Design e indústria: A Cronologia do Tempo

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Design e Indústria: A Cronologia do Tempo Autor: Fábio Pinheiro de Lima (UFRN) Contato: fbpinheiro2@gmail.com Orientador: Prof. Dr. Rodrigo N. Boufleur (UFRN) Contato: rboufleur@gmail.com

Marx afirma que toda mercadoria possui duplo ponto de vista de valor de uso e valor de troca. Enquanto o valor de troca se refere a troca de um produto por um outro bem de que se necessita, o valor de uso se consuma na própria utilização, no uso próprio do bem para que ele foi projetado, construído, manufaturado, produzido, etc. “A primeira vista, a riqueza burguesa aparece como uma enorme acumulação de mercadorias, e a mercadoria isolada com seu modo de ser elementar. ” (Karl Marx, Para a Crítica da Economia Política, pág. 31) Com isso o valor de uso se constitui a usufruir o bem comprado para tal finalidade, é com esse pensamento que se fizeram as primícias do marketing e vendas, de que você precisava usufruir daquele bem recém produzido e chegado ao mercado por mais estranho que ele pudesse parecer num primeiro momento, como aconteceu com as primeiras geladeiras, televisores, fogões e rádios. No início tais produtos mais se assemelhavam a um móvel da residência a fim de não causar estranhamento, embora fosse impossível não torcer o nariz em primeiro momento para a enorme caixa adquirida para a casa e que prometia fazer “mágica” (entende-se aqui por “mágica” o que o produto poderia proporcionar: uma tv oferecer imagens e sons, um rádio transmitir sons, uma geladeira conservar produtos através do frio e assim por diante). Com o surgimento desses produtos que ofereciam conforto ao usuário, surgiram os trabalhadores proletariados por trás de todo o conforto produzido, tais ‘fabricadores’ muitas vezes não são lembrados pelo usuário final do artefato; a burguesia vive do consumismo, da mercadoria. À mão de obra é apenas um maquinário para alimentar o consumo cada vez maior e desenfreado dos objetos e com isso desenvolve-se novas perspectivas do design quanto produto estético e inovação tecnológica. Tomando como exemplo as geladeiras, tais eletrodomésticos nos tempos de sua criação era apenas um armário de madeira que levava pedras de gelo no seu interior a fim de se conservar o alimento fresco, mesmo que diariamente fosse obrigado a retirar a água do degelo e repor novas pedras de gelo para continuar o ciclo de conservação a frio. Hoje em dia, os mesmos eletrodomésticos possuem “inteligência” e são capazes de dizer o quão frio está o seu interior, se um alimento atingiu a temperatura correta em x tempo, se um alimento está estragado, outros possuem portas de vidro para evitar o abrir e fechar desnecessário e consumo de energia, outras fazem compras online para se reabastecerem com algum produto faltante na alimentação. Possuem revestimentos sofisticados, designs arrojados, tantas portas que o consumidor preferir e até mesmo se o congelador e/ou freezer vem junto ou separado por outra porta no mesmo maquinário. Hoje, todos os eletrodomésticos possuem um mecanismo sequer que o ofereça ‘inteligência’, quase que vida própria, mesmo aqueles que ao nosso cotidiano rotineiro possa passar despercebido e acabamos por achar comum e natural tal mecanismo


acontecer. E tudo isto foi graças ao design e a possibilidade do conceito e consumo de energia elétrica ter sido disseminado durante o século XIX.

“Sob o ponto de vista do valor de uso, a mercadoria isolada aparecia originalmente como uma coisa autônoma, como valor de troca foi considerada, ao contrário, desde o primeiro momento. ” (Karl Marx, Para a Crítica da Economia Política, pág. 41) Isto quer dizer que tudo é pensado, que o valor de uso não é o mesmo se comparado ao valor de troca, quer dizer, para o valor de troca a mercadoria corresponde ao equivalente de horas trabalhado nela, por isso ela é tempo de trabalho objetivado, no entanto isto, a mercadoria, é apenas tempo de trabalho individual, com um conteúdo particular, e não tempo de trabalho geral. Agora pensemos o quanto é o valor de troca de uma televisão de 50” UltraHD Smart. Por quantos rádios da BRAUN Sk2 uma dessas tv’s vale? Ou até mesmo dos primeiros rádios da década de 1940, em que a família se reunia em volta do artefato para ouvir as notícias e entretenimento? Ou melhor, por quantos televisores de tubo uma TV 50” UltraHD Smart vale? É quase que uma piada de mal gosto de fazer tal equiparação de valor de troca entre produtos, visto que estes são de épocas diferentes, tecnologias distintas, mas se fizéssemos tal valor de troca com alimentos? Quanto vale essa mesma tv de 50” ultraHD smart por quilos de arroz, feijão, frutas e verduras frescas? E essa mesma tv teria o mesmo valor de troca por uma geladeira, qualquer geladeira, para conservar estes mesmos produtos frescos? Quantas geladeiras produzidas no ano corrente essa televisão vale? Quantos diamantes vale este mesmo aparelho? O valor de troca de qualquer mercadoria se expressa no valor de uso de qualquer outra, seja em inteiros ou em frações desse mesmo valor de uso, afirma Marx. Com isso, toda mercadoria pode ser dividida tanto quanto o próprio tempo de trabalho nela investido, e aqui arrisco a dizer que não só o tempo investido e nela empregada, mas também o quão tecnológico é a mercadoria, o quanto de tecnologia a mercadoria possui em escala cronológica de tempo, o quão distante em tempo são as mercadorias a serem efetivadas como valor de troca. Não obstante, a mesma (mercadoria) não deve possuir só o valor sentimental para o possuidor da mercadoria, mas a mesma deve ser útil, ter o seu valor de uso, para efetiva troca por outra mercadoria, a mercadoria como tal é unidade imediata de valor de uso e valor de troca; ao mesmo tempo ela é mercadoria somente relacionada com outras mercadorias. Como valor de uso a mercadoria precisa vir a ser valor de uso, e isso só para outros possuidores. No mercado, o valor do trabalho também corresponde a esse valor de uso e valor de troca. Exemplo, digamos que um dono de uma fábrica de cristais precisa criar um novo tipo de cristal que determinado cliente pediu e este mesmo cristal tem a sua confecção complicada e para não perder tal cliente o dono da fábrica decide produzir tal mercadoria. No entanto, o mesmo não saber, por suas próprias mãos, produzir o artefato, então o artesão especializado em criar esse determinado tipo de cristal encomendado entra na história vendendo sua mão de obra por um preço equivalente ao valor da mercadoria a ser produzida e correspondente a suas horas de trabalho e, assim, troca-se a mão de obra especializada por um salário que é o fruto do seu rendimento e de suas horas trabalhadas. O salário, se referindo ao trabalho, é o seu


valor de troca para produzir determinado produto. Com efeito, se os trabalhos podem ser equiparados para tal efeito de troca, logo, seus produtos (as mercadorias produzidas) também poder ser equiparadas. “A evolução do sistema americano demonstrou que, para ser produzido em massa, um produto tinha de ser padronizado, isto é, projetado para dimensões precisas e invariáveis. ” (HESKETT, John. Desenho Industrial. Rio de Janeiro: UnB, 1998. p. 70.) Uma coisa que proporcionou o desenvolvimento do design e agregação de valor ao produto que continha o design como meio de marketing foi a padronização na linha de produção. O produto tinha de ser preciso e invariável onde quer que fosse produzido para poder ter essa agregação de valor e assim, poder subir o valor de uso intrínseco a mercadoria. A eletricidade de certa forma contribuiu para este desenvolvimento fabril, que a partir deste momento passou a embutir a palavra design no desenvolvimento dos produtos, desde o concebimento da ideia e dos desenhos até o momento em que o artefato sai pronto para uso da máquina que o fabricou. A mão de obra com este novo momento na era cronológica do design passou então a ser especializada, o valor de uso tornou-se cada vez mais afetivo com a mercadoria possuída, o valor de troca tornou-se alto e em alguns momentos torna-se até irrisório se vale a pena ou não trocar tal mercadoria por outra, digo, não o descarto e a compra de um novo produto e sim a troca de um produto por outro produto. No mundo do século XXI o valor de troca aderiu a um novo sentido de uso senão o de descarte e compra de um novo produto melhor que o anterior, a velocidade de troca é quase que na mesma velocidade em que novos produtos com designs mais arrojados e modernos são fabricados e chegam ao mercado, no entanto, isso não faz com que o antigo sentido do valor de troca perca seu sentido ou seja substituído pelo descarte. Se um produto tem o seu valor de uso o mesmo também possui seu valor de troca, visto que na troca do produto o valor de uso é do novo possuidor. É fácil construir, fabricar um novo produto e lhe aderir valor de uso, máquinas 3D estão disponíveis a qualquer usuário que se faça o mínimo de entendimento instrucional para comandar a máquina. Tudo se troca, tudo tem seu valor de uso. Tudo se usa, tudo tem seu valor de troca.


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