPIO
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TELESCÓPIO
CARLOS ORSI carlos.orsi@reitoria.unicamp.br Foto: Kai Melde/Divulgação
Petróleo e terremoto A injeção de água no subsolo para aumentar a extração de gás e petróleo gera pressões capazes de desencadear terremotos, diz artigo publicado na edição mais recente da revista Science. Os autores, de instituições dos EUA, Canadá e Reino Unido, valeram-se de dados de satélite para medir a deformação de superfície causada pela injeção de líquido em áreas petrolíferas do Texas, e calcularam que o aumento de pressão causado por esse processo foi suficiente para desencadear um tremor de magnitude 4,8 registrado em 2012.
Números e visão Pessoas cegas de nascença usam parte do córtex cerebral visual para processar equações matemáticas, diz artigo publicado no periódico PNAS. Já pessoas que enxergam, mesmo com os olhos vendados, não ativam essa região do cérebro ao realizar a mesma tarefa. O trabalho, realizado por pesquisadores ad Universidade Johns Hopkins, pediu a voluntários – cegos de nascença ou pessoas que veem, mas de olhos vendados – que resolvessem contas simples e pequenas equações mentalmente, enquanto eram submetidos a um exame de ressonância magnética funcional (fMRI). Nos dois grupos, as áreas do cérebro normalmente associadas ao trabalho matemático foram ativadas, mas os cegos – e apenas eles – se valeram também de parte das regiões que, nas populações que enxergam, cuidam do processamento visual. “Os resultados sugerem que a experiência pode alterar radicalmente a base neural do pensamento numérico”, diz o artigo.
Holograma de som Uma placa de plástico, fabricada por impressão 3D, mostrou-se capaz de modular ondas de ultrassom e produzir hologramas acústicos – campos sonoros complexos que podem ser usados para manipular e mover objetos na água ou no ar, de forma controlada. A placa é colocada diante do alto-falante que emite o ultrassom. O desenvolvimento e o teste da placa são descritos na Nature. A técnica demonstrada foi capaz de produzir o desenho de uma “pomba da paz” a partir de partículas suspensas num líquido, e de manter uma gota d’água flutuando no ar. Os autores, de instituições alemãs, escrevem que o sistema é capaz de levitar objetos com uma densidade máxima comparável à do alumínio. “Esperamos que, com transdutores maiores e mais potentes, será possível gerar imagens mais complexas e manipular objetos de densidades mais elevadas”, escrevem. “Transdutor” é o nome dado a aparelhos que convertem uma forma de energia em outra – no caso de alto-falantes, sinais elétricos em som.
Ossos de Anticítera Descobertos por pescadores no início do século passado, os restos do naufrágio de um navio mercante de 2000 anos atrás, ao largo da ilha de Anticítera, na costa grega, tornou-se mundialmente famoso por revelar a chamada “máquina de Anticítera”, um complexo mecanismo de rodas e engrenagens que permite calcular a posição de corpos do sistema solar. Essa máquina às vezes é citada como o mais antigo computador conhecido. No final de agosto, pesquisadores que estudam o naufrágio de Anticítera fizeram uma nova descoberta: ossos humanos, preservados por baixo de camadas de cacos de cerâmica e areia. A informação é do serviço Nature News, da revista Nature. Especialistas ouvidos pela publicação notam que encontrar ossos humanos em naufrágios antigos é algo raríssimo – os ossos são comumente espalhados e destruídos pela vida marinha e pelas correntes. Ossos já haviam sido encontrados nos restos de Anticítera por Jacques Custeau em 1976, mas o novo achado abre caminho para que se tente extrair e analisar DNA.
Holograma sonoro projetado embaixo d’água controla movimento de barquinho de papel
Primeiros anzóis Os mais antigos anzóis de pesca já descobertos foram encontrados numa caverna da ilha de Okinawa, no sul do arquipélago japonês, informa artigo publicado por arqueólogos japoneses no periódico PNAS. Os artefatos, feitos de concha, datam de 23 mil anos atrás. Anzóis semelhantes, mas um pouco mais recentes, já haviam sido descobertos na ilha de Timor e em Papua-Nova Guiné, o que demonstra a ampla disseminação dessa tecnologia.
Genética da pré-história Três artigos publicados na revista Nature da última semana buscam oferecer pistas sobre o caminho que a espécie humana traçou ao se espalhar a partir de seu local de origem – o continente africano – e ganhar o mundo. Envolvendo os genomas de 787 indivíduos de 280 diferentes populações, incluindo grupos não-europeus que raramente são representados nesse tipo de levantamento, o conjunto de trabalhos produziu resultados que, de acordo com comentário publicado na mesma edição da revista, podem ser encaixados nas duas principais hipóteses sobre a migração humana original: a de que ela se deu numa única onda, que depois se dividiu em duas frentes, ocidental e oriental, ou de que houve diferentes ondas, com uma dispersão inicial rumo à Ásia-Oceania, seguida depois por um segundo grupo que viria a ocupar o Oriente Médio e a Europa. Um dos trabalhos chega a sugerir que o povoamento inicial da Austrália, pela população que viria a originar os aborígenes atuais, envolveu o cruzamento dos humanos primitivos com uma espécie ainda desconhecida de hominino. “Estes estudos preenchem parte do quebra-cabeça da história humana, mas muitas questões fascinantes permanecem”, diz o comentário.
Menos oxigênio no ar A atmosfera terrestre já conteve mais oxigênio no passado, revela estudo dos gases aprisionados em antigos núcleos de gelo da Antártida e da Groenlândia. A análise, conduzida por cientistas da China e dos Estados Unidos, foi publicada na Science. O trabalho revelou uma queda de 0,7% na concentração atmosférica do gás ao longo dos últimos 800 mil anos. A presença de oxigênio na atmosfera terrestre é um fenômeno intimamente ligado à evolução da vida no planeta, e a processos geológicos. O trabalho estima que, ao longo do período compreendido, os mecanismos que removem oxigênio do ar foram 1,7% mais eficientes que os que liberam o gás.
Luta de classes A Nature da última semana traz uma seção especial sobre desigualdade. Em um dos artigos que compõem o especial, Mike Savage, codiretor do Instituto de Desigualdades Internacionais da London School of Economics exorta os cientistas sociais a chegar a uma definição comum de “classe”. Ele chama atenção para o impacto das divisões de classe em eventos políticos recentes de grande importância, como o voto pela saída do Reino Unido da União Europeia. Savage argumenta que as diferentes abordagens da questão de classe social no meio acadêmico – com recortes baseados em renda, emprego, tipos de capital (cultural, social, econômico), etc. – têm implicações graves, já que afetam “como os governos tratam as desigualdades cada vez maiores” em suas sociedades.
Por um fio de cabelo Fãs de livros, filmes e seriados policiais sabem que é impossível identificar um suspeito pelos fios de cabelo achados na cena do crime, a menos que eles tenham sido arrancados com a raiz, pois é nela que se encontra o DNA. Mas isso poderá mudar em breve: trabalho publicado no periódico PLoS ONE apresenta uma tecnologia que tem o potencial de inferir características únicas do DNA do suspeito a partir das proteínas que constituem o fio. As técnicas de “impressão digital” genética se valem da identificação de polimorfismos de nucleotídeo único (SNPs, ou “snips”, como são chamados em inglês), variações pontuais na sequência de bases que forma a molécula de DNA. Os autores do novo trabalho, baseados nos Estados Unidos e no Reino Unido, notam que alguns SNPs, chamados SNPs não-sinônimos (nsSNPs) podem se traduzir em variações na composição de proteínas, incluindo as que vão formar o fio de cabelo. Essas variações, os polimorfismos de aminoácido único (SAPs), estão na base da nova técnica. Para testar a abordagem, os autores usaram espectrometria de massa a fim de caracterizar as proteínas dos fios de cabelo de 66 pessoas de ascendência europeia. Essa abordagem permitiu identificar corretamente 596 SNPs. O estudo alega que a técnica tem um poder de discriminação capaz de identificar um indivíduo em um grupo de 12,5 mil. “Passos adicionais precisam ser dados para que o método possa ser aplicado num contexto forense, além do bioarqueológico”, advertem os autores. “É preciso aumentar a sensibilidade ao ponto em que informação discriminatória suficiente possa ser obtida de um único fio de cabelo, ou da fração de um único fio, para justificar o consumo de amostras valiosas ou legalmente relevantes” no processo.
Teletransporte quântico de dados Dois trabalhos publicados no periódico Nature Photonics documentam o teletransporte quântico de dados por longas distâncias, através de fibras ópticas. Um dos artigos trata da transferência ao longo de 6 quilômetros na cidade de Calgary, no Canadá, e o outro, por uma distância de quase 15 quilômetros em Hefei, na China. No teletransporte quântico, não há transferência de matéria, mas a informação contida numa partícula – seu estado – é impressa em outra, distante, sem que a partícula original precise se deslocar. O teletransporte quântico pode tornar as conexões de internet muito mais velozes e seguras, mas sua implementação nas redes existentes apresenta diversos desafios tecnológicos. As equipes canadense e chinesa desenvolveram, de modo independente, diferentes métodos para contornar essas dificuldades. Em comentário que acompanha os artigos, o pesquisador francês Frédéric Grosshans afirma que “no longo prazo, os dois artigos demonstram que a possibilidade de redes quânticas com a amplitude de cidades são uma proposição realista, uma visão estimulante do futuro”.
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Elaborado pela Assessoria de Imprensa da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Periodicidade semanal. Correspondência e sugestões Cidade Universitária “Zeferino Vaz”, CEP 13081-970, Campinas-SP. Telefones (019) 3521-5108, 3521-5109, 3521-5111. Site http://www.unicamp.br/ju e-mail leitorju@reitoria.unicamp.br. Twitter http://twitter.com/jornaldaunicamp Assessor Chefe Clayton Levy Editor Álvaro Kassab Chefia de reportagem Raquel do Carmo Santos Reportagem Carlos Orsi, Carmo Gallo Netto, Isabel Gardenal, Luiz Sugimoto, Manuel Alves Filho, Patrícia Lauretti e Silvio Anunciação Fotos Antoninho Perri e Antonio Scarpinetti Editor de Arte Luis Paulo Silva Editoração André da Silva Vieira Vida Acadêmica Hélio Costa Júnior Atendimento à imprensa Ronei Thezolin, Gabriela Villen, Valerio Freire Paiva e Eliane Fonseca Serviços técnicos Dulcinéa Bordignon Assine o jornal on line: www.unicamp.br/assineju
3 Campinas, 26 de setembro a 2 de outubro de 2016
Tese associa má alimentação e falta de sol e sono ao diabetes Pesquisa cita estudos que constataram um aumento de 15% a 22% no consumo calórico das pessoas que dormem pouco
Foto: Antoninho Perri
CARLOS ORSI carlos.orsi@reitoria.unicamp.br
oucas horas de sono, noites mal dormidas e baixa exposição ao sol aumentam o risco de problemas de saúde como obesidade e diabete tipo 2. A conclusão, já sugerida na literatura científica, foi reforçada por pesquisa realizada com voluntários que visitaram os ambulatórios de Obesidade e Diabetes do Hospital de Clínicas (HC) e o Centro de Saúde da Comunidade (Cecom) da Unicamp, envolvendo alunos e funcionários. O trabalho é descrito na tese de doutorado de Liane Murari Rocha, “Relação entre padrões de sono, concentrações de vitamina D, obesidade e resistência à insulina”, orientada por João Ernesto de Carvalho e defendida na Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Universidade. O trabalho foi realizado na Unidade Metabólica, coordenada pela médica Sarah Monte Alegre, e contou com a colaboração dos médicos Elizabeth João Pavin e Elinton Adami Chaim. “As pessoas que dormem menos, comem alimentos mais calóricos e fazem isso, em alguns horários que não são bons: por exemplo, à noite”, disse a pesquisadora. “Isso contribui para a obesidade”. Na tese, Liane lembra que vários estudos já apontaram um elo entre período de sono reduzido – de menos de seis horas por noite – e problemas de saúde como obesidade, diabetes e problemas cardiovasculares. A influência das poucas horas de sono e das noites mal dormidas nos hábitos alimentares também já havia sido constatada em algumas pesquisas anteriores, que avaliaram a correlação do sono com o consumo de calorias e até mesmo com o nível de hormônios ligados à fome e à saciedade. A tese cita estudos que constataram um aumento que vai de 15% a 22% no consumo calórico das pessoas que dormem pouco, em relação às que passam 8 horas ou mais na cama. “Alguns estudos mostram que pessoas que dormem menos tendem a escolher porções maiores dos alimentos, têm uma preferência por alimentos mais doces, mais calóricos, por refrigerantes, por sucos industrializados”, apontou Liane. “Parece que, na privação do sono, as pessoas buscam alimentos que dão prazer. Estudos mostraram uma ativação maior de uma área do cérebro relacionada à recompensa. É como se a pessoa dissesse, ‘estou estressado, estou cansado, não dormi, eu mereço comer um docinho, uma coxinha’, algo assim...” O estudo sobre sono, alimentação e saúde realizado pela pesquisadora em Campinas foi do tipo transversal – quando um recorte da população é examinado uma única vez. Houve 82 participantes, na maioria mulheres, divididos em dois grupos: os que habitualmente dormiam 6 horas ou mais e os que dormiam menos de 6 horas. O consumo alimentar foi avaliado em relação às 24 horas anteriores ao exame. “A maioria dos trabalhos sobre sono é feita em laboratório, e é realizada com grupos pequenos de pessoas saudáveis, com 10, 15 pessoas, pessoas magras, com sono regular”, explicou a pesquisadora, apontando o diferencial de seu estudo. “E os trabalhos que têm análises transversais incluem, na maioria, trabalhadores noturnos, que já têm um metabo-
lismo alterado”, acrescentou. “Já o meu trabalho incluiu pessoas que dormem à noite, nenhum trabalhador noturno foi incluído nessa pesquisa”. “Nós utilizamos um questionário que avalia a qualidade do sono. Foi pelo relato das pessoas, baseado no último mês. Perguntamos: ‘Qual horário você costuma dormir? Quanto tempo você demora para dormir, em média? Qual o horário que você costuma acordar?’ O questionário avalia qualidade subjetiva do sono, latência do sono, que é tempo que a pessoa demora para dormir, duração do sono, a eficiência habitual do sono, distúrbios do sono e o uso de medicação para dormir”. O grupo que dormia menos de 6 horas apontou maior consumo de gordura saturada, e mais gorduras em geral nas refeições noturnas. O grupo que dormia menos também consumia mais sucos industrializados adoçados, e a análise estatística dos dados encontrou uma correlação inversa entre consumo de refrigerantes com açúcar e horas de sono – ou seja, quanto menos horas, mais refrigerante. “Os resultados apresentados mostraram que, na restrição habitual do sono (com menos de 6 h), os indivíduos apresentam menor porcentagem de massa magra, maior acúmulo de gordura corporal, pior qualidade do sono, consumo elevado de lipídios no jantar, consumo elevado de gordura saturada e de suco industrializado adoçado em 24 horas”, conclui essa parte da tese, que se divide em quatro artigos. “A duração do sono reduzida foi fator importante para o consumo elevado de calorias, e a qualidade do sono foi fator importante para o Índice de Massa Corporal”. Outro dos artigos apresentados encontrou ainda uma relação entre a má qualidade do sono e a glicemia de jejum, um resultado de exame de sangue associado ao diagnóstico do diabetes. “O índice de qualidade do sono, que também avalia a duração do sono, foi fator importante para a glicemia de jejum, independente da obesidade”, afirma o trabalho. “A curta duração do sono e sua má qualidade estão associadas a mudanças na composição corporal (como aumento da gordura e redução de massa magra) e do perfil glicêmico”. A tese lembra que há estudos publicados associando a má qualidade do sono à resistência à insulina, que é um dos fatores ligados ao diabetes tipo 2.
VITAMINA D Outro fator envolvido na resistência à insulina, e estudado na tese de Liane, é a insuficiência de vitamina D. “As pessoas hoje tomam menos sol, fazem menos atividade ao ar livre, e com isso têm concentrações de vitamina D menores. A gente encontrou uma alta prevalência de insuficiência e deficiência de vitamina D. As pessoas dormem menos, se expõem menos ao sol e têm menores concentrações de vitamina D. E tanto o sono ruim quanto as baixas concentrações de vitamina D estão relacionadas à obesidade.” A maior parte da vitamina D necessária para a saúde humana é produzida pelo corpo a partir da exposição da pele ao sol, enquanto que o restante (cerca de 20%) vem da alimentação. O trabalho de Liane com os voluntários no HC revelou um grau de exposição ao sol, no geral, bem baixo.
Liane Murari Rocha, autora da tese desenvolvida na FCM: “Nas pessoas obesas que têm um acúmulo, excesso de gordura, as células adiposas sequestram a vitamina D”
“Percebi com o meu trabalho que muitas pessoas não querem tomar sol de forma alguma, e as nossas opções de lazer hoje são em ambientes fechados, no fim de semana as pessoas vão ao shopping”, relatou. “E a produção da vitamina D se dá com os raios UVB, ou seja, o mesmo raio que causa câncer de pele. Essa é uma discussão entre endocrinologistas e dermatologistas. O que eu acho que se deve buscar é um meio termo, tomar sol com cautela”, sugere. A parte da tese sobre a vitamina envolveu mais de 100 voluntários, entre pessoas de peso adequado e obesos, com glicemia normal e resistentes à insulina, também em sua maioria, mulheres, e constatou uma ligação entre resistência à insulina—chegando ao diabetes – e deficiência de vitamina D. “A gente observou que a maioria das pessoas tem vitamina D insuficiente, e um dos fatores que contribui para essa vitamina D ser insuficiente, além da exposição ao sol, é a obesidade, porque a vitamina D é lipossolúvel”, disse a autora. “Nas pessoas obesas que têm um acúmulo, excesso de gordura, as células adiposas sequestram a vitamina D. Observa-
mos que as pessoas que têm mais gordura corporal têm menores valores da vitamina D, independente da exposição ao sol. E essa vitamina D reduzida é um fator que contribui para a resistência à insulina, comum no diabetes tipo 2 e que pode ser um sinal do começo do diabetes tipo 2”. Mesmo os não-obesos estudados, no entanto, tinham níveis de vitamina D que eram baixos, muitas vezes apenas suficientes: com um nível normal de 31 nanogramas por mililitro de sangue (ng/ mL), o estudo encontrou um máximo de pouco mais de 36 ng/mL.
Publicação Tese: “Relação entre padrões de sono, concentrações de vitamina D, obesidade e resistência à insulina” Autora: Liane Murari Rocha Orientador: João Ernesto de Carvalho Unidade: Faculdade de Ciências Médicas (FCM)
4 Campinas, 26 de setembro a 2 de outubro de 2016
As enzimas e a ‘química verde’ Foto: Antoninho Perri
Pesquisador promoveu triagem em coleção de fungos isolados de pele humana LUIZ SUGIMOTO sugimoto@reitoria.unicamp.br
eações químicas acontecem a cada momento no corpo humano e são provocadas pelas enzimas, moléculas naturais encontradas em serem vivos que funcionam como biocatalisadores. Se as enzimas promovem estas associações em nosso corpo, também podem ser utilizadas para provocar reações químicas em laboratório. É esta a área de pesquisa de Jonas Henrique Costa, autor de dissertação de mestrado focando a detecção das atividades de duas enzimas, a monoamina oxidase (MAO) e a transaminase (TA), em fungos isolados da pele humana. O estudo foi orientado pela professora Anina Jocelyne Marsaioli, no Laboratório de Biocatálise e Síntese Orgânica (Labiosin) do Instituto de Química (IQ). Jonas Costa conta que a busca por novos biocatalisadores, capazes de realizar transformações químicas de acordo com os conceitos da “química verde”, é um ramo em ascensão, pois a partir deles é possível realizar reações mais limpas e resultando em produtos com elevado grau de pureza. “Escolhemos trabalhar com a transaminase e a monoamina oxidase, que atuam sobre o grupo amina – importante grupo funcional presente em intermediários químicos utilizados, por exemplo, na produção de insumos farmacêuticos, agroquímicos, polímeros, corantes e agentes plastificantes. Quando certas reações não são possíveis por rotas sintéticas tradicionais, utilizam-se as enzimas.” Segundo o autor, a dissertação visou a busca destas enzimas através de uma técnica de triagem de alto desempenho, empregando uma sonda que utiliza a fluorescência
Jonas Henrique Costa, autor da dissertação: “Cada biocatalizador tem uma especificidade, atuando sobre determinado grupo de moléculas’
como sensor da atividade enzimática. “Como as enzimas são encontradas em seres vivos, fizemos uma triagem na coleção de 39 fungos isolados de pele humana que temos aqui no Labiosin. Funciona assim: montamos ensaios utilizando uma sonda fluorogênica que, em caso de atividade de uma enzima do microrganismo, libera um sinal fluorescente que detectamos em equipamento. Já desenvolvemos sondas para diversas enzimas, sendo que no caso foram para monoamina oxidase e transaminase.” Dentre os microrganismos avaliados, afirma Jonas Costa, houve um que se destacou bastante, com atividade para monoamina oxidase – resultado que representa uma importante descoberta, uma vez que existem poucos relatos sobre estas enzimas na literatura. “Cada biocatalizador tem uma especificidade, atuando sobre determinado grupo de moléculas, e encontrar enzimas novas é muito bom. Já estamos fazendo o sequenciamento desta monoamina oxidase para expressá-la, isolá-la, purificá-la e utilizá-la em outras reações de síntese orgânica e em processos industriais.”
QUÍMICA VERDE
O autor da pesquisa explica que as reações biocatalisadas, na maioria das vezes, evitam produtos secundários e a necessidade de ativação de grupos funcionais, atuando sob condições reacionais brandas. “Por isso, a biocatálise está totalmente inserida nos conceitos de ‘química verde’ surgidos a partir dos anos 1990 – são 12 conceitos, que incluem, por exemplo, catálise seletiva, produtos químicos degradáveis e de baixa toxicidade, baixo risco de acidente, entre outros.”
Publicação Dissertação: “Triagem de monoamina oxidase e transaminase em fungos isolados da pele humana” Autor: Jonas Henrique Costa Orientadora: Anina Jocelyne Marsaioli Unidade: Instituto de Química (IQ)
A sociedade, os governos e as políticas climáticas no Brasil TATIANE ROSSI tatirossi@gmail.com
quecimento global e mudanças climáticas são temas desafiadores sobre os quais devemos conhecer cada vez mais. A pesquisadora Fabiana Barbi contribui muito com seu livro Mudanças climáticas e respostas políticas nas cidades, que concentra, em seis capítulos, análises, propostas e levantamento dos riscos e responsabilidades dos governos e sociedades sobre as áreas de risco e populações vulneráveis, mostrando o que pode ser feito para mitigar, adaptar e tentar resolver o máximo de problemas relacionados às mudanças climáticas. A obra é resultado de uma investigação da tese de doutoramento da autora e conta com uma bibliografia recente e dados atualizados que proporcionam uma leitura muito interessante e reflexiva sobre os reais riscos das mudanças climáticas e as respectivas responsabilidades da sociedade e dos governos municipais, estaduais e federal. A pesquisa resgata o interesse já desgastado dos leitores sobre o tema, pois analisa e discute toda a complexidade das mudanças climáticas, deixando claro que não se trata de um problema meramente ambiental, mas também de um problema social, político e econômico que exige estudos, planejamentos, ações e limites da sociedade e dos governos do Brasil e do mundo.
Fabiana Barbi é socióloga, mestre em Ciência Ambiental (USP) e doutora em Ambiente e Sociedade pelo Núcleo de Estudos e Pesquisas Ambientais (Nepam-Unicamp). A cada capítulo ela introduz brevemente o assunto ao leitor, finalizando com observações que enriquecem ainda mais a leitura, com uma visão experiente da interação entre ciência, meio ambiente, sociedade e governos em torno das mudanças climáticas. Esse cuidado da autora torna o livro ainda mais interessante, tanto aos leigos quanto aos especialistas no assunto. Desde a introdução há a preocupação em tratar o tema e divulgar o que se sabe sobre mudanças climáticas de uma forma que sensibilize e interesse o leitor, certamente na tentativa de provocar uma reação social e governamental sobre a urgente necessidade de ações concretas em face dos problemas socioambientais que já estão ocorrendo e só tendem a piorar. Durante a leitura, vemo-nos em meio a tudo isso como cidadãos, como consumidores de tecnologias e produtos emissores de gases de efeito estufa e também como sujeitos que desconhecem grande parte das causas e dos reais riscos das mudanças climáticas. Mesmo com a complexidade do tema, a autora não complica e divide o assunto em capítulos enxutos e bem escritos, com tabelas e esquemas bem estruturados e fotografias. O primeiro capítulo do livro trata dos riscos das mudanças climáticas e das responsabilidades e desafios dos governos na produção de respostas a esses riscos, que não são poucos.
SERVIÇO
Título: Mudanças climáticas e respostas políticas nas cidades - Os riscos na Baixada Santista Autora: Fabiana Barbi Páginas: 248 | Preço: R$ 44,00 Editora da Unicamp Área de interesse: Meio Ambiente Preço: R$ 44,00 www.editoraunicamp.com.br
De acordo com Jonas Costa, por oferecer uma alternativa mais verde do que a síntese orgânica tradicional, a biocatálise vem sendo utilizada especialmente nas indústrias onde a alta seletividade das reações também é crítica, como a farmacêutica e de alimentos. As aplicações industriais em larga escala incluem, por exemplo, a síntese catalisada pela termolisina do adoçante de baixa caloria aspartame, a produção de acrilamida, a síntese do não cancerígeno edulcorante isomaltulose e a produção de biopolímeros como o ácido poliláctico.” A dissertação traz uma pesquisa realizada pela BCC Research apontando que o mercado mundial de enzimas foi de quase US$ 4,5 bilhões em 2012 e de cerca de US$ 4,8 bilhões em 2013, havendo a expectativa de que alcance US$ 7,8 bilhões até 2018. “Várias enzimas promovem a transformação de substratos em produtos que dificilmente são obtidos por rotas químicas convencionais, ou atuam em reações nas quais não existem alternativas químicas viáveis – e por isso são muito valiosas para a indústria.” Nesse contexto, observa o autor do trabalho, há uma grande demanda pela busca de novas enzimas ou aprimoramento das enzimas existentes. “Os microrganismos são fontes acessíveis de enzimas e, assim, realiza-se a triagem em bibliotecas como do Labiosin para rastrear aquelas com as propriedades desejadas. Várias indústrias investiram em programas nessa área, como a Basf e a Chirotech, que utilizam metodologias de triagem para a obtenção de linhas produtoras de nitrilases e y-lactamases, respectivamente.” Jonas Costa considera que os biocatalisadores utilizados na atualidade representam uma fração pequena da diversidade microbiana e que o Brasil possui uma vantagem territorial que torna o processo de triagem de novas enzimas extremamente atrativo, além de necessário para conhecer a diversidade enzimática da nossa microbiota. “A MAO é encontrada em bactérias, fungos, plantas e animais, estando envolvida em várias vias metabólicas, a exemplo de neurotransmissores como serotonina e dopamina, além de estar associada a várias doenças como alcoolismo, desordens degenerativas (doença de Parkinson) e mesmo em inibição e progressão do câncer.”
A importância das respostas políticas no nível local é assunto do segundo capítulo, pois é nos municípios que ocorrem atividades humanas que contribuem com o agravamento do problema das mudanças climáticas, e os municípios também são os locais que mais sofrem as consequências desses impactos. A autora explica, porém, que quem ajuda a criar o problema também pode ajudar a resolvê-lo, por isso a necessidade de divulgar ainda mais esse tipo de pesquisa que discute a responsabilidade de todos perante as causas e os riscos das mudanças climáticas. Os dados sobre as políticas climáticas das cidades e dos estados brasileiros são divulgados no terceiro capítulo do livro e mostram a importância das ações municipais na criação e na aprovação de leis estaduais e federais de mitigação e adaptação às alterações climáticas. O estado de São Paulo é uma referência importante para os demais estados do país, e o litoral paulista, em especial a Região Metropolitana da Baixada Santista, é destaque no quarto capítulo da pesquisa. A importância biológica, geográfica, econômica e política do litoral paulista é tratada no quarto capítulo de modo dinâmico, apontando especialmente a vulnerabilidade, os problemas e as respostas políticas climáticas do município de Santos. Os desafios são muitos e de diferentes tipos, o que exige dos governos esforços além dos que estão sendo feitos atualmente. As respostas políticas climáticas locais, metropolitanas, estaduais e nacionais às mudanças climáticas e o modo como se relacionam (ou não) são analisados no quinto capítulo, como um diagnóstico. A autora finaliza a obra no sexto capítulo deixando o leitor preocupado com a inexistência de políticas climáticas eficientes e suficientes no Brasil. Mas deixa à disposição, além da ampla análise do que já está sendo feito pelos governos sobre o tema, sugestões para a gestão pública, mostrando que há soluções reais para os riscos também reais das mudanças climáticas. Tatiane Rossi é bióloga, mestre em Ensino de Ciências e especialista em Análise de Impactos Ambientais e em Educação Ambiental.
5 Campinas, 26 de setembro a 2 de outubro de 2016
Para linguista, ler Saussure é escapar do círculo da crise Fotos: Divulgação
Especialista italiano participou de evento comemorativo do centenário do “Curso de Linguística Geral”, livro fundador da linguística moderna ROSA ATTIÉ FIGUEIRA Especial para o JU
or ocasião do centenário da publicação do Cours de Linguistique Générale (1916), livro atribuído a Ferdinand de Saussure, considerado o fundador da linguística moderna, uma comissão formada por Maria Fausta Pereira de Castro e Rosa Attié Figueira (Grupo de Pesquisa em Aquisição de Linguagem – GPAL/Unicamp), por Lauro Baldini (Instituto de Estudos da Linguagem – IEL/Unicamp) e por Eliane Silveira (Universidade Federal de Uberlândia), organizou e promoveu a III Jornada de Estudos Saussurianos, que fez parte dos eventos comemorativos dos 50 anos da Unicamp no Instituto de Estudos da Linguagem (IEL). A Jornada, ocorrida nos dias 8 e 9 de setembro, teve como objetivo promover o debate sobre o sistema conceitual de Saussure, os desdobramentos de suas ideias e o alcance de sua teoria em domínios diversos de indagação sobre a linguagem. Convidado para a conferência de abertura, o linguista e professor Daniele Gambarara, da Universidade da Calabria, abordou o tema “100 Anos do Curso de Linguística Geral”. “Sinto-me honrado de ter sido convidado para esta jornada pelos pesquisadores brasileiros, cuja contribuição para os estudos sobre Saussure tornou-se mais importante em nível internacional, nestes últimos anos. E a Unicamp desempenha um papel central na organização destas pesquisas. Talvez, o fato de ter sido fundada em 1966, ano do cinquentenário do CLG, e do triunfo do estruturalismo na Europa, a tenha levado, desde o início, para esses estudos”, afirmou Gambarara. Nesta entrevista, concedida à professora Rosa Attié Figueira, o presidente do prestigioso Cercle Ferdinand de Saussure, sediado em Genebra, expõe alguns pontos importantes sobre o legado de Saussure no cenário atual dos estudos linguísticos, e sobre as fontes que hoje fazem parte da exploração desse legado. Jornal da Unicamp – Como o senhor vê o pensamento saussuriano como uma base teórica para o movimento estruturalista nas Ciências Humanas? Daniele Gambarara – Saussure não era estruturalista, mas foi escolhido como pai por todas as correntes do estruturalismo, seja nas escolas linguísticas, com Jakobson, Hjelmslev, Benveniste, como também nas pesquisas nas Ciências Humanas, com Lacan, Lévi-Strauss, Foucault, Althusser, Barthes, etc. O estruturalismo dos anos 50-60 muito contribuiu para esses estudos, mas seu impulso parece agora terminado. Saussure, em contrapartida, com sua abertura para os problemas do tempo, do sujeito, do caráter precário e conjuntural das sistematizações, suas noções de instituição e de diferença, talvez ainda ajude a repensar de maneira nova certos problemas das Ciências Humanas.
O professor Daniele Gambarara, da Universidade da Calabria: “As grandes escolas da linguística atual me parecem cansadas”
Quem é Daniele Gambarara Daniele Gambarara é linguista e professor titular de Filosofia da Linguagem na Universidade da Calábria. Lecionou em outras universidades italianas, em Genebra e em Stanford. É presidente do Cercle Ferdinand de Saussure e presidente do conselho editorial dos Cahiers Ferdinand de Saussure. Autor de livros, entre os quais Come bipede implume, Corpe e menti del segno (2008),
JU – Em seu artigo Un Texte Original, no qual apresenta a edição integral do último curso de linguística ministrado por Saussure em 1910-11 em Genebra (Cahiers F. de Saussure 58, 2005), o senhor afirma que é preciso ler Saussure (não somente relê-lo) para sair da crise da linguística atual. Daniele Gambarara – As grandes escolas da linguística atual me parecem cansadas: o funcionalismo, o gerativismo, o cognitivismo... Elas mostram uma prevalência de repetição e de fechamento. Assim, ler Saussure, lê-lo realmente, lentamente e refletindo sobre o que se lê, nos novos documentos mais importantes, significa deslocar-se, dando um passo, não para trás, mas para o lado. Escapar do círculo da crise. JU – O senhor acredita que atualmente há de fato pesquisas no cenário internacional que se alimentam do pensamento fundador de Saussure? Daniele Gambarara – Sim, acredito que algumas das novas pesquisas, em particular, aquelas dos jovens que sabem trabalhar simultaneamente, seja com questões filológicas e de edição de textos manuscritos, seja com os problemas teóricos que emergem desses textos, vão renovar o cenário internacional. Hoje, os linguistas que encontram uma via original para reinterpretar as indicações de Saussure estão presentes, porém isolados.
D. Gambarara escreveu dezenas de artigos, entre os quais os que foram publicados nos Cahiers Ferdinand de Saussure: Ordre graphique et ordre théorique. Présentation de F. de Saussure (2008) e Un Texte Original (2005). Suas áreas de pesquisa são: história e epistemologia das ciências da linguagem, semiótica e semântica numa perspectiva dirigida ao contexto histórico e social da atividade comunicativa.
JU – Qual é a tarefa da Associação que o senhor preside, o Cercle F. de Saussure? Daniele Gambarara – O Cercle F. de Saussure é o herdeiro da antiga Sociedade de linguística genebrina – tem, portanto, uma longa história que remonta de alguma forma aos primeiros alunos genebrinos de Saussure. Seu estatuto indica a missão de favorecer a difusão e o conhecimento do pensamento de F. de Saussure. Sua tarefa primeira é publicar a revista anual Cahiers F. de Saussure e o número 70 será lançado em 2017. A revista reporta as novidades no campo dos estudos saussurianos. O Círculo organiza encontros científicos, como, por ocasião do centenário do CLG, o duplo colóquio internacional em Paris e em Genebra. O Cercle começa a utilizar as novas mídias: em seu site, os números mais antigos da revista já estão digitalizados.
JU – Quanto tempo será preciso para se ver os primeiros resultados deste projeto? Daniele Gambarara – Os primeiros resultados já são visíveis nas novas publicações de textos saussurianos e seu método; no fato de que a Biblioteca de Genebra já preparou fotos digitais da maioria de seus manuscritos saussurianos, imagens disponíveis para os pesquisadores saussurianos; no fato de que um grupo de analistas de sistemas de Genebra tomou Saussure como caso de estudo para preparar os Bancos de Dados de Conhecimento (KDB), necessários para uma edição digital de pesquisa avançada... Acredito que a Universidade Estadual de Campinas será um dos primeiros lugares em que todas as novidades serão conhecidas.
Quem é Rosa Attié Figueira
JU – E o Cercle tem ainda outros projetos? Daniele Gambarara – O Cercle está estudando e preparando uma edição digital de todas as obras de Saussure, manuscritas ou impressas, até chegar ao CLG. Trata-se de concluir primeiramente o catálogo científico, que ainda não existe, de um conjunto de, aproximadamente, 50 mil folhas manuscritas, dispersas em vários arquivos em Genebra, mas também em Paris e em Harvard. É necessário ainda lembrar que há outros manuscritos de Saussure conservados ou esquecidos em coleções particulares. O Cercle se compromete a tornar públicos todos os documentos saussurianos.
Rosa Attié Figueira é professora do Instituto de Estudos da Linguagem (IEL) da Unicamp, titular da área Aquisição de Linguagem, domínio em que se concentra a maior parte de suas publicações (artigos em revistas nacionais e internacionais, capítulos de livros). É vice-líder do GPAL (Grupo de Pesquisa em Aquisição de Linguagem); e coordena, com a professora Cecilia Rojas Nieto (UNAM-México) na ALFAL (Associação de Linguística e Filologia da América Latina), o projeto Estudios de la Adquisición del Lenguaje. É pesquisadora PQ-CNPq.
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Campinas, 26 de setem
Precarização atinge força de tr
Pesquisa de economista aponta supressão de direitos trabalhistas e lógica flexível e p LUIZ SUGIMOTO sugimoto@reitoria.unicamp.br
m estudo apontando as principais mudanças ocorridas nas relações de trabalho no serviço público federal brasileiro nos últimos 25 anos, com a introdução e intensificação neste período do uso de formas atípicas ou vulneráveis de inserção de trabalhadores, a exemplo da contratação por tempo determinado e da terceirização: é o que traz a dissertação de mestrado da economista Ana Carla Magni, orientada pelo professor José Dari Krein, do Instituto de Economia. Ana Magni atua nas pesquisas econômicas estruturais do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) e, no momento, trabalha na Pesquisa Anual de Serviços, que fornece um retrato desse setor econômico (importante componente do PIB) sob a ótica da oferta (receitas, despesas, ocupação, salários, etc.). Nesta condição, a autora introduz na dissertação o caso desta instituição (vinculada ao Ministério do Planejamento), onde mais da metade da força de trabalho que opera nas rotinas contínuas já é formada por trabalhadores precários. “Houve duas questões principais que me motivaram a estudar o caso do IBGE: o fato de ser uma instituição absolutamente essencial ao conhecimento da realidade brasileira – já que produz boa parte das informações oficiais – e a constatação de que a forma de produzir, o quadro funcional e as relações de trabalho mudaram muito nos últimos anos. Quis compreender se tal processo era algo típico do IBGE ou se estava associado a uma transformação mais geral no serviço público federal brasileiro”, explica a economista, que concedeu por e-mail a entrevista abaixo. Jornal da Unicamp – Pode nos ajudar a mensurar a importância do IBGE para o planejamento e implantação de políticas no país? Ana Carla Magni – Sem os indicadores produzidos no IBGE – que se referem a um leque cada vez mais amplo de temas – é impossível planejar ou executar políticas públicas. Pesquisas domiciliares, censitárias ou não, permitem conhecer indicadores demográficos, condições socioeconômicas, a realidade do mercado de trabalho, os hábitos de consumo da população, entre tantas outras questões; pesquisas econômicas possibilitam compreender a estrutura produtiva, a contribuição de cada setor para uma série de variáveis, e são fundamentais para a construção oficial das contas nacionais, do PIB; os vários indicadores de preços permitem o acompanhamento dos processos inflacionários; e assim por diante. Com o conjunto de dimensões abrangidas pelo IBGE (econômica, social, política, territorial, ambiental, etc.), tanto estatísticas como geográficas (um diferencial em relação a institutos do mundo todo), é possível conhecer os problemas, formular a política macroeconômica e as políticas sociais, mensurar e destinar recursos às várias esferas de governo; ou, em suma, incidir sobre a realidade, no sentido de operá-la e de transformá-la. Por isso foram considerados aspectos da produção do IBGE e de suas relações internas de trabalho, revelando limites e possibilidades. Pela importância do que ali é produzido e pelos seus impactos, a forma de produzir, ou as condições de produção, se projetaram como questões relevantes. JU – As mudanças do trabalho no serviço público federal se dão de forma geral ou há especificidades por áreas? Ana Carla Magni – A busca por maior flexibilidade – na forma de contratar, utilizar ou remunerar os trabalhadores – tem modificado as relações de trabalho em todo o mundo, ainda que o capitalismo brasileiro tenha suas especificidades. O estudo, respaldado em vasta bibliografia referente ao mundo do trabalho, aponta que o que vem ocorrendo no IBGE é parte de um processo geral de mudanças no capitalismo mundial, em sua atual fase de acumulação, que atingem tanto o setor privado como o público. Assim, desde os anos 90, o setor público federal brasileiro vem passando por significativas transformações.
Além de uma série de medidas legais mais pontuais, a Reforma Administrativa de 1998, a Lei de Responsabilidade Fiscal de 2000, as sucessivas mudanças na Previdência feitas por diferentes governos, entre outras, não só conduziram ao desmonte de direitos trabalhistas anteriormente constituídos, como impuseram uma lógica flexível e privatista ao Estado. Após 2003, ainda que com movimentos mais contraditórios, sem o reconhecimento amplamente documentado dos governos dos anos 90, essa lógica não se modificou substancialmente. Mudou a densidade de aplicação do modelo, até pela violência das contrarreformas do período anterior; mas ele seguiu sendo aplicado. Mesmo com uma nova leva de concursos, fundamentais para restabelecer alguma capacidade de ação ao Estado, parte importante da expansão nos serviços públicos, particularmente em algumas áreas, deu-se com base na ampliação numérica da inserção de trabalhadores por meio de formas instáveis e precárias. De maneira geral, são contratos associados a restritos direitos, a menores salários e benefícios, e em certos casos submetidos a certa invisibilidade. Proliferaram nos últimos anos a contratação temporária, a terceirização, as consultorias, o trabalho estágio, algo que o estudo comprova, quando possível mostrando a evolução recente do quantitativo de ingressos, ou alternativamente revelando o significativo crescimento real dos gastos diretos do Executivo Federal com esses tipos de contratos. Tal movimento é geral e eventuais especificidades se dão muito mais na dimensão – que é diferenciada para cada órgão – do que na existência do fenômeno. O IBGE, vinculado ao Ministério do Planejamento, por exemplo, é o grande destaque na contratação temporária, o que dá mais um motivo para estudá-lo; assim como a Educação é fortemente permeada tanto pelo contrato temporário, como pela terceirização. Em alguns ministérios, se gasta mais com formas precárias do que com a folha de pagamento dos estáveis... JU – No IBGE, particularmente, quais foram as mudanças principais? Ana Carla Magni – Desde o início dos anos 90, está em curso no IBGE um processo de esvaziamento do quadro permanente, enquanto, concomitantemente, cresce a força de trabalho precária em todos os projetos e pesquisas. Isso não se deu por conta de mudanças tecnológicas, já que sua introdução coincidiu com a ampliação do plano de trabalho da instituição. Prova disso é que, se no início da década de 90 havia 13.612 servidores efetivos, em abril de 2016 havia um número pouco inferior de trabalhadores, distribuído entre 5.318 ativos permanentes (RJU), 5.449 temporários (então já consolidados como maioria), 590 estagiários e algo em torno de mil servidores terceirizados nas diferentes áreas. Aí não estão contabilizados os trabalhadores contratados por tempo determinado para grandes operações censitárias, que sempre foram necessários ao instituto, mas operam sob outras condições contratuais. Está se falando somente de servidores que atuam em projetos de caráter contínuo. Afinal, não há nada de extraordinário ou temporário em pesquisas como a PNAD Contínua ou nos índices de preços, por exemplo, o que então contraria o que preveem as portarias do Ministério que autorizam a contratação – atuar em “pesquisas econômicas e sociodemográficas de caráter temporário” – e também o texto da Lei 8.745/1993, já que não há características de excepcional interesse público. Essa situação construiu uma heterogeneidade extrema entre trabalhadores que, na maior parte das vezes, desempenham exatamente as mesmas funções nos locais de trabalho. Mas se as formas atípicas de contratação são claramente marcadas pela insegurança e vulnerabilidade, a maior instabilidade hoje perpassa todo o processo de produção no IBGE, atingindo também os servidores efetivos. Isso porque, mirando sob outro aspecto, as relações de trabalho cada vez mais são permeadas por uma lógica típica do setor privado, ou pela adoção, em vários aspectos, da lógica gerencialista. Maiores controles,
intensificação do uso do trabalho, maior flexibilização das tarefas sob responsabilidade dos trabalhadores, além da recorrente repressão e retaliação a movimentações e expressões coletivas organizadas (são bloqueados e-mails com assuntos sindicais e até assembleias dos trabalhadores são criminalizadas), são alguns dos exemplos detalhados ao longo do trabalho, que configuram também mudanças importantes que afetam a todos, estáveis e não estáveis. JU – Que riscos vê à qualidade dos serviços prestados pelo IBGE em decorrência das mudanças nas relações de trabalho? Ana Carla Magni – No estudo defendo a ideia de que, ao precarizar o trabalho, ou as condições de prestação do serviço, se contribui para a precarização do serviço público em si. No caso do IBGE, não há como produzir devidamente indicadores importantes em meio à instabilidade. O trabalho no instituto é muito específico, requer construção e retenção de conhecimentos de estatística, economia, contabilidade, direito, habilidades interpessoais. Se essa formação for precária, questões como o nível de recusa dos informantes ou a inadequação da coleta ou do tratamento dos dados se tornam problemas para a qualidade das informações. Como garantir tal retenção de conhecimento (tanto explícito como tácito), entretanto, se ao trabalho temporário necessariamente está associada grande rotatividade, seja pelo tempo limitado dos contratos ou pelas condições contratuais, particularmente ruins no caso do IBGE? Se atualmente mais de um terço dos servidores efetivos
recebe abono permanência, e cerca de 60% têm mais de 26 anos de serviço? São mais de 3 mil servidores (entre os pouco mais de 5 mil estáveis) que podem se aposentar a qualquer momento, configurando uma situação caótica de falta de pessoal devidamente treinado e qualificado, de impossibilidade de repassar o que se acumulou. Além disso, a lógica da instabilidade orçamentária, associada aos contingenciamentos no setor público, põe em risco vários projetos importantes do instituto. Nos últimos anos, foram canceladas ou adiadas pesquisas fundamentais como a Contagem da População, o Censo Agropecuário e a Pesquisa de Orçamentos Familiares. Todas com impactos relevantes, seja no cálculo dos repasses federais a estados e municípios (muitos dos quais dependem fortemente desses recursos para construir políticas públicas), ou no cálculo da inflação (um indicador com repercussão em inúmeros contratos públicos e privados), ou no dimensionamento da realidade da produção no campo. O último Censo Agro mostrou a importância dos pequenos produtores para a alimentação das famílias brasileiras. Não conhecer essas realidades, ao não realizar essas e outras pesquisas, é prejudicial, portanto, para toda a sociedade. JU – E diante das medidas de contenção anunciadas pelo governo Temer, acha que o IBGE será especialmente atingido? Quais seriam as perspectivas futuras para o Instituto? Ana Carla Magni – Como o estudo conclui, já são mais de 25 anos de planejamento e aplicação de um modelo que envolve uma série de elementos desestabilizadores do Foto: Divulgação
A economista Ana Carla Magni, autora da dissertação: “O que vem ocorrendo no IBGE é parte de um processo geral de mudanças no capitalismo mundial”
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mbro a 2 de outubro de 2016
rabalho do IBGE, revela estudo
privatista na instituição Foto: Cleber Ramos/Reprodução
Pesquisa expõe corrosão do SUS Foto: Antonio Scarpinetti
LUIZ SUGIMOTO sugimoto@reitoria.unicamp.br
Recenseadora do IBGE em rua de Porto Alegre: aumento no número de contratações temporárias
Estado, de sua capacidade de formular e executar políticas públicas, bem como dos trabalhadores do setor e de sua organização e resistência. Porém, projetos em curso, como o PLP 257, a PEC 241, a reforma da Previdência, vão mais além. Representam uma nova leva de contrarreformas que alteram estruturalmente todos os serviços públicos do país. Preveem maiores contingenciamentos, tanto nos recursos orçamentários como no pessoal efetivo; a derrocada de vários direitos dos servidores; maior arrocho salarial; privatizações; e tudo isso não só com repercussões em nível federal. Sem atacar os elementos principais de deterioração da capacidade do Estado, como a dívida pública, trata-se, em seu conjunto, da mais ampla contrarreforma administrativa já prevista para o Estado brasileiro, já que o “ajuste fiscal” da União está vinculado ao aperto de todos os entes federativos, afetando serviços e servidores de outras esferas de governo. Nesse contexto adverso, gostaria de acreditar que o IBGE pudesse ficar fora e que, com um olhar mais atento, se compreendesse a necessidade de restabelecer suas condições técnicas e operacionais. Infelizmente, não é o que se desenha. Me parece que todo o serviço público será negativamente afetado, conduzindo à paralisia do Estado e ao crescimento da lógica privada, dos ganhos em cima do que o Estado não fornece ou fornece mal, o que empobrece ainda mais a população que mais necessita de serviços públicos. Que as perspectivas para o IBGE são de agravamento da redução do quadro próprio, na medida em que se processem novas levas de aposentadorias sem os necessários concursos de reposição. E que esse corpo técnico qualificado seguirá sendo substituído por formas vulneráveis e instáveis de contrato, levando à imposição de novos limites à condução do trabalho do instituto. É preciso que se diga, entretanto, que a piora - ou mesmo a não reversão - da situação atual do IBGE inviabilizaria o cumprimento de sua missão institucional e, portanto, comprometeria a construção de um retrato adequado da realidade brasileira e as possibilidades de transformá-la. Trata-se de um exemplo muito concreto de que a precarização dos serviços públicos acaba por comprometer o futuro do País.
Publicação Dissertação: “Flexibilização e precarização nos serviços públicos: o caso do IBGE” Autora: Ana Carla Magni Orientador: José Dari Krein Unidade: Instituto de Economia (IE)
Sistema Único de Saúde (SUS) está sendo corroído “por dentro”, em um processo gradual, porém permanente de mudanças mais ou menos sutis, que visam desmanchar a solidez institucional com que ele foi concebido na Constituição de 88 – e, assim, favorecer cada vez mais o setor privado de saúde, com respaldo do Estado brasileiro. É o que conclui a socióloga Letícia Bona Travagin, em dissertação de mestrado orientada pelo professor Eduardo Fagnani e apresentada no Instituto de Economia (IE). Em sua pesquisa, a autora mostra a influência do discurso privatista do Banco Mundial na década de 90 e, dentre inúmeros mecanismos visando esta desestruturação, ela analisa especialmente as renúncias fiscais e os contratos com organizações sociais (OS) no setor de saúde. Letícia Travagin afirma que a disputa entre Estado e mercado de saúde, colocada pela ideologia neoliberal desde a crise do Welfare State (Estado do Bem-Estar Social) europeu na década de 1970, mostra-se muito acirrada no Brasil, sobretudo nas áreas de seguridade social e da saúde. “O conflito se manifesta de duas formas no país: com a aceitação rápida da ideologia neoliberal pelo mercado de saúde, já que o setor possui um histórico privatista bastante forte; e pela reorientação política, ideológica e econômica no Brasil na década de 1990. Eu quis demonstrar na dissertação que o Estado brasileiro atua como promotor do setor privado de saúde, em detrimento do SUS.” Segundo a socióloga, a desestruturação do sistema de saúde não é coisa nova nem exclusiva do Brasil, inserindo-se em um programa mais amplo de desestruturação dos grandes sistemas de proteção social na Europa e nos países subdesenvolvidos. “A reorientação macroeconômica da década de 90 trouxe discursos direcionados a esses países sobre gestão de saúde, havendo documentos do Banco Mundial específicos para o Brasil: estavam preocupados com a Constituição de 88, que foi desenhada pelo movimento sanitarista, tratando sobre seguridade social e prevendo um SUS grande, forte, universal e gratuito. Os documentos do Banco apontam, explicitamente, que o Estado brasileiro não poderia sustentar um sistema deste porte, que estava gastando demais e que deveria se limitar a regulamentar e incentivar o mercado de saúde.” A autora da dissertação acrescenta que o histórico privatista do sistema de saúde se consolidou na ditadura militar, quando o modelo vigente era a compra de serviços privados pelo Inamps (Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social). “O Inamps comprava o serviço de saúde do setor privado e emitia uma fatura para o Estado. Este modelo que elevava o setor privado e rebaixava o setor público foi institucionalizado na ditadura. Mais tarde, com a implantação da macroeconomia ortodoxa, Luiz Carlos Bresser-Pereira, ministro da Administração e Reforma do Estado de Fernando Henrique, trouxe da Inglaterra, em 1995, a ideia da ‘publicização’: a transferência de serviços estatais para o mercado, não apenas em saúde, como em educação, pesquisa científica, cultura, etc. A lógica é reduzir o tamanho do Estado, que passa a pagar pelo provimento destes serviços.”
A socióloga Letícia Bona Travagin, autora da pesquisa: “o Estado brasileiro atua como promotor do setor privado de saúde, em detrimento do SUS.”
EIXOS DO DESMONTE
Na opinião de Letícia Travagin, diante da série de golpes no plano constitucional contra o SUS iniciada nos anos 90, seria mais correto dizer que o sistema sequer foi implantado. “O desmonte se dá em todos os eixos do SUS, como de financiamento, gestão de recursos humanos, atenção básica e regionalização da saúde. Como são muitos para analisar, eu privilegiei dois eixos, sendo um deles a questão do financiamento, que é gritante para um sistema dito universal: de tudo o que se gasta com saúde no Brasil, mais da metade é privado e menos da metade, público – está muito abaixo dos países desenvolvidos, inclusive do Reino Unido, que também possui um sistema de saúde universal.” O segundo eixo investigado pela autora é da contratação de organizações sociais, questão que ela considera mais preocupante, por ser bem menos conhecida. “A OS é uma empresa de direito privado que assume um estabelecimento público de saúde. A Constituição prevê um setor complementar a ser contratado pelo SUS, visando prover ações de saúde e aumentar a cobertura quando as suas instalações forem insuficientes. Acontece que a OS não é complementar, é substitutiva: sai a gestão pública e entra a gestão privada, e sem controle de gastos, já que o contrato é superflexível, a fiscalização extremamente frágil e o dinheiro público utilizado conforme as condições de mercado, com dispensa de licitação. É uma relação completamente deletéria ao sistema.” A dispensa também de concurso público, observa Letícia, resulta em sérios problemas trabalhistas, visto que a transição para a gestão de OS prevê a possibilidade de exonerar os servidores públicos. “Em Campinas, recentemente, o Hospital Ouro Verde passou para uma OS, que assumiu todas as funções hospitalares. A Prefeitura simplesmente repassa a verba municipal para a OS, e os funcionários não têm vínculo de servidor público. Usa-se dinheiro do SUS para favorecer o mercado da saúde, nas condições que essas organizações quiserem. Esse mecanismo é muito pernicioso em tempos de crise fiscal: rebaixam-se os gastos públicos transferindo-os para o setor privado, e também para que os gastos não esbarrem na Lei de Responsabilidade Fiscal.” A socióloga afirma que o gasto tributário (ou renúncia fiscal) é um mecanismo mais conhecido, em que o Estado oferece uma série de desonerações e incentivos fiscais não apenas para quem utiliza a saúde privada (planos de saúde, mas não só), como também para a indústria de medicamentos, por
exemplo. “O problema é que isso diminui a arrecadação, e num contexto de SUS subfinanciado; se o sistema tem menos dinheiro do que deveria, diminuir a arrecadação é muito contraditório.” Na visão da autora da pesquisa, a renúncia fiscal também é regressiva, principalmente quando se trata de pessoa física, que ganha desconto de imposto ao pagar plano de saúde. “Isso significa que o Estado, indiretamente, está favorecendo a demanda de planos de saúde. A renúncia fiscal girava em torno de R$ 20 bilhões até 2012/2013, com previsão de R$ 31 bilhões para 2016; é muito dinheiro que o Estado vai deixar de arrecadar. Além disso, ela é concentrada, favorecendo as OS e os ricos, classe média e classe média alta do Sudeste e das capitais – o setor privado de saúde está concentrado nas regiões mais ricas e com maior dinamismo no mercado de trabalho, porque depende de renda. É algo muito regressivo, espacialmente e em termos de renda.”
CONCLUSÃO PREOCUPANTE
A conclusão de Letícia Travagin é de que o SUS passa por um processo gradual, mas permanente de corrosão, existindo apenas formalmente no papel. “É como uma estrutura porosa, que vem ganhando pequenos furos desde a década de 90. Para refazer o SUS é preciso voltar atrás em tudo o que foi desconstruído durante 26 anos: valorizar o financiamento e a gestão de recursos humanos, promover a atenção básica, regionalizar a saúde. Na atual perspectiva, isso é problemático. Quando anunciam uma reforma privatista, eu me preocupo muito em relação às organizações sociais, desconhecidas até por alguns médicos sanitaristas, que não sabem a diferença entre gestão pública, gestão complementar e gestão de OS.” A economista insiste que as OS representam um problema escondido, não divulgado, e que tende a aumentar chegando a cidades menores. “Hoje temos cerca de 260 estabelecimentos de saúde geridos pelas OS no Brasil. Parece pouco, mas é preciso observar que esses estabelecimentos estão concentrados no Sudeste e capitais. Os dados até o ano passado mostram uma curva de crescimento acentuado e, nesta situação de crise fiscal e limitação de gastos do Estado, a opção mais fácil é jogar a saúde para o setor privado.” A autora termina a dissertação demonstrando sua preocupação e pessimismo diante da situação política e econômica vivida hoje, quando se anuncia uma reforma privatista na saúde e em outros setores de interesse social. “O Estado se eximir da gestão da saúde representa um problema sério em qualquer país – e pior no nosso, por causa das características de renda e epidemiológicas típicas de um país de desenvolvimento tardio e incompleto. Nenhuma outra esfera vai assumir a responsabilidade de prover saúde. O setor privado não faz o que o Estado faz, é infactível pensar que vai cumprir a demanda de saúde da população. No Brasil, todas as soluções em saúde levam ao SUS.”
Publicação Dissertação: “O Estado e o setor privado de saúde no caminho da desestruturação gradual do SUS” Autora: Letícia Bona Travagin Orientador: Eduardo Fagnani Unidade: Instituto de Economia (IE)
8 Campinas, 26 de setembro a 2 de outubro de 2016 Foto: Ari Ferreira
Entre a vilania
e a mediação
Dissertação analisa as razões que fazem dos árbitros de futebol vítimas da violência LUIZ SUGIMOTO sugimoto@reitoria.unicamp.br
Sem árbitro não tem jogo, mas ninguém quer o árbitro ali no campo de futebol”, observa a professora de educação física Carla Righeto, que escolheu este polêmico personagem – vítima de violência tanto simbólica quanto física por parte de torcedores, jogadores, comissão técnica, dirigentes e mídia – como objeto da sua dissertação de mestrado. Hostilizado antes mesmo de entrar em campo, as suas interpretações e decisões no exercício da função são na maior parte das vezes compreendidas como de má-fé pelos contrariados. Daí, o título da pesquisa, “Árbitros: vilões e/ou mediadores do espetáculo?”, que foi orientada pela professora Heloisa Helena Baldy dos Reis, na Faculdade de Educação Física (FEF) da Unicamp. Carla Righeto foi atleta de handebol e, durante a graduação em educação física, além de participar dos Jogos Abertos e Regionais, fez um curso de arbitragem deste esporte. “Quando parei de jogar e já trabalhando na educação, a arbitragem foi uma maneira de permanecer no esporte de competição. Comecei apitando jogos de handebol de crianças e adolescentes, depois da Federação Paulista, do Campeonato Brasileiro e ainda tive oportunidade de atuar como árbitra internacional.” A autora da dissertação conta que sempre se incomodou com a violência sofrida por árbitros em todas as modalidades esportivas. “Às vezes, você sinaliza uma infração e as duas equipes reclamam. Ao parar com a arbitragem, há quatro anos, tive vontade de buscar a origem desta postura em relação ao trabalho de arbitragem e o que leva a pessoa a se tornar um árbitro. O futebol foi uma escolha pessoal para fugir um pouco do âmbito do handebol. A mídia, por exemplo, ironiza ao rotular os árbitros como atletas frustrados, jogadores que não deram certo.” No entanto, a ironia não cabe para os três árbitros da Fifa entrevistados pela autora, dois homens e uma mulher, cujos nomes são omitidos em respeito a norma do comitê de ética. “Na época da pesquisa, o Brasil tinha dez árbitros internacionais, três deles da Federação Paulista de Futebol, que escolhi por já terem passado por todas as experiências da profissão: campeonato regional, brasileiro e jogos internacionais. Todos possuem curso superior em educação física e apenas um deles não trabalha na área, é comerciante.” Segundo Carla Righeto, os árbitros ouvidos se dizem apaixonados pela arbitragem e pelo futebol, que praticaram desde a infância, e foram influenciados por familiares e ami-
gos para que se formassem e seguissem na profissão. “Um deles tinha um irmão árbitro e cresceu no meio esportivo. Outro caso é de um ex-jogador de futebol, que percebeu cedo que aquela carreira era para poucos e preferiu estudar; foi convidado por amigos para um curso de arbitragem, começou a apitar e acabou pegando gosto.” O primeiro capítulo da dissertação traz o histórico do surgimento da figura do árbitro no futebol, depois que a Football Association da Inglaterra, nos idos de 1863, estabeleceu as primeiras regras para o esporte. “Por estas regras ainda não existiam os árbitros. Inicialmente eram os próprios capitães das equipes que, em caso de divergência, conversavam e resolviam a questão. Não era aceito que um gentleman cometesse uma ação deliberada sobre outro jogador.” Carla Righeto segue explicando que a regra do impedimento viria a motivar a presença de uma pessoa (que ainda não era chamada de árbitro) em um ponto privilegiado para observar o posicionamento dos jogadores. “Mesmo assim, esse observador era apenas consultado, em caso de impedimento duvidoso. Quando o futebol começou a se desenvolver e profissionalizar, e com as premiações, as disputas se tornaram mais acirradas e os capitães deixaram de se entender. E então os árbitros entraram em campo para decidir sobre lances, penalidades e expulsões, em 1891.” Ainda no primeiro capítulo, a professora trata do ingresso das mulheres na arbitragem e da violência particular que elas sofrem, relacionada à falta de oportunidades de trabalho em um universo tradicionalmente masculino. “Os homens, mesmo não sendo queridos, estão estabelecidos no futebol, as mulheres são os outsiders, na expressão de Norbert Elias. As mulheres ainda buscam espaço. A árbitra que entrevistei passou pelos mesmos cursos de formação, testes físicos e avaliações que os dois colegas da Fifa, mas apita apenas jogos do sub-21 masculino e não dos campeonatos principais.”
tativa de denegrir sua imagem. Um deles me contou que são atacados verbalmente no aeroporto, restaurante, entrada de hotel e, por vezes, quando viajam no mesmo voo com dirigentes ou torcedores.” A professora observa que os três entrevistados, por serem árbitros da Fifa, contam com melhor assessoria na chegada ao estádio e atuam em jogos mais importantes, com transmissões de TV. “Qualquer atitude antidesportiva contra o árbitro ficará registrada, podendo-se enquadrar o jogador ou dirigente agressor. Já foram insultados em hotéis e restaurantes, mas não sofreram agressão física na carreira, embora tenham colegas que saíram com escolta policial do estádio porque o time da casa perdeu. Ao que parece, o lugar mais seguro para esses árbitros acaba sendo o campo de jogo.” O trabalho de jornalistas e comentaristas recebe duras críticas dos entrevistados, por se beneficiarem de recursos tecnológicos que os árbitros não dispõem para destacar erros e contribuir para a violência com comentários que consideram desumanos. “Os árbitros acusam a mídia de ser ‘torcedora’, mas acham que o nível está melhorando com o surgimento de jornalistas ‘sérios’ e esperam que ela se torne mais informativa e se atualize sobre as regras. Acham também que a mídia acaba incitando a violência, por exemplo, ao anunciar jogos como ‘guerras’, deixando os ânimos à flor da pele.” Carla lembra que nos campeonatos profissionais da CBF e FPF, os jogos não se realizam se o policiamento não estiver presente. “Os árbitros têm os policiais como parceiros, bem como a Justiça Desportiva, mas ainda veem a impunidade como um agravante para que atitudes violentas continuem a ocorrer. Há casos em que se sabe de onde partiu a violência – de jogador, comissão técnica, dirigente, torcedor. Porém, existem relatos de jogadores que agrediram o árbitro e foram condenados pelo TJD, mas os clubes entraram com recurso e a punição aos atletas foi reduzida de um ano para três jogos.”
PROFISSIONALIZAÇÃO De acordo com a autora da dissertação, a profissão de árbitro de futebol foi reconhecida e regulamentada por lei de outubro de 2013 e, desde então, estudam-se propostas para que a profissionalização de fato aconteça. “Os três entrevistados dedicam a maior do seu tempo à arbitragem, por conta da necessidade de se deslocar para a realização dos jogos. Um deles é comerciante autônomo e os outros dois trabalham na área de educação física, mas possuem horários maleáveis. Não têm vínculo empregatício com a FPF nem com a CBF e isso significa que, em caso de lesão física, ficam sem salário ou cobertura médica, quando a maior parte de seus ganhos vem da arbitragem.” Carla Righeto não perguntou sobre o rendimento dos árbitros da Fifa, mas sabe que há dois anos girava em torno dos R$ 3 mil por partida. “Quem ganha salário mínimo faz as contas: dois jogos por semana, 24 mil por mês, é um rendimento que impressiona. Mas, dentro de campo, vemos um técnico que ganha 500 mil e jogadores com salários médios de 200 mil, enquanto a torcida xinga o árbitro, que não tem a certeza de trabalhar toda semana e, se cometer erro grave, vai para a geladeira. Quem quer errar diante de tantas câmeras no estádio e depois ler as críticas nos jornais?”
Publicação Dissertação: “Árbitros: vilões e/ou mediadores do espetáculo?” Autora: Carla Righeto Orientadora: Heloisa Helena Baldy dos Reis Unidade: Faculdade de Educação Física (FEF)
Foto: Antonio Scarpinetti
EMOÇÕES REPRIMIDAS
A autora buscou o referencial teórico para a dissertação na sociologia do esporte, principalmente na teoria do processo civilizatório de Norbert Elias, segundo a qual os seres humanos, a fim de conviver em sociedade, reprimem as suas emoções. “Para Elias, as atividades miméticas, como as esportivas e artísticas, oferecem um espaço para extravasar as emoções, mesmo que através de reações descontroladas, mas dentro de um limite aceito socialmente: se você chora no trabalho, os colegas estranham; mas se chorar no cinema ou gritar em jogo de futebol, não. Já o exagero vem da falta de autocontrole, da estrutura social brasileira com grandes diferenças sociais e da formação da criança e adolescente.” Considerando que as raízes e causas da violência contra árbitros estão relacionadas à violência presenciada diariamente na sociedade, Carla Righeto procurou entender o sentimento que os entrevistados têm a respeito. “Os árbitros interpretam essa violência como falta de diálogo e respeito, incompreensão do trabalho de arbitragem, exposição a situações constrangedoras, ten-
Arquibancada do estádio do Morumbi, em partida do Campeonato Brasileiro: árbitro é alvo preferencial dos torcedores
Carla Righeto, autora da dissertação: “Os árbitros acusam a mídia de ser ‘torcedora’, mas acham que o nível está melhorando com o surgimento de jornalistas ‘sérios’ e esperam que ela se torne mais informativa e se atualize sobre as regras”
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Estudo demonstra que jogos eletrônicos podem auxiliar professores como ferramenta didática
Exergames, das salas de aula ao atletismo Fotos: Antonio Scarpinetti
ISABEL GARDENAL bel@unicamp.br
videogame como recurso didático constitui uma parte importante da aprendizagem e da interação social das crianças. Os exergames, por exemplo, criados em 2007, são jogos eletrônicos que captam e virtualizam os movimentos reais dos seus usuários, possibilitando a ampliação e a recriação de práticas e vivências corporais na escola. Isso contribui para o aprendizado de conteúdos, sobretudo de educação física, o que vai na contramão da ideia de que jogos eletrônicos levam invariavelmente ao sedentarismo. Uma pesquisa de mestrado feita por Karen Regina Salgado na Faculdade de Educação Física (FEF), com alunos dos quartos e quintos anos de uma escola de ensino fundamental sediada na Unicamp, concluiu que os exergames para o ensino de atletismo e de outras modalidades esportivas podem e devem estar presentes nas aulas, desde que tenham uma mediação pedagógica. “Entregar o videogame para uma criança jogar apenas não tem sentido, se a intenção é ensinar conteúdo”, reforçou a mestranda. O seu estudo mostrou que essa ferramenta pode ser uma forte aliada do professor, assim como o livro didático também é para ensinar a ler e a escrever. Ela avaliou o uso dos exergames por 42 alunos com idade entre nove (19) e dez anos (23) em 2014. Este trabalho fez parte do programa de pós-graduação da Faculdade de Educação Física (FEF) em conjunto com a Faculdade de Ciências Aplicadas (FCA). Quando idealizou o seu projeto, a autora relatou que a intenção não era formar atletas e sim que os alunos tivessem a vivência e conhecessem um outro instrumento para aprender. No seu entender, os exergames são uma boa estratégia de aprendizagem, por auxiliarem o professor em sala de aula e também fora dela. Apesar disso, admitiu, o tema ainda suscita discussões de que os videogames trazem afastamento das práticas esportivas e do brincar com movimentação. De acordo com o professor da FCA Alcides Scaglia, orientador do estudo, a contribuição que o avanço tecnológico tem trazido à sociedade contemporânea é inegável. “Não é possível ignorar a influência que ele exerce sobre as crianças, sobre essa geração. Por isso, quando dizemos que estamos diante de alunos do século 21, numa escola de estrutura de século 20, se não fizermos a transposição, correremos o sério risco de não ter um todo interessante. Faltará sempre o componente de atualidade e o contexto.”
AÇÃO Conforme Karen, a tecnologia dos videogames começou com o Wii, console de uso doméstico produzido pela empresa Nintendo, lançado em 2006. No ano seguinte, veio o Xbox com o Kinect, que foi utilizado nesse trabalho (e que custa por volta de R$1.600), e depois foi lançado o Playstation. São videogames que empregam o corpo como avatar (uma espécie de espelho). Os movimentos são reproduzidos na tela do videogame. No estudo, a autora explorou o ensino de atletismo, montando um conjunto de oito aulas com exergames, que foi conciliado com aulas de quadra. Noventa e oito por cento das crianças estudadas nunca tinham tido aulas de atletismo na educação física escolar. Com essa nova dinâmica, elas não só o aprenderam como conseguiram melhorar o rendimento do seu jogo: na corrida, no salto, no arremesso e no lançamento. Os alunos, informou a pesquisadora, também demonstraram interesse por esse aprendizado pelo fato de terem acesso ao videogame, o qual normalmente eles associam à brincadeira. A metodologia uniu o videogame e as atividades práticas. E tudo colaborou para
Estudantes do ensino fundamental durante atividade com videogame em aula de educação física: contribuição para o aprendizado de conteúdos
que os alunos tivessem uma boa representação do que significa o jogo de atletismo real, visto que na escola dificilmente teriam à sua disposição uma pista de atletismo. “Adaptamos a quadra para o aprendizado do atletismo real. E o videogame trouxe a referência do jogo real, com algumas perspectivas, inclusive técnicas”, revelou Scaglia. No início, os alunos apresentaram erros de nomenclatura dos jogos. Usaram o termo corrida de obstáculos, ao invés de corrida com barreiras, e a nomenclatura lançamento, ao invés de arremesso. “Logo, em hipótese alguma, esse tipo de jogo substitui o professor de educação física. Por outro lado, é um grande facilitador para os alunos entenderem o conceito do que é o atletismo e de como jogar.”
ALTERNATIVA
Karen criou um roteiro de intervenção lúdica com brincadeiras que depois passaram para o videogame. Os resultados foram encorajadores, principalmente porque o atletismo é uma modalidade pouco inserida nas escolas pela falta de espaço físico. A mestranda garantiu que é possível dar a dimensão desse conteúdo na escola como prática que permite uma atualização própria da educação física, até porque essa prática é praticamente restrita hoje às quadras. “Com um roteiro, os alunos foram capazes de entender o que é o atletismo real e o virtual, jogar o atletismo e, o mais importante, levá-lo para além da escola. Isso porque aprenderam primeiramente que o atletismo é divertido, é desafiador e é possível de ser praticado por todas as pessoas”, frisou Scaglia.
Dentro da proposta, as crianças nunca competiam entre si. O desenvolvimento do atletismo e das aulas era em busca da autossuperação. Então, eles próprios marcavam o seu tempo e competiam contra eles mesmos. Os alunos foram divididos em trios. Na aula de corrida de velocidade, recebiam um cronômetro e uma prancheta. Enquanto um colega corria, um era responsável por cronometrar o tempo e outro por organizar a planilha. Todos passavam por todas as funções. Eles faziam até o papel do observador. Nas próprias aulas com o Xbox, percebiam os detalhes técnicos, como a questão de elevar mais o joelho na hora da corrida e como mexer no cronômetro. “Quando elevavam as pernas, modificavam o controle do corpo e melhoravam o tempo do videogame”, descreveu Karen. “Caímos nas dimensões do conteúdo que os especialistas trazem, que é o atletismo na dimensão de conceito, de saber o atletismo, de saber fazer o atletismo, de saber ser o atletismo e de respeitar o colega dentro desse conteúdo.” Outro aspecto curioso do trabalho foi que a pesquisadora adaptou os espaços e os equipamentos, produzindo objetos alternativos para lançar e para saltar. Ela empregou, no ensino de atletismo prático, cadeiras e cabos de vassoura para promover corridas com barreiras. No lançamento de disco, não empregou o disco de ferro, que iria estragar o chão da quadra. Usou rodinha de carrinho de feira. O dardo foi feito com cabo de vassoura. A escola não tinha cones. Utilizou garrafas pet com anilina colorida. Não havia tanque de areia no salto a distância. Foi então adotado um colchão.
O professor Alcides Scaglia, orientador da pesquisa: “O videogame trouxe a referência do jogo real, com algumas perspectivas, inclusive técnicas
Os alunos puderam reproduzir a ideia. Aprenderam que o atletismo e outros jogos poderiam ser praticados em diferentes espaços, pois o objetivo na aula de educação física não era ensinar o atletismo formal, com sua regra oficial, no seu espaço oficial. Era, antes, mostrar o que é o atletismo e como pode ser jogado, sublinhou Scaglia. Ele ainda realçou que no atletismo é possível mostrar que podem ser usadas novas tecnologias para complementar o ensino, mas de novo com os devidos cuidados, “pois não estamos preocupados simplesmente com a motivação e sim com a aprendizagem”. Karen trabalhou com corrida de velocidade, corrida com barreiras, salto em distância, lançamento de disco e de dardos. Também passou por modalidades como corrida de revezamento e corrida de resistência, contou a mestranda, que atua como professora de educação física em duas escolas da região de Campinas.
Publicação Dissertação: “Press start: os exergames como ferramenta metodológica para o ensino do atletismo na educação física escolar” Autora: Karen Regina Salgado Orientador: Alcides José Scaglia Unidade: Faculdade de Educação Física (FEF) e Faculdade de Ciências Aplicadas (FCA)
Karen Regina Salgado, autora da dissertação: “Com um roteiro, os alunos foram capazes de entender o que é o atletismo real e o virtual”
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Painel da semana
Eventos futuros
Painel da semana Descobertas - A ópera multimodal “Descobertas”, do compositor Jônatas Manzolli (Unicamp), será apresentada em Campinas, no Teatro Iguatemi, nos dias 27 e 28 de setembro, às 20 horas, dentro das comemorações dos 50 anos da Unicamp. Com entrada gratuita, o projeto é uma realização conjunta do Centro de Integração, Documentação e Difusão Cultural da Unicamp (CIDDIC), Núcleo Interdisciplinar de Comunicação Sonora (NICS) e dos Departamentos de Música e Dança do Instituto de Artes (IA) da Unicamp. Com cerca de 60 minutos, “Descobertas”, chamada ópera multimodal por utilizar diferentes formas interpretativas e mediação tecnológica, reúne 40 intérpretes em cena, entre músicos da Orquestra Sinfônica da Unicamp, do Grupo de Percussão, do Coro Contemporâneo e de bailarinos de Artes Corporais da Unicamp. A composição destaca a música de concerto contemporânea, na qual o palco e a plateia integram-se para sensibilizar todos os sentidos. Mais detalhes: telefone 19-3521-923 ou e-mail beth@nics. unicamp.br Homenagem a Luciano Coutinho - O Instituto de Economia (IE) da Unicamp organiza no dia 28 de setembro, às 14h30, no Auditório “Zeferino Vaz”, evento para homenagear o professor Luciano Coutinho. No encontro haverá debates sobre desenvolvimento econômico, indústria, inovação, política industrial e tecnológica e lançamento de livro. Interessados em economia brasileira, inovação e política industrial são o público-alvo do evento. Mais detalhes: telefone 19-3521-5714 ou e-mail camilaie@unicamp.br Perspectivas de inovação na Europa e América La-
tina - De que maneira as práticas inovativas se relacionam com a inclusão social? Esta e outras questões serão respondidas no dia 27 de setembro durante o debate “Perspectivas de Inovação na Europa e América Latina”, evento que está marcado para acontecer às 14 horas, no Auditório do Instituto de Geociências (IG) da Unicamp. O debate será feito em inglês, sem tradução simultânea. A participação é livre a interessados. Mais detalhes pelo telefone 19-3521-4561 ou e-mail markosy@ige.unicamp.br Fórum de ciência, tecnologia e informação - Com o tema “Inteligência e gestão do conhecimento”, no dia 29 de setembro, às 9 horas, no Auditório da Faculdade de Tecnologia (FT), em LimeiraSP, acontece a próxima edição do Fórum Permanente de Ciência, Tecnologia e Informação. Inscrições, programação e outras informações no link http://www.foruns.unicamp.br/foruns/projetocotuca/forum/ htmls_descricoes_eventos/tecno84.html Novos livros - No dia 29 de setembro, às 18 horas, no Alzirão Empório Bar, acontece o lançamento dos livros “Mudanças climáticas e respostas políticas nas cidades”, de Fabiana Barbi; e “Sociedade de risco”, de Estevão Bosco. O Alzirão fica na rua Francisco de Barros Filho 432, em Barão Geraldo, Campinas-SP. A organização é da Editora da Unicamp e da Editora Annablume. Mais detalhes pelo telefone 11 997575417 ou e-mail fabarbi@gmail.com
Teses da semana
Workshop de petróleo - O Capítulo estudantil SPE Unicamp
organiza no dia 3 de outubro, às 8 horas, na Faculdade de Engenharia Mecânica (FEM), o Workshop de Petróleo da Unicamp. O evento, que é aberto para a comunidade acadêmica, objetiva divulgar o conhecimento técnico-científico para a comunidade na área de Petróleo. O Capítulo Estudantil SPE Unicamp é uma associação sem fins lucrativos de estudantes vinculados ao curso de Ciências e Engenharia de Petróleo da Unicamp, sendo a primeira organização de estudantes da Society of Petroleum (SPE) no Brasil. Mais detalhes podem ser obtidos no site www.speunicamp.org ou e-mailcomunicacaospeunicamp@gmail.com Fórum de saúde - Evento que abordará longevidade e qualidade de vida acontece no dia 4 de outubro, às 9 horas, no Centro de Convenções. O objetivo é fomentar os diálogos relacionados ao idoso na sociedade atual. Inscrições e outras informações na página eletrônica http://www.foruns.unicamp.br/foruns/projetocotuca/forum/ htmls_descricoes_eventos/saude85.html Segurança e vida útil dos alimentos - A Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA) organiza nos dias 4 e 5 de outubro, em seu Salão Nobre, o workshop “Automação, métodos rápidos e moleculares: avanços e aplicações para garantir a segurança e vida útil dos alimentos”. As inscrições já estão abertas e podem ser feitas até o dia 3 de outubro, no link http://www.funcamp.unicamp.br/eventos/WorkshopMetodosRapidosMoleculares/index.asp. O público-alvo são profissionais e estudantes da área de Alimentos. O workshop terá palestras e atividades práticas com o que há de mais importante e moderno em métodos rápidos e automação para laboratórios de microbiologia. Na primeira palestra, às 8h30, o professor Anderson Sant’ana (FEA) fala sobre métodos rápidos para análise microbiológica de alimentos. O Salão Nobre FEA fica na rua Monteiro Lobato 80, no campus da Unicamp. Mais informações pelo e-mail metodosrapidos.unicamp@gmail. com ou telefones 19- 3521-0064/3521-0091. Votação eletrônica da Cipa - A Comissão Interna de Prevenção de Acidentes no Trabalho (CIPA) da Unicamp realiza, em outubro, a sua primeira votação eletrônica. Será por meio do Sistema de Voto Eletrônico “E-VOTO”, desenvolvido pelo Centro de Computação (CCUEC). O objetivo é escolher os novos representantes para o período 2016/2017. De acordo com Rosangela Martinhago, presidente da Cipa-Unicamp, “mais de dez mil e-mails já foram encaminhados aos docentes e funcionários para a ativação de dados”. Essa ativação deve ser concluída até 5 de outubro. Já, a votação para a escolha dos novos representantes, acontece nos dias 19 e 20 do mesmo mês. Quem não conseguir acessar o sistema, poderá realizar a votação em cédula de papel, que estará disponível nas unidades eleitorais, nos dias de votação. Outras informações podem ser obtidas pelo telefone 19-35217532 ou e-mail cipa@unicamp.br Simpósio de segurança em química - Com o tema “Eu faço química com segurança”, no dia 5 de outubro, às 9 horas, no Auditório “Inés Joekes” do Instituto de Química (IQ) da Unicamp,
Eventos futuros
acontece o IV Simpósio de Segurança em Química. O objetivo do evento é promover a reflexão sobre segurança relacionada ao contexto da química. A organização é da Cipa Setorial e da Comissão de Segurança e Ética Ambiental do IQ. O evento tem como público-alvo funcionários, estudantes de graduação e de pós-graduação, docentes e pesquisadores. Mais detalhes e inscrições na página eletrônica http:// www.iqm.unicamp.br/iv-simp%C3%B3sio-de-seguran%C3%A7a-emqu%C3%ADmica-0 Congresso da ANGE - O Instituto de Economia (IE) da Unicamp sedia, entre 5 e 7 de outubro, o Congresso da Associação Nacional dos Cursos de Graduação em Ciências Econômicas (ANGE) com o tema “O ensino de economia no Brasil: Pluralismo em tempos de crise”. O objetivo é promover o debate sobre a formação do economista, envolvendo a participação de coordenadores de cursos, docentes, profissionais, estudantes e demais interessados. O Congresso contará com mesas temáticas, grupos de trabalhos e de discussão, minicursos e reuniões envolvendo a formação e atuação de economistas no Brasil. Para as mesas especiais, deverão ser convidados professores renomados em suas áreas de atuação, capazes de contribuir para o desafio proposto para o Congresso. Para mais informações sobre o evento acesse www.ange.org.br
Teses da semana Ciências Médicas: “Avaliação da disfunção hipotalâmica em crianças e adolescentes com obesidade” (doutorado). Candidata: Letícia Espósito Sewaybricker. Orientador: professor Gil Guerra-Junior. Dia 28 de setembro de 2016, às 14 horas, na sala 3 do CIPED da FCM. Computação: “Proteção de dados sensíveis através do isolamento de processos arbitrários em sistemas operacionais baseados no Linux” (mestrado). Candidato: Otávio Augusto Araújo Silva. Orientador: professor Paulo Lício de Geus. Dia 26 de setembro de 2016, às 14 horas, no auditório do IC 2 do IC. Educação: ““Fomos, somos e seremos comunistas”: a educação nas atividades do Partido Comunista do Brasil (1920 a 1950)” (mestrado). Candidata: Lilian Zanvettor Ferreira. Orientadora: professora Debora Mazza. Dia 26 de setembro de 2016, às 14 horas, na FE. Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo: “Sistema delineador em design de superfície para significação e identidade arquitetônica corporativa” (doutorado). Candidata: Jacqueline Aparecida Gonçalves Fernandes de Castro. Orientador: professor Ana Lúcia Nogueira de Camargo Harris. Dia 28 de setembro de 2016, às 14 horas, na sala de defesa de teses 3 do prédio de sala de aulas da FEC. “Estudo da água não evaporável na hidratação do cimento Portland com escória de alto forno por meio de análise térmica” (mestrado). Candidato: Fábio Blas Masuela. Orientadora: professora Gladis Camarini. Dia 29 de setembro de 2016, às 9h30, na sala de defesa de teses 2 do prédio de aulas da FEC.
Destaque do Portal
“Integração de sistemas de planejamento e controle da produção para empreendimentos da construção civil” (doutorado). Candidato: Hylton Olivieri. Orientador: professor Ariovaldo Denis Granja. Dia 30 de setembro de 2016, às 14 horas, na sala de defesa de teses 3 do prédio de aulas da FEC. Engenharia de Alimentos: “Interesterificação enzimática de lipídios estruturados a partir de óleo de girassol alto oleico com triacilgliceróis saturados de cadeia longa” (doutorado). Candidata: Marilene de Mori Morselli Ribeiro. Orientadora: professora Lireny Aparecida Guaraldo Gonçalves. Dia 26 de setembro de 2016, às 14 horas, no auditório ll do DTA da FEA. Engenharia Elétrica e de Computação: “Identificação por radiofrequência: uma ferramenta de ensino” (doutorado). Candidata: Renata Rampim de Freitas Dias. Orientador: professor Hugo Enrique Hernandez Figueroa. Dia 26 de setembro de 2016, às 14 horas, na sala PE12 do prédio da CPG da FEEC. “Contribuições para medidas de eficiência de protocolos fisioterapêuticos e exercício físico e diagnóstico automático de patologias usando imagens de alta resolução da retina humana” (Doutorado). Candidata: Angélica Moises Arthur. Orientador: professor Yuzo Iano. Dia 30 de setembro de 2016, às 9h30, na sala de defesa de teses do prédio da CPG da FEEC. “Contribuições para o desenvolvimento de eletrodos interdigitados e atuadores eletromagnéticos com aplicações em dispositivos microfluídicos portáteis” (doutorado). Candidato: Luiz Eduardo Bento Ribeiro. Orientador: professor Fabiano Fruett. Dia 30 de setembro de 2016, às 14 horas, na sala PE12 da FEEC. Filosofia e Ciências Humanas: “Vivendo um “espetáculo de misérias”: a experiência dos escravos traficados para Campinas, 1860-1888” (mestrado). Candidata: Leticia Graziele de Freitas Lemes. Orientadora: professora Silvia Hunold Lara. Dia 27 de setembro de 2016, às 14 horas, na sala de defesa de teses do IFCH. Matemática, Estatística e Computação Científica: “Cálculo fracionário e as equações de evolução” (doutorado). Candidato: Junior Cesar Alves Soares. Orientador: professor Edmundo Capleas de Oliveira. Dia 29 de setembro de 2016, às 14 horas, na sala 253 do Imecc. Odontologia: “Análise morfológica de ferimentos de entrada produzidos por projétil de arma de fogo sob diferentes angulações em osso temporal pelo método de elementos finitos” (mestrado). Candidata: Denise Rabelo Maciel. Orientadora: professora Ana Cláudia Rossi. Dia 29 de setembro de 2016, às 14 horas, na Congregação da FOP. Química: “Novas abordagens para ligação cruzada em proteômica estrutural” (doutorado). Candidata: Mariana Fioramonte. Orientador: professor Fábio Cesar Gozzo. Dia 27 de setembro de 2016, às 14 horas, no miniauditório do IQ. “Impacto de diferentes métodos de esterilização nas propriedades físico-químicas de polímeros e na degradação da bacitracina de zinco utilizados em bandagens adesivas” (mestrado). Candidato: Marcelo Francisco de Azevedo Silva. Orientador: professor Marcelo Ganzarolli de Oliveira. Dia 28 de setembro de 2016, às 14 horas, no miniauditório do IQ.
Destaque do Portal
Vestibular: sobe o número de inscritos de escolas públicas Comissão Permanente para os Vestibulares da Unicamp (Comvest) registrou 30,2% de inscritos oriundos de escolas da rede pública de ensino no Vestibular Unicamp 2017. O número é dois pontos percentuais maior do que aquele registrado no ano passado (28,2%) e representa 22.165 estudantes de escolas públicas inscritos, contra 21.939 do ano anterior. Este ano, o número total de inscritos ficou em 73.487. No ano anterior o Vestibular Unicamp teve 77.768 candidatos. No Vestibular Unicamp 2017, os candidatos disputarão 3.330 vagas distribuídas em 70 cursos de graduação da Unicamp. A relação de candidatos por vaga (c/v) geral é de 22,7. Os locais de prova da primeira fase serão divulgados pela Comvest no dia 27 de outubro, também em sua página na internet. A primeira fase será realizada no dia 20 de novembro e a segunda fase acontecerá nos dias 15, 16 e 17 de janeiro de 2017. Antes da primeira fase, haverá provas de Habilidades Específicas para candidatos aos cursos de Música (Etapa II), no período de 9 e 10 de outubro. Para os demais cursos (Arquitetura e Urbanismo, Artes Cênicas, Artes Visuais e Dança), as provas de Habilidades Específicas ocorrerão no período de 23 a 26 de janeiro de 2017.
CONCORRÊNCIA
As dez carreiras mais concorridas no Vestibular Unicamp 2017 são: Medicina, com 221 candidatos por vaga; Arquitetura e Urbanismo (96,3 c/v); Comunicação Social - Midialogia (47 c/v); Ciências Biológicas – Integral (43 c/v); Engenharia Civil (34,6 c/v ); Engenharia Química – Integral (33,3 c/v); História (30,2 c/v); Engenharia de Produção (28,3 c/v); Ciências Econômicas (27,7) e Odontologia (27,5 c/v).
Foto: Antonio Scarpinetti
Inscritos - Comparativo Vestibular 2016/Vestibular 2017 2016
2017
ESCOLA PÚBLICA
28,2%
30,2%
PRETOS, PARDOS E INDÍGENAS GERAL
19,4%
20,3%
36,9%
36,3%
PRETOS, PARDOS E INDÍGENAS GERAL NO PAAIS
INCLUSÃO SOCIAL A Comvest registrou aumento do número de candidatos oriundos de escolas da rede pública inscritos para o Vestibular Unicamp 2017. O índice subiu de 28,2% no vestibular anterior para 30,2% este ano. Entre os candidatos autodeclarados pretos, pardos ou indígenas (de acordo com a nomenclatura utilizada pelo IBGE), também houve crescimento e o percentual passou de 19,4% no ano anterior para 20,3% do total de inscritos este ano. O percentual dos pretos, pardos e indígenas entre os candidatos que optaram pelo PAAIS (Programa de Ação Afirmativa para Inclusão Social) praticamente se manteve: ficou em 36,3% esse ano, contra 36,9% no ano passado.
MUDANÇAS No Estado de São Paulo, a Unicamp vai aplicar as provas de seu vestibular em quatro novas cidades: Botucatu, Bragança Paulista, Marília e Registro. Assim, a partir deste ano serão 29 cidades no Estado: Araçatuba, Avaré, Bauru, Botucatu, Bragança
Candidatos durante prova da edição de 2016 do Vestibular da Unicamp
Paulista, Campinas, Franca, Guaratinguetá, Guarulhos, Jundiaí, Limeira, Marília, Mogi das Cruzes, Mogi Guaçu, Osasco, Piracicaba, Presidente Prudente, Registro, Ribeirão Preto, Santo André, Santos, São Bernardo do Campo, São Carlos, São João da Boa Vista, São José do Rio Preto, São José dos Campos, São Paulo, Sorocaba e Sumaré. Fora do Estado de São Paulo, a Unicamp aplicará as provas de seu vestibular em Brasília. Pela primeira vez, os candidatos aos cursos de Música, fizeram a primeira etapa das Provas de Habilidades Específicas de maneira não presencial, por meio do envio de vídeos. Outra mudança para o Vestibular desse ano diz respeito à prova da primeira fase. Invés de quatro questões interdisciplinares, como no ano passado, a Comvest adotará 12 questões interdisciplinares na prova da primeira fase, que tem um total de 90 questões de múltipla escolha.
O Programa de Ação Afirmativa para Inclusão Social da Unicamp (PAAIS) ampliou sua abrangência. A partir deste ano, além dos candidatos que cursaram o ensino médio integralmente em escolas da rede pública de ensino no Brasil, aqueles candidatos que concluíram o ensino médio pelo ENEM também poderão beneficiar-se da pontuação do PAAIS, de acordo com as regras estabelecidas no Edital do Vestibular Unicamp 2017. O PAAIS prevê a adição de 60 pontos à nota da primeira fase do Vestibular e mais 20 pontos para candidatos que se autodeclararem pretos, pardos ou indígenas e que também tenham cursado escola pública. Além da bonificação na primeira fase, os candidatos que passarem para a segunda fase têm mais 90 pontos na prova de redação e outros 90 nas demais provas da segunda fase. Candidatos que se autodeclararem pretos, pardos ou indígenas têm mais 30 pontos na segunda fase, além dos 90, totalizando 120 pontos.
11 Campinas, 26 de setembro a 2 de outubro de 2016
Ensino superior em países
de língua portuguesa é
tema de fórum internacional ISABEL GARDENAL bel@unicamp.br
rofessores, pós-graduandos, graduandos, gestores e autoridades públicas que discutem a educação superior estarão reunidos na 6ª Conferência Fórum da Gestão do Ensino Superior nos Países e Regiões de Língua Portuguesa (Forges - http:// www.anped.org.br/news/6a-conferenciaforges-28-30-de-novembro-campinas-sp), que acontece pela primeira vez na Unicamp. O reitor da Universidade, professor José Tadeu Jorge, abre o evento no dia 28 de novembro, às 9 horas, no Centro de Convenções da Universidade, para um debate qualificado e abrangente. Veja a programação completa (http://www.ggbs. gr.unicamp.br/aforges/6/programa.php). O objetivo é refletir sobre a missão da educação superior no desenvolvimento de regiões e de países que têm o português como língua oficial. Esse evento é organizado pela Associação Forges, em parceria com a Unicamp, e vários outros apoiadores do Brasil e do exterior. Nessa edição, o tema é “Para quê(m) servem as universidades e os institutos de ensino superior? Balanços, proposições e desafios acerca do seu papel no século XXI”. Participam da abertura da sexta conferência a professora Luísa Cerdeira, presidente da Associação Forges (Portugal); a professora da Faculdade de Ciências Aplicadas (FCA) Milena Pavan Serafim, que organiza o evento na Unicamp; e representantes dos governos dos países participantes. As inscrições já estão abertas e podem ser feitas no site do evento (www. bit.do/forges ou www.aforges.net). São esperadas cerca de 300 pessoas para esse evento anual. O encerramento acontece no dia 30 de novembro. A organizadora salienta que há dois motivos para a Unicamp sediar esse encontro. O primeiro é que o Brasil, segundo ela, tem um modelo de educação pública que assume um protagonismo na América Latina e nos países de língua portuguesa. O segundo tem a ver com sua forte liderança, por meio das universidades estaduais paulistas que assumem a dianteira nos rankings (na produção de conhecimento, na gestão e na inserção de alunos na academia), mas também por meio das agências de fomento, como a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). Milena Pavan Serafim, que também é assessora da Pró-Reitoria de Desenvolvimento Universitário (PRDU), conta que essa conferência está ligada à Associação Forges, uma entidade sem fins lucrativos que surgiu em 2010 como uma rede que promove estudos, investigações e debates em gestão universitária e políticas de ensino superior de países lusófonos. A Forges tem atualmente 210 associados. “Devemos atrair grande público, pois essa não é apenas uma conferência acadêmica. Ela tem em vista também o diálogo com os tomadores de decisão dos países que formam a rede. Virão ministros, presidentes de instituições, embaixadores, entre outras autoridades”, informa a docente. Por isso, estão sendo propostos debates, um balanço da conjuntura e do papel social da universidade e dos institutos de ensino superior.
Organizado pela Associação Forges em parceria com a Unicamp, evento ocorre em novembro “A autonomia universitária poderá ser o ponto de partida para as discussões”, destaca Milena. “Isso porque ela é fundamental para que sejam criadas minimamente condições de caminhar numa perspectiva do que entendemos o que é a universidade e como ela deve se desenvolver no ensino, na pesquisa e na extensão.” Por outro lado, a docente reconhece que a autonomia não significa necessariamente soberania. “É preciso respeitar a quem servimos. O dinheiro é público, mas, mesmo tendo autonomia para usá-lo para diversos fins, é preciso prestar contas do que fazemos. Então as expressões ‘para quê’ e ‘para quem’ serve, delineadas na temática, vão muito além da reflexão do que é produzido e sua ligação com o mercado de trabalho. Devemos buscar inclusive apoio numa atuação mais cidadã e empreendedora”, sugere.
DEBATE PÚBLICO Foram programados para o evento duas conferências e três painéis, todos com a participação de especialistas renomados, e 14 sessões paralelas, que reunirão membros da comunidade acadêmica. A ideia é estabelecer um diálogo com todos. A conferência inaugural, revela Milena, será proferida no dia 28, às 11 horas, pelo professor José Barata-Moura, ex-reitor da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (Portugal). Ele falará sobre a “Mis-
são da universidade”. A segunda conferência ficará a cargo do professor titular aposentado da Faculdade de Educação (FE) da Unicamp, José Dias Sobrinho, que encerrará todas as atividades no dia 30, às 11 horas, fazendo um apanhado geral do evento. Além das conferências, serão realizados três painéis com as presenças de representantes de Portugal, Moçambique, Angola, Brasil, Macau, Índia, Cabo Verde e China, para abordar suas temáticas com as agências de fomento. Está confirmada a presença do presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). O primeiro painel vai abordar os múltiplos desafios da reafirmação e renovação da missão das instituições de ensino superior. “Muitas vezes temos até claras as missões no ensino, na pesquisa e na extensão. Reconhecemos a sua indissociabilidade. Contudo, temos que sair dessa perspectiva endógena de pensar que ela serve mais para nós, para perceber qual é o desafio dessas missões, com transbordamento para a sociedade”, frisa Milena. Jorge Bento, professor aposentado da Universidade do Porto (Portugal), será o moderador desse primeiro painel, que ainda terá como palestrantes Valdemar Sguissardi, professor titular da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar); António Branco, reitor da Universidade do Algarve (Portugal); e Ana Mondjana, vice-reitora da Universidade Mondlane (Moçambique). O segundo painel é sobre “Os contributos do ensino superior face aos novos desafios societais”. “A sociedade está cada vez mais complexa e é preciso saber se a interação da produção do conhecimento está adequada a esses desafios”, realça a organizadora do evento. Esse painel terá como moderador Luiz Dourado, professor titular da Universidade de Goiás, e como palestrantes Pedro Miguel Dominguinhos, presidente do Ins-
tituto Politécnico de Setúbal (Portugal); Aurobindo Xavier, presidente da Sociedade Lusófona de Goa (Índia); e Aurélia Almeida, coordenadora da Escola de Administração Pública do Instituto Politécnico de Macau (Macau). O terceiro painel discutirá a “Sustentabilidade, inovação e internacionalização na educação superior”. “O ensino superior sofre influência da globalização, e suas instituições precisam se preparar para a internacionalização. Precisam fazer avançar suas competências em inovação no contexto global, parcerias, redes cooperativas”, diz Milena. “Com a reunião de diferentes competências que conhecem bem a dinâmica de suas universidades e questões de gestão, o tema tende a avançar.” O professor Joaquim Ramos Carvalho, vice-reitor da Universidade de Coimbra (Portugal), será o moderador desse painel. Participam dele Maria do Rosário Sambo, reitora da Universidade Agostinho Neto (Angola); Paulino Fortes, ex-reitor da Universidade Pública de Cabo Verde; e Luiz Roberto Liza Curi, presidente do Inep. A expectativa dos trabalhos, comenta a organizadora, é muito grande, sobretudo porque a sexta conferência praticamente finalizará as comemorações dos 50 anos da Unicamp (iniciadas em outubro de 2015). Também a expectativa estrangeira com relação à Unicamp é muito elevada, uma vez que esta instituição se constitui modelo para outras – é a segunda mais destacada da América Latina entre as 50 mais jovens. Milena acredita que a principal atitude nesse momento é apontar para a sociedade o quanto a universidade contribui com ela, apesar da descrença e da desmoralização que o ensino superior tem vivido. “O nosso desafio será mostrar que a universidade pública está profundamente comprometida com a sociedade”, sustenta a assessora da PRDU. Foto: Antoninho Perri
A professora Milena Pavan Serafim, da Faculdade de Ciências Aplicadas: “A autonomia universitária poderá ser o ponto de partida para as discussões”
12 Campinas, 26 de setembro a 2 de outubro de 2016
Linchamento virtual, violência real Fotos: Divulgação/Reprodução
PATRÍCIA LAURETTI patricia.lauretti@reitoria.unicamp.br
ticas e eventos relacionados ao linchamento virtual põem em xeque aquilo que habitualmente pensamos a partir das oposições entre virtual e real, público e privado, etc. Por isso preferimos utilizar a preposição “e” em vez de “versus” para demostrar que ocorrem de modo simultâneo”. Os casos pesquisados por Karen foram reproduzidos em matérias jornalísticas on-line nos últimos dois anos e também no livro Humilhado: como a era da Internet mudou o julgamento público, do jornalista britânico Jon Ronson. Reunidos em um blog, de autoria de Karen, oito foram selecionados para a dissertação e usados para ilustrar os paradoxos, analisados de forma interdisciplinar, envolvendo conceitos da Filosofia e das Ciências Humanas e Sociais. Além dos casos Justine e Fabiane, foram reunidos: o caso de nordestinos alvos de intolerância na campanha presidencial de 2014; da norte-americana Alicia Ann Lynch, que publicou no Twitter uma fotografia onde aparecia fantasiada para uma festa como “vítima da maratona de Boston”; o caso da bancária Fabíola, que foi filmada num motel em episódio de traição e teve o vídeo disponibilizado na internet; o caso de um suposto agressor de mulheres, exposto num blog feminista; o caso de uma enfermeira em Tiradentes (MG) que foi filmada num posto de saúde numa atitude grosseira contra os usuários; além do caso do professor Idelber Avelar, acusado de assédio.
nome da dona de casa Fabiane Maria de Jesus talvez hoje passe despercebido. Quem irá se lembrar o quanto, em 2014, se falou sobre ela nas redes sociais ou, mais especificamente, sobre sua morte. Fabiane, mãe de dois filhos, 33 a n o s , foi linchada por moradores do bairro Morrinhos IV depois de confundida com uma sequestradora de crianças quando voltava para casa, na cidade paulista de Guarujá. A agressão foi devidamente registrada em fotos e vídeos que viralizaram nas redes sociais. O motivo da “confusão” dos linchadores: uma postagem em uma página noticiosa da cidade, no Facebook, que divulgava um retrato falado da suposta sequestradora, que estaria fazendo vítimas na cidade. Mais tarde soube-se que nem mesmo o desenho correspondia à denúncia. Tratava-se de um retrato feito dois anos antes, no Rio de Janeiro, relacionado a outro caso. Tratava-se de um boato. Sempre houve boatos, é certo, sempre houve linchamentos, mas as redes sociais são novas. E por redes sociais entenda-se potência, tudo elevado ao quadrado. Neste caso um boato, que começou na rede, teve consequências trágicas fora dela. Outras vezes, ocorre o inverso. Algum acontecimento do mundo “real” que vai parar no virtual, mas que também resulta em consequências para os envolvidos. São ocorrências do que a própria mídia chama de “linchamento virtual”, que pode resultar em morte ou dano físico, como no caso do Guarujá, ou moral, como foi o caso de Justine Sacco. Diretora sênior de comunicações em uma empresa norte-americana, prestes a embarcar para sua viagem de férias à África do Sul, Justine postou no Twitter: “Estou indo para a África. Espero que eu não pegue Aids. Brincadeira. Eu sou branca! ”. Quando desceu do avião, sua mensagem já era o assunto mais comentado entre todos os usuários da rede. Ela não pode se hospedar no hotel sob ameaça de que se o fizesse os funcionários entrariam em greve, perdeu seu emprego e luta – até agora – para ser esquecida. Uma reflexão sobre o tema realizada pela pesquisadora Karen Tank Mercuri Macedo supõe que há uma série de contradições, ou paradoxos, envolvidos nos linchamentos virtuais. São essas contradições que funcionariam como engrenagem para as relações sociais mediadas pelas Tecnologias da Informação e da Comunicação (TICs). Karen, que também é e funcionária da Faculdade de Tecnologia (FT) da Unicamp, definiu algumas delas em sua abordagem: público e privado, virtual e real, liberdade e controle, prazer e poder justiça popular e justiça institucional, liberdade de expressão e crime contra a dignidade humana. A dissertação “Linchamentos virtuais: paradoxos nas relações sociais contemporâneas”, orientada pela docente Carolina Cantarino Rodrigues, foi defendida no programa de Mestrado Interdisciplinar em Ciências Humanas e Sociais Aplicadas na Faculdade de Ciências Aplicadas (FCA) de Limeira. “O conjunto de questões mostra como as prá-
Muitos não percebem, mas a partir do momento em que uma pessoa liga um computador conectado à internet e acessa uma rede social, todos os seus cliques serão monitorados. O nome desse fenômeno é algoritmo, uma série de códigos baseados em inteligência artificial que estão no Facebook e em outros sites e que, com base na navegação do usuário, relaciona conteúdos semelhantes para serem mostrados. “Oferecer uma plataforma gratuita onde o usuário possa se conectar com amigos distantes e conhecer pessoas do mundo inteiro é um bom atrativo. Todavia, ao mesmo tempo em que se incita a circulação e a sensação de prazer dos usuários, empresas e governos potencialmente os vigiam e controlam”, observa Karen. No virtual, há mudanças nos modos de ser, agir, pensar e sentir. Nas redes sociais, o pensamento automatizado predomina. E para qualquer ação equivocada, sempre haverá alguém conectado, em qualquer lugar do mundo, para ler, curtir, comentar, compartilhar. “E nem precisa ser da mesma rede social, visto que é possível o compartilhamento entre redes de relacionamento on-line”, ressalta a pesquisadora. Muitas vezes não dá tempo de se arrepender e nunca se sabe qual será o alcance de uma publicação. “Justine Sacco pensou que sua mensagem iria apenas para seus 170 seguidores, porém foi a mais vista no mundo pelo Twitter. O mesmo aconteceu com Alicia, que não imaginava que sua foto chegaria inclusive para as próprias vítimas do atentado de Boston”. Nos casos de linchamentos virtuais, o virtual e o real ficam embaralhados. “Acusações e julgamentos ocorridos em redes sociais são deslocados para a vida das vítimas, trazendo consequências nas relações sociais fora da internet”.
Fotos: Divulgação/Reprodução
Foto: Antonio Scarpinetti
CONEXÃO
A postagem que resultou no linchamento de Fabiane Maria de Jesus (centro), cuja morte foi alvo de protestos em Guarujá: consequências trágicas
O hábito de fazer da rede social uma espécie de diário digital on-line também faz com que haja uma confusão na percepção de quais assuntos podem ser falados publicamente. “Há um enfraquecimento do conceito de público e privado. A privacidade passou a ser exteriorizada, principalmente nas redes sociais. O medo agora não é o de que o segredo possa ser revelado, mas sim que o outro não veja ou não curta suas publicações”. Como também é característica nas redes sociais perseguir padrões de comportamento, quando um grupo passa a usar a ferramenta para denunciar, xingar e julgar, muitos usuários acabam aderindo e, consequentemente, contribuem para alastrar os casos de linchamentos virtuais. No “caso Fabíola”, se não fosse a presença da Internet, o fato talvez ficasse somente entre familiares e amigos. “Ao ser externalizado nas redes sociais, como uma espécie de vingança, abriu-se a possibilidade para comentários e julgamentos de milhares de desconhecidos”, reflete Karen. O papel dos comentários é bastante relevante para legitimar o que foi dito na postagem inicial, segundo a pesquisa. “Ao cair na rede, um assunto passa por uma inspeção dos próprios usuários do que é aceitável ou não”, reitera. A postagem de Justine, por exemplo, foi compartilhada com dizeres que já a condenavam. Já no caso dos nordestinos, havia os dois lados. “Ao recorrer às redes sociais para externar alguma indignação procura-se por semelhantes que engrossem o coro e se juntem à massa, para que nela deixem vir à tona toda sua raiva”. Como as TICs já fazem parte do cotidiano das pessoas, salienta a autora, “cabe-nos expor à sociedade que existem sempre – e no mínimo – dois lados a serem considerados nos pronunciamentos e comportamentos on-line”.
Publicação
Justine Sacco, no Twiter, antes de ir para a África do Sul (alto) e os comentários sobre nordestinos na eleição de 2014: intolerância e preconceito
Karen Tank Mercuri Macedo, autora da dissertação: “Acusações e julgamentos ocorridos em redes sociais são deslocados para a vida das vítimas, trazendo consequências nas relações sociais fora da internet”
Dissertação: “Linchamentos virtuais: paradoxos nas relações sociais contemporâneas” Autora: Karen Tank Mercuri Macedo Orientadora: Carolina Cantarino Rodrigues Unidade: Faculdade de Ciências Aplicadas (FCA)