Minas Faz Ciência 43

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BIC JR

Há sete anos, a Fapemig, em parceria com o CNPq, concede Bolsas de Iniciação Cientifica Jr. a estudantes do ensino médio de Minas Gerais, com o objetivo de despertar nos jovens o interesse pela ciência e incentivar a criatividade em produções científicas.

Cetebio Pesquisadores da Hemominas estruturam o maior banco de tecidos da América Latina onde serão desenvolvidos estudos com seis tipos de tecidos humanos.

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Modernidades tardias

Cloud computing

Estudos de inovações estéticas e políticas no Brasil dos anos 40 e 50 buscam compreender o modo como a vivência da modernidade, em nações periféricas, difere do padrão hegemônico europeu. 36

Novo modelo de computação promete transformar a relação das pessoas com a Internet e o computador, facilitando a vida do cidadão.

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Lembra dessa?

Aspirinas e diabetes

Pesquisadores estudam o potencial farmacêutico de moléculas encontradas em toxinas de aranhas e escorpiões contra doenças causadas por bactérias e fungos e a hipertensão. 39

Estudo desenvolvido no laboratório de genes do ICB/UFMG investiga as múltiplas ações da aspirina contra doenças, como diabetes tipo 2 e câncer.

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Saúde e educação Estudo demonstra como as campanhas de comunicação coletiva podem ser eficientes no combate à doença, quando associadas a tecnologias como a Evidengue.

Plantas desprotegidas Pesquisadores descobrem que ácaros são capazes de desarmar o sistema de defesa de plantas. Descoberta pode auxiliar combate às pragas na agricultra.

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Plantas do Cerrado

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Goumi

Biomas do Cerrado e Mata Atlântica têm seus DNAs investigados para o desenvolvimento de estratégias de conservação de quatro espécies da flora mineira.

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Cartografias urbanas

TV digital

A influência das novas tecnologias e técnicas multidisciplinares no desenvolvimento dos desenhos cartográficos na sociedade contemporânea.

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Projeto desenvolve aplicativos e serviços interativos, promovendo ações de inclusão digital por meio da interação do telespectador com o conteúdo veiculado à televisão

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Cientistas brasileiros

Nova FAPEMIG Novas assessorias, gerências e departamentos renovam a estrutura e aperfeiçoam o trabalho em prol da Ciência,Tecnologia e Inovação (CT&I) no Estado de Minas Gerais.

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Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais

Conheça o divertido jogo de computador on-line destinado a crianças e jovens de 6 a 14 anos e que propõe formar pessoas que saibam lidar melhor com o dinheiro no dia a dia.

O professor e pesquisador Jairton Dupont é um dos 100 químicos escolhidos pela agência mundial de informações Thompson Reuters por ter se destacado mundialmente com maior número de publicações e citações por pesquisa. 50

MINAS FAZ CIÊNCIA tem por finalidade divulgar a produção científica e tecnológica do Estado para a sociedade. A reprodução do seu conteúdo é permitida, desde que citada a fonte.

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Expediente MINAS FAZ CIÊNCIA Assessora de Comunicação Social e Editora Geral: Ariadne Lima (MG09211/JP) Editor Executivo: Fabrício Marques Assessora Editorial: Vanessa Fagundes Redação: Ariadne Lima, Fabrício Marques,Vanessa Fagundes, Juliana Saragá, Maurício Guilherme Silva Jr.,Ana Flávia de Oliveira, Carolina Braga, Kátia Brito (Bolsista de Iniciação Científica). Ilustrações: Beto Paixão Revisão: Glísia Rejane Projeto gráfico/Editoração: Fazenda Comunicação & Marketing Montagem e impressão: Lastro Editora Tiragem: 20.000 exemplares Fotos: Marcelo Focado/Gláucia Rodrigues Agradecimentos - Agradecemos a todos os colaboradores desta publicação Redação - Rua Raul Pompéia, 101 - 12.º andar, São Pedro - CEP 30330-080 Belo Horizonte - MG - Brasil Telefone: +55 (31) 3280-2105 Fax: +55 (31) 3227-3864 E-mail: revista@fapemig.br Site: http://revista.fapemig.br

Capa: Mosquito da Dengue – Aedes aegypti Foto: Beto Paixão Nº43 set a nov. 2010

GOVERNO DO ESTADO DE MINAS GERAIS Governador: Antônio Augusto Junho Anastasia SECRETARIA DE ESTADO DE CIÊNCIA, TECNOLOGIA E ENSINO SUPERIOR Secretário: Narcio Rodrigues

Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais Presidente: Mario Neto Borges Diretor de Ciência,Tecnologia e Inovação: José Policarpo G. de Abreu Diretor de Planejamento, Gestão e Finanças: Paulo Kleber Duarte Pereira Conselho Curador Presidente: João Francisco de Abreu (PUC/MG) Membros: Afonso Henriques Borges Anna Bárbara de Freitas C. Proietti Evaldo Ferreira Vilela Francisco Sales Dias Horta Giana Marcellini José Cláudio Junqueira Ribeiro (FEAM) José Luiz Resende Pereira (UFJF) Magno Antônio Patto Ramalho (UFLA) Paulo César Gonçalves de Almeida (UNIMONTES) Paulo Sérgio Lacerda Beirão (UFMG) Rodrigo Corrêa de Oliveira (CPqRR)

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Ao leitor Entra ano, sai ano, os noticiários continuam estampando manchetes sobre a dengue no Brasil. Recentemente, a confirmação de casos do tipo quatro da doença no país preocupou especialistas, uma vez que a maior parte dos brasileiros não possuem imunidade contra essa variação do vírus. Apesar das constantes campanhas de conscientização para o combate à dengue, até a primeira quinzena de fevereiro, Belo Horizonte registrava 148 casos confirmados da doença e 793 aguardavam resultados de exames. Na luta contra a dengue, a parceria entre conhecimento, educação e novas tecnologias pode ser uma importante aliada. Ela é a base de um estudo do Centro de Pesquisas René Rachou (Fiocruz Minas), que testa a eficácia de um produto que veda os pratos coletores de água para plantas, evitando o depósito de ovos pelas fêmeas do mosquito transmissor. A equipe de pesquisadores trabalha, ainda, a educação em saúde, envolvendo estudantes no projeto e disseminando a cultura da prevenção. O potencial de estudantes como disseminadores da ciência é também aproveitado no Programa de Bolsas de Iniciação Científica Júnior (BIC Jr.), fruto da parceria entre a FAPEMIG e o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), que oferece bolsas a alunos do ensino médio para a participação em projetos de pesquisa. Nesta edição, a MINAS FAZ CIÊNCIA mostra a evolução do Programa, criado em 2004, que hoje oferece mais de 1.200 bolsas e apresenta resultados positivos, conquistando prêmios nacionais, como o Jovem Cientista, um dos mais importantes da área. E, por falar em nova geração, o leitor não deve deixar de conferir a reportagem sobre um tema que se tornou parte da vida de crianças, jovens e adultos: a computação nas nuvens, ou cloud computing, modalidade tecnológica que permite o processamento de dados e o acesso a documentos particulares por meio da Internet, sem a necessidade de acessá-los do computador pessoal. Este ano, a FAPEMIG vai investir R$ 2 milhões para o desenvolvimento de projetos relacionados a essa tecnologia. Na área de saúde, a revista também destaca os efeitos benéficos do ácido acetilsalicílico, a famosa aspirina. Além das conhecidas ações analgésica e anti-inflamatória, a aspirina pode agir sobre determinadas proteínas, promovendo, por exemplo, melhor captação de glicose por células de gordura, o que possivelmente leva à redução de glicose no sangue. A comprovação dessa hipótese pode futuramente ajudar portadores da diabetes tipo 2, cujo organismo não é capaz de metabolizar a glicose no sangue. Outra iniciativa que promete trazer alento à muita gente é a criação do Centro de Tecidos Biológicos (Cetebio), a ser inaugurado em 2013, que será o maior da América Latina e o primeiro do país na área por agregar várias especialidades em um só ambiente. A unidade funcionará em Lagoa Santa (MG) e reunirá pesquisas com seis tipos de tecidos humanos, entre eles pele, sangues raros, medula óssea e válvulas cardíacas. Isso significa oferecer novas perspectivas a pacientes portadores de leucemias, queimaduras de terceiro grau, entre outras doenças graves. São boas notícias que afetam a sociedade nos seus mais variados campos e reforçam a ideia de que o Brasil desenvolve boas pesquisas, com potencial para trazer resultados de grande impacto econômico e social. Além delas, a revista apresenta outras importantes ações nas áreas de geografia, história, biologia e química. São as muitas faces da ciência que convidamos você, leitor, a desvendar. Uma ótima leitura!

Ariadne Lima Editora Geral Fabrício Marques Editor Executivo


Cartas “Olá, pessoal da revista MINAS FAZ CIÊNCIA. Gostaria de receber essa conceituada revista no que se refere à produção científica. Meu nome é Lilian Maria Barbosa Ferrari, sou estudante do curso de Ciência e Tecnologia de Laticínios na Universidade Federal de Viçosa (UFV). Desde já, agradeço a atenção e espero ser contemplada com essa maravilhosa publicação. Abraços.” Lilian Ferrari Estudante Universidade Federal de Viçosa/ MG

Publicação trimestral da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais - FAPEMIG nº 42 - jun. a ago. 2010 MINAS FAZ CIÊNCIA informa que as cartas enviadas à Redação podem ou não ser publicadas e, ainda, que se reserva o direito de editá-las, buscando não alterar o teor e preservar a ideia geral do texto.

“Sou estudante do 5° período do curso de Biologia do Centro Universitário do Triângulo (Unitri). Estou estudando sobre Bioética do Projeto Genoma. Fiz uma pesquisa sobre o tema em edições interiores e encontrei os seguintes números: Revista N°21 Dez/2004 a Maio/2005 e Revista N°15 Jun a Ago/2003.” Simone Maria Marçal Estudante Centro Universitário do Triângulo/ MG “Gostaria de pedir o envio de edições antigas da revista, além dos exemplares atuais. Tenho muito interesse no conteúdo da revista, principalmente porque faço graduação no curso de Ciências Biológicas da Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ). Sei que as revistas serão muito úteis na minha formação universitária e pessoal.” Rafaela Guimarães Silva Estudante Univers. Federal de São João Del Rei/ MG

“Olá, já recebi muitas indicações da revista MINAS FAZ CIÊNCIA. Gostaria, portanto, da oportunidade de adquiri-la. Sou aluno de Química do Centro Federal de Educação Tecnológica (Cefet-MG). Logo, necessito de materiais informativos de tecnologia para me atualizar.” Fabrício Carlos Aquino Estudante Centro Federal de Educação Tecnológica (Cefet)/ MG “Somos uma instituição chamada Casa Brasil/Obra kolping, patrocinada por órgãos Ministeriais. Nosso projeto visa ao exercício da cidadania, inclusão digital e cultural. Estamos em fase de implantação. O recebimento da revista nos seria de grande valia.” Rosangela Silva Monitora Sala de Leitura Belo Horizonte / MG “Minha empresa desenvolve e faz captação de recursos para projetos culturais, comunitários, educativos e de meio ambiente. Gostaria de receber a Revista Minas Faz Ciência (inclusive as anteriores, se possível for). Desenvolvo minhas atividades na cidade de São Paulo, mas a empresa está localizada na cidade de Cambuí (MG).” Sebastião Roque São Paulo/ SP “Sou Engenheiro Agrônomo aposentado, formado pela ESALQ-Piracicaba em 1964. Resido na cidade de Piracicaba e, por isso, ainda tenho o privilégio de frequentar a biblioteca da ESALQ.Tenho tido contato e o prazer de ler a revista, apesar de números passados. Fiquei muito feliz ao ver que a MINAS FAZ CIÊNCIA tem distribuição gratuita.” José A. Guiololin Piracicaba/SP

“Olá, meu nome é Kleyton Torres Paulino. Escrevo porque fiquei sabendo, por meu professor de química, sobre a revista MINAS FAZ CIÊNCIA, que sua distribuição é gratuita e é de suma importância para o nosso aprendizado. Gostaria de parabenizar a iniciativa de distribuir gratuitamente informações de qualidade, pois sabemos que, quanto mais pessoas bem-informadas, instruídas e satisfeitas com as oportunidades e ferramentas oferecidas ao seu conhecimento, maior o desenvolvimento, a produção, a independência e a riqueza de um país.” Kleyton Torres Paulino Montes Claros/MG “Recebi um e-mail do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) falando a respeito das reportagens de qualidade da Revista MINAS FAZ CIÊNCIA e sobre a gratuidade das edições trimestrais. Solicito a assinatura da revista. Bom trabalho a todos!” Alcenir Marcelino Rodrigues Extensionista Bem Estar Social II Emater / MG “Conheci a revista editada por essa instituição e gostei muito da qualidade do trabalho realizado. Sou professor de Ciências do Colégio Santo Agostinho (Contagem) e professor de Genética do Instituto Superior de Educação Anísio Teixeira, na Fundação Helena Antipoff (Ibirité). Solicito a assinatura da revista.” Moacir Alves Moreira Contagem/ MG “Recebemos esporadicamente a revista MINAS FAZ CIÊNCIA. Como a coleção está com falhas, manifesto o interesse da Biblioteca da Embrapa Uva e Vinho em receber gratuitamente os exemplares da revista. Temos interesse também em receber a edição de número 29 (mar. a maio de 2007), que apresenta uma matéria sobre vitivinicultura em Minas Gerais.” Kátia Midori Hiwatashi Embrapa/MG RESPOSTA: Caros leitores, as edições mais antigas da revista MINAS FAZ CIÊNCIA estão esgotadas. Enviaremos com prazer as edições mais recentes. Boa leitura!

Para receber gratuitamente a revista MINAS FAZ CIÊNCIA, preencha o cadastro no site http://revista.fapemig.br ou envie seus dados (nome, profissão, instituição/empresa, endereço completo, telefone, fax e e-mail) para o e-mail: revista@fapemig.br ou para o seguinte endereço: FAPEMIG / Revista MINAS FAZ CIÊNCIA - Rua Raul Pompéia, 101 - 12.º andar - Bairro São Pedro - Belo Horizonte/MG - Brasil - CEP 30330-080 MINAS FAZ CIÊNCIA - SET. A NOV. / 2010

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Pr Ci ogra mé entí ma jov dio fica de en in Jr. Bo s e cen pa lsa aju tiv ra a s d da a a lun e In a p cri os icia op ativ do çã ula id en o riz ade sin ar o d o ac s iên cia

Jovens cientistas

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Bastaram garrafas pet, tinta preta, papelão, papel alumínio e criatividade para Júlia Soares, hoje com 21 anos, desenvolver um projeto de pesquisa vitorioso. Há cinco anos, quando era aluna do Centro Federal de Educação Tecnológica (Cefet) de Belo Horizonte, colocou água contaminada por bactérias do grupo Escherichia coli, (responsável por causar intoxicações alimentares e diarreias) no sol. As garrafas ficavam de quatro a seis horas em exposição. O aquecimento dos recipientes era potencializado com o papelão e o papel alumínio.A água chegou a atingir a temperatura de 50ºC, suficiente para que as bactérias morressem. Com esse trabalho, desenvolvido entre 2007 e 2008, a estudante venceu, na categoria ensino médio, o Prêmio Jovem Cientista, um dos mais importantes do país no incentivo à ciência. “Ganhar foi uma surpresa muito boa. Nunca havia imaginado”, recorda. O estudo apontou que a água não é potável, mas serve para tarefas domésticas, como lavar vasilhas ou tomar banho.Também mostrou uma forma simples e barata de tratar a água, evitando graves doenças em regiões com sérios problemas sociais e econômicos. Apesar de ter ficado próxima da área biológica enquanto desenvolveu a pesquisa, Júlia escolheu outro caminho. Ela cursa o quinto período de Psicologia, na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). O envolvimento com a ciência ainda na escola seguiu na universidade. “Escolher o curso foi difícil como é para qualquer adolescente, ainda mais depois do prêmio. Mas eu continuo na área acadêmica”, conta. Há dois anos, atua como bolsista do mesmo programa, na versão criada

para estudantes universitários e participa de um grupo de pesquisa sobre o Desenvolvimento Humano. Assim como Júlia, milhares de adolescentes já passaram pelo BIC Júnior em todo o Estado de Minas Gerais. O Programa de Bolsas de Iniciação Científica para estudantes do ensino médio surgiu há sete anos. Quando começou, em 2004, foram concedidas 280 bolsas pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) que firmou um convênio com a FAPEMIG, administradora da cota de bolsas. Mas o projeto deu tão certo, que ano após ano, a oferta aumentava e, a partir de 2006, a Fundação também começou a distribuir o benefício. Em 2010, foram concedidas 1.273 bolsas. Dessas, 450 são do CNPq e as demais da Fundação. Para o presidente da FAPEMIG, Mario Neto Borges, o programa tem uma característica que o torna especial. “O BIC Júnior desperta talentos e os interesses da garotada por ciência e tecnologia”, destaca. Atualmente, 42 instituições de ensino superior e institutos de pesquisa de todo o Estado recebem bolsistas do BIC Júnior. “Só para citarmos alguns exemplos, estamos presentes na Univale, em Governador Valadares (no Vale do Rio Doce), no Triângulo Mineiro, nos Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia (Ifets) do Sul de Minas e de Januária, na região Norte”, enumera Mario Neto. Ele lembra da relevância social e econômica ao se recordar com carinho de uma jovem que conheceu em Janaúba, ex-participante do programa. “Ela disse, emocionada, que o BIC Júnior foi o melhor emprego da vida dela”, recorda.

“Este projeto é da mais alta relevância porque desperta o interesse dos alunos do ensino médio – a esperança do Brasil – pela ciência.” Mario Neto Borges presidente da FAPEMIG

“Eles têm a chance de aprender sobre os grandes cientistas brasileiros, como Oswaldo Cruz, Carlos Chagas e o próprio Ezequiel Dias.” Maria Amélia Rossi coord. BIC Jr Funed (BH)

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Foto: Marcelo Focado

“Um colega meu tinha ódio de química, entrou no programa e mudou de ideia. Disse que quer fazer o curso de técnico em química.” Matheus Barbosa Amaral ex-bolsista Funed

Grupo de bolsistas BIC Júnior da Fundação Ezequiel Dias, em Belo Horizonte

Ajuda financeira

O programa não mudou apenas a vida dessa moça. A oportunidade transformou a história de vários jovens e seus familiares. Cada aluno recebe uma bolsa de R$ 100 mensais para participarem das pesquisas. Na Fundação Ezequiel Dias (Funed), por exemplo, eles cumprem uma carga horária semanal de oito horas, divididas em dois dias e o dinheiro ajuda nas despesas dos estudantes e dos familiares. Segundo estudo realizado ano passado por Matheus Barbosa Amaral, um dos bolsistas do programa na Funed, em Belo Horizonte, juntamente com o orientador, Fábio de Souza Luiz, mostrou que, para 10% dos jovens, o Programa contribui com o orçamento doméstico. A pesquisa revelou ainda que 76% dos bolsistas têm renda familiar entre um e três salários mínimos. As famílias são compostas por três integrantes, em média, com uma renda per capta de 0,86 salário mínimo, cerca de R$ 440 por pessoa. Outro aspecto apontado pelo estudo é que 52% dos entrevistados responderam que usam a verba com vestuário e 14% com poupança. Por meio desse trabalho, Matheus viu de perto a realidade dos colegas

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participantes do BIC Júnior e notou que era bem parecida com a dele. O bolsista realizou um estudo com as duas escolas integrantes do programa na Funed e constatou a importância desse projeto para a vida dos alunos. “Eles disseram que passaram a se dedicar mais aos estudos e ficaram mais responsáveis”, esclarece.

Matheus já terminou o ensino médio e atualmente trabalha no setor financeiro de uma clínica médica enquanto faz planos para entrar na faculdade de Administração, curso que escolheu durante o tempo em que atuou no programa. Ao longo do trabalho, o estudante se deparou com casos interessantes. “Um colega meu tinha ódio de Química, entrou no programa e mudou de ideia. Disse que quer fazer o curso de técnico em Química”, exemplifica. O professor Fábio Luiz, que orientou o trabalho de Matheus, confirma os resultados encontrados pelo aluno. “Muitos não sabem o que vão fazer quando concluírem os estudos. E essa Foto: Marcelo Focado

Matheus Barbosa e Fábio Luiz pesquisaram como os jovens empregam o dinheiro das bolsas


oportunidade é um diferencial porque traz responsabilidade para eles, além de ser a primeira experiência com o ambiente de trabalho”, afirma. A coordenadora do BIC Júnior na Fundação Ezequiel Dias, Maria Amélia Rossi, reitera o que o estudante verificou durante a pesquisa.“Nós seguimos a linha da pedagogia construtivista, por isso os adolescentes desenvolvem os trabalhos nas áreas em que têm mais habilidade”, explica. O programa começou a ser aplicado na Funed a partir de 2004 e o retorno, de acordo com a coordenadora, é grande. “Vários meninos e meninas que participaram do BIC Júnior voltam depois como estagiários e fazem o curso superior naquela área”, comenta. O estudo também apontou que os alunos tornam-se mais respeitados dentro de casa. “O olhar da família sobre eles muda porque são considerados mais responsáveis”, diz Luiz. A coordenadora lembra ainda que os estudantes são acompanhados e avaliados constantemente. O trabalho vai além da pesquisa. Todo mês são realizados encontros em que acontecem palestras sobre vários assuntos, como nutrição e oratória, por exemplo. Maria Amélia acrescenta que os bolsistas conhecem o funcionamento da Fundação e não apenas da área em que estão inseridos. “Eles também têm a chance de aprender sobre os grandes cientistas brasileiros, como Oswaldo Cruz, Carlos Chagas e o próprio Ezequiel Dias”, esclarece. Na Funed, participam do programa estudantes de duas escolas públicas da área onde funciona a Fundação, na região Oeste de Belo Horizonte. Todo ano é feito um levantamento com as escolas, por meio de palestras e encontros, para filtrar os interesses dos alunos e adequar os projetos. “Para participar do BIC Júnior, além do interesse pela área científica, os alunos precisam apresentar um bom desempenho escolar”, complementa Maria Amélia Rossi.

Ampliando os horizontes

No Sul de Minas, o programa também dá bons resultados na Universida-

Foto: Marcelo Focado

É uma linha pedagógica que incentiva o aluno a ser mais independente. O estudante não recebe as respostas prontas, deve procurar construir o conhecimento, além de ser estimulado a encontrar os próprios erros nos exercícios e aprender que eles fazem parte do processo de aprendizado.

Maria Amélia Rossi coordena o Programa na Fundação Ezequiel Dias

de Federal de Lavras (Ufla). De acordo com a coordenadora Carolina Faria Alvarenga, desde a implantação do BIC Júnior há sete anos, 270 alunos já foram beneficiados.As bolsas foram aumentando gradualmente. “Começamos com 20, passamos para 40, 80, 110 e há dois anos estamos com 150 bolsistas”, explica. Os estudantes estão distribuídos em projetos de todos os departamentos da universidade. Desde as ciências agrárias, área mais tradicional da Ufla, como nos cursos de Veterinária e Zootecnia, até em outros criados recentemente, como Ciência dos Alimentos, Química, Educação Física, os de Educação e Ciências Humanas. E 32% dos bolsistas do programa em 2010, este ano, voltaram à universidade na condição de alunos. “Dos 50 que estavam com a gente no ano passado, 16 foram aprovados no vestibular e continuam conosco”, comemora. Quando eles passam no vestibular na primeira tentativa, já recebem automaticamente a bolsa do Bic Institucional, voltada para os universitários. Carolina destaca que o programa tem uma função social. “Antes, muitos não tinham perspectiva de fazer um curso superior, e isso mudou depois que ingressaram no BIC Júnior”, res-

salta. Ela acrescenta ainda que vários se esforçam para se saírem bem na escola e conseguirem uma chance no projeto. Sempre que pode, a universidade realiza trabalhos de aproximação com os moradores por meio da realização de eventos, como palestras e exposições para divulgar o que está sendo produzido. Todo ano, os estudantes participam do Congresso de Iniciação Científica da Ufla, o Ciufla. Em 2009, 40 alunos participaram do Seminário de Iniciação Científica Júnior “Provoc Inovação”, da UFMG, em Belo Horizon-

“Quis participar do Bic Júnior porque sempre sonhei em fazer faculdade e esta era uma oportunidade de estar em contato com o meio acadêmico.” Sarah Andrade ex-bolsista BIC Jr e bolsista PIBIC (Ufla) MINAS FAZ CIÊNCIA - SET. A NOV. / 2010

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“Com o BIC Jr, eu já tive a oportunidade de conhecer pessoas de vários lugares, inclusive de outros países, e isso é bom porque nos deixa mais seguros.” Lethícia Barbosa de Paula bolsista BIC Jr (Ufla)

te. “Para muitos é a oportunidade de conhecer outras pessoas e cidades. O BIC extrapola o universo do conhecimento científico e amplia os horizontes desses jovens”, diz. A estudante do segundo ano do ensino médio Lethícia Barbosa de Paula, que participa do programa desde o ano passado, desenvolve projetos na área biológica. No momento, está trabalhando no desenvolvimento de um tipo de tomate pequeno, próprio para plantação em hortas. Ela aponta diversas vantagens no BIC Júnior que vão desde a aceitação da família até lições que ajudam a decidir qual carreira seguir e no amadurecimento pessoal. A adolescente, de 16 anos, pretende estudar Direito, mas mesmo assim, está feliz com o trabalho nessa área. Para ela, participando de um projeto como esse, as chances de fazer a escolha profissional correta aumentam porque se conhece a área na prática, facilitando a decisão. “A minha vida mudou muito depois que entrei para o programa porque fiz contatos com pessoas que já estão no mercado. É uma experiência que não se vive na escola”, explica. O benefício de R$ 100 ajuda Lethícia tanto em algumas despesas como, por exemplo, o xerox de algum material didático, transporte e até para o lazer. Realidade bem parecida com a verificada no estudo sobre o perfil dos estudantes participantes do programa, realizado por um bolsista na Funed, na capital. E ela fica feliz com o reconhecimento que vem da família. “Eles acham maravilhoso porque é, ao mesmo tem-

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po, uma oportunidade de aprender e ensinar”, explica. A estudante ainda terá mais um ano de participação no projeto, mas já sabe que quando terminar, vai sentir falta. “O contato com as pessoas é bem agradável porque aprendi a conviver e aceitar as diferenças”, diz. Outra aluna que viveu a experiência de participar do programa foi Sarah Andrade, de 19 anos. Ela entrou aos 16, quando estava no segundo

“Essa oportunidade é um diferencial porque traz responsabilidade para eles, além de ser a primeira experiência com o ambiente de trabalho.” Fábio de Souza Luiz orientador BIC Jr Funed (BH)

ano do ensino médio e desenvolveu um projeto com pesquisadores do curso de Medicina Veterinária. “Nós

“Antes, muitos não tinham a perspectiva de fazer um curso superior, e o programa incentiva isso, além de extrapolar o conhecimento científico.” Carolina Faria Alvarenga cood. BIC Jr Ufla

fazíamos o Diagnóstico e Controle de Doenças em Sistemas de Produção de Bovinos de Leite da Região de Lavras”, comenta. Para ela, a oportunidade a fez escolher a profissão que queria seguir. Agora, está no terceiro período e já desenvolve outro projeto como bolsista do BIC Institucional. “Recomendaria aos jovens que querem fazer parte do programa, ou que já fazem, que aproveitem essa oportunidade, porque o mundo da universidade pode nos parecer distante e difícil, mas não é. Por desconhecimento, algumas pessoas preferem trabalhar a estudar”, aconselha. Ana Flávia de Oliveira Foto: Rocelle de Barros Naves

A coordenadora do Programa na Ufla, Carolina Faria Alvarenga, e a vice-coordenadora, Patricia Vasconcelos Almeida Foto: Rocelle de Barros Naves

A bolsista Lethícia Barbosa de Paula e Sarah Conceição Andrade, ex-bolsista e aluna do 3º período de Medicina Veterinária


Saiba mais sobre essa modalidade de bolsa Evolução BIC Júnior

Desde a implantação do programa, em 2004, o BIC Júnior cresceu ano a ano, tanto na distribuição de bolsas, quanto no valor investido. Ano

Bolsas

Investimento

2004

280

R$ 232.240

2005*

332

R$ 322.800

2006**

534

R$ 580.499

2007

643

R$ 771.600

2008

819

R$ 982.800

2009

1.133

R$ 1.359.600

2010

1.273

R$ 1.527.600

Fonte: FAPEMIG *As bolsas sofreram reajuste e passaram de R$ 80,00 para R$ 100,00. **A partir de 2006, a FAPEMIG também começou a distribuir bolsas.

BIC Institucional

Os incentivos à carreira científica não se restringem ao ensino médio, seguem no ensino superior. Para isso, existe o Programa de Iniciação Científica, o BIC Institucional, voltado para universitários. O projeto, criado pelo CNPq, tem a FAPEMIG como parceira com os seguintes objetivos: • Despertar vocação científica e incentivar novos talentos potenciais entre estudantes de graduação. • Contribuir para reduzir o tempo médio de titulação de mestres e doutores. • Propiciar à instituição um instrumento de formulação de política de iniciação à pesquisa para alunos de graduação. • Estimular uma maior articulação entre a graduação e pós-graduação. • Contribuir para a formação de recursos humanos para a pesquisa. • Contribuir de forma decisiva para reduzir o tempo médio de permanência dos alunos na pós-graduação. • Estimular pesquisadores produtivos a envolverem alunos de graduação nas atividades científica, tecnológica e artística-cultural. • Proporcionar ao bolsista, orientado por pesquisador qualificado, a aprendizagem de técnicas e métodos de pesquisa, bem como estimular o desenvolvimento do pensar cientificamente e da criatividade, decorren-

tes das condições criadas pelo confronto direto com os problemas de pesquisa. Fonte: CNPq

Como participar do BIC Jr

O programa existe em todo o país e funciona sempre em parceria com as Fundações de Amparo à Pesquisa ou secretarias estaduais. As universidades e institutos de pesquisa fazem uma aproximação com algumas escolas para divulgar o programa e convidar os alunos a participarem. Para se candidatar, o estudante deve ficar atento aos prazos de inscrição ao projeto na instituição de ensino superior da sua cidade. Mas o aluno deve preencher alguns pré-requisitos: • Estar regularmente matriculado no ensino fundamental, médio ou profissional de escolas públicas. No caso de Minas, escolas públicas estaduais. • Estar desvinculado do mercado de trabalho. • Possuir frequência igual ou superior a 80%. • Apresentar histórico escolar. • Executar o plano de atividades com dedicação mínima de oito horas semanais. • Elaborar relatório de suas atividades semestralmente e ao final de sua participação. • Apresentar os resultados parciais e finais da atividade, sob a forma de painel ou exposição oral, acompanhados de relatório, nos encontros de iniciação científica e tecnológica promovidos pela instituição.

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Vida digital

o d n u M s s a d ven u n

Conheça o cloud computing, modelo de computação que promete facilitar a vida do cidadão comum e ampliar ainda mais os serviços de informática 12

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Acessar a planilha de custos, estando longe do seu computador. Ouvir a música predileta, sem passar perto do próprio notebook e – detalhe - também bem distante de uma mídia física, tipo CD ou DVD. Editar uma foto sem programas específicos, como Photoshop, por exemplo. Encontrar e modificar os arquivos mais importantes da sua vida digital, independente de onde esteja ou mesmo de qual dispositivo utiliza. Coisa dos Jetsons? Quase. Se o herói futurista dos anos 60 do século passado estacionava o carro no espaço, ainda não chegamos lá, mas músicas, imagens, textos, planilhas e muito mais já encontram conforto nas alturas. É a chamada computação nas nuvens (em inglês cloud computing), modelo que adere à missão universal de trazer mais praticidade às nossas vidas. A menina dos olhos do processamento de dados moderno, o cloud computing, pode ser resumido como a computação simples e acessível. “Quando um usuário hoje acessa o e-mail no Gmail, não precisa de nada instalado, só do browser (ver glossário) para navegar. Quando ele entra em um software de planilha on-line, também não. Simplesmente utiliza”, explica Daniel Viveiros, gerente de produto cloud computing da Ci&T, empresa de tecnologia com sede em Campinas, Estado de São Paulo. Com o objetivo de incentivar a pesquisa na área, a FAPEMIG e a Ci&T desenvolveram em parceria o edital de apoio a projetos de tecnologia da informação e comunicação com foco nessa área. Serão investidos R$ 2 milhões em projetos que busquem promoção do conhecimento profissional sobre as plataformas do cloud computing e também em estudos sobre o desenvolvimento de frameworks e arquitetura de referência para plataformas nessa tecnologia. “As universidades de Minas Gerais são ricas em recursos humanos. Queremos saber como vamos convergir o conceito e o que está

sendo produzido, como será possível, através da pesquisa, montar uma proposta de valor para o mercado e oferecer uma computação diferenciada”, espera o representante da Ci&T. Segundo Viveiros, a busca de definições para a computação nas nuvens ainda causa confusão na comunidade especializada. “A internet é a base e, se ela é nova, cloud computing é um termo mais novo ainda”. De fato, são inúmeros vídeos em plataformas, como You Tube ou Vimeo, que trazem profissionais em tentativas de definir o que já é cotidiano. “Cloud computing já está na nossa vida faz um tempo, desde o surgimento de algumas aplicações como o Gmail”, comenta. O serviço de e-mail do Google existe desde 2004 e pode ser encarado como um divisor de águas na popularização do cloud computing para o cidadão comum, pois representou o fim do limite nas caixas de correio eletrônico e o início da cultura de usar a Internet não só para a troca de mensagens, mas também para o armazenamento de arquivos pessoais. “Ao invés de salvar no seu computador, no seu pen drive, você tem todos os seus arquivos na nuvem. Então, se sair do seu computador, ou puxar pelo celular, você vai conseguir ter acesso àqueles documentos, ler, escrever, tudo isso de maneira integrada”, explica. E a tendência é que essa praticidade se consolide também em outros dispositivos, como celulares e tablets, todos com acesso à Internet. “Se você pensar em música, por exemplo, hoje, há os CDs. Quando todas essas músicas estiverem na nuvem, você consegue tê-las com você. E provavelmente, em pouco tempo, todos os dispositivos vão conseguir ler essas músicas direto da nuvem para tocar no seu celular”, acrescenta. Além da praticidade, outra particularidade dessa tecnologia é o custo para o consumidor final, bastante reduzido. Isso porque, ao invés de pagar um valor para adquirir determinado MINAS FAZ CIÊNCIA - SET. A NOV. / 2010

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programa como, por exemplo, um Photoshop, para editar fotos nas nuvens o usuário não precisa comprar o programa, basta utilizá-lo pela Internet e, caso queira acesso a uma versão ampliada do aplicativo, paga proporcionalmente ao uso. Trata-se, portanto, de uma reconfiguração do modelo comercial vigente e que chama a atenção do mercado. Para Daniel Viveiros, o mundo corporativo ainda tem muito o que lucrar com o cloud computing. “As empresas param de ter os seus próprios datacenters. Deixam de ter máquinas, servidores fixos, começam a usar isso como serviço”, defende.

Desenvolvimento tecnológico

Do ponto de vista de desenvolvimento, o cloud computing também é simples. Não é uma nova linguagem de pro-

gramação.A base tecnológica é a mesma da Internet, o que muda é que os profissionais desenvolvem softwares, aplicativos para serem implantados em uma máquina que está nas nuvens, acessível a todos que navegam pela rede. Por isso, mesmo sem ter o CD, todas as músicas de Caetano Veloso, por exemplo, podem ser ouvidas, por streaming pela Internet, por exemplo. Como as plataformas já estão padronizadas, uma questão chave para a comunidade de implementadores é a forma de utilizá-las. Tecnicamente, a computação em nuvens se divide em cinco tipos, reconhecidos pelas seguintes siglas: IaaS, PaaS, DaaS, SaaS e CaaS. A utilização de porcentagens em servidores nas nuvens é a chamada infraestrututra como serviço (IaaS). Tem ainda a plataforma como serviço (PaaS), que é o uso de uma plataforma como um

banco de dados, as ferramentas de desenvolvimento (DaaS), a comunicação como serviço (CaaS) e, o tipo mais popular, os softwares usados como serviço (SaaS), que podem ser exemplificados pelo Google Docs ou o Microsoft Sharepoint Online. “Eu acho que a oferta de serviços nesta plataforma vai amadurecer bastante nos próximos anos e os implementadores vão poder fazer aplicações com mais agilidade, numa plataforma mais robusta, com muito mais produtitividade”, aposta Daniel Viveiros. Mas, para chegar a esse ponto, o Brasil ainda precisa ultrapassar certas barreiras. A qualidade da banda larga oferecida no país é incomparável com a oferta americana ou coreana. “A rede 3G ainda é limitada, mas não acredito que a evolução tecnológica não contorne este problema”, acredita. Carolina Braga

O que é Cloud Computing? Servidores compartilhados que usam as capacidades de memória e armazenamento da Internet, ou seja, das nuvens, para oferecer acesso remoto a dados de qualquer lugar do mundo, a qualquer hora, sem a necessidade de se instalar programas. Serviço nas nuvens Gmail – A alta capacidade de armazenamento do serviço de e-mail oferecido pelo Google marca o início da popularização da computação nas nuvens. Além da troca de mensagens, a caixa de correio é usada para guardar arquivos diversos, que podem ser acessados a partir de qualquer computador. Mail.google.com Google Docs – Também com a assinatura Google Inc., é um pacote de aplicativos que contém um processador de texto, um editor de apresentações, um editor de planilhas e um editor de formulários. Os arquivos podem ser editados por mais de um usuário, todos em rede. Docs.google. com Dropbox - Serviço para armazenamento de arquivos. A empresa desenvolvedora do programa disponibiliza enormes e poderosas centrais de computadores que conseguem armazenar os arquivos de seus clientes ao redor do mundo.

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Uma vez que os arquivos sejam devidamente copiados para os servidores da empresa, passarão a ficar acessíveis a partir de qualquer lugar que tenha acesso à Internet. www.dropbox.com Grooveshark – Site de compartilhamento de músicas on-line. O usuário pode buscar o que quer ouvir pelo nome da faixa, artista ou álbum e as músicas são executadas por streaming. O Grooveshark não permite que o usuário baixe os arquivos para seu computador, mas é possível criar playlists e compartilhá-los por e-mail em sites de relacionamento, como Facebook, Twitter e StumbleUpon. (listen.grooveshark.com) Picnik – Permite edição de imagens sem a necessidade de software específico, como Photoshop ou similares. (www.picnik.com) GLOSSÁRIO Broswer – programa utilizado para navegação na Internet. Ex: Internet Explorer, Mozilla Firefox, Google Chrome. Frameworks - é um conjunto de códigos comuns utilizados em uma linguagem de programação específica para auxiliar o desenvolvimento de software. Datacenter - local onde são concentrados os equipamentos de processamento e armazenamento de dados de uma empresa ou organização. Streaming – traduzido como fluxo de mídia, é uma forma de distribuir informação multimídia numa rede através de pacotes de dados.


Foto: Marcelo Focado

Saúde

Antitudo! Pesquisas desenvolvidas no Laboratório de Genes Inflamatórios do ICB/UFMG investigam múltiplos efeitos da aspirina e outros fármacos

Durante a Antiguidade, do Egito à Grécia de Hipócrates, especialistas costumavam produzir infusões, a partir da casca do salgueiro, para tratamento de febres e dores no corpo. Com o passar do tempo, a tradição se dissemina no planeta, a ponto de, já no século XVIII, o reverendo inglês Edmund Stone, da Universidade de Oxford, dedicar-se, justamente, à compreensão dos efeitos benéficos da MINAS FAZ CIÊNCIA - SET. A NOV. / 2010

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substância. Seus estudos culminariam com a descoberta do ácido salicílico, ingrediente ativo diretamente responsável pelas propriedades analgésicas e anti-inflamatórias daqueles famosos chás oferecidos aos enfermos. O curioso clérigo inglês jamais poderia imaginar, contudo, a relevância de seu achado, cujo desenrolar na ciência revela-se ainda hoje motivo de esperança para milhões e milhões de pacientes, vítimas de diversas enfermidades, das diabetes ao câncer. Tudo isso porque, ao final do século XIX, sob o comando do químico Carl Duisberg, funcionários da empresa alemã Bayer encontram um modo de sintetizar o ácido salicílico, ao conjugá-lo a um acetato. Nasce, então, o ácido acetilsalicílico que, em 1899, fruto das iniciativas de Felix Hoffman, será transformado no primeiro múltiplo comprimido de que se tem notícia no mundo: a aspirina. Neste jovem século XXI, dados indicam que, só nos Estados Unidos, são produzidas cerca de 80 milhões de unidades do medicamento por dia. Mais do que surpreender, os superlativos números da produção em série reafirmam – como já bem percebiam os sábios da antiguidade – a eficácia da substância, capaz de amenizar de dores e febres a reumatismos e artrites. Trata-se, além disso, do comprimido há muito descrito na literatura especializada, por exemplo, em função de seus efeitos hipoglicêmicos, ao diminuir os níveis de glicose no sangue. “Hoje, sabemos que a aspirina realmente possui mil e uma utilidades”, resume o pesquisador Aristóbolo Mendes da Silva, professor do Departamento de Morfologia do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), onde também coordena o Laboratório de Genes Inflamatórios. Pois, bote utilidades nisso! Estudos desenvolvidos ou orientados pelo próprio professor Aristóbolo Mendes demonstram que a aspirina – assim como outros medicamentos do gênero, os chamados salicilatos – detém a capacidade de atuar sobre uma série de proteínas celulares, de modo a ativá-las ou

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desativá-las. Investigar tais mecanismos significa ter a oportunidade de compreender os porquês de diversos efeitos benéficos dos salicilatos – das ações anti-inflamatórias e analgésicas às referidas propriedades antidiabetogênicas – e, futuramente, render subsídios ao tratamento de muitas doenças.

Do diabetes ao câncer

A tentativa de compreensão das formas de ação dos fármacos salicilatos no organismo humano remonta, na verdade, às experiências do farmacêutico britânico John Robert Vane, prêmio Nobel, que, em 1971, torna-se o primeiro homem a descrever o mecanismo de ação anti-inflamatória da aspirina. Das experiências de Vane aos estudos mais recentes, a descoberta de vários mecanismos de atuação da aspirina e outros salicilatos sobre os componentes celulares revela a multiplicidade de tais fármacos. Em 2007, como fruto de trabalho conduzido paralelamente ao de seu pós-doutorado na The Cleveland Clinic Foundation, nos Estados Unidos, o professor Aristóbolo Mendes publicou estudo em que, pela primeira vez na literatura, é relevada a influência da aspirina na ativação de ou-

O pesquisador é responsável por descobrir que, após administrado no paciente e absorvido pelas células, o medicamento liga-se à enzima Ciclo-oxigenase (COX), para, em seguida, ser metabolizado, transformando-se em ácido salicílico. “Vane descobre que a aspirina é responsável por agir sobre a Ciclo-oxigenase, tornando-a inativa. Ao fazer isso, tem-se início o processo anti-inflamatório”, explica Aristóbolo.

Fotos: Marcelo Focado

O coordenador do projeto, Aristóbolo Mendes da Silva, do ICB/UFMG


tra proteína celular, a PERK. “Surge, assim, um novo alvo farmacológico. Neste caso, uma proteína associada ao metabolismo”, explica o pesquisador, ao lançar a importante indagação que então se descortina: “Será que o mecanismo de ativação da proteína, pelo medicamento salicilato, não contribuiria com a diminuição dos níveis de glicose no sangue?” Ao buscar respostas para tal questão, Aristóbolo e os outros pesquisadores sob sua orientação, no Laboratório de Genes Inflamatórios do ICB, acabam por lançar-se ao desafio de descobrir algo que, no futuro, pode ajudar milhões de pacientes com diabetes tipo 2, cujo organismo, apesar de produzir insulina, não é capaz de metabolizar a glicose do sangue. Nos estudos para compreensão da ação dos anti-inflamatórios não esteróides (salicilatos) sobre a PERK e de proteínas por ela reguladas – projeto que em determinadas etapas contou com financiamento da FAPEMIG –, amostras de extratos de células, que recebem o tratamento com diferentes doses de salicilatos, são separadas em gel, para, então, seguirem à análise. “A partir daí, buscamos observar se há mudanças significativas nas proteínas. Experimentos já mostram, por exemplo, que os salicilatos melhoram a captação de glicose em células adiposas”, afirma. Além da ação sobre a PERK, também são estudados, no Laboratório, os efeitos dos salicilatos como ativadores – ou inativadores – de outras proteínas. Numa das atuais vertentes de investigação, busca-se compreender a ação dos referidos medicamentos sobre uma outra proteína. “Nesse caso, nosso objetivo é entender a atuação dos salicilatos como antiproliferativos”, explica o professor. Isso quer dizer que, além de analgésicos, anti-inflamatórios, antipiréticos e antidiabetôgênicos, os “poderosos” salicilatos parecem também ter a capacidade de diminuir os níveis de proliferação, por exemplo, de células cancerígenas. “Hoje, já se sabe que pacientes acostumados a tomar aspirinas têm 30% de chances a menos de

desenvolver câncer colorretal. Entretanto, como qualquer medicamento, o seu uso deve ser consultado previamente com um médico”, ressalta. As pesquisas do laboratório em torno da múltipla capacidade de atuação dos salicilatos sobre as proteínas celulares, de modo a ativá-las ou desativá-las, prome-

tem ainda muitas novidades para os próximos anos. Afinal, segundo Aristóbolo Mendes, diversas – e imprevisíveis – funções da aspirina e outros fármacos do gênero ainda estão por ser descritas. Maurício Guilherme Silva Jr.

Origens do fármaco “milagre”

Medicamento simples, barato, de fácil acesso e com múltiplas funções, a aspirina foi patenteada e produzida em série, pela primeira vez, por ação da Bayer, empresa farmacêutica fundada em Barmen (Alemanha), em 1863, por Friedrich Bayer e Johann Weskott. As origens do nome daquele que viria a se tornar um dos mais populares fármacos da história remonta à sua “origem vegetal”, pois que vêm do Salgueiro – Salix Alba, na nomenclatura científica – os seus princípios ativos. Em explicação bastante sintética, pode-se afirmar que o “a”, de aspirina, diz respeito ao acetil; o “spir”, à raiz do ácido espírico – substância quimicamente idêntica ao ácido acetilsalicílico – e o “ina”, ao sufixo adicionado ao nome de todos os medicamentos no final do século XIX. Como já dito, o uso de infusões de folhas de Salgueiro – e, consequentemente, de seus princípios ativos – remonta à antiguidade. Presentes no vegetal, a salicina e o salicilato eram usados, contra a cefaleia, na antiga Mesopotâmia, nada menos que três mil anos a.C.

Título: “Exploração do uso de anti-inflamatórios não esteroides salicilatos sobre a modulação de vias de sinalização envolvidas nas respostas de estresse do retículo endoplasmático e da regulação do metabolismo da glicose” Coordenador: Aristóbolo Mendes da Silva Modalidade: Edital PPSUS Valor: R$ 90. 921,14 MINAS FAZ CIÊNCIA - SET. A NOV. / 2010

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Prevenção

Luta contra a dengue Estudo demonstra como as campanhas de comunicação coletiva podem ser eficientes no combate à doença, quando associadas a uma nova tecnologia, a Evidengue Minas está perdendo a luta contra a dengue? Além do crescimento do número de notificações de dengue em diversos municípios mineiros, incluindo a capital, a Secretaria de Estado de Saúde de Minas confirmou a primeira morte por dengue com complicação, em 2011, em Januária, no Norte de Minas. Segundo a Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte, em apenas uma semana do mês de fevereiro de 2011, foram registrados 230 casos suspeitos da dengue. Até meados deste mês, havia 1.465 notificações da doença na capital mineira. De acordo com a Secretaria, 148 casos foram confirmados, 524 foram

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descartados e 793 ainda aguardam resultado de exames. É possível derrotar a dengue? Talvez um dos caminhos possíveis seja a associação de estudos de informação e educação em saúde com a adoção de novas tecnologias, como a Evidengue®, uma capa de tela protetora de pratos coletores de água de vasos de planta. Esse produto, bem como a forma de difundir seu uso por uma comunidade, têm sido objeto de estudos da pesquisadora Virgínia T. Schall, chefe do Laboratório de Educação em Saúde e Ambiente (Laesa) do Centro de Pesquisas René Rachou (Fiocruz Minas). “Em estudos de laboratório, descrevemos como a Evidengue® mos-


trou-se 100% eficaz para vedar o acesso de fêmeas de Ae. aegypti aos pratos de vasos de planta. Ficou demonstrado que a capa, se utilizada com proficiência, ou seja, bem ajustada ao vaso e completamente amarrada, veda o prato coletor de água, impedindo que as fêmeas ponham ovos do mosquito vetor nesse tipo de recipiente, que é um dos mais apontados como positivos pelos levantamentos de índice larvar (LIRAa) em domicílios de Belo Horizonte”, explica Virgínia. A pesquisadora ressalta, contudo, que a comprovação de proteção total em laboratório requer estudos de campo, pois é preciso verificar se a população adota a capa e se a usa de modo proficiente, o que foi investigado no estudo financiado pela FAPEMIG e continua a ser avaliado em diversas áreas. De acordo com Virgínia, o controle vetorial em recipientes domésticos de água requer do morador comportamentos capazes de atender a especificações predeterminadas de segurança de uso. As capas de tela mosquiteiro têm se revelado eficazes como barreiras físicas ao acesso de Ae. aegypti a caixas d’água, baldes coletores de água de chuva e pratos de vasos de planta. “A adoção de tais dispositivos em residências de áreas endêmicas constitui um claro indicador comportamental de que o morador faz uso seguro do recipiente”, observa. As evidências de que se dispõem até o momento, segundo a pesquisadora da Fiocruz, mostram que a Evidengue, além de ser um promissor método de controle da dengue – pelo impedimen-

to da oviposição de fêmeas do vetor da doença em um dos mais frequentes criadouros domésticos do mosquito na Região Sudeste do país, e pela possibilidade de fornecer dados quantitativos de vigilância e controle epidemiológico importantes para a elaboração de estratégias contra a dengue –, constitui um importante modelo tecnológico. “Modelo tanto no sentido de desenvolvimento de novas tecnologias contra a dengue, como telas para piscinas e caixas de água, quanto de desenvolvimento e aprimoramento de tecnologias educacionais, por também estudar, do ponto de vista comportamental, a forma como uma tecnologia preventiva é adotada pela população (sejam elas relacionadas à dengue ou não)”. O professor e pesquisador do Centro de Pesquisas René Rachou, Fiocruz Minas, João Bosco Jardim, que co-orientou, com a professora Virgínia, todo o trabalho feito até agora e supervisionou as avaliações de laboratório e de campo, com a participação de alunos e bolsistas, vê outras vantagens na utilização da evidengue. Ele esclarece que o produto é de fácil manejo pelo usuário e tem a vantagem de ser também facilmente visível e identificável pelo agente de saúde que visita residências de regiões endêmicas de dengue. Essa ação permite a mensuração direta e objetiva da frequência de sua adoção em sucessivas visitas de verificação ou avaliação. “Nós acreditamos que o emprego da evidengue como modelo experimental pode oferecer importante contribuição metodológica para uma área de pesquisa ainda carente de ins-

trumentos objetivos de mensuração”, diz João Bosco. Ele também destaca os resultados de laboratório que mostram a eficácia do método evidengue para bloquear o acesso de fêmeas grávidas do vetor ao interior de pratos de vaso de planta; e os resultados, também de laboratório, que realçam a importância da vedação em relação ao mero ato de tampar, recomendado pelas campanhas.

A importância da comunicação

A literatura de educação em saúde para prevenção da dengue vem demonstrando que o mero conhecimento é insuficiente para se alcançar a participação do morador no controle vetorial. Segundo Virgínia, há diversos estudos indicando que muitos programas educativos resultam em ganhos de conhecimento do morador quanto aos comportamentos preventivos necessários ao uso seguro dos recipientes domésticos de água, mas mostram-se geralmente incapazes de oferecer instrumentos efetivos para a ocorrência desses comportamentos nas residências. A pesquisadora tem uma opinião clara a respeito desse assunto. De acordo com Virgínia, de modo característico, a informação educativa é providente e categórica quando aborda a necessidade de adoção de cinto em veículos, de preservativo nas relações sexuais, de roupas especiais em tarefas de risco e de vários outros dispositivos de segurança individual e coletiva em circunstâncias rotineiras de prevenção. “Curiosamente, a despeito da MINAS FAZ CIÊNCIA - SET. A NOV. / 2010

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fraca evidência de que a informação educativa seja capaz de se converter, por si só, em comportamentos de efetivo controle vetorial da dengue nos domicílios, não se verifica na educação em saúde a mesma providência e determinação para o estudo da adoção de dispositivos materiais preventivos quando se trata do uso seguro de recipientes domésticos de água por moradores de áreas endêmicas da doença. Portanto, essa é uma lacuna que nossos estudos buscam contemplar”. As campanhas de comunicação coletiva na área da saúde têm por objetivo estimular a incorporação de práticas de prevenção a doenças e promoção da saúde. Com tal fim, veiculam informações que podem ampliar o conhecimento sobre o problema focalizado, questionar práticas que potencializam o risco de adoecer e incentivar ações de cuidado e proteção do ambiente e de si próprio. Utilizam-se dos princípios da área de comunicação, buscando estimular a confiança da população, podendo associar a informação a abordagens que têm apelo emocional e também a processos pedagógicos, nesse último caso, podem ter um cunho mais educativo. São numerosos os estudos que buscam avaliar o impacto das campanhas de comunicação e/ou de processos educativos na adoção de práticas preventivas. “No caso da dengue, diz Virgínia, a literatura tem apontado como principal resultado a aquisição de conhecimento, contudo, esse saber não tem potencializado as ações de cuidado”. O nó talvez resida nesse ponto, como observa a pesquisadora: “há toda uma discussão sobre a distância entre o que se sabe e o que se faz e aí residem muitas dificuldades de sucesso das campanhas em promover de fato a saúde, ou seja, de alcançar a incorporação de comportamentos promotores de saúde”. Mas o que explica o insucesso das campanhas de prevenção contra dengue? As pesquisas conduzidas por Virgínia levaram-na à conclusão de que as campanhas, “a grosso modo, não têm alcançado o objetivo de promover a substituição de comportamentos de

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Foto: Marcelo Focado

A Evidengue é um promissor método de controle da dengue

risco por comportamentos de cuidado”. Ela continua: “mas esse é um processo complexo e aqui é preciso sublinhar o que chamamos de ‘dissonância cognitiva’ – que pode ser traduzida como incentivar as pessoas a adotarem determinados comportamentos, mas não serem dadas a elas condições para tal. A pesquisadora enumera alguns exemplos, não necessariamente ligados à dengue, mas a cuidados gerais: como incentivar pessoas a cuidarem bem do lixo em áreas em que a coleta do lixo não é realizada pelo serviço público? Como incentivar pessoas ao uso adequado de água e sanitário em locais onde não há água encanada e saneamento? Assim, a mensagem veiculada pode ser eficaz para a construção de um novo conhecimento e incentivar ações de cuidado, mas a pessoa não tem recursos mínimos para concretizar essas ações. “Isso vai gerar mais ansiedade, pois se antes a pessoa agia sem saber, agora ela deseja alterar a ação e não tem meios para tal. Portanto, as campanhas precisam vir associadas a melhorias ambientais e de condições de habitação para de fato gerarem impactos positivos na saúde”, comenta.

Auxílio na prevenção da doença

A difusão da Evidengue representa uma oportunidade de pesquisa e de

“Muitas vezes uma caixa d´água está tampada e quando a tampa é levantada, há milhares de larvas em seu interior. Isso porque, se houver uma mínima fresta por falha de encaixe, o mosquito vai ter acesso à água por ali”. Virgínia T. Schall, pesquisadora

potencializar a prevenção da dengue, acredita Virgínia. Sua certeza se baseia no seguinte: se há em nossa região (Sudeste) um hábito cultural arraigado que é o cultivo de plantas no domicílio e isso requer o uso de pratos coletores de água para proteger pisos e móveis da água (a qual pode causar manchas ou mesmo avarias nos ambientes e objetos), o potencial de risco desse hábito para a dengue está colocado. O mosquito vetor é comprovadamente um inseto domiciliar e utiliza os recipientes onde encontra água para a oviposição mantendo o ciclo de reprodução. “Por mais que as campanhas recomendem retirar o prato coletor de água ou utilizar areia (essa comprovadamente ineficaz, pois esvazia com o derramamen-


to de água que transborda no momento da rega das plantas e nem sempre é reposta, e ao derramar pode inclusive espalhar ovos do mosquito que possam estar a ela misturados), a população volta a usar os pratos pela proteção que conferem a seus objetos e ambientes”, frisa. Aqui há então uma oportunidade de promover a prevenção sem mudar um hábito cultural, mas incorporar a ele uma proteção eficiente, durável e de fácil manutenção, ou seja, a Evidengue é um dispositivo que torna possível associar o saber (importância de proteger os recipientes domiciliares para evitar a presença e reprodução do vetor) ao fazer (utilizar um recurso capaz de vedar o recipiente e impedir a ovipostura). Para Virgínia, a Evidengue permite também difundir o verbo vedar e sua importância no controle do mosquito, pois não basta tampar. “Muitas vezes uma caixa d´água está tampada e quando a tampa é levantada, há milhares de larvas em seu interior. Isso porque se houver uma mínima fresta por falha de encaixe, o mosquito vai ter acesso à água por ali. Assim, a pessoa pensa que tampou e de fato o fez, mas não vedou. E no caso do mosquito, o sucesso do controle depende do vedar”, diz. O professor João Bosco concorda, e faz um alerta: “evidentemente, a ve-

dação do acesso de fêmeas grávidas de Aedes aegypti à água, dentro ou fora do domicílio, somente irá funcionar como estratégia preventiva quando uma massa crítica de moradores compartilhar esse comportamento”. Ele explica que mesmo aqueles moradores que conseguirem eliminar criadouros do mosquito por meio de vedação continuarão vulneráveis à doença se os vizinhos não fizerem o mesmo, e se não o fizerem de modo duradouro e sustentável. “Lamentavelmente, não se encontra evidência na literatura de pesquisa de algum programa educativo que tenha conseguido estabelecer qualquer comportamento preventivo da dengue em bases sustentáveis”, completa. Para João Bosco, há três requisitos comportamentais que têm sido considerados nos projetos de programa educativo com os quais o Laesa procura estudar o controle vetorial da dengue em recipientes domésticos de água: (1) a adoção coletiva de um dispositivo eficaz de vedação (“leia-se evidengue, no nosso caso”, frisa o professor) por moradores de áreas endêmicas da doença; (2) a proficiência com que o dispositivo é usado; e (3) a manutenção proficiente da adoção (ou seja, a sustentabilidade do comportamento). Foto: Marcelo Focado

Os pesquisadores Virgínia T. Schall e João Bosco Jardim, ambos da Fiocruz (Minas)

A Evidengue pode ainda despertar a pessoa em seu domicílio para a dengue e os cuidados com os demais recipientes. Ela pode funcionar como um lembrete: ao vê-la, o morador lembra-se de que ela está ali devido à dengue e isso pode ser uma ativação da memória do cuidado. A capa permite também realizar estudos sistemáticos que associam a informação e educação em saúde à adoção de novas tecnologias e potencializar ações de cuidados pelos escolares, contribuindo para a formação de hábitos participativos de controle da dengue. “No entanto, embora tenhamos tais pressupostos, só os testes em campo podem de fato comprovar ou não nossas hipóteses e é isso que temos feito”, alerta.

Os primeiros resultados

Os estudos que associam a adoção da evidengue com tecnologias educacionais têm sido tema de dissertações de mestrado de Programas de Pós-Graduação da Fiocruz e da Unimontes e foram parcialmente publicados no último volume do Dengue Bulletin, publicação anual da Organização Mundial da Saúde (volume 33, de dezembro de 2009, pág. 176-186). O artigo, intitulado “The control of Aedes aegypti for water access in households: Case studies towards a school-based education programme through the use of net covers”, de autoria do pesquisador João Bosco Jardim e colaboradores descreve e discute os primeiros resultados analisados. Segundo o Dengue Bulletin, em 65,9% das residências de alunos que participaram das pesquisas coordenadas pelos professores Virgínia Schall e João Bosco Jardim houve adoção das evidengues. “Embora os números absolutos sejam pequenos, a proporção é muito promissora. Na pesquisa atual, com mais de duas mil residências, temos dados de adoção bem mais representativos, mas ainda estamos contabilizando e associando ao Levantamento de Índice Rápido do Aedes aegypti (LIRAa.)”, diz Virgínia. Só para se ter uma ideia, o resultado do LIRAa de outubro de 2010, apontou um índice de infestação de 0,9% na capital mineira. O dado mosMINAS FAZ CIÊNCIA - SET. A NOV. / 2010

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tra que a cada 100 imóveis vistoriados, menos de um apresentou focos do mosquito da dengue. O LIRAa realizado no mesmo período do ano passado mostrou um resultado de 2,2% de infestação. De acordo com a padronização do Ministério da Saúde, o índice de infestação larvária a partir de 4% denota risco de epidemia. O levantamento é feito três vezes ao ano - janeiro, março e outubro. Os estudos até então realizados e em andamento no campo, pela equipe dos pesquisadores da Fiocruz, incluíram as áreas de Venda Nova, Prado e um bairro do município de Sabará, a partir de dados epidemiológicos que as apontam como de alta prevalência da dengue e altos índices do LIRAa. Há diversos resultados práticos em termos de compreensão dos processos de difusão, adoção e proficiência de uso da tecnologia, e de metodologias e alternativas de informação e educação em saúde associadas a tais processos. Alguns dos resultados estão descritos em dissertações de mestrados já defendidas e em desenvolvimento e revelam o potencial de estímulo à adoção de práticas seguras de controle no domicílio, bem como o papel dos escolares como multiplicadores de informação e de ações preventivas em suas residências. As evidengues utilizadas nas comunidades e escolas que participam do estudo são gratuitas. O custo para a pesquisa é de cerca de 2,50 a pequena (para vasos de violeta) até 4,00 reais

“Não se trata de novo método para substituir outros, mas de método para se integrar a outros métodos existentes. Um programa integrado usa todas as técnicas disponíveis de controle vetorial da forma potencialmente mais efetiva, mais econômica e mais segura para manter as populações de vetores em níveis pelo menos aceitáveis”. João Bosco Jardim, pesquisador

a grande. Esse custo pode diminuir se forem adquiridas em grande quantidade, pois até o momento foram feitas apenas para cobrir as necessidades das pesquisas. Virgínia esclarece que, no momento, está realizando um estudo em um bairro inteiro (antes realizado apenas por amostragem em domicílios de escolares ou de moradores) e medindo o efeito da adoção da evidengue nos índices larvários do vetor (estimado pelo LIRAa). Há questões a serem resolvidas como, por exemplo, a cor da capa associada à adoção e o processo de ajustá-la ao vaso para que tenha

Foto: Marcelo Focado

nível máximo de proficiência de vedação. “Os dados encontram-se em análise com indicações encorajadoras para o controle do vetor e esperamos em breve poder divulgá-los”. A pesquisadora também lembra que o poder público só se interessa por inovações já comprovadamente testadas e, como estão ainda finalizando os estudos, não têm investido na difusão ampla. Como observa João Bosco, a difusão da evidengue é parte do desenvolvimento de um novo método de controle vetorial da dengue nos domicílios. “Não se trata de novo método para substituir outros, mas de método para se integrar a outros métodos existentes. Um programa integrado usa todas as técnicas disponíveis de controle vetorial da forma potencialmente mais efetiva, mais econômica e mais segura para manter as populações de vetores em níveis pelo menos aceitáveis”, ressalta. Na falta de vacina contra o vírus da dengue, comenta João Bosco, a maioria das iniciativas de prevenção da doença tem se concentrado no combate químico ao vetor, geralmente com resultados desapontadores. Outras iniciativas são as ações ambientais, o controle biológico, a vigilância epidemiológica e entomológica e as campanhas educativas que procuram envolver as populações afetadas na prevenção da doença. “Nenhuma dessas estratégias, porém, tem se mostrado efetiva o bastante para conter a proliferação do mosquito. Ante a reconhecida impossibilidade de erradicação do Aedes aegypti em curto prazo no Brasil, o Programa Nacional de Controle da Dengue preconiza que o impacto da doença pode ser substancialmente minorado se o conjunto das medidas existentes for associado a iniciativas que visem incrementar a participação popular na prevenção da formação de focos de proliferação domiciliar do mosquito”, afirma João Bosco. Fabrício Marques

No centro, vaso com a Evidengue, dispositivo que torna possível associar o saber ao fazer

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Projeto: Investigação de um modelo experimental para difusão de tecnologias de controle da dengue em ambiente domiciliar Coordenador: Virgínia Torres Schall Modalidade: Edital Universal Valor: R$ 46.643,00


Como acontece, na prática, em uma comunidade, a associação de estudos de informação e educação em saúde com a adoção de novas tecnologias, como a Evidengue. Quarto passo:

PASSO A PASSO

Primeiro passo:

NA ESCOLA

Escolhidas as turmas de alunos que vão participar do estudo, a equipe de pesquisa visita as casas dos estudantes para verificar como é o ambiente em relação a riscos de transmissão da dengue.

NA ESCOLA

A equipe de pesquisa repete os questionários/ entrevistas sobre conhecimento com os mesmos entrevistados anteriormente para verificar mudança ou acréscimo no saber deles.

Quinto passo:

Segundo passo:

NA ESCOLA

A equipe de pesquisa realiza um programa educativo participativo com os alunos em sala de aula após realizar questionários e/ou entrevistas sobre conhecimento e prevenção da dengue com professores e estudantes.

NA ESCOLA

A equipe visita novamente os domicílios dos estudantes 15 dias após o programa educativo e observa se as capas foram adotadas e se melhorou ou não o cuidado com o domicílio em relação à dengue.A cada 15 dias, até completar 60 dias as visitas, são repetidas para avaliar a adoção e proficiência de uso das capas nas residências dos alunos.

Terceiro passo:

NA ESCOLA

Cada aluno das chamadas turmas experimentais recebem três evidengues, uma pequena, uma média e uma grande, todas numeradas para identificação posterior no domicílio. As turmas de controle recebem apenas o programa educativo para comparar.

Os mesmos passos são seguidos com a diferença de que não há programa educativo, mas entrega de um folheto informativo sobre prevenção da dengue e uso proficiente da evidengue.

NAS COMUNIDADES

Saiba mais sobre a Evidengue A Evidengue® é uma capa de tela protetora de pratos coletores de água de vasos de planta. É feita de tela-mosquiteiro, material utilizado para vedar janelas, que consiste de uma trama de resina sintética de poliéster resistente a mofo e incêndio, com malha igual ou inferior a 2 mm x 1 mm. O protótipo avaliado (figura ao lado) no projeto financiado pela Fapemig possui um franzido junto à borda de abertura por onde se embutem uma tira do mesmo material e um elástico que permitem o fechamento e o ajuste da capa ao vaso de planta. Quando ajustada adequadamente, a evidengue® veda por completo o acesso de fêmeas de Aedes aegypti ao prato.

Capa Evidengue®. Lado esquerdo: protótipo da capa. Lado direito: prato de vaso de planta envolvido com a evidengue

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Meio ambiente

Entre jatobás e jacarandás Pesquisadores investigam DNA para orientar a conservação de quatro espécies do Cerrado e da Mata Atlântica

O Brasil ostenta o título de país com maior biodiversidade do mundo. Só o Cerrado, segundo maior bioma brasileiro, contabiliza 11.267 plantas nativas, ocupando 22% do território brasileiro. Contudo, de acordo com o Ministério do Meio Ambiente, depois da Mata Atlântica, o Cerrado é o bioma brasileiro que mais sofreu alterações com a ocupação humana. Onde está escrito alterações, leia-se devastação. Para investigar o DNA de algumas espécies da flora desse bioma, e que sofrem ameaça de desaparecimento, um grupo de pesquisadores do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), sob a coordenação de Maria Bernadete Lovato e José Pires de Lemos Filho, saiu a campo para amostrar árvores de quatro espécies: jacarandá-da-bahia, vinhático, jatobá-do-cerrado e jatobá-da-mata. O Parque Estadual do Rio Doce - a 248 km de Belo Horizonte, na Região do Vale do Aço, foi um dos locais da pesquisa que contou com financiamento da FAPEMIG e do CNPq. A principal conclusão do estudo, de acordo com Lovato, é que os resultados obtidos apontam para a ocorrência em determinados locais de maior diversidade ge-

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nética e com ocorrência de plantas com características genéticas distintas dos indivíduos de outros locais. “As áreas com essas características são extremamente importantes e devem ser levadas em consideração como prioritárias nas estratégias de conservação das espécies. Essas características foram observadas algumas vezes e é o caso, por exemplo, de uma população de jacarandá-da-bahia amostrada no Nordeste de Minas”, afirma a pesquisadora. E completa Lemos Filho: “esse resultado indicou a priorização de se estabelecer áreas de conservação de Mata Atlântica nessa parte do Estado que, além de contribuir para a conservação dessa espécie ameaçada, certamente, por um efeito ‘guarda-chuva’, contribuirá para a conservação de outras espécies de plantas e animais”. Além disso, a pesquisa pode contribuir para a identificação de áreas prioritárias para a conservação. Como explica Lemos Filho, o Cerrado não é um bioma exclusivamente brasileiro como a Caatinga, mas sua maior extensão ocorre no país. É muito rico em espécies e endemismos, ou seja, em grupos taxonômicos que se desenvolveram numa região restrita. Essas características e o nível de ameaça pelas atividades econômicas, princi-


palmente a expansão agrícola, levou a sua inclusão entre as áreas prioritárias de conservação em nível mundial.

As espécies

A escolha das espécies investigadas não se deu por acaso e muito menos a pesquisa se restringiu ao Cerrado. O Jacarandá-da-bahia (Dalbergia nigra) é uma espécie endêmica da Mata Atlântica e ameaçada de extinção devido à exploração de sua valiosa madeira desde o Brasil Colônia. O vinhático também é uma importante espécie madeireira e até pouco tempo atrás, era, do ponto de vista botânico, considerado como duas espécies, o vinhático da mata e o do Cerrado. “Com base em estudos de nosso grupo evidenciando a possibilidade de fluxo gênico (a troca de genes entre populações, que são normalmente da mesma espécie) entre essas duas espécies na chamada área ecotonal, ou seja, de transição entre duas comunidades ecológicas adjacentes, tais como floresta e cerrado, foi realizado um estudo taxonômico que as agrupou em uma única espécie (Plathymenia reticulata). Esta, por sua vez, se distribui tanto na Mata Atlântica como no Cerrado”, observa Lovato. Lemos Filho caracteriza os jatobás: “eles também fornecem madeira de qualidade, tendo o jatobá da mata (Hymenaea courbaril) distribuição ampla incluindo a Mata Atlântica e matas ripárias do bioma Cerrado, enquanto que o jatobá-do-Cerrado (Hymenaea stigonocarpa) é encontrado exclusivamente no bioma que lhe dá nome”. Essas espécies, além da importância econômica, tem ocorrência natural em dois biomas de importância mundial para conservação da biodiversidade. São territórios cuja preservação é prioritária - denonimados de Hotspots – devido a alta riqueza de espécies, endemismos e alto grau de ameaça devido às atividades humanas. Para investigar essas espécies, a equipe de Lovato e Lemos Filho extraiu amostras de plantas de várias populações em diferentes locais do Cerrado e da Mata Atlântica, procurando amostrar o máximo possível da área de ocorrência das espécies. As amostras de folha ou caule foram conduzidas ao laboratório para o isolamento e amplificação do DNA.

Posteriormente, para cada planta, partes das sequências DNA foram analisadas e utilizadas para se determinar a diversidade genética dentro das populações e entre as populações de cada espécie. “Para cada espécie, essa diversidade foi estudada no contexto da sua distribuição geográfica, agrupando-se as populações com base na sua proximidade genética, resultando nos grupos filogeográficos, isto é, considerando a distribuição geográfica dessas populações e a sua genealogia”, observa Lovato. Investigando o DNA dessas plantas, quais as chances de adaptação e sobrevivência delas hoje? “De acordo com os pesquisadores, a sobrevivência em longo prazo de uma espécie depende da diversidade genética. A análise do DNA das populações permite inferir o grau de diversidade de cada população e se estabelecer estratégias conservacionistas”, ressalta Lovato. Para Lemos Filho, os estudos apontam em alguns casos o efeito deletério das atividades humanas, reduzindo a variabilidade genética das populações. Por outro lado apontam áreas que foram preservadas como reservas, detendo significativa variabilidade genética. “Uma importante contribuição se refere à identificação de áreas detentoras de alta diversidade e contando com indivíduos únicos geneticamente, que carecem de ações para o estabelecimento de áreas de preservação que poderiam manter uma amostragem significativa da diversidade genética das espécies”, comenta o pesquisador. Os pesquisadores adiantam os próximos passos de sua equipe: “estamos ampliando o número de espécies a serem analisadas, bem como ampliando a abrangência geográfica das populações amostradas, visando a não somente conhecer a diversidade genética e história evolutiva do Cerrado e da Mata Atlântica, mas também contribuir para fornecer subsídios para medidas conservacionistas”. Fabrício Marques Projeto: Abordagem filogeográfica e ecofisiológica em populações de leguminosas arbóreas da Mata Atlântica e do Cerrado Coordenadora: Maria Bernadete Lovato Modalidade: 1M EAP - Projeto de Pesquisa Científica e Tecnológica Valor liberado: 26.659,50

Árvores de jatobá-da-mata

Fotos: José Pires de Lemos Filho

Exemplo de vegetação do Cerrado

Saiba mais sobre o Cerrado O bioma Cerrado possui uma área de aproximadamente 203 milhões de hectares, ocupando porção central do Brasil. É o segundo maior bioma da América do Sul, ocupando cerca de 25% do território nacional. A sua área contínua incide sobre os Estados de Goiás, Tocantins, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Bahia, Maranhão, Piauí, Rondônia, Paraná, São Paulo e Distrito Federal, além dos encraves no Amapá, Roraima e Amazonas. O bioma Cerrado possui apenas 7,44% de sua área protegida por unidades de conservação, federais, estaduais e municipais, sendo que aproximadamente 2,91% do Cerrado é protegida na forma de unidades de conservação de proteção integral, tais como os parques nacionais. FONTE: Relatório técnico de Monitoramento do desmatamento no bioma Cerrado, divulgado em 2009.

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Mapas em movimento

Cartografias urbanas

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Uso de novas tecnologias e apropriação de técnicas multidisciplinares ampliam o sentido da arte da representação cartográfica na sociedade contemporânea


A cartografia surgiu para dar nome à arte da representação do espaço em mapas. Fundamental na época das navegações para o domínio do mundo, essa ciência que tem as origens ligadas aos homens das cavernas passa por um momento-chave. Os mapas estão por aí, em papel, nas telas, no celular, no GPS ou no computador. Talvez, mais presentes como nunca, até transparentes em nossas vidas. Usamos mesmo sem perceber e, assim, a cartografia é imersa numa banalidade que faz brotar novos desafios para a ciência da representação. Digitais, analógicos, preto e branco ou coloridos, os mapas se transformam influenciados pela vida digital. Qual será o futuro da cartografia? “É difícil dizer o que o cartógrafo vai estar fazendo daqui a dez anos. Mas se a gente acompanhar os processos de transformação do mundo, tanto tecnológicos, quanto conceituais, não teremos problema em ser profissionais conectados”, acredita o geógrafo Lucas Mello de Souza, coordenador do projeto Canta Cantos, ligado à Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Segundo ele, o primeiro passo para entender a cartografia do futuro é se desapegar da ideia dos mapas estáticos. “O desafio é, em um tempo de grande mobilidade, você desenvolver uma cartografia que também seja móvel, dinâmica”, aposta Souza.

É essa a meta que a professora Regina Helena Alves da Silva e sua equipe encaram desde 2004. O grupo trabalha com novas formas de olhar para a cidade e assim se dedica a elaborar metodologias cartográficas que dialoguem com o passado dessa ciência, com o presente e com o futuro. O que isso quer dizer? Uma cartografia dos fluxos. “É a compressão do espaço/tempo, no mundo da velocidade, da comunicação fácil e rápida com os lugares”, detalha. Para Silva, uma questão fundamental para a cidade hoje é o movimento, e, é justamente o que a faz funcionar e existir. Os primeiros passos da pesquisa que caminha para o entendimento desses movimentos foram dados nos arredores do Centro Cultural da UFMG. O objetivo era procurar formas alternativas à cartografia tradicional de mapas e gráficos. Nesse contexto, a professora se perguntou: “com tudo o que a gente tem hoje, como fazer tentativas de mapeamento e construção de mapas cartográficos que pudessem minimamente dizer do movimento e da dinâmica urbana?”. Diante desse questionamento a equipe de pesquisadores foi para as ruas e começou a filmar, fotografar, gravar sons, de noite e de dia, em percursos diferenciados. “Recortamos os espa-

ços, o tempo, saíamos em dias e horários diversos, andando de formas diferentes e começamos a captar os sons, a filmar, a fotografar, a anotar em caderneta de campo para criar vários tipos de registros”, lembra. Era a primeira tentativa de mapear o fluxo. O desafio seguinte era elaborar metodologias que pudessem não apenas registrar, mas, sobretudo, compreender o fluxo vital do centro de Belo Horizonte.“A questão é como transformo esse registro em algo que pode ser ‘capturável’ em outros momentos por outros registros? É colocar o registro em fluxo, também”, comenta a professora. Para entender melhor, imagine o registro dos fluxos da prostituição na avenida Afonso Pena, na região central de Belo Horizonte. Dependendo dos horários, dos lugares, a prostituição se instala mais em um ponto que em outro. Há o lugar dos travestis, das profissionais mais jovens. Isso em um momento está de um jeito, outro momento está de outro. “Entender essas múltiplas possibilidades é fundamental MINAS FAZ CIÊNCIA - SET. A NOV. / 2010

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Foto: Marcelo Focado

fessora sobre o trabalho da equipe de processamento de dados.

Realidade virtual

O fluxo de prostituição na avenida Afonso Pena, região central de BH, também foi pesquisado pelo projeto

se eu quero propor uma política pública para a cidade. Se eu conseguir demonstrar por múltiplos registros que isso muda, já é um avanço”, acredita a professora. Por meio desses múltiplos registros, os pesquisadores conseguem ter uma dimensão de uma temporalidade histórica do local. “É esse tipo de discussão que a gente esta fazendo”, completa.

Dispositivos de memória

O trabalho, ainda em desenvolvimento, demandou encontros com profissionais de outras áreas como física, computação, além de experiências em outras cidades. A primeira parada do projeto foi em Salvador, quando Silva propôs à equipe o mapeamento comparado do centro histórico da cidade e o centro de Belo Horizonte. O estudo teve o apoio da FAPEMIG por meio do projeto Cartografias Urbanas: Redes, Espaços e Fluxos Comunicativos. “A única coisa que diz que um centro é histórico e o outro não é o tempo dos prédios. Densidade histórica você não calcula pela idade. Então, o que define isso?”, pergunta. Já em Portugal foram estudados os planos de intervenção nos centros urbanos. “Eles descobriram que a única

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forma de se intervir em um lugar sem que a população se rebele é quando muda a ideia de tempo e espaço. O sentido de tempo e memória. Aí sim você quebra a resistência”, comenta Silva. Técnicas assim foram usadas em cidades como Porto, no norte do país, e no Largo das Fontaínhas, em Lisboa. As primeiras conclusões do projeto indicam a importância de se compreender o que Silva chama de dispositivos de memória. “É a primeira questão conceitual do projeto a qual chegamos. É a ideia de que, em alguns momentos, os registros (dos fluxos) acionam a memória e produzem o sentido”, explica. O objetivo da professora e sua equipe, nesse caso, é romper com o conceito cartesiano da representação cartográfica. “Hoje isso é possível justamente porque temos a compreensão do espaço, do tempo e das possibilidades geradas pelas novas tecnologias”, comemora. Obviamente, ainda há um longo percurso pela frente. O diálogo com as outras áreas, por exemplo, ainda precisa alcançar uma melhor sincronia. “Só agora é que a gente conseguiu um banco de dados para entrar com múltiplos registros: o sonoro, o visual e o fotográfico. Os vídeos eles ainda não conseguem colocar”, detalha a pro-

Embora considere que as novas tecnologias representem avanços para a cartografia em fluxo, a professora Regina Helena Alves da Silva ainda é reticente em relação às proximidades com as técnicas de realidade virtual. “Acho complicado porque as pessoas pensam que a realidade virtual seria quase uma cópia da realidade”, pondera. Mas o professor de engenharia elétrica da Universidade Federal de Uberlândia, Alexandre Cardoso, esclarece que não é bem assim. “Qualquer coisa que você queira melhorar em termos de visualizar a informação e de permitir um acesso a ela com uma manipulação muito mais realista, passa pela realidade virtual. Uma delas, com certeza, é a cartografia”, acredita. A possibilidade de interação oferecida pela realidade virtual é o que a diferencia. Assim, usando o mesmo exemplo do mapeamento da prostituição na avenida Afonso Pena, em Belo Horizonte, se a metodologia da cartografia em fluxo fosse aplicada com sistemas de realidade virtual seria possível experimentar as alterações, seja de regiões, de mapas, de objetos, de construções e, por que não do movimento. “Depois dos cenários cartografados, você não tem possibilidade só de visualizá-los. Pode modificá-los”, acrescenta Cardoso. Os cenários descritos pelo professor Alexandre Cardoso - que envolvem cartografia e realidade virtual – parecem enredos de ficção científica. No longa-metragem Minority Report - A Nova Lei, com direção de Steven Spielberg, Tom Cruise interpreta o policial do futuro capaz de capturar o criminoso antes da infração. Segundo Cardoso, a passagem em que ele entra em um shopping e todas as suas preferências são oferecidas em telas suspensas não estão muito longe de se tornarem reais. “Você está com o seu telefone e vira a câmera para uma determinada região. O aparelho traz automaticamente informações como ofertas e como você faz para chegar até elas”, conta. Eis mais um exemplo de cartografia moderna.


Sistemas assim tendem a se popularizar porque os custos finais para o consumidor já não são tão altos. Se, há 14 anos, quando iniciaram as pesquisas sobre realidade virtual e aumentada no Brasil, a imersão neste universo demandava o uso de capacetes e óculos altamente tecnológicos cujos valores não eram inferiores a R$ 12 mil, atualmente, modelos de celulares são vendidos com programas de realidade aumentada embutidos, com altas potências cartográficas. “Estamos comprando agora óculos na faixa de US$ 500 dólares. Eles têm uma lente transparente que é uma tela com uma câmera. Então, quando você olha para uma pessoa e a identifica, aparecem na tela os dados daquele indivíduo”, detalha Cardoso.

Realidade virtual e aumentada no Brasil

Os estudos sobre realidade virtual e aumentada no Brasil são recentes. O primeiro workshop realizado no país foi em 1997 e agora, em maio de 2011, a Universidade Federal de Uberlândia se prepara para sediar o 13º Simpósio Internacional da área, que terá apoio da FAPEMIG. As atividades planejadas para o simpósio incluem minicursos, palestras de convidados internacionais, tutoriais, sessões técnicas para apresentação de trabalhos relacionados, demonstração e exposição de protótipos e oficinas. Atualmente, estão em atividade grupos de pesquisa do Rio Grande do Sul a Pernambuco, com estudos aplicados à medicina, educação, engenharia elétrica e outras áreas com resultados práticos e inovadores em teste. De acordo com Alexandre Cardoso, grandes empresas nacionais, como a Embraer e a Petrobrás já utilizam sistemas de sistemas de realidade virtual gerados no Brasil por grupos de pesquisa brasileiros. Carolina Braga

Projeto: Cartografias Urbanas: Redes, Espaços E Fluxos Comunicativos Coordenador: Regina Helena Alves da Silva Modalidade: Programa Pesquisador Mineiro Valor: R$ 48.000,00

Palavra-chave

LEI ÁUREA DA INOVAÇÃO? Mario Neto Borges* Ildeu Viana da Silva**

Ainda não! Mas foi um avanço a sanção da Lei Federal nº 12.349, no dia 15 dezembro último. A lei trouxe importantes aperfeiçoamentos na legislação que atualmente rege a ciência, a tecnologia e a inovação (CT&I) no Brasil. De maneira especial, altera de forma importante as leis de licitações, de inovação e das fundações de apoio no que diz respeito à regulamentação legal para a ciência nacional. Atendendo ao clamor das áreas científicas e tecnológicas do país, o governo federal editou em julho de 2010 a Medida Provisória nº 495, operando consideráveis mudanças no arcabouço atual. A Medida Provisória foi uma resposta à demanda da 4ª Conferência Nacional de CT&I que ocorreu em maio passado. Enviada ao Congresso, esperava-se que os parlamentares dessem sua contribuição efetiva para por fim a alguns entraves que ainda dificultam o desenvolvimento da CT&I no Brasil. Apesar de terem sido apresentadas trinta e uma emendas, apenas algumas delas foram acrescentadas pelas comissões ao texto original da MP, mas sem qualquer impacto que mereça destaque. Perdeu-se uma grande oportunidade! Em que pese o cochilo por parte do Congresso Nacional, o novo diploma fortaleceu, principalmente, o papel das fundações de apoio. Elas são de suma importância para as Instituições Federais de Ensino Superior (IFES) nas áreas de pesquisa, ensino e outros, além de conferir maior flexibilidade nas relações universidade/empresa que investem em pesquisa e no desenvolvimento de tecnologia no país, estimulando o consumo dos produtos e serviços nacionais. As fundações de apoio foram criadas pela Lei nº 8.958, de 1994, com o objetivo de apoiar as instituições de ensino superior e de pesquisa científica e tecnológica na execução dos projetos de pesquisa, ensino e extensão e de desenvolvimento institucional. Em razão de situações casuísticas, e pelo fato de não haver um aparato jurídico conclusivo, o Tribunal de Contas da União (TCU) avocou para si o papel de legislador do assunto, através da emissão de acórdãos que inibiam as atuações das fundações e causavam insegurança jurídica para todos. Como forma de sanear a questão, o novo diploma introduz modificação na lei das fundações e na de inovação, com a redação que autoriza a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e as Agências Oficiais de Fomento a realizar convênios e contratos com as fundações de apoio, com finalidade de dar apoio às IFES e às ICTs, inclusive na gestão administrativa e financeira dos projetos. Esse artigo põe termo às intervenções do TCU no que diz respeito às competências das fundações de apoio. Com relação à Lei nº 8.666 de 1993 - Lei das Licitações - outra modificação importante é a possibilidade de se estabelecer preferências nas licitações para o setor produtivo e de serviços nacionais – fato conhecido como uso do poder de compra do Estado, já praticado nos países da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). No que diz respeito à Lei 10.973/04 - Lei de Inovação - ficou prevista a dispensa de licitação para as contratações pressupostas nessa lei. Ainda que modestas, pode-se dizer que as alterações constantes da nova lei constituem um avanço que nos permitem vislumbrar um futuro promissor para CT&I no Brasil. O país já vem tendo reconhecimento científico e tecnológico internacional, como comprovam reportagens publicadas na revista Science de 3 de dezembro de 2010 e no The Economist de 26 de janeiro de 2011. Mas ainda é preciso arrumar a casa. *Presidente da FAPEMIG e do Confap **Assessor da FAPEMIG

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Especial

Nova FAPEMIG Novas assessorias, gerências e departamentos renovam a estrutura e otimizam o trabalho Continuidade dos esforços em prol da Ciência, Tecnologia e Inovação (CT&I) em Minas Gerais e consolidação do posicionamento estratégico da FAPEMIG para o Estado. Isso é o que representa a nova estrutura organizacional da Fundação, criada através da Lei Delegada 180/182/11, Decreto 45.536/11, que inclui novas assessorias, gerências e departamentos, além da reestruturação dos já existentes. “Esta nova estrutura foi demandada por três razões principais. A primeira foi o crescimento exorbitante da FAPEMIG nos últimos oito anos, já que nosso orçamento está 11 vezes

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maior. A segunda diz respeito à Lei de Inovação que abriu portas para que a Fundação atuasse também no setor privado, nas áreas de tecnologia e inovação. Por último, a dimensão das duas razões anteriores abriu outro braço de atuação da FAPEMIG: o internacional”, explica o presidente da Fundação, Mario Neto Borges. Somente nos últimos oito anos, a FAPEMIG recebeu 81% de todos os seus recursos. Naturalmente, o aumento reflete no número de projetos apoiados, bolsas concedidas e eventos financiados. Exemplo disso é o próprio orçamento de 2010 da Fundação que, mais uma vez, bateu o próprio recorde, chegando aos R$ 284 milhões. As parcerias com grandes empresas foram consolidadas por meio de editais lançados, projetos aprovados e eventos voltados especificamente para sanar dúvidas da comunidade científica. Fiat, Whirlpool, Vale e Ci&T são alguns exemplos de empresas que lançaram editais em conjunto com a Fundação em 2010,

totalizando R$ 47 milhões em recursos.A internacionalização da FAPEMIG também ganhou formas mais robustas. No início do ano passado, o trabalho em torno do tema era incipiente, com visitas e diálogos ainda em estágio inicial. No fim do exercício, os resultados já eram visíveis, com parcerias firmadas, projetos aprovados e eventos realizados. Atualmente, já existem editais e projetos em andamento com Alemanha, Itália, França, Austrália e Inglaterra.

Nova estrutura

Para este ano, em que a FAPEMIG comemora 25 anos de existência, a nova estrutura objetiva a execução dos três eixos em que a instituição atua – Ciência, Tecnologia e Inovação – de acordo com novas necessidades. Para dar suporte à Presidência, foi criada a Chefia de Gabinete, à qual a Central de Informações está subordinada, e a Assessoria Científica Internacional, para tratar especificamente das parcerias e projetos internacionais. A Diretoria Científica transformou-se em Diretoria de Ciência, Tecnologia e Inovação, considerando os três eixos de atuação da entidade. Ela recebeu duas assessorias de apoio Assessoria Adjunta de Ciência e Assessoria Adjunta de Inovação - e também uma nova


gerência: a de Inovação. Resultado direto da Lei de Inovação, a gerência vai cuidar diretamente das parcerias com o setor empresarial. A Diretoria de Planejamento, Gestão e Finanças também recebeu duas assessorias adjuntas: a Assessoria Adjunta de Finanças e a Assessoria

Adjunta de Planejamento e Gestão. A Gerência de Planejamento e Finanças foi desmembrada, tornando-se Gerência de Planejamento e Gestão e Gerência de Finanças. Essa área na FAPEMIG é diferente de outros órgãos do Estado, já que cuida da administração interna e também da gestão

dos programas da Fundação, de onde parte a maior demanda. “Esta nova estrutura tem o objetivo institucional de colocar as peças do tabuleiro nos lugares certos. Com isso, vamos continuar executando nosso trabalho com qualidade e efetividade”, declarou o presidente.

Organograma da FAPEMIG 2011

DTT - Depto de Transferência de Tecnologia DPI - Depto de Propriedade Intelectual DAV - Depto de Avaliação DEA - Depto de Estudos e Análises DPB - Depto de Programas de Bolsas DIT - Depto de Informações Técnicas DRE - Depto de Relações Empresariais DIN - Depto de Propostas de Inovação DPL - Depto de Planejamento

DGP - Depto de Gestão de Pessoas DCO - Depto de Controle Operacional DFI - Depto de Finanças DCT - Depto de Contabilidade DPC - Depto de Prestação de Contas DTI - Depto de Tecnologia da Informação DCL - Depto de Compras DML - Depto de Materiais, Patrimônio e Serviços Gerais

Criados recentemente (Lei Delegada 180/182/11)

Criados em 2007 (Lei Delegada 138/2007)

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Engenharia de tecidos

Banco que

guarda vidas Pesquisadores trabalham para criar o maior centro público integrado de tecidos biológicos da América Latina

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Um núcleo de estudos e armazenamento de tecidos humanos. A proposta inovadora e que pode ajudar a salvar vidas é de um grupo de técnicos e gestores que trabalham para a criação do Centro de Tecidos Biológicos (Cetebio). A ideia surgiu durante um congresso em 2000, quando a doutora Ana Bárbara Proietti era presidente do Hemominas. A atual referência técnica da instituição para o desenvolvimento de projetos internacionais, em viagens à França e Estados Unidos, sempre ouvia falar sobre os bancos de pesquisa de tecidos humanos. Eles faziam estudos e a estocagem dos materiais para fornecimento a pacientes que necessitassem de enxerto ósseo ou de pele, por exemplo. “Nós começamos a pensar nesse banco integrado quando o assunto ainda não era comentado como hoje”, lembra Proietti. Em 2007, em congresso no Canadá, a Fundação Hemominas firmou convênio com o Hemocentro Público de Québec (Héma-Québec) a fim de compartilharem conhecimento técnico para a implantação do Cetebio. “A vantagem é que com a união dos bancos é possível fazer um melhor controle de qualidade e de produção dos materiais fornecidos, além de prevenir, curar doenças graves, facilitar para realização de transplantes e tratamentos hemoterápicos”, explica. Hoje, as atividades são desenvolvidas por profissionais da Fundação Hemominas. O projeto tem como objetivo criar o primeiro Centro do país na área e o maior da América Latina, de acordo com a gerente executiva, Daniela Marra. “Doze pessoas, entre médicos, biólogos e empreendedores, atuam no desenvolvimento do Cetebio”, conta. Segundo Daniela Marra, no Brasil já existem os bancos de tecidos. Por exemplo: um de pele em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, e dois de válvulas cardíacas, no mesmo Estado. A diferença deste é que será o único do país que vai juntar várias especialidades em um único ambiente. “Com isso, nós conseguimos reduzir custos”, destaca. Na unidade que funcionará em Lagoa Santa, na Grande BH, serão de-

senvolvidas pesquisas com seis tipos de tecidos humanos. Pele e sangues raros, além dos bancos de medula óssea, válvulas cardíacas, cordão umbilical e placentário e de tecidos musculo-esqueléticos. O projeto tem o apoio de vários órgãos estaduais, entre eles, a FAPEMIG, que foi a responsável pela verba para a aquisição dos equipamentos necessários à realização dos estudos. A missão do grupo é sempre dar sequência ao trabalho que já vem sendo

desenvolvido. “Nosso objetivo, no futuro, é atender os pacientes, buscando uma melhora contínua na qualidade dos produtos ofertados e, para isso, vamos continuar expandindo as pesquisas”, comenta Marra. O Centro deverá ser inaugurado apenas em 2013. Antes é necessário que cada uma das unidades sejam testadas para que a instituição possa fazer o pedido de funcionamento ao Ministério da Saúde e para a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

Foto: Gláucia Rodrigues

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Fotos: Arquivo Cetebio

Sequência de fotos ilustra como, após a retirada, a pele é preparada para ser esterilizada ainda no centro cirúrgico

“O Cetebio beneficiará, entre outros pacientes portadores de leucemias e aqueles que tiverem queimaduras de terceiro grau”, conta Marra. Segundo uma das biólogas do projeto, Paula Passos, o Hospital João XXIII é referência na América Latina no que diz respeito ao tratamento de queimados. Quando o Banco de Peles estiver em funcionamento, ele deverá atender a toda a demanda local. “Estatísticas do Banco do Rio Grande do Sul mostram que, das 17 doações realizadas em 2009, dez foram para pacientes de Minas”, revela. Cada um dos bancos será montado dentro dos padrões de qualidade internacionais, mas, a princípio, o material será usado apenas com pacientes atendidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Porém, a intenção é, segundo Daniela Marra, que no futuro haja um intercâmbio com Centros de outros países. Ana Bárbara Proietti, idealizadora do projeto, explica ainda porque foram escolhidos esses tecidos para começarem os testes. “São os que a população brasileira mais necessita atualmente. Depois de implantado o Cetebio, nós vamos estudar novos produtos”, esclarece.

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Por dentro dos Bancos

Cada unidade trabalhará com materiais de doadores vivos (medula óssea, sangues raros e cordão umbilical) e mortos (pele, válvulas cardíacas e ossos).As coletas não ocorrem no Centro e sim em hospitais conveniados com o Cetebio. Por enquanto, foram realizadas as pesquisas sobre a viabilidade da implantação do banco de peles. A parte prática dos trabalhos começou em setembro de 2010 e foi concluída em fevereiro de 2011. Os pesquisadores ficaram satisfeitos com os resultados. “Tivemos 100% de aproveitamento, ou seja, atestamos a qualidade da pele que foi retirada e tratada nos nossos laboratórios”, conta Paula Passos. A próxima etapa é a pesquisa dos sangues raros. O início está previsto ainda para este ano. No segundo semestre, devem começar os estudos com cordão umbilical e tecidos musculo-esqueléticos. Para 2012, serão testados os bancos de válvulas cardíacas e de medula óssea. Os processos produtivos das unidades do Centro acontecem em quatro fases. Na primeira, é feita a recepção, seleção do material e o cadastro com

informações sobre o doador. Depois, acontece o processamento. Os materiais são testados para ver se há a presença de micro-organismos. Quando detectados, os tecidos passam por novos testes. Caso o problema continue, eles são descartados ou enviados para pesquisas. Em seguida, ocorre a distribuição que consiste no envio dos tecidos e materiais biológicos com instruções técnicas, visando à manutenção da qualidade e preparação para utilização dos produtos. Por último, acontece a etapa das pesquisas. São realizados estudos específicos aplicáveis aos bancos do Cetebio para melhoria dos processos e produtos, bem como do desenvolvimento de estudos nas áreas de biologia celular, molecular e engenharia de tecidos. Ana Flávia de Oliveira Título: Subsídio para a aquisição de equipamentos Coordenadora: Daniela Marra Modalidade: Edital PPSUS Valor: R$ 2.106.749,79


Fotos: Arquivo Cetebio

Como deverá funcionar cada unidade Banco de Peles: aqueles que são aprovados no teste de qualidade passam pelo processamento. Ficam em soluções específicas que esterilizam e preservam as características naturais da pele. Banco de Sangues Raros: funcionará em parceria com hemocentros onde será feita triagem de doadores, coleta e fracionamento do sangue. Os hemocentros enviarão o material com os resultados de exames. Após o recebimento, será encaminhado ao laboratório de processamento onde será transferido para uma bolsa de congelamento. Nessa fase, são retiradas amostras para testes de compatibilidade antes das transfusões e de controle de qualidade. O sangue recebe um conservante e é congelado. Ele pode ficar, pelo menos, dez anos sem perder as propriedades. Assim que houver a solicitação de bolsa e sua compatibilidade for atestada, ela deverá ser descongelada. Banco de Cordão Umbilical e Placentário: após a captação e triagem do potencial doador e a coleta do sangue de cordão umbilical e placentário, o material passa por um teste de qualidade. Quando estão dentro dos padrões, as bolsas são encaminhadas a um processador, que realizará a separação de cada componente do sangue e acondicionamento das células-tronco em bolsa de congelamento. Banco de Tecidos Musculo-esqueléticos: o processamento consiste na preservação do tecido, por meio

da infusão de uma solução protetora e antibiótico. Ao final do processo, o tecido é empacotado em embalagem tripla. Assim, poderá ser congelado a uma temperatura de -80°C, por no máximo, cinco anos. Banco de Medula Óssea: o processamento da medula é similar ao de cordão umbilical. Ela deve ser centrifugada em equipamento refrigerado para realizar a separação de fases e concentração das células-tronco. Após a centrifugação deverá ser realizada a remoção da camada superior, rica em gorduras. O plasma, camada formada entre a camada rica em gorduras e o concentrado de células-tronco, deverão ser parcialmente removidos. Em seguida, as células-tronco deverão ser transferidas para bolsa de congelamento apropriada, quando recebe uma solução que auxilia na conservação da medula e segue para o congelamento. Banco de Válvulas Cardíacas: o processamento das válvulas compreende duas etapas – processamento primário e secundário. No primeiro caso, é feita a dissecação do coração para a extração das válvulas. O tecido fica em uma solução com antibióticos. No segundo, as válvulas serão lavadas em solução fisiológica estéril com o objetivo de retirar todos os resíduos de antibióticos. O tecido deve ser embalado juntamente com uma solução protetora e congelado. Essa metodologia permite armazenar os tecidos por cinco anos.

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História

Modernidade, ainda que tardia Estudos de inovações estéticas e políticas no Brasil dos anos 40 e 50 revelam particularidades do processo de aclimatação dos ideais modernos em países periféricos O Brasil e a Belo Horizonte de meados do século passado são o palco para a atuação de Vinicius de Moraes e João Cabral de Melo Neto, como diplomatas e poetas, e Juscelino Kubitscheck, como político

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No início da década de 40, quando era prefeito de Belo Horizonte, Juscelino Kubitschek atinou, do alto de sua singular perspicácia, para a necessidade de investimento em inovadora proposta arquitetônica, cujas peculiaridades seriam posteriormente reconhecidas como os primeiros e irreversíveis passos rumo à grande transformação da estrutura político-cultural da sociedade brasileira. Ao convidar o jovem e promissor Oscar Niemeyer a desenhar as imprevistas curvas do complexo da Pampulha – Igrejinha, Casa do Baile e Cassino –, JK não só estimulou o rompimento da arquitetura nacional para com os tradicionais traços retos e conservadores como instaurou, de vez, a discussão em torno da vasta questão: o Brasil deseja tornar-se moderno? Diante da intrincada pergunta, avolumam-se outros diversos conjuntos de interrogações, todos referentes ao futuro da grande nação periférica. Nesse cenário, a iniciativa oficial do então prefeito JK, capaz de aproximar políticas de estado a nuances de arte e tecnologia, lança definitivamente o país no processo de modernização que culminará com a construção de Brasília e a consolidação do ideário desenvolvimentista expresso no jargão do futuro presidente: “50 anos em 5”. O gesto de Juscelino como mandatário da capital mineira revela-se imprescindível ao debate de algo ainda mais amplo: o Brasil e sua experiência de modernidade. Afinal, a construção do complexo da Pampulha é o símbolo de uma “espécie de narrativa fundadora de nossa modernidade tardia”, como ressalta a pesquisadora Eneida Maria de Souza, professora emérita da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e hoje docente visitante nacional sênior, pela Capes, da Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ). Desde 1996, quando da criação do projeto de pesquisa Modernidades tardias, que contava com financiamento da Fundação Rockfeller, Eneida dedica-se ao desenvolvimento, ou orientação, de diversos estudos que buscam

discutir e desnudar “a(s) face(s)” da modernidade brasileira. Desde o início do projeto, que se dividiu em três distintas etapas de investigação de aspectos, definições e mutações do “moderno” – Belo Horizonte, Brasil e América Latina –, buscou-se compreender o modo – ou “os modos – como a vivência da modernidade, em nações periféricas, difere do padrão hegemônico europeu (ver boxe). “No fundo, nossa preocupação sempre foi estudar, nesses países, as novas acepções do pós-moderno. Importante ressaltar, contudo, que, ao falarmos de modernidade ‘tardia’, não pensamos em atraso”, afirma a pesquisadora, ao explicar que se trata, na verdade, da observação de “outras experiências de modernidade, considerando o descompasso temporal de sua atualização, assim como as singularidades múltiplas e divergentes dessa vivência dentro das próprias culturais locais”. Como se pode perceber, as atividades do projeto de pesquisa, assim como os diversos estudos e produtos que dele se originaram (e ainda se originam), não se restringem aos efeitos da veia desenvolvimentista de Juscelino Kubitschek – como prefeito, na década de 40 ou presidente, nos anos 50. Na verdade, a ideia de “modernidades tardias” –ou, em outros termos, de “pós-modernidade” em soberanias periféricas – remonta ao mundo Pós-Segunda Guerra Mundial, quando a hegemonia cultural, política e econômica europeia perde terreno para a capacidade de influência dos Estados Unidos. “Importante lembrar que, nesse processo, o desenvolvimento da cultura de massas revela-se muito importante”, conclui Eneida de Souza. Como forma de explicitar o(s) modo(s) de acepção da modernidade pelas nações periféricas – ou, mais especificamente, pelo Brasil –, o projeto Modernidades tardias fixou-se, em grande medida, no estudo das expressões artísticas. Afora a observação dos traços de Niemeyer, cujos serviços são requisitados por JK em dois MINAS FAZ CIÊNCIA - SET. A NOV. / 2010

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antológicos momentos da história do país, os pesquisadores enfatizaram o estudo de experiências estéticas em literatura, artes plásticas e música. Ao longo dos anos, daí surgiram dezenas de produtos, trabalhos acadêmicos e eventos, além da revista Margens/ Márgenes, fruto de parceria entre instituições brasileiras e argentinas, e de pesquisa, financiada pelo CNPq, sobre os intelectuais a serviço de Juscelino.

Do ofício ao poema

Fruto do estudo de doutorado do pesquisador Roniere Menezes, orientado por Eneida Maria de Souza e defendido junto à Pós-graduação em Estudos Literários da Faculdade de Letras da UFMG em 2008, o livro O traço, a letra e a bossa – literatura e diplomacia em Cabral, Rosa e Vinícius, lançado pela Editora UFMG, revela, justamente, a intensa relação entre as artes e as modernidades tardias. Ao investigar o diálogo da produção artístico-literária dos escritores e diplomatas João Cabral de Melo Neto, João Guimarães Rosa e Vinícius de Moraes com o dis-

curso “do moderno”, o autor acaba por revelar artistas extremamente preocupados com as fissuras proporcionadas por uma ideia de modernidade hegemônica. Além de ler grande parte das obras de Cabral, Rosa e Vinícius, o pesquisador teve acesso a vasto material – em grande parte, inédito – sobre a atuação dos três escritores como funcionários de carreira do Itamaraty. “Busquei trabalhar com escritores que, ao mesmo tempo, fossem intelectuais e pensassem as políticas do cotidiano. Assim, enfatizo, tanto nas obras como nos atos oficiais dos escritores, suas relações de afeto e compartilhamento com o homem comum”, explica Menezes ao comentar que se dedicou à compreensão do modo como os três discutiram as fissuras da sociedade então em processo de desenvolvimento e autointerpretação: “fazem isso, contudo, sem desprezar a qualidade da linguagem”, acrescenta. Nesse sentido, principalmente nas obras ficcionais, salta aos olhos a aguçada percepção dos escritores em relação a um Brasil

ainda marcado pelo grande abismo entre o acelerado processo de modernização e a construção de um projeto – diferenciado – de modernidade. Em suas iniciativas estéticas individuais, se, por um lado, João Cabral e Guimarães Rosa avançam na experimentação da linguagem, Vinicius mostra-se bastante corajoso ao transitar por searas artísticas diversas, do teatro à música popular. “Em comum, todos fazem literatura moderna, com influência do Brasil popular. Afinal, sabem que, nos anos 50, o país está em transformação. De modos distintos, as obras dos três abordam, por exemplo, o diálogo entre tecnologia, homem e natureza”. Roniere chama a atenção, na obra do trio, para a construção de personagens ficcionais preguiçosos, por vezes loucos ou à margem de padrões tradicionais, em atitude inteiramente resistente à ordem estabelecida pela temida modernização sem inclusão social.

Maurício Guilherme Silva Jr.

Coisas da pós-modernidade... Diante da expressão “modernidades tardias”, muitos podem traduzi-la como sinônimo de atraso histórico, político e/ou cultural, por parte dos países periféricos, em relação às nações dominantes. O complexo conceito, contudo, refere-se, direta e temporalmente, à ideia de “pós-modernidade”, ideário anglo-saxão cuja difusão dá-se, com maior intensidade, após a Segunda Guerra Mundial. Apesar disso, trata-se da versão teórica do ideal pós-moderno adequada à compreensão, principalmente, dos países latino-americanos. Além de não se restringir à ideia do “atraso”, a ideia de “modernidades tardias” busca concentrar, num só “corpo”, as múltiplas formas como os princípios da modernidade aclimataram-se em diversas realidades locais. Além de nova, tal proposta conceitual revela-se ousada por natureza. Afinal, “o modelo ocidental e eurocêntrico das teorias sobre a modernidade foi, por

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muito tempo, aceito como único, sem que sua hegemonia fosse contestada”, explica a professora Eneida Maria de Souza. Ao longo dos tempos, uma série de pensadores e teóricos investe na compreensão do singular processo “pós-moderno” das nações periféricas. Vem daí a infinidade de expressões, cunhadas em estudos com objetivos os mais variados, que hoje se entrelaçam à questão. Eis, sinteticamente, alguns dos mais famosos conceitos já criados em tal seara, seguidos por seus autores originais: “modernidade descentrada” (Jesús Martin-Barbero); “modernismo tardio” (Fredric Jameson); “modernidades alternativas” (Stuart Hall); “modernidades periféricas” (Beatriz Sarlo); “modernização reflexiva” (Anthony Giddens); “contra-modernidade cultural” (Homi Bhabha) e “modernidade líquida” (Zigmund Bauman).


Lembra dessa?

Vilões que salvam Moléculas encontradas em toxinas de aranhas e escorpiões apresentam potencial para criação de remédios contra bactérias, fungos e hipertensão Animais peçonhentos são normalmente encarados como vilões dos seres humanos, principalmente porque o encontro entre os dois seres vivos pode resultar em uma picada venenosa. Entretanto, apesar de serem perigosas, algumas moléculas, encontradas no gene do veneno desses animais, podem ser transformadas em remédios benéficos à saúde do homem. Desde 2005, a Rede Mineira de Estudos de Estrutura e Função de Biomoléculas, financiada pela FAPEMIG, faz o estudo de moléculas encontradas nas toxinas de animais como aranhas do gênero Lycosa, popularmente conhecidas como tarântulas, e escorpiões amarelos, espécie típica da região Sudeste. Em reportagem publicada na edição nº22 da MINAS FAZ CIÊNCIA, os cientistas já haviam descoberto que algumas moléculas encontradas no veneno do escorpião tinham ação anti-hipertensiva. Na época, duas patentes, uma nacional e outra internacional, foram registradas. Atualmente, seis anos depois da publicação da matéria, o estudo concentra seus esforços na criação de drogas contra hipertensão. Segundo Adriano Pimenta, professor do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da UFMG e coordenador da pesquisa, a partir da extração de um peptídeo (proteína formada pela ligação de aminoácidos) encontrado no veneno do escorpião, a proteína passou por uma redução em seu tamanho, preservando os aminoácidos que apresentaram potencial anti-hipertensivo. “Com essa redução, é pos-

sível diminuir custos de produção, elaborar formulações de uso oral, minimizar efeitos colaterais e reações imunológicas e localizar pontos da estrutura protéica com características farmacológicas”, afirma. Outra novidade da pesquisa é a inclusão das rãs e pererecas nos estudos do grupo. Entretanto, são as secreções encontradas na pele desses animais, liberadas durante a respiração, que têm sido avaliadas para verificar quais proteínas têm potencial antimicrobiano. Porém, a identificação está menos avançada em relação ao veneno produzido pelas aranhas conhecidas como tarântulas. “Percebemos que algumas moléculas encontradas nas toxinas das tarântulas têm boa ação contra bactérias do tipo gram-positivas e negativas, e também contra fungos, mas ainda estamos avaliando estas ações”, explica. Ainda existem moléculas de toxinas a serem isoladas. De alguns animais, foram descobertas cerca de 500 moléculas e até o momento o estudo conseguiu explorar em profundidade 1% deste total, ou seja, ainda há muito que se analisar e descobrir dentro dessa gama de possibilidades farmacêuticas. Para os próximos anos, algumas metas importantes foram estabelecidas para o desenvolvimento da pesquisa. “Trabalhamos com duas metas primárias, uma trata-se da descoberta de novas moléculas com potencial científico e tecnológico, a outra, do avanço e aprofundamento nos estudos com moléculas que mostraram algum potencial biotecnológico”, observa Pimenta.

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Biologia

Plantas desprotegidas Pesquisadores descobrem que os ácaros são capazes de desarmar o sistema de defesa de plantas. A descoberta pode auxiliar o combate às pragas na agricultura Assim como os seres humanos, as plantas estão constantemente expostas a micro-organismos e desenvolvem sistemas de defesa para prevenir infecções. Os mecanismos de defesa variam desde um fortalecimento estrutural, como o enrijecimento das paredes das células, até um aumento na produção de compostos tóxicos, como acontece em plantas de fumo. Em caso de ataque de um herbívoro, as plantas também podem produzir odores que atraem os inimigos desses herbívoros. No entanto, as interações de plantas e herbívoros fazem parte de uma luta evolutiva contínua em que um tenta destruir o outro. Dessa forma, pesquisadores há muito tempo suspeitam que os herbívoros de fato possam estar aptos a interferir em alguns dos mecanismos de defesa das plantas. Apoiados pelo Programa Bolsa Conhecimento Novo da FAPEMIG, um grupo de pesquisadores de Entomologia da Universidade Federal de Viçosa (UFV), da Universidade Federal de Tocantins (UFT) e da University of Amsterdam (UvA), na Holanda, descobriu que os ácaros herbívoros são capazes de manipular a planta e desarmar o seu sistema de defesa quando elas são atacadas. As pesquisas desenvolvidas pelo grupo são as primeiras a produzir evidên-

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cia experimental da defesa de planta pelos herbívoros. Os ácaros herbívoros são ácaros que se alimentam de plantas e podem se tornar pragas para a agricultura. Os pesquisadores descobriram que o ácaro vermelho (Tetranychus evansi) é capaz de eliminar a indução de compostos de defesa em plantas de tomate. Esse tipo de ácaro é o que causa mais danos e perdas na produção de hortaliças. “No tomateiro, esse ácaro produz uma teia muito densa sobre toda a folha. Essa teia serve de proteção contra os seus inimigos naturais que não conseguem entrar nessa estrutura pegajosa. Protegido, esses ácaros se multiplicam rapidamente e começam a alimentar-se das folhas, que necrosadas, levam a planta à morte”, explica o pesquisador. A interferência provou-se tão efetiva que as plantas atacadas tornaram-se melhores fontes de alimento e mais atrativas aos ácaros do que as plantas que não sofreram ataques. Os níveis de compostos de defesa tornaram-se ainda mais baixos que em plantas que não estiveram sob ataque. O trabalho teve início em 2001. Na época, o grupo começou a pesquisa investigando a estruturação de teias alimentares em tomateiro. As teias alimentares são a estruturação de toda a comunidade de organismos que vivem em um dado local. “Especificamente, estudamos a teia no tomateiro verificando como acontecem as interações de insetos e ácaros pragas com os seus inimigos naturais e a planta. Para o projeto, treinamos mais de seis estudantes de iniciação cientifica, três de mestrado e dois de doutorado”, conta Angelo Pallini, pesquisador da UFV e coordenador do projeto. Os estudos começaram investigando a ecologia comportamental dos organismos que compunham a teia no tomateiro e depois evoluíram para a investigação da comunicação química entre predador-presa (praga-planta). O grupo investigou vários insetos predadores e ácaros que podem atuar no controle do T. evansi. Em seguida, os pesquisadores buscaram entender como o ácaro conseguia explorar a planta. A partir daí, iniciaram-se os estudos de defesa induzida da planta às pragas. “Há aproximadamente dois anos, começamos a

produzir alguns artigos com resultados muito promissores, explicando a manipulação de herbívoros sobre as plantas atacadas”, diz. Segundo Pallini, essas descobertas lançam uma nova luz nas pesquisas sobre as interações planta-herbívoro, proteção de plantas e resistência de plantas a espécies nocivas. “Esse novo conhecimento não é apenas de interesse científico, mas também tem implicações cruciais para a melhoria e as inovações dos sistemas de manejo sustentável de pragas em plantas cultivadas de interesse econômico na agricultura”, revela. A pesquisa foi desenvolvida pelo pesquisador Renato de Almeida Sarmento, orientado por Pallini e pelo professor Arne Janssen, da University of Amsterdam. “Ao entendermos o mecanismo que leva a essa manipulação, podemos usar esses conhecimentos para proteção de plantas com interesse econômico, como na agricultura, e melhorar o procedimento de pesquisas de plantas resistentes a pragas”, esclarece.

Pesquisa internacional

Desde 1987, o Grupo de Entomologia da UFV possui uma importante parceria com a University of Amsterdam (UvA). Desde então, estudantes da UFV vão para a UvA realizar estágios, mestrados e doutorados e vice-versa. “Esse fluxo de estudantes, e também de pesquisadores, torna os laboratórios das duas instituições um ambiente promissor para criar novas e boas ideias de pesquisa. Os dois grupos associam os seus pontos fortes, como equipamentos, recursos humanos, instalações, agências de financiamentos, e otimizam as ações para produzir ciência”, afirma Pallini, que também é coordenador desse convênio. Além da parceria com a Holanda, a Entomologia da UFV também possui convênios com a Colômbia, Estados Unidos (Minessota, Kansas, Florida, Califórnia), Europa (Alemanha, Suécia, Espanha, França e Inglaterra), Japão, Austrália, Egito e Moçambique, na África. As parcerias visam promover o intercâmbio de pesquisa e de pesquisadores, objetivando a troca de informações e aferições das pesquisas produzidas em um padrão internacional. “O intercâmbio tem dados ótimos frutos para a Entomologia da UFV. Nosso programa de mestrado

e doutorado possui nota máxima na Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). Essas pesquisas dão a Minas Gerais destaque na área e levam o nome do Estado para todo o Brasil e exterior, podendo ser medido pelo impacto das publicações de Minas nas citações dos indicadores internacionais”, orgulha-se.

Bolsa Conhecimento Novo

A Bolsa Conhecimento Novo faz parte do Programa de Apoio a Cursos notas 6 e 7 (PACSS), criada através de um Acordo de Cooperação entre a FAPEMIG e a Capes, assinado em 2009. No caso específico dos cursos com conceito 7, a proposta foi criar estímulos para que eles desenvolvam atividades de pesquisa e pós-graduação em temas novos que representem desafios para as áreas de conhecimento. O apoio, concedido por meio da Bolsa Conhecimento Novo, é oferecido pelo período de três anos ao pesquisador talentoso selecionado para atuar na fronteira do conhecimento. São concedidos R$ 300 mil por três anos, com bolsas mensais no valor de R$ 6 mil. O programa concede ainda um valor de custeio para apoio ao projeto do pesquisador. Para Angelo Pallini, a modalidade é uma inovação. “O que acontece é que geralmente os projetos propostos mudam com o decorrer da pesquisa. Para mudar o que foi antes proposto, o pesquisador tem que mandar para a agência de fomento uma enormidade de formulários, relatórios e outros documentos que acabam por desviar a energia da pesquisa para a burocracia. A bolsa Conhecimento Novo inova em tudo, inclusive em dar liberdade ao pesquisador para direcionar o uso do recurso. Isso não significa que o pesquisador não tem que comprovar o que fez, mas que pode se dedicar e canalizar suas energias na pesquisa”, relata Pallini. Juliana Saragá Projeto: Ecologia de Comunidades e defesa de plantas Coordenador: Angelo Pallini Modalidade: Bolsa Conhecimento Novo Valor: R$ 300.000,00 MINAS FAZ CIÊNCIA - SET. A NOV. / 2010

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Mercado financeira Educação

Odinheiro em jogo

Desenvolvido pela empresa Cedro Games, com financiamento da FAPEMIG, o game on-line Goumi diverte crianças e jovens ao tratar de noções básicas de economia 42

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Dados divulgados pela Câmara Nacional dos Dirigentes Lojistas (CNDL), em parceria com o Serviço de Proteção ao Crédito (SPC), revelam que, ao longo de 12 meses, houve aumento de 10,23% no número de pessoas físicas registradas no temido SPC. Preocupante, tal elevação no volume de devedores oficialmente cadastrados pode ser analisada como fruto de causas técnicas diversas, entre as quais a enorme facilidade de crédito hoje em voga no mercado brasileiro. Uma das explicações mais relevantes e plausíveis para o fenômeno da inadimplência no país, contudo, diz respeito à rotina íntima dos cidadãos: a falta de cuidados com a própria saúde financeira é responsável por levar milhões de indivíduos ao desespero ou à bancarrota. Para muito além dos chamados fatores economicistas, a capacidade de lidar com o dinheiro de forma saudável relaciona-se diretamente aos ensinamentos que, desde a infância, o cidadão/ consumidor recebe de pessoas ou instituições próximas. Em outras palavras, como em tantas áreas do fazer humano, também na administração do “dim-dim nosso de cada dia”, a palavra de ordem parece ser “educação”. De olhos abertos, justamente à proposta de formar pessoas que saibam lidar melhor com seus gastos e rendimentos cotidianos, os profissionais da Cedro Games – MINAS FAZ CIÊNCIA - SET. A NOV. / 2010

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Fotos: Reprodução

Reprodução de situações enfrentadas pelos participantes do jogo Goumi

vertente de atuação da Cedro Finances, empresa especializada na concepção de tecnologias para o mercado financeiro – investiram na criação do inteligente e divertido Goumi (www.goumi.com.br), jogo de computador on-line destinado a crianças e jovens de 6 a 14 anos. Em termos técnicos, a lúdica ferramenta pode ser definida como um Massive Multiplayer Online (MMO), cuja nomenclatura não possui tradução satisfatória para o português, mas é capaz de resumir tanto as facilidades como as múltiplas ações do produto: em primeiro lugar, para participar do Goumi, basta aos jovens internautas cadastrarem-se gratuitamente no site do jogo; a partir daí, passam a conviver, em ambiente virtual, com milhares de personagens, situações e desafios. “Dentro de nossa proposta de educar as crianças financeiramente, o Goumi reproduz ambientes e fatos da vida em sociedade. No jogo, a todo momento, elas aprendem a conviver com demandas do dia a dia e a fazer escolhas importantes”, ressalta Clauton Veloso Pugas, executivo de negócios da Cedro Games.

Eu “tô” com fome!

Ao ingressar no Goumi, o novo jogador transmuta-se num persona-

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gem virtual que faz, simplesmente, de tudo: acorda, banha-se ao chuveiro, toma café, planta árvores, conversa com vizinhos (os jogadores on-line), ou compra, vende e troca objetos e produtos. Para que se dê bem nesse complexo cenário da vida cotidiana, o internauta precisará de muita organização, paciência e disciplina. Afinal, além de controlar os movimentos de seu “alter ego” virtual, terá de acompanhar a saúde da personagem que, a todo instante, tem baixas de energia, sente fome, carece de higiene ou de relacionamentos afetivos. Além disso, de tempos em tempos, surgem, na tela do computador, contas a serem pagas em “Mics”, o dinheiro corrente no jogo. Trata-se dos valores gastos com água, luz, moradia etc.“Tudo isso permite que a criança compreenda a necessidade de equilibrar ações. Se o bonequinho não toma banho, por exemplo, uma série de moscas aparece em sua cabeça. Caso o jogador não aja rapidamente, seu personagem pode ficar doente e precisará ir ao hospital onde, se não tiver poupado dinheiro para comprar remédio e se curar, verá diminuir, na tela, a carga de seu ‘nível de vida’”, explica Pugas. O “mundo Goumi”, comunidade virtual na qual os hoje cerca de 2.500

jogadores cadastrados no site realizam suas ações, conta com diversos ambientes diferenciados. Na brincadeira eletrônica, além da “área dos iniciantes”, de onde começam os mais novos participantes, os bonequinhos – ou avatares – têm acesso a residências (próprias ou alheias), hospital, loja de roupas, bolsa de valores, praça, espaço de jogos, banco, loja de móveis ou casa da agricultura. O que salta aos olhos, em cada um desses estabelecimentos, é a riqueza de detalhes e de ações possíveis, tudo em tecnologia 3D. Se desejar comprar uma roupa, por exemplo, o jogador segue à referida loja onde seu personagem virtual é recebido por vendedores devidamente treinados para o serviço.Além de escolher algo em meio à ampla variedade de produtos oferecidos – de bonés a vestidos, de sapatos a capacetes para ciclismo –, é preciso, porém, conferir a quantia de dinheiro que se tem “em mãos”. Do contrário, melhor deixar de lado a realização do negócio. Afinal, antes de adquirir qualquer coisa, é sempre vital lembrar que há contas a serem pagas ao final de cada passagem de “Tics”, a marca de tempo no Goumi: “Todos os produtos a serem adquiridos no jogo têm preço. E nenhum valor é fixo. De uma hora para outra, eles podem variar


Metas tridimensionais

bastante”, explica Pugas, ao ressaltar como tais variações são importantes para que as crianças compreendam as oscilações do mercado. Outra interessante iniciativa de educação financeira do jogo diz respeito à abordagem, implícita e divertida, em torno do valor intangível dos bens de consumo. No Goumi, o preço de um simples regador de plantas, necessário ao cultivo de sementes – uma das mais tradicionais atividades econômicas do brinquedo eletrônico –, pode apresentar variações de até 400%. Tal absurda disparidade de custo faz com o que os pequenos internautas tenham ciência de um dos mais tradicionais duelos nas “arenas” do mercado: funcionalidade versus marca. “Vivemos num mundo consumista. Nele, há produtos iguais, com a mesma finalidade, mas com preços completamente distintos. Ao abordar tal questão no jogo, as crianças podem perceber que, muitas vezes, as marcas têm valor superior ao de sua função prática”, ressalta Pugas. A necessidade de “capital de giros” é outra questão trabalhada pedagogicamente pelo Goumi. Afinal, na vida de carne e osso – assim como no ambiente virtual –, nada mais relevante do que uma graninha guardada para momentos de emergência. “As crianças aprendem a pagar e a juntar dinheiro,

já que, sem reservas, terão problemas na hora de acertar as contas”, afirma o executivo de negócios da Cedro Games, ao lembrar outra surpreendente – e solidária – possibilidade do jogo: “Além de poupar, investir e gastar, os jogadores podem doar produtos uns aos outros. Temos percebido que muitos participantes fazem doações de sementes para que seus vizinhos, muitas vezes em dificuldade, possam recomeçar a vida no mundo Goumi”. Desde que entrou oficialmente “no ar”, o jogo não para de crescer, do número de participantes à quantidade de desafios e princípios pedagógicos propostos. Em breve, uma série de novidades será acrescida à brincadeira eletrônica, da inclusão de animais de estimação, que precisarão de cuidados especiais, à discussão em torno da previdência privada. “Além disso, desejamos fazer com que as crianças e jovens compreendam, por exemplo, o papel das agências de seguro para proteção de casas ou carros”, afirma Pugas. Pelo que se infere, assim como nesse grande e complexo planeta Terra, os próximos tempos – ou seriam “Tics”? – do mundo Goumi serão marcados por impressionante crescimento populacional. Maurício Guilherme Silva Jr.

Ainda em pleno estágio de desenvolvimento, apesar do já sofisticado nível de detalhes gráficos e da ampla possibilidade de ações, o Goumi se marca pela facilidade de operação. Para adentrar à realidade virtual, além do acesso à página www.goumi.com.br, basta ao internauta um computador com recursos básicos: Windows XP e 1 gigabyte de memória RAM. Após cadastrar-se e baixar um programinha open beta, o jogador deve criar e personalizar seu avatar (o bonequinho virtual), para, em seguida, ganhar dinheiro, comprar itens para a nova casa e cuidar bem da personagem fictícia, impedindo-a de adoecer e morrer. Todo realizado em tecnologia 3D, o Goumi foi criado por equipe composta de dez profissionais. Há cerca de quatro anos, após contratação de uma estrutura de software junto à empresa de tecnologia norte-americana, os brasileiros da Cedro Games iniciaram o desenvolvimento das mil e uma atrações pedagógicas do jogo. Além do executivo de negócios Clauton Pugas, o projeto conta com especialistas em arte e responsáveis por servidores e clientes. “Nosso desejo, a partir do Goumi, é transformar a empresa em referência, nacional e internacional, no desenvolvimento de games”, afirma Pugas.

Projeto: Desenvolvimento de métodos didáticos para o ensino de mercado de capitais a crianças e adolescentes Goumi Modalidade: PAPPE II – Subvenção Coordenador: Leonardo dos Reis Vilela Valor: R$ 414.938,00 MINAS FAZ CIÊNCIA - SET. A NOV. / 2010

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da TV digital

A nova era

Mercado Tecnologia

As tecnologias digitais lançaram o mundo em um redemoinho em que é quase impossível acompanhar todas as mudanças que ocorrem quase que semanalmente. O Brasil não fica de fora das inovações nessa área, como o advento da Televisão Digital Interativa (TVDI). Com ela, surge a possibilidade de oferta de uma vasta gama de novos serviços e aplicações (comércio eletrônico, educação a distância e governo eletrônico são alguns típicos exemplos) que permitam a intervenção do telespectador, oferecendo formas de interatividade até então desconhecidas no universo do sistema de televisão analógico. Essa é a opinião do pesquisador Membro do Sistema Brasileiro de Televisão Digital Terrestre (SBTVD-T) João Benedito dos Santos Junior. Professor do curso de Ciência da Computação da PUC Minas Campus

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Projeto desenvolve aplicativos e serviços interativos, promovendo ações de inclusão digital via interação do telespectador com o conteúdo televisivo

Poços de Caldas, ele faz uma ressalva: “No entanto, por ser uma tecnologia relativamente nova, com poucos padrões definidos e pesquisas em andamento, a construção de aplicações, serviços e sistemas para TVDI ainda é um desafio, especialmente para aqueles que têm seus interesses comerciais e/ou pessoais associados ao universo da televisão, mas não dominam tecnologias e ferramentas computacionais”, afirma. Em sua opinião, o que aparenta ser, num primeiro momento, uma adaptação do desenvolvimento de aplicações para computadores a um ambiente de televisão, mostra-se, na realidade, “um complexo e novo universo para atividades como programação e desenvolvimento, especialmente em termos das estratégias que devem ser adotadas para a interação do telespectador”.

Um sistema de Televisão Digital Interativa, observa Santos Junior, deve ser compreendido em todos os estágios do ciclo de um programa televisivo e de suas aplicações interativas. “Essas aplicações têm início com a produção e distribuição do carrossel de dados (fluxos de áudio, vídeo e dados), seguidos da formatação do conteúdo audiovisual e dos controles de interação para apresentação no terminal de acesso ao sistema de televisão digital”. E, depois, com o fechamento na interatividade do telespectador, tanto em nível local no terminal de acesso quanto à utilização de canal de retorno. Conhecendo a Dengue, Médicos em sua Casa, Testes de Saúde e Por dentro da Administração Pública são alguns dos aplicativos e serviços interativos desenvolvidos na pesquisa coordenada por Santos Junior e que


estimulam a participação do telespectador, e, como consequência, a inclusão digital. As nove aplicações que compõem o Guia de Serviços Interativos para o Canal da Cidadania estão em estágio avançado de desenvolvimento. Todas as aplicações já se encontram em estado de protótipo funcional, sendo que a primeira versão completa do guia poderá ser testada já no início do segundo semestre de 2011. A nossa expectativa é prover esse conjunto de aplicações sem qualquer custo para o telespectador. Isso será possível através de parcerias que envolvam a PUC Minas, o governo (em todas as suas esferas) e empresas fabricantes de equipamentos. O projeto depende da implantação do Canal de Cidadania, cujas diretrizes foram lançadas em março de 2010. O Canal da Cidadania é um dos quatro canais que a União poderá explorar no serviço de radiodifusão de sons e imagens em tecnologia digital. A proposta é fazer programação com produções locais independentes. Nesse contexto, espera-se que já em 2012 testes possam ser realizados para viabilizar a distribuição das aplicações interativas para os telespectadores, bem como identificar eventuais problemas com a interação do telespectador.

Contexto

Santos Junior explica que as pesquisas com Televisão Digital no Brasil tiveram início ainda na década de 80, quando diversos pesquisadores já trabalhavam com multimídia interativa e com áudio e vídeo digitais. O pesquisador faz um resumo do contexto histórico das discussões sobre o Sistema Brasileiro de Televisão Digital Terrestre (SBTVD-T), que tiveram início no governo de Fernando Henrique Cardoso, quando o foco central estava simplesmente na escolha entre os três sistemas internacionais (americano, europeu e japonês) existentes à época. No início do primeiro mandato de Luis Inácio Lula da Silva, o debate avançou para a possibilidade de se criar um Sistema Brasileiro de Televisão Digital com tecnologia nacional. Ainda em 2003, houve diversas iniciativas para

definir as políticas de TV Digital. No Brasil, foram credenciados cerca de oitenta centros de pesquisa para desenvolvimento dos componentes do SBTVD. Em Minas, grupos de pesquisa de três universidades foram credenciados: da UFMG, em Belo Horizonte; do INATEL, em Santa Rita do Sapucaí; e da PUC Minas, em Poços de Caldas, onde, desde 2002, funciona o Laboratório de Televisão Digital Interativa, também coordenado por Santos Junior. Em junho de 2006, foi instituído oficialmente o Sistema Brasileiro de Televisão Digital, contemplando parte das tecnologias desenvolvidas no Brasil (especialmente na parte do software) e acolhendo parte da tecnologia japonesa, fruto de uma parceria firmada entre os governos dos dois países. Em janeiro de 2007, o sistema nipo-brasileiro passou, oficialmente, a ser denominado de ISDB-TB (Integrated System for Data Broadcasting – Terrestrial Brazilian). A partir de 2 de dezembro de 2007, teve início a transmissão de sinal televisivo em formato digital, porém de forma restrita à cidade de São Paulo. Ao longo de 2008 e 2009, outras capitais, como Belo Horizonte, Rio de Janeiro, Brasília, Salvador, Manaus e Porto Alegre, também iniciaram a transmissão/recepção digital. Em 2011, o SBTVD-T encontra-se em fase de expansão da cobertura do sinal televisivo digital e também em fase inicial de testes de algumas aplicações interativas pelas emissoras que contam com maiores recursos para investimentos. “As ‘maravilhas’ da TV digital são novidades vinculadas à criação de serviços comerciais, como venda interativa, jogos, consultas personalizadas (previsão do tempo, resultado de jogos), pay-per-view, dentre outros serviços e aplicações”, frisa Santos Junior. Ele ressalta que, nesse sentido, muitas vezes, direciona-se o foco somente nos aspectos comerciais e no retorno de investimentos para as emissoras de televisão. “No entanto, o sistema de televisão digital pode cumprir um importante papel na afirmação da cidadania”, diz. E exemplifica: “com o uso da interatividade, é possível disponibilizar nos lares brasileiros serviços interativos de educação, de governo eletrônico (declaração de imposto de

renda, pagamento de tributos, extrato de fundo de garantia por tempo de serviço – FGTS, boletim escolar dos filhos, dentre outros), uso de correio eletrônico (cada brasileiro com uma conta de e-mail) e acesso irrestrito e gratuito à comunicação via Internet”. Fabrício Marques Projeto: Uma plataforma convergente para distribuição de conteúdos digitais multimídia em ambientes de televisão digital interativa Coordenador: João Benedito dos Santos Junior Modalidade: Programa Pesquisador Mineiro - Fase III - 2009 a 2011 Valor: R$ 48.000,00

O que é Televisão Digital? “O primeiro passo importante para compreender Televisão Digital é entender que ‘Televisão’ não é ‘Televisor”, diz o pesquisador João Benedito dos Santos Junior. Ele explica que o televisor é um equipamento capaz de receber sinais de televisão que, por sua vez, é um sistema se que utiliza das Telecomunicações para apresentar uma representação (visão) de um determinado conteúdo. Esse conceito de televisão é muito importante no contexto do sistema de televisão digital, uma vez que os aspectos de convergência entre sistemas digitais diferentes (televisão, telefonia móvel, telefonia fixa, dentre outros) permitirão que sinais televisivos digitais sejam recebidos em diversos equipamentos diferentes e não somente no televisor, que é o único equipamento capaz de receber sinais de televisão no sistema analógico. “A Televisão Digital é um sistema que envolve a produção, a distribuição, a recepção, a formatação e a apresentação do conteúdo televisivo em meio digital”, observa Santos Junior. De acordo com o pesquisador, o sinal digital produzido nas emissoras é enviado aos aparelhos de recepção dos telespectadores e esses aparelhos devem estar preparados para receber sinal digital. Atualmente, as emissoras já produzem seu conteúdo em formato digital; no entanto, são obrigadas a transmiti-lo em meio analógico, uma vez que esse é o modelo em uso no Brasil.

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Mercado Notas

SBPC: novas políticas de C&T e 63ª Reunião Anual Os ministros da Educação, Fernando Haddad, da Saúde, Alexandre Padilha, de Ciência e Tecnologia, Aloísio Mercadante, e a ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, participaram de reunião com conselheiros da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência para discutir políticas governamentais para a ciência e tecnologia do Brasil. Os ministérios presentes foram convidados por apresentarem ações que interferem diretamente nas políticas de Ciência e Tecnologia. O objetivo da reunião é promover maior integração entre as políticas

dos ministérios e apresentar aos ministros as expectativas da comunidade científica em relação aos seus mandatos. E no meio do ano acontece na Universidade Federal de Goiás (UFG), em Goiânia, entre os dias 10 e 15 de julho, a 63ª Reunião Anual da SBPC. As conferências, simpósios e mesas-redondas com cientistas de todo o Brasil vão discursar sobre o tema: “Cerrado: água, alimento e energia”. Outras atividades previstas na agenda são os minicursos para universitários, pesquisadores e professores e alunos do ensino bási-

Prêmio para pesquisa do departamento de ciência dos alimentos da UFLA Trabalho apresentado no VI Simpósio ibero-americano de analises sensorial ocorrido na cidade de São Paulo, no fim de 2010, foi agraciado com o prêmio de melhor apresentação da conferência. Desenvolvido pelos pesquisadores Cleiton Nunes, Ana Carla Marques e Sabrina Bastos, da Universidade Federal de Lavras, o estudo avaliou a opinião sensorial (visual, sabor, cheiro) dos consumidores em relação a alguns produtos alimentícios, como pães, hambúrgueres e iogurtes, determinando qual das marcas disponíveis é mais bem aceita no mercado. Segundo Nunes, o diferencial da pesquisa é a inclusão das percepções visuais, olfativas e gustativas. “Esse estudo consegue analisar todas as características sensoriais que classificam um produto alimentício como bem aceito pelo consumidor, conseguindo definir melhor qual o seu sucesso nas prateleiras”, explica Nunes. A pesquisa está em fase de conclusão e uma nova perspectiva que surgiu é a de desenvolver um software de aplicação do teste sensorial. Foto: Divulgação

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co e técnico da rede pública brasileira. Outras programações acontecem paralelamente, como a SBPC Jovem, exclusiva para estudantes do ensino básico e técnico; a Expo C e T, exposição de ciência e tecnologia; e a SBPC Cultural, que mostra a cultura local da cidade onde ocorre a reunião. O evento é gratuito e para todos os públicos. É necessária a inscrição apenas para quem vai apresentar trabalhos científicos ou participar de algum dos minicursos. Mais informações no site http://www.sbpcnet.org.br/goiania/home/.

MCT anuncia criação de programa Nacional para Engenharias Em encontro promovido pelo Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (Confea), o ministro de Ciência e Tecnologia, Aloizio Mercadante, anunciou que está em fase de estruturação um plano nacional para engenharias que tem como objetivo estimular profissionais formados a se especializarem e formar tecnólogos na profissão para preencher áreas com déficit de mão de obra especializada na indústria e construção civil. A preocupação de Mercadante se revela em números. Segundo o Confea, o Brasil forma anualmente de 30 a 35 mil engenheiros, enquanto a demanda real do mercado é de 60 mil. O ministro salientou em seu discurso que o Brasil avançou na formação de mestres e doutores, que em 2010 chegou ao número de 50 mil pós-graduados, mas que é preciso investir na formação de tecnólogos e na especialização dos engenheiros, principalmente porque 2011 é o ano do Pré-Sal. “Agora nós vamos ter que combinar uma engenharia mais longa com uma engenharia mais curta para atender a determinados setores da cadeia produtiva. Só no Pré-Sal, nós vamos precisar de 200 mil engenheiros nos próximos 15 anos”, afirmou Mercadante. O plano nacional para engenharias terá a participação de instituições de ensino superior e agências de fomento à pesquisa.


3º Prêmio Paulo Gontijo Instituto não governamental Paulo Gontijo premia este ano o melhor estudo científico na área de medicina sobre a ELA, Esclerose Lateral Amiotrófica. O objetivo da premiação é estimular pesquisas na área médica e apresentar para a comunidade científica e população os avanços e novas descobertas sobre a doença. Concorrem ao prêmio pesquisadores do Brasil e do exterior. A premiação acontece no 22º Simpósio Interna-

cional ELA/Doença do Neurônio Motor, em Sydney, Austrália, no mês de novembro. Em 2009, o vencedor foi o cientista Belga Peter Carmeliet que inscreveu estudo inédito que demonstra a ação de uma proteína que funciona como fator neuroprotetor da Esclerose Lateral Amiotrófica. Mais informações sobre o prêmio, novidades e pesquisas sobre a doença podem ser encontradas no site www.todosporela.com.br.

Estudantes da Ufop participam do projeto Aerodesign Alunos da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop) se preparam para participar da 13ª edição do projeto Aerodesign. A competição envolve estudantes de engenharia aeronáutica de diversos países, como Índia, Estados Unidos e Venezuela, que devem projetar e construir uma aeronave rádio-controlada a partir de técnicas empregadas na construção de grandes aviões. Para vencer a disputa, o projeto dos estudantes mineiros deve passar por duas etapas: a primeira é ter o projeto avaliado por comissão de engenheiros Foto: Divulgação

da Embraer. A segunda etapa consiste em avaliar na prática se a aeronave consegue contrabalancear o seu peso com o transporte de carga máxima. Os três primeiros colocados na competição vão representar o Brasil na competição internacional nos Estados Unidos. O Projeto Aerodesign é organizado pela Sociedade dos Engenheiros da Mobilidade e acontece no período de 20 a 23 de outubro no Centro Técnico Aeroespacial de São José dos Campos-SP. As inscrições já foram encerradas.

Conteúdo para aperfeiçoamento de professores e alunos do ensino fundamental O acesso ao conteúdo da escola Britânica já está disponível e podem ser utilizadas nos laboratórios das escolas no desenvolvimento de atividades ligadas as disciplinas de cada série do ensino fundamental. De acordo com o INEP, Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira mais de 27 milhões de alunos vão utilizar o conteúdo on-line da escola britânica. Os materiais oferecidos on-line são artigos de enciclopédia, imagens, vídeos, biografias, noticias voltadas para crianças, jogos interativos e atlas e incorpora a tecnologia do Google Maps. Esse trabalho inaugura uma nova frente de trabalho do Portal de Periódicos da Capes que agora incluí em seus processos de formação e capacitação professores da rede pública e educação de alunos do ensino fundamental e médio e educação à distância.

ONU anuncia 2011 como Ano Internacional da Química Na 179ª reunião do Conselho Executivo da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco), foi aprovada pelos 24 países participantes do Conselho a proclamação de 2011 como Ano Internacional da Química. O objetivo a ser alcançado com a efeméride é tornar os conhecimentos da química acessíveis ao grande público, despertar nos jovens o interesse por essa ciência e mostrar a importância dela para as necessidades do mundo. Outro ponto fundamental para a definição do calendário é o centenário de concessão do Prêmio Nobel de Química a Maria Sklodowska-Curie, que venceu o Nobel de Química por ter descoberto os elementos químicos rádio e polônio. Além da homenagem à química, a ONU também vai homenagear os

feitos científicos realizados por mulheres do mundo dessa ciência. Em todo o planeta, serão realizados eventos artísticos e científicos que vão exaltar as importantes contribuições dessa área para o conhecimento, a proteção do meio ambiente, os avanços proporcionados à saúde e a ajuda no desenvolvimento econômico mundial. A Unesco, em parceria com a União Internacional de Química Pura e Aplicada (Iupac), e suas organizações e federações associadas em todo o mundo são responsáveis por organizar, promover e divulgar eventos que vão ocorrer ao longo do ano para celebração do ano da química. Informação sobre os eventos no Brasil acesse o site http://quimica2011.org.br/; para conferir a programação internacional o endereço é www.chemistry2011.org. MINAS FAZ CIÊNCIA - SET. A NOV. / 2010

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Cientistas brasileiros

2011 foi escolhido pela Organização das Nações Unidas (ONU) como o Ano Internacional da Química. Essa ciência é de grande importância nacional e internacional, pois contribuiu e ainda colabora para o desenvolvimento de diversas áreas da ciência e tecnologia, como meio ambiente, saúde e economia. Nesse contexto de celebração da Química a Thompson Reuters, agência mundial de informações, elegeu os cem químicos que se destacaram mundialmente, neste ano, por apresentarem em seu currículo maior número de publicações e citações por pesquisa. O professor, pesquisador e membro da Academia Brasileira de Ciências, o químico Jairton Dupont, teve seu nome em destaque na lista da Reuters. Atualmente, Jairton é professor do departamento de Química Orgânica da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) onde desenvolve pesquisas com líquidos iônicos e suas potenciais aplicações em catálise, nanomateriais e energias alternativas.

O senhor é o único brasileiro e ibero-americano citado. Isso pode trazer uma maior visibilidade para a ciência brasileira desenvolvida na área química? Sim, pode trazer maior interesse, tendo em vista que não aparecem na lista países com maior tradição e investimento em Ciência, como Espanha, Rússia, China e Índia. Entretanto, acho que temos que aprender muito com o lado de cima da lista: 70 trabalham em instituições dos EUA e sete na Alemanha.

A Química brasileira precisa avançar em relação à internacional? Deixa a desejar em algum ponto? No que avançou? O número de cientistas atuantes do Brasil é ainda muito pequeno (somente a cidade de Boston, nos EUA, tem mais doutores em Química que no Brasil inteiro), muito aquém de nossas necessidades prementes. Certo, foram criadas as bases para a formação de pessoal, técnicos engenheiros, professores e geração de ciência e tecnologia para inovação com a entrada no sistema dos Institutos Federais de Educação Profissional e Tecnológica (IFETs), noO que significa ter o seu nome vas universidades, PRO-Uni e novos na lista mundial da Thomson Re- campi, por exemplo. Entretanto, não temos os mestres auters dos cem químicos com maior número de publicações e e doutores em quantidade e qualidade (nas áreas de exatas e engenharias, citações por pesquisa? Em primeiro lugar, reflete a quali- principalmente) suficientes sequer dade da Química desenvolvida pelo para atender à expansão do ensino Grupo de Pesquisa em Catálise, ao superior, sem mencionar a demanda qual pertenço, e a entrada definitiva da do setor não acadêmico com a enQuímica da UFRGS no mapa dos Cen- trada do Pré-Sal. O país necessita de tros de Excelência. Em segundo lugar, gente qualificada em todos os níveis simboliza o acerto no investimento para fazer ciência. contínuo feito pelo governo federal 2011 é o ano mundial da Quínos últimos anos na pesquisa e principalmente na pós-graduação brasileira. mica. Como essa efeméride pode

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Foto: Divulgação

ajudar a desenvolver melhor essa ciência no Brasil? Nós (brasileiros) estamos num momento singular de nossa história científica e tecnológica e poderemos brevemente passar de espectadores a atores de base tecnológica e competitividade global. Entretanto, isso somente ocorrerá com a continuidade nos investimentos públicos que vêm sendo feitos nos últimos oito anos. Qual a mensagem do senhor para os cientistas químicos brasileiros e para os jovens que pensam em seguir carreira acadêmica e de pesquisa? Estamos num momento singular em que já produzimos ciência em quantidade, mas ainda deixamos a desejar em qualidade e aplicabilidade. Portanto, o desafio é gerar mais ciência, tecnologia e inovação de qualidade e nos dedicarmos com maior atenção à formação básica e global de nossos futuros mestres e doutores.



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