A matematica e a brincadeira na educacao infantil construindo a aprendizagem

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A MATEMÁTICA E A BRINCADEIRA NA EDUCAÇÃO INFANTIL: construindo a aprendizagem

Edna Maria Neves Silva1 Ivoneide dos Santos Oliveira1 Angela Maria Alves2

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Aluna do curso de Licenciatura em Pedagogia da Faculdade Método de São Paulo (FAMESP). Orientadora: Mestranda em Educação (UMESP) Especialista em Alfabetização e Letramento (FAMESP), Bacharelado em Matemática (Centro Universitário Fundação Santo André) e Licenciatura Plena em Matemática (CEUCLAR). 2

RESUMO Este artigo tem o objetivo identificar se os docentes pesquisados utilizam brincadeiras que

envolvem conceitos matemáticos para auxiliar durante o processo de ensino/aprendizagem, bem como, verificar a contribuição dos jogos e brincadeiras para a aprendizagem da matemática na Educação Infantil. A brincadeira como prática pedagógica pode servir de auxílio para o professor estimular a aprendizagem da matemática. É por meio da brincadeira que a criança inicia sua socialização e aprende a se relacionar com as outras crianças construindo atividades em grupo. Além de estimular o raciocínio lógico matemático, algumas brincadeiras podem estimular a criatividade, a autoconfiança, concentração e podem contribuir na tomada de decisão e capacidade do aluno para resolver problemas sozinhos. O lúdico pode abrir possibilidades de inserir a criança no mundo da matemática e a escola tem que ser um espaço rico, oferecendo brincadeiras e jogos que contribua para a imaginação, criação e desenvolvimento de habilidades como o raciocínio lógico. A pesquisa de campo contou com a participação de seis professoras/pedagogas de Educação Infantil sendo que, quatro atuam na rede pública municipal, uma da rede estadual e uma da rede particular, sendo esta localizada no Grande ABC e as demais na cidade de São Paulo. A análise dos resultados aponta que as professoras consideram os jogos e as brincadeiras importantes instrumentos pedagógicos a serem considerados durante o processo de ensino-aprendizagem da matemática na educação infantil.

Palavras-chave: Brincadeira. Ensino-aprendizagem. Raciocínio lógico. Educação Infantil. Matemática.

INTRODUÇÃO

Considerando que toda criança gosta e deve brincar, buscou-se compreender parte desse universo lúdico vivenciado dentro e fora da escola. Para ter-se ideia da importância do brincar em nossa infância nota-se que precocemente, por meio da brincadeira, a criança é estimulada a contar, dividir, somar.


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Brincando de contar, jogar, e manipular objetos a criança constrói situações que se associam com a realidade que essa criança vive, desenvolvendo a coordenação motora que se estimulam através de movimentos criados pelas brincadeiras, é por meio do brinquedo que a criança aprende se divertindo. No mundo da criança existe a fantasia o mundo do faz- de- conta e durante as brincadeiras elas expressam seus sentimentos e demonstram suas emoções, transformam situações que se adéquam a sua realidade, aprende a desenvolver a criatividade a expressar suas emoções e pensamentos. Deve-se sempre incentivar a criança a brincar e observá-la para que seja possível uma maior compreensão e participação durante seu desenvolvimento cognitivo e emocional. As crianças de modo geral têm sua forma própria de explorar a brincadeira podendo relacionar esse brinquedo ao seu estado emocional e a visão que tem da vida. Ao passo que pode haver crianças que não recebem nenhum tipo de estímulo, ficando a cargo de a escola auxiliar no processo de desenvolvimento. É por meio da brincadeira que a criança inicia sua socialização e aprende a se relacionar com as outras crianças construindo atividades em grupo. A brincadeira na educação infantil é essencial e necessária para a formação de ideia da realidade que para a construção do imaginário a criança demonstra seus pensamentos e emoções. É importante lembrar que, para a brincadeira acontecer como aprendizagem, o professor antes de realizá-la em sala de aula ou qualquer outro espaço escolhido, tem que planejar para ressaltar qual finalidade e objetivo deseja alcançar com a brincadeira. Portanto, toda brincadeira tem que ser divertida, prazerosa, na qual estejam inseridos aspectos afetivos, cognitivo, motor e emocional, respeitando o tempo de cada criança no processo de desenvolvimento.

A criança e a brincadeira na Educação Infantil

A brincadeira traz o reforço da personalidade que está sendo construída como forma de conhecer o mundo e a formação de suas competências cognitivas e emocionais. Dessa forma, entender com o mundo que a criança vive, ampliando seu poder de ação e desenvolver a comunicação e sociabilidade com esse mundo.


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A brincadeira é algo que pertence á criança, á infância, através do brincar a criança experimenta, organiza-se, constrói normas para se e para o outro. Ela cria e recria a cada nova brincadeira, o mundo que a cerca. O brincar é uma forma de linguagem que a criança usa para compreender e interagir com o outro e com o mundo (CRAIDY e KAERCHER, 2001, p.104).

Kishimoto (2007) relata que a criança por meio de brincadeira cria situações e assumem personagem que transmitem sua rotina diária como o papel de super-herói onde ela pode praticar o ato de justiça e se sentir feliz com sua atitude na brincadeira. Brincando, portanto a criança coloca-se num papel de poder em que ela pode dominar os vilões ou situações que provocariam medo ou que a faria sentir-se vulnerável e insegura (LEVIZON,1989 apud KISHIMOTO, 2007, p.66).

Dessa forma, é na brincadeira que a criança encontra autoconfiança para vencer seus vilões imaginários, ou problemas presenciados no convívio com outras pessoas no seu dia- adia, desenvolvendo suas qualidades, explorando e refletindo sobre a realidade que a acerca se relacionando com a imaginação em um mundo de fantasia, transformando uma simples brincadeira a seu cotidiano prazerosa, proporcionando assim uma compreensão de seus problemas e a formação de ideias que auxiliam na superação do medo, tristeza e inseguranças. Então podemos compreender que é por meio do brincar que a criança desenvolve seu processo de interação social na realidade que é inserida. Com brincadeira, a criança desenvolve sua capacidade motora, troca de experiência, conhecimento, está com uma criança é estar sempre descobrindo e criando novas formas de trabalhar cada atividade, toda atividade pedagógica deve ser planejada, e nesse planejamento não deve faltar o fator do imprevisto, pois a criança com sua criatividade podem transformar os meios, mas nunca o objetivo da atividade proposta. Conforme o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA): “O brincar é direito de toda criança e está garantido por Lei 8.069, de 13 de julho de 1990, denomina no estatuto da criança e do adolescente, Capitulo II, Art. 16º, Inciso IV,” que toda criança tem o direito de brincar, participar de esportes e divertir" (BRASIL, 1990).

De modo geral pode-se afirmar que a criança que brinca tende a ser mais feliz, sendo capaz de aceitar o novo, as diferenças, é como meio para socialização, e estimula a autoconfiança e autônoma para resolver qualquer situação que possa vir a incomodá-la,


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favorece a capacidade de atenção, a memória, a imitação e a imaginação, assim sendo a criança representa o mundo em que esta inserida no brincar e aprende qual melhor forma para solucionar os problemas encontrados em sua vida cotidiana. Sabe-se que uma das formas mais comuns do comportamento humano são as brincadeiras e uma das principais características são as regras. A criança aprende a socializarse com as demais crianças respeitando a vez de cada participante e a prática de cada brincadeira, na qual se pode brincar individualmente ou em grupo, trio, dupla, e assim determinar a realização de acordo como as regras de cada brincadeira escolhida. A reflexão de Smole (2000) destaca que:

Hoje, é sabido que as crianças não entram na escola sem qualquer experiência matemática, e desenvolver uma proposta que capitalize as ideias intuitivas das crianças suas linguagens próprias e suas necessidades de desenvolvimento intelectual requerem bem mais que tentar fazer com que os alunos recitem corretamente a sequência numérica (p. 62).

A brincadeira na escola promove vários aspectos importantes para o desenvolvimento dos alunos. Podendo ser estes elementos que passarão a contribuir em todos os sentidos e se evidenciarão à medida que gradativamente o aluno vai construindo o próprio conhecimento.

Brincadeiras e jogos: atividades lúdicas auxiliando na aprendizagem

As atividades lúdicas estimulam a criatividade, a autoconfiança, concentração e podem contribuir na tomada de decisão e capacidade do aluno para resolver problemas sozinhos. De acordo Góes (2008, p. 37): [...] a atividade lúdica, o jogo, o brinquedo, a brincadeira, precisam ser melhorados, compreendidos e encontrar maior espaço para ser entendido como educação. Na medida em que os professores compreenderem toda sua capacidade potencial de contribuir no desenvolvimento infantil, grandes mudanças irão acontecer na educação e nos sujeitos que estão inseridos nesse processo.

Para que o jogo realize um papel didático em relação à matemática, este deve estimular o raciocínio da criança, provocar a elaboração de estratégia. Quando o jogo se destina a um processo de conhecimento matemático, deve ser pesquisado e considerado nas diversas hipóteses para desenvolver situação que complete a proposta de estimular o


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raciocínio lógico, ou seja, a construção de um pensamento, determinado a sua conclusão ou permitir resolver problema. De acordo com Macedo (2005), a escola pode e deve ser um lugar de brincadeiras e jogos (livres ou dirigidas) de atividades que significativas para a criança, que estimulem seu pensamento e sua criatividade. Seja a brincadeira livre ou até mesmo dirigida, estas têm um papel de grande funcionalidade para o desenvolvimento da criança. A partir do brincar e do jogo é que vai surgindo gradativamente a aprendizagem, propiciam experiências nas quais ajudam na formação da identidade das crianças. As brincadeiras e os jogos são recursos riquíssimos para que a interação lúdica e afetiva auxilie na compreensão dos conhecimentos do mundo que a cerca. Nesse sentido, Carvalho (1992) afirma que: [...] desde muito cedo o jogo na vida da criança é de fundamental importância, pois tudo aquilo que está a sua volta, através de esforços físicos e mentais e sem se sentir coagida pelo adulto, começa a ter sentimento de liberdade, portanto, real valor e atenção as atividades vivenciadas naquele instante (p. 14).

Os jogos são importantes para a formação do pensamento matemático, e o professor pode trabalhar a ciência da matemática explorando estratégia que o jogo dispõe para desenvolver a disciplina, ou seja, construção de regras que provocam situações problema, destacando as habilidades que o aluno pode manifestar a partir das dificuldades que o jogo pode exigir com sua participação. Pensando na função pedagógica de um jogo, pensamos destacar a importância que o professor tem nesse processo de incluir os jogos na aprendizagem dos conceitos matemáticos, pois as atividades elaboradas devem está relacionada à construção da lógica, mas sem perder o lado lúdico, para que o aluno não perca a espontaneidade que a brincadeira permite para a formação de pensamento e na resolução de problemas. De acordo com Kishimoto (2007): O mediador deve respeitar o interesse do aluno e trabalhar a partir de sua atividade espontânea, ouvindo suas dúvidas, formulando desafios à capacidade de adaptação infantil e acompanhar seu processo de construção do conhecimento (p.95).

É coerente que o educador tenha uma forma de avaliar o desenvolvimento da criança, fazendo anotações para registrar quais as evoluções e progressos que acontecem entre eles, sendo que a partir dessa observação, poderá estimular por meio de brincadeira resolver


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situações de adequações com seus colegas, pois é na educação infantil que a criança recebe e impõem regras, para que não haja atritos para realizações das brincadeiras, onde aprendem a respeitar as regras e saber que cada um tem sua vez de participar das atividades. Nas brincadeiras livres, as crianças muitas vezes criam suas próprias regras, e por meio desta, ela aprende a respeitar o outro, se socializando, sendo capazes de criar e resolver problemas como seres autônomos, com participação ativa. Como afirma Lopes (2005) "O desenvolvimento da autonomia na criança é aspecto fundamental para a maturidade emocional e o equilíbrio entre o psíquico e o mental", e essa autonomia se desenvolve a partir do estimulo à brincadeira e jogos elaborados que auxiliam na construção do raciocínio lógico e matemática.

O ensino-aprendizagem da matemática durante jogos e brincadeiras

O jogo é um recurso lúdico de fundamental importância para estimular a criança em vários aspectos de seus desenvolvimentos, tanto intelectual quanto motor. É importante que os professores oportunizem as crianças desde na educação infantil, situações problemas, regas a serem resolvidas e cumpridas estimulando a crianças a terem limites, socialização e aceitação de ganhos e perdas. É importante que se inicie os jogos educativos desde a educação infantil, pois estes contribuem e favorecem o aprendizado de crianças e por meio deste acontece o processo de socialização que contribui na construção da personalidade, como: a afetiva, a social, a motora e a cognitiva. De acordo com Vygotsky (1998), o faz de conta é uma atividade importante para o desenvolvimento cognitivo da criança, pois exercitam no plano das imaginárias situações lúdicas, os seus conteúdos e as regras inerentes a cada situação. “No jogo imaginário as crianças é quem ditam/criam as próprias regas de comportamento, mesmo que não seja como as regras formais combinados a priori. A criança imagina que é uma médica e tem cuidados com a boneca como se ela fosse um de verdade”. De acordo com o sétimo objetivo do Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (RECNEI):


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Utilizar as diferentes linguagens (corporal, musical, plástica, oral e escrita), ajustada às diferentes interações e situações de comunicação, de forma a compreender e ser compreendido, expressar suas idéias, sentimentos, necessidade, necessidades e desejos e avançar no seu processo de construção de significado, enriquecendo cada vez mais sua capacidade expressiva. (BRASIL, 1998, p. 28)

O que caracterizam o jogo de regas é uma forte competição entre os individuo e um conjunto de leis, se não forem compridas os participantes do jogo individual ou em equipe é penalizada, pois os mesmo tendem um conjunto de obrigação (regas), que é de caráter social. Para Piaget, (1976).

O jogo é, portanto, sob as duas formas essenciais de exercício sensório motor e de simbolismo, na assimilação da rela atividade própria, fornecendo a esta seu alimento necessário e transformado o real em função das necessidades múltiplas do eu. Por isso, os métodos ativos da educação das crianças exigem todos que se forneça às crianças em material conveniente, afim de que, jogando elas cheguem a assimilar as realidades intelectuais que sem isso, permanecem exteriores à inteligência infantil (p. 16).

A criança observa a realidade que a cerca para desenvolver sua habilidade tanto intelectual como a motora, portanto é necessário que lhe ofereça material adequado com sua faixa etária. Planejamento prévio, qual objetivo desejo alcançar, que conhecimento quer que a criança aprenda por meio do jogo em que será realizado. O papel do professor na Educação Infantil é de suma significância, sendo mediador na construção do conhecimento na educação infantil, pois é o educador quem cria situações de aprendizagem nos espaços da escola, na disponibilidade de materiais e participa de brincadeiras para que aconteça uma aprendizagem rica de recurso que só tem a contribuir para o desenvolvimento da criança. Para que essa mediação aconteça de forma satisfatória para ambas as partes, é necessário que o professor procure ampliar as vivências das crianças no ambiente físico, com brincadeiras e brinquedos. Contemplar as brincadeiras como princípios norteadores das atividades-pedagógicas. Dessa forma o profissional de educação infantil, tem que ser qualificado para atuar como mediador do desenvolvimento da criança e que o mesmo necessita de atualização de conhecimento, momento reflexão, planejamento para trabalhar a necessidade de cada


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criança, individual e no coletivo vinculando um conjunto de valores de sua vivencias dentro do cuidar e educar. De acordo com o RCNEI (1998): O trabalho direto com as crianças pequena exige que a educador tenha uma competência polivalente. Ser polivalente significa que ao educador cabe trabalhar com conteúdos de natureza diversos que abrangem desde cuidados básicos essenciais até conhecimentos específicos provenientes das diversas árias do conhecimento. Este caráter polivalente demanda, por sua vez, uma formação bastante ampla e profissional que deve tornar- se, ele também, um aprendiz refletindo constantemente sobre sua prática, debatendo com seus pares, dialogando com as famílias e a comunidade e buscando informações necessárias para o trabalho que desenvolve. São instrumentos essenciais para reflexão sobre a prática direta com as crianças a observação, o registro, o planejamento e a avaliação (BRASIL, 1998, p.41)

A formação do professor de educação infantil, não se resolve apenas na aquisição de uma graduação, mas um profissional competente capaz de estimular na criança a curiosidade e a capacidade de aceitação, regas, limite, autonomia entre outras, e assim saber conviver com todas estas, na sociedade que a cerca. É fato que a matemática está presente em nossa vida desde o primeiro momento em que nascemos: quantos quilos, centímetros, hora, e assim, cada vez mais vão aumentando as possibilidades dessa ciência fazer parte de todas as situações que nos cercam. A criança deve ter a liberdade de explorar o ambiente que vive, pois a partir dessa exploração ela adquire informações que lhe trazem possibilidades de conhecimento do mundo que a cerca. A descoberta e a adaptação ao mundo real acontecem por intermédio da brincadeira, ou seja, pelo lúdico que é o fato principal para interação social e o inicio do seu processo de aprendizagem na sua vida escolar. O lúdico pode abrir possibilidades de inserir a criança no mundo da matemática e a escola tem que ser um espaço rico, oferecendo brincadeiras e jogos que proporcionem e contribua para a imaginação, criação e desenvolvimento de habilidades como o raciocínio lógico. Como enfatiza Kamii (1990) “se ela construir a estrutura lógica- matemática de maneira sólida tornar-se-á capaz de raciocinar logicamente numa ampla variedade de tarefa mais difíceis do que a da conservação”. Essas atividades devem estar ligadas á coordenação motora e a construção de objetos, pois essa atividade tem como objetivo, ensinar a criança o


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significado de: espaço, velocidade, tempo, tamanho, quente, frio etc. realizando assim o ensino da matemática de forma prazerosa aonde a criança vai criando a noção de número ao natural, desenvolvendo á partir desse aprendizado seus conceitos matemático. De acordo com Lopes (2005): A criança sempre brincou. Independentemente de época ou de estrutura de civilização, e uma característica universal; por tanto se a criança brinca aprende, por que então não ensinamos da maneira que ela aprende melhor, de uma forma prazerosa para ela e, portanto, eficiente? (p. 35).

Por meio de brincadeiras a criança coloca-se em contato com situações em que precisa interagir com o outro e aprende a lidar com os erros e acertos, o que se torna de fundamental importância para construir a sua identidade social, educativa e a autonomia para que pense e resolva seus problemas por si mesma na construção da sua personalidade no decorrer da sua vida. São várias as brincadeiras que podem levar a criança à aprendizagem de matemática e que resulta em um processo constante para o desenvolvimento de suas habilidades. Por meio da brincadeira podem ser transmitidos os conhecimentos matemáticos que estão presentes em praticamente todas as situações do cotidiano, mas muitas vezes não são perceptíveis por não serem trabalhados desde cedo com a criança. O ensinar da didática de matemática na educação infantil é necessário e de fundamental importância, pois as crianças através da construção de ideias adquirem conhecimentos que as capacitam a pensarem e a refletirem sobre o ambiente no qual elas estão inseridas. Portanto trabalhar matemática na educação infantil é essencial, auxiliam todo o aspecto do desenvolvimento da criança de forma significativa e prazerosa, propiciando a criança aprender noção de número e também desenvolvendo a capacidade corporal, a consciência do outro e de sim mesma como um ser pensante e social. De acordo com Kamii (1990): O termo ‘’ensinar’’ é uma forma abreviada que se refere ao ensino ‘’indireto’’, uma vez que, como foi dito anteriormente, o meio ambiente pode proporcionar muitas coisas que, indiretamente, facilitam o desenvolvimento do conhecimento lógico matemático [...] (p. 42).

A criança deve ter a liberdade de explorar o ambiente que vive, pois a partir dessa exploração ela adquire informações que lhe trazem a possibilidade de conhecimento do mundo que lhe cerca. É através do lúdico e do objeto concreto que acontece e seu desenvolvimento cognitivo.


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A descoberta e a adaptação ao mundo real acontecem por intermédio da brincadeira, ou seja, pelo lúdico que é o fato principal para interação social e o inicio do seu processo de aprendizagem na sua vida escolar. O lúdico insere a criança para o mundo da matemática e a escola tem que ser um espaço rico, que proporciona brinquedos que contribui para a imaginação e a criação de suas fantasias, portanto deve participar desse processo de construção do desenvolvimento do raciocínio lógico. O contato com o lúdico estimula a criança desenvolver a habilidade lógica por meio de brincadeira e atividades que constrói a formação de sua autonomia. A brincadeira é muito importante para que a criança construa a sua identidade social, educativa e a autonomia para que pense e resolva seus problemas por si mesmos na construção de sua personalidade no decorrer de sua vida. Vimos até agora a importância da brincadeira na educação infantil, mas, para que o brincar seja um instrumento que coopere para o desenvolvimento da criança e auxilia o professor em seu trabalho pedagógico, o educador deve planejar sua aula. Mesmo sendo educação infantil, os profissionais da área pensam que não precisa planejar, ao contraio, a educação infantil é o alicerce para uma grande construção que a de vir pela frente, onde a criança aprende a respeitar as regas, o outro, a socializar e inicia o contado com a escrita e a leitura não verbal por meio de imagem, a conhecer o seu próprio corpo pelos seus movimentos e interações com seus colegas nas realizações das brincadeiras. Tais afirmações vêm de encontro com o relato de Menegolla e San’t Anna (2003) “Planejar se torna uma moda didática pedagógica. Professores que não planejam são considerados desatualizados e antiquados ou não conhecedores da educação da educação e do ensino modernos”. Toda instituição escolar devem exigir do professor plano de aula ou se organizar com os mesmos para a elaboração do planejamento que adaptam ao cotidiano no qual os alunos estão inseridos e que abrange as suas necessidades apresentadas em sala de aula. Para Schimtt (2006):

O objetivo principal do planejamento é possibilitar um trabalho mais significativo e transformador na sala de aula, na escola e na sociedade. O plano escrito é o produto deste processo de reflexão e decisão. Não deve ser feito por uma exigência burocrática, mas, ao contrário, deve corresponder a um projeto-compromisso do professor, tendo, pois, suas marcas (p. 2).


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O planejamento é um instrumento de segurança e organização do professor para trabalhar atividades que contribua para todos os processos de desenvolvimento das crianças. Não basta que o educador espalhe todos os brinquedos pela sala e deixar a criança brincar sozinha, com as mesmas brincadeiras com os mesmos brinquedos sempre sem inovação e objetivo, o professor tem que interagir com a criança, sempre atento com o comportamento da criança com os demais colegas e com os objetos nos quais estejam brincando, intervir sempre que necessário auxiliar para melhor compreensão na interação com o meio que o cerca. No sentido de auxiliar o professor a desenvolver a interação entre seus alunos, Kamii (1990) leva esse professor à seguinte reflexão: Quando duas crianças brigam por causa de um brinquedo, por exemplo, a intervenção da professora pode promover ou impedir o pensamento da criança. [...] Contudo, do ponto de vista do desenvolvimento da autonomia da criança, faz uma enorme diferença se ela for encorajada a tomar decisões por si mesmas. [...]. (p. 45).

Portanto, é importante que o

professor

proponha ao invés

de impor

atividades/brincadeiras, assim as crianças também propõem sugestões e respeitam os combinados feitos nas aulas anteriores, essas ações pode trazer benefícios para o professor e também para os alunos que possivelmente se sentirão mais importantes por serem ouvidas pelo professor.

PESQUISA DE CAMPO Objetivo Identificar se os docentes pesquisados utilizam brincadeiras que envolvem conceitos matemáticos para auxiliar durante o processo de ensino/aprendizagem.

Metodologia

Após levantamento bibliográfico pode-se observar que os professores pesquisados consideram relevantes diversos aspectos desenvolvidos durante as brincadeiras e jogos dentro do espaço escolar. Dentre esses aspectos, verificou-se a habilidade lógica por meio do lúdico. Durante as brincadeiras as crianças criam e utilizam estratégias que possibilitam a resolução de problemas e estimulam o raciocínio lógico.


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Para a realização do questionário, foram formuladas quatro perguntas, sendo duas (02) fechadas e três (03) abertas, referentes à contribuição dos jogos e brincadeiras para o desenvolvimento da aprendizagem.

Sujeitos

Os sujeitos da pesquisa foram no total 6 professores/pedagogos, sendo 4 da rede pública municipal, um da rede estadual e um da rede particular, sendo esta localizada no Grande ABC e as demais na cidade de São Paulo. Conforme compromisso assumido com os voluntários, mantiveram-se as identidades preservadas. Análise dos dados Os resultados mostram que a maioria dos respondentes consideram os jogos e as brincadeiras importantes durante o processo de ensino-aprendizagem da matemática na educação infantil. Questionário 1 – Você concorda que a brincadeira e os jogos podem contribuir para aprendizagem da matemática? ( ) SIM ( ) NÃO A primeira questão teve como objetivo identificar se os docentes consideram que a brincadeira e os jogos contribuem no processo de desenvolvimento da aprendizagem da criança em matemática. Todos responderam SIM. 2 – A escola onde você leciona oferece espaço adequado para que as brincadeiras aconteçam? ( ) SIM ( ) NÃO


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A questão 2 baseou-se no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) (1998, p. 69), [...] é preciso que o espaço seja versátil e permeável à sua ação, sujeito às modificações propostas pelas crianças e pelos professores em funções das ações desenvolvidas.” Na totalidade das respostas, os professores afirmaram que a escola onde lecionam disponibiliza de espaço adequado onde as crianças podem desenvolver brincadeiras. 3 – Você considera importante estimular a autonomia da criança visando a resolução de problemas por meio de jogos e brincadeiras? Explique. A terceira pergunta teve como objetivo identificar se as atividades práticas propostas pelas professoras visam o desenvolvimento da autonomia da criança considerando que a autonomia possibilita a busca por respostas e solução para problemas.

As respostas

assemelham-se à afirmação de Lopes (2005, p. 41), “o desenvolvimento da autonomia na criança é aspecto fundamental para a maturidade emocional e o equilíbrio entre o psíquico e o mental”. Todas as professoras estão de comum acordo que a prática de brincadeiras e jogos desenvolvem naturalmente o companheirismo, espontaneidade, criatividade, respeito às regras como perdas e ganhos, contribuindo para a formação de sua autonomia. 4 – Em sua opinião, quais os aspectos envolvidos durante as brincadeiras? Explique. Nessa questão, 3 professoras responderam SIM sem nenhuma explicação. Já a professora B considera: [...] todos os aspectos estão envolvidos: físico, oral, motor, afetivo. A professora C acrescenta: “As crianças amadurecem também algumas capacidades de socialização, por meio da interação e da utilização de regas e papéis sociais”. A resposta mais direta foi a da professora F: “Os alunos se deparam com situações-problema durante as brincadeiras e isso os motiva a tentar resolver o que está impedindo de avançar na brincadeira”. Pode-se observar que apesar de 3 respondentes absterem-se de comentários, as professoras redigiram respostas formais e coerentes ao questionamento. 5 – Cite ao menos uma brincadeira/jogo que você utiliza para ensinar matemática.

Os jogos citados foram: Boliche, Amarelinha, Dominó, Jogo da memória, Jogos de percurso. Uma professora destaca que utiliza “a brincadeira de contagem com as pintas da Joaninha para trabalhar adição e subtração simples”.


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Nessa questão pode-se observar que os professores, cada um a seu modo, utiliza recursos lúdicos para ensinar matemática. Observou-se também que os jogos citados são os mais comuns e de mais fácil acesso e manipulação, pois nenhuma citou jogos que requerem um pouco mais de elaboração e preparo para utilização durante as aulas.

CONSIDERAÇÕES

O presente estudo teve por objetivo verificar, a partir do embasamento teórico, a importância da brincadeira e as possibilidades de ensinar matemática de forma lúdica. Para tanto, verificou-se também que a atuação do professor é indispensável para mediar o desenvolvimento da criança no que se refere à autonomia para resolver problemas. Em relação ao questionário, foi possível verificar que os professores entrevistados utilizam a brincadeira e o jogo como ferramenta para aproximação da criança com o universo da matemática a ser explorado. Evidencia-se pelo estudo também que, os pedagogos estão cientes que as brincadeiras e os jogos fazem parte de um conjunto de recursos para a elaboração de atividades que contribuem para facilitar o raciocínio lógico matemático, como também aspectos relacionados à motricidade e afetividade da criança. Dentre esses aspectos, acredita-se que brincadeira e o jogo contribuem para o desenvolvimento da criança desde que o professor faça um planejamento prévio adequando os conceitos a serem trabalhados à realidade da criança. Pode-se observar o peso da iniciativa de inserir na prática pedagógica metodologias que poderão contribuir para a aprendizagem do aluno, bem como auxiliar o docente durante o processo de desenvolvimento do educando. A instituição de ensino, sendo um local de aprendizagem deve oferecer espaço adequado, amplo e arejado para que o desenvolvimento ocorra de forma satisfatória, prazerosa e assim valorizando-os em suas posições como seres capazes desde a educação infantil de interagir com o mundo que o cerca.


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Apesar da pesquisa de campo ser representada de maneira simbólica devido à população utilizada, pode-se afirmar que os docentes envolvidos na coleta de dados utilizam os jogos e a brincadeira como prática pedagógica durante o processo de ensinoaprendizagem da matemática. Por fim concluímos que os jogos e as brincadeiras contribuem no processo de formação do indivíduo em suas atividades sociais, e o desenvolvimento da autoestima e autonomia auxiliam na aprendizagem da matemática de forma lúdica.

REFERÊNCIAS

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GÓES JUNIOR, José Humberto de. Da pedagogia do oprimido ao direito do oprimido: uma noção de direitos humanos na obra de Paulo Freire. 2008. Dissertação (Mestrado em Ciências Jurídicas) – Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, 2008. KAMII, Constance. A criança e o número. Campinas: Papirus, 1990. KISHIMOTO, Tizuko Morchida. (Org.) Jogo, Brinquedo, Brincadeira e a Educação 10 ed. São Paulo: Cortez, 2007.

LOPES, Maria da Glória. Jogos na educação: criar, fazer, jogar. São Paulo: Cortez, 2005. MACEDO, L. de. Ensaios pedagógicos: como construir uma escola para todos? Porto Alegre: Artmed Editora, 2005. MENEGOLLA, Maximiliano; SAN’T ANNA Martins, Ilza. Porque planejar? Como planejar? Petrópolis: Vozes, 2003. PIAGET, Jean. A formação de símbolo na Criança: Imitação, jogo, imagem e representação. Tradução de Álvaro Cabral e Cristiane Oiticia. Rio de Janeiro: Zahar, 1976. SCHMITT, Adriana. Registro de Planejamento na Educação. Santa Catarina. Ed FURB. v. 1. n. 2. 2006.


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SMOLE, Katia Patrícia. Brincadeira matemática na educação infantil. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 2000. VYGOTSKY, Lev Semenovich. Formação social da mente: o desenvolvimento dos processos psicológicos superiores. 6 ed. São Paulo: Martins Fontes, 1998.


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