Devaneio

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DEVANEIO CONTEúdo DEVANEIO, PUBLICAÇÃO ACADÊMICA DESIGN > Ciência sem Fronteiras: o sonho

pág. 06

CONSELHO EDITORIAL André Soares, Amannda Gomes, Fábio

do Intercâmbio

Pinheiro e Larissa Trindade

> Tipografia é poder

pág. 12

> Habilidade manual

pág. 14

> Uma vida de Freelancer

pág. 19

COMISSÃO ORGANIZADORA

> Mas...porque design?

pág. 22

Beatriz Cruz, Johann Carlos, Marcelo Lago e Stéphanie Maia PRODUÇÃO

TEATRO > Uma ostra que não foi ferida

pág. 26

Clara Vasconcellos, Isadora Queiroga e

> O que faz arte ser arte

pág. 30

Marina Amaral

> Performance Art

pág. 46 FOTOGRAFIA Adrielle Barbosa, Andrieny de Paula e

GALERIA > Trabalhos dos alunos

pág. 33

Juciara Rodrigues PESQUISA

MOVIMENTOS CULTURAIS > De Geração em Geração

pág. 50

Camilla Priscilla, Larissa Alves, Luiza

> Pichação e Grafite

pág. 54

Albuquerque e Themis Suerda TEXTO

ACADÊMICO > Visita à História de Natal

pág. 60

> Teatro no IFRN?

pág. 66

> Ensaio Medusa

pág. 70

Hudson Santos, Lívia Stevenin e Natã REDAÇÃO Luiza Fonseca, Raquel Bemfica, Rafael e Silviane Silva ILUSTRAÇÃO André Vitor, Giuliana e Thiago CONTROLE DE QUALIDADE

Capa : Larissa Trindade

Isabela Graça, Jéssica Almeida, Luiza Saad e Thiziane Mérin


D


CONSELHO EDITORIAL LARISSA TRINDADE, ANDRÉ SOARES, AMANNDA GOMES E FÁBIO PINHEIRO


LEANDRO AUGUSTO

EDITORIAL

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evanear traduz em verbo aquilo que dá à luz a um estado de fantasia, onde, pesquisadores da turma de História das Artes II, se deixaram levar pela imaginação coletiva, e se lançaram num trajeto ilusório de criação. “Devaneio” agrega o fazer transformando assuntos vastos em força visual, cujos temas apresentam o universo artístico nos campos do Design, Teatro, Performance, Grafite, Patrimônio e Educação. Surgida a partir de uma proposição docente, “Devaneio” é resultado de um processo denso de pesquisa abraçado pelos estudantes da UFRN. Nesta loucura coletiva, sua edição vem inspirada em diversas matérias que estão longe de serem ilusórias. São quatro sessões de matérias (Design, Teatro, Movimentos Culturais e Acadêmico), e uma Galeria dos estudantes. Dentro da sessão de Design, abrimos, com entrevistas sobre o programa “Ciências sem Fronteira” indagando as perspectivas de uma nova educação do Mundo. Nesta mesma perspectiva o texto “Tipografia é poder”, esclarece qual o entendimento sobre composição textual em trabalhos de design gráfico. E assim, a revista coloca uma reflexão sobre “Habilidade Manual” indicando que o conjunto de experiências singula-

Graduado em Educação Artística UFRN; Especialista em Psicopedagogia UVA-CE; Mestre em Artes Cênicas UFRN;Docente daUFRN em Artes Visuais e Design.

res pode criar valor e marca pessoal de trabalho, e por isso, entrevista o freelancer André Grilo com questões objetivas que vem falar sobre a legalização deste. Fechando a sessão escolhemos devanear “Mas...porque design?”. Quem responde é a designer Gisele Ribeiro que aborda, através de sua biografia, temas sobre o contexto do Artista X Designer. Como proposta da sessão Teatro, abrimos a divagação com a matéria “Uma Ostra Que Não Foi Ferida, Não Produz Pérolas”, que fala à nossa equipe sobre a montagem e projetos futuros do grupo Pérola. E se temos uma discussão na primeira sessão, a respeito das diferenças entre Designer e Artista, nesta matéria “O que faz arte ser arte”, tratamos de abordar o contemporâneo procurando discutir a velha questão: Afinal, o que é arte? Sem utopia o Grupo de Teatro Estandarte faz observações sobre Cenário e Figurino, compondo a mente do leitor. Encerrando a sessão de Teatro, apontamos os caminhos da “Performance Art”, relatando fatos históricos e conceitos específicos deste universo contemporâneo. Para deliciar-se no intervalo entre as 04 sessões da revista, a equipe da “Devaneio” expõe em sua Galeria o trabalho visual de 12 estudantes de design, com os mais

diversos olhares. É com a 3º sessão que devaneamos “De geração em Geração”. A matéria se dedica a homenagear as forças da cultura popular e que se tornaram folclóricas para a cultura do RN. Com um cunho político e de discutir os limites da Arte, o texto “Pichação e Grafite”, suscita a reflexão por meio de uma abordagem histórica. “Visita à história de Natal” é uma matéria que resulta de uma proposta de aula e traz em seu conteúdo a valorização de Patrimônios Arquitetônicos e de Bens Móveis e Integrados da cidade de Natal. “Devaneio” traz em suas últimas matérias, na 4º sessão, o fazer/fruir metodológico no trabalho com Teatro e Educação. “Teatro no IFRN” aponta o prazer em se trabalhar com encenações autonomamente. E fechando a revista “Devaneio”, trazemos o Ensaio “Medusa”, cujo texto se baseia nas pesquisas do docente Leandro Cavalcante, sobre o engessamento da Educação. A revista prova em sua feitura a libertação da petrificação da Medusa que por meio de devaneios, constrói novos delírios na Arte, no Design, na Vida. Boa leitura e não fique com tontura! Leandro Augusto Cavalcante. 5


Entrevista por Marina amaral, Hudson e Lívia stevenin Fotografia por Andrienny. Ilustração por André Victor e Giuliana.

o sonho do

intercâmbio ciência sem fronteiras

UMA DAS EXPERIÊNCIAS MAIS COBIÇADAS POR DISCENTES EM TODO O PAÍS É A OPORTUNIDADE DE APRIMORAR SEUS CONHECIMENTOS E CONHECER OUTRO PAÍS ATRAVÉS DO CIÊNCIAS SEM FRONTEIRAS (CSF), PROGRAMA DO GOVERNO FEDERAL. O PROJETO CONSISTE NA BUSCA E CONSOLIDAÇÃO, EXPANSÃO E INTERNACIONALIZAÇÃO DA CIÊNCIA E TECNOLOGIA, DA INOVAÇÃO E DA COMPETITIVIDADE BRASILEIRA POR MEIO DO INTERCÂMBIO E DA MOBILIDADE INTERNACIONAL. PERMITE A JOVENS UNIVERSITÁRIOS UM ENRIQUECIMENTO PROFISSIONAL, ALÉM DE ENGRANDECER A BAGAGEM CULTURAL DO ESTUDANTE.


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Design

“Aqui você se expressa usando gestos, dizendo como o produto vai ser, na Inglaterra não tem isso, tem que mostrar em um desenho e o mais detalhado possível.” Rita Amorim

E

foi exatamente sobre essa experiência que conversamos com Rita Amorim, que teve a maravilhosa oportunidade de ir à Inglaterra, no Reino Unido; Thiago de Souza, que foi para a tecnológica Coréia do Sul; Mariana Valcaccio, que teve a chance de conhecer a cidade luz, Paris, e Larissa Trindade, que viajou para o Canadá. Todos estudantes de Design. DEVANEIO: Como foi o processo de escolha desse país/cidade? THIAGO: Então, sempre me interessei pela cultura e história do Oriente e os países disponíveis pelo CsF eram Japão e Coreia. No Japão, infelizmente não haviam vagas para a indústria criativa. Já na Coreia havia. A partir daí foi uma pesquisa extensa. Procurei o

rank de universidades no Google e olhei como era o departamento no Google Maps. Com isso, encontrei duas universidades que batiam com o que eu queria trabalhar. Elas tanto tinham uma estrutura melhor do que a UFRN, quanto uma ênfase em produto, que era o que eu queria me focar. Além disso, o pessoal que foi para a Coreia teve muita oportunidade de fazer estágio e isso com certeza foi um diferencial. Mais importante do que a faculdade em si. DEVANEIO: Como foi o processo de adaptação no novo país/cidade? MARIANA: Adaptar-me a cidade em si não foi um problema, porque as coisas funcionavam bem. Além disso, como já havia

morado na Europa, sabia mais ou menos, como funcionava. Agora, com relação aos costumes, aprendi algumas coisas. Lá eles são bem mais educados, então tive que me adaptar a falar sempre obrigado e por favor (risos). DEVANEIO: Qual foi a maior dificuldade enfrentada por você durante esse tempo que permaneceu do exterior? RITA: Acho que minha maior dificuldade foi na Universidade, por causa da metodologia, porque o método aqui é mais teórico, bem mais acadêmico, enquanto que na Inglaterra se pesquisa menos e desenha mais. Aqui você se expressa usando gestos, dizendo como o produto vai ser, lá não tem isso, tem que mostrar em um desenho e o mais detalhado possível.


“Lá (na Coréia) o Design conversava muito com a engenharia. Havia uma troca muito grande. Para mim a qualidade do ensino foi 300 vezes melhor.” Thiago de Souza

“Aprendi realmente a estudar, a não contar apenas com o que é oferecido pela universidade, aprendi a ir atrás do que queroter conhecimento.” Larissa Trindade

DEVANEIO: Qual a maior diferença que você notou em relação ao ensino? O método de ensino difere do daqui em quais aspectos? THIAGO: O ensino das universidades brasileiras em sua maioria é muito acadêmico. Você forma um profissional que vai ser ou professor, ou pesquisador. Vai estar focado na universidade. E lá é completamente prático. O profissional vai para empresa, vai para o mercado. O ensino era bem prático e por isso a universidade tinha uma estrutura muito maior com relação a oficinas, espaços de criação de mockups, criação de processos produtivos, pesquisa de materiais. Lá o Design conversava muito com a Engenharia. Havia uma troca muito grande. Para mim a qualidade do

ensino foi 200, 300 vezes melhor. O essencial é o produto final. DEVANEIO: Qual foi o maior aprendizado que essa experiência lhe trouxe? LARISSA: Aprendi realmente a estudar, a não contar apenas com o que é oferecido pela universidade, aprendi a ir atrás do que quero ter conhecimento. Percebi que, apesar do curso serem tempo integral, os alunos estudavam muito por conta própria, sempre buscando aperfeiçoar fraquezas individuais. DEVANEIO: Como essa experiência afetou sua vida profissional? RITA: Em vários sentidos. Você passa a se tornar independente, 9


tendo responsabilidades como dinheiro, tendo que fazer sua comida todos os dias e cuidar de si mesma. Outra coisa é que as pessoas pensam que o jeito de fazer as coisas no Brasil é o certo, e você aprende que existem outras formas de projetar e de perceber o mercado. DEVANEIO: Qual a visão da profissão de Design no país em que você se encontrava? Na sua visão, os profissionais dessa área são mais valorizados nesse país do que no Brasil? THIAGO: Na Coreia do Sul eles entendem o Design como uma área industrial focada no mercado. Aqui até na universidade eles veem de um modo mais artístico. Acredito que isso se deve ao fato de que no Brasil não temos uma cultura industrial forte,


Thiago de Souza

DEVANEIO: Você participou ou realizou algum projeto durante seu intercâmbio que gostaria de compartilhar? MARIANA: Sim. O projeto proposto foi escolher três objetos, desmontá-los, e remontá-los. E isso foi muito interessante, pois percebíamos como eram feitos os encaixes e, a partir dessa percepção, selecionamos três deles. Desses encaixes deveríamos montar uma estante, com um desses encaixes. No final tínhamos que entregar um livreto com os objetos desmontados e com os encaixes escolhido, o protótipo e apresentá-lo. DEVANEIO: Agora que você retornou ao Brasil, quais são as suas perspectivas profissionais?

Design

“Aqui (no Brasil) falta reconhecer que o Designer é um profissional da indústria, que pode atuar numa empresa, projetando diferentes produtos para o mercado no geral.”

empreendedora. Aqui falta reconhecer que o Designer é um profissional da indústria, que pode atuar numa empresa, projetando diferentes produtos para o mercado no geral. O reconhecimento lá fora é melhor em relação a isso. A população entende que o Design está para ajudar as empresas e as indústrias.

Entrevistados

Larissa Trindade

Mariana Valcaccio

Rita Amorim

LARISSA: Pretendo me formar, adquirir alguma experiência profissional e buscar uma especialização no exterior. DEVANEIO: Você tem alguma mensagem para quem pretende fazer o intercâmbio? RITA: Uma mensagem, hum... É que não existe o certo e errado, existe o diferente. D.

Thiago de Souza

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TIPOGRAFIA É PODER TYPE/DESIGN


Design

A

s letras fazem parte do nosso cotidiano e estão por todos os lugares. No entanto, muitas vezes não prestamos atenção nessa poderosa e imprescindível ferramenta. A tipografia é justamente a arte e o processo de criação na composição de um texto, física ou digitalmente e tem uma longa e rica história, cheia de mudanças e evoluções. A história da tipografia começa em Gutenberg e a sua revolução ao criar a imprensa no século XV usando a escrita gótica. Pouco depois surgiu o tipo romano – o que estamos mais acostumados a usar. Elas baseiam-se em linhas retas e curvas regulares, tinham como objetivo se distanciar da escrita a mão – diferentemente dos tipos góticos usados até então. Os tipos romanos evoluíram ao longo dos séculos seguintes e pouco tempo depois veio o itálico, que tinha como objetivo colocar mais letras em menos espaço para economizar dinheiro. A tipografia é a alma de qualquer trabalho. Ela tem muita importância no peso da informação e na forma que os utilizadores perceberão o conteúdo que se pretende transmitir. Um tipo mal

escolhido pode acabar com todo o processo anterior de elaboração do texto. Na maioria dos casos, uma composição tipográfica deve ser especialmente legível e visualmente envolvente, sem desconsiderar o contexto em que é lido e os objetivos da sua publicação. Em trabalhos de design gráfico os objetivos formais extrapolam a funcionalidade do texto, ela acrescenta muito no visual de seu projeto, e muitas vezes é o ponto principal de uma arte. É bom recordar que a tipografia não é apenas escolher o tipo, e sim analisar todo o conteúdo textual que será apresentado: o contraste, o comprimento, o tamanho, a hierarquia, a legibilidade, a leitura, o espaçamento e a composição final da estrutura textual. O conhecimento adequado do uso da tipografia é essencial aos designers que trabalham com diagramação, ou seja, na relação de texto e imagem. Logo a tipografia é um dos pilares do design gráfico e uma matéria necessária aos cursos de design. Para o designer que se especializa nessa área, a tipografia costuma se revelar um dos aspectos mais complexos e sofisticados do design gráfico.

Famílias tipográficas famosas na história do design gráfico: • Arial • Bodoni • Comic Sans MS • Frutiger • Futura • Garamond • Gill Sans • Helvetica • Times New Roman • Univers. D. 13


TEXTO: DESIGN CULTURA

HABILIDADE MANUAL ART/DESIGN

DOMINAR TÉCNICAS MANUAIS DE REPRESENTAÇÃO GRÁFICA COMO DESENHO, ESCULTURA, PINTURA, COLAGEM ETC. É ALGO QUE EXTREMAMENTE POSITIVO PARA SEU TRABALHO. O TRABALHO MANUAL, QUANDO BEM UTILIZADO, PERMITE QUE SEU TRABALHO ADQUIRA IDENTIDADE E VOCÊ PODE OFERECER UM DOS VALORES MAIS PROCURADOS PELAS EMPRESAS HOJE: EXCLUSIVIDADE.


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G

ostaria de destacar aqui que as habilidades manuais são muito mais úteis se forem utilizadas de forma conjunta com as habilidades nos softwares de computação gráfica, afinal de contas é bem mais restrito as aplicações de um desenho “cru” em uma peça de design.

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Design

Cria valor para o seu trabalho e sua marca pessoal

“É importante usar as suas mãos. É isso que diferencia você de uma vaca ou de um operador de computador.” Paul Rand

As habilidades manuais estão entre os valores que agregam muito valor ao seu trabalho e à sua marca pessoal. Tenho observado isso bastante em meu portfólio pois sempre procuro mostrar o processo criativo e as sketchs que desenvolvi para chegar ao resultado final de um projeto. Isso fez com que meus clientes passassem a valorizar muito meu trabalho e a me contratarem buscando um projeto com uma ilustração personalizada, sem querer parecer arrogante ou coisa do tipo mas é justamente por isso que nunca um cliente me disse a famosa frase “tenho um sobrinho que faz mais barato“, dominar um software qualquer um pode dominar, dominar uma técnica manual de representação já não é tão fácil. Destaca o designer da concorrência Com a grande quantidade de profissionais que trabalham como designer e também os que trabalham em áreas criativas como publicitários, arquitetos etc. é muito importante que o designer procure desenvolver algum diferencial. Sendo assim as habilidades manuais são um dos melhores diferenciais para os designers, como consequência disso você passa a receber mais propostas de clientes e, o que é melhor ainda, essas propostas virão de bons clientes e não daqueles que querem uma “logomarca” por R$ 50,00. D.



ENTREVISTA: MARINA Amaral FOTO: FULANINHO

andré grilo DESIGNER/FREELANCER

CADA VEZ MAIS, AS PESSOAS BUSCAM DIFERENTES FORMAS DE GANHAR DINHERO EXTRA OU DE GARANTIR MAIOR AUTONOMIA NA SUA VIDA PROFISSIONAL. PARA OS MAIS VARIADOS PERFIS E ÁREAS, TRABALHAR COMO FREELANCER PODE SER UM BOM NEGÓCIO! VEJA COMO ESSA RELAÇÃO DE TRABALHO SE ESTABELECE NA VIDA DE UM DESIGNER...


Na área de Design, a opção de trabalhar como freelancer aparece como uma alternativa de se inserir no mercado de trabalho. No entanto, por onde começar? Para sanar essa e outras dúvidas, conversamos com o designer freelancer André Grilo de Sousa. Devaneio: Como você começou a trabalhar como freelancer? Como surgiu essa ideia? André: Eu me interessei pela área de design através da web. Como eu gostava muito de acessar sites, eu comecei a querer aprender como fazê-los. E assim fui criando alguns sites e as pessoas passaram a pedir mais. Devaneio: Como foram os primeiros passos? Como conseguiu os clientes? André: Inicialmente, pessoas do meu convívio me pediam para fazer cartões de visita, folders, entre outras coisas. Eu concordava para enriquecer meu portfólio e para ganhar experiência. Isso foi antes de entrar na faculdade de Design e o que me motivou a buscar o curso. Depois, as pessoas passaram a me procurar por um trabalho específico que realizei, que viram em algum local. Devaneio: Como é a sua rotina de trabalho? André: Tem uma coisa interessante nessa vivência de freelancer. Quando eu fazia os freelas, normalmente eram demandas pequenas, peças gráficas, que permitiam conciliar o trabalho com as aulas da graduação. O que eu observo agora, é que para conciliar o trabalho de freelancer é um pouco mais complica-

do, porque temos de adequar o trabalho não só a nossa rotina, como também à rotina do cliente. Percebi que uma grande chave para trabalhar com freelancer é conhecer a rotina do cliente, porque é ele, por exemplo, que vai determinar o horário que vai chegar uma mensagem para refazer alguma coisa. Quando há um expediente definido, você já sabe seus horários, chega e bate o ponto, mas o freelancer não. Ele tem que saber dosar isso. Essa que é a grande complexidade do freelancer.

“Percebi que uma grande chave para trabalhar como freelancer é conhecer a rotina do cliente.”

André: No começo, como falei, trabalhava com sites então usava muito Firework, que era muito usada no campo do web design. Na parte de design gráfico utilizava muito o Corel Draw, mas hoje prefiro o Illustrator para finalizar o trabalho. Agora, uma ferramenta que eu utilizo muito mesmo, especialmente na criação de peças gráficas, é o Inkscape, que é uma ferramenta gratuita para desenho vetorial. Ele é muito mais fácil e cria formas mais orgânicas. Devaneio: Quais as principais vantagens em trabalhar como freelancer?

André: A vantagem é que você ganha experiência atendendo os clientes e em Design estamos sempre trabalhando com experiências. Há um contato direto com os clientes, eles têm o seu telefone e e-mail. Eles vão pedir as modificações diretamente a Devaneio: Que ferramentas você você, sem passar por um gerenutiliza para realizar seus traba- te. lhos?


Design

“Antes de fazer qualquer desenho, o designer escuta muito. Antes de desenhar qualquer coisa o designer deve ‘desenhar’ o probelma.”

Devaneio: E as principais desvantagens? André: A desvantagem é que no começo você trabalha sem o nome de uma empresa por traz. Até mesmo a sua idade torna-se um empecilho na hora de passar um orçamento. Os clientes sempre tentam baixar o orçamento com a desculpa de que estão divulgando o seu trabalho. A diferença de preço é gritante, principalmente, para quem está no começo. Devaneio: Em relação ao valor do serviço, como ocorre o processo de agregação de valor ao trabalho? André: No início eu não tinha muita maturidade para poder orçar os valores, então sedia muita coisa para ganhar experiência e criar um portfólio autêntico e consistente. Com o tempo, vamos criando pesos e balanceando valores de acordo com o que é requisi-

Devaneio: Já houve casos em que você fez todo o trabalho e o Devaneio: Como se dá a parte cliente se recusou a pagar porlegal de um profissional free- que não gostou ou qualquer outro motivo? lancer? tado pelo cliente.

André: Eu faço um contrato para ter bem estabelecido o que eu vou entregar, o tempo necessário e conceito. A partir disso, consegue-se estabelecer bordas para o projeto e o cliente vai saber o que esperar do trabalho. Um contrato ajuda a imprimir limites como, por exemplo, quantas vezes você vai refazer o trabalho, se for fazer mais do que o estipulado, tem um valor de acréscimo... Outro exemplo seria um contato firmado para confecção de um folder, mas que o cliente para a almejar toda a ambientação da empresa. Para concluir, Design não é só arte, não é só o visual, tem todo um âmbito burocrático, de estudo e planejamento.

André: Geralmente as recusas vêm mais de orçamento do que de ideias. Aprendemos a orçar antes de fazer as ideias e não o contrário. Devaneio: Qual conselho você daria para quem quisesse entrar nesse ramo? André: Escutar o cliente. Porque o cliente trás uma história e ele nos procura para resolver algum problema da história dele ou do público a quem ele atende. Antes de fazer qualquer desenho, o designer escuta muito. Antes de desenhar qualquer coisa o design deve “desenhar” o problema. D.


por Gisele Ribeiro, designer gráfica e autora do blog DesignCulture.com.br capa: raquel bemfica

MAS....

Por que Design? designer

QUEM LEVANTA A QUESTÃO E TENTA ENCONTRAR RESPOSTAS É A DESIGNER GISELE RIBEIRO, QUE ATUA COMO DESIGNER GRÁFICA HÁ 8 ANOS, DESENVOLVENDO INÚMEROS TRABALHOS, COMO IDENTIDADES VISUAIS, MÍDIA IMPRESSA E DIGITAL, FOLHETERIA E PAPELARIA. ALÉM DISSO, ELA CONTA COM A EXPERIÊNCIA DE 10 ANOS DE ATUAÇÃO COMO ASSESSORA DE COMUNICAÇÃO DE UMA GRANDE EMPRESA DO RAMO DE PETRÓLEO E GÁS, COORDENANDO E DESENVOLVENDO ATIVIDADES RELACIONADAS AO MARKETING, COMUNICAÇÃO INSTITUCIONAL E ENDOMARKETING.



Gisele começa relatando já ter feito essa pergunta a si mesma várias vezes, “nunca encontrando uma única resposta estritamente racional”. Veja o que mais ela tem a dizer... “Muitos podem achar que um designer é, na verdade, um artista frustrado, porque gostaria mesmo é de criar livremente, sem estar preso a nenhum limite, sem regras e com a mente totalmente despreocupada, coisa que passa longe da realidade de um designer. Poderia se dizer que o trabalho de um designer é cerceado por inúmeras regras visuais, publicitárias, ergonômicas, mercadológicas e, claro, a mais rígida delas, o cliente. Vendo por este lado então, podemos considerar real a afirmação de que um designer é um artista frustrado? Sim. Quem nunca quis fazer valer a sua vontade ou o seu gosto num trabalho? É normal, somos humanos. No entanto, seria completamente injusto rotular um designer como um artista que não aconteceu, porque o designer é um artista e, mais do que isso, tem um objetivo claro que move o seu trabalho. Mas voltando à fatídica pergunta: por que design?

Se designer não é artista, não é desenhista, não é publicitário, não é engenheiro, não é redator, não é jornalista,...se o mercado não entende o que faz um designer e, portanto, não valoriza o seu trabalho, se o designer tem que enfrentar um mercado infestado de pessoas que se dizem designers, sem ter a menor noção do que isso significa, se só o próprio designer entende que é um conjunto de todos os profissionais citados acima e ainda mais…então afinal de contas…por que design? Novamente, respostas puramente lógicas me escapam. Posso responder pela minha própria experiência. Escolhi design (ou ele me escolheu) porque para mim, trabalhar em algo que remetesse à repetição, à rotina, seria a morte. Porque ficar longe da criação e da expressão visual seria uma tortura. Porque vi no design uma alternativa de unir o prazer com o prático sim, pois, no meu caso particular, não serviria para ser artista. A liberdade total me bloqueia, preciso de um foco, de um projeto. Talvez outros designers possam se identificar com isso, talvez não. Cada um tem suas razões. Ser designer é um desafio dos mais difíceis e para escolher essa profissão há de

se ter paixão. E talvez este possa ser um gancho para a parte lógica da nossa pergunta inicial. Mas espera, paixão tem a ver com lógica? Eu prefiro acreditar que sim. Num mundo onde cada vez mais a tecnologia toma conta, onde o número de informações e estímulos de toda a ordem nos ataca a cada minuto, o que, no meio disso tudo, vai conseguir atrair a atenção das pessoas, senão aquilo que as tocarem de alguma maneira? Torço para que o mercado enxergue isso e acredito que isso vá acontecer inevitavelmente. Os seres humanos precisam se reconhecer como tal. E quando isso acontecer, o mercado vai entender que o cara que é só fera em Illustrator, aquele que domina todas as ferramentas técnicas vai ficar obsoleto E é aí que entra o designer com toda a sua paixão, com toda a sua multiplicidade de competências e com toda a sua capacidade projetual, de unir a arte com a função, para construir algo que vai tocar as pessoas. Nesse momento não somente nós vamos entender, como também o mundo vai compreender porque design.”

D.

e.


b.

a.

“Escolhi design (ou ele me escolheu) porque para mim, trabalhar em algo que remetesse à repetição, à rotina, seria a morte. Porque ficar longe da criação e da expressão visual seria uma tortura.”

d.

a. Ludwig Mies Van der Rohe b. joseph-muller c. Viviane Westwood d. Philippe Starcktwoo e. Patricia Ulquiorra

c.


Texto por Lúcia Freire Cartaz por Pedro Balduino

Uma Ostra que não foi Ferida não produz pérolas TEATRO

O GRUPO DE TEATRO PÉROLA, ORIGINOU-SE DO TRABALHO DE CONCLUSÃO DAS DISCIPLINAS ENCENAÇÃO II E ATUAÇÃO II, DO CURSO DE LICENCIATURA EM TEATRO DA UFRN. SEU PRIMEIRO ESPETÁCULO, QUE RECEBEU O MESMO NOME DO GRUPO “PÉROLA”, SURGE COM A PREMISSA DE DEBATER SOBRE AS MULHERES QUE ERAM CONTRA O REGIME MILITAR, DIALOGANDO COM AS TORTURAS MACHISTAS DA SOCIEDADE QUE CONTINUAM PRESENTES EM PLENO SÉCULO XXI.



Espetáculo Pérola - FOTO Taline Freitas Fotografia

“É de suma importância que o fazer teatral dialogue com nossas condições sociais e que nenhum momento de massacre do povo brasileiro seja esquecido.”

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O Pérola utiliza-se da hibridização contemporânea das estéticas teatrais, mas tem como base maior para o espetáculo o Teatro Épico de Bertold Bretch – essencialmente político, leva o público à reflexão através da quebra resultante da catarse e linearidade do espetáculo. Não cabe envolver, pura e simplesmente, o espectador em uma manta emocional de identidade com o personagem e fazê-lo sentir o drama como algo real, mas sim despertá-lo como um ser social.

criado pelo Regime Militar) e, a partir desse material, foram criadas dinâmicas de jogos para a criação de cenas. Sendo assim, o processo foi além das imagens e textos, explorando as sensações físicas dos atores. Com o intuito de naturalizar nos corpos dos artistas a figura do ator curinga – não se tem uma personagem definida, no entanto perpassa por várias – utilizou-se de muitos jogos de perseguição onde ora o jogador era o torturado, ora, o torturador.

Montagem do espetáculo

Espaço Cênico

O processo de montagem do espetáculo Pérola consistiu na coleta de depoimentos e imagens reais de mulheres que estiveram presas no DOI-CODI (Destacamento de Operações de Informações – Centro de Operações de Defesa Interna - órgão repressor

A proposição do espaço cênico em formato de cruz – onde o público se insere nas diagonais externas – abre espaço para diversas leituras e interpretações e coloca o público de maneira que cada um terá uma percepção e vivência diferente do espetáculo.


Além do espetáculo Pérola, o grupo encontra-se em um novo processo criativo de montagem, até então nomeado Colônia, pois traz o contexto do hospício em Barbacena/MG, onde mais de 60 mil brasileiros foram mortos. Funcionava como um verdadeiro campo de concentração nazista e era arma política do Estado. Todos julgados como “socialmente indesejáveis” eram trancafiados na instituição sem um devido laudo confirmando problemas cognitivos. Sendo assim, 70% dos internos não possuíam diagnóstico de doença alguma.

Foco de Trabalho Para o grupo, é de suma im-

Teatro

Projetos Futuros

portância que o fazer teatral dialogue com as condições sociais e que nenhum momento de massacre do povo brasileiro seja esquecido pelas gerações atuais e futuras. As opressões são o foco e se inserem no contexto dos recentes trabalhos produzidos pelos estudantes e artistas do grupo. O fazer artístico do grupo está ligado diretamente aos seus posicionamentos políticos, porque se acredita que o ser humano é composto por natureza e cultura. Por exemplo, o homem tem necessidade de comer, isso é natural, porém aquilo que comemos e a maneira como o fazemos, é cultural. Partindo dessa lógica, a sociedade deveria valorizar as produções culturais/ artísticas, já que estas são partes inerentes a própria condição humana. A arte é termômetro social, é arma política, é diálogo, é encontro, é revolução. D.

Espetáculo Pérola - FOTO Taline Freitas Fotografia

Espetáculo Pérola - FOTO Taline Freitas Fotografia


TEXTO: NATÃ BORGES

O que faz a Arte ser Arte? ARTE/TEATRO

(...) ONDOMINA ONDAZICA LARIRÁ ISONAUTA ONDANEIRA URUARO IA IA CAMPANUTO COMPASSEDO TRARARÁ (...) (HUIDOBRO, VICENTE. ALTAZOR E OUTROS POEMAS, 1991)


Grupo EmpreZa performances


“A arte contemporânea causa inquietação, provoca um estado de suspensão e possibilita rupturas.”

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“Agora ela [arte] se apresenta como uma duração a ser experimentada.” (Borriaud, Nicolas. Estética Relacional, 1998) D.

Teatro

Q

uando nos deparamos com a arte contemporânea e a analisamos, percebemos que há uma infinidade de estilos, materiais, suportes, linguagens e intenções. Os campos de criação se ampliam de tal forma, que elementos inusitados como luz, som, alimentos e até pessoas passam a ser utilizados. A intensa aproximação entre arte e vida nos desafia a reconhecer e refletir sobre a natureza da arte. Vivemos em uma explosão de emergências artísticas. Você já pensou, por exemplo, que um grupo de pessoas nuas, conectadas com o dedo indicador um no ânus do outro, fazendo com o grupo corpóreo movimentos circulares, pode ser arte? E um homem careca que fura sua testa ao ponto de sangrar, para então passar a cabeça em uma parede branca, deixando um rastro vermelho? E um homem que construiu uma cela de prisão em seu apartamento/estúdio, trancou-se nela por um ano e não leu, não falou, não escutou música, não se comunicou com ninguém? No nosso tempo não há restrições para apresentar uma produção visual e defini-la como arte. A arte contemporânea causa in-

quietação, provoca um estado de suspensão e possibilita rupturas. Aqueles que viveram em outras épocas experimentaram outras formas de arte que lhes eram possíveis. Na história da pintura, por exemplo, os artistas passaram séculos perseguindo a ilusão de profundidade. O entendimento sobre o conceito de arte emerge do contexto histórico, social e cultural em que se deu sua construção e percepção, e de uma série de possibilidades visuais. As atividades artísticas não possuem uma essência imutável, fixa ou rígida. Há um movimento de transformação de formas, modalidades e papeis que atualizam critérios de construção de linguagem e poética. Os artistas contemporâneos abarcam o interesse pelo corriqueiro e pelo acaso, criando obras que se aproximam do público, explorando outros locais de exibição, como ruas, postes, calçadas, outdoors, e ainda, alargando as tradicionais categorias que mapeiam nosso território artístico. A composição distintiva e “nobre” da arte dá lugar a uma arte relacional, como uma proporção para vivências, sendo, portanto, não um fim de um processo de construção, mas o local de negociação e propiciador de desdobramentos.


GALERIA

TRABALHOS DE ALUNOS QUE CURSAM A DISCIPLINA HISTÓRIA DAS ARTES II/2015.1 ART/DESIGN


TĂ­tulo A mĂŁo do amigo alien Thiago Barbosa/2015 thiago-nb.deviantart.com

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Design|Arte

Título California sky Larissa trindade/ fotografia e ilustração vetorial


TĂ­tulo Transflor - uma homenagem do dia das mulheres Clara Vasconcelos/2015

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Design|Arte

TĂ­tulo Going through strawberry fields Luiza Saad de Moura/ 2012


Design|Arte Título Bang! André Victor/2015 Ilustração feita com nanquim e canetas hidrocor.


Título Esquizofrenia - quatro mentes em um corpo André Soares/2014 Desenho em computador e aquarela a mão.

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Título Nina Isabela Graça/2015 Nanquim com finalização digital.

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Design|Arte

TĂ­tulo Black and White Gueto Marina Amaral /2013 Grafite sobre papel


Design|Arte TĂ­tulo Retrato do Chico Buarque Luiza Fonseca/2014 Grafite sobre papel


Título Radioactive Stéphanie Maia/2015

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T铆tulo A trindade que habita em n贸s... Johann Candido/2015 Pintura digital

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T铆tulo Matheus Nakamura F路bio Pinheiro de Lima L路pis e papel


TEXTO: LÍVIA STEVININ

PerfoRmance

ART ARTES/TEATRO

NO CONTEXTO DAS ARTES, O TERMO PERFORMANCE DESIGNA AS APRESENTAÇÕES DE DANÇA, CANTO, TEATRO, MÁGICA, MÍMICA, MALABARISMO, REFERINDO-SE AO SEU EXECUTANTE COMO PERFORMER. NA SEGUNDA METADE DO SÉCULO XX SURGE UM GÊNERO ARTÍSTICO NOS ESTADOS UNIDOS QUE SE CHAMA PERFORMANCE ARTE (PERFORMANCE ART), COM CARACTERÍSTICAS ESPECÍFICAS.


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Divulgação

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No contexto das artes, o termo performance designa as apresentações de dança, canto, teatro, mágica, mímica, malabarismo, referindo-se ao seu executante como performer. Na segunda metade do século XX surge um gênero artístico nos Estados Unidos que se chama Performance Arte (Performance Art), com características específicas. A performance arte (também conhecida como performance artística) surgiu por volta da década de 1960 e consiste numa forma de expressão artística que pode incluir várias disciplinas diferentes. Este tipo de evento poderia ser improvisado pelos artistas, e podia ter ou não um público. Em geral, segue um “roteiro” previamente definido, podendo ser reproduzida em outros momentos ou locais. Como pode ser realizada sem uma platéia depende de registros - através de fotografias, vídeos e/ou memoriais descritivos - para se tornar conhecida do público. Sendo citada como parte im-

portante das Vanguardas, a performance dividiu-se em vertentes ou estilos, como o Happening ou a Live Art. Diferentemente da performance, o Happening tem como principal divisor a obrigatoriedade do envolvimento da platéia, o abandono de uma linha central que funciona como “roteiro” e a espontaneidade da cena apresentada. Aparentemente improvisado o happening surgiu na década de 50 conceituado por Allan Kaprow com o principal intuito de misturar arte e vida, seguindo diferentes movimentos vanguardistas, mas criando uma nova estética de criação. O happening pode ser visto como uma evolução do expressionismo abstrato, tirando a arte do material e a tornando parte da rotina. Já a live art surge como forma de não-arte e de não-estética, buscando ainda uma maior espontaneidade, pluralidade e uma ainda maior ponte entre a vida e a arte. No entanto, tentar classificar a live art iria de contra a sua ideologia, já que a mesma não se considera arte


Muito além da estética a live art surge como forma de inclusão, como nova forma de comunicação

Teatro

e sim forma de “vida teatralizada”. Muito além da estética a live art surge como forma de inclusão, como nova forma de comunicação, uma contraposição a outras formas de arte e principalmente como desconstruidora de falsas aparências da arte contemporânea e da mídia. Assim como o happening e a performance, a live art tem um objetivo político, além do estético e do comercial. A live art explora ainda mais a liberdade criativa a partir de meios não convencionais, fugindo do comum construindo uma ideia de utilização do que não é visto como útil. Em busca da quebra não mais somente de conceitos e valores artísticos, mas de espaços. Por outro lado, o movimento artístico Fluxus, criado em 1961, teve um papel fundamental na divulgação e desenvolvimento desta forma de expressão (performance). Influenciado por outras vanguardas como o dadaísmo e o Bauhaus, Fluxus, criado a partir de artistas plásticos e músicos, abandonava primeiramente a visão da arte como mercadoria, se classificando como um movimento de antiarte. Uma das principais características do grupo foi à mistura de diferentes artes em suas criações, abandonando preconceitos e rivalidades na busca de um mesmo objetivo, político, social e artístico. Durante a década seguinte, torna-se mais forte a influência mútua entre os movimentos da Arte Minimal e da Arte Conceptual e a Performance Art, tendências que assumem o domínio. Nos finais do século, torna-se difícil estabelecer limites conceptuais para a Performance Art que é frequentemente confundida com o teatro, a música ou a dança, assumindo a designação de “Arte Viva”. A performance não nasceu para ser classificada, nasceu de

necessidade de certos grupos poderem trabalhar livremente todas as artes juntas, podendo assim fazer algo coletivo, uma produção conjunta. Não só da necessidade do trabalho coletivo nasceu a performance, mas também a busca pela quebra de divisões na arte. Trata-se, portanto de redefinir o lugar da obra de arte contemporânea e sua relação com o espaço para além dela. Vista como uma nova forma de arte ainda não encontrou o seu lugar. Perdida em meio às artes plásticas, cênicas e musicais nem os próprios artistas entram em consenso quando se trata de uma forma tão abrangente de expressão. D.

Allan Kaprow 49


TEXTO: MARIA LARISSA ALVES PESSÔA

DE GERAÇÃO EM GERAÇÃO CULTURA

FAZENDO PARTE DO NORDESTE BRASILEIRO, UMA REGIÃO RICA CULTURALMENTE, O RIO GRANDE DO NORTE É UM ESTADO REPLETO DE MOVIMENTOS ARTÍSTICOS QUE ATUALMENTE BUSCAM RESISTIR AO TEMPO E À CULTURA EXPOSTA NA GRANDE MÍDIA. ATRAVÉS DESSES MOVIMENTOS, CORDELISTAS, REPENTISTAS E GRUPOS DE DANÇA, RECONTAM A HISTÓRIA DO POVO POTIGUAR, MANTENDO VIVA A ESSÊNCIA DA NOSSA IDENTIDADE.


Grupo de Dança Popular do Marista 51 de Natal - Foto Divulgação


Movimento Culturais

O

Pastoril de Dona Joaquina, em São Gonçalo do Amarante, através do cordão azul e encarnado, da mistura do profano e do sagrado, saúdam o Messias cheio de dramaticidade. As rendeiras, em Ponta Negra, transformam linhas em singelas mantas, toalhas, enxovais e vestuário. Tudo feito minuciosamente à mão, com cuidado e a satisfação de repassar a arte de bordar, aprendida desde criança. Há também a herança deixada por Dona Militana, considerada a maior romancista do Brasil. Com o dom herdado do pai, cantou romances que narravam a história de guerreiros, reis e rainhas.

Em Caicó, a dança guerreira do Espontão, feita exclusivamente por homens ao som de instrumentos de percussão, honra Nossa Senhora do Rosário em seus festejos. Já o Boi de Reis, encontra em Joaquim Augusto da Silva, conhecido como Joaquim Basileu, Mestre do Amo Boi de Reis de Natal, a perpetuação de uma dança típica, realizada primeiramente em frente a igrejas, para que todos os brincantes possam ser abençoados por Deus. Os caboclinhos de Ceará-Mirim, grupo folclórico de feições indígenas utilizando cocares, arcos e flechas, dançam e dialogam ao som da flauta de taquara (de quatro furos). O Araruna, dança folclórica do Estado, legado de Cornélio Campina, encontra no bairro das Rocas, mais precisamente na Associação de Danças Antigas e Semidesaparecidas

Rendeiras de Ponta Negra Foto de Saskia Coutinho

Pastoril de Dona Joaquina - Grupo folclórico da cidade de São Gonçalo do Amarante - Foto Divulgação


Araruna, um espaço para preservar as 15 coreografias que envolvem dançarinos trajados de casaca, cartola e vestidos, que lembram as roupas utilizadas na época da aristocracia. Pode-se perceber que esses movimentos de resistência, nas suas mais diversas manifestações, trazem consigo o poder de religar as pessoas as suas origens, aos seus costumes e tradições. Por isso, há uma grande importância em manter vivos esses movimentos e, principalmente, promovê-los, para que haja a sua valorização e disseminação, dando o apoio necessário para que resistam e sejam repassados às gerações futuras. D.

Pastoril de Dona Joaquina no 49 Festival Nacional do Folclore - Foto de Isaias Carlos

Boi de Reis - Foto de Lenilton Lima Sr. Canindé - Mestre do Boi de Reis de Nísia Floresta

Pode-se perceber que esses movimentos de resistência, nas suas mais diversas manifestações, trazem consigo o poder de religar as pessoas as suas origens, aos seus costumes e tradições.

Dança Araruna - Alunos da Escola Bolshoi na Sexta com Arte de Danças Populares - Foto Vanderléia Macalossi 53


Fotografia/grafite por David Walker Texto por Hudson Santos

PIXAÇÃO GRAFFITI x

CULTURA

A PIXAÇÃO É ARTE COMO GRAFFITI? ANTES DE QUALQUER COISA, SIM E NÃO! POIS ARTE É ARTE, APENAS É ACEITA OU RENEGADA. E O GRAFFITI QUE O DIGA EM SEUS PRIMÓRDIOS... ANTES DA BELEZA DAS CORES, ANTES DOS GUETOS DE NOVA YORK, A CONTRACULTURA PUNK NO FIM DOS ANOS 70, NASCIDA DAS INSATISFAÇÕES SOCIAIS E DOS JOVENS REVOLUCIONÁRIOS DA INGLATERRA E ALEMANHA ORIENTAL JÁ RABISCAVA OS MUROS COM FRASES PROTESTOS CONTRA O SISTEMA.


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Movimento Culturais


“E mesmo assim, ainda existe preconceito. As pessoas ainda são conservadoras e tendem a renegar o que lhes é diferente. Mas isso não importa. Como dito anteriormente, arte é arte. Só cabe aceitá-la ou renegá-la.”

A pichação e o grafite são arte? Antes de qualquer coisa, sim e não! Pois arte é arte, apenas é aceita ou renegada. E o grafite que o diga em seus primórdios... Antes da beleza das cores, dos guetos de Nova York, a contracultura punk, nascida das insatisfações sociais e dos jovens revolucionários da Inglaterra e Alemanha Oriental no fim dos anos 70, já rabiscava os muros com frases de protestos contra o sistema. Não demorou muito para que o movimento atravessasse o Atlântico e influenciasse outras subculturas surgidas em Nova York, como o Hip Hop e o Rap, nos anos 80. O Grafite surgiu como contracultura e é uma das manifestações artísticas advinda destes movimentos, mas que logo cresceu e dominou a paisagem dos grandes centros do mundo todo. E claro, como toda contracultura, sofria preconceitos, era marginalizada e sempre se tentava reprimir qualquer um com uma lata de spray na mão. No Brasil, São Paulo foi o primeiro grande centro urbano onde essa street art explodiu! Desde os anos 90 até hoje, a cidade vibra com as cores do grafite em suas ruas e edifícios, como um gigantesco mural a céu aberto. E a pichação? Pois bem... A pichação também fazia parte da paisagem urbana e era usada como uma forma rápida de protesto. Mas com o tempo e a formação das gangues,

a pichação começou a ser usada para “marcar território” e assim, quem tinha mais muros pichados, era o mais considerado pelos demais. A Pichação ganhou fama de ato de jovens revoltados, que não perdem a oportunidade de rabiscar os muros alheios e, hoje em dia, particularmente no Brasil, a pichação é de uma forma e singularidade que não se apresentam em nenhum outro lugar do mundo. Pichadores da vanguarda sempre se lembram dos velhos tempos, pois havia respeito, existiam motivos para protestar dessa maneira. Um pichador que se prezava, refazia as mesmas letras várias e várias vezes, iconizando seu estilo... Hoje, eles lamentam a falta de bom senso dos mais jovens, que muitas vezes mal sabem o que fazem nas paredes das cidades. A maioria dos grafiteiros iniciou atuando nas ruas como pichador, começando a embelezar letras e formas, além de adicionar desenhos e cores. Assim surgem os “Grapiches”, que vem a explorar possibilidades mais artísticas da Pichação. Essa transição se deu no mundo todo. O grafite, mesmo tendo suas origens na ousadia e na ilegalidade, evoluiu, se multiplicou. Logo surgiram artistas, pessoas que dedicam suas vidas a transformar a paisagem pálida de concreto em algo vivo, colorido e pulsante. O grafite deixou as ruas e ganhou reconhecimento, entrou nas galerias e dividindo espaço com obras de Picasso e Monet. E mesmo assim, ainda existe preconceito. As pessoas ainda são conservadoras e tendem a renegar o que lhes é diferente. Mas isso não importa. Como dito anteriormente, arte é arte. Só cabe aceitá-la ou renegá-la. O que importa é que, mesmo com todos os contras, a evolução das técnicas e a personificação de estilos únicos fazem destes dois estilos uma das mais prolíferas e diversificadas manifestações culturais da atualidade. D. 57



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TEXTO: MARIA LARISSA ALVES PESSÔA

Visita à História de Natal ACADÊMICO

UMA AULA DE HISTÓRIA PODE SER SINÔNIMO DE MONOTONIA PARA MUITOS. UMA FORMA CRIATIVA DE INCENTIVAR O ESTUDO DESSA MATÉRIA É PROPORCIONAR AO ALUNO UMA EXPERIÊNCIA VISUAL VINCULADA AO APRENDIZADO EM SALA DE AULA. O TEXTO A SEGUIR SUGERE UMA DIFERENTE METODOLOGIA DE ENSINO E CONVIDA AOS LEITORES A UMA VISITA AO CENTRO HISTÓRICO DE NATAL.


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Igreja do Galo

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Altar da Igreja do Galo 62

aseado nessa metodologia, o professor de História das Artes II, do curso de Design da UFRN, Leandro Cavalcante, juntamente com Diego Souza de Paiva, que está realizando seu doutorado em História e Teoria da Arte na UFRJ, planejaram uma aula diferente, cuja proposta era a de fornecer elementos e informações relacionadas à história de prédios e monumentos do “Centro Histórico” da cidade do Natal. A aula também serviu como sugestão de roteiro para a posterior visita dos alunos. Segundo estudos apurados pelo Professor Diego, a história de Natal começa em 1501. Um ano depois de Cabral desembarcar por essas terras, o rei Dom Manuel, o Venturoso,

envia uma esquadra com o propósito de demarcar a posse jurídica de Portugal sobre as novas terras. Chegando nestas terras, onde hoje é a Praia de Touros, instalou-se um marco de pedra, com as armas da coroa portuguesa. A história desse marco é um dos elementos da polêmica tese do historiador Lenine Pinta, segundo a qual o Brasil teria sido “descoberto” não em Porto Seguro, na Bahia, mas sim no Rio Grande do Norte. Nas terras onde hoje é o RN, os europeus que aqui se instalaram foram os normandos (franceses), que se integraram mais facilmente com a cultura dos nativos, e basicamente contrabandeavam pau-brasil. No final do século XVI é enviada uma expedição com a missão de expulsar os franceses,


Praça André de Albuquerque

Corresponde ao marco zero da Cidade. No meio da praça encontra-se um obelisco, erguido na primeira metade do século XX em homenagem a dois heróis republicanos, que serão apresentados a seguir. Estamos no início do regime republicano no Brasil. Para o Nordeste, particularmente, temos a Revolução de 1817 (conhecida como a Revolução dos Padres), quando as províncias do Norte (Pernambuco, Ceará, Paraíba e RN), pregavam a separação dessas províncias do resto do país, e chegaram inclusive a instituir um governo. Nesse movimento, para o RN, temos dois nomes em particular: André de Albuquerque Maranhão e Frei Miguelinho. O primeiro, senhor do Engenho de Cunhaú, foi o responsável por instaurar um governo republicano no Rio Grande em 1817. O segundo personagem, nasceu aqui em Natal, no bairro da Ribeira, mas tomou parte da Revolução de 1817 em Pernambuco. Dessa forma, então, o Obelisco na Praça homenageia

Acadêmico

construir uma fortificação na barra do rio, além de estabelecer um povoado. É construído então um forte na barra do rio, iniciado no dia 06 de janeiro (dia de reis, por isso Forte dos Reis Magos). A construção foi feita de barro e madeira. Hoje o Forte abriga o “Marco de Touros” e, no local de origem, possui hoje uma réplica. A certa distância da fortaleza, num ponto alto – também pensado em termos estratégicos – foi criada, por decreto, em 25 de dezembro de 1599, a cidade do Natal. Na ocasião havia apenas uma pequena capela e um pelourinho. A capela foi erguida no lugar onde hoje se situa a Antiga Matriz e o que sobrou do pelourinho está ao lado da porta de entrada do Instituto Histórico e Geográfico. Outras importantes referências históricas da cidade encontram-se nas localidades descritas a seguir.

Escultura na saída da pinacoteca

Escultura pinacoteca

Escultura na saída da pinacoteca

essas duas importantes figuras. A sua inauguração foi o ponto alto de um cortejo cívico partindo da Rua, que desde 1906 passou a se chamar Frei Miguelinho, na Ribeira. O cortejo, puxado por um carro triunfal composto de um globo, com o mapa das quatro províncias que tomaram parte da Revolução de 1817. Dentro do carro, uma jovem representando a liberdade portava duas bandeiras, uma da Revolução de 1817 e outra da República de 1889.


Acadêmico

“O prédio da Antiga Matriz passou por várias alterações. Na época do domínio holandês, no século XVII, virou templo protestante, e quando foram expulsos, os batavos destruíram quase tudo. ”

Obelisco

Antiga Matriz Da Praça vemos a Antiga Catedral. A igreja está no lugar onde foi construída a primeira capela, concomitante à fundação da cidade. Obviamente o prédio passou por várias alterações. Na época do domínio holandês, no século XVII, virou templo protestante, e quando foram expulsos, os batavos destruíram quase tudo. A igreja foi reconstruída e só em 1862 foi construída sua torre. Um aspecto interessante em relação à Catedral é que ela foi objeto de um processo de restauro em 1995, no qual encontraram os restos mortais de André de Albuquerque Maranhão, para quem foi feita uma lápide.

Memorial Câmara Cascudo Saindo da Catedral, ao lado direito, estamos diante do Memorial Câmara Cascudo, prédio que foi construído no final do século XVIII com o intuito de comportar os serviços administrativos da Fazenda Real. Em estilo neoclássico, foi tombado em 1989 e foi palco de acontecimentos históricos importantes, como o Movimento Republicano de 1817. No térreo tem-se, à esquerda, um ateliê de desenho e pintura, e à direita, uma exposição sobre as pesquisas folclóricas de Câmara Cascudo. Por fim, no primeiro andar, desde 2014, há uma exposição permanente sobre a História da

Soberanos e Descobridores Memorial Câmara Cascudo

“No Memorial Câmara Cascudo, há uma exposição permanente sobre a História da Cidade do Natal, baseada no livro de Cascudo.”

Cidade do Natal, baseada no livro do Cascudo. Curiosidade: a exposição conta com um boneco retratando André de Albuquerque aos pés do qual estão os restos dos grilhões que foram encontrados na sua cova na Antiga Matriz.


“A polêmica tese do historiador Lenine Pinta, levanta a hipótese de o Brasil ter sido “descoberto” não em Porto Seguro, na Bahia, mas sim no Rio Grande do Norte. ” Memorial câmara cascudo

Palácio Potengi

A Coluna Capitolina

Memorial câmara cascudo boi bumbá

Coluna Captolina

Saindo do Memorial, do outro lado da Antiga Catedral, temos o prédio do Instituto Histórico e Geográfico do RN, onde encontra-se uma réplica do Marco de Touros e uma estola do Frei Miguelinho. Mas o interessante aqui está no Largo do Instituto: a Coluna Capitolina. Presente do Governo italiano, em 1930, para celebrar o feito de dois pilotos italianos (Carlo del Prete e Arturo Ferrarin) que fizeram o primeiro voo, em 1928, sem escalas (49 horas), de Roma à Natal. A coluna inicialmente foi colocada e inaugurada na Ribeira. Perdida durante a Intentona Comunista (considerada um símbolo fascista, tento em vista que foi presente do governo de Mussolini), foi reencontrada posteriormente e posta no Baldo, de onde veio para o Largo do Instituto.

Por fim, há o Palácio Potengi, sem dúvida a maior expressão da arquitetura neoclássica em Natal, cuja construção se deu entre os anos de 1865 e 1873. A intenção de criar o prédio foi para que ele servisse como Tribunal do Júri e também como Assembleia Legislativa. O Palácio foi sede do Governo do Estado de 1902 a 1995, e hoje é um centro cultural que abriga a Pinacoteca do Estado (cujo acervo conta com obras de artistas locais, nacionais e internacionais).

“O Palácio Potengi é, sem dúvida, a maior expressão da arquitetura neoclássica em Natal.”

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TEXTO: MARINA AMARAL

TEATRO NO IFRN?? ACADêmico

ANDRÉ VICTOR, LUÍZA SAAD, E LUÍZA FONSECA, ATUALMENTE ESTUDANTES DE DESIGN NA UFRN, CONTARAM EM ENTREVISTA DESCONTRAÍDA COMO FOI A EXPERIÊNCIA DE PRODUZIR E ATUAR NUMA PEÇA DE TEATRO, EM UM PROJETO VIABILIZADO PELO INSTITUTO FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE – IFRN.


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O

Instituto Federal do Rio Grande do Norte – IFRN, é bastante conhecido por prover a formação técnica de muitos profissionais, contribuindo, assim, para o desenvolvimento da região. Entretanto, muitos desconhecem que no Instituto, certos grupos de alunos, produzem e apresentam peças de teatrais. Tivemos a oportunidade de conversar com alguns desses alunos - André Victor, Luíza Saad, e Luíza Fonseca, agora já formados, que compartilharam um pouco dessa experiência em uma entrevista descontraída.

Turma da aluna Luiza Fonseca, no encerramento do espetáculo

“Definida a peça, vinha todo o trabalho de levantar as características das personagens, como vai ser a fala, o jeito de andar, enfim, sua personalidade. É uma forma de imersão na sua personagem, o que era bastante cansativo.”

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Acadêmico

André Victor, ex-aluno de Edificações do IFRN

Luiza Fonseca, ex-aluna de Eletrotecnica do IFRN

Devaneio: Qual era o curso de vocês e porque fizeram uma peça de teatro? André: Meu curso era Edificações e a peça fez parte da proposta da disciplina de Artes Cênicas, disponível aos alunos dos cursos integrados (que duram 4 anos e compreendem o ensino médio mais a formação técnica). O último módulo dessa disciplina era a produção de uma peça de teatro feita por nós mesmos. Dividimo-nos em grupos e éramos responsáveis por tudo, desde o roteiro até o cenário, além de subir no palco... (risos). Luíza Saad: Eu fiz Controle Ambiental e como já foi falado, trabalhamos praticamente durante todo o processo sozinhos. Luíza Fonseca: Eu fazia Eletrotécnica e foi esse mesmo o processo, mas agora mudou, parece que o professor dá uma força também... (risos). Devaneio: Como se deu o processo de construção da peça e das personagens?

Luiza Saad, ex- aluna de Controle Ambiental-IFRN

Luíza Saad: O processo era complicado, pois cada um lia um livro pensando na peça e depois escolhíamos a melhor história, e começávamos a produção, mas o professor vinha

e sugeria outra [história]... (risos). Definida a peça, vinha todo o trabalho de levantar as características das personagens, como vai ser a fala, o jeito de andar, enfim, sua personalidade. É uma forma de imersão na sua personagem, o que era bastante cansativo. André: Acho que todos nós passamos por isso. Devaneio: Sobre a distribuição das personagens, cada um podia escolher seu papel? André: Não, era uma decisão do grupo. Por exemplo, minha personagem foi o grupo que definiu. Devaneio: E como foram escolhidos os temas das peças? Luiza Saad: Éramos divididos em grupos, um grupo pegava comédia, outro tragédia. Devaneio: Como foi apresentar a peça depois de todo esse processo? Luiza Saad: Foi muito legal, pois era um evento e tanto! Havia ingressos, seus conhecidos na plateia, você sobe no palco e tudo se transformava... você vê toda aquela gente e dá um frio na barriga...mas no fim, tudo acabava fluindo. Foi maravilhoso! D.


TEXTO: LEANDRO AUGUSTO

ENSAIO SOBRE O PODER TEATRAL EM DESPETRIFICAR ALUNOS DE UMA MEDUSA CHAMADA ESCOLA ACADÊMICO/TEATRO

O PRESENTE ENSAIO APRESENTA UMA ANALOGIA DO MITO DA MEDUSA ARCAICA COM O SIMBÓLICO DE UMA ESCOLA PÚBLICA SITUADA EM NATAL-RN, NO QUAL TORNA OS CORPOS DE SEUS ESTUDANTES PETRIFICADOS AO POSTERGAR UM SISTEMA DE ENSINO ENGESSADO POR OLHARES TRADICIONAIS. AO MESMO TEMPO, PROPÕE O ENSINO DE TEATRO COMO FORMA DE DECAPITAR A MEDUSA E FAZER MOVER ESTÁTUAS QUE NÃO ACREDITAVAM MAIS SER POSSÍVEL VOLTAR A EXPRIMIR SUAS VONTADES PRÓPRIAS.


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Medusa descrita no livro Prometeu Acorrentado, de Ésquilo Medusa é uma das três Górgonas. Filhas de Fórcis, chamam-se Euríala, Esteno e Medusa. Das três, indubitavelmente, a última é a mais bela. Até algum tempo atrás, todas as mulheres tinham inveja da sua beleza, em especial da sua bela cabeleira negra. Seus cabelos eram tão escuros e sedosos que pareciam fios da noite a escorrer sobre seus ombros. [...] um dia a mais bela das Górgonas apaixonara-se por Netuno, o deus dos mares. Certa feita, tendo marcado um encontro amoroso com ele num dos templos de Minerva, acabara provocando a ira da deusa. Sedenta por vingança, Minerva decidiu punir a jovem, transformando sua linda cabeleira num ninho das mais horrendas serpentes. Transformada, assim, numa detestável criatura, Medusa foi se refugiar numa gruta fortificada. Dizia-se que possuía agora o dom de converter em pedra todo aquele que a encarasse e que este era seu maior deleite desde que fora alvo da nefasta ransformação.

Medusa Murtola, de Caravaggio

ENTRANDO NO ANTRO DA MEDUSA O início se dá na perspectiva do olhar. Ser herói ou monstruoso nunca dependeu apenas de si, pois se consagrou nas relações estabelecidas com outros entes a partir das imagens que estas relações levantavam acerca dos atos realizados dentro da comunidade. Por isso, é importante um olhar paradoxal, que conecte a imaginação às formas de compreensão míticas inseridas numa realidade educacional específica. Imagens são carregadas de símbolos arquetípicos que, por vezes, nos levam a pensar sobre os significados e a origem destes quadros imagéticos na sociedade. Nesse ponto, os mitos convergem para um caminho ilustrativo, esclarecendo a partir de histórias, processos turvos de nosso consciente. Para Everardo Rocha “O mito é uma narrativa. É um discurso, uma fala. É uma forma de as sociedades espelharem suas contradições, exprimirem seus paradoxos, dúvidas e inquietações. Pode ser visto como uma possibilidade de se refletir sobre a existência, o cosmos, as situações de “estar no mundo” ou as relações sociais”. Sendo o mito uma narrativa reflexiva deve-se pensar também, se ela é feita de uma voz isolada dentro de uma experiência pessoal, ou se é refração de um coletivo mergulhado

nas formas de vida conjunta. Campbell traz uma explicação elucidativa sobre isto quando remete a analogia do sonho: “[...] o sonho é uma experiência pessoal daquele profundo, escuro fundamento que dá suporte as nossas vidas conscientes, e o mito é o sonho da sociedade. Se o seu mito privado, seu sonho, coincide com o da sociedade, você está em bom acordo com seu grupo. Se não, a aventura o aguarda na densa floresta a sua frente”. Neste sonho coletivo, ou seja, mítico, pede-se ao leitor que adentre no objeto específico deste artigo, pensando inicialmente no significado da palavra aluno e escola. Comumente, associamos o primeiro a alguém que está em processo de aprendizagem, frequentador de um espaço chamado escola, detentora de pessoas preparadas para lhe ensinar algo de “utilidade”. Nesta descrição, temos que a palavra aluno significa, na verdade, alguém sem luz própria: a (não) luno (luz). Este conceito traduz o pensamento que ainda se constitui, na atualidade, sobre um estudante. E a escola – com seu sistema compartimentado e tradicional – continua reproduzindo este estereótipo de pessoas sem luminosidade. Corpos dóceis e disciplinados para se renderem ao sistema de adestramento, no qual a escola ocupa lugar de destaque.


Quem é a Medusa? Na mitologia grega Medusa significa protetora guardiã. Mas a quem a escola guarda e protege? E quando se guarda algo, também não se deixa a carta dentro do baralho infinito da conformidade, sem nunca revelar sua plenitude? Há, portanto, uma analogia do mito da Medusa com os corpos presentes nesta escola, aonde o aluno vai se transformando (dependendo das experiências) em uma estátua petrificada, sem movimento, sem luz, sem vontade própria. As várias Medusas bloqueiam.

MEDUSA: As paredes e as coisas

Reporto às paredes como um ser petrificador, porque criam entre os corpos um corte de relação, incrustando na mente dos seres da escola que o contato deve ser evitado. As paredes servem como isolamento, delimitando o controle de deslocamento dos corpos, bem como os objetos (carteiras, mesas, portas fechadas) se tornam barreiras intransponíveis. As paredes geram hierarquias, e desigualdades de poder, porque dividem o espaço entre aqueles que podem ter acesso livre e os demais, que não. Sala dos professores, sala de cada turma, sala da biblioteca, sala da direção, sala da se-

cretaria, todas as salas funcionando para manter o sistema, e as paredes servem a este sistema. O portão bloqueia o andar, o refeitório, junto com o toque do sino, propõe o jeito certo de comer, sentar, ficar e rotinar o ato de comer. Enquanto isso, os banheiros (espaço escondido) se transformam em objeto de revolta e quebra destas barreiras.

MEDUSA: As pessoas

Esta Medusa é uma das mais daninhas ao frequentador da escola, já que faz parte dela todos indiferentes ao estudante. Muitos que, por meio do olhar julgador, congelam o ato de pensar, e, por consequência, a ação do caminhar. As pessoas que fazem a escola são responsáveis por todo aprendizado formal e informal. A informalidade (muitas vezes desestimulada) está nas conversas paralelas, nos intervalos, nas brincadeiras, e são resistências a esta paralisia “medusante”. As Medusas retiram notas, colocam faltas, suspendem, humilham e vão destruindo o caminho destes nunca Perseus.

MEDUSA: O sistema pedagógico paralisante

A educação formal é seguida por didáticas de aula repressoras ao movimento dos corpos (e da voz que é corpo), ao ponto de se criarem estraté-

gias de controle e punição. O tradicionalismo pedagógico, como serpentes encaracoladas, tonteia e adormece a mente dos alunos, pois as aulas se dão na cópia de textos e no exercício “colado” de outros colegas. As mesmas carteiras enfileiradas marcando o lugar para onde não se deve sair. Nestas carteiras, “avaliações” em papel servem de instrumento para aprovar ou reprovar alunos com notas numéricas passadas para um diário, também de papel. Com este sistema, vivemos uma hierarquia de disciplinas, que gradeia o currículo e sugere a importância da matemática e português em detrimento de teatro, música, dança, artes visuais, filosofia, sociologia.

MEDUSA: A Burocracia

Dentro de um sistema público de educação a Medusa da burocracia entra em evidência. Esta Medusa afeta a todos. São tantas serpentes agindo para ludibriar a gestão, ou o desejo de crescer, que é impossível se desvencilhar dela. Nesta burocracia estão inclusas as atribuições variadas dos professores, diretores, secretários e alunos. Planilhas de prestação de contas, diários de classe, listas de frequência, memorandos, ofícios, avaliações, são apenas alguns documentos que servem à organização, mas que paradoxalmente entravam o sistema. 73


Os alunos vão entendendo aos poucos, sobre o que é presença, participação, avaliação, responsabilidade, instrumentos de aprendizagem, reflexão, convivência, saberes compartilhados...

Escudo de Atena

O que é o escudo de Atenas? O elmo de Hades? As sandálias aladas de Hermes? Todos estes acessórios fazem parte do arcabouço teórico e prático que o Teatro (ou a arte) traz para um aluno conseguir se transformar em um Perseu. O escudo de Atenas, que na mitologia serve de proteção e espelha o reflexo da Medusa, serve pelo teatro, para preparar o aluno nas questões de argumentação, desinibição e criação de estratégias para refletir sobre sua existência, e ainda, para dispersar o reflexo negativo despendido pelas várias Medusas da escola. O elmo de Hades dá a Per-

seu o poder da invisibilidade. É através deste elmo que o aluno não mais se sente vigiado por um olhar ameaçador, pois tem a condição de ser feliz do jeito que é. O teatro apresenta a possibilidade do aluno não ser mais um foco de deturpação de sua imagem. As sandálias aladas de Hermes são a personificação da libertação dos alunos transformados em Perseu. Estas sandálias que fazem Perseu voar compreende um estado de despetrificação total. Nem todos chegam a este estágio, mas experimentam, por meio dos jogos teatrais, a ampliação de seus horizontes criativos. O surgimento de Pegasus Pegasus, o cavalo alado, aparece após a cabeça da Medusa ser cortada. Ele é um símbolo de libertação da poesia, escondida no mais íntimo ser da Medusa. Sendo assim, a libertação poética acontece nos alunos, pois Perseu monta no Pegasus, bem como os alunos se descobrem amantes da arte. A poesia destes Perseus se encontrava presa e petrificada, entretanto, ao se sentirem for-

Elmo de Hades

tes, os alunos contestam a educação e a forma como querem ser ensinados. O poder do teatro: Enfretamento O teatro do enfrentamento se dá na ação propositiva de professores de teatro, que não querem reproduzir apenas modelos pesquisados de sucesso, mas propor formas diferentes de aulas. Este enfrentamento ocorre de variadas maneiras, porém aqui são citadas três alternativas. O enfrentamento interno está sujeitado aos valores e à formação do professor. Entender-se como alguém mutável não é fácil, pois lida com convicções e certezas que o sistema exige serem ensinadas. No entanto, o professor de teatro deve saber que não é possível estabelecer conformidades em relação aos saberes desta área, pois o próprio teatro é uma arte da ação e reação. É preciso enfrentar certezas afirmadas na universidade para adquirir repertórios próprios e estabelecer novas maneiras de lidar com o novo. Convencer-se de que não é viável trabalhar com teatro


Sandálias de Hermes

numa escola desprovida de recursos é a escolha mais comum, contudo conseguir trabalhar com teatro rompendo as paredes e o juízo das pessoas torna a empreitada mais digna e reconfortante. O enfrentamento das pessoas também é uma esfera complicada, porque não temos apenas uma ou duas pessoas na condição de antagonista, e sim dezenas. Professores não estão acostumados a aulas que sejam tão distintas das tradicionais, e lançam olhares desconfiados. As aulas já não são dentro das paredes da sala, o refeitório não é só para comer, a quadra não tem apenas bola, mas bastões, cordas, caixas, roupas e outros objetos mobilizadores. Os próprios alunos, adestrados para práticas tradicionais de aula, demoram a compreender o que significa liberdade e respeito. Os alunos vão entendendo, aos poucos, sobre o que é presença, participação, avaliação, responsabilidade, instrumentos de aprendizagem, reflexão, convivência, saberes compartilhados, entre outros, e vão virando protagonistas de sua autonomia pedagógica com orientação de todos, inclusive do professor.

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O último enfrentamento é o do sistema, que ainda é engessado em relação ao protocolamento das ações educativas. É exequível uma aula diferenciada, no entanto, os registros de aula e notas ainda atam as mãos do professor e dos alunos. Para tanto, pode-se adotar a estratégia de que todos os alunos começam com a nota máxima e só precisam mantê-la, participando das atividades práticas e reflexivas. Isto faz com que alguns relaxem, mas são lembrados sobre a responsabilidade de manterem suas notas. De início, muitos ignoram e descumprem o que é combinado, no entanto, ao perceberem de que estão sendo responsáveis diretos por suas perdas, começam a reestabelecer uma conduta de respeito para com eles mesmos. D.

Marqueste Perseus draeber Medusa 75


D.


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