EMMAG
ULTRA
MAR 2018
WEIRDNESS Rapidez, compartilhamento, oferta. Viemos de um movimento frenético da moda em que blogs e redes sociais nos informaram, ao mesmo tempo, sobre tudo. Uma grande aldeia global trouxe diversos estilos que se misturaram até virarem praticamente um. Como resistência, a autenticidade de grupos específicos se torna o respiro de alívio e novidade, muito embora as referências sejam tão influenciadas pelo passado. Numa estética nova, política e incomum encontramos a contracultura para dias mais individualizados, que priorizam estilo e discurso. Nestas páginas, falamos sobre um lifestyle que se materializa em estética. Numa moda que traz a mais sincera leitura social. Carmela Scarpi Diretora de Redação
Top/ Cachecol - TEXTILARIA Choker - Austral Fotografia: Eduarda Hipólito Modelo: Emilia Hermsdorff Beauty: Marina Costa
Diretora de Redação: CARMELA SCARPI (carmela@evenmore.com.br) Projeto gráfico e Diagramação: SUZANA VD TEMPLE Redação: ALÉXIA SARAIVA; CARMELA SCARPI; EVELYNE PRETTI. Colaboradores: EDUARDA HIPÓLITO; GISAH RAMOS; JOÃO FINCATTO; JORDY KUSTER; KARINE BRAVO, LEONARDO SILVA; LIZI SUE; MARINA COSTA; PEDRO SOARES; THOMAS BERTI. Revisão: CARMELA SCARPI A revista digital EMMAG é uma publicação produzida pela equipe do grupo Even More Comunicação. Todos os direitos são reservados. É proibida a reprodução de qualquer tipo de conteúdo sem a autorização prévia e por escrito. Todas as informações técnicas, bem como anúncios e opiniões expressados, são de responsabilidade dos autores que estes assinam. Serviço de atendimento ao consumidor: contato@ evenmore.com.br Anúncio e Publicidade: comercial@evenmore.com.br
EMMAG #15
01
ULTRATHOUGHTS
02
ULTRATIPS
03
ULTRANEWS
04
EDITORIAL
05
ULTRABRANDS
MARÇO 2018
ULTRATHOUGTHS
EU, CIBORGUE
A RECONSTRUÇÃO ESTÉTICA DA CONTRACULTURA É COLORIDA PELA VIBRAÇÃO DO PENSAMENTO VISIONÁRIO Evelyne Pretti Rodrigues Passadas praticamente duas décadas após a virada do milênio, parece que o espírito do nosso tempo, “Zeitgeist”, trouxe ao inconsciente coletivo uma espécie de negação do que já foi vivido. Com isso, a estética do bizarro - “the weirdness aesthetic” - tem se manifestado nas esferas culturais, artísticas, comportamentais e políticas, quase que como um grito de liberdade. Nesta onda, chegamos à 2018 com o anúncio do Ultra Violet. A Pantone, que desde o ano 2000 revela a principal cor que será referência no ano seguinte, define a escolha como um tom roxo-violeta-intenso, dramático, provocante e profundo, e que para além de suas aplicações materiais,
comunica contracultura, originalidade, ingenuidade e um pensamento visionário que aponta para o futuro. Além de pensarmos em uma espécie de ditadura da coloração que será vista em praticamente todas as vitrines (online ou não) por aí; a utilização da cor pode estar mais relacionada com seu propósito de comunicar determinadas tendências, do que ser um código unificador universal aplicado somente em produtos para consumo. Como um exemplo do discurso em torno da tonalidade e o momento de negação atual, vimos recentemente o desfile da italiana Gucci. O diretor criativo, Alessandro Michele, cria o cenário, em forma de espetáculo, que tem como inspiração o Manifesto Ciborgue: Ciência, tecnologia e feminismo-socialista no final do século XX (1984) - da filósofa e bióloga feminista Donna Haraway, escrito há 34 anos.
foto reprodução
O Manifesto, que critica os limites de identidade e gênero diretamente influenciados pela ciência e tecnologia no Ocidente, é revisitado em plena passarela na semana de Milão, comunicando o símbolo de uma possibilidade emancipatória por meio da qual podemos decidir nos tornar quem realmente somos. No desfile da Gucci, a passarela representada como um centro cirúrgico em que os modelos carregam réplicas de suas cabeças e filhotes de dinossauro, mostra a contemporaneidade em um cenário pós-humano. Neste contexto, o pós-humanismo aparece a partir do comportamento das pessoas até os espetáculos criados nas passarelas de moda, inspirados a partir da relação humano-tecnologia. Entre as linguagens culturais, comportamentais e da comunicação de moda, resta a pergunta:
estariam nessas manifestações as possíveis previsões do que este ano e os próximos anos podem trazer?
Evelyne é designer e pesquisadora de projetos em inovação e tendências. Atualmente atua como freelancer em projetos colaborativos com marcas de moda e desenvolve pesquisas em inovação e Gestão de Design na DUCO Design Intelligence.
ULTRAPILLS
CONEXÕES COTIDIANAS E O ESPÍRITO DO TEMPO. JÁ PENSOU SOBRE ISSO? CARMELA SCARPI
UGLY FASHION Fluidez na dicotomia entre belo e feio. O ugly fashion invade passarelas e street style para provar que o respiro emancipatório da moda pré-determinada é mais que uma corrente, e veio para ficar. As referências a outro período de contracultura, os anos 1990, são fortes. Desde as mais controversas Uggs da Y/Project na PFW ou Crocs da Balenciaga, até a já massificada pochete ou os “mom jeans”.
ÍCONES PERDIDOS Com recentes mortes de Prince e David Bowie, reascende o interesse pelo estilo autêntico e empoderador de artistas e movimentos que confrontam a normatização estética. Junto com a onda nostálgica que envolve o espírito do tempo, o resgate à ruptura que estes artistas representam influencia áreas de criatividade ao redor do mundo.
FEMINIST WALK 1968 foi um ano marcante para lutas feministas ao redor do mundo, 50 anos após esses eventos a Dior traz ao centro do catwalk, durante o PFW, as reivindicações de igualdade de gênero e a luta das mulheres. Mantendo a vertente feminista que tem instituído na marca, a designer Maria Grazia Chiuri – primeira mulher a comandar a label -, traz o clima de protesto à apresentação estampando no suéter a frase “C’est Non, Non, Non et Non” (“É não, não, não e não!”), junto com uma estética boyish.
ULTRANEWS Uma resistência estética Em oposição às tendências do mainstream, “estética do estranhamento” tem encontrado sua vertente em Curitiba
Aléxia Saraiva
A DÉCADA É 1990. AO CONTRÁRIO DOS ANOS ANTERIORES, QUE OSTENTARAM LUXO E GLAMOUR NAS PASSARELAS, UMA NOVA ESTÉTICA COMEÇA A APARECER. CARACTERIZADA POR ELEMENTOS QUE FOGEM DO TRADICIONALMENTE BELO, A MODA ENCONTROU UMA NOVA MANEIRA DE SURPREENDER NAS CRIAÇÕES: FUGIR DO QUE É SIMPLESMENTE TRADICIONAL. SEGUNDO A JORNALISTA E PESQUISADORA SILVANA HOLZMEISTER, AUTORA DO LIVRO “O ESTRANHO NA MODA – A IMAGEM NOS ANOS 1990”, O BIZARRO PASSOU A EXPLORAR “ESTÉTICAS QUE CONTRAPÕEM CENÁRIOS NADA GLAMOUROSOS A ROUPAS LUXUOSAS E/OU CONCEITUAIS, MAKE UP E HAIR ARTÍSTICOS”. ISSO ELA EXPLICA NO ARTIGO SOBRE O TEMA PUBLICADO NA IARA - REVISTA DE MODA, CULTURA E ARTE, EM QUE EXPLORA AS MUDANÇAS CAUSADAS NA ÁREA POR CONTA DESTA NOVA VERTENTE. NÃO ERA EXATAMENTE UMA NOVIDADE, JÁ QUE ESSE TEMA TAMBÉM JÁ TINHA SIDO EXPLORADO PELA ÁREA ANTES. NO ENTANTO, O ASSUNTO TOMOU TODA UMA FORMA REVOLUCIONÁRIA A PARTIR DAS NOVAS REFERÊNCIAS DO FINAL DO SÉCULO XX.
O CONTRAPONTO ATUAL
Em 2017, o estranhamento e a moda como uma performance de militância voltam ao centro das discussões e passarelas, talvez como respiro dentro das novas formas de consumo de informação e produtos fashion. O retorno da década passada às passarelas e as releituras envolvendo o final dos anos 1980 e começo dos 1990 sugerem um revival também das estruturas de beleza que dialogam com o não convencional. É nesta linha que Eduardo Costa traduz seu trabalho de styling e produção de editoriais. Criador do Brechó Replay (@brecho_replay), ele começou com uma loja que vendia roupas cuidadosamente garimpadas e, aos poucos nasceu o trabalho de styling. Hoje, o Brechó é referência em produções e editoriais cujas inspirações fogem do padrão. “A gente não queria falar só sobre roupas, mas sobre as pessoas, e só depois falar sobre tendências. Assim, a gente chegou em grupos que estão intervindo na cidade de alguma forma, pensando numa moda mais performática”, explica Eduardo. Suas produções exploram o universo de diferentes militâncias, permeando o injusto através de intervenções.
REVOLUÇÃO OU TENDÊNCIA?
Davi von Giller (@deadtwink) é modelo e nail artist há dois anos e transita na cena em Curitiba e em São Paulo, colecionando várias produções que seguem a estética. As referências visuais começaram no Tumblr, passaram por artistas como Alice Glass, da banda Crystal Castles, e chegaram à origem do movimento: “Sempre amei muito desfiles dos anos 90, as modelos aspiravam poder e confiança. Isso é algo que sempre me inspirou muito”, ele conta. Mesmo imerso em inúmeros trabalhos que transbordam elementos que não fazem parte do mainstream, ele acredita que a estética do estranhamento é uma forma de contracultura passageira, e que atualmente existe apenas em algumas bolhas de resistência. “A cidade no geral é muito “careta” e cabeça fechada. A maioria das pessoas que seguem esse tal estereótipo do bizarro se tornaram assim por causa desse mesmo ponto”, ele explica. Para Davi, essa geração espontânea do estranhamento como uma forma de protesto ao mainstream faz com que o movimento curitibano seja visto como mais real. “Isso que faz inclusive com que pessoas de outros estados falem que o rolê de Curitiba é “muito mais true” - escuto muito isso, principalmente em São Paulo”, conta. No entanto, para o modelo, isso não é suficiente para manter a influência dessa estética na moda. “O foco da moda e da publicidade sempre muda de tempos em tempos. Daqui uns meses o bizarro vai voltar a ser bizarro”. Já para Eduardo, a contracultura é uma consequência do autoconhecimento que veio de ondas de empoderamento e da liberdade de cada um, mostrando o quanto a própria personalidade é autêntica e pode independer de tendências tradicionais da moda. “Nesse fluxo de possibilidades e de conhecimento que a gente tem através da internet, todo mundo pode ser mais livre, de certa forma. Se a gente for pensar segundo o que é mainstream, digamos que sim, a gente é bizarro. Mas isso vai se infiltrar mundialmente porque as pessoas estão cada vez mais se questionando, descobrindo que elas podem ser o que elas são”, conclui.
EDITORIAL
play
Produção: Karine Bravo Styling: Carmela Scarpi Fotografia: Eduarda Hipólito Beauty: Marina Costa Modelo: Emilia Hermsdorff Filme: Karine Bravo e Leonardo Silva Blusa - JACU Calça - SASSY Brinco - AUSTRAL
Casaco - ARBOL Blusa - JACU Calรงa - SASSY Choker - AUSTRAL Brinco - AUSTRAL
Camiseta - TEXTILARIA Shorts - A LOVE CHILD Pulseira - AUSTRAL
Camiseta - TEXTILARIA Acessรณrios - AUSTRAL
Vestido - ARBOL Kimono - TEXTILARIA Acessรณrios - NOIGA
Camiseta - TEXTILARIA Saia - A LOVE CHILD Quimono - TEXTILARIA Acessรณrios - AUSTRAL
Camiseta - TEXTILARIA Saia - A LOVE CHILD Quimono - TEXTILARIA Acessรณrios - AUSTRAL
ULTRABRANDS
STA TE MENT
DUAS ENTREVISTAS, DUAS MARCAS. ULTRA SE REFERE AO INEXPLICÁVEL, SOBRE IR ALÉM. EM RELEITURAS DE ESTÉTICAS NÃO-MAINSTREAM, CURITIBA OFERECE PRODUTOS DE DIA A DIA PARA QUEM QUER SAIR DO CONVENCIONAL E EXPLORAR A CRIATIVIDADE:
CARMELA SCARPI
DOLPH
QUEM FAZ: Maria Claudia de Lara e Paola Marinho MARCA: dolph POR QUE ESSE NOME? Não tem motivo QUAL O CONCEITO? Criar peças-chave que estimulem o desejo, vistam diferentes corpos e funcionem no dia a dia. E JÁ CONSEGUEM VISLUMBRAR QUAL A ESTÉTICA DA MARCA? Ainda é cedo para dizer, pois estamos na primeira coleção. Nós temos um norte do que queremos, mas a dolph ainda é muito experimental para nós esteticamente. Estamos satisfeitas com os resultados até agora.
QUANDO VOCÊS PENSAM NO PÚBLICO, ONDE ELE ESTÁ? Nosso público está em qualquer lugar e pode ser qualquer pessoa que se identificar com a nossa linguagem. E QUE LUGARES VOCÊS FREQUENTAM? Centro da cidade, casa de amigos, cafés, museus... UMA GRANDE TENDÊNCIA DE COMPORTAMENTO HOJE? Coletividade. COMO VEEM O FUTURO DAS MARCAS DE MODA? O sistema de consumo e produção de moda como vivemos hoje está fadado ao fracasso, cabe às marcas perceberem essa mudança e venderem mais do que roupa. PEÇA-DESEJO DA MARCA? T-shirt e vestido glenn.
DOLPH
VOCÊS TÊM REFERÊNCIAS QUE INFLUENCIAM A MARCA NUM GERAL? Sim, a busca por referências nas artes visuais e até em outras marcas sempre foi muito natural para nós. Inclusive, a ideia da dolph surgiu de criar um produto que sintetizasse esses universos.
TRANSMUTA
QUEM FAZ: Lucas Bettin e Yasmin Lapolli MARCA: TRANSMUTA
POR QUE ESSE NOME? Transmutar é transformação, faz referência direta ao nosso processo de trabalho, o upcycling. Usado na forma imperativa do verbo, convoca o receptor a se colocar no movimento, transmutar suas roupas sem uso. QUAL CONCEITO? Criar a partir do que está disponível: roupas sem uso. Ao ressignificar o que ia ser ou foi descartado, exercemos uma mudança necessária dentro da moda.
VOCÊS TÊM REFERÊNCIAS QUE INFLUENCIAM A MARCA NUM GERAL? O estilista de NY Daniel Silverstein, pioneiro do “zero waste”, modo de produção que recria tecidos a partir de aparas têxteis e a Gabriela Mazepa da marca Re-Roupa, pioneira do upcycling no Rio de Janeiro. Ela nos inspirou a fazer roupa a partir de roupa. QUANDO VOCÊS PENSAM NO PÚBLICO, ONDE ELE ESTÁ? Conectando-se com as novas formas de consumo de moda. Ele frequenta semana de moda e botecos universitários, vernissages e churrascos, coquetéis e blocos de rua, festas sofisticadas e baladas trash. E QUE LUGARES VOCÊS FREQUENTAM? Cinemas, teatros, museus. Também bebemos na rua, festamos nas casas dos amigos e cozinhamos muito. UMA GRANDE TENDÊNCIA DE COMPORTAMENTO HOJE? O buy local, que fomenta a economia local. E também priorizar cada vez mais experiências (como viagens, gastronomia, shows) a bens de consumo. COMO VEEM O FUTURO DAS MARCAS DE MODA? A relação com o vestir está se tornando mais íntima e permanente, menos massificada e descartável. Investir em experiências será cada vez mais comum. PEÇA-DESEJO DA MARCA? A jaqueta bomber de tafetá com bordados a mão de pássaros tsuru, feita a partir de um vestido dos anos 90.
TRANSMUTA
E JÁ CONSEGUEM VISLUMBRAR QUAL A ESTÉTICA DA MARCA? Refinamento e contemporaneidade são características, já que nos propomos a fazer upcycling de peças de tecidos nobres, mas seguimos construindo e cocriando nossa estética nesses meses de vida.