#20 RETURN EDITION - 1

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CARTA DO DIRETOR AS TENDÊNCIAS A ROUPA TERÁ IDADE? A ETERNIDADE NOS DESFILES LIDIJA KOLOVRAT: (COME)BACK

ENTREVISTA


CALÇAS CARGA, SONHO OU PPESADELO

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EMPODERAMENTO

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O REGRESSO DAS T-SHIRTS ESTAMPADAS

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RECICLAR TENDÊNCIAS DE DÉCADAS PASSADAS

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AND I SEE YOU

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ZOURI:

ENTREVISTA



VOLTAR, SIM NÓS PODEMOS VOLTAR. Podemos voltar a fazer, voltar a dizer, voltar amar, voltar a sofrer. Esta edição é isso mesmo, uma mistura de voltares. Do presente ao passado e do passado ao presente. Nas cartas que assino em cada edição tento sempre contar algo, algo novo, com sentido, com uma mensagem, mas para esta carta preferi citar um texto que uma vez li na faculdade de um jornalista brasileiro. Ele, Caio Fernando Abreu, dizia que podiamos voltar sempre e que podiamos ser e fazer o que quisessemos. Era assim que ele dizia, “Porque você não pode voltar atrás no que vê. Você pode se recusar a ver, o tempo que quiser: até o fim de sua maldita vida, você pode recusar, sem necessidade de rever seus mitos ou movimentar-se do seu lugarzinho confortável. Mas a partir do momento em que você vê, mesmo involuntariamente, você está perdido: as coisas não voltarão a ser mais as mesmas e você próprio já não será o mesmo.” Ele também dizia que por vezes podia ser tarde de mais para voltar... Podemos voltar, voltar aproveitar o tempo perdido, voltar a lutar pelos nossos sonhos. São inúmeras as personalidades que nos dizem que podemos sonhar e podemos realizar... mas claro, sem trabalho não conseguiremos nada. Certamente que já leram ou ouviram esta frase, mas é a verdade... os mais velhos lá de casa tem a sua razão. Podemos voltar a amar, voltar a perdoar e mesmo voltar a sofrer, mas no final ninguém nos pode apontar o dedo de não ter visto a realidade... Podemos voltar a inovar, voltar a educar, voltar a ser resilientes e podemos voltar a confiar. Uma palavra com ínfimas possibilidades de fazer, de tentar e de realizar. Não parem no tempo, façam. Deu errado? Voltem a fazer... afinal de contas, podemos sempre voltar a fazer. Fábio Miguel Sernadas Diretor da FAIRE


DIRETOR Fábio Sernadas

DIRETOR DE IMAGEM Pedro Afonso

COORDENADOR CONTEÚDOS Fábio Sernadas REVISÃO Ana Maia MODA Rafael Moreira, Cristiano Teodoro, Ana Patricio, Patrícia Dias Rita Castro, Mara Craveiro e Pedro Rocha CULTURA E LIFESTYLE Ivânia Duarte, Cátia Pimenta, Solange Rodrigues, Márcia Mendonça, Letícia Carvalho, Rita Luz COORDENADOR DE PAGINAÇÃO Fernando Leitão EDIÇÃO E PAGINÇÃO Patricia Meinedo Daniela Faria Bruna Pires

INFORMÁTICA Pedro Rocha

CONSELHO EDITORIAL Fábio Sernadas, Pedro Afonso, Ana Magalhães e Fernando Leitão A FAIRE é uma revista mensal, direcionada para o público curioso, também com uma plataforma online. A FAIRE foca-se em moda, mas abrange temas como beleza, cultura e lifestyle. A FAIRE compromete-se a apoiar editorialmente a moda e projetos inovadores. A FAIRE nunca se deixará condicionar por interesses partidários ou por qualquer lógica de grupo, assumindo responsabilidade apenas perante os que pode desempenhar um papel importante ao nível da sensibilização social, promovendo uma sociedade mais informada e igualitária. A FAIRE dirige-se a um público de todos os meios sociais e de todas as profissões. A FAIRE estará sempre atenta à inovação, promovendo a interação com os seus leitores.






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A ROUPA TERÁ IDADE? CONVERSAMOS COM A DESIGNER MARIA GAMBINA E A JORNALISTA CATARINA RITO PARA SABERMOS O QUE ACHAM.

O desafio? Desconstruir alguns preconceitos, visto que há alguns que persistem em ficar, como o da idade – mais precisamente o que vestir em cada faixa etária. Só depende de cada um acabar com esta ideia pré-concebida na hora de experimentar novos estilos e novas peças de roupa. As tendências aparecem e desaparecem. Há vários conselhos destinados a certas faixas etárias, como se

houvesse regras invisíveis que condicionam o que vestir, ou determinam itens obrigatórios e proibidos. A soma dos anos está associada à perda de sensualidade e autoestima. Parece que existe uma pressão social para alterar o estilo e de parar de usar cores vibrantes e arriscadas. O culto à juventude, os procedimentos médicos e estéticos retardam os efeitos de envelhecimento ou

tentam escondê-lo. Uma aparência mais jovem, normalmente, vem acompanhada de roupas, igualmente, mais jovens e geralmente as críticas recaem nas mulheres mais velhas, que arriscam em tendências mais juvenis para transparecer que têm menos idade. Mas será que ainda existe idade para deixar a minissaia, o batom vermelho, o decote e as transparências?! Ainda existem


restrições?! Eis que para a marca Maria Gambina “as peças de vestuário não têm idade, podem e devem ser conjugadas conforme a personalidade de quem as veste. Agora, as pessoas é que têm que ter noção do que lhes fica bem, independentemente da idade.” A jornalista Catarina Rita defende que o estilo não deve sofrer alterações apenas com o passar da idade. Considera que

é necessário filtrar as tendências para não sermos escravos da moda. “As tendências vão em determinados sentidos, as tendências não são para toda a gente, porque nem toda a gente tem corpo e estilo para determinado tipo de propostas. Não é porque eu tenho 60 anos que não posso usar determinado tipo de roupa, é saber se esse tipo de roupa me favorece, me dá uma imagem em que eu sou valorizada e não

ridicularizada.” O autoconhecimento apresenta um papel fundamental. Conhecer o próprio corpo é uma medida basilar para contruir uma imagem coerente, que nos favorece em todos os sentidos. A juventude permite indiscutivelmente opções de escolha mais variadas, no que toca à moda. No entanto, até a juventude não libera nenhuma pessoa


de observar o contexto em que vive. A jornalista destaca o bom senso como principal foco para seleção de uma peça a comprar. “A roupa não tem idade desde que ela esteja vestível, mas tem contexto. E nessa contextualização deve estar incluído uma coisa muito importante, que hoje em dia se perdeu ou que

está esquecida, que se chama bom senso. E o bom senso é se eu não tenho um corpo, que me permite usar transparências e ou rendas, eu então não devo usar, porque eu não me estou a valorizar, eu estou a criar um ruído visual.” Catarina enfatiza um erro mui-

to comum que acontece quando um consumidor apenas tem em consideração o gosto pessoal e acredita que deve vestir tudo o que quiser. Evidencia que esta questão passa por um exercício diário de bom senso, e sugere que todos devem ter estratégias de valorização. “As pessoas têm de ter o bom senso de perceber se determinado modelo de peça de roupa as favorece ou não e para além disso se as enaltece ou se as denigre”, dando como exemplo a saia de ganga “que pode ser usada por uma mulher jovem, menos jovem, mas depois tenho de ter uma série de condicionantes. Tenho, devo e posso.” Adaptação parece assim ser a resposta à questão inicial. Adequar a moda ao que se vê nas passerelles e nas vitrines, a contextos reais, ou seja, a cada ocasião, seja formal ou casual.


NÃO EXISTEM LOOKS “VELHOS”, MAS ADEQUADOS E INADEQUADOS. O SEGREDO ESTÁ EM RETIRAR O MELHOR DE SI, INDEPENDENTEMENTE DA IDADE.


A ETERNIDADE NOS DESFILES


A primeira edição do Portugal Fashion aconteceu em julho de 1995 e não demorou a tornar-se um dos mais importantes eventos do mundo da moda, em Portugal. Com uma grande influência não só na evolução do design de moda nacional, como também na produção, de ano para ano, tem se feito sentir um aumento do número de pessoas presentes e, segundo a organização, a última edição contou com 37 mil pessoas, apenas nos primeiros quatro dias. As preocupações ambientais, a sustentabilidade e as mensagens sociais têm se feito sentir na passerelle, onde a intemporalidade está cada vez mais presente.

Luís Buchinho, Miguel Vieira e Diogo Miranda foram exemplo disso com a apresentação das suas coleções: Luís Buchinho criou uma hibridez entre a mulher determinada e a mulher sexy. Num mundo representado pela dualidade de géneros, o designer faz referência à igualdade recorrendo a pormenores, cores neutras e diversos materiais. Miguel Vieira trouxe, desta vez, uma coleção cheia de cores, de padrões únicos, com um traço clássico, numa coleção maioritariamente para o público feminino. Para os homens, trouxe o detalhe, num toque moderno, onde o objetivo é combinar com roupas de coleções passadas por todas as faixas etárias. Já Diogo Miranda inspirou-se

no filme “Indochina” com Catherine Deneuve. A combinação entre a qualidade dos tecidos, a elegância e as riscas formam uma silhueta sofisticada com a possibilidade de escolha, nas melhores ocasiões. O designer trouxe-nos o mar para a terra com a sobriedade das cores bege, preto, azul marinho, cinza e dourado, evidenciando-se, assim, uma inspiração náutica, onde as correntes e as golas extremamente elegantes tornam o look irresistível.


LIDIJA KOLOVRAT LIDIJA KOLOVRAT É A PERSONIFICAÇÃO DE UM PAÍS, ESTE QUE A ACOLHEU NOS ANOS 90 DO SÉCULO PASSADO. Se outrora fomos descobridores de povos e culturas e demos asas (ou caravelas) à globalização, Kolovrat descobriu-nos, tal Infante D. Henrique. “Foi como uma descoberta, senti que era um sítio que ainda tinha muito por descobrir... o que me apaixonou. Mudei-me primeiro para o campo e comecei por fazer pinturas”, conta à FAIRE.


Nasceu na Bósnia, estudou na Croácia, trabalha em Lisboa, cidade que a inspira. Da sua terra-natal, uma palavra: a única que é tão nossa, mas que já adotou - saudade. Confessa saudade do seu país, das paisagens e da família. “Tenho saudades... das montanhas, da água, da língua, dos meus avós, da minha mãe e do meu pai que era engenheiro e que estava sempre na sua oficina a inventar máquinas”. Filha de inventor, inventora é. No seu trabalho vive desafios diários relacionando o passado, o presente e o futuro, e com

duas perspetivas: “a vontade de criar e o desafio do autoconhecimento”. Está sediada numa antiga padaria de Lisboa: “Esta é já a nossa segunda loja que era uma antiga padaria. Kolovrat trabalha identidade e os sítios com tradição, com um carácter marcado e único, estes são inspiradores. Eu gosto de tradição e de identidade e gosto de transformar tradição”, conta-nos. A marca Kolovrat é de pessoas para pessoas. Somos nós, nas diversas esferas de nós próprios. É “paradoxo, desafio da natureza humana, aprendiza-

gem, sentido de humor, criação, partilha, sentimento, construção, técnica, atitude...”, descreve a designer. Porque vestir já não é só usar roupa. Tal como comer ou visitar, o conceito de vestir tem sofrido alterações. Vestir é uma experiência. Lidija sente tudo o que faz e conhece os seus clientes como ninguém. Como se fossem família. “Sim, os melhores clientes são os que gostam mesmo de moda e necessitam de descobrir algo novo, […] há clientes que se envolvem mais e que precisam mes-


mo de descobrir algo, algo que os estimule mais, e eu também preciso disso”. É uma experiência conjunta. Porque somos todos seres humanos que evoluímos e que temos todos um bem comum: a natureza. Esta é a inspiração da sua última coleção, a “Nature is Magic”. A designer confessa-nos: “acredito que a natureza nos pode guiar para um futuro melhor. A natureza foi a inspiração, um diálogo tridimensional despido de barreiras e de conceções humanas que se despenha no quotidiano como um refúgio”. Lidija tem ambições. Continuar a dar a melhor experiência de vestuário aos seus clientes e autoconhecer-se mais um pouco a cada peça que desenha, coleção que lança: “conseguir trabalhar ideias criativas, inovar e ao mesmo tempo lucrar. O principal desafio é a inovação e surpreender-me. It’s exciting”. Sila Lidija!



(COME BACK


E) Direção Criativa: Ana Magalhães Fotografia: Pedro Afonso Assistente de Produção: André Dantas Make-Up: Raquel Ribeiro Hairstyling: Nuno Abreu Modelo: Camila Salgueiro - Blast Models Especial Obrigado: D’ADÉLIA Store, Daniela Ponto Final, Levis e Triângulo das Bermudas.




















A REVOLUÇÃO DA MODA E O ACESSO AO ESTILO DE ALTA COSTURA

A INDÚSTRIA DO READY TO WEAR E DO PRÊT-À-PORTER Durante a Segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos da América sentiram a necessidade de construir uma indústria de moda “própria”. Adotaram, na sua indústria, o conceito de design, dando origem a produtos, principalmente peças de vestuário, cada vez mais adequadas à produção em massa. E assim nasceu a indústria do ready to wear, ou “pronto para vestir”. Esta nova fórmula despertou algum interesse nos países europeus, principalmente, na França. No final da guerra, os franceses fizeram questão de conhecer esta nova proposta que unia a estética com a funcionalidade e, portanto, no ano de 1948 surge a versão europeia denominada de prêt-à-porter. O conceito veio revolucionar o mundo da moda, tornando acessível o estilo da alta costura às várias classes sociais.


Entre os vários fatores que contribuíram para esta transformação destacamos, principalmente, a necessidade de oferecer produtos que obedeciam às linhas estéticas de alta costura, mas que atendiam também às características da produção em massa, bem como uma maior preocupação por parte dos estilistas com a estética do produto, ou seja, sentiram a urgência de adaptar as suas criações às necessidades dos consumidores. Desta forma, é possível afirmar que o prêt-à-porter e o regresso da indústria ready to wear cresce, surpreendentemente, nas mais diversas formas. No desfile que decorreu em Paris, no início do mês de março, revemos alguns exemplos de marcas que adotam o registo prêt-à-porter. A marca Céline, com Hedi Slimane como diretor criativo, abraçou os jupes-coulotte e as saias plissadas, de modo a chamar a atenção do público mais jovem, e a marca Balenciaga com a designer de moda Demna Gvasalia demonstrou dar especial destaque aos diferentes modos de vida quotidiana e não somente às ocasiões especiais – linhas fluidas, muito volume e cinturas apertadas foram as opções da marca. Ainda assim, a alternativa do ready to wear e do prêt-à-porter tem gerado alguma polémica pela possibilidade de impulsionar o mercado fast fashion. Com a revolução no mundo da moda, o desenvolvimento de técnicas produtivas, de novas tecnologias e de novas matérias primas, a indústria têxtil e os designers são postos em causa. ~ Em pleno século XXI, inevitavelmente, a análise de toda a cadeia produtiva acaba por repensar os aspetos sustentáveis. Tendo em conta que a Internet e as redes socias possibilitam que as marcas alcancem com mais facilidade as classes mais baixas, o consumismo poderá ser potencializado.


CALÇAS CARGA:

SONHO OU PESADELO? AS CALÇAS CARGO SÃO UMA DAS TENDÊNCIAS MAIS FORTES DO MOMENTO E PROMETEM PERMANECER NO SEU ARMÁRIO DURANTE MUITO TEMPO. As calças de combate já não saíam do fundo do armário há muitos anos, mas as calças cargo são tendência e já chegaram às ruas. Em tons neutros ou prints camuflados, prometem tornar-se bastante populares. As calças de carga têm várias denominações como “calças cargo”, “calças de carpinteiro”, ou até “calças utilitárias”, mas o termo mais usado neste momento é o primeiro. Quando pensamos em calças de carga, pensamos num estilo de calças mais desleixado e solto,

com bolsos enormes na coxa e ao longo da perna. A questão é: Quem guarda tantas coisas nos bolsos? Se é necessário carregar tantas coisas, o ideal seria optar por uma carteira, defendem muitos apaixonados por moda que acreditam que “não se deve carregar tanta coisa nas pernas”. No entanto, existe quem acredite que o estilo pode funcionar quando adaptado à atualidade. Estas calças cargo já marcaram tendência, no passado, e se existe um modelo ideal, há

quem diga que são na cor verde, com mais bolsos falsos do que funcionais. No caso dos homens, estas são umas calças que os possibilitam usar com um blazer, de modo a obter um look descontraído e, ao mesmo tempo, elegante. A robustez deste estilo permite diversificar o seu look e arriscar, no que diz respeito à moda atual. O dilema das calças de carga é, precisamente, o facto de se tratar de um estilo que se ama ou se odeia. Para muitos, o estilo militar traz à mente os anos 90,


com um ajuste largo e numerosos e volumosos bolsos. Uma versão que ainda causa repulsa em alguns compradores e uma nostalgia a outros. Apesar de tudo, as calças de carga estão novamente em alta, tanto para os homens como para as mulheres. Marcas como Givenchy, Valentino, Michael Kors, Zara, Primark, Guess, H&M e Massimo Dutti apostam no estilo que está totalmente inserido no mercado, nos dias de hoje. Os tecidos são atualizados, os bolsos refletem a qualidade na quantidade e as pernas são definitivamente adaptadas,

dependendo da preferência de cada um. Os observadores de tendências afirmam que as calças de carga se encaixam na atual obsessão do consumidor com roupas mais casuais e como uma alternativa descontraída aos jeans, descrevendo o estilo como “urbano e ousado”. Enquanto o mundo da moda prefere pensar em mulheres em saltos altos e vestidos, deveria pensar na mulher a usar umas calças de carga e sapatilhas para um conjunto mais fácil, mas, ainda assim, bastante versátil.

Como as deve usar? As calças cargo vão manter o seu papel de destaque este verão, práticas e muito funcionais, podem ser combinadas com tops curtos, soutiens, casacos e outras peças de algodão, podem ser conjugadas, também, com sandálias de tiras e um top para sair à noite. Ainda assim, são muitos os apaixonados por moda que se recusam a adaptar esta ideia. A verdade é que a qualidade e o ajuste destas calças reinventadas marcam esta nova tendência.


EMPODERAMENTO FEMININO Nos últimos anos, e com a necessidade da mulher se afirmar, nasceu o conceito de empoderamento feminino. Sendo que esta definição diz respeito à possibilidade de atribuir o poder da participação social à mulher. A questão que se tem vindo a debater é precisamente se este conceito tem sido bem empregue ou se funciona apenas como ótima estratégia de marketing.

O termo é usado constantemente e surge como forma de as marcas venderem os seus produtos, transmitindo uma mensagem que promove o poder feminino, tendo em conta que, na maioria das vezes, a mulher é o principal alvo. Estas lições de falso empoderamento com as quais lidamos diariamente, transferem-se da experiência coletiva para se

focarem no indivíduo, o que acaba por gerar uma confusão entre o consumismo e a autonomia feminina. A ideia de vender o empoderamento feminino funciona porque as marcas reconhecem os objetivos das consumidoras e seguem o propósito dos movimentos feministas, sem terem de se envolver realmente, de forma sistemática, com os pro-


blemas defrontados pelas mulheres. É neste sentido que a discussão tem surgido: chega a ser frustrante quando é vendida a ideia de que as mulheres podem resolver os problemas da discriminação e do abuso de que sempre foram alvo ao comprarem uma t-shirt com a frase certa ou a utilizarem determinado shampoo. Do ponto de vista geral, e para a maioria das marcas que fazem uso do conceito com o devido sentido, não se deve divulgar frases feministas e promover esse posicionamento quando os lugares de topo dessas empresas pertencem a homens, ou as suas funcionárias recebem menos em comparação com os funcionários masculinos. Daí surgir cada vez mais a ne-

cessidade por parte das marcas de investirem nesta causa. É este o ponto fulcral do problema: atualmente, já não é possível fazer-se uma distinção entre as organizações e empresas que se dedicam ao verdadeiro propósito e as restantes marcas que se querem simplesmente “aliar-se”, apenas, para benefício próprio. O objetivo passa por mudar o sistema em que se encontra o indivíduo, em vez de se querer mudar somente o indivíduo. Trata-se de quebrar barreiras e pedir às mulheres que deixem de se conformar com o que é tido como normal. Há questões onde as mulheres podem e devem ser «empoderadas», nomeadamente, no que diz respeito ao acesso ao voto, à igualdade salarial, igualdade parental,

mutilação genital feminina ou violação. Não será mais importante reconhecer o poder à mulher nestas circunstâncias em vez de lhe tentar impingir determinado produto, usando, incansavelmente e de forma incorreta, a noção de “empoderamento feminino”?


ZOURI FROM THE OCEAN

“A Zouri mais do que uma marca é um movimento pela proteção da Natureza e dos Oceanos.” Já imaginou uma marca que utilize o plástico dos oceanos nos seus produtos? Tudo nasceu de um sonho. Desde muito nova que Adriana Mano tinha a vontade de dar um contributo para um mundo melhor e, em 2016, começou a planear como poderia ajudar. Começou a pensar na ideia de aplicar o plástico em peças de design e como trabalhava na área do calçado, não foi difícil definir o produto. “Em 2017 desafiei um colega de trabalho a entrar nesta ideia comigo e, assim, foi. O António Barros começou a desenhar os modelos das sandálias”, conta Adriana. Ao pedir ajuda à Universidade do Minho, descobriram que se encontrava a decorrer um concurso de ideias para Melhor Design de Produto com reutilização de plástico, “concorremos e ganhamos”, desde então, não foi necessário muito tempo até ao lançamento das primeiras sandálias. Só em Esposende, conseguiram juntar uma tonelada de plástico, em nome da

pegada ecológica, e, atualmente, já têm mais de 20 pares disponíveis vegans e sustentáveis, feitos com materiais orgânicos e resíduos de plástico reciclado do oceano para compra online e o feedback “tem sido fantástico”. Os modelos são produzidos na totalidade à mão, o que faz com que todas sejam diferentes, mas especiais. E cada par reutiliza o equivalente a seis garrafas de plástico. “As pessoas compram pelo conceito e pelo design, mas quando experimentam adoram o fator conforto. Estamos muito satisfeitos com o resultado e a força que recebemos das pessoas.” Conforto, durabilidade, sustentabilidade e estética são as


características que descrevem com rigor cada par de calçado, criado para quem se preocupa com o plástico nos oceanos e a as alterações climáticas - assunto fulcral, na sociedade atual. Com isto, a marca pretende transmitir três grandes objetivos: sensibilizar a comunidade para o tema, inspirar e catalisar o design e o desenvolvimento de peças com recurso a resíduos e ser referência internacional na inovação de negócios sociais, estimulando outros empreendedores sociais. Segundo Adriana, muitas novidades estão a caminho, “novas áreas de design que estamos a testar, roupa e outros objetos, bem como novos materiais sustentáveis que vão de certeza dar que falar.”


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O REGRESSO DAS T-SHIRTS ESTAMPADAS BARATO PARA FAZER, FÁCIL DE USAR E DIFÍCIL DE IGNORAR, AS T-SHIRTS ESTAMPADAS ESTÃO ENTRE OS ITENS MAIS VENDIDOS E COM MAIS SUCESSO, NA INDÚSTRIA DA MODA.

ENGRAÇADAS, OBSCENAS, OBSCURAS, RETRO, REBELDES, COM FRASES, COM NOMES, AS HUMILDES T-SHIRTS ESTAMPADAS ESTÃO NO SEU AUGE, NA CULTURA DA MODA. Para rótulos, é um produto de alta comercialização e com uma margem acessível que não requer propriamente uma fabricação especializada. Para os consumidores, pode ser uma porta de entrada para uma nova marca. Na última década, o excesso de gráficas ligadas a atrações culturais como The Ramones e Star Wars ajudaram a tirar a t-shirt estampada da moda. Mas agora, lojistas, distribuidores e marcas, sensíveis a tendências, estão a relatar um ressurgimento do interesse em t-shirts, especificamente para rótulos menores e mais difíceis de encontrar. Na atualidade, as t-shirts são ousadas e bastante gráficas, apresentam linhas limpas e mensagens com diversos significados, que podem ser percebidos de forma simples e acessível, mas também de forma sofisticada e misteriosa. Notavelmente, as marcas mais populares são marcas de moda que comandam o interesse e a lealdade por meio de uma combinação de design e atitude, em vez de usar símbolos de filiação a uma subcultura real. O


tendências, pois possuí uma fundação e uma história que marca pela diferença. A t-shirt estampada apresenta também uma ligação com a revolta à contracultura americana, um forte ponto de referência para muitas marcas, mas também para a logomania descomunal da década de 1980 e os slogans de protesto, que eram o seu contraponto. Na atualidade, o crescente gosto por t-shirts estampadas está menos enraizado na fúria política e na angústia, mas surge da necessidade de modos sucintos de expressão, numa cultura acelerada e regida pela imagem. Vivemos numa era da informação, de comunicação de massas, em que muitas pessoas têm pouco tempo de atenção e uma crise de personalidade. Uma t-shirt estampada é uma maneira rápida e segura de uma pessoa comunicar e expressar a sua própria identidade. desejo de mostrar lealdade a algo real através de uma t-shirt tornou-se um ideal bastante redundante, devido à cultura de massas e às grandes marcas. Como exemplo, temos as t-shirts associadas a bandas, pois hoje em dia até quem não é fã as utiliza. Os designers por trás destas t-shirts sentem que a “autenticidade” de uma t-shirt que tem um ponto de referência real ainda tem valor cultural, embora de uma forma não tão nítida do que a roupa utilizada pelos fãs antigamente. A opinião de muitos fashionistas é que a indústria da moda “perdeu o pé”. Parece que o mundo da moda não tem tido uma visão sólida e segue sem direção, pois a compra destas t-shirts vem associada à produção cultural, na qual eles estão enraizados. A t-shirt tem desempenhado um importante ponto de contato físico com bandas desde os anos 60 e, na era da música digital, pode ser o ponto mais tangível que um fã pode atingir. Além das t-shirts associadas a bandas, existem também t-shirts associadas a filmes da Disney, como o Dumbo, a Branca de Neve e o tradicional Mickey. Existem também imagens associadas a Frida Kahlo e Monalisa. A história das t-shirts estampadas está também enraizada na cultura do skate. Muitas marcas não se alinham a nada em específico, ou constante, e é por isso que o skate, na moda, assumiu uma grande onda de


PORQUE CONTINUA A INDÚSTRIA DA MODA A RECICLAR TENDÊNCIAS DE DÉCADAS PASSADAS?

TENDÊNCIAS OU CLÁSSICOS RENOVADOS? Os anos passam e cada vez se torna mais difícil definir se é correto ou errado falar em tendências – ou seja, peças ou o estilo que são novidade da estação, e que a esmagadora maioria do público utiliza, por gosto ou porque “está na moda”. Já é sabido que cada coleção tem uma peça, um padrão, ou uma cor que, rapidamente, é utilizada, de forma massiva. Mas note que a maioria são releituras de referências de moda passadas, utilizadas pelos criadores como inspiração. Imaginemos a moda como um círculo, com uma forma irregular onde existem picos (as chamadas tendências), picos estes que vão perdendo força,

ao longo do tempo. Tal como a sua configuração o diz, é um caminho eterno que por muitas voltas que dê, volta ao mesmo. A duração do tempo das tendências é inconstante, mas repare que cada vez se tem tornado mais curto. Este ciclo da moda acaba por alimentar e matar a própria moda. Com certeza que já ouviu expressões como: “este artigo está na moda” ou “este é o estilo que se usa agora”. Isto porque as pessoas começam por assimilar o que está em voga como aquilo que é a indústria da moda. As tendências mais badaladas da atualidade surgem e emergem através de diversas fontes,

desde culturas de rua, músicas, redes sociais a séries… Como tal, é impossível não as relacionar com os movimentos e subculturas que aconteceram ao longo da história e estabilizaram clássicos. Um dos fatores que pode também estar na origem da moda cíclica é a adoção de métodos mais sustentáveis na indústria. Propostas como o consumo eco-friendly e novos métodos de produção, como a slow-fashion, são uma ancora para um ciclo de tendências vicioso. O que parece o fim da moda é, na verdade, um método que acaba por ser reutilizado a seu favor.


O INSTAGRAM DITA TENDÊNCIAS Entre os demais motivos, há que dar especial destaque as redes sociais que, como se sabe, estão na ribalta e possibilitam que muitos façam delas um meio de subsistência. Estamos perante a era em que as influencers ganham força, desencadeiam e potencializam o que é tendência. Através de fotografias, vídeos e publicações, o conteúdo que estas partilham,

nas redes sociais, tem um alcance maior, comparativamente aos media tradicionais. O Instagram, atualmente, tem um nível de alcance superior ao das revistas. Isto porque é possível divulgar moda numa questão de segundos, possibilitando o acesso às tendências em tempo real e ainda obter à disposição um conjunto de conteúdos diversificado.

As marcas têm apostado cada vez mais neste método de publicitação do produto e assim alterado completamente a forma como a moda é pensada. É este fator influenciador de quem pratica a atividade que determina os conteúdos que se tornam referências. Tendências fugazes, que tão rapidamente estão no auge como desaparecem.

A moda e as tendências são um reflexo da sociedade. Este mundo inspira-se em símbolos do passado para criar presente, como podemos comprovar quando reciclam referências de décadas passadas.

tura de renovar o que são as tendências? Em que pé estão os novos criadores de moda? Alguns criadores têm ideias e projetos direcionados para o futuro – novos e criativos – mas também há quem olhe para o passado e faça dele referência.

A MODA É CÍCLICA Ainda há muitos profissionais que se apoiam em tendências passadas na conceção do seu trabalho - servem-se dos clássicos e reinventam-nos. Mas também há quem tenha uma perspetiva visionária e se preocupe em criar algo nunca antes feito. Fora dos standards.

Algumas questões são levantadas neste cenário. Se a moda é cíclica e este trajeto se repete cada vez mais rapidamente, quando chegará o momento de criar algo nunca antes idealizado? Não estará na al-

Há uma necessidade de arriscar e revolucionar para pôr término a este ciclo. Fica o grande desafio de marcarem a diferença e serem inovadores, num panorama em que a moda vai sendo constante.


Vestido de Katty Xiomara


SEE

AND YOU

I

“VOLTAR É SEMPRE SEGURO, VOLTAR É SEMPRE CERTO. VOLTAR A ALGO QUE É CASA, QUE FAZ SENTIR E FAZ SENTIDO. VOLTAR, E TENTAR SEGUIR E SENTIR. MAS AMOR À SEGUNDA-VISTA, É AMOR VELHO QUE FICA PARADO E À DISTÂNCIA - A RECORDAR-SE. FICA QUIETO E NÃO QUER LUZ. QUER SER MEMÓRIA, CASA ANTIGA DE PORTAS FECHADAS. E AGORA QUANDO É CERTO QUE O TEMPO JÁ NÃO O É, EU LEMBRO-ME. EU VI. E EU VEJO-TE, LONGE.” Direção Criativa: Ana Magalhães Fotografia: Pedro Afonso Assistente de Produção: André Dantas Make-Up: Mauro Vieira Hairstyling: Leandro Miguel - Pedro Netto Studi Modelo: Carolina Pais e João Dias - Elite Lisbon Especial Obrigado: The Feeting Room, David Catalan, Hugo Costa, Katty Xiomara e Nuno Baltazar


Bomber de David Catalan




Colar de Susana Teixeira




Vestido da House of Sunny e Camisa de Nuno Baltazar




Vestido da Ammaria Dress


Vestido de Katty Xiomara




Vestido da House of Sunny


Na modelo, camisola de Nuno Baltazar


Calรงas e Camisa de Nuno Baltazar Sneakers da Nobrand


Casaco de Hugo Costa Calรงas e Camisa de David Catalan










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