EMMAG
POSITIVE AGO 2018
É preciso olhar com mais cuidado para dentro e para os outros. Ao longo de toda a nossa jornada como comunicadores e jornalistas de moda prezamos por difundir pelos veículo do grupo Even More, uma informação que agregasse à vida de nossos leitores. Fomos de uma busca pela construção e consolidação da moda local em Curitiba/PR, à divulgação de iniciativas de moda ética e sustentável, discussões sobre gênero, replanejamento de indústria e, hoje, temos nos voltado muito ao consumidor e a representação dele no universo fashion. Apesar de não ser novidade, pensar a moda para todos ainda é quase uma utopia em sentido concreto. As campanhas, discursos e divulgações parecem muitos, mas ainda são tímidos diante de uma massa global que induz a um padrão restrito de belo - que aprisiona e adoece uma sociedade na qual não cabem mais olhares por um único prisma. Pluralidade, acessibilidade e inclusão são reais e, no dia a dia é mais difícil do que parece. Por todos esses e tantos outros motivos, nessa edição especial, feita exclusivamente pelos alunos do Curso de Jornalismo de Moda do Even More e Esc. Escola de Escrita; vamos falar sobre o movimento body positive e elevar seu conceito de glamour e beleza a outros níveis, ao menos esperamos! Carmela Scarpi
EMMAG
POSITIVE
Tallyta veste Reptilia, fotografada por Matheus Heitor Conrado. Beauty: Kelli Giordano
AGO 2018
Diretora de Redação: CARMELA SCARPI (carmela@evenmore.com.br) Projeto gráfico e Diagramação: SUZANA VD TEMPLE Redação: ALINE CAMARGO, ANA LETICIA SOWINSKI, CLAUDIA ANSCHAU, GIULA GAIA, HELOÍSA NEGRÃO, LIZZIE RENATA, MARIANA ROSA, MICHELLE MACHADO, PAMYLE BRUGNAGO E ROSANE RIERA. Colaboradores: DAKOTA MODELS, KELLI GIORDANO, LY TAKAI, MATHEUS HEITOR CONRADO. Revisão: CARMELA SCARPI A revista digital EMMAG é uma publicação produzida pela equipe do grupo Even More Comunicação. Todos os direitos são reservados. É proibida a reprodução de qualquer tipo de conteúdo sem a autorização prévia e por escrito. Todas as informações técnicas, bem como anúncios e opiniões expressados, são de responsabilidade dos autores que estes assinam. Serviço de atendimento ao consumidor: contato@ evenmore.com.br Anúncio e Publicidade: comercial@evenmore.com.br
EMMAG #16
05
TIPS
07
TALK JU ROMANO
10
LIFESTYLE
13
FASHION INCLUSIVO
16
FASHION LINGERIE
20
BEAUTY ROTINA
22
EDITORIAL PRETTY
27
BEAUTY PRODUTOS
29
TALK FURF
AGO 2018
TIPS
@alexandrismos
Siga já
@lonelylingerie
O Alexandrismos, canal criado pela jornalista Alexandra Gurgel, fala sobre body positive, amor-próprio, autoestima, saúde mental e relacionamentos. Durante uma série especial sobre body positive lançada este ano, a carioca traz uma mensagem positiva em relação a ser quem você é, independentemente do formato de corpo, cor de pele, crença ou gênero. O canal do Youtube tem mais de 315 mil inscritos e é uma aula sobre o assunto.
A @lonelylingerie é para quem tem sede de realidade no universo de corpos editados. A marca neozelandesa vende calcinhas, sutiãs e acessórios que servem para qualquer ocasião e para qualquer corpo. Seja para garimpar peças legais, seja para entrar na onda do #bodypositive, vale a pena ficar de olho no insta da marca.
@aroswimwear
@simpleorganic
A @aroswimwear é uma marca carioca de moda praia que aposta na diversidade da beleza da mulher brasileira. Mas esqueça da Garota de Ipanema bronzeada e de abdômen trincado! Seus maiôs e biquínis vestem bem e valorizam as curvas, manchinhas, celulites e estrias que todo mundo tem e que ninguém precisa esconder.
Fundada nos pilares do movimento slow beauty que a marca catarinense @simpleorganic desenvolve sua linha de cosméticos. Criada em Florianópolis pela jornalista Patrícia Lima, eles têm uma frente de produtos de tratamento e outra de maquiagem. Ambas seguem os mesmos princípios de respeito à natureza, à cultura local e à ética no consumo. WWW.SIMPLEORGANIC.COM.BR
TALK
“Espero ser um exemplo de normalidade que eu não tive”
foto Playboy/divulgação
Heloísa Negrão, Lizzie Renata e Pamyle Brugnago
COM 240K NO INSTAGRAM E 135K NO YOUTUBE, A INFLUENCIADORA JU ROMANO DIZ QUE QUER INSPIRAR AO INVÉS DE REPRESENTAR
Ju Romano começou a falar sobre body positive quando a internet ainda “era mato”. Pioneira, desde 2008 a paulistana inspira mulheres que não se encaixam nos padrões estabelecidos pela sociedade com as postagens no blog “Entre topetes e vinis”. Dez anos depois, Ju conquistou espaço, presença em revistas de moda e campanhas publicitárias; reafirmando a importância da beleza em todas as formas.
Elle, Playboy brasileira, o sucesso do blog. A Ju Romano adolescente imaginou viver tudo isso? Nunca imaginei ser um símbolo disso, de forma alguma. Quando saiu a capa da Elle, eu trabalhava desde 2008 para que uma mulher gorda fosse representada numa capa de revista de moda, mas jamais imaginei que seria eu. Na adolescência tive vários distúrbios alimentares, de imagem e era muito travada nos padrões de beleza. Não havia blogs que falavam sobre isso, até porque eu fui a primeira dando a cara a tapa. Antes, mulher gorda aparecia na mídia como piada, não falava sobre moda, não havia representatividade. Mas hoje eu acho ótimo poder dar cara a uma pessoa que aborda isso, é necessário inspirar e encorajar as pessoas. Ou seja, a Ju Romano adolescente jamais imaginou, porém ela se orgulharia muito.
Você disse que não se sentia representada. O que você faz hoje é para representar mulheres? Quando eu comecei foi algo muito humilde, era para compartilhar informação, dar dicas para mulheres que não se encaixavam nos padrões e mostrar que isso era possível. Existiam pouquíssimas blogueiras no Brasil, e todas se encaixavam em um padrão comportamental
ou físico - altas, magras, tinham dinheiro. Hoje, eu não faço para representar ninguém – cada mulher é plenamente possível ser representada sozinha. O que eu espero é ser um exemplo de normalidade que eu não tive. Eu não sei se isso é representar ou verdadeiramente inspirar, encorajar e incentivar mulheres.
Em que momento você teve o clique para enxergar o próprio corpo de forma positiva? Ninguém na vida acorda e começa a se amar para sempre. O processo demora anos e eu estou no processo diariamente. Todo dia me questiono e me desconstruo, há dez anos. O meu clique foi quando comecei a fazer terapia por ter um relacionamento ruim e não conseguir me afastar. Foi aos 19 anos que eu me questionei “por que eu estava me submetendo a essa infelicidade para agradar os outros?” e comecei a enxergar o meu corpo de forma positiva. Antes eu vomitava muito e depois parei de fazer essa mutilação no meu corpo, de ter esse relacionamento de culpa com a comida, culpa com a atividade física e ligar a questão estética com o exercício. Hoje ele é só prazer, nada a ver com estética para mim.
Qual conselho para começar a se amar e se enxergar bonita? Cada um precisa de uma cutucada para mudar. A partir do momento que você percebe que não tem que corresponder às expectativas dos outros e aceita que a expectativa está na cabeça deles, você não tem que se adaptar. Você tem que se encaixar para o que você quer da vida. Quando eu me olho no espelho e me sinto bonita, e não é pelo formato do nariz, do olho ou o cabelo. Eu olho e vejo um mulherão da porra. É preciso dissociar a questão de beleza só com a questão física, se olhar com mais carinho. Outra dica é reunir na vida pessoas legais e que te incentivam. Pare de seguir quem faz você se sentir mal com você, siga pessoas que sejam ou mais parecida com você ou te inspirem de alguma forma.
LIFESTYLE
OLHAR SENSÍVEL SOBRE SI A aposentada Rozita Druciak, 72, decidiu explorar a própria personalidade sem se preocupar com o padrão comum de beleza. Pintou os cabelos de cores diferentes e se libertou. “Eu cheguei a uma idade em que nada mais me prendia. Pintei minha franja este ano na cor vermelha, ficou bem diferente com os meus cabelos loiros, mas minha inspiração é pintar nas cores do arco-íris”, revela. Segundo Rozita, para ter uma vida melhor é preciso pensar diferente e se desprender de tudo. As pessoas seguem uma cultura durante a vida inteira, mas é preciso se questionar se aquilo vale mesmo à pena. “Eu me libertei, as pessoas têm que começar a viver mais aquilo que elas realmente querem, para não chegar no final da vida e ver que estavam apenas vivendo o que a sociedade impunha”. Para a relações públicas e blogueira Carol Lippmann, 33, enxergar-se bonita, mesmo fora dos “padrões”, também não aconteceu do dia para a noite. Ela confessa que exercitar o amor próprio é ato diário e a mudança veio incentivada pela internet - por blogueiras como Ju Romano e Paula Bastos. Hoje, Carol está à frente do Lady Fofa (ladyfofa. com.br), com a missão de fomentar o movimento plus e usar tudo que a faz se sentir bem, mesmo que não seja recomendado para o “tipo de corpo” dela.
Heloísa Negrão, Lizzie Renata & Pamyle Brugnago
“No meu processo de aceitação foi fundamental participar de grupos de pessoas gordas e seguir blogs do setor. O que sempre digo é que devemos nos olhar com o mesmo carinho e admiração com que olhamos para alguém que às vezes nem conhecemos. Se olhar no espelho e se enxergar verdadeiramente por dentro”. Mesmo depois de ter aprendido a entender e aceitar o corpo, ela conta que demorou para quebrar os padrões na questão de moda. O conceito de que há regras de estilo para diferentes tipos de corpos ainda afeta muitas mulheres, reforça Carol. Como se ver de forma positiva? Segundo a Organização Mundial de Saúde, em 2017 cerca de 322 milhões de pessoas estavam sofrendo por falta de autoestima. De acordo com a psicóloga Michelly Zuliani, para começar a aceitar as diferenças e ignorar padrões, é preciso construir autoconfiança.
“fazer as pazes com a gente mesmo: é liberdade” São diversos os fatores que influenciam pessoas a não estarem bem com o corpo, ela explica. Mas, a principal tem a ver com a forma como elas se vêem não apenas fisicamente, como também sobre os feitos delas. “É como se fosse um dominó: uma coisa leva a outra. A não aceitação do corpo é um reflexo da não aceitação de quem nós somos, como um todo”, explica. Para mudar este cenário, Michely dá algumas dicas: se conhecer, mudar o que não faz bem, apreciar as conquistas e entender que cada um tem uma história única de como se tornou quem é. “O body positive não fala apenas de aceitar o corpo, mas de aceitar e amar quem a gente é, independente do corpo que temos. Eu posso me amar gordinha, mas querer emagrecer. É basicamente fazer as pazes com a gente mesmo: é liberdade”, conclui.
foto Jordana Reis/@ladyfofa
DICAS BODY POSITIVE, POR CAROL LIPPMANN FUJA DE PADRÕES. Eles são apenas comerciais e tentar se encaixar é a pior coisa que você pode fazer por você, pois é frustrante.
AFASTE-SE DE PESSOAS TÓXICAS. Uso sempre isso nos meus discursos: analisar quem realmente te faz bem e não te trata com diferença apenas por ter um corpo fora do padrão.
NÃO VINCULE FELICIDADE À APARÊNCIA. Toda pessoa tem aqueles dias de não se sentir bem. Se sua felicidade depender da forma física, é bem provável que você se frustre facilmente.
NÃO SE COMPARE. Somos todos diferentes e são justamente as diferenças que nos tornam especiais. Não se compare, olhe para você com mais carinho e atenção.
NÃO MUDE POR ALGUÉM. Emagrecer não é proibido e não sou contra isso. Mas sou contra querer mudar para agradar alguém. Mude sim, mas para agradar apenas você mesma!
FASHION
Moda inclusiva em foco Inclusão chega às pautas de moda brasileiras, é o suficiente? Giulia Gaia e Michelle Machado Segundo o IBGE, no Brasil, 45,6 milhões de pessoas têm algum tipo de deficiência, o que corresponde a aproximadamente 24% da população. Mesmo com um percentual tão significativo, o mercado fashion encontra dificuldades para incluir algumas necessidades mais básicas, derivadas de características desta parte da população, na hora de criar produtos de moda. Pequenas alternativas, que facilitem o dia-a-dia e incentivem a autonomia podem auxiliar a expandir o que, conforme o Sebrae, segmenta a moda inclusiva contribuindo com o fortalecimento de autoestima um dos principais fatores da moda. “O principal objetivo é simplificar o ato de se vestir, levando em conta as necessidades físicas e psicológicas de cada indivíduo, sem abrir mão do conforto, design e estilo”.
A DIFERENÇA EM DETALHES Para a youtuber dona do maior canal sobre deficiência física no YouTube Brasil, Mariana Torquato, a moda brasileira peca em diversidade na hora de pensar até mesmo em pequenos detalhes. “Sinto que a moda é completamente excludente, você tem que estar dentro de um padrãozinho, de um limite que decidiram que era o ser humano”, afirma.
Mariana Torquato/reprodução
Sem metade do braço esquerdo, foram muitas dificuldades ao longo de sua trajetória e, muitas delas, relacionadas à escolha do que vestir em situações que passam despercebidas para a maioria das pessoas, como um zíper nas costas ou peças com muitos botões. Por meio de seu canal, “Vai uma mãozinha aí?”, hoje com mais de 140 mil inscritos, ela escolheu transformar a aparência em uma forma de representatividade para meninas como ela.
Segundo a estudante de moda, Bárbara Poerner, parte da dificuldade também reside na ausência de abordagem sobre o assunto na área, desde às graduações. “É nossa função olhar para essas questões, mas a gente não olha e não é induzido a olhar. Se o curso [de moda] não trabalha com isso nem superficialmente, isso reflete num mercado que não tem nada”, comenta a autora do TCC que trabalhou uma linha de roupas focada em paratletas olímpicos, na Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC). Durante sua pesquisa, Bárbara desenvolveu uma roupa específica para remo depois de acompanhar durante meses a rotina de uma única pessoa e, dentre as dificuldades do mercado, inclui a necessidade de padronização de modelagens como um dos empecilhos para a indústria da moda, que acaba privilegiando apenas alguns públicosalvo. “Cada deficiência e cada pessoa tem sua particularidade, às vezes a pessoa é cadeirante e também não tem metade de uma perna, são várias questões que somam entre si e acabam dificultando a modelagem, fazendo com as peças precisem ser feitas sob medida”, comenta.
O MOMENTO É AGORA
Heloísa Rocha/foto: Gabriel Reis
reprodução/desfile Andressa Salomone
Mesmo assim, Heloísa Rocha, do portal “Moda em Rodas”, é otimista. A jornalista, que nasceu com osteogênese imperfeita, uma mutação na formação das enzimas do colágeno; acredita que a crescente demanda por adaptações nos tecidos e formas diferenciadas contribuirão para um mercado fashion mais inclusivo. Movimentos como os recentes Inclusive Fashion Night em Roma e o primeiro desfile de moda inclusiva da marca de Andressa Salomone aqui pelo Brasil, fazem crer que a abordagem de moda, e não apenas vestuário, é crescente e deve tomar mais espaço e presença na indústria.
Mas, o caminho ainda é longo e ela alerta: “Apesar de já termos dado ‘start’ sobre o tema e termos alguns estilistas confeccionando e vendendo suas peças na Internet, as grandes marcas não demonstram interesse em vender peças que sejam funcionais para as pessoas com deficiência. Além disso, a presença de modelos com deficiência em desfiles de moda é mínima e, quando ocorre, o assunto ganha repercussão apenas pela deficiência e não pela beleza ou pelo profissionalismo da modelo”, diz.
FASHION
reprodução/F.A.T.
rendas, babados & AUTOESTIMA
Mais do que conforto e inclusão, a lingerie plus size pode ser instrumento de amor próprio e quebra de padrões Ana Letícia Sowinski
Feche os olhos e imagine um comercial de underwear: se o que vem à sua cabeça são modelos magras e esguias, saiba que essa imagem pode estar prestes a mudar - finalmente! A revista Forbes e o Portal Business Insider já apontaram a decadência de um dos modelos da indústria de lingerie como a conhecemos: os desfiles da Victoria’s Secret, e suas angels, já não tem o mesmo impacto de alguns anos atrás. A razão? Falta pluralidade para carregar o Fantasy Bra e companhia. Quem não se enxerga no desfile não se identifica, não deseja e não compra. Para preencher esse vazio surgem diariamente iniciativas mais inclusivas, com peças acessíveis a corpos de diferentes tamanhos, inclusive em Curitiba. A cidade é berço de algumas marcas como a For All Types - F.A.T. - criada em 2015 pela designer Bianca Reis. A motivação para empreender foi a carência do mercado e a má qualidade de calcinhas e sutiãs disponíveis - tanto estética quanto funcionalmente. Quando questionada sobre a relação entre lingerie e autoestima, Bianca é enfática: “Eu acho que a importância está na acessibilidade. Comprar algo não dá autoestima para ninguém. Mas com o acesso e o conforto, as pessoas podem se sentir incluídas, o que promove a autoestima e amor pelo próprio corpo”.
DESCONSTRUÇÃO DO CORPO IDEAL Mas, acessibilidade não é o único benefício que a ampliação do mercado traz. Segundo a psicóloga do Instituto ComSentir, Carolina Dias, o simples fato de haver peças disponíveis para mulheres acima do manequim 48, assim como a presença de modelos plurais nas campanhas publicitárias, contribui para a desconstrução do “corpo ideal”. “A representatividade proporcionada pelas marcas de lingerie plus size permite às mulheres gordas o privilégio de identificação. A partir desse ponto, há uma progressão no reconhecimento da própria sensualidade e percepção do próprio corpo como belo”, afirma.
divulgação/Fenty Beuaty
“todo CORPO HUMANO como belo”
A identificação é um conceito tão importante que, para desenvolver as peças plus, a marca Ovelha Negra Underwear, em parceria com o Instituto ComSentir, criou um grupo de conversa com mulheres para ouvir os motivos causadores de suas inseguranças e queixas sobre como a lingerie contribuía para a existência deles. “As participantes puderam coletivizar seu sofrimento, conversar sobre as inseguranças que havia em comum e, juntas, trabalhar a autoestima”, afirma Carolina. As peças ainda não estão à venda, mas tem o lançamento previsto para esse ano.
AVANÇOS LIMITADOS Mesmo com iniciativas como a da Savage x Fenty, linha de lingerie da cantora Rihanna que foi aplaudida pela mídia ao incluir tamanhos maiores na grade e colocar modelos plurais na divulgação, ainda há pouco a se comemorar. “O mercado tem deixado de exaltar a magreza, mas ainda considera o corpo gordo como algo que é doente e não natural”, afirma Bianca. “A própria linha de lingerie da Rihanna é bastante limitada na questão de tamanho. Ela não atende mulheres que vestem acima de 60 - boa parte da minha clientela. Então não tem como falar de avanço se essas pessoas continuam sendo ignoradas”, finaliza. Para Carolina, o que falta na indústria é a visão de todo corpo humano como belo, sem o estabelecimento de padrões rígidos. “Em nossa sociedade, a beleza tem conotação de não-rejeição. Por isso, é muito importante que haja mais pluralidade de corpos na mídia como um todo, mas especialmente na moda - seja ela íntima ou não”.
BEAUTY
SEM HORA MARCADA CABELOS BRANCOS, CUTÍCULAS E DEPILAÇÃO ATRASADA: ESTÁ NA HORA DE OBRIGAÇÕES VIRAREM ESCOLHAS A agenda “feminina” é cheia de compromissos “inadiáveis”: depilação, manicure e cabelos brancos perfeitamente cobertos têm, geralmente, dia e hora para serem feitos. Mas, será que essas rotinas precisam ser obrigações de toda mulher? Para a professora de Ciências Sociais e coordenadora do Núcleo de Estudos de Gênero da UFPR, Dr. Marlene Tamanini, não. Segundo ela, esses hábitos pertencem a uma lógica “mercadológica que reproduz uma única possibilidade do belo e induz uma série de transformações para respondêlo”. Se libertar dessas imposições é um processo difícil e político, pois ajuda a somar ao imaginário coletivo diferentes formas de manifestação. Se posicionar com sua escolha é o desafio da veterinária Regiany Floriano, que dá dicas a diversas mulheres no blog “Grisalhas Assumidas e Felizes”. Ela começou a pintar os cabelos aos 17 anos, resolveu parar ao final de 2016, após perceber que precisava retocar a raiz cinco dias depois da coloração. “Não sentia como se estivesse relaxando com minha aparência por aparecerem os brancos. Era uma escrava da tintura”, recorda.
Aline Camargo e Mariana Rosa
PRISIONEIRAS DAS ROTINAS Regiany fala sobre a resistência que mulheres que escolhem não colorir os cabelos precisam enfrentar. “Ouvi ‘se você for ficar assim, vai ter que se cuidar muito’ como se antes não precisasse, né?”, questiona. A escolha da estudante de Publicidade e Propaganda Leticia Graton, 21 anos, enfrenta ainda mais preconceito. Deixar a depilação de lado foi natural e gradual depois que se mudou para Curitiba, em 2015. Ela retirava os pelos desde os 12 anos, mas nunca viu o ato como uma opção. “Eu fazia depilação por obrigação, porque, na minha cabeça, se não fizesse seria xingada ou excluída. Não era questão de ficar ‘mais bonita’, mas de ser bonita e ponto”, relembra. REPRESENTAÇÃO E ESCOLHAS
A professora Marlene Tamanini destaca ainda que a diversidade corporal nas mídias cria outras imagens para a cultura, o que ajuda a modificar a forma como a sociedade olha para as escolhas individuais e permite experiências que vão além das propostas pelos rituais tradicionais de beleza.
@suzana.ilustra
Para Letícia, as imposições são extremamente prejudiciais e a normatização destas rotinas de beleza como regras contribui para que mulheres odeiem seus corpos e gastem muito tempo e dinheiro tentando mudá-los. “Eu acredito ser muito difícil se libertar dessas agendas, mas podemos nos questionar sempre”, defende.
EDITORIAL fotografia Matheus Heitor Conrado e Ly Takai beleza Kelli Giordano styling Carmela Scarpi e Ly Takai modelos Hadassa Gomes, SossĂ´ Stansk (Dakota Models) e Tallyta Moraes roupas Novo Louvre e Reptilia
pretty.
BEAUTY
ALÉM DA ESTÉTICA
CLAUDIA ANSCHAU
01.
01. Cativa Natureza Máscara Facial Argila Preta - efeito regenerador e desintoxicante. R$ 23,90 (100g) @cativanatureza www.cativanatureza.com.br Mercado Municipal de Curitiba box 514
Marcas curitibanas apresentam opções para quem quer cuidar de si e ficar em paz com a própria beleza
A atenção com a sustentabilidade e a visão mais doce às características individuais de cada um são realidades também na indústria cosmética. Por contraditório (e tímido) que pareça, diversas marcas pelo mundo já oferecem artigos que estimulam a descoberta de belezas únicas e trazem o amor próprio como foco de campanhas, como a (saudosa) Lush, a americana Glossier e, mais próxima, a catarinense Simple Organic. Em Curitiba, também é possível encontrar marcas que enxergam os novos consumidores e suas necessidades. “Existe um novo conceito que engloba não só a alimentação saudável, mas passa pelo cuidado com a pele, porque isso também vai para a corrente sanguínea”, analisa Rose Bezecry, fundadora da Cativa Natureza, marca que tem em seu portfólio 126 itens produzidos a partir de óleos vegetais e essenciais puros.
02. Extraordinários Óleo Multipropósito - hidrata, nutre e repara a pele com 6 tipos de óleos vegetais. R$ 135 (100ml) @extraordinarios_luxonatural www.extraordinarios.com.br Rua Coronel João Guilherme Guimarães, 348 - Mercês 03. Quilaia Pimenta Rosa - efeito clareador para suavizar manchas, antiinflamatório e cicatrizante. R$ 11 (90g) @quillay_hygea www.quilaia.com.br Aos domingos na Feira do Largo da Ordem
Empresas que estudam o mercado hoje identificam clientes que se posicionam de forma diferente também em relação à estética de dentro para fora. A marca Extraordinários, por exemplo, produz uma linha de biocosméticos e alimentos naturais com foco na harmonia entre corpo, mente e espírito. “Você pode ter a pele linda, mas se tiver pensamentos negativos, uma dureza emocional, vai refletir na musculatura do rosto e na tristeza do olhar. Isto não é beleza”, ensina Soon Hee Han, a idealizadora da marca. A dualidade bem-estar e saúde também orienta a Quilaia. A marca nasceu da necessidade do arquiteto Jorge Alberto Rockenbach de utilizar produtos naturais que controlassem sua alergia. Depois de conhecer o famoso sabão de Aleppo (na Síria), produzido com azeite de oliva, encontrou a fórmula “mágica”. “Não podemos esquecer que a pele é um órgão, precisa ser limpa e protegida, de preferência naturalmente, você não é um mix de produtos químicos que se confundem. A verdadeira beleza é real”, decreta Jorge.
02.
03.
TALK
DESIGN COM
divulgação
propósito
Conheça FURF, escritório de design curitibano que conquistou prêmios internacionais com moda inclusiva.
Rosane Riera
O design deve ser inclusivo e mudar a vida das pessoas. Com essa visão, a curitibana FURF Design Studio arrebatou os três maiores prêmios de design do mundo: primeiro Leão de Cannes para brasileiros na categoria design de produto, IF Design Award e Red Dot Design Award (Best of the Best). A capa de prótese de perna produzida em série, Confete, atingiu fama mundial e, hoje, é exportada para mais de 5 países entre Europa e América Latina; além de estar disponível gratuitamente pelo SUS e INSS. O baixo custo do produto feito de poliuretano (R$400) faz parte da filosofia de que a autoestima deve ser democratizada e as cores vibrantes disponíveis permitem utilizar o produto como um acessório conforme o estilo pessoal. Em entrevista, os sócios Rodrigo Brenner e Maurício Noronha contam mais sobre a experiência:
QUANDO SURGIU A MARCA E COM QUAIS PRODUTOS GERALMENTE TRABALHAM? Em julho de 2011! Completamos nosso primeiro setênio. Nós desenhamos para empresas de diferentes segmentos, tamanhos e nacionalidades. Nossos produtos variam de capas de prótese de perna até produtos para purificar lagos urbanos. QUAL FOI A PRINCIPAL INSPIRAÇÃO PARA A CRIAÇÃO DA CONFETE? Democratizar a autoestima. COMO FOI A PESQUISA DE MERCADO COM SEU PÚBLICO ALVO? Fizemos uma grande imersão neste universo, para realmente criarmos um produto que fosse relevante. Conversamos com dezenas de amputados e especialistas na área, assim pudemos inovar e aprimorar nesse mundo médico. Sem esta pesquisa, seguramente o projeto não seria o sucesso que tem sido.
divulgação
QUAL AS QUEIXAS DAS PESSOAS COM RELAÇÃO ÀS PRÓTESES EXISTENTES NO MERCADO? Alto custo nas capas de impressão 3D (em média R$4.000,00), baixa diferenciação estética nas mais comuns (R$1.200,00) e as que são muito realistas, muitos consideram bizarras. QUAL O DIFERENCIAL? Ela é a primeira capa de prótese de perna produzida em massa no mundo. Isso significa que um produto de grande qualidade pode chegar ao usuário final de forma extremamente democrática. A Confete hoje custa R$400,00 e com esse valor ela está no SUS e INSS, assim ela chega de forma gratuita para quem precisa. COMO FOI A RECEPÇÃO DO PÚBLICO COM RELAÇÃO AO PRODUTO? É sensacional ver o produto sendo vestido por tanta gente diferente. Ver as hashtags #vistasuaconfete e #idethnos no Instagram, sendo atualizadas diariamente é a maior prova da receptividade da Confete! QUAL A SENSAÇÃO DE TER UM PRODUTO TÃO PREMIADO INTERNACIONALMENTE? A Confete é o único produto no mundo com os três maiores prêmios de Design: IF Design Award, Red Dot Design Award (somos os mais novos a vencer a premiação máxima Best of the Best, na história do prêmio) e o primeiro Leão de Cannes em Product Design. É surreal saber que marcas como Ferrari, Apple e Google se inscrevem nestes prêmios, mas o único produto que conseguiu conquistar os três é brasileiro, democrático e da área médica. Doido né? A EMPRESA TEM INTENÇÃO DE CONTINUAR CRIANDO PEÇAS INCLUSIVAS? Sim, super. O mundo do Design está erroneamente associado à ideia de exclusividade (que por definição é uma forma de excluir), o nosso caminho é democratizar, polinizar, incluir o máximo de pessoas. Sabemos do poder que o Design tem de transformar a vida das pessoas, por isso, não vemos sentido nos limitarmos de qualquer maneira.