Minas Faz Ciência 76

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MINAS FAZ CIÊNCIA Diretora de redação: Vanessa Fagundes Editor-chefe: Maurício Guilherme Silva Jr. Redação: Alessandra Ribeiro, Lorena Tárcia, Luana Cruz, Luiza Lages, Mariana Alencar, Maurício Guilherme Silva Jr.,Tuany Alves, Vanessa Fagundes, Verônica Soares, William Araújo Editoração: Fatine Oliveira Montagem e impressão: GlobalPrint Editora Gráfica ltda. Tiragem: 25.000 exemplares Capa: Fatine Oliveira Ilustração: Fatine Oliveira Redação - Av. José Cândido da Silveira, 1500, Bairro Horto - CEP 31.035-536 Belo Horizonte - MG - Brasil Telefone: +55 (31) 3280-2105 Fax: +55 (31) 3227-3864 E-mail: revista@fapemig.br

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GOVERNO DO ESTADO DE MINAS GERAIS Governador: Romeu Zema SECRETARIA DE ESTADO DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO, CIÊNCIA, TECNOLOGIA E ENSINO SUPERIOR Secretário: Manoel Vitor de Mendonça Filho

Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais Presidente: Evaldo Ferreira Vilela Diretor de Ciência, Tecnologia e Inovação: Paulo Sérgio Lacerda Beirão Diretor de Planejamento, Gestão e Finanças: Thiago Bernardo Borges Conselho Curador Presidente: Clélio Campolina Diniz Membros: Esther Margarida Bastos, Eva Burger, João dos Reis Canela, Luiz Roberto Guimarães Guilherme, Marcone Jamilson Freitas Souza, Michele Abreu Arroyo, Nilda de Fátima Ferreira Soares, Ricardo Vinhas Corrêa da Silva, Roberto do Nascimento Rodrigues, Valentino Rizziioli Para receber gratuitamente a revista MINAS FAZ CIÊNCIA, envie seus dados (nome, profissão, instituição/empresa, endereço completo, telefone, e e-mail) para o e-mail: revista@fapemig.br ou para o endereço: FAPEMIG / Revista MINAS FAZ CIÊNCIA - Av. José Cândido da Silveira, 1500, Bairro Horto Belo Horizonte/MG - Brasil - CEP 31.035-536

Nesta primeira revista Minas Faz Ciência a circular em 2019, perguntamos aos nossos leitores: “O que você espera da ciência neste ano?”. As respostas, que podem ser conferidas na seção Ciência Aberta (página 5), variam entre gracejos e esperanças, preocupações e resistência. Nesse clima de expectativas para a ciência e a humanidade, também registramos, aqui, alguns desejos, materializados em temas e pesquisas que compõem essa edição. Atitudes responsáveis, hoje, para não comprometer o futuro das próximas gerações. A reportagem especial deste número trata de um tema que ultrapassa o modismo e toca em questões sensíveis ligadas ao nosso atual modo de vida. A economia circular, como definida pelos pesquisadores entrevistados, vai além de eficiência produtiva e ecológica (reuso e reciclagem de resíduos), englobando também o redesenho de processos, produtos e modelos de negócios. As jornalistas Alessandra Ribeiro e Luiza Lages conversaram com especialistas de várias áreas para apresentar aplicações, potenciais e limites desse conceito, além das inevitáveis implicações políticas, organizacionais e econômicas. Verdade, compromisso e transparência nas decisões relacionadas à ciência, tecnologia e inovação. No último ano, foram muitas as notícias falsas sobre ciência que circularam, principalmente, nas redes sociais. Natália Pasternak Taschner, pesquisadora da Universidade de São Paulo (USP) e uma das fundadoras do Instituto Questão de Ciência, é uma das vozes a alertar para os perigos das inverdades e da distorção do conhecimento científico. Na entrevista concedida ao editor Maurício Guilherme Silva Jr., ela fala sobre o envolvimento dos pesquisadores com a divulgação científica, a cobertura da ciência pelos veículos da grande mídia e o poder das redes sociais, além de comentar o que ela chama de Síndrome de Cassandra: o cientista não fala porque ninguém ouve ou ninguém ouve porque o cientista nunca fala? Ciência, tecnologia e inovação para promover avanços, atender a demandas da sociedade e promover bem-estar social. Duas pesquisas, ambas com o envolvimento de pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), apresentam avanços para a área da segurança pública. Na primeira, uma equipe de mais de 20 especialistas estuda ferramentas e soluções envolvendo vigilância, biometria e computação forense. A segunda, fruto de parceria com a Polícia Federal de Minas Gerais, resultou em alternativas para o equipamento óptico e o pó revelador de digitais atualmente utilizados. A repórter Tuany Alves conta a história desse trabalho em conjunto, que deu origem a materiais aptos às necessidades do campo e que, quando combinados, oferecem informações mais precisas e confiáveis, auxiliando na resolução de crimes. Diminuição das diferenças de gênero na ciência. O tema vem sendo amplamente discutido pela comunidade científica, o que deu origem a iniciativas diversas para ampliar a participação das mulheres na produção científica. Entre elas, está a criação, pela Organização das Nações Unidas (ONU), do Dia Internacional de Mulheres e Meninas na Ciência, comemorado em 11 de fevereiro, e um belo trabalho da equipe do MINAS FAZ CIÊNCIA, o livro digital Mulher Faz Ciência: 10 cientistas, muitas histórias (ainda não conhece? Veja o resultado em http://minasfazciencia.com.br/mulher-faz-ciencia/). Na Universidade Federal de São João del Rei (UFSJ), um projeto de extensão também busca despertar o interesse de meninas pela área por meio de eventos em escolas. Os resultados são relatados pela jornalista Verônica Soares. Conhecimento acessível a toda a população. Projetos, ferramentas e materiais didáticos que contribuam para divulgar a ciência aos não especialistas são fundamentais para democratizar o acesso ao conhecimento. Com esse intuito, o matemático e escritor Jacques Fux, também professor da Fundação Dom Cabral, idealizou a oficina “Alice no País dos números, da lógica, das artes e das maravilhas”. A repórter Alessandra Ribeiro, que acompanhou o evento, conta como a literatura também pode servir de entrada para o campo da Matemática. Em outro trabalho, um filósofo da UFMG dedicou cerca de oito anos à tradução dos escritos de Aristóteles sobre Física. Feito inédito, a ideia é, após a publicação de um livro, disponibilizar o material na internet para consultas e uso em novas pesquisas. Boa leitura! Vanessa Fagundes Diretora de Redação

AO LEI TO R

E XP E DI EN TE


ÍNDICE

06

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10

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ENTREVISTA

Natalia Pasternak Taschner discute malefícios da pseudociência e desafios da divulgação científica

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GENÉTICA

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BIOMIMÉTICA

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CIÊNCIA FORENSE

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INOVAÇÃO

Imagens geradas por câmeras de segurança são avaliadas por mecanismos de vigilância inteligente

ALIMENTAÇÃO

Suplementos alimentares passarão a contar com rótulos especiais e composição controlada

ESPORTE

LITERATURA

Repórter acompanha oficina que entrelaça a Matemática às aventuras de Alice no País das Maravilhas, de Lewis Carroll

ESPECIAL

Reportagem investiga princípios da chamada “economia circular”, que busca aliar progresso e sustentabilidade

Especialistas constroem soluções para a humanidade ao observar fenômenos da natureza

Parceria entre UFMG e Polícia Federal de Minas Gerais aprimora métodos para identificação de impressões digitais

Fintechs redefinem relações e práticas financeiras, além de estimular nova competitividade com bancos tradicionais

HIPERLINK

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CONTEMPORÂNEAS

MINAS FAZ CIÊNCIA • JUN/JUL/AGO 2018

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Profissionais do Instituto de Ensino e Pesquisa da Santa Casa de Belo Horizonte investigam causas genéticas da epilepsia

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FILOSOFIA

Professor da UFMG realiza tradução inédita, do grego ao português, dos oito volumes da Física de Aristóteles

Estudo investe em novas próteses de titânio, além de simular corrosão de peças do metal no corpo humano

39 COMPUTAÇÃO

Laboratório de Termografia da Universidade Federal de Viçosa (UFV) realiza inéditas pesquisas ligadas ao esporte

BIOMEDICINA

Mulheres na ciência, aprendizagem de idiomas e reportagens de sucesso nos sites do projeto “Minas Faz Ciência”

Invasão de mexilhõesdourados, moluscos que provocam inúmeros problemas ao ecossistema brasileiro, desafia pesquisadores

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IGUALDADE DE GÊNERO

Projeto de extensão busca promover inclusão de mulheres na ciência e na tecnologia


CIÊNCIA ABERTA

O que

você espera da

?

ciência em

2019

“Espero a regulamentação da profissão de cientista, inexistente no Brasil!” Douglas Rocha Via Facebook

“Pelo nível das discussões atuais, esperar que a Terra continue sendo uma bola achatada, rodando ao redor do Sol, já é um bom começo.” Lívia Dias Via Facebook

volvimento econômico e social.” Alice Pereira

“Tomara que haja mais projetos para a cura das doenças! As vezes a gente acha que não há cura e nem esperança para certas doenças, mas existe sim. O que precisa é de mais amor para valorizar a Ciência e liberar recursos para isto”. Santa Vasconcelos

@suaciencia Via Instagram

“Espero a cura de mais doenças que deixam sequelas ou matam as pessoas. Meu avô paterno, por exemplo, morreu de Alzheimer no ano retrasado.”

“Que me traga uma namorada!”

Ronaldo Duarte Via Facebook

“Que reverta o obscurantismo que avança.”

@gabrielcgeo Via Instagram

“Eu espero que, em 2019, a ciência receba investimento e, junto com este investimento, que ela receba o devido reconhecimento de sua importância em nossas vidas. Pesquisas são fundamentais no nosso dia a dia!”

“Da ciência, sempre espero o melhor: que siga o rumo em direção ao progresso e derrube mitos nocivos e crenças nada virtuosas. Contudo, não sei o que esperar das pessoas que renegam o conhecimento empírico e têm ganhado voz e ouvidos que as escutem.”

João Oliveira Estudante/ Por e-mail

Luiz Vila Real Via Facebook

“Que a Ciência se inove face aos acontecimentos ocorridos em Minas Gerais e no Brasil”.

“Que a ciência volte a ser ciência de fato.” Rodrigo Câmara Via Facebook

Elson de Abreu

“Espero que sejam retomados os apoios, os projetos. Que ela não fique estagnada e evolua para o bem e progresso da humanidade, contribuindo sempre para o desen-

“Parece clichê, mas resistência. Ainda mais em tempos nos quais o conhecimento e a verdade estão sendo massacrados.” Thaís Nascimento Via Facebook

MINAS FAZ CIÊNCIA tem por finalidade divulgar a produção científica e tecnológica do Estado para a sociedade. A reprodução de seu conteúdo é permitida, desde que citada a fonte. MINAS FAZ CIÊNCIA • MAR/ABR/MAI 2017

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ENTREVISTA

Veracidade acima de tudo Pesquisadora da USP, Natalia Pasternak combate práticas de pseudociência e comenta funções, caminhos e atores da divulgação científica no Brasil Maurício Guilherme Silva Jr.

Apaixonada pelos múltiplos caminhos, efeitos e possibilidades do fazer científico, ela jamais se furta a discutir – e a lutar contra – os (inúmeros) obstáculos ao desenvolvimento da pesquisa, principalmente, no Brasil: “Creio que a população brasileira seja completamente indiferente à ciência”. Bióloga formada pelo Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo (Ibusp), Natalia Pasternak Taschner é pós-doutora em Microbiologia, na área de Genética Molecular de Bactérias, pelo Instituto de Ciências Biomédicas da USP. Palestrante em diversos congressos, seminários e eventos ligados ao debate acerca da produção de saberes, a pesquisadora trabalha, atualmente, no ICB/USP. Também é sócia-fundadora do blog “Café na Bancada” [www.cafe-na-bancada.com. br] e coautora do livro Caçadores de Neuromitos (vol. II), pela editora Ibies. Fundou, ainda, a iniciativa “Cientistas Explicam”, que oferece palestras, aulas

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e oficinas para escolas, universidades, museus e institutos de pesquisa, e é diretora, no Brasil, do festival internacional de divulgação científica “Pint of Science – Um brinde à ciência”. Outra de suas iniciativas atuais refere-se ao Instituto Questão de Ciência, cuja “função primordial é trazer a ciência para os grandes diálogos nacionais e globais em torno da formulação de políticas públicas”. Nesta entrevista à revista Minas Faz Ciência, Pasternak problematiza conceitos de divulgação científica, comenta os rumos da pesquisa no Brasil e aborda a necessidade do permanente combate à nociva (e astuta) pseudociência. Começarei nossa conversa com algo básico, de modo a delinear questões conceituais. O que, a seu ver, é a divulgação científica? https://www.institutoquestaodeciencia.com.br/

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Há muita divergência entre os termos técnicos usados. Alguns preferem o termo “comunicação da ciência”, em que a “divulgação” entraria debaixo do guarda-chuva. Creio que, “preciocismos” à parte, o importante é ressaltar a existência de várias maneiras de divulgar – ou comunicar – a ciência. Existe a divulgação da beleza da ciência, em busca do encantamento. Existe a divulgação de trabalhos específicos, que visa mostrar o que se faz em determinado instituto ou universidade – e sua importância. Existe a educação científica, com o objetivo de aprimorar o ensino de ciências. E, finalmente, existe a defesa da ciência, do pensamento crítico e racional, que é o que eu faço. Os pesquisadores brasileiros estão acostumados a divulgar ciência? Temos tradição em tal prática? Não. Nunca precisaram e nunca foi de sua responsabilidade. Acho, contudo, que convém ressaltar que a cobertura de ciências pela imprensa, no Brasil, também


Arquivo pessoal

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Não é obrigando o pesquisador a gravar vídeos para obter fomento, ou dando bolsas de jornalismo científico – apenas para jornalistas, que fizeram um curso X ou Y –, ou, ainda, obrigando projetos temáticos a fazer uma ação de divulgação aleatória, e sem direção, que alguém incentivará o docente a divulgar seu trabalho. Além disso, desde quando essa obrigação é exclusiva do docente? O professor que se dedica a escrever um livro, um artigo para revista, ou mesmo a fazer um podcast, é penalizado pela instituição, e não premiado. Ele perde tempo, publica menos, e não ganha nenhum tipo de reconhecimento acadêmico.

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decaiu muito nos últimos anos. Divulgar ciência nunca foi algo tão popular como política ou esporte. Ainda em relação à questão anterior, destaco que instituições de fomento à pesquisa (CNPq, Capes, Faps etc.) buscaram, nos últimos anos, incentivar/premiar a prática da divulgação científica pelos próprios pesquisadores. Como avalia tais iniciativas institucionais? Em função desses incentivos, alterou-se, qualitativa ou quantitativamente, a prática da disseminação de informações de ciência, no Brasil, por parte dos próprios cientistas? As poucas iniciativas das agências de fomento são isso, mesmo: poucas e ineficientes. Não é obrigando o pesquisador a gravar vídeos para obter fomento, ou dando bolsas de jornalismo científico – apenas para jornalistas, que fizeram um curso X ou Y –, ou, ainda, obrigando projetos temáticos a fazer uma ação de divulgação aleatória, e sem direção, que alguém incentivará o docente a divulgar seu trabalho. Além disso, desde quando essa obrigação é exclusiva do docente? O professor que se dedica a escrever um livro, um artigo para revista, ou mesmo a fazer um podcast, é penalizado pela instituição, e não premiado. Ele perde tempo, publica menos, e não ganha nenhum tipo de reconhecimento acadêmico. Fazer divulgação não conta pontos em concurso, nem créditos para nossos pós-graduandos. De que adianta, então, as agências de fomento exigirem algo, se as instituições não criam o espaço e o acolhimento necessários? Fica sendo apenas mais uma exigência burocrática para obter o grant. Como enxerga a relação da população brasileira com a ciência? Poderia comparar tal “relação” com as expectativas dos cidadãos de outros países? Creio que a população brasileira seja completamente indiferente à ciência. Isso fica claro quando não existe envolvimento nos movimentos (vide as quatro fracassadas “Marchas pela Ciência”), ou quando a grande mídia enxuga, cada vez mais, seus

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espaços destinados à cobertura de ciência, e o público nem sente falta. Cita-se muito a pesquisa feita pelo Centro de Estudos e Gestão Estratégica, de 2015, segundo a qual o brasileiro se interessa e aprecia a ciência. Em geral, contudo, não é citado que a mesma pesquisa constatou que o brasileiro não sabe o que é ciência, quem a faz ou onde é feita. Em uma de suas palestras, acerca da “Síndrome de Cassandra” e outras problemáticas, a senhora comenta o “descompromisso” dos cientistas com questões aparentemente “irrelevantes, banais”, mas, que, em grande medida, servem à composição de perigosa narrativa acerca do universo científico. Em tempos de uso político de fake news, a situação tornou-se ainda mais complexa? De que modo a comunidade científica pode agir, no sentido de enfraquecer os nocivos efeitos da pseudociência? Pode parar de se calar e de fingir que não é conosco! Não acho que é obrigação do pesquisador fazer divulgação científica, mas acho que, certamente, é sua obrigação defender a ciência quando atacada. A pseudociência ameaça a credibilidade das práticas científicas e pode trazer consequências desastrosas à sociedade. Os movimentos antitransgênicos ou antivacinas, a negação das mudanças climáticas e a Medicina Alternativa se fantasiam de ciência – e usam a linguagem da ciência –, mas não são ciência. Cabe a nós, cientistas, apontar a diferença para o público. Não é favor, mas nossa obrigação. Quando não o fazemos, a ciência é ignorada na formulação de políticas públicas. E veja bem: não acho que os cientistas deixem de defender a ciência por indiferença, mas por falta de hábito e de canais adequados. Esse foi um dos motivos pelos quais criei o Instituto Questão de Ciência. No que diz respeito, justamente, à “Sindrome de Cassandra”, a senhora po-


deria explicá-la a nossos leitores? Os cientistas permanecem desacreditados pela sociedade? De que maneira mudar as bases de tal relacionamento? Isso só vai mudar quando quebrarmos esse círculo vicioso: “O cientista não fala porque ninguém ouve ou ninguém ouve porque o cientista nunca fala?” É preciso criar uma cultura de divulgação e de defesa da ciência. Mas, para isso, precisamos de incentivos institucionais. O ideal está longe do real para o cientista brasileiro, que precisa publicar, dar aulas, participar de comissões sem fim, escrever pedidos de grant, e, de vez em quando, lembrar que tem vida própria e família. Enquanto a comunicação da ciência não for reconhecida e valorizada como atividade-fim e independente, ela sempre será amadora. O professor Richard Dawkins ocupava a cadeira “Public Understanding of Science”, na Universidade de Oxford. A McGill University, em Montreal, mantém um “Office for Science Communication”. Não precisamos reinventar a roda. Basta copiar quem já fez e deu certo.

usa as redes sociais para divulgar. Existem diversos blogs e vídeos de ciência, mas o conteúdo não é exatamente gerado em redes sociais. São veículos que usam as redes para se promover, e, aí, existem vários exemplos de boa qualidade. Qual sua expectativa em relação ao futuro da ciência no Brasil? Precisamos de muito trabalho e engajamento. O Brasil já mostrou ser perfeitamente capaz de produzir ciência de alta qualidade. Sem fomento público e privado, contudo, não há “jeitinho brasileiro” que chegue. Para restaurar o fomento, precisamos restaurar a credibilidade da ciência. Precisamos de ações organizadas e de voz na política, para exigir que a ciência seja respeitada e reconhecida como atividade essencial ao desenvolvimento de um país.

A pseudociência ameaça a credibilidade das práticas científicas e pode trazer consequências desastrosas à sociedade. Os movimentos antitransgêni-

De modo específico, qual sua visão acerca da cobertura da ciência pela chamada “mídia tradicional” (jornais impressos, revistas, grandes portais etc.)? Está desaparecendo aos poucos, e, se pensarmos que a grande mídia tem fortes interesses comerciais, podemos inferir que, se o público quisesse cobertura de ciência, haveria cobertura de ciência. Ao mesmo tempo, temos vários desses espaços destinados à promoção de pseudociências, que são muito mais atraentes ao mercado. Isso é extremamente preocupante.

cos ou antivacinas, a negação

É possível realizar boa divulgação científica por meio das redes sociais? Poderia citar exemplos do Brasil e do mundo? Claro que sim! O problema são o tamanho da oferta e a falta de filtro. Existem, porém, ótimos veículos no YouTube. A própria McGill faz um trabalho muito bom, com vídeos de divulgação. Aqui no Brasil, temos o Nerdologia, e, mais recentemente, a revista Questão de Ciência, que é online e

para o público. Não é favor,

das mudanças climáticas e a Medicina Alternativa se fantasiam de ciência – e usam a linguagem da ciência –, mas não são ciência. Cabe a nós, cientistas, apontar a diferença

mas nossa obrigação. Quando não o fazemos, a ciência é ignorada na formulação de políticas públicas. MINAS FAZ CIÊNCIA • DEZ 2018/JAN/FEV 2019

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COMPUTAÇÃO

A ciência... de olho em você Mecanismos de vigilância inteligente auxiliam análise de imagens geradas por câmeras de segurança Luana Cruz

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Lembra-se de algum filme em que reconhecimento facial, verificação de íris e imagens de câmeras de segurança são fundamentais à resolução de crimes ou servem para grandes heróis salvarem a humanidade dos perigos? Aposto que sim, pois é comum o cinema retratar tais tecnologias em narrativas de ação e ficção científica. Essas histórias, porém, estão cada vez mais inseridas no mundo real... Muito além do que você pode imaginar! Grupo de pesquisadores do Laboratório Smart Sense, do Departamento de Ciências da Computação (DCC) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), estuda e desenvolve sistemas de “vigilância inteligente”, que ajudam a extrair informações relevantes de imagens geradas por câmeras de segurança. São cerca de 20 pessoas envolvidas em projetos de pesquisa com foco em três elementos: vigilância, biometria e computação forense. William Robson Schwartz, coordenador da iniciativa, explica que as pesquisas ajudam no trabalho de quem gerencia ou toma decisões a partir de sistemas de vigilância. Por exemplo: quando é necessário verificar imagens de segurança, para identificar pessoas ou entender dinâmicas de um crime, o que se faz é coletar cenas armazenadas e analisá-las. Na “vigilância inteligente”, as informações são processadas durante a captura, enquanto algoritmos filtram somente dados relevantes ao operador do sistema. Potencializa-se, assim, o “olhar” dessa pessoa, que não conseguiria acompanhar o tempo real de muitas câmeras, nem mesmo processar os dados manualmente. Nesses contextos, os cientistas desenvolvem soluções para problemas diversos, como “encontrar” pessoas nas cenas de vídeo – e rastrear, identificar e compreender atividades realizadas – ou entregar informações filtradas a quem precisa tomar decisões. Os pesquisadores usam vídeos disponibilizados por outros grupos de pesquisa, que coletam imagens em cenários reais, como shoppings. Recorrem, também, a dados de projetos, em parceira com empresas que demandam o trabalho da equipe Smart Sense, para resolver problemas específicos.

Ademais, criam seus próprios espaços de vigilância, como no caso do DCC. “Temos câmeras que focam na parte interna do Departamento. E a gente faz experimentos. Trabalhamos, por exemplo, o conceito de câmeras ativas, por meio das quais são desenvolvidos algoritmos capazes de rastrear pessoas no cenário. A pessoa nem percebe que a câmera está seguindo. Em cenário real, poderíamos usar esses mesmos algoritmos”, conta o professor. As demandas recebidas pelos pesquisadores referem-se a monitoramento e análise de vídeos. Imagine que o dono de uma loja queira saber em quais ambientes do estabelecimento circulam mais clientes. Com monitoramento visual, ele pode identificar áreas de produtos mais atrativos, mostruários mais chamativos ou, apenas, zonas de circulação. “O interesse não é controlar as pessoas, mas maximizar o lucro da empresa. O empresário pode pôr produtos onde as pessoas mais os veem”, explica o professor.

Big Brother real A famosa frase da jornalista Glória Lopes – “Se você não quer aparecer, não deixe que o fato aconteça” –, bastante conhecida dos mineiros, precisará de nova versão. Falo de algo como: “Se você não quer aparecer, não apareça”. Afinal, os sistemas de vigilância são, hoje, implacáveis na captura de atividades humanas. A ciência tem ajudado a torná-los ainda mais eficientes, ao criar algoritmos que reduzem imprecisões. Se é necessário identificar alguém na cena, o cuidado será total, para que não haja alarmes falsos, como confundir um poste com uma pessoa, e, assim, conferir maior credibilidade ao sistema. Operadores de sistemas de vigilância estão, quase sempre, em busca de eventos fora do comum, ou “eventos anômalos”, nas cenas cotidianas. Segundo William Schwartz, os agentes principais da “vigilância inteligente” são as pessoas, atores que mudam o cenário. “O primeiro passo é detectar a pessoa, mas a entrega final é se a atividade dela é corriqueira ou anômala. Há que se separar o que é suspeito e apontar MINAS FAZ CIÊNCIA • DEZ 2018/JAN/FEV 2019

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ao operador: atenção à pessoa que veste azul e aparece na câmera X”, exemplifica. Mas, afinal, como os sistemas computacionais transformam imagens em dados? O professor explica que a imagem capturada é uma matriz de números. Os algoritmos são responsáveis por transformar tais índices em representação, a ser identificada pelo computador. “Quase sempre focamos em apresentar, ao computador, similaridades como ‘Esta imagem é parecida com uma pessoa uma árvore?’ ou ‘Esta face é da pessoa A ou B?’”, comenta Schwartz. Ainda há espaço para pesquisas científicas sobre representação de imagens em vídeos, pois é um desafio trabalhar com tais informações: “Com uma foto, a informação é espacial, pois temos a largura e a altura do objeto. Nesse caso, há pixels para representação. Em vídeo, existem altura e largura ao longo do tempo, ou seja, os pixels e a questão temporal estão juntos numa relação não trivial”.

Para além das digitais A biometria envolve as formas de identificação de pessoas em ambientes monitorados. E vai muito além da digital dos dedos. A patela de seu joelho, assim como

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a forma como você anda, são informações biométricas. “Uma câmera de segurança consegue identificar a pessoa pela maneira como caminha”, afirma o professor. Se há um sistema de segurança no qual somente pessoas autorizadas podem entrar num ambiente, é possível usar biometria. Outro exemplo, conforme William Schwartz, refere-se à aplicação em ambientes de trabalho. A equipe Smart Sense está desenvolvendo um sistema para a Petrobras, por meio do qual será possível monitorar o uso de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) pelos funcionários. “Estamos criando algoritmos em sistema de vigilância para plataformas de petróleo. Não é para vigiar as pessoas, em termos de situações suspeitas, mas monitorar o uso de EPIs. Se o colaborador entra em uma oficina sem luvas, protetor auricular ou capacete, será monitorado e identificado”, diz. Nesse caso, os dados das câmeras vão a um servidor. Um algoritmo é executado e gera informações para o supervisor da oficina, que, em tempo real, saberá se acontece desvio nas normas de segurança. O desafio da biometria em sistemas de vigilância é que, ali, as pessoas, quase nunca estão disponíveis a ceder suas infor-

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mações. “Na vigilância, a gente assume que a pessoa faz o que faz, sem interferências, e tenta extrair a informação”, afirma o professor. Segundo ele, é diferente de alguém ceder o DNA para um teste de identificação. Em ambiente monitorado, não há colaboração da pessoa que precisa ser reconhecida. Quando você vai ao banco, insere o cartão em uma máquina ou informa o número da conta, o uso da biometria, por meio da digital, vai apenas verificar sua identidade. “Você já falou quem é você. O sistema já sabe que só existe uma pessoa com aqueles dados. Por isso, ele apenas confirma sua digital. Seria totalmente diferente se a pessoa pusesse a digital sem dar outra informação. O sistema teria que buscar, na base de milhões de clientes, quem é o dono daquela digital. Identificar um para um é mais fácil. Quando se trata de um para muitos, fica mais complicado”, esclarece Schwartz. O reconhecimento de faces também é biometria. O desafio está na mudança que um rosto pode ter ao longo do tempo, com marcas, cicatrizes ou barba. “Quando há uma lista de pessoas a monitorar, ou seja, um banco de dados com conhecidos, todas as outras que aparecem na imagem serão descartadas. Se aplicarmos isso num aeroporto, isso será feito em duas etapas: verifica-se se a pessoa está na lista e, se estiver, busca-se saber quem é. Isso se watch list”, ensina o professor. Caso não exista lista de pessoas, o sistema fará buscas em “galeria aberta”, o que é bem mais complexo.

Manualmente, verificaremos os dados armazenados pelas câmeras. A vigilância inteligente faz o processamento automático dos dados”, explica o professor. Também é possível realizar o reconhecimento de placas em tempo real. “Imagine que um carro passa em alta velocidade, é detectado por uma câmera de vigilância e acontece um crime ali perto. Conseguimos criar métodos para ver a placa, por mais que os olhos humanos não consigam distinguir. Trabalhamos com placas difíceis de reconhecer, ao usar o método chamado deep learning. O sistema identifica nuances nas letras da placa, que o homem não consegue ver”, comenta Schwartz. Dessa forma, a computação pode ajudar em investigações policiais. E até onde vai o papel da Computação? Segundo o professor, o objetivo é sempre extrair, processar e entregar a informação visual aos responsáveis: “Não se trata de substituir os operadores do sistema de vigilância, mas de auxiliá-los. A ideia não é automatizar tudo e pôr um robozinho capaz de tomar decisões”.

Crimes X Tecnologia A extração de conhecimento em imagens de câmeras de segurança pode ser grande aliada na resolução de crimes. Tal técnica pode ajudar no reconhecimento de placas de carros, ou na identificação de pessoas suspeitas. Se alguém entra em um prédio com sistema de vigilância instalado, é possível rastrear, descobrir ações suspeitas, mostrar com quem conversou e apontar todas as atividades realizadas. “Se aconteceu um crime e quero encontrar evidências, é possível, pelas imagens, olhar o que se passou.

PARTICIPAÇÃO FAPEMIG PROJETO: VER - Metodologias Robustas e Eficientes para Vigilância COORDENADOR: William Robson Schwartz INSTITUIÇÃO: Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG CHAMADA: Programa Pesquisador Mineiro – PPM VALOR: R$ 50.400,00

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ALIMENTAÇÃO

Lorena Tárcia

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Suplementos alimentares amplamente consumidos no País, como ômega 3, vitaminas e whey protein (produtos de proteína do soro de leite) estão agora submetidos ao Marco Regulatório aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Segundo a legislação, “suplemento alimentar é o produto para ingestão oral, apresentado em formas farmacêuticas, destinado a suplementar a alimentação de indivíduos saudáveis com nutrientes, substâncias bioativas, enzimas ou probióticos, isolados ou combinados.” O Brasil é um dos países que mais crescem neste segmento. Segundo dados da Associação Brasileira de Empresas de Produtos Nutricionais (Abenutri), em 2017, só o setor de Sport Nutrition, uma das quatro divisões do mercado (que ainda inclui wellness, perda de peso e nutrição cosmética) faturou cerca de R$ 2,2 bilhões, crescendo 9% em relação ao ano anterior. A expectativa é ultrapassar esse índice em 2018, com crescimento de 15% e faturamento de R$ 2,5 bilhões. Stefani Faro, especialista em regulação, da Gerência Geral de Alimentos da Anvisa, esclarece tratar-se de longo processo, iniciado há oito anos, a partir de proposta da Associação Brasileira da Indústria de Alimentos para fins Especiais e Congêneres (Abiad). Em 2011, a Agência iniciou discussões internas e externas, até culminar em um documento-base. “A partir de sua apresentação, em junho de 2017, foram realizadas diversas reuniões para debater aspectos técnicos. Além disso, houve abertura para participação pública e manifestação social. Finalmente, o Marco foi publicado, em julho de 2018”. Até então, tais produtos eram classificados como alimento ou medicamento, no Brasil, sem diretrizes específicas. As novas regras obrigam os fabricantes a apresentar, no rótulo, a palavra “suplemento”. Nutrientes e substâncias usados deverão estar na lista autorizada pela Anvisa, com limites máximos e mínimos indicados para uso, considerando-se os grupos populacionais. Além de informar a composição, as regras estabelecem critérios para exposição nos

rótulos das “alegações funcionais” do produto, como “fortalecimento ósseo” ou “ação antioxidante”. Ainda segundo a regulamentação, os fabricantes deverão comprovar a eficácia e a segurança das substâncias presentes nos suplementos e terão prazo de cinco anos para se adequar à legislação e às listas que contemplam 383 ingredientes, fontes de nutrientes, substâncias bioativas ou enzimas, 249 aditivos alimentares e 70 coadjuvantes de tecnologia autorizados na composição dos suplementos. As novas regras buscam, segundo as informações da Agência, “diminuir os obstáculos para comercialização e inovação desse setor, além de melhorar o controle sanitário e a gestão de risco dos produtos”. Muitas vezes, segundo a Anvisa, o consumidor não é capaz de avaliar todas as características do suplemento e se ele é realmente necessário para sua nutrição. É justamente este ponto que a nutricionista Janaína Goston considera mais importante. “Os produtos deverão conter destinação clara para populações específicas, como gestantes, adultos, idosos. As pessoas, contudo, precisam estar cientes de que as indicações dos rótulos não são suficientes para que consumam suplementos de maneira aleatória. É necessária a orientação de médicos e nutricionistas, para não haver prejuízos à saúde”, comenta

Esclarecimentos e palestras Em dezembro de 2018, a Anvisa promoveu webinário destinado a empresários, sobre os requisitos sanitários dos suplementos alimentares. Na ocasião, Thalita Lima, gerente geral de alimentos da entidade, destacou as estratégias para auxiliar na implementação do novo marco normativo. Além de transmissões ao vivo para setores específicos, foram treinados servidores responsáveis pela fiscalização e pelo monitoramento dos produtos. Também está disponível online documento elaborado pelos técnicos do órgão, com perguntas e respostas sobre as especificidades das resoluções.

Acesse as perguntas e respostas sobre suplementos alimentares no link http://bit.ly/duvidassuplementos.

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Dentre as dúvidas suscitadas por empresários e fabricantes do setor, estão aquelas relacionadas às quantidades de nutrientes, substâncias bioativas, enzimas e probióticos contidos nos suplementos. Um fabricante, por exemplo, declarou fabricar um produto, fonte de Tiamina, cuja composição, naturalmente, ultrapassava os valores máximos determinados pelo novo Marco Regulatório. Nesses casos, a Anvisa esclarece que o produto é irregular, pois não atende aos limites mínimos e máximos de uso estabelecidos nos anexos III e IV da Instrução Normativa n° 28, de 26 de julho de 2018. Fabricantes nesta situação devem realizar modificações na formulação ou na recomendação de uso do produto, a fim de garantir o cumprimento integral da legislação. Outras iniciativas para discussão da temática acontecem em todo o País. Na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), a Faculdade de Farmácia realizou palestra com o objetivo de compreender as mudanças, tendo em vista a inserção de parte do conteúdo da nova regulamentação em disciplinas do Departamento de Alimentos e com o interesse de criar disciplina sobre o tema. Setores interessados debatem diferentes pontos de vista relacionados, como a contribuição da nova regulamentação para novas oportunidades de pesquisa e o desenvolvimento, a rotulagem de produtos e os desafios futuros para o setor.

Saiba tudo sobre a nova legislação O novo marco legal para suplementos alimentares é formado por seis ementas. Resolução RDC 239/2018

Estabelece os aditivos alimentares e coadjuvantes de tecnologia autorizados para uso em suplementos alimentares.

Resolução RDC 240/2018

Revela categorias de alimentos e embalagens isentos e com obrigatoriedade de registro sanitário.

Resolução RDC 241/2018

Dispõe sobre os requisitos para comprovação da segurança e dos benefícios à saúde dos probióticos para uso em alimentos.

Resolução RDC 242/2018

Regulamenta o registro de vitaminas, minerais, aminoácidos e proteínas de uso oral, classificados como medicamentos específicos.

Resolução RDC 243/2018

Dispõe sobre os requisitos sanitários dos suplementos alimentares.

Instrução Normativa 28/2018

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Estabelece as listas de constituintes, de limites de uso, de alegações e de rotulagem complementar dos suplementos alimentares.

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ESPORTE

No calor da vitória! Laboratório da Universidade Federal de Viçosa (UFV) realiza pesquisas inéditas de termografia ligadas à prática esportiva

Tuany Alves

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Prática social realizada, em todo o mundo, por pessoas de diferentes idades e classes sociais, o esporte é capaz de promover bem-estar físico e emocional. Para além de corpos em movimento, afinal, tais atividades estimulam os sentimentos de amor e pertencimento. Nas últimas décadas, tais predicados do esporte têm se ampliado ainda mais, em função das novas tecnologias. Que o diga o uso da termografia, técnica que ganha espaço, inclusive, entre times de futebol da primeira divisão do Campeonato Brasileiro, a exemplo de Cruzeiro e Botafogo. A metodologia possibilita – dentre outras coisas – a preservação da integridade de atletas de alto rendimento. Segundo João Carlos Bouzas Marins, coordenador do Laboratório de Termografia da Universidade Federal de Viçosa (UFV), o corpo gera calor de dentro para fora, até chegar à pele, de onde é irradiado. Tal mecanismo permite o uso de câmera termográfica, para captar as ondas de calor emitidas e quantificar a temperatura por software. “O processamento da temperatura

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funciona por pixels. Ou seja, a cada 0,01 Cº, o pixel apresenta cor diferente: quanto mais azul, mais frio; quanto mais branco, mais quente”, explica. Bouzas conta, ainda, que a câmera termográfica varia de tamanho. Pode-se medir as temperaturas dos atletas, até mesmo, por meio de smartphones ou máquinas filmadoras. Aparelhos de boa qualidade variam de R$ 60 a R$ 300 mil. “No Laboratório, temos duas possibilidades. A primeira, e mais simples, compramos com recursos próprios. Já a segunda, uma câmera de melhor qualidade, foi adquirida com apoio da FAPEMIG”. A tecnologia é velha conhecida das atividades militares, da construção civil e da Medicina. Entretanto, seu uso no meio esportivo revela-se ainda recente, sendo o Laboratório de Termografia da UFV o primeiro centro de estudo, no Brasil, a investigar, em ambiente acadêmico, a técnica aliada ao exercício físico. “O Laboratório é um dos maiores centros de estudo sobre o assunto do mundo, junto ao Instituto Nacional de Educação Física da Universidade Politécnica de Madri, com quem mantemos parceria”, informa o pesquisador.


Na prática

A termografia tem, realmente, se revelado aliada do esporte. De acordo com Alex de Andrade Fernandes, pesquisador do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Minas Gerais (IF-MG) e egresso do Laboratório da UFV, os resultados práticos, observados e mensurados na equipe do Cruzeiro Esporte Clube, mostram-se bastante positivos. “Os números de lesões reduziram drasticamente. Quando entram em campo, os atletas estão com melhor condição de jogo. Ou seja, com percentual mais próximo de seu máximo, e podem se entregar mais à partida”, conta. A termografia foi implantada no time em 2013, como pesquisa-base, que acabou por se tornar aplicada. Durante as análises termográficas, levantam-se tanto dados quantitativos quanto qualitativos. Segundo o pesquisador, as informações permitem, ao profissional de Fisiologia do clube, observar – por meio da imagem – variações de temperatura da pele, e, assim, construir orientações específicas ao atleta. “Pode-se pensar numa dieta fitness, em afastá-lo de treinamentos, reduzir a carga de trabalho, ou, até mesmo, tirá-lo de uma partida, a fim de resguardá-lo de lesões que poderiam prejudicar o time em um ou dois meses”, explica Alex Fernandes.

Além da bola

A aplicação da termografia no esporte segue além de análises em atletas de alto rendimento. Aliado ao exercício, o uso da termorregulação é outra linha de pesquisa abordada na UFV. O artigo “Measuring skin temperature before, during and after exercise: a comparison of thermocouples and infrared thermography”, produzido em 2014, tornou-se referência mundial no assunto, sendo um dos mais citados e procurados no “Medline” – sigla, em inglês, para “Sistema Online de Busca e Análise de Literatura Médica” –, base de dados da Biblioteca Nacional de Medicina dos Estados Unidos. Segundo Alex Andrade, o objetivo do estudo foi comparar duas técnicas de mensuração de temperaturas: a termografia e o termovisor – técnica que consiste em aplicar pequenos sensores na pele, fixando-os com fita adesiva. Tais mecanismos são ligados a um datalógrafo, por

meio de cabo, por onde sai um apanhado das medições corporais. Realizou-se, então, uma confrontação, por meio de estudo randomizado, entre os dois métodos. “Procuramos fazer uma série com os exercícios habituais da maioria das pessoas, para vermos o comportamento de cada região corporal ao longo do tempo. Detalhe importante: fizemos testes em repouso de 30 minutos, durante 60 minutos de exercício, e, depois, após 60 minutos, para acompanhar o retorno da temperatura aos valores basais”, informa. Por meio do estudo, identificou-se que a temperatura da pele em repouso, medida com os termopares, apresenta valor maior do que o avaliado na termografia. “Com o início do exercício, os valores se invertem. Ou seja, aqueles obtidos pela termografia aumentam, ao contrário dos termopares, que reduzem um pouco mais”, explica o pesquisador. Outro ponto identificado pelo estudo, segundo Alex Andrade, diz respeito às diferenças naturais entre métodos. Como exemplo, ele destaca a necessidade de apertar o corpo para pôr o sensor, durante a técnica de termovisor, o que gera diferença nos dados. “Avaliamos, também, o comportamento posterior. Observamos que demora de 20 a 30 minutos para que os valores de repouso sejam alcançados, independentemente do método usado”, acrescenta. A pesquisa é inovadora, sendo a primeira – em publicação mundial – a apontar resultados sobre o assunto, por meio de metodologia de comparação. Para Alex Andrade, os dados poderão ajudar outros especialistas, como os fisiologistas, a trabalhar a termorregulação sob novas perspectivas. “Há, ainda, a aplicação prática do estudo. As camisas de futebol dos jogadores, ou as que compramos para fazer caminhada – das grandes marcas ou intermediárias – passam por testes antes de serem comercializadas. Os dados ajudarão os profissionais dos centros de desenvolvimento a formular seus produtos”, conclui. Além de Alex Andrade e João Bouzas, participaram, da construção do artigo, os pesquisadores Paulo Roberto dos Santos Amorim, Ciro José Brito, Anselmo Gomes de Moura, Danilo Gomes Moreira, Carlos Magno Amaral Costa e Manuel Sillero-Quintana.

PARTICIPAÇÃO DA FAPEMIG PROJETO: Termografia Corporal em Repouso de Homens e Mulheres COORDENADOR: João Carlos Bouzas Marins INSTITUIÇÃO: Universidade Federal de Viçosa (UFV) CHAMADA: Demanda Universal VALOR: R$ 39.322,50 PARTICIPAÇÃO DA FAPEMIG PROJETO: Cinética da Temperatura da Pele de Membros Inferiores em Atletas de Futebol COORDENADOR: João Carlos Bouzas Marins INSTITUIÇÃO: Universidade Federal de Viçosa (UFV) CHAMADA: Demanda Universal VALOR: R$ 29.872,50

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LITERATURA

Alice e a Matemática Oficina literária revela paradoxos no País das Maravilhas e mostra que a ciência dos números pode não ser tão exata como se pensa Alessandra Ribeiro

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Segunda-feira chuvosa. Oito e meia da manhã de 29 de outubro, day after das tumultuadas eleições presidenciais de 2018. Local: praça de alimentação de um shopping na Região Metropolitana de Belo Horizonte. Eis o cenário da oficina ministrada pelo matemático e escritor Jacques Fux – “Alice no País dos números, da lógica, das artes e das maravilhas” –, como parte da programação da “1ª Feira Literária de Betim (Flib)”. Numa cidade com escassa programação cultural – digo com a vivência de moradora, desde a infância –, o evento reuniu nomes como Conceição Evaristo, a escritora homenageada, e Zeca Baleiro, que participou de descontraída conversa sobre literatura com a jornalista Daniella Zupo. Cheguei ao local antes mesmo do palestrante. Embora já estivesse no horário marcado, eu ainda era a única da plateia. Sentei-me na primeira fileira e acompanhei, bem de perto, os ajustes para a apresentação. Ele pareceu preocupado em garantir que todos pudessem ver as telas instaladas à frente do pequeno palco. Por isso, perguntou sobre a nitidez a um homem grisalho, que estava ao fundo – mais tarde, descobri ser seu pai. Aos poucos, felizmente, chegaram outros participantes. A maioria? Educadores da rede de ensino municipal. Também havia um casal, aparentemente, com os dois filhos. Ao todo, enfim, éramos cerca de quinze pessoas. A apresentação começou com a constrangedora pergunta: “Quem aqui já leu Alice no País nas Maravilhas?"' Acho que ninguém levantou a mão. Nem eu mesma, confesso. Como os outros, conheço a história pelas adaptações ao cinema – para Fux, a versão mais fiel à obra é a animação da Disney, lançada em 1951, disponível no YouTube. Ele, por outro lado, não sabe dizer quantas vezes já leu e releu a obra. “Não me lembro da primeira vez que li. Como falei um pouco de Alice no meu doutorado, tive que estudar algumas vezes. Mas o livro me encantou desde muito cedo”, contou-me depois, por e-mail. Jacques Fux foi ganhador do Prêmio Capes de Teses 2011, concedido pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, na categoria “Letras e

Linguística”. Uma premiação inusitada, à primeira vista, para alguém que se formou em Matemática e fez mestrado em Ciência da Computação. O trabalho deu origem ao livro Literatura e Matemática: Jorge Luis Borges, Georges Perec e o Oulipo (Perspectiva, 2016). A estreia literária foi anterior, com Antiterapias (Scriptum, 2012), vencedor do Prêmio São Paulo de Literatura, no ano seguinte. Depois, vieram Meshugá: um romance sobre a loucura (José Olympio, 2016); Brochadas: confissões sexuais de um jovem escritor (Rocco, 2015) e Nobel (José Olympio, 2018). Como na Geometria, há uma interseção entre as trajetórias de Jacques Fux e Lewis Carroll: o autor de Alice no país das maravilhas (1865) também era matemático. Fux contextualizou os ouvintes: o escritor britânico inventou a história com a intenção de ensinar lógica para uma menina de 11 anos. Era Alice Liddel, personagem real que inspirou a protagonista, por quem Carroll supostamente nutria uma paixão inapropriada. A observação incômoda se mistura, em minha memória, à ruidosa chegada de crianças ao hall do centro de compras, para visitar a feira literária, fazendo o burburinho ecoar pelo ambiente. “Por que alguns livros permanecem e outros são completamente esquecidos?”, perguntou Jacques à plateia – ele precisou aumentar o tom da voz. Afinal, o que faz de Alice um clássico, com tradução para mais de 50 idiomas? “Uma grande obra só pode ser avaliada como tal após ter sobrevivido aos anseios de, pelo menos, três gerações de leitores”, continuou, ao citar Saul Bellow, ganhador do Nobel de Literatura em 1976. “O leitor e o tempo são os grandes críticos literários”, prosseguiu.

A invenção da Matemática

Jacques começou, então, a ler algumas passagens de Alice, que, como ele pontua em sua tese, “estão repletas de enigmas e problemas matemáticos”. “Alice é todo um jogo de referenciais” – assim como a Matemática e a Física –, destacou, ao longo da apresentação. Como na passagem em que a protagonista resolve comer um pedaço de bolo: “Comeu um pedaci-

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nho, e disse para si mesma, aflita, ‘Para cima ou para baixo? Para cima ou para baixo?’, com a mão sobre a cabeça para sentir em que direção estava indo, ficando muito surpresa ao verificar que continuava do mesmo tamanho: não há dúvida de que isso geralmente acontece quando se come bolo, mas Alice tinha se acostumado tanto a esperar só coisas esquisitas acontecerem que lhe parecia muito sem graça e maçante que a vida seguisse da maneira habitual”. Jacques mencionou, ainda, o enigma lógico proposto por Carroll no capítulo “Um chá maluco”, por meio da comparação entre os relógios de Alice e do Chapeleiro. “Afinal, qual dos relógios marca o tempo mais fielmente? Um que se atrasa um minuto por dia ou um que está sempre parado?”, questionou. “‘Que relógio engraçado!’, observou. ‘Marca o dia do mês, e não marca a hora!’. ‘Por que deveria?’, resmungou o Chapeleiro. ‘Por acaso o seu relógio marca o ano?’. ‘Claro que não’, Alice respondeu mais que depressa, ‘mas é porque continua sendo o mesmo ano por muito tempo seguido’. ‘O que é exatamente o caso do meu’, disse o Chapeleiro.” “Você pode ler com o olhar ingênuo de uma criança e se encantar, ou entrar na lógica, ‘pegar’ os enigmas e entender mais o livro. Outras leituras engrandecem a obra sob outros aspectos”, propõe o escritor-matemático. Ele lembra, contudo, que cabe ao leitor conduzir a leitura como bem entender. Em dado momento, a personagem recorre à Matemática para ter certeza de que era ela mesma, depois de esticar e diminuir diversas vezes: “Vou experimentar para ver se sei tudo que sabia antes.

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Deixe-me ver: quatro vezes cinco é doze, e quatro vezes seis é treze, e quatro vezes sete é… ai, ai! Deste jeito, nunca vou chegar a vinte!” Os resultados das operações não deixam dúvidas: no mundo das maravilhas, o sistema numérico é bem diferente do que conhecemos. O palestrante explica que Carroll tinha mesmo a intenção de subverter a lógica decimal – baseada no fato de que temos dez dedos! – e criar uma própria, que nunca chega à segunda dezena. Mais tarde, ao final da apresentação, o próprio Fux colocaria em xeque o lugar da Matemática como a “linguagem universal”: “A matemática é como um jogo, pois é inventada”, admitiu.

para leitores britânicos da época, entremeada por “críticas ferrenhas” à sociedade vitoriana e à estrutura educacional. “Muitas piadas só podiam ser entendidas por quem vivia em Oxford”, ponderou. O palestrante mencionou que muitos estudos tratam de questões psicanalíticas, como o sonho e a sexualidade, na obra do escritor britânico, para quem a morte do pai parece ter sido uma questão traumática. Ao analisar como as figuras masculinas aparecem na narrativa do autor, Fux compara: enquanto “os homens são meio bobos”, as figuras femininas são “poderosas”, até mesmo “desalmadas”, como as rainhas Vermelha e a de Copas, que ordena cortar a cabeça de Alice. “Talvez Carroll tivesse um complexo de Édipo invertido”, sugeriu.

O polêmico Carroll

Matemática e Literatura

Fux enumera diversas controvérsias a envolver o autor de Alice no País das Maravilhas e da continuação, Alice através do espelho. Lewis Carroll é, na verdade, o pseudônimo de Charles Lutwidge Dodgson, nascido a 27 de janeiro de 1832 e morto a 14 de janeiro de 1898, na Inglaterra. Além de matemático, era reverendo, mas raramente pregava. Cultivava hábitos incomuns, como decorar mais de 70 casas decimais do Pi (número infinito, correspondente à divisão do comprimento de uma circunferência pelo seu diâmetro). Ele gostava bastante de xadrez – o jogo aparece, inclusive, em sua narrativa literária, assim como o cróquete, passatempo da aristocracia inglesa na segunda metade do século XIX. Carroll também mantinha comportamentos questionáveis, como fotografar crianças nuas, com a suposta autorização das famílias – ele teria pedido que as imagens fossem incineradas após sua morte. Assinava cartas, como as endereçadas a Alice Liddel, despedindo-se de forma fracionada: deixava ¾ ou dois milionésimos de beijos. Muitas delas teriam sido queimadas pela mãe da menina. A inspiração para o livro inaugural, inicialmente intitulado As aventuras subterrâneas de Alice, teria sido um passeio de barco com Alice, e as duas irmãs dela, pelo rio Tâmisa, no dia 4 de julho de 1862. Como lembrou Fux, a história foi escrita

A relação entre Matemática e Literatura vem de longa data. O soneto, por exemplo, gênero poético de origem italiana, teria sido criado no século XIII, na Sicília. Sua estrutura é composta por quatorze versos: dois quartetos (estrofes de quatro versos) e dois tercetos (estrofes de três versos), que obedecem a uma mesma métrica: todos os versos devem apresentar o mesmo número de sílabas poéticas – normalmente, dez ou doze (no caso dos sonetos classificados como dodecassílabos ou alexandrinos). Em sua tese de doutorado, Jacques Fux discorre sobre o Oulipo, grupo francês, criado em 1960, que sugeria restrições de caráter matemático à escrita de textos literários. Um de seus expoentes é Georges Perec (1936-1982), autor de La disparition (1969), traduzido para o português como “O sumiço”, escrito do início ao fim sem usar a letra “e”; e de Palindrome (1973), livro composto de 5 mil palavras, que pode ser lido também de trás para frente, ou seja, como um palíndromo. “Um projeto matemático”, frisa Fux.

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ESPECIAL

Reinvenção (sustentável) da roda Aplicações, potenciais e limites da economia circular são debatidos entre pesquisadores, entes públicos e setores produtivos Alessandra Ribeiro e Luiza Lages

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Segundo o Relatório Brundtland, de 1987, é “o desenvolvimento que satisfaz as necessidades presentes, sem comprometer a capacidade das gerações futuras de suprir suas próprias necessidades”.

Em 1968, cientistas, economistas e políticos reuniram-se e publicaram, no Clube de Roma, o relatório “Os limites do crescimento”. Uma simulação computacional apresentava a evolução da população humana, associada à exploração da natureza, com projeções futuras. Foi o marco inicial da racionalidade que se preocupa com a finitude dos recursos naturais e os impactos do desenvolvimento. Em 1987, em outro relatório, a Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento formalizou o conceito de desenvolvimento sustentável. “A expressão surge nesse contexto, na tentativa de conciliar a reflexão sobre os limites de exploração do ambiente junto ao debate econômico da produção capitalista. A crítica ambiental vem dizer que os modos produtivos têm limites, e que as empresas são corresponsáveis por manter as condições necessárias para tal – responsabilidade antes atribuída ao Estado. O capitalismo esverdeia, de alguma forma, mas dentro de sua própria lógica”, explica Andréa Zhouri, professora e coordenadora do Grupo de Estudos em Temáticas Ambientais (Gesta), da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Para a pesquisadora, as ideias de sustentabilidade e manutenção das condições naturais de produção – e, também, do próprio lucro – vêm ancoradas a certo tipo de racionalidade científica e técnica. Em tal conjuntura, também se começa a pensar uma estrutura circular para os processos econômicos. Extração, manufatura, consumo e descarte são etapas a compôr o modelo econômico linear. “É uma linha reta. A economia circular fecha voltas nesse processo econômico antrópico, que, historicamente, tem sido linear, sem retorno. A ideia é copiar o que a natureza ensina a fazer, em que não existe perda”, diz Raphael Tobias de Vasconcelos Barros, professor do Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental da UFMG. A circularidade está no centro desse conceito estratégico. Em um ciclo econômico fechado, não há repetida extração de recursos naturais ou produção de resíduos: os bens são recuperados e reusados;

as matérias-primas, sempre que possível, provêm da reciclagem. Com fluxos circulares de reutilização, restauração e renovação, em um processo integrado, a economia circular emerge como modelo para promover a dissociação entre o crescimento econômico e o aumento no consumo de recursos. “Existem implicações políticas, organizacionais, administrativas e econômicas, mas do ponto de vista ecológico, econômico e moral. Isso tudo é extremamente oportuno. Trata-se de atitude de respeito a quem não tem o mesmo que nós, a nosso bolso e ao meio ambiente. Reprocessar, reciclar, reutilizar e reaproveitar: qualquer ‘R’ nesse sentido é oportuno”, afirma o professor. Mais que compatibilidade e desenvolvimento técnico, a economia circular inclui, de modo elementar, as perspectivas social e de consumo. “As questões tecnológica e econômica já não são determinantes. O problema está em nossas estruturas, no funcionamento das sociedades, que não entendem (ou não dão o devido valor a) canais que poderiam propiciar a economia circular”, diz Barros. O pesquisador lembra da obsolescência programada, em que produtos são concebidos com baixa resistência e durabilidade, para estimular o consumo. Dentro de um modelo circular, a tecnologia deveria trabalhar com vistas ao desenvolvimento de bens duráveis. “Isso, porém, pressuporia um nível de consciência dos consumidores, e a tendência é outra: queremos consumir logo. A cultura do descartável está impregnada em nossa sociedade, e é muito difícil reverter. Trata-se de algo possível, porém, com iniciativas para educação em longo prazo”, opina. No ver de Andréa Zhouri, evoluiu o debate sobre como produzir de forma eficiente. Afinal, para construir uma geladeira ou um carro, não se gastam tantos recursos naturais quanto antes. Além disso, individualmente, os produtos podem apresentar elevada eficiência energética. Por outro lado, a escala de produção e o consumo aumentaram. “Precisamos ter

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eficiência produtiva e ecológica, mas isso não é suficiente para falar em sustentabilidade. A eficiência, considerada a partir da unidade de produto, já existe. Estamos longe de alcançar, porém, suficiência de consumo. O modo de vida da sociedade consumista aumenta a demanda por esses produtos, o que gera cada vez mais lixo e desgaste da natureza”, diz.

Economia do futuro Quando começou o doutorado em Inovação Tecnológica e Biofarmacêutica, na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), no ano de 2017, Arthur Gabriel da Silva propôs-se a estudar a economia circular. Sob orientação do professor Rochel Montero Lago, do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia Midas (INCT-Midas), seu objeto de estudo, inicialmente, era o uso de rejeitos da mineração para o desenvolvimento de produtos com valor agregado. Ao se aprofundar no assunto, o doutorando deparou-se com uma contradição: a produção de resíduos é incompatível com os vários ciclos ligados ao conceito de economia circular – compartilhamento, conserto, recondicionamento e, por último, reciclagem –, tal como ele entende. “Quando há minério empilhado, é preciso pôr uma espécie de polímero, para que não haja muito pó no ar. Depois, contudo, o material não é reaproveitado. Apesar de usar um resíduo, criou-se algo que também virou passivo ambiental”, exemplifica. Para Silva, a solução é complexa, pois envolve, ainda, processos químicos, planta industrial, energia e espaço físico. “Ao transformarmos rejeito da mineração em tijolo, isto, por si só, é um resíduo. No momento em que levanta uma parede, a única solução para ela é ser derrubada e virar passivo ambiental”, aponta. O doutorando voltou seu trabalho, então, a alternativas que levem pesquisadores da Química a etapas de desenvolvimento anteriores à reciclagem. “Gostaria que parassem de pesquisar modos de tratar rejeitos, para pensar maneiras de não produzi-los”, defende, ao reconhecer que o processo não é simples, por envol-

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ver “quebra de paradigma” nos centros de pesquisa das empresas e das universidades. “O Brasil está numa fase de modismo com relação à economia circular. Já vi diversas chamadas de editais relacionados ao tema, mas que não passam de mero reuso de resíduos. Não fogem ao clichê do que, hoje, as pessoas chamam de sustentável. E não é disruptivo, não tem design de produto, nem se mostra inovador, como deveria ser”, critica. Silva explica que há três níveis de economia circular. O primeiro, individual, começa dentro do empreendimento. O segundo, por sua vez, envolve mais de uma empresa, ou até mesmo um parque industrial, e poderia ser ilustrado pela exigência de fornecedores de matérias-primas que sigam o princípio da circularidade. O terceiro nível é o macrogovernamental, em que o governo, aliado às empresas, implementa ou induz iniciativas de economia circular, por exemplo, via benefícios fiscais. No ver do especialista, o País ainda está longe disso. “O governo não sabe avaliar o que, realmente, é circular. Se usou rejeito da mineração, dirá que é. Se não jogou efluente da indústria farmacêutica num corpo d’água, também. Mas ambos os casos não representam economia circular”, afirma. Este último caso se confunde com a logística reversa, que, nesta perspectiva, é apenas um aspecto da economia circular. A adoção do conceito, em sua totalidade, passaria por ampla transformação cultural. “Está todo mundo com a cabeça na reciclagem. Ensinamos as crianças a pegar garrafas PET para fazer artesanato, que vai para o lixo. Precisamos ensiná-las a criar coisas que tenham utilidade depois”, argumenta. No entanto, Silva admite que certas iniciativas de compartilhamento, primeiro nível da economia circular, apontam para a progressiva “desmaterialização das coisas”. “O ecossistema de startups tem se ressignificado. Já pensou em nunca mais construir hotéis, porque você compartilha quartos? Ninguém mais compra CD, DVD, e usa streaming”, exemplifica. “É muito mais circular compartilhar um carro

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Caracterizada por ações que viabilizam a coleta e a restituição de resíduos sólidos ao setor empresarial, para reaproveitamento, em ciclos produtivos, ou outra destinação final adequada, do ponto de vista ambiental. A estruturação e a implementação de sistemas de logística reversa são obrigatórias para agrotóxicos; pilhas e baterias; pneus; óleos lubrificantes; lâmpadas fluorescentes, de luz mista ou de vapor de sódio e mercúrio; produtos e componentes eletrônicos; além de medicamentos vencidos ou em desuso.


do que reciclá-lo por inteiro. Se deixo de comprar um automóvel, a empresa deixa de produzi-lo, de consumir matéria-prima. Para o compartilhamento, só preciso de um aplicativo”, diz. Assim, os químicos poderiam pensar no desenvolvimento de materiais para produzir peças de carros mais duráveis, resistentes ao uso coletivo. O pesquisador tem dificuldades de citar projetos totalmente circulares, segundo o viés que apresenta. No INCT Midas, um exemplo bem-sucedido é a P4Tree, que extrai fósforo da urina humana coletada para produção de fertilizantes usados na agricultura. “Pego os alimentos da terra e devolvo os nutrientes a ela”, resume. A startup executou projeto-piloto no carnaval de Belo Horizonte, em 2018, com a distribuição de seis banheiros químicos em blocos carnavalescos da cidade. Quanto à viabilidade econômica da circularidade nas sociedades de consumo, o pesquisador reconhece que a ideia ainda não se difundiu no ambiente acadêmico,

responsável pela inovação, nem na seara corporativa. “Não há perda de tempo em ser sustentável, pois é um negócio. As empresas não pensam sobre isso ainda. Acho que será o futuro”, prevê.

Fluxos econômicos globais “É preciso colocar a economia circular em contexto. Existem conhecimento e técnicas ambientais baseadas na racionalidade de respeitar os ritmos da natureza, os princípios de restauração e de precaução. Mas, do ponto de vista da dinâmica de mercado, há problemas. O ritmo da oferta e da demanda esbarra no da recomposição da natureza”, reflete Andréa Zhouri. Segundo a professora, a partir do final dos anos 1990, houve uma guinada neodesenvolvimentista e neoextrativista entre os países latino-americanos, incluindo o Brasil. Uma demanda crescente por recursos naturais, principalmente da China, levou à reconfiguração da divisão internacional do trabalho, e países da América

Tríade de princípios Segundo a Ellen MacArthur Foundation, três conceitos garantem sustentação à economia circular. Confira!

Preservar e aumentar o capital natural:

a ideia é equilibrar os fluxos de recursos renováveis e controlar o uso dos estoques não renováveis. Para isso, incentiva-se a desmaterialização de produtos e serviços, com desenvolvimento de opções virtuais, sempre que possível. No caso da exploração de recursos, priorizam-se fontes renováveis e tecnologias de melhor desempenho, além de sistemas que condicionem a regeneração dos estoques.

Fomentar a eficácia do sistema:

perpassa a gestão e a redução de danos externos ao sistema produtivo, que afetem a cadeia de alimentos, a mobilidade, a habitação, a educação e a saúde; assim como o uso de recursos naturais e da terra, além da questão da poluição (sonora e visual).

Otimizar a produção de recursos:

é a perspectiva de planejar e projetar produtos, de modo que permaneçam circulando, inseridos na economia. Isso inclui o prolongamento da vida útil e possibilidades de reutilização de bens de consumo. Assim, o desenvolvimento de materiais já antecipa a remanufatura e a reciclagem

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do Sul cresceram como exportadores de matéria-prima. “Observamos novo ciclo de extrativismo em larga escala, atividade absolutamente devastadora e predatória”, afirma a pesquisadora. Hoje, a mineração e o agronegócio são as principais atividades econômicas nacionais, com necessidade de recursos e territórios. Para Zhouri, é contrassenso falar em desenvolvimento de processos de economia circular que coexista com economia neoextrativa, inserida em fluxos globais. “Não há regeneração possível das condições naturais quando você é extrativista. Falar em economia circular no campo da mineração não faz muito sentido, mesmo quando a Engenharia diz ser possível reaproveitar os rejeitos para outra atividade econômica. Não dá para mercantilizar tudo. Existem limites”, critica. Ela lembra da discussão sobre a possível toxicidade da lama proveniente do rompimento da barragem de Fundão, em Mariana (MG). “Mesmo na perspectiva da circularidade da economia, há gastos e uso de recursos naturais. Para reciclar, é preciso usar mais natureza, água e energia. A circularidade não é infinita, e tem limites. Retornamos à questão da finitude dos recursos”, diz.

Em prática Se a sustentabilidade não é apelo suficiente para a adesão das empresas – muitas alegam que os processos são onerosos e burocráticos, a abordagem econômico-ambiental parece despertar maior interesse. Em 2018, a Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg) lançou o Programa Economia Circular, com a implantação de projeto-piloto em Sete Lagoas, na região central do Estado. Um dos critérios para a escolha do município foi a existência de um distrito industrial, com empresas de atividades diversificadas. Por meio de termo de cooperação técnica, foram envolvidos a Associação Comercial e Industrial da cidade, responsável pela sensibilização das 53 empresas convidadas, e o Centro Universi-

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Etapas circulares A economia circular vai além da gestão de resíduos e da reciclagem, pois inclui o redesenho de processos, produtos e novos modelos de negócio, com foco na otimização de recursos. Cada etapa da produção deve apresentar circularidade, além de ser considerada no planejamento, de modo integral. O pesquisador Raphael Tobias Barros descreve exemplos:

Extração

Grande parte dos materiais extraídos estão associados a outros, que não têm aproveitamento comercial direto, e são considerados “resíduos”. Na extração do minério de ferro, é o caso das grandes represas de contenção. “O que sobra das minas fica depositado em barragens, sob condições precárias. Já na etapa de extração, é possível aproveitar esses materiais para outros fins comerciais, evitar o descarte e grandes impactos ambientais associados”, diz o pesquisador.

Manufatura

“Hoje, uma latinha de cerveja é muito mais leve do que já foi, mas são mantidas as mesmas propriedades. Gasta-se menos material para produzir os mesmos bens. Gasta-se, também, menos água, a partir de sistemas de recirculação, e o consumo de energia é otimizado”, afirma Barros. A etapa de transformação, ou manufatura, envolve o planejamento, a composição e o design dos produtos, de modo a facilitar o reuso e a reciclagem, com menos água e energia.

Consumo

A economia circular pressuporia um papel diferente dos consumidores. “Somos majoritariamente despreocupados com os efeitos do consumo. Se quisermos ser um pouco mais colaborativos, nossas atitudes teriam que levar em conta efeitos ambientais e possibilidades de reuso e reciclagem”, afirma o professor da UFMG. Para ele, seria o caso de optar por bebidas vendidas em latas de alumínio ou embalagens retornáveis, considerando logística e tecnologias que favorecem canais de reutilização.

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Descarte

“Temos hoje, nos aterros, nos lixões, quantidades enormes de resíduos jogados fora, como se não tivessem qualquer utilidade. Nesses locais, a matéria orgânica está sendo degradada, mas o vidro, os metais e outros materiais mais resistentes ficam inertes, e para trás”, explica Barros. Segundo o professor, ciclos para produtos poderiam se fechar a partir da reciclagem, com muita atenção a aspectos de logística. Para os aterros, sobra, ainda, a possibilidade futura de mineração dos recursos lá disponíveis, hoje vistos como resíduos.


tário de Sete Lagoas (Unifemm), que estimulou a participação de alunos em visitas técnicas e na elaboração de relatórios e trabalhos acadêmicos. A iniciativa também contou com apoio da FAPEMIG, por meio de bolsas de pesquisa. Dezenove empresas aderiram ao programa. Um dos resultados foi a construção, na região da Granja Barreirinho, de usina automatizada, para compostagem de resíduos orgânicos, antes enviados para outro município. “A iniciativa representará redução de custos com o transporte, além da diminuição da emissão de 359 toneladas de CO2 por ano. Isso equivale a 131 árvores que, juntas, as indústrias teriam de plantar para neutralizar as emissões”, afirma Guilherme da Mata Zanforlin, analista da gerência de meio ambiente da Fiemg. Outra medida adotada diz respeito ao uso, por uma siderúrgica, da água da estação de tratamento de esgoto (ETE) de empresa vizinha, para resfriamento de equipamentos e lavagem de gases. “A iniciativa economizará 50% da água captada de poço artesiano”, informa. Segundo ele, empresas que não participaram da primeira fase já manifestaram interesse de aderir ao programa em 2019. Após a experiência de Sete Lagoas, o Programa Economia Circular está em fase de implantação em 22 empresas de três distritos industriais de Uberaba, no Triângulo Mineiro, também com adesão das associações comerciais e industriais locais, além da participação da Universidade de Uberaba (Uniube) – especialmente, dos alunos do mestrado profissional em Engenharia Química. “A participação da instituição permitirá a aproximação da academia com as empresas, para melhorar a gestão dos resíduos”, afirma André Luís Teixeira Fernandes,

pró-reitor de pesquisa, pós-graduação e extensão. “A economia circular associa o crescimento econômico a um ciclo de desenvolvimento positivo contínuo, que preserva e aprimora o capital natural, otimiza a produção de recursos e minimiza riscos sistêmicos, com a administração de estoques finitos e fluxos renováveis”, define. Na avaliação do pró-reitor, a gestão da sustentabilidade ganha espaço na agenda estratégica das empresas no Brasil. “É necessário que elas planejem seu futuro, de modo a superar os momentos de crise, e que possam contribuir com a saúde econômica e o desenvolvimento da região, e, por conseguinte, do País”, analisa. Fernandes aponta que a demanda por bens de consumo pressiona as reservas de recursos naturais e torna muito difícil que toda a população mundial tenha o padrão de vida dos países mais desenvolvidos. Por isso, ele defende a necessidade de desenvolver formas inovadoras de produção e consumo, que permitam a inclusão de populações menos favorecidas no mercado formal e atendam à demanda por melhores condições de vida. De acordo com o fluxo estabelecido pela Política Nacional de Resíduos Sólidos, os consumidores devem devolver produtos ou embalagens aos comerciantes ou distribuidores, que, por sua vez, irão encaminhá-los aos fabricantes ou importadores, responsáveis pela destinação final. Em Minas Gerais, deliberação do Conselho Estadual de Política Ambiental (Copam) estabelece que os sistemas de logística reversa sejam independentes dos serviços públicos de limpeza urbana e de manejo dos resíduos sólidos. Um dos desafios está em ampliar e fortalecer o parque industrial da reciclagem.

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FILOSOFIA

Do papiro às telas, o “devir” Filósofo da UFMG conclui tradução inédita de oito volumes da Física de Aristóteles, que se transformarão em livro e serão disponibilizados online

Luana Cruz

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Criou o particípio presente do verbo eínai (ser, em português), que é a expressão grega ón, correspondente ao termo latino ens, traduzido por ente, na língua portuguesa. Assim, Moerbeke ajudou a trazer, aos escritos aristotélicos, a distinção entre Ser e Ente, que, para a maioria dos filósofos, sempre foi de extrema dificuldade, mas de grande importância.

Traduções de manuscritos da Antiguidade ajudam a elucidar questões sobre a existência e o funcionamento do mundo, de modo a dar origem a conceitos fundadores da ciência moderna. A produção de Aristóteles é um exemplo de tal processo. E, apesar de secular, não foi inteiramente traduzida, do grego, a outras línguas. “Trata-se de obra imensa e complexa”, afirma o filósofo e professor Fernando Eduardo de Barros Rey Puente, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). O pesquisador encarou o desafio da tradução, ao português, de oito volumes dos escritos aristotélicos sobre Física, a serem reunidos em livro inédito, além de, posteriormente, disponibilizados na internet. A tradução durou cerca de oito anos e foi concluída em fevereiro de 2018. Segundo Fernando Puente, o trabalho se revelou “penoso”, mas lhe rendeu bastante orgulho. “Foram muitos anos! Isso não quer dizer, porém, que todo dia eu traduzia algo. Não parei minha vida. Tinha atividades acadêmicas e nunca deixei de produzir trabalhos sobre outros autores”, conta. Segundo o pesquisador, há opções metodológicas para traduzir do grego antigo ao português. De um lado, está a possibilidade de ser mais literal, ao criar sintaxe e linguagem um tanto quanto artificiais, mas sendo fiel ao texto original. Outro caminho é abrir mão da precisão absoluta e fazer concessões, sem deixar de estar próximo às ideias do autor. “É possível trabalhar com termos já consagrados na história das traduções ou inovar. Fiz um grande laboratório ao longo desses anos, experienciando o processo tradutório”, afirma. Um dos grandes tradutores de Aristóteles, na Idade Média, foi Guilherme Moerbeke, que levou a obra do pensador ao latim, com muita proximidade às palavras originais. Já no Renascimento, muitos consideraram o trabalho de Moerbeke como “latim bárbaro” e apresentaram outras soluções. “No início, tentei fazer algo

Conceito filosófico que resume as mudanças pelas quais passam as coisas. Tem relação com a ideia de “tornar-se”, ou de que nada é permanente. muito literal, mas vi que soava artificial. Fiz concessões e segui a ideia dos renascentistas, ao tentar estar mais próximo do uso de nossa linguagem. Por fim, tentei ser fiel à sintaxe e aos termos, mas resguardando nosso idioma”, explica Fernando Puente. Certos vocábulos dificultaram os arranjos tradutórios. Exemplo importante diz respeito à própria palavra fýsis, pois a terminação sis, em grego, refere-se a processo. De acordo com Fernando Puente, na língua portuguesa, quando se fala do amadurecimento de organismos biológicos, geralmente, usamos a ideia de maturação. No entanto, esse não seria um termo adequado à tradução proposta. “Optei por usar ‘naturação’, pois, se falo de natureza, nosso ouvido entende que é algo distinto de ‘sujeito’. As categorias de sujeito e objeto, tais como a gente compreende na Modernidade, não existiam no mundo grego. Quando Aristóteles fala de fýsis se refere a naturação, algo em processo, em devir”. Os oito volumes que darão origem ao livro Física abrem problemas científicos e questões filosóficas. Por isso, opções de tradução, que funcionam no contexto de um volume, podem não servir para outro. “Gastei bastante tempo ao checar palavra por palavra. Fiz isso com todos os termos e conceitos mais importantes em Aristóteles, processo útil para pensar as questões filosóficas”.

Ideias centrais

Aristóteles é um dos pensadores com maior influência na Filosofia ocidental. Sua obra tem edição crítica publicada pelo filósofo inglês William David Ross, em 1936, texto de referência para Fernando Puente, durante a tradução de Física.

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À época em que o pensador grego fez os manuscritos, não havia a atual concepção de livro, pois as anotações de aulas eram escritas em papiros. Mais tarde, a produção foi agrupada pelo aristotélico Andrônico de Rodes. Portanto, ao falarmos dos oito volumes de textos, referimo-nos a rolos de papiro classificados e nomeados como “Leitura sobre Filosofia Natural”. O volume I é o mais independente dos demais, e tenta responder à pergunta: “É possível ter uma ciência (epistími, em grego) do devir?” Para os gregos, somente a Filosofia é epistími, logo, uma ideia de ciência diferente da atual. “Naquele momento, a Filosofia é a ciência”, explica o pesquisador da UFMG. No texto, Aristó-

Planta natural do Egito, usada para escrever. Os rolos eram compostos por várias folhas superpostas de papiro, cruzadas na direção das fibras, para dar mais consistência. Este era o suporte dos escritos antes da invenção do formato códex, que, mais tarde, deu origem à materialidade do livro. teles discute o devir natural de animais e plantas e o devir de produções humanas (objetos técnicos ou artísticos). No volume II, o filósofo deixa de lado a questão das produções e se dedica

Bastidores Descoberta do projeto de tradução da obra de Aristóteles deu-se ao acaso A história da tradução de Física começa com várias coincidências. Fernando Puente comprou um livro de introdução à Filosofia, em Belo Horizonte, e viu que era parte de um projeto de pesquisadores de Portugal, que estavam traduzindo a obra completa de Aristóteles. Interessado, ele questionou por que não havia filósofos brasileiros envolvidos na tradução, já que vários cientistas estudam o autor e têm grande conhecimento do corpus aristotelicum. Pouco depois, soube que o organizador das traduções, Antônio Pedro Mesquita, viria a São João del-Rei (MG) para um evento. Puente pensou, então, que seria a oportunidade perfeita para fazer contato com o português, e o convidou a apresentar, na UFMG, o projeto de tradução. À época, aproveitou para comentar que achava estranha a ausência de brasileiros no grupo. Todos os livros de Aristóteles já estavam encomendados para tradutores em Portugal, mas um deles acabou tendo problemas em dois volumes: Meteorológicas e Física. Por isso, Antônio Pedro decidiu convidar o colega da UFMG a fazer a substituição. “Confesso que fiquei muito em dúvida, pois é uma obra difícil, e achei que não daria conta. Ao mesmo tempo, pensei que dispensar a oportunidade seria uma perda. Relutei, pedi um tempo e acabei aceitando”, conta. A tradução de Física passará por revisão técnica e adequação ao idioma de Portugal, para, enfim, ser publicada pela lusitana Companhia Nacional Casa da Moeda. O professor da UFMG tem expectativa de que alguma editora brasileira se interesse em publicar o livro por aqui, e destaca a importância da versão online, que poderá ser acessada por estudantes e interessados.

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a compreender a ideia de naturação. Para tal, levanta sentidos de causa, investiga e define o ente natural. Já os livros III e IV formam um conjunto, pois, neles, Aristóteles conceitua e pontua as condições necessárias para pensar em “movimento”: lugar, tempo e ausência de vazio. No quinto volume, inaugura-se a distinção terminológica entre “movimento e mudança”. Sabe-se, então, que só haverá movimento segundo algumas categorias, quais sejam: quantidade, qualidade e lugar. Por fim, os volumes VI, VII e VIII ocupam-se de esmiuçar a questão do movimento – e, em especial, o circular. Conforme Fernando Puente, a Física de Aristóteles é muito diferente da que estudamos hoje, mas está na origem de uma série de pesquisas que, ao longo dos séculos, resultarão na categoria que conhecemos. Depois da Idade Média, ocorreram muitos ataques aos pensadores gregos, a começar pelo embate geocentrismo versus heliocentrismo. “A história da ciência conta com sucessivas críticas a Aristóteles, na Física e em outras áreas. Do ponto de vista científico, consideram-se muitas ideias superadas, mas o sentido filosófico – da ciência mais pura – não é superado. A obra dele ainda é uma mina fértil”, explica. Fernando Puente estuda o filósofo desde o doutorado, entre 1994 e 1998, quando investigou a questão do tempo em Aristóteles. A tradução de Física, porém, mudou a relação com o autor. “Fui obrigado a estudar uma série de ideias de como vemos a Física na atualidade. Aprendi que Aristóteles é muito dúctil e maleável. Não há como esgotar o texto dele. Espero que mais pessoas traduzam a Física e proponham outras soluções”. PARTICIPAÇÃO DA FAPEMIG PROJETO: A física de Aristóteles: livros VII e VIII COORDENADOR: Fernando Eduardo de Barros Rey Puente INSTITUIÇÃO: Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) CHAMADA: Programa Pesquisador Mineiro VALOR: R$ 48.000,00


BIOENGENHARIA

Ossos titânicos Pesquisa busca aprimorar processos de fabricação das próteses de titânio e reproduz, em laboratório, corrosão do material no organismo Alessandra Ribeiro

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Quarto metal estrutural mais abundante na terra, o titânio adquire propriedades anticorrosivas e grande resistência mecânica, comparável à do aço, quando combinado ao alumínio e ao nióbio. Versátil, a liga pode ser usada na fabricação de turbinas para aviões supersônicos e, também, em implantes dentários e outras próteses humanas. Nas últimas décadas, o material tem sido amplamente empregado na substituição de ossos do quadril e do joelho, em casos cirúrgicos de osteoartrose – também conhecida como artrose, a degradação do tecido elástico que recobre as extremidades ósseas e amortece os impactos. Em 2015, pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) realizaram, com sucesso, a reconstituição do crânio de uma paciente a partir do pó de titânio, procedimento inédito no Brasil. As próteses não são meras réplicas do osso na aparência física, mas, também, nas propriedades biológicas e mecânicas, explica Lincoln Cardoso Brandão, doutor em Engenharia Mecânica e coordenador do Centro de Inovação em Manufatura Sustentável (Cims) da Universidade Federal de São João Del Rei (UFSJ). “A busca para conseguir material biocompatível, apto a atuar como prótese, sempre foi um grande desafio. O desenvolvimento de ossos artificiais, por exemplo, exige o uso de materiais metálicos, ou não, que apresentem as condições de resistência do tecido ósseo natural”, diz. Brandão pesquisa processos empregados na fabricação das próteses e dos implantes dentários tradicionais, tais como torneamento, fresamento e rosqueamento. O torneamento é um dos processos de fabricação mais usados em diversos segmentos industriais: a peça a ser fabricada se movimenta em torno do eixo fixo de uma máquina e, simultaneamente, em torno de seu próprio eixo, enquanto uma ou mais ferramentas cortantes auxiliam a produção. O fresamento, por sua vez, consiste na retirada do excesso de metal da superfície de uma peça, com a finalidade de obter a forma e o acabamento deseja-

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dos. Já o rosqueamento, resumidamente, é o processo de produção de roscas. As ligas de titânio são difíceis de ser usinadas, ou seja, trabalhadas nas máquinas para ganhar forma. A razão é que tendem a reagir quimicamente com o material das ferramentas de corte, e provocam, com isso, rápido desgaste do maquinário. Além disso, o metal não é bom condutor térmico, o que aumenta o fluxo de calor na ferramenta durante a usinagem. Assim, o aprimoramento dos processos de produção das próteses viabiliza a fabricação de peças com maior qualidade e menores custos de produção. A pesquisa também abrangeu a reprodução, em laboratório, da reação da superfície das próteses a fluidos corporais sintéticos. “As várias formas das ligas de titânio usinadas são imersas em fluidos corporais artificiais, com o mesmo pH e a mesma temperatura interna do corpo humano. Dessa forma, é possível simular o efeito de corrosão”, detalha o pesquisador.

Durante a imersão, observa-se a criação de finas películas protetoras na superfície da liga metálica, sob o estímulo de corrente elétrica. O processo, denominado passivação na cinética eletroquímica, permite calcular a durabilidade da liga com base na medição da rugosidade apresentada. O estudo é focado em determinadas regiões das próteses e implantes inseridos no osso e que necessitam de maior atenção no processo de osseointegração.

História Os implantes dentários que hoje conhecemos surgiram na década de 1960, como resultado das pesquisas do cientista sueco Per-Ingvar Branemark. Em 1952, ele inseriu câmeras revestidas de titânio em ossos de coelhos, para estudar como a circulação sanguínea interfere na cura óssea.

Adaptação da prótese ao organismo.

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Ao final do experimento, na tentativa de remover as câmeras, o pesquisador percebeu, acidentalmente, que o titânio havia se fundido com os ossos dos animais e não podia ser removido. Foi Branemark quem batizou o processo de osseointegração. Após fazer novos testes com voluntários humanos, para verificar a segurança do material, ele concluiu que o titânio poderia ser integrado a tecidos biológicos e propôs seu uso nos pinos de fixação das próteses dentárias. Além de não provocar rejeição do organismo, o implante de titânio possibilita a recuperação da função da mastigação, de forma semelhante ao próprio dente.

Viver com a prótese Em abril de 2018, a enfermeira Rosilaine Martins Pires, 55, foi operada para implantação de prótese de titânio ao lado esquerdo do quadril. A articulação havia sofrido desgaste – resultado de anos de corrida. Os problemas começaram em 2014, quando ela começou a mancar. Não sentia dor, mas tinha dificuldades para fazer coisas simples, como subir uma escada ou amarrar o tênis – habilidades que já recuperou, menos de um ano depois da cirurgia. “Minha mobilidade ficou muito melhor. No shopping, consigo andar sem me cansar. Agora, no centro da cidade é mais difícil, por conta das barreiras físicas e do calçamento, que fazem muitas pessoas terem problemas para caminhar”, compara. Rosilaine conta que o pós-operatório foi tranquilo: um dia após a cirurgia, conseguiu se levantar. No primeiro mês, precisava do auxílio de um andador para se movimentar dentro de casa e tinha dificuldades para se sentar. Na etapa seguinte, passou a usar duas muletas canadenses, que têm uma espécie de alça, que se encaixa ao antebraço do usuário; depois, apenas uma. “Em três meses, já estava sem as muletas”, lembra. Ainda em processo de reabilitação, ela faz pilates e hidroginástica, além de caminhar na piscina, para recuperar a força muscular.

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PARTICIPAÇÃO DA FAPEMIG PROJETO: Estudo dos processos de usinagem em diferentes ligas de Titânio aplicadas nas indústrias de biomateriais e aeronáutica COORDENADOR: Lincoln Cardoso Brandão INSTITUIÇÃO: Universidade Federal de São João del Rei (UFSJ) CHAMADA: Universal VALOR: R$ 34.786,50


Pesquisadores mineiros criam grupo para investigação de causas genéticas da epilepsia e busca de novas formas de tratamento à doença Mariana Alencar

Perspectiva em rede

GENÉTICA

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A epilepsia é uma alteração temporária do funcionamento do cérebro. Durante segundos ou minutos, parte dos neurônios passa a emitir sinais incorretos – que, por sua vez, podem “ficar restritos”, de modo a gerar crises parciais, ou se espalhar, o que provocaria problemas generalizados. Por isso, os sintomas da enfermidade variam entre pacientes: alguns apresentam efeitos evidentes, enquanto, em outros, os indícios da doença são praticamente imperceptíveis. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), cerca de 50 milhões de pessoas apresentam a patologia no Planeta. Apesar de a enfermidade não ser rara, sua causa ainda é desconhecida pelas comunidades médico e científica. Estima-se, entretanto, que possa ter origem em ferimentos ocasionados no parto, por abuso de drogas, em decorrência de tumores ou outras questões neurológicas. Devido a isso, pesquisadores têm buscado encontrar a causa genética da epilepsia. A investigação permite o surgimento de novos tratamentos, além de possibilitar que o indivíduo preveja sua chance de desenvolver a doença. Em tal contexto, pesquisadores do Instituto de Ensino e Pesquisa da Santa Casa de Belo Horizonte desenvolveram o projeto “Implantação de uma rede municipal de investigação etiológica para deficiência mental e epilepsia através de técnicas citogenômicas”. Coordenado por Fernanda Maria Sarquis Jehee, a iniciativa pretendia implantar, em Minas Gerais, uma rede municipal de investigação genética para pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS), portadores de deficiência cognitiva e/ou epilepsia, associadas a malformações congênitas e dismorfismos. O objetivo principal era oferecer diagnóstico genético altamente especializado para esse grupo de pacientes. As informações obtidas a partir dos resultados dos testes são imprescindíveis à definição de quadro clínico, ao encaminhamento terapêutico e ao aconselhamento genético familiar.Os exames, porém, não estavam disponíveis, em Minas Gerais, para pa-

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cientes do SUS. Dessa forma, sem a possibilidade de realização dos exames em outros estados, por meio de projetos colaborativos, os indivíduos permaneciam sem diagnóstico definido, o que dificultava o tratamento clínico e gerava a obrigação de diversos testes adicionais. A rede de investigação possibilitou a realização destes testes genéticos para detecção de alterações cromossômicas submicroscópicas e a definição diagnóstica de diversos pacientes.

Obstáculos e soluções Segundo Fernanda Jehee, o projeto surgiu de uma necessidade. À época, não havia diagnóstico genético molecular na rede pública de Belo Horizonte e redondezas. Ela explica que os pacientes carentes têm pouco acesso a exames diagnósticos para suas condições genéticas. A ideia principal, portanto, era centralizar os exames no laboratório na Santa Casa de BH e receber amostras de vários hospitais do Estado. “Não é preciso que vários locais ofereçam exames caros e especializados, neste caso a centralização do serviço é mais eficiente. Podemos, também, prestar assessoria aos médicos, em relação aos resultados. Queria implementar um teste que pudesse ter maior abrangência, em termos de número de pacientes atendidos. Em 2011, em estudo publicado, mostrei que a abordagem estratégica que usei tinha melhor custo-benefício,

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se comparada à estratégia diagnóstica proposta por países desenvolvidos, como Estados Unidos, Canadá e nações europeias”, relembra. A concepção do projeto foi impulsionada por duas portarias do Governo Federal, que abrem as portas ao diagnóstico genético no SUS. A primeira delas, de 2009, institui, no âmbito do Sistema, a “Política Nacional de Atenção Integral em Genética Clínica”. Já a segunda, de 2014, estabelece a “Política Nacional de Atenção Integral às Pessoas com Doenças Raras”, além de instituir incentivos financeiros de custeio. A pesquisa foi, então, dividida em três etapas: coleta de material e informações clínicas, efetuação do teste genético e reportagem dos resultados ao médico solicitante, ou diretamente ao paciente. “Dos 207 pacientes estudados, encontrou-se, com a nova estratégia proposta, alteração genética causativa em 15% deles. Isso se aproxima da expectativa prévia de taxa de detecção de alterações nesse grupo de pacientes, que, com base na literatura da época, era de 16-21%”, comenta a pesquisadora. Os testes também mostraram que, no grupo de indivíduos referidos por médicos geneticistas e no de pacientes internados em hospitais, a taxa de detecção com a metodologia aplicada foi maior (18% e 19% respectivamente) do que no grupo de pacientes referidos por neurologistas (7%). Ou seja, em caso de limitação de orçamento, pode-se selecionar os grupos clínicos para os quais o teste teria maior impacto. A expectativa, agora, é que este tipo de teste genético seja realmente aplicado no SUS de Minas Gerais, como o primeiro exame genético em pacientes com malformações congênitas associadas a atraso de desenvolvimento e/ou a deficiência intelectual e/ou epilepsia.

Estudos específicos Em relação ao tratamento da epilepsia, é comum o uso de medicamentos para bloquear as crises, eliminando a atividade anormal do cérebro. Entretanto, há pacientes, em estágios mais avançados da doen-

ça, que necessitam de medicamentos por toda a vida, o que pode impactar em sua qualidade de vida. Com o intuito de encontrar novas perspectivas ao controle da epilepsia, pesquisadores da Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ) desenvolveram estudo que apresentou novas estratégias para tratamento específico dos portadores de epilepsia de lobo temporal. A pesquisa, intitulada “Efeito do bloqueio dos cotransportadores NKCC1 e KCC2 nas atividades epileptiformes não sinápticos”, foi desenvolvida no Laboratório de Neurociência, no campus Dom Bosco, como parte da tese de doutorado de Samyra Giarola Cecílio, que, durante o estudo, investigou a atuação de um diurético inibidor de crises. “Investigamos a ação da furosemida no modelo de epilepsia de zero cálcio e alto potássio. Esse diurético é conhecido por inibir vários modelos de crises, tanto in vitro como in vivo. Em nossos experimentos, ele também bloqueou as crises. O que descobrimos, porém, não faz isso, como divulgado atualmente na literatura, por inibir duas proteínas na membrana, que regulam o transporte de íons. O bloqueio se deve à atuação do diurético em duas outras proteínas reguladoras do pH dos neurônios”, detalha Samyra. Ao todo, quatro pesquisadores trabalharam no estudo: Samyra Giarola Cecílio, aluna de doutorado da Universidade, Luiz Eduardo Canton Santos (aluno de pós-doutorado) e dois professores orientadores: Antônio-Carlos Guimarães de Almeida e Antônio Marcio Rodrigues. Segundo Guimarães, a pesquisa aponta para o desenvolvimento de medicamentos sem efeitos colaterais. “O ponto central do projeto é a identificação do mecanismo de atuação antiepileptogênica da furosemida. Embora a droga tenha ação muito eficiente, os efeitos colaterais – basicamente, as implicações diuréticas – a inviabilizam. Contudo, a identificação do alvo antiepilético permite desenvolver drogas de ação sobre esse mesmo alvo, e sem os efeitos colaterais. Eis a grande perspectiva do estudo”, esclarece.

No final de 2018, Samyra Giarola Cecílio foi premiada pela pesquisa no “XXVI Congresso de Engenharia Biomédica”, organizado pela Sociedade Brasileira de Engenharia Biomédica (SBEB). A aluna recebeu o prêmio Cientista Cândido Pinto de Melo, o mais importante da Sociedade, por seu trabalho sobre o controle da epilepsia. Para a cientista, a premiação foi uma forma de reconhecimento da importância de sua pesquisa à área da saúde. “Receber o prêmio foi uma alegria para mim, uma vez que possibilitou maior divulgação e conhecimento de nossa pesquisa, o que oferece novas perspectivas à área clínica e à saúde da população, por apontar novos alvos ao controle da epilepsia”, comemora.

PARTICIPAÇÃO DA FAPEMIG PROJETO: Implantação de uma rede municipal de investigação etiológica para deficiência mental e epilepsia através de técnicas citogenômicas COORDENADOR: Fernanda Maria Sarquis Jehee INSTITUIÇÃO: Instituto de Ensino e Pesquisa da Santa Casa de Belo Horizonte CHAMADA: Universal VALOR: R$ 285.210,82

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BIOMIMÉTICA

Ciência camaleônica Conheça a Biomimética, área do conhecimento que se inspira na engenhosidade de animais e plantas para resolução de problemas humanos William Araújo

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Vidros de prédios têm algo em comum com teias de aranha? E o velcro, em relação aos carrapichos das plantas? Por que certas armaduras antigas usavam revestimentos similares às escamas de peixe? Entre a natureza e a tecnologia, existe um baile, no qual, de tempos em tempos, alternam-se os pares a dançar pelo grande salão do Planeta. Em tal cerimônia, a música entoada pelos instrumentos pode ser chamada de Biomimética. O termo vem da união entre palavras “bio” (vida) e “mimesis” (imitação), ambas do vocabulário grego. Forjado em 1957, por Otto H. Schmitt, engenheiro, biofísico e inventor, o vocábulo busca referenciar o design ou a adaptação inspirada biologicamente na natureza, cuja definição oficial surge, apenas, em 1974, ao aparecer no Webster’s Dictionary. Além da idealização do polímata, outros termos foram associados à palavra, como Biomimicry, Biognosis e Bionics – o último, cunhado, em 1958, por Jack E. Steele, médico psiquiatra e engenheiro militar das Forças Áreas Americanas, da base de Wright-Patterson, em Dayton, Ohio.

O que é, afinal?

De acordo com Giane Cauzzi Brocco, especialista em Biomimética pelo Biomimicry 3.8, “trata-se de campo de abordagem transdisciplinar, capaz de conectar natureza e tecnologia, biologia e inovação, vida e design”. O que diferencia a disciplina das outras abordagens, como a biônica, a bioinspiração, o ecodesign e a ecoengenharia são seus elementos essenciais: ethos, reconexão e emulação. Todavia, apesar da idealização aparentemente recente, a aplicação pode ser mais antiga e remota do que se calcula.

Trata-se, segundo o dicionário Houaiss, do “estudo da formação, estrutura ou função de substâncias e materiais biologicamente produzidos (como enzimas ou seda) e mecanismos e processos biológicos (como síntese de proteínas ou fotossíntese), especialmente, com a finalidade de sintetizar produtos similares por mecanismos que imitam os naturais”.

Leonardo Da Vinci já inspirava seus inventos, a exemplo das máquinas voadoras, na atenta observação das engenhosidades da natureza. Atualmente, com o avanço tecnológico, as estruturas animais inspiradoras de soluções não são tão visíveis a olho nu como nos experimentos do artista. Grandes prédios enfrentavam problemas com aves que se chocavam contra os vidros das janelas. Para diminuir o infortúnio, empresas observaram a natureza e descobriram que os pássaros, raramente,

Consultoria líder mundial em bioinspiração (ou a capacidade de criar algo ao observar a natureza).

Máquina Voadora – Museo della Scienza e della Tecnologia “Leonardo da Vinci”

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Divulgação: Mateus S. Figueiredo

caíam em teias de aranha, pois os fios emitiam refração luminosa visível apenas aos “assobiadores dos céus”. A solução foi sintetizar material semelhante e acrescentar às janelas, o que reduziu muito a adversidade. Outro exemplo bem conhecido é o velcro, patenteado pelo engenheiro suíço George Mestral em 1951. Enquanto praticava montanhismo com seu cão, ele percebeu que suas calças e o pelo do animal voltavam repletos da planta Arctium lappa, mais conhecida como carrapicho. Em análise via microscópio, Mestral identificou diversos filamentos, terminados em pequenos ganchos, que aderiam aos tecidos, os quais reproduziu sinteticamente. Acabou milionário com a invenção. Dentre os produtos biomiméticos também famosos, estão os trajes de natação fast skin, usados a partir da olimpíada de Sidney, em 2000. A vestimenta foi inspirada na pele dos tubarões, um dos animais mais rápidos na água, e trazia pequenos dentículos, o que aumentou o desempenho dos atletas e levou à quebra de vários recordes olímpicos na edição. O nadador Michael Phelps popularizou a marca pela constante quebra de recordes nas olimpíadas seguintes. Hoje, o material já não é permitido em competições oficiais.

Arquitetura

Estruturas arquitetônicas também usam a Biomimética em busca de benefícios, como é o caso do Museu do Amanhã no Rio de Janeiro. O projeto foi criado com base no movimento do Sol, para que o interior ficasse bem iluminado ao longo do dia. No Zimbábue, o Eastgate Center remonta aos cupinzeiros, que mantêm a temperatura interna constante, por meio das diversas canaletas laterais e uma saída superior, para exaustão do ar quente. Algumas inovações influenciadas pelo reino animal podem, inclusive, ajudar na sobrevivência de milhares de vidas, como é o caso da tecnologia chamada

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“banco de orvalho”. A invenção se inspira no Besouro-da-Namíbia, espécie que vive no deserto do Sul da África e, à noite, enquanto existe neblina, usa a carapaça de composto hidrofílico (que absorve água facilmente) para transformar a umidade em gotículas, que escorrem e são bebidas quando ele inclina o corpo.

No Brasil

Para fortalecer o campo de estudo nacional, Brocco trouxe a formação e a experiência adquirida nos EUA e fundou, em 2014, o Biomimicry Brasil, ambiente para conectar pessoas, que poderão trabalhar, criar e empreender. A iniciativa é reconhecida pelo Biommicry Institute e pelo Biomimicry 3.8, e, dentre os projetos desenvolvidos, estão indicadores ambientais e industriais, baseados nas árvores do gênero Sequoia, que reutilizam resíduos como recursos e consomem a energia de maneira eficiente. Para a pesquisadora, “os elementos essenciais da Biomimética têm como objetivo ‘criar condições propícias para a vida’. Isto é, permitir que a vida prospere”. Em tal área do conhecimento, existem vários produtos que, pretensiosamente, parafraseiam Antoine Lavoisier, para quem, “na natureza, nada se cria, nada se perde, pois tudo se transforma”... ou se copia. A presença da Biomimética vai do design de estádios – a exemplo do Nacional de Pequim, palco das Olimpíadas 2008, popularmente chamado de “Ninho

de Pássaros” , que buscou, no arranjo dos “galhos maternos” das aves, o modelo de organização de estruturas firmes e fortes – a produtos têxteis inspirados nos animais.

Controvérsias

Importante ressaltar, porém, que podem ocorrer máculas naturais, provocadas pela vontade do homem de inovar. O diálogo sobre a agressividade de certos produtos sintéticos biomiméticos é uma realidade nas comunidades científicas. O próprio velcro é exemplo de tal paradoxo. Os materiais usados pela peça podem causar danos à

natureza, durante anos, caso não sejam descartados corretamente, o que eleva a necessidade da consciência ecológica, para que boas soluções não gerem outros problemas. Dentre as discussões recentes, destaque para os famosos “canudinhos” (no caso, de plástico). Inspirados nos aparelhos bucais dos insetos, hoje, eles representam fator de risco à natureza. Por isso, mesmo, os cases de embalagens criadas a partir de produtos naturais, como os idealizados por Brocco, são, também, assunto pertinente quando se pensa em sustentabilidade.

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IGUALDADE DE GÊNERO

Elas por elas

Projeto de extensão da UFSJ quer ampliar participação de mulheres na ciência e na tecnologia Verônica Soares A luta pela diversidade e pela inclusão de meninas e mulheres em áreas de estudo e pesquisa tradicionalmente consideradas “masculinas” tem crescido nos últimos anos. Em 2018, o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e o Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) lançaram chamada com o tema “Meninas nas Ciências Exatas, Engenharias e Computação”. A iniciativa representou investimento de R$ 3 milhões para estímulo da aproximação das escolas públicas com Instituições de Ensino Superior, dando força a manifestações da comunidade científica sobre a necessidade de reduzir a desigualdade de gênero. A institucionalização da luta é um apoio importante para quem vem batalhando neste campo há anos, como a professora Kelly Beatriz Vieira Torres Dozinel, da Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ). Graduada em Ciências com Licenciatura Plena em Física pela UFSJ, Kelly é mestre e doutora em Física pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), com pesquisas, em Astrofísica, sobre estrutura, formação e evolução estelar.

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Desde 2012, ela também se dedica a um projeto de extensão que busca promover a inclusão de mulheres na ciência e na tecnologia. O único período de pausa foi em 2015, período de sua segunda gravidez. A maternidade, inclusive, foi um dos catalisadores que motivaram Kelly a promover atividades voltadas ao tema. “Durante minha primeira gravidez, sofri com a neura de que deveria continuar trabalhando”. Ela estava no Observatório Real da Bélgica, de onde se afastou por apenas três meses. “Na segunda gravidez, no Brasil, tive apoio da minha chefia e pude desfrutar dos seis meses de licença. Ao viver a maternidade de uma menina e de um menino, observei como são tratados de maneira diferente pela sociedade, me sinto impelida a me envolver com a pauta”, conta a professora. Quando decidiu retornar ao Brasil, Kelly procurou a organização internacional Greenlight for Girls, sediada em Bruxelas, cujo objetivo é incentivar meninas, entre 11 e 18 anos, a seguir carreira nas áreas de Ciências, Tecnologia, Engenharia e Matemática A ideia era levar os eventos da ONG para fora da Europa. “Tive uma intuição de que seria um trabalho muito grande. E o movimento pela igualdade para mulheres realmente ganhou força nos últimos anos”, relembra. Ela, então, formatou um projeto para realização de eventos em escolas brasileiras, com palestras e workshops, que incentivassem meninas a se tornar cientistas. Assim, nasceu a iniciativa “Inclusão das Mulheres nas Ciências e na Tecnologia – IMCT”, realizado no campus Alto Paraopeba (CAP), da UFSJ, onde se concentram os cursos de Engenharia. O projeto convida professoras da UFSJ, e de outras instituições de ensino e pesquisa, a falar sobre suas carreiras. Em workshops temáticos, elas apresentam suas pesquisas e áreas de estudo. As ações contam com profissionais de renome, como a professora e pesquisadora Regina Pinto de Carvalho, da UFMG, considerada madrinha do projeto; a professora Silvia Alencar, também da UFMG e Márcia Barbosa, da Universidade Fe-

deral do Rio Grande do Sul (UFRGS). A ONG Greelights for Girls também envia representantes às atividades. Nas oficinas, mediadas por estudantes da UFSJ, são feitas sondagens com as alunas participantes, sem que o tema da desigualdade de gênero seja diretamente debatido. Kelly explica a estratégia: “Em um primeiro momento, queremos observar as opções de carreira das meninas, quem são os influenciadores, se a família apoia suas escolhas. Depois, pedimos que desenhem sobre certas profissões, sem mencionar os gêneros, e, então, passamos a identificar estereótipos, comumente atribuídos a homens, de características como ‘inteligente’, ‘responsável’ e ‘bom de Matemática’, enquanto as mulheres são tidas como ‘cuidadosas’ e ‘amorosas’”. Os dados coletados no projeto de extensão resultaram, ainda, em um artigo, publicado pela professora, em coautoria com participantes do projeto. As estudantes, tanto voluntárias quanto bolsistas, tornam-se modelos para as meninas das escolas, além de mediadoras de processos de inclusão. “Também já tivemos meninos voluntários, e isso traz uma dinâmica interessante, desafios para quem estuda e quer trabalhar com gênero”, conta Kelly.

O artigo “Inclusão das mulheres nas Ciências e Tecnologia: ações voltadas para a Educação Básica”, publicado pela revista Expressa Extensão, evidencia o pouco interesse de alunas nas disciplinas consideradas “difíceis” e em profissões ditas masculinas, além da falta de afinidade com professores dessas disciplinas e a influência social dos estereótipos de gênero na escolha da carreira.

Oportunidades internacionais Priscila Soares de Queiros, formada em Engenharia Mecatrônica pela UFSJ, foi uma das participantes do projeto, e, hoje, mora em Luxemburgo, atuando junto à multinacional Vodafone. Ao lembrar dos tempos da graduação, destaca que sua turma de Mecatrônica contava com 55 alunos, entre os quais, apenas cinco mulheres. “O projeto me proporcionou amizades, uma rede de mulheres incríveis, entre elas, membras da organização que me convidaram para participar dos eventos em Londres e Bruxelas, além de representar a entidade em um evento na Índia”, conta. Afora ganhar o mundo, Priscila, hoje, atua em Luxemburgo, na promoção de eventos na comunidade rural daquele país. Com apoio da Vodafone, foi convidada para liderar iniciativas e promover globalmente MINAS FAZ CIÊNCIA • DEZ 2018/JAN/FEV 2019

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a igualdade de gêneros nas ciências, em todos os países onde a empresa opera. Dentre as lições que tira da experiência, a pesquisadora destaca a importância de pais e mães garantirem a oportunidade para que suas crianças tenham ampla variedade de experiências com ciência e tecnologia: “Mostrem o mundo! Levem-nas a museus de história, de avião, de animal, de astronautas. Façam experimentos de ciência. Deem livros e brinquedos que estimulem o interesse em leitura, Astronomia, Mecânica, Física. Garantam atividades que estimulem a autoconfiança. Reconheçam pequenas vitórias, e ensinem que as quedas fortalecem”. Às meninas, orienta: “Não tenham medo de ser ou fazer o que sentem que é certo. Explorem o mundo, seja pela internet, seja por meio de viagens. Participem de eventos de ciência e tecnologia. Tudo é possível!”

De mulher para mulher Outro fruto do projeto foi colhido em 2017, quando Rayane Bernardes, então es-

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O desafio incentiva jovens estudantes a propor soluções para três “Objetivos de Desenvolvimento Sustentável” da Organização das Nações Unidas (ONU): fome zero, educação de boa qualidade e igualdade de gênero, a fim de reduzir a disparidade do público feminino no mercado de trabalho, ao promover a autonomia financeira, a capacitação e a conciliação da vida profissional com a maternidade tudante de Engenharia Química da UFSJ, venceu, na categoria “Igualdade de gênero”, o prêmio “Do It! Challenge! 2017”, promovido por Eureca e Aiesec do Brasil. Inspirada pelo trabalho realizado quando era bolsista de Kelly Dozinel, Rayane desenvolveu o projeto “De mulher para mulher”, como forma de oferecer oportunidades de trabalho mais justas, com impacto positivo na vida de mulheres e mães. Ela propõe a criação de uma plataforma de consultoria online para negócios e projetos feitos, majoritariamente, por mães de diversas formações profissionais. “O objetivo é auxiliar mulheres a abrir seus próprios negócios, ou, ainda, acompanhar a trajetória e dar suporte àquelas que lideram empresas de pequeno e médio portes. Quero dar apoio a mulheres que precisam conciliar maternidade e trabalho. Em meu projeto, mães dariam consultoria em casa, para ajudar outras mulheres”, detalha. Hoje, Rayane é mestranda em Bioquímica Aplicada pela Universidade Federal de Viçosa (UFV), mas, quando ainda estava na UFSJ, também desenvolveu um trabalho de conclusão de curso, orientado por Kelly, intitulado “Gênero e Ciência: Um estudo sobre as mulheres na engenharia”. No levantamento sobre o perfil de estudantes dos cursos de Engenharia do CAP, ela identificou que, embora as mulheres sejam minoria, formam mais rápido do que os estudantes homens.

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Leia, na edição nº 74 da revista Minas Faz Ciência, a entrevista com Fernanda Staniscuaski, uma das idealizadoras do projeto “Parent in Science”.

Reconhecimento institucional Em 2012, o projeto recebeu recursos da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG) e da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). Já em 2013, foi contemplado, com apoio financeiro, no edital Proext do Ministério da Educação (MEC), o que deu novo fôlego às ações. Em anos seguintes, foram os editais internos da UFSJ que contribuíram para a continuidade das ações. “O reconhecimento é importante. Quando existe mais recurso público e reportagens sobre igualdade de gênero, o tema ganha novos espaços de debate. Colhemos frutos, mas o trabalho é lento e envolve mudança de paradigmas. Dar-se conta da necessidade de mudança é algo dolorido, cansativo”, destaca a professora. Segundo ela, em suas experiências profissionais, as questões de gênero são constantes. “Hoje, consigo entender que cuidar desse lugar da mulher é cuidar da sociedade, em longo prazo. A gestação e o processo de opressão das mulheres, principalmente quando se tornam mães, têm impactos diretos na sociedade e no futuro. Nesse sentido, achei muito interessante a iniciativa do ‘Parent in science’, pois sempre achei difícil lidar com a maternidade em minha rotina de trabalho e pesquisa. Afinal, há que se masculinizar para fazer parte da academia? Precisamos perder a sensibilidade, a feminilidade e a maternidade para realizar ciência e tecnologia?”, questiona a professora.


CIÊNCIA FORENSE

CSI brasileiro Parceria entre Polícia Federal de Minas e UFMG resulta em equipamento óptico e pó revelador, que auxiliam identificação de digitais em cenas de crimes Tuany Alves

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Existem mais de sete bilhões de seres humanos na Terra. Apenas no Brasil, somos cerca de 209 milhões. No primeiro dia de 2019, 386 mil bebês nasceram em todo o mundo. Cada um deles, por mais que guardem semelhanças entre si, possui característica única: a impressão digital. Encontrada, principalmente (mas não somente!), na ponta dos dedos, as digitais são linhas elevadas chamadas de papilas. Tais saliências se formam antes mesmo de nascermos têm a finalidade fisiológica de dar aderência à pele, permitindo que seguremos os objetos. Elas se constituem de padrões tão exclusivos que não se repetem, nem mesmo, em gêmeos univitelinos – irmãos com o mesmo DNA. Única, como um floco de neve, a digital é característica que pode ser usada para diversos fins, como desbloquear o celular, acessar a conta bancária, votar ou identificar a pessoa que cometeu um crime. Isso é possível porque, ao tocarmos em superfícies como maçanetas, copos ou armas, deixamos, em cada objeto, uma marca, formada, principalmente, por água e gordura. Mesmo sem conseguir vê-la a olho nu, nossa digital fica registrada e pode ser capturada por equipamentos especiais. Diversas séries e filmes sobre investigação criminal apresentam o método: após a denúncia, os policiais investigam o ambiente onde ocorreu o delito, em busca de pistas, entre as quais, a impressão digital do possível culpado, a fim de solucionar o caso. O profissional responsável pela tarefa é o papiloscopista. É dele o trabalho de recolher, analisar e comparar as impressões papilares, ou seja, as digitais. Ainda que os crimes “reais” não sejam solucionados com a rapidez mostrada em episódios da CSI (Investigação Criminal) — nos quais, em menos de 40 minutos, os peritos recolhem as provas, analisam, interrogam e resolvem os casos–, o trabalho dos papiloscopistas é de suma importância à solução de casos criminais. E, assim como na ficção, o trabalho depende – e muito – da ciência. Usada no cotidiano dos investigadores, as pesquisas estão presentes nos produtos químicos, nos equipamentos e, até mesmo, nos protocolos empregados pelos profissionais, para análise de vestígios e comprovação (científica) sobre se

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alguém cometeu, ou não, um crime. A fim de aprimorar os métodos empregados nas investigações, a equipe da Polícia Federal de Minas Gerais buscou parceria com pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Como lembra Flávio Melo, papiloscopista da Polícia Federal de Minas, a ideia, a princípio, era alinhar a expertise prática dos profissionais com o conhecimento acadêmico dos pesquisadores. Foi assim que chegaram ao Departamento de Física da UFMG. “Explicamos nosso mundo e apresentamos os equipamentos e produtos que poderiam ser melhorados”, lembra Melo. Uma das maiores dificuldades do Departamento de Investigação era a revelação de fragmentos de impressões papilares – as nossas digitais. Segundo a papiloscopista Luciana Machado Costa, coordenadora do Laboratório de Revelações de Papilares da Polícia Federal de Minas, em algumas superfícies, é possível ver e registrar as impressões, enquanto, em outras, tudo se revela mais complicado, mesmo com o uso dos equipamentos já existentes. Tal contato deu origem ao projeto de pesquisa “Tecnologias Alternativas para Revelação de Impressões Digitais”, que buscou melhorar e aumentar a capacidade de revelação de impressões digitais encontradas em cenas de crimes, sem causar danos à saúde dos profissionais. Segundo o pesquisador Luiz Cury, professor do Departamento de Física da UFMG e coordenador geral da iniciativa, o estudo foi composto por duas partes, uma delas voltada ao desenvolvimento de reveladores químicos, e a outra, à melhoria do equipamento óptico empregado nas análises. Além dos inspetores da Polícia Federal mineira, o projeto contou com a participação de pesquisadores do Departamento de Física da UFMG – professores Luiz Ladeira e Oscar Mesquita e pesquisadoras Ana Ximenes e Lívia Siman –, da empresa Ivision, sediada no Parque Tecnológico BHTec, e teve o apoio da FAPEMIG.

No rastro da digital

Para um detetive, o primeiro passo para resolução de um crime é achar provas. No caso dos papiloscopistas, trata-se de encontrar as digitais– o que nem sempre é

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fácil. Segundo Lívia Siman, pesquisadora do Departamento de Física da UFMG, existem duas formas principais de revelá-las: métodos ópticos e químicos. Por ser menos invasivo, o caminho óptico, normalmente, é o primeiro a ser usado. “Por meio dele, localizamos as digitais, para saber se estão em superfície porosa, como a parede, ou em área superlisa e refletora, como o metal. Tudo isso interfere na abordagem usada para revelar a digital”, explica Lívia. Por ser importado, atualmente, um típico aparelho óptico de investigação pode custar até 130 mil dólares (cerca de R$500 mil), o que torna sua aquisição difícil. O desafio dos pesquisadores responsáveis pelo protótipo óptico estava em construir um equipamento eficiente e mais barato. “A ideia era fazer algo acessível, para ter, pelo menos, um em cada Estado, já que, em todo o Brasil, existem apenas três aparelhos. Além disso, queríamos algo possível de ser implementado na polícia civil, que não possui equipamento desse tipo”, completa. A pesquisadora explica que o primeiro protótipo – com sensor de silício, um conjunto de lentes, filtro, luz ultravioleta e câmera fotográfica acoplada – conseguia localizar a digital. Entretanto, não resolvia a principal preocupação dos papiloscopistas: a exposição diária dos profissionais à luz ultravioleta (UV), em mais baixo comprimento de onda, conhecida por potencializar o câncer de pele e causar degradação da retina ocular. Após outras investigações, verificou-se que luzes com comprimentos de onda maiores, no azul, permitiam que os profissionais identificassem as digitais, sem resultar em danos à saúde. “Não haverá mais perigo para eles. Afora isso, a óptica e o sensor ficaram muito mais baratos”, esclarece Lívia Siman. Além de atender às expectativas, o novo protótipo conseguiu resultados preliminares sobre um dos desafios um desafio lançado pelos investigadores aos cientistas: identificar a digital em um cartucho de bala. A dificuldade dessa superfície deve-se ao fato de ser curva e ter reflexão de luz muito forte. A pesquisadora lembra, ainda, que, normalmente, a pessoa pega a bala,

põe na arma e atira – o que eleva a temperatura do cartucho para perto de 600C°, fazendo com que muito do resíduo, da digital depositada, se evapore sobrando apenas fragmentos. “Esse constitui ainda num grande desafio para a polícia, apesar do progresso inicial obtido. São necessários outros estudos sobre a alta temperatura, que, de fato, danifica muito a digital”. De acordo coma papiloscopista Luciana Costa, o equipamento desenvolvido opera com o mesmo método do SceneScope RUVIS, ao usar a reflexão da luz para visualizar as impressões. Porém, não causa dano ao organismo. A coordenadora conta, ainda, que os pesquisadores fizeram tudo acoplado ao computador, o que inclui a máquina fotográfica: diferente da versão usada pela polícia, basta que se aperte um botão, para a captura e análise da imagem. “Tempo é uma ferramenta muito importante”, diz.

Made in Brazil

Na hora de buscar evidências, além do equipamento óptico, os investigadores usam reveladores químicos. Delicadamente aplicados com um pincel próprio sobre as digitais, eles ajudam a revelar, como o próprio nome diz, os detalhes da marca. Os reveladores mais usados, hoje, são caros e tóxicos. Por isso, em paralelo ao protótipo do equipamento, os pesquisadores trabalharam no desenvolvimento de um pó revelador nacional. O carro-chefe dos reveladores químicos na Polícia Federal é o pó preto. À base de grafite, carvão e negro de fumo, o material – de coloração negra – é danoso à saúde e pode, inclusive, causar câncer de pulmão. Usado no mundo inteiro, há mais de 100 anos, trata-se de produto importado e com alto custo. Para se ter uma ideia, 30 gramas custam R$250. “Além disso, ele não apresenta fluorescências, e usa contraste. Ou seja, ele é escuro e é preciso aplicá-lo em superfície clara”, explica Luciana Costa. A tarefa dos pesquisadores era barateá-lo e evitar sua toxicidade. Para isso, a equipe da UFMG testou três pós naturais: vidros bioativos combinados com cobalto e manganês, que apresentam coloração

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escura e poderiam gerar contraste óptico na impressão digital; pó do urucum, com cor vermelha vibrante; e resveratrol, que possui luminescência azul na faixa de luz visível. Segundo o coordenador geral do estudo, certos tipos de superfícies, como madeiras em PVC, muito porosas, podem absorver a digital, o que torna difícil sua visualização, até mesmo com o equipamento óptico. “Tínhamos que conseguir um material que luminecesce, e permanecesse agregado aos resíduos da digital”, lembra Luiz Cury. Entre todos os testados, o resveratrol apresentou os melhores resultados, tanto em madeiras e luvas como em outras superfícies porosas. Derivado da casca da uva, o pó é um antioxidante natural de baixo custo, que emite luz visível azul quando excitado em um comprimento de onda ultravioleta relativamente maior, que não faz mal à saúde humana. O produto pode ser usado em superfície de qualquer cor – inclusive, colorida –, onde o pó preto não teria efeito. Com o objetivo de entregar um projeto completo, após a descoberta do revelador, os pesquisadores incorporaram, ao protótipo óptico, uma luz ultravioleta não

nociva, igual às usadas no salão para secar unhas de gel, junto à luz azul já existente, de forma que os dois produtos pudessem trabalhar em conjunto. Isso permitiu que o projeto alcançasse resultados positivos. De acordo com Lívia Siman, o casamento do aparelho com a luz UV e o pó revelador permitiu identificar digitais em várias superfícies onde antes não era possível, como gabinetes de computador, superfícies em couro e canos.

Parceria que dá frutos Ainda há muito a ser feito, porém. Segundo Lívia, o protótipo é o que se chama de “laboratorial”. A próxima etapa, pois, é fazer com que o equipamento se torne comercial. “Os dois primeiros anos foram a parte de estudo e proposição do protótipo laboratorial. Queremos, agora, avançar para um protótipo comercial”, explica. Além disso, a Polícia Federal mineira fez outros dois novos desafios aos cientistas. O primeiro é um grande impasse mundial: revelar digitais em papel moeda. Segundo Lívia, existe um equipamento alemão que faz isso, mas custa cerca de 1 milhão de dólares. “Neste caso a solução

do problema envolverá estudos utilizando-se possivelmente uma iluminação na faixa do infravermelho e fazendo-se uso de estratégias em como eliminar a contribuição de emissões luminescentes provindas das tintas utilizadas na fabricação das notas”. O segundo desafio diz respeito ao desenvolvimento de software de reconhecimento facial, ou “um dispositivo para mapear as características da pessoa e montar um banco de dados”, informa. Tanto o aparato físico quanto o revelador químico mostraram-se superiores aos usados, atualmente, pela Polícia Federal. Segundo Flávio, isso dá, aos investigadores, maior capacidade de identificação de impressões digitais/papilares. Segundo o papiloscopista, o impacto do projeto vai além da solução de crimes. “O equipamento e a substância podem ser usados na identificação de corpos, como no caso de cadáveres que chegam ao IML em estado de composição muito avançado, e na qual seria muito difícil a identificação por digitais”, ressalta. Eles também poderiam ser usados na identificação neonatal, ainda rara no Brasil. Segundo Flávio, isso poderia ajudar a solução de desaparecimentos, principalmente, nos casos de recém-nascidos.

PARTICIPAÇÃO DA FAPEMIG PROJETO: Desenvolvimento de métodos alternativos para revelação de impressões digitais em superfícies COORDENADOR: Luiz Alberto Cury INSTITUIÇÃO: Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) CHAMADA: Auxílio Universal Complementar VALOR: R$ 266.640

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INOVAÇÃO

Meu banco de bolso

Co m oti o in m t usa izar uito d bu m se roc tec rviço e pro m rac no s ia e log fina over as ia pa ncei ino v alt as ra ac ros, fi ação tax ab Ma n rian as ar c tech e aA do s o len car me m a rca do

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Não é surpresa admitir que as plataformas digitais, e suas tecnologias, revolucionaram o cotidiano das pessoas. Os smartphones, por exemplo, tornaram-se aliados das atividades do dia a dia, de modo a que seu uso constante se transformasse em algo mecânico, automático, ou, até mesmo, viciante. Tudo isso, é claro, tem feito com que empresas de todos os tipos passem a investir em novos modelos de relacionamento com os clientes. Tal contexto de transformação chegou, enfim, ao mercado financeiro. Ou, mais especificamente, ao setor bancário, conhecido, por décadas, pela burocracia, pelas taxas absurdas e pelo atendimento lento aos clientes. As chamadas fintechs, junção das palavras “financial” (financeiro) e “technology” (tecnologia), são startups que trabalham para promover inovação, de maneira a otimizar os serviços fornecidos pelo setor financeiro. Diferentemente dos bancos tradicionais, que usam a tecnologia para atribuir sucesso e segurança às transações financeiras, as fintechs recorrem aos recursos high tech para facilitar a vida do cliente por meio da inovação. Ou seja, ao contar com a tecnologia como grande aliada, as startups financeiras ganham a aprovação do público por possuírem custos operacionais muito mais baixos que os de bancos tradicionais, além de garantirem que o cliente não precise lidar com a burocracia comum às instituições tradicionais. Tais empresas são capazes de desenvolver metodologias e ferramentas que facilitam o acesso aos diferentes serviços financeiros. Segundo Pedro Paulo Pettersen, professor do Departamento de Economia da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas), as fintechs, por meio do uso da tecnologia, provocam maior concorrência dentro do setor financeiro, o que é positivo ao usuário. “No Brasil, o sistema bancário é muito oligopolizado. Temos poucos bancos que controlam o mercado financeiro. Por isso, os serviços ficam mais caros. Quando há maior concorrência, a tendência é que as taxas caiam. As fintechs, de maneira geral, ampliam o grau de concorrência”, explica, ao lembrar, que como

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consequência disso, algumas dessas empresas conseguem oferecer serviços com custo zero. “Isso acontece, também, porque as plataformas usadas têm preço fixo. Portanto, quanto mais clientes essas empresas tiverem, mais as chances de taxas menores”, completa. Em 2016, uma pesquisa da Accenture, empresa global de consultoria de gestão, tecnologia da informação e outsourcing, mostrou que, em 2020, até um terço do mercado global pode ser dominado pelas fintechs. Entretanto, Pettersen acredita que tais empresas ainda não ameaçam a posição dos bancos tradicionais. “Mesmo com a opção das fintechs, o cliente ainda não pode se livrar do banco. Primeiro, porque elas atuam em nichos muito específicos: cartão de crédito, investimentos e empréstimo, dentre outros. Elas não têm estrutura multifuncional. Além disso, estão muito restritas a usuários com acesso às plataformas e às tecnologias. Não é um serviço universal”, pondera.

Negócio crescente

Dois grandes focos caracterizam os objetivos das fintechs: inovação e otimização de processos financeiros. Com o uso da tecnologia, essas empresas procuram tanto implantar novos produtos quanto aprimorar aqueles que já existem no mercado. O resultado disso é a apresentação de serviços especializados, com custos bem mais baixos que os dos bancos. Segundo o portal FintechLab, que reúne informações sobre as fintechs existentes no País, o Brasil chegou ao final do primeiro semestre de 2018 com um total de 453 startups financeiras em operação. O número representa crescimento de 23% no montante em relação às 369 empresas ao final de 2017. No Brasil, as fintechs oferecem os seguintes serviços: conta bancária digital, empréstimos, investimentos, negociações de dívidas, gestão financeira e cartão de crédito, dentre outros. Todas as empresas funcionam como startups clássicas, ou seja, com modelo de negócios repetível e escalável, que trabalham em condições de extrema incerteza, além de serem predominantemente virtuais.

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Divulgação

possível prever até que ponto as fintechs serão capazes de competir com os bancos, mas a diminuição de custo e burocracia são pontos fortes. A variedade tecnológica também garante competitividade entre pequenas e grandes empresas. Isso é bom para o cliente, que tem mais opções de escolha”, analisa o professor.

Robôs investidores

Fernando César dos Santos: expectativas do cliente ditam a lógica das atividades

Dados do FintechLab mostram que, no Brasil, o setor de pagamentos domina o mercado, o que representa 26% do total das fintechs brasileiras. Em seguida, estão as iniciativas voltadas a gestão financeira e empréstimos. Ambas contam com 70 companhias cada, e são responsáveis, individualmente, por 17% do total. Com o crescimento das startups financeiras, o Conselho Monetário Nacional aprovou, no início de 2018, duas resoluções com diretrizes de atuação das empresas de serviços financeiros de crédito, as fintechs de crédito. Em linhas gerais, essas resoluções buscam estimular a incorporação de inovações no âmbito do Sistema Financeiro Nacional, além de estimular a participação de novas instituições provedoras de crédito. Mesmo com a regulamentação e o crescimento dessas empresas, os bancos tradicionais não perderam espaço dentro do mercado. Do outro lado da moeda, os bancos têm estrutura muito mais sólida, e apresentam riscos menores em comparação com as fintechs, segundo Pedro Paulo Pettersen. O pesquisador afirma que “embora todas elas sejam regulamentadas pelo Branco Central, há o risco comum de toda instituição financeira. São empresas recentes, o que aumenta o risco”. Os bancos tradicionais também respondem ao crescimento das fintechs de forma dinâmica. Segundo Pettersen, eles têm induzido os clientes a migrar para seus aplicativos e a usar a tecnologia a seu favor. “Os bancos tradicionais investem cada vez mais nessas novas plataformas. Não é

O uso da tecnologia para prestação de serviços financeiros fez surgirem robôs capazes de fornecer gestão de recursos. É claro, porém, que tais equipamentos não são nada parecidos com os humanoides dos filmes de ficção científica. Trata-se de sistemas de inteligência artificial desenvolvidos para analisar as necessidades dos cliente e, consequentemente, oferecer a eles as melhores opções de investimento. Uma das fintechs que se apoia nesse sistema, para realização de negócios, é a Monetus. A startup mineira, criada em 2011, oferece soluções para aqueles que desejam aplicar dinheiro no mercado financeiro com retorno mais eficiente e acessível. O contato entre a consultoria e o cliente é todo feito pela internet. O interessado em realizar investimentos entra no site da empresa, realiza cadastro e responde perguntas. Os robôs entram em ação, ao analisar os dados fornecidos pelo cliente, e, posteriormente, ao traçar um perfil financeiro com os objetivos do potencial investidor. Assim, apresenta-se, ao interessado, um diagnóstico financeiro e uma proposta de investimento, com indicação dos valores necessários e das melhores opções, segundo aquele perfil. No ver de Fernando César, gerente de planejamento financeiro da Monetus, o principal foco da empresa é valorizar o cliente. “Uma palavra-chave rege nossas ações: democracia. O investidor, quando nos procura, não precisa da ação de 300

Dentre as startups que oferecem este tipo de serviço, estão Nubank, Banco Neon, Digio Intermedium e Conta Um.

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mil pessoas para executar uma atividade. Nossa tecnologia é capaz de escalar o investimento e apresentar um conforto ao usuário. Nossa ideia é sempre valorizar o cliente em primeiro lugar”, explica. Mas de onde vem o lucro de empresas como a Monetus? A startup retém 0,6% ao ano sobre o total investido. De acordo com Fernando César, a cobrança é realizada em relação ao patrimônio do investidor. “Nessa lógica, quanto mais o cliente ganha, mais a gente lucra”, admite. Paralelamente, as taxas praticadas pela startup, devido ao uso da tecnologia, chegam a ser até cinco vezes menores, se comparadas às dos bancos tradicionais. Em contrapartida, a empresa oferece alta

rentabilidade, uma vez que a taxa de retorno médio é de 19,94%, três vezes maior que a da poupança. Para Fernando, a juventude da empresa não deve ser vista com maus olhos pelo investidor, pois a atuação do Banco Central é rigorosa. “Estamos amparados por entidades sólidas. Prova disso é o que aconteceu com o Banco Neon, que teve seus serviços suspendidos. Paralelamente, em termos de experiência, conseguimos entregar segurança e qualidade de investimento. Conseguimos montar uma relação de educação com o cliente e fazer com que ele tome decisões mais acertadas. É por esses motivos que as fintechs têm se destacado tanto”, finaliza.

Opções para todos Existem muitos serviços oferecidos pelas fintechs no Brasil. Conheça alguns deles!

Investimentos

O serviço também é oferecido integralmente pela internet. As fintechs garantem autonomia ao investidor e lhe apresentam as melhores opções de investimento, com taxas mais baixas que as dos bancos tradicionais e rentabilidade maior do que a da poupança.

Negociações de dívidas

Certos aplicativos permitem que o usuário forneça seu CPF e tenha a dívida exposta. Em seguida, a tecnologia permite a intermediação entre credores e devedores.

Cartões de crédito

Com taxas baixas e sem anuidade, os cartões oferecidos pelas fintechs permitem que o cliente tenha total controle sobre suas operações.

Empréstimos

Podem ser realizados de forma totalmente online. O cliente recebe o dinheiro de forma rápida e com baixas taxas de juros.

Gestão financeira

Por meio de aplicativos, os usuários conseguem ter melhor visão de sua realidade financeira. Desse modo, podem organizar os gastos e gerenciar o dinheiro.

Conta bancária digital

Com este serviço, o usuário conta com todos os recursos de uma conta bancária, mas em formato digital. Isso significa que, ao estar conectado à internet (via computador, smartphone, tablet etc.), o usuário consegue realizar todas as movimentações financeiras que desejar.

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HIPERLINK

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Ainda sobre m

ulheres

e ciência Outro espaço dedi cado a elas é o M ulheres na Ciência, onde pode m contar histórias e discutir sua posição no mundo acadêmico. A ideia do site começou com um grup o homônimo no Fa ce book, criado, no final de 2016, co mo forma de reunir m ulheres que trabalham com ciê ncia. A inspiração pa ra expandir a proposta veio de po stagem na qual um a das pesquisadoras pedia indi cação de iniciativa s de divulgação científica sobre m ulheres na ciência para mostrar a uma prima pequen a: http://mulheresn aciencia.com.br.

Lorena Tárcia

Aprendizagem em app

Boa dica para 2019! A reconhecida plataforma gratuita de educação de idiomas Duolingo lançou o Tinycards, divertido aplicativo com cartas que ajudam a memorizar qualquer coisa para sempre. As aulas curtinhas são consideradas, pelos autores, a melhor maneira de dominar desde a língua espanhola até a tabela periódica. Os temas variam de deuses gregos a Libras. Para saber mais, acesse https://tinycards. duolingo.com.

! Bombou matérias de destaque iDentre as projeto “M

ulto do fantil e ad a profissão nos sites in ”, estão temas como bôs, como ncia ução de ro tr nas Faz Ciê s n o c , ia l, benefíconom dade virtua li a de Bibliote re e d s bida prom óculo preso e be o n construir u ti s te in ocais de haça para roblemas v p s o cios da lin d m lé algo? Não bucha, a g. Perdeu n ti biótica Kom e rk a m inasfazis de tele sse www.m e c A profissiona ? e n li Instaversão on ebook, no c a F o n conhece a m .br. També ciencia.com Twitter. gram e no

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CONTEMPORÂNEAS

Pequenos indivíduos,

grandes preocupações

Quem vê um mexilhão-dourado (Limnoperna fortunei) de perto não consegue imaginar o tamanho do impacto ambiental que o pequeno molusco pode causar. A espécie de água doce, que vive naturalmente nos rios da China e do Sudoeste da Ásia, chegou à América do Sul, provavelmente, de modo acidental. Estima-se que, no início da década de 1990, o animal bivalve tenha “pegado carona”, nas águas de lastros de navios cargueiros, até a Argentina, de onde se espalhou por outras bandas. No Brasil, hoje, a espécie é encontrada em diversos rios importantes das regiões Sudeste, Centro-Oeste e Nordeste, a exemplo do Paraná e do São Francisco. Segundo Carlos Barreira Martinez, professor da Universidade Federal de Itajubá (Unifei) e chefe do Laboratório de Hydroelectro da Universidade, há várias formas de o mexilhão-dourado impactar o meio ambiente. A grande capacidade de reprodução e dispersão da espécie faz com que o pequeno molusco se espalhe com rapidez. Soma-se a isso o fato de o animal, praticamente, não ter predadores na fauna brasileira. Por isso, a espécie é considerada invasora, a ponto de se tornar preocupante “poluição biológica”. “Quando entra em determinado ecossistema, o mexilhão-dourado tende a consumir todo o fitoplâncton presente na água. Isso faz com que os outros animais aquáticos fiquem sem alimento. Assim, a

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Originário do Sudoeste da Ásia, o mexilhão-dourado chegou à América do Sul no início dos anos 1990 e, desde então, tem provocado vários impactos ao meio ambiente Mariana Alencar

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Mexilhões dourados impactam no sertor hidreletrico e se tornam um problema para economia

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população de peixes e outros moluscos diminui naquele sistema, e gera um problema de desequilíbrio”, explica o pesquisador. Durante a fase larval, o molusco é transportado pela água, ou por objetos – que levam a larva em sua superfície ou em seu interior –, até que se fixam em superfícies sólidas, como cascas de barcos e pilares de pontes, onde crescem e dão origem a grandes colônias. Para se alojar nesses locais, o mexilhão-dourado emite uma extensão proteica chamada “bisso”. Tal órgão de fixação permite que o animal entre em pequenos poros da superfície sólida. Isso faz com que a degradação e o envelhecimento das estruturas sejam acelerados. “Nas usinas hidrelétricas, os mexilhões grudam nas grades e entopem as estruturas. Isso faz com que a limpeza das estruturas seja constante, o que aumenta o custo de manutenção”, exemplifica Martinez. As usinas foram projetadas para serem limpas a cada oito anos, mas, com a presença dos mexilhões invasores, é necessário que a assepsia seja feita, ao menos, três vezes ao ano. Segundo reportagem publicada no final de 2018, pelo site G1, os custos anuais para processos de manutenção em cada hidrelétrica chegam a R$ 220 mil. Na usina de Jupiá, em Castilho (SP), por exemplo, o molusco produz colônias com cerca de 40 mil indivíduos por metro quadrado, o que impacta diretamente no orçamento da companhia. Além desses problemas, Carlos Barreira Martinez explica que o mexilhão-dourado impacta, diretamente, no tempo de bombeamento da água em uma usina hidrelétrica. “O molusco é capaz de entrar dentro das tubulações, o que gera uma espécie de ‘infarto’. Dessa forma, a quantidade de tempo para bombear a água aumenta. Outro problema é que, ao morrer, os mexilhões apodrecem, e a água fica com um gosto esquisito. Mesmo com todo o tratamento, às vezes, não é possível retirar tal sabor”, pontua. O pesquisador prevê, também, que a dispersão do molusco pode vir a prejudicar a agricultura irrigada. Segundo Martinez, o mexilhão-dourado causa impacto nos sistemas de irrigações, uma vez que se instala em pivôs centrais e canais de água, de modo a entupi-los e degradá-los. Isso

também aumenta o consumo de energia e o preço da manutenção da infraestrutura.

Junte-se ao inimigo!

Devido a tantos problemas, desde o início dos anos 2000, pesquisadores brasileiros têm investigado maneiras de lidar com os impactos causados pelo mexilhão-dourado. Boa parte das pesquisas buscou, sem sucesso, uma forma de acabar com o animal na América do Sul. Agora, os estudos caminham em outra direção. Na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), um grupo de cientistas pretende modificar a genética do mexilhão, impedindo-o de se reproduzir. A ideia é torná-los inférteis, para que a população seja controlada, nos próximos 10 anos, evitando, assim, que a espécie chegue à bacia Amazônica. Entretanto, a premissa do estudo não é vista com bons olhos por alguns pesquisadores. Martinez, por exemplo, entende que a alteração na genética do mexilhão-dourado é um risco muito grande, e pode culminar com desastre ambiental de proporções ainda maiores. “Há muitas questões desconhecidas sobre o mexilhão-dourado, até mesmo para os pesquisadores. Não sabemos, por exemplo, até que profundidade eles vivem. Dessa forma, mexer na genética da espécie pode ser perigoso para o meio ambiente”, explica. Carlos Barreira Martinez entende que a melhor maneira de conter os impactos ambientais gerados pelo mexilhão-dourado é aprender a lidar com eles. O pesquisador explica que, quando uma espécie invasora entra em um sistema, é difícil fazer com que ela saia. “O ser humano, a tilápia e a abelha africana são exemplos de organismos invasores. Temos que aprender a conviver com esses indivíduos. É como em um filme de ficção científica: quando os alienígenas chegam à Terra, temos que negociar e aprender a lidar com eles. Com os mexilhões, é a mesma coisa, e as novas pesquisas caminham nessa direção”, pondera. Uma dessas pesquisas têm sido desenvolvida por cientistas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em parceria com a Fundação Christiano Ottoni/Escola de Engenharia. Financiado pela Serra do Facão Energia S.A, o estudo investiga métodos de detecção e monitoramento para

prevenção da introdução da espécie Limnoperna fortunei em usinas hidrelétricas. A busca por métodos de monitoramento de estágios larvais do mexilhão-dourado começou no fim do ano passado, na Usina Hidrelétrica Serra do Facão. Por meio do desenvolvimento de uma estrutura física de aço, e de um conjunto de malhas de diferentes aberturas para captação de amostras de água, os cientistas buscam coletar indivíduos da espécie a serem observados em laboratório. Nessa etapa, pretende-se averiguar, por meio do uso de microscópios e marcadores moleculares específicos, se há estágios larvais de mexilhão-dourado. O processo deverá consolidar os conhecimentos obtidos, que resultarão em equipamento e metodologia a serem aplicados no setor elétrico nacional. Outra investigação, também desenvolvida pela Escola de Engenharia da UFMG, com financiamento da Usina Hidrelétrica de Furnas, busca desenvolver um sistema de radiação ultravioleta para inativação de larvas de mexilhão-dourado, aplicável a unidades de refrigeração de usinas hidrelétricas. Também em fase inicial de desenvolvimento, a pesquisa pretende avaliar a eficiência da radiação ultravioleta na inativação de larvas do molusco em águas sintéticas de cor e turbidez moderadas, e, assim, desenvolver um sistema que torna as larvas inativas.

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A imagem ao lado é de um dos trabalhos do paleoartista Rodolfo Nogueira, que, hoje, mora em Uberlândia (MG). Após se formar em Desenho Industrial, pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquista Filho (Unesp/Bauru), ele passou a desenhar, profissionalmente, dinossauros e outros seres extintos. Para saber mais sobre o assunto, confira a entrevista concedida, pelo desenhista, ao site infantil do projeto “Minas Faz Ciência”: http://minasfazciencia.com.br/ infantil/2018/10/02/conheca-a-paleoarte-profissao-de-quem-desenha-animais-extintos/.

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MINAS FAZ CIÊNCIA • DEZ 2018/JAN/FEV 2019 Rodolfo Nogueira

Veja como era a preguiça gigante (Eremotherium laurillardi), que, no período Holoceno, viveu em áreas do território de Minas Gerais, como Lagoa Santa


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PARA USO DOS CORREIOS MUDOU-SE

DESCONHECIDO RECUSADO FALECIDO AUSENTE

NÃO PROCURADO END. INSUFICIENTE CEP

NÃO EXISTE Nº INDICADO

INFORMAÇÃO ESCRITA PELO PORTEIRO OU SÍNDICO REINTEGRADO AO SERVIÇO POSTAL EM ___/___/___ ___/___/___

_______________ RESPONSÁVEL

Avenida José Cândido da Silveira, 1500 Bairro Horto Belo Horizonte (MG) CEP: 31 035-536 Contatos: revista@fapemig.br Site: minasfazciencia.com.br www.facebook.com/minasfazciencia www.twitter.com/minasfazciencia/ www.instagram.com/minasfazciencia/

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