3º mês
Os batuques voltaram a fazer-se ouvir, há de novo kulungwanas (gritos tribais) soltos nas músicas mais festivas da eucaristia, as pessoas voltam a dançar e a bater palmas, no ritmo que move este país. O ritmo parece quase marcar o bater do coração de Jesus que assim se faz verdadeiramente presente no meio de nós. É outra vez tempo de festa, é tempo de alegria, Jesus Ressuscitou! Foram dias cheios de intensidade os que marcaram esta Semana Santa. Nesta terra, tudo se vive com bastante profundidade. Quando há motivos de festa, faz-se verdadeira festa, mas quando se trata de chorar a morte do Senhor, nada como vestir o fato preto de luto e chorar adorando a cruz. Tudo isto sem histórias de ovos, amêndoas ou coelhinhos da Páscoa. Para esta gente nada disso ainda chegou… e ainda bem! Foi uma Semana Santa que começou junto do Arcebispo, numa procissão onde se juntaram todos os jovens da diocese, com os seus ramos de palmeiras bem erguidos para reviver a triunfal entrada de Jesus em Jerusalém. E de facto, triunfal é a palavra que melhor pode caracterizar esta celebração. Centenas e centenas, ou talvez milhares de jovens, uma banda de música e dois coros a cantar com toda a intensidade fizeram vibrar as ruas do centro de Maputo e abanar a igreja de São Joaquim onde depois foi celebrada a eucaristia. Algo que me fez recuar às JMJ de Madrid e lembrar-me as palavras do Papa Bento XVI “A Igreja está viva e é jovem!”. Depois disso houve tempo para celebrações penitenciais, para dar entrada no tríduo. A missa de instituição da eucaristia foi celebrada novamente em clima de festa seguida de um grandioso jantar para celebrar aquele que é o dia dos sacerdotes. Depois foi chegada a sexta-feira santa que começou com a adoração ao Senhor transladado para o outro sacrário (esta adoração não se fez quinta-feira à noite porque aqui as pessoas têm medo de voltar muito tarde para casa, infelizmente a Páscoa não muda o ambiente de insegurança em que vivemos). Uma manhã intensa de oração, onde acompanhei vários grupos da paróquia em adoração e aproveitei para rezar por todos os que me têm apoiado nesta experiência e todos os que dela fazem parte. Depois de almoço veio uma representação da Paixão feita pelos animadores da paróquia para se dar início à celebração da Paixão. E como a Igreja encheu para esta celebração. Algumas pessoas vestidas de luto e um ambiente totalmente oposto ao do dia anterior faziam perceber que era dia de tristeza e não de alegria. Chegado o Sábado Santo, chegou a Vigília das Vigílias. 54 pessoas para serem batizadas e mais 4 (58) para fazerem a 1ª comunhão. Foi uma sorte arranjar lugar na Igreja. Agora sim, sabíamos que a festa voltava para continuar. Palmas, danças, muita, muita música para acolher este “pequeno” grupo que fazia agora parte desta comunidade. Foi assim que por aqui se viveram todos estes momentos marcantes. Mais uma nota especial para dizer que este mês chegou um novo voluntário da Alemanha. Alguém de coração bem aberto que, apesar das dificuldades de adaptação à língua, decidiu abarcar nesta aventura. Agora como voluntário “mais velho” tenho esta missão de o integrar da melhor forma na comunidade e com os nossos rapazes. Termino com uma citação do Papa Francisco que já não é recente mas que é mais uma das que me dá força neste caminho. Que tenhamos de facto a capacidade mudar o mundo pela nossa Fé….
“Uma fé autêntica implica um desejo profundo de mudar o mundo” (Para Francisco, Janeiro 2014) Ricardo Mendes