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Métrica da vaidade das redes sociais, pág
E foi ponderando este descaso que as mulheres negras iniciaram seus próprios movimentos para a igualdade de direitos, “atestamos e promovemos uma perspectiva feminista negra que aflora da situação específica do que é ser mulher negra e, comumente pobre, traçamos por fim o papel que essa concepção tem na luta antiracista no Brasil” ⁷ .
É possível entender que para a mulher negra ganhar um pequeno espaço nessa sociedade rica em raça e cultura foi necessário que a mesma batalhasse para que isso ocorresse, contando apenas com o suporte de suas companheiras negras que buscaram e lutaram pelos mesmos ideais, a liberdade profissional e de gênero tal luta resultou em vitórias profissional não tão consideráveis comparando a situação em que se encontram. ⁷
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“Ainda que, avanços tenham sido alcançados pelas mulheres no mercado de trabalho, operando posições relevantes a nível profissional, este avanço foi muito circunscrito referindo-se à população negra. Há uma pequena parte de mulheres negras trabalhando como executivas, médicas, juízas, dentre outras profissões de destaque; a grande maioria ainda realiza trabalhos domésticos e recebe pouco por isso” . ⁷
O OLHAR DO VISAGISTA PARA A BELEZA ESTÉTICA NEGRA
Uma das características peculiares do preconceito vivenciado pelos negros brasileiros é o processo do branqueamento ou ideologia do branqueamento, “uma pressão cultural exercida pela hegemonia branca, sobretudo, após a abolição da escravatura, para que o negro negasse a si mesmo no seu corpo e na sua mente, como uma espécie de condição para se integrar” . ⁸
O ideal estético europeizado vem sendo aceito e repassado, através de um modelo que diminui ao máximo, ou simplesmente exclui a participação dos “não-brancos” na construção de um imaginário de beleza ⁸ . Prontamente, as características físicas mais valorizadas esteticamente na sociedade brasileira pouco remetem à africana. ⁸
Na atualidade, este processo de negação de características positivas aos não brancos ainda permanece. Entretanto, se vê cada vez mais uma aceitação social dos caracteres negros, principalmente no que se refere à manutenção dos cabelos naturais, portanto, cacheados ⁸ . A aceitação deve-se ao fato de a estética capilar ter exercido um papel de resistência, luta e posição política em diversos momentos históricos para os afrodescendentes ⁸ .
Por intermédio dos movimentos sociais (Rastafári Jamaicano, Black Power nos Estados Unidos) de oposição ao padrão que lhes eram impostos, que estimulava a modificação dos seus caracteres (cor da pele e textura dos cabelos). Oferecendo assim, sinais da expressão da negritude, consequentemente contrária à hegemonia do processo de branqueamento imposto. ⁸
Para o profissional visagista a beleza é relativa e, realmente, está nos olhos de quem a vê ⁴ . Portanto, não podemos nos fixar em um padrão para determinar se um rosto ou corpo é bonito ⁴ .
O visagismo nos auxilia única e exclusivamente a encontrar harmonia pois busca personalizar a imagem pessoal e através dessa personalização, atingir o objetivo/ necessidade do indivíduo, utilizando técnicas para personalizar essa imagem como maquiagem, corte, coloração, roupas e acessórios, e através disso é feito um estudo de todos os elementos para criar uma imagem personalizada. ⁴
A maquiagem, por exemplo, que deriva da palavra “masque” e significa “máscara" em francês, nos possibilita formar essa “máscara” através de linhas e formas que expressem as emoções que desejamos ⁴ . Em se tratando da mulher negra o Brasil tem a segunda maior população negra do mundo, e, devido a essa mistura de raças, a mulher afro-brasileira apresenta muitas nuances de tom em sua pele viçosa ⁴ . O belo na maquiagem para a pele negra passaria necessariamente pelo realce da suposta naturalidade:
"os olhos e a boca devem ficar em evidência, como mandam as novas tendências da estação ⁹ . É essencial que a maquiagem não fuja do tom da pele negra, parecendo mais clara no rosto que no pescoço e colo. As cores são um aliado importante para a composição da beleza estética e da arte de maquiar" . ⁹
A maquiagem negra circunscrita à reprodução de um estilo afro "autêntico ou estilizado" remete para a importância do rosto na valorização de traços e do tipo físico, tornando o cabelo um elemento fundamental na constituição do que seja a beleza negra. ⁹
No que se refere ao cabelo, as mulheres negras estão aceitando seu crespo e seu cacheado como forma de reafirmação da sua beleza e identidade perante a sociedade. Ao processo de rompimento com a lógica de branqueamento da estética e o período em que se espera que a química de alisamento ou efeitos de alisamentos causados por instrumentos que alisam os cabelos saia dos fios é dado o nome de transição capilar ² . Este momento é o início de uma reconstrução da identidade, pois, anteriormente, o significado do cabelo crespo para essas mulheres possuía sentido pejorativo. A partir deste momento de transição, ocorre a mudança de sentido do cabelo para as mulheres ganhando conotação positiva. ²
O Big Chop é o momento logo após a transição capilar. Big Chop tem origem no inglês americano e significa “grande corte” ² . O grande corte se trata do momento em que a mulher negra após a transição capilar corta toda a parte do cabelo que está alisado ² . Este é o momento que representa a mudança que acontece internamente na concepção das mulheres sobre o que representa seu cabelo e sua estética negra. ² Notamos a importância do cabelo na construção da estética negra na assimilação da população negra entre seus cabelos e sua autoestima, além de se mostrar para a sociedade com o orgulho de serem negros e negras, orgulha de suas histórias. ²
O EMPODERAMENTO DA MULHER NEGRA
O cuidado com a estética negra representou a luta para reverter à imagem negativa da população negra construída socialmente no decorrer do processo histórico brasileiro. Aconteceu a incorporação de uma representação negativa de si mesmo, construída pelo outro e por uma condição histórica e social de desigualdade, que fez com que a população negra tivesse que significar tal representação. ¹² “Esta recusa de integração que se traduz na manutenção da desigualdade por parte do dominador branco, provoca a revolta do negro e, finalmente, a ruptura com o sistema escravocrata e colonial. O negro se dá conta de que a sua salvação não está na busca da assimilação do branco, mas sim na retomada de si, isto é, na sua afirmação cultural. Moral, física e intelectual, na crença de que ele é sujeito de uma história e de uma civilização que lhe foram negadas e que precisava recuperar. A essa retomada, a essa afirmação dos valores da civilização do mundo negro deu-se o nome de ''negritude" . ” ²
Hoje, na contemporaneidade, podemos falar em “beleza negra” , expressão tomada de empréstimo do movimento black is beautiful, cuja denominação marcou forte presença nos movimentos na luta da população negra nas décadas de 1960 e 1970. Pois, se tratando de estética, a mulher negra foi buscar em seus cabelos o meio de mostrar sua representatividade na sociedade, levando essa temática aos movimentos sociais negros e feministas, com o intuito de fazer com que a mulher negra se sinta bonita e se enxergue para além da sua cor de pele e a textura de seus cabelos. ¹²
Esse empoderamento provém principalmente do protagonismo do feminismo negro, que proporcionou um movimento de combate ao alisamento compassivo dos cabelos das mulheres negras. Um processo denominado de transição capilar, que consiste em deixar o cabelo crescer para gradualmente ir cortando toda química restante até deixá-lo definitivamente natural. Essas mulheres têm utilizado o seu protagonismo para influenciar outras mulheres a também assumirem seus cabelos naturais e reconhecerem em seus cabelos crespos sua identidade, libertando-se das amarras históricas da branquitude, da síndrome de inferioridade constante. ¹²
A MULHER NEGRA NA SOCIEDADE COLONIAL
A chegada da mulher negra no Brasil foi apontada pela inferiorização feminina pelo fato de terem sido levadas como animais de suas terras de origem, seus “senhores” as tratavam como objetos, nas colônias eram forçadas a realizar todo e qualquer tipo de trabalho que lhe fosse imposto, em fazendas realizavam todas as tarefas domésticas, em muitos casos eram amas de leite dos filhos dos fazendeiros, além de sofrerem abusos sexuais, e serem agredidas por suas “senhoras” ⁷ . A história da mulher negra na sociedade colonial era de objeto, sendo apenas usufruto. Ela foi de escrava para empregada, seja do lar ou até mesmo sexual, uma das formas de trabalho tida como “errada” por grande parte da sociedade, mas que foi a forma que elas encontraram para obter seu sustento por um certo período de tempo ⁷ .
A MULHER NEGRA E O MERCADO TRABALHO
A mulher negra sempre foi deixada de lado na sociedade sendo menosprezada, e quando a mesma saiu da condição de escrava para se tornar “livre” não teve nenhum plano nem apoio profissional, ficando assim por um longo tempo sem apoio político e da sociedade, até que surgiram algumas leis para regularizar o trabalho feminino de forma geral. ⁷ Analisando esses graves problemas a primeira Constituição Brasileira que se manifestou sobre a mulher foi a 1934, vetando a discriminação de seu trabalho quanto ao salário, barrando o trabalho em locais nocivos e permitindo a licença remunerada antes e depois do parto ¹³ . Para a mulher ter seu o espaço no mercado de trabalho foi preciso uma legislação para regularizar as condições de trabalho, mas este ato não era caracterizado em nenhuma lei que afirmasse uma vida profissional apropriada às mulheres negras, concernindo que elas foram as que mais sofreram com a sociedade em todo o seu passado histórico no Brasil. ¹³
A discriminação da trabalhadora negra é traduzida na forma desigual de acesso ao emprego, às posições de ocupação no mercado de trabalho, nas diferenças salariais e nas atividades desenvolvidas. ¹⁰ É explicito que a mulher negra atualmente ainda se ver obrigada a ocupar cargos inferiores, devido ao padrão imposto pela sociedade, sendo os cargos mais altos designados a mulheres brancas ou “morenas de pele clara” , mesmo quando ela consegue ocupar um cargo melhor ainda precisa se provar ainda mais capacitada que uma pessoa considerada “padrão” devido a cor da sua pele e sua história. ⁷
“A mulher negra vem sendo apontada como aquela que experimenta a maior precariedade no mercado de trabalho brasileiro. Entretanto os estudos que aprofundaram a perspectiva de gênero raramente levam em consideração a variável cor. ” ⁷
É possível compreender que, a introdução da mulher negra no âmbito do trabalho possui muitas provações que são resultantes de seu passado histórico e retidos na mente da população através dos meios de comunicação, como, a televisão e redes sociais. ⁷ “Resumindo o quesito “boa aparência” , um eufemismo regularmente denunciado pelas mulheres negras, como uma forma suave de barrar os negros em geral, e das mulheres negras, em especial, revelava em números no mercado de trabalho, todo o seu potencial limitado” ⁸ . De acordo com o Núcleo de Pesquisas Econômicas e Gênero (NPEGen) , com o objetivo de analisar os dados relativos à inserção das mulheres negras no mercado de trabalho, a partir dos microdados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicilio (PNAD) contínua do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), foi feito um levantamento do ano de 2021. ¹⁴ Neste, os número são apresentados dados referentes ao 1º trimestre de 2021. Ressalta-se que o ano de 2020 foi marcado por uma crise sanitária de tal forma que o 1º trimestre de 2021 ainda reflete os efeitos gerados pelo contexto socioeconômico em particular. ¹⁴ Resultados: As mulheres negras representam a maioria nas demais subcategorias: pessoas subocupadas (33,4%), pessoas desocupadas (34,3%), fora da força de trabalho (FFT) (33,9%), na força de trabalho potencial (FTP) (39,1%), pessoas indisponíveis (40,2%), desalentadas (38,1%), na força de trabalho ampliada (FTA) (33,3%) e na subutilização da força de trabalho ampliada (35,8%).
Apenas nas pessoas fora da força de trabalho potencial (FFTP) a maior parcela esteve com as mulheres brancas (31,6%), sendo o segundo lugar das mulheres negras (25,2%). A análise do grupo que se coloca como extremo oposto às mulheres negras, os homens brancos, deixa ainda mais evidente a desigualdade entre os dois grupos em análise. Eles representaram a menor parcela em todas as categorias que mostram uma inserção mais precária no mercado de trabalho: pessoas subocupadas (14,7%), pessoas desocupadas (16,5%), fora da força de trabalho (FFT) (16,1%), na força de trabalho potencial (FTP) (13,5%), pessoas indisponíveis (13,6%), desalentadas (13,4%), fora da força de trabalho potencial (FFTP) (16,7%), e na subutilização da força de trabalho ampliada (15,1%). Assim, mesmo com uma diferença pequena entre os percentuais desses dois grupos no plano individual de atendimento (PIA) (7,3 pontos percentuais), a diferença foi muito maior nas categorias que indicam uma pior inserção no mercado de trabalho, como, por exemplo, a subutilização da força de trabalho ampliada cuja diferença foi de 20,7 participação percentual (p.p.), chegando ao auge de 26,6 (p.p.) de diferença na categoria das pessoas que se encontram indisponíveis para o mercado de trabalho entre homens brancos e mulheres negras. Esses dados também evidenciam que a taxa de participação da força de trabalho e plano individual de atendimento (FT/PIA) e o nível de ocupação (PO/PIA) dos homens negros e brancos foram bem maiores do que a das mulheres negras e brancas. Enquanto a taxa de participação deles foi de 67,1% e 66,5%, a delas foi de 47,7% e 48,2%, respectivamente. O nível de ocupação deles foi de 57,7% e 59,9% e o delas de 37,5% e 41,5%. Destaque-se aqui, então, que a maior parte das mulheres negras e brancas em idade ativa não se encontravam ocupadas (sobretudo as negras), diferentemente dos homens. Assim, o nível de ocupação médio do Brasil extremamente baixo no 1º trimestre de 2021 (48,4%) é determinado pela baixa ocupação das mulheres, em especial, das negras.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Desde a sua chegada em nosso país a mulher negra têm sofrido preconceito e discriminação, foi a arrancada de seu berço e trazida para uma terra desconhecida, sendo obrigada a servir como mão de obra escrava, vivendo as piores condições de vida possível, sendo forçadas a trabalhar tanto fora, como dentro da fazenda, foi objetificada, abusada sexualmente pelos senhores de fazenda, agredida pelas senhoras, a mulher negra era vista como margem da sociedade, um mero objeto para uso. Esse sofrimento perdurou até a abolição da escravatura, com a abolição a mulher negra começou a procurar emprego, sem planejamento nem preparação foi deixada a própria sorte, algumas continuaram a trabalhar como domesticas que era o que sabiam fazer, outras usavam seus corpos para conseguir o seu sustento.
Atualmente em nossa sociedade a mulher negra é inferiorizada por sua estética e cor da pele, considerada fora do “padrão” .
Cansada de ceder os padrões eurocêntricos, as mulheres negras viram protagonistas de sua própria história e através da aceitação da sua estética considerada “inferior” pela sociedade, elas reafirmaram sua identidade e posição na sociedade, ajudando outras mulheres a se imporem contra o padrão.
No que se refere ao mercado de trabalho atual, de acordo com os estudos a mulher negra é a maior força de trabalho em nosso país, e a que tem o índice mais alto de desemprego, se comparado a outros grupos. Também é a maior mão de obra nos trabalhos domésticos.
Historicamente falando a sociedade brasileira enxerga a mulher negra como uma mera subalterna, ocupando cargos pequenos, não habituados em ver mulheres negras de belezas diferentes das impostas pela sociedade ocupando grandes cargos limitando a inserção e ascensão da negra no mercado de trabalho.
Os resultados da pesquisa apontam que a mulher negra ocupa uma posição inferior se comparado a outros grupos, mesmo sendo a maior força de trabalho em nosso país. Este estudo se faz necessário para atualização das informações do mesmo.
Confira a entrevista completa
REFERÊNCIAS 1 ARAÚJO, A.M.; SEBBEN, M.; ELERRY F.M.T. Fisionomia: um estudo para melhor compreensão do visagismo na estética facial. 2 ANTUNES, Fabio.Ritter. Visagismo Acadêmico no século XXI: Parte 1 - Linguagem Visual, 2020. 3 CAMARGOS, C.L.; MENDONÇA, C.A.; DUARTE, S.M. Da Imagem Visual do Rosto Humano: Simetria, textura e padrão. 4 VIGARELLO, G. História da beleza: o corpo e a arte de se embelezar, do renascimento aos dias de hoje. Rio de Janeiro: Ediouro, 2006.
Orientação: Negrão, Mariana1; Antunes, Fabio Ritter 2 ; Lupatelli, Angelica de Almeida3 1 Mestre e docente da graduação em estética da Escola de Ciências da Saúde, Universidade Anhembi Morumbi, UAM, São Paulo, Brasil. Orientadora da pesquisa. 2 Mestre e docente da graduação em estética da Escola de Ciências da Saúde, Universidade Anhembi Morumbi, UAM, São Paulo, Brasil. Coorientador da pesquisa. 3 Mestre e docente da graduação em estética da Escola de Ciências da Saúde, Universidade Anhembi Morumbi, UAM, São Paulo, Brasil. Coorientadora da pesquisa.