A bailarina

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A Bailarina Baseado na obra de JĂŠssica Oliveira

Por FĂĄbio Pinheiro



Capítulo 01 O clima noturno era frio, o céu estava pesado de nuvens cinzas parecendo que voltariam a desabar a qualquer momento sobre nossas cabeças. Minha respiração se condensava ao encontrar-se com o ar gélido, resultando em uma fumacinha incomum para os trópicos. Eu estava ofegante enquanto era conduzida, com os punhos algemados para trás e um policial barrigudo segurava com força meu braço direito, para a viatura parada às pressas ao meio fio da rua encharcada pela chuva. Suas luzes azuis e vermelhas piscavam incessantemente no capô do veículo escuro, cujas laterais estavam escrito “POLÍCIA”. Isso era o bastante para chamar atenção de curiosos que agora enchiam o local. Eu estava toda encharcada até os ossos pela chuva, vestia apenas um short jeans rasgado e curto e um moletom roubado três dias 1


antes. Parecia maltrapilha com vestes de segunda mão enquanto o policial barrigudo, cujo nome estava escrito no fardamento cinza-escuro como Rubens, abria o porta traseira da viatura e me inseria lá dentro como igual uma suspeita de assassinato, fechava a porta e deixou um pequeno espaço na janela de vidro transparente para circulação de ar. Eu estava exausta. Estava exausta de tudo. O interior do veículo tinha um odor acre seco de suor masculino impregnado. Olhei para a multidão que agora me observava com olhos virados, suspeitos como se eu tentasse roubar o bem mais preciso deles e, em especial um, o detetive Bartholomeu, me. Me encostei no banco e fechei os olhos por um instante desejando que tudo aquilo acabasse logo, enquanto o burburinho da multidão se afastava cada vez mais da minha mente. Vocês podem está se perguntando o que foi que eu fiz para ter sido presa logo no início dessa história, ou quem é essa louca que 2


mal conheci e já considero pacas? Se você estiver fazendo esta última pergunta, você deve ser louco e possuir algum grau de psicopatia e feitio por bandidagem e vadiação. Se pretendes prosseguir com a leitura aviso logo que sou a mocinha da história e que a mesma é bem triste. Se esperavas um final final feliz, por favor, procure outra leitura, pois aqui você não encontrará nenhum final feliz, somente desgraça, dor e desilusão. Se não quiser continuar, eu entendo, mas por favor, pare agora!

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Capítulo 02 Eu o conheci de manhã cedo quando uma das minhas amigas apareceu degolada. Era Catarina Belfort e eu voltava de uma noite movimentada quando a encontrei afogada em seu próprio sangue coagulado. Fiquei arrasada, em estado de choque, não entendia quem poderia assassinar uma pobre coitada, como ela, que não tinha onde cair morta. A polícia chegou cedo e cercava o corpo roxo iguais abutres quando encontram carniça, Juliana Tavares estava com eles sendo bombardeada de perguntas. Em seu rosto era visível o sofrimento: olhos mareados, mãos tremulas, cabelos maltratados, olheiras profundas em um rosto que agora exibe o pesar dos quarenta anos de idade aos vinte e seis. A ponte em que vivíamos estava bloqueada, era cena de crime. Fui barada ao tentar ir para casa por um policial mal-humorado. 5


É… minha casa era sobre as estrelas, eu morava debaixo da ponte e não fazia muito tempo. Mas lá estava ele, todo lindo, com seus olhos azuis e cabelos cor de areia, jeans azul justo e colete a prova de balas sobre a camisa social branca, tão sexy, vindo em minha direção. Eu senti o meu corpo estremecer e o meu coração disparar e uma dor alucinante subir ao meu peito como se eu fosse enfartar ao ver aquele homem. Já havia acontecido essa mesma sensação antes em outra época de minha vida, em resumo, não acabou muito bem - pra ele, diga-se de passagem, e por sorte, este era apenas algo passageiro, eu iria vê -lo apenas esta vez e nunca mais iria encontrá-lo novamente. Era estranho sentir isto, mas em comparação com o anterior, eu disse a mesma coisa e acabamos nos envolvendo calorosamente nos cobertores por diversas vezes. Ajeitei rapidamente os cabelos e pus uma mecha ruiva atrás da orelha. Droga, eu 6


parecia uma prostituta aquele momento, me odiei por isso, mas tentei fingir que estava tudo bem, até porque estava. Ele dispensou o policial que me abordou, se apresentou como detetive Bartholomeu e perguntou se eu conhecia a vítima. Fiquei impressionada como seus olhos eram de um azul profundo, mas tão profundo que dava pra se afogar com aquele olhar e o seu queixo tinha um buraquinho no meio que lhe dava o ar de durão, seu hálito tinha um frescor tão intenso de hortelã que achei que havia mascado um ramo inteiro da planta. - Vocês moram juntas há quanto tempo? perguntou ele do outro lado da faixa. Agora, o corpo estava sendo removido pelo IML. - Não muito, apenas há alguns meses - eu estava começando a ficar nervosa com aquele olhar. - E, você sabe se ela tinha algum envolvimento com drogas, possuía rivais, sofria 7


algum tipo de ameça? Respirei fundo. - Ela cheirava pó de vez enquanto - parei para pensar um pouco. -Hmm, acho que ela devia grana pra alguém, não sei bem, mas acho que sim. - Mas vocês não moram juntas? - diz ele como se isso quisesse dizer muita coisa. - Sim, mas não sou o macho dela pra saber de tudo o que ela faz ou deixa de fazer. Olha, vai demorar muito com tudo isso? Tô cansada, trabalhei a noite toda e queria dormir um pouco… - toda aquela conversa estava realmente me deixando mais cansada. Houve um pouco de hesitação por parte dele, me observou por um instante, senti aqueles olhos vasculharem a minha alma só ter um breve contato com eles. Fiquei toda errada. - Não, não. Isto deve bastar - e do bolso traseiro retirou um cartão e me entregou. - Se lembrar mais de alguma coisa, fale 8


comigo. Daqui há algum tempo tudo estará liberado e poderá dormir um pouco - falou ele enquanto se afastava de mim e meus olhos sem querer repararam que sua calça estava marcando sua bunda. Não entendi o motivo, mas foi aí que eu soube que esta não seria a última vez que tornaria a encontrar o detetive Kelly Bartholomeu.

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Capítulo 03 Mas isto não é o começo do meu infortúnio, não se enganem. Meu nome é Luna Bring, mas pelas ruas sou conhecida pelo nome de “A Bailarina”. Sim, eu sou bailarina profissional, pelo menos eu fui algum dia. Não faz muito tempo que ando pelas ruas de Cerconcity, maltrapilha, jogada a própria sorte como um lazarento. Mas o como eu vim parar aqui que é engraçado. Bem, não tão engraçado quanto contar uma piada extasiante, mas engraçado do ponto de vista que o mundo é cruel, ora vezes ele te dá o mundo aos seus pés com milhares de pessoas te aplaudindo de pé, reconhecimento, fama e viagens, ora ele corta todo o barato, te derruba do pedestal, te pisa, te chuta até sangrar por onde for possível e te deixa definhar imunda na sarjeta sem um pedaço de pão velho para comer na noite mais fria. Te contei que minha história não era feliz, mas é por esses caminhos 11


que minha vida anda atualmente: na sarjeta. Cresci no orfanato, nunca conheci meus pais de verdade, as vezes tento lembrar do rosto deles, mas é como se eu os visse como um borrão em minha lembrança. Não faz diferença, não tento pensar neles, já passei dessa fase. O orfanato foi o meu segundo lar, ou o mais próximo disso. Dizem que os meus pais morreram em um acidente de trânsito: um caminhão em chamas pegou em cheio o carro que meus pais, e eu, estávamos, ou algo assim, não sei bem dos fatos verdadeiros. Lembro-me apenas de um calor intenso, de chorar muito no escuro e de uma grande bola de fogo seguir de uma fogueira. Sempre ecoa uma voz em minha cabeça dizendo que eu saia, que vá para o mais longe, bem longe e que não parasse até estar segura. Foi aí que fui encontrada na estrada por um casal quando passava pelo local do acidente, chorando, o catarro tomando posse do meu pequeno rosto, com os pés descalços e feridos 12


e formigas me achando como um banquete formidável e suculento. Devia ter uns três anos de idade quando fui levada para essa nova morada. Não parava de chorar toda noite, e mais ainda quando meus novos pais foram encontrados mortos na casa em que moravam, apenas alguns dias depois que fui morar com eles. Não lembro do nome deles, mas sei que tinham dois filhos: um da minha idade e o outro mais velho. O mais velho foi achado morto com marcas de dedos no pescoço em algum lugar da casa e o outro estava escondido comigo debaixo da cama- por de trás de uma montanha de trecos que nos escondiam de quem nos ameaçava-,quando fomos achados pelos policiais. Foi neste momento em que fui parar em orfanatos. Troquei de orfanato três vezes até os doze 13


anos. Nunca tive uma infância normal, as crianças me vinham como uma ameaça, por vezes eu ouvia murmúrios, sussurros delas que eu causaria um incêndio, que mataria elas quando estivessem dormindo ou até mesmo apelidos maldosos. Quando me aproximava de um grupo, eles silenciavam e saiam calados e logo em seguida voltava a algazarra. Talvez fosse a causa de ter o cabelo cor de ferrugem e a pele manchada que os fazia caçoarem de mim ou até mesmo as provocações que eu não aceitava e partia para a briga. Mas em ambos os casos, as crianças morriam de medo de mim.Todas as crianças não gostavam de mim e desconheço o motivo.

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