Revista Víbora - 2o Edição

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bo UMA REVISTA OUE PROCLAMA A INDIVIDUALIDADE (e que odeia os servos e os rebanhos|

"odio contra si mesmo, E.M. cloRAN" "Poesia:6 tudo aquilo que fecha as portas para os imbecis, ALDo PELLEGRINI" "o mito L6nin, EMMA GoLDMAN" "pensamentos intimos, cHARLES BAUDELAIRE" "Por uma interpretagdo da cultura, BRUNo Mo

LITERNO" "A rosa doente, SERGIO BESSA" "Judeus e Negros: Racismo e colonialismo, RoBERTo GIAMMANCo" "Desfile de mumias, EZlo'FLAVIo BLzzo,, "A caida do homem natural, DENIs DlDERor" "o sr. Trotsky e o massacre de Kronstad, ANTONlo EYZAGUIRRE" "Perseguigdo de deus, LUIzA NoBREGA" "os ciganos ea violGncia esquecida, STEFAN KANFER" "sexo, Erotismo e Repressdo na Classe m6dia, GABRIEL CAREAGA" "Pedrinho (versus) Dom pedro e a neurose adulta, EMlLlo MIRA Y LOPES" "o rinico e sua propriedade, MAX sl RNER" '

. . dadalsmo, filosofia, arte, racismo,

psicologia, pirataria, mitos. antropologia, ciganologia, sociologia, niilismo, mis6ria.

JUNHO/AGOSTO DE 1981 Ano dedicado

i sabedoria

dos ciganos


LITERATU,RA

LO'JA Oe,-UtvR,os

Tel.:226-8883

"Por toda parte nos resta. ainda uma alegria. A dor pura entusiasma. Quem sobe sobre a pr6pria mis6ria, est6 mais alto. E â‚Ź magnffico saber que s6 na dor sentimos bem a liberdade da alma." HUlderlin

Ven6ncio 200O

19 Subsolo *,Loja 55D

Brasflia - DF


-l

". . . miâ‚Źntras no triunfe al socialismo en el mundo, todos los oongrressos burgueses por la paz y por la libortad protestar6n en vano. y tdor los Victor Hugo del univErso los presidir6n en balde; los hombres continuarin devorCndose unos a otro3 como las fieras . . .

Miguel Bakunin 9F carta a los burgueses

"


Esta ievista ser6 editada trimestralmente pelo Centro

de Pesquisa

Psico-fitos6ficas (CEPEF), com a ilusfio fundamental de provocar interesse, curiosidade, medo e paixao pela vida . . . Os adeptos obsessivos da "liberdade" , da "paz" , da "$ahde" , do "equilibrio" , etc., etc. sereo nossos inimigos declarados, uma vez que nos estamos profundamente al6rn de todas estas idiotices, de todas estas manifestagdes de covardia e insanidade. Somos muito mais simpatizantes da morte que da vida, nao acreditamos no delfrio secular que diz : "Ctterpo sano, Mente sana", pelo contr{rio, estamos convencidos de que a sa0de f fsica 6 muitas vezes sintoma de estupidez psfquica . . . Strindberg, Freud, Marx, Artaud, Lenin, Nietszche, Baudelaire, Max Nordau, Reich, Laferriere, Rimbaudt, Bakunin, Stirner, Schopenhauer, Beethoven, Epicuro, Chopin e centenas de outros homens de gdnio, os qu3is determinaram toda nossa concepgdo da vida e do mundo, eram pr:ofundamente enfermos (' bio,lOgicaniente' fal ando ) e, i nclusive, mu itos morreram prematuramente. Acreditamos com Cioran, que cada passo que damos em direq5o ao esp irito, retrocedemos cinco em relag5o'd matdria, acreditamos gue o engrandecimento do espirito sempre e sempre acarretar6 desordens no corpo- Odiamos o equilibrio, a l6gica, a t6, a resignaqSo, e o desejo de curar do qual sofrem nossos .ont"mpot6neos. Curar de que? Curar con que? Curar a que? Larvas que predicam por todos os lados - - - A cada nova manha, um novo Mestre ao qual lambemos "comercialmenE'as botasll! Esta revista quer apenas assistir a toda esta com6diaDantsaque uma vez foi Quixotesa. . . apenas seguir os passos destas raposas feridas que, como no livro dos ciganos, sempre busqarSo o pogo das argilas "sagradas". Como Artaud escrevia em seu manicomio de Rodez: -YO CAGO SOBRE EL ESP|RlTlJ". -. nossa revista quer cagar

sobre os hip6critas desta sociedade "salvadora". Estamos prontos para receber artigos, tratados, fantasias, solu96es, patetismos, crfticas, experiencias c 'm a loucura, com a medioCridade, e com o incrivel sonho de eternidade. Podem escrever para Ed. Sagitarius, sala 115, Ouadra 506, Asa Norte, 70.740

Brasilia-DF-Brasil. Editor: Ezio Flavio Bazzb PS: A revista Vfbora agradece imensamente. de todo o coragao, aos colaboradore: I N v o L u N T A n I o s e, V o L u N T A n t o s que aqui, nesta 6poca de .,hibernagdo,, total. manifestam seus gritos de alerta para aguilo que um vagabundo chamava "o banquee dos canibais"l


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A0S ttlT0rES= Depois de Vfbora n0mero

"UM", Vfbora n0mero ,,DO|S,,

Estamos contentes por ji{ havpr infestado todo o pafs e por haver chegado a mentes que simplesmente hibernavam. Muitos nos compraram a revista apenas por "obrigagfro", por "incentivo", ou por incapacidade de dizer "ndo". Tivemos as mais interessantes experic

::Ii"::.'"":H',:::*l::H:"'"ffi ";g;':,;i"ff ,l:ffi Rio-Niter6i. canibais invadiram

mel/iiillgrandes cidades e agora, gritam o mEryiElMaterialismo dial6tico, que sdo que o Dr. K, vao fiiiar_se ao [tE-. movimentohomossexualporque\ffiDaVincierasuspeito,que

aos quatro ventos que estudam ^t Budas, que estdo em andlise com

cfrculo

*o

estudam Lacan num fechado, que a moda agora 6 "transar" o corpo etc., (que corpo, cambada de-idiotas? Desde quando ,rras aara"i", velhas que vos arrastam dia e noite por esta rotina bestial, desde quando isto pode ser chamado de corpo?) Desde quando se pode chegar a compreender a dialdtica em estado de hibernagdo? Budas ou Bu-n-das? Dr. K ou Dr. $? Ser homossexual sem tomar precaugdes com as hemorr6idas? E Lacan? Lacan 6 l0cido o suficiente para odiar servos . . . ! Outros passam ,,impecdveis,, pelos corredores da existEncia e levam um livro de Krisna apertado aos seios e dizem convictamente que foram "iluminados". Vidas in6teis, digo eu! Vidas secas, diria Graciliano Ramos. C6rebros paralizados, genitais atrofiados, seios ao sol e "alma" afogada sob trevas. A barca vai e vem e neo entendo como ndo afunda com tanta mediocridade a bordo. Ao meu lado um_mendigo dorme, sua respiragdo 6 suave e limpa como a respiragdo de uma crianga . . . (OLHA A REVISTA VIBORAI!!) (OLHA o ANARQUISMdI!!i

=.:tp

discfpulos

(OLHA O CARALHO!!!)

Nestes momentos, quando a mis6ria, a estupidez e a covardia s5o os monstros que nos assombram; quando nosso pafs, nossa Am6rica e nosso mundo se transformam em chagas virulentas; quando os meios de comunicagdo se prostitu iram e apodrecem nas m6os de negociantes "ddbeis mentais"; quando a ci6ncia, a politica, as leis . . . tudo jd perdeu o valor e a validade; quando este planeta se transforma rapidamente em um imenso manicomio onde pequenos e ef6meros loucos sustentam a "t6rga" , a "razdo" e a "l6gica"; quando a juventude ji5 est6 velha e esclerosada; quando as grandes massas buscam miseravelmente outros deuses, outras religides e rastejam outra vez sob a farsa de novos "iluminados"; quando as palavras e os discursos, a poesia iii ndo podem acrescentar nada ds palavras in0teis de ontem; quando os negros, os ciganos, os indfgenas e outros grupos considerados "sub-seres" submergem sob.o v6mito "cultural" da opressdo; quando nossos filhos devem ser entregues a dom6sticas

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,,bdrbaras", a escolas-prises ou a creches deprimentes; quando a sobrevivdncia exige um esforgo de escravo; quando apenas umas poucas fam ilias podem comer, dormir, dmar e vagabundear; quando tudo 6 est0pido demais para ser vivido, V ibora levanta os bragos em diregflo is estrelas e vomita seu asco contra tudo isso. Proclama a oposigdo i todas as irracionalidades desta blenorragia c6smica, desta tragddia est6ica e brutal, deste pensamento podre, saido das entranhas do capitalismo, do idealismo, do comunismo, do pacifismo utilitarista e de toda esta cloaca gangrenada qire 6 a nossa sociedade, deste antro de responsdveis paran6icos, polfticos masturbadores e ambidestros, putos l6gicos, canalhas e vermes produtivosl Vibora nega a familia, o matrimOnio e.a posigdo falsa e enferma da mulher obieto, da mulher vagina, da mulher reprodutora, da mulher esposa. Nega toda hierarquia, todo poder, toda autoridade e todo o direito de uns baforarem na cara dos outrosl Aboligdo imediata da massa inqualificdvel dos parasitas priblicos, destes senhores que sugam o sangue de outros milhares de pobres, miser6veis, carentes, vencidos e desgraqados . . . Vfbora odeia o trabalho, esta lepra desnecessiiria e cotidiana que destr6i o corpo e a alma de Ndo mais pintores, n5o mais todos os homens. Vfbora proclama com Arag6o: mais republicanos, ndo mais ndo mfsicos, mais n5o escritores, n5o mais escultores, mondrquicos, n6o mais imperialistas, ndo mais socialistas, ndo mais bolcheviques, ndo mais politicos, nflo mais proletdrios. ndo mais democratas, ndo mais na96es, ndo mais nenhuma destas idiotices, ndo mais nada, nada, nada !!! Vibora lanqa seu veneno para al6m das veias desta sociedade hip6crita e autodestrutiva! Escurece o sol que acelerarii a grangrena social deste momento de febre, de fome, de carâ‚Źncia e de falsa exist6ncia. Porcos chouvinistas aplaudem por todos os lados; bandeiras tremulam em cada esquadra abatida; defuntos recebem homenagens p6stumas; homens e mulheres se assassinam como se o sangue dos amantes devesse purificar esta asquerosa rotina, este est6pido cotidiano, esta vida que s6 ndo aniq0ila iqueles que, por mil e uma razdes, i6 se tornaram imunes ao virus e ao cansago de todos os dias. Vibora faz renascer o niilismo nos coragdes . . . porque crer em algo 6 estar doente, rfgido, delirante! Todos que os senhores que abrigam "convicgde5" em vossos cora96es, n|o sflo mais marionetes da natureza ca6tica e do universo promfscuo! A hist6ria deveria reduzir'se exclusivamente a uma hist6ria de fracassos esta 6 a 0nica hist6ria que ndo foi interrompida. No entanto, o homem, este verme adulador, nao quer despertar e submete-se ao engano eternamente . . . curai-vos de vossas nostalgias e de vossa (duragdo obsessgo pueril pelo comego e pelo final dos tempos. Com a eternidade morta) somente se preocupam os d6beis . . .

*

-

Ah, tudo aquilo que outrora nos parecia o caminho, a luz, o ponto mais elevado, agora se nos apresenta como uma'farsa, como uma pobre e velha m6scara de rituais satdnicos. O destino n6o 6 mais que uma m6scara e s6 n5o 6 uma m6scara aquilo que se chama "morte".

le

Neste filtimo momento, Vfbora langa aos verdugos o seu mais venenoso grito protesto. Oue nossos leitores o ouqam at6 o aniqtiilamento!

EDITOR "Gin&tica? A onica necess6ria ao homem 6 a gin&tica livrr dor movimentos do amor. Todas as outras, das mair ofisticadas is mais mediocres, s6o necesCiias apenas para os eremitas ou para aqueles que cr0om

quoo toxo conduzirl o homem ao purgat6rio . . . " Vlbora

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ros passos: um intruso, um falso vivo, um falso

odio contra sl

mesmo

vivo, um falso mortal, um impostor. A consci6ncia, esta.forma de ndo participagSo naquilo que

se 6, esta faculdade de

nto coincidir com

nada, ndo estava prevista na economia da cria95o. Sabe-o, mas n6o tem nem a coragem de assumi-la at6 o limite e de perecer por ela, nem

de repudid-la para salvar-se. Estranho d

sua

natureza, so, no meio de si mesmo, desligado deste mundo e do outro, n5o abraga comple-

tamente nenhuma realidade: como poderia fazâ‚Ź-lo, uma vez que apenas em parte 6 real? Um ser sem exist6ncia. Cada passo que d6 em diregf,o ao espi' equivale a uma falta contra a vida. Assombra que ndo ponha fim d algazarra da consciGncia para tentar readquirir seu parentesco com as coisas! Mas do estado de irrefle-

rito

CIORAN, E.M.

x6o (no qual

cessaria seu sentimento de culpa) estd separado por este 6dio de si mesmo do qual ndo quer nem pode livrar-se. Apartando-se da

'

". . . Clue tolice vosras idtli* de uma felicidade futura. Curai-vos de vossas nostalgias, da obsess8o pueril pelo co' mego s o fim dos temPos. Com a Eternidade, duragSo morta, s6 os d6' beis se Preocupam. Deixai fazer ao instante, deixaio rgabsorver vossos sonhos,"

O amor pr6prio 6 coisa fCcil: como brota do instinto de conservagdo, lnclusive os animais o conheceriam se estivessem um pouquinho per' vertidos. O que 6 diffcil, muito mais dificil, e

no que s6 sobressai o homem, 6 odiar'se a si mesmos. Depois de haver causado *ta expulsdo do parafso, laz o que pode para aumentar a se' paragto que o distancia do mundo, para manter-se desperto entre os instantes, no vazio que se intercala entre eles. A consciGncia emerge de-

linha dos seres, dos caminhos trilhados da salvag6o, inova sem descanso para poder manter sua reputaQto de animal "interessante". consciEncia, fendmeno provisional (caso existam) 6 empurrada por ele at6 seu ponto

A

de estalido e cai em pedagos com ela. Ao destruir-se, se erguerd at6 sua essâ‚Źncia e cumpri16 sua miss6o: converter-se em seu pr6prio inimigo. Se a vida traicionou a mat6ria, ele trai-

cionou a vida. Voltar6, sua experiâ‚Źncia, a

re-

petir-se? Ndo parece implicar uma posteridade:

tudo deixa pressagiar que 6 a 0ltima fantasia que a natureza se permite.

<<condgio da trdgddia>>

le e nele deve-se buscar o ponto de partida do fenOmeno humano. Odeio-me: sou um homem; odeio-me absolutamente: sou absolutamente homem. Ser consciente 6 estar dividido e odiar' se. Este 6dio sapa.nossas rafzes, ao mesmo tem' po que proporciona seiva i Arvore de Ci6ncia.

Aqui temos o homem fora do mundo e afasado de si mesmo. Nto poderfamos clas' sificrt-lo entre os viventes sem abuso, t6o su' perficial d seu contacto com a vida; seu contac' to com a morte n5o o 6 menos. Ndo havendo podido enGontrar seu lugr exato entre uma e outra, viveu de artimanhas desde seus primei'

Ndo 6 piedade, 6 inveja o que nos inspira

o her6i trdgico, sortudo, cujos sofrimentos

de-

voramos como se fossem nossos de direito e ele no-los houvesse roubado. Por que n6o tentar voltar a agarr6-los? De qualquer forma estavam destinados a n6s . . . Para assegurarmo-nos me.

lhor, os declaramos nossos, os engrandecemos e lhes damos dimens6es desmedidas; ele, por muito que gema ou que se agite ante n6s, nao conseguiril comover-nos, pois nllo somos seus espectadores, sendo seus competidores, seus rivais no pCtio das arquibancadas, capazes de suportar suas infelicidades melhor que ele: tomando-as

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por nossa conta, as exageramos al6m de suas possibilidades de cenCrio. Providos de sua sorte e correndo at6 a derrota mais rapidamente que ele, lhe dedicamos.um sorriso superior, enquanto que reservamos somente para n6s os m6ritos da falta ou do assassinato, do remordimento ou da expia96o. Oue pouca coisa 6 a nosso lado e que vulgar nos parece sua agonia! Por acaso n6o estamos carregados com todas suas dores, neo representamos a vftima que ele queria encarnar sem consegui-lo?Mas, oh, ironiat . . . Finalmen-

te 6 ele quem morr-el

quirir a reservava, sem d0vidas, para seus dis' cipulos; agradescidos e ingGnuos, estes _lhe criaram uma reputagdo de sabedoria. Como nossas ilusdes sfro muito mais d6beis que as

de seus @ntempor6neos, vislumbramosesforgos a outra cara de *u Jardim.

sem

<<a busca de um n6o-homem>>

Por covardia, substitufmos a sensagf,o de "nosso nada" pela sensagSo do "nada". <<a outra cara do iardim>> Quando o problema da felicidade suplan' ta o do conhecimento, a filosofia abandona seu

dominio pr6prio para entregar'se a uma ativida' de suspeitosa: se interessa pelo homem. . . Perguntas que intes n6o havia'se dignado a abordar lhe interessa agora, e tenta responde'las com o ar mais s6rio do mundo. "Como ndo sofrer?",6 uma das que s5o solicitadas mais freq0entemente. Havendo entrado em uma fase de oansago, mais e mais estranha a inquietude impessoal, a avidez de conhecer e, ds verdades que desorien' tam, opde as que consolam. Era este tipo de verdades as gue esperava de Epicuro, uma Grecia escalavrada e submeti' da, que esperava ansiosamente uma f6rmula de repouso e um rem6dio contra a ansiedade. Epicuro foi para sua 6poca o que o psicoanalista 6 para a nossa: por acaso n6o denunciava ele tam'

Hm, d sua maneira, "o malestar da cultura"? (Em todas as 6pocas confusas e refinadas, um Freud tenta esclarecer as almas). Mais que com S6crates, 6 com Epicuro com quem a filosofia deslizou at6 a terapeutica. Curar, e sobretudo, curar-se, tal era sua ambig6o: ainda querendo liberar os homens do medo da morte e dos deuses, ele mesmo experimentava a ambos. A ataraxia da qual se vangloriava ndo constitufa sua experiEncia ordindria: sua "sensibilidade" era not6ria. Ouanto ao seu desprezo pela ci'6ricia, desprezo que depois se lhe criticou, sabe' mos que freqiientemente 6 pr6prio de "amores frustados". Este te6rico da felicidade era um doente: vomitava, segundo se diz, duas yezes ao dia. Em meio de que mis6rias devia debater-se para haver odiado tanto as 'iturbag6es da alma"! A pouca serenidade que logrou ad-

6

Porque o "nada" geral consegue apenas inguietar-nos: vemos nele freqtientemente uma promessa, uma aus6ncia fragmentSria, um be' co sem safda que se abre.

Durante muito tempo estive obstinado em encontrar algu6m que soubesse tudo de si mesmo e sobre os outros,.um dbio-dem6nio, divinamente clarividente. Cada vez que pensa' va havâ‚Ź-lo enoontrado, tinha, depois de um exame, que mudar de opinido: o novo eleito tinha ainda alguma mancha, algum ponto negro, nfo sei que tngulo de inconsciâ‚Źncia ou de debilidade que o rebaixava ao nfvel dos huma' nos. Percebia nele marcas de deseio ou de es' peranga, ou algum resfduo de tristeza. Seu cinismo era manifestadamente incompleto. Oue decepgdo! E prosseguia sempre minha busca, e sempre meus idolos do momento pecrrvam em algum aspectoi o homem estava pre'

sente neles, oculto, maquiado ou disfargado. Acabei por compreender o despotismo da esp6cie, e por ndo sonhar mais que oom um "ndo-homem", @m um monstro que estivesse totalmente convencido de seu "nada". Era uma loucura conceb6-lo: n6o podia existir, id que a lucidez absoluta 6 incompativel csrn q realidade dos 6rgdos.

'


ST

IIAMA

T000 AOUETTO

I.A PUTRIA A tOs

lMEtBltEs PELLEGRINI, AIdO

A

poesia tem uma porta hermeticamente

fechada para os imbecis, aberta de par em par para os inocentes. Ndo 6 uma porta fechada com chave, mas sua estrutura 6 tal que, por mais esforgos que fagam os imbecis, ndo podem ab,ri-la, enquanto abre-se por si s6 na presenga dos inocentes. Ndo existe nada mais opos-

to

I

imbecilidade que a inoc6ncia. A caracterfs-

OUE BIERRA tica do imbecil 6 sua aspiragSo sistemdtica a uma certa ordem de poder. O inocente, pelo contrdrio, nega-se a exercer o poder porque os possui todos.

Por isso, 6 o povo quem possui em potencial a suprema aptiddo po6tica: a inocGncia. E 6 o povo quem sente a coergdo do poder como uma dor. O inocente, (conscientemente ou n5o) se move num mundo de valores onde o amor estii em primeiro plano. O imbecil se move em um mundo no qual o 0nico valor est6 determinado pelo exercfcio do Poder. Os imbecis buscam o poder em qualquer forma de autoridade: o dinheiro, em primeiro lugar, e toda a.estrutura do Estado, desde o Poder dos governantes at6 o microsc6pico, corrosivo e sinistro poder dos burocratasr Desde o poder da lgreja at6 o poder do jornalismo, . . . desde o poder dos banqueiros ate o poder que fabrica as leis. Toda a soma destespoderesestd organizada contra a poesia. Como a poesia significa Liberdade, significa afirmagdo do homem aut6ntico, do homem que luta para realizar-se, indubitavelmente possui certo prestigio perante os imbecis. Neste mundo falsificado e artificial que os "poderosos" constroem, os imbeciq necessitam artigos

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de luxo: cortinados, bibelots, i6ias, e algo assim como a poesia. Nesta poesia que eles usam, as imagens e as palavras se convertem em elemen' tos decorativos, e deste modo 6 destrufdo o poder de transcendOncia que a poesia possui. As' *, sim se cria a poesia chamada "poesia oficial" poesia de lantejoulas, poesias que acabaram 6cas e vazias.

Os imbecis vivem num mundo artificial e falso. Apoiados no poder que podem exercer sobre os outfos, negam a evidente realidade do

ser humano, a qual substituem por esquemas irracionais. O mundo do poder 6 um mundo vazio, sem sentido, fora da realidade. A poesia 6 uma mistica da realidade. O poeta busca na pa' lavra n5o um modo de expressar-se, sen6o um

* . . . t6o comum

no Brasil. onde dois ou tr6s escritores profissionais passam o tempo inventando contos podticos que seo elogiados depois por jornais comer' ciais e est0pidos, para em seguida serern devorados pelas massas servis de pequenos leitores obsessivos. N5o. ndo 6 necessdrio citar nomes. pcris todos vocds pos' suem bibliotecas infestadas desta "poesia oficial", des'

modo de participar da pr6pr,ra reattdade. Recorre d palavra, mas busca nela seu valor original, a magia do momento da criagdo do Verbo, momento em que ndo era um simbolo, sendo parte da realidade mesma. O poeta mediante o Verbo n6o expressa a realidade, participa dela.

A porta da poesia n5o tem chave nem fechadura: defende-se por sua qualidade de incandesc6ncia. 56 os inocentes, que possuem o Mbito do fogo purificador, que

possuem dedos

ardentes, podem abrir essa porta e penetrarem por ela at6 a realidade.

A poesia pretende cumprir a tarefa de que este mundo ndo seja habit5vel apenas para os imbecis! tes autores que s6o insuportdveis para aqueles indivfduos que possuem uma inteligdncia razo6vel. Se foram traduzidas em cinco, dez ou duzentas linguas, que import6ncia tem, uma vez que sabemos, hd muito, que o mundo estd cheio de otdrios que parasitam ou que hibernam? Comecem hoje mesmo a analisar vossos ,,fdolos". vossos "artistas", vossos ,,poetas'., e vossas bibliotecas tereo mais espago no futuro. {nota da revista}

ENF|M, O HOMEM NAO E INTEIRAMENTE CULPADO, POIS NAO COMEQOU A HISTORIA; NEM INTEIRAMENTE INOCENTE, POIS A CONTINUA. Camus


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Essa tarefa n5o era fricil-

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GOLDMAN, Emma

Ouando leio os versos de elogios f0nebres

com os quais se dirigiram ao morto lLeninl

al

guns de seus mais irritados inimigos, surgem em minha mem6ria as palavras molestadoras que

empregou Ang6lica Balabanova frente a Clara Sheridan, a dama que esculpiu bustos de Leinin, de Trotsky e de outros chefes do bolchevismo: "Terias esculpido a Lenin tr6s anos atrds - lhe perguntou Balabanova - quando o governo ingl6s o acusava de espiSo alemSo? Lenin ndo fez a revolugdo. Ouem a fez foi o povo russo. Por que ndo esculpes as mulheres e os homens do povo trabalhador russo, os verdadeiros her6is da revolugSo? Por: que este repentino interesse por Lenin?""

Com Balabanova, Pergunto eu aos que agora cobrem de elogios a Lenin, entre os quais, inclusive, se encontram alguns menchevistas e social-revoluciondrios: Por que esta repentina simpatia? Por que este absurdo estalido de homenagens ao homem que ontem mesmo era coberto de agress6es? Acontece isso em base Sque' la mdxima que afirma que s6 se deve falar bem dos mortos? Ou acontece porque hoje 6 um si' nal de valor ndo ir contra a corrente do "culto aos her6is"? Ou, em resumo, ndo 6 mais que

uma onda de ordindria hipocricia? Esses escritores sabern tdo bem como sabia Balabanova que Lenin ndo fez a rcvolugdo. Mas ainda, que foi ele guem p6s fim d revolugfio. Passo a passo, desde o hist6rico "respiro" - desde a paz de Brest-Litovsk - at6 margo de 1 921, quando imp6s a seus rebanhos sua nova polftica econ6mica, perseguiu Lenin a tarefa que se havia proposto, tentou levar a revolugSo com calma, castrii-la, desnaturalizar seus fins, privS-la de seu conte0do, de modo que dela ndo sobrou mais que a vestimenta exterior, que devia servir como ornamento nas revistas de gala da Terce i ra I n tern ac i ona I .

10

O povo

russo

que se arrojou com toda alma na revdlugSo, tinha.'ardente f6 em suas forgas, em suas possibilidades, em sua persistGncia. Lenin era demasiado perspicaz para opor-se a este entusiasmo geral, a esta f6 profunda. Ao contrdrio, marchou com o povo e se pronunciou a favor das medidas mais extremas. Por6m, o obietivo que buscava era outro e se diferenciava essencial' mente dos obietivos que o povo sonhava- Era o Estado Marxista - como ele o comprendia uma m6quina que involucrava tudo em si, que absorvid tudo, que tudo destrufa, e cuia palanca tinham Lenin e seu partido nas m6os. Essa divindade foi bendita por Lenin toda a vida.

Ouando a onda revolucionCria levou Lenin ao poder, viu chegada sua hora, a hora em que devia transformar seu sonho em'realidade. Oue lhe importava que a revolu9eo ter' minasse pela metade? Oue signif icava o fato da Rusia cobrir-se de escombros e de rufnas? Do sangue e das esperangas de um grande futuro surgiu o Estado Marxista. A gl6ria da obtengfo deste artiffcio corresponde exclusivamente

a

Lenin. Ningu6m trabalhou mais habilmente nem @ln tao absoluta abnegagao para este objetivo que ele. O futuro, entretanto, ndo deixard de julgar iustamente o car6ter duvidoso desta gl6ria que incumbe ao chefe morto do bolchevismo, ao leninismo, como chama hoje, com orgulho, o rebanho fanStico de seus adeptos, d formagSo polftica autocrdtica que pesa gravemente sobre as costas da Russia escravi' zada.

Os "incensadores" de Lenin o chamam grande. Por6m ele ndo possufa seguramente a grandeza do espfrito e do coragSo que constituem as condig6es pr6vias essenciais de toda grandeza verdadeira e geral. Lenin mesmo haveria ironizado e gozado aos que lhe atribuem hoje tais qualidades "burguesas". Grandeza de espfrito, magnanimidade de coragdo, compre' ensSo e simpatia para com um adversSrio eram rasgos que n5o existiam nesse homem, que sem d0vida. foi t5o extraordinarialnente humano em seus defeitos e criminosos em seus erros. Mais de uma vez se ofereceu a Lenin a ocasiSo de revelar a verdadeira grandeza, mas que for' magSo espiritual inteira nSo lhe permitiu perceber a ocasiSo magnffica e nem sequer com' preender sua import5ncia. Destg ponto de vis' ta, Lenin foi sempre fiel a si mesmo. "Der Tag"


do dia 27 de janeiro relata uma interessante hist6ria: Foi em 1890 R0ssia estava submergida em uma terrfvel mis6ria. Toda a inteligdncia russa, sem diferengas de opini6es, se associou para

encontrar meios e vias que pudessem aliviar a situagdo de um povo tdo faminto. Le6n Tolstoi mesmo escreveu um caloroso chamado de socorro. :Em Samara, o centro do distrito da fome, se reuniu um grupo de intelectuais para dicidir sobre seu trabalho em favor dos famintos. Nessa reuniSo levantou-se um jovem e assim expressou-se: "A fome revoluciona as /nassas e facilita a luta contn a autocracia russp,. Por esa nz6o considero um crime o projeto de socorro. Naturalmente nilo tenho nenhuma inclinagdo a participar deste crime". Esse jovem era Vladi-

mir llyitsch Ulianof Lenin. Lenin demonstrou essa mesma e fria inflexibilidade em outra ocasido, frente a Dora Kaplan, que jd estava presa hd vdrios anos; ndo tendo sido conduzida d tal nem por motivos pessoais nem por motivos contra-revolucionalrios. Sabia tamb6m que sua morte, assim como sua existâ‚Źncia, ndo podiam contribuir para a prosperidade da Russia. Com um grande gesto havia podido atrair at6 sua pessoa, por parte do partido a que Dora Kaplan pertencia, uma consideragSo humana. Podia salvar a vida desta mulher. Este houvera sido um sinal de grandeza

que haveria marcado sob as circunst6ncias um elemento novo, vital, ao curso inteiro da revolug6o. Por6m ningu6m pode dar o que ndo posa quem toda verdadeira grandeza lhe era estranha, entregou Dora Kaplan a seus ver'

sui. Lenin,

dugos, a tcheka.

Lenin possufa uma grandeza, uma grande-

za que ningu6m pode roubar'lhe: possufa a grandeza do "jesuitismo", a vontade de seguir caminho com ast0cia e despreocupagSo com os meios. Neste sentido, osTorouemadasde todos os tempos sempre foram grandes. Sabe-se que alguns deles deixavam escapar solugos ao mandar suas vftimas para a c6mara de tortura seu

ou a morte. Talvez Lenin tamhr6m tenha soluga-

do diante do tributo que devia pagar por

suas

tentagoes. Felizmente tais ldgrimas eram o fator

paralizador do espfrito da humanidade e destrufdor de todo intento de uma nova forma de vida. Os Torquemadas foram sempre as forgas

mais reacionSrias e contra-revoluciondrias da hist6ria humana. E Lenin era um reaciondrio. Todos seus atos polfticos desde 19'l 7 s5o uma

demonstragdo viva de suas aspirag6es contrarevoluciondrias. Contra-revoluciondrias no sen-

tido de que contribuiram por todos os meios para o fracasso da revolug5o.

A

paz de Brest-Litovsk

foi

para a revolu-

g5o uma ferida mortal.

O estabelecimento de "tcheka" transformou a Russia em um matadouro humano. A arrecadagSo violenta de impostos e as expedigdes punitivas associadas d ela aniqtiilaram milhares de vidas e destrufram aldeias inteiras. Kronstadt 6 o tributo de sangue que foram obrigados a satisfazer seus melhores filhos a divindade de Lenin. O decreto que sancionou a guerra at6 o extremo contra a oposigdo operdria e os anarquistas sindicalistas (essa ordem secreta nascida no X Congresso do Partido Comunista Pan-Russo, aparece agora a luz do dia; foi utilizada como um apoio pelos leninistas nas 0ltimas discuss6es com a oposigSo); e finalmente o restabelecimento do capitalismo pelo NEP {nova polftica econ6mica); tudo isso e mais surgiu do c6rebro do homem que foi canonizado como um santo pela lgreia comunista. E todas essas medidas contribufram para sufocar a revolugdo e para destruir as esperangas do povo russo. Mas ndo s6 na Russia, todo o mundo experimentou o "jesuitismo" de Lenin, que levou a todas as partes o germe da decomposigSo, principalmente para as filas dos oprimidos.

Lenin acreditava absolutamente na necessidade de tais m6todos, na neeessidade'de semear o desequilfbrio, a abominagdo e a decomposigdo..Considerava tudo isso como uma parte essencial de sua doutrina. Podemos citar suas pr6prias palavras a respeito: "Krasnaia Lotopies" n9 7, cont6m um discurso de Lenin no V Congresso da Social Democracia Russa (partido operdrio), que expressava sua defesa dian-

te de um tribunal do partido. Era acusado de haver difamado e caluniado a trinta e um menchevistas, que haviam abandonado o partido e formado um bloco com os cadetes. O chefe des-te grupo era F. Dan. Lenih formulou sua opiniSo entdo, com as seguintes palavras: "Ouando opositores politicos, 6 a forma e n5o o conte0do o que importa. Em realidade, a forma representa o tom que dirige toda a m0sica. A forma deve ser, pois, tal que provoque no ouvinte ou no leitor 6dio, desprezo, horror contra os atacados. A missdo da forma n5o 6 convencer se ataca

11


I

seneo dispersar as filas dos adversdrios, ndo melhorar seus defeitos sendo aniqiiilar sua organizagSo e sua atividade, extirpd-las da terra. A forma do ataque deve ser tal que provoque os pio-

res pensamentos e leve o caos e a desorganizais filas dos operarios". Ouando algu6m lhe perguntou se tais m6todos ndo eram desprezfveis, respondeu Lenin: "Certamente quando se aplicam ao pr6prio partido e contra os pr6prios camaradas. Por6m na luta contra todos os adversdrios polfticoq ndo s6 ndo 6 desprezivel esse m6todo, sen5o gue 6 digno de recomendagfio e necessdrio. Repito, em meu ataque contra os grupos saldos dos menchevistas escolhi intencional e conseientemente essa forma, que 6 apropriada para dividir as filas do operariado e provocar 6dio, desconfianga e horror contra nossos inimigos pol iticos." g5o

l

I i

I I

i

I

Kaplan, Fanny Baron, Le6n Tchorny e muinecessitaram morrer mais de uma morte cruel antes que a Eheka de Lenin os colocasse de costas contra os muros. Seus corpos mortos nflo foram expostos i vista. Nenhuma homenagem se lhes ofereceu. Nenhum canto f0nebre foi cantado e os sinos das quarenta igrejas de Moscou nfo lhes renderam nenhum triste acompanhamento. Morreram de uma morte honrosa, pois haviarn permanecido fi6is d revolugdo, ainda que ndo houvessem tido 6xito. Ndo foi assim com Lenin. Este teve 6xito. Conseguiu p6r em p6 sua m6guina. Despertou outra vez todos os males que a revolugdo queria extirpar: o capitalismo, a exploragao e tudo o que deta se cteriva. N6o foi um milagre o fato de Lenin haver sido enterrado corn todas as pompas de um potentado

tos outros

VOCE NUNCA PODERA VER ESTA ESTRELA COMO EU A VEJO. VOCE NAO GoMPREENDE: E COMO O CORA9AO DE UMA FLOR SEM CORA9AO. Andr6 Breton

Ningu6m pode acusar

a

Lenin de haver

alguma vez utilizado sutilezas. Mas isso ndo pode encobrir o fato de que em toda sua vida introduziu um perigoso veneno nas filas dos operdrios ou dos trabalhadores. As filas do seu pequeno partido foram infestadas pouco a pouco. Enquanto Lenin estava com as r6deas do bol-

chevismo nas mdos, nada disso podia vir i superffcie. Por6m agora, que a morte mesma dissolveu o fdrreo punho, explode o veneno con-

tido e

ameaga devorar o.edif

fcio inteiro que

construiu tdo "diligentemente"

o

grande je-

sufta de nosso tempo.

A

morte 6 a grande niveladora de toda

a vida.

Chegou a Lenin como havia chegado sobre os mont6es de vftimas do leninismo, so que ati ele foi com mais consideragfo. Dora

e seu reino seia reconhecido hoie por todas as pot6ncias europâ‚Źias. E por que ndo? A revolugf;o esd morta. Longa vida ao leninismo!

O vaticano, Musolini, o patriarca Tikon, os reacionirios, os aventureiros do mundo pa-

trihrto ao homem que haveriam matado sete anos atrds se este houvesse caido em suas m6os. Mentirosos e hip6critas todos! A expressdo deste respeito e desta simpatia 6 s6 uma mdscara atrds da qual ocultam a alegria de ver que o leninismo lhes proporcionou a chave das riquezas da Russia, que agora estdo dispostos a extrair at6 o fundo. Mas a 0ltima palavra sobre a Russia ndo foi dita ainda. O povo, t5o grande em sua c6lera dos dias de outubro, se levantard de novo e testemunhard que o triunfo do leninismo e seu chefe morto foi ao mesmo tempo sua trdgica derrota.*

gam agora seu

*

Traduzido do livro de Emma Goldman ,'La hipocre-

sfa del Puritanismo" Textos Anarquistas

Antorcha

12

-

Mdxico DF

-

Mdxico

-

Ediciones


POESIA E PSICOLOGIA Ndo invada o segredo alheio:6 grosseiro e de mau tom

/

para

viver nesse mundo louco e feio, a norma suprema 6 ser bom / Psicologia 6 invasdo de domicilio, poesia 6 respeito ao infinito / Ndo pedirei as inteng6es do seu poema, me basta ele ser bonito / Ndo pergunte se eu tenho segredos escondidos nas linhas do meu desenho / NAo fuce o desenho i procura dos medos voc6 nunca saberd de onde venho / N6o me interessa o nome do seu sentimento nem quero saber qual 6 sua meta / O negro 6 apenas o negro e uma rett 6 apenas uma reta / Guidado para ndo ferir o mist6rio / Olhe o que eu mostro, nf,o mais / Acredite, isto 6 s6rio ame a Arte / pronto / Basta / E preciso mais? / Nflo escavacarei nas atmas alheias como um cdo, pois nflo enterrei nada nelas. Luiza N6brega.

r3


"l

BAIJDELAIRE

pensamentos

intimos BAUDELAIRE, Char.les 'Subsistiria algudm sobre a terra se cada homem houvesse confessado a outro todos os seus pensamentos?"

c.

B.

Quando um homem vai para a cama, quase todos os seus amigos sentem um desejo de vâ‚Ź-lo morrer: uns, para comprovar que ele tinha uma.sa0de inferior d deles; outros, com a esperanga de estudar uma agonia.

Em um espetdculo, em um baile, cada um goza dos demais.

Oue 6 a arte? ProstituigSo.

Seja sempre poeta, inclusive em prosa.

O amor se parece muito a uma tortura ou a uma cirurgia. Ainda que ambos os amantes estivessem muito enamorados e cheios de desejos recfprocos, um dos dois estaria sempre mais tranqtiilo ou menos possufdo que o outro. Aquele ou aquela 6 o operador ou o verdugo; o outro 6 o suieito, a vftima. e

suprema do amor estriba na certeza de fazer o mal. O homem e a mulher sabem, desde que nascem, que no mal se encontra toda a voluptuosidade.

14

repudia a pederastia.

A vida s6 tem um encanto verdadeiro: o encanto do jogo. Mas, e se nos 6 indiferente ganhar ou perder?

A prop6sito do sonho, aventura sinistra de todas as noites, pode-se dizer que os homens dormem diariamente com uma auddcia que pareceria incompreensfvel se ndo soub6ssemos que 6 o resultado da ignordncia do perigo.

Os povos adoram a autoridade.

Pordm eu digo: a voluptuosidade 0nica

Amamos as mulheres quanto mais estranhas nos s6o. Amar as mulheres inteligentes 6 um prazer de pederastas. Por6m a bestialidade

Em politica, o verdadeiramente santo

6

aquele que provoca e mata o povo para o bem do povo.

A

inspiragdo vem sempre que o horhem se vai quando ele o deseja.

quer, mas ndo

Quando conseguir inspirar o asco e o horror universal, haverei conquistado d solid6o. Este livro ndo foi feito para minhas mulheres, minhas filhas e irmds quase ndo tenho nenhuma.


Por que os democratas ndo gostam de gg-

tos, 6 f6cil de adivinhar. O gato 6 lindo: revela id6ias de luxo, de limpeza, de voluptuosidade, etc.

Oue sdo os perigos do bosque e do cam. po comparados aos choques e conflitos diSrios

N5o pode haver progresso (verdadeiro, isto 6, moral) mais que no indiv(duo e pelo indivfduo mesmo. Mas o mundo estd feito de gentes que so podem pensar em comum, em bandos. Tamb6m existe gentes que pdo podem divertir-se a neo ser em rebanhos. O verdadeiro her6i se diverte sozinho.

da civilizagdo!

Diz-se que tenho trinta anos, mas se vivi trâ‚Źs minutos em um . . . ndo tenho por acaso noventa?

O

estoicismo, religiSo que nf,o possui

Vejam a George Sand. E sobretudo, e mais que nada, uma grande idiota; mas estd possufda. O que diz da poesia, seu amor pelos operdrios . . . o fato de alguns homens haverem podido enamorar-se de semelhante letrina, 6

mais gue um mandamento: o suicfdio!

uma prova palpdvel de baixeza dos homens deste s6culo.

Cagar 6 uma oragfo, segundo dizem os democratas quando cagam.

procurou, ao menos, desinfetS-lo, criando o

Ndo podendo suprimir o amor, a lgreja matrimOnio.

Mas a ruina ou

o progresso universal ndo

se manifestardo por meio das instituigdes politicas, senSo pelo'envi lecimento dos coragOes.

O que o amor tem de chato 6 ser um crime, para o qual se necessita um c6mplice.

EntEo, o filho fugird da famflia, ndo aos

Oue 6 o amor?

dezoito anos, mas sim aos doze, emancipado por sua precocidade ambiciosa; fugirS n5o para ir ao encontro de aventuras her6icas, nfro para libertar uma beldade prisioneira em uma torre, nem para imortalizar com seus pensamentos su-

A

blimes uma pobre "buhardilla", sendo

Adorar 6 sacrif icar-se e prostituir-se.

necessidade de sair de si mesmo.

O homem 6 um animal adorador.

para

montar um com6rcio, para enriquecer-se e fazer competencia ao seu infame pai, fundador e acionista de um didrio que derramard as luzes,

Todo amor 6 tamb6m prostituigeo.

fazendo que se considere ao S6culo desta 6poca como um suporte da srpertigSo .

Sempre me assombrou o fato de que as mulheres possam entrar nas igrejas, Oue conversagSo podem ter com deus? A v6nus eterna (ca-

Porque no homem existe coisas que se fortificam e prosperam enquanto outras se debilitam e se tornam pequenas; e, gragas ao pro-

pricho, histeria, fantasia) 6 uma das formas

se-

dutoras do diabo.

gresso destes tempos futuros, ndo sobrarSo de tuas entranhas mais que as visceras. Esses tempos podem estar pr6ximos; quem sabe se inclusive jd tenham chegado e se o sossego de nossa natureza ndo 6 o rinico obstdculo que nos impede de apreciar o meio em que respiramos.

O dia em que o iovem escritor corrige sua primeira prova, se sente orgulhoso como o estudante que acaba de constatar sua primeira sifi-

Perdido neste mundo mesquinho, acotovelando-me com a multidSo, sou como um homem abrumado, cujos olhos n5o v6em, olhando para tr5s, aos anos profundos, mais que cansago e amargura, e ante si mais que uma tempestade sem nada novo, sem dor nem ensinamentos.

sultado de um equfvoco. Este equfvoco 6 o prazer. O homem grita: Oh, anjo meu! A mulher arrulha: mamde! mamde! E este par de imbecis

Ser um homem algo horroroso.

0til, me pareceu

sempre

lis.

No amor, como em quase todos os assuntos humanos, o comportamento cordial 6 o re-

estdo persuadidos de que pensam da mesma forma. O abismo intransponivel que os incomunica

continua intransponfvel. Saint-Marc Girardin disse uma frase que ficard : Sejamos mediocresl

15


Povos n6mades, pastores, cagadores, agrfcolas e inclusive antrop6fagos, podem ser todos superiores a nossas ragas do Ocidente, pela energia e pela dignidade pessoal.

O homem de g6nio guer ser 0nico portanto, solitdrio. A gl6ria 6 seguir sendo Onico e prostituir-se de uma maneira original.

Glorificar a vagabundagem 6 aquilo que poderfamos chamar de boemianismo. Ouanto

A cada mlnuto nos esmagam a id6ia e a sensaqdo do tempo. E ndo existe mais que dois

meios para escapar deste pesadelo, para esque c6-lo: o prazer e o trabalho. O prazer nos gasta. O trabalho nos fortalece. Ouanto mais nos servimos de um destes meios, mais repugn6ncia nos inspirard o outro. A desgraga constante produz na alma o mesmo efeito que a velhice no corpo: i5 n5o podemos mover-nos mais, nos deitamos. . . *

r"i, o homem cultiva as artes,

menos fode.

Entre o esp,if ilo e a besta se produz um div6rcio cada vez mais sensivel. 56 a besta fode bem e a fornicag5o 6 o lirismo do povo.

Foder 6 aspirar a entrar em outro, e o artista jamais sai de si mesmo. Para o comerciante, a pr6pria honestidade 6 uma especulagdo de lucro.

Um funcion6rio qualquer, um ministro, um diretor de teatro ou de um jornal podem ser, ds vezes, seres de estima; mas jamais serSo

divinos. S5o pessoas sem personalidade,

seres

sem originalidade, nascidos para a fungSo, isto 6, para a domesticagSo p0blica. Todo jornal, da primeira d fltima linha,

n5o 6 mais que uma trama de horrores. Guer' ras, crimes, torturas, crimes de prfncipes, crimes de naq6es, crimes de particulares, um porre de atrocidades universais. E 6 deste aperitivo repugnante que o homem civilizado acom' panha sua comida de cada manh5. Tudo neste mundo, sua a crime: o di5rio, os muros e o rosto do homem. Ndo compreendo como uma mdo pura pode tocar um jornal sem sentir uma convulsSo de asco.

Todos os imbecis da burguesia que pronunciam sem cessar as palavras: imoral, imoralidade, moralidade na arte e outras idiotices do mesmo estilo. me fazem pensar em Luisa Villedieu, puta que cobrava cinco francos, quem acompanhando-me uma vez ao Louvre, aonde nunca havia ido, cheia de vergonha me perguntava, diante das est6tuas e dos quadros imor' tais, como era possfvel gue estivessem expostas ao p0blico semelhantes indec6ncias. Depois de uma orgia, sempre nos sentimos mais s6s, mais abandonados

16

iil Liri

I

lr

Sfntese e tradugdo do livro: "Gharles Baudelaiiedi6rios fntimos" - Publicado por La nave de los locos, Premid Editora S.A. - Mdxico 1979.


QUEM, APESAR DAS PRETENSOES DESTA SOCIEDADE, PODE DORMIR EM PAZSABENDO OUE OBTEM SUES PRAZERES MEDIOCRES DO TRABALHO DE MILHOES DE ALMAS MORTAS? Karl Marx

:tr


um efeito est6tico e/ou sin6rgico resultante da j

interagdo dos vocdbulos. E isto 6 o que importa realmente. O poeta 6 um tecel6o de sfmbolos numa estamparia c6smica; ndo deve ser acusa& de herm6tico ou obscuro, porque estd em busca do inefdvel.

i

i

POR

As dicotomias polftico-ideol6gicas

acen-

tuaram-se e estamos esquecendo o sentido profundo da Arte e da Vida, que deveria ser preservado, por assim dizer, secretamente no coraqiio de cada homem.

UIIIA

INTERPRTTATf,O

DA

CIITTlIR

A

Na nossa primeira juventude chegamos a desejar e esperamos que cada homem se torne em artista. Mais tarde um pouco, com alguma frustragdo, constatamos que ndo 6 bem assim. lnfelizmente existe uma amarga e sombria organizag5o por detrds da aparGncia de realidade das coisas e o que mais entristece qualquer pessoa sensfvel nos dias de hoje, 6 o sentimento de rebanho que temos d nossa volta. Macacos dirigindo macacos!

DE

l,A

^

?ossfA? MOLITERNO, Bruno

Parte dos artistas contempordneos tem seu passado remoto junto aos antigos guerreiros

que conquistaram povos. Guerreiros e artistas possuem

o sentido

da coragem e da beleza co-

mo uma heranga aristocr6tica que hoje em dia desapareceu quase completamente.

A arte e o sentimento do Belo s5o realidades muito mais sutis do que a maioria pensa ou

O espontanefsmo como manifestagdo artfstica, que existe aqui no planalto central, pode ser bem intencionado, mas 6 pueril e passa-

percebe. No caso da poesia, por exemplo, muito embora o verbo po6tico venha perdendo seu valor como entidade porta-voz da Beleza, o que se busca sempre em qualquer imagem do poema 6

dista. As coisas ndo se misturam assim com tanta facilidade. quando se trata de atingir objetivos - e antes de tudo a verdadeira arte neo conhece um fim pr6-estabelecido - existem determina-

18

:


A FENOiIENOLOGIA E, EM UM DE SEUS ASPECTOS uturA MEDrregAo soBRE A DESESPERA9AO E A MORTE. Hegel

das projeqdes que atingem apenas um p0blico delimitado. Por outro lado hd realmente as ma. nifestag6es genufnas da cultura popular num circrrito fechado de repercus5o, assim como existem os "boldinismos"* de toda espdcie pa. ra os setores em ascensto s6cioccon6mica. Mas

a arte que permaneoe e flui das camadas mais apuradas da cultura, s6 sa preocupa com

a li-

berdade individual de cada homem, a-partir da experiâ‚Źncia do autor.

O que asistimos hoje como "cavalo de batalha" dos jovens brasileiros 6 a negag6o, repress5o e confusfo de sentimentos atCvicos que lhes sdo conhecidos apenas parcialmente; sentimentos estes que est6o presentes em nosso inconsciehte por s6culos de cultura jesuftica. A atitude conseq0ente e realmente libertdria seria, antes de tudo, a verdadeira compreens6o e a sublimagfo desses problemas para a superagfo de obsdculos e para que finalmente alguma Fâ‚Źnix alge v6o destas cinzas. O anarquismo ndo 6 o sempiterno cios.

'

BOLD|NI., pintor italiano, tendencioso, que pintava para uma burguesia hiP6crita.

Podemos estar sendo confundidos com a n6va onda de conservadorismos que parece estar se formando nos horizontes do mundo ocidental, mas o que queremos 6 ir mais longe e mais fundo. Desejamos abrir espagos para eventos cu ltura is tnrdade i n mente i m porta ntes. Como exemplo, seria de enorme valia para a cultura, se os pobres os miserdveis e desfavorecidos marcassem datas para o pranto coletivci; e seria,de enorme valia tamb6m, se as pessoas que possuem real capacidade artfstica procurassem um eco profundo na elaboragdo de seus temas e materiais.

Transcender as arengas entre o poder e os que dele se nutrem ou a ele s5o subordinados!

Transcender os azedumes correntes e viver de dentro para fora! Abaixo os falsos artistas! Estes nfo s5o maus porque enganam os outros, mas sim porgue enganam a si mesmos.


4'.i

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20 1

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L__ 1


21


tintos, enterrados vivos ou privados do direito de ser homens, deve ser, antes de tud6, um ra zoamento sobre aqueles que estdo abaixo, sobre a perspectiva da exclusSo, deve procurar ver as coisas sob a luz do que a civilizaqdf,chssifica sem hesitar como inferior, anormal e patol6gi'

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RACISMO E COLON IALISMO)

s

Em seu mundo de sombras, de c6digos sem significado, nunca houve lugar para o reconhecimento do Outro. Ouantas vezes depois de mil e mil proclamag6es, a "cultura" dicidiu e admitiu que o negativo havia sido difinitivamente absorvido! O Outro erc, conforme o momento, o inimigo, o desprezivel, o criminoso, o louco. o judeu, mas invariavelmente, antes de todos, o negro, o homem de c6r.

O Racismo sob todas

as suas formas ex-

plicitas e muito mais ainda implicitas, 6 o 0ltimo reduto da "cultura", o que sobrou depois que caducaram todas as mediag6es, as destre zas e as frivolidades do trato social. Unicamerr

te se a dominag5o 6 capaz de submeter o Outro, de estabelecer sem equfvocos qual h5 de ser o lugar do Negro, de fixar o destino de er fermo mental e de classificar a identidade se cial de suas vitimas, entdo, inclusive a pr6pria "cultura" deve tirar a mSscara e revelar suas

GIAMMANGO. Roberto

origens.

"Oue o mundo saiba que de suas mdos, das mSos desta sociedade, est6 correndo sangue . Oue o mundo saiba como d grande sua hipocricia! Como d possfvel que vocds. os negros, possam expressar agradecimento dqueles que lhes ddo o que jd vos pertence? Aqueles que lhes dao apenas uma mfnima parte do que,

por direito, j5 lhes pertence?,"

x.,

1964

Ouando se colocou o mundo frente ds cifras de produgdo das fSbricas de morte Nazis, a margem da "cultura" ocidental ainda era bastante ampla, muito mais ampla do que poderia s6-lo em 1967 diante das f5ceis faganhas, ao racismo talm0dico e a demagogia esquerdista de lsrael. Ent5o, p6de atribuir-se a um so povo a responsabilidade do genocidio, enquanto a outro povo se atribufa exclusivamente o papel de vitima.

Para compreender o significado e a din6mica do racismo 6 necess5rio abandonar a l6gica do Sujeito-Obieto, do Eu-Ndo-Eu; dito em outras palavras, negar os aspectos humanos. Ndo 6 justo afirmar que as categorias adotadas pelo homem ocidentat esteiam impregnadas de racis' mo quando s5o o produto mais apreciado e refinado das relag6es de engano e de atropelo, da preponder6ncia da esfera de tr6nsito e da unilateralidade social.

hipnose das massas, com o culto do "sangue e da honra", com o nacionalismo exagerado e o militarismo da tradigdo prussiana, com o coft flito entre os interesses econ6micos regionais. Os olhos do mundo se fixaram sobretudo nas aberrag6es,

no extravio de um povo que deu

Todo razoamento sobre os excluidos do mundo inteiro, os oprimidos, humilhados nos

tantos artistas, tantos fil6sofos, tantos cidadSos honestos. Em Nuremberg se montou um pro cesso internacional para castigar aos criminosos Nazis imediatamente depois da explosSo at&

mais variados graus e com os m6todos mais dis-

mica em Hiroshima e em Nagasaki, enquanto

22

ll

A "cultura" h6 de explicar tudo, ou bem com a loucura de um homem ou bem com a


se desenvolviam com €xito as matanqas de Madagascar, do Congo, Filipinas, Borneu e os ci-

dadSos norte-americanos

de origem

iaponesa

saiam dos campos de concentragdo da costa ocidental dos EE.UU., onde haviam permanecido

durante todo periodo da guerra.

O anti-semitismo foi analisado com as mais refinadas categorias s6cio-psicol69icas, sempre dentro da l6gica ocidental. Falou-se de

"Rotina sacrificadora mim6tica" (Horkheimer y Adorno), de emporcamento e agressividade compensat6ria (Nathan W. Achermann e Marie Jahoda), de pseudo identidade em relagdo com o comportamento em situag6es extremas (Bruno Bettelheim), de sindrome autorit5ria de regressSo (os autores de "personalidade autorit6' ria"), de mortificagSo narcisista, de mobilizag5o da fusSo instintiva oposta, de todos os mecanismos de defesa e todas as formas possiveis de racionalizagdo. Tanto na forma como o antisemitismo tem sido analisado e explicado, co' mo na aparigdo de forgas que tendiam d sua destruigdo, se pode per,ceber claramente a .iniciativa e a contribuigSo dos pr6prios perseguidos, isto 6, dos pr6prios hebreus, e isto durante s6culos.

Os judeus eram acusados de ser a encarna95o da "Erwerbsprinzip": 6nsia de riqueza; e de

haver desprezado e contaminado o cristianismo.

Assim, enquanto na Pol6nia e na Ucr6nia os judeus eram destrufdos sistematicamente pela alianga dos grandes latifundi5rios com os camponeses e so conseguiram sobreviver gragas aos interesses do Governo Central que necessitava de arte$os, os comerciantes e agiotas, na Alemanha, onde eram uns burguesbs que compe burgueses, foram aniqiiilados pela alianga entre os grandes capitalistas, que exigiam o controle de todos os mecanismos de

tiam com outros

financiamento, e os artesSos e camponeses que viam no hebreu o explorador direto. A difini95o do hebreu atravds de sua religido, e por conseguinte atrav6s de sua maior ou menor participacio na ess6ncia da civilizagSo ocidental, transfere toda a questSo a um fato cultural, que serve de crit6rio explicativo, enquanto que o primeiro 6 o que propriamente caberia aclarar' "Buscamos o egredo do hebreu n6o na religito, ainda guando buscamos o *gredo da rctigido no hebreu verdadeiro . . . Oual 6 o fun' damento univerl do hebreu? O neg6cio . . . Aual 6 su deus univercal? O dinheiro. Uma or'

Alexandre moreu, Alexandrc foi sopultado, Aexandre fez p6; o g6 6 terta; e da terra se faz barro' e barro em qu€ sg oonwrt€u nio se poderia por que barril de cerveia? tapar um"o(Hamlet, a. V, cena Schakgpoaro.

se

"*

ll

quilo que lhe diz respeito, o mecanismo racista

ganizqflo da sociedade que eliminase as hip6tesis do confrcio e portanto a posibilidade de negociar, faria imposivel a vida pan o iudan.

da exclusdo se nranifestou sempre com umas ca' racterfsticas bem diversas no que diz respeito ao que se aplicou, em prejuizo dos povos de cor.

um vapor incon*iente na vital atmosfen da s(Eiedade .. N6s rcconhecemos, pois, no

A

presenga do judeu na cultura ocidental

sempre esteve organicamente estruturada e, na-

A comunidade hebraica

-

escreveu Sartre

- ndo 6 nacional nem intemacional, nem religiosa, nem Ctnica, nem politica: 6 uma comunidade quae hist6rica. O que faz o hebreu 6 sua situagdo concrcta, e a identidade de tal situag1o

corpo guae hist6rico ndo pode considerar-se como um elemento estranho d sociedade, sendo que, pelo contr6rio, Ihe 6 necesdrio.

o une aos demais hebreus.

Este

Sua con*i€ncia religion

c

dissolveria como

judaismo, um atual e univercal elemento "antisocial". O espirin prCtico do iudan s conver' teu no eqlrito pnitico dos povos czbtSos Os judeus e emanciparam na medida qn que os cristios se tomanm iudeus"t .

O anti-semitismo ndo 6 uma aberragSo se ndo a manifestagSo excitada de um conflito que a sociedade burguesa ocidental leva necessaria' mente consigo. O fato de que haia sido subli23


mado, ou semi-reduzido, ao nivel religioso, se explica com a disparidade do desenvolvimento entre a integragdo econ6mica e stra envoltura psicoideol6gica. E apenas um aparente paradoxo a afirmagSo de que, na Alemanha os judeus foram exterminados precisamente quando haviam deixado de ser judeus. A forma de ex-

ploragSo que se lhes atribufa durante s6culos, a usura que tanto a lgreja como o Estado praticavam a nivel institucional e condenavam a nivel privado, as t6cnicas comerciais nas quais foram mestres durante muito tempo, eram desde agora um jogo de criangas diante da planificagSo global da ind0str.ia e da criagSo de um imenso mecanismo econ6mico-militar. E verdade que os judeus mais ricos e cultos se adapta' vam plenamente d nova sociedade monopolista e praticavam em todas oportunidades a inj0ria

ideol69icas, em totalmente intercambi6veis.

"Um impulso tdo poderoso ndo s6 prt duz o sonho criador, sendo que da vis6o parcsitdria que os judeus criam da dominagio do mundo, dimana uma fdrga enorme. DuranE aproximadamente t& milfinios os iudeus t6m sido os magos da polftica e da economia. Fi' zeram inscidvel sua ede de ouro. Sempre gue s abre uma ferida no corpo de uma nagdo, o judeu se precipita sobre ela, e como bom pansia, s aproueita dos momentos de debilidade dos grandes deste mundo. Ndo quer asgurar-# a dominagdo mundial como her6i *n6o que o que leva adiante a poderon viâ‚Źo do parasita 6 o transformar o mundo inteiro em tributdrio sr;u.'a

social em prejuizo dos iudeus mais pobres.

Oual 6, por outro lado, a imagem que a "cultura" cria do negro? O mecanismo oficial

N5o deixa de ser diferente a posigSo do negro na sociedade e tamb6m diferente a imagem que a "cultura" cria do homem de cor. Como tem sido possivel v6{o com mais freqlidncia, o aoti-semitismo 6 uma postura de 6dio no gue diz respeito aos hebreus como tais, como h6spedes ingratos, parentes degenerados, s6cios de neg6cios zuios, fi6is a uma religido conside rada arrogante e unilateral.

que, como dizia Frantz Fanon, "ndo acaba nunca de falar do homem, ainda que seia pisandoo onde o encontra, em todos os pontos do seu pr6prio caminho e em todas as partes do mundo", sancionou, faz muito tempo, o veredicto

Em vez disso, o negro 6 para o homem ocidental um amigo inferior, um bom animal dom6stico que, se permanecesse em seu posto, teria direito de ser protegido, sob o paternalismo de quem est6 seguro de sua superioridade gragas ao mecanismo da dominagdo.

A

relagdo 6 qualitativamente diferente: o judeu 6 um protagonista inimigo enquanto que o negro 6 um objeto. O 6dio para com o primeiro 6 total e requer constantes argumentos inte lectuais, sendo como 6, filho de uma sindrome competitiva, enquanto que o 6dio para com o negro nasce do terror daquilo que com ele poderia acontecer. Se como Malcolm X, se transformasse um house nigger lum negro de curral) em um field nigger (um negro de campo), um Tio Tomas em um revolucion5rio, onde iriam parar as c6modas e tranqiiilizadores respostas da

"cultura"?

O judeu id n5o pode mudar mais, transformar-se. Assume seu papel especffico no 6mbito da ordem e sua chamada unidade se con' verteu, igual a todas as demais dimens6es psico-

24

em relagSo ao negro. A inferioridade biol6gica descoberta no s6culo XlX, 6 muito pouca coisa diante da incapacidade de participar nas catego rias de jufzo gue a "cultura", desde Arist6teles at6 hoje, considerou sempre como as 0nicas portadoras da verdade.

Talvez possamos encontrar o mais interessante documento sobre o afastamento l6gico e psicol6gico do negro, a mais direta e coerente meditagSo no que se refere d relagdo da pot6rr'

cia colonialista do Espfrito com seu vassalo, a soberba, em uma pilgina de Friedrich Hegel, o 0ltimo fil6sofo do ocidente, uma vez que, de. pois dele, a 0nica filosofia possivel 6 a antifilosofia. Trata-se de uma ligSo sobre a filosofia da hist6ria ditada aos estudantes da Universidade de Berlim em 1831. Nela se encontram todos os ingredientes do colonialismo l6gico que a "cuF tura", em uma sucessSo de formas aparentF mente teo diversas, acaba sempre por identificar pontualmente com a civilizagdo.

"Ndo deixa de ser carrcErfstico para (B negros que sua conscidncia ndo esteja vinculada com a consideraqdo de qualquer difinigdo obj*

tiva, como por exemplo, Deus, a Lei, 6 gud posse aderir a vontade do homem e na qual 6 passlvel alcangar a intuigdo de sua pr6pria *


#ncia . . .

O negro

repr&nh

em sra plena barbdrie

o homem

natunl

soltun: para compneen.dt-lo temos que rcnunciar a todas nosss intuigdes europdias. Ndo devemos Wnsr nem em um Deus espiritual nem em uma lei moral: tee

mos que abstrairmo-nos de gualguer eqfrito de reverdrrcia e de moralidade, de tudo o que se chama &ntimento, quenemos aaptar exatamente sua natuneza. De fato, tudo isr;o Frtence diretamente ao homem:'bm gu carater ndo 6 posfvel encontrar nada que bnha uma carrcErfstica humana". Portanto, , nfio podemos identificarmo-nos, realmente, com o sntimen-

g

to, com sua nafireza,- da mana manein

gue

ndo podemos identificarmo-nos oom a de um cachorro ou com a de um grcgo que e ajoelha diante da imqem de Zeus .'. . No daprezo dos negros pelo homem, o caracterlstico ndo 6 tanto o desprezo da morE como a falta de rcspeito para com a vida. Quanto menos valor En, um homem para si m6mo, tanto menos wlor tem a vida: de fato, a vida # Em um valor enquanto que no homem existe algo superiormente vdlido. O desprezo do negro pela vida nda 6 causado pelo aborrecimento de vitnr, ndo 6 o fruto de uma sociedade acidenhl: 6 que, genuinamente, a vida carece de valor pan ele. O negro

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suicida freqiientemente ao sentir-s ferido em ia dignidade ou quando i castigado pelo rei. * ndo se suicidase seria considerado cotnrde. O negro ndo pensa na conservqdo da vida, nem tampouco na morte. A este desprczo para com a vida, cabe agregar a grande valentia, ilstenada pela imensa forga ffsica dos negros, os quais s deixam matar aos milhares quando guerreiam contra os europeus. De fato, a vida s6 tem valor onde tem como finalidade a sua dignidade.'a

A cnorme litlratura inspirada nestes prirr cfpios j6 ndo tem realmente um valor em si

"Privado de objetividade, o negro-6 natureza, um esada anterior ao da consciancia, o fundamento instintivo e portanto, o beb6 gue ndo crescerd por carecer de existAncia hist6rica. O negro 6 tudo o que a sociedade branca decide que hd de ser: a providfincia o presenteou em cust6dia. Em 1838 John C. Calhoun (o grande apologista da escraviddo humanitiiria) dizia: A misteriosa vontade da Providdncia reuniu duas rcgas procedentes de distintas regides do globo, e as fez situar-s, em ntmero quase igual, aqui no Sul da unido. Se uniram de uma maneira insepardvel, tornando imposfvel a iddia de uma cparagdo. A experiAncia tem demonstrado que 66,ta rebgeo aportou as duas ragas d paz e d prosperidade; ambas melhoraram e, em resumidas contas, muito mais ainda a raga inferior, atd o extremo de que alcangou um nfvel de civilizagdo jamais conhecido pela raga negra em nenhum outro pals nem em nenhuma 6poca . . .6 impossivel que em nosso pals s desncadeie o conflin enffe o capital e o tnbalho, uma vez que 6 6o dif icil criar e pre&nnr as instituigdes livres em todas as nagdes ricas e civilizadas onde ndo existe, como em noso pafs, a escraviddo".a

poder e esta sujeig5o absoluta.

s

A

estes componenres fundarnentais,

a

teoria da "civilizagSo" agregou outras

menos sublimadas por6m igualmente eficazes. Uma delas tem sido iempre, (por exemplol a piedosa

convic9so de que, como fez constar em 1882 G. F. Holmes, ao resenhar "A Cabana do Pai Thomas", de Beecher Stowe: "Toda as ngas

acostumam-* da mesma manein ds condigdes que lhe s6o deparadas pelas circunstfincias. Os pr6prios parias podem sr'ntir.sc felizes, pois o que 6 insuportdwl para uma rdga, ou pan uma claw, ndo o 6 de fato para outra. As alegrias e as angtlstias do wravo estfu em harmonia com sua posiOdo e diferem.toalmente do que poderta fazer a felicidade ou a dagrqa de ou-

tn claw".

26

mesma; pordm sempre terd como fundamento a imagem que a "cultura" tem do negro.

Ndo ter origem, nem idioma, nem hist& ria, esta 6 a imagem de si mesmo que a Ordem imp6s ao negro desde o mesmfssimo momento em que os primeiros e miseros escravos pisaram as costas americanas. S5o as formas psicol6gica com as que se hd racionalizado esta falta de

Por6m, a "cultura" acode imediatamenb para reparar. Pois a ela s6 lhe interessa a irn+ gem do negro que, na atualidade, no estado da revolta, pode servir para sepultar o passado e ir tegrar com meios mais adiantados as massas doa "guetos" da Am6rica. Por isso mesmo continua repetindo para si mesma que a imagem pertenoe ao passado e que, na realidade, s6 6 compartilhada por uns grupos reduzidos, "ideol6gica. mente atrasados". Se a andlise critica quer captar a din6mica do problema, jd ndo pode esbutar aquelas vozes, i6 ndo h6 mais tempo. S5o os ecos consumados e esgotados de um narcisismge de uma vilania t5o bem estruturados que podem at6 passar por

um pensamento original e de amor ao homem. O 0nico que interessa 6 compreender como as vftimas v6em a pr6pria realidade, o que 6 que para elas representam as l6gicas universalizag6es do terror, dos tabus, a "obietividade hegeliana", as reticâ‚Źncias dos historiadores, a cumplicidade dos cientistas, a unido dos moralistas, o insfpido paternalismo dos n5o violentos, a mentira iurfdica, as manhas da pedagogia, em uma palavra, a "civilizagdo branca",' este mecanismo oficial que administra, no cdu, na terra e no reino do * espirito, os interesses do poder colonial.

(11

Karl Marx. "Sobre a questSo judia"

l2l

Alfred Rossmberg: Der Mythus des XX

Jahr-

hunderts (31

F. Hegel. "Lgzione sulla filosofia della storia"

(4)

John C. Calhoun: discurso de 19 da janeiro dc 1888

(*)

Sintese do livro: Black Poranr, de Roberto Gi+

mmanco. Especificamente

o capftulo intitula

do: Racismo e Colonialismo. Ediciones Penfnsula

-

Barcelona.


tenho nenhuma ilusSo. JC nllo tenho nenhuma ilusfo com os homens nem com a vida. Minhas energias mais vitais, eu as fabrico diretamente no meu coragfo ou mesmo do coragdo das coi' e, o mais interessante, sempre sob o rel6gio da sorte, ainda sabendo que, freqiientemente estas coisas me obnigam a baixar a cara para iunto do asfalto, e respirar a pedra transmuta' da . . . cara sangrando contra uma calgada ' ' ' um poema 6pico mal cantado diante da peque'

sas

[l"tfile de

ltlrmias BAZZ:O, Ezio Fl:ivio

na estdtua de V€nusl

Jd n6o posso ver na poesia nem no sonho fantasma da literatura, uma raz6o de ser' Sociedade de falsos! Servidores p0blicos das letras"' an6nimos que imprimem, besteiras em pedras' As letras nunca deixaram de ser gritos estdreis para os quais nunca houve ouvido algum que estivesse atento . . . S5o como os gritos de um desgragado no deserto, implorando dgua por miseric6rdia. Seu destino 6 morrer com o ventre levantado em diregSo ao sadismo de um sol inruport6vel. Sim, as letras sto elocubragdes infecundas como as ervas assexuadas que cresce' 16o aos p6s dos patfbulos' Realmente assim s6o as letras. Duas ou cem horas sobre uma mesa, composigdo, correg6o, dicionSrios, bibliotecas,

fotolitos, vaidade, alegria precoce, grdficas, editoras, vaidade cr6nica, e por fim, nossa porcaria sintetizada e vendida em todas as livrarias pf bli'

cas. Ningu6m conhece um livro por dentro, por

Enquanto espero, escrevo. Escrevo com eltas mesmas maos incansdveis de abrir e de fechar portas e de apertar outras mdos pelos cor' redores suios da com6dia humana - - . e tudo se repete . . . se repete . . . se repete. E realmente dif fcil sustentar qualquer tipo de ilusdo depois dos trinta anos. (Mas, e os velhos, as velhas que conhego, como fazem?) "Estes velhos corcundas, vestidos com farrapos, mancos, paraliticos, cobertos por sujos casacos pretos, mulheres velhas e disformes com desesperados rostos de epil6pticas e hist6ricas, megeras com a cabeleira desgrenhada e o olhar feroz, an6es disformes fazendo contorgdes de palhagos, velhos cegos* que levantavam aos c6us suas pupilas mortas. Ouem sdo estes velhos - me pergunto - que, conio espectros assustam as criangas no Par' que? Como se suportam vivos nesta condigdo de vermes? Oue ilus6es sustentam estes sonem' bulos corpos que i5 pereceram? Realmente neo

mais "l6gico", "inteligente" e "real" que parepublicadas s5o c0m' 9a. 56 o autor e as palavras plices e o objetivo bdsico 6 fazer de quem escreveu um homem ou uma mulher respeit6veis. O €xito 6 seguro, principalmente quando a popu' lagSo 6 composta por medfocres, retardados, incultos, ignorantes, etc. N5o, n5o podemos seguir assirn, nos fazendo de idiotas, jd 6 tempo de declarar que somos todos surdos para os gritos que €o provenientes de outro lugar que ndo seia

do nosso pr6prio corag6o. De nada servem os

gritos de um Garcia Lorca (por exemplo).

Ouem 6 Garcia Lorca? Um poeta espanhol? Um apologista dos negros Nova lorquinos? Dos ciganos de Sevilha? Dejoelhos um poeta escreve ou um fil6sofo medita e de uma posigdo parecida os seres excretam a Onica fungdo real do suces' so! Do desejo de sucesso! Sim, 6 o grito de Gar'cia Lorca que irrompe no sil€ncio desta noite, mas sempre e sempre ser6 o grito de Garcia Lor' ca e eu estou interessado em meu grito. O que vem de fora n6'o 6 mais que uma pequena e ef6mera ader6ncia d nossa pele e logo, logo desa'

27



pareice, errapora como o 6tert A loucura, s6 a conseguimos atrav6s das coisas que nos chegam de dentro (pensar que tudo o que estd dentro

id esteve fora 6 ser vftima de uma l6gica oastradora e imbecil), e 6 necessdrio penetrar profun-

l I

damente na loucura para chegar a transcender a insurportCvel rotina do cotidiano. Pensemos bem: que rlos importa o grito ou as letras de um senhor coino Garcia Lorca? Por mais hicidos e talentosos que seiamos, jamais poderemos entender, compreender e muito menos sentir uma s6 expressdo deste homem. Diante da palavra ou da frase: "Oh, terra de meus segredos!" que poderemos entender, sentir ou inventar que ndo seja fundamentado nas experi6ncias de nosso pr6prio coragdo? {para n5o dizer espfrito}. Nada podemos fazer que n5o seja projetar em outras palavras, em outras poesias, em outros mo-

mentos as nossas palavras, as nossas poesias

e

os nossos momentos!!! Todos os gritos nascidos em outras fontes so nos podem chegar como

rufdos ou quando muito, como ecos de nossos pr6prios gritos, que, por serem ecos, de nada nos podem valer.

Ndo, nfo podemos seguir nos fazendo de tontos, aproveitando-nos das letras, da m6sica e da pintura para mascarar nossa verdadeira condigdo, para tentar valer mais que a insignificSncia que valemos. Como dizia o astr6nomo, depois de sua desilusflo: /igual que os demais homens, me contentarei com a condigdo de um pobre inseto faminto que se move entre as folhas de erva dos prados terrestres./

Acreditar na multidfo, no isolamento de um comportamento ou nas vozes cansadas e invejosas do exterior 6 estar com a traqu6ia podre, 6 estar quase dando adeus d vida, 6 estar pior que urh verme . . . Sim, jd 6 tempo de acreditar ou mesmo de redescobrir gue s6 o "individuo" existe. 56 o "individuo" com seu mundo profundamente, privado, mundo feito e desfeito em l6grimas, infort0nios e paixdes insatis-

I

feitas . ,. . e que portanto, ndo pode ser dividido nem participado a ningu6m. Sim, estamos sos. Ningudm quer dar ouvidos a esta verdade, mas

todos seguem deprimidos e metidos, contra o desejo, em uma sociedade coletiva e parasitdria.

Recito Lorca

-

em sentido experimen-

tal - neste apartamento alugado e o que ougo de Lorca 6 s6mente o que sempre e sempre ougo de mim mesmo, sou surdo para todas as coisas que ainda ndo existem em mim, e este existir em mim n5o oco-rre atrav6s de lutas do intelectq, mas sim, de-viv6ncias que eu, s6men' te eu posso e devo sentir. Ndo sdo de Lorca as paiavras que ougo . . . s6o minhas, tdo minhas como de nenhum outro homem e 6 por isso que ndo existe crime mais est0pido que o de reservar direitos. S5o palavras que minha mente vagabunda cria ou transmuta de um mundo fantasioso, de uma prisSo onde dormem condena' das, todas as combinagdes possfveis de pala' vras, de gestos, de gritos. Sou um falcdo que habita o quarto andar alugado e de onde posso as vozes e os gritos dos b6bados que cantam sob o clardo da lua. Hoie 6 sexta' feira, e as sexta s5o dias fatais para os indivfduos que foram fragmentados por uma mde imbecil ou ainda por uma sociedade desquartizada . . . Sexta 6 o dia em que a cachaga en' loquece 'falsamente" a estas mentes suicidas,

ouvir tamb6m

a esta multiddo fracassada, desesperada e que morre iunto is paredes cardomidas pela urina e pelo sol das tardes . . . morre tristemente sem nenhuma tentativa de escape, exatamente ali, sobre a calgada solitdria, onde cresce an6nima e

dissidente uma delicada flor amarela.

Ah, que prazer se pode sentir olhando as estrelas pela janela de um apartamento alugado e ver sobre nossas cabegas um Caos enloquecido de Astros!

Oue sensagao luxuriante neste vento nodesafia osseresfazendo da percepg5o visual um aparelho completamente infitil. E o Caoslll E o Caosll! Mas s6 no caos se conservard a vida . . . o Cosrnos voltard a se perder na pr6pria e neur6ticalordem. O Cosmos 6 a obsess5o que n5o abandona a debilidade terrestre e todos temem o Caos. . . Mas6 no Caos

turno . . . e a escuriddo

I regp o univerco. Tudo o que se constr6i, tudo o qu. vai, leva a marcr de uma fragilidade imunda, Gomo 30 a metrlrir focr o fruto de um esc6ndalo no seio do nada. Cioran

"A iniuitig.

l


que nasce a paixSo e a vida sem paixSo 6 negra e dramdtica . . . O Drama nasceu exatamente no momento em que surgiu a necessidade de extin-

guir o Caos . . . A pr6pria G6nesispodefortificar minha fantasia!

A

menina que estava em seu quarto fechou as cortinas de seu corpo, - perdSo - de seu quarto, porque pensa que eu prefiro baixar meu olhar do Caos enloquecido de estrelas para ela. Ou talvez, porque quer chorar solitdria diante de seu espelho. Um dia algu6m escreverd um tratado sobre a reliQ5o dos seres com o espelho (penso que a vida dos individuos depende pura e simplesmente desta experi6ncia didria). A moga fechou as cortinas de sua janela, agora jii ndo pode levantar seus dois olhos coloridos para a infinidade de luzes que estSo "estSticas" no espago. A moga tem raz6o, pois janelas abertas foram a causa de grandes problemas. Ela quer tirar a roupa, deitar-se no tapete vermelho de seu quarto, abrir dicididamente as pernas e

brincar, brincar muito, muito tempo com

'lr

30 i: ::l

:

F

sua

vagina molhada e ,negada . . . Mover-se de prazer, fechar fortemente os olhos, morder os pr6prios lSbios e fantasiar, fantasiar o deus da fertilidade que a penetra devagar e pecaminosamente. Ah, depois que descobrf que todas as mulheres fazem isso, penso que fui enloquecendo progressivamente. Ouem pode imaginar um corpo enlouquecido de mulher em um tapete vermelho, que reclama e pede aos deuses um Phalo de asno, duro e vertendo s6men, sem enloquecer? Claro que o motivo dela ter fechado as cortinas de seu quarto pode ser outro, simplesmente pa' ra chorar - por exemplo -, chorar sua solidSo ou ainda a soliddo do mundo. Mas mesmo assim, fechar as cortinas 6 uma tolice, pois pensard ela que eu ndo a conhego pelada? Pensa que ainda 6 possivel esconder-se neste mundinho de velhos e de velhas fofoqueirap? Ou acreditard que suas entrdnhas s5o diferentes das entranhas daquela puta que foi encontrada ontem sob as rodas do metr6? As mulheres, e principalmente as "mulherzinhas" sempre levam a ilusdo de gue 6 possfvel esconder-se por detrSs de uma cortina . . . ainda depois de muitos jd terem adquirido a vital consciGncia de que s6culos ap6s s6culos estivemos com os olhos fechados em um mar de putaria abjeta, n5o 6 verdade? Oue tonta! Por6m este 6 um tipo de tolice que merece de qualquer um a mdxima compreensdo; pois, ' afinal, quem de n6s ainda n5o sentiu o deseio de ocultar-se por detr6s de uma cortina? Ouem

de n6s ainda nao teve necessidade de esconderse neste mundo de cachorros, de canibais e de "voyeristas" im potentes, de pol fticos h ist6ricos, de psicoanalistas euriucos e de marxistas fan6ticos? Ouem neste mundo ainda ndo teve dese' jo de matar um por um os caminhantes da rua? Professores, mendigos, polfcias, comerciantes, judeus, negros, italianos, polfticos, religiosos, etc . . . Ouem de n6s ainda ndo matou algudm,, pelo menos em pensamentos? Em fantasias? E por falar em fantasias, que s5o as fantasias sendo a resposta de todos os atos bdsicos e vitais que foram negados? Oue somos n6s, bachar6is da podriddo humana, sendo a somat6ria dos temores, das oragdes e das esperan9as mais doentias? Ah, 6 necessdrio abrir as comportas do Dique que somos e permitir que as dguas estancadas escapem e nos levem com elas selva adentro . . . mesmo que nos abandone depois enforcados nas drvores da margem. Sem dividas muitos de n6s terd muito mais valor

enforcado que caminhando. Algum de voc6s j6 se imaginou enforcado em uma 6rvore solitdria na beira de um rio? Os corvos famintos passeando por entre as nuvens baiias? Ndo, ndo acredito que algum de vocâ‚Źs tenha o valor e a honra suficiente para tanto, para imaginar

os corvos famintos repartindo vossos corpos burgueses e doentes. Ndo, vocâ‚Źs n5o possuem a

liberdade necess5ria para isso. Vossa enfermF dade 6 estar tio metidos com a vida a ponto jd ndo poder pensar na morte. /Os mortos vivos, tal foi o grande descobrimento dos tivos. Os vivos estSo mortos, tal foi o descob,rimento da moderna filosofia existencialista./ Regresso para a janela e grito para o enlouquecido de estrelas: como os seres se dem por nada! Passos sobem e descem pela

cada deste edif icio alugado, pode-se ouvir curnprimentos falsos e automdticos, cheiro de talco para velhas, conversag6es sobre um filme deste senhor Bergman que todos consideram um mem de g6nio. Todos os charlatdes deste s6culo decadente serSo considerados genialidades pela massa cega da civilizagSo. Eu sempre os ougo comentar nas portas dos cines: Oue filme fundo! Oue relagdo incestuosa, s6 a profunda pode explicar!!! O miar de meu gato

me lembra que amanhf terei que comprarcinco pescogos na feira livre e que neste me mento, os restaurantes estdo cheios de res e de senhoras da alta classe mexicana. pois de umas "quesadillas", v5o copular


le hotel que estd pr6ximo ao monumento

da

RevolugSo. Os espanh6is que chegaram no M6xico, depois do esposo de Malinche, se dedicaram unicamente a construir bord6is perddo hot6is. Estes hot6is com garagem, onde os llustres Don Juans da classe mon6gama do mundo vdo passar uns momentos, os quais sdo cobrados com a menor lealdade possfvel. Dizia que os restaurantes de luxo est6o a esta hora, (11,43 da noite) lotados de senhores e de senhoras respeit6veis e que os gargons est5o sempre com aquele sorriso aberto at6 a traqu6ia. Estes escravos que

receberam o nome de "gargons", sorriem por dois motivos bdsicos: (a) porque assim reza o

contrato que assinaram com.seus amos "devem sempre estar alegres";.(b) porque ndo esquecem que ld pelas quatro da tarde foram encontrados viirios ratos dentro da panela gue continha as misteriosas "quesadillas". Ouesadillas de los

milagros!

-

dizia-me um louco no Jardim

de

S5o Jacinto.

De um momento para outro escrever-me dd asco!

Jd ndo quero mais escrever.

Vou pela 0ltima vez

d janela deste aparta-

mento alugado e o Caos ainda 6 o Caos. Limpei a garganta cuidadosamente, olhei para a cortina fechada do quarto debaixo, cerrei os punhos e gritei com ironia: Ay'iva a putaria desta sexta de primavera!/ . . . depois de alguns segundos, para minha surpressa, uma voz respeit5vel saindo do meio da noite me respondeu: /Amanh6'as m0mias de Guanajuato desfilardo peladas pelas ruas Madero e Juarezll Vocds estSo com m6do, n5o 6 verdade?

OBRIGAR A SOI.IOAO A OUEM ACABA DE DESCOBRIR OUE NAO ESTA SO, NAO E UM CRIME DEFINITIVO CONTRA O HOMEM? Camus

31


-

Clrora pobre povo do lahrti, chora!

Mas que seja pela chegada, e n5o pela safda des.

tes homens ambiciosos e perversos. Um dia oe conhecereis melhor. Um dia voltarSo, trazendo

A (caid?r DO

ilOMEM NATUR f,

nas mdos o pedago de madeira que podem ver pendurado na cintura deste e empunhando na outra a folha de ago que poddm ver pendurada no cinturdo daquele. E com estas armas os escravizardo, os assassinardo e os submeterdo a seus vicios e caprichos. Chegar6 um dia em que estareis todos a servigo deles, tdo corrompidos, t5o vis, tdo desgragados como eles. Mas eu me consolo: estou chegando ao final de minha viagem e n6o verei a calamidade que vos anuncio. Povo do Tahitr'! Amigos meus! Possufs os meios de escapar deste trdgico futuro; mas prefiro morrer antes cle aconselhar-vos. Deixai-os partir, deixai-os viver.

t

DIDEROT, Denis

Depois, dirigindo-se a Bougainville, prosseguiu:

- E tu, chefe destes bandidos que te obedecem, leva-te logo teu navio de nossas costas. Somos inocentes, somos felizes; e tu n6o far6s outra coisa sen6o destruir nossa felicidade. Se-i guimos o simples instinto da natureza, e tu tra-] tastes de apagar de nossas almas sua marca.l

Aqui tudo 6 de todos; e tu nos predicastes euj n6o sei que disting6es entre "o meu" e "o teu".l

Nossas filhas e nossas mulheres nos s5o comurs compartilhastes este privilegio el

j

a todos. Tu

despertastes nelas paix6es at6 agora desconhe cidas. Enlouqueceram em teus bragos, e tu tel tornastes feroz nos delas. Comegaram a odiar-se umas ds outras; por elas vos haveis matado entre v6s, e voltaram para n6s manchadas pelo vosso sangue.

Somos um povo livre, tu viestes implantar Era o par oe uma familia numerosa.

Ao chegar os europeus, olhou'os com des' dem, sem dar mostras de assombro, de temor nem de curiosidade. Ouando o abordaram, deu' lhes as costas e retirou'se para sua cabana. O silâ‚Źncio e a ansiedade de que dava mostras revelavam muito bem seus pensamentos: lamentavase dos dias gloriosos, agora eclipsados, de seu

pafs. Ao partir Bougainville, enquanto os habitantes corriam em multid6es para a'praia, agarravam-no pela roupa, abragavam a seus com' panheiros e choravam, aproximou'se o anciSo e, com ar severo, disse:

32

em nosso pafs os tftulos nos quais se apoiard nossa futura escravidSo. N5o 6s nem um Deus nem um Dem6nio. Ouem 6s ent6o, para fazer escravos? Oru! Tu que entende a lfngua destr* homens, diga a todos o que dissestes a mim, o que escreveram nesta l6mina de metal:'IESTE PAIS E NOSSO". Vosso este pafs? E por que? Por que pusestes vossos p6s nele? Se um tahF

tiano

desembarcasse

um dia em

vossas costas,

e escrevesse em uma rocha, ou sobre a casca de

uma 6rvore: "Este pais pertence ao povo de

Tahit(", que pensarias tu? Es o mais forte! E de que serve isso? Ouando te roubaram uma das,

miser6veis bagatelas das quais estd cheio teul


barco, protestastes

e

exigistes viganga;

e

ao

mesmo tempo proietavas em teu fntimo o roubo de todo um pafs! Tu ndo 6s um escravo; preferirias a morte d escraviddo, e entretanto, queres subjugar-nos. Cr6s entdo, que o Tahitiano ndo sabe defender sua liberdade at6 d morte? O tahitiano, do qual tu queres

so arranc6-lo sem aiuda. Eu trabalho a terra, escalo as montanhas, atravesso o bosque, percorro uma l6gua da planicie em menos de uma hora. Teus jovens acompanhantes t6m dificuldade para seguir-me; e isso que eu tenho mais de noventa anos. Pobre desta ilha! Pobre dos tahitianos presentes, e de todos os tahitianos

Esta ilha incompar6vel na qual todas as coisas desaparecam e todo apsigo cessa, a chamo niilismo, destruigSo da velhice e da morte.

Suttanipata, V, 11.

tornar-te dono como se ele fosse um selvagem, 6 teu irm6o. Os dois sdo filhos da natu' reza; que direito tens sobre ele que ndo tenha tamb6m ele sobre ti? Ouando chegastes, langamo-nos sobre

ti?

Saquemos

teu

barco?

Apoderamo-nos de ti e te expusemos a nossas flexas? Associamos-te, em nossos campos, ao trabalho dos animais? Respeitamos nossa imagem representada por ti. Deixa nossos costumes; sao mais sensatos e honestos que os teus; ndo queremos mudar o que tu consideras nossa ignordncia, por tuas in0teis luzes. Possufmos tudo o que nos parece necessdrio e bom. Acaso somos dignos de desprezo por n5o havermos sabido criar necessidades sup6rfluas? Ouando sentimos fome, temos comida; quando sentimos frio, temos com que vestir' nos. Entrastes em nossas cabanas, acreditas que nos falta alguma coisa? Podes perseguir, at6 onde queirds, o que tu chamas as comodidades da vida; mas deixes que os seres sensatos fiquem onde esteo, em lugar de continuar seus penosos esforgos que so lhes proporcionariam bens imagindrios. se tu nos convences a supe-

rar o estreito limite de nossas necessidades, quando poderemos deixar de trabalhar? Oue tempo teremos para desfrutar? Temos reduzido o conjunto de nossos trabalhos di6rios e anuais ao nfvel mais baixo possfvel, porque nada 6 para n6s melhor que o repouso. Vd a par's a agitar-te e atormentar-te como queiras; mas a n6s, deixai-nos descansar. N5o'nos

teu

tonteie com tuas necessidades artificiais nem com tuas virtudes quimdricas. Olha para estes homens; contempla sua postura, sa0de e forga. Olha para estas mulheres: observa como s5o sauddveis, frescas, esbeltas e lindas. Pega este arco, 6 meu; pega ajuda a um, dois ou quatro de teus homens, e trata de arranc5-lo. Eu pos-

futuros, a partir do dia em que tu nos visitastes! N5o conheciamos mais que uma enfermidade, aquela d que estSo condenados o homem, o animal e a planta: a velhice. Tu trouxestes outra: infestastes nosso sangue com a sffilis.

Talves tenhamos que exterminar com nossas mdos a nossas pr6prias filhas, a nossas mulheres e a nossos beb6s, a todos os que se aproxi' maram de tuas mulheres, e as gue se aproximaram de teus homens. Nossos campos ficaram manchados com o sangue impuro, que passou de tuas veias is nossas, ou nossos filhos condenados a perpetuar o mal que tu transmitistes a seus pais e a suas mdes, e que eles transmitirSo

para sempre

a

seus descendentes. lnfelizes!

Serds culpado dos estragos derivados das carfcias de teus homens ou dos assassinatos que cometeremos para deter o veneno' E falas de cri' mes! Conheces algum crime maior que o teu?

Oual 6 em teu pafs a pena para quem mata a seu vizinho? A morte pela espada! Oual 6 em teu pafs, o castigo para o covarde que te envenena? A morte pelo fogo! Compare teu crime com este 0ltimo e diga'nos, envenenador de naq6es, que suplfcio mereces? Faz pouco tempo, a jovem tahitiana abandonava-se com Oxtase nos bragos dos iovens tahitianos; esperava com impacidncia que sua mde levantasse seu v6u e deixasse seus seios desnudos, ao chegar a idade. Sentia-se orgulhosa de excitar os deseios e de

atrair os olhares amorosos de um desconheci' do, de seus pais, de seu irmSo; aceitava sem me' do e sem vergonha, em nossa presenqa, no meio de um grupo de inocentes tahitianos, entre as dangas e o som das flautas, as carfcias daquele que lhe tocava o coragdo jovem e a secreta voz dos seus sentidos. A id6ia do crime e o perigo da enfermidade se introduziram em nossa terra, gragas a ti. Nossos prazeres, antes tdo doces,

33


esteo agora acompanhados pelos remordimen-

tos e o espanto. Este homem de negro, que est6 junto a ti, que nos escuta, falou a nossos rapazes, e ndo sei o que disse ds nossas jovens. Por6m, nossos rapazes duvidam, e nossas mo9as ruborizam-se. Penetra, se queres, na escuridSo do bosque, com a perversa companhia dos teus prazeres; mas permita que os tahitianos bons e simples se reproduzam sem vergonha, em pleno dia e i luz do sol. Oue sentimento mais grande

e honesto poderias situar em lugar deste que

lhes inspiramos? Pensam que chegou o momento de enriquecer a nagSo e i sua familia com um novo cidadSo, e se sentem orqulhosos.

riil

Comem para viver e crescem, crescem para multiplicar-se, e heo encontram nisso nenhum vfcio nem motivo de vergonha. Escuta a continuagao de tuas feitorias. Desde o dia em que aparecestes entre eles, se converteram em ladr6es. Apenas chegastes a nossa terra, e a mesma se cobriu de sangue. Mataste ao tahitiano que correu a teu encontro, que te recebeu e abragou gritando; Taiol Amigo, amigo. Por que o matastes. 56 por que foi seduzido pelo esplendor de teus pequenos ovos de serpente. Deu-te seus frutos, ofereceu-te a mulher e a filha, cedeu-te a cabana; e o matastes po um punhado de contas de colar, que pegou sem pedir. (E que aconteceu com este povo?) Com o rufdo de tuas armas mortais, foi apoderado pelo terror e fugiu para a montanha. Mas podes estar seguro que nao haveriam tardado em baixar. Se n5o fosse por mim, todos voc6s haveriam perecido. Ah!, por que os apaziguei? Por que os contive? Por que os contenho ainda neste momento? Nao sei, j5 que tu ndo mereces nenhum sentimento de peidade. Passeastes com os teus por esta ilha; sempre te respeitamos; desfrutastes de tudo; ndo encontrastes nenhuma barreira nem negativas em teu caminho: eras convidado, tomastes assento e estendemos perante ti todos os bens deste pais. Desejavas o contacto com as jovens? Com excessSo daquelas que ainda ndo haviam alcangado a idade de mostrar seu rosto e seus peitos, todas as outras te foram oferecidas desnudas por suas pr6prias m5es. Jd possuis a terna vftima do dever hospitaleiro; cobriu-se a terra para ambos, com folhas e flores; os mtisicos afinaram seus instrumentos; nada turbou a dogura, nem limitou a liberdade de tuas cari-

cias e as suas. Cantou-se o hino, o hino que induz a que te comportes como um homem, e que induz nossa menina a ser uma mulher complacente e voluptuosa. Dangamos ao redor de vosso leito; e depois de sair dos bragos desta

u

mulher, depois de haver desfrutado sobre sar seios a mais doce embriagu6s matastes a irmdo, a seu.amigo, inclusive a seu pai. Fizeetes ainda coisas piores. Olha para este lado; contempla este recinto crivado de flexas; c armas que s6 haviam ameagado a nossos inF migos, se voltam agora contra nossos pr6prio filhos. Olha as infelizes companheiras de vossos prazeres, contempla sua tristeza; observa a dor de seus pais e a desesperagSo de suas mdes: neste recinto estSo condenadas a desaparecer, por nossas mSos ou como conseqtidncia da enfermidade que tu lhes transmitistes. Afasta-te daqui, a ndo ser que teus cru6is olhos se alegrem com o espetdculo da morte. Afasta-te; afasta-te, e oxal5 os mares culpados por haverte protegido em tua viagem consigam redimir seu delito e vingar-nos, tragando-te antes de tua

volta! E v6s, tahitianos, volati todos para vossas cabanas; e que estes estrangeiros indignos n6'o ougam, ao partir, mais que o ruido das ondas e n5o vejam mais que a espuma cujo furor inunda a deserta margem. Apenas acabou de falar e a multidSo formada pelos indigenas desapareceu. Um grande sil6ncio caiu sobre toda a ilha, e s6 se ouviu o barulho agudo do vento e o rufdo surdo da dgua em toda a longitude da costa. Poder-seia dizer que o ar e o mar, sensiveis d voz do anci5o, dispuriham-se a obedecer-lhe.

{-)

De Supplement an Voyage de (Denis Diderot!

:::=: \_ \\r\ll-

Bougainville


OUEM MATA OU TORTURA NAO CONHECE MAIS OUE UMA SOMBRA DE SUA VITORIA: NAO PODE SENT!R-SE INOCENTE. PORTANTO, TEM OUE

CRIAR A CULPABILIDADE NA VITIMA, PARA OUE EM UM MUNDO SEM DIREQAO A CULPABILIDADE GERAL NAO LIGITIME MAIS OUE O EXERCtCto DA FoRgA E NAO CONSAGRE SENAO O EX|TO.

Camus

i

35

i I

)

l,i


mente ao mesmo proceclimento: de um laâ‚Źlo' n6s, os "bons" e "virtuosos" revoluciondrios, os fidelfssimos praticantes das teorias executadas por Marx e Lenin; e do outro, claro, os malvados estalinistas que deformaram o sentido aut6ntico do marxismo.

e -

E jii que mencionamos a Stalin, digamos de passagem que os troyskystas o condenam por seus crimes e distorg6es dos fatos hist6ri'

{

cos; mas se estas acusag6es s5o feitas contra a pessoa de Trotsky, entdo armam um escdndalo e afirmam categoricamente que se trata unica' mente de cal0nias, cal0nias que procuram desprestigiar o aut6ntico marxismo (que i6 sabemos quem o possui; eles, claro!)

v, -

gdo

Estes pretextos nos fazem trazer i colo' o movimento de insurreigSo que teve lugar

em Kronstad.

0

E

III

ffistcnt

DE

Itt NONSTAD] EYZAGUIRRE, Antonio

Como a hist6ria 6 sempre o que o Poder ;onta de si mesmo, damos passo d fCbula: Kronstad era uma guarnigSo, uma fortaleza, uma cidade-porto constru ida laz dois s6culos e meio na Russia; encontrava-se na ilha dcr Kotlin, a quil6metros de Petrogrado. Era a de-1 fesa, pelo Biiltico, de Petrogrado. Ordinariai

I

mente,

o Golfo da Finl6ndia encontrava'scl

congelado nos meses que vdo de novembro al abril e servia de ponte entre Kronstad e Petro grado. Em 1921 Kronstad ocupava a quarE parte da ilha de Kotlin; por aquele tempo a po' pulagSo estava composta pela tripulagSo da fre ta do Bdltico, os soldados da guarnigdo, os ope r6rios, mulheres e criangas' . .

Antes de 1921, Kronstad manifestou-se A Claudia. (despucs de esto, me amar6s?)

Faz apenas alguns meses, trotskystas e marxistas que se autoproclamam "revolucion6rios" e "crfticos", celebraram na cidade do M6xico o centenSrio do nascimento de Le6n Trotsky; evocaram profusamente as virtudes e os sacrificios do mestre, e mesmo sua dura luta contra os "perversos estalinistas", colmando de elogios sua pessoa de uma maneira tal que me fazem recordar o livro de Tomds Carlyle intitulado "Os her6is" (autor que, sem d0vida 6 desprezado por alguns marxistas que o acusam de "pensador pequeno burguâ‚Źs", porque chegou a pensar que a hist6ria era feita pelos her6is). Al6m disso, os trotskystas apelam freqiiente-

36

vdrias vezes oontra o despotismo: em '1905' em 1906, em 1915 e em 1917, contra o tzarie mo; e em 1917 contra o governo de Kerenskl Assim, Le6n Trotsky pode exclamar algunr vezr "os marinheiros de Kronstad s5o o orgulho e a gl6ria da revolugdo russa". Em fevereiro d: 1921 os oper5rios de Petrogrado protestaran contra as medidas adotadas pelo governo bol chevique com relagSo ao controle da repatigfr de alimentos e da militarizagSo do trabalho. G operdrios declararam-se em greve: muitos dela foram presos pela policia secreta do goverrn (Gheka), e est6o os que prosseguiram a lutl difundiram manifestos onde pediam: liberdad para todos os socialistas e oper5rios sem

partid

que se encontrayam encarcerados, fim ao con


trole de alimentos, eleig6es livres dos comites das fdbricas, sindicatos e soviets. Os operdrios de Petrogrado seriam mais tarde reprimidos pela forga do Ex6rcito Vermelho e da Cheka.

Entretanto em Kronstad, os marinheiros, inquietos pelas noticias chegadas de Petrogrado, decidem enviar uma comissdo para informar-se da situ.aqSo em que se encontravam os oper6rios de Petrogrado. Ouando a comissdo regressa, os marinheiros se inteiram de que existe em Petrogrado uma polfcla repressiva por parte do governo e contra os operSrios. No dia 28 de fevereiro os marinheiros de Kronstad se solidarizam com o movimento de protesto dos operdrios de Petrogrado, e o primeiro dia de margo do mesmo ano, em um motim, se re0nem quinze mil marinheiros na praga principal e pedem ao governo o fim da polftica repressiva e a criagSo de "soviets" livres, juntamente com as demandas apresentadas pelos trabalhadores de Petrogrado.

Em um comunicado fechado no dia dois de margo, Lenin e Trotsky declaram: "Os marinheiros de Kronstad sdo o instrumento dos antigos generais tzaristas quem, de acordo com os traidores socialistas revolucioniirios, montaram uma conspiragSo contra-revoluciondria, contra a rep0blica Proletiiria".

Por estes dias estala a rebelido em Krons-

tad, e organiza-se o ComitC Revolucion6rio de Kronstad, que proclama o comego da Terceira RevolugSo, declarando ao mesmo tempo o seguinte: "CidadSos, a partir de agora, Kronstad passa por um periodo de intensa luta pela liber-

dade; espera-se a qualquer momento uma ofen-

siva

do

governo bolchevique, que procurard

apoderar-se de Kronstad e escravizar-nos outra

vez". (lzvestia). Em Moscou, entretanto, a campanha contra Kronstad comega a adqurir seus perfis de-

finitivos.

Nesta cidade se difunde pelo rddio

-

e

- que: "6 evidente que o motim de Kronstad foi preparado em Paris e

pelos meios oficiais

organizado pelo Servigo Secreto Franc6s. .

."

No dia 4 de margo as autoridades bolcheviques de Petrogrado, para intimidar aos marinheiros, tomam como ref6ns a algumas famflias dos marinheiros de Kronstad residentes em

Petrogrado. Por sua parte, o Comit6 Revolucio' niirio de Kronstad exige que as familias dos marinheiros, operdrios e soldados detidos como ref6ns seiam postos em liberdade em um prazo de 24 horas, e declaram que os comunistas gozam de plena liberdade em Kronstad e que suas famflias est5o fora de perigo, mostrando que (diante deste tipo de ato) "n5o queremos der' ramamento de sangue nem um s6 Gomunista E decidem ent5o enviar duas delegagdes a Petrogrado para tentar deba' ter com o governo; os quais foram detidos por

foi fuziliado por n6s".

ordens de Zinoviev e fuzilados imediatamente pela Cheka. Neste mesmo momento, o governo comega a organizar seu ataque contra Kronstad, e, em Petrogrado, entretanto, mant6m-se o mesmo estado de guerra, adotado desde o princfpio. Assim'pois, Trotsky sobe a Petrogrado na noite de 4 de margo; no dia seguinte publica um "ultimatum" a Kronstad, onde diz: "o governo dos oper6rios e camponeses ordena'que Krons' tad e os "buques rebeldes" se rendam de imediato as autoridades da rep0blica sovi6tica; ordeno que deponham as armas todos os que le-

vantaram o punho contra a p6tria socialista; quem se opuser ser6 desarmado e entregado ds autoridades. Tambdm estou dando ordens de destruir o movimento, e que os rebeldes seiam eliminados pela forga das armas. Os amotinados contra-revoluciondrios terSo plena responsabilidade pelos danos que venha a sofrer a popula95o civil; esta 6 a 0ltima advertdraia".

Trotsky termina de organizar seus planos para a repress5o, e elege a Tuiachevsky como comandante-chefe do ataque a Kronstad. Este, curiosamente, havia sido oficial do Tzar; e, sem d0vidas, um entre tantos argumentos maneiados contra os marinheiros - e isto pode-se advertir desde nossa primeira citagSo - era precisamente que estavam dirigidos por ex-oficiais do Czar. O ataque a Kronstad comegou na tarde de sete de marqo. Os marinheiros resistiram feroz' mente e uns dias depois, quando estava pr6ximo o final, responderam com o documento que segue: 'fEscuta Trotsky: N6s que fazemos parte da Terceira Revolugdo defendemos o poder dos soviets contra a violGncia dos comissSrios. Lenin disse: 'O comunismo 6 o poder dos soviets mais a eletrificagdo', mas o povo est6 persuadido de que o comunismo do tipo bolchevique 6 a dita'

37


. i I

dura dos comissdrios mais os pelotdes de fuzi' tamento". Depois de vdrios dias de resist6ncia aproxima-se - como sempre - o fim. Segundo

Trotskistas; mas antes, inclusive Marx, a havh uiilizado contra Bakunin na Primeira lnterna

de margo, as forgas do Ex6rcito Vermelho en' tram em Kronstad, massacrando a populagdo, enquanto que a Cheka encarreg?'se de limpar a cidade rebelde, perseguindo''e fuzilando em

neo, m0ltiplo, sem guardas brancos, nam oom apoio do Exterior, nem organizado /grapal aos deu&s, por anarquistas especializadch isto foi reconhecido, ainda depois da cal0nia, pelo pr6prio Lenin quando afirmava que: "En Kronstad

havia declarado desde o plincfpio, o governo recusa toda tentativa reconciliadora. No dia 27

massa aos rebeldes que sobravam; calcula'se que

,,

cional.

O movimento de Kronstad foi

foram mais de 10 mil mortos. Um dia depois a fdbula chega, como todas, ao seu final: No dia 18 de margo o governo bolchevique - e os que massacraram Kronstad - celebraram o cinqlien'

espontC'

?f (-\

tendrio da Comuna de Paris, acusando a Thiers e a Gallifet de haver assassinado aos comunis' us de 1871.

â‚Źr

niio querem nada com n6s nem com osguardas brancos."

-

Con freqiidncia um aparelho do governo seja revoluciondrio ou ndo - toma medidas

e cataloga aos "controrevoluciondrios". Mas os marinheiros de Kronstad o eram? Oue 6 que nos diz Trotsky? Ele diz: "Estou dando ordens de destruir o amotinamento; os rebeldes serdo eliminados pela forga das armas, os amotinados contra're(etc)", 6 evidente, pois, que voluciondrios . para Dom Le6n, o eram. Este recursos de Trotsky, etiquetando a revolta como oontra'revo-

desta natureza

rebeldes de

luciondria, 6 um hiibito peculiar das acusag6es marxistas contra seus adversdrios. A este re' curso apelaram o pr6prio Trotsky e Lenin con' tra os anarquistas, assim como contra os popu' listas, igualmente Stalin a utilizou contra os

38

r-l.r

Muito recentemente um historiador, trotskista e franc6s, Pierre Broue, em sua obra "O Partido Bolchevique", reconhece que os marinheiros ndo eram contra-revolucionCrids, apesa de que iustifica a repressto, argumentando qtp havendo um cerco capitalista ao redor do governo bolchevique, tais forgas poderiam atrair aoc marinheiros e jogS-los contra o governo bolche vique (da mesma maneira que o "Cavalo de

Troya"f.

"No h6rizonte aparece para os boldtev'r o Terror Branco e o inimigo pode apra veitar o descontentamento popular; em consF ques

qt6ncia o governo toma a decisdo de cprtar mo sauddvel". lsto ndo nos lembra o argumento


que

o

montanhCs

oo Kremlin (Stalin, claro!)

proferiu contra a oposigdo trotskista? Se os marinheiros nfo eram contra-revoluciondrios ent6o por que n5o se tentou discutir.com eles? E se, como disse Broue, "o prop6sito do governo foi sempre negociar" por que negociaram com sangue, assassinando as duas delegag6es enviadas desde Kronstad?

A tese de Broue me faz lembrar do que argumentava em uma conferEncia sobre Santiago Carrillo: criticava uma tese deste: Andreu Nin (lider do POUM, partido operdrio de uniSo marxista), uma das v(timas do stalinismo durante a guerra civil espanhola, ndo era um espi5o contra revoluciondrio, mas participou do golpe anarquista de maio contra a repriblica; uma desgraga, mas tinha que morrer por isso,,.

6

Este argumento, para Broue, 6 um argu-

mento tfpico do Stalinismo. Agora vamos examinar os de Broue: Os marinheiros de Kronstad ndo eram contra-revoluciondrios, mas se rebelaram contra a Santa Autoridade Bolchevique; entdo o que aconteceu com Kronstad foi uma desgraga, mas tinham que morrer por isso. Ndo 6 este um argumento muito parecido aO usado por Carrillo? Como diria R. Vaneig-en:O leninismo e o troiskismo sdo a revotugdo explicada a tiros aos marinheiros de Kronsbd.

Antonio Eyzaguirre para a revista Caos

"Ouando todos os c6lculos complicados sejain ruconhecidoc como falsos, quando os pr6prios fil6sofos ili nto tonham mais nda que dizer-nge, 6 natural voltar-so ao ialrar dos p{ssdror, ou para o distante oontra-p$o dos ritros". M. Yourcenar

39


P tnsEEutr[o

r! E u Ir NOBREGA, Luiza

:: r.,ti ]

:il

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li

i

-

DE

O Criador do Universo?

-

responderam alguns de n6s, a Sim quem o esforgo e o perigo haviam emprestado

-

uma express6o s6ria e cansada.

Deus esperneava @mo um rato. N6s o agarramos pelos pds e o sacudimos. Ele caiu ao chSo numa pancada forte e esquisita que nos as' sustou um pouco. Voavam pedagos de pele e de barba, n6s tfnhamos a impressdo de estar sacudindo um tapete. Penso que nenhum de n6s tinha naquele instante nogSo do que estava fazendo, mas uma coisa era certa: havfamos agarrado o bicho. Depois de uma perseguigSo violenta e perigosa, era ele, enfim, que'estava em nossas mdos. Um colossal Moby Dick. A situagdo como estava, ndo era possfvel sabermos o que famos fazer cqm a coisa. Jii era muito termos conseguido agarrS-la.

-

N5o

-

revidaram elas.

Depois fomos jantar em nossas choup+ nas e em seguida dormir. Eu n5o tinha sono e

uma volta pela praia. Uma sensagdo de estranheza me foi comunicada pela visdo do c6u. Estava diferente. Senti-me um poucâ‚Ź tranho, talvez triste. Continuei a caminhada volvido por um novo espago. Ao longe, na escura, avistei o imenso cgrpo branco e esquisito que ele estivesse ali, naquele esta&, porque eu sabia, tinha certeza, que era de Deus. Ndo se movia mais. Estava morto.

fui dar

j

iL

lllrlrl llil

tar

Ld pelo final da tarde conseguimos aquiea fera. Arrastamos o animal para a praia.

Apesar de que jd estivesse escurecendo, eu pude notar que Deus era gordo e que estava bastante

estragado. Era imenso, media quarenta passadas, e estava vivo. Chamamos nossas mulheres para ver. N5o podiam acreditar que aquele fosse mesmo Deus.

40

do ano praia pâ‚Źquena da costa oci uma 1989 em Jazir, provisor acampado haviamos dental onde

lsto

se passou no m6s de margo

mente. Participamos do epis6dio eu e mais camaradas, e eu estava com a idade de trinta tr6s anos. O fato ficou conhecido como "A V ganga de Cristo", 6 estou informado de fnarcou o infcio de uma nova era.


judeu; mas existiram outros grandes e macabros "Holocaustos" que tamb6m merecem as liigrimas dos que cr6em que com elas se possa es-

os ciganos

ea II

quecer a fera que habita nestes "cidadSos" res-

peit6veis. Houve o "Holocausto" dos negros, "Holocausto" dos argelinos, o "Holocausto" dos Vietnamitas, o "Holocausto" dos lncas,.o "Holocausto" dos Aztecas e Maias e por fim, o "Holocausto" dos ciganos. Jd que nossa cul' pa deve ser expiada em l6grimas. que nossas liigrimas sejam divididas a todas as vftimas dos m0ltiplos holocaustos. /Silâ‚Źncio, ciganos. Dei'

o

IOTTNEI

I

xai que durmam sob as flores. Parem, ciganos. Oxald todos os mrssos filhos tenham sua for'

tesquecid al

w.l

As

KANFER, Stefan

"Para

criangas ciganas estavam em pele e

oso. A pele grosa

roQava sobre os os$os e

infeccionava rapidamente. As criangas doentes tomavam a dgua da- nia de lavar, uma vez que ndo havia outra. As vezes os cobertores das

ti

criangas (nos macabros barracdes) eram lavados e usados ainda molhados. L. Adelsberger, Aurchwitz

La historia prepara una tumba de verg0enza

(Berlin: Letner,l953)

z E lu

.o

o

z

: o

lro Un lugar sin nombre enterrado bajo cizafias Y Piedra

Donde los chacales rastreros vendr5n

a

aullar

Excitados por una antigua hermandad

con aquellos huesos"

Os que perdem uma guerra sdo sempre os

que morrem, os que ficam feridos, mutilados, torturados. . . em uma palavra: "os vencidos".

As grandes massas choram ou choraram apenas pelo grande e macabro "Holocausto"

As crianps dos cigsms sfrian

de a lepra . . .; ffus pequenos corpinhos se consumiam, com feridas tdo grandes nas faces que se podia ver atrav6s delas, numa putrefagdo lenta de um corpo vivo. Rudolf Hos, comandante em Auschwtiz (Sruttgan: Deustche Verlag. 1958)

"noma" .

. ., o que me lembrava

Os ciganos prisioneiros freqtientemente estavam reduzidos a esqueletos. Entrei na cozinha e comprovei que a comida n6o continha as 1.680 calorias regulamentadas. Escrevi um rclat1rio imdiatamente, mas Hartienstein (co41


mandante de Birkenau) dise: "Oh, depois ae tudo ndo sdo mais que ciganosl". Dr. Franz Berhnardt Lucas em: Der

Au*hwitz

Prozess

Atd altas horas da noile ouvia seus gritos que resistiam. Os ciganos choraram toda a noite . . , Vendiam caras suas vidas. e

sabia

Os judeus iam Pan a morte com toda compostura, com os Ns firmes, enquanto que os ciganos choravam, gritavam e g moviam constantemente, inclusive quando id esbvam no lugar onde iam ser fuzilados. Alguns sltavam na fossa antes dos disparos e fingiam esfr,r mor' tos.

lnformagdo de um oficial NArcmberg

Diamanski

Processo de

Auschwia

Mais tarde, Boger e outros recorrcram os barragdes e arrastaram para fora as criangas ci' ganas que al * haviam escondido. As criangas loram levadas a Boger, que as agarrava pelos pds e as amassava contra a parede . . . Vi como sucedia isto cinco, ser's ou scte vezes. B. Naumann, Auschwitz (London: Pall Mall Pres, 1966) Ouvlamos gritos como "criminoso assas' lsso durou vdrias horas. Logo depois um oficiat das SS gue eu ndo conhecia entrou e me ditou uma carta. O contehdo era: "Tratamento especial levado a cabo". Arrancou a carta da mdquina e a raqou em pedagos. Pela manhd, id ndo havia cigano algum no aampo. Ao raiar o dia vi as vasilhas esparramadas e as roupas des-

sino".

-

trogadas.

E. Heimler, The Night of the Mist ( London : BodleY Head, 1 959)

lnclusive os prisioneiros mais endureci' dos comoveramse profundamenle quando, no outono de 1944,.os SS se/ecrbnanam e agrupa' ram aos meninos ciganos. As criangas solugando, gritando, tentando deesperadamente cheqar atC seus pais ou protetores entre os prisio' neiros, foram rodeados por uma muralha de ca' rabinas, metralhados e apartados para sr enviados ds cfimaras de gds de

Foi formada uma banda musical no cam' po. A maioria dos mrtsicos eram ciganos. En assustador ver e ouvir aos ciganos tocar suas

marchas ao mesmo tempo que prisioneiros can' lgldos levavam srlus camaradas mortos ou mori' bundos ao campo; ou escutar sua mhsica acompanhando as chicoladas gue se davam nos pri' sioneiros. TambAm "lembro'me de uma noite de fim do ano . . . De repente, o som de um vio' lino cigano deslizou para fora de um dos barragdes mais afastados ccrmo se estivese ch* gando de tempos e de climas mais felizes, ne' todias da esbpe hhngara, melodias de Viena e Budapest, cangdes de casa. E. Kogon

Deparamo'nos com algo terrfvel. Mongm enterrar e um fedor insupor' dvel. Ouando vi aos ciganos sobrcvivenEs, com tdes de corpos

criangas pequenas entrc eles, estremeci. Depois

cremathrios e encontrei em padiolas de ago o corpo meio abrasado de uma menina e, em um minuto terrfvel,com preendi o que s havia Pasado ali.

fui atd os fornos

uma

um soldado bri6nico

Deve-se levar em conta que os ciganos ndo haviam sido pervguidos pelos nazis por questdes raciais, mas sim por causa de um his-

brial asocial

Aushwiz.

Eugen Kogon, Teoria e prdtica do inferno

O cigano foi fechado em uma caixa grande com vigas de ferro na porta, Dentro, o prisioneiro s6 podia ficar de ioelhos. Koch, o comandante do campo, ordenou gue se cravasse pregos atravCs da madeira, de forma que a cada movimento do prisioneiro, os mesmos se cra' vassem em seu corpo.

*m

comida nem 6gua,

dois dias e tr€s noites nesta posigdo. Pela manhd do terceiro dia, quando id havia enlouguecido, lhe deram uma iniegSo de ve' passou

neno.

ib...

das

e criminoso.

Circular. Ministdrio do lnterior de lAlurttember, maio de 1950

Em agosto sobravam uns 4.000 ciganos, os quais deveriam ser enviados as cfimaras & gds.

Atd aquele momento ndo tinham iddia do

que os espenva. Comeganm a suspeitar pela primeira vez do que I ia passar com eles quan' do foram atnngando de banagdo em barragfu atd o cremathrio. Ndo era fdcil levd-los. SchwarEhuber me dissr- que era mais dificil gue qual'

quer destruigdo anterior de iudeus em mass€, e era particularmente duro pra ele porque co' nhecia quase a cada um deles individualmenle. Por natutreza, eram tdo ingAnuos como crian' Fas.

Rudolf Hbs

. . . n5o t€mos comunicagdo com o sar porque toda a naturoza humana so encontra sompro entrc o nascimsnto € a morte I nlo toma de si mais que uma apar6ncia obscura.g sombria, uma incerta e d6bil

"

opini6o". Montaigne

42


SEII

seu somportamento repressivo neur6tico, ou de suas fantasias obsessivas sobe (como) conquistar a uma mulher. De tal forma, que suas id6ias sobre o erotismo ou o sexo sempre se ocultam e se deformam. Seu estilo de relag5o se conveF te em uma esp6cie de "donjuanismo", de "amar' e deixar as mulheres". Sentem-se sofisticados e

O

EROTISMO

triunfantes porque aparentemente conquistam muitas mulheres, por6m em realidade s5o inca-

E

pazes de seduzir a algu6m. Em todo caso 6 o ato sexual persistente, mas sem sentido e sem o en-

contro com Eros. E a fantasia e o sonho impossivel das mulheres perfeitas, das fGmeas plenas ao estilo dos an0ncios da PlayBoy. E a atitude de "voyeurista" que se conforma com ob'servar e jamais participar. A classe m6dia desde os tempos coloniais, tem uma s6rie de id6ias total-

RuprEssfio NA CLASSE MEDIA

mente erradas sobre o sexo e o erotismo, como resultado dos #culos de imposicSo da religifo cat6lica* que deu uma visfo de mundo puritana, maniquefsta e, sobretudo, com culpa. Ainda dentro da classe m6dia urbanizada, aparece como um inconsciente coletiVo todo este tipo de preconceitos e de culpa em seu comportamento er6tico. Para melhor dizer: o exercicio mec6nico do sexo, porque na tradigdo da cul' tura repressiva da classe m6dia, a liberdade e o erotismo ndo existem. S6 existe pornggrafia e hipocrisia. Por isso, antes de @ntinuar, te-mos que nos perguntar: que 6 o erotismo? O erotis-

CAREAGA, Gabriel

mo, segundo G. Bataille 6 a provagSo da vida at6 a morte. O erotismo seria um encontro no mais profundo do ser. Ou, como o expressou tamb6m H. Marcuse: o erotismo 6 um triunfo sobre a morte. E uma forma de encontrar o corpo para convertâ‚Ź-lo em um instrumento de prazer e de plenitude. E a expressio da afirma-

". , . querem

as mulheres para um ato rdpido' No

fun'

onanistas. Se pudessem tazer o amor em si mesmos, o fariam. A mulher d uma coisa, um estorvo necess6rio . . . Me d6o noio. O machismo 6 um homossexualismo disfargado. O deseio secneto de cada bigoddo preto destes sdo as X saladas com 'cold cleam' . . ."

do, os machos sdo

Carlos Fuentes em Cambio de Piel.

A moral

e o comportamento sexual e er6das express6es mais complicadas e dif fceis de explicar dentro da classe m6dia, por' que esta jamais se interroga e reflexiona sobre o tipo de relag6es que leva, e qual â‚Ź a origem de

tico sdo uma

g5o, da dial6tica, da aspiragto amorosa, da crescente receptividade da sensualidade. Por isso: "Toda realizagSo er6tica tem como meta alcangar o ser no mais intimo, ali onde o coragdo falha. O passo do estado normal ao do desejo er6tico pressup6e uma dissolugdo relativa do ser constitufdo na ordem descontfnua, e o termo dissolugSo responde i expressdo fami-

liar de vida dissoluta, tdo unida d atividade er6tica. No movimento de dissolugS'o dos seres ao participante masculino tem-se designado, em princfpio, um papel ativo, enquanto que o papel feminino 6 passivo. E 6 essencialmente este iltimo - o passivo feminino - o que se dissolve enquanto que ser constitufdo. Por outro lado, a dissolugdo da parte passiva, n5o tem para o participante masculino outro sentido que ndo seja o de preparar uma fusdo na qual os sdres se

45


mesclem

e possam

conseguir ent5o,

o

mesmo

ponto de dissolugSo. Assim pois, toda a exist6ncia da cena er6tica, tem como princfpio a deetruigSo da estrutura do ser fechado, gue 6 o estado normal dos participantes" I lsto 6, o erotismo sempre trds consigo a perturbagdo, a agitagdo, a estranheza, o assombro de encontrar-se com:o corpo. Uma forma de ser pleno e autdntico. Uma expressdo l0dica, vital e produ-

de; onde triunfa moment6neamente o Eros e em seguida aparece 'mais ferozmente a culpa. E o jogo que permite ao Eros transgredir de

suprimir ao Eros, porque isto implica numa sociedade livre. Pelo contrdrio, fomentam a pornografia, que 6 s6 uma visdo exterior, superficial e in6cua do corpo. Como exemplos podem

vez em quando as regras. Ent6o, dentro desta situagdo de moral repressiva, o prazer se torna mais intenso, porque o erotismo 6 o resultado de romper e violar as proibig6es. Assim mesmo se comega a viver o erotismo atrav6s de uma culpa, de uma ang[stia cres]cente. "Na

ser citadas as revistas Playboy e Cosmopolitan; Cavaleiro e Ele, os filmes pornogriificos da rua

aparece sem

tiva. E por

isso que nas sociedades se pretende

42 de Nova lorque ou do Cine Prado da Av. Ju6rez, que sdo esta forma puritana e totalmente covdrde de encontrar-se com o corpo. E. uma sexualidade de plSstico. Ndo 6 casual que o diretor da Playboy tenha se divorciado e viva quase em forma mondstica, rodeado de aparelhos mecdnicos e que tentb: somente relag6es objetais e se alimente de Pepsi Cola, porque na realidade a toler6ncia repressiva frente i sexualidade, frente d pornografia, 6 uma forma de negar o homem e a mulher. Pelo contririo, o erotismo prop6e realmente o que 6 o homem e o que nos faz diferentes dos animais atrav6s de um conhecimento real do corpo. "Na consciâ‚Źncia do homem o erotismo exp6e o ser. A sexualidade animal introduz por si mesma um desequilibrio que, por sua vez, ameaga a vida; mas o animal ignora isso, uma vez que nada nele o leva a interrogar-se. Seja como for, se o erotismo 6 a atividade sexual do homem, o 6 na medida em que esta difere da dos animais. A atividade sexual do homem ndo 6 sempre, necessariamente, er6tica; so o serd quando ndo seja rudimentar ou quando ndo seja simplesmente

animal" 2.

O sexo como expressSo unicamente animal e ndo er6tica, aparece sobretudo com o triunfo do cristianismo e da religido cat6lica no

rli

moral e sexual. Trata-se da concepgdo de relag6es amorosas como um fato que causa verge nha, como uma expressdo de medo e tambâ‚Źm como uma necessidade de exercer o sexual, em um jogo alternativo onde se peca e se arreper

ocidente, guercomega a negar ao homem e a reprimi-lo a partir do rep0dio do corpo em nome da religiSo. Assim, o erotismo comega a configurar uma atitude que quebra com o religioso e com o ritual de todas as religi6es. Dai qqe se pode dizer que o er6tico transgride as proibig6es.

Mas tambdm uma forma que imp6e religido 6

46

o resultado da

a

aparigSo da violEncia

hist6ria da humanidade,

a proibigdo nunca

revelagdo do prazer, nem ja' mais o prazer sem o sentimento do proibiti' vo. Na base disto, encontra-se um movimento natural e, na inf6ncia, o movimento natural 6 o 0nico que existe. Nesta 6poca que nunca re-

cordamos,

te"

3.

o

a

prazer ndo se dd humanamen-

Aqui aparece uma curiosa forma de vi-

o

Eros, quando estd determinado pela re' ligiSo, jri que serd o resultado da expressdo do mal e do impuro. O Eros serd uma forma de transgredir o proibido em termos de degradag5o ou como resultado da promiscuidade. Seria o caso da prostituta ou dos homens que exploram homossexuais. Pelo contrdrio, o erotismo pleno e o triunfo do corpo, seria derrotar as instituig6es repressivas, a famflia em termos de possessao, a moral em termos de hipocrisia e, sobretudo, a religido em termos de medo e d0-

ver

vida, culpa e pecado.

Porque a classe m6dia vive no meio de horrores enormes, no meio de mitos que a ldade M6dia inventou como o amor que se institucionaliza como forma de perpetuar a esp6cie e como uma redugSo do sentimento, atrav6s desta instituigSo agressivissima na qual se con-

verteu

a m6scara do "matrim6nio feiiz": "O

mito, no sentido estrito do termo, se constituiu no s6culo Xll, em um periodo em que a alta classe social realizava um grande esforgo para p6r em ordem a sociedade e a moral. Tratava-se de conter precisamente os impulsos de Eros, do instinto destrutor: pois a religiSo,

ao atac6-lo o aumentava. As cr6nicas, os

ser-

m6es e as sdtiras deste s6culo, nos revelam que se conheceu uma primeira "crise do matrim& nio". Esta exigia uma viva reagdo. O 6xito do

poema de TristSo

e

lsolda consistiu pois, em


ordenar a paaxeo em umquadroondesepudes se expressar em satisfa$es simb6licas. Por isso esse mito continua sendo igualrnente perigoso para a vida da sociedade. O mito de Tristflo e lsolda id n6o 6 apenas a lenda nem o poema, sendo um fen6meno que estes ilustram e cuia

influ6ncia ndo deixou de estender-se at6 nossos dias. Paixdo da noite escura, dinamismo ex' citado pelo espfrito, possibil idade pr6-formada para a procura de uma concepgSo que a exalte,

encanto, terror ou ideal: tal 6 o mito que nos

atormenta. O fato de que tenha perdido sua forma primitiva 6 exatamente o que o torna mais perigoso. Os mitos decaidos se fazem venenosos como as verdadeiras mortes de que fala Nietzschea.

Viver o amor, o erotismo nestes termos' 6 afirmar na realidade o anti-amor, a fatalidade, o sofrimento. Para este tipo de pensamento, o

"\-+-/

amor 6 uma predestinagSo, quase uma possessSo do destino sobre o homem. N5o existe a pessoa

livre e responsSvel que possa encontrar o amor, sendo que este chega como um destino inexorSvel. Portanto, dentro da classe m6dia, o amor 6 uma invengSo para justificar sua "cursilheria", seu sentimentalismo, sua manipulag5o e agres' sdo diante das mulheres e frente aos homens

que utilizam esta invengdo para agredir'se uma e outra vez, para iustif icar'se uma e outra vez, porque ningu6m merece seu amor. "O amor verdadeiro nunca chegar6", um amor impossfvel sempre implica uma forma de negar o sompro-

Ali

misso. Na sociedade repressiva da classe m6dia, o amor e o Eros se transformam em t6cnica sexual, expressada nos manuais para conseguir o

se encontram as tecnicas sexuais que servem para esquecer a falta de reconhecimento do corpo. O erotismo, dentro desta classe m6dia, se conveneu quase em uma mdquina ffsica e cal-

orgasmo feliz. Hoje, nas grandes livrarias se encontram sempre livros de grande venda como: O ABC do amor, e A Resposta Sexual Humana'

culadora para buscar, no melhor tempo possfvel, encontros sexuais. De tal forma que o indivfduo aparece como um homem livre e sofisti-

47


paixfto do Eros.'6

cado, mas que na realidade estd revelando uma falsa liberdade e um falso compromisso' Aqui aparece a personalidade esquiz6ide nas pessoas inteligentes, que possuem 6xito no seu trabalho, que sdo eficientes mas que s5o incapaz de ter uma relagdo er6tica autâ‚Źntica, ocasionando uma personalidade vazia, dividida e fragmentada.

O amor e o erotismo sfro uma forma de transformar, de relacionar'se? moldear o murr. do. Pelo contrCrio' as relag6es da classe m6dia s5o uma forma de odiar, de agredir, de autosimuiustificar-se, em uma comddia de eterna relagdo a sobre e lagdo sobre os sentimentos com a mulher e corn o homem.

As relag6es sexuais da classe m6dia se tor' nam chatas, triviais e profundamente neur6ti' cas: "Os paradoxos contemporaneos do sexo e do amor possuem uma coisa em comum, a saber, a trivializagdo do sexo e do amor, anestesiando a sensagdo oom o fim de desempenhar' se melhor, empregando o sexo como uma ferramenta para provar uma faganha e uma identidade. Usando a sensualidade para ocultar a sensibilidade, temos castrado o sexo deixando'o

Este tipo de comportamento repressivo e pu-rF de Pe' i*o ti pode ver nos folhetos cat6licos quo sobre diz o Por exemplo, dro Semeador. pra a lux0ria: "a luxtria 6 o vfcio'que lwa aos zeres da impureza, que estSo proibidos pdlo

(.)

ajudasse a consenar

dos quais se propaga a esp6cie humana,'que aludard

o ntmero

enorme de livros soque o mercado, inundam bre o sexo e o amor simplificam comum: em possuem uma coisa exageradamente o amor e o sexo, tratando o t6pico como uma combinaqdo de aprender a jogar t6nis e de comprar um seguro de vida' Neste processo roubamos do sexo seu poder, esquivando o Eros e terminando por desumaI

le e o que se chama

Tem'se permitido avan9ar ao sexo mas

t'l JI

ndo ao Eros, usando o sexo precisamente para evitar o compromisso criador de ansiedade que implica Eros. Nas discuss6es aparentemente es' clarecedoras sobre o sexo, particularmente

I

i:,

till, 'il

.

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.Li ll

rll

liijl\ii

luxtria"'

(1)

Bataille, Georges, El erotismo, Editorial Mateu' EsPafia, 1971 P9.23-24.

l2l {3) (4)

Op. cit., P.37-38'

(5)

aquelas sobre a liberdade da censura, sustenta-se freqiientemente que tudo o que nossa sociedade necessita 6 uma total liberdade para expressar o

i

i sua conservag6o.

Este prazer estd, pois, permitido is pessoasca' a condigEo de que facam uso dele oJ.t, para o "orn nobre fim da transmissEo da vida' para o que foi institufdo o matrim6nio, por6m fora de-

nizar a ambos.

i,,

a vida,.quis

1"1?1TI:porcionar um prazor especial nos atos por melo

insipido e vazio' A trivializageo do sexo foi ajudada e induzida por nossa comunicagSo de massas. Porque

.'

. A Lux0ria 6 um mandamentos da carne e a prazeres aos desordenado apego tudo aquilo que com eles se relaciona' Do mesmo modo que deus quis que o homem enconque o trasse um prazer sensfvel ao alimentar-se,

69 e 99

ldem, P. 137.

De Rougemont, Denis, El amor pp.22-23.

y

Occidente'

Rollo May, El amor y la voluntd. Edi

Emec6, Buenos Aires, 1971, PP' 57-58'

Do livro de Gabriel Careaga. Mitos y Fan de la Clase media en M6xico. Cuadernos Joaquin Mortiz, M6xico, 1980.

Eros. Mas o que aparece sob a superffcie de nos' sa sociedade, como se descobre ndo s6 nos pa' cientes de terapia, sendo tamb6m em nossa literatura e teatro, e ainda na natureza de nossa in' vestigagdo cientffica, 6 iustamente o contrSrio'

Estamos fugindo do Eros e utilizamos o sexo como vefculo Para a fuga.

O sexo 6 a droga mais pr6xima para apa' gar nosso conhecimento dos aspectos criadores de ansiedade de Eros. Para levar a cabo isto, tivemos que definir o sexo cada vez mals estreitamente: quanto mais nos tornamos preocupados com sexo, mais rfgida e encolhida se dd a experiGncia humanb a qual se retere- Voltemo' nos para

48

a snscdo do exo. a fim de evitar

a

Se minha alma pudesse tomar p6 eu neo me experimentaria mas sim, me reeolwria. Por6m ela esta sompno em aprcndizagem e em plova. Montaignc


PEDrlll Ho

/versus/ Doill

deves sujar-te. Ndo deves pintar

ali. Deves vir

em seguida, se nilo vens vais ficar sem

sobre-

mesa". Aos 6 anos:

PEDro

LOPES, Emilio Mira y

"Deves obedecer a teu professor. Cuidado para que ndo te castiguem na escola, pois teu av6zinho sofreria muito. Faga teus deveres de colegio. As criangas ndo devem dizer mentiras... ser preguigosos . . . gritar diante dos maiores . . . fazer perguntas aos desconhecidos. . . O dem6nio esta sempre vigiando para levar ao inferno as criangas que n5o obedecem aos seus pais". Aos 7 anos: "Deves confessar-te e arrepender-te de todas tuas m6s agdes. Se fizeres uma confissd'o falsa, cairds em pecado mortal e ir6s ao inferno. Lembra-te que Deus sabe tudo o que ocultas de tua familia e de teus professores. A ele ndo se

pode enganar. Deves cumprir todos os mandamentos". O que ouvia dizer Pedrinho quando tinha um

Aos

I

"Ndo subas af. N5o toques nisso. Ndo po-

Aos 3 anos:

"Se continuas tocando-te, isso caird e ndo poder6s mais fazer pipi e morrerds. Se voltas a tocar-te neste lugar o homem do saco vai te levar".

Aos4 anx: "Deves levantar-te jd. Deves lavar-te bem. Deves secar-te aqui. Deves deixar a sacola ld. Ndo deves p6r os cotovelos sobre a mesa. Ndo deves ser mau porque papai te castigard. Ndo

anos:

"N6o deves fazer perguntas inconvenien-

ano e meio:

nha isso na boca. Tudo isso 6 ruim e ndo deves faz6-lo, sendo te faremos pam-pam".

seus

tes. N5o deves discutir as ordens que te sdo dadas. Ficar6s sem recreio. Ficar6s sem jantar. Te roubarei a bola. N5o deves jogar com os garotos daquela casa. N5o deves deixar que o teu irmdozinho tire melhores notas que tu, no col6gio. Deves envergonhar-te por haver tirado nota in-

ferior

aos garotos

X".

Aos lO anos:

"Se segues t6o desobediente vais acabar matando a tua mde de desgosto. Teu pai vai levar-te para um internato ou para um reformat6rio. Jd 6s um homenzinho e ndo deves deixar que teus companheiros gozem de ti. Deves ser carinhoso com os pequenos. Deves proteger a

49


-

-

-

Deitaroi voc6 num caixto disse Daus e assim confirmarul meu supremo poder. d3sse o homem E eu em Fsposta criarei uma coisa que vocâ‚Ź nunca possa entender.

-

-

De: "a Morte e a

Arte"

L. N6brega

teus irmaos menores. Deves ter paciencia com os d6beis . . . e com os velhos. .' e com os ton-

Ouando Pedrinho iC 6 Dom Pedro, em gualquer momento de sua Aduhez, segue ouvindo:

tos . . . e oom os superiores",

"Precisas cumprir com os amigos: tens deveres de amizade. Lembra'te de pagar os impos' tos; tens deveres para com o Estado. Ndo deixes de ir missa e contribuir com os fundos da obra

Aos 12 anos: "Que porcaria estivestes fazendo? Ndo sabes que isto 6 um grande pecado? Oue podes fi' car retardado? Oue podes ficar muito doente? Es muito jovem para querer saber tanto quanto os maiores. Agora j6 ndo 6s crianga e tens "res' ponsabilidades". Deves cumprir com o teu de' vertt.

i

pia: tens deveres para com o Senhor. Ndo procures divers6es nem chegues tarde em casa; tent deveres para com tua mulher. N5o fiques na ca' ma nem ponhas os p6s sobre as cadeiras; n6o de' ves dar maus exernplos a teus filhos; ndo esque' gas que tens deveres para com eles. Deves assis'

cerim6nia de manhd: tens deveres profis' sionais. N5o deixes de contribuir na coleta p0' blica tens deveres para oom teus concidaddos..."

tir i Aos l5anos: "Jovem, vocâ‚Ź acaba de adquirir novos de' veres. Deves observar a disciplina e o regulamen' to do estabelecimento, procurar esforqar'se o mdximo no seu trabalho, n6o somente para re' tribuir as noites mal dormidas de tua familia, mas tambdm para fazer'te um aluno digno, um cidaddo honrado, um homem de proveito, que seja capaz de sacrificar-se pela

pdtria".

Aos 25 anos:

"Acabas de contrair novos compromissos e deveres oom o matrim6nio. De hoie em diante, dever6s cuidar e zelar pela felicidade de tua esposa e de teus futuros filhos, cumprindo mais profundamente, se for possfvel, com suas obrigagdes profissionais, sociais, morais e religio' sas, pois jd 6s um homem, com plena responsa'

Oue nai dizer, ent5o,

dro, guardo p6trti@

te

"Oueridos familiares, dependentes e ami' gos: sentindo jd o peso dos anos, que me incli' nam at6 a terra que receberd meus despoios, sin' to a imensa felicidade de poder dizer que quan' do este instante chegar, ndo deverei nada a nin' gu6m. . ."

Nota: Assim 6: 6 necess5rio morrer para livrar-se do Dever, porque inclusive agonizando nos dizem que temos o dever de lutar para conservar a vida.

(*l

.l

-

reina seus emPregados, descerden-

e demais vassalos ao redor da celebragflo das bodas de prata ou de qualquer outro metal?

bilidade de seus atos".

t,iL

-

o ilustre senhor Dom Pe' branos e dis'

Galeca, cabelos

Parte do XVll capftulo do livro de E. Mira y Lopez: "Los cuatro gigantes del alma" Ed. El Ateneo, Buenos Aires.


ffim$tirn?n GOZAR DE LA VIDA ES DEVORARTA

Y DESTRUIRLA

Mis relaciones con el mundo, qonsisten en meiantes, indican que los que las hacen lo que_yo gozo de 6l y lo empleo para mi estin todavia busc6ndose, buicando su vergoce. Rdlationes equivale a g_oce del mundo, dadero sentido, el sentido que su vida debe entra en mi goce de Mi. tener para ser verdadera. "'1Lo que soy no ,y_ 9so Estamos en el recodo de una.6poca. El mun- es m6i que un poco de sonibra y de espudo no ha pensado.hasJg el presente T6s ma; lo qde ser6,'ser6 mi verdader6 yo!" per. que.en conquistar-la vida, su 0nico cuifa; seguir dse yo, prepararlo, realizarlo, tal es do ha sido vivir. Ya tienda toda actividad .-l:..?:::d1l:rea de los mortales; ellos no hacia tas cosas de aqui abajo o hacia el mZi vrven ail6, hacia ta vida temporat o hacia ta et# l?:tT _t::-^qut ^?:.t"..t"^t^1t^it1tj^no para encontrar la y para morir, ma1 ("dain.,'yi J aipireli-"dan cotidiano" 9ye 'pan nos nuestro cotidiano"), o al "pin sa. verclaclera vtda' grado" ("el verdadero pan del cielo", "el pan de Dios que ha bajado del cielo y que da la vida al mundo", 1'el pan de vida", San 56lo cuando estoy seguro de mi y cuando Juan, Vl, 32, 33, 48), ya se preocupe uno no me investigo ya, soy verdaderamente mi de la "querida vida" o de "la vida eterna", propiedad. Entonces me poseo y por eso me en tanto que el fin de todo esfuerzo, el objeto de toda empleopory gozo de mi. Pero que contrario, descubrir el tener creo, solicitud no cambia: es uno, como en otro yo, que pienverdadero tanto mi en todavia que caso,' lo se busca es siempre la vida. que el que vive en hacer de modo deber so las tendencias modernas otro ;Atestiguan cuidado? Se quiere que las necesidades de mi no sea Yo, sino el cristiano o cualquier la vida no sean ya un tormento para nadie, otro yo espiritual, es decir, cualquier fan. y- se enseila, por otra parte, que el hombre tasma tal como el Hombre, la esencia del dgbe ocuparse en este mundo y vivir su Hombre, etcdtera, me est6 para siempre prohibido gozar de mi. yida real, sin vano cuidado del mbs all6. Tomemos la cuesti6n bajo otro punto de Hay un abismo entre estas dos concepciovista: aqu6l cuyo 0nico cuidado es vivir, no nes: seg0n la antigua, yo soy mi fin; seg0n puede pensar en gozar de la viCa. En tanto la nueva, yo soy mi punto de partida; seg0n que su vida estd todavia en cuesti6n, en la una, yo me busco; seg0n la otra, me potanto qUe todavia puede tener que temblar seo y hago de mi lo que haria de cualquier por ella, no puede consagrar todas sus fuer- otra de mis propiedades, gozo de mi seg0n zas a servirse de la vida, es decir, a gozar mi agrado. No tiemblo ya por mi vida, la de ello. ;Pero c6mo gozar de ella? Us6n-dola, "prodigo". como se quema la vela que se emplea. Usa La cuesti6n, en adelante, no es ya saber uno de la vida y de si mismo, consumi6n- c6mo conquistar la vida, sino c6mo gastarla dola y consumi6ndose. Gozar de la vida es y gozar de ella; no se trata ya de hacer florecer en mi el verdadero yo, sino de hacer dcvorarla y destruirla. Pues bien, ;quâ‚Ź hacemos? Buscamos el go. mi vendimia y consumir mi vida. rce de la vida. ;Y qu6 hacia el mundo reli. iQi.r6 es el ldeal, sino el yo siempre buscagioso? Buscaba la vida. ";En qu6 consiste do y nunca alcanzado? lOs busc_ais? ;Pues la verdadera vida, la vida bienavenlurada, es que no os poseeis todavia! ;Os pregunetc.? ;C6mo llegas a ella? ;Que debe hacer tais lo-que debeis ser? 1No lo sois, pues! el hombre, y qu6 debe ser para ser un ver. Vuestra vida no es mds que una larga y apadadero viviente? ;Qu6 deberes le impone sionada espera: durante siglos se ha suspiesta vocaci6n?". Estas preguntas y otras se- rado por el porvenir y vivido de esperanza. 51


en emplearla a su gusto: ella tiene su emvivir de'goce. pleo, su objeto, y no se puede desYiarla de piadosos a itamaOoi iir- rOf" t'"qrettot ningrin De 6l' palabras? mis. dirigen se iri"nut vocaEi6n, un deber; i,oao; se aplicln a ioO,is aquellos que fer- En suma, se tiene una vida,.-que .reai.izar' que su con uno, y a'sus aun tiene qrJ u"lU" i;;;;ffi "-ti"Ep"i" ese "algo", mirando al cual ;i;;; uiuiOor"s. Para ellos tambi6n uny do- gump.lir algo; m6s-que un medio v un ins es los no la vida trabajo, oe oiis ;;;;;t*;;;l'rii importancia gue ella y tiene_m6.s trumento, del'eniuefro seguidos iliii.;";;;iJ'uioiron un dio.s.que, reclama tiene debe. Se la no se dicha, univer;;' ;;-;;;ao mtioi Je"rna vivientes. sacrificios humanos los Los palabra. victimas lPero iJf, O"-un fOeaf, en'rna m6s q.u.e sys fo1' perdido, a la larga, han estar no direis, *"no.,-'J"6"n al fil6sofos, a cada desaparecido; han no bdibaras, mas ;;;;-rG a-ios d"uotbsr-aEfrosl iHan.pensaholoen ofrecidos son han criminales instante, eiideal'y en jam6s otra en do pe' nosotros,."pobres Jusficia,.y que 313 "oiu-qr" en causto t"niJo n"n.a'la mira en otra cosa mismos nosotros inmolamos nos por ascadores", partes espera, todas el vo absoluto? q,uime- en el altar de la "esencia humana", del ii#IJ"'JJ'i,t-ri i.-J.i- piit"J. t.i"nri maS. ;HaceO- "Hombre", de la "Humanidad", de los idO' ras, largas "iaa '" los o de los dioses, cualquiera que sea el "rp"r"nr-ua-y rom"niicisror ;; ttamli de favor me el vida el nombre que se les d6' Furu t.irnlur de la aspiraci6n a la un acreedor al que debemos nues' doble Teniendo su bajo vencerta oeUe ;;;; J;l;;ioi tanto ia angustii espiritual tra.vida, no tenemos ning6n derecho a gas' lorma: aplastar, para nosotros' la tarla la.v.ez a y como la'temporal, exterminar sed del ideal y el hambre del pan cotrcllano' tti,"u'f conservadoras -uer .del cristia' lendencias corrservduurd> Las lenoenclas F] el ho puede gozar de ella, y ia, 1T^t]::".1'^t-:t:: .que la bus' nismo no perrniten al cristianismo pensar en "in"i,l"'t;",1,?l: 'puedd goru, Je ca no la tiene,'y turnpo.o ;iU"lenauen' 1" rnuerte de otro modo que con la insisten' ella: los dos son p;b;;- pLio cia de arrancarla su aguiion y de sobrevi' turados los pobres! virse perfectamente' El cristiano consiente Es cosa muy distinta

ros hambrientos de verdadera vida no ti"' :ho.T,t%X"J:'J";t:fr3"?;'"T"1?t"ri$; nen ya ningrin poder sobre su vida presentg' ]-iuirrero!- contar con que se indemni' que deUen consagrar a la conquista de-la ,"ii-." --'- eicielo y coger6 gruesos interesesJerdadera vida y lacrificar al cumplimiento

de esia tarea,y de este deber. ua servidfl. No le es permitido matarse; solo puede conbre de la existencia terrestre, toda ent'.- servarse v trabaiar en "prepararse su puessubordinada a la existencia celeste qu9._9:-,il";;;;'rai-iriO.;;. ia' perpetuidad, el peran, es evidente en los espiritus religio' ::rri,Iiio ;#; i; riuerte;, he'ahi lo que 'sos que descuentan una vida futura V no tomi i o..nor ,;la ,iltiml enemiga que seven en la vida de aqui abafo .m5s que un iZ""""ii[i r*"rt""(t), "Jelucristo ha "i-f" simple tr5nsito; pero seria falso creer. qir.bir;irOo-"i-poOer de la'muerte y ha sa"_n menos renuncia en aquellos gue. en aparien' con bl Evangelio, la vida y la in. i t"i diJ" cia se han libertado m6s de los doem!1. ioirptintriorot'-(2j.--"ilncorruptibilidad", lComprended, pues, que 'la "vida verdad"' liirUiid;aira" tiene un sentido mucho m6s extenso El h;;t;e moral quiere el Bien, lo Justo, que vuestra "vida celestial!" zY para llegar ,i" de los'medios que conducen a inmediatamente a la concepci6n liberal de "t..,-rl v conducen a 6l realmente, esos mela vida, la "v.ida verdadera", no es humana "r"'tin OioS no'ron por eso los suyos, sino que son y "verdaderamente humana"? lHay que to los;del Bien. de lo Justo, etc. Esos medios marse tanto trabajo para conseguir esa vida nurica son inmorales, porque el objeto a que humana, o el primero que llega la vive des' oenniten alcanzar es bueno: el fin justi{ica de el momento en que comienza a respirar? ios,medios; esta m6xima pasa por iesuitica, ;Es ella para cada uno el presente, lo que aunque sea estrictamente "moral". El homtiene y lo que es en la actualidad, o d6be bre hroral es el servidor de un fin o de una tender a ello como a una vida futura que no idea. 6l se hace el instrumento del Bien co' poseer6 sino despu6s de haberse "lavado de mo el hombre piadoso tiene a gloria ser el la mancha del egoismo?" Por tal cuenta, la obrero, el instrumento de Dios. vida no es mds que la conquista de la vida, no se vive m6s que para hacer vivir en si lqs mandarnientos de la Moral ordenan cola esencia del Hombre y por el amor de esit 6s bueno aguardar la hora de la muerte; esencia. No tiene uno su vida m6s que para darse a si mismo la muerte es inmoral y crear una "verdadera vida" purificada de malo: el suicidio no tiene ning0n perd6n que todo egoismo. Y de ahi por qu6 uno vacila aguardar ante el tribunal de la moralidad. 52


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idea que tenemos de ese ser determina cidio, no es menos verdadero si se apela a La que le es conforme' Pero esa idea' ;de lo la humanidad, puesto que uno debe iguai- cu6irtas concebido?; y ese .maneras se ha mente su vida al Hombre, a la humanidat, se le ha repre' formas lbaio-cu6ntas al g$nero humano. ,SOio i" cuando no td Ser, que el Ser cree mahometarlo Etieniaioi reconozco obligaci6n para con nadie, cranl y el cristiano cosa' und de 6l conservaci6n de mi vicia es .tuiio l'pie*o exige do la,,iUn distinta; rnuy qr; otra 1qu6 di' i"cia.a ;rJ" -vida eJe pu"ni! de ese alto ue rs lor ru' or(v l'serrrv salto desde mio. presentarles! la aspecto.debe ierJntb me hace libre!". todoi est6n al menos un6nimes en Debemos el Ser, cualquiera que sea, que te- Pero que.corresponde al Ser Supremo diri' creer nemos oue hacer vivir en nosotros, no s6lo deposi' gir su vida' ;i';';il;-"i'rt-"i0. oe quenosomos esa emplear eso, de aparte sino, tarios, No me detendr6 m6s tiempo en los devotos por 6l V vida a nuestro gusto, regularla -emplear q'", {i"n"n en-P-tot un guia y en su Palabra "lit esa-uiOI'l fbrmarla a 61. Todo en J1 litg-cgig.uctor; no los he citado m6s que nuestro gusto, regularla por el y confonrlrl para pertenecen a una fauna ex' .memoria; la a 61. Todo en mi, pensar, sentir, qu"i!t, iinguioa es la de las petri' y su-inhovilidad todos mis actos,'todos rnis esfuerzor ro"id

6r

'Ti":'lrux;ii",'".iliJ'nl3tl":'iJ:i"'Ti'.,?13 inliii

no puede' ya dispensarse de sonro' sus patiaas meiillas con el co' Los liberales no honran en lorete 'Oi* t liberal. guia suspenden..su vida del hilo ni su TAREA DEL ARTE ES ACTUALMENTE INTRO' Paiabra divina; se guian la ionOuctor-Oe DUCIR CAOS EN EL ORDEN. y no es a.una.vida "divina"' ei-Homoie, ioi una vida "humana" a lo que asplran' iino a T. W. Adorno

.ui ,n poci

I'IAX

(Fragmento de

"EL UNICO Y

ST I

SU

PROPIEDAD")

(f)

f.a a los Gorintios, XV, 26. (2) 2.a Timoteo, I, 10.

54

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