Inclusão da pessoa com baixa visão

Page 1

A INCLUSÃO DA PESSOA COM BAIXA VISÃO NO SISTEMA EDUCACIONAL Erica Aparecida Rodrigues de Souza1, Elenir Ferreira Porto Carillo2 1

Aluna do curso de Graduação de Licenciatura em Pedagogia da Faculdade Método de São Paulo.(FAMESP). 2 Mestre em Distúrbios do Desenvolvimento pela Universidade Presbiteriana Mackenzie; professora do curso de Licenciatura em Pedagogia da Faculdade Método de São Paulo (FAMESP).

Resumo O presente estudo pretendeu abordar a questão sobre a inclusão do aluno com baixa visão nas escolas de ensino regular, identificar o que é necessário fazer para que o aluno conclua sua formação. Foi levantada a importância da família, o quanto os pais podem ajudar esta criança em seu aprendizado. A metodologia para esta pesquisa envolveu cinco questões elaboradas e atribuídas a uma pessoa que possui baixa visão profunda desde os 10 anos de idade, atualmente com 21 anos estudante de psicologia em uma universidade privada no estado de São Paulo, por meio desta pesquisa pode-se observar o quanto as instituições de ensino e os professores ainda precisam se preparar para o aluno com deficiência visual .A falta de recursos disponíveis nas escolas e o despreparo por parte de alguns profissionais da educação em não realizar as adaptações devidas. Durante seus anos escolares a entrevistada, afirma que encontrou o apoio para seus estudos na família, e isto fez com que não desistisse do seu objetivo que era concluir o ensino superior, apesar de suas limitações, atualmente, trabalha, estuda, namora, e está sempre preparada para novos desafios.

Palavras- chave: Baixa visão, Educação, Família

Abstract This present study aimed to approach the questiono f low vision student inclusion in regular schools, the strategies and resources used to help the student finish education.It took into account the Family importance and how much parentes can support the low vision student.The methodology involves a qualitative research of five questions made to profound low vision person since childhood.Through this research can be observed how much teaching institutions and teacher should prepare themselves to the visually impaired student yet.The lack of available resources in schools and some wnprepared teachers in not realizing adaptions during her schools years,the interviewed found support in her ,Family the studies and this made her not giving up her objectives to conclud higher education.Nowadays,she Works ,studies,dates someone and is Always willing to face any challenge .


2

Key Word: low vision, Education , Family. Introdução

A pesquisa em questão, referente ao trabalho de conclusão de curso de Licenciatura em Pedagogia da Faculdade Método de São Paulo - Famesp teve como objetivo abordar a questão da inclusão do aluno com baixa visão profunda e identificar o que necessário que o educador utilize para que este aluno conclua sua formação acadêmica .A escolha da temática sobre inclusão ocorreu em razão da necessidade de se investigar como se dar o processo de ensino e aprendizagem a uma pessoa com baixa visão no sistema regular de ensino, sobre tudo nos anos iniciais do ensino fundamental. Para tanto, este trabalho teve como base, fundamentação teórica baseada nas ideias de autores que estudaram

e estudam a baixa visão. Por essa pesquisa

ter enfoque qualitativo, pode-se refletir sobre a carência de profissionais capacitados e especializados na área da educação. Ao longo do presente estudo foi desenvolvida uma pesquisa de campo com uma pessoa que apresenta baixa visão profunda, visando analisar de que forma ocorreu a inclusão no sistema regular de ensino, e se contempla o que a lei garante.

O que é deficiência visual Gil (2000) afirma, que a visão é um dos sentidos de distância que garante o relacionamento do indivíduo com o mundo exterior. Os graus de visão abrangem um leque de possibilidade que vai da cegueira total até a visão total. De acordo com os critérios estabelecidos pela Organização Mundial da Saúde, deficiência visual é o comprometimento parcial (de 40 a 60%) ou total da visão, que não pode ser corrigido com o uso de lentes ou cirurgias. Os diferentes graus de acuidade de deficiência visual podem ser classificados em (GIL 2000, p. 12). Baixa visão ou visão subnormal: (leve, moderada ou profunda): que podem ter um auxilio com o uso de lentes de aumento, lupas, telescópios, com auxílio de bengalas e de treinamentos de orientação. Próximo a cegueira: quando a pessoa ainda e capaz de distinguir luz e sombra, mas emprega o sistema braile para ler e escrever, utiliza recursos de voz para acessar programas de computador, locomove-se com bengala e precisa de treinamentos de orientação e de mobilidade. Cegueira: quando não existe qualquer percepção de luz, o sistema braile, a bengala e os treinamentos de orientação e de mobilidade, nesse caso, são fundamentais.


3

Afirma ainda que, a pessoa é considerada educacionalmente cega quando se torna impossível a utilização da visão para seu aprendizado acadêmico, sendo necessário fazer o uso do sistema Braille para as atividades de leitura e escrita. O sistema Braille é um sistema de escrita em relevo que tem o nome do seu inventor Louis Braille, francês que em 1812 aos cinco anos de idade quando brincava na oficina de seu pai foi atingido com uma fagulha em seu olho esquerdo, Na ocasião, sem recursos médicos para eliminar a infecção. Ocasionou problemas no outro olho, levando a cegueira total. O sistema Braille é um código universal de leitura e escrita tátil, usado pela pessoa cega. É composto pelo arranjo de seis pontos em relevo, dispostos em duas colunas de três pontos. As diferentes combinações desses pontos permitem a formação de 63 combinações que representam letras simples e acentuadas, pontuações, números, sinais matemáticos e notas musicais. Essas combinações estão dispostas em duas colunas de três pontos, denominada cela braile (GIL, 2000).

cela braile

Característica da Baixa Visão

Há diferentes formas de manifestação da deficiência visual. Abaixa visão não deve ser confundida com a cegueira. A pessoa com baixa visão pode enxergar como se olhasse por um tubo ou pode apresentar uma grande mancha escura na parte central da visão ao tentar fixar um objeto. Segunda Sá, (2007), pedagogicamente, diz-se que uma pessoa tem baixa visão quando lê tipos impressos ampliados ou com o auxílio de potentes recursos ópticos.Afirma ainda que a baixa visão é uma deficiência que requer a utilização de estratégias e de recursos específicos, sendo muito importante compreender as


4

implicações pedagógicas dessa condição visual e usar os recursos de acessibilidade adequados no sentido de favorecer uma melhor qualidade de ensino na escola. Quanto mais cedo for diagnosticada, melhor será o prognóstico para o desenvolvimento no que se refere a condutas educacionais, sociais e realização de atividades cotidianas. A baixa visão pode ser causada por enfermidades ,traumatismos ou disfunções do sistema visual que acarretam diminuição da acuidade visual (dificuldade para enxergar de perto e/ou de longe ,campo visual reduzido ,alterações na identificação de contraste ,na percepção de cores ,entre outras alterações visuais) .Trata-se de um comprometimento do funcionamento visual ,em ambos os olhos ,que não pode ser sanado com o uso de óculos convencionais lentes de contato ou cirurgias oftalmológicas (SÁ,2007). Ao trabalhar com crianças de baixa visão, Barraga, escritora e educadora da universidade de educação especial no Texas, difunde o conceito de eficiência visual, pois até então, acreditava-se que as pessoas com deficiência visual grave correriam o risco de perdê-la ao utiliza-la (BRASIL, 2002).

De acordo com estimativa da Organização Mundial de Saúde (OMS), cerca de 70% da população considerada cega possui alguma visão residual aproveitável. Algumas das enfermidades que causam baixa visão são as retinopatias de prematuridade, a retinocoroídite macular por toxoplasmose, o albinismo, a catarata congênita, a retinose pigmentar, a atrofia óptica e o glaucoma (BRASIL,2002). [...] a criança cega ou de baixa visão precisa aprender a viver num mundo de pessoas que não apresentam deficiência.[Ainda] que este processo lhe seja ,muitas vezes ,difícil e penoso.[Entretanto,] cabe à sociedade promover os auxílios necessários para que a criança se capacite e possa integrar-se no grupo social a que pertence.[Conclui-se que] a forma ideal de educação é aquela que proporciona ao aluno maiores oportunidades de assimilação pelo sistema de ensino (BRASIL, 2002 ,p.24)

Sá (2007) afirma que a pessoa com baixa visão apresenta grande oscilação de sua condição visual de acordo com o seu estado emocional, as circunstâncias e a posição em que se encontra, dependendo das condições de iluminação natural ou artificial. Trata-se de uma situação angustiante para o indivíduo e para todos que atuam com ele, devido a complexidade dos fatores e contingências que influenciam nessa condição sensorial.


5

A deficiência visual no Brasil

E necessário apresentar um pouco da historia da deficiência visual no Brasil Como o deficiente visual foi atendido no Brasil inicialmente, e quais as questões que envolviam este atendimento. A partir deste breve histórico chega-se à atual situação do deficiente visual. Segundo dados do Instituto Benjamin Constant, no Censo Demográfico de 1920 já havia dados sobre pessoas que apresentavam deficiência sensorial, os chamados

na

época

de

“cegos”

e

“surdos-mudos”

deficiência

visual

e

auditiva(BRUNO, 2001). Afirma ainda que ,meados do século XlX teve inicio a Educação para crianças com deficiência visual, predominantemente institucional e vinculada à área médica. No final deste mesmo século, é criada no Brasil uma instituição governamental direcionada para o atendimento educacional de pessoas cegas conhecidas como Instituto Imperial dos Meninos Cegos, hoje atual Instituto Benjamin Constant. O Instituto Benjamin Constant foi criado a partir da iniciativa de José Alves de Azevedo, jovem cego descendente de família abastada e que ainda menino e a conselho do Drº Maxiliano Antônio de Lemos, amigo de um tio seu, fora mandado estudar em Paris , no Instituto Imperial dos jovens Cegos, idealizado por Valentin Hauy e que também servira de escola a Louis Braille ,onde alias ,desenvolveu o sistema Braille,regressando da França em 1852, após ter permanecido por oito anos ,lançou –se à luta pela educação de seus compatriotas, escrevendo artigos em jornais

,ora

ministrando

aulas

particulares

dos

conhecimentos

adquiridos

(BRUNO,2001). Afirma ainda que, foi na condição de professor que se tornou amigo do Dr.José Francisco Xavier Sigaud,francês naturalizado brasileiro e médico da Imperial Câmara, cuja filha cega,Adéle Marie Louise Sigaud,veio a ensinar o sistema Braille trazido da França .Encantado com a técnica resolveu criar uma instituição ,aprovada pelo império de Dom Pedro ll,que ao ser fundado ,teve o nome de Instituto dos Meninos Cegos ,e logo depois,Dr.Benjamin Constant Botelho de Magalhães que lecionou muitos anos no Instituto . A partir de então a educação para essas pessoas expandiu-se lentamente, paralelamente ao sistema educacional brasileiro. Na década de 1960, o governo criou a campanha nacional de educação de cegos (CNEC). O programa nacional de


6

apoio a educação de deficientes visuais, conduzido pelo MEC em parceria com a Secretária de Educação Especial, concluiu que a deficiência de visão e uma limitação sensorial que pode atingir uma gravidade capaz de praticamente anular a capacidade de ver, abrangendo vários graus de acuidade visual, permitindo diversas classificações de redução de visão (SÁ,2007).

Convivendo com a deficiência visual

Quando uma criança nasce cega ou com baixa visão profunda, ou ainda quando adquire essa deficiência nos primeiros anos de sua infância, a maneira de entrar em contato com o mundo que a cerca, de descobri-lo e de explorá-lo é bastante diferente dos caminhos daqueles que dispõem da visão. É por meio de seus movimentos e interações com o que a cerca que a criança deficiente visual vai desenvolvendo sua habilidade de perceber, organizar e compreender o mundo vai ocorrendo ao longo do desenvolvimento, afetivo/sócio e cognitivo (MASINI 2007). Nesta tão difícil fase inicial, quando faz-se necessário aprender a interagir, conviver e aceitar essa criança com deficiência visual é fundamental a família contar com o apoio de profissionais especializados na área do desenvolvimento infantil. Para compreender como a criança com baixa visão constrói seu conhecimento, é importante refletir sobre como se processa o desenvolvimento cognitivo e as condutas de interação com o meio. Podemos observar então que a construção do conhecimento não é algo adquirido de fora para dentro, é algo que podemos ensinar (BRUNO, 2001.p.11) As estruturas mentais vão ser construídas pela criança através de suas possibilidades de interação e ação sobre o meio e pela qualidade de solicitação do ambiente. Segundo Bruno, (2001) “o homem se constrói de uma maneira holística, buscando desenvolver suas possibilidades através de todas as experiências significativas, sociais, afetivas ou cognitivas, como um todo indivisível.” Visão e motricidade: Ainda que a acuidade visual de um recém-nascido seja baixa, mesmo assim ele já está recebendo estimulação do meio ambiente, levando-o a uma interação crescente. Quando se trata de uma criança com severa deficiência visual, a ausência de estímulo visual retarda também essa interação: a criança fica inativa, movimenta-se pouco e dessa forma atrasa-se no desenvolvimento motor.


7

“A deficiência visual e o desenvolvimento motor interagem muito [...] uma habilidade motora pobre atrasa o desenvolvimento das funções cognitivas e a criança não aprende a usar ao máximo sua visão” (HYVARINEN 1991, p. 47). Portanto cada criança tem sua forma particular de organizar e estruturar o conhecimento de forma individual e única, alcançando níveis diferenciados de desenvolvimento em ritmo e tempo próprios. Percebe-se que a criança que apresenta baixa visão, em muitos casos devido à falta de um diagnóstico precoce dificulta o desenvolvimento e a aprendizagem. Recursos que não são empregados na hora exata contribui para o agravamento do problema que poderia ter sido corrigido ou amenizado se antes tratado, devido a demora nas intervenções (SIAULYS, 2001).

Recursos e auxílios para pessoas com baixa visão

Segundo Sá (2007) os auxílios ópticos são lentes ou recursos que possibilitam a ampliação de imagem e a visualização de objetos, favorecendo o uso da visão residual para longe e para perto. Exemplos de auxílios ópticos são lupas de mão e de apoio, óculos bifocais ou monoculares e telescópios, dentre outros, que não devem ser confundidos com óculos comuns, A prescrição desses recursos é da competência do oftalmologista e profissionais que atuam na área da baixa visão, que definem quais são os mais adequados à condição visual da pessoa A pessoa com baixa visão, desde pequena, deve ser orientada a usar os auxílios ópticos e a tomar conta de seus pertences. (SÁ,2007). Afirma ainda que os auxílios não ópticos referem-se às mudanças relacionadas ao ambiente, ao mobiliário, à iluminação e os recursos para leitura e para escrita, como contraste e ampliações, usados de modo complementar ou não aos auxílios ópticos, com a finalidade de melhorar o funcionamento visual. Incluem também, auxílios de ampliação eletrônica e de informática softwares específicos para que pessoas com deficiência visual uso de soroban para execução de cálculos matemáticos. São considerados auxílios não ópticos: iluminação natural do ambiente, uso de lâmpada incandescente ou fluorescente no teto, contraste nas cores, por exemplo: branco e preto, preto e amarelo, visores, bonés, folhas pautas escuras e com maior espaço entre as linhas, livros com textos ampliados, canetas com ponta


8

porosa preta ou azul-escuro, lápis 6b com grafite mais forte, lupa eletrônica, recurso usado para ampliação de textos e imagens (SÁ,2007).

A Importância da família no desenvolvimento da pessoa com baixa visão

A visão é o mais importante sentido para a vida da criança, olhando, ela pode observar pessoas, suas ações, atitudes e gestos e imita-los, conhecer os objetos de sua casa, entender o uso de cada um e aprender a manejá-los. A criança deve usar a visão em todas as oportunidades e da melhor forma possível, pois quanto mais ela olha, principalmente de perto ,mais ela vai perceber os objetos do ambiente ,a criança precisa movimentar-se ,andar em casa e fora dela, ter independência para realizar suas atividades de alimentação ,vestuário e higiene ,conhecer seu próprio corpo e saber utilizar os objetos necessários para sua atividades rotineira, a participação da família e indispensável no andar ,conhecer a casa ,fazer juntos as refeições brincar com amiguinhos e frequentar a escola. A educação da criança com baixa visão será desenvolvida por uma equipe de profissionais que ajudará a família a apoiá-la. A família precisa conhecer as necessidades da criança com deficiência visual para que exista uma boa relação familiar. Deve-se confiar nas suas possibilidades de desenvolvimento e mostrar-lhe isto com palavras e ações para que ela se sinta segura, e principalmente, um ambiente de alegria e companheirismo, com muito amor e carinho é fundamental (SIAULYS,2001). Nesse processo, o entorno familiar desempenha importante papel como mediadores do desenvolvimento, da aprendizagem e da inclusão da criança no ambiente familiar, escolar e comunitário. Os familiares devem participar ativamente das avaliações e da elaboração do Programa de Intervenção Precoce e do Plano de Inclusão Escolar da criança, onde obtém informações sobre as possibilidades, necessidades e dificuldades enfrentadas pela criança. (BRUNO,2001). Os pais desempenham um papel fundamental no afastamento das nuvens pessimista que cercam seus filhos, um papel que talvez estejamos relutantes em assumir por também aceitarmos as percepções negativas da sociedade.(STAINBACK,1996 p. 53).

A pessoa com baixa visão tem potencialidade para executar as mesmas atividades desempenhadas pela que não apresenta essa deficiência, desde que sejam traçadas estratégias e usado recursos que supram ou minimizem suas dificuldades.


9

A Inclusão no sistema de ensino

Segundo o dicionário Aurélio (1985), incluir significa: abranger, compreender, envolver, conter. Segundo Bruno (2007), partir dessa definição percebemos que é preciso conviver sabendo respeitar as dificuldades que uma pessoa com deficiência encontra em sua adaptação ao meio social. Inclusão é um processo construído numa relação dialógica, na avaliação e elaboração permanente de estratégias. Um espaço, onde pais, profissionais especializados, professor da sala regular e todo o coletivo escolar se juntam para discutir as possibilidades, as necessidades e formas de interação adequadas, a avaliação e modificação da escola, a organização do espaço, o provimento de recursos humanos e materiais necessários para a promoção da aprendizagem. (BRUNO, 2007). A inclusão não prevê o uso de praticas de ensino escolar especifica para esta ou aquela deficiência e/ou dificuldade de aprender. Os alunos aprendem nos seus limites, e se o ensino for de fato de boa qualidade, o professor levará em conta esses limites e explorará convenientemente as possibilidades de cada um. Não se trata de uma aceitação passiva do desempenho escolar e sim de agirmos com realismo, coerência e admitimos que as escolas existem para formar as novas gerações, e não apenas alguns de seus membros, os mais capacitados e privilegiados (MANTOAN,p 67,2003).

Segundo Amiralian (1997), existem dois problemas específicos as pessoas com baixa visão que trazem complicação para a sua educação e a organização de sua personalidade, falta de identificação desses alunos como pessoas com baixa visão e o deslocamento de suas problemáticas para outras áreas. Alunos com baixa visão, quase nunca são tratados como pessoas que possuem capacidade limitada para perceber visualmente o mundo ao seu redor, são tratadas as vezes como cegas e em outros momentos como pessoas visualmente normais. Amiralian (1997,) afirma ainda que a ausência de clareza sobre como essas crianças percebem o mundo os levam (pais e professores) a considerar as suas dificuldades como decorrentes de outras incapacidades pessoais, e não de sua limitação para enxergar.


10

Segundo a autora, as dificuldades encontradas por esses alunos, seja na realização das tarefas escolares ou nos comportamentos sociais, são, na maioria das vezes tida como incapacidade mental ou a falta de vontade. Amiralian (1997), entre as pessoas com deficiência visual de 70% a 80% possui alguma visão útil, a não utilização efetiva do resíduo visual, por menor que seja, leva a uma diminuição da eficiência visual, o uso de qualquer resíduo visual poderá ajudar as pessoas com baixa visão na realização de inúmeras tarefas. É compreensível que estudantes com deficiência visual apresentem dificuldades com os procedimentos metodológicos do ensino de algumas disciplinas, pois, uma educação centrada na valorização da visão seja para copiar da lousa, para ler ou para observar um fenômeno, pode levar o estudante com deficiência visual ao fracasso escolar e a não socialização (MANTOAN, 2003). Alguns indivíduos com baixa visão, severos ou moderados poderão se beneficiar de ajuda de recursos ópticos ou não ópticos específicos, para perto ou longe como forma de facilitar o processo de ensino e aprendizagem. A Lei de Diretrizes e Base da Educação Nacional nº 9.394/96, representou um grande avanço conceptual em termos de direitos sociais, colocou a educação infantil como primeira etapa da educação básica que tem por finalidade o desenvolvimento integral da criança de 0 a 6 anos, com a promoção dos aspectos físicos, psicológicos, sociais, intelectuais e culturais. (BRASIL,1996). Segundo Bruno (2007), após quase 20 anos, da garantia desses direitos, observa-se na pratica, a não concretização dessas ações, a educação ficou relegada a um segundo plano, uma vez que a política nacional, expressa no plano decenal de educação para todos. Incluir os alunos com deficiência nas turmas de educação regular eleva a consciência de cada aspecto inter-relacionado da escola como uma comunidade, seus limites, os benefícios a seus membros, seus relacionamentos internos, seus relacionamentos com o ambiente externo e sua história. Como bem sabe a maioria das pessoas que enfrenta a luta pela inclusão, essa consciência elevada em geral surge na forma de medo e defesa, demonstrando em termos que soam semelhantes em ambos os lados das fronteiras que separam os alunos tendo como critério a deficiência (STAINBACK 1996). Stainback (1996,) afirma que, as mudanças que precisam ocorrer para a realização do ensino inclusivo não devem ser vistas apenas como pré-requisitos, mas


11

também como co-requisitos, as mudanças envolvem muitos níveis do sistema administrativo, incluindo a estrutura do setor central de educação, a organização de cada escola e a didática da sala de aula. O Ministério da Educação, através da publicação “Saberes e práticas da Inclusão”. (BRASIL, 2006) orienta sobre as adequações curriculares, conforme descrito a seguir: - posicionar o aluno na sala de aula em lugar bem iluminado e próximo a lousa de preferência na primeira carteira da fila central se necessário colocar uma luminária iluminando as atividades que o aluno está fazendo. - evitar a incidência de claridade diretamente nos olhos da criança. - posicionar a carteira em local onde o aluno não escreva na própria sombra. - adaptar o trabalho de acordo com a condição visual do aluno. - em certos casos, conceder maior tempo para o termino das atividades propostas, principalmente quando houver indicação de telescópio. - observar o espaçamento adequado entre letras, palavras e linhas. - utilizar papel fosco para não refletir a claridade. - explicar com palavras as tarefas a serem realizadas.

Infelizmente ainda não é a realidade encontrada nas escolas públicas, para que o sistema educacional contemple as necessidades especiais dos educandos com baixa visão, também são necessárias adaptações de objetivos (mudança no conteúdo e no processo de avaliação).

Estratégias para facilitar o aprendizado de alunos com baixa visão

Fazer acomodação no ambiente Alterar a disposição física para reduzir distrações Adotar o ensino em grupos pequenos Variar o método de ensino Usar atividades de auto manejo Solicitar reforço dos pais Gravar as aulas Utilizar objetos manipuláveis


12

Aplicar testes orais Modificar o formato de textos. Ao abrir suas portas igualmente para os que enxergam e os que não enxergam, a escola deixa de reproduzir a separação entre deficientes e não deficientes que há na sociedade (BRASIL, 2001). Sabe-se, no entanto, que atualmente o processo de comunicação, de expressão cultural ou artística constitui-se de imagens, formas visuais cada vez mais sofisticadas. Os conteúdos curriculares expressos nos livros didáticos, apostilas e até mesmo em pesquisas nos números, letras, imagens, cores, formas e tamanhos. Isso requer do professor uma revisão de suas práticas convencionais, seus conceitos e busque todos os mecanismos, estratégias e condições para que um ambiente de aprendizagem com atividades predominante visuais possa ser adaptado e o ensino condizente com as necessidades gerais e especificas de todos e de cada um dos alunos. (SÁ, 2007). Segundo a Declaração de Salamanca (1994), o currículo deveria ser adaptado às necessidades da criança e não vice-versa. Escolas deveriam portanto prover oportunidades curriculares que sejam apropriadas a criança com habilidades e interesses diferentes .Crianças com necessidades especiais deveriam receber apoio instrucional adicional no contexto do currículo regular ,e não de um currículo diferente. Afirma ainda que preparação apropriada de todos os educadores constitui-se um fator chave na promoção de progresso no sentido do estabelecimento de escolas inclusivas. As seguintes ações poderiam ser tomadas .Além disso, a importância do recrutamento de professores que possam servir como modelo para crianças portadoras de deficiências torna-se cada vez mais reconhecidas (DECLARAÇÂO DE SALAMANCA,1994).

Pesquisa de campo

Objetivo Abordar a deficiência visual, bem como, identificar os recursos e estratégias necessárias para que a pessoa com baixa visão possa ser incluída no sistema de ensino.


13

Metodologia Os dados foram coletados a partir de uma entrevista por meio de um questionário elaborado, com 5 perguntas qualitativas que abordam as dificuldades encontradas no processo de educação até chegar ao curso superior, no que se refere aos recursos e estratégias necessárias para que a pessoa com baixa visão possa ser incluída no sistema regular de ensino. Antes do início da entrevista foi entregue a carta de Consentimento, garantindo o mínimo risco ou desconforto físico e psicológico a participante, assegurando a condição de sigilo. Sujeito Para tanto será realizado um estudo de caso de uma pessoa que apresenta baixa visão profunda desde os 10 anos de idade atualmente com 21 anos formada em balé estudante do 5º. Semestre do Curso de Psicologia Na Universidade Paulista (UNIP) em São Paulo e que atualmente trabalha como auxiliar administrativo em uma empresa de telemarketing no ABC Paulista.

Análise e discussão dos resultados

1) As escolas que você frequentou, em todos os níveis, possuíam algum auxílio óptico ou alguma adaptação para viabilizaram o seu desenvolvimento e aprendizagem? Cite quais e explique de que forma auxiliaram. A entrevistada declara que durante os anos em que freqüentou a escola regular de ensino, não usufruiu de nenhum tipo de recurso ou auxilio para o seu ensino aprendizagem, afirma ainda que por falta de um recurso ou uma pessoa auxiliar para ajudá-la, acabava por atrasar a colega de classe, porque esta era quem fazia o trabalho de uma auxiliar para que não perdesse todo o conteúdo ministrado pelo professor. A pessoa com baixa visão profunda tem algumas restrições, por esse motivo necessita de recursos ou de um ledor, por muitas das vezes não disponível no sistema de ensino.

2) De que maneira você tinha acesso aos conteúdos transmitidos em sala de aula? Quais as estratégias que você utilizava para estudar esses conteúdos e de que forma as provas eram realizadas? Enumere e explique.


14

Afirma a entrevistada que sua mãe era encarregada de fazer cópias ampliadas dos textos, e das páginas dos livros que deveria estudar para as provas. Os professores mesmo sabendo das dificuldades encontradas pela aluna para estudar, não preparavam uma prova com letras ampliadas ou até mesmo uma prova oral, deixando assim que está encontrasse sozinha a melhor forma de estudar e se preparar para as avaliações.

3) Pensando nas dificuldades enfrentadas e de acordo com a sua experiência de vida, você acredita que as escolas e os profissionais estão preparadas para atuar com uma pessoa que apresenta baixa visão? Explique A entrevistada relata que nos dias atuais as Instituições de ensino melhoraram muito, em algumas escolas e possível observar uma auxiliar com um aluno deficiente, e os professores se preocupando mais com a maneira em que estes alunos estão aprendendo. Ainda não se pode dizer que haja inclusão de acordo com o que é proposto por conceituação, mas esta afirma ainda que todos os obstáculos e preconceitos que sofreu principalmente com os professores que teve, foi o que mais fortaleceu para seu crescimento. A ausência de clareza sobre como essas crianças percebem o mundo os levam [pais e professores] a considerar as suas dificuldades como decorrentes de outras incapacidades pessoais, e não de sua limitação para enxergar (AMIRALIAN,1997, p. 20).

4) De acordo com a sua experiência de vida, como deveria ser direcionado o aprendizado para a pessoa que apresenta baixa visão? Quem deveria estar envolvido nesse processo? Explique. A palavra utilizada pela entrevistada foi “criatividade”, todos os professores e profissionais envolvidos na área da educação deve usar de muita criatividade, para interagir e incluir todos os alunos no ambiente escolar, a aula deve ser de maneira clara e muitas vezes mais lúdica para que não se faça restrição da pessoa que está vendo, daquelas que tem suas limitações, trabalhar com cores e formas auxilia muito para um bom aprendizado. A finalidade da inclusão é de que pessoas com necessidades especiais busquem seu desenvolvimento para poder exercer sua cidadania. Segundo Sassaki


15

(1997, p.43) "o pré-requisito para alcançar este objetivo é a modificação da sociedade”.

5) Nesse processo de desenvolvimento e aprendizagem, no seu entender, qual a importância do papel dos familiares que estão diretamente em contato com a pessoa que apresenta baixa visão? Explique Segundo a entrevistada a família é de grande importância na vida da pessoa com baixa visão, porque é da família que vem o apoio necessário para que esta pessoa se desenvolva e seja independente. A pessoa com baixa visão profunda deve ser tratada com igualdade. A família deve respeitar suas limitações e seu tempo. A entrevistada afirma ainda que chegou onde está por que sempre teve o apoio e a ajuda de sua mãe para estudar.

Considerações

Por meio deste artigo e em análise com o que foi discutido no estudo de caso, pode-se concluir, que mesmo com a garantia da legislação vigente e atuação da sociedade, a inclusão está sendo realizada nas escolas aos poucos e os educadores estão procurando por especializações no atendimento com deficientes. Falta adaptação nas escolas, bem como, capacitação e especialização para os funcionários das instituições de ensino. As famílias da criança com baixa visão, devem se conscientizar que esta pode fazer tudo, desde que sejam respeitadas suas limitações e sejam oferecidos recursos adequados. Há necessidade de envolvimento de todos desde os familiares ate os profissionais das instituições de ensino, para que a pessoas com baixa visão consiga acompanhar o processo de ensino e aprendizagem.

A pessoa com baixa visão necessita de auxilio que a

possibilite realizar atividades do dia a dia como estudar, trabalhar, namorar, ter amigos, ter vontades e sonhos. Incluir é aceitar, é estar junto, é compreender, é entender as diferenças. Diante do estudo e da pesquisa pode-se concluir que não é justificável que a pessoa com baixa visão seja tratada com indiferença, mas há a necessidade da participação de todos, uma vez que a inclusão é uma ação social. A inclusão é feita por meio do respeito e dos limites de cada um. A sociedade deve agir com coerência, e aceitar que não é somente a escola que deve incluir,


16

mas sim que devemos contribuir para a formação de um cidadão. A Inclusão deve ser feita gradativamente com a participação de todos: família, sociedade e instituições de ensino.

REFERÊNCIAS AMIRALIAN, M. L. Compreendendo o cego: uma visão psicanalítica da cegueira por meio de desenhos – estórias. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2004.

BRASIL, Diretrizes Nacionais para Educação Especial na educação Básica Brasília, 2002.

__________Lei n°10.172/01.Plano Nacional de Educação, Brasília, DF,2001. BRASIL, Saberes e Práticas da Inclusão, Brasilia,2006.

BRUNO, Marilda Moraes Garcia. A Construção da Escola Inclusiva: Uma analise das Politicas Públicas e da Pratica Pedagógica no Contexto da Educação Infantil. In: Revista ambiente educação. Brasília: Brasil,2007.

BRUNO, Marilda Moraes Garcia et AL. Programa de Capacitação de Recursos Humanos: Deficiência Visual. Brasília: Ministério da Educação Secretaria de Educação Especial ,2001

FERREIRA, A.B.H. Dicionário Aurélio, São Paulo, 5° ed,2010.

GIL, Mara Deficiência Visual. Secretaria da educação à distância. Brasília: Brasil 2000.

HYVARINEN, L. O desenvolvimento normal e anormal da visão. São Paulo: Laboratório Aché, 1991. MANTOAN, M. T. E. Inclusão: o que é ? porque? Como fazer?. São Paulo: Moderna 2003.


17

MASINI, Elcie F. Salzano et al. Visão Subnormal: um enfoque educacional. São Paulo:Vetor,2007.

SÁ,

Elizabet

Dias.et

al.

Deficiencia

Visual:

Atendimento

Educacional

Especializado. Curitiba, PR :Cromos, 2007.

SALAMANCA, Declaração: Sobre Princípios, Políticos e Praticas na Área das Necessidades Educativas Especiais,1994.

SASSAKI, Romeu Kazumi Inclusão: Construindo uma sociedade para todos.Rio de Janeiro :WVA,1997.

SIAULYS, Mara O.de Campos Deficiência Visual Associada à deficiência Multipla: Encarando desafios e construindo possibilidades. São Paulo: Laramara,2001.

STAINBACK, Susan, Inclusão: Um guia para educadores. Porto Alegre, RS:Artmed,1996.


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.