exposição REJUNTE, de Fábio Carvalho

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Galeria Pretos Novos Rua Pedro Ernesto, 34 | Gamboa | Rio de Janeiro | RJ 28 de maio a 25 de julho | terรงa a sexta - 12h > 18h | sรกbado - 10h > 13h



Rejunte Há vinte anos Fábio Carvalho exibe seus trabalhos em galerias e centros culturais brasileiros e estrangeiros, mas foi no ano passado, com a exposição "Papel de Seda", na Galeria Pretos Novos, que o artista foi incentivado a levar suas delicadas bandeirolas para as ruas de Lisboa, onde fazia uma residência artística. O resultado surpreendeu pela sutileza de sua intervenção durante os festejos de Santo Antonio, quando a cidade portuguesa é tomada por adornos nas portas e janelas residenciais. De volta a Portugal, em fevereiro deste ano, o artista criou três padronagens originais que foram impressas a laser em papel, no formato de azulejos e coladas com cola de amido, em 45 fachadas residenciais lisboetas onde os azulejos originais haviam desaparecido por deterioração ou vandalismo. Os "azulejos de papel", ao mesmo tempo que causaram um certo estranhamento ao olhar, podiam ser por vezes facilmente confundidos com os azulejos originais. Os projetos de arte urbana de Fábio Carvalho atuam como pequenas inserções, que invadem o espaço e ganham uma força maior ao tensionarem o que já estava lá. Tudo começou a partir dos trabalhos da série Delicado desejo, formados por um patchwork de diversas rendas, originalmente produzidas para serem usadas como apliques em roupas femininas. Neste caso, elas foram combinadas em formato de armas de fogo em tamanho real, contrapondo a delicadeza do material com os artefatos normalmente associados com a virilidade bruta. Na exposição são apresentadas quatro peças desta série: três pistolas e um fuzil modelo AR-15. A produção atual de Fábio Carvalho questiona o senso comum que reforça a antítese entre virilidade e poesia, força e fragilidade, masculinidade e vulnerabilidade, propondo uma discussão sobre estereótipos de identidade de gênero. A série Transposto, trabalho inédito desenvolvido especialmente para esta exposição, parte de azulejos e fragmentos de azulejos portugueses coletados pelo artista em caçambas de lixo de Lisboa, resultado de restos de obras de remodelagem das antigas casas do final do século XIX e início do século XX. O material foi inserido em moldes com cimento, de forma a criar "pedaços de parede", como um resgate daquilo que estes azulejos um dia foram por tanto tempo, antes de serem descartados. Em cima destes "pedaços de paredes" foram colados os mesmos "azulejos de papel" usados na intervenção urbana em Lisboa. Com este trabalho inédito surge uma transposição das ações urbanas de Lisboa para o Rio de Janeiro, através de azulejos e simulacros de azulejos que vieram na bagagem do artista. A exposição propõe ainda uma ação coletiva batizada de (Re)Junto, na qual os visitantes poderão colar "azulejos de papel" diretamente sobre as paredes da galeria, delegando ao público a composição final da obra, numa referência direta a Athos Bulcão, que por vezes deixava por conta dos operários a decisão de como os azulejos deveriam ser aplicados em seus painéis, como ocorreu por exemplo, com a obra da Praça da Apoteose, Sambódromo, Rio de Janeiro (1983). Marco Antonio Teobaldo curador



De Lá para Cá... A exposição Rejunte surgiu a partir de um convite do curador Marco Antonio Teobaldo, que esteve em Lisboa em fevereiro deste ano, e acompanhou por alguns dias o projeto de Intervenção Urbana APOSTO [www.fabiocarvalho.art.br/aposto.htm] que eu desenvolvia na Residência Artística HS13rc [hs13rclisboa.blogspot.com.br]. A Residência Artística HS13rc foi um projeto 100% independente que eu decidi empreender, com a intenção de provar para mim mesmo, e talvez para quem mais quisesse dar ouvidos, que é possível se tocar um projeto artístico longe de casa, até mesmo no exterior, sem depender necessariamente de apoio logístico e financeiro de algum órgão ou instituição cultural. Quando eu comecei minha prática artística em meados dos anos 1990 o país atravessava uma das suas mais profundas crises econômicas. Por essa época mal havia um sistema de arte, menos ainda um mercado de arte. Os artistas que estavam começando naquela época eram muito mais independentes e empreendedores do que eu percebo nos artistas mais jovens de agora. Fazia-se muito com praticamente nada de que dispúnhamos. Uma coisa bastante comum era ver artistas se juntar em grupos para produzir as suas próprias exposições, em espaços “oficiais” ou não. E tivemos exposições incríveis assim, e que são até hoje lembradas. E agora, em um movimento que já dura mais de 10 anos, multiplicaram-se as galerias comerciais; há feiras de arte de porte internacional, temos centros culturais que se tornaram instituições poderosas; as bienais também se multiplicaram. Temos agora tantas exposições que em noites de abertura é preciso abrir mão de algumas. É por isso, talvez, que os artistas tenham sentido que era a hora de aproveitar mais a maré institucional, pois realmente dá muito trabalho e muita canseira, fora o grande peso financeiro, produzir eventos independentes, ainda mais agora que tudo em nosso país ficou caríssimo. Não acho essa postura em nada errada! As instituições são importantes e, muitas delas, fundamentais. É preciso que existam, para que haja um sistema de arte sólido. A questão é: elas não podem ser o único horizonte possível. Eu vejo muito artista iniciante que, depois de ter passado dois ou três anos em uma escola de arte, não consegue pensar em nada além de fazer parte do elenco de uma galeria, participar das feiras e se aproximar de curadores e agentes “badalados”. O que quero dizer com tudo isso é que, além desse “sistema oficial”, pode e DEVE existir também uma cena mais independente, com movimentos que nasçam da iniciativa dos próprios artistas. Estes movimentos acontecem ainda (não tanto quanto antes), mas deveria haver muito mais! Não apenas iniciativas de artistas novos buscando seu lugar ao sol, mas de todos. Artistas veteranos também deveriam bancar ações independentes e fora do crivo institucional oficial. Iniciativas que partam inteiramente dos próprios artistas são necessárias para renovar a cena artística, pois geralmente a paisagem oficial é mais fechada, viciada, tende a repetir nomes e temas. São os artistas que devem apontar os novos caminhos, indicar as novas questões... “o artista não depende da instituição, o artista É A INSTITUIÇÃO” Fábio Carvalho


Delicado Desejo n° 7 rendas diversas, acrílico | 2014 | 50 x 120 cm



Delicado Desejo n° 5 rendas diversas, acrílico | 2014 | 30 x 40 cm


Delicado Desejo n° 3 rendas diversas, acrílico | 2014 | 30 x 40 cm



Delicado Desejo n° 8 rendas diversas, acrílico | 2014 | 30 x 40 cm


Aposto n° 7 registro fotográfico de intervenção urbana realizada em Lisboa, Portugal | impressão fine art sobre papel photo matte | 2015 | 45 x 60 cm | tiragem de 5


Aposto n° 32 registro fotográfico de intervenção urbana realizada em Lisboa, Portugal | impressão fine art sobre papel photo matte | 2015 | 45 x 60 cm | tiragem de 5


Aposto n° 10 registro fotográfico de intervenção urbana realizada em Lisboa, Portugal | impressão fine art sobre papel photo matte | 2015 | 45 x 60 cm | tiragem de 5


Aposto n° 5 registro fotográfico de intervenção urbana realizada em Lisboa, Portugal | impressão fine art sobre papel photo matte | 2015 | 45 x 60 cm | tiragem de 5



Aposto n° 35 registro fotográfico de intervenção urbana realizada em Lisboa, Portugal | impressão fine art sobre papel photo matte | 2015 | 45 x 60 cm | tiragem de 5



Rejunte composição a partir dos registros fotográficos de intervenção urbana realizada em Lisboa, Portugal | impressão | lambe lambe sobre parede | 2015 | 2,50 x 2,36 m


Transposto n째1 fragmentos de azulejos portugueses, cimento, madeira, lona, azulejos de papel (impress찾o laser), cola PVA | 2015 | 55 x 55 cm


Transposto n째2 azulejos portugueses, cimento, madeira, lona, azulejos de papel (impress찾o laser), cola PVA | 2015 | 45 x 38 cm



(Re)Junto | trabalho coletivo, realizado com a participação do público da abertura da exposição impressão laser sobre papel, cola de amido sobre parede | 2015 | 1,89 x 1,89 m



Fábio Carvalho Artista plástico carioca em atividade desde 1994, já realizou 15 exposições individuais e participou de mais de 140 exposições coletivas. Integrou importantes projetos de mapeamento da produção emergente no Brasil nos anos 1990, e já fez exposições por quase todo o território nacional, bem como integrou mostras em Nova York, Los Angeles - EUA; Berlim, Frankfurt, Guelnhause - Alemanha; Londres, Cardif - Reino Unido; Praga - República Checa; Budapeste - Hungria; São Petersburgo – Rússia; Lisboa, Porto, Cerveira - Portugal; Havana - Cuba, Buenos Aires Argentina e Cuenca – Equador. Fábio Carvalho participou das Residências Artísticas “Bordallianos Brasileiros”, na fábrica Faianças Artísticas Bordallo Pinheiro em Caldas da Rainha (2011), “Projecto Artistas Contemporâneos” na fábrica Porcelana Vista Alegre em Ílhavo (2011), “Maus Hábitos” no Porto (2012), “ID POOL” na fábrica Porcelana Vista Alegre em Ílhavo (2013), “Cerâmica Oficina da Formiga” em Ílhavo (2013), “Cerâmica São Bernardo” em Alcobaça (2014) e “HS13rc” em Lisboa (2015), todas em Portugal, e “Horizontes Transitórios / Paisagens Alteradas”, em Sobral – CE (2002). O artista tem mais de 70 obras em coleções públicas e particulares, com destaque para MAM-RJ / acervo Gilberto Chateaubriand - RJ; Centro de Arte Contemporáneo Wilfredo Lam - Havana – Cuba; MALI - Museo de Arte de Lima Lima – Peru; Museu da Porcelana Vista Alegre – Portugal; Museu Bordallo Pinheiro – Portugal; Vieira Resende Barbosa & Guerreiro Advogados – RJ; José Mário Brandão - Portugal; Marcos Coimbra – BH - MG; Randolfo Rocha – BH - MG; Rubens Beçak – SP e Tadeu Bandeira – BH, entre diversas outras.

exposição REJUNTE de Fábio Carvalho curadoria: Marco Antonio Teobaldo Galeria Pretos Novos Rua Pedro Ernesto, 34 – Gamboa inauguração 27 de maio - 18h visitação 28 de maio a 25 de julho terça a sexta - 12h > 18h sábado - 10h > 13h ficha técnica (exposição): Instituto de Pesquisa e Memória Pretos Novos - IPN Museu Memorial Coordenação geral: Merced Guimarães Projeto gráfico: Ludwig Danielian Revisão de texto: Renata Zambianchi Produção: Quimera Empreendimentos Culturais catálogo: Fábio Carvalho



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